Das Questões Levantad, J: C Lho
Das Questões Levantad, J: C Lho
Das Questões Levantad, J: C Lho
esquerda em Alagoas? Ou 1
desempenho dos partido
progressistas nestes últ1rn"' l
anos? Como sobrev1v u
esquerda após 647 Ou 11 <> ~ 11 1
dos movimentos soc1c 1 11 v,
política alagoana? Ou, 1 1 , 1 ,r.,,,,.,.,
da crise na esquerda no 1 .1,1 1>
A eleição de Ronaldo l s ·
; representa uma vitória pc r
esquerda em Maceió? Ou,il
futuro dos partidos pro r I t ,
em Alagoas? Estas são 11 11111
cf C rv lho das questões levantad,J 11 ,,.., t 1
, , 11 11 11sa, de forma pion-eira, a atuaçao do 11 1,
1 /1 1 , 1 ...,,Jo , PSB, PDT e PSDB em Alagoas .
1 , 1Jr ndo na formação histórica e nos ind1 ,1(l<,1
l 111 micos da atualidade a explicação para mtJrt 1 ci
1 1 • obre a realidade política alagoana, o aut r
1 11 ,, ções, personagens e opiniões que ajL1 J r,
, , dificuldades atuais da esquerda alago, 11
11 1lt11 de "ALAGOAS 1982-1992: A ESOUf r I AI M
1 1 1 • 1111J1 r) nsável para todos aqueles que qu 1r 11, 1
' \'.l"' ll111 ,, 1 pouco do Brasil usando como pano d l 11111 I
11 rn nores estados. O texto ágil e envolvi 111
, r t , muito de perto todas as pessoas qul ci,
11, 1 ,, 1a t1v ram envolvimento partidário, 1 1101 ,11 1
'" '"" 11 últ ,mos dez anos da história recent cl AI, 11'"·,..
111 of or Cícero Péricles, com este livro, p 11,111
v z - Já stá na sua terceira obra quo, t 1111 n 11
111 ostudrosos do tema enriqueçam su,..,.., 11 Ir
, t 1l>l1ogr af,a, no assunto, é praticamente 1n , t 1, t
•
1
I I
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1
MACEIÓ, AL
1993
Lumen/Engenho/Edufal
Apoio
TEOT4•NIO fll.EI.A
1ª Edição
1ª Impressão
1.000 exemplares
l111pr sso no Brasil/printed in Brazil
1
© 1993 Projeto Primeira Prova (Convênio Lumen/Engenho)
e Cícero Péricles de Oliveira •
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
-
APRESENTAÇAO
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise - Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas (1978-1989). A produção universitária está representa- da/ direita, continua esta dicotomia sendo a razão de um
da nas teses de mestrado de Alberto Saldanha, que historia o intenso debate. Oriunda da disposição dos parlamentares
movimento estudantil em Alagoas, depois de 64, a de José franceses na Assembléia Nacional, onde do lado esquerdo do
Nascimento de França a.n alisando o movimento comunitário plenário ficavam os representantes das classes populares e do
nos anos 80 e a de Paulo Décio Arruda que discorre sobre o lado direito os deputados da aristocracia refratários às mudan-
movimento sindical rural em Alagoas, entre 1961 e 1986. ças, esta terminologia passou a representar as correntes
Sem objetivar produzir um texto de intervenção, espero divergentes na luta política em relação ao futuro da sociedade
que este ensaio possa contribuir na discussão sobre as formas apitalista.
de participação política nos partidos, sindicatos e outras Hoje, para os liberais e conservadores de todos os
modalidades de organização social que buscam ultrapassar o 11,alizes, depois da derrubada do Muro de Berlim e da
quadro político vigente, numa perspectiva de mudança q':e LiL·t·rocada do socialismo nos países do Leste Europeu, o
resulte na ampliação dos atuais limites impostos à democracia l'l>11f1·onto esquerda/ direita deixou de ter sentido. Mesmo a
política. llL rmanência de economias centralmen,te pl~nificadas e de
1
10 11
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
alguns de seus paradigmas e daquilo que o sociólogo José sociedade capitalista. Este é um debate tão atual que, polemi-
Paulo Netto chama de "cruzada antimarxista"(Netto, 1992:10), zando com o escritor Rodolfo Konder, a filósofa Marilena
insisto nos termos esquerda e direita, concordando co~ o Chauí, respondeu (FSP, 13/12/92) à idéia de que não mais
pensador italiano Noberto Bobbio o qual, em recente entre~sta existe distinção entre esquerda e direita, da segui11te forma:
(Isto É 11/12/91), afirma 9-ue ' .à parte o fato_de que, c~ntrarzand?
aquilo que se lê amiúde nos 1ornazs: nas entre~zs~as com zntelectuazs "... a distinção esquerda/direita é imorredoura. Co~110 te1·minolo-
•
desorientados, a distinção semântica entre dzrezta e esquerda nada gía ela é datada. Qual é data? E a grande assentúléia geral da
perdeu no seu valor". . _ , Revolução Francesa em que os jacobinos estão sentados à
A ofensiva neoliberal insiste em que a polar1zaçao esta esqu~da e os gírondinos à direita. Portanto, a ter111inología é
na dicotomia arcaico/ moderno, sendo "moderno" o país/ eco- datada para exprimir algo que vai além dela e o Clai,de Lefort
percebeu isso de forma luminosa. O que diz Lefo1·t? [/e diz que
nomia que acelere/restaure os mecanismos d~ mercado: existe ao longo da história uma polarização po/{tica entre um
apague os traços deixados pela presença estatal, 1n~egre-se a "alto" e um "baixo" da sociedade e que ela se dá 110 insta1ite
ordem capitalista inte1·nacio11al de forma su~~rdmada ou em que o "baixo" da sociedade diz que o "alto" 11ão é 1iatu1·al,
competitiva. A lógica d o 1nercado passa a ser a umca forma de mas existe pela ação política. Então, no dia er11 qite 11ão l1ouver
auto-regulação da sociedade, mesmo quan~~ s: sabe que eJa sociedade porque a sociedade se caracteriza por uma divisão
leva a um aumento das desigualdades soc1a1s, a manutençao originária - e é Maquiavel quem diz isso e não Marx -, nesse
das injustiças e ao distanciamento do Estado da defesa da dia ficará fora de moda falar em "alto" e "baixo", radicais e
conservadores, reacionários e progressistas, esque1·da e di,·eita ".
cidadania. ; d" ·
Mas a permanência da dicotomia esquerda 1re1ta, Mantendo o sentido da permanência 11a distinção
apesar destes novos argument?s,. insiste e1:1- aparecer. Es_tas l'Squerda/ direita, o quadro democrático sob a hegemonia das
categorias políticas têm uma intima relaçao com o antigo Íl>rças conservadoras exige uma esquerda co1nbativa, um
confronto entre progressistas e conservadores. Esquerda prl)jeto claro e definido para as várias esferas públicas,
representa desde o século pa~s~~o. um, p_rojeto de ~u~ança iifcrenciando-se dos projetos conservadores que, ao mesmo
cujo centro é a abolição dos pr1v1leg1os t1p1cos do cap1ta:_l1s~o, l ·1npo em que afirmam defender os interesses gerais, na
identificando-se com as conquistas que representavam J_ust1ça ~li', lica excluem sistematicamente os interesses políticos,
social, numa perspectiva sociali~ta. como forma, s~per1or de 't'<111ô1nicos e sociais das classes subalternas.
organização da so~iedade. ~ d_1re1ta, ao contrario, _sempre A luta, dentro de um quadro democrático, exige a
esteve associada a permanenc1a das estruturas vige~t_es, ·~>,11·ação entre esses dois projetos políticos para que a
priorizando a eficiência na administração. dos negocios 11t·it•<lade 1nelhor compreenda suas diferenças e faça sua opção
privados e públicos, cedendo no campo s_oc~al s:mpre _que •11t1·t• ,1s duas concepções de organizar a sociedade; pois,
pressionada pelos "de baixo". Esquerda e d1re1ta sao _pr?Jetos
distintos de desenvolvimento associados a metas e pr101·zdades "... contrariamente ao que vem sendo reforçado pelo debate
diversas" (Diniz & Boschi, 1990: 17). . . JJOlítico, ou seja, que a distinção esquerda/direita te1·ia perdido
É por essa razão que a divisão esquerda/ drr~1ta mantém o ser1tido, pode-se afirmar que é precisamente a definição clara
sua razão política de ser, assumindo formas d1ferent:s de 1/e se11s / imites o que poderia garantir, não apenas a formulação
apresentar as alternativas para o futuro e/ ou superaçao da 1/1• 110/ílicas eventualmente eficazes, como a própria consolidação
,/ri /ll'cJ!'l'SSO de1noc1·ático. Sem uma oposição clara e uma direita
12 13
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
assumida, fica difícil romper com o círculo do populismo e com tantos problemas mas rinci
o vezo oportunista das classes dominantes b,rasileiras, que
julgam possível o enfrentamento de crises ganhando sempre"
(Diniz & Boschi, 1990:20) :r:isl~ntação ~olítica_ ~rogressista no estado. Ao coi:::i~ d:
crença ~~~~a~ ete~m1n1st~ do processo histórico, baseada na
O conceito "esquerda" fica limitado à definição dada por vitória final : ~ ~~ex?;avel" do ~o-~alismo, no fatalismo da
Cesare Galvan quando diz que "... esquerda só se pode entender retrocesso ; da esta ~a1r_ a poss~b!l1dade da regressão, do
como opção política por alguma transformação, ou seja, algo históricos não aceitag esf:º~tia ~1sao ~bert~ dos pr~ce~s_os
totalmente incompatível com dogmas. Na medida em que a mudança evidentemente, não caminha em~:nm? _simplis~a. A h1stor1a,
(desfazer-se dos dogmas) acontecer, isso significaria a própria ta da Pre · ., · unico sentido. A con uis-
gestação a geração de alguma esquerda que mereça este nome"
(Galvan, 1991:46). da vida regional som~:Joª~; leumtadd1reçaolao avanço político
Esquerda e mudanças são termos evocados simultanea- , A ' •aque es que em todo
mente ao longo das décadas. Neste ensaio convencionamos pai~ mantem a esperança utópica na constru - o
chamar "esquerda" ao conjunto dos partidos políticos progres- sociedade alternativa ao capitalismo. çao de uma
sistas PT, PCdoB, PCB/PPS, PSB assim como, em determina-
das situações, os partidos de "centro" - PDT, PSDB e parte do
PMDB -, ou seja, o conjunto de forças empenhadas no aprofun-
damento da democracia política e na institucionalização de O GOLPE DE 64 E O MDB
uma nova cidadania.
Mudança em Alagoas como em todo o Brasil, a partir da
metade dos anos 60, é sinônimo de democratização, de
ampliação da participação popular na administração pública, participação de Alagoas no e;i~óâ:~ Bandeira assim relata
de abertura de espaços de atuação política para a sociedade li •
civil com suas entidades funcionando sem o cerceamento l~ .. comerczantes e latifundiários formaram um exército particu-
imposto pelo regime militar, como ocorreu até o advento da S r de 10.000;omens, sob a supervisão do próprio Secretário de
Nova República. s:ftrança, loronel João Mendonça, todos treinados para
Este ensaio aborda um período, dentro do qual a o agem e uta de guerrilhas Dos 28 u o . .
organizados no Estado 22 d.' h ~d P s empresarzazs
esquerda conheceu várias etapas de uma trajetória que teve h . , zspun am e pelo menos 150
omens e 15.000 lztros de combustíveis cada um p d
seu início em 1980, afirmou-se em 1982 para declinar a partir meh·alhadora foram distribuídos 1 000 t. E . ara ca a
de 1985. Seis eleições aconteceram durante o período conside- M · d fi · · zros. a esse Estado-
. az~r e _azendezros e comerciantes se somaram 1.800 produto-
rado (1982, 85, 86, 88, 89 e 90) e a esquerda continua sendo , es e a~ucar e pequenos proprietários, levando cada um pelo
residual, em termos de votos e representação política, tal como ine~os cznco homen~ armados. O Governador Luís Cavalcante
flf ,o,nva o empreendimento que se inseria , .
há uma década atrás. 1•,<;t1·atécria glob l · Al ' , ~em duvzda, numa
Esse resultado, evidenciado pelas dificuldades d e o a , pozs agoas, pela sua sztuaç - ,f·
,.,,,,stiti,iria, como Estado-tampão h ao geogra1zca,
S<)b1·cvivência da esquerda durante as eleições municip ais de , e; . . , uma cun a entre Perna•Y1bu
'.,, ,. , l'1·g1pe, cu;os Governadores Arraes e S . , '. -
l l)<J2, l{•va-nos a não apenas procurar descobrir as razões de ,,l,•11/ ,fi<·11vn111 com o procrrama de r~formas A ezxa~ D~rta, se
o· :1• • organzzaçao desse
1'1
1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Exército clandestino, com know-how da CIA, custou cerca de legais até 1965 são obrigados a escolher entre a ARENA e o
100 milhões de cruzeiros" (Bandeira, 1978:60). MDB e o segundo turno entre Muniz Falcão e Rui Palmeira
não acontece mais. Alagoas passa a ser governada, durante
Passado o vendaval de cassaçõe~ e prisões que caracteri- quase todo o ano de 1966, por um interventor: General João
zaram o primeiro ano do golpe militar, acontece a eleição p~~a José Batista Tubino.
governador em outubro de 1965. A espinha dorsal do que viria Com a decretação do Al-4, toda a U.n ião Democrática
a ser o MDB em Alagoas, a coligação reformista PSP/ PTB, Nacional/UDN, a maioria do Partido Social Democrático/PSD,
venceu o pleito mas, como não obt~ve a maiori~ abs_oluta ~e além do Partido De1nocrata Crislão/PDC, Partido Liberal/PL
votos (ver Quadro 1) necessitava, a luz da l~~islaça? e~tao e Partido Trabalhista Nacional/PTN vão compor a ARENA em
vigente, de prévia homologação da Assembleia Legisla~iva, Alagoas. A oposição legal em Alagoas, o MDB, ficou basica-
sobretudo daqueles que se opunham às propostas populistas mente formado pelo Partido Social Progressista/PSP, Partido
do ex-governador Mu11iz Falcão. A Assembléia Legislativa, em ' Trabalhista Brasileiro/ PTB, Partido Socialista Brasileiro/ PSB,
votação secreta, po1· u1na maioria de 21 deputados contra 11, Partido Social Trabalhista/PST e pela parte minoritária do
desconheceu o resultado das urnas e negou a posse do Partido Social Democrata/PSD.
candidato vencedor. Em 1966 acontece a primeira eleição disputada entre as
,,ovas frentes eleitorais. ARENA e MDB se enfrentam numa
l'Scolha que incluía uma vaga no Senado, renovação da
QUADRO 1 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES PARA bancada alagoana na Câmara Federal e a eleição para a
GOVERNADOR/1965 - ALAGOAS Assembléia Legislativa. Como não poderia deixar de ser a
Candidato Votos <>posição fragilizada perde para o partido governista. A
AllENA faz seis deputados federais contra três do MDB e 23
Muniz Falcão / PSP / PTB / PSB 59.285
lll•pu tados estaduais contra 12 da oposição. A situação elege
Rui Palmeira / UDN / PSD / PL 43.584 'l'l'<)lônio Vilela (ver Quadro 2) e fica com os três representan-
27.391 ll111 ,1lagoanos no Senado.
Arnon de Mello / PDC / PTN
Geraldo Sampaio / MTR 3.271
João Uchôa/PST 1.466 QUADRO 2-RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA
O SENAD0/1966 - ALAGOAS
Fonte: Diário de Alagoas. 09/10 / 95. ~
Ao final de 1965, os militares decretam o Ato Institucio- l'1•t1I 11i<.> Vilela - ARENA 66.162
nal Nº 2, que extingue os partidos políticos no país; logo l 'ilv,• Ir• I éricl es - MDB 54.441
depois decreta o AI-3, que determina a realizaçã? de eleições
indiretas para governador; e no começo de 1966 e decretado o Fonte: Gazeta de Alagoas 26/ 11 / 66
AI-4, que institui o sistema bipartidário. Estes três decreto~ d a.
ditadura atingem em cheio a política alagoana. Os partido. l) Ml)13 até 1968 contava com um órgão de imprensa
11
111 11 11 I )i, rit> de Alagoas", que tivera importante papel na
IG 17
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
vitória de Muniz Falcão em 1956 e que desde sua morte, em l> PCR entrou em colapso e não mais voltou a atuar em
1966, era mantido com recursos de políticos oposicionistas Alagoas. O Movimento Revolucionário 8 de Outubro/MR-8
liderados pelo deputado Rubens Canuto, morto em acidente i;urgiu em Alagoas no final dos anos 70, através da distribui-
de carro em 1968. A saída de circulação do "Diário de Alago- Çíl<) do jornal "Hora do Povo" sem, no entanto, criar estrutura
as", único espaço aberto à oposição, representou um enorme ~'ll•rmanente. Entre 64 e 75 estas organizações tinham por tática
prejuízo para o MDB que perdia assim seu único espaço de ,1tuar fora do MDB.
comunicação social. A mudança desta posição somente se daria após a
A partir do Ato Institucional Nº 5 que, assinado em 1968 l'(>tnpleta derrota das propostas das organizações rcvolucion.á-
dava poderes ditadoriais à Presidência da República, o MDB rl,1s que defendiam outras vias que não a parlamc11tar e de
foi vítima de uma repressão sistemática - cassações de manda- 111.1ssas para derrubar a ditadura. O final deste período
tos, censura, etc., chegando a cogitar sua autodissolução. Nesse L'<1l11cide com a inflexão política no quadro nacional quando da
período (1964 - 1975) parte da oposição brasile~a, sua ala •. 111nga.dora vitória oposicionista em 1974, inclusive em
esquerdista e radical não se integra ao MDB, considerado ~or All1goas, onde o pequeno e frágil Movimento Democ1·ático
ela instrume11to de legiti1nação da ditadura (a ARENA era tida l\r11silciro conseguiu captar uma imensa votação e vencer em
2
·d d "
como o parti o o sim e o · " MDB d o sim, sen or . Em
" . h ") M,1<.' ·ió.
Alagoas a Ação Popular/ AP, organização da esquerda cr~stã, A conjuntura política alagoana a partir de 1974 refletia
foi a primeira corrente esquerdista a di~I?utar espaços po~íticos , ]ttt1d ro brasileiro onde:
com o PCB nos anos 60. A AP parti·c ipou da fundaçao .da
FETAG e tinha forte influência no movimento estudantil. "... a abertura promovida pelo governo Geisel tinha como uma
Passado o golpe de 64, a AP continuou o ,trabalho no campo de suas metas a revalorização das eleições como fonte de
alagoano, onde, em 1968, foi preso em Agua Branca, Aldo legitimidade do regime, em parte baseado em falsas expectativas
Arantes, um dos seus dirigentes. Na fusão da AP com o extraídas da vitória que seu pa1·tido - a A1·ena - obtivera no
PCdoB em 1973, os militantes daquela organização engajaram- pleito de 1970. Em que pese a fo1·te repressão política e a
censura à imprensa, a relativa liberdade concedida à propagan-
se no novo partido. . . . da eleitoral possibilitou ao MDB, o partido de oposição, obter
Entre 1968 e 1973, o Partido Comunista Brasileiro ttma significativa vitória nas eleições de 1974, fato que surpre-
Revolucionário/PCBR e a Vanguarda Armada Revolucioná- endeu os próprios dirigentes e militantes do partido, invertendo
ria/VAR - Palmares mantiveram contatos esporádicos em ,1s expectativas de todos os que estavam atentos ao momento
Alagoas, que cessaram com o desmant:lamento d~ss~s 110/ítico ". (Nunes, 1987:88)
organizações. Outro grupo, o Partido Comunista Revoluciona-
rio / PCR atuou no Estado entre 66 e 73. Liderado por um A1111. ilr1lcs, em 1970, o MDB tinha sido derrotado pela
alagoano - Manoel Lisboa de Moura -, o _PCR chego~ _a. 11NA lf ltl' vc11ceu a disputa para as vagas ao Senado (ver
comandar o trabalho no Movimento Estudantil. Com a prisao 1111 . ), t•lt1gcr1do quatro deputados federais contra apenas
de seus dirigentes em Recife e de vários militantes em Maceió, 111 MI >I\ v 10 deputados estaduais contra cinco do MDB.
111 • l(1111 t)tlrlc da oposição defendendo o voto nulo, o
1 li 11,·1· l'l>l Ma ció.
1
(sobre a luta da esquerda nesse período ver "A Revolução Faltou
2 l 111 1 >7•1, t) MDB melhora o desempenho, elege dois
ac> Encontro" de Daniel Aarão Reis, Ed. Brasiliense, 1990). 1 li ,1,, l1•1lt•r,1is e sete estaduais e vence a ARENA na
l (1 19
,
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
QUADRO 4- RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA "... se as condições mudaram na guerra entre os Estados, não o
m~daram menos ~ara a luta de classes. O tempo dos golpes de
O SENAD0/1974/ALAGOAS
~ao, das revoluçoes executadas por pequenas minorias cons-
Votos no Estado Votos em Maceió cientes à fren~e ~e massas inconscientes, esse tempo já passou.
Candidatos a Senador
21.995 On~e a, quest~o e uma completa transformação da organização
Teotônio Vilela - ARENA 140.989
social, e preciso que as p1·óprias massas cooperem, que elas já
95.213 34.630 tenl1am a compreensão do que está em jogo, que elas saibam das
Pedro Muniz Falcão - MDB
r11zões de_sua intervenção (... ). Mas, para que as massas
Fonte:TRE/ AI , l'l)/ll1l1'eendam o que há a fazer, é necessário um longo e
1 21
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
perseverante trabalho" (Engels, 1981 :222). ~d-re~entação da oligarquia fende-se, recompondo-se 111ais
. ia_n e em t~rno de uma nova coalizão entre as for as d
A esquerda - no que pese o fato de parte dela ter partici- d1re1ta com discurso modernizado N ç ª
pado do processo de luta armada - fez uma opção clara pela proce_sso eleitoral em Alagoas to~a ::e r~;â_.feríodc), o
estratégia democrática para lutar pelo socialismo, contrapondo- <)_corrido na maioria dos Estados brasileiros: o cam 1;re:c d()
se à "modernização conservadora" do modelo brasileiro de st~ta (que__ inc~ui, além da esquerda, os liberais-denfocr!~~: )
desenvolvimento, disputando a hegemonia política através da Sl> re sequenciadas derrotas e cada vez mais os a tid
via democrática, participando das eleições regulares, organi- i·eprese~tante_s_ das forças conservadoras crescem e d~~ina:
zando-se em partidos políticos legais, disputando espaços, <> cc11ár10 pol1t1co.
aceitando as regras do jogo democrático mas, sem, no entanto
conseguir crescer, pois regionalmente continuava diminuta,
quase sem expressão.
A palavra "derrota" utilizada neste ensaio supõe a perda ANOS OITENTA
de alguma coisa. A primeira referência é a ~leiçã~ de 1982,
quando os partidos de esquerda, na sem1-legal1dade (os
partidos co1nunistas) ou ainda em forma de correntes - ~ue d , E~ Alagoas, em quase todos os setores políticos entra-se
dariam origem mais tarde ao PSB, PSDB, PT e PDT - obtell} 11 ' ~ca a de 80 com a consciência plena do frac;sso dos
v rl<>S governos que se sucederam na vigência do .
suas primeiras conquistas eleitorais desde o golpe militar. E 111l!il ir (Luiz Cavalcante Lamenha Filho AfrA . rLeg1me
bom lembrar que a esquerda nunca teve forte expressão r I ld s . / ' an10 ages
eleitoral em Alagoas, nem mesmo no período 1946/7, quando v ' e> uruagy e Guilherme Palmeira) no seu enfrentament~
11111·._1 <> subdesenvolvimento regional O balanço 1· d
o PCB conseguiu eleger três deputados estaduais - André •I ·c'í •· G · rea iza o
, > i>1 >pt to overno do Estado em 1983 é um ve d d .
Papini Góes, Moacir Andrade e José Maria Cavalcanti, ou l 11 , tó · r a e1ro
' ~lltl; a rio ao~ governantes estaduais do período em UE.
mesmo antes do Golpe de 64. Sua intervenção era mais sentida
nas lutas sociais onde sua influência ultrapassava seu tamanho 11
l I l , 11 .~1~1cu sob ~it~dura militar. Depois de duas década;de
1 <11l 1'-·' 11 e de milagres" 42ot 10 da p 0 pu1açao
- Economica- .
orgânico. O uso da idéia de diminuição do espaço da esquerda /\ · '
1 11 1 l1v,1 c11contrava-se desempregada ou subem d .
é justificada em todo o trabalho em função da comparação 1111 , ,1 ~l,11·ccla que estava ocupada 68ot b' pre~a a,
feita entre os resultados (votos e representação parlamentar) 1 , . , 10 rece ia a te um
1 ,, 11111111110; 55% da população acima de 15
dos partidos progressistas nas várias eleições acontecidas na li ll ·l , ..,8r11 d . anos era
,, l .> ;o as crianças entre 7 e 14 anos não freqüenta-
década de 80. i1 , ,l,11,. 1 c>s 138.000 alunos que frequentaram a 1ª , .
O período estudado, 1980 / 92 marca no plano nacional
1 • 111 l'lll 1979, apenas 55.000 se inscreveram na 2ª ::;~:
os anos finais do regime militar, o surgimento da Nova
1 HII, l'llll1l l]tlL' parte desses alunos era repetente· somente
República e a eleição de Fernando Collor para a Presidência d a
República. No plano estadual marca um período em que <) 1 1,,,,111,1 ·,tl> era atendida por serviço de coleta de es ot
PMDB, representante de uma oposição há anos distante de> 1 1 i I i • ,' 1i1 •11 ,1H 3()% era servida por água potável (Estad~ d~
poder, cresce e torna-se uma real alternativa oposicionisl ; ' , 1 IH,l). 1)rt11na parecido é descrito no docume11to
11 1111•11l,1l , <ll)1·e a s co11dições de habitação trans o
reaparecem legalmente os partidos comunistas e socialista; ,, li 11 1111111 •111,1 ·, 11 ,, etc. ' P rtcs
2?. 2'1
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
professores, construção civil, engenheiros~ et~., assi~ c?mo_ a CLA T e formaram a CGT em Alagoas.
criação de vários novos sindicatos e assoaaçoes profissionais. Um dado importante para o Movimento Sindical é a
No Sindicato das Indústrias Urbanas concentrou-se o lenta mudan~a no comportamento da Federação dos Trabalha-
trabalho das oposições sindicais e de lá partiram os movimen- dores n~ Agricultura/FETAG que vai, passo a passo, acompa-
tos para a organização da Primeira Conferência Nacional das nhar o ritmo da Confed~ração dos Trabalhadores na Agricultu-
Classes Trabalhadora/! CONCLAT em 1981. O I Encontro ra/CONTAG quanto a sua atuação político-sindical. Neste
Estadual da Classe Trabalhadora/ENCLAT foi realizado nos process? ª. FETAG/ AL institui um programa de criação de
dias 1, 2 e 3 de maio desse ano e nele estiveram presentes os novos sindicatos rurais (hoje, em janeiro/93, já constituem 89)
sindicatos dos jornalistas, radialistas, metalúrgicos, trabalhado- l'Strutura uma assessoria técnica e absorve praticamente toda~
. res de hotelaria, ADUF AL, enfermeiros, trabalhadores da u,s corre_ntes de esquerda em seus sindicatos e na própria
construção civil, professores, trabalhadores das indústrias ~l'deraçao. A FET AG, fundada em 1963, modificou sua
urbanas, bancários, trabalhadores de fiação e tecelagem de imagem antes marcada como uma entidade cartorial, legiti-
Floriano Peixoto, estivadores, odontologistas, sindicatos dos 1na11do-se ao participar efetivamente, desde 1987, das grandes
trabalhadores rurais de Capela, Cajueiro, Carneiros, Palmeira jl>r11adas de luta como a Campanha Salarial dos canavieiros
dos Índios, Santana do Ipanema, Viçosa e Flexeiras. Estes JUe envolveu mais de 200.000 assalariados, promovend~
sindicatos resolveram organizar a Intersindical, que representa- 11ualmente o Encontro Estadual das Trabalhadoras Rurais de
va o primeiro passo para a organização autônoma dos traba- Alagoas, um fórum de denúncias sobre a vida das 150.000
lhadores alagoanos depois do golpe de 64. 11,ulheres trabalhadoras rurais sindicalizadas no Estado ou
O II ENCLAT realizou-se em abril de 1982. Em 1983 a "' 11unciando tanto o trabalho clandestino de 50.000 crian~as e
Intersindical organiza o III ENCLA T, preparatório para o ll>ll'scentes entre 6 e 13 anos, que ajudam os pais no corte da
I Congresso Nacional da Classe Trabalhadora/CONCLA~. 111, como o transporte ilegal de trabalhadores rurais em
11
Refletindo as divergências nacionais sobre o futuro do movi- ti<>lê~cs" (Cf. FSP. 23/10/91). Seu contraponto desde 1988 é
mento sindical, o III ENCLAT divide-se. Antes do término dos M1>v11ncnto dos Sem Terras/MST que atua, preferencialmen-
trabalhos do Encontro, representantes dos sindicatos dos 1 , •111 áreas de co~itos pela i:osse de terra como ocorre, por
jornalistas, radialistas, urbanitários, co~strução civil, conduto- 111~,1,,, em Flexe1ras e Joaqurm Gomes, municípios da zona
res rodoviários autônomos, engenheiros, trabalhadores em ,, t ·,, 11nvieira.
asseio e conservação, petroleiros, associação dos economistas,
associação dos servidores do BNH, associação dos aposentados
da Petrobrás e sindicato dos trabalhadores rurais de Anadia
retiram-se do plenário denunciando manobras do PCdoB M<>VIMENTOS SOCIAIS
quanto ao registro de entidades e co~trole de dele?ad_os. Estes
sindicatos irão formar, meses depois, a Frente Sindical, quL' N I t•st<·ira_ ~o <:_rescimento do espaço político, novos
escolheria os delegados ao Congresso de fundação da CUT / 1 111 •11111, sc1c1a1s vao surgindo. A partir de 1980 e com o
CONCUT, organizando posteriormente a CUT / AL. O. 111 1 , I , Nc>v.1 República, o avanço das instituições demo-
sindicatos que permaneceram no III ENCLAT, liderados pelt> 1 l' 1 l'<>.11solidação das liberdades proporcionam e
Si11dicato dos Médicos, escolheram os delegados ao I CON t 11 1,1 ,l,11-, 111lL'1·csscs até então reprimidos dos chamados
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••
, li ? C)
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Pop. Feminina Pop. Masculina "Desafio" que funcionou e tr dran e porta-voz. O semanário
Ano Pop. Total
806.881 766.756 1980, apesar de ser um ór ~o ~a ezembro ?e 1978 e começo de
1970 1.573.637
971.052
'
e ter. sido enquadrado ~a Lei c2:~:da imprensa ~lternativa
1.982.531 1.011.539
1980 mantinha com a oposi ão os 1 ,., g~rança Nacional, não
1.252.913 1.186.017 de Alagoas" O h' t ç aços organ1cos que teve o "Diário
1990 2.438.930 . ia o entre 1968 1979 f .
decisão política de se criar . e 1 . o1 rompido com a
A fundação de um · ~:l ~~~ vmcu~ado à oposição.
10
Fonte:IBGE
0
a frente de oposição nd final ~ar10 reabrindo espaços para
Os ecologistas. Um outro fenômeno da sintonia da esquerda alagoana um marco . e, 1_979, representa para a
esquerda alagoana com os novos movimentos sociais foi o articulam uma série de t h1stor1co a partir do qual se
surgimento, no começo dos anos 80, do movimento ecológico, - ou ros eventos A "T 'b d
nao representava um resultado da f. . r1 una e Alagoas"
trazendo para Alagoas uma nova temática a ser discutida. alagoana, mas uma decisão pol't· d orça interna da oposição
Organizados principalmente no "Movimento Pela Vida", os que rompera com o gove 1 icfad o senador Teotônio Vilela
ecologistas colocam na pauta de discussão da política estadual · rno e eral e ·
111strumento de pressão l'ti . p~ec1sava de um
aspectos inéditos no discurso político dominante: derrubada da 11um momento de mud po 1 ca, ou se1a, um Jornal diário. Foi
Mata Atlântica, poluição através de lixo hospitalar, localização anças que:
da fábrica Salgema e do Pólo Cloroquímico, que passaram a ,, .
... surgiu então a Tribuna de Ala o . .
fazer parte de quase todos os programas políticos a partir senador Teotônio Vilela b ~ as, inspirada e mantida pelo
daquele momento. Tribuna para um jornalis!ue a ~zu e sustento.u as p~gínas da
Merece registro o surgimento nesta época do Movimento vo. P1·aticando este tipo de~ mazls. amplo, ª.r'.o;ado e informati-
;orna ismo, facilitado à época pelos
Negro Unificado/MNU, centrado na afirmação dos valores
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fazia com que se vislumbrasse um cenário extremamente senador Teotônio Vilela . / t' Jose C_osta : Djalma Falcão. O
polarizado, sem espaços para uma "terceira via". Assim é que concorrer à reeleição m' 1ª en ermo, ficou impossibilitado de
mesmo existindo naquele ano um movimento para a formação . d , as manteve o apo· PMD
ªJU ara a construir e se em h 10 ao B que
do PT e PDT, estes não conseguem se organizar nem obter oposicionista. pen ou na campanha da frente
registro junto ao Tribunal Regional Eleitoral para concorrer em
Márcio Moreira Alves descre
1982, ficando Alagoas como o único Estado brasileiro onde retirada da candidatura de T t A :7e ºvs· momentos políticos da
estes partidos não participam das eleições, com parte de seus eo on10 1lela:
militantes apoiando candidaturas dentro do PMDB. ,, T , M
·· · 1ose oura Rocha um l 't · .
dominantes alagoanas ;orno e:ºu~:~: c~nszderado pe[as classes
governo e ocupou o lu dq Ti ,Aa _andonou a disputa pelo
• brilhante dPnutado da bgar de ebot?nio. José Costa, o mais
. -r anca a, a riu mão d . -
1982: O PRIMEIRO TESTE garantida e aceitou as incertezas d e uma reeleiçao
Suruagy, ex-governador háb 'l o e~{entamento com Divaldo
tes locais e gestor dos z·m' i negocia or dos conflitos de chefe-
Foi em 15 de Novembro de 1982 que a esquerda alagoa- [ançou nas eleições em a ensos recursos qu O e J'
· e overno Federal
na, enfrentou seu primeiro e duro teste nas urnas depois de 64: /Jt'lo voto-cabresto e ppeol io daos seguidores. Costa foi derrotado
o esespero d · , ·
eleições gerais para Governador, Deputado Federal e Estadual, 11•/11111/11111/e vitória em M ., d a miserza, mas teve
. aceio, on e a op · ·- , . .
Prefeito, Vereador e um terço do Senado, numa renovação /1 ,1111/1· ,lifi,·il. O seu sacriff . d iniao e mais livre e a
I
11 11 11,·11111, 11,,111 ,/,, PMDB l l '.l'czo, e o e Moura
. Roch ..
a, permztzram
quase completa da representação política de Alagoas. Essas oca , a constitui - d b
1111111 11 /1, 111 11,, < ·, 111111 .11 ,lc>s V:
1
d çao e uma ancada
eleições representaram na época um mecanismo plebiscitário
/•! ,, ,, /, 1•11 /111/,, i", /111/11,:i.~ ~~~;;es_~a capital e a eleição de
de julgamento do governo, como haviam sido as eleição de 1,1,1/1/, ,1 ' /11111 Jl,1 111 /, ,,,, ,. 11 ,111li1:,,,s:;1~ '~s, ctomdo ~ ex-presa
1974 e 1978. O lado situacionista representado pelo Partido ,, ( / 1 111 1 ' ,•?J ' t i es u antil Ronaldo
Democrático e Social/PDS (ex-ARENA), partido da moderniza-
ção conservadora, do capitalismo autoritário e da exclusão 11I
social, porta-voz dos setores mais retrógrados do empresariado t 1 1
,1111 ,, 1111 11111 >rt·j11tfi ...·nd o
e dos latifundiários, era liderado por Divaldo Suruagy, 1 1 1111 ,, l f 1 1' 1f 1 1 , '"" •• e fe > V ( l l t)
ft f I I li ljt 11 li li 1 1 111 li-,
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municípios onde não tivesse lançado chapas e candidatos a formam então uma nova bancada ao lad
PMDB - Kátia Born G 'Ih o da esquerda do
prefeito e vereador. Por razões diversas o PMDB não pôde somando-se à tradicio~~l e~:.::alcão e _F~rn?ndo Costa -
apresentar candidatos em 10 municípios - Canapí, Campo Marinho Muniz Falcão, Mauro da oposia,o~ista - Pedro
Al~gre, Japaratinga, Minador do Negrão, São Sebastião, Olho Guimarães e Bráulio Cav 1 Guedes, Mario Mello, Tito
d' Agua Grande, Coité do Nóia, Mata Grande, Traipú e nista tinha um núcleo ce~t~:rt:. Esta nova bancada oposicio-
Piranhas, o que representou um prejuízo real de 45.000 votos. que durante toda a legislatura cirma~o por sua al? esquerda
A vinculação era uma arma para imobilizar os coronéis do res, homogeneizando o man ava os demais vereado-
sertão, amarrando-os ao PDS. O resultado final foi a vitória do tanto na gestão do refeit~omport~~ento político do PMDB,
partido governista, marcando, no entanto, um crescimento do aliado, Djalma falcão. adversario, José Bandeira, como na
significativo da frente oposicionista (ver Quadro 7). O PMDB •
elegera três deputados federais, nove deputados estaduais,
vários prefeitos no interior do Estado, principalmente na Zona piPUADRO 7 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES
da Mata, e um grande número de vereadores. Os partidos de RA GOVERNO E SENADO - 1982ALAGOAS
/
esquerda, ainda ilegais, abrigados na legenda do MDB, Candidatos a Governador Candidatos a Senador
passaram a ter representantes no Legislativo: o PCdoB elege Divaldo Suruagy (PDS) 257.839 Guilherme Palmeira (PDS) 259.581
Eduardo Bomfim deputado estadual e dois vereadores na
Capital - Edberto Ticianelli e Jarede Viana; o PCB viabiliza a José Costa (PMDB) 206.856 José Moura Rocha (PMDB) 202.572
eleição de Freitas Neto como vereador em Maceió. O cresci-
'~ento também foi significativo na esquerda do PMDB que Fonte: TRE/ AL
começou a ter presença no partido. Seus representantes mais
destajca~os são Renan Calheiros, que foi para a Câmara dos
Deputados depois de um brilhante mandato na Assembléia
Legislativa, Selma Bandeira e Ronaldo Lessa eleitos deputados 1985: A PRIMEIRA DERROTA.
estaduais. Vítima de um acidente automobilístico a médica e
deputada Selma Bandeira morreria em 1986. Os anos 83 / 84 transcorreram sob . .
A Assembléia Legislativa conheceu então um forte cresci- mandato do então presidente Jo- p· .º signo do final do
preparava sua sucessão Em to ao igu:iredo e do clima que
mento da bancada oposicionista. Aos tradicionais representan- nha das "Diretas Já" E . AI do o Brasil começara a Campa-
tes do PMDB - Mendonça Neto, Moacir Andrade, Diney impulso com o en ~-a:ent~g;as essa campanha toma grande
Torres, Afrânio Vergetti, Francisco Melo e Ismael Pereira - O
reticências. Peque~o~ atos vão PMDB, passa~o o período de
somam-se novos parlamentares como Selma Bandeira, Ronaldo
Lessa e Eduardo Bomfim, que passam a compor uma bancada grande manifestação popular :os~1:11-a;~ ate ac?ntecer uma
om milhares de essoas in' , ia e Janerro de 1984,
sensivelmente mais atuante que a anterior. A própria Câmara ,iitadura, em defesf da d do _as ruas protestar contra a
Municipal de Maceió foi amplamente renovada com a vitória i·os escolherem seu presid:-r;;t~cr;_cia e pelo dir_eito dos brasilei-
do PMDB, formando uma maioria de 13 vereadores, contra 8
111c11te vitoriosa mas erm'ti. campanha nao fora completa-
do PDS, adquirindo uma nova fisionomia. Vereadores comu-
•Jcição pelo CoÍégio 'fueito i rdumpa s~ída parlamentar, com a
nistas - Jarede Viana, Edberto Ticianelli e Freitas Neto - ra o residente Tancredo Neves.
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
os Ministérios ór - 'bl'
Nesse Colégio Eleitoral votaram as bancadas alagoanas na Estado; a uni~ersY~~ds epue icot s federais e toda a máquina do
Câmara, Senado e a representação da bancada majoritária ou ras escolas d · .
to d as as estações de televisão t d . e en_sino superior,
(PFL) na Ass~mbléia Legislativa. Três deputados federais do rádios FM e quatro AM doi e o os os J~rna~s diários, seis
PDS votaram com Paulo Maluf: Geraldo Bulhões, Fernando livrarias; além de concen'trar s teatros, seis c~e~as e oito
Collor e Nelson Costa. O PMDB e a bancada dissidente do parte mais importante d q~a~e todas as industrias e a
PDS, que viria formar o PFL, votaram com Tancredo Neves: . . o comercio e do · t b
inc1usive o fluxo tu , t· sis ema ancário·
ris ico acontece q tO d O '
José Costa, Mendonça Neto, Manoel Affonso, José Thomás municípios
· vizinhos · o qu uase
e ocorre em M · , em Maceió e
Nonô, Albérico Cordeiro, Carlos Lyra, Luiz Cavalcante e imediatas repercussões em t d aceio tem amplas e
Guilherme Palmeira. A representação da Assembléia Legislati- Maceió tem mais status do o a flagoas. A Prefeitura de
va votou de forma unânime em Tancredo: Roberto Torres, ou até mesmo que uma que qua_ quer Secretaria de Estado .
Laércio Malta, Edval Gaia, Emílio Silva e Benedito de Lyra. •• _
11 opiniao pública" al
representaçao no Congre N ·
A sso acional
A morte de Tancredo Neves e a posse de José Sarney partem quase todos it::ª _concentra-se em Maceió, de ond~
marcam o começo da vida da Nova República. A legalização estadual. vimentos renovadores da política
dos partidos de esquerda e a conquista do direito de escolher
Para ampliar essa importân . 1. -
os prefeitos das capitais dão um novo conteúdo político ao ano tou uma contribuição es . l· eia, a e eiçao de 85 acrescen-
de 1985. Volta-se a escolher pelo voto direto os prefeitos das somente para Maceió, os p:rc~~~ apes~r de _se~ uma disputa
capitais e de municípios considerados pelo regime militar de rádio e tv, estadualiza~do a Ji~s~~~am diariamente tempo
"áreas de segurança nacional". Em novembro de 85 c· p ·. .
Maceió, que não tinha prefeito escolhido diretamente Prefeitura de Maceió. Pelo ;;r~~diandidato~ _disputarain a
desde 1965, entra no clima redemocratizante da Nova Repúbli- ta/PDT é candidato o radialista Sab· Democr~tico Trab~lhis-
ca. A macrocefalia da Capital tornava essa eleição algo mais
que uma disputa municipal. Maceió, com seus 709.000 habitan-
de seu prestígio como apresent d mJ Romariz, na plenitude
Povo na TV" levado ao ar ela T;, or o pro~rama "A Vez do
' tes, concentra toda a vida política de Alagoas. E uma cidade com o apoio de personalldades Alagoas, ~anal 5, contando
polarizada entre áreas de rápido crescimento vertical e áreas recém saído do PMDB ara _como Jose Moura Rocha _
compostas por bairros periféricos e mais de 60 favelas onde, Conselheiro do Tribuna) de ~rg~ruz~r o PDT no Estado - e do
segundo estudos da Prefeitura Municipal de Maceió realizados tário daquela emissora Sab· o; as e_raldo Sampaio, proprie-
em 1988, viviam em condições subnormais 29% da população o PFL/PDS através do. d' ino ~ma~iz tentava polarizar com
(Farias, 1992). As áreas periféricas são segregadas, sem infra- iscurso anti-mal fi t "
momento, feria O PMDB u s a que, naquele
estrutura, onde habita a grande parcela da população margina- 1
campanha de Paulo Mal~f~o pqua_ d? g~upo 9-u~ sustentara a
lizada, com parte dela vivendo sob permanente ameaça nos Partido dos Trabalhadores/P;efi encia ~avia i?gressado. O
períodos das chuvas, num fenômeno que se repete todos os Cabral, que não contou co ª~àou o Jornalista Reinaldo
anos 3
•
teve seu desempenho p . ~? p;rti o para fazer campanha e
Na Capital estão atualmente as representações de todos Gonçalves em plena ~JU i~a pela_ sa!da de seu vice José
O
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
cionistas prestigiados como Mendonça Neto e Teotônio Vilela Parlamentar /DIAP, tiveram um importante papel nas votações
Filho compõem uma aliança com políticos qu~ fizeram c~rreira no C?n~resso Constituinte. O DIAP, no final dos trabalhos
na ARENA/PDS como João Lyra e Rubens Villar. Polarizando constituintes publicou uma avaliação de cada parlamentar
a eleição estava a coligação PDS/PFL com Guilherme Palmeira como mo~tra o quadro 9, levando em conta os votos dado~
saindo candidato a Governador e lançando Divaldo Suruagy, n~s questoes que interessavam diretamente aos trabalhadores
Mendes de Barros e João Azevedo nas duas vagas em disputa ta~s _como estabilidade no emprego, turno de 6 horas, salári~
m~i~o real, ~ireito de greve, reforma agrária, férias, avi$o
para o Senado. previo proporcional, comissão de fábrica, etc.
O Partido Socialista Brasileiro, que já havia rompido com
o prefeito Djalma Falcão, o qual ajudara a eleger, organiza
uma coligação lançando os nomes do deputado estadual QUADRO 9 - DESEMPENHO DOS CONSTITUINTES
Ronaldo Lessa (PSB) para Governador, e Freitas Neto (PCB) e '
ALAGOANOS SEGUNDO O DIAP
Lauro Farias (PL) para a disputa das duas vagas no Senado, PARLAMENTAR Nota lºtumo Nota 22tumo Nota final
numa coligação de muitos partidos (PT, PSB, PCB, PDT e PL) Albérico Cordeiro 4,5 4,0 4,25
e pouca representação eleitoral. .
A Frente Popular, cujo objetivo era canalizar os ':'ºtos de Antônio Ferreira 3,5 ZERO 1,75
protesto, foi asfixiada pelos dois grandes blocos em disput_a e Divaldo Suruagy 4,5 3,0 3,75
quase desapareceu. Excetuando o fenôt:'~no eleitoral Sabmo Eduardo Bomfim DEZ DEZ DEZ
Romariz, que além dos votos necessarios para ~e eleger,
viabilizou a ida de mais três deputados estaduais para a Geraldo Bulhões 6,5 8,0 7,25
Assembléia Legislativa (Romariz teve 34.785, João Neto 6.405, Guilherme Palmeira 3,5 4,0 3,75
Manuel Lins Pinheiro 4.722 e José Augusto 3.986 votos), a
José Costa 6,5 DEZ 8,25
Frente teve um baixíssimo rendimento eleitoral e mesmo
apresentando fortes nomes como os de José Moura Rocha e J.Thomás Nonô 1,5 2,0 1,75
Fernando Barreiros não conseguiu fazer nenhum deputado Renan Calheiros DEZ DEZ DEZ
federal. Sem chances de eleger candidatos majoritários, a
Roberto Torres 5,5 6,0 5,75
Frente Popular conseguiu, no entanto, inviabilizar a candidatu-
ra do industrial João Lyra ao Senado ao fazer uma campanha Téo Vilela 8,5 DEZ 9,25
sistemática de denúncias, possibilitando a eleição de Teotônio Vinicius Cansanção 1,5 1,0 1,25
Vilela Filho.
Esta eleição tinha ainda uma característica especial, que Fonte: DIAP
era a disputa para a escolha dos constituintes que elaborariam
a nova Carta Magna. A coligação liderada pelo PMDB fez a Um enorme prejuízo para a esquerda foi a ausência do
maioria dos constituintes. Parlamentares conservadores como PCdoB . na compos_ição liderada pelo PSB. Força política
Geraldo Bulhões e Roberto Torres são eleitos ao lado de expre~s1va no movimento estudantil e sindical O PCdoB
Teotônio Vilela Filho, Renan Calheiros, Eduardo Bomfim e José s 'd~z1do pela possibilidade de "mudanças peÍo alto" nã~
Costa, que segundo o Departamento. Intersindical de Apoio .1po1ou a Frente Popular, admitindo que Collor teria feit~ uma
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. .
•
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
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suas primeiras declarações, reafirma compromiss~s de campa- desequilibrando a eleição a favor de Fernando Collor de Mello.
nha, 0 povo encara com alento e grande exp~ctati~a. Expecta- Neste quadro, venceu uma parcela da velha classe política,
tiva de mudanças, pelas quais o PCdoB continuara lutando. A reconduzida ao poder com uma nova roupagem, que aparenta-
despeito dos oportunistas da Nova Direita". va um suposto interesse em viabilizar as mudanças que o
dramático quadro social exigia e que se ampliara sob os vários
. Anivaldo Miranda, dirigente do PSB, encerra a polêmic~, governos estaduais da ARENA/PDS 4 •
respondendo a Barroso e defendendo a ~ren:e Popular atrave~ A frente eleitoral liderada pelo PMDB, amparada pela
do Editorial "Espasmos do 'comunismo enver~onhado conjuntura favorável criada a partir do sucesso do Plano
publicado na "Tribuna de Alagoas" em 29/11/86, afirmando: Cruzado, conseguiu realizar uma campanha que retomava as •
tradicionais bandeiras oposicionistas, polarizando com o PFL
" nada disto salvará a cúpula do PCdoB da responsabilidade como se aquela fosse uma eleição plebiscitária de ano a trás.
que teve no maior retrocesso po~ítico-eleito~al que A!a15oas
O eleitorado reagiu em sintonia com o discurso muda11ci ta do
conheceu em muitos anos. Nada disto apagara da memoria do
povo O papel que o PCdoB desempenhou ao avalia~ com seu PMDB, pois nos últimos vinte anos passou "... a identifica,· o
falso discurso de "esquerda" o projeto do coronelismo e do MDB como o partido dos pobres que empreendia uma luta co1zt1·a os
malufismo. E muito menos dará a Barroso e ao PCdoB, mesmo partidos dos ricos e do governo. Voltava-se, na verdade, contra e 11ão
aquinhoados com migalf:as gor~as no a~a~ato de Estado, a a favor de um projeto político determinado" (Nunes, 1987:89). A
possibilidade de neutralizar o 1mportant1ss1m? papel. d:sem- Frente Popular não conseguiu retomar os laços existentes entre
penhado pela Frente Popular, hoje a verdad~ira oposiçao em a opinião democrática e os interesses emergentes das classes
Alagoas e o repositório das pessoas,_ dos partidos e das forças subalternas, relação que existia entre o voto autônomo, até
efetivamente comprometidos com os. interesses do trabalhadores.
(... ) ao contrário do PCdoB que sai deste processo desgastad~,
mesmo das pequenas cidades, e o MDB/PMDB durante o
comprometido até o pescoço co~o guarda-chu~a f~ reaçao
período ditatorial (ver Quadro 10 e 11)
malufista, a Frente Popular cumpriu o seu papel hzstorico, ~os-
trou ao povo alagoano que é possível a luta por um caminho QUADRO 10- RESULTADO DA ELEIÇÃO
independente dos grandes b!ocos conservadores do noss? Estado PARA O GOVERN0/1986/ALAGOAS
e saiu das eleições política e moralmente fortale~ida para
desesp~ro dos que vendem suas consciências e depoi~ se_ntem Candidato a Governador Votação
ódio e inveja dos que não os acompanham em dzreçao ao Fernando Collor - PMDB/PTB/PCdoB/PSC 400.241
. ,,
pântano do oportunismo .
Guilherme Palmeira - PFL/PDS/PDC 327.232
Nesta eleição as duas grandes coligações em disp~ta Ronaldo Lessa - PSB/PT /PCB/PDT /PL 30.073
contavam com todos os elementos para vencer uma ele1çao:
apoio financeiro dos grandes gru~os econômicos, espaço nas Fonte: TRE
rádios e televisões, estrutura material de fortes chapas propor-
cionais. O governador em exercício José Tavares, que t~ve s~u
nome preterido para disputar o G?ve~no pel_as forças situacio- 4
(sobre a situação de Alagoas nesta época ler o bem documentado
nistas de então, deu apoio ostensivo a candidatura do PMDB
t\ tudo ''Perfil Sócio-Econômico do Estado de Alagoas", SEPLAN,
1 1
numa atitude de retaliação contra as lideranças do PFL/PDS, 1987).
48
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
- - - - -- - - - - -
- índices de doenças endêmicas, não há atendí111ento dt u1·gência.
QUADRO 11- RESULTADO DA ELEIÇAO
PARA O SENADO - 1986/ALAGOAS A saúde foi liquidada pelo Governo estadual do S1·. Collor de
Mello. Alagoas não tem estradas - destruíd,1s 110 Governo
Candidato ao Senado Votação Collor. Alagoas não tem educação (... ) Alagoas dei viol1~1tcia, - a
334.137 Ass~mb~éia Legisl~tiva, recém-eleita, representa q11,1Sl' o t'SJJe/110
Divaldo Suruagy - PFL/PDS/PDC do szndzcato do crzme do Estado. Alagoas retrocede,, ci1117lienla
Mendes de Barros - PFL/PDS/PDC 70.555 anos em quatro, com o Governo Collor de M el/o" (N1 lo, 1
1991:56).
João Azevedo - PFL/PDS/PDC 61.324
========
Teotônio Vilela Filho - PMDB/PTB/PCdoB 298.185 O PCdoB que participava do Conselho Político do
Governo Collor fez, através de seu representante no Congresso
Rubens Villar - PMDB/PTB/PCdoB/PSC !';Jacional, uma avaliação daquele período afirmando que
======= Collor "... conseguiu a proeza de transformar o Estado de Alagoas,
Mendonça Neto - PMDB/PTB/PCdoB/PSC
121.709 de cred?r em devedor ~os usinei1·os pelos próximos dez anos, graças
João Lyra - PMDB/PTB/PCdoB/PSC
aos dois acordos graciosos que fez com os chamados "Barões do
Lauro Farias - PSB/PT /PCB/PDT /PL 26.531 açúcar", que custaram ao povo alagoano a falência do Banco do
25.171 Estado e a completa desorganização de sua economia". Mais tarde,
Freitas Neto - PSB/PT /PCB/PDT /PL
comentando a ausência de Collor nos debates televisivos do
Fonte: TRE primeiro turno das eleições presidenciais de 89, o então
deputado Eduardo Bomfim afirmava que Collor de Mello:
· O breve períoclo que o PMDB e seus aliados (PTB,
PCdoB e PSC) passaram no Governo - assim como se dera na "... não teria como explicar os acordos com os usineiros, os
experiência realizada na Prefeitura de Maceió - ficou marcado favorecimentos com dinheiro público às suas empresas de
pela frustração na expectativa de muda~ças. Fer_n~ndo Collor comunicação, as contratações de empresas de consultoria sem
licitação, os gastos absurdos com "a verba secreta", o acoberta-
soube tirar, no entanto, no plano nacional, dividendos da
mento da sonegação de impostos - denunciada pelos próprios
perseguição real que lhe movia o Governo Sarney, principal- fiscais de tributos estaduais -, o marasmo completo que tomou
mente quando, como governador de Alagoas, anunciou seu conta do Governo Estadual naqueles dois anos; a total ausência
apoio à tese do mandato de quatro anos e rompeu com o de projetos, planos, metas ou realizações; que esperar de um
PMDB. A nível regional, porém, todas as bandeiras de candidato que promoveu, quando governador, o maior arrocho
campanha ficaram sem efeito e nenhuma das mudanças salarial da história do funcionalismo público de Alagoas? "
prometidas ocorreu. Passados dois anos de governo, o PCdoB (Bomfim, 1989 :7-9 ).
rompeu politicamente com a administração estadu~l e a ala
democrática do PMDB era afastada pela corrente oriunda do
PDS/ ARENA. Mendonça Neto, ex-Secretário de Planejamento 1988: A TERCEIRA DERROTA
do Governo Collor, já rompido com o governo que ajudara a
eleger, analisa assim esse período: As eleições municipais de 88 podem ser caracterizadas
pela rearticulação das forças derrotadas pelo projeto Collor em
"... Alagoas sofreu. Sua saúde foi destruída, aumentaram os
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
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85 e 86. No interior do Estado os grupos conservadores em chapa que, até o mês de agosto daquele ano, parecia imbatível.
oposição ao governo estadual vencem grande parte das Os experientes quadros políticos do PDS / PFL, alijados
disputas para as prefeituras e elegem também maiorias nas do poder após duas derrotas consecutivas - 1985 e 1986 -
câmaras de vereadores de muitos municípios. Nesse pleito a ~rticulam, juntamente com o grupo sobrcvive11te do PDS:
frente conservadora foi vitoriosa na maioria das prefeituras liderado pelo ex-governador Tcobaldo Barb sa, urn Ia11cc tático
alagoanas: PFL (35), PTB (18) e PSC (3). O PMDB, apesar de provando o domínio que tinham 11a at·tc d, sc)brcvivência
deter o governo estadual, elegeu apenas 31 e tanto o PDT política. Até às vésperas da Co11ve11çãc) que dcfi11l1·in c)s 1101ncs
como o PSB elegeram três prefeitos cada. dos candidatos, a coligação co11scrvacic>r ma11lcVl' o 11c)tnc do
Maceió, por se constituir no maior e mais importante e~-prefeito !oão Sampaio, que .f 1·a dcr1·lllé.1<.l{> 'm 85 por
centro urbano de Alagoas, com inegável peso político estadual, Djalma Falcao e que nao conseguia, até aqu ,1 , 111t,1ncr1lo, unir
chamou para si as atenções gerais na medida em que os nem empolgar a frente política derrotada por Ct>llor cm 86.
grupos hegemônicos da política regional lançaram os seus Mas, às vésperas da Convenção, aprese11ta1n uma novidade
melhores nomes nesta disputa. O governo estadual apoiando que consegue impactai· o lado mais conservador: o senador
o deputado federal Renan Calheiros e a oposição conservadora Guilherme Palmeira, ex-governador de Alagoas e ex-d pu tado
lançando o senador Guilherme Palmeira. estadual, aparece como o nome que unifica a coligação
Na disputa para a Prefeitura de Maceió em 1988, a derrotada nas duas últimas eleições. A histórica habilidade dos
esquerda alagoana voltou a sofrer outra derrota. A falta de •
quadros políticos da classe dominante ficou mais uma vez
aproximação política (e mesmo de contatos eventuais), ~emonstrada. A frente PFL/PDS faz uma grande campanha,
determinada pela ausência de vida orgânica dos partidos que aJudada tanto pelo lamentável estado em que se encontrava
compunham a Frente Popular, impediu que nas eleições de ~aceió~ administrada pelo PMDB, como pelos recursos
1988 esta coligação reeditasse a mesma amplitude de 86, ainda financeiros do industrial João Lyra, interessado direto na
que tivesse melhor desempenho nas urnas. PSB e PCB se eleiçã~ ~e Guilh;rme Palmeira, pois como primeiro suplente
reagrupam (como sempre, poucos meses antes da eleição) e assumiria por tres anos o mandato de Senador da República.
reestruturam a Frente Popular para lançar o ex-prefeito Dilton Renan Calheiros sem poder negar sua ligação com a adminis-
Simões, conhecido por suas posições liberais e por elogiadas tração municipal, enfrentando a oposição do conjunto dos
passagens na Secretaria de Planejamento e na Prefeitura de funcionários públicos municipais e, mais importante, do
Maceió. O Partido dos Trabalhadores, apesar dos insistentes funcionalismo estadual já em oposição declarada a Fernando
apelos das agremiações que com ele já tinham feito aliança em Collor, acaba derrotado pela frente PFL/PDS (ver Quadro 12).
86, fica prisioneiro do corporativismo partidário e lança seu . A Frente Popular, com Dilton Simões, no que pese ter
presidente, Pedro Verdino, como candidato e isola-se da feito uma campanha mais eficiente que em 1986, sentiu a
Frente. O PCdoB, pragmaticamente, apoia a frente liderada ausên.cia dos outros partidos de esquerda - PCdoB e PT-, não
pelo PMDB e sustentada pelo Governo estadual. O PMDB, já c_onseguindo expressar, nem canalizar os interesses populares,
completamente descaracterizado, articula uma coligação de 10 ficando em terceiro lugar elegendo apenas três vereadores. Ao
partidos (PSDB/PTB/PSC/PCdoB/PTR/PJ/PDT /PMC/PV e ª~
PT ~estou .penúltima colocação e uma imagem negativa de
PMDB), sem fisionomia própria, para apoiar Renan Calheiros, partido politico, sem conseguir eleger nenhum representante
do PSDB, tendo Sabino Romariz, do PDT, como vice, numa , Câmara Municipal, repetindo o fenômeno de 1985, quando
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o número de votos obtidos naquela eleição foi menor que o de entr~ os nomes destes parlamentares e a desgastada adminis-
filiados. O ex-secretário de Planejamento, Mendonça Neto, traçao do PMJ?B na Prefeitura, ainda que o comportamento
rompido com o Governo Collor, também lançou-se candidato deles tenha sido de independência em relação ao Poder
a Prefeito. Abrigado numa pequena legenda cartorial e sem Executivo; (2) pelo esquema fisiológico no período eleitoral,
espaços no horário eleitoral não conseguiu participar da montado pelo PDS/PFL com o apoio do Governo Federal
campanha municipal, obtendo votos simbólicos. através da compra de votos, fornecimento de cestas da LBA:
etc.; e (3) pela falta de disposição do eleitorado maceiocnse em
QUADRO 12 - RESULTADO DA ELEIÇÃO votar nos vereadores escolhidos em 1982, ainda que eles
PARA PREFEITO DE MACEIÓ/1988 tenham se ~estacado como os mais atuantes naquela legislatu-
ra, numa atitude de aparente vontade de renovação.
Guilherme Palmeira - PFL/PDS 67.830
. ': Prefeitura de Maceió volta, assim, para as mãos da
Renan Calheiros - PMDB/PSC/PTR/PCdoB/PJ 61.188 coligaçao PFL/PDS enquanto a representação na Câmara
Dilton Simões - PCB/PSB 27.730 Municipal sofre um retrocesso político, diminuindo sensivel-
'
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mente o número de v~readores de esquerda, agora res trito a
Pedro Verdino - PT Ronaldo Lessa (PSB), Enio Lins (PCdoB) e Claudio11or Araújo
Mendonça Neto - PMN 548 (PSDB).
Guilherme Palmeira, que se apresentara como candidato
Fonte: IRE de perfil nitidamente conservador, ao contrário do que
prometera, largou a Prefeitura de Maceió nas mãos do vice
Dois destaques marcaram esta eleição. O primeiro foi a
João Sampaio, para candidatar-se ao senado. Acusado de má
posição assumida pelo Prefeito Djalma Falcão. Com uma
gestão dos recursos municipais, o vice não conseguiu terminar
administração que, segundo o IBOPE, tinh~ na época da
o mandato. Pressionado pelo Governo do Estado, aba11donou
eleição um índice de rejeição de 73,6% (Ultima Palavra
o cargo entregando-o a Pedro Vieira, suplente de vereador
11/11/88) e atacado por todos os candidatos a vereador -
nomeado pelo governador para apoiá-lo nas eleições de 92.
exceção para Pedro Camucé Falcão, seu irmão - e por todos os
A pequena bancada de esquerda nada mais pode fazer
candidatos a prefeito, Djalma Falcão resolveu votar em branco
que protestar contra a entrega da Prefeitura ao candidato
e aproveitando um espaço no programa do PFL, na reta final
indicado pelo Palácio dos Martírios.
da campanha, fez um duro ataque a Renan Calheiros, influen-
ciando decisivamente o resultado da eleição.
O segundo destaque dessa eleição foi a penalização da
bancada mais progressista na Câmara Municipal de Maceió.
Todos os vereadores eleitos em 1982 que se posicionaram à 1989: A QUARTA DERROTA
esquerda - Fernai1do Costa, Freitas Neto, Jarede Viana,
Guilherme Falcão, Kátia Born e até mesmo Pedro Marinho . . Es~~ul~do p~lo destaque que lhe deram alguns dos
Muniz Falcão, antigo recordista de votos na capital - foram principais ?rgaos da imprensa nacional, sinalizando um espaço
derrotados (Edberto Ticianelli não disputou a eleição), num que poderia ocupar, Fernando Collor começa a articular sua
fenômeno que pode, talvez, ser explicado: (1) pela ligação campanha para a Presidência da República. O que de início
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Collor entre os Estados brasileiros, ainda que sobre este resul- ele todos os deputados estaduais e a maic)ri,1 cl<>S J)l'l'Íl•il<)S
tado pesem as denúncias de fraude eleitoral. A campanha da alagoanos. A coligação conservadora PSC/Pl-l ),/ l''l'li / 1'1 'l'/-
oposição, no segundo turno, restringiu-se à Capital e mesmo PMDB/PMN apoiava Geraldo Bulhões contra ,1 ír<·11l1• l 1 l{N/ ·
aqui foi derrotada (ver Quadro 14). PRP /PTR/PDC/PL que apoiava Renan Call1t•i1·,,s. l ',11·,1 <>
Senado a Coli~ação PFL/ PTB reelege Guilherme 1,,,11111•i r,1 1 l 111<·
11
derrota Francisco Mello (homônimo de Francisco Cl1tl'1>" M1•l< 1
vice-governador na chapa de Geraldo Bulhões) cl,1 l•r1•11l1:
1990: A QUINTA DERROTA PRNIPRP. I
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com o poder nacional foi por certo o grande.fator 1e a_ci7:a1:7en- . Nessa eleição, as correntes progressistas, novamente,
to da eleição local. Foi ela que exponenczou a z1tczdencza de ficam no gueto. PSB/PCB/PCdoB e PT formam uma frente de
práticas que em outros estados não ocorreram ou puderam ser
mantidas dentro de limites aceitáveis: o chamado abuso do esquerd~ co~ o claro objetivo de marcar presença, sem
poder econômico; transporte ilegal de eleito~es,_ distribui~ã? de conseguir atrair o PSDB e o PDT, que vão procurar espaços
alimentos em troca de votos; uso das maquinas munzczpal,
estadual e federal; violação de urnas, preenchimento prévio de QUADRO 16 - RESULTADO DA ELEIÇÃO
cédulas, mapismo e outras formas de adulteração dos resultados. PARA O GOVERNO 1990/2º TURNO/ALAGOAS
Estas práticas, a julgar pelas ações levadas aos tribunais e pelos
copiosos relatos da imprensa, não ocorreram apenas em outubro, Geraldo Bulhões - PSC/PFL/PMN/PTB/PMDB 424.480
justificando a anulação de numerosas urnas, mas também nas Renan Calheiros - PTR/PRN /PRP /PDC/PL 218.945
eleições suplementares de dezembro e novamente durante o
segundo turno, em janeiro". Fonle: TRE
Denúncias de corrupção eleitoral levaram o Tribunal nas" d~as can?-idaturas apoiadas por Collor. O professor
Regional Eleitoral a constatar fraudes e anular 50.000 votos de Antonio Cerveira de Moura (PT) e o jornalista Regis Cavalcan-
250 urnas, marcando eleições suplementares para dezembro de te (PCB), respectivamente candidatos ao Governo e ao Senado
90. No segundo turno, adiado para janeiro de 91:" ~eraldo formavam a chapa majoritária desta frente de esquerda (ve;
Bulhões que já tentara ser nomeado governador bionico em Quadro 17).
1978, e fora por quatro vezes deputado federal pela ARE-
NA/PDS, revelando-se como inexpressivo representante dos QUADRO 17- RESULTADO DA ELEIÇÃO
interesses das oligarquias sertanejas, venceu Renan com 66% PARA O SENADO 1990/ALAGOAS
dos votos (ver Quadros 15 e 16). Bulhões, coerente com seu Guilherme Palmeira - PFL/PTB 347.200
passado conservador, torna-se notícia nacio1;1al .ªº estrear a
cavalaria da Polícia Militar lançando-a, nos primeiros momen- Francisco Mello - PRN/PRP 168.128
tos de seu governo, contra trabalha~ores sem-t~r~a ~' l~go Regis Cavalcante - PCB/PSB/PT /PCdoB 41.837
depois, contra os professores que faziam suas reivindicaçoes
na Praça dos Martírios. _ Fonte: Gazeta de Alagoas, 23/01/91
QUADRO 15 - RESULTADO DA ELEIÇAO
PARA O GOVERNO 1990/1º TURNO/ALAGOAS Numa inversão de expectativas, o candidato ao Senado
da Frente Popular consegue uma votação duas vezes maior
Geraldo Bulhões - PFL/PMDB/PSC 325.395 qu~ o candi_dato a governador. Apenas três nomes (dos quais
Renan Calheiros - PRN /PTR/PL 297.415 dois renunciaram!) são lançados para a Câmara dos Deputados
22.615 n~ma clara demonstração de fragilidade. A chapa para a
Antônio Moura - PT /PSB/PCB/PCdoB '
disputa de vagas na Assembléia Legislativa teve igual desem-
Antônio Grillo - PSD 14.803 penho e apesar de nela constarem nomes conhecidos como o
d~ deputado federal Eduardo Bomfim e do deputado estadual
Fonte: Gazeta de Alagoas, 10/11/89
Joao Neto, a Frente não consegue eleger nenhum representan-
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te. Pela primeira vez desde 1978, a Assembléia Legislativa domíni~ conservador no interior do Estado. O bloco governis-
conhece uma composição completamente desfalcada de líderes t~, 9-u_e Jª teve a ARENA, PDS e PFL como partidos-guia, agora
oposicionistas ligados a partidos ou correntes de esquerda. O divi?-~do em pequenas siglas sob o controle de grupos ou
retrocesso político resultante de uma composição quase fam~ias, venceu a maioria esmagadora das prefeituras e
exclusivamente fisiológica do parlamento estadual, forçou a co1:1ti~uou ~om o controle da totalidade das câmaras munici-
Câmara Municipal de Maceió a assumir um papel de caixa de pai_s, _mclusi_ve a de Maceió, o que pode ser comprovado na
ressonância política substituindo o papel que tradicionalmente eleiçao de Rita Correia para exercer, durante o mês de janeiro
pertencia à Assembléia Legislativa Estadual. 0 mand~to-taml?ão n_a P~efeitura. A frente conservadora elege~
80 prefeitos, assim distribuídos: PDC (5), PDS (6), PFL (14), PL
(8), _PRP (1), PSC (29), PST (7), PTB (3), PTR (7). A oposição
muitas vez~s, e~ coligações com grupos governistas, vence~
em_ 19 mu_ni~ipio~: PMDB (10), PSDB (7), PT (1) e PSB (1). A
•
1992: A SEXTA DERROTA? elei!a maioria nao tem compromisso com a organização
autonoma da J?Opula_ção; são vereadores que exercerão 0
As eleições de 1992 foram um ensaio geral e um teste mand~to part-time, nao tendo uma idéia concreta do que
decisivo para os grupos envolvidos na luta-interoligárquica, deverao fazer quando no exercício do cargo. Prefeitos sem
correntes políticas que já trabalham na perspectiva de 1994. p~ograma de governo, que sequer ouviram falar de um Plano
Geraldo Bulhões com suas várias frentes eleitorais prepara-se Dir;tor e que apenas cumprem um objetivo: manter tudo como
para enfrentar a articulação oposicionista baseada no PMDB, estfl.
agora cohabitad0 por antigos oposicionistas que em 1985 . A .pr:se~ça frágil da esquerda em vários município e até
aderiram ao projeto Collor - Renan Calheiros, Djalma Falcão sua inex~stencia enquanto força organizada na maioria deles,
e José Costa e pelos antigos formadores do PFL no Estado - prenunciava a sexta derrota consecutiva das forças empenha-
Divaldo Suruagy e José Thomáz Nonô -, que se afastaram do das nas mudanças sociais e políticas em Alagoas. A previsibili-
Partido da Frente Liberal depois que este aderiu ao Governo dade dessa _derrota era garantida pela debilidade da esquerda
Collor. Nas eleições deste ano os partidos menores gravitaram em seu con1unto.
na órbita dessas duas opções. A vitória de um dos dois lados Tomando como referencial a presença no interior do
em cada um dos municípios abria espaços para a consolidação Estado dos quatro partidos mais à esquerda_ PT, PPS, PCdoB
do projeto para 1994. e _PSB - ??servamos que em 71 dos 99 municípios a representa-
O resultado em todo o Estado, nos 100 municípios ça~ politica da esquerda não se apresentava como alternativa
(foram emancipados em 1991 mais três: Pariconha, Estrela de eleitoral._ Nas localidades. onde a esquerda participava de
Alagoas e Paripueira), foi o esperado. Nesta avaliação utiliza- ~lgum ~ipo de frente eleitoral essas coligações refletiam a
mos como critério o mesmo que foi usado para as eleições de incapacidade de _realizar alianças sob a hegemonia política das
1988: o balanço deve ser visto no conjunto de todas as cem formas ~rogressistas e atestavam o isolamento, a pobreza e 0
prefeituras e câmaras municipais com suas 937 vagas em p~ag~atis,111;0 q~e as le~avam a assumir a tática da "sobrevi-
disputa. vencia min~a ; ou se1a, a escolha por uma chapa menos
As mudanças nominais nas direções das prefeituras e na comprometida com o atraso - e às vezes nem isso conseguiam
maioria das câmaras de vereadores não alteram o perfil de
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
- para, dentro dela, tentar eleger um ve~ead_?r. . restava aos partidos de esquerda a possibilidade de marcar
Reproduziremos aqui todas as coligaçoes regi~tradas no presença em alguns municípios e tentar obter alguns magros
TRE, com a participação de algum destes q~~tro partidos, para resultados que lhes permitissem sobreviver até a chegada de
dar uma imagem mais aproximada da ~agilidade da esquerda tempos melhores.
organizada no Estado de Alagoas: Anadia: PSB/PD~/~L/PSD- E o resultado final foi pífio: extraordinariamente o PT
/PDT. Arapiraca: PCdoB/PL. Barra de Santo Antonio: PSB/- conseguiu eleger o prefeito e um vereador em Água Branca e
PMN /PMDB. Batalha: PSB/PSDB. Boca da Mata: PC~o~/- mais _um vereador em Jacaré dos Homens. O PSB elegeu os
PDS/PL/PMN /PMR e PSB/PRN/PSD/PRP. CaJueiro: prefeitos de Porto Calvo e Matriz de Camaragibe e vereadores
PT /PTR/PSDB/PMDB. Delmiro Gouveia; PT /PSB e PCd?B/- em sete municípios. Em todo Estado, o PPS e o PCdoB
PDT. Dois Riachos: PSB/PDS/PSC/PMDB. Girau ~o Ponciano: elegeram um vereador cada. São dados que não deixam
PSB/PDS/PSC/PSDB/PDT /PFL/PTR/PSD. Inhapi: PT /PSD/- margens de dúvida para que se qualifique este resultado com.o
PMDB. Junqueiro: PSB/PDS/PDT /PMDB. Marechal Deod~ro: a sexta derrota eleitoral da esquerda em Alagoas.
PSB/PTR/PSC/PDC/PDT /PSDB. Matriz de Camaragibe: . Em Maceió, único município com eleição previs ta cm
PSB/PSD/PTB/PSDB. Murici: PSB/PSD/PL/PST /PSD~. O~ho dois turnos, a esquerda saiu, novamente, dividida. De um lado
d' Água das Flores: PCdoB/PDS/PTR. Palmeira dos Indios: a coligação PSDB/PMDB/PPS/PCdoB/PV lançando a candi-
PSB/PRN/PDT /PMDB. Pão de Açúcar: PT /PSB/PCdoB/- datura Téo Vilela e, de outro, a frente PSB/PT apoiando
PTR/ PSDB. Porto Calvo: PSB / PDC / PTR e PPS / PSDB. Porto Ronaldo Lessa. Um processo tumultuado de negociações
de Pedras: PSB/PDS/PFL. Rio Largo: PSB/PCdoB/PPS/PDT /- impediu que, no primeiro turno, estes partidos marchassem
PMDB/PFL. São Luís do Quitunde: PSB/PTB/PL/PTR/PST /- ui:iidos para enfrentar o bloco governista comandado pela
PSDB / PMDB e PPS / PDT / PMN / PDS. São Miguel dos aliança PFL/PSC/PTB, que apoiava José Bernardes 5• O
Campos: PCdoB/PRN/PMN/PDC/PTB/PV /PSDB e PT /PPS- resultado foi surpreendente - no plano majoritário - em relação
'PSB/PST /PRP. Santana do Ipanema: PCdoB/PPS/PMDB/PL. aos números anunciados pelos institutos de pesquisa, inclusive
Teotônio Vilela: PT /PSB/PTR/PTB/PSDB. União ~os Palma: o DataFolha, que apontavam o favoritismo do candidato
res: PT /PSB. Em Água Branca, Colônia de Leopoldina, Jacare governista, seguido de Téo Vilela. O boletim, divulgado pelo
dos Homens e Penedo o PT saiu isoladamente. A presenç~ ~e TRE somente um mês depois, confirmava as duas candidaturas
candidatos progressistas em legendas controladas pelo Palaci? que iriam para o segundo turno (ver Quadro 18).
dos Martírios, como, por exemplo, Viçosa, Penedo e Ma~~gogi, A decisão do primeiro turno, em Maceió, teve caracterís-
é um fato curioso explicado pela inexistência ou fragilidade ticas que, em alguns aspectos, nos chamam a atenção:
dos partidos democráticos naqueles municípi~s. . _ 1º) retorna-se a tradição que existiu entre 1965 e 1988 de
Excetuando Maceió, onde havia a grande insatisfaçao dos vitória eleitoral da oposição - não da esquerda ou de setores
vários setores de classe média com os governos fed:ral, progressistas - na capital, tradição interrompida em 1989 com
estadual e municipal em relação às denúncias de corrupçao e a vitória de Collor para presidente e a de Geraldo Bulhões
à crise econômica, aliada à apresentação de fortes no~es na
esquerda à. câmara de ver~adore~,, c~iando a expectativa de 5
so~re as articula~õ_es entre os partidos de esquerda para a apresentação
vitórias parciais, nos demais municip1os as chan~es de _al~um ~e cand1~~turas e a t~ti~a de cada um ~eles em relação a eleição municipal
tipo de vitória eram remotas. Numa perspectiva otimista, m Mace10, ver o polem1co texto de An1valdo Miranda "O PPS e as eleições
c.le 1992" (s/ ed .).
64 or
•
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
QUADRO 18 - ELEIÇÕES MUNICIPAIS governo-oposição, que remetia à polarização dos anos oitenta
DE 1992/MACEIÓ 1 º TURNO e votou co1:t~a, ~as dentro da nova conjuntura municipal. Os
votos oposic1on1stas e_ de protesto foram carreados, principal-
Ronaldo Lessa - PSB/PT 51.785
mente, para a candidatura do PSB/PT. Primeiro porque
José Bernardes - PFL/PTB/PSC 50.131 Ronald~ Lessa conseguiu indentificar-se como a oposi_ção real,
47.518 na medida em que não tinha apoiado em nenhum momento o
Téo Vilela - PSDB/PMDB/PCdoB/PPS/PV
Rrojeto Fernando Collor; Téo Vilela apoiou a candidatura
Votos Nulos 47.056
Çollor_ ao Governo de Alagoas em 1986 e optou pela pre e11ça
Votos Brancos 22.302 ostensiva em sua campanha de fi uras marcadamente conser-
14.943 vadoras como Diva! o uruagy e José Thomás Nonô, rccém-
Abstenção
~
'
~~egados do l_,f~. Essa tática não ajudou na construção de un,a
Fonte: Gazeta de Alagoas, 14/10/92 imagem de can~idato oposicionista, que já se achava prejudica-
da pela. sua orig~.n:1 de classe - "_usineiro" - explorada pelos
para Governador. Os dois candidatos de oposf~ão - Téo Vilela se~s dois adversarios; segundo, Ronaldo Lessa soube é!_pro-
e Ronaldo Lessa - somaram 65% dos votos validos; ".eitar melhor a campanha pró-impeachment que tomou a
2º) 0 imenso número de votos nulos, em ?ranco e o ruas ~~ Maceió dias antes das eleições; terceiro1 Lessa foi
índice de abstenção que, somados, representam mais de 80.000 beneficiado pela ausência dos dois candidatos no debate
eleitores ou 35% do eleitorado. Fenômeno que pode ser mar~ado no fin_al da campanha; quarto, os dois candidatos que
explicado pelo descrédito na r~p~esentação polít~ca alagoa~a. teoricamente lideravam as pesquisas preservaram Ronaldo
Este índice é maior que o da eleiçao de 1970, o mais expressivo Lessa de críticas e ataques, pensando em conseguir o apoio
no período ditatorial; . . . para o segundo turno. Os ataques mútuos tanto prejudicavam
3º) 0 descrédito das pesquisas eleitorais que apontavam a imagem dos dois candidatos como ajudaram a firmar a de
até O dia da votação uma larga margem de vantagem para o Ronaldo Lessa acima das denúncias de campanha.
candidato governista. O IBOPE, dia;1-te ~os inúmero~ pr_oble- O resultado nas eleições proporcionais, onde a coligação
mas criados a partir de 1990 - pressao di~e~a s~bre o_insti~to, PSB/PT não conseguiu eleger um vereador sequer, reflete o
pressão sobre os pesquisadores, etc. - decidiu nao mais realizar quadro real da força eleitoral destes dois partidos.
pesquisas na capital alagoana e o DataFol~a, que se ave~tu_rou Pode-se
• • •
considerar, diante desse resultado I
a vitória
a fazê-las, teve seu prestígio abalado pois seus prognosticos oposicionista na capital, no primeiro turno, como urrra vitória
admitiam a possibilidade de não ocorrer 1:m, s_eg~ndo ~rno; ~a esquerda alagoana? Os dois candidatos oposicionistas
4º) novamente o descrédito e~ :elaçao a ~ustiça eleit?ra~. fizeram campanhas de denúncias do Governo Collor e críticas
Vários municípios tiveram suas eleiçoes questionadas, princi- ao Governo Estadual e à Administração Municipal, caracteri-
palmente a de Maceió, que, a exemplo _de 1990, teve u_rnas zando duas alternativas contrárias ao esquema Collor /Bulhões
anuladas e eleições suplementares requeridas no TSE. Mais de e ~ Pe?ro Vieira. ~ percurso do candidato majoritário da
300 pedidos de impugnações e reco1:tagem e?t~aram no_ TRE col1gaçao PSB/PT foi sempre vinculado às lutas democráticas
e Maceió ficou como a única capital brasileira a adiar o do povo alagoano e isso pode ser contabilizado como um
segundo turno para o ano seguin~e; . . . . . ganho, mas, a não correspondência de votos na chapa propor-
5º) parte importante do eleitorado re1eitou a dis1untiva
66 67
11
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise •
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
cional - que teve aproximadamente 10% dos votos dados ao ª campanha em andamento.
candidato a Prefeito - revela o lado frágil deste fenômeno. O
janeiri :e:~tado do segundo turno, realizado no dia 1O de
mesmo pode-se dizer do candidato do PSDB, que não traduziu ca . ' rmo_u a perspectiva da polarização entre o
a votação majoritária em sua chapa proporcional. A votação
expressiva para prefeito não impediu a derrota de fortes
nomes como os de Claudionor Araújo e Júlio Bandeira, dos 21 vereadores de M . ?s eput~dos estaduais e 15
aceio e o candidat . ~
conhecidas lideranças sindicais e políticas em Maceió, que
apoiavam Téo Vilela. Os dois candidatos de oposição não
conseguiram capitalizar toda a insatisfação reinante e tiveram - e contou com O PMDB lid d . para realizarem-se
menos votos que a soma dos nulos, brancos e abstenção. o PSDB, através de Téo . era o por Divaldo Suruagy e com
A soma dos votos dados aos candidatos a vereadores
pelo PCdoB, PPS, PSB e PT não alcançou 5% do eleitorado segundo turno, a formação da frente .dase~ zo~-~e assim, no
maceioense, mesmo adicionando a esta soma o voto de mesmos partidos tentaram m - posiçoes, que estes
turno A - as nao concretizaram no primeiro
legenda. Esta disparidade entre o número de votos nos
representantes da esquerda organizada e a votação dos
candidatos majoritários da oposição torna claro o peso real da campanha do PFL ~~~aldo tnti-co~unis;111-o_ primário na
esquerda nesta eleição. Ainda que ressalvemos a capacidade vota ão ' o essa saiu vitorioso com uma
destes pequenos partidos em mobilizar, para os candidatos e po; Té~u;ii:rarensent~ a s?ma exata dos votos obtidos por ele
o primeiro turno (Quadro 19).
majoritários, o voto oposicionista e de protesto anti-Collor e
anti-Bulhões, este mesmo voto, no entanto, não foi canalizado QUADRO 19 - ELEIÇÕES MUNICIPAIS
para os representantes populares, na medida em que a opção DE 1992/MACEIÓ/2º- TURNO
do eleitorado continuou a ser determinada antes pelas caracte-
rísticas do candidato do que pelas do partido. Os partidos de Ronaldo Lessa/PSB/PT 97.919
esquerda continuaram assim com uma pequena e isolada José Bernardes/PFL/PTB/PSC 50.522
bancada na Câmara Municipal de Maceió. Votos Nulos
Passada a contagem dos votos confirmou-se a falta de 49.020
Votos Brancos
unidade entre os partidos de esquerda de ambas as coligações, 3.992
e mesln) dos partidos de centro-esquerda, em relação ao Abstenção 32,l~
segundo turno, revelando a inexistência de um projeto que
envolva a pequena esquerda alagoana. A falta de decisão e Fonte: Gazeta de Alagoas 12/01/92.
agilidade políticas dos partidos que apoiaram Ronaldo Lessa,
Esta avaliação fica interrom .d . d"
em realizar alianças que garantissem a vitória no segundo A derrota política da li _ pi ª aqui, ia 14 de janeiro.
turno e governabilidade na Prefeitura, revela a imaturidade e diante de uma frente an~~ctªJ:º g?ve~l~amen!al na capital
insegurança que poderão levar para a administração munici- um overno ue . , vera agi izar o isolamento de
pal. Um exemplo disso é que o apoio - que já estava declarado
- do PCdoB e PPS foram selados às vésperas da eleição, com fé1·1·e d s · e manem-se graças ao controle
o as ecretarias da Segurança Pu'bl"ica e d a F1f1Zenda,
68 GO
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
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apoiado por políticos - deputados federais e estaduais - eleitos (~) A !ferança Colonial • Estado herdeiro de uma
em plena era Collor. O total descolamento entre o governo formaçao social onde a produção açucareira voltada para 0
estadual e a sociedade alagoana deverá gerar novos fatos mercad~ e~terno era realizada nos grandes latifúndios, tendo
políticos, principalmente os decorrentes do afastamento de a esc_ravidao como forma de organização do trabalho até fins
Collor e da posse de Itamar Franco. Com a vitória da oposição, do ~eculo passa~o, Alagoas continua penalizada por todas as
a esquerda - ou parte dela -assumirá, com todas as suas sequelas que dai derivam.
limitações, a administração da capital alagoana para, talvez, Co~ uma economia em transição de um perfil agrário
mostrar os caminhos da superação de uma crise que vem par~. um tipo urbano-industrial, Alagoas tem uma população
rolando desde há uma década. politicament~ ~esor~~nizada, em sua maioria desinfoi·mada
s?bre seus direitos civis, dominada pelo medo e pela ignorân-
Cl~ _que gerou, naturalmente, uma sociedade política proble-
matica. Uma situação de tal forma alarmante, que fez a Ordem
A ESQUERDA EM CRISE dos _A~vogados do Brasil, secção de Alagoas, acionar a
Comissao
. . de Acesso à Justiça, porque , segundo ela "... so, uma
minoria te~ aces_so à Justiça para garantir os seus direitos. O grosso
Tomando os resultados eleitorais - tanto os destinados a da populaçao nao tem qualquer chance, quando necessita, de dar
ocupar espaços no Legislativo como no Executivo - como andam_ento a u,m processo no Judiciário até porque, para conseg11 i1-
parâmetros da presença da esquerda em Alagoas, pode-se faze_r. ~s~o,,, tera que gastar, no mínimo Cr$ 50 mil, com custas
perguntar: quais as razões deste declínio constante e regular ;udiciarias (Gazeta de Alagoas: 16/02/92) Ala t
ou estagnação no número de votos e, conseqüentemente, de lt' · . goas em
~ issi?1as taxas de analfabetismo - 43% - e de mortalidade
representantes dos partidos de esquerda nas Câmaras Munici- infantil.- 99 em cada mil crianças com até 1 ano -, e uma
pais, Assembléia Legislativa, Congresso Nacional, Prefeituras economia dependente ~e ?ns pouc?s prodl1tos de exportação
e Governo Estadual? Poder-se-ia tentar responder levantando ge~ando desemp:ego ~ronico que atinge contingentes ponderá-
alguns tópicos para a reflexão. Pontos que permitam encontrar veis da _p~pulaçao ativa, levando à formação de expressiva
características próprias da sociedade alagoana e, por decorrên- economia ~nformal. A maioria esmagadora da população é
cia, da esquerda em Alagoas. Evidentemente que os tópicos pobre e vive em casebres sem as mínimas condições de
escolhidos., e respectivos desenvolvimentos no texto, não têm
a preten~ã<? de esgotar o estudo das razões dessas dificuldades,
~sobre ~ formação do Estado de Alagoas consultar alguns textos ainda
6
nem a procura de respostas que expliquem essa situação.
Assim é possível, acredito, discutir a sociedade alagoana e sua em arculaçao: '.'.ºBanguê nas Alagoas" de Manuel Diégues Jr. 2ª ed.
EDUFAL, 1980; Palmares: A Guerra dos Escravos" de Décio Freitas 5ª ed
esquerda política através de sua herança colonial, que implica Mercado Aberto, 1985; "~ l!topia Armada" de Dirceu Lindoso, Ed~ Paz ~
na existência de uma frágil sociedade civil, onde a presença Terra~ _198? e o~ manuais ilustrativos como "História de Alagoas" de
dos partidos se revela política e organicamente frágil, soman- G~~selia Silva Pinto (1979), "Forntação Histórica de Alagoas" de Cícero
do-se a tudo isso uma conjuntura desfavorável que vem Per1cl~s de Carvalho (1982) e "Notas Sobre a História de Alagoas" de Isabel
ajudando a esquerda a acumular uma série de derrotas desde Lou~e1ro de Albuquerque (1989). Interessante também são os antigos manuais
~eed1ta~os recentemente: "História de Alagoas" de Moreno Brandão (1981)
1985. Os cinco tópicos expostos tentam sistematizar essas Históna da~ Alagoas" de Craveiro Costa (1983) e "História da Civiliza ã~
características. Ja Alagoas de Jayme de Altavilla (1988)). ç
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
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- tem uma ex ectativa de vida de 47 política (Estado) • Esses organismos, tais como os partidos,
sindicatos, associações comunitárias, são os locais privilegiados
anos, ri-:: =~~~~-::nômico desolador que nem a propaganda onde as classes sociais buscam ganhar aliados e exercer a
~~~!1, nem os folhetos destinados aos turistas conseguem hegemonia através da direção política e do consenso. Ao
7 contrário, na sociedade política (Estado) as classes sociais
esconder • • eia de
exercem uma dominação mediante a coerção e a repressão.
A
(b) A Sociedade Civil. Sociedade civil é um co1;cei~o q~e O Movimento Sindical. A fragilidade da sociedade civil
aparece como um grande problema para a esquerda em
Alagoas. Apesar dos avanços registrados nos anos 80 é baixa
a taxa de sindicalização; assim, o movimento sindical não
representa, ainda, a maioria dos trabalhadores, e grande parte
dos sindicalizados é dirigida por diretorias pelegas, imobilis-
tas, de sindicatos assistencialistas. Sua parte combativa é
prisioneira da luta econômica contra a sub-remuneração da
força de trabalho, que lhe toma toda a energia, obrigando-a a
. 1 oano ver "Informações Sócio-
7 (sobre o subde_se,n~olv1men~~n:s~g SEPLAN, 1992, o mais recente e
Econômicas dos Mun1c1p1os Alagt . de alfabetização e escolarização,
detalhado estudo . con~e~~ohabs ·t a~as l abastecimento d' água e rede de 8
mortalidade infantil, def1c1t a 1 aciona , (ver o ensaio Sobre o Conceito de Sociedade Civil, de Ivo Tonet,
l•:l)UFAL, 1989).
esgoto em cada um dos municípios do Estado).
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
viver sob o predomínio de políticas defensivas e, desaparelha- sociedade extremamente desigual e injusta" (SEPLAN, 1987:25).
da9, não consegue agir politicamente fora d?. âmbito l?uramen- Diante destes números o movimento sindical fica paralisado
te corporativo, nem oferecer respostas polit~~as gerais. pela urgência da questão salarial.
Como ilustração deste universo de dificuldades, toma-
mos a Central Única dos Trabalhadores/CUT, a mais represen- QUADRO 20
tativa das centrais e a única em funcionamento em Alagoas, -
POPULAÇAO ECONOMICAMENTE ATIVA (910.670 PESSOAS)
que em dez anos de existência conseguiu a ~lia5ão de ~8 EM 1988 E VALOR DO RENDIMENTO MÉDIO MENSAL
entidades dentro do universo de mais de 200 sindicatos, nao até½ piso salarial 145.206 16,0%
possuind~ assim um real enraizamento nas bas;s ~o ~ovimen-
de ½ a 1 piso salarial 198.511 21,8%
to sindical. Estas filiações incluem apenas tres smdicatos de
trabalhadores rurais: Craíbas, Inhapí e Delmiro Couveira, mais de 1 piso salarial 220.186 24,1%
nenhum deles localizado na Zona da Mata, onde , funcionam. . os de 2 a 3 pisos salariais 72.392 8,0%
53 sindicatos da economicamente importante area ·canavierra,
hoje distribuídos em quatro pólos sindicais: Litoral Norte, mais de 3 e menos de 5 pisos 60.254 6,6%
Litoral Sul, Vale do Mundaú e Vale do Paraíba. Nem mesmo mais de 5 47.683 5,2%
a desativação da Central Geral dos Trabalhad~res / ~G!em sem rendimentos 166.438 18,3%
1990 com a passagem dos sindicatos sob a influencia do
PCd~B para a CUT, modificou esta situação. . Fonte: IBGE/PNAD
A perversidade na distribuição de re~da, uma da~ mais
concentradas no Brasil, pode ser vista nos numeros publicados A FET AG / AL, no que pese seu crescimento, tornando-se
pelo IBGE (1990) resultado da Pesquisa Na_cional Por ':mostra- a maior estrutura sindical alagoana tanto pelo número de
gem de Domicílio. Tomando a Populaçao Economicamente sindicatos, 89, quanto pelo número de sindicalizados, mais de
Ativa (PEA) como parâmetro, vê-se que apenas 5.2% d~ P~A 100 mil, continua sendo uma entidade politicamente frágil
percebem mais que 5 salários_mínimos, enquan~o 56% nao tem (apesar da CONTAG ter entrado para a CUT, a FET AG, / AL
rendimentos ou, quando muito, suas rendas nao ultrapassa1? até agora não se mobilizou para participar da Central Unica
0 salário mínimo. Tomando a população com 10 anos ou mais dos Trabalhadores). Longe da autonomia necessária para a
de idade, observa-se que 74% não têm rendimento algum ou representação dos trabalhadores e dos pequenos produtores
percebem até 1 salário mínimo, enquanto apenas 3% conse- rurais alagoanos, a entidade demonstra um alto grau de
guem receber mais que 5 salários (ver Quadr~ 20 e ,~l). Um~ dependência das iniciativas do aparelho de Estado. A FET AG-
situação que o próprio governo estad1:al_ confi~ma: a renda_e I AL está distante de ser a estrutura capaz de enfrentar, no
uma das mais concentradas do país, e os nzvezs de vida da populaçao plano político, a representação conservadora e patronal do
alagoana são dos mais baixos existentes, produzindo um tipo de campo alagoano, composta pela Cooperativa dos Usineiros,
Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas/ ASPLANA
e Federação da Agricultura no Estado de Alagoas. A fragilida-
(um dado significativo é que o DIEESE/Departarnento Intersi:°"dical de
9 de política levou a FET AG a alinhar-se com o Governo Collor,
Estudos Sócio-Econômicos permanece há dez anos corno um projeto a ser a assumir as campanhas de Renan Calheiros em 88, de Collor
implantado).
74 7
•
Alago 1vBU-1vvz: a 11qu1ra1 m cr111 A11go1 1v110-1u11a: a 11qu1rda 1m cria
------ ----------
QUADRO 21 Governo/ Trabalha dores Rurais, visto que, até aqueles cliu.~
PESSOAS LE 10 ANOS OU MAIS (TOTAL
, DE 1.689.629) tivemos Governos que não reconheciam a nossa condição de
E VALOR DO RENDIMENTO MEDI O MENSAL Trabalhadores e líderes rurais, categoria profissional enraizada
na história do nosso Estado".
SEGUNDO AS CLASSES DE RENDIMENTO MENSAL
até ½ piso salarial 193.762 11,4% A falta de políticas agrária e agrícola direcionadas para
de ½ a 1 piso salarial 275.233 16,4% a maioria dos que vivem no campo gerou uma difícil e
explosiva situação que a FETAG tem de enfrentar no trato
mais de 1 e menos de 2 pisos 235.361 14,0%
diário com a repressão aos trabalhadores, sindicalizados ou
de 2 a 3 pisos salariais 77.558 4,6% não, violência institucionalizada que se expressa na morte de
mais de 3 e menos de 5 pisos 65.020 3,8% vários líderes e trabalhadores rurais. A estrutura fundiária em
Alagoas é extremamente concentrada (ver Quadros 22 e 23):
mais de 5 pisos 52.452 3,1%
82% das propriedades têm menos de 10 ha. mas sua área
sem rendimentos 790.203 46,7% ocupa apenas 11 % do espaço, enquanto 62% da área agrícola
é ocupada por 3% das propriedades maiores de 100 ha. Nas ·
Fonte: IBGE/PNAD áreas de pequenas propriedades sobrevive o minifúndio
incapaz de manter o agricultor em regime produtivo. Nas
para Presidente e novamente Renan Calheiros em 1990. Para
áreas de grandes propriedades dominam a pecuária extensiva
esta última eleição, a FET AG divulgou uma carta aberta a
e as culturas que exigem maior grau de mecanização e,
Renan na qual afirmava:
portanto, maior capitalização, como o plantio da cana-de-
"... no momento político atual, com a eleição do Presidente açúcar. Esta é a mais forte marca da herança colonial, afetando
Fernando Collor de Mello, queremos trazer para Alagoas sua enormemente a vida da classe trabalhadora em Alagoas.
experiência, dinamismo e especialmente trabalho ~ara que •
continuemos a proposta de elaborar uma Alagoas mais Demo- Movimento Comunitário. As características do movi-
crática, mas socialmente justa, e com a participação da classe mento comunitário, como a do interesse por soluções imedia-
Trabalhadora Rural junto ao governo de V.Excia. . tas, aliada à facilidade na criação de associações de moradores,
Como V.Excia. bem sabe, os Trabalhadores Rurais de torna-o vulnerável à manipulação político-eleitoral. O movi-
nosso Estado sempre estiveram ao lado das candidaturas mais mento comunitário em Alagoas não teve destino diferente do
conseqüentes, ou sejam, as candidaturas RENAN/Deputado
Federal; Collor/Governo de Alagoas; Renan/Prefeito de Maceió resto do país e foi desmobilizado pela forte manipulação
e, recentemente Collor/Presidente da República. partidária de suas entidades. O duro teste eleitoral desiludiu
Historicamente, a aliança Collor/Trabalhadores Rurais, àqueles que, baseados no movimento de moradores, postula-
no Governo da Mudança, a partir de março de 1987, possibili- ram vagas no parlamento; e nem mesmo lideranças e dirigen-
tou aos camponeses o reconhecimento por parte da sociedade a tes comunitários, na época das eleições, como Reinaldo Cabral,
importância da nossa classe obreira que virtualmente contribui José Lessa Gama e Corintho Campello tiveram sucesso em
para o desenvolvimento d_o Estado, , deixa~do Alagoas ~a suas iniciativas. Hoje a UNI COM, FAMAL, FAMA e UMSA
condição de 2º produtor nacional de açucare alcool. A conquis-
são lembranças dos períodos pré-eleitorais de 85, 86 e 88. Por
ta do Governo da Mudança possibilitou um avanço nas relações
outro lado, a intervenção estatal, via Programa Nacional do
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A11g0111980·1992: a e1qu1rda em cri••
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/í)
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
mento do estoque de terrenos baldios em Maceió, organizando possibi~i~ade_ de fazer política específica com maiores chances
as primeiras ocupações, num processo de reagrupamento de de part1cip~çao de uma parcela mais numerosa de estudantes
forças, tentando encontrar respostas para os problemas criados e, por seguinte, torna~em-se entidades de massa. A lógica do
pela acelerada urbanização por que passa o Estado de Alagoas aparelho, na _qual .º interesse pela conquista da maioria de
como a grave questão habitacional que, levando-se em conta cargos _nas diretorias se sobrepõe à luta pela ampliação e
o número de famílias com rendimentos até 5 salários mínimos fortalecrm_ento da en?dade, impediu a renovação de quadros
que vive em domicílios alugados, cedidos e com outras e o aparecimento de lideranças expressivas como ocorreu entre
condições de ocupação, conhece um déficit de, aproximada- 78/82. A ~ESA conhece agora a concorrência de outra
mente, 170 mil moradias, o equivalente a 38% do estoque de represent~çao secundarista, a União Maceioense de Estudantes
moradias do Estado (SEPLAN, 1987:273). Em Alagoas as áreas S~cundaristas/UMES que, objetivando combater a partidariza-
urbanas incham com o grande contingente de trabalhadores , çao e ou/t~os possíveis desvios da atual gestão na UESA, faz
não-qualificados que migram das áreas ainda mais estàgnadas uma politica paralela para esvaziar sua concorrente atuando
(ver Quadro 24). como um dócil instrumento da Secretaria de Ed~cação. o
fec~amento da UEEA e. o completo esvaziamento das outras
QUADRO 24 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO entidades estudantis confirmam esta crise.
EM ALAGOAS
Pop. Rural % Pop. Total .. Movi?1entos ~cológi_co e Feminista. As novidades
ANO Pop. Urbana %
pos~ti~as vem de dois movimentos: ecológico e feminista. o
1970 626.326 40% 947.301 60% 1.573.637 femmi~ta, que com a sua atividade permanente de denúncias
1980 976.536 49% 1.006.055 51% 1.982.591 e. ~e. div1:1lga_ção_ dos_ d~eitos das mulheres, tem conseguido
1.028.281 42% 2.438.930 vitorias ins_titucionais ~portantes como a Delegacia da
1990 1.410.649 58%
Mulher, enti~ade conquistada pelas feministas, que levanta e
Fonte: IBGE fornec~ os_ numeros da violência sobre a mulher em Alagoas
entre )ª~e1ro de 1990 e setembro de 1991, registrando 4153
Movimento Estudantil. O movimento dos estudantes foi ?corr/e~cias, /fazendo 6926 notificações e instaurando 50
se esvaziando por ter sido incapaz de identificar-se com os inqueritos at~ esta data. Neste mesmo período, 43 mulheres
problemas específicos do mundo estudantil. Não houve uma fora!11. assassinad~s (Cf. "O Diário" de 8/3/92). O movimento
transição. A política "do contra" dos anos 70 e começo dos femmista tem estimulado a produção dos grupos intelectuais
anos 80 não se transformou em uma proposta clara, nem em c?~º o que publica regularmente a coleção "Gênero & Cidada~
formas novas que entusiasmassem os estudantes a participar n~a (EI?l!FAL! onde importantes informações sobre a condi-
deste movimento. A partidarização das diretorias é tão çao feminina sao enc~~tradas. No seu segundo número Gulho,
evidente que por vezes partido e entidade confundem-se. O 1992), por exemplo, - Mulher e Saúde" - a coleção registra que
DCE da UFAL, o DCE do CESMAC e a UESA são entidades ap 7nas 30% d~s gestantes em Alagoas têm acesso a atenção
onde os estudantes sem vínculos com os partidos políticos não pre-natal, considerando-se apenas uma consulta médica e que
têm nenhum tipo de participação. Mais uma demonstração de apenas 59% ~os partos são feitos em hospitais.
fragilidade, o aparelhamento das entidades roubou-lhes a O Movimento Ecológico representado principalmente
80 81
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
pelo Movimento Pela Vida e por um movimento derivado - a el~mentares direitos do "homem" (... ) A pregar um anticon1 11.
Brigada Ecológica - em sua pertinaz camp~~ha co~tra o nismo contraditório (pois defende a candidatura Fernr111,/o
desmatamento das florestas tropicais e a poluiçao. ambiental, Barreiros em coligação com o PCB), o arcebispo Edvrrl,lo
,:1maral revela sua preferência pelo continuísmo, não //1, ,
introduz a temática ecológica de forma :anguardis~a, .provo- l17!portando _s~ tal continuísmo é o ressurgimento dos tempos dr,
cando uma grande discussão sobre o polo cloroquimico e o ditadura militar violenta, sangüinária, corrupta, destruido 1·,1
meio ambiente em Alagoas. dos mais elementares direitos do homem".
A esquerda em Alagoas diferentemente .de outr~s
Estados, não tem contado com o apoio na hierarquia da IgreJa No entanto, merece destaque o apoio dos setores
Católica que, pelo contrário, tem ~e chocado com os agentes progressistas e minoritários da Igreja Católica ao movimento
pastorais e tomado posições políticas que refl~te;11 o pensa- sindical rural, ao Movimentos dos Sem Terra. Destaque
mento conservador desta Igreja, como na ele.iç.ao de .1936, também para a Federação de órgãos Para Assistência Social e
quando a Arquidiocese de Maceió em nota ofic!~~, assina~a Edu~a:i?nal/FASE, n~ tentativa de criar movimentos supra-
11
pelo arcebispo D. Edvaldo Amaral, orienta seus fiei.s para nao partidarios como o Forum Permanente Contra a Violência em
votarem em candidatos apoiados pelos c.omu~istas. Esta Alagoas" e o Fórum da Saúde do Trabalhador".
posição mereceu uma breve resposta do Jornalista Juarez _ Não poderi~ ence~rar esta parte sem fazer uma aprecia-
Ferreira publicada na Gazeta de Alagoas (13 / 1 / 86) com o ! çao breve, como e o carater deste ensaio, sobre os partidos de
título "Mudança e Anti-Comunismo" na qual afirma: esquerda - aqui falaremos do PSB, PCdoB, PT, PPS, além do
PDT e. PSJ:?B- em Alagoas, reconhecendo no entanto, que estas
"... não questiono o direito de a Arquidioce~e- de M~ceió organizaçoes merecem um estudo à parte. Esta apreciação
manifestar-se formal e publicamente sobre a~ el~içoes do dia 15 torna-.se ~ecessária pela importante contribuição destas
' e mesmo revelar os candidatos de sua preferencia, a exemplo do
•
~édico Fernando Barreiros, candidato a deputado federal pelo
organizaçoes para o fortalecimento da sociedade civil
Partido dos Trabalhadores (PT) em coligaçã? com o. ~DT, O Partido Socialista Brasileiro/PSB, historicamente um
PSB,PDC - e pasmem! - PCB (Partido Comunista B:asileiro). dos mais antigos partidos brasileiros, foi extinto em 1965 e
Questiono, sim, a tônica central .d~ nota episcopal -. o volt~u .à cena política graças à conjuntura especial na Nova
anti-comunismo - e, diante das contradiçoes e dos oport~nis- Republica. Em Alagoas, o PSB foi o porto seguro dos dissiden-
mos, ponho em dúvida a seriedade do doc_umento da Igre1a em tes do PMDB, que em 1985 não aceitaram a entrada do grupo
Maceió, que objetiva, disfarçadamente porem com pouca clarez~, liderado pelo então deputado federal Fernando Collor. Dos
confundir o eleitorado alagoano, sobretudo no que se refere as partidos _de e~que~da foi o único que conseguiu alguma
candidaturas ao governo do Estado.
A "nota oficial" assinada por Dom E_dvaldo Am~ral penetraçao no interior do estado elegendo prefeitos e vereado-
considera reprováveis as presenças do Partido ~omunista res .. A saída, em 1988, de sua corrente mais à esquerda para 0
Brasileiro (PCB) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) antigo PCB e o rompimento do grupo liderado pelo ex-
nas coligações lideradas respectivamen~e por Ronal~~ Lessa e deputado estadual João Neto, em 1992, tiraram muita da força
Fernando Collor. Na opinião do arcebispo de Maceio, º. PC~ do PSB. O sucesso da candidatura Ronaldo Lessa trouxe
"defende os postulados marxistas e conspira contra o pluripa:t~,- ânimos para o PSB em Alagoas.
darismo e a expressão livre do povo nu"!ª demo~racza , O Partido dos ~rab~lhadores / PT conheceu em Alagoas
enquanto O PCdoB "é por!ador de u~a.ideologia destruidora d~ um processo de organizaçao atabalhoado que não lhe permitiu
democracia, além de atéia e materialista, negadora dos mais
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
ter uma direção estável. Os seus primeiros o~g~nizadores, de sua nova legalidade, em maio de 1985. A reconstituição dos
assim como a maioria de seus candidatos nas eleiçoes de 1985, laços com o n?vo movimento sindical e o crescimento enquan-
86, e 88, não se encontram mais nos qua~ros do PT de t~ legen?a :leitoral, foram enormemente prejudicadas por suas
Alagoas. O fortalecimento das correntes orga~izada..:' - C~nver- dissençoes internas. O afastamento do ex-secretário geral Luís
gência Socialista Democracia Socialista e Articulaçao - aJudou Carlos_ Pre~t~s, em 1980 e os sucessivos "rachas" a partir de
no processo de ;,_udança que atravessou a pa~tirAde_1989. ~T'? 1982, imobilizaram o PCB, penalizado ainda pela "crise do
em Alagoas viveu sua primeira década de exist:ncia adminis- socialismo" na qual o partido era identificado com o modelo
trando suas crises internas causadas essencialm_ent: pela de or~anização ~ocial instalado nos países do Leste Europeu.
incapacidade de fazer política num quadro que nao tinha a Tudo isto esvaziou o partido, que não conseguiu se afirmar
moldura de São Bernardo do Campo. Diferentemente de sua durante a legalidade, fazendo com que sua direção propusesse
estrutura nacional, em Alagoas o PT conta com poAuc~s um Congresso de refundação que resultou 11 0 PPS. Em
quadros no movimento sindical urbano e uma quase ausencia Alagoas o PCB marchou unido para o PPS.
no movimento sindical do campo. A política eleitoral do PT O_ Parti~o Democrático/ Trabalhista/ PDT surge como
oscila entre O isolamento autárquico como em 1985 e 1988, a expressao da liderança de Jose Moura Rocha, qu organiza o
alianças amplas , inclusive com o Partido Liberal em_ 1?86, e PDT em Alagoas em 1983 com as dissidências do PMDB e PDS
com 0 PMDB no segundo turno das eleições presidenciais.
_ Em no interior e capital. O PDT, no que pese, 11acionalmente, ter
Alagoas o PT é um partido ainda em formaçao. posições que se confundem com a esquerda, não co11seguiu o
O Partido Comunista do Brasil/PCdoB despon~ou no ~esmo desempenho em Alagoas, onde seu percurso político
início da década de 80 como o mais organizado partido de ~cou marcado por uma guinada conservadora. Essa guinada
esquerda em Alagoas. Em determinado mo~ento o PCdoB fica clara no plano eleitoral: em 85 sai isolado e em 86 partici-
tinha a hegemonia no movimento estudantil, presenç~ ~~s pa da Frente Popular. Em 1988 definiu-se por um acordo com
movimentos sindicais urbano e rural. Uma estrutura partidaria o governo Collor, razão do afastamento de José Moura Rocha.
que permitiu eleger vários parlamentares em 198_2, um Em 89, liderado pelo deputado Zeca Torres, realizou a
deputado constituinte em 1986 e um vereador na capi~al em c~mp~nha de Leonel Brizola. Em 1990 faz alianças nas propor-
88. A concorrência de outras forças de esquerda no dec~inante cionais com o esquema de Geraldo Bulhões. No interior do
movimento estudantil, o crescimento do PT no movimento Estado sua composição heterogênea explica as mais conserva-
sindical onde comanda a CUT, os equívocos do PC~oB no doras coligações. Na maioria dos municípios, o PDT não
plano político - aposta em Collor em_ 8~ e Renan <=:_alherros _em obteve resultados positivos e nem conseguiu eleger nenhum
88 _ e a quebra de seu modelo, o socialismo albanes, pen_aliza- dos seus candidatos a prefeito.
ram O PÇdoB que vem diminuindo sua presença no movrmen- O Partido da Social Democracia Brasileira/PSDB, surge
to político em Alagoas. . . / / em Alagoas para acompanhar o grupo paulista liderado por
o Partido Popular Socialista/PPS (ex-PCB), recem-saido Franco Montoro e Mário Covas que rompe com o PMDB
de um Congresso de refundação, estréia a nova legenda. O controlado por Orestes Quércia. Reflete no Estado as ambigüi-
PCB durante os anos 40/ 60 foi a única força da esq~erda da_des _do comportamento nacional da direção tucana. No
organizada em Alagoas, declinando organicamente depois do pri~eiro teste, em ~8, lança Renan Calheiros para Prefeito da
golpe militar, e11contrando-se em estado quase residual quando Ca.pital, em 1989 e a base da campanha de Mário Covas,
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apoiando Lula no segundo turno e, em 1990, par~cipa, n~s desde ~ ~iol~ncia pura e simples, que elimina fisicamente os
proporcionais, da frente que apoiou Renan Calheiros. Ho1_e a~vers~rios, a m_ontagem de uma complexa rede de comunica-
tenta reeditar o papel exercido pelo PMDB como pólo agluti- çao social, que filtra ou sonega informações, deforma os fatos
nador da oposição moderada ao governo estadual. e e?altece valores reaci?nár~o~; e um forte esquema político-
Esse quadro, traçado em breves linhas, demonstra a ele~toral, que trabalha a insuficiente autonomia dos eleitores do
pobreza de nossa sociedade civil. Pobre e pequena, a esquerda, meio r_ural, deslegitimando o processo eleitoral, prática que
representada pelas organizações progressistas só tem um sobrevive desde o Império.
produto a apresentar: sua fragilidade política. . _A violência institucionalizada em Alagoas mereceu do
f
histor_iador gaúcho ~éc~o re!tas (1986:39) uma observação
(e) A Fragilidade Política. A fragilidade política da especial _no que toca a existencia do "sindicato do crime". Para ·
esquerda, sofrendo permanente descompasso entre suas o. pesquisador, este fenômeno de patologia social e política
propostas e a realidade social qu_e pretende_ transformar, com diferentemente do que se divulga: '
dificuldades imensas para analisar a realidade alagoana e
apreender as particularidades do processo da formação so~ial "... não se trata simplesmente de assassinatos decorrentes de
de Alagoas dentro da história brasileira, su~s marcas própria~, Pª:ª~~icas rixas de fami1ia. Esta é uma versão deliberadamente
mistificadora que visa precisamente a mascarar os interesses
sua história política 10, sua composição socral e suas contradi-
p~líticos e ec~nômicos per_seguid~s. Não são tampouco organiza-
ções, revela-se na ausência de táticas e estratégias comuns, ~o~s ~ent~~l:zadas , e_ hierarquiz~das, tipo Máfia; o termo
fazendo com que ela, na política regional, seja relegada para si_ndicato e metafo:~co. Menos ainda se constituem de margi-
um plano sec,undário, às v_e'!'es decorativo na luta ~ter- nais, malgrad~ se utilizem dos mesmos; integram-nos elementos
oligárquica. "E alta a probabilidade_ do fracasso_ na !en_tativa de ' da classe dominante local e regional.
mudar um dado estado de coisas agindo sob a influencia de um Na verdade, estes chamados sindicatos são instrumentos
conhecimento precário, impreciso ou falso" (Werneck Vianna, de _do_minação de classe, nos níveis político e econômico. Urn dos
ob;etivos destes grup?s consiste em estalielecer sua hegemonia
1990:36). . dentr_o d~ classe domi1:ante local ou regional, o que suscita um
A representação política conser~ador~ é extremam:n~e conflito intra-classe. A base desta hegemonia, exercem a domi-
competente em seu papel. São quase_ cinco seculos de dorr_:un~o nação sobre as classes subalternas. Quando o terror e 0
político continuado. As classes dominantes, na sua aversao as assassinato atingem elementos da classe dominante, há escânda-
formas democráticas de governo, montaram ao longo de lo e comoção com larga repercussão nos meios de comunicação
séculos um forte esquema de sobrevivência política que vai Se _as_ vítimas. são trabalhadores e camponeses que ousara~
resi~t~: _aos d~t~mes dos potentados, o fato se restringe ao
noticia:io policial e é rotulado como produto de vinditas
pessoais.
(sobre este tema ver os ensaios de Luíz Sávio de Almeida: "A
10
República e o Movimento Operário em Alagoas", EDUFAL, 1989, e ''.Raízes (... ) No passado, os sindicatos reinavam quase exclusiva-
do Comunismo em Alagoas", EDUFAL, 1992, que tratam da origem e mente_no Sert~o. _Em anos recentes, em certos Estados, o poder
evolução das organizações socialistas em Alagoas, entre 1890 e 1930; e os e.ª açao dos sindicatos se dilataram ao Agreste e ao Litoral. A
ensaios de Dirceu Accioly Lindoso: "A Interpretação da Província", SECULT, cidade de Ma~eió, p~r exemplo, vive dominada pelo medo. A
1985 e "Uma Cultura em Questão: a Alagoana, EDUFAL, 1981, que, morte se configu~a ~i c?mo um~ P:esença cotidiana e familiar.
estud.ando a forxnação intelectual alagoana fazem uma interessante análise da (... ) A existencia dos sindicatos da Morte denuncia a
história política estadual).
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incapacidade dessas classe~ . dominantes para :~ercer sua Um fenômeno chama a atenção do "Jornal do Br· sil , l>
•
domin4ncia através de praticas puramente ~oliti~as . o que qual em editorial (19 / 9 / 92) complementa essa descriçãc):
provém, por sua ve~, do c~r~ter ~asicamente pre-capitalista das
estruturas econômico-sociais. Nao bastassem a fome, a doença "Os membros da casta política alagoana que despont,1111 1111,
e a injustiça, ainda por cima aquele povo 1eve sup?rtar palavras enraivecidas de Pedro Collor parecem ser os re11111111•to
situações ultrajantes desse tipo: o Estado a serviço do crime e centes mais retrógrados e prepotentes do mundo subdese,111,1/111
o crime a serviço do Estado." do. Quando se fala de nordestinização do Brasil, o pejorali11,11,1 •
refere única e exclusivamente a essa elite siciliana repagi11111/11
Aspecto importante e complement~~ às observ~ções ~e no Faubourg Saint-Honoré. Novos ricos deslumbrados 11111
gadgets comprados em Miami e com lombadas decorativa 1111,,i
Décio Freitas é a distinção entre classe d1r1gente e ol1ga~qu1a,
estantes ".
que ajuda a compreensão do atual estágio político e social de
Alagoas. Para o economista Luíz Gonzaga Belluzzo A descrição do perfil das classes dominantes alagoa11as
"... a verdadeira classe dirigente é capaz de definir objetivos a
ajuda a entender seus métodos e sua atuação políticas, come),
longo prazo para o país ~ d~ construir as instituições adequadas por exemplo, a violência, um método tão grave que motivott
para o bem-estar da maioria. . a articulação de 35 entidades da sociedade civil em torno de)
(... ) as oligarquias são incapazes de l:var em col":ta o~ interes- "Fórum Permanente Contra a Violência em Alagoas", movi
ses da minoria e de conter seus interesses imediatos em mento que elaborou o dossiê "As Várias Faces da Violência cm
benefício da construção do futuro. _ Alagoas" (Maceió, FASE:1992) onde encontramos informações
(... )as oligarquias não só estão· afastadas do povo. Esta~ ~ada e denúncias de violências cometidas contra mulheres, índios,
vez mais afastadas do País, encharcadas de um cosm?politismo menores e trabalhadores alagoanos.
provinciano. (... ) não é de espantar que, sem pro1eto e sem
ambições coletivas, alheias ao sofrimento de se~ ~ovo, se
Outro de seus métodos é a utilização das legendas cartc>-
dediquem ao roubo, ao peculato, à sonegação e ao farisaismo das riais que (des)·a pareceram ao sabor dos interesses político.
acusações recíprocas, como uma quadrilha que se ~~sentende_ n~ locais. O Tribunal Regional Eleitoral registra a existência de 63
repartição do butim. Este arr~medo de classe dir~gente nao e legendas, sendo que 22 estão aptas a disputar as eleições, num
oligárquica porque rouba ou difama, mas rouba e difama porque processo em que a "...fragilidade das organizações partidá1·ias,
é oligárquica" (Belluzzo,1992). frouxas e inorgânicas para permitir maior liberdade para os represen-
tantes políticos das oligarquias e corporações econômicas em relação
O escritor José Nêumanne (1992:32) obse~va que na ~~se ao eleitorado e aos partidos, simultaneamente, é característica
de dominação da oligarquia alagoana estao as fam1l1as recorrente do sistema partidário, dominado pelo personalis1no1
tradicionais e que: clientelismo e individualismo" (Sabóia, 1992:3).
Pequenos e numerosos partidos são criados do dia pai·,
"Tenham elas as sedes de suas propriedades nos e~genhos e a noite, sem nenhum conteúdo programático, apenas base de'
usinas ou nas fazendas de gado do sertão, essas famílias nu~ca
lançamento de candidaturas de representantes dos setores mais
conheceram a lei que punisse algum de ~eus n:em~os. 1:]m fil~o
de coronel pode dispor até da vida alheia, pois a i~uni_dade e a atrasados e conservadores regionais, que nos processos
palavra-chave da cultura medieval alagoana. A lei exist: para eleitorais, apesar das diferentes siglas, somam-se no me. 111<>
os outros, a plebe ignara. A posse de um sobrenome ilustre bloco reacionário, localizando-se segundo seus inl •r ' H. l',
livra qualquer um de suas malhas. "
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fisiológicos menores. Fenômeno que chama a atenção na elites e de como é difícil derrotá-las, ª<! f!!~mo tempo •111 ttttl'
medida em que: a esquerda_
,,..M••-·--·-
par~e -~~1:!~':!!~da a uma infância perman •11t1 !'
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
personalidades em casos de corrupção, novamente chamou a des teóricas e doutrinárias, a esquerda não tem apresentado
atenção nacional de forma negativa: foi o único Estado a propostas alternativas à estratégia das forças conservadoras e
realizar eleições suplementares em dezembro de 90 e um de direita e essa parece ser uma das razões da ausência de
segundo turno em janeiro de 1991. O alto grau de manipulação uma oposição sistemática e eficaz aos governos estaduais. Os
obrigou o TRE a fazer, durante os meses de abril e maio de 92, segmentos de esquerda encontram dificuldades em dialogar
uma revisão em todo o eleitorado alagoano, numa atitude entre si e se digladiam não por questões de princípios, mas
inédita na história política do Brasil. O resultado final confir- por mera disputa de espaços políticos preferindo mais comu-
mou o que todos já sabiam: o instituto do voto é vulnerável, mente o enfrentamento, ao debate aberto e construtivo.
mesmo com a tecnologia da informática e com a fiscalização , Uma constatação: funcionando legalizados ou na semi-
do TRE. O forte esquema de fraude e corrupção eleitoral foi legalidade desde 1980, os partidos e as correntes progressistas
flagrado: em alguns municípios, como Flexeiras e Joaquim em Alagoas (PCdoB, PCB/PPS, PT, PSB e, de alguma forma,
o PDT e o PSDB, além de setores do PMDB) nunca consegui-
QUADRO 27 - EVOLUÇÃO DO Nº DE ELEITORES ram discutir e planejar uma política de ação que extrapolasse
EM ALAGOAS uma eleição próxima. Isoladamente nenhum destes partidos
vence eleição alguma ou consegue reunir forças para hegemo-
nizar o movimento político ou social. Estes partidos mostram-
Ano Nº De Eleitores se até hoje incapazes de estruturar uma frente política com
1982 734.325 força para hegemonizar uma aliança com as forças de centro-
1.165.688 esquerda e liberais; e assim, não criaram um novo bloco
1988
histórico capaz de traduzir uma correlação de forças política
1989 •
1.270.552 e socialmente mais avançada que a conhecida até agora .
'
movimento popular. Este desenvolvi!11ent? supõe a _definição de mente atrasadas. A vida partidária, que somente existe nos
uma estratégia de conquista de trincheiras ao nivel da luta períodos pré-eleitorais, é uma marca da cultura política que o
ideológica, econômica e política. MDB/PMDB moldou entre 1965 e 1982 e que a esquerda
herdou e mantém até os dias de hoje. A fragilidade das
A experiência de 1986 na Frente Po~ular~ na qual
estruturas dos partidos e organizações de esquerda constitui
partidos de esquerda hegemonizavam uma co~igaç~o ?nde se um problema crônico. Pequena, sempre com problemas
incluía o Partido Liberal, diferentemente da coligaçao lidera~a
financeiros, refletindo uma sociedade polarizada entre os
pelo PMDB, no mesmo ano, onde a hegemonia pertencia
muito ricos e os muito pobres, a esquerda em sua opção pela
claramente às forças conservadoras oriundas do PDS pa~a maioria, trabalhadora ou não, vê-se diante de um quadro
apoiar O projeto Collor, demonstra a ne~essidade de se refletir absolutamente desolador.
sobre a possibilidade da esquerda ampliar seu espaço sem, no
Partidos com pouca vida orgânica (sem reuniões
entanto ceder no essencial ao projeto conservador.
regulares, debates internos, elaboração de políticas setoriais,
A falta de projetos a apresentar é uma das difi~uldades
publicações periódicas, etc.) ficam prisioneiros dos chefes
adicionais para a esquerda nas eleições desta década. A
locais e dos poucos abnegados filiados. A pouca vida partidá-
ausencia e e con onto entre os programas favorec: a _c.rreita,
ria é concentrada em Maceió. Falta a esses partidos recursos
que joga com a inércià (pois tem o P?~er economic~ e a materiais para que se mantenham funcionando e, ainda assim,
máquina do Estado nas mãos) e, no maxi~o, numa atitude
não têm sedes estruturadas para as necessidades políticas
reativa, coloca pontos genéricos que podem alimentar_ qualquer
locais; carecem de recursos financeiros para materializar a
tipo de discurso. -6,_esquerda.1, ~e~ _pro9ra~a ~ sem inovar ,n a discussão de idéias, processo que se daria pela elaboração e
forma de fazer cam anha fica prisioneira do r~~o apresenta- publicação de boletins, jornais e livros, criando condições para
º pe o esquema tradici · al e a cada eleiçao te~ta, em o exercício da investigação, da reflexão e da crítica. Como não
· esespero, via ilizar algum ~?m~ para representa_-~ª no têm estrutura financeira, não podem formar nem manter
earlamento. Nem mesmo a ~eg~encia de derrotas mob1l1za os quadros profissionais qualificados. Falta-lhes recursos huma-
setores de esquerda para uma reflexão e uma mudança de
nos para efetivar suas políticas. A emigração de quadros para
comportamento. . outros Estados sangra-lhes o seu potencial 12• A luta constante
· Nenhum partido de esquerda ou o conJu~to _desses
para sobreviver faz com que os raros militantes, os seus "inte-
partidos apresenta à sociedade al~goana uma ~1reça~, um lectuais orgânicos", pouco produzam para estas organizações,
projeto político que expresse o movrmento: as aArt1culaçoes, ~s
inquietações dessa sociedade. Como nao tem expressao 12
estadual - estão todos concentrados em Maceió - não refletem O período ditatorial praticamente anulou a possibilidade de forniação
as inquietações dos setores sociais de maneira ar~culada. A de quadros progressistas. No primeiro momento houve a prisão de todos os
militantes de esquerda. Posteriormente a emigração levou uma parcela desses
incapacidade desses partidos de express~r a soc1eda~e, de quadros e os que aqui ficaram tiveram que conviver com a dura repressão.
interpretar suas tendências e. l?ropor pr?J~tos alternativos é Passado o período ditatorial a esquerda sofreu com a morte prematura de
agravada por sua imensa fragilidade organ1ca. alguns de seus militantes e a constatação de que os projetos dos seus partidos
não eram suficientemente interessantes para engajar dezenas de quadros
(d) A Fragilidade Orgânica. A fragilid~de das ins~i~i- experimentados, que preferiram outros projetos que não o da militância
Jlolítica. O escritor alagoano Luís Nogueira, nos seus ensaios, batizou este
ções, partidos incluídos, é uma marca das sooedades pol1t1ca- ít•11ôn1 no de "geração dispersada".
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ao tempo em que por falta de uma política mais clara não trocam de programa com a mesma facilidade como mudam de
conseguem atrair a intelectualidade pro~ressista: A po~~eza da discurso.
esquerda a faz pragmática, sem conseguir planeJar políticas de . . A esquerda, no que pese suas dificuldades, consegue ser
médio ou longo prazo, concretizando alianças determinadas distinta dessa geléia partidária. Uma reflexão de Umberto
pela necessidade de sobrevivência material. Cerroni (1982:22) esclarece:
Um reflexo deste quadro é a inexistência de uma
imprensa sindical ou ligada aos movimentos políticos de "... o partido político pode ter duas variantes: um partido
caráter popular, onde a e~querda atua priori!ari~mente. políti~o d~tado de certa organicidade geral - mesmo que
Excetuando a preocupação isolada de alguns s1nd1catos - aproximativa -, de uma mescla entre política e cultura, entre
urbanitários, bancários, médicos e jornalistas - o movimento de polí~ica e concepção de mundo, e um partido político que é, na
trabalhadores não tem comunicação regular com a base que realidade, apenas um subpartido (Gramsci o denomina de
diz representar. Referindo-se à política de controle da impren- ''fração de um partido maior"), um sub-partido dotado apenas
de uma sub-cultura e que pressupõe ou exige tacitamente, de
sa local por parte dos grupos econômicos e do Estado que os um "partido maior", a exposição e funcionamento no que se
representam, Joaldo Cavalcante diz: "... a verdade é que Pº: trás refere à concepção do mundo e da vida. "
de todas essas práticas circunstanciais existe uma estrutura sedimen-
tada para coibir o exercício pleno ~a liberd~de de imprens~ _e, numa . As organizações de esquerda têm um patrimônio - a
outra dimensão, manter a comunidade desinformada, politicamente seriedade_ provada em várias circunstâncias, o permanente
desorganizada e a serviço da multiplicação da fortuna de uma c~mpromisso com a ~udança social e uma militância despren-
minoria privilegiada" (Cavalcante,1987:24). dida - que lhes permite perspectivar uma situação diferente. da
Um fato que merece estudo e reflexão da esquerda que hoje se encontra. Mesmo diferenciando-se dos partidos
alagoana hoje, é a experiência da imprensa comunista em c~nservadores, a esquerda, por sua fragilidade, fica abalada
Alagoas entre 1946 e 1964, quando o PCB manteve o semaná- diante de qualquer conjuntura regional desfavorável.
rio "A Voz do Povo". Impresso com imensas dificuldades, o
jornal comunista intercalava períodos de plena legalidade . (e) A Conjuntura Regional. A conjuntura regional a
(1946/7 e 1956/1964) com fases de intensa repressão, co~~ n~s •
p_artir de 1986 e a conjuntura nacional, a partir de 1989,
Governos Silvestre Péricles e Arnon de Mello. Essa experiencia aJudam a explicar o declínio da esquerda. As vitórias de
pode ser um indicativo de um caminho para os partidos de Collor, em 1986 para Governador, contando com a oposição da
esquerda atualmente sem canal regular de comunicação com maioria dos partidos da esquerda alagoana e, em 1989, · para
a sociedade alagoana. Presidente da República, quando a esquerda entrou em bloco
Mesmo pobres e pequenos, esses partidos - PSB, PT, como adversária de sua candidatura, colocaram um novo
PCB/PPS e PCdoB - esforçam-se para se manterem atuando ingrediente na política regional.
dentro de uma linha coerente com seus programas e estraté- Diferentemente dos governadores do período autoritário
gias. São partidos vincadamente comprometidos co~ mudan- (1965-1985), Fernando Collor não caracterizava de forma clara
ças políticas e sociais, diferentes da legendas cartoriais que, ao a representação política da oligarquia alagoana. Naquele
longo desta última década apareceram e, da. mesma forma perí~d? era_ relativamente fácil identificar politicamente a
rápida como chegaram, se foram com seus chefe.s e líderes, que admm1straçao estadual colocada no Palácio dos Martírios
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graças à intervenção dos militares ou a eleiç?e_s como~~ !982, sem projeto maior e sem nenhuma originalidade, estava mais
onde as regras do jogo dificultavam ao maX1Ino a vitoria de preocupado em viabilizar a campanha de Collor à Presidência
uma candidatura oposicionista. Político hábil, Collor soube em Alagoas e para isso administrava as disputas entre os
cercar-se de quadros da oposição, absorver o discurso progres- grupos políticos do interior e encaminhava a sucessão estadual
sista - que não era o seu, quando prefeito biônico de Maceió que resultou na eleição de Geraldo Bulhões. Como prêmio pelo
e deputado federal pelo PDS - e apresentar-se com uma cumprimento das tarefas, foi nomeado para dirigir a Secretaria
imagem moderna. Eleito com uma plataforma avançada, que Nacional de Irrigação. Geraldo Bulhões escolhido num
incluía a defesa da reforma agrária e do meio ambiente, processo questionado pelas inúmeras fraudes eleitorais
combate à corrupção e à impunidade, mudanças nos sistemas registradas pelo TRE, retoma a política em linha direta com as
de saúde e educação, conseguiu um forte trânsito juntos aos tradições mais conservadoras. Movimentos sociais são casos
movimentos sociais, principalmente o sindical rural e comuni- para tratamento policial. A impunidade ainda é mais efetiva.
tário, o que denunciava uma significativ~ mu~~nça polític~ _em A influência do governo estadual nas eleições municipais
relação aos seus antecessores, sempre identificados politica- mantém-se e nenhuma mudança positiva é sentida nas
mente com a representação dos grupos mais conserva?~res. políticas públicas.
Essa nova política deixava a maioria da esquerda, no minimo, A eleição de Collor à Presidência significou uma
paralisada. intervenção ainda mais pesada em Alagoas. O apoio do Palácio
Aos poucos essa política foi se esvaindo. O posiciona- do Planalto a grupos locais tornou ainda mais desigual a
mento contrário à localização do Pólo Cloroquímico no disputa antes limitada a adversários que obtinham o apoio, no
complexo lagunar transformou-se numa defesa intransigente máximo, do Palácio dos Martírios. Em 1990 evidenciou-se esse
da instalação de novas indústrias no mesmo local que antes 1 tipo de intervenção estatal, demonstrando que a "República de
Collor condenara; a ameaça de tomar terras de usineiros Alagoas" não era apenas uma brilhante invenção jornalística.
inadimplentes junto ao Banco do Estado deu lugar a um Em determinado momento, alagoanos ocupavam o Ministério
acordo - no qual o Estado obrigava-se a devolver _o IC~S pago ~a Ação Social, a LBA, a Secretaria Nacional de Irrigação, a
pelos usineiros em safras passadas - que, de tao lesiv~, aos liderança do Governo no Congresso Nacional, a Secretaria-
interesses públicos, o vice-governador tratou de denuncia-lo; Geral do Ministério da Educação, a Superintendência da
a ilusão inicial de uma convivência entre Estado e movimentos SUDENE, a Presidência da EMBRA TUR, a Secretaria do
populares foi substituída pela realidade da repressão policial Ministério da Saúde e a Secretaria Especial da Presidência da
aos movimentos grevistas e toda a propaganda em torno das •
República, órgãos naturalmente com forte poder de influência
mudanças no setor estatal não escondeu a inconsistência das sobre o Estado de Alagoas.
políticas públicas - principalmente a educacional e de s~ú~e Era uma questão institucional delicada para um Estado
pública - implicando tudo isto num afastam~nto da a~mirus~ extremamente dependente do governo federal em termos de
tração estadual da maioria dos "companheiros de viagem recursos financeiros. O reforço dos setores mais conservadores
oriundos do PMDB e na caracterização da administração pelos vários órgãos públicos federais dificultava a ação das
Collor como mais um governo conservador. forças de oposição. Para muitos, essa foi uma das razões da
A política instaurada por Fernando Collor foi parcial- ?iminuição da esquerd~ no mapa regional. Mas as regras do
mente modificada pelo seu sucessor, Moacir Andrade, que, Jogo estavam estabelecidas e coube à esquerda, no pla110
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nacional, mostrar que seria difícil marchar rumo à jus!iça social "... além de um resultado contingente de conflitos, tem que ser
e à igualdade de oportunidad,e~ num quadro que nao f?sse o um programa político. Não, pelo menos não necessariamente,
da institucionalidade democrat1ca, com todas as garantias do um programa partidário, mas certamente de vários partidos, os
quais, a despeito de suas muitas divergências sobre outras
Estado de Direito.
questões, terão que inscrever a construção da democracia como
A campanha pró-impeachment mobilizou a socie_d~~e a primeira de suas prioridades. E mais: terá que ser um
alagoana e permitiu à oposição comemorar uma v1tor~a programa rião só dos partidos, por plurais e numerosos que
política13 • A posse de Itamar Fr~nco em uma nova co~:pos1- sejam, mas também de instituições intelectuais, culturais, reli-
ção partidária, incluindo os par~d?s de esquer_da, I?odifica a giosas, sindicais, profissionais, etc. Em uma palavra: terá que
conjuntura vivida desde 1986, al1v1ando a tensao cr1ad~ pelas ser uma cultura organizada"
consecutivas vitórias de Collor em 86 e 89 e a de Bulhoes em
1990. O novo governo federal assume tomando posições de E dentro da perspectiva de ser poder, a esquerda
neutralidade quanto às decisões políticas em Alagoas, repre- aprendeu em suas várias experiências de governo que ".. .as
sentando um avanço para as forças democráticas, permitindo questões da vida social e econômica não podem ser vistas como
disputas entre forças políticas sem o auxílio desigual represen- alheias ao sentido de uma democracia moderna .. Todos sabemos que
tado pela maciça intervenção federal. um dos impulsos importantes da democratização é o crescimento do
emprego, a correção da desigualdade social extrema, a redistribuição
da renda, etc. " (Weffort, 1988:27); ou seja, para haver democracia
política em Alagoas tem que existir uma política eficaz de
NOTA FINAL reversão do quadro herdado do período colonial que, por não
ter sido modificado no período republicano, persiste em se
apresentar por meio de todos os indicadores sócio-econômicos
A esquerda fez uma clara opção pel~ via democr,á!ica conhecidos. Essa situação herdada dificulta enormemente
para chegar ao poder, aceitando as regras do Jogo democr~tico, qualquer política que aposte na organização autônoma da
definindo sua estratégia de aprofundamento da demo~rac~a, n~ sociedade civil, pois a forma de Estado que tem Alagoas é bem
medida em que "democracia é o único regime que organz~a; z~to e, diferente do tipo liberal-democrático vigente no Estado
institucionaliza, o consentimento popular, sem o qual a legztzmz1ade capitalista moderno que, "... pôde e pode coexistir (ainda que numa
parece" (Weffort, 1988:24). A democracia, para Francisco relação de integração/contradição) com formas políticas criadas pelas
Weffort (1988:29): classes subalternas em seu processo de autodefesa, de luta contra os
interesses das classes dominantes" (Coutinho, 1987:50).
O fortalecimento da sociedade civil, ou seja, o crescimen-
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O isolamento do Governo Collor era tão evidente que até a bancada to de formas autônomas de organização e movimentos
alagoana na Câmara dos Deputado~ votou Apelo_pedido de afastamento do populares e de trabalhadores, é condição primeira para o
Presidente. Cleto Falcão, Jose Thomaz Nono, Luiz Dantas, Mendonça Neto, sucess·o de qualquer projeto de mudança, pois dela é que surge
Olavo Calheiros e Roberto Torres disseram "sim"; Antônio Hollanda e o apoio 1!1-ais amplo para as alterações no quadro social
Augusto Farias não foram votar e Vit~rio Malta disse "não".AN_o pr_ocess~ de vigente. "E necessário conceber a estratégia socialista como uma luta
irnpeachrnent, realizada no Senado, Divald~ Suru~gy e Teoton10 ~1l~la F1l~o
votaram pela cassação e Guilherme Palmeira retirou-se do plenar10 e nao de longo prazo, que tenda a articular a luta parlamentar com a luta
votou.
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
por diversas formas de democracia diret~" (Lacl~u: 1980:136). , prefeituras administradas pela esquerda em Espanha. As
A construção de uma alternativa politica no Estado e vitórias das coligações progressistas em várias capitais
seguramente a principal questão colocada para os partidos de brasileiras, em 1992, merecem uma discussão por parte da
esquerda. Uma alternativa capaz de articular respostas esquerda alagoana.
imediatas e que ataque a crise conjuntural como, por exemplo, Falta nitidez nas propostas dos partidos 5Íe esquerda na
as propostas do Fórum de Desenvolvime~t? lider~d~ pel? disputa política a partir da redemocratização. E um fenômeno
Governo Fleury (PMDB) em São Paulo, a politica administrati- nacional no qual Fernando Henrique Cardoso (1991:9) distin-
va do Governo Ciro Gomes (PSDB) no Ceará ou as alternativas gue os dois tempos de atuação das forças democráticas:
de administração municipal popular de Jacó Bittar (PDT) em
Campinas ou de Luíza Erundina (PT) em São Paulo. Alterna- "... as oposições tendo ganho a batalha contra o autoritarismo,
tivas com propostas que não sejam limitadas pela crítica tão não souberam vestir a camisa das lutas econômicas e sociais. '
somente ideológica, razão de um discurso cansativo, desgas- Ou melhor, não souberam vesti-la por conta própria; discutem
e torcem pelos atos do Executivo, criticam-nos e mesmo os
tante e anacrônico, mas baseadas numa democratização radical apoiam quando coincidem com seu ideário partidário, sem, no
da gestão, reforma administrativa e participação popular nas entanto, "politizar" a questão.
decisões importantes. . O que quer dizer, neste sentido, "politizar"? Quer dizer
Depois de tantas derrotas, com pouca perspectiva de mostrar a ligação entre atos e práticas. Não havendo esta
ampliar forças e utilizando como critério de avaliação para ligação, um governo "conservador" pode ter seu caráter
qualquer política o seu resultado e não suas intenções, pod~-~e confundido por ter praticado um ato "progressista", e vice-
então chegar à conclusão de que deve ser alterada ~ estr_a~e9ia versa. ,
- se assim se pode denominar - que somente permite vitorias E isso que desconcerta o eleitorado e faz dos políticos,
especialmente dos parlamentares, ao ver do povo, ''farinha do
dos representantes das forças políticas e sociais conservadoras, mesmo saco ".
como tem sido a regra até agora.
As experiências da Frente Ampla no Uruguai, a Unidade Possivelmente, se planejassem uma estratégia de longo
Popular no Chile, a Esquerda Unida na Espanha - frentes prazo, os agrupamentos de esquerda poderiam fazer com que
político-eleitorais com características perenes, congi:_egando as exigências de trabalho comum, embasadas nos testes de
todos os partidos de esquerda, que, no entanto, mantem suas 1986, 1988, 1989 (segundo turno da campanha presidencial) e
identidades próprias - podem ser exemplos positivos de como 1990, servissem para que a Frente Popular pudesse criar raízes,
partidos pequenos, sem recursos financeiros, com poucos cristalizar sua imagem junto à população, consolidar-se como
quadros experimentados e profissionalizados, somam suas •
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise 1 Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
reunindo uma frente política capaz de travar uma disputa do governante como chefe salvacionista carismático, que
politizada com a representação conservadora, promovendo abandona as mediações institucionais e se relaciona diretamente
como o "povo"); sentimento difuso de que as leis são meras
rupturas com o passado político e respondendo aos anseios de
cristalizações de interesses minoritários e de privilégios (mere-
mudanças reais da maioria dos 2,5 milhões de alagoanos. cendo aplauso quem as transgride para o "bem do povo", já que
Uma frente progressista capaz de romper com a cultura não são reconhecimento e garantia de direitos); medo da vida
do bipartidarismo, construindo a alternativa política que fosse urbana com suas inseguranças, violências e misérias e a
além das soluções para o drama sócio-econômico da população impossibilidade de frear a urbanização por uma reforma agrária
alagoana, embasada na ampliação das conquistas democráticas (pois esta causa um medo mai'or, o do "comunismo"); ressenti-
como também na eliminação da miséria social. Uma proposta mento nacionalista contra o atraso terceiro-mundista e desejo
distinta que privilegie a questão democrática. de aceder à sociedade de abundância do Primeiro Mundo
(aderindo a todo aquele que prometer realizar essa passagem e,
Democracia política que se traduz principalmente pelo
portanto, ser "moderno"); o descrédito do "socialismo real" e o
fim do crime organizado, do império da violência policial e de alívio com a paralisia da utopia socialista (aderindo a todo
sua resultante: a impunidade. Os dados sobre violência são aquele que afastar a 'ameaça vermelha')".
assustadores, em qualquer período. A "Tribuna de Alagoas" '
(24/9/87) fez um levantamento: entre 15 de março e 15 de 1 Os dados sobre a eleição municipal de 3 de Outubro de
agosto de 87 ocorreram 400 assassinatos em Alagoas. Numa 1992 não deixam margem sobre a fragilidade, no âmbito
comprovação da impunidade reinante e, muitas vezes, do estadual, da representação política dos partidos de esquerda,
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envolvimento policial, apenas 53 pessoas estavam presas ou depois de sete disputas eleitorais. A experiência política
respondendo a processo. Exatamente como denuncia o diário acumulada entre 1982 e 1992 não foi suficiente para que a
Folha de S. Paulo: "números da Secretaria de Segurança do Estado esquerda, através de seus partidos, tivesse um projeto unifica-
mostram que de dez crimes ocorridos no Estado [de Alagoas], em do, capaz de romper a cultura da polarização entre grupos
sete há envolvimento de policiais" (FSP:8/ 4/92). Trata-se da conservadores. A vitalidade demonstrada em 1982 foi cedendo
concretização do Estado de Direito através do qual se instalem lugar a uma progressiva debilidade, explicada pelas sucessivas
os mecanismos de defesa da cidadania e da participação derrotas nos projetos defendidos por estas correntes de
coletiva em todos os níveis de decisão, a exemplo das expe- esquerda a partir de 1985.
riências municipais bem sucedidas, como nas "administrações O resultado final, no plano estadual, aponta, com
participativas" de Piracicaba/SP e Lages/SC. certeza, para a necessidade de modificações nas políticas
Uma frente política que reverta o quadro de poder destes partidos. A próxima eleição, em 1994, cujo ensaio geral
instalado, poder que tem sua legitimidade (que produz foi o pleito de 3 de Outubro, exigirá da esquerda uma nova
obediência e adesão) fincada, como diz Chauí (1992): tática eleitoral. Fragilizada como se encontra, conseguirá ser
apenas um elemento decorativo nas composições conservado-
"... sobre as raízes profundas da história e da sociedade brasilei- ras. Trabalhando em outra perspectiva, poderá ser uma
ra: desconfiança face à política (como ação coletiva) e aos alternativa real para a modernização política em Alagoas.
políticos (como representantes); percepção da política como
espaço de privilégios, corrupção e impunidade; desprezo pelo
Estado (enquanto ineficiência corrupta dos funcionários) e
desejo de um Estado forte (enquanto identificado com a pessoa
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