Aula 02.02.22
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OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
conceituar a avaliação da personalidade e compreender os seus contextos de aplicação;
explicar os tipos de procedimentos e instrumentos utilizados na avaliação da
personalidade, cientificamente embasados, e diferenciá-los;
reconhecer as possibilidades e as limitações da avaliação da personalidade na clínica
infantil, bem como os desafios de utilizar instrumentos para essa faixa etária;
reconhecer as possibilidades e as limitações da avaliação da personalidade, bem como
seu valor preditivo para contextos de saúde física e mental, que são, na atualidade, tidos
como desafios;
descrever como a personalidade se associa ao planejamento, à adesão e à resistência
ao tratamento psicoterápico.
ESQUEMA CONCEITUAL
AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
A avaliação da personalidade, como estudada e praticada atualmente, é fruto
de uma longa história que parte do reconhecimento de que as pessoas se
diferem na forma como pensam, sentem e se comportam, e esse
reconhecimento das diferenças individuais em personalidade é quase tão
antigo quanto a civilização.1
A partir da constituição da psicologia como ciência, no final do século XIX e
início do século XX, os métodos de avaliação da personalidade começaram a
mudar gradualmente para observações empiricamente embasadas,
demonstrando uma preocupação maior com a efetividade de alguns métodos
em relação a outros. Pode-se citar a publicação do primeiro instrumento de
autorrelato (sujeito avaliando a si mesmo) para avaliação da personalidade, em
1919, por Robert Woodworth, representando uma mudança importante nos
métodos de se avaliar a personalidade ao introduzir as avaliações via
autorrelato na prática profissional e no contexto de pesquisa, com impacto na
forma como se avalia a personalidade nos dias atuais. 2
Contudo, foi somente na década de 1920 que a avaliação da personalidade
ganhou o ímpeto necessário para se constituir como um campo de atuação e
pesquisa no contexto da psicologia. Grande parte desse ímpeto foi decorrente
do surgimento de teorias da personalidade, como a psicanálise de Sigmund
Freud, a teoria das necessidades básicas de Abraham Maslow e a teoria
dos traços de Gordon Allport,1 entre outros exemplos.
Ademais, a necessidade de expansão dos serviços de saúde mental para
atendimento aos militares combatentes na Segunda Guerra Mundial e aos
veteranos do pós-guerra tornou favorável o contexto para o desenvolvimento
de medidas e da implantação de serviços que incluíssem a avaliação da
personalidade como parte dos procedimentos de atendimento. Nesse período
(de 1920 a 1940), foram desenvolvidos os principais instrumentos de avaliação
da personalidade, tanto os tradicionalmente conhecidos como projetivos quanto
os conhecidos como objetivos.3
Entre os anos 1950 e 1970, houve uma expansão da psicologia clínica mais
voltada para o desenvolvimento da psicoterapia e de várias modalidades de
intervenção psicoterápica, o que suplantou o investimento em instrumentos
de medida.3
A partir das décadas seguintes até os dias atuais, retomou-se o interesse pela
avaliação da personalidade em decorrência das contribuições e dos avanços
oferecidos pelas abordagens de traço ao estudo da personalidade, em
especial, do modelo dos cinco grandes fatores (CGF), e da maior atenção
dada ao estabelecimento de critérios para a construção de instrumentos
confiáveis e válidos e da diversificação dos contextos de aplicação desses e de
outros métodos de avaliação.4
Traço Características
Neuroticismo Refere-se à reatividade emocional do indivíduo, às tendências para
(instabilidade emocional) a preocupação e o humor negativo.
Extroversão Pode estar associada à exploração da abordagem ativa do
ambiente, inclusive o social, envolvendo energia, dominância,
gregarismo e emoções positivas.
Amabilidade Refere-se à qualidade da orientação interpessoal e envolve
altruísmo, empatia, cordialidade e sinceridade.
Abertura a experiências Descreve a profundidade, a complexidade e a qualidade da vida
mental e experiencial do indivíduo.
Conscienciosidade Relaciona-se ao direcionamento às metas, à autodisciplina, à
organização e à eficiência.
Fonte: Adaptado de Mansur-Alves e Saldanha-Silva (2017).6
Os traços de personalidade são relativamente independentes entre si (ou seja, ao descrever um,
não se está descrevendo o outro) e são dimensões, o que significa que as pessoas variam em
graus ou em quantidades que possuem de cada um dos cinco traços básicos. 4,6
Além dos traços, a teoria dos cinco fatores de personalidade advoga que a
personalidade é composta também por outros aspectos, diretamente
relacionados aos traços básicos, mas mais susceptíveis à influência do
ambiente, sendo inclusive reflexo da interação entre as tendências básicas das
pessoas e o ambiente que as rodeia. Os aspectos são conhecidos de maneira
mais genérica como adaptações características, referindo-se4,6
ao autoconceito;
aos esquemas pessoais;
às crenças individuais;
aos valores pessoais;
às atitudes individuais.