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Adesivos PSA de Base Aquosa

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M 2018

PROPRIEDADES DE POLÍMEROS E DE
ADESIVOS SENSÍVEIS À PRESSÃO DE BASE
AQUOSA

MARTA SOFIA TEIXEIRA PINTO CUNHA


DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA
À FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO EM
ENGENHARIA QUÍMICA
Mestrado Integrado em Engenharia Química

Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis


à pressão de base aquosa

Dissertação de Mestrado

de

Marta Sofia Teixeira Pinto Cunha

Desenvolvida no âmbito da unidade curricular de Dissertação

realizado em

H.B. Fuller

Orientador na FEUP: Dr. Ricardo Santos

Orientador na H.B. Fuller: Drª. Rosa Maria Barbosa

Departamento de Engenharia Química

julho de 2018
Agradecimentos
A toda a equipa com quem tive o prazer de trabalhar na H.B. Fuller. À minha orientadora, Drª Rosa
Maria, por toda a sua disponibilidade e conhecimentos transmitidos fundamentais na minha aprendizagem.
À Carla, à Helena e à Patrícia por toda a ajuda prestada e pela presença constante na resolução de problemas.
Ao Rui e ao Santos por terem sido o meu braço direito no laboratório e por me transmitirem toda a
experiência. À Célia, à Anabela, à Daniela, ao Joaquim e ao Filipe por me proporcionarem uma excelente
integração.

Ao meu orientador académico, professor Ricardo Santos, pelo acompanhamento prestado ao longo
destes meses.

Às minhas amigas pelo ombro amigo e pelos momentos incríveis que me proporcionaram durante
estes anos de faculdade.

Aos meus pais pelo apoio, pela confiança e por me darem as condições necessárias para que eu
concretize os meus objetivos.

Um especial agradecimento ao Bruno pela força que me permitiu não baixar os braços ao primeiro
obstáculo, pela paciência e compreensão e sobretudo por estar sempre do meu lado qualquer que seja a
circunstância.

O Dr. Ricardo Santos, orientador desta dissertação, é membro integrado do Laboratório Associado LSRE-
LCM financiado pelo Projeto POCI-01-0145-FEDER-006984, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
(FEDER), através do COMPETE2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e por
fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
“We must have perseverance and above all confidence in ourselves.”

Marie Curie
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Resumo
Os tensioativos alquilfenóis etoxilados (a seguir designados por APEO, alkylphenol ethoxylates)
são amplamente utilizados em processos de polimerização radicalar em emulsão aquosa e na produção de
adesivos também aquosos. No entanto, preocupações crescentes com a poluição ambiental por parte dos
órgãos reguladores, têm motivado o desenvolvimento de produtos mais amigos do ambiente. O objetivo
deste trabalho é o estudo de alternativas para estes compostos assim como a avaliação da influência da
alteração dos tensioativos, tanto nas emulsões resultantes da polimerização como nas propriedades de
desempenho do produto final (adesivo).

Este trabalho divide-se em duas fases: a síntese de copolímeros pelo processo de polimerização em
emulsão e a produção de adesivos sensíveis à pressão (a seguir designados por PSA, pressure sensitive
adhesives). Nesta primeira etapa foram produzidos dois copolimeros aquosos e caracterizados seguindo os
métodos utilizados pela empresa. Em primeiro lugar os métodos de caracterização básica (viscosidade, pH,
teor em sólidos e monómero residual) onde se avaliam as propriedades do polímero, seguidos da
caracterização complementar (absorção à água, temperatura mínima de filmificação, distribuição do
tamanho médio de partícula, estabilidade da armazenagem, sedimentação 24 horas e controlo da
sedimentação), onde se testam as propriedades do produto na sua aplicação. A segunda etapa, a produção
de PSA, por sua vez, divide-se na fase de produção e na posterior avaliação das propriedades de
desempenho do adesivo.

Os tensioativos testados neste trabalho permitiram tirar conclusões. No geral, obtiveram-se bons
resultados uma vez que se encontrou, no mínimo, um tensioativo alternativo para cada uma das formulações
estudadas. No entanto, uma vez que se tratam de reações químicas, há uma grande variabilidade no que diz
respeito ao comportamento dos polímeros sintetizados e, portanto, são necessários mais ensaios para a
validação dos tensioativos.

Palavras Chave (Tema): polímeros, polimerização em emulsão, adesivos, tensioativos.


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Abstract
Alkylphenol ethoxylated surfactants (APEO) are widely used in aqueous emulsion polymerization
processes and in the production of also aqueous adhesives. However, growing concerns about
environmental pollution have motivated the development of more environmentally friendly products. The
objective of this work is the study of alternatives for these compounds as well as the evaluation of the
influence of the replacement of the surfactants, both in the emulsions resulting from the polymerization and
in the performance properties of the final product (adhesive).

This work is divided into two phases: the synthesis of copolymers by the emulsion polymerization
process and the production of pressure sensitive adhesives (PSA). In this first step, two aqueous copolymers
were produced and characterized following the methods used by the company. Firstly the basic
characterization methods (viscosity, pH, solids content and residual monomer) , where the properties of the
polymer are evaluated, followed by the complementary characterization (water absorption, minimum film
formation temperature, particle size distribution, storage stability, sedimentation by 24 hours and
sedimentation control), in which the properties of the product are tested in their application. The second
step, PSA production, in turn, is divided into the production phase and subsequent evaluation of the
performance properties of the adhesive.

The surfactants tested in this work allowed conclusions to be drawn. In general, good results were
obtained since at least one alternative surfactant was found for each of the formulations studied. However,
since they are chemical reactions, there is a great variability with respect to the behavior of the synthesized
polymers and, therefore, more tests are required for the validation of surfactants.

Key words: polymers, emulsion polymerization, adhesives, surfactants


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Declaração

Declara, sob compromisso de honra, que este trabalho é original e que todas as contribuições não
originais foram devidamente referenciadas com identificação da fonte.

2 de julho de 2018
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Índice
1 Introdução ............................................................................................. 1

1.1 Enquadramento e Apresentação do Projeto................................................... 1

1.2 Apresentação da Empresa ...................................................................... 1

1.3 Contributos do Trabalho ....................................................................... 1

1.4 Organização da Tese ............................................................................ 2

2 Contexto e Estado da Arte ............................................................................ 3

2.1 Adesivos .......................................................................................... 3

2.1.1 Adesivos sensíveis à pressão (PSA) .......................................................................4

2.1.2 Métodos de avaliação de desempenho do adesivo ........................................................4

2.1.3 Formulação dos PSA........................................................................................5

2.2 Polimerização radicalar em emulsão aquosa .................................................. 6

2.2.1 Mecanismos da nucleação das partículas ..................................................................7

2.2.2 Descrição do processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa..................................7

2.2.3 Processos da polimerização radicalar em emulsão aquosa ................................................9

2.2.4 Principais componentes da polimerização radicalar em emulsão aquosa ................................9

2.3 Tensioativos .................................................................................... 11

2.3.1 Classificação dos tensioativos ............................................................................ 11

2.3.2 O papel dos tensioativos na polimerização radicalar em emulsão aquosa ............................. 12

2.3.3 Tensioativos na formulação de adesivos ................................................................. 13

2.3.4 Os alquilfenóis etoxilados (APEO) ...................................................................... 13

2.3.5 Estrutura molecular dos APEO ........................................................................... 13

2.3.6 Critério seleção do tensioativo ........................................................................... 14

3 Materiais e Métodos ................................................................................. 17

3.1 Produção dos polímeros por polimerização radicalar em emulsão aquosa ............... 17

3.1.1 Matérias primas ........................................................................................... 17

3.1.2 Equipamento .............................................................................................. 17

3.1.3 Processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa ............................................... 18

3.2 Caracterização dos polímeros e adesivos aquosos .......................................... 19

i
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3.2.1 Viscosidade de Brookfield, teor em sólidos, pH e monómero residual ................................ 19

3.2.2 Absorção à água ........................................................................................... 21

3.2.3 Temperatura mínima de filmificação (TMF) ............................................................ 21

3.2.4 Distribuição do tamanho médio da partícula ............................................................ 22

3.2.5 Estabilidade na armazenagem ............................................................................ 22

3.2.6 Sedimentação 24 horas ................................................................................... 22

3.2.7 Controlo da sedimentação ................................................................................ 22

3.3 Produção do adesivo sensível à pressão (PSA) .............................................. 23

3.3.1 Matérias-primas ........................................................................................... 23

3.3.2 Equipamento .............................................................................................. 23

3.3.3 Método de produção ...................................................................................... 24

3.3 Caracterização do adesivo sensível à pressão (PSA) ........................................ 24

3.3.1 Métodos de teste das características dos adesivos ....................................................... 25

4 Resultados e Discussão .............................................................................. 27

4.1 Polímeros e adesivos aquosos ................................................................. 27

4.1.1 Adesivo VA ............................................................................................... 28

4.1.2 Adesivo STA .............................................................................................. 33

4.2 Adesivos sensíveis à pressão (PSA) ........................................................... 37

4.2.1 Caracterização das preparações intermédias – Resinas ................................................. 37

4.2.2 Caracterização do PSA ................................................................................... 39

4.2.3 Testes das características do PSA ........................................................................ 40

5 Conclusões ........................................................................................... 44

6 Avaliação do trabalho realizado ................................................................... 45

6.1 Objetivos Realizados .......................................................................... 45

6.2 Limitações e Trabalho Futuro ................................................................ 45

6.3 Apreciação Final ............................................................................... 45

7 Referências ........................................................................................... 46

ii
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Lista de Figuras

Figura 1. Adesão e coesão entre um adesivo e um substrato (H.B. Fuller Company, 2016). ...................... 3

Figura 2. Tipos de roturas que ocorrem em adesivos (H.B. Fuller Company, 2012). .................................. 5

Figura 3. Taxa de polimerização em função da taxa de conversão nos três diferentes intervalos (M.
Khaddazh et al., 2012) .................................................................................................................................. 8

Figura 4. Monómeros utilizados na polimerização em emulsão e os respetivos valores de Tg (H.B. Fuller


Company, 2012). ........................................................................................................................................ 10

Figura 5. Representação esquemática de uma molécula de tensioativo. (H.B.Fuller Company, 2012) ..... 11

Figura 6. Fórmula geral da estrutura de uma molécula de alquilfenol etoxilado (Vlaardingen et al., 2003).
.................................................................................................................................................................... 13

Figura 7. Estruturas químicas dos compostos alternativos aos APEO. a) oxoálcool etoxilado; b) álcool
linear etoxilado; c) álcool isotridecil etoxilado; d) álcool secundário etoxilado (Fernandez et al., 2005). 14

Figura 8. Esquema da montagem do equipamento necessário na polimerização em emulsão................... 18

Figura 9. Esquema do processo de polimerização em emulsão. (H.B. Fuller Company, 2012) ................ 19

Figura 10. Viscosímetro de Brookfield. ..................................................................................................... 19

Figura 11. Hastes do viscosímetro de Brookfield. ..................................................................................... 19

Figura 12. Fotografia do equipamento de medição do TMF ...................................................................... 21

Figura 13. Equipamento de medição da distribuição do tamanho de partícula. (Malvern Panalytical, 2018)
.................................................................................................................................................................... 22

Figura 14. Fotografia das amostras em controlo de sedimentação. ............................................................ 23

Figura 15. Equipamento utilizado na produção do PSA. ........................................................................... 23

Figura 16. Aplicador automático utilizado no espalhamento dos filmes de PSA. ..................................... 24

Figura 17. Barras de aplicação do filme de PSA. ....................................................................................... 24

Figura 18. Esquemas do teste de peel a a) 90° e a b) 180º. (Awajaaet al., 2009)....................................... 25

Figura 19. Fotografia de um ensaio de shear.............................................................................................. 25

Figura 20. a) Fotografia de um ensaio de tack; b) Ilustração do ensaio de tack (Awajaa et al., 2009). ..... 26

Figura 21. a) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o


copolímero VA-A; b) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o

iii
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

copolímeroVA-B; c) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o


copolímero VA-C. ...................................................................................................................................... 29

Figura 22. Comparação dos valores de TMF do copolímero e do adesivo VA.......................................... 32

Figura 23. Controlo da estabilidade do Adesivo VA. ................................................................................ 32

Figura 24. Comparação da distribuição do tamanho de partícula dos adesivos STA-D, STA-E e STA-Ref
(lote industrial). .......................................................................................................................................... 34

Figura 25. Valores de TMF do adesivo STA. ............................................................................................ 35

Figura 26. Filmes do adesivo STA no método de absorção à água. a) filme antes de ser submerso em
água. b) filme após 24h submerso em água. ............................................................................................... 36

Figura 27. Controlo da estabilidade do adesivo STA. ................................................................................ 36

Figura 28. Distribuição do tamanho de partícula das resinas: a) comparação da Resina-F com a Resina –
Ref (laboratorial); b) comparação da Resina-F com a Resina – Ref (lote industrial). ............................... 38

Figura 29. Fotografia representativa da ocorrência de fibre tear em cartão. .............................................. 41

Figura 30. Fotografia representativa da ocorrência de paper tear em cartão. ............................................. 41

Figura 31. Fotografia representativa da ocorrência de paper tear em HDPE. ............................................ 41

Figura 32. Fotografia representativa da ocorrência de paper tear em vidro. .............................................. 41

Figura 33. Resultados dos testes de tack nos diferentes substratos: a) vidro; b) HDPE; c) cartão............. 42

Figura 34. Resultados do teste de shear. .................................................................................................... 43

iv
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Lista de Tabelas
Tabela 1. Propriedades dos tensioativos de acordo com o valor HLB. (The Dow Chemical Company,
2018)........................................................................................................................................................... 15

Tabela 2. Matérias primas utilizadas na polimerização em emulsão ......................................................... 17

Tabela 3. Propriedades físico-químicas dos monómeros analisados (SpecialChem, 2017). ...................... 20

Tabela 4. Tensioativos utilizados na produção dos copolimeros e as suas principais características. ....... 27

Tabela 5. Propriedades críticas dos copolimeros. ...................................................................................... 28

Tabela 6. Resultados da distribuição do tamanho de partícula dos copolímeros. ...................................... 30

Tabela 7. Resultado da distribuição do tamanho de partícula dos testemunhos industriais e do copolímero


VA-Ref. ...................................................................................................................................................... 30

Tabela 8. Propriedades físico-químicas do adesivo VA. ............................................................................ 31

Tabela 9. Resultados das propriedades fisíco-químicas do adesivo STA .................................................. 33

Tabela 10. Distribuição do tamanho de partícula do adesivo STA. ........................................................... 34

Tabela 11. Valores de absorção à água do adesivo STA. ........................................................................... 35

Tabela 12. Tensioativos utilizados na produção do adesivo PSA e as suas principais características. ...... 37

Tabela 13. Propriedades físico-químicas das resinas. ................................................................................ 38

Tabela 14. Distribuição do TMP das resinas em estudo............................................................................. 38

Tabela 15. Propriedades físico-quimicas do PSA. ..................................................................................... 39

Tabela 16. Valores do teste de peel a 180º durante 20 minutos. ................................................................ 40

Tabela 17. Resultados do teste de tack. ...................................................................................................... 42

Tabela 18. Resultados do teste de shear. .................................................................................................... 43

v
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Notação e Glossário
AA Absorção à água %

MR Monómero residual ppm

Tg Temperatura de transição vítrea ºC

TMF Temperatura mínima de filmificação ºC

TMP Tamanho médio de partícula μm

TS Teor de sólidos %

Letras gregas

μ média

 desvio padrão

Lista de Siglas

2-EHA 2-ethylexil acrylate

APEO Alkylphenol ethoxylate

CMC Concentração micelar crítica

DTMP Distribuição do tamanho médio de partícula

FTM FINAT test methods

HDPE High density polyethylene

HLB Hydrophilic-lipophilic balance

MSDS Material Safety Data Sheet

PSA Pressure sensitive adhesives

STA Styrene acrylic

TDS Technical Data Sheet

VA Vinyl acrylic

VAM Vinyl acetate monomer

vi
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

1 Introdução

1.1 Enquadramento e Apresentação do Projeto


Os tensioativos alquilfenóis etoxilados (APEO) são amplamente utilizados em processos de
polimerização radicalar em emulsão aquosa e na produção de adesivos também aquosos devido à sua
eficácia, economia e facilidade de manuseio.

No entanto, a atual situação de exposição dos APEO na Europa suscita preocupações. Desta forma,
a Comissão Europeia anunciou a inclusão de nonilfenol etoxilados (nonylphenol ethoxylates, NPEO) e
octilfenol etoxilados (octylphenol ethoxylates, OPEO) ao Anexo XIV, lista de produtos químicos sujeitos
a autorização no âmbito do Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de Substâncias Químicas
(REACH) da UE no Jornal Oficial da União Europeia, a 14 de junho de 2017. Este regulamento entrou em
vigor a 4 de julho de 2017 (European Chemical Industry Council, 2017).

Realizado em ambiente empresarial, este trabalho teve como objetivo a pesquisa e validação de
alternativas para os APEO em formulações de adesivos e polímeros em emulsão aquosa. Este estudo
consiste em entender a influência da substituição dos tensioativos não só durante a produção do adesivo,
mas também nas propriedades finais.

1.2 Apresentação da Empresa


A H.B. Fuller é uma empresa multinacional, com sede em Willow Lake, nos Estados unidos, líder
do mercado de produção e comercialização de adesivos industriais. Focada no aperfeiçoamento dos seus
produtos, tal como sugere o seu lema: “Our focus is clear. Perfecting adhesives”, tem fábricas em 34 países
e comercializa adesivos para diversas aplicações, tais como embalagens, produtos de higiene, indústria
automóvel, eletrónica, entre outros.

No polo de Mindelo são produzidos adesivos base aquosa, adesivos base solvente, adesivos
termofundíveis (hot melt) e polímeros em emulsão aquosa.

1.3 Contributos do Trabalho


Este trabalho foi um estudo inicial de alternativas para que a H.B. Fuller possa substituir nas suas
formulações os alquilfenois etoxilados. Desta forma, foi avaliada a influência de tensioativos contratipos
em polímeros e adesivos, registando-se na base de dados do departamento de desevolvimento quais as
melhores alternativas para se proceder à substituição.

Introdução 1
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

1.4 Organização da Tese


Esta tese está dividida em seis capítulos. O primeiro é um capítulo introdutório onde é explicada a
importância e relevância deste trabalho, bem como uma breve introdução ao local onde foi desenvolvido.
No segundo capítulo apresentam-se os princípios fundamentais e referências de estudos desenvolvidos no
mesmo âmbito de trabalho. O terceiro capítulo descreve as principais matérias primas e as várias
metodologias utilizadas para o desenvolvimento e caracterização dos adesivos. No quarto capítulo são
discutidos os resultados. Por sua vez, este capítulo está subdividido em duas partes. A primeira diz respeito
ao processo de polimerização em emulsão, onde é feita a caracterização dos copolímeros/adesivos
produzidos, e a segunda parte refere-se à caracterização físico-química e avaliação do desempenho de um
adesivo sensível à pressão (PSA). No quinto capítulo apresentam-se as conclusões do trabalho desenvolvido
e por fim, no sexto capítulo, são referidos os objetivos realizados, as limitações deste trabalho, algumas
considerações para eventuais desenvolvimentos futuros e uma apreciação global do estudo desenvolvido.

Introdução 2
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

2 Contexto e Estado da Arte

2.1 Adesivos
Segundo Packer (1990), um adesivo é um material usado para manter duas superfícies juntas. Para o
autor, um adesivo deve molhar as superfícies, desenvolver forças após a aplicação e permanecer estável.
Desta forma, para ser considerado um adesivo, um material tem de cumprir 4 requisitos principais:

 Tem de molhar a superfície – o adesivo, ainda em estado aquoso, deve fluir pelas superfícies que
se pretendem unir, de forma a ocupar o lugar do ar ou de contaminantes que poderão existir;
 Tem de aderir às superfícies, ou seja, após fluir sobre toda a superfície, deve começar a aderir e
permanecer estável, tornando-se pegajoso;
 Tem de desenvolver resistência – o material deve então alterar a sua estrutura de forma a se tornar
mais rígido ou não-pegajoso, garantindo sempre a aderência;
 Tem de permanecer estável, isto é, o material deve permanecer inalterado com a idade, condições
ambientais e outros fatores, de forma a assegurar as propriedades desejadas.

Os materiais denominados adesivos são aqueles que promovem a adesão entre dois substratos, pela ação
de forças intermoleculares. A adesão é um parâmetro termodinâmico que quantifica a interação
interatómica e intermolecular entre duas superfícies e engloba a química das superfícies, a física, a reologia,
a química e a física dos polímeros e a análise de fraturas (Awajaa et al., 2009). Por outro lado, a coesão
representa a capacidade de um material permanecer unido pela sua atração intermolecular. Os fenómenos
de adesão e coesão podem ser entendidos pela Figura 1. É importante realçar que a ciência da adesão
engloba não só a formação da adesão, mas também a caracterização da interface adesiva, a quebra dessa
mesma interface e a análise da falha da interface (Marshall et al., 2010).

Figura 1. Adesão e coesão entre um adesivo e um substrato (H.B. Fuller Company, 2016).

Contexto e Estado da Arte 3


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

2.1.1 Adesivos sensíveis à pressão (PSA)

Para Foster, Lovell e Rabjohns (2008), os adesivos sensíveis à pressão são amplamente utilizados
devido à capacidade de formar ligações com as superfícies onde são aplicados através de uma baixa pressão
de contacto (Foster et al., 2009).

Os PSA apresentam propriedades especificas de pegajosidade (tack), de arranque (peel) e de


resistência ao cisalhamento (shear). Estas particularidades são influenciadas pela combinação de
monómeros com diferentes temperaturas de transição vítrea (Tg).

Existem duas grandes categorias de PSAs: permanentes e removíveis. Adesivos permanentes são
adesivos formulados para aderir ao substrato onde são aplicados e para que não sejam removidos sem
danificar o rótulo ou o substrato, enquanto os adesivos removíveis, por sua vez, são formulados de forma a
que possam ser removidos e a não danificar o rótulo, nem deixarem resíduos no substrato (Avery Dennison,
2011).

Os polímeros acrílicos são amplamente utilizados no fabrico de PSAs com vantagens únicas, como
transparência e propriedades adesivas, tal como a pegajosidade devido à baixa Tg (Jin et al., 2009). Para
PSAs permanentes, os componentes acrílicos oferecem boas propriedades de tack e de peel. Para uso
removível, os PSA acrílicos têm boa estabilidade mecânica e força coesiva (Avery Dennison, 2011).

Os adesivos aquosos são a escolha preferencial relativamente aos PSAs de base solvente para a maioria
das aplicações de escritório, tais como fita de escritório comum, fita adesiva, fitas de embalagem (para
selagem de caixa de cartão), notas adesivas, selos postais, curativos médicos e etiquetas de papel. Os PSA
são usados para a maioria dos rótulos de produtos, decalques, gráficos comerciais e fitas de dois lados. São
ainda usados para uma variedade de aplicações na montagem de produtos, assim como na indústria
mobiliária (da Silva et al., 2011).

2.1.2 Métodos de avaliação de desempenho do adesivo

Os PSAs possuem características específicas de adesão, de acordo com a aplicação a que se


destinam, necessária para a colagem e descolagem, e coesão, necessária contra a descolagem. A adesão é
caracterizada pela pegajosidade (tack) e pelo arranque (peel), enquanto a coesão é descrita pela resistência
ao cisalhamento (shear).

Tack é a propriedade medida quando o adesivo entra em contacto com o substrato a ser colado,
caracterizando-se como a adesão inicial do adesivo, ou seja, é a força necessária para separar o adesivo do
substrato após um curto período de tempo de contacto (tesa, 2016).

Por sua vez, peel é a força requerida para remover um adesivo de um substrato. Os testes de peel
são críticos na avaliação de adesivos permanentes. Estes ensaios dão uma medida de força adesiva ou
coesiva, dependendo do modo de rotura. A rotura adesiva ocorre na interface entre o adesivo e um dos

Contexto e Estado da Arte 4


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

aderentes, ficando esse aderente sem resíduos de adesivo. O adesivo fica totalmente no outro aderente,
sendo indício de falha na adesão provocada possivelmente por uma má preparação da superfície. Por outro
lado, a rotura coesiva ocorre quando a ligação entre o adesivo e o substrato é mais forte do que a resistência
interna do próprio adesivo, ficando ambas as superfícies dos aderentes cobertas por adesivo (Figura 2)
(Faneco, 2014).

Figura 2. Tipos de roturas que ocorrem em adesivos (H.B. Fuller Company, 2012).

Relativamente ao shear, sabe-se que é a propriedade do PSA que permite medir a força interna de
um adesivo (forças coesivas). Um teste de resistência ao cisalhamento determina a tensão de corte máxima
que é mantida antes que um adesivo sofra rotura de coesão (Benedek, 2004).

O equilíbrio dessas propriedades, adesão/coesão, incorpora o caráter sensível à pressão do adesivo.


A fim de alcançar uma boa adesão, a fase de adesão envolve algum tempo de permanência. Durante este
tempo, o adesivo deve fluir na ausência de quaisquer forças aplicadas externamente (Benedek, 2004).

2.1.3 Formulação dos PSA

O processo usado para a produção dos polímeros dos PSAs é a polimerização radicalar em emulsão
aquosa.

Fazem parte da formulação polímeros acrílicos, promotores de adesão (tackifiers), plastificantes,


reticulantes (crosslinkers), agentes neutralizadores, tensioativos, espessantes, anti espumas e conservantes.
Cada componente desempenha um papel muito importante na determinação das propriedades finais do
adesivo.

Os monómeros normalmente utilizados para produzir as emulsões de PSA acrílicos são o acrilato de
n-butilo e o acrilato de 2-etilhexilo (2-EHA), com os quais é possível produzir copolímeros de baixa Tg
(com características de elevada pegajosidade e flexibilidade) (Lovell et al., 2009). Os monómeros mais
duros, tais como acrilato de metilo ou acrilato de etilo, são usados para conferir características de adesão e
coesão específicas. Os monómeros que contêm ácido carboxílico, como o ácido metacrílico e o ácido
acrílico, são também utilizados para garantir a estabilidade coloidal do polímero, permitem a formação de

Contexto e Estado da Arte 5


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

ligações mais fortes aos substratos polares e proporcionam reticulação física através de agrupamento de
iões (Lovell et al.,2009).

Os monómeros que apresentam baixa Tg, também melhoram as propriedades de peel de forma mais
eficaz do que os monómeros de alta Tg. O desempenho de shear de um PSA representa a coesão do sistema.
O método fundamental para melhorar o shear é aumentar a densidade de reticulação do adesivo,
aumentando a funcionalidade dos componentes do sistema. A utilização de resinas (tackifiers) que
apresentam valores de Tg mais elevados, fará com que os valores de shear de um PSA aumentem
significativamente.

Os promotores de adesão (tackifiers) têm como principal objetivo aumentar a resistência à remoção
(peel) a pegajosidade do adesivo (tack). Para este efeito, usam-se usualmente resinas poliméricas. Os
plastificantes são compostos com baixo peso molecular e que servem para promover o deslizamento ou
escoamento do PSA, baixando os valores de Tg (Benedek, 2004). Os plastificantes têm como função
aumentar o tack do adesivo. A adesão é um equilíbrio entre o desempenho do tack e do shear. Produtos de
baixa Tg que possuem boas propriedades coesivas exibem alto desempenho de peel. O peso molecular mais
alto melhora a coesão (European Coatings Journal, 2007).

Os reticulantes, ou crosslinkers, promovem as reações de reticulação com o objetivo de inibir a


mobilidade das moléculas poliméricas formando ligações químicas entre as cadeias de PSA, o que faz
aumentar o peso molecular do polímero e impede ainda a sua posterior fusão (Jin et al., 2009). O tack é
principalmente afetado pela densidade de reticulações ou pela funcionalidade do adesivo. Uma menor
densidade de reticulação geralmente resultará num aumento do tack dando maior flexibilidade, auxiliando
na conformidade e humedecimento dos substratos (European Coatings Journal, 2007).

Os espessantes são usados para ajustar a viscosidade e a reologia dos adesivos de acordo com a sua
aplicação e devem ser usados na menor quantidade possível.

2.2 Polimerização radicalar em emulsão aquosa


A polimerização radicalar em emulsão aquosa como forma de preparação de dispersões aquosas foi
utilizada pela primeira vez durante a Segunda Mundial para a produção de borrachas sintéticas a partir de
butadieno e estireno. Atualmente, esta técnica está presente na síntese de diferentes tipos de polímeros
aquosos comerciais.

O primeiro mecanismo proposto para polimerização em emulsão foi o mecanismo micelar descrito
por Harkins na década de 40 (Harkins, 1947) que, posteriormente, veio a ser estudado, desenvolvido e até
publicado por Smith e Ewart (Dunn, 1997). Estes autores conseguiram obter a primeira teoria quantitativa
que consiste em equações para determinar a taxa de polimerização e o número de partículas de látex para a
polimerização em emulsão. A teoria sustenta a hipótese de que o sistema contém as gotículas de monómero
estabilizadas (cerca de 1-10 µm de diâmetro) dispersas na fase aquosa contínua com o auxílio de um

Contexto e Estado da Arte 6


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

tensioativo no início da polimerização. As moléculas de tensioativo presentes têm a facilidade em se


orientarem numa direção especifica para formar agregados, conhecidos como micelas.

2.2.1 Mecanismos da nucleação das partículas

Os tensioativos mantêm as gotículas de emulsão e, posteriormente, as partículas de polímero


estáveis contra a coalescência/agregação. Além disso, o tensioativo desempenha outro papel importante na
polimerização em emulsão além da estabilização: está envolvido no mecanismo de nucleação (isto é, como
as partículas são formadas) das partículas de polímero.

A quantidade de tensioativo utilizada é fundamental para controlar a distribuição do tamanho de


partículas. Como as moléculas de tensioativo são adicionadas a uma emulsão, algumas permanecem
dissolvidas na fase aquosa, enquanto outras adsorvem sobre a superfície das gotículas de emulsão
(Anderson & Daniels, 2003).

À medida que a concentração de tensioativo livre na fase aquosa aumenta, atinge um ponto em que
nenhum tensioativo adicional é solúvel. Este ponto é conhecido como concentração micelar crítica (CMC).
Qualquer tensioativo adicionado após a CMC ter sido alcançada, irá associar-se em agregados chamados
micelas. Os núcleos das micelas são hidrofóbicos e atraem as gotículas de monómero estabilizadas,
inchando assim as micelas (Anderson & Daniels, 2003).

Os radicais gerados pelo iniciador reagem com o monómero dissolvido na fase aquosa para formar
oligoradicais. Uma vez que os oligoradicais atingem um comprimento crítico de cadeia, podem agregar
para formar partículas primárias por nucleação homogénea, entrar em micelas inchadas de monómero para
formar partículas primárias por nucleação micelar ou inserir gotículas de monômero diretamente para
causar nucleação de gotículas (Anderson & Daniels, 2003).
De modo a garantir o sucesso da polimerização em emulsão, isto é, a obtenção do polímero com as
propriedades pretendidas, é fundamental conhecer e controlar os principais fatores que influenciam as
propriedades finais de uma emulsão. Esses fatores incluem os monómeros constituintes, o sistema de
iniciação, o sistema de estabilização e as condições reacionais como a temperatura, tempos de adição ou
até mesmo a pressão.

2.2.2 Descrição do processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa

De acordo com as teorias propostas por Harkins e Smith e Ewart, o mecanismo de polimerização em
emulsão ocorre em três intervalos, incluindo a etapa inicial (formação de partículas ou nucleação), a etapa
de crescimento de partículas e a etapa de conclusão. (Harkins, 1947)

O sistema de polimerização em emulsão é inicialmente composto pelas gotículas de monómero que


são estabilizadas pelo tensioativo na fase aquosa. É nesta fase que as gotículas de monómero são
solubilizadas e onde as micelas de tensioativo estão presentes.

Contexto e Estado da Arte 7


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

À medida que o iniciador se decompõe, geram-se radicais primários que reagem com o monómero
dissolvido na fase aquosa para formar oligoradicais. Estes oligoradicais continuam a polimerizar até que
sejam muito longos para permanecerem solúveis na água. Assim, tal como descrito no modelo de nucleação
micelar de Harkins, os oligoradicais insolúveis procuram uma fase hidrofóbica e, desta forma, entram nas
micelas que contêm monómero dissolvido, ou em partículas de polímero que contêm monómero. O
oligoradical ao entrar numa micela, começa imediatamente a polimerizar e converte a micela numa
partícula de polímero. Esta etapa diz respeito à nucleação micelar. À medida que as partículas criadas neste
processo crescem, necessitam de tensioativo para estabilizar a nova superfície. Assim, o crescimento de
partículas também pode consumir algumas das micelas presentes no reator. A nucleação micelar continua
até que todas as micelas sejam consumidas. Este ponto corresponde ao final do intervalo I (Anderson &
Daniels, 2003). Após a conclusão do processo de nucleação de partículas, a polimerização prossegue de
forma homogénea nas partículas do polímero. A taxa de polimerização nesta etapa é constante. O sistema
encontra-se agora na etapa conhecida como Intervalo II. Esta termina quando não há mais gotículas de
monómero para saturar a fase aquosa e as partículas de látex (Anderson & Daniels, 2003). O estágio de
conclusão, Intervalo III, é a etapa final da reação. Nesta fase, a polimerização continua dentro das partículas
de polímero inchado de monómero que foram formadas durante o Intervalo I, e persistiram e cresceram
durante o Intervalo II. O sistema compreende agora uma dispersão de pequenas partículas de polímero
estabilizadas com as moléculas dos tensioativos originais (Harkins, 1947). Este mecanismo descrito por
Harkins pode ser entendido pela Figura 3.

Figura 3. Taxa de polimerização em função da taxa de conversão nos três diferentes intervalos (M. Khaddazh et al.,
2012)

Contexto e Estado da Arte 8


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

2.2.3 Processos da polimerização radicalar em emulsão aquosa

A polimerização em emulsão pode ser concretizada a partir de três processos diferentes: batch,
semi-batch ou contínuo.

No processo em batch, todos os componentes são adicionados no início e a reação começa assim
que o iniciador é adicionado (e a temperatura é aumentada). Não há controlo da polimerização depois de
iniciada, o único parâmetro que pode ser controlado é a remoção do calor que está a ser produzido pela
polimerização. No semi-batch apenas parte da formulação da reação é adicionada inicialmente ao reator,
sendo os restantes ingredientes alimentados durante o processo reacional. A vantagem deste processo é o
controlo sobre o tamanho de partícula, a formação do coágulo, a composição do copolímero, entre outros,
por vários métodos de adição dos componentes. No processo contínuo, os componentes são adicionados
continuamente ao reator, em que o polímero é removido à medida que vai sendo formado.

2.2.4 Principais componentes da polimerização radicalar em emulsão aquosa

A composição química é um fator importante que afeta as propriedades do produto final. Alguns
componentes são adicionados à formulação antes ou durante a polimerização. Outros são adicionados após
a polimerização (pós-aditivos) para modificar as propriedades do polímero. Existem duas fases numa
emulsão: a fase dispersa, que contém os monómeros e outros componentes solúveis em monómero, e a fase
contínua (aquosa) contendo componentes solúveis em água. Os componentes individuais que compreendem
as duas fases numa emulsão, e as suas funções, são descritos abaixo.

a) Meio dispersante (Água)

A água é o constituinte presente em maior quantidade, cerca de 40 a 60%, de uma emulsão, sendo por
isso considerada a fase contínua, onde são emulsionadas as partículas de polímero dando-se a reação de
polimerização radicalar. Embora os monómeros não sejam solúveis na fase contínua, a água permite a
dissolução dos tensioativos, iniciadores e reguladores de pH, apresentando também uma enorme vantagem
no que diz respeito à libertação de calor da reação exotérmica de polimerização.

O facto de as emulsões serem de base aquosa, apresentam a vantagem de serem uma solução
economicamente acessível, não impondo riscos nem impactos negativos para o Homem e para o meio
ambiente.

b) Monómeros
A polimerização em emulsão requer monómeros polimerizáveis por radicais livres que formam a
estrutura do polímero. Os principais monómeros utilizados na polimerização em emulsão são o metacrilato
de metilo, o acrilato de butilo, o acrilato de 2-etilhexilo, o estireno e o acetato de vinilo.

Todos estes monómeros têm uma estrutura diferente e propriedades químicas e físicas que podem ter
uma influência considerável no processo da polimerização. Assim, a escolha dos monómeros tem de ir ao
encontro das propriedades finais pretendidas para cada polímero, tais como dureza, flexibilidade,
resistência química e o seu custo (Ralheta, 2014). Quando se trata de um homopolímero, as propriedades
Contexto e Estado da Arte 9
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

finais são determinadas pelo monómero presente, já nos copolimeros, essas propriedades são passíveis de
se controlar e otimizar a partir da combinação das características dos dois ou mais monómeros (Yamak,
2013).

Dependendo da temperatura de transição vítrea, Tg, pode-se classificar os monómeros como duros ou
macios. A Tg é definida como a temperatura na qual um sistema amorfo passa do estado vítreo para um
estado mole ou “borrachoso”. Quanto mais alta for a Tg, mais duros são os monómeros. Entre os
monómeros duros encontra-se o estireno, o metacrilato de metilo, o acetato de vinilo e o acrilonitrato. Como
monómeros macios tem-se o acrilato de 2-etilhexilo, o acrilato de butilo e o acrilato de etilo. Na Figura 4
estão apresentados alguns monómeros utilizados na polimerização em emulsão bem como os respetivos
valores de Tg.

Figura 4. Monómeros utilizados na polimerização em emulsão e os respetivos valores de Tg (H.B. Fuller Company,
2012).

c) Sistema de estabilização

O sistema de estabilização, cuja categoria se pode considerar os tensioativos e os coloides


protetores, é um parâmetro sensível e, por essa razão, requer especial atenção na polimerização na medida
em que é este que assegura a estabilidade tanto dos monómeros, geralmente insolúveis na fase continua
(neste caso a água), como a estabilidade coloidal das partículas formadas.

Os tensioativos são utilizados para estabilizar as partículas de polímero durante e após a


polimerização. Alterações no tipo de tensioativo, bem como na sua concentração, podem influenciar o
tamanho médio da partícula, a estabilidade das emulsões e a cinética da reação. Estas moléculas são
responsáveis por efeitos estabilizadores (eletroestático e estereoquímico) e previnem a coagulação das
partículas (no ponto 2.3 é abordada de uma forma mais aprofundada a importância dos tensioativos não só
durante o processo de polimerização, mas também nas propriedades do produto final).

Outra forma de garantir estabilidade numa polimerização em emulsão é através de coloides


protetores, que podem ser usados como alternativa ou em combinação com os tensioativos. Coloides
protetores são polímeros solúveis em água com elevado peso molecular. Estes, estabilizam as emulsões
durante a polimerização e, consequentemente, permitem a estabilização das partículas de polímero,
Contexto e Estado da Arte 10
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

aumentando a viscosidade do produto final. Devido ao seu elevado peso molecular e à sua estrutura, os
coloides protetores são parcialmente incorporados nas partículas do polímero. São exemplos de coloides
protetores os álcoois polivinílicos e os ésteres de celulose (Lovell & S.El-Aaser, 1999).

d) Iniciadores

Uma polimerização em emulsão ocorre a partir do mecanismo radicalar. Assim, a função do


iniciador é gerar radicais livres. Os iniciadores quebram a ligação dupla entre os dois átomos de carbono,
o que faz com que as moléculas de monómero se liguem umas às outras. Os radicais livres são produzidos
geralmente por duas formas principais: decomposição térmica ou a partir de reações oxidação redução.
Além disso, estes podem ser solúveis em água ou em óleo (Yamak, Hale Berber, 2013).

e) Pós aditivos

Os agentes de transferência de cadeia são adicionados à formulação para ajudar a regular a massa
molecular. Estes atuam de forma a terminar os radicais poliméricos em crescimento, formando um novo
radical de tamanho reduzido. Reguladores de pH (buffers) são frequentemente adicionados a formulações
de produção de polímeros para regular o pH do sistema para a gama desejada. Um regulador muito comum
nestes processos é o bicarbonato de sódio (Lovell & S.El-Aaser, 1999). Agentes anti espuma (para diminuir
a formação de espuma provocada pelo tensioativo durante a reação), agentes de coalescência, plastificantes,
agentes espessantes, agentes antimicrobianos, antioxidantes e absorventes de UV são exemplos de aditivos
frequentemente adicionados a polimerizações em emulsão com a finalidade de se conseguirem as
características desejadas do produto final (Yamak, 2013). De modo a reduzir o teor de monómero residual,
são adicionados pares de oxidação redução após o processo de polimerização.

2.3 Tensioativos
2.3.1 Classificação dos tensioativos

Entende-se por tensioativos, ou emulsionantes, moléculas anfifilicas que se definem por possuírem
na sua composição química uma parte hidrofílica (polar) que representa a “cabeça” da molécula, e uma
parte hidrofóbica (apolar) que constitui a cauda de uma molécula de tensioativo. A Figura 5 é uma ilustração
representativa de uma molécula de tensioativo.

Parte hidrofóbica Parte hidrofílica

Figura 5. Representação esquemática de uma molécula de tensioativo. (H.B.Fuller Company, 2012)

Os tensioativos são geralmente classificados de acordo a natureza do grupo principal: podem ser
aniónicos, catiónicos, anfotéricos ou não iónicos. Tensioativos aniónicos são constituidos por um grupo
hidrófilo carregado negativamente. Destacam-se os sulfonatos, sulfatos e fosfatos. Os catiónicos

Contexto e Estado da Arte 11


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

encontram-se carregados positivamente e os tensioativos Zwitterionic (anfotéricos) podem apresentar


propriedades catiónicas ou aniónicas dependendo do pH do meio. Os tensioativos não iónicos não
apresentam carga, ao contrário dos iónicos (Holmberg et al., 1998).

2.3.2 O papel dos tensioativos na polimerização radicalar em emulsão aquosa

Charmeau et al. defendem que o tensioativo influencia fortemente as propriedades adesivas. Os


autores confirmam que os tensioativos concedem propriedades de desempenho muito importantes tanto na
síntese do adesivo (na polimerização em emulsão) como nas características do produto final. (Charmeau et
al., 1996)

Os tensioativos desempenham dois papeis decisivos nos processos de polimerização: estabilizar as


partículas de monómero durante o processo de síntese e manter as partículas de polímero estáveis no
produto final.

2.3.2.1 Estabilidade e propriedades do polímero

Como mencionado anteriormente, os tensioativos, quando dissolvidos em água, acima de uma


determinada quantidade, têm a tendência para se agregarem e formar micelas, que são entidades capazes
de “solubilizar” substâncias não polares, tais como os monómeros orgânicos (Fernandez & Jebbanema,
2007). A concentração micelar crítica (CMC) corresponde à concentração mínima de tensioativo a partir
da qual se formam estas micelas. O papel dos tensioativos neste tópico é reduzir a tendência de coagulação
e estabilizar as partículas. Existem três tipos de interações predominantes entre as partículas: van der Waals,
electroestática e estereoquímica. Na ausência de forças de repulsão, as partículas podem agregar-se e
ocorrer floculação. Os tensioativos desempenham um papel crucial na repulsão (estabilização) entre as
partículas. A repulsão deve-se a efeitos electroestáticos, que ocorrem devido à presença de tensioativos
aniónicos, ou a efeitos estereoquímicos, relacionados com a presença das moléculas de tensioativos não
iónicos.

Em todos os sistemas de estabilização, a relação entre o tamanho das partículas e o tamanho das
moléculas estabilizadoras (os tensioativos) deve ser considerada. As macromoléculas estabilizadoras
devem ser muito menores que as partículas de polímero para obter uma boa estabilização. Se as moléculas
estabilizadoras são muito grandes, podem ocorrer numerosos pontos de ligação e levar à floculação.

O tamanho de partícula está relacionado com o tipo e concentração do tensioativo e desempenha um


papel muito importante nas polimerizações em emulsão e, consequentemente, na aplicação final do
polímero. Uma alteração desta propriedade pode afetar a reologia, brilho, resistência à água, porosidade,
entre outros fatores. Também parâmetros como a viscosidade, tensão superficial e estabilidade mecânica
estão fortemente relacionadas com o tamanho de partícula. Um aumento da concentração de tensioativo
relativamente à CMC resulta na formação de novas micelas ou no aumento das micelas já existentes,
afetando deste modo o tamanho de partícula. O valor de CMC afeta esta propriedade, pois quanto menor

Contexto e Estado da Arte 12


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

for, menor será o tamanho de partícula. De notar que esta relação é válida quando os tensioativos possuem
estruturas semelhantes. (Petrie, Edward M., 2018)

2.3.3 Tensioativos na formulação de adesivos

Em formulações de adesivos, os tensioativos são usados para fornecer as seguintes características sem
afetar negativamente a adesão:

 Redução da tensão superficial a valores extremamente baixos para melhorar o humedecimento


do substrato;
 Ajudar a evitar defeitos que ocorrem no revestimento adesivo, especialmente em superfícies
contaminadas ou de difícil aplicação;
 Estabilidade das partículas do polímero;
 Capacidade de formar espuma (quando desejável).

Os tensioativos afetam uma ampla gama de propriedades físicas em sistemas adesivos, como o
comportamento do adesivo, não apenas durante o processo de produção e aplicação, mas também durante
a vida útil da junta adesiva.

No entanto, a adição de tensioativos nem sempre tem um efeito positivo em todas as propriedades.
Pode provocar uma diminuição da resistência à água do revestimento, uma vez que os tensioativos podem
ser muito solúveis em água e migram facilmente para fora da ligação adesiva durante a aplicação (Petrie,
Edward M., 2018).

2.3.4 Os alquilfenóis etoxilados (APEO)

Os alquilfenóis etoxilados (APEO) são tensioativos não iônicos amplamente utilizados na


polimerização radicalar em emulsão aquosa em virtude da sua ótima relação custo-benefício. No entanto, é
conhecido que alquilfenóis etoxilados apresentam uma cinética de biodegradação lenta e os metabólitos
provenientes da biodegradação são tóxicos para espécies aquáticas, além de serem potenciais
desreguladores endócrinos (Lassen, 2013). Assim, as preocupações crescentes com a poluição ambiental
por parte dos órgãos reguladores e dos consumidores finais têm motivado o desenvolvimento de produtos
ambientalmente mais amigáveis.

2.3.5 Estrutura molecular dos APEO

Os alquilfenóis etoxilados são compostos fenólicos dos quais o grupo fenol é etoxilado (CH3-CH2-
O-) n com um ou mais grupos de óxido de etileno, e que possuem uma cadeia de alquilo ligada ao anel
aromático. A fórmula estrutural geral é:

Figura 6. Fórmula geral da estrutura de uma molécula de alquilfenol etoxilado (Vlaardingen et al., 2003).

Contexto e Estado da Arte 13


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Em que n indica o número de oligómeros de óxido de etileno que compõem a cadeia etoxilada e m
corresponde ao número de átomos de carbono na cadeia alquilo. A cadeia alquílica é desenhada como uma
estrutura linear, mas também pode ser (e normalmente é) ramificada.

Dos APEO, os nonilfenóis etoxilados (NPEO) e os octilfenóis etoxilados (OPEO) são os tensioativos
mais utilizados.

Algumas das alternativas aos APEO (ilustradas na Figura 7) atualmente estudadas englobam os
oxoálcoois etoxilados, álcoois etoxilados lineares, álcoois isotridecil etoxilados e álcoois etoxilados
secundários (Fernandez et al., 2005).

a) b)

c)
d)

Figura 7. Estruturas químicas dos compostos alternativos aos APEO. a) oxoálcool etoxilado; b) álcool linear
etoxilado; c) álcool isotridecil etoxilado; d) álcool secundário etoxilado (Fernandez et al., 2005).

2.3.6 Critério seleção do tensioativo

A estrutura química da molécula (por exemplo, o número de grupos de óxido de etileno) não é o único
fator importante na seleção do tensioativo. Considerações econômicas, ecológicas e a sua função, também
são importantes, tendo sempre em consideração que o papel do tensioativo deve ser avaliado juntamente
com a sua compatibilidade com os outros ingredientes da formulação (Petrie, Edward M., 2018).

Geralmente a seleção depende de:

 Requisitos de composição e aplicação;


 Requisitos de uso final;
 Tipo de fase dispersa (solvente específico ou água);
 Natureza das partículas suspensas;
 Natureza da resina ou emulsão e outros ingredientes na formulação.

A solubilidade dos tensioativos é indicada pelo balanço hidrofílico-lipofílico, HLB, conceito


introduzido por Griffin (1949), que representa o quociente entre as frações hidrofílicas e hidrofóbicas das
moléculas de tensioativo (Holmberg et al., 1998).

Contexto e Estado da Arte 14


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

O sistema HLB é particularmente útil para identificar tensioativos para os dois tipos de emulsão:

 Água-em-óleo (w / o): a água é dispersa em óleo;


 Óleo-em-água (o / w): o óleo é disperso na fase aquosa, tipo de emulsão mais comum.

Uma vez que a estrutura química (por exemplo, ramificada, linear, aromática) é também uma variável,
deve ser analisada uma grande variedade de tensioativos com o mesmo valor de HLB. Nem todos os
tensioativos com o mesmo valor de HLB podem ser aceitáveis para uma determinada emulsão.

A Tabela 1, apresenta os valores de HLB bem como as propriedades típicas do desempenho tendo em
conta a aplicação. Quanto mais alto for o valor de HLB, mais solúvel em água será o tensioativo.

Tabela 1. Propriedades dos tensioativos de acordo com o valor HLB. (The Dow Chemical Company, 2018)

HLB Propriedade

< 10 Solúvel em óleo

> 10 Solúvel em água

4–8 Agente anti espuma

7 – 11 Emulsionante água em óleo

12 – 16 Emulsionante óleo em água

11 – 14 Agente molhante

12 – 15 Detergente

16 – 20 Agente estabilizador

Para tensioativos não-iónicos, o HLB pode ser obtido pelo método de Griffin, dado pela Equação (2.1)

𝑀𝑀
𝐻𝐿𝐵 = 20 ×
𝑀𝑀 + 𝑀𝑀 (2.1)

Em que MMh diz respeito à massa molar hidrofilica e MMl à massa molar do fragmento lipofilico
(hidrofóbico).

Para os tensioativos não iónicos com unidades repetitivas etoxílicas, a Equação 2.1 pode resumir-se à
Equação 2.2, uma vez que neste caso são os grupos de óxido de etileno (EO) os responsáveis pelo caráter
hidrofílico da molécula.

𝐸𝑂 (2.2)
𝐻𝐿𝐵 =
5

Embora este sistema seja útil na seleção de tensioativos, não deixa de ser necessário o método da
tentativa e erro de modo a que seja selecionado o tensioativo que garanta melhores propriedades (Holmberg
et al., 1998).

Contexto e Estado da Arte 15


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3 Materiais e Métodos

3.1 Produção dos polímeros por polimerização radicalar em emulsão aquosa


Os ensaios de polimerização radicalar em emulsão aquosa foram realizados no Laboratório de
Investigação e Desenvolvimento da H.B. Fuller Mindelo, segundo um processo semi-batch.

Sendo que o objetivo deste estudo é verificar qual o efeito da substituição dos tensioativos nas
características de polímeros e adesivos aquosos, foram sintetizados diferentes copolimeros em que, partindo
de um copolímero de referência (cujo tensioativo presente consiste num APEO), se procedeu à substituição
dos tensioativos para alternativas aos APEO que garantam as mesmas propriedades, e por fim comparar os
resultados obtidos.

3.1.1 Matérias primas

As matérias primas necessárias ao processo de polimerização em emulsão encontram-se listadas na


Tabela 2.

Tabela 2. Matérias primas utilizadas na polimerização em emulsão

Monómeros Estireno, ácido acrílico, acrilamida 50%, 2-Etilhexil acrilato, acetato de vinilo

Tensioativos Tensioativos não-iónicos

Outros Persulfato de amónia, água desmineralizada, Amónia 15%, bicarbonado de sódio,


agentes conservantes, agentes anti espuma.

3.1.2 Equipamento
O equipamento para a realização do processo de polimerização em emulsão deve incluir os
elementos apresentados na Figura 8. a b

I)

c
e

f
d

Materiais e Métodos 17
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

II) III)
g

Legenda:
a - Condensador; b – motor de agitação para reator; c - reator de vidro com camisa que permita a circulação
de água de aquecimento/arrefecimento, com capacidade de 2,0l; d - bomba doseadora de catalisador; e -
banho termostático; f - bomba doseadora de pré-emulsão; g - motor de agitação para pré-emulsão ou
misturador de monómeros; h - sonda de temperatura; i - vaso de pré-emulsão ou misturador de monómeros.

Figura 8. Esquema da montagem do equipamento necessário na polimerização em emulsão.

3.1.3 Processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa

No processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa, o reator é carregado inicialmente com


parte da formulação e posteriormente aquecido para a temperatura requerida do processo em estudo. Deve
haver um vaso auxiliar onde se adicionam e misturam os componentes que irão formar a pré-emulsão, onde
são agitados a uma rotação pré-definida e monitorizada por um agitador mecânico. A estabilidade da pré-
emulsão é controlada de modo a verificar se ocorre separação de fases. A pré-emulsão é constituída pela
mistura monomérica, pela totalidade ou parte dos emulsionantes e uma parte da água.

Após esta etapa, a pré-emulsão e o iniciador são adicionados em contínuo ao reator, mantendo
sempre a temperatura controlada durante o tempo de introdução da pré-emulsão (geralmente de 3 a 4 horas).
O controlo da temperatura da reação faz-se regulando a temperatura da água da camisa do reator, podendo
esta ser aquecida ou arrefecida conforme a exotermia ou endotermia da reação. Terminada a adição de
catalisador e pré-emulsão, segue-se um período de digestão com o objetivo de assegurar que o teor em
monómero residual, isto é, monómero que ficou por reagir, seja o menor possível.

No final da reação são adicionados os pares oxidação-redução e os aditivos finais (agentes


conservantes, anti espumas, entre outros), em quantidades totais inferiores a 0,5% (m/m) relativamente à
quantidade total de dispersão polimérica.

A emulsão final deve ser filtrada por um filtro de 100 µm.

Materiais e Métodos 18
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

O processo pode ser entendido pela Figura 9.

Figura 9. Esquema do processo de polimerização em emulsão. (H.B. Fuller Company, 2012)

3.2 Caracterização dos polímeros e adesivos aquosos


Concluída a produção das emulsões, procede-se à análise das propriedades base fundamentais que
caracterizam o produto final de modo a verificar se as mesmas estão dentro dos parâmetros previamente
especificados. Esta caracterização compreende a viscosidade, o teor em sólidos, pH e aspeto do filme.

3.2.1 Viscosidade de Brookfield, teor em sólidos, pH e monómero residual

A viscosidade determina muitas das propriedades de desempenho do produto. No método para a


determinação da viscosidade dinâmica de líquidos foi utilizado o Viscosímetro de Brookfield (Figura 10)
de acordo com a Norma de referência EN ISO 2555:1999. O procedimento consiste em mergulhar até à
ranhura a haste (“spindle”) (Figura 11) mais adequada ao polímero a analisar, selecionar uma velocidade
de 20 rpm e ler, após 10 segundos, o valor indicado no aparelho.

Figura 10. Viscosímetro de Brookfield. Figura 11. Hastes do viscosímetro de


Brookfield.

Materiais e Métodos 19
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

O teor em sólidos, ou resíduo sólido, é uma medida da quantidade de polímero formado,


correspondendo aos constituintes não voláteis, que será a matéria ativa em termos de aplicação. Este
parâmetro também pode ser uma forma de controlar a reação de polimerização, pois um teor em sólidos
baixo pode indicar que ficaram monómeros por reagir no processo de polimerização (monómero residual).
O método de ensaio consiste em colocar uma amostra com 1-2 g de produto numa estufa a 105 ºC, durante
1 hora. O método é executado de acordo com a norma de referência NP EN ISO 3251:2009. O resíduo
sólido é dado pela Equação 3.1:
á á
𝑇𝑆 (%) = × 100 (3.1)

O pH das dispersões aquosas é medido com um aparelho de medição de pH de acordo com a norma
de referência ISO 976:1996. O princípio de funcionamento deste método consiste em mergulhar o elétrodo
na emulsão e verificar o valor obtido. O controlo do pH é muito importante e deve ser feito sempre no fim
da polimerização para garantir a estabilidade do produto. Muitas vezes também é necessário ajustar-se o
regulador de pH no início do processo. A adição de agentes reguladores de pH pode afetar a polimerização
e a viscosidade da dispersão.
O monómero residual (MR) é a quantidade de monómero que ficou por reagir após a reação de
polimerização. Para esta determinação utiliza-se a técnica de cromatografia gasosa. Esta técnica consiste
num método físico de separação, no qual os componentes a serem separados são distribuídos entre duas
fases: a fase estacionaria (5% difenil e 95% dimetilpolisiloxano) e a fase móvel (hélio). À medida que as
duas fases eluem na coluna, podem ser quantificadas por um detetor. Na Tabela 3 encontram-se as
propriedades dos monómeros analisados.

Tabela 3. Propriedades físico-químicas dos monómeros analisados (SpecialChem, 2017).


Monómero Fórmula Ponto de ebulição (ºC) Massa molecular
(g/mol)
Acetato de vinilo (VAM) C4H6O2 72 86,09
Acrilato de 2-etihexilo (2-EHA) C11H20O2 214 184,28
Estireno (St) C8H8 145 104,15

O processo de formação do filme consiste na conversão do produto líquido num filme sólido,
através da evaporação da água. Para que a emulsão apresente boas propriedades e responda aos objetivos,
é necessário que o processo de formação do filme ocorra de forma satisfatória. Com o objetivo de avaliar,
visualmente o aspeto do produto, recorre-se à aplicação de um filme da emulsão com uma espessura de 50
µm numa placa de vidro, sendo posteriormente observado o aspeto e possíveis imperfeições indesejadas
(fissuras, grumos) do filme após secagem.

Materiais e Métodos 20
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Se os resultados desta primeira análise estiverem dentro dos valores pretendidos, procede-se à
caracterização das propriedades complementares, ou seja, propriedades que influenciam o desempenho do
produto aplicado. Entende-se por propriedades complementares a absorção de água, distribuição do
tamanho médio da partícula, temperatura mínima de filmificação e a estabilidade na armazenagem.

3.2.2 Absorção à água

Este método consiste na determinação do teor de água absorvido por um filme de polímero. Após
o espalhamento do filme de 300 µm numa placa de vidro, previamente pesada na balança analítica, este
deverá secar numa sala de temperatura e humidade controlada (23ºC e 50% humidade) durante 24h.
Decorrido este período do tempo, as placas são novamente pesadas e então submersas em água, onde
permanecem mais 24h. Finalmente, retira-se o excesso de água do filme e pesam-se novamente as placas
juntamente com o mesmo.

O teor de água absorvido pelo filme de polímero é calculado recorrendo à seguinte equação:

𝐴𝐴 (%) = × 100 (3.2)

Em que m1 corresponde à massa da placa de vidro, m2 à massa da placa de vidro com o filme seco
na sala termostatizada e m3 à placa que contém o filme depois de 24h imerso em água após ter sido retirado
todo o excesso de água.

3.2.3 Temperatura mínima de filmificação (TMF)

A temperatura mínima de filmificação (TMF) corresponde à temperatura acima da qual a emulsão


apresenta um filme contínuo e isento de fissuras. É uma característica associada à temperatura de transição
vítrea, Tg, e medida de acordo com a Norma ISO 2115:1996. A TMF depende tanto da composição
monomérica, isto é, a relação dos monómeros duros e monómeros macios, como da quantidade de
coalescente e plastificante eventualmente presentes na emulsão.

Um filme de espessura húmida de 50 µm é aplicado no aparelho Rhopoint Bar 90 (Figura 12) numa
superfície com um gradiente de temperatura. Após a secagem, é identificada a zona assim como a
temperatura a partir do qual se observa a formação de um filme continuo e não fissurado.

Figura 12. Fotografia do equipamento de medição do TMF

Materiais e Métodos 21
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3.2.4 Distribuição do tamanho médio da partícula

A obtenção da distribuição do tamanho médio das partículas de polímero é feita por dispersão
dinâmica da luz, DLS (Dynamic Light Scattering), usando o aparelho Mastersizer 3000 da marca Malvern
(Figura 13). O procedimento consiste na diluição e homogeneização de uma gota de emulsão e
posteriormente na introdução desta no aparelho, para leitura e obtenção dos resultados.

Figura 13. Equipamento de medição da distribuição do tamanho de partícula. (Malvern Panalytical, 2018)

3.2.5 Estabilidade na armazenagem

A fim de estudar o comportamento das emulsões ao longo do tempo, quando armazenadas, é feito
um controlo periódico da viscosidade. O método consiste em medir e registar a viscosidade dos polímeros
e adesivos em estudo.

3.2.6 Sedimentação 24 horas

Este método consiste na determinação da quantidade de sedimentação numa amostra. A primeira


parte reside em determinar o teor de sólidos a uma temperatura de 130 ºC durante 2 horas. Para o cálculo
da quantidade de emulsão a analisar recorre-se à expressão:

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑚𝑢𝑙𝑠ã𝑜 = ó
(3.3)

Esta quantidade é adicionada a um tubo de ensaio graduado onde permanecerá em repouso durante
24 horas. Passado este período de tempo, observa-se a quantidade de emulsão que ficou depositada no
fundo do tubo.

3.2.7 Controlo da sedimentação

A um frasco de 100 ml é adicionado amostra para que, ao fim de algum tempo, se proceda à
observação da separação de fases. Na Figura 14 encontra-se a demonstração do teste de controlo da
sedimentação.

Materiais e Métodos 22
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Figura 14. Fotografia das amostras em controlo de sedimentação.

3.3 Produção do adesivo sensível à pressão (PSA)

3.3.1 Matérias-primas

As matérias-primas necessárias à produção de um PSA consistem num copolímero base (emulsão


previamente preparada), preparação intermédia (resina), água desmineralizada, amónia 15%, agentes anti
espuma, espessante, biocida e agentes molhantes.

3.3.2 Equipamento

Para a produção dos PSA foi utilizado sempre o mesmo equipamento de agitação, ilustrado na
Figura 15.

Agitador automático
(dissolver)

Balde de preparação do
adesivo

Figura 15. Equipamento utilizado na produção do PSA.

Materiais e Métodos 23
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3.3.3 Método de produção

A produção de um adesivo sensível à pressão (PSA) consiste num processo de mistura. O método
inicia-se com a introdução de um polímero base (uma emulsão previamente sintetizada) seguindo-se a
adição dos restantes componentes. É importante respeitar os tempos de introdução dos componentes, assim
como a agitação especificada. Os 3 adesivos produzidos tinham a mesma formulação, fazendo-se variar
apenas a preparação intermédia (resina), matéria prima produzida externamente à empresa, onde estão
presentes os tensioativos em estudo. O processo de produção do PSA demora aproximadamente 1 hora.

3.3 Caracterização do adesivo sensível à pressão (PSA)


Antes da realização dos testes de avaliação de desempenho do PSA é necessário preparar o adesivo.
Para tal, deve-se aplicar um filme de produto numa folha de vellum através do método de aplicação por
transferência. Este método consiste em espalhar o adesivo, a partir de um aplicador automático (Figura 16)
numa folha de silicone, com uma barra aplicadora em espiral (ver Figura 17) com uma gramagem definida
previamente, que deverá secar durante 10 minutos numa estufa a 100 ºC. Decorrido este tempo, coloca-se
uma folha de vellum sobre a parte da folha de silicone que contém o filme de adesivo. Este conjunto deve
permanecer durante 24 horas numa sala de temperatura e humidade controladas, podendo posteriormente
ser usado nos testes necessários à caracterização do adesivo.

Figura 16. Aplicador automático utilizado Figura 17. Barras de aplicação do filme
no espalhamento dos filmes de PSA. de PSA.

A gramagem é determinada através da pesagem de três provetes de adesivo, com dimensões de 5 cm


x 5 cm, sendo dada pela média dos resultados obtidos. Esta propriedade indica a quantidade de adesivo a
aplicar numa determinada área de substrato, sendo expressa em g/m2.
A gramagem aplicada em cada filme é definida pela barra utilizada (de 2 g/m2 a 60 g/m2, Figura 17)
cuja velocidade de aplicação varia entre 1 e 10, sendo 1 a velocidade mínima. A velocidade real de aplicação
depende da espessura do substrato e das propriedades do polímero (viscosidade, teor de sólidos, etc.). Na
prática, a velocidade mínima corresponde a aproximadamente 0,02 m/s e a velocidade máxima a 0,22 m/s.

Materiais e Métodos 24
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3.3.1 Métodos de teste das características dos adesivos


Com o objetivo de medir diretamente a adesão de um polímero, são usualmente realizados testes de
resistência ao cisalhamento (shear), de arranque (peel) e de pegajosidade (tack), que consistem em métodos
destrutivos capazes de medir a força necessária para quebrar ou arrancar as superfícies da interface adesiva.
(Awajaa et al., 2009)

3.3.1.1 Teste de peel (FTM 1)

Os testes de peel são usados não de forma qualitativa, mas de forma quantitativa e descreve a
permanência da adesão ou a capacidade de remoção do rótulo ( FINAT Technical Committee, 2001). Este
teste consiste na colocação de uma tira de adesivo com 25 mm de largura na superfície da amostra a testar
e aplica-se pressão usando um cilindro de borracha com uma força definida e de forma repetitiva. Após
este passo aguarda-se 20 minutos ou 24 horas, consoante o tipo de ensaio pretendido, até realizar o teste.
Depois remove-se o adesivo a uma velocidade constante e avalia-se o estado da superfície (Awaja et al.,
2009;). A remoção do adesivo pode ser feita a 90 (Figura 18 a)) ou a 180° (Figura 18 b)), consoante o tipo
de ensaio que se pretende. Este teste é particularmente útil para testar adesivos removíveis.

a) b)

Figura 18. Esquemas do teste de peel a a) 90° e a b) 180º. (Awajaaet al., 2009)

3.3.1.2 Teste de shear (FTM 8)

O teste de resistência ao cisalhamento (shear) é definido como o tempo necessário para uma área
padrão de material revestido com o adesivo deslizar, numa direção paralela, pela superfície plana onde se
encontra unido. O método consiste em colocar uma tira de adesivo com 25 mm de largura numa superfície
vertical, sendo que neste é suspenso um peso de 1 kg (Figura 19) e é medido o tempo necessário para
remover o adesivo da superfície (Jack, 2001).

Figura 19. Fotografia de um ensaio de shear.

Materiais e Métodos 25
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

3.3.1.3 Teste de tack (FTM 9)

O teste de pegajosidade (tack) serve para descrever a adesão inicial do adesivo. O valor do tack é
a força necessária para separar um material com adesivo do seu substrato após um tempo de contacto muito
pequeno. Como se pode verificar pelas Figura 20 , uma tira de adesivo com 25 mm de largura é enrolada
de forma a fazer um arco. Este arco entra em contacto com a superfície e é removido imediatamente, sendo
a velocidade média destes ensaios 300 mm/min (Jack, 2001) (Pinto F. , 2014).

Figura 20. a) Fotografia de um ensaio de tack; b) Ilustração do ensaio de tack (Awajaa et al., 2009).

Materiais e Métodos 26
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4 Resultados e Discussão

4.1 Polímeros e adesivos aquosos


A primeira parte deste trabalho consiste no estudo da influência da substituição de tensioativos em
polimeros sintetizados a partir do processo de polimerização radicalar em emulsão aquosa.

Os tensioativos referenciados na tabela como A, B, C, D e E são os tensioativos selecionados para


serem testados e validados como alternativas aos APEO (designados como Referência 1 e Referência 2).

O critério de seleção de contratipos foi procurar alternativas com as mesmas características do


tensioativo de referência, das quais o HLB, moles de óxido de etileno (OE) e matéria ativa.

Sendo a substituição destes compostos APEO um tema já bastante abordado pelas empresas de
produtos químicos a nível global, há já diversas alternativas disponíveis.

Tabela 4. Tensioativos utilizados na produção dos copolimeros e as suas principais características.

Tensioativo Composição Tipo Número CAS CMC (%) HLB Moles Matéria
OE ativa
(%)

Referência 1 Octilfenol etoxilado Não iónico 9081-83-8 0,04 18 40 70

Referência 2 Nonilfenol etoxilado Não iónico 9016-45-9 0,0057 13 9 70

A Éter alquílico de Não iónico s.i 0,92 18 40 70


polietilenoglicol

B Éter isotridecilico de Não iónico s.i s.i 18 40 70


polietilenoglicol

C Álcool secundário etoxilado Não iónico 84133-50-6 0,13 18 40 70

D Éter alquílico de Não iónico 24938-91-8 0,23 17 21 70


polietilenoglicol

E Álcool gordo etoxilado Não iónico s.i s.i 18 40 70

*s.i – informação não disponibilizada pelo fornecedor (TDS e MSDS).

Resultados e Discussão 27
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.1.1 Adesivo VA
4.1.1.1 Síntese do Copolímero

O copolímero base da formulação do Adesivo VA (copolímero VA), é do tipo vinílico-acrílico que,


tal como o nome indica, fazem parte da sua constituição um monómero vinílico (neste caso o acetato de
vinilo) e outro acrílico (o acrilato de 2-etilhexilo). Este tipo copolímero é utilizado no fabrico de adesivos
para diferentes aplicações, como por exemplo livros de capa dura (colagem das guardas à capa), forro de
capas de arquivo

A primeira etapa consistiu na polimerização do copolímero VA-Ref, sem qualquer alteração da


formulação. Após a polimerização deste, foram produzidos três copolimeros, com a mesma formulação,
mas desta vez com a substituição do tensioativo APEO. Estes copolimeros são referenciados na Tabela 5
como copolímero VA-A, VA-B e VA-C. O copolímero VA-Ref é o produto atualmente produzido com o
tensioativo APEO.

Na Tabela 5 estão apresentadas as propriedades críticas dos copolimeros produzidos. Esta etapa é
importante para verificar se a polimerização decorreu corretamente. Se, após a análise destas propriedades,
se considerar que os resultados foram os pretendidos, procede-se à produção do adesivo.

Tabela 5. Propriedades críticas dos copolimeros.

Copolímero Tensioativo Viscosidade Teor em sólidos pH Monómero


Brookfield (%) residual
(mPa.s) (ppm)

Copolímero VA-Ref Referência 1 4940 49,18 4,72 270

Copolímero VA-A A 3965 50,30 4,82 320

Copolímero VA-B B 4470 48,11 4,26 400

Copolímero VA-C C 2815 50,27 4,70 570

4.1.1.1.1 Viscosidade, teor em sólidos, pH e monómero residual

Os resultados apresentados mostram que os copolímeros produzidos com os tensioativos livres de


APEO (A, B e C), apresentam propriedades semelhantes ao copolímero de referência.

O monómero residual é um dos parâmetros importantes para aferir o grau de conversão da reação.
Este parâmetro é normalmente apresentado em ppm e não deve, para este tipo de polimero, ultrapassar os
1000 ppm. A presença de monómero residual pode resultar num odor indesejável e tornar a o polímero
mais tóxico (Stoev & M.Angelova, 1987).

Resultados e Discussão 28
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.1.1.1.2 Distribuição do tamanho médio de partícula

A distribuição do tamanho médio da partícula (DTMP) depende fortemente do sistema de


estabilização da emulsão, sendo que se trata de um dos principais parâmetros que influencia a qualidade do
polímero final. Desta forma, a substituição do tensioativo reflete-se, sobretudo, nesta propriedade.

De uma forma geral, as emulsões estabilizadas com coloides protetores, como é o caso da
formulação do copolímero VA, apresentam um TMP elevado e uma distribuição larga, ou seja, são
formadas partículas muito grandes e partículas muito pequenas.

Foram avaliadas as distribuições do tamanho médio de partícula para os quatro copolimeros


sintetizados. A Figura 21 (a, b e c) representa a distribuição do tamanho de partícula do copolímero de
referência (VA-Ref) e dos copolimeros produzidos no laboratório com a substituição do tensioativo APEO.

12 12
a) b)
10
Densidade de volume / %

10
Densidade de volume/ %

8 8

6 6

4 4

2 2

0 0
0,01 0,1 1 10 100 0,01 0,1 1 10 100
Tamanho de partícula/ µm Tamanho de partícula / µm
Copolímero VA-Ref Copolímero VA-A Copolímero VA-Ref Copolímero VA-B

12

c) 10
Densidade de volume / %

0
0,01 0,1 1 10 100
Tamanho de partícula/ µm
Copolímero VA-Ref Copolímero VA-C

Figura 21. a) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o copolímero
VA-A; b) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o copolímeroVA-B;
c) Comparação da distribuição do tamanho de partícula do copolímero VA-Ref com o copolímero VA-C.

Na Tabela 6 encontram-se os valores da distribuição em volume do tamanho médio de partícula


dos copolímeros.

Resultados e Discussão 29
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Tabela 6. Resultados da distribuição do tamanho de partícula dos copolímeros.

Copolímero Dv (50) (μm)

VA-Ref 0,963

VA-A 0,730

VA-B 3,40

VA-C 0,498

A Figura 21 a) representa a comparação da distribuição do tamanho de partícula dos copolímeros


VA-Ref e VA-A. Observa-se uma diminuição do tamanho de partícula quando se procede à substituição do
tensioativo. Num estudo que estava a ser realizado no laboratório de desenvolvimento, foi demonstrado que
o tensioativo A era mais indicado para polimerizações de polimeros que apresentam tamanho de partícula
inferiores. Pelos valores obtidos conclui-se que o tensioativo utilizado não pode ser validado como
alternativa ao APEO.

Considerando os resultados das distribuições do tamanho de partícula (Figura 21 e Tabela 6),


conclui-se que o copolímero VA-C é o que apresenta um TMP e uma distribuição unimodal semelhante ao
polímero de referência. O tensioativo usado no copolímero VA-C (tensioativo C) foi validado como
alternativa ao APEO.

Com o objetivo de verificar a variabilidade do TMP deste tipo de copolímero, analisaram-se 3


amostras industriais. Os resultados da DTMP destas amostras encontram-se na Tabela 7.

Tabela 7. Resultado da distribuição do tamanho de partícula dos testemunhos industriais e do copolímero VA-Ref.

Copolímero Dv (50) (μm)

VA-Ref 0,963

Testemunho 1 0,986

Testemunho 2 0,907

Testemunho 3 0,655

Entende-se por Dv (50) o tamanho mediano de partícula por volume, ou seja, corresponde ao
diâmetro em que metade da população está abaixo deste valor. Desta forma percebe-se a variabilidade que
este copolímero pode apresentar uma vez que a distribuição em volume das amostras avaliadas varia entre
0,655 e 0,986 μm.

Resultados e Discussão 30
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.1.1.1.3 Aspeto do filme

O filme dos copolimeros em estudo é isento de grumos (defeitos), o que indica que a polimerização
ocorreu conforme o esperado.

Desta etapa de trabalho, conclui-se que o tensioativo C é o tensioativo validado para a substituição
do APEO. No entanto, decidiu-se produzir os adesivos a partir dos 3 copolimeros sintetizados para
confirmar a consistência da validação do tensioativo.

4.1.1.2 Produção do Adesivo VA

A cada copolímero sintetizado no ponto anterior, foram adicionadas as matérias primas necessárias
para produzir o adesivo final, de acordo com uma formulação padrão selecionada. O adesivo contém como
matérias primas adicionais os plastificantes, biocidas, promotores de adesão (tackifiers), entre outros. Na
Tabela 8 encontram-se as propriedades que caracterizam o adesivo VA.

Tabela 8. Propriedades físico-químicas do adesivo VA.

Adesivo Viscosidade Teor em sólidos pH


Brookfield a 20ºC (%)
(mPa.s)

Especificação 3100 ±300 52,00±3,00 4,50±1,00

Adesivo VA-Ref 2940 49,18 4,72

Adesivo VA-A 3965 50,30 4,82

Adesivo VA-B 4470 48,51 4,26

Adesivo VA-C 2915 51,27 4,70

4.1.1.2.1 Viscosidade, teor em sólidos e pH

Os resultados apresentados na Tabela 8 mostram que os adesivos VA-A e VA-B têm viscosidades
superiores e o VA-B tem um teor em sólidos inferior ao da especificação para este produto.

Os resultados relativamente aos restantes parâmetros encontram-se dentro da gama de


especificação.

4.1.1.2.2 Temperatura mínima de filmificação (TMF)

A Figura 22 mostra que os valores de TMF dos quatro polímeros e dos quatro adesivos são
semelhantes, respetivamente. Os valores mais baixos de TMF devem-se ao facto de estes terem sido

Resultados e Discussão 31
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

plastificados. Em geral, a formulação dos adesivos engloba a adição de coalescentes de forma a baixar o
valor de TMF para garantir que o filme se forma a temperaturas baixas e garanta um bom desempenho em
climas com baixas temperaturas. Os valores de TMF dos adesivos encontram-se dentro da especificação (-
10ºC).

VA-Ref VA-A VA-B VA-C


0

-2

-4
TMF /°C

-4,2 -4,6
-6
-5,7 -5,7
-8

-10 -9,4
-9,5 -9,7 -9,6
-12
Copolímero Adesivo

Figura 22. Comparação dos valores de TMF do copolímero e do adesivo VA.

4.1.1.2.3 Estabilidade na armazenagem

A estabilidade dos adesivos ao longo do seu tempo de armazenagem é controlada através da


medição da viscosidade. Este controlo visa garantir que o produto é estável durante o tempo de vida
indicado na sua ficha técnica.

Pela análise da Figura 23 verifica-se que os adesivos em estudo revelam um comportamento estável
ao longo do tempo, tendo em conta que o ligeiro aumento da viscosidade é típico deste produto.

6000
Viscosidade Brookfield a 20ºC /

5000

4000

3000
mPa.s

2000

1000

0
0 10 20 30 40 50 60
Dias
Adesivo VA-A Adesivo VA-C
Adesivo VA-B Adesivo VA-Ref

Figura 23. Controlo da estabilidade do Adesivo VA.

Desta etapa de trabalho, conclui-se que qualquer uma das formulações apresentam propriedades
físico-químicas semelhantes. Contudo, estes resultados não são suficientes para validar a utilização dos
tensioativos alternativos aos APEO. Estes resultados terão que ser complementados com ensaios de
validação do desempenho de colagem dos adesivos.

Resultados e Discussão 32
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.1.2 Adesivo STA


A sigla STA designa o tipo de copolímero (St, styrene e A, acrylic) cujos monómeros constituintes
são o estireno e o 2-EHA. A formulação deste adesivo contém apenas 100% do copolímero base mais
biocidas para garantir a sua estabilidade biológica. Este tipo de adesivo é aplicado na produção de materiais
abrasivos.

Mais uma vez, foi produzido o adesivo de referência (STA-Ref), em que o tensioativo presente é
APEO, sendo este substituído nos adesivos STA-D e STA-E com contratipos. Os resultados obtidos estão
apresentados na Tabela 9.

Tabela 9. Resultados das propriedades fisíco-químicas do adesivo STA

Adesivo Tensioativo Viscosidade Teor em pH Monómero


Brookfield a 20ºC sólidos (%) residual
(mPa.s) (ppm)

Especificação - 1000-1500 50,00±1,00 7,50±1,00  2000

Adesivo STA-Ref Referência 2 560 48,23 8,40 2380

Adesivo STA-D D 1061 49,38 7,90 1330

Adesivo STA-E E 1216 49,65 7,51 1520

4.1.2.1 Viscosidade, Teor em sólidos, pH e monómero residual

Os resultados apresentados na Tabela 9 mostram que o adesivo STA-Ref apresenta uma


viscosidade inferior à da especificação. Os adesivos STA-D e STA-E tem viscosidades e restantes
parâmetros dentro da especificação do produto.

É de notar que um processo de polimerização, uma vez que envolve reações químicas e que as
condições operacionais (agitação, caudal de entrada de monómeros, variação de temperatura, entre outras),
têm influência nos parâmetros analisados. Conclui-se que a reação do STA-Ref poderá não ter sido
devidamente controlada e, por isso, os valores mais baixos em teor de sólidos e viscosidade e valor mais
elevado de monómero residual.

O valor limite de monómero residual para o adesivo STA é aproximadamente 2000 ppm. Pela
análise dos resultados obtidos, verifica-se que o adesivo STA-Ref apresenta um valor superior ao obtido,
geralmente, para esta formulação. Uma possível razão para este valor terá origem durante o processo de
polimerização em emulsão, onde ocorreu uma menor conversão do monómero.

Resultados e Discussão 33
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Pelos motivos descritos, decidiu-se eliminar a amostra produzida no laboratório e passar-se a usar
como amostra de referência um testemunho industrial.

4.1.2.2 Distribuição do tamanho médio de partícula

Na Figura 24 está representado o gráfico que diz respeito às distribuições do tamanho médio de
partícula dos adesivos STA-D e STA-E em comparação com o adesivo de referência (lote industrial). Os
valores da distribuição encontram-se na Tabela 10.

15
Densidade de volume / %

10

0
0,01 0,1 1 10
Tamanho de partícula / µm
Adesivo STA-E Adesivo STA-D Adesivo STA-Ref
(lote industrial)

Figura 24. Comparação da distribuição do tamanho de partícula dos adesivos STA-D, STA-E e STA-Ref (lote
industrial).

Tabela 10. Distribuição do tamanho de partícula do adesivo STA.

Adesivo Dv (50) (μm)

STA-Ref (lote industrial) 0,222

STA-D 0,263

STA-E 0,267

A distribuição do tamanho de partícula das 3 amostras é praticamente coincidente. Conclui-se assim


que tanto o tensioativo D como o E, alternativas aos APEO, não afetam a distribuição do tamanho de
partícula.

4.1.2.3 Aspeto do filme

O filme do adesivo STA é isento de grupos, o que indica, entre outros fatores, que a polimerização
decorreu corretamente.

Resultados e Discussão 34
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.1.2.4 Temperatura mínima de filmificação (TMF)

Os resultados de TMF apresentados na Figura 25 estão de acordo com a especificação (23,0±2,0


ºC).

25

24,2
23,8
TMF (°C)

23,0
23

21
Adesivo STA-Ref (lote Adesivo STA-D Adesivo STA-E
industrial)

Figura 25. Valores de TMF do adesivo STA.

4.1.2.5 Absorção à água

Um parâmetro importante na avaliação deste tipo de adesivo é a absorção à água (Tabela 11).

Tabela 11. Valores de absorção à água do adesivo STA.

Adesivo Absorção à água (%)

Especificação 25 ± 5

Adesivo STA-Ref (lote industrial) 23

Adesivo STA-D 24

Adesivo STA-E 26

Os filmes do adesivo STA-Ref (lote industrial), STA-D e STA-E após 24 horas submersos em água
apresentam uma cor translucida esbranquiçada. Este fenómeno reflete o efeito da absorção à água. A
absorção à água está relacionada com os constituintes da emulsão e pela forma como o filme coalesce. Os
resultados evidenciam que os valores de absorção à água são idênticos para as 3 amostras ensaiadas e estão
dentro da especificação.

A Figura 26 pretende ilustrar o efeito visual do fenómeno de absorção à água. encontram-se


ilustradas duas situações durante o ensaio de absorção à água.

Resultados e Discussão 35
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

a) b)

Figura 26. Filmes do adesivo STA no método de absorção à água. a) filme antes de ser submerso em água. b) filme
após 24h submerso em água.

Uma vez que os resultados da absorção à água do adesivo-Ref (lote industrial) e dos dois adesivos
contratipos não diferem consideravelmente, conclui-se que a substituição do tensioativo não influenciou
esta propriedade.

4.1.2.6 Estabilidade na armazenagem

1600
Viscosidade de Brookfield a

1400

1200
20ºC / mPa.s

1000

800

600
0 10 20 30 40 50 60
Dias
Adesivo STA-D Adesivo STA-E

Figura 27. Controlo da estabilidade do adesivo STA.

Os resultados até então obtidos mostram a estabilidade dos adesivos (Figura 27), no entanto, os
ensaios de estabilidade na armazenagem continuam em curso na empresa.

Resultados e Discussão 36
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.2 Adesivos sensíveis à pressão (PSA)


A segunda fase deste estudo consiste na substituição de um tensioativo APEO num adesivo sensível
à pressão (PSA). Desta forma, foram produzidas duas amostras, uma com o tensioativo APEO (formulação
padrão) e outra com uma alternativa, APEO free, com a mesma formulação, procedendo-se apenas à
substituição de uma preparação intermédia (resina) onde estão presentes os tensioativos em estudo (Tabela
12).

O adesivo em estudo consiste num adesivo permanente, utilizado no fabrico de etiquetas de papel.

Tabela 12. Tensioativos utilizados na produção do adesivo PSA e as suas principais características.

Tensioativo Composição Tipo Número CMC HLB Moles Matéria


CAS (%) OE ativa (%)

Referência 3 Nonilfenol etoxilado Não iónico s.i s.i 14 10 s. i

F Álcool etoxilado Não iónico s.i 0,002 14 10 80


modificado

*s.i – informação não disponibilizada pelo fornecedor (TDS e MSDS).

4.2.1 Caracterização das preparações intermédias – Resinas

Antes de se dar início à produção dos PSA, foi necessário avaliar as características das preparações
intermédias (resinas) que fazem parte das suas formulações e onde são utilizados os tensioativos (Tabela
13). Parâmetros como a viscosidade, teor em sólidos, pH, sedimentação e tamanho de partícula são os mais
importantes.

As amostras de resinas foram produzidas pelo laboratório da empresa que fornece esta matéria prima
à H.B. Fuller.

Resultados e Discussão 37
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Tabela 13. Propriedades físico-químicas das resinas.

Resinas Tensioativo Viscosidade de Teor de pH Sedimentação Aspeto do


Brookfield sólidos (%) 24 horas (ml) filme
(mPa.s)

Especificação - 525 ± 475 60,00 ± 1,00 8,00 ± 1,00 <0,10 Translucido

Resina – Ref (lote Referência 3 82 58,40 8,19 0,05 Translucido,


industrial) sem defeitos

Resina - Ref (lote Referência 3 105 59,75 8,55 0,05 Translucido,


laboratorial) sem defeitos

Resina – F F 98 59,70 8,59 >0,05 e <0,10 Translucido,


sem defeitos

Todos os resultados das propriedades físico-químicas avaliadas encontram-se dentro da gama de


especificação.

4.2.1.1 Distribuição do tamanho médio de partícula

15 15
Densidade de volume / %
Densidade de volume / %

a) b)

10 10

5 5

0 0
0,01 0,1 1 10 100 0,01 0,1 1 10 100
Tamanho de partícula /μm Tamanho de partícula / μm
Resina - Ref (lote laboratorial) Resina-F Resina - Ref (lote industrial) Resina-F

Figura 28. Distribuição do tamanho de partícula das resinas: a) comparação da Resina-F com a Resina – Ref
(laboratorial); b) comparação da Resina-F com a Resina – Ref (lote industrial).

Tabela 14. Distribuição do TMP das resinas em estudo.

Resultado Resina - Ref (lote Resina - Ref (lote Resina – F


industrial) laboratorial)

Dv (50) (μm) 0,857 0,709 0,770

Resultados e Discussão 38
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

A distribuição do tamanho médio de partícula da Resina-F é muito semelhante à da Resina-Ref


(laboratorial), como se pode comprovar pela Figura 28 a) e pela Tabela 14. Relativamente à comparação
da Resina-F com a Resina – Ref (lote industrial) (Figura 28 b) e Tabela 14), observa-se que o tamanho de
partícula da Resina – F é ligeiramente superior. É de notar que as condições de produção a nível industrial
diferem muito das condições laboratoriais (tamanho das hélices, tamanho dos reatores, modo de introdução
dos componentes, entre outros).

Feita esta primeira análise e tendo em conta que os parâmetros avaliados se encontram dentro da
especificação, procede-se à produção dos adesivos.

4.2.2 Caracterização do PSA

Concluída a produção do adesivo com as resinas analisadas, é realizada uma avaliação das suas
propriedades físico-químicas básicas. Foi utilizado um adesivo de referência (lote industrial) para
comparação de resultados dos ensaios efetuados em laboratório. Os resultados estão apresentados na Tabela
15.

Tabela 15. Propriedades físico-quimicas do PSA.

Adesivo Resina Viscosidade Teor de pH Sedimentação


Brookfield a 25ºC sólidos (%) 24 horas (ml)
utilizada
(mPa.s)

Especificação - 650 – 800 52±1 7,1 – 8,5 10 ± 2

Adesivo - Ref (lote - 678 52,38 7,15 14


industrial)

Adesivo – Ref 1 Resina – Ref (lote 770 51,44 8,16 8


(laboratorial) industrial)

Adesivo – Ref 2 Resina - Ref (lote 1130 52,63 8,65 12


(laboratorial) laboratorial)

Adesivo – F Resina – F 740 52,60 8,69 8

4.2.2.1 Viscosidade, teor de sólidos e pH

A viscosidade do Adesivo-Ref 2 (laboratorial) encontra-se acima da especificação, no entanto, o


valor do teor em sólidos permite ajustar a viscosidade da amostra para o valor da especificação (prática
usada no processo industrial). Desta forma, decidiu-se validar a amostra para dar continuidade aos ensaios.

Resultados e Discussão 39
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

4.2.2.2 Sedimentação 24 horas

A instabilidade física dos adesivos é causada pela separação de fases, causando uma mudança
considerável na aparência, na consistência e no desempenho do produto. O parâmetro usado para determinar
a estabilidade deste produto específico é a sedimentação 24 horas.

Os resultados obtidos encontram-se na gama de valores típicos para este tipo de adesivo, não
influenciando substancialmente o desempenho do produto.

4.2.2.3 Aspeto do filme

Tendo em conta a aplicação a que este produto se destina (etiquetas transparentes, por exemplo),
avaliar o aspeto do filme é um parâmetro fundamental. O filme destes produtos tem que ser transparente e
não apresentar grumos. A ausência de defeitos do filme é um fator crucial para uma boa aplicação.

4.2.3 Testes das características do PSA

Os testes das características do desempenho do PSA seguem as normas FINAT (Associação


Europeia para a indústria de etiquetas auto-adesivas) (FINAT, 2018). Os resultados apresentados
correspondem à média de 5 ensaios. As características principais para caracterizar os adesivos são o tack,
peel e shear.

4.2.3.1 Testes peel a 180º (FTM 1)

O teste de peel permite medir a força de adesão ou, por outras palavras, a capacidade necessária
para remover o adesivo. Este método foi testato utilizando três diferentes substratos: vidro, HDPE e cartão.
O objetivo é avaliar o adesivo quando aplicado em materiais com características distintas, sendo o vidro
um substrato polar, o HDPE não polar e o cartão que apresenta uma superfície rugosa. Estes são os
substratos normalmente utilizados para a caracterização deste tipo de adesivos. O adesivo, como já
explicado anteriormente, foi aplicado num substrato que consiste em papel vellum pelo método de
transferência.

Na Tabela 16 estão apresentados os resultados dos testes de peel a 180º.

Tabela 16. Valores do teste de peel a 180º durante 20 minutos.

Adesivo -Ref Adesivo – Ref 1 Adesivo – Ref 2 Adesivo – F


Substrato
(lote industrial) (laboratorial) (laboratorial)

PT PT PT PT
Vidro
PT PT PT PT
HDPE
PT e FT PT e FT PT e FT PT e FT
Cartão

Resultados e Discussão 40
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Neste tipo de ensaios é comum atribuir-se uma codificação relativa à descrição da rotura. As roturas
que podem ocorrer são:

AD falha adesiva (em inglês, adhesive failure) em que o adesivo permanece no facestock não
aderindo ao substrato a ser colado;

CF falha coesiva (em inglês, cohesive failure), o filme adesivo é dividido durante o teste,
deixando resíduos de adesivo no substrato e no facestock (ocorre normalmente quando o adesivo apresenta
baixa coesão);

AT transferência adesiva (em inglês, adhesive transfer), o adesivo separa-se do facestock


ficando o filme adesivo no substrato;

PT rotura do papel (em inglês, paper tear), ocorre quando a força adesiva excede a resistência
do substrato;

FT rotura da fibra (em inglês, fibre tear), ocorre quando o substrato é papel ou cartão em que
a força adesiva excede a resistência do substrato. ( FINAT Technical Committee, 2001)

A rotura que ocorreu nos testes realizados foi a rotura do papel (paper tear, PT) (Figura 30, Figura
31 Figura 32). A rotura das fibras (fibre tear, FT) (Figura 29) ocorreu no ensaio em que o substrato era o
cartão (único substrato fibroso em estudo).

Figura 29. Fotografia representativa da Figura 30. Fotografia representativa da


ocorrência de fibre tear em cartão. ocorrência de paper tear em cartão.

Figura 31. Fotografia representativa da


Figura 32. Fotografia representativa da
ocorrência de paper tear em HDPE.
ocorrência de paper tear em vidro.

Resultados e Discussão 41
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

Tendo em conta que se trata de um adesivo permanente, este tipo de ensaio normalmente resulta
em PT. Estes resultados evidenciam a boa adesão aos diferentes substratos.

4.2.3.2 Testes de tack (FTM 9)

Os resultados obtidos nos testes de tack estão apresentados na Figura 33 e na Tabela 17.

a) Substrato: vidro b) Substrato: HDPE


20,0 16,0
16,8 16,5 13,6
15,6 14,0 12,3
16,0 14,8 11,6
12,0 10,3

Força / N
10,0
Força / N

12,0
8,0
8,0 6,0
4,0
4,0
2,0
0,0 0,0
Adesivo - Ref Adesivo - Ref 1 Adesivo - Ref 2 Adesivo - F Adesivo - Ref Adesivo - Ref 1 Adesivo - Ref 2 Adesivo - F
(lote industrial (laboratorial) (laboratorial) (lote industrial (laboratorial) (laboratorial)

c) Substrato: cartão
8,0
6,9
7,0
6,0
6,0 5,7

5,0 4,7
Força / N

4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
Adesivo - Ref Adesivo - Ref 1 Adesivo - Ref 2 Adesivo - F
(lote industrial (laboratorial) (laboratorial)

Figura 33. Resultados dos testes de tack nos diferentes substratos: a) vidro; b) HDPE; c) cartão.

Tabela 17. Resultados do teste de tack.


Vidro μ /N  /N HDPE μ /N  /N Cartão μ /N  /N

Adesivo - Ref 16,8 0,5 Adesivo - Ref (lote 12,3 0,2 Adesivo - Ref 5,7 0,4
(lote industrial industrial (lote industrial

Adesivo - Ref 1 16,5 0,3 Adesivo - Ref 1 13,6 0,4 Adesivo - Ref 6,9 0,5
(laboratorial) (laboratorial) 1
(laboratorial)
Adesivo - Ref 2 15,6 0,3 Adesivo - Ref 2 10,3 0,3 Adesivo - Ref 6,0 0,5
(laboratorial) (laboratorial) 2
(laboratorial)
Adesivo - F 14,8 0,4 Adesivo - F 11,6 0,4 Adesivo - F 4,7 0,4

Resultados e Discussão 42
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

A Figura 33 e a Tabela 17 mostram que os valores de tack do Adesivo-F (adesivo com substituição
do tensioativo) são semelhantes aos dos adesivos de referência.

Para o substrato HDPE, o Adesivo-Ref 2 tem um valor de tack ligeiramente inferior aos restantes
adesivos, no entanto, o valor mínimo detetável para este teste é 10 N, sendo este adesivo validado.

Para o substrato cartão, todos os resultados são inferiores ao valor mínimo detetável.

4.2.3.3 Teste de shear (FTM 8)

O Adesivo-F, adesivo constituído pelo tensioativo alternativo (APEO free) obteve resultados de
shear comparáveis com os adesivos de referência, tanto a nível industrial como a nível laboratorial (Figura
34). Todos os resultados apresentam um desvio padrão inferior ao desvio limite de 30% (Tabela 18).

140
119 120
120 113
99
100
Tempo/ min

80

60

40

20

0
Adesivo - Ref (lote Adesivo - Ref 1 Adesivo - Ref 2 Adesivo - F
industrial) (laboratorial) (laboratorial)
Adesivo

Figura 34. Resultados do teste de shear.

Tabela 18. Resultados do teste de shear.

Adesivo μ / min  / min

Adesivo – Ref (lote industrial) 99 27

Adesivo – Ref (industrial) 119 13

Adesivo- Ref (laboratorial) 120 11

Adesivo – F 113 16

Resultados e Discussão 43
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

5 Conclusões
A primeira etapa deste trabalho consistiu no estudo do efeito da substituição de tensioativos não
iónicos Alquilfenóis Etoxilados, amplamente usados em polimerizações em emulsão nas propriedades de
copolímeros acrílicos e num adesivo aquoso designado por PSA com vista à eliminação dos APEO nas
formulações alvo.

Para o estudo do copolímero VA foram selecionados três tensioativos livres de APEO e para o
copolímero/ adesivo STA foram selecionados dois tensioativos livres de APEO. Os resultados dos
parâmetros de caracterização dos polímeros e adesivos (viscosidade, teor em sólidos, pH, monómero
residual, distribuição do tamanho de partícula, TMF e absorção à água) permitiram validar nesta fase o
tensioativo C como a melhor opção para a formulação VA. Relativamente ao copolímero/adesivo STA, os
dois tensioativos testados (D e E) foram validados como possíveis alternativas.

A segunda etapa deste trabalho consistiu no estudo do desempenho de um adesivo PSA onde, na sua
preparação, se procedeu à substituição da mistura intermédia (resina) onde são utilizados os tensioativos
livres de APEO em estudo. O adesivo F apresenta todas as suas propriedades físico-químicas dentro da
especificação estabelecida para o adesivo de referêcia (adesivo formulado com APEO). Relativamente aos
testes de desempenho do PSA, peel, shear e tack, os resultados permitem concluir que a versão produzida
com o tensioativo F, alternativa ao APEO, apresenta propriedades de desempenho semelhantes às do
adesivo de referência, que contém o tensioativo APEO. Os resultados obtidos apontam para a possibilidade
da validação dos tensioativos alternativos aos APEO estudados na matéria prima intermédia (resinas)
produzidas por uma entidade exterior à H.B. Fuller.

Em todos os casos estudados, tanto na produção de polímeros e adesivos como na produção do PSA,
os resultados apontam para que haja pelo menos um tensioativo alternativo ao APEO. Este trabalho carece
ainda de estudos exaustivos para confirmar a reprodutibilidade dos valores aqui apresentados e de ensaios
de confirmação em produções industriais.

Conclusões 44
Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

6 Avaliação do trabalho realizado

6.1 Objetivos Realizados


O principal objetivo deste trabalho foi estudar alternativas a tensioativos alquilfenois etoxilados
(APEO) usados na produção de polímeros e adesivos aquosos. Em primeiro lugar, foram sintetizados os
adesivos através de polimerização em emulsão, seguindo-se a sua caracterização a partir de diferentes
métodos: os básicos, que caracterizam as propriedades fisico-quimicos da emulsão produzida, tais como,
viscosidade, teor de sólidos, pH, monómero residual e aspeto do filme; e os complementares, que avaliam
o produto nas condições de aplicação, entre os quais a distribuição do tamanho médio de partícula,
temperatura mínima de filmificação, absorção à água e estabilidade na armazenagem. Numa segunda etapa,
produziu-se um adesivo PSA pelo processo de mistura e a avaliação do seu desempenho, a partir de ensaios
mecâncos shear, peel e tack. Os resultados obtidos ao longo do estudo pemitiram tirar conclusões sobre as
melhores alternativas aos tensioativos APEO. Todos os objetivos definidos para este trabalho foram
concretizados.

6.2 Limitações e Trabalho Futuro


A polimerização em emulsão é um processo muito complexo e demorado, em que uma simples
modificação, tanto nas condições operacionais como nos componentes, pode ter influência nas propriedades
do polímero produzido. Por estas razões, a principal limitação deste trabalho foi o número reduzido de
amostras produzidas e ensaios realizados.

Como trabalho futuro, será necessário repetir ensaios para validar os resultados apresentados neste
estudo e expandir os ensaios (de substituição de APEO) a outras formulações de polímeros e adesivos.

6.3 Apreciação Final


A minha apreciação final sobre este trabalho é muito positiva. Este estudo permitiu que eu
desenvolvesse competências em novas áreas, pondo em prática conceitos adquiridos durante o curso e
outros completamente novos no meu percurso académico. Acredito que atingi os objetivos propostos pela
empresa e que os resultados que obtive são de grande utilidade e um bom ponto de partida para trabalhos
futuros.

Avaliação do trabalho realizado 45


Propriedades de polímeros e de adesivos sensíveis à pressão de base aquosa

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