Fraturas
Fraturas
Fraturas
Revisão Anatomofisiológica
Funções do Esqueleto:
✓ Sustentação dos tecidos moles do corpo
✓ Proteção dos órgãos do corpo (ex: tórax)
✓ Servir de alavanca aos músculos
✓ Reservatório de minerais - 99% do Cálcio
✓ Abriga medula óssea - Órgão hematopoiético (ossos chatos:
esterno e ilíacos) Osso Esponjoso Osso Cortical ou
ou Trabecular Compacto
Constituição do Ossos:
O osso é um tecido complexo,
composto por 3 componentes
principais:
→ Componente Celular
→ Matriz Orgânica
→ Componente mineral
Células:
Osteoblastos
Secretam componentes orgânicos da matriz óssea,
responsáveis pela formação de osso novo e calcificação.
Osteócitos
Secretam componentes orgânicos da
matriz para manutenção do osso.
Osteoclastos
Responsáveis pela reabsorção de osso
antigo ou necrosado.
Matriz Extracelular:
Componente orgânica:
◦ Fibras de colagénio tipo I
◦ Glicosaminoglicanas
◦ Proteoglicanas
◦ Glicoproteinas de adesão
FRATURAS 1.2. por ação ou violência indireta
Ex: fratura da clavícula durante na
- Toda a solução de continuidade de um dos elementos
queda de bicicleta sobre o ombro,
do osso do esqueleto.
ou fratura de Colles extremidade
- Perda parcial ou completa da integridade do osso.
do rádio na queda para a frente
- Esta solução de continuidade pode ser completa (toda
sobre a palma da mão)
a espessura do osso está afetada) ou incompleta (apenas uma
parte dessa espessura está afetada)
1.3. por ação ou tração muscular
Ex: fratura da rótula por contração
súbita, violenta e resistida do
quadricipete ou do olecrânio por
mecanismo idêntico, mas do
tricípede
Fratura simples
Fratura exposta
Fratura complicada LESÃO DAS PARTES MOLES
1. Fraturas Simples
Segundo os TRAÇOS DA FRATURA A pele na vizinhança da fratura está
Fratura incompleta viável e fechada. A fratura não está em
contacto com o exterior.
Fratura completa
Fratura comunutiva ou esquirolosa
Fratura por compressão ou esmagamento
2. Fratura Exposta
Há contacto entre os topos ósseos e o
CAUSA exterior por laceração da pele e restantes
1. Fratura Traumática partes moles.
Ocorrem como consequência de um acidente ou de uma
→ Este contacto pode ser de dentro
queda, quando há aplicação de força intensa sobre o osso
para fora – a pele foi perfurada
ou devido a movimentos repetitivos, que prejudicam a
pelos topos dos ossos fraturados.
estrutura aos poucos
→ Este contacto pode ser de fora
1.1. por ação ou violência direta para dentro – penetração direta do
Ex: fratura do cúbito por pancada direta agente traumático.
de um bastão quando se interpõe o
Apresentam grande risco de infeção pelo
antebraço para proteger a cara ou a
facto de o meio bacteriano ter acesso à
cabeça de agressão, ou fratura da tíbia
fratura.
provocada pelo para choque de um
automóvel no atropelamento
3. Fratura Complicada Segundo o Alinhamento
Quando associadas à As angulações no eixo longitudinal nas fraturas diafisárias
fratura existe lesão de alteram o plano do movimento articular plano do
estruturas fundamentais movimento articular provocando desequilíbrios e levando
como as artérias, os nervos, ao desgaste mecânico das articulações de carga,
articulações, músculos ou dominantemente nos membros inferiores.
vísceras.
Segundo o Contacto
TRAÇOS DA FRATURA
EXAME CLÍNICO
Visa a procura dos sinais de fratura:
Sinais clínicos de PROBABILIDADE de fratura
◦ Deformação palpável ou visível
◦ Existência de dor e de impotência funcional 1ªfase – Formação do hematoma fraturário
◦ Aparecimento de equimose (derrame em volta da Os vasos dos canais ósseos de vascularização
fratura) (Havers), e os vasos dos tecidos circundantes
◦ Aparecimento de tumefação local do local da fratura, rompem-se e sangram
◦ Acentuada sensibilidade local sobre o osso até o mecanismo de coagulação interromper
a hemorragia.
O sangue libertado acumula-se entre e ao redor das superfícies
Deformação em Deformação em
ósseas da fratura. O anel ósseo imediatamente adjacente a
genovaro genovalgo cada lado da fratura fica isquémico, e ocorre necrose isquémica
dessa superfície, e a consequente morte dos osteócitos.
Sinais clínicos de CERTEZA de fratura
◦ Mobilização anormal entre os segmentos ósseos 2ªfase – Organização do hematoma
◦ Existência de crepitação óssea quando se mobiliza (granulação ou proliferação celular)
a zona lesada Poucas horas após a formação do
◦ Existência de evidência radiológica hematoma, os fibroblastos
provenientes dos tecidos vizinhos
Outras avaliações obrigatórias começam a penetrar no hematoma, à
determinadas pelo tipo de ocorrência/trauma… medida que este vai sendo absorvido, e após alguns dias
começam a proliferar capilares de neoformação. Este processo
◦ Exame de rotina para pesquisa de outras lesões
conduz à organização do hematoma em tecido de granulação.
◦ Observação da pele no local da fratura (indícios de
fratura exposta
◦ Pesquisa de sinais de oclusão arterial distal à fratura 3ªfase – Formação do calo ósseo
(pulsos periféricos, cor e temperatura da pele, Os fibroblastos no tecido de granulação vão transformar-se em
preenchimento capilar colagenoblastos, condroblastos e, mais tarde, em osteoblastos.
◦ Pesquisa de lesão nervosa e ou tendinosas (verificar Os osteoblastos, por sua vez, começam a produzir substância
sensibilidade e função motora distais à fratura intersticial que é constituída por colagénio e polissacaridos.
Sobre esta matéria vão-se depositando, progressivamente, sais
de cálcio e de fósforo, formando uma zona de osso trabecular,
EXAME RADIOLÓGICO
que é o calo ósseo ou osso imaturo (que pode ser observado ao
A radiografia convencional (Rx) é o exame complementar RX ao fim de 4 semanas).
mais adequado e vulgarmente utilizado para o diagnóstico
de quase todas as fraturas.
Todas as áreas onde se suspeite existirem fraturas devem
ser radiografadas.
4ªfase – Consolidação por osso lamelar definitivo
O osso trabecular, fibroso ou imaturo é substituído por osso Nota 2:
definitivo que, entre os topos, é organizado em lamelas e No caso do osso esponjoso, como não há canal
osteões segundo as linhas de transmissão mecânica das forças medular, existe uma maior zona de contacto entre os
de carga a que o osso está sujeito. Este tipo de união requer fragmentos ósseos. E a rede trabecular aberta
absoluta ausência de movimento entre os fragmentos da permite uma penetração mais fácil do tecido ósseo
fratura e a inexistência de hiatos ósseos. neo-formado. Assim, a consolidação não se realiza
por meio de calo externo e endóstico, mas antes
diretamente entre as superfícies ósseas.
5ªfase – Remodelação
O calo ósseo formado nas fases
anteriores, através de um mecanismo
equilibrado de reabsorção osteoclático
e das deposições osteoblásticas, vai
sendo remodelado até retomar o seu
aspeto inicial (pode demorar meses ou
anos).
Na criança, o osso em crescimento manifesta a máxima
capacidade de remodelação da fratura, sendo mesmo capaz de
compensar encurtamentos.
Notas:
O tempo necessário para a união óssea é muito variável.
A osteossintese pode alterar os tempos de união ou
mesmo eliminar a formação de calo (nestes casos a
possibilidade de união topo-a-topo fica totalmente
dependente da perfeita imobilidade e contacto entre os
topos, produzida pela osteossintese).
Regra geral:
No adulto: Na criança (metade dos tempos do adulto):
◦ seis semanas são suficientes para a formação de ◦ Três semanas são suficientes para a formação de calo
calo ósseo (em fraturas das diáfises dos pequenos ossos ósseo
longos como os metacarpos ou a clavícula, ou para a ◦ 1,5 meses (6 semanas) é o tempo suficiente para a união
formação de calo ósseo nas fraturas de osso trabecular, topo a topo
como as extremidades dos ossos longos e os ossos curtos
ou chatos)
◦ três meses (12 semanas) é o tempo suficiente para
a união topo-a-topo (nas fraturas das diáfises dos
grandes ossos longos, sobretudo dos membros
inferiores)
TRATAMENTO DE FRATURAS Cuidados no Hospital (Urgências)
Objetivos: 1. Observação sistemática e cuidadosa da pessoa,
✓ Diminuir a dor objetivando colher o máximo de informação pertinente ao
✓ Controlar a posição dos fragmentos estabelecimento de um plano de cuidados adequado:
✓ Obter a união entre os fragmentos – Retirar a roupa (cortar se necessário para evitar
✓ Recuperar a função movimentos excessivos e potencialmente agravantes das
lesões) para avaliação das fraturas
Cuidados Imediatos no Local do Acidente: – Pesquisa de lesões associadas
Respeitar as prioridades na prestação do Suporte Básico – Registo rigorosos de todos os achados (lesões associadas,
de Vida (ABC) fraturas, localização anatómica…)
A imobilização provisória da fratura é muito importante, – Antes de efetuar RX procede se (de novo ou
pois diminui a dor e evita lesões por movimentos dos eventualmente pela primeira vez…) à imobilização
fragmentos enquanto se aguarda o tratamento definitivo provisória das fraturas
Não obstante, é de evitar a perda de tempo com
imobilizações elaboradas se os meios necessários não
2. Nas imobilizações ficam incluídas as articulações acima e
estão imediatamente disponíveis
abaixo da fratura:
Desde que não haja rotação e que estejam pelo menos 1/3 das
6. Controlar a dor superfícies dos topos em contacto entre si, considera se a
fratura razoavelmente reduzida;
Administrar analgésicos IM ou IV, e imobilizar precocemente
as fraturas.
Mobilizar o menos possível as regiões anatómicas onde se Nas fraturas que envolvam superfícies articulares deve se ser
muito exigente na perfeita restauração da superfície articular,
evidenciem sinais de probabilidade de fratura (e não apenas
para evitar o aparecimento de artrose (processo degenerativo
onde há sinais de certeza de fratura.
da articulação);
Manter o alinhamento corporal adequado.
→ A Fixação da fratura
Depois da redução, a estabilização consegue se com a fixação
da fratura:
Fixação externa (gesso ou tração cutânea ou esquelética)
→ A Redução da fratura:
Fechada
(manipulação e tração
esquelética ou cutânea)
Fixação interna (transcutânea ou profunda)
Aberta
(procedimento cirúrgico)
FIXAÇÃO EXTERNA Os métodos de Tração
Principal objetivo:
Imobilizar a fratura e manter os fragmentos ósseos em contacto uns com os
Objetivos da tração:
outros, até se dar a consolidação
✓ Reduzir uma fratura
✓ Manter a posição correta de fragmentos ósseos, durante a
consolidação
- Gesso Completo: ✓ Imobilizar um membro, enquanto se dá a cicatrização de tecidos
pode envolver toda uma extremidade, ou uma parte dela moles
✓ Vencer espasmos musculares
✓ Distender ligações;
✓ Corrigir deformações;
- Talas Gessadas:
✓ Controlar a dor
são feitas com o material do gesso e podem ser consideradas
como meios gessos, pois não abrangem todo o segmento
anatómico, mas apenas as suas faces anteriores, ou posterior ou No tratamento das fraturas têm o inconveniente de manter o
mediana ou lateral doente internado até à consolidação.
A correta aplicação da técnica exige prática e Quando a força deformante dos músculos tende a causar encurtamento ou
conhecimento dos riscos. angulação
Os gessos abertos (talas gessadas) têm menos riscos (ex: nas fraturas do fémur)
que a aplicação de gessos fechados.
Considerações:
Nas fraturas cujo traço as torna instáveis e tendentes ao encurtamento se
imobilizadas com gesso
(ex: fraturas oblíquas).
A Tração Cutânea A Tração Esquelética
… prendendo lhe pesos cuja influência é transmitida indiretamente ao osso a tracionar. A influência do peso é exercida diretamente sobre o
osso a tracionar.
Com anestesia local ou geral é introduzido um fio de
Kirschner ou um cravo de Steinmann no osso distal
relativamente à fratura.
Profunda
Procedimento cirúrgico que expõe o local da fratura (transforma uma fratura fechada
numa fratura aberta), e que permite a reposição dos fragmentos ósseos e a sua fixação
com material de osteossíntese.
Indicações + frequentes:
- Impossibilidade de obter a redução por manipulação fechada
- Impossibilidade de manter a redução devido à instabilidade da fratura
- Necessidade de rigor fraturas intra-articulares)
- Abreviar período de imobilidade