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Act 2,1-13

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Actos 2,1-13

MENSAGEM
Antes de mais, Lucas coloca a experiência do Espírito no dia de Pentecostes. O Pentecostes era uma festa
judaica, celebrada cinquenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se
agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no séc. I, tornou-se a festa histórica que celebrava a
aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. Ao situar neste dia o dom do Espírito,
Lucas sugere que o Espírito é a lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos
crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus – a comunidade messiânica, que
viverá da lei inscrita, pelo Espírito, no coração de cada discípulo (cf. Ez 36,26-28). Vem, depois, a narrativa
da manifestação do Espírito (Act 2,2-4). O Espírito é apresentado como “a força de Deus”, através de dois
símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu
ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex 19,16.18; Dt 4,36). Estes símbolos evocam a
força irresistível de Deus, que vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem
o Espírito, constitui a comunidade de Deus. O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de
fogo. A língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas é também a
maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade. “Falar outras
línguas” é criar relações, é a possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a
marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn 11,1-9): lá, os homens escolheram o orgulho, a
ambição desmedida que conduziu à separação e ao desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à
construção de uma comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de uma
humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência interior, fonte de liberdade, de
comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a comunidade onde a acção de Deus (pelo Espírito)
modifica profundamente as relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor. É neste enquadramento
que devemos entender os efeitos da manifestação do Espírito (cf. Act 2,5-13): todos “os ouviam proclamar
na sua própria língua as maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito atinge
representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por Canaan, pela Ásia Menor, pelo
norte de África, até Roma: a todos deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos
uma comunidade de amor e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para criar a
nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de
ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a comunicação do Evangelho, que
irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura e as suas diferenças, todos os povos
escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a
mesma língua e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos tão
diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência do amor que, no respeito pela liberdade e pelas
diferenças, deve unir todas as nações da terra. O Pentecostes dos “Actos” é, podemos dizê-lo, a página
programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da acção das “testemunhas” de Jesus: a
humanidade nova, a anti-Babel, nascida da acção do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se
relacionar como irmãos, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor
e de liberdade.
ACTUALIZAÇÃO
Para a reflexão, considerar as seguintes indicações:
• Temos, neste texto, os elementos essenciais que definem a Igreja: uma comunidade de irmãos reunidos por
causa de Jesus, animada pelo Espírito do Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projecto
libertador de Jesus. Desse testemunho resulta a comunidade universal da salvação, que vive no amor e na
partilha, apesar das diferenças culturais e étnicas. A Igreja de que fazemos parte é uma comunidade de
irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem
consciência de que o Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efectiva e coerente, a
proposta libertadora que Jesus deixou?
• Nunca será demais realçar o papel do Espírito na tomada de consciência da identidade e da missão da
Igreja… Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de
superar o medo e de arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes, temos
uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se assume como comunidade de amor e
de liberdade. Temos consciência de que é o Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima?
Damos suficiente espaço à acção do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?
• Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria cultura: nem os africanos, nem os europeus,
nem os sul-americanos, nem os negros, nem os brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a
acolher esse projecto libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver de costas voltadas, para
viverem no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse espaço de liberdade e de fraternidade? Nela todos
encontram lugar e são acolhidos com amor e com respeito – mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de
Actos 2,1-13
quem não gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo aqueles que a sociedade
marginaliza e afasta?

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