Alienação Parental: Diagnosticar, Prevenir E Tratar: Marinho
Alienação Parental: Diagnosticar, Prevenir E Tratar: Marinho
Alienação Parental: Diagnosticar, Prevenir E Tratar: Marinho
1 - Introdução e conceito:
Revista do Ministério Público. Rio de Janeiro: MPRJ, n. 49, jul./ set. 2013 45
guardião )1 passa a fazer uma campanha desqualificadora e desmoralizadora do
outro genitor, visando afastar dele a criança e destruir o vínculo afetivo existente
entre os dois, utilizando diversas manobras e artifícios para dificultar ou impedir
o contato entre eles e para "programar" a criança para rejeitar ou mesmo odiar
o outro genitor. No dizer de Mônica Jardim Rocha (2), "é uma maldade discreta
disfarçada pelo sentimento de amor e dos cuidados parentais", na qual o genitor
alienador esquece-se de sua principal função, em relação ao outro - respeitar e
promover o relacionamento dele com o filho, incentivando a convivência dos dois
-, e também descumpre o dever de proteger a criança, causando, ao invés disso,
danos em sua estrutura emocional. Como todo abuso emocional, é uma violência
difícil de ser detectada. Acontece dentro dos lares, sem evidências imediatas.
O processo de alienação se inicia quando o genitor alienador, utilizando o
filho como instrumento de vingança contra o genitor alienado, busca monitorar
não apenas o tempo, como também os sentimentos da criança para com o outro,
tentando controlar inteiramente os dois fatores. Caprichoso, o alienador faz de tudo
para silenciar toda e qualquer expressão de afeto da criança em relação ao outro
genitor, chegando alguns a cometer algo ainda mais grave, ao acusar falsamente
o outro de ter cometido maus tratos ou mesmo abuso sexual incestogênico contra
o filho de ambos. A criança, desconsiderada inteiramente enquanto sujeito e
reduzida a objeto do desejo do genitor alienador, afastada do outro genitor, acaba
desenvolvendo uma relação simbiótica com o genitor patológico, tomando-se
una, inseparável dele, e aceitando tudo o que este afirma como sendo correto
e verdadeiro. A verdade do alienador passa a ser a verdade da criança, que,
acreditando nas falsas assertivas ditas pelo guardião, vive, muitas vezes, uma
falsa existência, repleta de falsas memórias, geradas pela repetição sistemática
que ela é levada a fazer. Sem discernir as manipulações que sofre, ela desenvolve
afetos negativos pelo genitor alienado, a quem passa a perceber como um intruso,
invasor, convencida de que deve se manter afastada dele, como quer o alienador.
Conforme salienta Rosana Barbosa Cipriano Simão (3), o pai ou a mãe que,
autoritariamente, inviabiliza ou dificulta o contato do filho com o outro genitor
exerce abusivamente seu poder parental, especialmente, quando há prévia
regulamentação de visitas. Da mesma forma, continua a autora, o pai ou mãe
que frustra no filho a justa expectativa de conviver com o outro genitor, com o
qual não reside, viola e desrespeita os direitos da personalidade do menor em
formação, cabendo aos operadores de direito coibir tais procedimentos e dar
efetividade às garantias constitucionais, protegendo os direitos de crianças e
adolescentes, prioridades absolutas do Estado Democrático de Direito. Por estas
razões, Rosana Cipriano defende que o combate à Alienação Parental é questão
de interesse público, ante ao interesse social na formação de indivíduos plenos,
providos em suas necessidades psíquicas e a salvo de abusos morais, para o que se
faz necessário exigir uma paternidade/ maternidade responsável, compromissada
com as imposições constitucionais, e com a higidez mental das crianças.
1 No PLC 20/2010, há previsão de que o alienador pode ser não apenas um dos genitores, como também
avós ou qualquer pessoa que tenha a criança ou o adolescente sob sua guarda, autoridade ou vigilância.
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2 - Fundamentos da Alienação:
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alienador, emocionalmente frágil, chega a mudar repentinamente de cidade ou
mesmo de país, sob o pretexto de um encontro amoroso ou uma oportunidade
de trabalho, para afastar o filho da vida do outro, em quem só enxerga defeitos.
Muitas vezes faz isso com o apoio de sua família, também disfuncional, o que
reforça seu sentimento de estar com a verdade.
Algumas vezes, a alienação parental ocorre por superproteção do genitor
alienador. É natural haver certa preocupação por parte do guardião quando o filho
vai, pelas primeiras vezes, visitar o outro. Em pessoas saudáveis, essa ansiedade
inicial diminui com o passar do tempo, mas em pessoas psicologicamente frágeis,
ela pode aumentar cada vez mais, desencadeando o processo de alienação. Esses
pais alienadores veem o mundo como perigoso e o outro genitor como uma
ameaça em potencial. Desejam afastar a criança dele e de todas as pessoas que
possam apresentar a ela versões diferentes das que o próprio alienador lhe conta.
3 - Consequências da Alienação:
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Devido ao conflito de lealdade, o filho se sente pressionado a escolher um
dos pais e, conforme nos ensina Lacan (4), é justamente essa escolha forçada que
implica em alienação. Françoise Dolto (5), também assegura que a exclusão de um
dos genitores da vida do filho constitui a anulação de uma parte dele, enquanto
pessoa, representando a promessa de uma insegurança futura, já que somente a
presença de ambos permitiria que ele vivenciasse de forma natural os processos
de identificação e diferenciação, sem desequilíbrios ou prejuízos emocionais na
constituição de sua personalidade. O filho precisa ter a chance de construir sua
versão de cada genitor, a partir de seus próprios referenciais, e não a partir da
interpretação do outro.
4 - A identificação do fenômeno:
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estando bem adaptada à escola e integrada socialmente. Geralmente, ela apresenta
dificuldades no momento da visita do genitor alienado, recusando-se a sair com
ele, sem nenhuma razão ou por razões inteiramente fantasiosas, como o medo
infundado de ser maltratada pelo genitor2. Quando concorda com a visita, costuma
apresentar justificativas que sabe que agradarão ao genitor alienador, como a
obtenção de dinheiro, que coloca como único motivo para o "sacrifício"; e, na
volta, relata apenas o que não lhe foi aprazível.
Ele manifesta ódio pelo genitor alienado, fazendo-lhe falsas acusações, pelas
quais não demonstra remorso, e faz questão de não ser cooperativo ou amigável
durante toda a visita, ou, quando é, tem crise de cólera ou raiva em algum
momento, sem razão aparente. Mente, exagera ou disfarça a verdade, tentando
manipular o interlocutor, e trata o genitor alienado como um verdadeiro inimigo
ou um simples desconhecido cuja proximidade é percebida como agressão. O
vínculo entre o genitor alienado e ele parece estar irremediavelmente perdido.
Em geral, quando há irmãos sendo alienados, cada um deles se encontra em um
estágio diferente do processo de alienação. Irmãos mais velhos vigiam os irmãos
mais novos durante as visitas, tomando para si o encargo da manutenção da
programação feita pelo genitor alienador. Quando o genitor alienado é taxado de
incompetente, os mais velhos creem que devem assumir o seu papel, perante os
mais novos; quando são apresentados como perigosos, sentem que devem proteger
os irmãos. Os primogênitos podem relevar ou acentuar o discurso difamante
do alienador, influenciando bastante os mais jovens. Algumas vezes, quando a
campanha de desmoralização tem efeito sobre apenas uma parte dos filhos - ou
quando há campanhas de desmoralização simultaneamente cruzadas-, a família
se divide nitidamente em duas.
Outra pista bastante comum da existência de alienação parental é que o
sentimento de repulsa ou animosidade desenvolvido contra o genitor alienado
atinge também toda a sua família e amigos. O ódio demonstrado pelo filho é um
sentimento maquinal e sem ambivalência, pois é constituído como uma formação
reativa, numa tentativa de disfarçar o amor que sente pelo genitor alienado, não
lhe sendo possível lidar com a mistura de sentimentos contraditórios, em razão
do medo de desagradar o alienador. Por esta mesma razão, ele não demonstra
culpa ou remorso nessa fase de intolerância a ambivalências geradas pelo conflito
do amor que sente e do ódio que" deveria sentir". Tem um discurso pronto, com
termos inadequados para sua faixa etária, e no qual os genitores são descritos
de modo maniqueísta: um é inteiramente bom e· o outro inteiramente mau.
Apesar disso, afirma que ninguém o influencia e que chegou sozinho a todas as
suas conclusões. Ele aprende cedo a manipular, falando apenas meias verdades,
enredando-se em mentiras e emoções falsas, e torna-se prematuramente apto a
decifrar o ambiente emocional.
2 Importante não ignorar que há casos em que abuso, negligência e maus-tratos estão realmente
presentes, justificando a aversão e rejeição da criança, sem que esta esteja sendo vítima de Alienação
Parental.
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4.2 - Características do Genitor Alienador:
Segundo Gardner, o genitor alienador parece orientar todo o seu ser para a
destruição da relação do filho com o outro genitor, fazendo tudo para corroê-la
e para que os filhos deixem de ver o outro como um membro-chave da família,
excluindo-o de suas vidas. Ele simplesmente é incapaz de reconhecer o filho como
ser humano separado de si mesmo e busca desesperadamente controlar seu tempo
e seu afeto pelo outro genitor. Além de insultar e desvalorizar o outro genitor na
presença dos filhos, envolvendo todos que o cercam na "lavagem cerebral" dos
filhos, e apontando-o sempre como alguém incapaz de tomar conta deles e não
conveniente para o convívio, o genitor alienador costuma confidenciar aos filhos,
com riquezas de detalhes, todas as más experiências e sentimentos negativos
que tem, em relação ao outro genitor. Isto faz com que a criança absorva toda a
negatividade em relação ao outro e se sinta no dever de proteger o alienador, que
reforça de todas as maneiras que pode a ideia de que o filho não é mais amado
pelo outro genitor.
Também é comum que o alienador: tome decisões importantes sobre os filhos,
sem consultar o outro genitor; se recuse a chamar o filho ao telefone, para falar com
o outro; intercepte as cartas e presentes que o outro genitor manda para os filhos;
faça ameaças aos filhos de abandoná-los ou mandá-los viver com o outro genitor,
caso eles busquem se comunicar de alguma forma com ele; desqualifique e proíba
que os filhos usem os presentes dados pelo outro genitor; organize atividades para
o filho no horário da visita do outro; saia de férias sem os filhos, mas deixe-os com
qualquer outra pessoa que não o outro genitor, mesmo que ele esteja disponível e
deseje o contato com eles; "esqueça-se" ou se recuse a dar informações importantes
sobre os filhos para o outro, como informações sobre circunstâncias médicas ou
escolares ou sobre atividades esportivas, artísticas, religiosas ou intelectuais de
que os filhos participem; apresente seu novo companheiro como novo pai ou nova
mãe das crianças, ao passo que se refere ao novo parceiro do outro genitor sempre
de modo descortês; culpe o outro genitor por todos os maus comportamentos do
filho, etc.
Apesar de simular, às vezes, certo esforço para convencer os filhos a visitar
o outro, e uma falsa surpresa quando os filhos demonstram oposição ao genitor
ausente, para o alienador, deixar que eles fiquem com o outro genitor é como
arrancar uma parte de seu corpo. O alienador, entretanto, insiste que são os
filhos que não se sentem bem quando são obrigados a ir visitar o outro genitor e
que lhes é muito desagradável vê-lo. Ele não é cooperativo e qualquer pequena
alteração nos planos de visita serve de pretexto para anulá-la, em geral, não
respeita regras, considerando-as válidas somente para os outros, e desobedecendo
reiteradamente sentenças. Ele se mostra incapaz de ver as situações por outro
ângulo, que não o seu próprio, bem como de diferenciar verdade e mentira,
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fazendo declarações inverossímeis, absurdas e inacreditáveis, mas sendo bastante
hábil em convencer as pessoas do seu desamparo. Ele mostra, às vezes, grande
resistência para ser examinado por profissionais independentes, que possam
descobrir suas manipulações.
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Em verdade, a criança que vivencia o processo de alienação parental tem
violados e desrespeitados, direta e intencionalmente, os seus direitos, garantidos
pela Convenção Internacional do Direito da Criança e do Adolescente, pela
Constituição Federal Brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela
deixa de ser percebida como sujeito de desejo para se tomar objeto de satisfação dos
desejos do alienador, que a trata como propriedade sua, não restando ao genitor
alienado outra alternativa a não ser recorrer ao Judiciário para ver garantido
seu lugar na vida do filho. O Judiciário toma-se, então, uma metáfora paterna,
colocando limites à atuação do alienador.
Glícia Barboza de Mattos Brazil (7) defende que reaproximar pais e filhos
vítimas da alienação é um dos maiores desafios do Judiciário na atualidade, e
que, embora não haja uma resposta fácil e nem mesmo comum entre todas as
histórias, sendo necessário haver muita reflexão e sensibilidade por parte dos
profissionais envolvidos, o certo é que todos, na Justiça, reconhecem a importância
de manter o vínculo afetivo, ainda que não saibam como fazê-lo, e sabem que o
tempo é inimigo do afeto. Segundo ela, o poder de coerção da lei e das decisões
judiciais é de suma importância para que o alienador não continue exercendo
de forma abusiva o seu poder sobre a criança. Ela sugere, como decisão judicial
ideal, o restabelecimento imediato do convívio da criança com o alienado,
paralelamente ao acompanhamento psicológico da família. Afirma que, na prática,
a multa cominatória para o caso de inadimplemento, a configuração do crime
de desobediência e a ameaça de inverter a guarda são as medidas judiciais que
mais têm contribuído para a efetividade da determinação de retorno do convívio
com o alienado, de nada adiantando a decisão sem tais sanções, muitas vezes
tidas por leigos como radicais, mas que, segundo ela, são eficazes e efetivas no
atendimento ao interesse da criança de se ver livre para expressar seu amor por
quem quer que seja. Ela informa que a inversão de guarda muitas vezes põe fim
ao sofrimento psíquico da criança, ainda que ela tenha uma dificuldade inicial
de adaptação à nova situação.
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mantém um comportamento hostil e provocador durante as visitas, embora, depois
de algum tempo afastado do alienador, possa ir se tornando mais cooperativo. Os
laços com ambos os cônjuges ainda permanecem fortes, embora já patológicos.
Nesse estágio médio, Gardner recomenda que a guarda do filho permaneça com
o alienador, pois, segundo ele, a campanha de desmoralização muitas vezes cessa
e o filho consegue passar momentos tranqüilos na companhia do outro genitor,
quando a guarda é estabelecida e o filho e o alienador não sentem mais sua relação
ameaçada. Mas destaca a importância de que sejam estabelecidas sanções para
o descumprimento das regras estabelecidas para as visitas ao genitor alienado,
tais como o pagamento de multas, a redução da pensão alimentícia, a reversão
da guarda ou prisão temporária. Segundo ele, tais penalidades teriam a dupla
função de fazer o alienador corrigir sua conduta e servir como desculpa para os
filhos realizarem as visitas, sem se sentirem, por isso, traindo ou decepcionando
o guardião. Ele aponta também para a necessidade de o Judiciário realmente
aplicar as sanções previstas, em caso de descumprimento das regras estabelecidas,
sem restrições, e sugere que seja nomeado um terapeuta que conheça bem o
fenômeno da Alienação Parental e esteja familiarizado com os métodos impositivos
e constrangedores que a caracterizam, para aplicar um programa terapêutico
preciso e intermediar os encontros entre o filho e o genitor alienado, relatando
os descumprimentos ao Juiz.
Este terapeuta, que deve entrevistar e tratar todos os membros da familia, para
estabelecer ligações entre o que cada um diz, precisa ter uma comunicação fácil e
direta com o Juiz, para reportar todas as obstruções que forem feitas ao tratamento
e todas as formas de desrespeito aos direitos das crianças. Nessas circunstâncias,
obviamente, o sigilo tradicional estaria modificado, pois o repasse dessas
informações ao Juízo seria parte essencial do combate à alienação parental, sem
o qual seria impossível debelá-la. Gardner ressalta a importância de o terapeuta
conhecer bem as sanções previstas na sentença, bem como que elas sejam aplicadas
sem dificuldades pelo Judiciário, preservando a credibilidade do Tribunal. Salienta
também a necessidade de o alienador sentir o risco de perder, inclusive, a guarda
do filho, como punição para sua conduta alienadora. Segundo Gardner, apesar da
compreensível resistência do Judiciário em determinar a reversão da guarda - o
que parece às vezes realmente impossível de ser feito, diante da relação simbiótica
do filho com o alienador e da pouca cooperação que demonstra em relação ao
genitor alienado-, é esta, muitas vezes, a única esperança de salvação para o filho
e para o vínculo parento-filial.
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espécie de pânico, acompanhado de gritos e explosões de violência, diante da
mera idéia da visita ao outro genitor, com quem o filho, perturbado por fantasmas
paranóicos compartilhados com o alienador, tenta evitar qualquer contato. Esse
fanatismo dificulta enormemente as visitas ao alienado, tornando-as praticamente
impossíveis. Quando obrigado a ir, o filho pode fugir, manter-se paralisado por
um terror mórbido ou comportar-se de maneira tão provocativa e destruidora
que obriga o genitor alienado a levá-lo de volta para casa. Mesmo após algum
tempo afastado do alienador, seu medo e sua cólera permanecem intactos,
reforçando o laço que mantém com o alienador. Ele próprio faz forte campanha de
desmoralização do genitor alienado, sem demonstrar culpa ou ambivalência; finge
situações e sentimentos inexistentes; recusa-se a fazer qualquer coisa com o genitor
alienado, usando justificativas múltiplas e fúteis; nega veementemente qualquer
influência do alienador em suas opiniões e reações; generaliza a animosidade para
qualquer pessoa que tenha alguma relação com o genitor alienado. O laço com o
alienador permanece forte, embora patológico, mas o que havia com o alienado
parece desfeito, em meio à patologia e à paranóia.
Em relação ao alienador, Gardner alerta que, muitas vezes, ele comprova que
já está fazendo terapia, tentando, assim, eximir-se da que foi imposta pelo Juízo,
o que, segundo ele, não deve ser aceito pelo Magistrado, tendo em vista que o
terapeuta do alienador é geralmente envolvido em uma relação patológica do
tipo "loucura a dois" e usado para sustentar os interesses do seu paciente. Assim
sendo, Gardner recomenda que o Juiz determine que o alienador siga o tratamento
indicado paralelamente ao que faz em particular. Ele alerta ainda que, ao invés
de recusar expressamente a terapia imposta pelo Judiciário, o alienador pode
externar grande interesse, mas fazer todo o possível para sabotá-la, não sendo
nada cooperativo.
Sugere Gardner que o terapeuta busque encontrar um aliado próximo ao
alienador, de preferência de sua própria família. Alguém que identifique o exagero
dele e tente convencê-lo do quão prejudicial aos filhos é sua conduta. Afirma
o psiquiatra, entretanto, que encontrar esse aliado é tarefa difícil, já que todos
parecem ter medo de se tornar alvo do alienador. A fünção do terapeuta, em relação
ao alienador, então, segundo Gardner, é de tentar fazê-lo entender a importância
do outro genitor na educação do filho e a possibilidade de desenvolvimento de
diversas patologias no filho, caso ele insista na campanha desmoralizadora do outro.
Além disso, considerando que essa campanha é, às vezes, apenas uma forma de o
alienador continuar mantendo a relação com o outro, o terapeuta deve estimulá-
lo a retomar a sua própria vida, encontrando novos interesses e até mesmo uma
nova relação amorosa.
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Devem ser investigadas as fontes da cólera manifestada pelo alienador,
tratando-as terapeuticamente e, quando considerar que as questões financeiras
não estão resolvidas de forma justa, contribuindo para o aumento dessa ira, o
terapeuta deve levar a questão aos especialistas, comunicando-a ao juiz, sem no
entanto manifestar às partes suas conclusões a este respeito, para não alimentar
a revolta existente. Caso o alienador surja com a proposta de mudança do local
de residência ou de cidade, alegando uma oportunidade de emprego ou um
encontro amoroso, o terapeuta deve averiguar se não se trata de nova manobra
para exclusão do outro genitor da vida dos filhos, comunicando ao juiz, caso
seja esta a hipótese. Para Gardner, em caso de mudança de residência, a guarda
do filho deve ser revertida para o outro genitor, de modo a manter a criança no
local de origem.
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terapeuta; em um segundo momento, os filhos ficariam sozinhos, com o terapeuta;
e, finalmente, o outro genitor entraria e ficaria um pouco ali, com os filhos e o
terapeuta, antes de sair com eles. Quando fossem vários os filhos, em estágios
diferentes de alienação, Gardner recomendou que as visitas fossem organizadas
separadamente, para que cada um deles tivesse oportunidade de experimentar por
si mesmo o convívio com o genitor alienado, desconstruindo todas as previsões
feitas e não realizadas.
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7 - Casos de sucesso no combate dos efeitos da Alienação Parental:
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Todas as vezes em que me deparo com essas acusações, especialmente as de
abuso sexual, sinto um grande pesar pela criança, pois, sejam as acusações falsas
ou verdadeiras, ela já é vítima de abuso! Sendo verdadeiras, é vítima de abuso
sexual intrafarniliar, perpetrado pelo genitor que não detém a guarda, e sofrerá as
consequências devastadoras que esse tipo de abuso proporciona. Sendo falsas, ela
é vítima de abuso emocional, perpetrado pelo genitor alienador, que utilizou, para
isso, da imagem do genitor alienado como instrumento do abuso, e terá a mesma
probabilidade de desenvolver problemas e sintomas gerados pelo abuso sexual
incestogênico real. Isso porque, uma vez inventada a história do abuso, o genitor
alienador repete e reconta aquela história tantas vezes, nos mais diversos locais
e para as mais diversas pessoas, que "falsas memórias" acabam sendo criadas
no filho, que termina se acreditando realmente vítima de um ato imperdoável,
praticado pelo outro genitor, e desenvolvendo verdadeiro terror dele. O abuso
sexual incestogênico torna-se verdade em sua psiquê, o eu o deixa vulnerável a
todas as suas consequências.
Uma outra infeliz realidade, que também bate todos os dias às portas da Justiça,
é a de pais ou mães abusadores que, visando escaparem incólumes da persecução
penal e manterem o livre acesso às crianças, usam como estratégia de defesa o
contra-ataque, e se aproveitam do desespero do outro genitor que, entendendo que
a proteção dos filhos só se faz possível com o afastamento do abusador, começa a
agir de forma bem semelhante a dos alienadores. O pai ou mãe abusador, então,
alega a prática da Alienação Parental, com falsa acusação de abuso sexual, pelo
outro genitor, ciente de que Juízes e Tribunais, acostumados a discutir o tema em
todas as arenas onde são debatidas as relações familiares, acolherão facilmente o
argumento. Afirma, assim, que o outro genitor está criando" falsas memórias" no
filho, programando-o para repetir a história inventada, como se fosse verdadeira.
A simples existência de todas essas possíveis realidades surgidas do
cruzamento da Alienação Parental com o Abuso Sexual Incestogênico cria um
problema bastante difícil e delicado para aqueles que têm o dever de garantir a
proteção da criança: diferenciar e detectar cada uma delas. Isto porque, se é certo
que a existência de abusadores que, buscando a autodefesa, desacreditam a palavra
das crianças, afirmando serem elas vítimas de alienação parental, prejudica - e
muito! - a ação dos que lutam contra o abuso sexual infantojuvenil, também é
certo, sem dúvida, que as falsas denúncias de abuso sexual praticado por genitores
contra seus filhos atrapalham - e muito! - a luta dos pais pelo direito de conviver
com sua prole.
Gardner, ciente da importância de diferenciar as duas situações, tendo em
vista que não cabe o diagnóstico de alienação quando existe abuso sexual ou de
qualquer outro tipo, propôs cinco critérios de distinção, a saber:
1. As recordações dos filhos abusados são nítidas e detalhadas, bastando
uma palavra para ativá-las; já as recordações do filho vítima de alienação parental
necessita de ajuda para ser" acessada", tendo em vista que ele não viveu realmente
aquela experiência, e seus cenários são menos críveis. Quando existem irmãos
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alienados, se interrogados separadamente, contam freqüentemente versões
diferentes; e se interrogados juntos, trocam mais olhares entre si do que irmãos
que foram realmente abusados pelo genitor.
2. O genitor de uma criança abusada reconhece os efeitos desastrosos deixados
pela destruição do laço existente entre o filho e o outro genitor, fazendo tudo para
proteger a criança do abuso, mas salvaguardando a relação dele com o abusador;
já o genitor alienador não percebe de forma alguma o prejuízo causado pelo
rompimento do vínculo do filho com o outro genitor.
3. O genitor que abusa dos filhos por problemas psicopatológicos geralmente
tem comportamentos semelhantes em outros setores de sua vida; já o genitor
alienador parece são em outros setores de sua vida.
4. Quando um genitor acusa verdadeiramente o outro de abuso contra o filho,
geralmente tem histórias de abuso contra si próprio; já quando a acusação é falsa,
em geral a queixa do dano diz respeito somente ao filho.
5. O momento da queixa de um abuso sexual verdadeiro é geralmente anterior
à separação do casal; enquanto a queixa de um falso abuso sexual é, em geral,
feita após a separação do casal, ou após um deles iniciar um novo relacionamento.
Diante da dificuldade prática em diferenciar as duas situações, a primeira
tendência dos Juízes, quando recebiam a denúncia do abuso, era ordenar a
suspensão imediata das visitas, de forma muitas vezes precipitada, rompendo a
convivência do filho com o genitor acusado, até que fossem realizados estudos
psicossociais que permitissem uma melhor compreensão da dinâmica daquela
família, a fim de que se pudesse aferir a veracidade ou não da denúncia. Entretanto,
esses estudos, apesar de necessários, são demorados e nem sempre possibilitam
conclusões por parte do juiz, sendo cada vez mais claro que, quando são falsas as
acusações, a privação do convívio com o genitor que não causou mal nenhum ao
filho e cujo único crime foi amá-lo e querer conviver com ele, prejudica a criança,
deixando seqüelas em seu desenvolvimento e em sua relação com aquele genitor.
A criança, quem se torna órfã de pai/ mãe vivo, vira vítima do afastamento
compulsório, perdendo tudo que o genitor alienado poderia acrescentar em
sua vida. Além disso, a decisão de suspensão das visitas gera no alienador um
sentimento de vitória, por ter conseguido seu intento de exclusão do outro. Com
o afastamento do outro genitor, seu poder de manipulação sobre o filho se amplia
e ele consegue com tranquilidade finalizar a programação de rejeição do alienado.
Por tudo isso, há atualmente uma tendência de os juízes, ao invés de
suspenderem as visitas, determinarem que o genitor acusado de abuso realize
visitas monitoradas por terceiros ou realizadas em locais públicos, a fim de manter,
de alguma forma, o vínculo tão indispensável ao desenvolvimento saudável e
integral da criança. Ainda assim, tais visitas são, muitas vezes, boicotadas pelo
alienador, que utiliza vários artifícios para não cumpri-las, sem atentar para o
mal e os danos psíquicos que provoca no filho. Nesse caso, deve-se buscar uma
pronta reparação da violação dos direitos dos filhos, sob pena de tornar letra
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morta todas as previsões existentes para garantia de seu melhor interesse e de
seu desenvolvimento pleno e saudável. Não é mais possível que o Judiciário
permaneça silente diante destas estratégias maquiavélicas para privar genitores
do direito de exercer sua parentalidade. A freqüência do uso destas estratégias
vem crescendo de forma alarmante. É preciso que se dê uma resposta firme
ao alienador, responsabilizando-o por sua conduta, de modo a desestimular o
crescimento dessa onda de denúncias irresponsáveis, feitas por pais ou mães que
não titubeiam em usar os próprios filhos como instrumentos de vingança. Sem a
certeza da punição, o alienador tem poucas chances de mudar seu comportamento
e a onda de falsas acusações que assolam os tribunais tem pouca probabilidade
de ser freada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: