Gula
Gula
Gula
“... seu deus é o ventre...”
Gula é a atração desordenada pela comida ou bebida. Parece o mais ignóbil dos
vícios; no glutão há algo de animal. Prejudica a saúde, produz o linguajar soez e
blasfemo, injustiças contra a própria família e outras pessoas, e uma legião de males
demasiado evidentes para necessitarem de enumerações.
Gula é o amor desordenado do comer e do beber. Comer e beber é obrigação
necessária à vida e à saúde. Deus pôs neste ato puramente animal uma sensação
agradável para aceitarmos melhor a obrigação aborrecida e penosa. A gula consiste em
transformar a necessidade em gozo, e é uma desordem comer e beber sem regra e
sem precisão, com excesso na quantidade, muita delicadeza na qualidade, com avidez
ou com muito luxo.
Gula não é senão o abuso do prazer legítimo que Deus quis que acompanhasse
o comer e o beber, tão necessários à conservação do indivíduo.
1.° Natureza. A gula é o amor desordenado dos prazeres da mesa, da bebida ou
da comida. A desordem consiste em procurar o prazer do alimento, por si mesmo,
considerando-o explícita ou implicitamente como um fim, a exemplo daqueles que
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07/04/23, 18:03 Comentários de trechos da Sagrada Escritura
fazem do seu ventre um deus, ou em o procurar com excesso, sem respeitar as regras
que dita a sobriedade, algumas vezes até com prejuízo da saúde.
Os teólogos assinalam quatro maneiras diversas de faltar a essas regras:
Praepropere: Isto é, comer antes de sentir necessidade, fora das horas
marcadas para as refeições, e isto sem motivo legítimo, só para satisfazer a gula.
Laute et studiose: Buscar iguarias esquisitas ou preparadas com demasiado
apuro, para gozar delas mais; é o pecado dos gulosos ou gastrônomos.
Nimis: É ultrapassar os limites do apetite ou da necessidade, enfartar-se
de comida ou bebida, com risco de arruinar a saúde; é evidente que só o prazer
desordenado pode explicar este excesso, que no mundo se chama glutonaria.
Ardenter: Comer com avidez, com sofreguidão, como fazem certos animais; e
esta maneira de proceder é considerada no mundo como grosseria.
2.° A malícia da gula vem de escravizar a alma ao corpo, materializar o homem,
enfraquecer a sua vida intelectual e moral, preparando-o, por um pendor insensível, ao
prazer da volúpia, que, em substância, é do mesmo gênero. Para lhe determinarmos
com precisão a culpabilidade, importa fazer esta distinção.
A) A gula é falta grave: a) Quando chega a excessos tais que nos torne
incapazes, por tempo notável, de cumprir os nossos deveres de estado ou obedecer às
leis divinas ou eclesiásticas; por exemplo, quando prejudica a saúde, quando dá origem
a despesas loucas que põem em risco os interesses da família, quando leva a faltar às
leis da abstinência ou do jejum, b) O mesmo se diga, quando se torna causa de faltas
graves.
A vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar
delas com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum.
O cuidado com a saúde dos cidadãos, requer a ajuda da sociedade para obter as
condições de vida que permitam crescer e atingir a maturidade: alimento, roupa,
moradia, cuidado da saúde, ensino básico, emprego, assistência social.
Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto,
insurgindo-se contra uma concepção neo-pagã que tende a promover o culto do corpo,
a tudo sacrificar-lhe, a idolatrar a perfeição física e o êxito esportivo. Em razão da
escolha seletiva que faz entre os fortes e os fracos, tal concepção pode conduzir à
perversão das relações humanas.
A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso, o abuso da
comida, do álcool, do fumo e dos medicamentos. Aqueles que, em estado de
embriaguez ou por gosto imoderado pela velocidade, põem em risco a segurança
alheia e a própria, nas estradas, no mar ou no ar, tornam-se gravemente culpáveis.
Eis alguns exemplos. “Os excessos da mesa, diz o P. Janvier, dispõem à
incontinência, que é filha da gula. Incontinência dos olhos e dos ouvidos, que vão
buscar pasto doentio nos espetáculos e canções licenciosas; incontinência da
imaginação, que se perturba; incontinência da memória que busca no passado
recordações capazes de excitar a concupiscência; incontinência do pensamento
que, extraviando-se, se derrama sobre os objetos ilícitos; incontinência do
coração, que aspira às afeições carnais; incontinência da vontade, que abdica
para se escravizar aos sentidos... A intemperança da mesa leva à intemperança
da língua. Quantas faltas não comete a língua no decurso de banquetes
pomposos e prolongados! Atraiçoam-se os segredos que havia promessa de
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À sobriedade junta o cristão a prática de algumas mortificações. A) Como é fácil
escorregar por esta ladeira e conceder demais à sensualidade, convém privar-nos, de
vez em quando, de alguns acepipes de que gostamos, úteis até, mas não necessários.
Desse modo se adquire domínio sobre a sensualidade, privando-a de algumas
satisfações legítimas; desembaraça-se o espírito da servidão dos sentidos, dá-se mais
liberdade para a oração e para o estudo e evitam muitas tentações perigosas.
B) É uma excelente prática habituar-se a não tomar refeição alguma, sem nela
fazer qualquer mortificação. Essas pequenas mortificações têm a vantagem de fortificar
a vontade sem dano para a saúde, e é por isso que são geralmente preferíveis às
mortificações mais importantes que só raramente se praticam. As almas boas animam
essas mortificações com um motivo de caridade; deixam um bocadinho para os pobres;
e, como faz notar São Vicente Ferrer , o que se deixa não deve ser o pior senão o mais
escolhido, por pouquinho que seja. É também excelente prática habituar-se a comer um
pouco do que não agrada.
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 03 de março de 2008
Bibliografia
Escritura Sagrada
Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística
Pe. Leo J. Trese, A Fé Explicada
Mnr Cauly, Curso de Instrução Religiosa – O Catecismo Explicado
Ricardo Sada e Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral
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Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Gula: Quinto vício capital”
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