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https://books.google.com
Géner
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HISTORIA
GENEALOGICA
. DA
CASA REAL
PORTUGUEZA .
Bayerische
Staatsbibliothek
München
HISTORIA
GENEALOGICA
DA
CASA REAL
PORTUGUEZA ,
DESDE A SUA ORIGEM ATÉ O PRESENTE
com as Familias illuſtres , que procedem dos Reys ,
e dos Sereniſſimos Duques de Bragança .
JUSTIFICADA COM INSTRUMENTOS ,
e Eſcritores de inviolavel fé ,
E OFFERECIDA A ELREY
D .JOAOV .
NOSSO SENHOR
POR
D .ANTONIO CAETANO DE SOUSA ,
Clerigo Regular , e Academico do numero da Academia Real.
TOMO V.
LISBOA OCCIDENTAL ,
Na Officina SYLVIANA , da Academia Real.
M . DCC. XXXVIII
Com todas as licenças neceſarias.
INDEX
DOS
CAPITULOS , QUE SE CONTÉM
neſta Parte .
L I VRO VI.
CAPITULO I. Do Senhor D . Affonſo , Du
que de Bragança , pag. I.
CAP. II. Da Infanta D . Iſabel , pag.99. :
CAP. III. Do Senhor D . Fernando I. Duque de
Bragança , pag. 101.
CAP. IV. Do Senhor D . Joao , Condefavel de
Portugal, e Marquez de Montemôr o Novo,
pag . 177.
CAP. V . Da Senhora D . Brites , Marqueza de
Villa Real , e da ſua ſucceſao , pag. 187 .
CAP. VI. Da Senhora D . Guiomar , Condeſa de
Loulé , pag.397.
CAP. VII. Do Senhor D . Fernando II. Duque
de Bragança , pag. 401.
CAP. VIII. Do Senhor D . Jayme , quarto Die
que de Bragança , pag. 467.
CAP. IX . Do Senhor D . Conftantino , Vice-Rey
da India , pag. 607.
CAP. X . Do Senhor D . Fulgencio , D . Prior da
Collegiada de Guimarães , pag .641. CAP.
CAP. XI. Do Veneravel D . Theotonio , Arcebiſ
po de Evora, pag.649 .
CAP. XII. Da Senhora D . Joanna , Marqueza
de Elche , pag. 681.
Erratas. Emendas.
Pag. 76 . lin . 1. ( de já ( de que já
Pag.147 . lin . 2 1. de 1557 . de 1457.
Pag.221. lin . 1 3 . Livro VII. Livro VIII.
Pag.269. lin . 1 3 . D . Antao D . Antonio
Pag.2 74. lin .27. ſetimo Senhor oitavo Senhor
Pag.288. lin . 1, de Menezes de Noronha
Pag.289. lin . 1. deſcendentes aſcendentes
Pag.313. lin. 3 . D . Henrique D . Jeronymo
Pag.314. lin .1 3• Cepau Sepaes
Pag.486 . lin . 7 . na differença na lemelhança
Pag.548. lin .28. Arcebiſpo Biſpo
on lin ,ultima D .Henrique D . Affonſo
Pag.607. lin . 1 3 . quarto filho terceiro filho
Pag.643. lin . 16. de 1981, de 1582.
Pag.691. col. 4 . D .Maria D .Mecia
HISTORIA
GENEALOGICA
DA
CASA REAL
PORTUGUEZA.
LIVRO VI.
CONTÉM
OS DUQUES DE BRAGANÇA.
D . Affonſo I.
D . Fernando 1.
D . Fernando II.
D . Jaymeunico.
D . Theodoſio 1.
D . Joað l.
D . Theodofio 11.
10 O Senhor D . Affonſo, unico do nome , Duque de Bragança.
IN
P .Fernando II. D . Joaó, Condeſ. D. Affonſo , O Senhor D .Brites , Mar- D .Guiomar, D . Catharina.
Duque de Bra. lavel de Portugal, Conde de Fa: D . Alvaro, queza de Villa - Condella de
gança. ro. L .VIII. Liv. IX . Reale Loulé.
16 D .Theodoſio II. Du . D .Maria. D . Serafina ,Mar. D . Duarte. D . Alexandre, Ar. D . Filippe , Commen
que de Bragança. queza de Vilhena. Liv.VIII, cebiſpo de Evora. dador de Monſarás.
HISTO
Debrie f . 47401
HISTORIA
GENEALOGICA
DA CASAREAL
PORTUGU EZ A .
CAPITULO I.
Do Senhor D . Affonſo , unico do nome, primeiro Duque de
Bragança , Conde de Barcellos, 66.
Monarchas Portuguezes , os
caſamentos, e alianças, as di
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TREE
mento , tomaria armas contra ſeu pay ; porém era
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eſte Senhor tað unido com elle , que ſe diſcorria fer
E
politica do Conde de Barcellos eſta declaraçað de
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F
ſeu filho , para que em qualquer incidente da fortuna
ſe podeſſe allegurar no partido vencedor . Marcha.
va já o Infante contra o Conde de Barcellos, o que
vendo o de Ourem ſeu filho alcançou licença do
Infante para ir fallar a ſeu pay para o perſuadir a
Dita Chron. cap.71. congraçarle com o Infante , o que com effeito con
ſeguio , perſuadindo-o a que buſcaſſe ao InfanteRe.
gente , o que aſſim fez , e ſe vieraõ a congraçar
com muita amiſade, ainda que pela parte do Conde
de Barcellos foy ló apparente , comomoſtrou o tem
po. Succedeo iſto no fim do anno de 1441. Nef
te meſmo anno eſtando o Infante em Santarem a 9
de Dezembro eſcreveo huma Carta ao Conde ſo
bre negocios pertencentes às ſuas terras, para que o
Conde fizeſſe evitar alguns deſcaminhos contra a
Prova num . 17 .
fazenda R ca! , e para que Martim de Caſtro , que
eſtava em Melgaço , appareceſſe a reſponder na Cor
te a huma demanda com osmoradores da dita Villa ,
e nella ſe vênað ſó o respeito com que o tratava ,
mas ainda o affecto. O Infante, que deſejava fazer
publica a amiſade de ſeu irma) , e o quanto o eſti
mava, pelos prejuizos, que do contrario le ſeguiao
ao Reyno , e querendo dar huma prova, em que o
Conde ſe perſuadiſſe , que todos os aggravos paſſa
dos nað ló eſquecia) , mas eraõ riſcados, eextincios
da
da Cala Real Portug. Liv.Pl. 37
damemoria , o encarregou deperſuadir à Rainha ,
que já eſtava em Caſtella , volcaſſe para o Reyno ,
aonde ſeria tratada com o reſpeito devido à Ma
geftade. A efte fim mandou a Caſtella a Alvaro
Pires de Caſtro , por fangue illuftre , e digno por
merecimentos , em quem concorriao razoens, que
o habilitavaó para eſte negocio . Nað fofreo a Rai.
nha que foſſe o Conde de Barcellos quem lhe pro .
pozefſe eſta materia , pelo ver congraçado com o
Infante , e reſpondeo com defabrimento , de que de.
pois chegou a ter arrependimento vendo mudadas
as eſperanças, que tinha nos Infantes de Aragað , e
reduzida à fortuna, que nao podia imaginar.
. No anno de 1440 por merce delRey D . Af
fonſo V . ſeu lobrinho foy provido o Conde de Bar.
cellos no poſto de Adiantado , ou Fronteiro môr de
Entre Douro , e Minho, lugar que vagara por more
te do Infante D . Joao ſeu irmao , e genro . Era ef
te poſto de grande authoridade, a quem chamavao
os antigos Dux , ou Capita General , e depois os
Caſtelhanos Adelantados mayores, e os Portuguezes
Fronteiros môres, emprego que correſponde no nof
ſo tempo ao de Governadores das armas das Pro
vincias , por quem correm todas as diſpoſiçoensmi
litares de cada huma. No anno ſeguinte fez El
Rey merce ao Conde D . Affonfo de todos os refi- Prova num .18.
duos das terras dos ſeus Estados, que ſe achaſſe lhe
eſtavaõ devendo até o tempo daquella merce, que
foy feita em Lisboa a 12 de Janeiro de 1441, a qual
"The
38 ; * Hiſtoria Genealogica :
lhe prorogava pormais ſeis annos, para ajuda da fã .
brica de huma Igreja , que intentava edificar ao pé
do monte da Franqueira , termo da ſua Villa de Bars
cellos. Neſte meſmo anno achamos fez o Conde
hum contrato com D .Gonçalo Pereira , Cavalleiro
da ſua Caſa , do Conlelho delRey , e com ſua mu.
lher D . Brites de Vaſconcellos, a qual com licença
de ſeu marido lhe vendeo as terras de Penella de
. Prova num .19. Levante , e de Villa Chãa , e Lalim , e Couto de
Penagati, e todos osmais Cafaes, e herdamentos,
que lhe pertencia ) com as ditas terras, e lhe toca
yao na partilha com ſeu irmao Diogo Lopes de
Vaſconcellos. Era D . Brites filha de Mem Ro.
drigues de Vaſconcellos , e ſegunda mulher de D .
Gonçalo Pereira , e nao tinhao filhos , pelo que ven
deo as ditas terras ao Conde , e EIRey confirmou
eſte contrato por huma Carta feita em Coimbra
Prova num .20.
porMartim Gil a 10 de Agoſto de 1441. Por ou.
tra Carta feita em Guimarães no anno de 1442 lhe
encarregou o Infante D . Pedro Regente a ponte ,
e barca daRegoa , o que elle executou com grande
utilidade dos moradores daquelle deſtricto , que ſe
Prova num .21. fez commua na paſſagem do rio Douro . Depois
ElRey no anno 1443 lhe fez merce , de que aquel
Jas peſſoas , que tiveſſem a ſeu cargo tirarem a por
tagem nos Lugares de Bragança foſlem eſcuſas dos
cargos do Concelho. No de 1444 achamos outra
merce eſpecial, em que ElRey mandava aos Juizes
da Cidade de Braga , que dezoito homens, que o
Şenhor
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 39
Senhor D . Affonſo , já Duque de Bragança , tinha
em ſeu ſerviço em a dita Cidade foſſem livres, e pri Prova num .22.
vilegiados para todos os cargos , e ſerviço do Con.
celho , e de nað aquartelarem peſſoa alguma de
qualquer eſtado , ou condiçaõ , nem foſſem obriga .
dos a contribuiçoens contra ſua vontade , dos quaes
ſeria) os nomes eſcritos nos livros da Camera da
Cidade para que conſtaſſe . A eſte theor lhe con.
cederað ſempre os Reys muitos privilegios , e pre
rogativas.
Era Senhor de Bragança , e do Caſtello deOu
teiro D . Duarte , que morreo no anno de 1442 ſem
ſucceſlao , o qual era filho de D . Fernando , Senhor
de Bragança , e neto do Infante D . Joao , como
adiante diremos em ſeu proprio lugar , quando che
garmos ao Liv . XIII. e tratarmos da deſcendencia
deſte infeliz Infante. Supplicou o Conde de Bar .
cellos ao Infante Regente o Senhorio deſtas terras ,
porém a tempo , que já o Regente tinha conferido
a merce dellas a ſeu filho o Conde de Ourem , que
ſe tinha anticipado em as pedir : porém o Conde de
Barcellos, com beneplacito do Infante Regente, fez
ceder a ſeu filho da ditamerce, que como nella , e
nas mais havia de ſucceder , nao teve repugnancia
em dar goſto a ſeu pay vendo -o tao avançado em
.
annos , que nao lhe poderia tardar muito a futura
ſucceſſað ; porém nað ſuccedeo aſſim , porque mor
meni. .
reo antes de ſeu pay . Conveyo o Infante Regen
te na ceſſað , e fez merce ao Conde da Villa de Bra.
Tom . V . gança - -
m. ín -
40 Hiſtoria Genealogica |
gança com o titulo de Duque , e juntamente do
0
Caſtello de Outeiro , de Miranda , e de Nuſellos
C
com ſeus termos , rendas, e Padroados de juro , e
.
herdade , de que ſe lhe paſſou Carta em nome del.
Prova num .23. Rey D . Affonſo V . por Ruy Galvað , ſeu Secreta .
rio , e Cavalleiro da ſua Caſa , em Lisboa a 28 de Ju .
nho de 1449. Neſta merce já nomea ElRey ao
Senhor D . Affonſo Duque de Bragança , titulo ,
que teve logo depois da morte de D . Duarte , co
mo ſe prova de hum documento , que no lo affir
ma, e ſe conſerva na Torre do Tombo no livro 3
dos Myſticos a fol. 262 , e he humaCarta delRey
D . Affonſo V . em que dá faculdade ao Duque de
Bragança ſeu Tio para dar a Ferna7 Pereira , Fidal.
go da Caſa do Duque, a terra de Caſtro Dairo com
ſuas rendas ſúmente em ſua vida , porque por ſua
morte tornará ao Duque , a qual foy paſſada em
Evora a 30 de Dezembro de 1442. Depois foy
Bragança levantada ao foro de Cidade. Por eſte
tempo parece lhe concedeo o Civel , e Crime da
Villa deGuimarães , de que já era Senhor. Deſde
entao ſe começou a chamar eſta Caſa de Bragança ,
a quem os Reys pelos parenteſcos concederaõ tan
tas prerogativas, que nað lhe faltou mais que a fo
berania , mas ainda ſem ella ſe diſtinguio ſempre en .
tre todas as que no Mundo conhecemos ſem eſte
caracter . Os filhos à maneira da Caſa Real nao
tomarað appellido ; as filhas ſeguirað o meſmo ao
modo das Infantas , ſem embargo, que alguns Au
thores
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 41
thores as nomeao com o de Bragança , porém he
certo , que nað ſe aſſinava) mais que com o nome
proprio nos papeis publicos, e nas Eſcrituras, e con
tratos de calamentos, e os Reys nas Cartas, e Ale
varás demerces lhe nað davaū appellido, como ſe
póde ver em alguns, que haõ de ir nos tomos das
provas ; e em tudo obſervou eſta Caſa hum Cere .
monial como os Infantes, tendo todos os Officiaes,
que ha na Caſa Real. Das ſuas Villas , e Caſtellos Prova num .24.
lhe fazia) preito , e homenagem os Alcaides môres
com o juramento , e formalidade obſervada neſte
acto , como ſe vê do formulario , que para elle
achey no Archivo da meſma Caſa , digno de ſer ob
fervado pelos curioſos. Aos Fidalgos, que os ſere
via ) , faziao merces de terras , e Senhorios em vie
das , e depois lhas fizeraõ de Commendas , e lhe
concedia ) outras prerogativas, que nað tivera nun
ca em Heſpanha outra alguma Caſa fóra da de Bra
gança.
Eſte foy o terceiro titulo de Duque , quehou.
ve em Portugal, ſendo primeiro erigidas em Duca.
dos as Cidades de Coimbra , e Viſeu para ſeus ir,
mãos os Infantes D . Pedro , e D . Henrique. Efta
excelſa dignidade, de que tanto ſe tem eſcrito ſobre
a ſuaorigem , e prerogativas , nað concedera) nun.
ca os Reys Portuguezes , ſena) aos que deſcendiaõ
da Caſa Real, e eraõ do ſeu proprio ſangue ; e por Severim deFaria No
eſla cauſa forað tað raros no noſſo Reyno os Du- defort. Dil.3. 5.24
ques ; coſtume que até agora nað vimos alterado ,
1 . Tom . V . F ii e por
ROBEEROO
Hiſtoria Genealogica .
e por iſſo a dignidade Ducal entre os Portuguezes
faz huma differença nas prerogativas às das mais
Cortes , onde nað milita eſta razao . Eſte era tam
Aponte , Luzero de la
bem antigamente o coſtume dos Reynos de Heſpa
Nobleza em titulo de nha, onde ſómente era ) Duques os de ſangueReal.
Guimaens , malo
No tempo dos Godos eraõ os Duques os irmãos,
e ſobrinhos dos Reys, a quem encommendavao as
Provincias no Militar ; pelo que depois da perda de
Heſpanha nað ſe encontra efte titulo , como diz Je
ronymo de Aponte , advertindo , que ainda que ſe
acha confirmando humaEſcritura delRey D .Affon
ſo VI. Alvarus Ferdinandus Dux Toleti , nað era ſe.
naõ Capitao daquella Cidade. E tambem no tem
po dosGodos , em que foy tað grande, parece que
nað era mais que no Militar , como Governadores
das armas. O Chantre de Evora Manoel Severim
de Faria no lugar apontado trata eſta materia com
a ſua coſtumada erudiçao, e já elle nao pode deſco
brir as ceremonias, com que eſta dignidade fe con
feria em Portugal; porém ſegundo Scipia) Amirato
na Nobreza de Napoles , e o Regimento dos Reys
de Armas, fahia o novo Duque de ſua Caſa acom
panhado dos principaes Senhores da Corte , e dos
amigos, e parentes , precedido dos Reys de Armas,
e dos Miniſtros, e levavao a bandeira , e coronel as
mayores peſſoas da Corte , que o acompanhavað , e
chegando ao Paço entrando na Sala, em que ElRey
eſtava em o ſeu Throno, ſe fazia huma Oraçað em
louvor do Duque, dando osmotivos porque ElR ley
he
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 43
lhe concedera aquella dignidade, e poſto de joelhos,
ElRey lhemettia a Bandeira namao , e lhe punha
o Coronel na cabeça , e ſe acabava o acto , e volta
va da meſma forte a cavallo com a inſignia na ca
beça para ſua caſa . O Ceremonial dos Principes
refere, que os Duques pódem trazer eſtoque diante
de ſi com a ponta para baixo , para differença dos
Reys, que ulaõ delle com aponta para cima , uſar
deCoronel naCabeça , veſtir huma oppa vermelha
forrada de arminhos aberta pela ilharga , em ſuas
Calas ter doceis , nas Igrejas fitiaes , e ſe lhe dá a
beijar o Euangelho na Miſſa , diante dos Reys ſe
ſentao em cadeiras razas com coxins em cima ,
tem Auratos, e Maceiros para os acompanharem .
Alonſo Lopes de Haro diz , que os Duques em
Heſpanha eraõ por inſtituiçaõ antiga do ſangue Nobil. de Haro tom , 8 .
liv. 9. cap . 18.
Real, o que ſe manifeſta com evidencia deſde a ſua
origem ; pois quando ſe introduzio a dignidade Dua
cal , todos os primeiros Duques eraõ parentes da
Caſa Real de Caſtella , Portugal, e Araga) , como
ſe vê na Hiſtoria daquelle tempo , onde nað ha outro
exemplo , ſenað o. de Monſiur Beltran de Claquin ,
que foy Condeſtavel de França , e Conde de Lon
gaville no Reynado de Carlos V . Rey de França ,
ao qual ElRey D . Henrique II . de Caſtella tinha
feito Conde de Traſtamara , em que durou pouco
pelas guerras com ſeu irmao ElRey D . Pedro , e
depois pelos ſeus grandes merecimentos, e ſerviços ,
em que tanto ſe diſtinguira , o creou Duque deMo.
lina ,
44 Hiſtoria Genealogica
lina, e Soria no anno de 1371. Depois fez o mef
mo Rey no anno de 1379 a D . Fradique, feu filho
baſtardo , Senhor de Medina de Rio Secco , e ou .
tras terras , Duque de Benavente ; e eſte Duque D .
Nob . deHaro , tom . 2 . Fr
liv . 9 . cap. 22.
Fradique foy ſempre reputado pelos Eſcritores de
Heſpanha pelo primeiro Duque daquella Coroa ,
como natural della , confórme eſcreve o meſmo Ha
ro no ſeu Nobiliario . ElRey D .Joað I. de Caſtel.
la fez Duque de Valença de Campos a D .Joao In
fante de Portugal , filho delRey D . Pedro I. e da
Rainha D . Ignez de Caſtro , dignidade que ja go.
zava no anno de 1387 . Eftimou eſte meſmo Rey
tanto o titulo de Duque, que para mayor conheci
mento deſta dignidade , e honra della , creou Du.
que de Peñafiel no anno de 1395 a ſeu filho ſegun .
do o Infante D . Fernando, Conde deMayorga , Se
nhor de Cuellar , e das Villas de S. Eſtevaõ de Gor.
maz , Caſtrogeriz , Alva de Tormes, Salvaterra ,
Galiſteo , Monte-Mayor , Paredes de Nava , que
depois foy Rey de Aragao , Navarra , e Sicilia no
anno de 1412 , e coroado em 11 de Fevereiro de
1414 . ElRey D .Joað II. fez Duque de Peñafiel
no anno 1420 a D . Henrique , Infante de Aragað ,
Meſtre de Santiago , ſeu primo com irmao. E a
D . Fradique de Caſtella e Caſtro , ſeu tio , Duque
de Arjona no anno de 1423 , filho de D . Pedro de
Caſtella , Condeſtavel deCaſtella , e Conde de Trafa
tamara , filho de D . Fradique de Caſtella XXVII.
Meſtre de Santiago, filho delRey D . Affonſo o ul
timo
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 45
timo de Caſtella , e por ſua morte deu o meſmo
titulo de Duque de Arjona a D . Fradique de Ara
gað , Conde de Luna , filho natural, e legitimado
de D .Martim , Rey de Aragao. Porém eſta for
malidade ſe relaxou no tempo deſte meſmo Rey , Haro
cap.2., tom . 1 . liv. 4o
honrando com eſta dignidade a peſſoas, ainda que
Grandes , que nað eraõ do ſangue da Caſa Real ,
nem naturaes do Reyno , como diz Affonſo Lopes
deHaro , quando fez Duque de Truxilho a D .Al.
varo de Luna , Conde de S . Eſtevaõ de Gormas,
ſeu Valido , e o primeiro que em Heſpanha obteve
eſta grande dignidade fem ſer deſcendente da Caſa
Real , ſendo o motivo a ſua grande privança , au
thoridade, e dominio abſoluto com aquelle Rey .
Feita eſta introducçao , a conſeguirao outros Senho.
res illuſtres em ſangue , e poderoſos em Eſtados ; e
aſſim em vida de D . Alvaro de Luna creou a D .
Joað Affonſo de Guſmað Conde de Niebla , pri
meiro Duque de Medina-Sidonia , eſtando no EC
pinar de Segovia a 17 de Fevereiro de 1445 , e he
o mais antigo Duque da Coroa de Caſtella , por ſe
haverem extinguido os referidos. A eſte exemplo
ſe ſeguirað outras Caſas illuſtres alcançando a dig .
nidade Ducal. E deſta formalidade de ſerem do
ſangue Real pela continuaçao do uſo antigo , que
os Emperadores , e Reys tinha) em asCartas, que
eſcreviaõ de lhes darem o tratamento de parentes com
moa conſanguineos da Caſa Real, veyo a ſer pre«
rogativa depois na dignidade, ſendo tað grande em
Caſtel
46 Hiſtoria Genealogica
Caſtella , que à creaçaõ do Duque ſe ſuppoeri
annexa a grandeza no commum ſentido da lingua
Heſpanhola , porque todos os Duques faõ Grandes,
Carrilho Orig. de la como claramente o affirma D . Alonſo Carrilho no
12 . ** 3. pag. Tratado , que eſcreveo da origem da dignidade de
Grande de Caſtella , que imprimio em Madrid no
anno de 1657 , onde diz : Entre las coſas , que ſe
obfervan en el con admiracion ( falla da Corte com os
Reys) campea por fingular la dignidad de Grande,
como participe de extraordinarias preeminencias, que
Jon las miſmas, que pertenecen a los Duques en Caf
tilla , donde el, que fuere Duque , es Grande; y aunque
ta :nbiem lo ſean muchos Marquezes, y Condes , con .
fiderandolos comoGrandes, gofan de las prerogativas
Ducales por eſtar unidas a la grandeza. È ainda
depois da introducçað , que Carlos V . fez de crear
Grandes de Heſpanha , nað ſe creou Duque, que
nað foſſe Grande, o que ſe praticou com os Portu
guezes na dominaçao dos Reys de Caſtella , porque
aos Duques de Bragança , Barcellos, Aveiro , Tor
res-Novas , e Villa -Real os declarou Grandes da
quella Corte , e depois com os Duques de Abran
tes, Caminha , e Linhares , a quem querendo fazer
Carrilho Orig . de la
Grandes de Caſtella creou Duques em Portugal : e
Grand . diic, i . pag.la
7 . 'nað ſe infere daqui que osmais titulos de Portugal
nað ſeja ) Grandes , porque os faõ na Corte de Por.
tugal, da meſma forte , que os Grandes na de Caſ
tella , pois nenhuma pelloa , por Grande que ſeja ,
póde lograr preeminencias em outra Corte, ſena) por
eſpecial
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 47
eſpecial graça della . E aſſim tem havido muitos
Grandes em Caſtella ſendo Eſtrangeiros: dos Por
tuguezes o forað o Marquez de Caſtello -Rodrigo,
o Senhor D . Duarte filho do Duque de Bragança ,
D .Manoel de Portugal neto do Prior do Crato
D .Antonio , e modernamente o Conde de Atalaya
D .Pedro Manoel como Grande de primeira claf
ſe; e fóra de Portugal muitos Senhores , e Princi.
pes naquelle tempo , que no preſente tem ſido
muy franca para todos eſta dignidade, que nao ſerá
facil numerar. E ainda ſuppoſta eſta eſpecial gra
ça, nað ſe deixou de reconhecer ſempre nos Titulos
de Portugal grandeza como nosCaſtelhanos, como
affirma o meſmo Carrilho , dizendo : Pero es cier
to , que la preeminencia de cubrirſe en preſencia de
los Reyes es comun a Titulos, y Grandes , y oy ſe con
Jerva eſta prerogativa en Portugal como filiacion de
Caſtilla , donde tanbien conſervan oy los Titulos otras
preeminencias comunes, y ſin diferencia de los miſmos
Grandes. De ſorte , que ainda que na dominaçao,
que tiverao na noſſa Coroa os Reys de Caſtella ,
erað declarados os Duques de Portugal Grandes
de Caſtella , tinhaõ os Marquezes, e Condes além
de outras preeminencias a de ſe cobrirem diante
delRey, e de elle ſe deſcobrir , conferindolhes eſtas
honras quando chegavaõ à ſua preſença com a dif
tinçaõ de Marquezes , e Condes, pelo que diz Car .
rilho : Y por eſta razon ſe cubren todos los Titulos de Carrilho , diſc.4. pag,
Portugal, y los hijos ſegundos , y terceros de los Dico 18.
.. Tom . y . ques
Hiſtoria Genealogica
ques de aquelReyno : donde como filiacion de Calilla
je conſervò la preeminencia de cubrirſe delante de juis
Reyes los Ricos hombres antiguos, a que correſpondent
los Titulos : con quien no ſe hizo la ultima diſtincionz
del Emperador , como en Caſtılla , porque no ſé uniò
Portugal a eſta Corona haſta el feliz Reynado de Fi.
lipo el Prudente , que conſervò à los Portuguezes en
fis privilegios , ſin diminuicion en ſus prerogativas,
Leyes , y ceremonias. Nað fazemos agora reflexao
em chamar a Portugal filiaçaõ de Caſtella , porque
eſte ponto aſfás tem ſido diſputado , e egregiamen
te demonſtrado o contrario pelos noſſos Authores,
e nað importarnos mais , que para o que trago a au
thoridade deſte Author , confirmando-a com outra
Salazar Memorial do ainda mayor do inſigne D . Luiz de Salazar , Archi.
Conde de Salvaterra ,
pag . 21 vo de todas as antiguidades de Heſpanha, no Me
morial que eſcreveo do Conde de Salvaterra quan
do pertendeo a Grandeza , que por elle lhe foy con
cedida no ano de 1717 , onde fallando como os Ti.
tulos illuſtres de Heſpanha forað poucos os que ſe
cobrira ) , e todos os mais perderaõ aquellas antigas
prerogativas concedidas aos Titulos de Heſpanha ,
diz : Exceptuaronje folo los de Portugal, que no eſ
taba en la dominacion de Caſtilla , y aunque lo eſtubo
deſpues, obſervó la coſtumbre antigua de todos los prz .
mitivos Magnates Eſpañoles, y oy la guarda : por :
que en aquel Reyno ſe cubren , y ſientan en la preſen .
cia de duis Reyes todos los que gozan lasdignidades de
Duque , Marques, y Conde con cierta diferencia , y
dilte 130
. da Caſa Real Portug . Liv. VI. 49
diſtincion afecta a cada dignidad . De ſorte , que os
Títulos deMarquezes , e Condes nao tem differen .
ça dos Grandes de Heſpanha , mas omittidas , ou
mudadas as prerogativas , vem a cair nas meſmas
claſſes , porque ſó ſao Grandes os que ſe cobrem ,
ou ſentao diante dos ſeus proprios Reys. O meſmo
D .Luiz de Salazar, que ſempre com a ſua vaſta
erudiçaõ nos dá luz naHiſtoria , confirma o que di Salazar , Memorial do
zemos , quando no Memorial que imprimio no an.· Marquez de Villa- ['ran
no de 1704 ſobre a Grandeza de primeira claſſe do ca , pago 159.
Marquez de Villa -Franca, refere , que quando a
Rainha D .Marianna de Auſtria paſſou a Heſpanha
fazendo caminho por Milað , governava aquelle Ef.
tado o Marquez de Fromeſta , e Carracena , e teve
ordem a Rainha paramandar cobrir ao Governador,
ſendo o motivo , que o Conde de Aſſentar D . Lo
po da Cunha ( Titulo , que em Portugal lhe dera El
Rey Filippe ) ſervia no Exercito de Lombardia , e
ſe havia de cobrir diante da Rainha , como tam
bem o Conde de Figueiró, que vinha ſervindo de
Veador, o que fazia ) como Titulos de Portugal,
em quem concorriao as prerogativas dos Grandes
de Caſtella , que tambem vinhaõ ſervindo a Rainha,
que erað o Duque de Naxera, e o Duque de Terra .
Nova ; e diz Carrilho : E como eſtos dos ſe devian de Carrilho,dif.3.fol.18.
cobrir por la preeminencia obſervada en todas las Per.
JonasReales con los Titulos Portuglezes,ec. E que
rendo que o Marquez de Fromeſta nað tiveſſe eſte
diſſaborde ficar deſcoberto , mandou , que le cobriſ.
Tom . V . Gii
50 Hiſtoria Genealogica
ſe por aquella vez . O meſmo ſe praticou quando
a Rainha de Ungria D .Margarida Infante de Hef
panha paſſou a Alemanha a celebrar as luas vodas ,
mandando cobrir em Barcellona a D . Vicente Gon .
zaga , Vice-Rey de Catalunha, e em Milað ao ſeu
Governador D . Luiz Ponce de Leon , que nað erað
Grandes. O Conde de Caſtro Dairo D .Jeronymo
de Ataide, a quem ElRey Filippe IV . nað o fendo
já em Portugal fez Marquez de Collares , pertendeo
por hum douto Memorial, que imprimio , preceder
no Concelho de Portugal aos Grandes de Heſpanha,
com o fundamento de que tinha como Marquez
melhor aſſento em Portugal diante dos Reys, do
que osGrandes em Caſtella , e aſſim os Marquezes
de Portugal tiverað honras como Grandes de pri
meira claſſe. Porém deixada eſta digreſſa) , que
foy forçoſa para que ſe entenda que os Titulos de
Portugal nað tem menos prerogativas , que os
Grandes de Caſtella , pois nelles concorrem todas
aquellas circunſtancias , que nos Grandes daquella
Corte , e em alguns a honra de ſerem do ſangue
Real por baronia , e outros por alianças, gozando
ſeus mayores os Titulos de Ricos-Homens, funda -
mentos ſobre que D . Luiz de Salazar fez aquelle
notavelMemorial, de que tenho copia , que o Du
que de Arcos D . Joaquim Ponce de Leon deu a
ElRey Filippe V . em que le vem as prerogativas ,
e ſingular diſtinçaõ dosGrandes de Heſpanha ſobre
a igualdade , que o dito Rey ordenou tiveſſem com
OS
da Caſa Real Portug . Liv .VI. SI
osDuques Pares de França , como ficarað obſervan
do, e por eſta conyençaõ dos dous Reys nomea.
rað , e nomeao os de Heſpanha alguns Senhores
Francezes Grandes da ſua Corte , os quaes ficao
com as honras de Duques de França , mas nao de
Pares daquelle Reyno, nem de cobrirſe diante del
Rey de França , o que os Duques Pares nað fazem ,
porque no dia da entrada dos Embaixadores ſe co
brem ſómente os Principes do ſangue , e os Princi
pes Eſtrangeiros : e ſendo tantas as prerogativas ,
ainda nos Duques em Portugal ſe obſervarað algu
mas mais eſpecioſas , porque todos os ſeus filhos, e
filhas gozaõ de grandeza ; os filhos ſe cobrem dian .
te delRey , e tem mayor aſſentamento , que he hu
ma certa quantia , que vencem pelo titulo , que ca
da hum goza , e as filhas , e noras tem almofada no
Paço , graça que nao ſabemos tenha outra alguma
dignidade para todos os ſeus filhos , e verdadeira
mente juſta ; porque como os Duques participavao
do ſangue Real, era juſto tiveſſem ſeus filhos , e fi.
Ihas pelo naſcimento a grandeza, que recebiaó no
parenteſco . De ſorte , que ſuppoſto em Heſpanha
ſe corrompeo a primeira inſtituiçaõ da dignidade
Ducal, dando-ſe a Senhores, que nað erað da Caſa
Real, e depois ſe regulou o Ceremonial da Corte
pelainſtituiçaõ dos que le chama) Grandes ; no nof.
lo Reyno foy inalteravel eſta merce , porque nað
contamos Duque, que nað ſeja do fangue Real ,
para o que poremos aqui todos os que tem gozado
eſta dignidade. Duques
52 Hiſtoria Genealogica
Duques de Bragança.
AO SENHOR D . AFFONSO , Conde de Barcel
los , creou ElRey D . Affonſo V . Duque de Bragan
ça no anno 1442.
D . FERNANDO , primeiro do nome, foy Du .
que de Bragança no anno 1461 por ſucceſſað ao
Duque D . Affonſo ſeu pay .
D . FERNANDO , ſegundo do nome, ſuccedeo
no Ducado de Bragança no anno de 1478 a ſeu pay,
e já era Duque de Guimarães, como logo ſe dirá .
D . JAYME , unico do nome, foy Duque de
Bragança no anno de 1496 .
D . THEODOSIO I. foy Duque de Bragança
por ſucceſſað no anno de 1532. Paſſouſelhe Carta
do ſeu aſſentamento feita porMiguel deMoura em
Evora a 19 de Abril de 1533 , a qual eſtá na Torre
do Tombo no liv . 19 da Chancellaria delRey D .
Joao III. fol.88.
D . Joao I. foy Duque de Bragança por ſuc
ceſſað no anno de 1563 , e Duque de Barcellos, co
mo ſe dirá .
D . Theodosio II. foy Duque de Bragança
por ſucceſſao no anno 1583.
D . Joað , ſegundo do nome, e quarto dos
Reys de Portugal , foy Duque de Bragança por
fucceſfað no anno 1630 .
O PRIN
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 53
O PRINCIPE DO BRASIL D . THEODOSIO foy
Duque de Bragança por ſucceſſað no anno 1640.
ELREY B . AFFONSO VI. ſendo Principe do
Braſil ſuccedeo no Ducado de Bragança no anno
de1653.
ELREY D .PEDRO II. ſendo Principe Regen .
te teve o Ducado de Bragança no anno 1668.
A INFANTA D . ISABEL JOSEFA jurada Prince.
za herdeira , foy Duqueza de Bragança por ſucceſ
lao em o anno 1689.
O PRINCIPE D . Joað foy Duque de Bragança
em o dia , em que naſceo no anno 1688.
ELREY D . Joao o V . entrou a ſer Duque de
Bragança no anno de 1689 no dia 22 de Outubro
do ſeu feliz naſcimento.
.. A INFANTA D . MARIA , que naſceo Princeza
do Braſil , e hoje he de Aſturias, ſuccedeo no Du
cado de Bragança em o anno 1711.
O PRINCIPE D . PEDRO foy Duque de Bra
gança no meſmo dia em que naſceo no anno 1712.
O PRINCIPE DO BRASIL D . Joseph ſuccedeo
a ſeu irmao no Ducado de Bragança a 14 de Ou
tubro do anno 1714 .
Duques de Barcellos.
D . Joao , primeiro do nome nos Duques de
Bragança, foy Duque de Barcellos por Carta del
Rey
54 Hiſtoria Genealogica
Rey D . Sebaſtiaõ de 5 de Agoſto do anno 1562,
que eſtá na Torre do Tombo na Chancellaria do
dito Rey , liv , 11 , fol.60 verf.
D . THEODOSIO , ſegundo do nome entre os
Duques de Bragança , naſceo Duque de Barcellos
em 28 de Abril do anno 1568.
ase
ELRey D .Joað o IV . naſceo em 19 deMar.
ço do anno 1604. Foy terceiro Duque de Barcel.
.is
los.
B
O Principe D . THEODOSIO , naſceo Duque
Š6
de Barcellos em 8 de Fevereiro do anno 1634.
Duques de Guimarães.
D . FERNANDO , ſegundo do nome entre os
Duques de Bragança , foy (antes de ſucceder na Ca.
fa ) Duque de Guimarães no anno 1470 em vida de
ſeu pay.
D . JAYME , Duque de Bragança, foy tambem
Duque de Guimarães no anno de 1496.
O INFANTE D . Duarte filho delRey D . Ma.
noel foy Duque de Guimarães no anno 1537 , por
caſar com a Infanta D . Iſabel , a quem ſeu irmao
deu em dote o dito Ducado.
O SENHOR D . DUARTE ſeu filho , foy Duque
de Guimarães no anno de 1541.
ELREY D . Joað o IV . ſendo Duque de Bra
gança foy tambem Duque de Guimarães por Car :
ta
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 55
ta paſſada em Madrid a 4 de Junho do anno 1638 ,
como conſta do liv . 34 da Chancellaria delRey Fi.
lippe IV . fol. 17 , que eſtá na Torre do Tombo.
Duques de Coimbra.
O INFANTE D . PEDRO foy creado Duque de
Coimbra por ElRey D .Joað o I.no anno 1415 eſ. Chr. delRey D.JoaoI.
tando em Tavira , de volta de Ceuta , como refere parti
276, 3. cap.160.
o Chroniſta Gomes Eannes de Azurara na Chroni
ca do dito Rey , que diz o creara Duque de Coim
bra , e ao Infante D . Henrique Duque de Viſeu , em
fatisfaçao do trabalho , e ſerviços feitos em Ceuta .
O SENHOR D . Joao filho do dito Infante, foy
tambem Duque de Coimbra.
O SENHOR D . JORGE foy creado Duque da
meſma Cidade por ElRey D . Manoel , de que le
lhe paſſou Carta em Evora a 16 de Março do anno
1509 , que eſtá incorporada em outra delRey D .
Joao III. do anno 1532 , que exiſte na Torre do
Tombo no liv . 24 da Chancellaria do dito Rey
fol.73 .
Duques de Viſeu .
Duques de Béja .
O INFANTE D . FERNANDO foy Duque de Bé.
ja , creado por ElRey D . Affonſo V . quando vol.
tou de Africa da jornada , que impenſadamente fez
a Ceuta no anno de 1452, como diz a Hiſtoria da
Cidade de Béja , feita porMarçal do Ayellar da Cor
ta ,
da Caſa Real Portug. Liv .Dr. 57
ta. Nao achey a Carta porque foy feito Duque
de Béja , porém na doaçao da Villa de Serpa diz El.
Rey ſeu irmao : 0 Infante D . Fernando Duque de
Béja , Senhor de Moura , o 'c . foy feita em Lisboa
a 18 de Fevereiro do anno de 1457 , e eſtá na Tor
re do Tombo no liv. 4 dosMyſticos , fol. 21 verſ.
ELREY D .MANOEL foy Duque de Béja , crea .
do ao que parece no anno de 1489 , como conſta
do liv . 2 dos Myſticos fol. 100 , de que ſe lhe pal
ſou Carta de aſſentamento dehum conto de reis a
28 de Abril do anno de 1489. No dito livro a ful.
103 eſtá outra Carta feita em Béja a 6 de Abril do
meſmo anno , que principia : D . Joað, &*c. a quan
tos eſta Carta virem fazemos ſaber , que eſguardando
nòs o grande divido, que D . Manoel Duque de Béja ,
Senhor de Viſeu , e da Covilhãa, e meu muito preſado
primo , & c. Deſta Carta conſta , que já em 6 de
Abril era Duque de Béja , e que ſe o fora de Viſeu ,
o diſſera quando refere fer Senhor daquella Cidade.
O INFANTE D . Luiz , filho delRey D . Ma
noel, foy Duque de Béja , pormerce do dito Rey ,
de que depois lhe paſſou Carta ElRey D . Joa) o
III. em Coimbra a 5 de Agoſto de 1527, e eſtá na
ſua Chancellaria liv .30 fol.120 .
A ELREY D . PEDRO II. ſendo Infante creou
ElRey ſeu pay Duque de Béja em 11 de Agoſto
de 1654 , cujo Alvará eſtá na Torre do Tombo na
ſua Chancellaria fol. 99 do dito anno , por nelle re
novar eſte titulo , que ciyera ElRey D . Manoel ,
Tom . V . Hii de
58 Hiſtoria Genealogica .
de que depois ſe lhe paſſou Carta do aſſentamento,
que levaõ os Duques de 750U , a qual foy feita em DISON
Duques daGuarda .
O INFANTE D . FERNANDO filho delRey D .
Manoel , foy Duque da Guarda por Carta delRey
D . Joað o III. paſſada em Lisboa a 5 de Outubro
de 1530 , que eſtá na ſua Chancellaria liv . 39 fol.
108.
Duques de Aveiro.
D . Joað DE LENCASTRE filho do Meſtre D .
Jorge , foy Duque de Aveiro por merce delRey
D . Joað o III, o qual lhe nað paſſou a Carta , e o
fez depois ElRey D . Sebaſtiao em Lisboa a 30 de
Agoſto de 1557 , a qualnað paſſou pela Chancel
laria .
: : D . JORGE DE LENCASTRE foy ſegundo Duque
de Aveiro . D . AL
da Caſa Real Portug . Liv.VI. 59
D . ALVARO DE LENCASTRE, E D . JULIANA
de LENCASTRE forao terceiros Duques de Aveiro
por Carta delRey D . Filippe , paſſada no 1 de Ja
neiro de 1593. Faz della mençaõ na do aſſenta
mento do Duque , feita em 13 de Março de 1594 ,
que eſtá no livro i da Chancellaria do dito Rey
fol. 11.
D .RAYMUNDO DE LENCASTRE , que era Du.
que de Torres-Novas , tirou Carta paſſada em 26 de
Fevereiro de 1656 , que eſtá no liv. 28 da Chancel
laria delRey D . Joað o IV . fol. 41.
D . PEDRO DE LENCASTRE , Inquiſidor Geral,
foy Duque de Aveiro por Sentença da Relaçaõ de
Lisboa de 14 de Mayo de 1668, de que ſe lhe paſ.
fou Carta a 22 de Junho de 1668 , que eſtá no liv .
28 da Chancellaria delRey D . Affonſo VI. fol.457 .
A D .MARIA DE GUADALUPE DE LENCASTRE
foylhe ſentenciada a Cala , e o Ducado de Aveiro
por morte de ſeu tio a 20 de Outubro de 1679 , e
faleceo em Madrid em 9 de Fevereiro de 1715.
D .GABRIEL DE LENCASTRE foy feito Duque
de Aveiro por Carta de 2 de Junho de 1732.
Duques de Torres-Novas.
D . JORGE DE LENCASTRE , primogenito dos
terceiros Duques deAveiro , foy Duque de Torres
Novas pormerce delRey Filippe III. porCarta de
26
60 Hiſtoria Genealogica
26 de Setembro de 1619 , que eſtá no liv. 43 fol.
235 da Chancellaria do dito Rey , e nað chegou a
fer Duque de Aveiro.
D . RAYMUNDO DE LENCASTRE foy Duque
de Torres Novas, em que ſuccedeo a ſeu pay , de
que ſe lhe paſſou Carta a 24 de Junho de 1633 , como
conſta do liv . 14 das Confirmaçoens de Filippe III.
fol. 275 , e depois foy Duque de Aveiro .
Duques do Cadaval.
A D . Nuno ALVARES PEREIRA DE MELLO ,
Marquez de Ferreira , creou Duque do Cadaval El.
Rey D . Joað IV . de que ſe paſſou Carta em 18 de
Julho de 1648, que ſe conſerva no liv. 20 da Chan .
cellaria do dito Rey, fol. 144.
D .Luiz AMBROSIO DE Mello foy feito Du
que do Cadaval, de que ſe lhe paſſou Carta em 26
deAbril do anno de 1684.
D .JAYME DE Mello ſuccedeo a ſeu irmao ,
ainda em vida de ſeu pay, e he Duque do Cadaval
por Carta de 25 de Abril do anno de 1701.
Duques
Hiſtoria Genealogica
Duques de Alafoens.
A D . PEDRO DE Sousa filho do Senhor D .
Miguel, e neto delRey D . Pedro II. creou Duque
de Alafoens ElRey D . Joao V . no anno de 1718 no
dia , em que foy bautizado , ſendo o dito Senhor ſeu
padrinho, de que ſe lhe paſſou Carta a 5 de Outubro
do anno de 1718, é a ſua mãy D . Luiza Caſimira de
Souſa , herdeira da Caſa dos Marquezes de Aron
ches, fez Duqueza de Alafoens.
Eſtes faõ os Duques , que tem havido neſte
Reyno , de que bem ſe vê quanta raza) temos pa
ra affirmar , que nelles concorrem muy differentes
circunſtancias, que em os dos mais Reynos, ſendo
ainda muito mais exceſſivas as prerogativas dos de
Bragança , porque nelles ſe via huma eſſencial diffe .
rença na ſua Caſa . E para que em tudo a tiveſſe,
ElRey D . Affonſo V . lhe fez huma eſpecial merce ,
e até entað ſem exemplo , a qual foy , que logo
que morreſſe o Duque de Bragança , ſeu ſucceſſor ,
e herdeiro da Caſa ſem outra ceremonia , nem Al
vará , ou encartamento ſe nomealle Duque de Bra
gança , e dosmais titulos , que poſſuía o Eſtado da
ſua Caſa , e depois tiravaõ Cartas confórme o ulo
deſte Reyno de confirmaçao das doaçoens dos ſeus
Prova num Eſtados. E ainda ſe eſtendeo mais eſta merce fa .
Zendo-a muito mayor no modo da ſucceſſa ) , man .
dando ,
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 63
dando que ſuccedeſſe em falta de filho a filha do
ultimo poſſuidor , por eſtas palavras : E vindo cazo
queDeos defenda que ahy nom haja barom ſeu deſcem .
dente, a nos praz que a filha deſcendente delle que ſo .
ceder as ditas terras, ſegundo a forma de ſuas doa
çoens , ſeja Duqueza , e Condeſa dellas por a dita
8 no guyza , ( *c. Foy paſſada eſta Carta em Lisboa por.
Martim Gil no anno de 1449, e deſta forte perpe
ubro túa a linha direita , antepondo a filha ao varað tranf
ra de
verſal. Depois lhe fez o meſmo Rey outras mui. Prova num .26 .
TON tasmerces como foy a da Ilha do Corvo huma das
nove dos Açores , a que chama) Terceiras , com
helle juriſdicçao , mero , e mixto Imperio , por Carta pal
pa
ſada em Evora por Martim Gil a 20 de Janeiro do
tes
anno 1453. No meſmo anno a 19 de Janeiro lhe
fez merce , de que da fabrica da ferraria , que tinha Prova num .27.
no termo de Bragança, nað pagaſſe ciza, nem tribu .
to algum o ferro , que nella fe vendeſſe. E que nas
terras do Duque ſe nao executaſſem as ſuas Cartas ,
que encontraſſem as juriſdiccoens, e privilegios do
Duque, ſem lho fazerem a ſaber: foy paſſada a Car. Prova num .28.
ta em Lisboa a 15 de Julho do anno 1454 pelo Se.
cretario Ruy Galvað. E no meſmo anno lhe con
firmou outra merce, que ElRey ſeu pay lhe tinha Prova num .29.
feito para que nao podeſſem os Miniſtros delRey
tirar os feitos das terras do Duque , ainda quando
foſſem recuſados de ſoſpeitos os Juizes , ou Ouvido
res do Duque, ſem lho fazer a ſaber, para que no
meaſfe outros, que nað foſſem ſoſpeitos às partes.
Tom . y . Tinha
64 : . . Hiſtoria Genealogica
Tinha entrado ElRey D . Affonſo V . no de.
t
cimo quarto anno da ſua idade, quando o Infante
D . Pedro Regente lhe entregou o governo do
Reyno no anno de 1446 em preſença dos Grandes,
e Senhores do Reyno. Acabado eſte acto ElRey
eſpontaneamente dimittio de ſi o governo , mandan
do , que o Infante continuaſſe nameſma forma, que
até aquelle tempo o fizera . Nao ſe achou o Du
que de Bragança neſta folemnidade por juſto impe
dimento , e mandou por ſeu Procurador a D .Gon
çalo Pereira , a quem chamarað o das Armas: e
chegando à noticia do Duque a reſoluçao , que El.
Prova num .30. Rey tomara de dimittir de ſi o governo , lhe foy
pouco agradavel , e aos ſeus parciaes : e aſſim no dia
ſeguinte das Cortes o impugnou ſem rebuço em
nome do Duque Gonçalo Pereira ſeu Procurador ,
o que por entao foy deſprezado, pois entrou o In .
fante por eſpontanea vontade delRey na regencia .
Naquelle meſmo anno , que foy o ultimo do gover
no do Infante D . Pedro , achamos humaCarta en
tre outras muitas originaes do Infante para ſeu ir
mað o Duque , que ſe conſervaā no Archivo da Se.
reniſſima Caſa de Bragança , que lançamos aqui para
que ſe veja o reſpeito , com que o Infante tratava a
ſeu irmao ; e porque o tempo já as vay conſumin
do de ſorte , que nao duraráð muitos annos , quere
mos ſalvar a ſeguinte , da qual ſe vê a materia do
negocio , que tratava , e dizia deſta ſorte :
„ Alto , e poderozo Principe , e muito amado
„ Irmao ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 65
„ Irmão , o Infante D . Pedro Curador delRey meu
,,Sñor, e Curador , e Regedor por el de fus Reg.
,,nos, e Senhorio me encomendo a vos , facemos
„, aber que o Arcebiſpo de Bragaa meu bem ama
, do ſobrinho me diſſe que a elle veera ora recado
„ quemandaftes novamente coſtranger osmorado
,,res do ſeu couto de Dornellas quehe na voſſa ter
„ ra de Barroſo , que vos deſſem cada huữ çertos al
„ queires de pao ; e que poſto que por ſua parte for
„ fe requerido que ſemelnante lhe nom devieis man
,,dar fazer viſto como o dito Couto de ſempre fo .
„ ra , e era de ſua Egreja , e exempto de taaes en .
„,carregos, e que a jurdicom delle hé toda da dita
„ ſua Egreja nem em ſeu ternpo , nem de ſeus an .
„ teceſſores taaés coſtrangimentos lhes nom forað
,,feitos no cuiaftes de !lo , antes ſem embargo de
,,todo mandaſtes que os penhores que ihe por ello
,,eram filhados os vendeſſen , e porque Alto , e po
,,derozo Principe , e muito amado Irmaao vos la .
, beis bem quem o dito Larçebiſpo he, e a grande
„ razom que ElRey meu Sñor, e eu com elteemos
„,aſſi por o grande divido que com noſco ha, como
„ por osmuitos ſerviços que tem feitos a eſtes Rege
,,nos ſeede çerto que a mim deſpraz muito de lhe
,,eſto , nem outro alguń agravo feer feito , e por
» quanto eu hey as ſuas couſas porminhas proprias
„ eu vos rogo , e encomendo que mandees logo en
9, tregar os penhorcs aos lavradores do dito feu Cou
to , e daqui em diante lhes nom mandees fazer ſe .
Tom .V . I Ü 1 me.
66 Hiftoria Genealogica
, melhante coſtrangimento e a pois ſempre foy gu .
,, ardado de taaes encarregos em tempo dos outros
„, Arcebiſpos ; muito mais razom he de o ſerem
„ agora em tempo deſte aſſi por quem elle he, co
„ mo por as razoeēs ſuſo ditas , e eſſo meſmo vos
„ rogo , e encomendo que com os outros ſeus Cou .
„ tos, e couſas nom facaaesmudança alguuā, e og
„ leixees eftar naquella poſſe que ſempre eſteverom
„ em tal guiſa que el nom receba agravo ; porque
„ feede çerto que qualquer ſem razom que lhe leja
„, feita , que eu a ſentirei tanto como ſe foſſe feica a
„ couſaminha propria , e deſto affi comprirdes fa
„ rees o que he razom , e a mim grar.de prazer, e
„, couſa que vos muito gradeçerei. Irmao amigo o
„ poderozo Deos ajavos, e voſſos feitos em ſua fan
, ta guarda , e encomenda , eſcripta em Santarem XII.
„ dias deMarço Rodrigo Annes a fez mil quatro
„ centos, e quarenta , e ſeis.
Infante D .Pedro.
O ſobreſcrito dízia aſſim :
„ Ao Alto , e Poderoſo Principe Du
„ que de Bragança , e Conde de Bar
„ cellos meu muito amado Irmað .
Haveria paſſado hum anno que o Infante con .
tinuava a Regencia com applauſo do Reyno , e fa.
tisfaçao
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 67
tisfaçaõ delRey , quando a emulaçao de alguns da.
quelles que aſpirava) ao manejo dos negocios, con
liguirað o fim dos maos officios, que faziao ao In
fante para que ElRey lhe mandaſſe inſinuar, que o
havia por deſobrigado das incumbencias do gover
no de que o encarregara , de ſorte , que ElRey
mandou dizer intempeſtivamente ao Infante , que o
dava por abſoluto do governo. Delta reſoluçao
procedeo a que tomou o Infante de ſe recolher às
fuas terras , e o mais que refere a Hiſtoria daquelle
tempo. Sem embargo , de que já havia annos que
ElRey pertendera fazer amigos o Infante , e o Du
que, agcra para mayor demonſtraçao da ſua vonta.
de por huma Carta patente affinada por ſua Real Prova num .27.
mao , feita em Lisboa a 12 de Novembro do anno
de 1448 por Ruy Galvao ſeu Secretario ; e ratifica .
da pelo Infante D . Pedro , e pelo Duque de Bragan.
ça ſe obrigarað , e prometteraõ de a guardar quan .
to nelles foſſe , aſſim por elles, como por ſeus filhos,
parentes, aliados, e obrigados,aſſim como ElRey o
mandava;masnað foy verdadeira eſta concordia co.
mo depois ſe vio . Eſta Carta patente de Rey com
a ratificaçaõ do Infante , e do Duque feitas ao meſ
mo tempo , ſe paſſou depois a hum inſtrumento au
thentico , em que aſſinaraó por teſtemunhas Gonça .
lo Pereira , Senhor do Couto de Lumiares , Diogo
Lopes de Azevedo, Gomes Eannes Prior do Mof.
teiro de Refoyos decima Capellao môr do dito Senhor
Duque, Pedro Teixeira Védor de ſua Cala, e Val
со
68 Hiſtoria Genealogica 들
TIT
huma batalha , o Duque D . Affonſo nao querendo
politicamente eſperar entao o ſucceſſo della , em
hum Domingo de Ramos do ano 1449 eſcolheo
da ſua gente mil e novecentos homens de cavallo ,
além demuita gente de pé , e com o mayor ſegre
do que pode fahio do ſeu campo , e levando duas
guias , favorecido da noite fe poz a cavallo , buſcan
do a volta da Serra da Eſtrella , por onde marchou
padecendo trabalhos , frios , e neves , que nos ſeus
muitos annos lhe puzerað em perigo a vida , mas
livrando com elia , o muito frio que padeceo deue
occaſia) a huma queixa, que lhe inclinou o peſco
ço de forte , que nunca melhorou delle ficando da
quelle modɔ em quanto viveo. Chegando à pre
ſença delRey deu conta com differentes cores do
que paſſara , de que novamente indignado contra o
Infante ſe ſeguio depois a infelice batalha de Alfara
robeira , em que com a morte do Infante ſe acaba
rað aquellas contendas , tað efcandalolas na memo
ria das gentes. O Duo
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 69
i o Duque D . Affonſo , que ſe achava em larga
idade, e já eſquecido das parcialidades paſſadas, te
ve grande parte no miniſterio do Reynado delRey
· D . Affonſo V . aſſim pela repreſentaçao da ſua pele
ſoa , como pela experiencia adquirida em tantos an
nos , aprendida na Eſcola Militar , e Politica dele
Rey ſeu pay , a quem ſervio na guerra , achando-ſe
ao leu lado em todas as occafioens , que teve com
os Caſtelhanos depois da glorioſa batalha de Alju .
barrota , e no anno de 1455 quando foy bautizado o Genealog.
Affonſo dedaTorres, na
Cala de
Principe D . Joað , filho do meſmo Rey D . Affon- Bra
fo V . o levou o Duque à pia , e foy leu Padrinho.
• Corria o anno de 1457 quando o Papa Calix
to III. mandou a Cruzada a ElRey D . Affonſo V .
pelo Biſpo de Sylves ( que entendemos ſer D . Alva.
ro, depois de Evora) como fizera por outros Lega
dos a diverſos Principes exhortando-os à guerra cona
tra os Turcos; para o que ElRey D . Affonſo com
grande zelo ſe começou a preparar mandando bater
para eſta empreza moedas de ouro a que chamou
Cruzados a reſpeito da Cruzada, e Cruz , que nella
ſe abrira , mandandolhe lançar mais no pezo. dous
grãos , que os Ducados eſtrangeiros , para que em
toda a parte correſſe fem difficuldade. Tinha já fonio
Chron.V .decapRey.28.D . Af
ElRey feito grandes deſpezas para eſta jornada ,
quemandou notificar a alguns Principes Chriſtãos ,
que ſe eſcuſarað ; e ſobrevindo no anno de 1458 a
morte do Papa Calixto , que tinha ſido o primeiro
mobildeſta empreza , determinou ElRey com o ſeu
Concea
70 Hiſtoria Genealogica
Concelho mudar a guerra para Africa , obra nao
menos pia do que a outra , pelas hoſtilidades, que
os Mouros commettiao por toda a Coſta deHelpa
nha. Era a primeira idea delRey ſurprender Tan.
gere, porém o Conde de Odemira D .Sancho de No.
ronha o diſſuadio , moſtrandolhe ſer mais conve
niente cair ſobre a Praça de Alcacer-Ceguer , o que
parecendo bem a ElRey paſſou da Cidade de Evo .
ra a Setuval, onde em hum Sabbado ultimo dia de
Setembro do referido anno depois de ouvir Miſſa
deu à véla , e conſeguio felizmente a conquiſta del.
ta Praça . Achava-ſe em huma idade muy avança.
da o Duque de Bragança para poder ſofrer os in
commodos de huma viagem ainda quenað larga,
prolixa, na qual ſe intereſſavaõ os ſeus filhos o Mar
quez de Valença, e o Marquez de Villa - Viçoſa , e
ſeus netos D . Fernando , e D .Joao , filhos do Mar
quez de Villa-Viçoſa ; pelo que ElRey o nomeou
Regente do Reyno , vendo que na ſua auſencia
era a ſua peſſoa a mais digna para eſte ſupremo lu
gar , por le achar o Principe herdeiro em tað tenros
Ruy de Pina , Chron. annos. Recuſou o Duque eſta merce com o pre.
da dito Rey , c. 156. texto da ſua muita idade , offerecendo - ſe ao meſmo
tempo para o ſeguir na guerra contra os Mouros ,
porque o ſeu coraçao com novos eſpiritos alenta
ria as forças da natureza , que debilitara a idade ,
porque ainda ſe achava com vigor para empunhar a
eſpada na guerra contra os Infieis, acabando a vi
da no ſeu ſerviço , por quem tantas vezes a arriſcara .
Tanto
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 71
Tanto era o valor , e inclinaçað deſte Principe à
guerra , que quando ſe eſcuſava de governar na paz,
eſtava prompto para ſervir na campanha. Nao
aceitou ElRey a eſcuſa do Duque, pelo que o en
carregou da Regencia , o que nao achamos eſcrito
em algum Author ; porém conſta de humaCarta pa.
tente , que ElRey lhe paſſou para eſte fim , a qual
ſe conſerva original em pergaminho no Archivo da
Sereniſſima Cala de Bragança , e he a ſeguinte :
„ Dom Afomſſo per graça de Deos Rey de
„ Portugal , e do Algarve , e Sñor de Cepta . A
, todollosSíores aſſi eccleſiaſticos como ſeculares ,
„ e fidalgos, e Cavaleiros, e pobos de noſſos Reg.
„ nos a que eſta noſſa Carta patemte for moſtrada,
„ ou della noticia ouverem , fazemos ſaber que por
„ razam de noſſa auzemcia , e partida que ora dos di
„ tos noſſos Regnos fazemos por darmos ſocorro , e
„ defemſom aa noſſa Cidade de Cepta ſobre a qual
„ nos he dito que faz o Rey de Feez com grande
poderio de mourama. Nos leixamos nos ditos
„ Regnos por noſſo loguo teemte , e Regedor , e
„ Defemfor delles o noſſo muito amado , e prezado
„ Tyo D . A fomſo Duque de Bragança , e Comde
„ de Barcellos de cuja lealdade, bondade, e virtudes
w tamto comfiamos que elle o fara aſli bem , leal , e
„ verdadeiramente como a elle perteemçe, e a na
,, tural, e civel razom ho obriga por ſeer noſſo ver
„ dadeiro , e leal vaſſallo . E porem vosmandamos
», que em todo , e per todo lhe obedecaaes , e cum
Tom . V . » praaes
72 Hiſtoria Genealogica
», praaes ſeus mandados aſy como a noſſo lugar te
„ emte , e Regedor , e Defemlor dos ditos noſſos
„ Regnos atee noſſa tornada a elles ao qualnos da
„ mos todo noſſo poder , e lugar de fazer , e obrar
sem elles todo o que nos fariamos ſeemdo preſem
s te afli no Regimento , e governamça do poboo ,
we juſtiça delle , como no regimento de noſſa fa
„ zemda , reendas , e teſouros , a qual juſtiça , e fa
„ Zemda elle governará , e regerá ſegundo as regras,
se ordenamças que lhe per nos lom leixadas, e de
„, todo o dito geeral poder ſoomente excetamos
„ morte , ou cortamento de nembro de fidalgo de
„, ſolar , e doaçooēs de Villas, ou Caſtellos, terras ,
„ e jurdiçooeēs, privilegios perpetuus de eſcuſaçom ,
„ e liberdade de peſſoas ; as quaes couſas queremos
, que em noſſa auſemçia ſe nom façam ; e em teſte
„ munho de todo mandamos dar ao dito Duque eſ
„ ta noſſa Carta per nos aſſinada, e aſeelada do noſ
„, ſo ſello do chumbo. Dada em a noſſa Cidade
„ Devora xxx dias dagoſto Fernam Rodrigues a feza
„ anno do nacimento de noſſo Senhor Jeſu Chriſto
9 de mil quatrocentos, e cincoenta , e outo .
ELREY.
Sello Real.
Diogo da Sylveira.
Pelos
da Caſa Real Portug. Liv . VI. 73
Pelos annos de 1459 ſupplicarað osmorado
res da Villa de Vianna a ElRey , que lhe déſre a lie
berdade para armarem a corſo contra os piratas,
que infeſtavað aquella Coſta , fazendolhe merce do
quinto . ElRey lhe reſpondeo , que recorreſſem ao
Duque de Bragança ſeu tio , e ſeu Fronteiro môr
naquellas Comarcas, e que elle diſporia o que fof
ſe mais conveniente ao ſeu ſerviço , e que no que
tocava ao quinto das prezas lhe fazia delle merce .
Eſta ſupplica eſtá regiſtrada nos livros da Camera
da dita Villa , e a achey no Archivo da Caſa , e por
ſer tanto em abono do Duque D . Affonſo , como
pela ſua antiguidade, em que o ſincero eftylo ſe faz
tað eftimado, a porey neſte lugar, e dizia affim :
S = x H ở R.
13
toria , em que triunfou como ſempre dos inimigos o
ſeu valor , e da cobiça o ſeu eſpirito generolo , e
r
verdadeiramente Real. .
.
Teve o Duque D . Affonſo hum grande Efta
do, como ſe vê das doaçoens, que temos referido ,
e além deoutras terras que comprou , teve as Bee.
trias de Villa -Nova junto a Amarante , que ElRey
D . Affonſo V . na ſua menoridade lhe confirmou
na Regencia do Infante D . Pedro , em virtude de
Prova num .32. hum inſtrumento , que osmoradores da Honra de
Amarante fizerað , no qual declarava) , que havia
annos o elegera ) por Senhor , e que de ſeu motu
proprio , e livre vontade pertendiað ſe perpetuaffe o
dito Senhorio para ſempre na deſcendencia do Du
que D . Affonſo , o que ElRey confirmou por Care
ta feita por Martin Gil ſeu Éſcrivao da Fazenda ,
em Evora a 30 de Janeiro do anno 1444. Teve
tambem as de Ovelha , Villa Marim , e de outros
Povos , que o elegerað por Senhor , porque era uni.
verſalmente bem quiſto dos feus Vaſſallos, o que os
Reys depois confirmava) . Efte direito das Bee
trias he ſabido nas noſſas Hiſtorias, mas parece que
nað paſſou do tempo delRey D .Manoel , em o
qual o Duque de Coimbra o Senhor D . Jorge teve
Beetria , e depois daquelle tempo o nað encontrey :
talvez eſtará abolido por conſentimento dosmeſmos
moradores , fazendo a ſua vaſſallagem hereditaria ,
como
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 77
como vimos ſe fizerað os da Honra de Amaran
te.
Nað he do noſſo affumpto , nem ainda do noſ:
ſo genio eſcrever com prolixa exacçao o numero
das Villas, Honras, Lugares , Padroados, Coutos,
Reguengos , Quintas , e outros bens, de que ſe
compunha o Eſtado , e patrimonio deſta Sereniſſima
Caſa, porque baſta para ultimoargumento da gran.
deza della o que ſem affectaçao temos referido , e af.
fim das terras de que o Duque D . Affonſo teve o Se.
nhorio , diremos cómente os nomes, deixando para
outro lugar as terras de que ſe compoem o Eſtado
da ſua Caſa. Foy Senhor de Bragança , das Villas
de Outeiro , deMiranda, Nuzelos , Faõ do Couto ,
e Quinta da Cornelhāa , Monquim , das Villas de
Neiva , Aguiar de Neiva , Draque, Peral, Faria ,
Rates , Vermoim , Peñafiel , Baftus , Couto da
Varzea , Honra de Amarante , Honra de Ovelha ,
Villachiam , Larim , Penagati , Penella , Villa de
Chaves ,terras , e Julgados deMonte-Negro , Mon
te-Alegre , terras de Barroſo , Baltar , Paços , Villa
de Barcellos, Quintas da Carvalhofa , Covas , Ca
nedo, Sarraces , Godinha , e S. Fins, Caſaes de Bul
tello , Quintas deMoreiras , e Pouſadas, e Padroa
dos de Villa -Boa de Quires , de Neiva , de Aguiar
de Neiva , Faria , Vermoim , Peñafiel , Baltus, das
terras , e Caſaes da herdade de Brito , Figueiredo ,
S . Martinho de Leines, Quinta de S . Fins de Riba
Dave , e outras terras , e Padroados , com notaveis
doaçoens,
78 . Hiſtoria Genealogica
doaçoens, privilegios , e prerogativas , como ſe rê
das que temos feito mençað .
: Deſde o leu principio ſe diſtinguio a Sereniſ
fima Caſa de Bragança em poder , e prerogativas ,
porque ElRey D . Joaŭ I. dava lugar ao Duque jun .
to com os Infantes como temos dito , e o Duque
D . Affonſo precedeo aos filhos dos Infantes, como
ſe vê do acto das Cortes , que ſe celebrara ) no an.
no de 1455, em que foy jurado herdeiro do Reyno
ElRey D . Joa) o II. como deixamos eſcrito no
Cap. III. do Liv . IV . e le póde ver nas provas, que
produzimos deſte acto : no qual obſervada a ordem
dos que jurara) ainda por feus Procuradores, le vê,
que Lizuarte Pereira , Repoſteiro môr, como Pro .
curador do Duque D . Affonſo jurou logo depois do
Infante D . Henrique , e D . Pedro filho do Infante
D . Pedro , Governador , e Adminiſtrador da Ordem
de Aviz ſe ſeguio ao Duque por ſeu Procurador
Fernað Gil, Cavalleiro de ſua caſa , e a elle o meſo
mo Lizuarte Pereira como Procurador do Marquez
de Villa - Viçoſa D . Fernando , filho do Duque de
Bragança , e os mais conforme o ſeu caracter , e
preeminencia ; o que referimos para que ſe veja , que
no acto demayor feriedade, que os Reys coſtumað
fazer , nelle precedeo o Duque de Bragança ao fi
lho do Infante D . Pedro , lendo na graduaçao im
mediato aos Infantes, e primeiro que ſeus filhos le
gitimos. Sua mulher a Condeſſa D . Brites Pereira
conſervava no Paço o tratamento de fillia de Infan
te ,
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 79
te, e depois os mais Senhores deſta Cala forað fuc
ceſſivamente logrando as meſmas honras com os
Reys ſeguintes, como veremos nas partes aonde to .
car , obſervando - ſe , que os Monarchas nao coſtua
mað faltar aos Vaſſallos benemeritos com a conti.
nuaçao das ſuas prerogativas.
A ' Caſa deBragança ( que correo em diverſos
tempos perigoſas tormentas ) nem ainda os que nao
era) Nacionaes ſe attreveraõ a diminuirlhe a gloria ,
porque em todo o tempo , e em toda a occaſiao
conſervou o reſpeito illeſo ; e quando ElRey entra
va com a Rainha para debaixo da cortina , tinhao
nella lugar os filhos, e filhas do Duque de Bragan .
ça, e deſde eſte tempo o conſervarao nos de mais
Reynados , como parentes mais chegados da Caſa
Real; e por eſta cauſa precedia ) os díhos deſta Se
reniſſima Caſa , ainda que nað tiveſſem titulos, nem
dignidades a todos os de mais Senhores. E para
que ſe veja o quanto eſta grandeCaſa foy attendida,
e o quanto pezou ſempre na eſtimaçao dosReys o
parenteſco , referirey nas Memorias do Duque D .
Jayme a contenda do Duque Meſtre , e a reſoluçao
delRey D . Manoel, e agora lançarey a delRey D .
Affonſo V . tað allegada pelos noſſos Juriſconſultos
já em tempos muy antigos, que diz aſſim :
„ Em a Cidade de Coimbra de mil, e quatro
„, Çentos , e fatenta , e dous annos, detriminou El.
,, Rey D . Afomſlo , cuja alma Deos aja , com os
», do leu Conſelho , e alguns letrados , que acerca
Tom . V . dos
80 Hiſtoria Genealogica
„ dos ſtados , dos aſentamentos , e precedimentos
„ dos Duques , e SenhoresCondes , e peſſoas gran
„ des de ſeus Reynos ſe tiveſſe eſta maneira .
„ O Duque de Viſeu , e Beja filho do Infante
„ D .Fernando ſeu Irma) , que Deos aja , por o gran.
,,de, e chegado divido que com S.Senhoria , e com
», o Senhor Princepe leu filho tem por fer tað ache
„ gado a geraçao , e lobçeſſao deſtes Reynos preçe
„ da em titulo quando lhe ElRey eſcrever , e afy
,, em aſentamento , eſtados , e todas cerimonias , e
„ no ſerviço do dito Sñor a todos os outros Duques
,, do Reyno .
„ Item que os outros filhos do Infante D . Fer.
„ nando poſto que nao tenhaõ titolos por o grande
, divido , e tað chegado , que com os ditos Sñores
„ Rey , e Princepe tem , e por afy chegados a ſob
» çeſlao do Reyno como jaa dito he, preçeda) em
„ aſentamentos , e cerimonias ao Duque de Bragan
se ça , e a D . Fernando Duque deGuimarães ſeu fi.
„ lho, que lhes efcreva a elles afy como a Duques
,, ſem lhe chamar Duques pois que o nað lað 100
„ mente aos homrados (ſem por ElRey) e aos Du
„ ques, e como aqueles que muito amamos, e pre.
j,zamos.
„ Item detriminou , é mandou mais , que os
„, filhos do Duque de Bragança Irmãos do Duque
„ de Guimarães por o divido que com S . Senhoria ,
, e com ho Síor Prinçepe ſeu filho tem poſto que
g;alguum delles nað tenlia) titolos de Comdes , nem
- Outro
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 81
„joutro alguũ titolo preçedað a todos os Comdes
„ do Reyno poſto que alguūs dos Comdes tenha
,,divido hou parenteſco com ElRey , falvo Dom Pe.
„ dro de Menezes Comde de Villa-Real filho do
„ Comde D . Fernando o qual por o grande divido.
„ que yſo meſmo tem com ElRey , e com o Senhor
„ Princepe ſeu filho poſto que ſejað menos que dos
„ filhos do dito Duque , e per linhagem , de que
„ veem doutra parte dos Reys de Caſtella , e por.
„ ſua peſſoa delle haa o dito Senhor por bem que
„ elle nað ſeja precedido por algū filho do dito Du.
„ que , que nao tenha titolo ygual ao ſeu . Empe
„ ro que qualquer filho do dito Duque que tiver ti
„ tolo de Comde como elle ho preçeda em todo , e
,,elle dito Comde de Villa -Real preceda a qual.
„ quer filho do Duque ſem titolo .
„ D . Afonſo Conde de Farað filho do Duque
„ por ſer Comde poſto que ſeja mais moço , que D .
„ Johaõ preceda ao Comde de Villa-Real , e preçe
„ da ao D . Johað em quanto nað for Comde , e aſy
,,a D . Alvaro ſeu Irma) , e o Comde de Farað ilo
„meſmo, e preceda a Dom Johað ſeu Irmao poſto
» que ſeja mais velho em quanto nað tiver titolo
»,de grande igual delle.
„ Item que o filho herdeiro da Caſa de Bra .
» gança ſe em alguum tempo for que ſeja fem titolo
, alguũ ſe nað aly raſo tal D . Fernando , ou D . Jo.
„ haõ , ou Doo Pedro determina o dito Senhor que
» preceda a todos os Condes. ff. aleem dos que ora
Tom . V . L üi 3 OS
82 Hiſtoria Genealogica
„ os outros filhos do Duque por beem deſta ſobre
„ dita determinaçaõ preçedao todos outros, ou ou .
„, tro que elles ora nao precedað afym como o dito
„ Conde de Villa-Real . . . . em talmaneira que
„ o dito herdeiro ſem fer Comde precedera a aquel.
„ les que preçederia em o ſendo .
: „ Ithem decriminou , e mandou , que os ou
„ tros Códes que tiverem divido , ou paremteſco
, com elle , ou com ho dito Sñor Principe , e aquel.
„, les que intitular chamar ſobrinhos , ou Primos , ou
„ parentes preçedao a todos os outros Comdes , que
„ com os ditosnao tem divido , que eſtes taes Com .
„ des , que com elle tem divido preçedað huūs aos
„ outros legundo o grao do divido , que cada hut
„ tiver mais chegado , ou mais afaſtado , e que home
„ de o grao for igual aquelle que for por parte do
„ macho ao parenteſco preceda ao que vier por fe
„ mea , e afy ſegundo eſtas determinaçoēs ſerá nos
„ aſſentamentos , e precedimentos dos Comdes , que
,, ora hy ha, deſta maneira . ſ. o Comde de Faraó
„, filho do Duque precedera aosComdes que ora no
„ Reyno ha.
„ Ithem o Comde de Villa-Real loguo apoos
», elle , e precedera aos Irmaos do Comde de Farað
„ em quanto nað forem Comdes.
„ Ithem loguo D .Johao filho do Duque loguo
„ a ſob o do Comde de Villa-Real em quanto nao
„ for Comde , e ſe o ffoor preçederà aos ſobredi.
„ tos.
„ Item
da Caſa Real Portug. Liv . Vl. 83
,, Item D . Alvaro feu Irmað loguo a pos elle.
„ Item Dom Afonſo de Vaſcomçelos Conde
„,de Penela loguo a pos os filhos do Duque ſem
„ titolos , porque he ſobrinho delRey.
i „ Item D . Johaõ de Caſtro Conde deMom .
„,fancto loguo a ſob o Conde de Penela , porque aly
„ meſmohe fobrinho delRey , e poſto que ſeja pro
„ pio grao do Conde de Penela veem por parte de
„ ſua May , e he femea ao divido delRey, e o ou
„ tro veě por parte do Pay
„ Item os outros Comdes todos , que nao fo
„ rem do ſangue delRey determina , e manda que
„ cada huum preceda ao outro ſegundo ha antigui.
,, dade de ſua peſſoa na dignidade de Comde - 1 - ca .
„, da huum ſegundo foi feito Comde primeiro , ou
„ derradeiro que o outro que afy preceda , ou ſeja
„ precedido , & c .
Eſta declaraçao , que ElRey D .Affonſo V . fez ,
he amayor demonſtraçað do cuidado com que per.
tendia foſſem tratados os filhos da Caſa de Bragan
ça, e como os Duques eraõ reputados no tratamen
to como os netos legitimos dos Reys, eraõ ſómeri.
te eſtes por mais immediatos à Coroa os que ſe lhe
antepunhao conforme o parenteſco , ſendo todos
Principes do ſangue de Portugal em quem ſe reco .
nhecia direito à ſucceſſað da Coroa pelos ſeus gráos.
Na pragmatica das cortezias, e tratamentos o ma.
nifeſtou ElRey D . Filippe II. com o Duque D .
Joað I.
Era
84 Hiſtoria Genealogica
Era o Duque D . Affonſo ornado de admira .
veis partes , que animava com Reaes eſpiritos; e
ainda que ſe lhe conhecia huma certa elevaçao, ſe
*
fazia agradavel no trato das gentes , dotado de ta
lento grande, e excellente entendimento ,magnifi
co nað ſó na ſua Caſa , mas em tudo o que empren .
dia , de que deixou à poſteridade evidentes provas,
Foy inclinado às boas letras, occupando-ſe na liçao
dos livros ainda na mayor idade. Fez eſtimaçao
6
dos Eruditos, e grande apreço dasmemorias , e cou .
fas antigas. Teve livraria , que adornou de varias
antiguidades , e muitas trouxe quando andou fóra
-8
do Reyno , formando aſſim huma Caſa de couſas ra
Š2
ras , a que hoje chamao Muſeo. Era valeroſo , e
ſeguia com goſto , e genio a guerra , no exercicio
da arte da Cavallaria deſtro , e no Concelho o ſeu
Hiſtoria da voto de grande ponderaça ) . Das ſuas acçoens nao
Carta de Bragança , temos tað individual noticia , como ellasmereciao ,
part. 3 . cap. 34
de que dá a cauſa Fr.Jeronymo Roman , dizendo ,
que foy porque Ruy de Pina era pouco affecto às
ſuas couſas : porém entendo , que aquelle Chroniſta
tao exacto nao as eſconderia por cuidado , e menos
por malicia , mas que nað poderia conſeguir a ſua
diligencia o alcançallas , como ſuccedeo ao meſmo
Roman na Hiſtoria , que compoz da Caſa de Bra
gança , que podera eſcrever de outra forte pois ſe
lhe adminiſtrava ) as noticias, e ſe lhe franqueava o
buſcallas, e com tudo iſto ſe aproveitou muito pou -,
co do Archivo deſta Sereniſſima Caſa , como ſe ve
das
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 8 $
das acçoens, que temos relatado deſte Principe, que
totalmente elle , e os de mais ignorarað.
Sao obras ſuas os Palacios deGuimarães, Cha:
ves, e Barcellos com a ſua ponte , e outros muitos
edificios nobres. Reſtaurou , e fez de novo muitas
Fortalezas nos ſeus Eſtados. Fundou a Collegiada
deSanta Maria de Barcellos, a que deu principio no
anno de 1460 , que nað vio acabada , e deixou re
commendado a ſeu filho o Duque D . Fernando ,
que lhe déffe fim . Eſta Collegiada dotou larga
mente annéxandolhe as Igrejas de Santiago de Villa
Secca , Santa Maria deGremonde, S . Payo do Cara
valhal , Santa Maria de Faria , S.Martinho de Villa
Fraſquinha , S .Martinho de Courel , Santo Thomás
de Milhaſes, S. Payo de Principaes , Santo André
de Barcellinhos , e S. Salvador de Singo. Todo ef
te rendimento le dividio entre o Prior , e Conegos
da Collegiada em duas partes iguaes, humados Co .
negos, e outra do Prior ; porém a do Prior hoje ſe
divide, porquemetade della he do Theſoureiro môr
da Capella Ducal de Villa- Viçoſa por Bulla do Pa.
pa. Compoemſe a Collegiada de Prior , e cinco
Conegos, e as dignidades ſeguintes : Chantre , que
tem os dizimos do lugar de S . Payo de Fao , de
que cinco partes da dita renda toca ) por Bulla Pon ,
tificia ao Deao da Capella Ducal de Villa- Viçoſa ;
Arcipreſte, que tem a Igreja de S.Mamede de Chrif.
te , porém eſta renda eſtá unida ao Deado da Capel.
la de Villa-Viçoſa; Meſtre Eſcola , a cuja dignidade
he
86 . Hiſtoria Genealógica
he unida huma Cónezia, e lhe he annexa a Igreja de
S . Miguel de Arcos ; e Theſoureiro môr, que nao
tem obrigaçaõ de reſidencia peſſoal para o que pa.
ga a hum Clerigo, que ſirva na Igreja , e fað anne
xas a eſta dignidade as Igrejas de S . Pedro de Fra .
golo , e de S . Claudio. Para a erecçað della Col.
legiada cooperou muito o Arcebiſpo de Braga D .
Fernando da Guerra por dar goſto ao Duque D .
Affonſo , a qual depois o Duque D . Fernando I. por
dar cumprimento à vontade de ſeu pay eſtabeleceo
na fórma, que exiſte , para o que o meſmo Arcebiſ.
po Primaz lhe fez Eſtatutos , que approvou no an .
no de 1464 , e ſe conſerva o original no Archivo da
Sereniſſima Caſa de Bragança. Morreo o Duque
Goes , Chron. do Prin .
D . Affonſo na Vila de Chaves em o mez de De
cipe D . Joaó , cap . 177:
. zembro de 1461 tendo logrado huma larga vida ,
Duarte
delRey Nunes, Chron.
D . Affonſo V . porque ſe diz , que paſſava de noventa annos, e cons
cap . 32. fol 1 10. fórme a conta dos que dizem que cumprira trinta
annos no em que cafara , aflim parece , e vem a ajuſ
tar o tempo em que puz o ſeu naſcimento . Em
alguns Authores tenho achado , quemorrera no an .
no de 1462 ; porém de hum documento authenti.
co , que eſtá no Archivo Real da Torre do Tombo ,
conſta , que já era falecido a 15 de Janeiro deſte an
no , o qual he huma merce delRey D . Affonſo V .
feita a ſeu neto D . Fernando do poſto , que pelo
Duque vagara de Fronteiro môr de Entre Douro
e Minho , e Traz os Montes , da qual em ſeu lugar
faremos mençao. Mas he certo que viveo muitos
annos ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. - 87
annoś, e que nelles ſe vio rico , poderoſo , reſpeita .
do, e cheyo de felicidades, porque vio a ſeus filhos
com grandes Eſtados, ſua filha D . Iſabel Infanta de
Portugal , ſua neta Rainha de Caſtella com dous
filhos , o Infante D . Affonſo , e a Infanta D . Iſabel ,
que depois veyo a fer Rainha de Caſtella.
Foy fepultado na Igreja Matriz da dita Villa ,
onde ſe lhe poz o ſeguinte Epitafio :
Aqui foy ſepultado o Duque D . Affon
so , filho delRey D . Fodo de boa memoria. ,
Neſte lugar eſteve até o tempo , que o Cons
vento de S. Franciſco da meſma Villa paſſou dos
Religioſos Obſervantes para os da Reforma da
Provincia da Piedade, para onde a Sereniſſima Se
nhora D . Catharina, mulher do Duque D .Joao I.
fez trasladar ſeus offos para humamagnifica fepultu .
ra, que levantou na Capella môr da parte do Euan - livChroñ , da Piedade,
, 2. cap. 8 .
gelho ; e depois namudança do dito Convento para
a em que hoje exiſte , (a que deraõ principio no anno
de1637 ) forað os oſſos do Duque outra vez trasla .
dados , e poſtos na Capella môr da meſma parte ,
que na Igreja antiga , onde tem eſte breve Epitafio :
7
W
A
Debrief
CAPITULO II.
Da Infanta D . Iſabel, mulher do Infante
D . Joao.
Oy unica filha , e o primeiro
NA fruto da uniao do Senhor D .
Affonſo , e de ſua primeira mu
lher a Condeſſa D . Brites Pe
reira. A natureza a dotou Roman , Hiſtoria da
de ſingular fermoſura , admira - Cala de Bragança ,
parte 3 . cap. 3•
gruoceA f. vel prudencia , e ſumma bon
dade. O Condeſtavel ſeu avô a amou muito , e
aſſim quando renunciou o Mundo , e repartio os
ſeus bens, lhe fez doaçao das terras de Louſada, Pais
va, Tendaes, Villa de Almada, e rendas que tinha
em Loulé no Reyno do Algarve. Caſou com ſeu
tio o Infante D . Joao , a quem ſobreviveo largos an .
nos ,
100 Hiſtoria Genealogica
nos, e o deſejo , e ſaudade de ver a Rainha D . Ila
bel ſua filha a levou a Caſtella , e eſtando na Villa
de Arevalo morreo a 26 de Outubro do anno de
1465 , e neſta Villa foy depoſitada. A ſua Real
poſteridade deixamos eſcrita no Cap . V . do Liv.III .
aonde ſe pode ver a fecundidade deſte eſclarecido
conſorcio , com o qual os Reys quizeraõ exaltar a
Sereniſſima Caſa de Bragança, elevando-a deſde o
ſeu principio com Reaes alianças , tað felizmente
conſeguidas , que por ellas ſe diffundio o ſeu ſangue
nos mais poderoſos Monarchas da Europa , co
mo ſe vê deſte , e de outros caſamentos , que em
ſeus proprios lugares eſcrevemos: de ſorte , que ape
nas acharemos na Hiſtoria Soberano , que naõ def
cenda deſta grande Cala , em que os noſſosReys ca .
ſarað leus filhos. Eſtas repetidas alianças dos Du
ques com a Caſa Real, em que ſe renovava ) os pa
renteſcos, e o grao muy propinquo , em que eſtava)
com a Coroa de Caſtella , e outras Coroas , e Prin .
cipes, lhe conciliou ſempre hum tal reſpeito , que ſe
fez eſta Sereniſſima Caſa diſtincta de todas as que
nað lograrao o caracter da Soberania , tendo tanto de
Real no ſangue , como no que ſe lhe divilava no
trato da ſua Caſa , e na attençaõ dos Reys, como
ſe irá vendo no diſcurſo deſte Livro .
CAPI
IOI
SI
<
CAPITULO III.
Do Senhor D . Fernando I. Duque
de Bragança.
ΜυY
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 109
1. Tom .y . , e Muito
120 : Hiſtoria Genealogica i
Muito honradoConde ſobrinho amigo o Infante D .Pe.
dro vos envio muito faudar como aquelle que
muito amo, e a quem queria que Deos
defe boā , é honrada vida.
„ Por quanto vos fois vindo a eſtes Regnos
„ per mandado delRey meu Senhor do que amim
, muito praz , porque ſegundo ho que de vos ſem .
„ pre conheçi, e conheço , e ſe de vos eſpera , lom
„ muito certo que aconſelhareis ao dito Senhor
„ aquelo que ſaamente entenderdes por honra de
,, fua peſſoa, e eſtado ,bem , e proveito de ſeus Reg .
„ nos, e naturaes delles: ho que a tal tempo bem
„ ſentireis . . . . aſas neceſſario , e porque ſej que
„ neſtes feitos , muitos vos farao enformaçoens de
», deſvairadas maneiras ſegundo as paixoens que a
„ cada huũ ſeguem : huns vos quereraõ moſtrar que
„ as couſas que contra mjm fað feitas , e ſe fazem ,
„ nað forað , nem fað feitas fem terem cauſa pera
„ aſi ſerem ordenadas : e outros por cuidarem que
„ por ſuas fallas palavras vos hañ de converter , a
„ vos fazerem entender que ſuas obras forað tacs
„, como devia ) , e por deſejarem o ſerviço delRey
„ meu Síor: e que contra mjm nom tem culpa al.
„ guma : moſtrando que minhas culpas forað , e fab
» taes que juſtamentehe feito contra mjm ho que aſi
„, fizerom e tambem outros por cuidarem que me
„ eículavað vos diria ) alguás couſas, nao aſi como
. pafarao ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 121
, paſarað , por tanto conſydrei: ainda que minhas
w obras dem de mim afas teſtemunho a aquelles que
„ dellas verdadeiramente , e com ſaam vontade que.
„ rem ſer em perfeito conhecimento , de vos eſcrever
„ aqui declaradamente, e contar verdade pera vos
„ la enformaçao.
„ Muito honrado , e muito amigo ſobrinho .
„ O fundamento e proſeguimento deſtes feitos, e
„ ho que por mim , e contra mim he obrado : ro .
„ guandovos como ſobrinho amiguo em que hei
„ grande confiança que eſguardeis bem todo uſando
„ de vofa acuſtumada bondade , e liberdade em di
„ reitamente aconſelhar : ſejaes aviſado que vos nað
, mudem por favor, ou temor de voſo juſto propo
„ fito , e boom nome que ſempre tiveſtes: e obrai
„ acerqua deſtes feitos com todo bom , e proveitoſo
„ remedio ſegundo virdes que he compridoiro , e
„ ſerviço de Deos , e delRey meu Senhor, e de ſua
„ peſſoa , eſtado , bem , e provimento de ſeus Reg.
„ nos, e boā paz , e aluſeguo delles.
„ Nao curo de fazer aquimençao dos feitos do
9 comeſo demeu Regimento , e de como meouve
„ em elle : e aſi em a criaçao delRey meu Sñor ,
„ e de ſeus Irmãos e em apuēça de ſeus Rejnos :
„mantendo-os em juſtiça ho melhor que podia : e
», ſegundo a calidade, e neçefidade dos tempo , e co
» mo apuencia de ſua fazenda poſpoendo todo meu
w intereſe, e proveito , porque de todas eſtas couſas
» aveis comprida enformacao aſas feria ſobejo eſcre
Tom . y . Qii » Vervo
122 Hiſtoria Genealogica
„ vervolo : e prouveſe a Deos que todos os do
„ Reyno em ſpecial ElRey meu Síor ouveſe aſi
„ comprido conhecimento demeus ſerviços, e tra
„ balho como vos aveis : eu ſeria alaz contente , e
„,bem creo quemenað dariam ho galarda) queme
„,dao.
„ E de aſim eu ter o dito Regimento ſegun
»; do bem ſabeis : alguem nað eraõ contentes : os
„,huns com enveja , outros por ſe nað fazer delles
„,comprimento de direito , e juſtiça : ainda que afaz
„ claro he que ſe nað faria delles alj comprimento
„, como era reza) : e ſegundo o requeria ) ſeus feitos:
„ por eu mais nao poder : pelo qual menao tinhao
„ boa vontade; e poſto que demjm recebeſem mera
„, ces, eacreſentamentos de honras , e dignidades afaz
„ me forað , e fað ingratos: buſcando, e procurando
„ contra mim quanto mal , e quanta deshonra pude
„ ram nomodo que ſe ſegue , e em outrasmaneiras.
„ Primeiramente buſcarað todalas partes que
„ puderað fazendo antre ſi contradiçoens, e tratos
„,comome foſſe tirado o dito Regimento , e porque
» com verdade contra mim nao podia ) : trabalha
„ rað ſempre mentiras , e falſos teſtemunhos como
„ poriaõ antre EIR ey meu Sñor, emjm alguă devi.
„, fað , e ſoſpeita , em tanto que fizera ) entendente a
„ EIR ey meu Senhor que eu nunqua lhe avia den
„ treguar ho Regimento de ſeus Regnos , e que
„ ſempre ho avia de trazer em meu poder: aleguan
„ dolhe por teſtemunhos colorados como melhor
w podiao
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 123
»» podiaõ alguās palavras que deſiaõ que eu diſera :
„ porque moſtrava nao ter detreminaçaõ de lhe ho
„ dito Regimento entreguar // - Ha verdade diſto
„ he : porque eu avia certo que algūs andavao na
„ quelles tratos eu dezia per vezes aſi como alguā
„ ves em Evora que eu ſabia bem parte dos ditos
„ tratos em que alguns aſi andava) , mas que eu ti.
„ nha o Regimento da mao delRey meu Senhor,
„ e que quando elle quizeſſe eu lho leixaria livre.
9 mente com muy boa vontade , mas que pelo da
,, quellas que nos ditos trautos andavao que ho nað
„ leixaria : e elles afirmara ) que eu dezia : que por
„ couſa que foſe que nunca ho leixaria : e aſi como
„ iſto aſi retorçiam qualquer couſa que eu dezia , ou
„, fazia aderençava) a ſeu maao propoſito : por fa
„ zerem entender ao dito Senhor que aquella era mi.
„ nha entençað.
„ Tanto continuarað efto os que aſi me deſa
„ mava) per fi, e ſeusmeniſtros, e aderentes, que fi.
„ zera) com o dito Senhor que me requereſe o dito
„ Regimento , e foi antre elle , e mim concertado
„ que pera o mes doutubro que ora paſſou : que en .
„ tað era por vir : elle tomaſe ſua molher , e caza ,
„ e que eu lhe entreguaſe entonçe ho dito Regi
„ mento com aquellas feſtas, e ſolenidades que em
„ tal caſo ſerequeria : e para ſe averem de fazer as
»,ditas feſtas: mandara o dito Senhor por muitos
„ panos douro , e ſeda com muitos outros guarni
mentos, e couſas pera taes feſtas neceſlarias.
» Os
24 Hiſtoria Genealogica si
: „ Os que andavað em os ditos tratos : ainda
„ que deſto aviao conhecimento nao quizeraõ ſer
„ contentes que com honra do dito Senhor , e mi
„ nha eu ouveſſe de deixar o dito Regimento : an
„ tes em Santarem tanto ho ouveram de ſeguir com
„ ſuas palavras, e afincados requerimentos, dando
„ lhe a entender que nao devia de fiar de mim em
„ nenhuă maneira en tanto que porque o nao pode.
„, rað mover a ſeu propofito : que lhe diſe o Arçbio
„ de Lixboa que aſi era vindo pera os ditos tratos,
„ que a elle era neceſſario tomar loguo leu Regi
„ mento porque ainda que elle quizele que eu rege
„ fe : que o Duque voſo Padre, e o Conde Dourem
„ voſo Irma) , e elle , e outros alguns ho nao con
,, ſentiria) : e como iſto diſe ao dito Senhor afi lhe
„,diſſe outras couſas que contra mjm , e meu eſta
„ do, e honra tinhaõ tratadas.
„ Tambem as diſe a outros alguns quemas lo .
„ guo diſeram : e porque o dito Arcebiſpo declarara
„ as couſas que contra mim tinha contratadas: e eu
„ quiſera proceder contra elle como he rezao, e en .
„ tonçe eſcrevi a alguās Cidades como elle aquillo
„, dezia que tinha tratado contra mjm ſegundo mais
„, compridamente pello trelado da dita Carta que
„ vos no preſente envio vereis 11 - Em talmaneira
„ combaterað o dito Sñor queho ouveraam demu
„ dar de ſeu propoſito , e lhe fizeram entender que
„ devia de ter em mjm ſoſpeita : e quenaõ devia de
» confiar de mim : e o dito Senhor por ſuas impor
„ tunida
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 125
, tunidades , e continuados requerimentos ouve de
, conſentir ao que lhe requerera) .
„ Hum dia diſeme que a ſua vontade era de
,, reger ſeus Regnos , e que lhe prazia de lhe en
„ treguar ho Regimento que delle tinha : e vendo
„, feu requerimento como quer que bem conheçeſ
„ fe que era fundado de novo conſelho , e nao com
„ aquele reſguardo que acerqua deminha honra ſe
», devia ter como aquele que de muj leal , e verda.
„ deiro amor ho ſempre amei, lhe reſpondi que era
„ muito ledo de comprir ſeu requerimento , e que
„ loguo ſeria preſtes de lho entreguar.
„ Vendo ho requerimento do dito Senhor, e
, como era aſi de ſoſpeita , e contra ho que comi
„ guo tinha tratado : e ſabendo que alguns lhe fa
„, zia ) eſto aſi requerer : e que nað lhes prazia de ſe
„ comprir ho caſamento dantre o dito Senhor , e a
„ Rainha minha filha pedilhe por merce que pois
», aſi lhe aprazia deme antecipar o tempo das feſtas
„ de feu caſamento que lhe aprouveſe caſar , e reçe .
og ber leu Regimento ho qual lhe entreguaria tao pa.
„ cifico , e em tal maneira que ajudando ho Deos
„ nað tinha outro trabalho ſalvo manter ſeus Reg .
» nos em juſtiça , e direiro , e elle me outorgou que
„ lhe prazia .
„ E depoes deſto nað ſendo deſto contentes fi.
„ zeraõ ho dito Senhor mudar deſte propoſito fa .
w zendolhe ter muj grande ſoſpeita , e que todavia
„ nað caſaſe ate que primeiro lhe nað entreguaſe o
w dito
126 Hiſtoria Genealogica
», dito Regimento ſobre o qual foi alguã pequena
„ de deferença .
: „ Vendo eu como iſto afi andava: como aquel.
„, le que de cautella de malicia , ou enguano nunqua
„ uſei: diſſe que pois lhe aſiprazia que era delo mui.
„ to contente : e entao pus em ſuas mãos ho dito
„ Regimento ante que lhe fizeſſem fuas bençoēs ſem
„, cautela, ou condiçað alguma.
„ E ſendo aſi o dito Senhor entregue do dito
„ Regimento , os que procurava) que o leixaſe : lo .
» guo comeſara ) de moſtrar ho fim porque o fa
w ziam .
„ Loguo o Duquemeu Irmao voſo Padre trafi
„ montado aſi como ſe ouveſe de fazer alguá gran
„ de cavalguada : ſe veo de Chaves à Cidade do
„ Porto: tendo ja em ella homens darmas eſcondidos:
„ lançando fora della muj deshonradamente os meus
„ que hi fe viram aſi como ſe foſē malfeitores: e el
„ to meſmo mandou fazer em Guimaraes, e em Pon
„ te de Lima derribando as Cazas de Lionel de Li
„ ma por ſer meu ſervidor : aſi como ſe foſem de tre
„ dor .
: „ E quando os lançavað fora das Villas: cha
„ mavaõlhe tredores, velando, e roldando asVillas,
„ e Caſtellos ſem cauza , e ſem rezaõ : aſi como ſe
„ tiveſem imiguos no Reyno .
: „ Mandoume eſo meſmo prender Joao Soares
„ de Pajva meu Cavalleiro levandolhe afaz deshon
„ radamente porque dezia ) que retiyera hum dia
„ hum ſeu moço deftribeira. „ O
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 129
1.- „ Conde Dourem voſo Irmaõ com ſeus ade.
„ rentes teve pratica de Caſtella em tal guiſa que
„, fez ElRey meu Señor que lhe foy falar a Torres
„ novas: e ali fizeraõ ſeus Conſelhos ſegundo ja ti
„ nhaó praticado : dando a entender ao dito Sñor
„ que ho queria todavia trazer em meu poder ainda
„ que elle nom quizeſſe : e outras coufas afaz desho .
„ neſtas : conſelhando. E aſi foy por elle detremi,
„,nado que nao tornaſem a Santarem onde ficava a
„ Senhora Raynha, e toda ſuaCorte ; e quando nað
„ pudera ) com elle acabar que ho fizeſe , fizerom
„ que lhes prometeſe que como cheguale a Santa
„ rem que loguo memandaſe que em o outro dia
„ me fahiſe de lua Corte .
„ Crendo que eu faria acerqua delo alguã re
„ ſiſtencia: fizeraõ loguo vir eſcondidamente os Va
„ ſalos de Torres-novas armados aquela noite a San .
» tarem : e tambem fizerað vir alguns do termo de
„ Santarem , e doutra partes: e ſendo eu bem certo
„, do que o dito Senhor trazia ordenado de Torres
„ novas antes quemo elle mandale , eu lhe pedi li.
9 cença pera me vir pera minhas terras: o qual me
,,outorgou tem outra reſiſtencia por ho aſi trazer
,, determinado quemo havia de mandar.
„ Porque ao tempo que ElRey meu Senhor
„ cumprio os quatorze annos , e lhe entreguei nas
„ Cortes de Lixboa ſeu Regimento , elle me deu
„ liuma Carta per que aprovava todo ho que eu por
„ elle em ſeu nome fizera em ſeusRegnos , e quan
Tom . V . R 19 do
128 . Hiſtoria Genealogica
,, do lhe entreguei ho dito Regimento elle me diſle
,, em Santarem que me queria dar outra tal Carta
„ doutorgua , e aprovaçað : ha qual feita elle teve
,, em ſeu poder bem dez dias : e ella examinada , e
„ avido ſobre iſſo feu Conſelho a aſinou , e aſelou :
„ prometendo em ella por ſua fee Reall queavia to .
„ do por firme ho que por mim feito era |- Segun .
„ do mais compridamente vereis pelo trelado della
„ que na preſente vos envio .
„ Vendo eu como os ditos feitos afi mal co
„ meçavað , e como ali viera aquella gente armada :
„ e como o Conde voſo Irmað ſe fizera preſtes com
„ armas : e velava Ourem , e Porto de Mos : eu
„ mandei rçeber algunsmeus pera ho dia de minha
» partida pera averem de hir comiguo : e aſi per eſta
„ guiſa , e com eſte gualarda) parti da Corte do di
„ to Senhor, e loguo de Tomar mandeitornar aquel.
, la gente que comiguo vinha , e vindo-a a quem de
„ Tomar ouve húa Carta por que me certificavao
„ que o Duq voſo Padre pafava poderofamente per
„,minhas terras : e que mandava que a certo dia lhe
„ tiveſem preſtes de jantar em Avellaās : pelo qual
„,eu mandei aviſar alguns meus que ſe vieſem pera
„ mjm porque lhe queria contrariar ha palajem per
„ ſemelhante maneira , e loguo naquelle meſmo dia
„ fui certificado que nao era atj: pelo qual loguo el.
, crevi aos que mandara chamar que nao vieſlem :
„ em tanto que alguns ouverao primeiro as Cartas
„ que nað vieſem , que as do chamamento .
„ Como
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 129
„ Como eu fui fora da Corte do dito Senhor
», loguo ſe vieraõ a ella voſo Irma) , e o Conde D .
„ Sancho , e o Arcebiſpo de Lixboa, e outros algus
„ de ſua valia : e começara ) de moſtrar per obra a
„ cauſa per que ſemovera) a eſto procurar : a qual
„ he por ſeu intereſe , e deſtruiçaõ minha , e dos
„ meus em quanto podem .
„ Fizera ) loguo com ElRey meu Senhor que
„mandaſe que nenhum nað fole a meu chamado: e
„ poſto que o mandado foſe geral: nað ſe pubricava
„ ſe nað onde avia alguūsmeus: e bem ſe moſtra
,,que o dito mandado ſe entendia ſoomente em
„ mjmn : porque inda que alguns folem pera outros
„ Senhores, nað lho reprendiam ,nem lhe fazia ) nojo
„ algum por elo : e com osmeus ſe praticava mui
„ to pelo contrario .
„ Por eu nað aver alguāsarmas deLisboa que
, me eraõ neceſſarias defenderam que nað tiralem ar
,,mas alguás da dita Cidade, e que as nað vendelem :
,,eſta defeſa avia loguar em mim , e nosmeus: e nað
„ nos outros : porque outros livremente compra
„ vað , e compraõ as armas , e as trazem , e levao
» porhonde lhes praz ſem lhes ſer contradito; e por
», que dous eſcudeiros de minha Caza fem hos arne
„ ſes da dita Cidade ouvera) loguo lhos tomara ) ,
„ e foram dados aſi como ſe forað tonados a imi
» guos.
„ Des que os fobreditos forað na Corte afir
9 mando ſeo mao propoſito conſelhara) a ElRey
Tom . V . Rü » meu
130 Hiſtoria Genealogica .
,,meu Senhor , e lhe derað , e lhe fizerað tomar tan .
2
„, ta ſoſpeita contra mim , e contra os meus, que
„ lhe diſeraõ que nao tinha remedio , ſe nað tirar to .
st
,, dolos oficios que os meus tinha) em ſua Corte ,
&
w e em feus Regnos , e forað loguo lançados fora
„, dos oficios os meus criados que andavam em ſua
2
„ Caza : e eſto com afaz , e muita infamia delles : e
&
,,aſi pelo conſeguinte foi feito aos outros meus cria
„ dos por todo o Regno.
„ Continuando o Duğ voſo Pay no que co
, meçou : fes tirar todos os oficios das Cidades , e
„ Villas dantre Douro, e Minho : e poer outros de
„ novo ſeus Criados: e eſto por hum feu Correge
„ dor que fes hir a aquella Comarca : e fes çerrar
„ portas , e poſtiguos das ditas Cidades , e Villas :
„, velando-as , e roldando-as aſi como ſe foſe em
„ guerra com Caſtella : e eſto todo a fim de darem
„ a entender ao dito Sñor que todo eſto ſe fazia por
„ ſeu ſerviço , e porque elle tomaſe de mim ſoſpei
„ ta //- Velando-ſe elles aſi , e roldando fizerao
„ com o dito Senhor quemandale Cartas a todas as
„ Villas minhas , e que ſe nað velaſem , nem foſem
„ a meus chamados: e poſto que as ditas Cartas fo
„ fem ao Porto , ou a outros luguares nað curavao
„ dellas , e nao ceſſavao de fazer todo o contrairo
„ que manifeſtamente ſemoſtrava que todo era por
„, elles praticado : e a defeſa era poſta ſomente a
„ mjm , e aos meus.
„ Continuando os ſobreditos em ſeu mao pro
, polito ,
· da Caſa Real Portug. Liv. VI. 131
poſito , e tençao : fizeraõ contra certos meosCria .
„ dos , e ſervidores tirar inquiriçoens , e devaſlas :
„ perguntando couſas da Raynha D . Lianor aſaz
» bem deſcuzar porque alem de ho fazerem contra
„ osmeus : faziam em elo pouco ſerviço ao dito Se.
„ nhor , e ſe bem conſiderado foſe , ante lhe faziam
„ grande desſerviço .
„ E nadendo de mal em pior aſi fizeraõ deva
„ far contra mjm perguntando ſe ſabia quem fizera
„ a peçonha com que matara) ElRey D . Duarte ,
„ e o Infante Dó Joað meusIrmãos, e a Raynha D .
„ Lianor efto todo contra mjm : e des hi pergunta
„ vað outras couſas ſegundo ſuas danadas, e corrup
„ tas entençoens: ordenarað pera elo Enqueredores,
„ e ofiçiaes , notoriamente a mim , e aosmeus ſol
„ peitos, e imiguos.
. „ Nao ſe pode neguar que grande parte das
», teſtemunhas eraõ induzidas, e peitadas pellos que
„, as apreſentava) : e praticando todo com ellas ho
„ que aviam de dizer : e parte delas eram imiguas,
„ e ſoſpeitas, e outras dezia ) ho que lhes mandavao
„ com medo .
„ Quando o Infante D . Anrique meu muito
,, amado, e prezado Irma) chegou aa Corte onde
„ hi achou as inquiriçoens ter a ElReymeu Senhor
,,e leram por elas alguã couſa eſtando de preſente o
„ Camello que era Enqueredor : ElRey lhe diſe que
„,nað mandara tirar inquiriçoens ſobre os feitos paf.
„, ſados : dizendo ameu Irmao que das ditas inqui
wriçoens
132 Hiſtoria Genealogica
is, riçoens nunca curaria , nem proçederia por elas
,,contra alguã peſſoa , e aſi tambem ho enviou die
z, zer a mim .
„ Depois lhe fizeraõ fazer ho contrairo : porque
9 por elas prenderað muitos outros que por temor
„ delas andavao afugentados : e parte dos que forað
- preſos ſao julguados pelo Doctor Ruy Fernandes
„, ſendo ſeu imiguo capital : e aſi podereis por eſto
, conheçer com que zelo , e tençao procuravao que
,, ElRey ouveſe ſeu Regimento .
. „ Nao contentes ainda deſto : ordenarað que
„ ElRey meu Senhor reprovaſe , e anulaſe amayor
„ parte das couſas per mim feitas fazendolhe per
„,muitas vezes quebrantar ſua fee Real: ſuas Car
„ tas ſinaes , e felos, nað ſoomente na Carta que a
„ mim deu em que tudo aprovou : mas em outras
„ muitas em ſpecial aſi como no oficio Dayres Guo
„ mes, e de Lopo Affonſo os quaes lhes deo por
», ſuas Cartas aſinadas per ele , e aſeladas de ſeu ſe
„, lo depois que ſeu Regimento teve , e fizeranlhes
„ quebrar.
„ Continuando em ſuas boas praticas dera ) a
„ entender ao dito Senhor quetodos os que em meu
„ tempo fora) condenados com os bens confifcados
, por alguns maleficios que cometerað , que todo
„, foi injuſtamente , e ordenarað huma nova pratica,
we novo direito nað ſendo os poſuintes citados ,
„ nem ouvidos : e poſto que ho folem quanto cada
,,hum pedia tanto lhe julguava) : eles eram os pedi
- dores ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 133
,,dores, e as teſtemunhas de como fe avia em elo o
„ Juiz que para eſto ordenarað : que he craro nao
„ hej porque o dizer nam dando luguar a algum que
„ refertaſe ſeu direito : fazendo contra elles, e ſeus
„,bens execuçõens muj deſordenadas.
„ Ordenarað outrolj que ElRey meu Senhor
„ mandaſe ſecretamente a alguns fidalguos que fac
„ biaõ que meus amiguos verdadeiros eraõ : que me
„,nað vieſem ver , nem falar : poſto que osmanda
„, ſe chamar : fizeraõ com o dito Senhor que me de.
„ gradaſe que nað entraſe na Corte fem ſeu ſpecial
„ mandado.
: „ Depois deſto ordenarað huma forma de con .
„, cordia antre mim , e o Duq voſo Padre : a qual
„ me ElRey meu Senhor mandou aſinada per 1j: e
», aſelada do ſeu ſelo : e mandou com ella a mjm , e
„ ao Duq que poſpoſto o odio , e maa vontade
„, que foſemos amiguos.
„ Vos crede verdadeiramente que eles ſe nað
„ movera ) a ordenar a concordia na forma em que
„, vinha com boa entençao : nem tinhao tam boa
„ vontade de ſermos concordados como ho eu ti
„,nha : ſoomente por me tentar, e tomarem acha.
» que contra mim .
„ Pera eſto nað acharaõ quem enviar fobrelo :
„,ſenaõ D . Fernando , e Ruy Galvam que me def
„ amavao : e porque eu aquelo ſoube , eſcrevi a El
9,Rey meu Senhor pedindolhe de merce que nað
» mandale a mjm ſemelhantes homens: que ainda
99 que
134 Hiſtoria Genealogica
„ que eu fizeſe todo o bem do mundo : eles ho re
„ putariað ſempre pelo contrairo : e o dito Senhor
„ nao quis mudar ſeu propoſito .
„ Foime por eles apreſentada a dita concordia ,
„ e outorgueya , e afirmeya ſegundo mefoi manda.
„ do : e ho que eu reçeava dos ditos Embaixadores
„,bem ſe moſtrou por obra des que tornarað aa Cor
w te.
„ Por vos conhecerdes a entençaõ como ſe
9,ordenava a dita concordia : em partindo os ditos
„, Embaixadores pera vir a nos, tinham eſcritas Car
„, tas de percebimentos aos fidalguos alcájdes dos
„ Caſtelos vaſalos, e beſtejros que eſtiveſem per
„ Çebidos com armas, e cavalos pera guerra : e efto
„ nao eſcreveraõ amjm , nem a meu filho :mādarað
„ velar eſo meſmo caſtelos , e Villas. .
„ Entendendo eu , e crendo que por obedecer,
„ e me ſometer a todo o queme o dito Senhorman .
„ dava : ainda que foſe com grande abatimento de
„,minha honra por ele aver por ſerviço de Deos , e
„, feu , e bens de ſeusRegnos eſtes movimentos ce
„ faria ) : e os danos averiaõ algum repairo , e em
„ menda: e ſegundo ho que vejo , e ſe cada dia mais
„, faz : parece que por aſi ſermos concordados: que
„ nað ouve ahi afeſeguo : em tal maneira que o dito
„ Senhor me mandou per Diogo da Sylveira huma
„ crença com hum eſcrito aſinado per ſua mao : de
„, tantas innovaçoēs acerca de mim que nað ſei ho
„ mem que me veja (tirando de fi toda afeiçao) que
9 nao
da Caſa Real Portúg. Liv.Vi. 135
,,nað aja por grande mal, taes couſas me ſerem
„ mandadas nam eſguardando a peſſoa que ſam : e
who que com muita rezao me deve ſer guardado :
„ que ſe ho guardaſem , nað medegradaria) , ou de
,,fenderiaõ que nað fahiſe das minhas terras : ſegun.
y do mais compridamente vereis pelo trelado da di
„ ta Carta , e repoſta que ſobre elo dej, e vos ja en
„,viei.
„ Fazem eſomeſmo com ElRey quemandem
,,aos fidalguos que vem de ſua Corte : ainda que
„, tenha comiguo afeiçaõ : que poſto que venhao
„ per acerqua donde eu eſtou que me nað falem .
„ Nað vos faço aqui mençao das praticas , e
„,deferenças, e modos nao acuſtumados em Portu
„ gal que ſe tem na Corte: e aſi em ſeus Conſelhos,
, e Conſelheiros: e em todos os outros feitos aſi da
„,fazenda , como da juſtiça : porque pois em eſta
,, terra fois : a Deos muitos louvores : e fois muito
„ ſeſudo , e diſcreto , conhecereis bem todo, e quan .
„ to he ſerviço de Deos, e delRey, e de feus Reg
„ nos.
„ Continuando outroſ em ſuas boas obras por
,,mefazerem deshonra tirarað ho Caſtelo de Lixboa
,,ao Conde Dabranches: ho qual ſe tinha feitos ſer
„ viços a eſtes Reynos , e aos Reys deles perque
9, lhe eſto deveſe de ſer feito vosho fabeis : deramlhe
» por eles em ſpecial pelo que aguora fez em Cepta,
» ho gualardaõ que dão a mjm de meus ſerviços, e
„ trabalhos.
Tom .V . 2,Por
136 Hiſtoria Genealogica "
„ Por confirmaçao de ſua boa vontade o Con :
„,de Douré voſo Irmað requereo aguora a ElRey
,, noſo Senhor preſente os do meu Conſelho que lhe
„ deſe ho oficio do Condeſtabrado demeu filho di.
„ zendo que lhe pertencia : e o dito Senhor ho pos
„ em Conſelho para aver de ſe reſponder ao dito re .
- querimento .
„ Muito honrado ſobrinho Conde amiguo : ho
„ que principalmente danou eſtes feitos he quererem
„ em eſtes Regnos uſar das praticas de Caſtela , e to .
„ dos por ſeu proveito : e por cada hum levar ha fua
„, enxavata : e Portugual ſegundo bem ſabeis nað he
„ pera ſoportar iſto : e ſe eſta pratica vai adiante ſe .
„ gundo ſe ora começa nunca creo que ſeja muito
„ ſerviço , nem delRey meu Senhor , nem de leus
,, Regnos.
„ Porque em eſtes feitos andað pelos levarem
„ adiante trabalharað , e trabalhao quanto podem por
„ poerem deviſa) antre ElRey meu Senhor, e mjm :
„, fazendolhe que tome demim alguás ſoſpeitas por
„ eles por eſta guiſa averem , e fazerem ho que qui
„ zerem : e tantas forað ſuas fotis praticas em elo
„ com afincados, e continuados requerimentos: que
„ por força fazem mudar ho dito Senhor de ſua boa
„ natureza : e ho inclinaõ a feu propoſito : e o pior
„ que he porque o nao podem mover com verdade
„ aſacaūme quantos fallos teſtemunhos podem : e
„ em tal maneira os afirmað : que por força lhe fa .
„ zem crête ho que querem : e ho mal que he poſto
1. que
da Caſa Real Portug . Liv. VI. 137
„ que alguns ſejaõ comprendidos em elles: nað lhes
„ dað eſcramento algum .
„ Por eſta guila ſe afirma que eu tomara ho
„ Porto , que acalmava Caftelos , e fortalezas, e
9 mandava por gente a Caſtela contra ſeu ſerviço ,
„ e que meu filho tomara Moura , e Serpa: e que
„, fazemos , e dizemos outras muitas couſas em feu
„,deſſerviço : as quaes lao muj grandesmintiras : e
„ porque eſtes que eſtas couſas alaca) : fað bem ou
„ vidos , e lhes fazem merces nað ha remedio que
„, ceſem eftes dannos fe Deos nao provee de reme.
„ dio por ſua miſericordia .
„ Sentindo eu muj amiguo fobrinho como eſtes
,,hiaõ mal encaminhados : trabalheime per muitas
„, vezes de enviar a ElRey meu Senhor meſſageiro
„ com minhas crenças, e eſcrevendolhe Cartas: no
„ tificandolhe compridamente todas as couſas que
„ ſentia por ſerviço de Deos , e ſeu bem , e aſeſle
„ guo de feus Reynos eſcufandome do que contra
„ mjm lhe deziao : juſtificandome aſi ao bem de
„,Deos como ao do mundo quanto pude : e pedin
„, dolhe por merce que lhe prouvefe pacificar fua
„ vontade : e naõ obraſe acerqua demim : e dosmeus
„, contra reza) : afirmandolhe quanto era ſeu leal ſer
.,vidor, e como nað tinha quem tað verdadeiramen
.., te ho amaſe como eu : nem quem tað grandemen
9 te , e tað lealmente o ſerviſe : aleguandolhe pera
„ elo as cauſas que me pareciaõ ſer compridoiras:
, e com todas minhas abaſtanças , e fobeja pacien.
.. Tom . V . S ij 29 çia .
138 . Hiſtoria Genealogica " .
1
„ çia. Vejo pouco proveito , nem repairo a eſtes
„ Regnos , e ho pior que he que nað vejo conſtan
„ çia , nem firmeza em couſa que ſe faça: digua, ou
„ prometa : e nað loomente no que ſe diz , e pro .
„ mete aos pequenos , mas no que ſe promete aos
,,mayores: nao curo de vos elcrever os exemplos
,, delo , porque claramente os fabereis ali em Corte ,
„ como fora della.
„ Muito honrado, e muito amado ſobrinho
» por me crarificar : e mais juſtificar com ElRey
„ meu Senhor porque elle me eſcreveo per ſua mao
„ per o meu Confeſor que a elle enviej: que ſe eu
„ me quiſeſe emendar que tudo fe faria como eu qui
„ zeſſe : e eu lhe enviej pedir por merce que decia
„ raſſe que era ho que queria que fizeſe : e do que
„ queria que me guardaſe , e que todo o que convie
„ ſe fazer a homem demeu eſtado que eu ho faria :
„ a eſto nað reſpondeo couſa algua : e diſto vos ro
„ guo em ſpecial que me ajaes repoſta do dito Se
„ nhor.
„ Muito amado fobrinho eſcrevivos ali breve.
„ mente eſtas couſas como paſarað para voſa enfor
„ maçao como dito he , e por laberdes ha minha
„ vontade ha qual ſem duvida he dezejar repouſſo ,
„ e aſeleguo dos trabalhos que tenho paſſados por
,, terviço delRey meu Senhor lº ſe mo quiſerem
„ dar : e bem deveis de crer quem tanto trabalhou
„ por aleleguo , e defenſaõ deſtes Regnos como eu ,
„ com tað pouco proveito comodelo tirei: que vos
- „ afirmo
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 139
», afirmo que des qué da Corte parti ſempre vevi
,,dempreſtado : nað devia deſejar velos em revolta ,
„ e trabalho que me muito cobiçaõ alguns: peroo
„ fe canto trabalharað por eles como ElRey meu
„ Senhor, e Padre que Deos aja , e ſeus boos,e leaes
„ ſervidores outra maneira teria ) em elo .
. „ Por concruſaõ deſte eſcrito muito amado lo
„,brinho eu vos peço , e encomendo que por a obri
-„ guaçaõ que vos deveis a Deos, a EIRey meu Se
„ nhor, e a eſta terra de vola natureza : e pello amor
„ que metendes, e eu avos : uſando de voſas vertu
„,des , bondade, e liberdade que ſempre tiveſtes em
„ aconſelhar vos praza trabalhar por boom aſeſſeguo
„ deſtes Regnos , e proveitoſo remedio delles: nom
»,conſentindo ſer enguanado por temor, ou favor ſe.
„ gundo que muitos aguora fazem : e alem de em
„, elo fazerdes ho que deveis fazer a Deos, e ao mun
„ do: e de guardardes voſa honra , e fama: ſem du
„ vida , ſede certo que avereis por elo boom gualar
„ dom de Deos: e eu dạ minha parte volo aguarde
» Çerei como he rezom . eſcrita em Coimbra a XXX .
s dias de Dezembro de 1448. annos.
Infante D . Pedro.
Entrou o Conde na Corte tao livre de parti
dos, como quem nað amava mais , que o bom no
me , e reſoluto a aconſelhar a ElRey com a verda.
de, e o que era mais conveniente ao ſeu ſerviço ,
como
140 Hiſtoria Genealogica i
como quem -tinha temor de Deos, e deſpido dosaf
fectos da natureza , porque ſe encaminha muitas ve.
zes diſſimuladamente o odio a ſer parcial das conve
niencias proprias. Oppozſelhe o Duque ſeu pay ,
e o Conde deOurem ſeu irma) tað claramente , que
de ambos experimentou disfavores , e deſabrimen
tos, que naõ devia de eſperar. Tinha ſido o Con
de chamado por ElRey , e elles eraõ os meſmos, que
lhe impedia ) as occaſioens de lhe poder fallar ; mas
o ſeu generofo animo nem por iffo defiftia da em
preza , porque chegou a repreſentar a ElRey , que
nao tinha outra pertençao mais , que a de admittir
à ſua preſença o Infante D . Pedro , para que ou
vindo os deſcargos , que dava ao que fe lhe imputa
va, podeſſe julgar qual era a fua culpa. Eſta reſo .
luçaõ do Conde de Arrayolos abonada das ſuas vir.
tudes cauſou receyo nosinimigos do Infante , e para
Prova num .47 . ſe livrarem da efficacia da ſua perſuaçao , inventarað
que os Mouros com grande poder eſtavaõ cercan
do a Praça de Ceuta , e deſta forte precifaraò a que
o Conde de Arrayolos voltaſſe fem dilaçao a meter.
ſe na Praça , para o que ElRey lhemandou paſſar
nova Patente feita em Santarem pelo Secretario
Ruy Galya7 a 2 de Março de 1449 na meſma for
ma que a outra , e juntamente por hum Alvará da
meſma data lhe deu a faculdade de prover todos os
Prova num .48. officios daquella Cidade , em que ſó lhe exceptúa
cinco , que eraõ , Juiz , Contador, Eſcrivao dosCon
tos , Almoxarife do Celleiro , e dos Armazens, que
ElRey
da Caſa Real Portug . Liv. VI. 141
ElRey reſervou para ſi ; e por humaCarta paſſada Provanum .49.
no meſmo dia lhe concedeo faculdade para dar por
Cartas ſuas ſelladas todas as caſas , terras, e heran
ças da Cidade de Ceuta, e de toda a ſua Comarca ,
que lhe foſſem dadas por ElRey até aquelle tempo ,
ou pelos Condes D . Pedro de Menezes , e D . Fer
nando de Noronha, quando governara ) a meſma
Praça. Neſte meſmo anno por huma declaraçað ,
ou Codicillo , que fez em oito de Novembro , vimos
na certeza de que ainda o Conde de Arrayolos eſta.
va neſta Cidade , da qual ſe vê tambem a piedade ,
e religiao do Conde: della conſta ter feito o ſeu Tef
tamento quando eſtava na idade mais robuſta , por
que neſte Codicillo fe remete a elle , e nelle diz , que
voltando deſta Praça a Portugal por mandado del
Rey feu Senhor ; o Infante D .Henrique lhe era de
vedor de delanove mil e trezentos e noventa e qua.
tro Eſcudos de ouro , a que tinha obrigado as ſuas Prova num .50.
terras , e bens porhumaEſcritura, que ElRey con
firmou. E conſiderando o lugar em que reſidia ,
em que erað todos os dias evidentes os perigos , e
nað podia ſaber o em que Deos o chamaria para ſi,
ordenava eſta declaraçað ao ſeu Teſtamento , e dei.
xa a ſua mulher a Condeſſa a ratificaçað deſta divi.
da dizendo: Confirando eu como a Condeſa Donna
Ihoana de Caſtro, minha molher he amiga da ſua al
ma,e verdadeira amiga da minha , e iſo meſino o grað
carrego, que lhe ficará, fallecendo eu , da criaçað de
meus filhos , e filhas; eu ordeno , e me praz , que a ella
fique
142 Hiſtoria Genealogica
fique todo aquillo , que ficar por pagar da dita divido
à ora da minha morte , & c. Foy notavel a corref
pondencia , e unia) , com que eſtes Principes vive
rað , e o amor com que ſe tratavao , porque em ou
tras muitas occaſioens moſtrou o Conde o quanto
amava , e o quanto lhe merecia a Condeſfa . Nao
foy larga a reſidencia neſta Praça , porque no anno
ſeguinte à morte do Infante D . Pedro pedio fuccef
for. ElRey nomeou o Infante D .Henrique como
Provanum .51. conſta de luma Carta original para o meſmo Con
de feita em Lisboa a 5 de Julho do anno de 1450 .
Tal era a eſtimaçao , em que eſtava o governo de
Ceuta , tal a attençaõ com o Conde , que ſó lhe
achava digno fucceſſor hum Infante, e tað grande o
goſto , com que ElRey ſe intereſſava na guerra de
Africa , que occupava as peſſoas mais conjuntas ao
Realſangue, e de mayor repreſentaçao do Reyno
para governar eſta Cidade. Nað teve effeito eſta
determinaçað , e o Conde voltou para o Reyno en
tregando o governo a D . Fernando Coutinho , Ma
richal de Portugal, peſſoa em quem concorria qua
lidade para o poſto, e valor já acreditado nos cam
pos de Africa , de que le lhe paſſou Patente a 4 de
Junho de 1451 eſtando ElRey em Santarem , e ſe
conſerva no Archivo Ducal Brigantino . Chegou
o Conde de Arrayolos ao Reyno coroado de mere
cimentos , que ElRey tanto reconhecia , que beijan .
dolhe elle a ma) , lhe repetio o que já lhe eſcrevera ,
dizendolhe o quanto eſtava ſatisfeito do bem que o
ſervira ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 143
ſervira , e repreſentandolhe a memoria , que conſer
vava dos ſerviços feitos aos Reys ſeu pay , e avô ,
e do zelo , e valor com que le empregara na guerra
de Africa , das vitorias , e proſperos ſucceſſos, com
que deixara glorioſas, e temîdas dos Mouros as ſuas
armas em Ceuta ; ſerviços tao relevantes , que já
mais poderia ) eſquecer para os remunerar nað fó na
ſua peſſoa ,mas ainda nos ſeus deſcendentes. Com
eſtas expreſſoens teſtemunhou ElRey a eſtimaçao ,
que fazia da peſſoa do Conde , porém eraõ as virtu
des tantas como os merecimentos , e aſſim a toda
eſta grande honra era acrédor o Conde , de forte ,
que por mayores que foſſem as merces , entendeo
ElRey que nao ſeria cabal o galarda) , ſe ſe nao
extendeſſe à pofteridade : na verdade , que a grati.
dað em ElRey ſoube bem remunerar neſta occaſiao
osmerecimentos do Conde , igualando-ſe aſſim a
grandeza do Rey ao deſintereſſe do Vaſſallo , que
ló ambicioſo da reputaçað ſervia por amor , e nao
por conveniencia. Recolheo-ſe o Conde aos ſeus
Eſtados , e no ultimo de Outubro de 1451 eſtava
com a Condeſſa D . Joanna de Caſtro na ſua Villa
da Vidigueira , onde paſſarað humaCarta de doaçao
a favor do Senhor D . Fernando , ſeu filho primoge
nito , em que o metiaõ de poſſe das ſuas terras de
Villarinho, e do Couto de S . Vicente , e das terras
de Riba de Vouga com todas as honras, e mais
bens , e terras patrimoniaes, que tinha) além do rio P, rova num .52.
Mondego . Neſta doaçað ſe yê a generoſidade defo "
Tom . V . te
144 Hiſtoria Genealogica
te Principe , e em outras , que tað bem fez a ſeus fi
lhos, querendo augmentarlhes as Caſas para ſe por .
tarem com a grandeza devida.
Corria já o anno de 1452 quando o Infante D .
Fernando fahio ſecretamente , e incognito do Rey
no com a idea de paſſar a Napoles a verſe com ſeu
tio ElRey D .Affonſo , e aportando em Ceuta , nao
quiz voltar a Portugal , publicando que tinha de
terminado ſervir na guerra contra os Mouros, ſen .
do Fronteiro naquella Praça ; mas ElRey a quem
nað agradou eſta reſoluçao , porque queria que o
Infante voltaſſe para Portugal, mandou ao Conde de
Arrayolos, de cujo talento tinha experiencias, que
paſtaſſe a Ceuta , o que fez com ſeus filhos D . Fer
nando , e D . Joað , e outros Fidalgos para acompa
nharem ao Infante , com quem voltou para o Rey.
no . No anno ſeguinte eſtava o Conde em Villa
Viçoſa com a Condeffa ſua mulher , e ambos de
maõ commua mandarað paſſar huma Carta feita
por Pedro Affonſo em 6 de Agoſto de 1453, em que
diziao , que tinhaŌ por ſervos , e ſervasMouros , e
Mouras , dos quaesmuitos Deos tinha allumiado , e
receberaõ a fagrada agua do Bautiſmo , pela qual fie
caraõ livres da ſogeiçaõ do demonio as ſuas almas,
mas os corpos ſegundo as Leys ſogeitos à fervidao
em filhos, netos, e mais deſcendentes; porém que.
rendo fazer niſſo ſerviço a Deos ordenavað , e man
davað , que por morte delles Condes todos os ef
cravos , que foſſem Chriſtãos,nað ſó os que de pre.
lente
da Caſa Real Portug . Liv .Vl. 145
ſente tinha) , mas os que adiante tiveſſem no ſeu ſer:
viço, foſſem libertos para ſempre, ordenando, que
ſobpena da ſua bençaõ aſſim o cumpriſſem . He Prova num .53.
bem de ponderar o cuidado com que o Conde vi
via , e o temor da morte , que trazia diante dos Prova num .54.
olhos pelos repetidos Teſtamentos , que achamos
ſeus, e ainda ſe colhe, que fizera outros, porque a
elles ſerefere, de que ſe vê o quanto vivia conforme
às obrigaçoens de Chriſta) , pois achando-ſe com
perfeita laude ordenou o ſeu Teſtamento como ſe
eſtivera no fim da vida. Nelle revoga os de mais
Teſtamentos, e nomea por ſeu herdeiro ao Senhor
D . Fernando , ſeu filho primogenito , e aos mais fi
lhos, que até aquelle tempo tiver, e os que depois
naſcerem , do que lhe pertencia , deixando por ſua
Governadora a Condeſſa ſua mulher , e por ſua
morte ao Senhor D . Fernando , os quaes nomea por
Teſtamenteiros : nelles ſe vê o amor dos filhos, o
cuidado dos criados, a piedade, e o eſcrupulo das
couſas,mais leves, a veneraçað , e amor de ſua mu.
lher , porque do remaneſcente da ſua terça , de que
faz herdeira a ſua alma, lhe deixa toda a ſua Came.
ra com todas as de mais couſas pertencentes ao ſere
viço da Caſa , e da Capella . A ſeus filhos deixa por
herança principalmente o ſerviço de Deos, e do ſeu
Rey , mandando , que ſejað amantes da juſliça , e
quetrabalhem mais por ſerem bons, que ricos. Orde
na, que o ſepultem aonde parecer a ſeus Teſtamen
teiros , e ſem pompa , nem as ceremonias , que em
b . Tom . V . Tii Portu .
146 Hiſtoria Genealogica
Portugal ſe coſtumað , e que depois de terem fatiſ
feitas todas as ſuas dividas , ſe mandem lançar pre .
goens por todas as ſuas terras para que acuda ) to.
dos aquelles , que tiverem recebido algum prejuizo,
porque tudo quer recompenſar. Nelle faz memo.
ria , como diſſe , dos dezanove mil e trezentos e no .
venta e quatro Eſcudos de ouro , que lhe devia o
Infante D . Henrique; e que ſem embargo da Eſcri.
tura ſer feita antes do Teſtamento , quer que ſe
cumpra como fica dito , e feja da Condeſſa ſua mu.
lher a quantia , quenao eſtiver cobrada. E por ou .
tra Eſcritura domeſmo Infante, em que lhe era de .
vedor de dezaſeis mil e oitenta e quatro Eſcudos
de ouro , deixa o que nao tiver cobrado ao Senhor
D . Fernando ſeu filho , por quanto elle approvara
tudo o contheudono dito Teſtamento , e que as divi
das , criados , e criadas ſe paguem do montemayor,
e tomava por obrigaçao de pagar tudo à ſua cuſta ,
em que ſe vê bem a uniao , em que vivia ) eſtes Prin .
cipes, o amor do pay , e a veneraçao do filho. Foy
feito eſte Teſtamento no Caſtello de Villa - Viçola
por Pedro Affonſo , Eſcrivao da Fazenda doConde,
em 6 de Setembro do anno de 1454. Nelle faz
mençaõ da Carta acima da liberdade dos eſcravos ,
de que ſe fizeraõ duas dehum theor para huma ef
tar em poder da Condeſſa ſua mulher, e outra no
do Senhor D . Fernando ſeu filho. Em todo o dilo
curſo da vida deſte Principe temos motivos de ade
miraçað pela Chriſtandade com que viveo, e por ſer
ornado
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 147
ornado de prudencia , valor, generoſidade, conſtan.
cia , deſintereſſe , e amor da verdade, virtudes tað
admiraveis , que o elevarað a competir com osmais
famoſos , e celebres Heroes do Mundo , fazendo tað
recommendavel a ſua memoria , que fað as acçoens
da ſua vida a idéa mais ſingular para a imitaçao de
hum perfeito Principe , como ainda ſe verá nas de
mais acçoens , que haõ de referirſe , em que os nea
gocios Politicos foraõ de grandes conſequencias ; po
rém em todos ſe moſtrou reveſtido do zelo , e au
thoridade da ſua grande peſſoa , e ſe verá , que ve.
nerava , e amava ao Principe , mas nao ſervia à li
fonja quando tratava da utilidade da Republica ,
tendo pormayor o intereſſe do Reyno em geral, do
que as merces, que ſe podiaõ ſeguir em fallar à von
tade de quem lhas podia fazer.
: No anno de 1455 fez ElRey D . Affonſo V . Prova num .55 .
merce ao Conde de Arrayolos D . Fernando , do ti
tuto de Marquez de Villa -Viçoſa , de que era Se- Affonlo
Chronica V . delRey D.
cap. 28.
nhor por Carta paſſada em Lisboa a 25 de Mayo do
dito anno. Paſſou depois no anno de 1557 à Africa
o dito Rey , e o acompanhou o Marquez de Villa .
Viçoſa com ſeus filhos D . Fernando , e D . Joað ,
que depois foy Marquez deMonte môr: com eſta
occaſia) devia de fer que o Marquez fez hum Co .
dicillo eſtando em a ſua Villa de Portel a 16 de A gof
to do anno de 1456 , que he ſomente huma declara
çað dos criados, a que nao tinha dado certa quantia Prova num .56.
para ſeu caſamento ao modo da Caſa Real, e aſſim
nomea
148 Hifforia Genealogica
nomea a todos, e as terras onde aſfiftiao , para que
foſſem ſatisfeitos, dizendo que aquelles eraõ os que
lhe lembrava) até o ultimo de Julho , em que de
via fazer eſta memoria , que depois aſlinou no dia
acima dito , e hemaishum teſtemunho da boa conf.
ciencia deſte Principe ; porque vemos que tað repe
tidas vezes a examinava para nað deixar embaraços
na morte , quando ſó buſcava a vida eterna. Suc
cedeo depoisno anno de 1460 morrer o Marquez de
Valença D . Affonſo ſeu irmao tem ſucceſſað legiti.
ma em vida do Duque D . Affonſo ſeu pay , pelo
que o Marquez de Villa -Viçola ficou lendo imme
diato ſucceſſor aos Eſtados da grande Caſa de Braa
gança , para na ſua poſteridade ſe haver de conſervar
Prova nuni.57 . o ſangue dos Reys Portuguezes. Neſte meſmo
anno em Setembro ainda era Marquez de Villa- Vi.
çoſa , o que conſta da doaçað , que o melnio Rey
lhe fez dos Caſtellos da Villa de Guimarães , Mel.
gaço , Caſtro Laboreiro , e Piconha. Succedendo
Chronica do dito Rey, depois no Ducado de Bragança a ſeu pay , o acha
cap. 33. mos acompanhando a ElRey D . Affonſo V . quan
Faria , Africa Portu «
do a 7 de Novembro do anno 1463 paſſou chegan
ca mal ſuccedida empreza de Tangere
a Afri
à ;e .
gueza, cap. 6 . num . 5. C
do a Armada combatida das tormentas com ElRey
a Ceuta , entrarað os navios quaſi deſtroçados, e o
Duque de Bragança aportou em Ceuta quaſi perdi
do , e attribuîo o falvarſe a Noſſa Senhora de Afri.
ca, a quem naquella Cidade fundou Capella o In
fance D . Henrique. Levava o Senhor D . Fernan
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 149
do ſetecentas lanças, e dousmil Infantes à ſua cufta,
porque deſta forte ſervira ) eſtes Principes aos Reys,
com as peſſoas, e com a fazenda. Achou-ſe em
todas as occaſioens daquella terrivel campanha , que
forað muitas , e muy arriſcadas as que tivera) com
osMouros, e tambem na em que morreo o esfor
çado Capitað D . Duarte de Menezes , Conde de
Vianna. Ainda ElRey eſtava em Africa ( já no
anno ſeguinte ) quando por dar goſto ao Duque , e
attender à ſua peſſoa elevou ao foro de Cidade a Prova num .58.
ſua Villa de Bragança , preeminencia que já em
tempos antigos tinha logrado ; e ſendo depois def.
povoada, te reedificou com o nome de Villa , e ago.
ra ElRey a reſtituîo à ſua antiga honra com asmef
mas prerogativas dasmais Cidades do Reyno , e vo
to em Cortes, de que ſe paſſou Carta a qual acaba
aſſim : Dante na noſſa Cidade de Ceita onde á feita
deſta eſtà noſſo arrayal a 20 dias de Fevereiro Pedro
de Alcaçova a fez anno de N . S . Jeſu Xpo de 1464 .
Tinha a Duqueza D . Conſtança por morte do Du.
que D . Affonſo ſeu marido ficado de poſſe dos Rea Provanum .59.
guengos, e rendas da Villa deGuimarães, que ad
miniſtrava por officiaes ſeus; e o Duque D .Fernan
do a conſervou na dita poſle por hum Alvará feito
na Cidade do Porto em o 1 de Agoſto do anno de
1462 com certos limites para o cumprimento delle .
No anno de 1468 ſe achava o Duque em Villa .
Viçoſa , quando na Corte com grande alvoroço fe
ouvia o Tratado , que propunha o Meſtre de San
tiago
150 Hiſtoria Genealogica
tiago D . Joað Pacheco , de cafar a Infanta D . Iſabel
irmãa delRey D . Henrique IV . de Caſtella com
ElRey D . Affonſo V . Era o Meſtre poderoſo na
quella Corte, e teve grande dominio naquelle Rey.
nado , pelo que dava ) os do Concelho a materia
por ajuſtada viſta a determinaçaõ do Meſtre. El
Rey que juſtamente confiava muito do amor , e ze
lo do Duque , nao querendo reſolver materia tao
importante ſem ouvir o ſeu parecer , lhe mandou
participar o negocio , ordenandolhe que a tudo lhe
reſpondeſſe com individuaçao , o que o Duque fa
tisfez com a Carta ſeguinte :
ew&
foy de contrario parecer , e com declaradapaixao le
oppoz ao Duque , o arguîo publicamente de lul-
peito , penſamento que eſpalhado com o tempo
veyo a fer tað pernicioſo à Caſa de Bragança , como
adiante veremos. Nao foy o Duque a eſta empre.
za , e ficando encarregado do governo do Reyno
ſatisfez à ſua obrigação com zelo animado de pru
dencia , e chriſtandade, que deſta forte ſao os Reys
Provanum .6o. mais bem ſervidos. E por tal ſe deu ElRey, que
eſtando na Cidade de Touro lhe fez a aſſinaladamer,
ce de ſer o Duque Fronteiro môr de todas as ſuas
terras , eximindo-as de toda a juriſdicçao , que nað
foſſe a do Duque : foy feita eſta Carta na dita Cidade
por Affonſo Garces a 10 de Abril do anno de 1476 .
Depois quando ſe deraõ em refens o Infante D . Afa
fonſo , e a Infanta D . Brites nas Terçarias , que le
fizera ) entre Portugal , e Caſtella , aſſiſtio o Duque
à entrega deſtes Principes na Villa deMoura como
Procurador delRey , e em todas as occaſioens, ou
foſſem na paz , ou naguerra ,moſtrou o Duquehum
grande ardor , e zelo da Republica.
Foy o Duque de Bragança D . Fernando pru.
dente , e valerolo , pratico no exercicio da guerra ,
experimentado nos negocios, em que diſcorria com
madureza , e elegancia , em todas as ſuas obras diſ
creto , ornado de erudiçað lagrada , e profana , e da
liçaõ da Hiſtoria. Era finalmente ſobre grave, muy
temente a Deos, bem quiſto , e amado da Nobreza,
e do
da Cafa Real Portug. Liv. Vl. 169
e do Povo , de ſorte que as ſuas virtudes lhe ad
quirirao o amor , e applauſo commum . Morreo
em Villa- Viçoſa no primeiro de Abril do anno de
1478. O Padre Roman , e outros Authores lhe Roman , part.3. c.290
anticipað a morte pondo- a no anno de 1476 ; porém
vihuma Eſcritura original, pela qual a Duqueza D . Prova num .61.
Joanna ſua mulher fãz doaçaõ a ſeu filho D . Fer
nando Duque de Guimarães de todos os ſeus bens ,
que erað muitos , e della conſta ler o Duque feu
marido vivo , ainda que eſtava gravemente enfermo,
e lem eſperanças de vida. Foy feita a Eſcritura em
Villa- Viçola no Paço do Caſtello de Omenagem
em 22 deMarço do anno 1478, a qual ElRey depois
confirmou , e approvou em 22 de Abril do meſmo
anno , em que já a Duqueza eſtava viuva ; nao achey
o ſeu ultimo Teſtamento , porém em huma memo
ria ſediz , que deixara por teſtamenteiros ao Duque
de Guimarães ſeu filho , e a Duqueza ſua mulher .
Jaz o Duque D . Fernando na dita Villa no Conven
to dos Eremitas de Santo Agoſtinho na Capella dos
Duques , e na ſepultura ſe lhe poz eſta curta memo.
ria :
Aqui jaz D . Fernando , o le
gundo Duque de Bragança .
Caſou no anno de 1429 em 28 de Dezembro com
D .Joanna de Caftro , filha herdeira de D . Joað de
Caſtro ,Senhor do Cadayal, Peral, do Reguengo de
Tom .V. Y ïi Campo.
170 Hiftoria Genealogica .
Campores, do Lugar , e terra dePaos, da parte da
Aldea de Ooes, da Ribeira , e Aldea de Vougua
com todos os ſeus termos, dos Lugares de Bedou.
do , e de Calluaens, e de Fontes com todos os ſeus
termos. Eſtas , e outras merces feitas pelos Reys
ſeus predeceſſores confirmou ElRey D . Duarte à
Torre do Tombo , liv .
3. dosMylt. fok 196. Condeſſa D .Joanna de Caſtro , eſtando em Santa.
rem a 9 de Dezembro de 1433 . Era deſcendente
por baronîa da eſclarecida Familia de Caſtro , tað
veneravel pela antiguidade, como pela elevaçaõ de
ſeus mayores, e de D . Leonor da Cunha , que de.
pois de viuya foy mulher do inſigne Joao das Re
gras , Chancellermôr, e Valîdo delRey D .Joað ol.
a qual era filha de Martim Vaſques da Cunha , Se.
nhor de Taboa em Portugal , e em Caſtella primei.
ro Conde de Valença deCampos, e da Arvore de
Coſtados, que ajuntamos, ſe vê o altiſſimo naſcimen
to , e grandeza da Duqueza D .Joanna de Caſtro ,
cujo eſclarecido ſangue tantas vezes animado com
o Real, agora por eſta feliz uniao vemos diffundi
do em tað grandesMonarchas, Principes , Soberą .
nos , e grandes Senhores , como fað os que tem a
gloria de participarem deſta Real Linha. Falece o
a Duqueza em Lisboa a 14 de Fevereiro de 1479 ,
e foy ſepultada na Igreja do Carmo , aonde ſe lhe
poz o ſeguinte Epitafio :
Aqui jaz, a Duqueza D . Joanna de
Caſtro , mulher que foy de D . Fer
rando,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 171
9 " nando , ſegundo Duque de Bragan
ça , que foy neto del Rey D . Foaõ da '
boa memoria .
Teve a Duqueza de aſſentamento na Caſa
$ 3ģ
* **
Mo
rr
05 /
19
o
A
.
Debat
D . Joanna
173
CD. Fernando Rodrigues de Caſtro ,
Rico -Homem , vivia no anno 1 293.
D . Pedro Fernandes ) D . Violante Sanches , filha delloy
de Caſtro , Mordo- C D . Sancho IV . de Caſtella .
mo môr delRey D . - D . Lourenço Soares de Valadares ,
D . Alvaro Pires de Afonſo de Caſtella , Rico Homem , Fronteiro mor de
Caſtro , Conde de + em 1344 . ( Entre Douro , e Minho.
Arrayolos , Con - CD. Aldonça de Va. D .Sancha Nunes de Chacim , filha de
deſtavel de Portu - ladares Nuno Fern , de Chacim ,Rico -Hom .
D .Pedro deCaro gal, + em 1383. ( D . Fernaó Peres Ponce de Leaó ,
tro , Senhor do D . Pedro Ponce de primeiro Senhor de Marchena.
Cadaval, Leon ,Rico -Homem , 3 D . Tabel de Guſmaó , filha de D .
A Condeſſa D .Ma Senhor de Marche- C Affonſo Peres de Guímaó o Bom .
ria Ponce de Leon . na. C D .jayme, Senhor de Exerica , filho
D . Joao de D . Brites de Exeri do Infante D .Jayme de Aragao.
( ca , Senhora D .Brites de Lauria ,Sen.
Caftro , Se.
nhor do Cao D .Affon
centayna.ſo de Conra
Tello Crayna,fil. ogueraAlm de. deConcen
Coryna,fil.ddee RRoguer Arag.
daval, Peral, CD .Gonçalo Telles de Menezes , o
& c. já era fa D . Affonſo Tello de Rapoſo , Rico-Homem .
lecido no ano Menezes, Mordomo D .Urraca Fern . de Lima, fil. de D .
DO 1428. D . Joao Affonſo 2 mor delsey D Aboc Fern. Eannes de Lima, Rico -Hom ,
( Telles de Mene- fonſo IV. CLourenço Soares de Valadares , Se
zes, Conde de Ou: ( D . Berenguela Lou . ) nhor de Tangil.
rem , e Barcellos. * renco de Valadares. ) D . Sancha Nunes de Chacim , fil, de
D . Leonor Tel. ( Nuno Fern . de Chacim ,Rico-Hom .
les de Menezes. Lopo Fernandes Pa- ( Joao Fernandes, Pacheco , . Rico .
checo , Senhor de 2 Homem , Sen , de Ferreir
A Condella D . Ferreira de Aves. D . Eftevainha Lopes, filha deLopo
( Guiomar de Vil. Rodrigues dePaiva.
la - Lobos. D . Maria de Villa- Ruy Gil de Villa-Lobos.
- Lobos. D . Thereſa Sanches , filha delRey .
D . Joanna ( D . Sancho de Caſtella , o Deſejado.
de Caſtro , Vaſco Martins da Cunha , Alcaido
Duqueza ) mộr de Lisboa,
de Bra Marrim Varawes da D . Senhorinha Fernandes , filha de
gança, ( Cunha , Alcaidemôr Fernaó Guede Chacim .
Vaſco Martins da de Lamego ( Lopo Fernandes Pacheco , Senhor
de Ferreira de Aves.
Cunha , Senhor D . Maria Gomes Taveira , filha de
do Pinheiro. D . Violante Lopes
C Pacheco . ( Lourenço Gomes Taveira.
Martim Vaſques ( Eftevaó Soares, o Velho, Senhor de
da Cunha , prie Eftevao Soares , 03 Albergaria de Payo delgado.
meiro Conde 2 D .Maria Rodrigues Quareſma, fi,
de Valença& c .de ( D .Brites Soares de Moço
Campos,
, Senhor de
Albergaria. accClima
Ina de Ruy Valques Quarelma.
Albergaria , ( Lourenço Martinsde Soalhaens.
( D .Maria Lourenço. D . N . . . . . Pires , filha de Pe.
Cdro de Oliveira.
Ć D .Gonçalo Rodrigues Girao , Ri.
D .Leonor da D . Joao Affonſo Giu ) co-Homem
D . Maria de ,Menezes
Senhor ,defilha
S.Romao.
de Ruy
CunhaGiraó . ( raó , Rico-Homem ,
Affonſo TellesGi- Senhor de S .Romao. C Gonçalves de Menezes.
raó,Rico-Homem , ( N...
Senhor de S.Ro- ( D . Urraca Gallinha.
maó . N. . . . . . . . . . . . . . . . .
D . Thereſa Tel .
les Giraó, Fernaó Martins deŠMartim
quinto
Rodrigues de Alarcao ,
Senhor da Caſa de Alarcaó,
Alarcaó , fexto Se•39
ON. . . . . Arias de Valverde, filha
nhor da Caſa de ( de Pedro Fernandes de Valverde.
( D . Thereſa Rodri- Alarcaó , e Villa . Pedro Fernandes Pecha , Ricc -Ho .
gues de Alarcao . Verde. mem , Camereiro mór delRey Do
Brites Fernandes Per Affonſo XI.
cha, Elvira Martins , Camereira môr da
Rainha D .Maria,mulo do dio Rey
Tom . V .
f
3
I
Debrief ic
II
. .
CAPITULO IV .
DoSenhor D . Foað, ſexto Condeſtavelde Portu
gal, e Marquez de Monte môr o Novo.
Esde os ſeus primeiros annos
ſeguio D .Joao as armas com
ſeus irmãos , em que deu do
ſeu valor tað ſingulares mof
tras, como do feu claro fan
Daste
gue ſe podia eſperar , e aſſim
pela grandeza da ſua peſſoa era
attendido com a diſtinçao, quemerecia pelo paren .
teſco que tinha com a Caſa Real. No anno de
1452 acompanhou a ſeu pay à Africa quando foy à
Cidade de Ceuta a buſcar o Infante D . Fernando.
Determinando ElRey D .Affonſo V . com humaAr- Chron. delRey D.Af
mada ſatisfazerſe dos aggrayos , que os Coſlarios In - fonto V .cap.40.
.. Tom . V . Z ii glezes
178 Hiſtoria Genealogica
glezes lhe tinhao feito tomando doze naos Portu .
guezas no Canal de Flandres, nomeou para eſta em .
preza a D .Joað . Quando paſſou à Conquiſta de
Arzila o meſmo Rey no anno de 1471 o acompa
nhou o Condeſtavel , dignidade que ainda nao lo
grava, nem tambem o titulo deMarquez ; e tendo
I noticia que os Mouros deſampararao a Cidade de
Chron. delRey D.Af- Tangere, mandou occupalla por D .Joað, o que fez
fonſo V . cap.41.
Goes, Chrono do Prin- em 28 de Agoſto de 1471, dia do inſigne Doutorda
cipe D. Joaó, cap.30. Igreja Santo Agoſtinho ,executando de forte eſta ex .
pediçao , que em breve tempo pode ElRey acom
panhado do Principe entrar naquella Praça, de que
deu o governo a D . Joao , dando na ſua peſſoa a el,
te cargo illuſtre principio . Nao teve D .Joað o gor
verno mais tempo , que aquelle que aſſiſtio na Ci.
dade, depois que della tomou poſſe até que ElRey
Ericeira , Hiſtoria de partio para o Reyno , e o entregou a D . Ruy de
Tangere , live 1. 62. Mello , Conde de Olivença , a quem ElRey o dei
Torre do Tombo , liv. xou encarregado,
3 . dos Mytt, fol. 5 3. Deſta forte ſe fazia D . Joað pormerecimentos
tao digno da attençao delRey , como pela ſua pel.
foa. Já omeſmoMonarcha lhe havia feito doaçao
da Villa de Vianna na Provincia de Alemtejo , por
troca da premiſſaõ dos Tabaliaens da Cidade de Lil.
boa , e da ametade da Quinta de Ilhas, que por ella
deixou as Capellas delRey D .Affonſo IV . de quem
era a dita Villa , e foy feita a Carta em Lisboa a 27
de Fevereiro do anno de 1460 . Neſte meſmo anno
achamos na Torre do Tombo huma Carta delRey,
. da
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 179
da qual confta , que omeſmo Soberano havia trata:
do o ſeu caſamento com D . Iſabel de Noronha, na
qual diz : A quantos eſta noſa Carta virem fazemos Prova num .62.
Jaber , que nos contratamos e de feito afirmamos Caza .
mento, antre D . Joao meu muito amado Sobrinho , e
D . Izabel de Noronha a qualdezembargamos com elle
em Cazamento, quatro mil e quinhentas Croas de bom
ouro , e juſto pezo de moeda de cunho de França , oc.
Deu ElRey à dita D . Iſabel a referida quantia em
caſamento como era coſtume daquelle tempo , a
qual em quanto nað lhe foſſe ſatisfeita , haveria de
tença quarenta e cinco mil reaes brancos em cada
anno , que ſe venceriaõ deſde o dia que entraſſe em
lua Cala : foy feita a Carta em Santarem a 25 de Ju
lho do referido anno. He certo , que ElRey o ca .
fou ; porém nao devia ter logo effeito o matrimo
nio , porque do contrato delle (de que logo faremos
mençao ) ſe vê , que paſſaraõ quaſi dous annos até
que ſe concluiſſe. Era D . Iſabel de Noronha ſobri.
nha da Duqueza de Bragança D . Conſtança, a qual
a dotou , como ſe vê de hum inſtrumento feito na
Villa de Guimarães a 9 de Agoſto de 1462, e den - Provanum .63.
tro nos Paços onde hora pouſa a alta Senhora Prince
za D . Conſtança , Duqueza de Bragança , e Condeſa
de Barcellos , ec. Nelle fe diz , que promettera a
D . Joao filho do Duque D . Fernando em dote , e
caſamento com D . Iſabel de Noronha ſua ſobrinha ,
filha de ſeu irmao , doze mil dobras pagas a cento e
vinte reis a dobra , para cuja ſatisfaçaõ obrigou os
ſeus
: : 180 Hiſtoria Genealogica
ſeus bens moveis, e de raiz , declarando , que tanto
que ella morreſſe , queria que lhe ficaſſem obrigadas
as rendas, é direitos da Villa de Guimarães, que a
ella Duqueza fora ) promeitidas no contrato do ſeu
caſamento . Forao teſtemunhas o Doutor Pedro
Eſteves Cavalleiro do Concelho delRey , Joao Al
vares Secretario do Senhor D . Fernando , Diogo
de Azevedo Fidalgo da Caſa delRey , e Martim
Correa Fidalgo da Caſa do dito Senhor Duque.
Eſta eſcritura confirmou depois ElRey por huma
Carta paſſada em Lisboa no 1 de Julho do anno de
1469. O Duque D . Fernando ſeu pay com a Du.
queza D .Joanna de Caſtro fua mãy, e D . Fernando
ſeu irmao lhe tinhaõ feito doaçao da Alcaidariamôr
de Monte môr o Novo com ſuas rendas , e das
Villas do Cadaval, e Peral, e outras terras : foy fei
ta em a Villa de Souſel a 15 de Janeiro do anno de
1465 , a qual ElRey confirmou no meſmo anno , e
lhe fez merce do Senhorio da Villa de Redondo
Prova num .64. com toda a ſua juriſdicçao . E no anno de 1471
por huma doaçað feita em Lisboa a 30 deOutubro
The deu a Villa deMonte môr o Novo com o leu
termo , e depois o creou Marquez da meſma Villa ;
nao ſabemos o anno , porque nað achamos a Carta
deſta merce , porém entendemos ſer feita no anno
Prova num .65. de 1472, porque no anno ſeguinte a 15 de Abrillhe
chama ElRey Marquez deMonte môr na Carta ,
que lhemandou paſſar de Fronteiro de Entre Tejo ,
e Guadiana , e além do Guadiana na menoridade
do
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 181
do Duque de Viſeu , por conſentimento da Infanta
D .Brites. A eſtasmerces fe ſeguio a aſſinaladamer.
ce da dignidade de Condeſtavel de Portugal , por
Carta paſſada em Evora a 25 de Abril do anno de Prova num .66.
1473 por Pedro de Alcaçoya ; e he bem de reparar
neſta Carta , que tendo precedido tres Principes neſ.
ta dignidade ao Marquez D .Joað , nað faça de ne.
nhum mençao ElRey na Carta , e ſó lhe tras à me
moria o Conde D . Nuno Alvares , dizendo que :
O fazemos Condee tabre de todos os nosſos Regnos, e
Senhorios , aſy os que agora teemos , como os que ao
diante com a graça de Deos eſperamos ganhar aſy , e
pella guiſa que o foy D . Nuno Alvares Pereyra ſeu
Biſavoo , e todollos outros Condeſtabres , que o ataa ora
foraó , cc. Querendo ElRey neſta merce honrar
a memoria do Condeſtavel , e dallo por idéa a D .
Joað . Efte officio parece nao exercitou na Cam
panha, como ſe vê na Chronica do dito Rey , em
que vemos ao Duque deGuimarães ſeu irmao exer
citando o officio de Condeſtavel em muitas occa
fioens.
No Reynado delRey D .Joað o II. no anno
de 1482 quando eſte Rey foy a Monte môr, o veyo
o Marquez receber com menos luto do que trazia
a Corte pela morte delRey D .Affonſo V . queren
do aſſim feſtejar a entrada delRey naquella Villa ; Chton, delRey D. Joao
porém ElRey tomou a adulaçao por culpa , e lho oD .ll.Agoiti
cap.4nho3. Manoel
mandou eſtranhar , lembrando ao Marquez os bene- ma vida do ditoRey ,
ficios , que delRey ſeu pay recebera. Depois ſe fez pag92.
com
182 . Hiſtoria Genealogica
com o Marquez mayor demonſtraçað pela conten
da, que tivera na meſma Villa com o Arcebiſpo de
Braga D . Joað Galvao , porque ElRey mandou ſa
hir ao Marquez da Villa dentro em cinco horas ,
querendo com eſte motivo diſſimular o que tinha,
para por eſte modo ſeparar os irmãos do Duque de
Bragança , de que já ſe cançava , ainda que o diſfi.
mulava com grande cautela. Porém nem por iſſo
deixava de inſiſtir ElRey no que tinha ordenado
tocante às regalias dos Donatarios , como diremos
quando tratarmos do Duque D . Fernando , ſegun
do do nome, a quem ElRey pertendeo moderar
com disfavores, começando a maltratar a feus ir
mãos. Deſde entao principiou o Marquez a deſſer.
vir a ElRey , e foy verdadeiramente o motor, e ſó
o culpado na deſgraça do Duque D . Fernando ſeu
irma) , que aſperamente o reprehendeo eſtranhan
Rezende , Vida do dia
dolhe os ſeus deſignios , como eſcreve Garcia de
to Rey,"cap.30. " Rezende ; porém teve mais fortuna do que elle ,
Ruy de Pina, Chron. porque eſtando na ſua Villa das Alcaçovas com ſeu
do dito Rey. irmað o Conde de Faro ſe paſſaraó a Caſtella na
tempeſtuoſa tormenta , que padeceo a Caſa de Bra.
gança ; e ſendo em Portugal convencido do crime
de leſa Mageſtade , foy ſentençeado na Villa de
Abrantes à morte em 12 de Setembro de 1482 , e
executada a fentença em huma figura fua com to
das as ceremonias proprias ao ſeu caracter. Neſte
tempo fe achava o Marquez de Monte môr na Ci
dade de Sevilha , aonde recebeo a noticia do que
em
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 183
em Portugal le executara contra a ſua peſſoa , e af.
firmað algumas Memorias, que fora tað vehemen
te a paixao , e ſentimento de que ſe preoccupara ,
que cahindo enfermo em breves dias acabara a vida.
Porém nað he aſſim , porque o Marquez viveo al
guns annos depois , ainda que nao muitos, e ſervio
aos Reys Catholicos na Conquiſta do Reyno de
Granada , e faleceo em Sevilha a 30 de Abril do an
no 1484. Foy murmurado de orgulhoſo , ſoberbo,
e pouco prudente, ainda que valeroſo , e bom Sol
dado : as ſuas acçoens forað tað mal reputadas no
Mundo , que foraõ cauſa da deſgraça de ſeus irmãos,
fazendo-os participantes da ſua culpa ſem mais de
licto , que a infelicidade do tempo. Jaz no Moſtei.
ro de Santa Paula de Religioſas Jeronymas da dita Siguença
, parte 3.
Cidade , cuja Igreja edificou a Marqueza ſua mu- cap.z. fol,vino
Ther ; nað referem os Authores o anno em que paſ. Annales de Sevilha ;
fou a eſta Cidade, nem mais alguma individuaçao, liv, 17 . fol.733,
que ſer obra ſua a dita Igreja , aonde ſe lhe lavrara)
tumulos de pedra , que forað collocados no meyo
da Capella môr, e com o tempo para mayor com
modidade da Igreja no anno de 1592 quando deno
vo a ornarað as Religioſas, mudarað os oſſos deſtes
Senhores para nichos das paredes collateraes , aon
de ſe lhe poz o ſeguinte Epitafio :
Ota
ΣΑΡΙ .
Tom .V. Aa ii CAPI.
187
Debrie
CAPITULO V .
Da Senhora D . Brites , Marqueza de Villa
Real, mulher do primeiro Marquez D . Pe
dro de Menezes, e da jua ſucceſ]að.
E huma das felicidades das
grandesCaſas a producçað , e
fecundidade das filhas , porque
ellas contribuem com as novas
alianças à gloria de ſeusmayo.
res em illuſtre poſteridade , di.
latando-ſe a memoria dos Prin .
cipes, e grandes Senhores em viverem reproduzidos
na ſua eſclarecida deſcendencia , como veremos neſ.
te , e em outros Capitulos deſta Obra. Foy a Se.
nhora D . Brites ſegunda filha do Duque D . Fer
nando , e da Duqueza D . Joanna de Caſtro , como
temos
188 Hiſtoria Genealogica
temos dito . Caſou no anno de 1462 com D . Per
dro deMenezes , entao Conde de Villa-Real , huma
das primeiras peſſoas do Reyno pela grandeza da
ſua peſſoa , e repreſentaçaõ da Caſa , em quem con .
corria ) ſobre Real fangue ,merecimentos proprios.
Celebrara )-ſe os contratos deſte caſamento no Mof.
teiro de Santo Thyrſo de Riba-Daveno Biſpado do
Porto , eſtando diante do Altar môr, aonde eſtes Se.
nhores ſe achara) , como diz a fua Eſcritura : Stan
do hi prezente o alto , e poderozo Principe, e Senhor
Prova num .69. Dom Fernando Neto de ElRey Dom Jcað da eſcra. .
reçida memoria Duque de Bargança , Marquez de
Villa -Viçoza , Conde de Barcellos , de Ourem , e de
Arrayolos, e Neyva , Senhor de Monforte , e Penha
fiel , e o Illuſtre Senhor Dom Pedro de Menezes bil
neto delRey Dom Fernando de Portugal, e delRey
Dom Henrique de Caſtella , Conde deVilla-Real , Se.
nhor de Almeyda, Capitað , e Governador por ElRey
nojo Sīor da Cidade de Cepta em prezença de mj Ay
res Gonçalves Notairo publico geral, c *c . Dotou o
Duque a ſua filha , como diz a Eſcritura , huuim ni
lhom , e quinhentos mil reis pagadoiros em tres annos;
para o que lhe fez conſignaçao em certas rendas
para eſte dinheiro, que he hum conto e quinhen
tos mil reis , além da prata, e ornatos para o ſervi.
ço de ſua filha com a grandeza , que a ſeu pay pa
receſſe , o qual cedeo , e treſpaſſou no Conde de Vil.
la-Real cento e vinte mil reis em cada hum anno
na vida delle Conde, e que por ſuamorte paſſaſſem
à dita
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 189
å dita Senhora : o Conde lhe fez de arrhas ſete mil
e quinhentas dobras, além do ſeu dote , com de,
claraçao, que havendo filhos deſte matrimonio fi
caria todo o dote como vinculado em morgado áo
filhomais velho , e na falta de filhos à filha mais ve,
lha para ſempre em quanto houveſſe deſcendentes,
o que nao teve entað effeito ;mas depois no Reyna.
do delRey D .Manoel obrigou a ſeu filho o Mar .
quez D . Fernando a que a dita quantia ſe empre- Torre do Tombo, liva
gaſſe em bens de raiz para ficarem em morgado , 1, dosMyl .tol,230.
confórme ſeu pay era obrigado pelo contrato do
ſeu caſamento ; e nað os comprando como ſe havia
offerecido , ficaria em morgado o meſmo dinheiro ,
que ElRey lhe havia mandado entregar , como conſa
ta de huma Carta , que eſtá no livro i dos Myſticos
feita em 8 de Março do anno de 1502. Seguiao
ſe no contrato outras condiçoens praticadas entre
grandes Senhores, o qual foy feito em 6 de Agoſto
de 1462 , em que forað teſtemunhas o Doutor Pe.
dro Eſteves do Concelho delRey , e Cavalleiro
da Caſa do Duque , Gonçalo Barreto , Joað Core
Tea , Fernaõ de Eſteves , Cavalleiros da Caſa do
Conde , e o Doutor Ferna) Rodrigues , e Gomes
Eannes do Porto , criados do Duque, e Joað Af
fonſo feu Secretario . Eſte dote com que huma
Princeza caſava, nao pareça pequeno regulando-ſe
pelo tempo preſente , porque entað ſe tinha por
muito grande.
: Depois de muitos annos de caſados creou El.
Rey
190 Hiſtoria Genealogica
Rey D . Joað o II. ao Conde D . Pedro Marquez
de Villa-Real eſtando em Béja em o 1 de Março
do anno de 1489 , e honrando os merecimentos do
Marquez fez eſte acto eſtando em Lisboa com gran .
des ceremonias , apparato , e magnificencia , como
era coſtume, e refere a ſua Hiſtoria . Neſſe dia veſ
tido ElRey de gala , e toda a Corte , appareceo por
to no ſeu throno em pé debaixo do docel , e arri
mado a hum bofete , e com elle o Principe D . Af.
fonſo , e o Duque de Béja , affiftido dosGrandes, e
Senhores da Corte , aonde o bulcou o Marquez , que
ſahio de fua Caſa a pé acompanhado de muitos Fi.
dalgos , peſſoas do Concelho demuita authoridade ,
e nobreza, que o cortejavað , precedido de trombe.
tas , tambores , charamelas , e outros inſtrumentos
bellicos. Levava hum Fidalgo do Concelho o Ef
tandarte com as armas do Marquez , outro a eſpada
rica embainhada, e levantada com a ponta para cima,
outro o barrete forrado de arminhos em hum prato
de prata dourada, e outro em hum prato de ouro o
annel, e neſta ordem entrarað na antecamera delRey,
a quem depois de feitas as ceremonias coftumadas,
osOfficiaes daCaſa a puzeraõ em ſilencio , e o Chan.
caller môr Joað Teixeira diſſe em voz alta huma
Oraçaõ muy elegante , moſtrando quam grande vir.
tude era a liberalidade nos Principes quando juſta .
mente diſtribuîaõ os premios , e as honras ; e en .
grandecendo a ElRey louvou as Reaes virtudes , e
o goſto , e eſperanças em que viviað os ſeusVaſſallos
na
da Caja Real Portug . Liv. VI. 191
nå acertada educaçao do Principe, e do ſeu excel
lente natural ; encareceo o cuidado , e a facilidade
com que EIRey fazia merces , e remunerava ſervi
ços. Ponderou osmuitos , quehavia feito à Coroa
Portugueza o Conde de Villa-Real, os relevantes
merecimentos da ſua peſſoa, relatando-osmuito por
extenſo , referindo a grandeza da ſua eſclarecida af.
cendencia , por ſer biſneto por varonîa dos Reys D .
Henrique ſegundo de Caftella , e D . Fernando de
Portugal , e as grandes prerogativas da ſua Caſa ,
pelo que ElRey o fazia Marquez de Villa-Real, e
Conde de Ourem . Eſta Oraçað foy traduzida na
lingua Latina pelo Doutor Luiz Teixeira ſeu filho ,
e paſſou depois à Portugueza Miguel Soares , e ſe
imprimio huma , e outra em Coimbra no anno de
1562. Acabada eſta arenga chegou o Marquez a
ElRey , que lhe poz na cabeça o barrete , e toman
do a eſpada lha cingio , e tirandolha da cinta , com
ella cortou as pontas da bandeira , e ficou quadra .
da, e tomando hum annel de hum bom diamante,
lho poz em hum dedo da mao eſquerda: acabadas
eſtas ceremonias, o Marquez com osjoelhos em ter
ra beijou a mao a ElRey, e depois todos os Senho
res , e peſſoas grandes , que alli eſtava) . Neſte dia
comeo o Marquez com ElRey à meſa em publico
na Sala Real, que eſtava magnificamente aparelha
da, e poſto ElRey debaixo do docel, ſe ſeguia o
Principe à ſua mao direita , e além do Principe na
yolta da meſa o Marquez , e à mao eſquerda del.
Tom . V . Bb Rey
192 Hiſtoria Genealogica
.- rz
Rey o Duque de Béja. Acabada a meſa com gran .
a
de fatisfaçaõ da Corte ſe recolheo , e o Marquez
voltou a ſua Caſa na meſma fórma, onde por mui.
tos dias houve feſtas , e banquetes, com que ſe en .
tertiverað os parentes, e amigos com grande cuſ.
-
to , porque o Marquez tambem repartio dadivas de
preço para aſſim fazer mais plauſivel amemoria da .
quella folemnidade , moſtrando nas ſuas acçoens
quam grande era a ſua peſſoa, e Caſa , que ſe com -'
punha de muitos eſtados. Foy primeiro Marquez
de Villa-Real , e terceiro Conde da meſmaVilla ,
Conde de Ourem , Senhor de Almeida , das Villas
Barros,Decad,1. liv.i. de Freixel
Leiria , e Arbreiro
, Senhor , Alcaide
das Ilhas môr
Canarias da comprou
, que Cidade dea
cap. 12,
D . Martinho de Ataide, Conde de Atouguia , e de
pois vendeo ao Infante D . Fernando pay delRey D .
Manoel ; Senhor das Villas de Chañ de Couce ,
Pouſa Flores , Aguda , Roupella , Avellar , e Sove
roſa , Maçãas , Mouta Bella , dos Caſaes de Amei.
xoeira ,das Hortas de Lisboa, daherdadedeRequei.
xada em Alemtejo , da Quinta da Lançada em Ri.
ba- Tejo , das Villas do Freixal , e Aveiro , dos Di.
reitosReaes de Tavira , do Dizimo do peſcado de
Sylves, da Juriſdicçaõ de Valença , do Caſtello de
Vianna da Foz do Lima, dos Direitos das terras de
Valadares de juro , e herdade, que comprou a Leo
nel de Abreu , da terra de Auſura , e ſeu Couto , e
terceiro Capitao Donatario , e Governador da Ci
dade de Ceuta . Deſta Praça lhe conferio ElRey O
governo
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 193
governo quando nao contava mais que vinte annos
de idade , ſendo tað importante ; e ſabendo ElRey,
que ſe arguira eſta eleiçaõ pelos ſeus poucos annos,
reſpondeo : Os filhos da Caſa de Villa -Real já naf
cem emplumados. Foy o Marquez para eſta Cida:
de com huma patente muy larga de prerogativas,
em que ſe lhe ampliarað os poderes em toda a ju .
riſdicçaū , nao differindo das mayores , que em ou .
tros tempos ſe paſſarao aos Infantes D . Henrique ,
D . Fernando , e Duque de Bragança ſeu ſogro .
Aqui moſtrou prudencia , e valor na guerra contra
os Mouros , principalmente quando venceo em ba.
talha campal a Gilharé poderoſo , e principal Capi.
tao dos Mouros : neſta facçao fazendo milagres o
valor ſahio ferido o Marquez (entao Conde de Villa
Real) e conſeguindo outros muitos proſperos ſuc.
ceſſos, trouxe no ſeu tempo tað temeroſos osMou
ros , que os obrigava a deſampararem as povoa
çoens, fazendo em ſuasterras entradas com tanta fe.
licidade, que ſe recolhia com os ſeus à Praça vito
rioſos , e carregados de deſpojos, ſendo elle o pri:
meiro que fez os infieis tributarios a eſte Reyno .
A Marqueza D . Brites o acompanhou no tempo
que eſteve em Ceuta , aonde das ſuas virtudes dei.
xou admiravelmemoria . Depois voltando ao Rey.
no acompanhou a ElRey D . Affonſo V , no anno
de 1475 na jornada de Caſtella , e com elle le achou
no recontro da ponte de Çamora , e ficou com o
Duque deGuimarães guardando a Rainha D .Joan
Tom .V . Bb ii na
194 Hiſtoria Genealogica
na na Cidade de Toro por ordem delRey , e por
eſte incidente ſe nað achou na batalha. O Mar.
quez com o dito Duque foy eſcolhido para ſegurar
o campo quando ElRey deſafiou a ElRey D . Fere
nando.
i Nað ſó na guerra , mas na paz foy ſempre o
Marquez de Villa -Real attendido. Quando naſceo
o Principe D . Joað , foy no ſeu bautizado hum dos
Senhores , que levarao as varas do palio , em que era
ſeu companheiro o Marquez de Villa - Viçoſa . No
anno de 1491 , em que morreo o Principe D . AF
fonſo , o acompanhou ao RealMoſteiro da Batalha.
Foy elle hum dos Senhores, que ſe acharað preſen .
tes à morte delRey D .Joao II. no anno de 1495, é
depois ao levantamento delRey D . Manoel , e em
outrasmuitas occaſioens ſe achou o Marquez. El
Rey D . Affonſo V . o eſtimou quanto merecia a ſua
peſſoa , e as ſuas virtudes , fazendolhe muitas mer
ces; entre outras achamos, que no anno de 1463 lhe
deu os reaes de Entre Douro , e Minho , que he hu
ma certa penſa) , que os Lavradores pagavað , e ti
nha eſte direito ſido dos Infantes D .Henrique, eD .
Fernando , irma) , e tio do melmo Rey , e affim nos
mais Reys, que le ſeguira ) , alcançou , e encontrou
o Marquez a ſua eſtimavel attençao , e favor. Era
filho de D . Fernando de Noronha , ſegundo Conde
de Villa-Real, Capitað , e Governador de Ceuta ,
em que entrou por Carta delRey D . Duarte de 18
deOutubro de 1437 , com tanta felicidade , que ſe
. nao
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 195
nað deſconheceo no ſeu governo nada menos do
que lograra) osmoradores , e Cavalleiros daquella
Praça no dilatado governo daquelle inſigne Varao
D . Pedro de Menezes , primeiro Conde de Villa
Real , e ſegundo de Vianna, primeiro Capitað , e
Governador da Cidade de Ceuta , que lhe deu para
mulher a ſua filha herdeira D . Brites de Menezes :
neto do Senhor D . Affonſo Conde de Gijon , filho
delRey D . Henrique de Caſtella , e da Senhora D .
Iſabel filha delRey D . Fernando de Portugal.
Morreo o Marquez D . Pedro deMenezes no anno
de 1499 depois de huma larga vida , e foy fepulta
do noMoſteiro de S. Franciſco de Santarem , e traf
ladados os ſeus oſſos para o de S. Franciſco da Ci
dade de Leiria , aonde jaz. ElRey querendo honrar
osmerecimentos de hum tað grande Vaſſallo , le en
cerrou , e tomou luto por alguns dias, o que os
Reys nao coſtumað fazer , tena) pelaspeſſoas , que
lhe fað mais chegadas em parenteſco , do que era o
Marquez ; porém a ſua grande peſſoa, e as muitas
partes, e virtudes que nelle concorrerað, o faziao
merecedor de tað eſtimavel diſtinçaõ preciſa nos
Principes com ſemelhantes Vaſſallos. Deſta eſcla
recida , e tað excelſa uniao nalcerað os filhos ſe
guintes:
* 13 D .FERNANDO DE MENEZES, Marquez
de Villa-Real, de quem adiante ſe faz mençað.
· 13 D . ANTONIO DE NORONHA , primeiro Con
de de Linhares, de quem ſe tratará no . II.
D .HEN
196 Hiftoria Genealogica.
13 D .HENRIQUE DE MENEZES, que caſou com
D .Maria de Menezes , e a ſua ſucceſfað ſe verá no
2 . III.
13 D . DIOGO DE NORONHA , Commendador
môr da Ordem de Chriſto , Alcaide môr de Obidos,
Senhor dos direitos de Selir , ſervio em Africa com
o Marquez D . Fernando ſeu irmao , que o armou
Cavalleiro no anno de 1450 com o qual ſe achou na
tomada de Targa , e Camisî. Depois ſendo man
dado para a Praça de Ceuta por ordem delRey
por huma pendencia , que teve com hum Fidalgo ,
governando aquella Cidade Fernað Soares , e vendo
a peſſoa de D . Diogo nella , lhe quiz entregar o go.
verno , que elle prudentemente naõ quiz aceitar, e
depois governou a melma Praça ; e voltando ao
Reyno quando ElRey D . Manoel foy a buſcar a
Rainha D . Iſabel a Valença , foy D . Diogo hum
dos Senhores nomeados para o acompanharem , co
Goes,Chronica delRey mo diz na lua Chronica Damiao de Goes. Caſou
D2. Manoel, part 1. cap. duas vezes , a primeira com D . Joanna de Menezes,
4.
filha de D . Rodrigo deMenezes , Commendador de
Grandola , Mordomo môr da Rainha D . Leonor ,
e de D .Leonor Malcarenhas, primeira mulher , de
quem nao teve ſucceſſa ). Caſou legunda vez com
Ď , Filippa de Ataide , filha de Alonſo de Herrera ,
Fidalgo Caſtelhano, que veyo a eſte Reyno com a
Excellente Senhora , filho de Pedro Garcia de Herre
ra , Senhor de Ampudia , e de D . Joanna de Ataide ,
filha de Nuno Vaz de Caſtello-Branco , Almirante
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 197
de Portugal, Senhor do Bombarral, Alcaidemôr de
Moura, Monteiromôr delR .ey D .Affonſo V . e te.
ve duas filhas.
14 D . JERONYMA DE NORONHA, herdei.
ra , a quem ElRey D . Joao III. no anno de
1525 confirmou as merces , que tinha de ſeu
pay. Caſou com D . Affonſo de Lencaſtre ,
que por eſte caſamento foy Commendador
môr da Ordem de Chriſto , como ſe verá no
Liv. VIII.
14 D .CONSTANÇA DE NORONHA , foy Da.
ma da Rainha D . Catharina mulher delRey
D . Joao III. e da Infanta D .Maria , Princeza
das Aſturias, com quem foy a Caſtella , e por
ſua morte voltando para o Reyno caſou com
D . Joaõ de Menezes, fetimo Senhor de Can
tanhede , e foy lua ſegunda muller ſem ſuc
ceſlao .
13 D . JOAV de Noronha , que foy Priormôr Chronica dos Conegos
de Santa Cruz de Coimbra , e do Concelho delRey . 290*2*30.
A Chronica dos Conegos Regrantes refere , que no
dia que diſſe a ſua primeira Miſſa a 28 de Agoſto de
1485 a que ElRey D . Joað o II. affiftio , no tempo
do Offertorio lançou no prato da offerta huma ce
dula Real, que dizia : Façovos Arcebiſpo de Braga .
Eu ElRey . O que elle nao aceitou porque havia de
largar o Priorado môr , e que ElRey depois proveo
o Arcebiſpado no Cardeal D . Jorge da Coſta . El
Rey D .Manoel o quiz fazer Arcebiſpo de Lisboa ,
para
198 Hiftoria Genealogica
para o que procurou que o Cardeal D . Jorge da
Coſta renunciaſſe nelle o Arcebiſpado , o que nao
teve effeito , porque queria a renuncia do Priorado
de Santa Cruz para ſeu irmao D .Martinho da Cof
ta ; porém D .Joao de Noronha o nað quiz largar,
e nem eſta dignidade , nem outras , em que eſtava
nomeado, chegou a lograr pormorrer a 2 de Julho
Souſa,, Catal
Papas .Hiſt.dos,
c Cardeacs de 1506 antes de ſe fagrar Biſpo de Ceuta , e Primaz
pag.48. de Africa , em que o Papa Julio II. o tinha provido
no anno de 1505 com o Capello de Cardeal do Ti
tulo de Ceuta , em que ElRey (que lho procurara)
teve duvida no Titulo , querendo que o Papa lho
mudaſſe , e antes de voltar a repoſta morreo D .Joað.
Alguns Nobiliarios lhe dað ſucceſſa ) , porém D.
Luiz Lobo , a quem agora ſigo, lha nað dá.
· 13 D . JOANNA DE NORONHA , mulher de D .
Affonſo , Condeſtavel de Portugal, cuja poſteridade
eſcrevemos no Cap .VIII. 2 . 1. do Liv .III. pag.512
deſta Obra .
Dos filhos baſtardos , que teve o Marquez , que
forað muitos, e de que de alguns ainda ſe conſerva
geraçao , reſervamos tratar quando eſcrevermos a
Caſa de Noronha, pois nað pertencem a eſte lugar.
* 13 D . FERNANDO DE MENEZES, nalceo no
anno de 1463 , e foy ſegundo Marquez, e quarto
Conde de Villa -Real, e Capitað , eGovernador de
Ceuta , ſucceſſor de toda a mais Caſa de ſeu pay , ex.
Torre de Tombo , liv, cepto do Condado de Ourem , que EIRey D . Ma
!.dosMyſt.fol. 12,c noel reftituhio à Cala de Bragança no anno de 1496.
fol. 69. verf
Neſte
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 199
Neſte meſmo anno a 11 de Outubro lhe mandou El.
Rey paſſar Carta , eſtando em Torres-Védras, do
meſmo aſſentamento , que tinha ſeu pay ſendo Con
de , que ainda era vivo , mas já Marquez de Villa
Real , que eraõ duzentos e quarenta e dous mil e
oitocentos e cincoenta e ſete reis , e depois com o
titulo de Conde de Alcoutim ſe lhemandou paſſar
Carta em 13 de Junho de 1497 com o meſmo aſſen.
tamento , que tinha antes de ſer Conde. Em 25 de
Novembro do anno de 1496 lhe fez o dito ReyY Goes, Chron. delRey
D . Manoel , part 1.
merce de Fronteiro môr do Algarve, dameſma for. cap. 17.
te que o fora o Infante D . Fernando , e em o 1 de
Setembro de 1499 eſtando em Lisboa o fez Conde
de Valença com o Senhorio da dita Villa , e do de
Torre do Tombo , liv.
Caminha com a terra de Valadares. Foy pelo ſeu 1 . dos Myft. pag.286
caſamento Senhor de Alcoutim , Villa que o meſmo
Rey erigio em Condado a favor de D . Fernando ,
que até aquelle tempo nað tinha titulo algum , e del.
la lhe fez doaçao de juro , e herdade para que os pri
mogenitos deſta Caſa foſſem Condes de Alcoutim .
Foy feita eſta merce eſtando ElRey D .Manoelem
Muja a 15 deNovembro do anno de 1496 dizendo
na Carta , que lhe fazia eſtamerce pelos ſeus ſervi
ços , e pelo devido em que a nós he tað chegado; e aſ
fim era , porque a Marqueza D . Brites , mãy deſte
Marquez, era prima com irmãa da Infanta D . Brites,
mãy delRey D . Manoel. Nað ſó eſta ,mas outras
merces lhe fez ElRey pelos ſeus merecimentos, por
que deſde os primeiros annos o ſervio o Marquez
Сс
Tom .V . conſe
200 Hiſtoria Genealogica :
conſeguindo reputaçað. No anno de 1490 eſtando
em Villa-Real , o mandou chamar ElRey D . Joao
o II. a Evora , aonde entao reſidia a Corte , para o
mandar à Cidade de Ceuta , e eſta foy a primeira
vez , que foy a eſta Praça , onde fez notaveis entra
das nas terras dos inimigos com tanto valor , como
fortuna , em que desbaratando por muitas vezes os
Mouros, conſeguio vitorias , com que fazia memo.
ravel o ſeu nome, e aos Soldados utilizava com os
deſpojos, e quaſi ſem perda da nofta gente , como
ſe vio quando deu ſobre a Villa de Targa, de que
os Mouros timidos ſe acolhera ) à ſerra os que po.
derað , e os demais ficarað mortos, e cativos, e de.
pois dos Soldados ſe utilizarem do faco , foy a Villa
entregue ao fogo. Neſta occaſia) ſe acharaó D .
Antonio de Noronha , D . Diogo , e D . Henrique
ſeusirmãos, e a eſtes dous ultimos depois da vitoria
armou Cavalleiros na preſença de muitos Fidalgos,
e peſſoas de diſtinçað , que ſe acharað neſta empreza
tað feliz , que nenhum da ſua comitiva foy morto ,
nem ferido , com o que ſe fazia aindamais eſtimavel
nas acclamaçoens dos Soldados a fortuna do Gene
ral. Naõ deſcançava o Marquez, porque como na
guerra intereſſava o zelo da Religia ) , ainda fazia
mayor o ſeu nome a gloria , e reputaçao das armas
do ſeu Rey , e aſſim tendo aviſado a D . Martinho
de Tavora , Capitað , e Governador de Alcacer
Ceguer , e a Manoel Peçanha , que mandava em
Tangere , determinou de dar ſobre a Villa de Ca
misi ,
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 201
misî , povoaçað grande, e forte , que com notavel
esforço foy acometida , ſem embargo de perigoſas
entradas, que o difficultavao ; e acometendo-a pelo
mais forte , peleijou com tanta conſtancia , que os
Mouros nao podendo já ſuſtentar o pezo do valor
dos noſſos Soldados , deſampararað o lugar , e ſe
acolherað aos montes , e brenhas, aonde ainda nao
eſcaparað da furia dos Soldados , porque ou forað
mortos, ou cativos, porque a ſerra eſtava já occupa.
da dos noſſos Soldados , e depois de ſaqueada foy
queimada a povoaçao : dos noſſos acabarað neſte
conflicto cheyos de gloria ſeſſenta , e dos Mouros
mais de quatrocentos , e foraó cativos cem ; o del
pojo foy grande , porque ſe recolhera) com muitos
cavallos , beſtas , e gados, e deſpojos da Villa , que
ſe repartiraõ em Alcacer com goſto , e ſatisfaçao
de todos ; e D . Fernando depois das acclamaçoens
com que era louvado dos Soldados, voltou para a
Corte , onde ElRey com notaveis expreſſoens lhe
agradeceo o bem que o ſervira , e honrou com ſin .
gulares palavras os ſeus merecimentos. No Rey .
nado delRey D .Manoel foy elle hum dos Senho
res, que o acompanharao quando foy buſcar a Rais
nha D . Iſabel a Valença , e na romaria , que o mel.
mo Rey fez a Santiago , o acompanhou ; e querendo
na comitiva ir encuberto , determinou que o Mar
quez foſſe o reſpeitado por todos os da comitiva ,
para aſſim nað fer ElRey conhecido. Finalmente
foy o Marquez ornado de valor, prudencia , autho
Tom . V , Cc iz ridade,
202 : Hiftoria Genealogica :,
ridade, e de todo o bom procedimento , e com tan
3
ta honra , como ſe vê naquella celebre Carta , que
eſcreveo a ElRey D .Manoel queixando-ſe do pou .
co que era attendido ſeu irmao D . Antonio deNo:
ronha (depois Conde de Linhares.) Nella refere
parte dos merecimentos dos ſeus antepaſſados , os
ſeus ſerviços , e os de ſeu irmao D . Antonio para
poder eſperar delRey , que nað foſſe outro Vallal.
lo preferido a elle. ElRey lhe reſpondeo da ſor
te , que moſtra a eſtimaçao , que merecia hum tað
grande Vaſſallo . Finalmente faleceo em Almeirim
no anno de 1523 , e jaz no Convento de S. Franciſ,
co de Leiria , para onde foy trasladado do Capitulo
de S . Franciſco de Santarem , em que eſteve depofi
tado. Caſou com D .Maria Freire levado mais da
inclinaçao , do que da vontade doMarquez feu pay :
era filha unica, e herdeira de Joað Freire de Andra,
de, Senhor de Alcoutim , Apoſentador môr da Ca
fa Real, e de D .Leonor da Sylva , filha de Pedro
GonçalvesMalafaya, Védor da Fazenda delRey D .
Joað o I. e neta de Joao Freire de Andrade, Senhor
de Bobadella , do Julgado de Lagos, de Travanca ,
e de Covas , e de D . Catharina de Souſa , filha de
Chancellar, delRey D . Martim Affonſo de Souſa , Senhor de Mortagua ,
João do livo do pag.23. biſneto delRey D . Affonſo III. e biſneta de Gomes
Freire de Andrade, Senhor de Bobadella , de Tra
vanca , do Julgado de Lagos, e Covas , com todas
'as ſuas juriſdiccoens , e Padroados, de que lhe fez
merce ElRey D . Joað o I. a 24 de Mayo de 1424 ,
e de
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 203
e de ſuamulher D . Leonor Pereira , Dama daRai.
nha D . Filippa , filha de Alvaro Pereira , Marichal
de Portugal , Senhor da Terra da Feira , o qualera
filho de Nuno Freire de Andrade , Meſtre da inſig,
ne Ordem Militar de Chriſto , deſcendente por va.
ronîa da Familia dos Andrades de Galiza, que neſte
Reyno foy peſſoa de grandesmerecimentos , como
fe vê na Hiſtoria daquelle tempo : deſte matrimonio
naſcera ) :
· 14 D . PEDRO DE MENEZES, terceiro Marquez
de Villa -Real, ſegundo Conde de Alcoutim , e de
Valença , quinto Capitað General proprietario de
Ceuta , e Senhor de Almeida. Foy erudito , como
ſe vê nas Obras de Cataldo Siculo , onde ſe lem die
verſas Cartas para o Marquez , entao Conde de Al.
coutim , em que louva a ſua eloquencia na lingua
Latina aſſim na proſa , como no metro, e em huma
lhe diz : Non folùm te noftratibus Poëtis prefero, fed
veteribus illis comparo. Foy hum dosmais inſignes,
e valeroſos Capitães do ſeu tempo , como moſtrou
quando aſſiſtio governando a Praça de Ceuta , em
que conſeguio muitos triunfos. Caſou com ſua
prima com irmãa D . Brites de Lara, de quem fica
já eſcrita a ſua eſclarecida poſteridade no Liv . III.
Cap .VIII. pag. 514 , e agora ſó apontamos, que lhe
toca o ſangue da Sereniſſima Caſa de Bragança por
eſta parte .
14 D . Joað DE NORONHA, que fervio em Afric
ca , e foy Capitað de Ceuta , que governou comde
gran
Z
204 Hiſtoria Genealogica .
grande reputaçað , e valor no anno de 1520 . For
morto na guerra pelosMouros em 16 de Agoſto de
1524 , e ſendo recolhido à Cidade , jaz na Cathedral
della ; naõ caſou, mas teve baſtardos:
15 D . ANTAV DE NORONHA .
15 D . ANDRE' DE NORONHA , dos quaes
adiante diremos.
14 D . Nuno ALVARES DE NORONHA, que ſer
vio em Ceuta , e foy Governador daquella Praça, e
Mordomo môr da Rainha D . Catharina , mulher
delRey D . Joað o III. de quem foy Védor da Fa.
zenda. Caſou com D . Maria de Noronha , filha
de D .Martinho de Caſtello -Branco, primeiro Con
de de Villa -Nova , e da Condeſſa D .Mecia de No.
ronha , e morreo ſem ſucceſlao . Jaz enterrado na
Capella da invocaçað da Cruz do Convento do Car.
mo de Lisboa , junto com ſua mulher , que elles fi
zerao , e dotara) , e no Epitafio ſe lhe dá o appelli
do de Pereira.
* 14 D . AFFONSO DE NORONHA , de quem
adiante ſe dirá .
: 14 D . LEONOR DE NORONHA , foy Senhora de
excellentes virtudes , erudîta nas humanas , e Divi
nas letras , verſada em diverſas linguas , diſcipula do
Meſtre André de Rezende, e para ella , e ſeu irmao
o Conde de Alcoutim compoz a Arte da Gramma
tica , que imprimio em 1540. Foy ornada demuita
erudiçað , e piedade, comomoſtrou nas Obras , que
eſcreveo ; a ſaber : a elegante traducçaõ de Latim em
Portus
da Caſa Real Portug. Liv.Vi. 205
Portuguez das Eneidas de Marco Antonio Sabelico, Nunes de Leaố, Dita
crip. de Portug. c. 90.
das quaes a primeira , e ſegunda ſe imprimirað no
anno de 1553 , e as outras le conſervað manuſcritas. Jardim de Portug;numa
132.
Tratado da Hiſtoria de Job , que imprimio no fim da
Eneida. Hum Tratado , em que ſe contém Tree Cardoſo Agiol. Lufite
tres tom , I. pag.4544
Meditaçoens, a que ajuntou humabreve declaraçao
do Padre Noſſo . Tambem imprimio no anno de
1552 hum livro intitulado Principio da noſſa Redemp
çað , que trata das vidas de Chriſto , e da Virgem
Maria , pelo que he louvada por muitos Eſcritos
res. D . Nicolao Antonio na Bibliotheca Hiſpanica
lhe faz hum merecido elogio , e o Doutor Duarte
Nunes de Lea ) , e outros; e ainda mais, porque via
vendo em perpetua caſtidade acabou com opiniao
de virtude no anno de 1563 contando ſetenta e cine
co de idade, e della faz mençað , como de peſſoa
inſigne em virtude, o Licenciado Jorge Cardoſo no
Agiologio Luſitano entre os Santos , e Varoens il.
luſtres em ſantidade no dia 17 de Fevereiro . Jaz
no Moſteiro de S. Domingos de Santarem na Ca
pella de Jeſus , onde ſe lê eſte Epitafio :
Aqui jaz D . Leonor de Noronha ,
filha de D . Fernando de Menezes ,
ſegundo Marquez de Villa-Real, e
da Marqueza'D . Maria Freire , que
faleceo fem caſar de idade de ſetenta
e cinco annos no de M . D . LXIII.
D . AFFON
206 . Hiftoria Genealogica
Torre do Tombo, liv. * 14 D . AFFONSO DE NORONHA , naſceo fic
36. da Chancel. del.
Rey D.Jozó III.fol.46. lho quarto do ſegundo Marquez de Villa -Real; foy
Apoſentador môr delRey D .Joað o III. de que te .
2.part.2.6.9.fol.250. ve Carta paſſada em Lisboa a 13 de Fevereiro de
1525 ; depois parece , que vendeo eſte officio com fa
culdade Real a Lourenço de Souſa da Sylva. Foy
Commendador das Olalhas, de S . Miguel da Guer
ra , e S. Joao da Caſtanheira na Ordem de Chriſto .
Governou muitos annos com grande reputaçað a
Praça de Ceuta por ſeu irmao , onde entrou no an .
no de 1538: della o chamou ElRey para Vice -Rey
da India no anno de 1549 para o que lhe fez algu
masmerces. Sahio de Lisboa a 3 deMayo de 1550
com quatro naos além de hum Galea) , que nao eſ.
tava prompto , mas logo o ſeguio , e ſuppoſto levou
trabalhofa viagem chegou a Ceilað no fim de Ou.
tubro , e paſſou a Cochim , aonde o Governador
Jorge Cabral lhe entregou o governo da India , de
que foy o quinto Vice-Rey , e nosGovernadores o
decimo ſetimo daquelle Eſtado, que regeo com deſ.
intereſſe quatro annos com alguns proſperos fuccef
ſos deſtruindo huma Armada dos Turcos, e conſe
guindo glorioſo nome voltou pobre ao Reyno , e
foy ultimamente Mordomo môr, e Governador da
Caſa da Infanta D .Maria , filha delRey D .Manoel.
Jaz noMoſteiro de S . Domingos de Santarem . Ca.
ſou com D . Maria de Eça , filha que veyo a ſer her .
deira de Fernaõ de Miranda , e de D . Catharina de
Eça , e tiverao os filhos ſeguintes :
D . FER ,
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 2007
15 D . FERNANDO DE NORONHA , que tendo
ſervido com ſeu pay em Africa , e depois na India,
onde foy Capitað môr de huma Armada de vinte
embarcaçoens , foy invernar a Cochim para ſegurar
aquelles mares, donde depois voltou com o Vice
Rey D . Affonſo de Noronha, ſeu pay, quando fez
a guerra ao Rey de Chumbe , e em diverſas occa
fioens em que moſtrou preftimo, e valor; e voltari:
do ao Reyno com ſeu pay , a Rainha D . Cathari
na , que governava na menoridade delRey D . Se
baſtia) , o mandou governar Ceuta por appreſenta
çao do Marquez de Villa-Real D . Miguel , feu pri
mo ; depois de governar eſta Praça voltou a Portu
gal , aonde faleceo , e jaz no Moſteiro de S . Do
mingos de Lisboa na Capella de Noſſa Senhora do
Roſario , que ſua ſegunda mulher comprou , e or
nou para ſua ſepultura. Foy Senhor das Villas de
Maceira , e Serém , Commendador de Rio -Torto ,
e das Olalhas naOrdem de Chriſto . Caſou primei.
ra vez com D .Maria de Vilhena , filha deManoel
Telles de Menezes , Senhor de Unhað , e de D .
Margarida de Vilhena. Caſou ſegunda vez com
D . Antonia de Mendoça , que depois de viuva foy
Freira no Moſteiro da Eſperança de Lisboa, filha
de Manoel de Mello Coutinho , Commendador de
Torrados na Ordem de Chriſto , é de outras Com
mendas , Veador da Cafa da Princeza D . Maria ,
mulher delRey D . Filippe II. e de D . Maria de
Mendoça , filha de Jorge de Mello , Monteiro
Tom . V . Dd môr
208 Hiſtoria Genealogica
môr do Reyno , e de nenhuma teve filhos.
15 D . MIGUEL DE NORONHA , com que ſe con
tinúa.
15 D .Joao de Eça , tomou o appellido de ſua
māy, foy Clerigo , e Conego de Ceuta , e teve ou .
tros Beneficios.
15 D .JORGE DE NORONHA , que foy filho quar ,
to ; foy Commendador na Ordem de Chriſto , ſer .
vio em Ceuta humaCommenda ſendo alliCapitao,
e tornando ao Reyno voltou a Ceuta em tempo do
Marquez D . Manoel , ſeu primo , primeiro Duque
de Villa -Real. Neſta Praça eſteve alguns annos,
e paſſou com ElRey D . Sebaſtia ) à Africa no anno
de 1578 , e nao ſe achou na batalha por ficar doente
em Arzila . Caſou na Ilha Terceira com D . Iſabel
deMendoça , filha herdeira de Antað Martins Ho.
mem , Capitao donatario da Villa da Praya, e de
D .Joanna de Mendoça , de quem nao teve geraçao;
a qualCapitania por morte de ſeu pay deu ElRey
D . Filippe a D . Chriſtovao de Moura , primeiro
Marquez de Caſtello -Rodrigo , dando à dita D .
Iſabel , e a ſua irmãa D . Clemencia de Noronha
200Uooo de tença a cada huma.
: 15 D . CATHARINA DE EÇA , Dama da Rainha
D . Catharina. Caſou com D . Rodrigo deMello ,
primogenito do ſegundo Marquez de Ferreira , ſem
ſucceſlao , como ſe dirá em ſeu proprio lugar no
Liv . IX .
: * 15 D . MIGUEL VE Noronha , que foy o
o ſegun
da Caſa Real Portug. Liv . Pl. 209
ſegundo filho de D . Affonſo de Noronha; pormor
te de ſeu irmao D . Fernando de Noronha ſucce .
deo na Caſa de ſeu pay ; foy Commendador de Ola .
Ihas , da Caſtanheira , e de S . Martinho de Ranha
dos na Ordem de Chriſto , do Concelho delRey D .
Sebaſtia) , e hum dos quatro Coroneis , que o mel
mo Rey nomeou para levantar gente para a facçao
de Africa , e com elle ſe achou na batalha , em que
foy cativo , e hum dos cinco Fidalgos , que forao
eleitos para tratar do reſgate dos outros Fidalgos ,
que eſtava) cativos, entrando no numero dos oiten
ta. Foy Apoſentador môr delRey D . Filippe II.
e nomeado Capitað, e Governador de Ceuta ; mor.
reo apreſſadamente , e jaz no Moſteiro de S. Domin .
gos de Santarem . Caſou com D . Joanna de Vilhe
na, que depois de viuva foy Freira na Annunciada
de Lisboa , filha de D . Franciſco Coutinho , Com
mendador da Ilha de Santa Maria , que ſe achou na
expediçaõ de Tunes acompanhando o Infante D .
Luiz , e de D . Filippa de Vilhena, filha de D . Dio .
go Lobo , Baraõ de Alvito , e tiveraõ eſtes filhos.
* 16 D . AFFONSO DE NORONHA.
16 D . LUIZ DE NORONHA , que paſſou à India
no anno de 1597 , e depois de embarcar no anno ſe
guinte na Armada do Malavar , de que era Capitað
môr D .Luiz da Gama, voltou a Goa, onde morreo.
16 D . FILIPPA DE VILHENA , foy Dama da In
fanta D . Iſabel Clara Eugenia , filha delRey Filip ,
pe II. de Caſtella , e morreo ſem eſtado,
de Tom . y . Dd ii D . CA
210 . Hiſtoria Genealogica :
16 D .CATHARINA DE Eça , que ſendo de ida.
de de quatorze annos , e dotada de muitas partes
faleceo em Santarem do terrivelmal de peſte .
16 D . FRANCISCA DE VILHENA , Freira na An.
nunciada de Lisboa.
* 16 D . AFFONSO DE NORONHA , foy Com
mendador das Commendas de S. Joað da Calianhei.
ra , S.Nicolao de Cabeceiras de Baſto, Santa Maria
de Belmonte , S . Salvador de Peña-Mayor , e das
Olalhas na Ordem de Chriſto , e depois de ter fer
vido varios poſtos nas Armadas foy Capitað mór das
naos da India no anno de 1597 , a qual viagem fez
com felicidade , e voltando ao Reyno no de 1599
occupou o poſto de General da Armada na occa
ſiao , que ſe entendeo , que a Armada de Hollanda,
e Zellanda vinha a eſte Reyno ; e ſendo occupado
nos Governos das Praças de Tangere , e Ceuta per.
to de dez annos, em todo o leu tempo nað teve in .
felicidade alguma: na expediçaõ de Larache quan .
do ſe tomou , ſe deveo muito à ſua induſtria , e tra.
balho , fazendo grandes deſpezas com as tropas lleſ.
panholas, que teve em Tangere para aquella fac
çao ; aos filhos de Muley Rey de Fez tratou com
Aſia Port. tom .3 . part grandeza moſtrando em tudo a do ſeu animo vale
3. cap. 2 1. fol. 367.Troſo.
10 Ultimamente ſendo nomeado Vice-Rey da
India no anno de 1621 para onde partio em 29 de
Abril , nao chegou a governar por arribar com a
Armada a Lisboa. Foy do Concelho de Eſtado
delRey FilippeIV . e morreo em Madrid . Calou
com
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 211
com :D . Archangela Maria de Portugal, filha de D .
Pedro de Noronha , ſetimo Senhor de Villa - Ver
de , e de D . Catharina de Ataide ſua ſegunda mu
lher, e teve a filha, e filho ſeguinte.
. 17 D . JOANNA DE NORONHA , que foy Dama
da Rainha D . Margarida de Auſtria . Caſou em
Caſtella com D . Luiz Carrilho de Toledo , primei
ro Marquez de Carracena, Conde de Pinto , Go
vernador de Galiza , Vice -Rey de Valença , do
Concelho de Eſtado, e Preſidente do Concelho de
Ordens, de quem foy ſegunda mulher ſem ſucceſ
fað.
* 17 D .MIGUEL DE NORONHA , ſuccedeo na
Caſa de ſeu pay , e foy quarto Conde de Linhares ,
Senhor de Fornos, Algodres, e Penaverde , Alcai
demôr de Viſeu , e Commendador de Noudar , e
Barrancos da Ordem de Aviz , tudo por nomeaçað
de D . Fernando de Noronha, terceiro Conde de Li.
nhares , primo ſegundo de ſeu avô paterno , por ca
far com ſua ſobrinha, e neta de D . Antonio deMe.
nezes ſeu primo com irmao. Occupou grandes lu .
gares, porque foy Governador , e Capita ) General
da Praça de Tangere, do Concelho de Eſtado de
Portugal , Gentilhomem da Camera delRey Filip .
pe IV . General da Armada do mar Oceano , e Ge.
neral das Galés de Sicilia, e das de Helpanha , Vice
Rey da India , vigeſimo feptimo dos que tiverað er Faria Aria Port. tom . go
te Titulo ; e paſſou àquelle Eſtado no anno de 1629,; part.4. cap.9. fol.4854
que governou ſeis annos, hum mez, e dezaſete dias
em
212 Hiſtoria Genealogica
em que moſtrou valor, e prudencia ; foy notado de
ſevero , ſofreo algumas ſem razoens da atrevida mai
licia , ou da inveja , nað merecidas da grande quali
dade da ſua peſſoa , nem dos ſeus coſtumes , e me
nos pelo governo , em que foy vigilante , deixando
na Cidade deGoa monumentos do ſeu cuidado , e
Religiao. Voltou a Portugal no anno de 1635 , e
paſſou à Corte de Madrid , e ſendo bem recebido
dos Reys , foy murmurado dosmais por ter appre.
ſentado a ElRey hum cinto , ou tranſelim de dia .
mantes , e à Rainha humas arrecadas de cabaças, e
perolas de grande valor. Succedendo a Acclama.
çaõ em Portugal ficou no ſerviço de Caſtella : El
Rey Filippe IV . o fez Marquez de Gijon , e Du
que de Viſeu ; e faleceo em Madrid pelos annos de
1647. Das culpas, que lhe arguira ) , corre impreſ.
fa a defenſa , e a honrada ſentença , que teve , e a
que he mais glorioſa à ſua memoria , foy a que ſe
deu no juizo da Coroa , em que ſe julgou , que elle
fora ſempre bom Portuguez , nao comando as armas
contra o Reyno , para onde nao pode voltar de.
pois da Acclamaçað , e que aſſim devia a Coroa a
ſeus ſucceſſores as legitimas , que pertenderað , que
com effeito ſemandou pagar ao Conde de Sarzedas,
ſeu deſcendente . Caſou com D . Ignacia de Me
nezes e Vaſconcellos, filha de D . Pedro de Mene
· zes , Alcaide môr de Viſeu , e de D .Maria de Val
concellos, e tiverað os filhos ſeguintes:
18 D .AFFONSO DE NORONHA , quemorreo me :
nino , D . FER ,
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 213
* 18 D . FERNANDO DE Noronha , Duque
de Linhares.
18 D .JERONYMO DE NORONHA , ficou com ſeu
pay em Caſtella , e ſervio com reputaçað lendo Ca.
pitao Governador dasGuardas do Archiduque Leo
poldo Guilhelmo de Auſtria , Governador de Flan
dres. ElRey Filippe IV . lhe deu o Titulo de Con .
de deCaſtel-Mendo, e depois da paz com Caſtella
voltou a Portugal , e morreo em Lisboa em 3 de De
zembro de 1668. Nao calou , mas teve tres filhos
naturaes , que ficara ) em Caſtella , e huma filha Frei.
ra na Annunciada de Lisboa , chamada D . Ignacia
Severina de Santa Roſa .
18 D . PEDRO DE NORONHA , que foy o quarto
na ordem do naſcimento , a quem o amor da patria
obrigou a deixar ſeu pay , e irmãos em Caſtella , pa
ra ter parte na ſua defenſa : foy Capitao de Cavallos
na Provincia de Alemtejo , e morreo ſolteiro da fe
rida de hum tiro de cravina , que lhe deraõ huma
noite em Lisboa ; era valeroſo , geralmente bem .
quiſto , e nao caſou.
: 18 D . AFFONSO DE NORONHA , filho quinto ,
foy Cavalleiro da Ordem de S .Joað de Malta ; paf
ſou com ſeu irmao para Portugal, ſervio no Braſil ,
e voltando para o Reyno morreo em hum comba
te com os Hollandezes , queimando -ſe o ſeu navio .
* 18 D .ARCHANGELAMARIA DE PORTUGAL ,
Condeſſa de S. Joað , adiante .
* 18 D .MARIA ANTONIA DE VASCONCELLOS,
Condella deSarzedas, adiante .
214 Hiſtoria Genealogica
18 D . JOANNA DE NORONHA , Freira no Mof
teiro da Annunciada de Lisboa daOrdem de S . Do.
mingos.
18 D . FILIPPA MARIA DE NORONHA , Freira
no Moſteiro de S. Domingos o Real de Madrid .
18 D . MARIANNA DE NORONHA , illegitima ,
Freira na Annunciada de Lisboa.
# 18 D . FERNANDO DE NORONHA , que ſuc.
cedeo na Caſa . Sendo muito moço fervio na India,
lendo ſeu pay Vice-Rey ; foy ferido em Mombaça,
e ſe achou em Surrate contra os Hollandezes: por
morte de ſeu pay foy quinto Conde de Linhares ,
que ElRey Filippe IV . Jhe elevou ao Titulo de
Duque de Linhares para lhe recompenſar com as
honras de Grande de Heſpanha, e com outras mer:
ces a renda da Caſa , e Condado , que perdera em
Portugal ; foy ſeu Gentilhomem da Camera , e ſer
vindo contra a ſua patria foy morto na batalha das
Linhas de Elvas em 14 de Janeiro de 1659. Carou
em Madrid no anno de 1637 com D .Marianna da
Sylva, Dama da Rainha D . Iſabel de Borbon, filha
de D .Manrique da Sylva,primeiroMarquez de Gou .
vea , e da Marqueza D .Joanna de Caſtro , ſua ſegun.
da mulher , e deſte matrimonio naſceraõ eſtes filhos.
19 D .MIGUEL DE NORONHA , naſceo no anno
de 1645. Foy ſegundo Duque de Linhares, Grande
de Heſpanha , e pelo ſeu caſamento Conde de Sinar
cas, Marquez de Sot, e Viſconde de Chelva noRey .
no de Valença . Foy Eſtribeiro môr da Rainha D .
: : Marian
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 219
Marianna de Baviera , e morreo ſubitamente em
Toledo no mez de Agoſto do anno de 1703 ſem
deixar ſucceſlao .
Caſou em 19 de Abril de 1674 com D . Lucrecia da
Sylva Ladron Villa -Nova e Ferrer , que naſceo no
primeiro de Mayo de 1654 ; e foy Dama daRainha
D . Marianna de Auſtria , a qual por morte de ſua
irmãa D .Marianna Barbara , quarta Condeſſa de Si
narcas, & c . ſem ſucceſla ) , tendo caſado duas vezes,
a primeira com D . Joao Guilhen de Palafox e Car
dona , filho herdeiro do Marquez de Ariza , e a ſe
gunda com D . Antonio Coloma Borja e Pujadas ,
terceiro Conde de Ana,Marquez de Navarrês, & c.
Erað filhas de D .Gaſpar Ladron de Villa -Nova e
Ferrer , terceiro Conde de Sinarcas, Viſconde de
Chelva , Senhor das Baronias de Sot, e Quartel no
Reyno de Valença , em cuja Caſa veyo a ſucceder
D . Lucrecia , e foy quinta Condeſſa de Sinarcas,
Marqueza de Sot , e Camereira môr da Rainha D .
Marianna de Baviera , em cujo ſerviço morreo em
Bayona no anno de 1729 ſem ſucceſfa ) .
· 19 D . MANRIQUE DE NORONHA , que foy Ca
pitað General da Coſta deGranada, e morreo lol
teiro no anno de 1693.
. 19 D . JOSEPH ANTONIO DE NORONHA , que ſe.
guio a vida Eccleſiaſtica , e foy Conego , e Deao
de Murcia , Prebendas , que renunciou com deſejo
deoutro eſtado , e eſteve contratado para caſar com
D . Maria Luiza de Zuniga , ſexta Marqueza de Bai.
1. Tom . V . Ee des ,
216 Hiſtoria Genealogica
des, Condeſſa de Pedroſa , viuva de D . Franciſco
Belchior de Avila e Zuniga , Marquez de la Pue.
bla , e de Loriana; porém nao teve effeito por more
rer eſta Senhora antes de fe effeituarem as vodas.
19 D . JOANNA DE NORONHA , caſou com D .
Agoſtinho de Lencaſtre, Duque de Abrantes , de
cuja fucceſſað fe dirá no Cap. XI. do Liv. XI. e na
ſua ſucceſſað recahio o Titulo de Duque de Linha
res.
19 D . IGNACIA DE NORONHA.
19 D .MICHAELA DE NORONHA .
· 19 D .MARGARIDA DE NORONHA .
19 D .MARIA THERESA DE NORONHA, todas
Freiras em S . Domingos o Real de Madrid .
· 19 D , FILIPPA de Noronha , e
19 D . JOSEFA DE NORONHA , Freiras no Mof
teiro das Carmelitas Deſcalças de Santa Anna de
Madrid .
* 18 D .ARCHANGELA MARIA DE PORTUGAL ,
filha primeira de D . Miguel de Noronha, e de D .
Ignacia deMenezes de Valconcellos, quartos Cone
des de Linhares , eſteve concertada para caſar com
D . Jeronymo de Ataide , ſetimo Conde de Atou .
guia , o que nao teve effeito , e caſou com Antonio
Luiz de Tavora , ſegundo Conde de S. Joað da Peſ
queira , Senhor de Mogadouro , Paredes , Penela ,
Cedaveira , Ordea , Camudaes, Paradela , Tavora ,
Valença, Caſtanheiro , e outras Villas, Alcaide môr
de Miranda, Commendador de S.Mamede de Mo.
gadou
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 217
gadouro na Ordem de Chriſto , decimo ſexto Se.
nhor da Caſa de Tavora , huma dasmais illuſtres de
Heſpanha , e tað antiga , que della , e do principio
do Reyno temos igual noticia : faleceo no anno de
1654 , e deſte matrimonio teve :
* 19 Luiz ALVARES DE TAVORA , Marquez
de Tavora , adiante.
* 19 MIGUEL CARLOS DE TAVORA , Conde
de S. Vicente.
# 19 FRANCISCO DE TAVORA , Conde de Al
yor .
19 D . IGNACIA DE Menezes, que caſou com
D . Luiz de Portugal , ſexto Conde de Vimioſo , co
mo diremos no Cap . VIII. do Liv . X .
19 D .LEONOR DE TAVORA , Religioſa no Mof
teiro do Sacramento deſta Corte .
. * 19 Luiz ALVARES DE TAVORA , primeiro
Marquez de Tavora , terceiro Conde de S. Joao ,
decimo fetimo Senhor da Caſa de Tavora de Mo.
gadouro , & c. naſceo em 7 deMarço do anno de
1634 . Foy Gentilhomem da Camera do Infante
D .Pedro , do Concelho de Guerra delRey D . Af.
fonſo VI. General da Cavallaria das Provincias de
Entre Douro e Minho , e Traz os Montes , Mef.
tre de Campo General da dita Provincia , e ultima
menteGovernador das Armas da Provincia de Traz
os Montes. Servio na guerra com valor, reputa.
çað , e feliciſſima fortuna , ſendo hum das Varoens
linalados do ſeu tempo , que em obſequio da patria
Tom . V . Ee ii tantas
218 : Hiſtoria Genealogica
tantas vezes ſoube arriſcar a ſuapeſſoa para a fazer
glorioſa. O Principe Regente D . Pedro o creou
Marquez em premio dos ieus grandes ſerviços por
at
Carta de 18 de Agoſto de 1669 , e lhe fez outras
merces devidas à ſua peſſoa , e à repreſentaçao da
ſua Caſa : morreo na noite de 25 deNovembro do
anno de 1672. Seu grande amigo o Conde da Eri
ceira D . Luiz deMenezes fez hum Compendio Pa .
og
negyrico da vida doMarquez, que ſe imprimio com
obras metricas no anno de 1674, e depois na ſua ad
miravel Obra do Portugal Reſtaurado traz as fuas
operaçoensMilitares , como boa parte da ſua Hif
toria. Caſou no anno de 1655 com D . Ignacia de
Menezes ſua prima com irmãa , filha primeira de D .
Rodrigo da Sylveira , primeiro Conde de Sarzedas,
e da Condeſſa D . Maria de Menezes e Vaſconcelo
los , e naſceraõ deſte matrimonio :
· * 20 ANTONIO LUIZ DE TAVORA , Marquez
de Tavora.
:- 20 Ruy PIRES DE TAVORA , Porcioniſta do
Collegio de S. Pedro de Coimbra, de profiſſao Cao
noniſta , e bom Letrado. Foy Abbade de Caſtello
Branco, e Arcediago deNeiva na Sé de Braga.
20 BERNARDO DE TAVORA , Religioſo da Or;
dem dos Eremitas de Santo Agoſtinho, Doutor em
Theologia , e Cathedratico na Univerſidade de
Coimbra, de muitas letras , e virtudes.
- 20 LUIZ DE Tavora , que naſceo poſthumo ,
e morreo de bexigas na Religiao dos Prégadores ,
ſendo
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 219
fendo pupilo , e outros , que faleceraõ de tenra ida
de .
* 20 D . MARIA JOSEFA DE TAVORA , Con
deſfa dos Arcos.
# 20 . D . IGNEZ CATHARINA DE TAVORA , ca .
fou com ſeu tio Franciſco de Tavora , Conde de
Alvor, adiante. . .
20 D . ARCHANGELA DE TAVORA , Religioſa
no Moſteiro da Annunciada de Lisboa da Ordem
de S. Domingos.
: 20 D . LEONOR THOMASIA DE TAVORA , caſou
com Triſtað Antonio da Cunha, Senhor do Morga.
do de Payo Pires. A ſua fucceffað ſe dirá no Cap.
III. 2. I. do Liv . X .
* 20 ANTONIO LUIZ DE TAVORA , naſceo no
anno de 1656 , foy ſegundo Marquez de Tavora ,
quarto Conde de S . Joað , decimo oitavo Senhor em
Baronîa das Villas de Tavora , Valença do Douro ,
Paradella , e Caſtanheiro , patrimonio da Caſa de
Tavora , Senhor de S . Joao da Peſqueira , Penas.
Royas , Craſto -Vicente , Alfandega , Mirandela ,
Mogadouro , Lordello , Alijo , Favayos, e Honra de
Gallegos, em que ſe comprehendem cento e dous
Lugares, Alcaidemôr da Cidade de Miranda , Pa.
droeiro do Moſteiro de S . Pedro dasAguias da Ora
dem de S . Bernardo , e do Moſteiro de S . Franciſco
do Mogadouro , e da Miſericordia da dita Villa ,das
Abbadias de S. Vicente de Vinhaes , de S.Martinho,
de Santa Maria a Velha de Caſtello -Branco , de S.
Pedro
220 Hiſtoria Genealogica
33
Pedro da Bem Poſta , de S. Joao Bautiſta de Tavo.
ra , e de vinte e dous Curados annuaes, e Commen .
dador de Santa Maria a Velha de Caſtello -Branco .
Servio na guerra contra Caſtella , e foy Meſtre de
Campo de hum terço de Infantaria , e Tenente
.
General da Cavallaria de Traz osMontes ; morreo
a 8 de Fevereiro do anno de 1721. Caſou em 2 de
Junho de 1676 com D . Leonor de Mendoça , filha
de Henrique de Souſa Tavares , primeiro Marquez
de Arronches , terceiro Conde de Miranda , do Con
celho de Eſtado , e Guerra , e Governador da Re
laçaõ do Porto , & c . e da Marqueza D . Marianna
de Caſtro , e naſceraõ deſte matrimonio :
# 21 Luiz BERNARDO DE TAVORA, Conde
de S . Joað .
21. HENRIQUE VICENTE DE TAVORA , naſceo a
25 de Agoſto de 1678. Foy Porcioniſta do Colle
gio de S. Pedro , Doutor em Canones na Univerfi
dade de Coimbra , onde foy Oppofitor às Cadeiras
delles, Deputado do Santo Officio da Inquiſiçao da
dita Cidade , Abbade de Vinhaes , appreſentaçao da
Caſa de Tavora , Sumilher da Cortina, e he Theſou.
reiro môr da Santa Igreja Patriarchal.
21 BERNARDO DE TAVORA , que naſceo do
meſmo ventre com Henrique, e viveo pouco tem
po .
12 BERNARDO DE TAYORA (outro ) naſceo a
15 de Novembro de 1680 , e morreo de curta ida
de.
D . MA ,
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 22 I
21 D . MARIANNA THERESA DE TAVORA , naſ
ceo a 18 de Outubro de 1681. Caſou com D . Je.
ronymo de Ataide , decimo Conde de Atouguia ,
como ſe dirá no Cap. V . do Liv . VIII.
21 MIGUEL DE TAVORA , naſceo a 9 de No
vembro de 1683 , he Religioſo da Ordem dos Ere
mitas de Santo Agoſtinho , Lente de Theologia na
Univerſidade de Coimbra , e foy Provincial da ſua
Religiao , onde ſe diſtingue em letras, e virtudes. .
21 D . IGNACIA ROSA DE TAYORA , naſceo a
10 de Janeiro de 1685. Caſou com D . Martinho
Maſcarenhas, terceiro Marquez deGouvea, como
ſe dirá no Cap. III. do Liv . VII.
· 21 D . BERNARDA JOSEFA DE TAVORA , naſceo
a 31 de Novembro de 1686 . Caſou a primeira vez
com ſeu tio Joao Alberto de Tavora, terceiro Con
de de S . Vicente , e por ſua morte com D . Rodri
go da Sylveira , Conde de Sarzedas, como diremos.
21 FRANCISCO XAVIER DE TAVORA , naſceo a
13 de Abril de 1687 , ſervio na guerra contra Cafe
tella occupando varios poſtos , e foy ultimamente
Meſtre de Campo General dos Exercitos de Sua
Mageſtade, e Governador do Rio de Janeiro , em
que nao moſtrou menos deſintereſſe , do que valor
na guerra ; mas infelizmente preoccupado da me.
lancolia padeceo no juizo variedade, com que ficou
pela enfermidade inutil a poder exercer as excellen
tes virtudes, de que era ornado. HeCommendador
na Ordem deChriſto de Folgoſinho , em que ſucce.
deo
222 Hiſtoria Genealogica
SYT
deo a ſeu pay , e nas Villas , Lugares ; e bens da
Coroa, por tudo ſer de juro , e herdade, e elle ſer o
Varað pela morte de ſeu irmao o Conde Luiz Ber.
nardo , como lhe foy julgado contra ſua ſobrinha a
Marqueza D . Leonor de Tavora.
21 D . ISABEL MICHAELA DE TAVORA, naſceo
a 8 de Mayo de 1689 , e faleceo de pouca idade.
21. ANTONIO Luiz de TAVORA , naſceo a 6 de
Setembro de 1690 , he Religiofo Eremita de Santo
.8-
Agoſtinho , e Provincial no anno de 1734.
21 D . CAETANA DE TAVORA , Religiofa no
Moſteiro da Annunciada de Lisboa.
# 21 Luiz BERNARDO DE TAVORA , naſceo a
2 de Abril de 1677 , quinto Conde de S. Joað : foy
Meſtre de Campo de Infantaria , Tenente General
da Cavallaria , General de Batalha , e Meſtre de
Campo General dos Exercitos de Sua Mageſtade ,
e com eſtes poftos fervio na guerra contra Caſtella
com a reputaçao , e valor herdado dos ſeusMayo
res. No anno de 1709 no choque da Godinha fic
cou prizioneiro , e voltando ao Reyno continuou o
ferviço . Governou as armas da Provincia de Traz
osMontes, e depois em Setuval, e foy do Conce
lho de Guerra , Commendador de S . Pedro de Al.
dea de Joanne na Ordem de Chriſto . Morreo em
vida de ſeu pay em 14 de Fevereiro do anno de
1718. Caſou em 20 de Agoſto de 1695 com D .
Anna de Lorena, filha de Nuno Alvares Pereira de
Mello , primeiro Duque do Cadaval , Marquez de
Ferrei
da Cafa Real Portug. Liv.VI. 223
Ferreira , e da Duqueza D . Margarida de Lorena ;
e depois de viuva (tendo caſada a lua filha) com
hum fervoroſo eſpirito de devoçaõ tomou o Habi
to das Deſcalças da Madre de Deos, onde profef
fou a 4 de Outubro de 1722; deſte matrimonio ti
vera) :
22 ANTONIO BERNARDO DE TAVORA, que naf
ceo a 15 de Abril de 1699 , e morreo de bexigas no
i de Novembro de 1716 , acabando nelle a varonîa ,
e a linha primogenita da antiquiſſima Caſa de Ta.
vora .
22 D . MARGARIDA DE TAVORA , que morreo
de tenra idade.
22 D . LEONOR DE TAVORA , naſceo a 15 de
Março de 1700 , a quem a natureza dotou de admi
ravel fermolura , e ornou de excellentes virtudes , a
que ajuntou o goſto da liçaõ dos livros , com a qual
brilha o ſublime eſpirito do leu admiravel talento ;
he terceira Marqueza de Tavora , fexta Condeſſa de
S .Joað, & c. Calou no anno de 1718 a 21 de Fe
vereiro com ſeu primo com irmao , e tio Franciſco
de Aſſis e Tavora , para nelle le continuar a excel.
la varonîa da grande Caſa de Tavora , como adiante
le dirá .
: * 19 MIGUEL CARLOS DE TAVORA , naſceo
a 23 de Janeiro de 1641 , filho ſegundo de Antonio
Luiz de Tavora , legundo Conde de S. Joað , e ſen
do deſtinado para a vida Eccleſiaſtica eſtudou em
Coimbra , e foy Porcioniſta do Collegio de S. Pedro .
Tom . V . Ff Com
E3
224 : Hiftoria Genealogica ,
wa
XE
Com deſejo de imitar a ſeus avós nas Campanhas ,
largou os eſtudos, e paſſou a ſervir na guerra contra
Caſtella com o Conde de S.Joað ſeu irma) . Foy
Capita ) de Cavallos na Provincia do Minho , em
que do ſeu valor conſeguio applauſos ; foy prizio
neiro no anno de 1661, e depois de largo tempo foy
reſtituído ao Reyno , e ſendo empregado no poſto
deGeneral de Batalha , teve na guerra muitas occa.
fioens dignas de memoria , e que lhe ſervirao de re
putaçao para ſer eſtimado por hum dosmais vale
roſos Generaes , que teve o ſeu tempo . Na paz
foy Tenente Coronel do Regimento da Armada,
no tempo que delle foy Coronel o Infante D . Pe.
dro , que depois de Principe Regente o fez Conde
de S.Vicente no anno 1672. Servio de Almirante
da Armada Real, poſto que já exercitava no anno
de 1682 na Armada , que foy a Saboya , e pallando
a General da Armada Real o exercitou até a mor.
te. Na guerra do anno 1704 foy Governador das
armas da Provincia de Alemtejo , e do Concello de
Eſtado e Guerra dos Reys D . Pedro II. e D . Joao
o V . e Preſidente do Concelho Ultramarino , Se
nhor das Villas de Geſtaço , Pennas-Joyas , S . Vi
cente da Beira , Póvoa delRey , e Villa Franca ,
Commendador na Ordem de Chriſto das Commen
das de S. Romaõ de Herdal, e de Santa Maria de
Caſtellejo , e outras, que logo ſe dira ) , quando tra
tarmos de ſeu filho. Morreo em 16 de Novembro
de 1726. Caſou com D . Maria Caetana da Cu
nha ,
da Caſa Real Portúg. Liv . Vl. 225
nha , filha herdeira de Joao Nunes da Cunha , pri
meiro Conde de S . Vicente, Senhor dosMorgados
de Refoyos , e Coutadinha , Gentilhomem da Ca
mera do Principe D . Theodoſio , Deputado da Jun
ta dos tres Eſtados, do Concelho de Eſtado e Guer.
ra. Foy erudico em muitas Faculdades , deixou
varias Obras impreſſas , e manuſcritas ; e foy hum
dos Academicos, e Lentes da Academia dosGene.
rofos. Ultimamente paſſou por Vice -Rey à In
dia no anno de 1666 , e tendo governado ſómente
dous annos e vinte hum dias, morreo em 7 de No
vembro de 1668 , e foy fepultado debaixo do Altar
de S . Franciſco Xavier da Caſa profeſſa da Compa
nhia ; e da Condeſſa D . Iſabel de Borbon , filha de
D . Luiz de Lima Brito e Nogueira , primeiro Con
de dos Arcos; e tiverað os filhos ſeguintes :
20 Joao NUNES DA CUNHA E TAVORA .
20 ANTONIO LUIZ DE TAYORA , ambosmorre .
raõ de curta idade.
20 Joao ALBERTO DE TAVORA , naſceo no an .
no de 1677 , e foy bautizado em S . Sebaſtia ) da Pe.
dreira em 21 de Junho : foy terceiro Conde de S. Vi
cente, ſervio na guerra , e occupou varios póſtos até
o de General de Batalha. Morreo valeroſamente
no choque de Broſſas no anno de 1706 , ſendo caſado
com ſua ſobrinha D . Bernarda de Tavora , Dama da
Rainha D .Maria Sofia , que depois foy Condeſſa de
Sarzedas, filha de Antonio Luiz de Tavora , ſegun
do Marquez de Tavora ſeu primo com irmao, T.g .
-- Tom . V . Ff ii MA
226 Hiſtoria Genealogica
* 20 MANOEL CARLOS DE TAVORA , Conde
de S. Vicente , com quem ſe continúa.
20 JOSEPH BERNARDO DE TAVORA,Commen .
dador de Santa Maria de Eſcalha ) , e de Santa Ma
ria de Midoens no Biſpado de Viſeu da Ordem de
Chriſto ; ſervio na guerra ſendo Capitaõ de Caval
los, e he Coronel da Cavallaria de hum dos Regi
mentos da guarniçaõ da Corte . Caſou em 7 de
Fevereiro de 1720 com D . Josefa Gabriela de Brito ,
herdeira de ſeu irmao Antonio de Brito deMene .
zes, que morreo governando o Rio de Janeiro , e
eraõ filhos de Franciſco de Brito Freire, Almirante
da Armada Real, e do Concelho de Guerra , e de
D .Maria de Menezes, filha de Pedro Alvares Ca.
bral , Senhor de Azurara, Alcaide môr de Belmon.
te, e nao tem ſucceſfað até o preſente.
20 D . ARCHANGELA MARIA DE TAVORA , ca.
fou com Triſtao da Cunha de Ataide , primeiro
Conde de Povolide , e a ſua ſucceſſao diremos no
Liv . XI.
20 D . ISABEL DE TAVORA , naſceo em 1676 , e
foy bautizada em S. Sebaſtiao da Pedreira em 19 de
Abril pelo Cardeal de Souſa , a qual ſendo Dama
do Paço , e tendo -a ſeus pays concertada para ca’ar,
tomou o Habito nas Carmelitas Deſcalças de Santo
Alberto de Lisboa , onde foy Prioreza.
20 D . VICTORIA DE TAVORA , caſou com Ro
drigo Telles de Menezes Caſtro e Sylveira , quar
to Conde de Unha) , de quem daremos noticia em
ſeu lugar. D . IGNA :
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 227
: 20 D . IGNACIA DE TAVORA , morreo moça.
* 20 MANOEL CARLOS DE Tavora , naſceo
em 1682. He quarto Conde de S. Vicente , Se
nhor das Villas de Geſtaço , Pennas-Joyas , S. Vi
cente da Beira , Póvoa delRey, Villa-Franca, e dos
Morgados de Refoyos , e Coutadinha , Commen .
dador de Santa Maria de Caſtellejo , S . Romao de
Herdal, S . Pedro de Seixas , S .Mamede de Canelas
na Ordem de Chriſto , Commendador , e Alcaide
môr de Penna-Garcia , Santa Marinha deMoreira ,
todas na Ordem de Chriſto , e da de Eſpada de El
vas na Ordem de Santiago . Servio na guerra com
o poſto de Meſtre de Campo , e feito General de
Batalha lhe derað o exercicio nomar : com eſte pof
to foy hum dos Cabos da Eſquadra , que ElRey D .
Joao V . mandou em ſoccorro dos Venezianos por
interceſſaõ do Papa Clemente XI. e unida à dita Ar
mada tiveraõ humabatalha naval entre o Cabo de
Matapam , e S. Angelo no anno de 1717 , onde mor.
trando o ſeu valor peleijou a ſua nao com fortuna
com os Turcos: em attençaõ do que ElRey noſſo
Senhor lhe deu de gratificaçað pelo bem que o ſir
vira neſta occaſia) a Commenda de Santa Maria de
Azambuja , e no anno antecedente tinha já hido a
ſemelhante expediçao , levantando os Turcos com a
viſinhança da noſſa Eſquadra o ſitio deCorfu . He
Almirante da Armada Real, e caſou em 23 de Ou.
tubro do anno de 1707 com D . Iſabel de Noronha ,
Damada Rainha D .Maria Sofia , filha de D .Mar .
COS
228 Hiſtoria Genealogica
cos de Noronha, quarto Conde dos Arcos, e da
Condeſſa D . Maria Joſefa de Tavora , que faleceo
em 8 de Abril de 1737 , e deſte matrimonio tiverað:
# 21 MIGUEL CARLOS DE TAVORA , que naſ
ceo em 30 de Agoſto de 1708.
21 Marcos de Tavora ,morreo menino.
21 D .MARIA CAETANA DE TAVORA, morreo
menina.
21 Joao Cosme de Tavora , Porcioniſta do
Collegio de S. Pedro de Coimbra , quenalceo em
28 de Setembro de 1716 .
21 ANTONIO LUIZ DE TAVORA , naſceo em Ja.
neiro de 1718.
21 Joseph FrancisCO DE Tavora, naſceo em
23 de Janeiro de 1719 , e he Religioſo dos Eremi
tas de Santo Agoſtinho.
· 21 Carlos Joseph DE Tavora , he Religioſo
da melma Ordem .
21. FRANCISCO DE TAVORA.
21 D . Anna THERESA DE TAVORA .
: 26 Luiz ALVARES DE TAVORA .
.
Bu
Teve o Conde D . Rodrigo illegitima a
21. D .JOSEFA DA SYLVEIRA , Freira da Annun .
ciada de Lisboa.
no
* 20 D . CATHARINA URSULA DE LENCAS ,
TRE, caſou em 17 deOutubro de 1701 com D . Fi.
lippe Maſcarenhas , ſegundo Conde de Coculim ,
Senhor das Aldeyas deCoculim , e Verodda no Ef
tado da India , Commendador de S . Joao de Caſte
laos, e de S. Martinho de Cambres no Biſpado de
Lamego , e de S , Martinho de Pinas no de Viſeu,
e Deputado da Junta dos Tres Eſtados. Servio na
guerra com o poſto de Coronel de Infantaria com
muito brio , eſpecialmente no aſfalto de Valença de
Alcantara em 1705, e faleceo em 7 deMayo de 1735.
Era filho de D . Franciſco Maſcarenhas , primeiro
Conde de Coculim , e de ſua prima com irmãa a
Condeiſa D .Maria de Noronha , filha de D . Fran
ciſco da Gama, ſegundo Marquez de Niza , & c . e
deſte matrimonio naſcerað .
* 21. D . FRANCISCO MASCARENHAS , com
quem ſe continúa.
21. D . MARIA HERCULANA MASCARENHAS ,
nalceo em 25 de Setembro de 1707 , que eſtá con
certada a caſar com Ayres de Saldanha, filho herdei
ro de Joſeph de Saldanha.
21 D .MARIANNAMASCARENHAS, faleceo me.
vina. .
D . FRAN
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 247
* 21 D . Francisco MASCARENHAS, naſceo
em 9 de Agoſto de 1702; he terceiro Conde de Co
culim , Senhor das Aldeas de Coculim , e Verodda,
Commendador na Ordem de Chriſto das Commen .
das , que teve ſeu pay , Gentilhomem da Camera
do Infante D . Antonio , e Coronel de hum Regi.
mento de Infantaria da guarniçaõ da Corte.
Caſou em 24 de Setembro de 1719 com D . Thereſa
de Lencaſtre , filha de D . Luiz de Lencaſtre, quar
to Conde de Villa-Nova , Commendador môr da
Ordem de Aviz , e da Condeſſa D .Margarida The.
reſa de Noronha , de quem naſcerað os filhos le
guintes:
22 D . Anna MASCARENHAS, naſceo em 26 de
Outubro do anno de 1723.
22 D . FILIPPE MASCARENHAS, naſceo em Fe.
vereiro de 1728 , e morreo com poucos dias de vida.
22 D . Joseph VICENTE DOs Passos MASCA
RENHAS, naſceo em Elvas em 22 de Outubro de
1729 , foy ſeu padrinho o Infante D . Antonio por
ſeu Procurador o Conde de Alva , e faleceo em Mar
ço de 1734.
22 D .JOAQUIM MASCARENHAS, naſceo em 15
de Abril do anno de 1732.
15 D . ANTAV DE NORONA, filho illegitimo de
D . Joao de Noronha, filho do ſegundo Marquez de
Villa-Real, creou-le em Ceuta por Fronteiro com
ſeu tio D . Affonſo de Noronha , onde teve occa .
fioensmuy honradas ; e governou depois eſta Praça
Tom . y . diverſas
248 . Hiftoria Genealogica .
diverſas vezes. Paſſou à India no anno de 1522
quando ſeu tio D . Affonſo foy governar aquelle Er
tado , ſendo hum dos que ElRey nomeou para o
ſeu Concelho. Alli ſérvio com reputaça ) com
mandando Armadas, em que conſeguio bons ſucceſ
ſos contra o Camorim , à quem fez baſtante guer
ra , impedindo aos infieis a navegaçao , e queiman .
dolhe muitas povoaçoens , e deſtruindolhe outras.
Em todas as occaſioens de honra do governo de
Faria, Alia Port.tom . ſeu tio ſe achou D . Antað , dando do ſeu valor tað
2 . part. 2. cap. 1 . fol.
412,
grandes moſtras, que ſe habilitou para governar o
Eſtado , porque voltando ao Reyno com o Vice
Rey D . Conſtantino no anno de 1563 , neſte mel
mo ó nomeou EIRey D . Sebaſtiao Vice-Rey da
India , e foy o nono , e vigeſimo tercio Governa
dor, e o terceiro do ſeu illuſtre appellido. Embar.
cou em huma Armada de quatro navios em 19 de
Março de 1564 , e com boa viagem entrou em Goa
em 3 de Setembro , e achou porGovernador a Joað
de Mendoça , que ſuccederá por morte do Conde
de Redondo , por ſegunda nomeaçaõ da via , por.
que na primeira eſtava D . Antað . Começou a ap
plicarſe ao governo do Eſtado , renovou por eſpe.
cial ordem delRey os Regimentos , fez Leys uteis,
e algumas, que eſtavao eſquecidas , fez tornar ao ſeu
vigor D . Luiz de Menezes, quinto Conde da Eri.
ceira no tempo , que foy Vice -Rey : no ſeu gover
no ſitiarað os inimigosMalaca , mas ſoccorrendo -a
com huma Armada poderoſa os obrigou a levantar
: o ſitio ,
da Caſa Real Portúg. Liv.Vl. 249
o ſitio , e a deixaremlhe nasmãos huma vitoria con
ſideravel. He obra ſua a Fortaleza deMangalor na
Coſta do Canará. Entregou o governo ao Vice
Rey D . Luiz de Ataide depois de o haver tido qua
tro annos, e embarcando para o Reyno no de 1569
morreo na viagem ; foy adornado debom natural , de
grande entendimento , de tanto valor como temos
dito , e de grande zelo no feryiço delRey. Aberto
o ſeu Teſtamento ordenava , que o ſeu corpo foſſe
lançado ao mar ; que lhe cortaſſem o braço direito ,
e trazido ao Reyno o levaſſem a enterrar à Sé de
Ceuta , onde inſtituîa tres Capellanîas perpetuas, e
dez mercieiros, que encommendaſſem a Deos a ſua
alma, os quaes foſſem criados da Cala de Villa
Real ; deixando aos Senhores della a apreſentaçao
deſtas obras pias para que fez fundo de renda em
hum juro no Algarve. Caſou com D . Ignez de
Caftro , filha de D .Manoel Pereira , terceiro Con
de da Feira , e da Condeſſa D . Franciſca Henriques,
ſua ſegunda mulher , de quem nað deixou ſucceſſaõ .
15 D . ANDRE' DE NORONHA , irmao de D .
Antað ſeguio as letras, e eſtudou em Coimbra , foy
Doutor em Canones, e o primeiro , que ſe graduou
naquella Univerſidade , Deao da Capella do Princi
pe D . Joað filho delRey D . Joað o III. Deputa -.
do da Meſa da Conſciencia , e Ordens , e Reytor
da Univerſidade de Coimbra , Biſpo de Portalegre ,
e o ſegundo daquella Dioceſi, de que tomou poffe
em 17 de Julho do anno de 1560. Neſta Cidade
Tom . V , Ii ii funs
250 Hiſtoria Genealogica
fundou o Convento dos Religioſos Deſcalços de S .
Franciſco , que dedicou ao glorioſo Santo Antonio,
a
e o elegeo para ſua fepultura . ElRey D . Filip
2
pe II. o nomeou Biſpo de Placencia em 12 de Ju .
Avila Teat. da Igreja nho de 1581, e o Papa Gregorio XIII . lhe pallou
de Placencia , fol.506 .
Bulla em 11 de Setembro do meſmo anno , de que
tomou poſſe em 21 de Janeiro de 1582. Achou-ſe
no juramento do Principe D . Filippe em 11 deNo.
vembro do anno 1584 na Igreja de S . Jeronymo de
Madrid , e depois de ter governado a ſua quatro,
morreo em 3 de Agoſto de 1586 , e eſtá ſepultado
em Portalegre no Moſteiro , que fundara quando
naquella Cidade reſidira , onde ſe lê eſta breve me.
moria .
D . André de Noronha , foy traſla
dado a eſta Capella em 24 de Feve
reiro de 1590.
Teve ſendomoço de variasmulheres os filhos
ſeguintes :
16 D . JULIANA DE NORONHA, que foy Priore
za do Moſteiro de Chelas de Lisboa.
16 D . MARIA DE NORONHA , Abbadeſa no
Moſteiro de Santa Anna de Vianna.
16 D .JOANNA DE MENEZES, Freira em S. Ber
nardo de Portalegre .
16 D . MARGARIDA DE NORONHA, Freira no
Moſteiro de Caminha.
D .PE
da Caſa Real Portug. Liv . VI. 251
. 16 D . PEDRO DE NORONHA , que foy havido
em D . Violante da Serra , e tendo eſtudado para
teguir a vida Eccleſiaſtica com grande aproveita
mento (porque foy bom Letrado , e graduado em
Canones ) depois tomando differente reſoluçaõ foy
Cavalleiro da Ordem de Chriſto com hum preſti
monio da Caſa de Villa-Real, que lhedera o Du
que D .Manoel , ſendo muito eſtimado pelas ſuas
boas partes , e digno de empregos grandes, que nao
teve.
Caſou com D .Maria de Ataide, filha de André de
Souſa Tavares, e de D . Franciſca de Ataide , que
era filha de Joað Palha do Crato , de quem teve:
17 D . CATHARINA DE NORONHA , Freira em
S . Bernardo de Portalegre.
17 D . LUIZ DE NORONHA , que nao tendo a
capacidade de ſeu pay , morreo ſem eſtado, haven.
do ſervido em Ceuta .
2 . II.
sog
de ſeu pay.
a
20 D . MARIA DE MENEZES.
20 ANTONIO FILIPPE DE CABEDO E VAS.
CONCELLOS.
19 D . FERNANDO FORJAZ PEREIRA PIMENTEL,
u
Frade Carmelita Calçado.
* 16 D .Nuno AlvarES PEREIRA , que foy
o quarto filho na ordem do naſcimento de D . Ma.
noel Pereira , herdeiro da Caſa da Feira , e de D .
Joanna da Sylva , ſua mulher , paſſou à India , onde
ſervio muitos annos, occupando varios póftos, e ſe
achou em muitas occaſioens : foy General do Nor.
te , e Malavar , e de Ceila) , e do mar do Sul, e ul.
timamente Governador de Moçambique , onde fa
leceo no anno de 1630 .
Caſou com D .Violante Eugenia de Caſtro , filha de
D . Jorge de Menezes, Alferes môr de Portugal , e
de D .Filippa de Mello , ſua mulher, de quem nað
teve ſucceſſào ; porém de D . Sebaſtiana de Mene
zes , a quem tinha dado palavra de caſamento , ſua
prima ſegunda , filha de Bernardo de Carvalho , que
foy cativo na batalha de Alcacer , e de D . Ignez de
Menezes , ſua mulher, filha de D . Manoel de Me
nezes , filho terceiro de D .Jorge de Menezes , fexto
Senhor de Cantanhede , teve duas filhas , D . Fran.
ciſca de Menezes , que caſou com Diogo Garcez
Paiha,
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 299
Palha , Capitað de Infantaria , e D . Ignez deMene
zes , que caſou duas vezes , a ſegunda ſem ſucceſ
faố com Miguel do Valle de Souſa , de quem foy
primeira mulher , e a primeira com Jeronymo Fra
golo de Albuquerque, filho de Alvaro Fragoſo ,
Capitað da Mina, e de D . Joanna de Albuquerque,
filha de André de Albuquerque, de quem teve D .
Joanna de Menezes, e D . Sebaſtiana de Menezes ,
que cafando duas vezes nað teve ſucceſſao. D .
Joanna de Menezes caſou na Villa de Thomar
com Antonio de Abreu de Souſa , Senhor da Quin .
ta da Bezelga, irmao de Joao da Sylva e Souſa , que
ſervio na guerra da Acclamaçao com bom nome,
e depois de occupar varios póſtos foy General da
artilharia da Provincia de Alemtejo , Governador
do Rio de Janeiro , e Capita) General do Reyno
de Angola ; e teve a D . Franciſca de Menezes, ou
Toledo , mulher de Ruy Fernandes de Sequeira ,
Senhor do Morgado da Varzea de Moura , de
quem teve diverſos filhos, de que nað ha geraçað ,
e a Antonio Pereira de Sequeira , que paſſou à In
dia a ſervir, e caſou em Bacaim com D . Anna Cou
tinho , filha de Fernao Pereira Coutinho , e de D .
Iſabel de Mello , de quem naſceo D . Anna Couti
nho , que caſou com D . Antonio de Caſtro , de
quem teve D . Anna Franciſca de Toledo e Caſtro ,
que naſceo em Tanâ , e caſou com D . Luiz Caeta
no de Almeida Coutinho da Coſta Pimentel , Ca
pitao de Bacaim , e a lua aſcendencia veremos no
D .
Liy. X . Cap. XII. 8 . II.
300 Hiftoria Genealogica
. * 16 D . Anna deMENEZES , que faleceo em
16 de Dezembro de 1638 , filha de D . Manoel Pe.
reira , herdeiro da Caſa da Feira , e de D . Joanna
da Sylva , ſua mulher , caſou com Vaſco Fernandes
Ceſar , do Concelho delRey , Provedor dos Arma.
zens, e Armadas deſte Reyno , e General da arti
Iharia delle , Alcaide môr de Alemquer , Commen
dador de S. Pedro de Lomar , e S. Joao de Rio
Frio na Ordem de Chriſto , o qual faleçeo em 24 de
Dezembro de 1640 ; e deſte matrimonio naſcerao
eftes filhos :
# 17 Luiz CESAR , adiante .
17 MANOEL PEREIRA CESAR , paſſou à India
com o foro de Fidalgo Cavalleiro no anno de 1631
em companhia do Capitað môr Antonio de Salda.
nha , como conſta do livro da Armada da Caſa da
India .
17 PEDRO CESAR DE MENEZES, que foy Com .
mendador da Commenda de S . Salvador de Minho :
taens na Ordem de Chriſto , em que foy provido no
anno de 1659, Governador , e Capitað General de
Angola em 1639 , e do Concelho de Guerra , fale
ceo no anno de 1666. Caſou com ſua ſobrinha D .
Guiomar Henriques , filha de ſeu irmao Luiz Ce
far , e tiveraõ a D .Vicencia LuizaHenriques , Con .
deſſa da Feira , mulher de ſeu primo D . Fernando
Forjaz Pereira , Conde da Feira , como fica dito .
Aſſiſtindo elle em Caftelia teve filho natural a Pea
dro Ceſar de Menezes , que feryio com elle na
guerra ,
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 301
guerra , e foy Capitao de Cavallos , Commiſſario
Geral da Cavallaria , e Meſtre de Campo de hum
terço de Infantaria no Exercito de Alemtejo , e ul.
timamente Governador, e Capitao General do Ma.
ranha) , aonde morreo ſolteiro .
-- 17 SEBASTIA ) CESAR DE MENEZES, foy Por
cioniſta do Collegio Real de S. Paulo de Coimbra ,
em que entrou em 23 de Novembro de 1618 ; na.
quella Univerſidade ſe graduou na Faculdade dos
Sagrados Canones, foy Deputado do Santo Officio
de Coimbra , e Inquiſidor na meſma Cidade , de
que tomou poſſe no i de Outubro de 1626 , do
Concelho de Sua Mageftade, e do Geral do Santo
Officio , de que tomou poſſe em 2 de Janeiro de
1637 , Arcediago da Sé de Lisboa , Deſembargador
do Paço , Deputado da Junta dos Tres Eſtados,
Biſpo eleito do Porco , e de Coimbra , Arcebiſpo
eleito de Evora , e de Lisboa, nomeado Embaixa
dor a França, e InquiſidorGeral em 5 de Janeiro de
1663 , do Concelho de Eſtado , e Miniſtro do Deſ
pacho . Todos eſtes grandes lugares occupou nos
Reynados delRey D . Joað o IV . e delRey D . Af
fonſo VI. a que o elevarað as admiraveis partes , de
que era ornado , porque foy grande Letrado , dif
creto corteza , e agradavel, e grande Poeta , co
mo le vê nas ſuas Poeſias. Compozmuitas obras,
de que algumas andao impreſſas ; porém a fortuna
com a lua coſtumada inconſtancia , em hum genio
pouco firme o fez padecer terriveis contratempos,
porque
302 Hiſtoria Genealogica
porque deſterrado , e privado dos empregos, tor
nou a elevarſe com proſperidade outra vez ao go
verno : finalmente dando fim à variedade da ſua
vida , morreo deſterrado na Cidade do Porto em
29 de Janeiro de 1672. Mandou-ſe fepultar fóra
da porta principal da Igreja dos Carmelitas Deſcal.
ços em ſepultura raſa com eſte Epitafio :
3-saa
e ſegunda com Luiz Freire de Andrade, Senhor de
Bobadela , Védor da Caſa da Rainha D . Maria
Franciſca , que morreo em 4 de Junho de 1674 , e
nað teve ſucceſſaõ de nenhum deſtes matrimonios.
D . Maria da Sylveira , e D . Lourença de Caſtro ,
que morrerað ſem eſtado recolhidas em Santa Anna
de Evora.
. 17 D . BERNARDA DE MENEZES, que morreo
ſem eſtado.
17. D . FRANCISCA DE CASTRO , Freira no Mof:
teiro da Eſperança de Lisboa.
* 17 D . Joao MASCARENHAS : ſuccedeo na
Caſa , Alcaidaria môr , e Commendas de Caſtello
de Vide, Caftel-Novo , e Niza , que fora de feu
pay , a quem ſobreviveo pouco tempo .
Caſou com D . Maria da Coſta , ſua prima com ir
ma, filha herdeira de D . Antonio da Coſta , Com .
mendador da Commenda da Caſa da India da Or
dem de Chriſto , e Senhor do Morgado dos Coftas,
como adiante eſcreveremos ; naſcerao deſta uniao
os filhos ſeguintes :
18 D . ANTONIO MASCARENHAS DA COSTA ,
ſuccedeo na Caſa de ſeu pay , e por tua mãy no
Morgado de D .Gil Eannes da Coſta : foy Alcaide
môr de Trancoſo , e Caſtello de Vide , Commen
dador de Santa Maria de Deveſa , e de Caſtello de
Vide, e Niza , primeiro Conde de Palma por mer .
ce de Filippe IV . Caſou em 1624 com D . Maria
de Tavora , Dama da Rainha Iſabel de Borbon ,
mulher
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 340
mulher do meſmo Rey , que com eſte motivo lhe
deu o Titulo de Conde : era filha de Luiz Alvares
de Tavora , primeiro Conde de S. Joao da Peſquei.
ra , & c. e da Condeſſa D .Martha de Vilhena , ſua
mulher , e morreo ſem filhos em 18 de Fevereiro de
1633. E a Condeſſa ſua mulher , a quem ElRey
fez merce da Alcaidaria môr de Trancoſo , e da ad.
miniſtração das Commendas , foy depois ſegunda
mulher de D .Joao Maſcarenhas , terceiro Conde de
Santa Cruz , de quem nao teve tambem ſucceſſa ) ,
pelo que deixou a ſeu enteado D . Franciſco Mala
carenhas ( que depois foy Eſtribeiro môr da Rainha
D . Maria Sofia , que era ſeu ſobrinho, confórme a
permiſſa) , que tinha delRey) nomeadas as Como
mendas, e bens da Coroa.
* 18 D . Nuno MASCARENHAS , Senhor de
Palma, com quem ſe continúa.
18 D . PEDRO MASCARENHAS , paſſou à India,
aonde morreo.
18 D . FERNANDO MASCARENHAS, morreo mo,
ço ſem geraçao .
18 D . FRANCISCO MASCARENHAS, foy Cone
go Regular de Santo Agoſtinho.
18 D . MANOEL MASCARENHAS , eſtudou em
Coimbra , e foy Conego da Cathedral daquella Ci
dade , e renunciando eſta vida ſeguio depois as ar .
mas ; achou- ſe na batalha de Montijo , ſendo Capi
tao de Infantaria , de que ſahio ferido , e depois de
ter ſido Meſtre de Campo de hum terço de Infan .
taria ,
342 Hiſtoria Genealogica
taria , paſſou a ſervir na India , aonde foy General
da Armada de alto bordo , e Governador de Mo.
çambique , aonde ſe achava quando a Rainha Re
gente D . Luiza Franciſca de Guſmað o nomeou no
anno de 1661 por Governador do Eſtado da India
juntamente com Luiz deMendoça Furtado , e D .
Pedro de Lencaſtre , que elle nao quiz aceitar por
nað ſer ſó nomeado no governo , e ſe deixou ficar
no da ſua Fortaleza. Morreo em Goa ſem caſar .
18 D . MARGARIDA DE VILHENA , calou com
ſeu tio D . Franciſco Maſcarenhas , como veremos
adiante .
18 D . JOANNA DE CASTRO , que foy vigeſima
primeira Commendadeira do Real Moſteiro de San.
tos da Ordem Militar de Santiago , e faleceo no an.
no de 1672.
18 D . ESTEFANIA MASCARENHAS , Freira no
Moſteiro de Santa Clara em Santarem .
18 D . Isabel de Castro , Freira noMoſteiro
da Eſperança de Lisboa.
* 18 D .Nuno MASCARENHAS, ſuccedeo por
morte de ſeu irmao na Caſa de Palma, e nað no
Titulo ; foy Alcaide môr, e Commendador de Cal
tello de Vide, Senhor dosMorgados de Palma, e
dos Coſtas , Meſtre de Campo de Infantaria no
Exercito da Provincia de Alemtejo , aonde ſervio
com diſtinça) , e pelejando valerolamente com o ſeu
terço , foy morto na batalla de Montijo em 26 de
Mayo de 1644.
Carou
da Cafa Real Portug. Liv.VI. 343
Caſou com D . Brites de Menezes , que ficando viu .
va caſou com D . Joao Maſcarenhas, terceiro Con.
de de Sabugal, e era filha herdeira de D . Franciſco
de Caſtello -Branco , ſegundo Conde de Sabugal ,
Senhor das Villas de Lanhoſo , Santa Cruz de Ri.
ba Tamega , Cinfaens, Sinde, e Azere , Meirinho
môr do Reyno , e Alcaide môr de Santarem , e de
D . Luiza Coutinho , ſua prima com irmãa, filha de
D . Joao Coutinho , Alcaide môr de Santarem ; e
deſte matrimonio tiverað o filho , e filhas ſeguintes:
* 19 D . Joao MASCARENHAS, ſegundo Con
de de Palma , com quem ſe continúa.
19 D .MARGARIDA MASCARENHAS, que fale
ceo moça ſem eſtado.
19 D . Luiza Coutinho , caſou com Manoel
Telles da Sylva , primeiro Marquez de Alegrete ,
ſegundo Conde deVillar-Mayor, Gentilhomem da
Camera delRey D . Pedro II. e do ſeu Concelho
de Eſtado ; e a ſua ſucceſlað ſe verá no Liv . VIII.
Cap. XIII.
: * 19 D . Joao MASCARENHASDE CASTELLO .
BRANCO DA COSTA , foy ſegundo Conde de Palma,
Senhor dos Morgados de Palma , e dos Coſtas , e
fucceſſor da Caſa , e Condado de Sabugal, em que
nað chegou a ſucceder por morrer moço em vida
ferri
da Condeſſa ſua máy.
70121 Caſou com D . Joanna de Caſtro , ſua prima com ir.
od mãa, e irmãa de ſeu padraſto , filha de ſeu tio D .
Franciſco Maſcarenhas, do Concello de Eſtado, & c.
i Tom . V . Xx e de
344 : Hiſtoria Genealogica
e de D . Margarida de Vilhena , ſua mulher , e fo .
brinha ; e deſta eſclarecida uniao naſceo unica : .
20 D . BRITES MASCARENHAS DA COSTA DE
CASTELLO -BRANCO E BARRETO , terceira Condel.
ſa de Palma, Senhora do dito Condado , e Morga,
do dos Coſtas , e Alcaidariamôr de Caſtello de Vi,
de ; e por ſua avó paterna Senhora do Condado de
Sabugal , e mais Caſa , e officio de Meirinho môr
do Reyno de ſeu avô. Caſou com D . Fernando
Maſcarenhas, ſegundo Conde , e Alcaide môr de
Obidos , e por eſte caſamento quarto Conde de
Sabugal , e Palma, Meirinho môr do Reyno , Al
caide môr , e Commendador de Caſtello de Vide ,
e Senhor dasmais Villas , terras, e Morgados deſta
Caſa , e a lua fuccefſað ſe verá adiante no Liv .VIII.
Cap. III. Faleceo em Junho de 1709.
* 17 D . FRANCISCO MASCARENHAS, foy filho
quarto de D . Nuno Maſcarenhas , Senhor de Pal
ma, e de D . Ilabel de Caſtro , lua mulher , como
temos dito , luccedeo a leu pay na Commenda de
Alpedrinha na Ordem de Chriſto , aonde teve tam
bem outras Commendas . Foy Gentilhomem da
Camera do Emperador Mathias , a quem fervio em
Alemanha , tendo fervido em Flandres. Depois
paſſou à India , aonde fervio com reputaçað , e foy
Governador , e Capitao General da Praça de Ma.
cáo na China , e deixou de ſer Governador do E1
tado por haver voltado para o Reyno , quando no
anno de 1627 chegou ordem ao Vice-Rey D . Fran .
ciſco
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 345
ciſco da Gama , Conde da Vidigueira , que lhe en .
tregafle o governo. Porém no anno de 1628 foy
mandado por Vice -Rey à India , e tendo má via
gem arribou , e deſiſtindo da jornada , e do cargo
paſſou a Madrid , aonde ElRey Filippe IV . o fez
do Concelho de Portugal , e do ſeu Concelho de
Eftado em Madrid .
Caſou com ſua fobrinha D .Margarida de Vilhena,
filha de ſeu irmao D . Joao Maſcarenhas, Senhor de
Palma, e de D . Maria da Coſta , ſuamulher , e ti
verað eítes filhos :
* 18 D . Joao MASCARENHAS, terceiro Con
de de Sabugal, adiante.
· 18 D . Pedro MASCARENHAS , paſſou à India
com o Vice -Rey D . Vaſco Maſcarenhas, Conde
de Obidos ; foy deſpachado com o governo da For
taleza de Sofala , que ſeu pay nomeou neile no ſeu
Teſtamento em virtude faculdade Real , que para
iſſo tinha : faleceo moço antes de entrar na poſle
da dita Fortaleza .
18 D . ISABEL DE CASTRO , caſou com Gar
cia de Mello , Monteiro môr do Reyno , de quem
ſe fará mençaõ adiante.
'18 D . JOANNA DE CASTRO , caſou com D .Joað
Maſcarenhas , ſegundo Conde de Palma, como fica
dito .
18 D . MARIA , E D . FRANCISCA DE CASTRO ,
que falecerað ſem eſtado .
* 18 D . Joað .MASCARENHAS, foy terceiro
Tom . V . Xx ii Conde
346 . Hiſtoria Genealogica ...
Conde de Sabugal, e Meirinho môr do Reyno, e
fucceffor da Caſa de ſeu pay. Foy Commendador
das Commendas de Santa Chriſtina de Afife , Santa
Maria de Eſpinhel , e Santa Maria da Graça de Caf
tello -Novo , todas na Ordem de Chriſto . Servio
em Flandres com reputaçao digna do ſeu ſangue, e
foy Capitaõ de Cavallos couraças , e ſe achou en die
verſas Campanhas. Diſtinguio -ſe no intentado foco
corro da Cidade de Arrás, na recuperaçaõ de Aer ,
na tomada de la Baflee , vitoria de Honcourt , na ba
talha de Rocroy , facçoens de Gravelingas , e em
todas asmais emprezas , que ſe offerecera ) no eſpa
ço de oito annos, em que aſſiſtio , e illuſtrou aquel
la Academia de Marte. No anno de 1645 ſe paf
fou a França para ter parte na defenſa da ſua Pa
tria , donde embarcou para Portugal, e lervindo na
guerra foy Tenente General , Governador , e depois
General da Cavallaria da Provincia de Alemtejo .
ElRey D . Affonſo VI. o fez do ſeu Concelho de
Guerra , e pelo ſeu caſamento foy Conde de Sabugal,
Senior de Lanhoſo , e dos mais Eſtados deſta Caſa ,
e Meirinho môr do Reyno. Sobre valeroſo , foy
dotado de huma natural graça , e promprida) em
dizer, de forte , que ſendo celebrado no leu tempo,
paſlao por tradição entre a Nobreza como apoph.
thegmas os teus ditos. Traduzio o Tratado do
Manejo da Cavallaria do Conde Galeazo Gualdo ,
que ſe imprimio com Notas do Conde. Compoz
huma Comedia , e outras Obras em proza , e verlo .
Calou
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 347
Calou com D . Brites de Menezes , Condeſſa pro
prietaria de Sabugal, viuva de feu tio , e primo com
irmao D . Nuno Malcarenhas, Senhor de Palma, e
filha herdeira de D . Franciſco de Caſtello -Branco ,
ſegundo Conde de Sabugal , Meirinho môr do Rey,
no , e deſta uniao naſceo :
. . 19 D .MARGARIDA DE VILHENA, que foy uni.
ca, e ſuccedeo nas Commendas de leu pay, em cu :
ja vida calou duas vezes: a primeira em 8 de Abril
de 1666 com Diogo Lopes de Souſa , quarto Con
de de Miranda, feu primo ſegundo , e a lua (uccel
fað le verá quando chegarmos à delcendencia de
Affonſo Diniz , filho delRey D . Affonlo III. no
Liv. XIV . e ſegunda vez calou com D . Luiz Per
regrino de Ataide , nono Conde de Atouguia , cuja
fucceſlao te verá no Liv . VIII.
: * 18 D . ISABEL DE CASTRO , filha de D . Fran .
ciſco Maſcarenhas , e de D . Margarida de Vilhena ,
calou em 29 de Abril de 1657 com Garcia de Mel.
lo , que depois de ter eſtudado em Coimbra , lendo
Porcioniſta do Collegio Real de S . Paulo , em que
entrou em 17 de Novembro de 1640 , por morte de
ſeus irmãos fuccedeo na Caia de ſeu pay Franciſco
de Mello , Monteiro môr do Reyno , General da
Cavallaria de Alemtejo , Governador , e Capitað
General do Algarve , Embaixador Extraordinario
delRey D .Joað IV . a França , que foy caſado com
D . Luiza de Mendoça, filha de Pedro de Mendoça
Furtado , Capitað de Chaul, e Commendador de
Mourao .
348 . Hiftoria Genealogica
Mourað . Foy Garcia deMello Monteiro môr do
Reyno , Commendador das Commerdas do Fi
nheiro de Azere , de S . Miguel de Infantes , de
Noſſa Senhora dos Altos Ceos do Lugar de Lou
fa , de Santiago de Santarem , e dos Calaes da Fei
teira , todas na Ordem de Chriſto , e da Freiria de
Evora na Ordem de Aviz , e outras; Preſidente da
Camera de Lisboa , da Meſa da Conſciencia , e Or.
dens , Regedor das Juſtiças, e Preſidente do Del
embargo do Paço , e do Concelho de Elado del
Rey D .Pedro II. lugar, em que entrou com repug
nancia , porque ſe tinha recolhido a ſua Caſa , del
pedindo-ſe da Preſidencia do Paço , tendo-ſe ſepa.
rado dos negocios do Mundo para cuidar ló nos da
ſua ſalvação , mas por ſatisfazer a ElRey aceitou a
honra deſte novo emprego. Era de aſpecto ſeve
ro , revellido de authoridade natural , fummamente
inteiro , promptiffimo na audiencia das partes , e
com todas as qualidades de perfeito Miniſtro .
Morreo de mais de oitenta annos em 26 de Feve
reiro de 1706 ; e deſte matrimonio naſcerað os filhos
ſeguintes:
19 D . MARGARIDA , nafceo em 13 deMarço
de 1658, e faleceo na flor da idade, nað contando
mais que ſeis annos.
* 19 FRANCISCO DE MELLO , Monteiro môr,
com quem ſe continúa.
1 . 19 JORGE DE MELLO , naſceo em 28 de Agoſ.
to do anno de 1661 , eſtudou Canones na Univerfi.
dade ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 349
dade de Coimbra , ſendo Porcioniſta no Collegio
Real de S. Paulo , em que entrou em 19 de Outu .
bro de 1678 , e foy Conego na Sé da meſma Cida
de , e depois na Cathedral de Lisboa, o que tudo
renunciou para caſar com D . Luiza de Mendoça ,
ſua prima ſegunda, filha de Triſtaõ da Cunha, Go .
vernador de Angola , e de D . Joanna deMendoça ,
ſuamulher , filha de Pedro de Mello , do Concelho
de Guerra. Morreo em 20 de Setembro de 1709
ſem ſucceſſo , tendo ſido Capitao de Infantaria , e
ſua mulher caſou ſegunda vez com Martinho de
Souſa de Menezes, terceiro Conde de Villa-Flor .
E teve Jorge de Mello , fóra do matrimonio a D .
Joað da Expectaçao , Conego Regular de Santo
Agoſtinho , e a Soror Catharina de Jeſu , Freira nas
Agoſtinhas Deſcalças junto a Marvilla .
19 D . LUIZA , que faleceo de bexigas de idade
de quatro annos , tendo naſcido em 28 de Setembro
de 1663.
19 D . JOANNA DE CASTRO , que naſceo gemea
com ſua irmãa em 28 de Setembro de 1663 , que
nað elegeo eſtado , e faleceo pelos annos de 1711.
19 Joað DE MELLO , naſceo em 13 de Novem
bro de 1665 , foy Maltez , e morreo na guerra con
tra os Turcos.
19 D . MARIANNA JOSEFA CAETANA DE CAS
TRO, que naſceo em 23 de Agoſto de 1668, e ca
fou com Pedro da Cunha de Mendoça , ſeu primo
ſegundo , Védor da Caſa da Rainha D .Maria Anna
350 Hiſtoria Genealogica
de Auſtria , e foy ſua ſegunda mulher , de que nað
teve ſucceſſa ) , e faleceo em 17 de Agoſto de
1734.
( * 19 FRANCISCO DE MELLO , naſceo em 27
de Abril de 1659, foyMonteiro môr do Reyno em
vida de ſeu pay , e ſuccedeo na Caſa , e Commen
das, que elle teve ; foy Deputado da Junta dos Tres
Eſtados. Morreo de hum accidente eſtando em
Salvaterra com ElRey em 12 de Abril de 1712 , e
foy ſepultado na Igreja Matriz dameſma Villa.
Calou duas vezes : a primeira no anno de 1688 com
D . Marianna de Caſtello -Branco , filha primeira de
Manoel Telles da Sylva , primeiro Marquez de Ale
grete , e ſegundo Conde de Villar-Mayor , e da
Marqueza D . Luiza Coutinho , a qual faleceo de
parto de hum filho em 11 de Mayo de 1701 , que
foy tirado vivo do ventre de ſua mãy , abrindo -a
depois de falecida , e morreo logo .
Caſou ſegunda vez em 12 de Julho de 1702 com D .
Catharina de Noronha, filha de D . Pedro de Noro .
nha , primeiro Marquez de Angeja , ſegundo Con .
de de Villa -Verde , e da Marqueza D . Iſabel de
Mendoça, de quem teve :
· 20 D .Isabel IGNACIA CAETANA DE NORONHA;
que morreo menina tendo naſcido em 30 de Julho
de 1703.
· 20 D .MARIA DE MELLO , que foy berdeira da
Cara , e officio de Monteiro môr do Reyno , Ad
miniſtradora das Commendas de S. Salvador do Ba.
· nlio ,
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 351
nho , e Santo André de Victorino , ambas no Ar.
cebiſpado de Braga , Santa Maria dos Altos Ceos
de Louſa no da Guarda , S .Miguel do Pinheiro no
de Viſeu , S . Miguel de Infantes no de Miranda ,
Santa Maria de Lorigo no de Coimbra , Santiago
da Villa de Santarem , e dos Caſaes da Feiteira , e
de Maceira no termo de Cintra , todas na Ordem
de Chriſto , e de S , Miguel da Freiria de Evora na
Ordem de Aviz ; a qual tendo naſcido em 23 de
Janeiro do anno de 1705 , caſou a primeira vez com
ſeu tio D . Henrique de Noronlia , irmao de ſua
máy , de quem ficando viuva em 11 de Agoſto de
1722 ſem ſucceſſao .
Caſou ſegunda vez em 9 de Setembro de 1725 com
Fernaõ Telles da Sylva , irmao de D . Eftevaõ de
Menezes, quinto Conde de Tarouca, como vere
mos em ſeu lugar , e Coronel de Infantaria de hum
dos Regimentos da Guarniçaõ da Corte , e Mon
teiro môr do Reyno ; e deſte matrimonio tem os
filhos ſeguintes:
· 21 FRANCISCO DE Mello , que naſceo em 15
de Janeiro de 1727 . Els concertado a caſar com
D . Maria Maſcarenhas, filha de D . Manoel Mal.
carenhas , e de D . Helena de Lorena , terceiros
Condes de Obidos, como veremos.
· 21 D . JOANNA CATHARINA LUIZA APOLLONIA
JOSEFA de Mello , naſceo em 9 de Fevereiro de
1728.
. . 21 D . MARIA DE MELLO , naſceo em 17. de
. Tom .V . Yy Março
352 Hiſtoria Genealogica ,
Março de 1729 , e faleceo em 19 de Novembro de
1730.
21 D . CATHARINA DE MELLO , naſceo em 27
de Março de 1730 , e faleceo de tenra idade em 22
de Abril de 1731.
21 Joað PEDRO DEMELLO , naſceo em 28 de
Junho de 1731.
21. D . ISABEL DE MELLO , naſceo em 29 de
Agoſto de 1732.
21 D . LUIZA DE MELLO , naſceo em 12 de Ju.
lho de 1734 , e faleceo em 27 de Mayo de 1737 . :
21 D , THERESA DE MELLO , naſceo em 28 de
Julho de 1735.
21 D . CATHARINA DE Mello , naſceo em 15
de Novembro de 1736 .
* 16 D . MARGARIDA DE VILHENA , que foy
ſegunda filha de Fernaõ Telles deMenezes , e de D .
Maria de Caſtro , ferimos Senhores de Unhao , caſou
com D . Antonio da Coſta , Commendador na Ora
dem de Chriſto de huma das Commendas da Caſa
da India , em que foy provido no anno de 1568 , e
Senhor doMorgado dos Coſtas, que morreo na ba,
talha de Alcacer em 4 de Agoſto de 1578 , filho de
D . Gil Eannes da Coſta , Védor da Fazenda , e do
Concelho de Eſtado delRey D . Sebaſtia ) , e Miniſ
tro da Regencia da Rainha D . Catharina , que del.
le fez grande confiança , e eſtimaçaõ pelo ſeu ta
lento , e deſintereſſe , e tinha ſido Embaixador del
Rey D . Joað III. ao Emperador Carlos V . e ao
Papa
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 353
Papa Paulo III. e de D . Joanna da Sylva, ſua mu .
lher , filha de D . Filippe de Souſa Lobo , do Con .
celho delRey D . Joao III. e Vereador de Lisboa ,
filho do primeiro Barao de Alvito ; e deſte matri
monio teve a ſucceſſað leguinte :
17. D . MARIA DA Costa , que ſuccedeo no
Morgado , e Caſa de ſeu pay , e caſou com D Joað
Maſcarenhas , Senhor de Palma, cuja ſucceſſaõ dei.
xámos já eſcrita .
* 17. D . JOANNA DA SYLVA , caſou com An .
tonio de Saldanha, como logo ſe verá.
- 17. D .ESTEFANIA DE VILHENA , Freira no Mof
teiro de Santos da Ordem Militar de Santiago .
. 17 D . IGNEZ Da Costa , morreo menina.
* 17 D . JOANNA DA SYLVA , foy mulher de
Antonio de Saldanha, Commendador da Savachei.
ra no Arcebiſpado de Lisboa, e de S.Martinho dos
Lagares no Biſpado do Porto , que ſervio em Tan .
ger no tempo , que ſeu pay governava aquella Pra
ça , e ahi foy cativo em huma ſahida , e eſteve qua.
torze annos em Marrocos , e ſendo reſgatado por
trinta e quatro mil cruzados , voltando ao Reyno
lhe chamarað o Cativo , e foy depois Capitað de
huma Companhia de Cavallos de Lisboa no anno
de 1626 . Era filho de Ayres de Saldanha , Com
mendador da Savacheira, Capitaõ de Malaca , Go.
vernador de Tanger, General da Armada de Portu .
gal, e ultimamente Vice-Rey da India , para onde
parcio no anno de 1600 , e tendo governado o Ela
Tom . V . Yу іі
354 . Hiftoria Genealogica : :
do quatro annos e dousmezes, voltou para o Rey
no , morreo na Ilha Terceira , e ſeu corpo foy de.
poſitado na Sé de Angra ; e de D .Joanna de Albu ,
querque , filha de D .Manoel de Moura , e de D .
Iſabel de Albuquerque, filha de Lopo de Albuquer.
que , e tiverað :
* 18 AYRES DE SALDANHA , com quem ſe
continúa.
18 BERNARDO DE SALDANHA , morreo moço ,
ſendo eſtudante.
18 Joao de SALDANHA , Cavalleiro da Ordem
de S . Joao deMalta , foy morto em hum combate
com os Turcos.
* 18 D . MARGARIDA DE VILHENA , caſou
com Joao de Saldanha da Gama, adiante.
* 18 AYRES DE SALDANHA DE ALBUQUERQUE ,
foy Commendador da Savacheira , e de Alencarcas
na Ordem de Chriſto , Alcaide môr de Soure, fer
yio em Tanger, e foy hum dos Fidalgos, que no an .
no de 1640 acclamara ) ao Senhor Rey D .Joao Iy .
a quem ſervio na Provincia de Alemtejo , ſendo Mer
tre de Campo de hum Terço de Infantaria , com
que ſe achou em muitas occaſioens de honra , que
houve no ſeu tempo naquella Provincia , até que
foy morto na batalha de Montijo de 26 deMayo de
1644 , tendo conſeguido boa reputaçao pelo ſeu va.
lor , entendimento , e noticias.
Caſou com D . Iſabel da Sylva, irmãa de ſeu cunha
do Joao de Saldanha daGama, e filha de ſeu paren
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 355
te Luiz de Saldanha , Commendador de Salvaterra,
Védor da Caſa da Rainha D . Luiza Franciſca , e
de D . Maria da Sylva , ſua primeira mulher , filha
de Antonio da Gama, e de D . Iſabel da Sylva , ir
mãa de D . Rodrigo da Cunha , Arcebiſpo de Lir
boa , do Concelho de Eſtado , e civerao :
19 ANTONIO FRANCISCO DE SALDANHA , que
ſuccedeo na Caſa , e foy Alcaide môr de Soure , e
Commendador da Savacheira , de S. Martinho dos
Lagares , e de Alencarcas na Ordem de Chriſto .
ElRey D . Joao IV . em attençaõ aos ſerviços de
ſeu pay lhe fez merce de huma Villa com mil cru :
zados de tença de juro, e herdade. Morreo ſoltei
ro ſem ſucceſſao.
19 LUIZ DE SALDANHA DE ALBUQUERQUE, que
fuccedeo na Cala , e Commendas , e bens da Co
roa a ſeu irmao por merce delRey D . Affonſo VI.
Servio na guerra , e foy Capitaõ de Infantaria , e
de Cavallos de Couraças ; achou-ſe no ſitio de
Evora em 1663 , e em outras occaſioens. Morreo
ſem cafar no anno de 1678.
* 19 Joao de SALDANHA , com quem ſe con
tinúa.
19 D . MARIA DA SYLVA , Freira no Moſteiro
de Carnide de Carmelitas Deſcalças.
19 D . JOANNA DA Sylva . 7 Freiras na Annunc
19 D .MAGDALENA. Sciada de Lisboa.
* 19 Joao DE SALDANHA DE ALBUQUERQUE :
depois de ter eſtudado alguns annos em Coimbra ,
aſſen
356 : : Hiſtoria Genealogica . ..,
aſſentou praça de Soldado na Provincia de Alem
tejo ; foy Capitao de Cavallos, e prezioneiro pelos
Caſtelhanos no anno de 1667 , e depois Governa
dor , e Capitað General da Ilha da Madeira , e da
Praça de Mazagao , do Concelho de Guerra , Des
putado da Junta dos Tres Eſtados , Preſidente do
Senado da Camera de Lisboa, Tenente General da
artilharia do Reyno , e Védor da Caſa da Rainha
D . Maria Anna de Auſtria , faleceo em Santarem
no principio de Setembro de 1723 , havendo hido
para aquella Villa por querer eſtar perto do Con.
vento de S . Domingos , onde a ſua Caſa tem jazigo
perpetuo .
Calou com D . Catharina de Noronha , Dama da
Rainha D . Maria Franciſca Iſabel de Saboya, filha
de D . Pedro Coutinho , Commendador de Almou.
rol, e de D .Marianna de Noronha ; e deſte matri.
monio teve os filhos ſeguintes :
* 20 . AYRES DE SALDANHA DE ALBUQUER .
que , com quem ſe continúa.
20 D . MARIANNA DE NORONHA , Dama da
Rainha D . Maria Sofia , caſou com Joao Pedro de
Saldanha , Morgado de Oliveira , e foy ſua primei
ra mulher ſem ſucceſlao .
20 D . ISABEL DA Sylva , Dama dameſmaRai:
nha , morreo ſem eſtado. .
* 20 AYRES DE SALDANHA DE ALBUQUER .
que , naſceo em 6 de Janeiro de 1681 , fervio na
guerra ſendo Coronel , e Brigadeiro de Infantaria ,
foy
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 357
foy Governador, e Capitað General do Rio de Ja .
neiro , ſuccedeo na Caſa de ſeu pay , e he Commen .
dador das Commendas de Noſſa Senhora da Con
ceiçaõ da Savacheira , e de Santa Maria de Caſtro
Laboreiro no Arcebiſpado de Braga , S . Martinho
dos Lagares no Biſpado do Porto , e S. Thomé de
Alemcarcas no de Coimbra , Alcaide môr de Sou.
re , e Gentilhomem da Camera do Infante D . An
tonio .
Caſou em terça feira 21 de Fevereiro de 1902 com
D .Maria Leonor de Moſcoſo , quemorreo em 22 de
Janeiro de 1731, e foy Dama de Palacio , filha de
D . Joao Maſcarenhas , e de D . Thereſa deMoſco.
fo , quintos Condes de Santa Cruz , como ſe dirá
no Liv . VIII. e deſte matrimonio tem os filhos ſe ;
guintes :
21 D . AnnA THERESA DE Moscoso , naſceo
em 24 de Janeiro de 1703 , foy Dama da Rainha D .
Maria Anna de Auſtria , e caſou em 27 de Feverei
ro de 1724 com D . Joao Manoel da Coſta , com a
fuccefſað , que ſe dirá em outro lugar.
21. ANTONIO JOSEPH JOAQUIM DE SALDANHA E
ALBUQUER QUE , naſceo em 27 de Dezembro de
1703 , he Capitao de Cavallos em hum dos Regi
mentos da Corte , caſou no anno de 1722 com D .
Maria da Porta de Lencaſtre , filha herdeira de D .
Chriſtovao da Gama , Védor da Rainha D . Maria
Anna de Auſtria , e de D . Marianna de Lencaſtre ,
ſua mulher , e viuya de D . Antonio de Lencaſtre ,
herdeiro
358 Hiſtoria Genealogica
herdeiro do Commendador de Coruche , e até o
enez
preſente nao tem ſucceſſa ).
E-855
21 D .Maria BARBARA , Religioſa no Moſtei.
ro da Annunciada de Lisboa.
21 D . THERESA MARIA DE Moscoso , que he
Pupilla no Moſteiro de Santo Alberto das Carmeli
tas Deſcalças.
'. 21 FRANCISCO DE SALDANHA , que ſendo Por.
cioniſta do Collegio de S . Pedro de Coimbra , aon .
de eſtudava, tomou o Habito de Conego Regran
te de Santo Agoſtinho no Moſteiro de Santa Cruz
de Coimbra , onde profeſſou. .
21 JOSEPH DE SALDANHA DE ALBUQUERQUE ,
que faleceo em Novembro de 1723 , ſendo Porcio
niſta do Collegio da Purificaçaõ de Evora .
21. MANOEL DE SALDANHA , que ſerve na Cam
vallaria da Corte .
: * . 18 D . MARGARIDA DE VILHENA, filha de
Antonio de Saldanha , Commendador da Savachei.
ra , e de D . Joanna da Sylva , ſua mulher , caſou
com Joao de Saldanha da Gama , ſeu parente, que
foy hum dos acclamadores delRey D . Joað IV . e
ſendo Capitao de Cavallos no Exercito de Alemte
jo , foy morto na batalha de Montijo com dezaſete
feridas em 26 deMayo de 1644 , filho herdeiro de
Luiz de Saldanha, Commendador de Alcains , e de
Salvaterra na Ordem de Chriſto , Védor da Caſa da
Rainha D . Luiza Franciſca deGuſmað ; e de D .
Maria da Sylva , ſua primeira mulher , filha herdei
ra
da Cafa Real Portug . Liv. Vl. 359
ra de Antonio daGama, e de D . Iſabel da Sylva ,
irmãa de D . Rodrigo da Cunha , Arcebiſpo de Liſ:
boa , e filha de D . Pedro da Cunha, Commenda
dor de S.Martinho deDornes na Ordem de Chrif.
to , General das Galés de Portugal, do Concelho
de Eſtado , e Capitað môr de Lisboa , e Coſtas do
Algarve ; e D . Margarida de Vilhena ficando viu
va, foy Guarda mayor da Rainha D . Maria Fran .
ciſca Iſabel de Saboya , e teve os filhos ſeguintes:
* 19 LUIZ DE SALDANHA DA GAMA , com
quem ſe continúa.
19 ANTONIO DE SALDANHA , foy Porcioniſta do
Collegio Real de S. Paulo de Coimbra , onde en
trou em 22 de Janeiro de 1661, e Conego da Sé de
Lisboa , de que tomou poſſe em 5 de Junho de
1671, e Deputado da Inquiſiçao da meſma Cidade,
em que foy provido em 26 de Setembro de 1674 ,
Deputado do Tribunal da Cruzada, e Sumilher da
Cortina delRey D . Pedro II. que o nomeou Biſpo
de Portalegre no anno de 1692 , Igreja que gover
nou até que no anno de 1705 foy transferido para a
Cathedral da Guarda, de que tomou poſſe em 5 de
Julho do anno ſeguinte. No acto do levantamen
to delRey D . Joað V . em o primeiro de Janeiro de
1707 foy hum dos Prelados, que nelle ſe acharað ,
como teſtemunha do juramento do dito Senhor ; e
recolhendo -ſe ao ſeu Biſpado (depois de o ter viſi.
tado, e nelle reſidido) obrigado de alguns negocios
voltou à Corte , e faleceo em Lisboa em 28 de Ju
Tom .V . Zz lho
360 Hiftoria Genealogica
lho de 1711, e jaz na Ermida de Noſſa Senhora das
Neceſſidades.
19 D . JOANNA DA Sylva , foy Dama da Rai .
nha D . Luiza Franciſca deGuſma) , e caſou com
Lourenço de Souſa deMenezes , Apoſentadormôr
delRey , e depois primeiro Conde de Santiago , e
nao tivera ) filhos , e elle caſou ſegunda vez com D .
Luzia Maria deMendoça , tambem Dama da meſ.
ma Rainha , e filha do ſegundo Conde de Val de
Reys.
19 D . MARIA MAGDALENA . Mol.
Freiras,do noCalvario
2s teiro
· 19 D . CATHARINA DE S. Paulo. S de Lisboa.
19 D . Ignez , Freira da Ordem de S . Domin .
gos no Moſteiro da Annunciada de Lisboa. .
19 Luiz de SALDANHA DA GAMA , ſucce
deo na Caſa de ſeu pay , e na de ſeu avô paterno ,
foy Senhor da Villa de Aſſequins por Carta de con
firmaçaõ de 16 de Setembro de 1671, Commenda.
dor de Alcains , e Salvaterra de Riba Tejo na Or:
dem de Chriſto . Servio na guerra da Acclamaçað ,
ſendo Capitao de Cavallos, e Meſtre de Campo da
Infantaria , e feita a paz foy Governador , e Capi.
tað General de Mazagao , do Concelho deGuerra,
e Governador de Campo -Mayor: e tendo ſervido
todos eſtes póſtos com reputaçað , e valor , faleceo
em 24 de Setembro de 1721.
Carou duas vezes: a primeira no anno de 166 1 com
D . Magdalena de Mendoça , filha de Garcia de
Mello e Torres , primeiro Marquez de Sande , e
primei.
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 361
primeiro Conde da Ponte , do Concelho de Eſtado,
Embaixador Extraordinario a Inglaterra , e França ,
e de D . LeonorManrique, ſua mulher : e ſegunda
vez caſou com D . Ignez de Caſtro , viuva de ſeu
primo Joſeph Gomes da Sylva e Brito , Meſtre de
Campo do terço de Campo-Mayor , Governador
do Forte de Santo Antonio de Lisboa , filha de
Gregorio Maſcarenhas Homem , Commendador da
Freiria de Evora na Ordem de Aviz , Deputado da
Meſa da Conſciencia , e Ordens , Guardamôr da
Torre do Tombo , e de D . Iſabel de Souſa , filha de
Sancho de Tovar , Commendador de Santa Maria
de Manteigas, filho de Sancho de Tovar, Copeiro
môr delRey D . Sebaſtia) , mas ſem ſucceſſa) , e de
ſua primeira mulher teve os filhos, que ſe ſeguem :
* 20 Joað DE SALDANHA DA GAMA , adian
te .
20 JOSEPH DE SALDANHA ,naſcec em 7 de Abril
de 1675 , Meſtre Eſcola da Sé do Porto , e Cone
go daGuarda, Beneficios que renunciou : teve em
Maria Franciſca natural do Porto a D . Clara Fran ..
ciſca de Saldanha, que ſe creou no Moſteiro da En
carnaçaõ de Lisboa , e caſou com Bartholomeu de
Vaſconcellos da Cunha , filho de Troilo de Val
concellos da Cunha , Secretario da Junta dos Tres
Eſtados , Fidalgo da Familia de Vaſconcellos do
Ramo dos Commendadores de Seixo , a qual mor.
reo fem deixar ſucceſſa ) .
20 D . LEONOR MANRIQUE , que morreo fen
Tom .V . Zz ï do
362 . Hiſtoria Genealogica
do Dama da Rainha D .Maria Franciſca Iſabel de
Saboya.
20 D . MARGARIDA DE VILHENA , naſceo em
13 de Janeiro de 1670, Carmelita Deſcalça no Mof
teiro dos Cardaes de Lisboa.
20 D . IGNEZ DE MENDOÇA, Freira na Annun.
ciada de Lisboa.
20 D . ANTONIA DE MENDOÇA , Freira na An.
nunciada de Lisboa , de que foy Prioreza , e naſceo
em 25 de Julho de 1672.
20 D .GUIOMAR DE MENDOÇA , nafceo em 26
de Mayo de 1678. Caſou com Joao Antonio de
Alcaçova , Senhor dos Morgados de Alcaçovas , e
Carneiros,Commendador na Ordem de Chriſto , fi.
lho deGonçalo da Coſta de Menezes, que tendo
fervido na guerra foy Meſtre de Campo de hum
terço de Infantaria , e depois Governador , e Capi.
tao General do Reyno de Angola , de donde vol.
tando morreo na viagem no anno de 1695, e de D .
Antonia Theodora Manoel, que faleceo em 17 de
Junho de 1728 , filha de Ruy de Moura Manoel ,
Senhor do Morgado de Corte Serra ) , e outros, e
de D . LuizaMaria de Tavora , ſua ſegundamulher,
e tiveraõ :
21. D . MAGDALENA XAVIER ANNA DE
MENDOÇA , que naſceo em 24 de Outubro de
1711.
21 GONÇALO XAVIER DE ALCAçova Car
NEIRO E MENEZES , naſceo em 19 de Setem
bro de 1712. LUIZ
daCaſa Real Portug. Liv. Dl. 363
21 Luiz XAVIER DE ALCAÇOVA , naſceo
em 8 de Dezembro de 1713, e faleceo em 6
de Julho de 1733.
21 JOSEPH DE ALCAÇOVA , naſceo em 31
de Janeiro de 1713 , he Religioſo da Ordem
dos Prégadores.
21 D . ANTONIA XAVIER DE MENDOÇA ,
naſceo em 19 de Julho de 1716 , he moça do
Coro no Moſteiro das Commendadeiras da
Encarnaça ) .
21 FRANCISCO XAVIER DE ALCAÇOVA ,
naſceo pofthumo em 17.17 .
· 20 Joað de SaldANHA DA GAMA , naſceo em
19 de Março de 1674 , ſuccedeo na Caſa de ſeu
pay, com quem ſervio em Mazagað ſendo de pou
ca idade , e depois na guerra do anno de 1704 , e
foy Coronel de hum Regimento de Infantaria , Go.
vernador , e Capitað General da Ilha da Madeira ;
e depois no anno de 1725 paſſou por Vice-Rey à
India , aonde experimentou o Eſtado felices expedi.
çoens, como foy a tomada de Mombaça , e Pate
aos Arabios no anno de 1728 em 15 de Março , ain .
da que depois ſe nao conſervara ) eſtas Praças , que
pertendeo ſoccorrer com huma Armada , que der
rotou hum rijo temporal, perecendo na Capitania
huma grande parte da Nobreza do Eſtado em
Mayo de 1729; e tendo governado com acerto, em
barcou para o Reyno em 26 de Janeiro de 173 2.
HeGentilhomem da Camera do Infante D . Anto .
nio ,
Ži
364 Hiſtoria Genealogica
ez
nio , Commendador na Ordem de Chriſto das meſ.
g
mas Commendas , que teve ſeu pay. Caſou em 9
de Dezembro de 1703 com D . Joanna Bernarda de
Lencaſtre , filha de Luiz Ceſar deMenezes, Alferes.
môr de Portugal, e de D .Marianna de Lencaſtre ,
ſuamulher , como deixamos eſcrito ; e deſte matri.
monio tem :
21 Luiz de SaldANHA DA GAMA , que naſceo
em 9 de Dezembro de 1704 , e calou em 4 de Julho
de 1736 com D . Anna de Menezes , Dama do Pa.
ço , e filha de Aleixo de Souſa da Sylva , ſegundo
Conde de Santiago.
21 ANTONIO FRANCISCO DE Saldanha , nal
ceo em 4 de Outubro de 1908 , eſtudou na Univer
ſidade de Coimbra os Sagrados Canones.
21 JOSEPH DE SALDANHA , naſceo em Abril de
1711 : foy ſervir na India , e lá caſou com D . Anna
Joaquina de Mello e Caſtro , filha herdeira de Mar.
tinho da Sylveira de Menezes , e de D .Marianna
de Noronha , filha de D . Gil Eannes de Noronha ,
Senhor da Carvoeira ; e faleceo ſem deixar geraçao
no naufragio da nao Noſſa Senhora da Penha de
França , que foy em ſoccorro de Mombaça no an
no de 1729 , em que pereceo huma grande parte da
Nobreza daquelle Eſtado.
2 . FRANCISCO DE SALDANHA , naſceo em 20 de
Mayo de 1713 , he Porcioniſta do Collegio Real
de S. Paulo de Coimbra.
21. MANOEL DE SALDANHA , naſceo em 21 de
Feve.
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 365
Fevereiro de 1915. Caſou na Bahia com D.Joan
na da Sylva Guedes de Brito , herdeira de grandes
riquezas , e terras no Eſtado do Braſil, viuva de D .
Joao Maſcarenhas , filho dos ſegundos Condes de
Coculim , do qual nað teve ſucceſfað .
21 JOSEPH ANTONIO DE SALDANHA , naſceo em
28 de Janeiro de 1724 , e morreo menino.
21 Thome' CAETANO DE SaldaNHA , naſceo
em 7 de Agoſto de 1725 , e morreo menino .
21 D . MARIANNA JOSEFA JOAQUINA DE LEN
CASTRE , naſceo em 3 de Abril de 1706 : he Dama
daRainha D . Maria Anna de Auſtria , e Cameriſ.
ta da Princeza do Braſil. Eſtá concertado a caſar
com ſeu primo com irma) Martim Correa de Sá ,
filho herdeiro de Diogo Correa de Sá , Viſconde de
Afleca.
- 21 D . MAGDALENA DE LENCASTRE , naſceo
em Março de 1709 , Freira na Annunciada de Lif
boa .
21 D . Anna JOAQUINA DE LENCASTRE , naf
ceo em 17 de Julho de 1721.
21 D .Maria BARBARA DE LENCASTRE , naf
ceo em 5 de Dezembro de 1722.
Teve illegitimas .
21 D . MARGARIDA DE SALDANHA , Freira na
Annunciada.
· 21 D . MARIA DE SALDANHA , moça do Coro
no Moſteiro de Santos.
* 16 D . MARIA DE NORONHA , que, como .
diſle .
366 Hiftoria Genealogica
diſſemos, foy filha terceira de Ferna) Telles deMe.
nezes , ſetimo Senhor de Unha) , e de D . Maria de
Caftro , ſua mulher , cafou duas vezes : a primeira
com Affonſo Peres Pancoja , Alcaide môr de San
tiago de Caſſem , Commendador de S. Marcinho
de Tavira na Ordem de Santiago , quemorreo na
batalha de Alcacer em 4 de Agoſto de 1578 lem
ſucceſfað.
Cafou ſegunda vez com Joaŭ de Saldanha, de quem
foy legunda mulher , Commendador de S . Marti
nho de Santarem na Ordem de Chriſto , que depois
de ter ſervido em Tanger , e muitos annos na India,
te achou no cerco da Goleta por mandado delRey
D . Joa) III. Foy General da Armada da Coſta , e
duas vezes Capitað môr das naos da India , de don
de voltando a ſegunda no anno de 1596 le perdeo
no mar ; e deſte matrimonio teve os filhos ſeguin
tes :
17 BARTHOLOMEU DE SALDANHA, que paſſar
do à India com ſeu pay , e voltando com elle , le
perdeo no naufragio , que padeceo o leu navio , que
parece tragou o mar, porque delle ſe nað loube.
* 17. FERNAÕ DE SALDANHA , com quem fc
continúa.
- 17 JERONYMO DE SALDANHA , que morreo na
India .
.. 17. Francisco DE SALDANHA , quemorreo mo.
ço ſem geraçað.
17. ANTONIO DE SALDANHA, foy Alcaide môr
de
da Caſa Real Portug . Liv. VI. 367
de Villa-Real , Commendador de S . Salvador de
Sarrazes na Ordem de Chriſto : paſſou a ſervir na
India , o que fez com valor, e grande deſpeza da
fua fazenda. Foy Capitað môr das naos da India
no anno de 1633, e depois hum dos principaes, que
ſe acharao na Acclamaçao do Senhor Rey D .Joao
IV . no anno de 1640 , e General da Armada , que
foy a reſtaurar a Ilha Terceira ; e ultimamente Go.
vernador da Torre de Belem . Calou na India com
D .Marianna de Mello , filha do Doutor Jeronymo
de Brito , Deſembargador da Relaçaõ do melmo
Eſtado, e de D . Angela de Caſtro , ſua mulher , de
quem teve a Joað de Saldanha , que morreo meni
no ; e fóra do matrimonio teve em D . Maria de
Caſtro , mulher nobre em ſangue , e qualidade, filha
de Ruy Leitað , e de D . Joanna de Caſtro , a D .
Luiza , e D . Marianna , que juntamente com ſua
mãy forað Freiras em S. Domingos das Dónas de
Santarem , e a Antonio de Saldanha , que ſeu pay
legitimou , e foy ſucceſſor do Morgado , quenelle
inftituîo , e de todos os ſeus bens , e lhe ſuccedeo
tambem na Commenda de S . Salvador de Sarrazes.
Servio na Armada da Coſta no anno de 1656 , e no
ſeguinte paſſou à India deſpachado com a Fortale
za de Dio , que entrou a ſervir em 27 de Mayo de
1661. Depois de acabado o ſeu governo morreo
ſem geraçao , e o Morgado , que nelle inftituîo ſeu
pay, paſſou ao filho ſegundo de Joao de Saldanha,
Senhor do Morgado da Azinhaga . .. .
Tom . V . Ааа Dio .
368 Hiſtoria Genealogica
- 17 DIOGO DE SALDANHA, que foy Carmelita
Deſcalço , e ſe chamou Fr.Domingos de S.Joſeph .
- 17 D . MARIA DE NORONHA , caſou com D .
Alvaro Fernandes de Caſtro , terceiro Senhor de
Fonte Arcada , Paredes , Penela , Souto , Freixo , e
Horta , Commendador da Redinha na Ordem de
Chriſto , filho de D . Manoel de Caſtro , que teve
os meſmos Senhorios, e neto de D . Alvaro de Cala
tro , o qual foy do Concelho de Eſtado delRey D .
Sebaſtiao , ſeu Védor da Fazenda , e ſeu Valido , e
Capitað do mar da India , onde ſe achou com ſeu
pay o Grande D . Joao de Caſtro , quarto Vice
Rey da India no famoſo Cerco de Dio , e tiverað
eſtes filhos, a ſaber : D .Manoel de Caſtro , quarto
Senhor de Fonte Arcada , é mais Villas , e Luga
res , que poſſuîo ſeu pay, e tambem Commendador
da Redinha , o qual ſendo ornado de excellentes
partes morreo fem cafar , nem deixar geraçao : D .
Franciſco de Caſtro , que foy Clerigo , e Arcediago
da Sé da Guarda : e D . Marianna de Noronha ,
que caſou com D . Alvaro de Portugal, de que em
ſeu proprio lugar ſe fará mençaõ no Liv . X .
17 D . JOANNA DE MENDOÇA , Freira em S .
Domingos das Dónas de Santarem .
* 17 FERNAÕ DE SALDANHA , foy Commen :
dador de S.Martinho de Santarem , Governador , e
Capitao General da Ilha da Madeira ſendo muito
moço , aondemorreo em 10 de Agoſto de 1626 , e
dalli ſeu filho trasladou os ſeus offos para a Capella
môr
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 369
môr do Mofteiro de S. Domingos de Santarem .
Caſou com D . Joanna de Noronha , Senhora do
i3
90
nen
CAPI
397
.
Debrief.
CAPITULO VI.
Da Senhora D . Guiomar , Condeſſa
de Loulé .
CAPI
401
99
Detrie
CAPITULO VII.
Do Senhor D . Fernando II. Duque de
Bragança.
12 Að ſe eximem os Principes de
padecerem como os mais ho
mens as adverſidades da fortu
na , conſpirando contra elles
as deſgraças , ſem que a gran
deza do naſcimento , nem o
Berice
poder , com que tanto ſe def
tinguem , os livre do precipicio , em que os lança
ſeu fatal deſtino , porque no grande theatro do
Mundo ſe mudað as ſcenas com a meſma facilida
de , e ligeireza, com que o coſtumað fazer os Co
micos nas ſuas repreſentaçoens, como nos moſtra
rá logo a preſente Hiſtoria .
Tom . V . Eee ii ODu.
402 Hiſtoria Genealogica
O Duque D . FERNANDO , ſegundo do nome,
a quem pelos glorioſos ſucceſſos de Africa appelli
darao Africano, naſceo ſegundo podemos inferir no
anno de 1430. Succedeo nos dilatados Eſtados da
Caſa de Bragança ao Duque ſeu pay. Foy de
gentil preſença , adornado de excellentes partes ,
generoſo , e de elevados penſamentos , magnifico ,
e mageſtoſo no apparato riquiffimo do ſeu Palacio,
e na grande comitiva de criados , benigno com os
que o amava) , de maneira , que eſquecido da fua
grande elevaçað ſe fatisfazia de ſe lhes moſtrar
igual; porém nos que reconhecia penſamentos de
o quererem ſer , lhes inſinuava tanto a ſua ſobera
nia , que logo entendiao , que os eſtimava em pou
co ; porque ainda que fabia uſar de diſſimulaçao, o
deſprezo , que nao indicava a voz , manifeſtava o
aſpecto. Com os Vaſſallos le nao ſatisfazia com
ſer reſpeitado , lenaõ tambem temido. Coſtumava
andar com grande comitiva , pelo que começou a
der invejado dos grandes , temido de alguns, e odia
do de muitos, a que le ajuntava ter com ElRey D .
Affonſo V . adquirido grande authoridade , porque
ſeguia o ſeu conſelho nos negociosmais arduos: e
aſſim nao podia a emulaçao dos Senhores grandes
fofrer , que em tudo foſſe o primeiro , porque El
Rey fazia delle tað alto conceito , que nenhuma
coula meditava , nem punha em pratica pertencen
te à guerra , lem elle ſer ouvido ; nem ainda das
que lómente tocavao ao deſpacho ordinario , reſol
via
da Cafa Real Portug. Liv .Vl. 403
via alguma ſem o ſeu parecer: de tal forte, que nao
.concedia ElRey merce em que o Duque nao tiveſ.
fe parte , humas vezes com a inculca , outras com
o parecer, e ſempre com a approvaçao , porque tu .
do o que deſpachava era pela ſua mao , e aſſim ſe
viao preciſados a renderlhe as graças.
Era o Duque de Bragança o mayor Senhor
nað fó em Portugal ,mas em Caſtella , Aragað , e
1CODE
Navarra , pois he fem duvida , que nao havia Ca
fa alguma, que nað foſſe de Infante , que podeſſe
competir com elle em Eſtados : porque ainda que
0:08
naquelle tempo havia Senhores poderoſos em Cal
tella , nað era de patrimonio ſeu, como advertio Fr.
Jeronymo Roman , ſenaõ de terras uſurpadas , e Caſa Romande, Hiſtoria da
Bragança ,
com os Meſtrados das OrdensMilitares , com que parte 3 . cap. 28.
fe faziaõ poderoſos , que era o mais a que os podia
elevar a fortuna . Porém o Duque de Bragança ti
nha cincoenta Villas, Cidades , e Caſtellos , com ou
tros Lugares fortes , ſem que ſe numeraſſem Quin
tas, herdades , devezas, e campos, de que era Senhor .
Deftas terras he tradiçaõ conſtante , que podia tirar
tres mil homens de Cavallo , e dez mil Infantes ,
que he Exercito grande , havendo muitos na Euro
pa , a quem nao podiao fornecer tanto numero de
Tropas os ſeus Eſtados , para quem nað era So
berano .
A ' grandeza , e poder deſte Principe ſe ajunta
va a circunſtancia de ſe achar com tres irmãos po
deroſos , e grandes Senhores no Reyno , que erað
D .Joao ,
404 Hiftoria Genealogica
D .Joao , Marquez de Montemor , e Condeſtavel
de Portugal , D . Affonſo , Conde de Faro , e D .
Alvaro , todos caſados, com asmelhores Calas do
Reyno , e com reciproca amiſade. Achava-ſe o
Reyno com pouca ſucceſſa) , porque nao havia
mais varað , que o Principe D . Joao de ſingulares
virtudes, mas com condiçaõ afpera, e ſevera , fa.
zendo-ſe já de enca) temido, porque nao le agrada
va dos Senhores grandes , que ſofria mal, e nao goſ
tava , ſena ) de gente demediana esféra , com quem
tratava mais familiarmente . O Duque era temi.
do pelo ſeu valor , e invejado pela proſperidade , e
grandeza da ſua Caſa , e como ſe achava mal quiſto
demuitos , le vio cercado de inimigos , que conſpi
rarað para a ſua infelicidade.
Nao contava o Duque muitos annos, porque
pouco podia paſſar de dezaſete , quando ſeu pay ain
da em vida do Duque de Bragança o Senhor D . Af.
fonſo , o deſpoſou com D . Leonor de Menezes , fi.
lha de D . Pedro de Menezes, Conde de Vianna, e
Villa-Real, Capitað , e Governador da Cidade de
Prova num .71. Ceuta, o qual a eſte tempo já era falecido . Conſ.
ta de huma procuraçao deſta Senhora feita na Villa
de Torres Novas em 2 de Mayo do anno de 1447
por Vaſco Gil , Tabalia ) , criado que tinha ſido do
Infante D . Fernando , Eſcudeiro do Regente D .
Pedro , e Vaſſallo delRey , de que forað teſtemu
nhas Fr. Lopo , Religioſo de S. Franciſco , Con .
feſſor da dita Senhora , e Diogo Gonçalves Merca.
dor,
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 405
dor, Eſcudeiro , emorador na dita Villa, e Gonçalo
Machado , Eſcudeiro , e criado da dita Senhora, na
qual procuraçað dá poder a Alvaro Pires, Procu
rador dos feitos delRey , para effeituar os contratos
do ſeu caſamento com D . Fernando , e ſe poder re
ceber com elle por palavras de preſente como or
dena a Santa Igreja Romana. Eſtava neſte tempo
em Ceuta o Duque D . Fernando I. ſeu pay , que
nað tinha ainda outro titulo mais , que o deConde
de Arrayolos. Foy Alvaro Pires àquella Praça
com a procuraçaõ da dita Senhora , e ſe recebeo
com o Duque (que tambem nað tinha ainda titulo )
em 14 de Agoſto do fobredito anno nos Paços do
Caftello , ondemorava o Conde de Arrayolos , que
entað o governava : forað teſtemunhas D .Joao , de
pois Marquez de Montemôr , ſeu irma) , Fernað
Rodrigues , Chanceller do Conde, Diogo Alvares,
ſeu Ouvidor , e Nuno Pacheco , ſeu Eſcrivað da
Puridade, de que fez termo em publica formaMar
tim Affonſo , Tabalia ) na dica Cidade , o qual ſen
do enviado à dita Senhora , o mandou por via de
Pedro Eſteves, Conego , e Vigario Geral em Santa
rem , e ſeu Arcediagado , e Bacharel em Canones,
ao Tabaligo daquella Villa Alvaro Dias deMoraes,
Vaſſallo delRey, para que lho fizeſſe publico , e au
thentico , de modo , que foſſe digno de fé , o que
com effeito lhe fez em publica forma em 16 de Ja
neiro do anno de 1448 ſendo teſtemunhas Joao Ro.
drigues Perdiga) , e Pedro Annes, formado em Ca
nones,
406 Hiſtoria Genealogica
nones, e Affonſo Annes, Eſcudeiro , todos mora
dores na Villa de Santarem ;mas nao durou muitos
annos eſta uniao , como adiante ſe verá.
Creou-ſe o Duque D . Fernando com ElRey
D . Affonſo V . havendo entre ambos pouca diffe
rença na idade , e aſſim o ſervia com grande amor
acompanhando-o em todas as occaſioens, que hou.
ve em ſeu tempo, com grande ſatisfaçaõ delRey , e
muita deſpeza da ſua fazenda. Aſſim ſe vio quan
Chron. delRey D . Af. do paſſou a Ceuta
- InconteD
com o Duque
ornando e quando
ſeu pay a buſcar
fonſo V . cap. 28. Af. o Infante D . Fernando , e quando ſomente por ad
quirir gloria ao leu nome, no anno de 1461 foy a
Alcacer Ceguer , em cuja Conquiſta já ſe achara
com o Duque ſeu pay , e com ſeu irmao D . Joað
no anno de 1458 , em que ElRey a tomou aos
Mouros, e agora com novos impulſos de nað paſſar
huma vida ocioſa , alcançando licença do Duque
Vida de D . Duarte de
feu pay , tornou à Africa na companhia do famo
de fo Conde de Viana D . Duarte de Menezes , Go.
Menezes , imp. 1627 .
pag. 139. vernador daquella Praça , a quem o valor , e a for:
tuna collocarað o ſeu nome entre os Heroes mais
eſclarecidos de todas as idades. Levou à fua cuſta
mil homens de pé , e duzentos de Cavallo , em
que entrava ) muitos Fidalgos , e outra muita gen .
te nobre do Reyno , de que ſe coſtumava ſervir , e
qre por obſequio o queriao acompanhar. Com eſ.
te corpo fervio naquella Praça à ordem do Conde,
entrando muitas vezes pelas terras dos Mouros ta
lando a Campanha , achando-ſe em todas as occa
fioens,
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 407
fioens, que naquelle anno houve , que forað mui
tas ; porque o Conde General da Praça hia com
vontade de verſe com o inimigo , e aſſim por tres
vezes o ſeguirao até às portas da Cidade de Tan
ger , fazendolhe tanto damno , que lhe degollarað
mais de ſeiſcentos Mouros , queimandolhe quatro
Lugares muy ricos , que fora ) Palmera , Ceta ,
HoChi Aamar , e Leonçar. Neſta Campanha ſe fizerao
acçoens dignas de eterna memoria , e alcançarað
além da honra , prezas conſideraveis de gados , e Ca.
tivos , de que ſe aproveitava ) os Soldados, e Ca.
valleiros. O Senhor D . Fernando , que ainda nao
era Duque, nem Conde , ſe portou com grande
valor , e prudencia , ajuntando à Mageſtade de Prin .
cipe o diſvelo , e cuidado de Soldado particular ;
porque ſendo o primeiro nos perigos , moſtrava ſel
lo tambem em obſervar asordens do Conde , como
de ſeu Capitað , fazendo deſta forte ley inviolavel
com o ſeu exemplo , em que particularmente fez
ſingular eſtudo depois que obſervou o animo de.
pravado de alguns Fidalgos , que entre inveja , e
raiva começarað ſem fruco a induzillo contra a au
thoridade do Conde , procurando ter por inſtrumen.
to da ſua vingança a alta grandeza do naſcimento
do Duque , que era o meſmo , que o obrigava a
moſtrarle affavel , e obediente , conſeguindo deſta
ſorte , além da gloria , e reputaçao do ſeu nome, o
epiteto de Africano . As initancias do Duque ſeu
pay voltou a Portugal , onde quiz ElRey por dif
Tom . V . Ff tin
408 Hiſtoria Genealogica
tinguir os ſeus merecimentos , fazerlhe merce do
poſto de Fronteiro môr de Entre Douro , e Mi.
nho , e Traz os Montes, lugar , que occupara o
Torre do Tombo , liv.
4 . dos Myſticos , pag., Duqu
Duque de Bragança D . Affonſo ſeu avô , já entað
51. . falecido : foy a Carta paſſada em Santarem a 15 de
Janeiro do anno de 1462 , e eſtá regiſtada no Ar
Dito liv . pag. 11. chivo Real da Torre do Tombo . A 4 de Feve.
reiro do meſmo anno lhe fez merce , de que em
todas as ſuas Villas , e Lugares gozaſſem dos mel
mos privilegios, graças, e liberdades , que o Duque
ſeu pay lograva nas terras dos ſeus Eſtados. Deltas
merces conſta , que ainda nað era Conde deGuima.
rães , como algumas Memorias referem pondo eſ.
ta no anno de 1461 , porque muito depois o creou
Conde deGuimarães , erigindo eſta Villa em Con.
dado ; dandolhe mais as rendas, e direitos Reaes ,
Provanum .72. que tinha na meſma Villa tudo de juro. Conce
deolhe depois no anno de 1464 por Carta de doa.
çao paſſada em Ceuta o Padroado da Collegiada de
Santa Maria de Oliveira , hum dos melhores , que
ſe conhecem em Heſpanha pelos foros, e privilegios
muy eſpeciaes , que tem por merce dos Reys anti
gos. Compoemſe a Collegiada de D . Prior, Co
negos , e outras dignidades : a de D . Prior da Col
legiada , he Beneficio de grande renda, e foy tam
bem da ſua apreſentaçao , mas hoje he data da Co.
roa pela cauſa , que fica eſcrita no Liv .IV . Cap.XI.
pag.427 . Deulhe juntamente os Padroados de va
rias Igrejas , que tinhao ſido Abbadias de Monges
da
da Caſa Real Portug. Liv . Vl. 409
da Ordem de S. Bento , e Moſteiros de Conegos
Regrantes de Santo Agoſtinho , e as de todas as ou
tras Igrejas , e Conventos, que lhe pertenciao em
Guimarães. Nomeſmo anno de 1464 quando El
Rey D . Affonſo V . paſſou de Ceuta a Gibaltar pa. Chrono capic D34.
tonlo V.delRey . Af.
Ô
Zurita An.deAragaó, França , e para eſſe fim mandou ao Principe D .
Faria Europostom : Joao , que fobiſſe ao Throno fazendo-ſe levantar
3
part.3. cap.z. num .74. Rey , porque elle a ſeu favor dimittia a Coroa.
E
Conſultou o Principe eſta materia com os Gran
-23
des , e Senhores do Reyno ; referemſe variamente
D.Agoſt.ManoelVid. Os votos, que houve neſte Conſelho , porém con.
delRey D; Joao II. liv. cordað alguns , que o Duque D . Fernando , com
1. pag. 38 .
palavras muy expreſſivas, e com grande energia ,
eſtranhara ao Principe querer aceitar a offerta da
Coroa , que lhe fazia hum pay preoccupado dame.
lancolia , e conſternado das adverſidades da fortu .
na , e que com outras muitas razoens naſcidas do
ſeu zelo o diſſuadira de pôr em pratica aquella pro
poſta. Nað ſoarað aquellas vozes bem nos ouvi
dos do Principe , porque o deſejo de reynar lhas
fazia parecer mal intencionadas. Teve-as por mais
aſperas do que ellas erao , nao porque as nað reco .
nheceſſe verdadeiras , mas porque nao as julgava af.
fectuoſas ; nað pelo que ſoava) , mas porque elle
as proferia ; porque ajuntando ao voto a authori.
dade da peſſoa conhecidamente zeloſa do bem pu.
blico , attrahia a eſte parecer o animo de muitos.
Porém como a liſonja ſempre tem quem a liga ,
( ainda em materias de nenhuma conſequencia ) nað
faltarað pareceres em contrario , com que o Prin
cipe ſe conformou. Ha quem eſcreva , que a Se
nhora D . Filippa , filha do Infante D . Pedro , com
authoridade de tia do Principe, irmãa deſua máy,
fomen
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 421
fomentava a diſcordia entre o Principe , e o Du
que, trazendolhe a memoria as contendas paſſadas
na deſgraçada morte de ſeu avô ; e pedindolhe fatiſ
façað , e caſtigo na Caſa de Bragança , valendo-ſe de
todos aquelles motivos , com que ſe augmenta a
dor , e ſe facilita o odio .
A eſta offenſa herdada ajuntou o Principe ou
tras contra a peſſoa do Duque , que ſe lhe faziað
mais fenſiveis , como a preſente , e a de haverlhe o
Duque , à inſtancia da Princeza ſua cunhada, eſtra
nhado por vezes o trato illicito , que entao tinha
com D . Anna de Mendoça com hum amor tað li.
vre , e tal conſtancia , que lhe fazia dura a refolu .
ça ) , com que lho repreſentava ; e como as ad
vertencias do Duque fe oppunhaó a huma paixao
amoroſa , ſe fazia ainda mais aborrecida a pratica
ao Principe , que como o amor tem qualidade de
fogo , quanto he mais opprimido , tanto he mais
violento . Tinha o Principe por muitas vezes ob
ſervado no Duque reſoluçað nasmaterias mais gra
ves ; e ſuppoſto que eſta aſſentava bem na autho .
ridade do ſeu caracter , ſendo reveſtida de tantas
circunſtancias a ſua peſſoa , nað ſe deixava de inter
pretar efte zelo como licencioſa liberdade , e deſta
ſorte nao achando acolhimento no Principe , ante
via ) os prudentes os pernicioſos effeitos, que ſe po
diaõ temer da ſua má vontade. Accreſcentava ef
te temor a publica correſpondencia , que o Duque
tinha com a Caſa Real de Caſtella , à qual o Prin
cipe
422 Hiſtoria Genealogica .
cipe tinha grande aborrecimento , e ainda que era
Zurita An,de Aragaó , diſſimulado , o nao podia encobrir , como diz Jero.
liv.2.0.cap.45 ur nymo Zurita. Era eſta amiſade fundada no che
panha,liv.24.cap.21. gado parenteſco , e trato dos ſeus mayores com
aquella Coroa, e já paſſava a ſer crime capital com
o Principe, pela diſconfiança, com que tratava aos
D.Ayolt.Manoel Vi. Caſtelhanos , de que diz D . Agoſtinho Manoel de
da delRey D. Joaó II. Vaſconcellos na ſua Vida , que o vulgo publicava
pag. 50.
outras couſas , que ſe nao podem referir com a mo.
deftia , com que ſe deve fallar na peſſoa de hum
Rey , e aſſim o refiro na meſma duvida.
Finalmente depois de varios acontecimentos,
que nao pertencem a eſte lugar , voltou ElRey D .
Affonſo V . de França , ſurgindo em Caſcaes. Ha
via pouco tempo , que o Principe em virtude da
ordem do pay ſe levantara Rey a 10 de Novem
bro do anno de 1477 com o nome de D . Joao o
II. e quando teve eſta noticia ſe achava no Paço de
Santos junto ao mar paſſeando com o Duque de
Bragança , e com o Cardeal D . Jorge da Coſta por
aquella praya , e voltando para o Duque lhe per
guntou como lhe parecia , que havia de receber.
ſeu pay ? O Duque, que era naturalmente deſemba
raçado , e livre , lhe reſpondeo com heroica reſolu.
çao : Como, Senhor , o haveis de receber , fenao corno
a voſo Rey, como a voſo Senhor , e como a voſſo pay ?
de que o Principe pouco ſatisfeito moſtrou no ſem
blante o deſagrado ; e voltando tomou huma pedri
nha da borda domar , e fez tiro , lançando-a com
força
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 423
força contra a corrente da agua : o Cardeal, que
era dotado de grande talento , muy ſagaz , e politi
co , fez reflexao naquelle tiro , e chegando -le para
o Duque lhe diſſe em ſegredo : Vedes , Senhor ,
aquella pedra , que ElRey atirou com tanto impeto ?
Pois eu vos ſeguro , que mie naõ dé a mim na cabeça;
pelo que o Cardeal conhecendo o genio delRey ,
que tomaria ſatisfaçao da repoſta , a nao eſperou , e
comando as ſuas medidas a tempo , partio para Ro
ma. Aſſim o refere o Deſembargador Duarte Nu!. Chron. delRey D .AF
nes de Lea) na Chronica delRey D . Affonſo , ain - fonſo V. cap.63.
da que Garcia de Reſende , e Ruy de Pina o paf
faraó em ſilencio , porém Fr. Jeronymo Romano
affirma , e a eſte facto ſe inclina D . Agoſtinho Ma
noel na Vida delRey D . Joað II. eo Doutor Fran Abreu Cholob ,cap.17.
ciſco Homem de Abreu diz , que conſta das Me- pa 108.
morias do dito Cardeal. Eſtes motivos impreſſos
no coraçao delRey forað , ao que parece , as pri
meiras cauſas do pouco acolhimento , que a Caſa
de Bragança achou no principio do ſeu Reynado .
Entrou ElRey D . Affonſo no governo do
Reyno , em que durou poucos annos. Neſte tem
po , em que corria o anno de 1478 , ſuccedeo o Du
que de Guimarães por morte de ſeu pay no Du
cado , e Eſtados de Bragança , como temos dito ,
ſem embargo de que alguns Authores lhe anticipað
a morte ; e em todo o tempo da ſua vida a Caſa
de Bragança experimentou em ElRey aquella at
tençao , que era demonſtradora do amor , com que
Tom . V . Hhh a tra
424 Hiſtoria Genealogica
a tratava , e de que ſe fazia merecedor hum paren.
teſco tað eſtreito , de que naſcia amar ElRey aos
Duques de Bragança com grande affecto , de que ti
nha larga experiencia , examinada por tantas vezes
à ſua viſta a ſua fidelidade , e animo daquelles Se
nhores , conhecendo , que a grandeza da ſua Caſa
fazia glorioſa a reputaçað da Coroa Real Portu
gueza , a que nao podia ſervir de pezo , nem cui
dado ; porque ainda que o apparato , e grandeza da
ſua Caſa , e a qualidade , e Eſtado era de Principes,
a lealdade era verdadeiramente de Vaſſallos , e nel
.te nome affiançava) todas as eſperanças , e aſſim
ſerviaõ com as peſſoas, e com o conſelho em todas
as occaſioens , que teve no ſeu Reynado. Porém
deſte amor, e confiança delRey , tomava o Princi
pe motivo para a má vontade , que tinha a toda a
Caſa de Bragança , o que ElRey nað ignorava, e
tanto o reconhecia , que quando já cançado dos
contratempos da fortuna convocou Cortes para
com beneplacito do Reyno o renunciar no Princi
pe , e retirarſe a viver como particular em o Mof
teiro de S. Franciſco de Varatojo , que tinha fun
dado junto de Torres Vedras , quiz em ſua vida
Poa Chronica delRey ( como referem osChroniſtas Ruy de Pina , e Du.
D .Affonſo V .cap.1 24 .
Duarte Nunes Chroni: arte Nunes de Leao ) compor as diſſenções , que
ca68.domeſmo Rey cap. havia entre o Principe, e a Caſa de Bragança . Nao
durou muito a EIRey a vida , cuja falta logo co
meçou a ſentir eſta Cala , porque fubindo ElRey
D . Joao o II. ao Throno no anno de 1481 , como
em
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 425
em Principe lhe foy pouco affecto , ceſfou logo
aquelle favor , que havia experimentado nos Reys
ſeus predeceſſores , e agora devia igualmente expe
rimentar no preſente Reynado , porque ſobre o
parenteſco , e mais merecimentos da Caſa de Bra
gança , acreſcia no Duque ſer cunhada delRey a
Duqueza de Bragança D . Ifabel ſua mulher , cir
cunſtancia , que promettia differentes eſperanças.
Convocou ElRey D . Joao Cortes na Cidade
de Evora no principio do ſeu Reynado , no anno
1481 , moſtran lo nas ſuas diſpoſições , que ſe diri
giao ſomente ao bem publico , e conſervaçaõ da
Monarchia ; porém nað ſe deixava de alcançar o
fim , a que ſe encaminhava eſta politica , pois ainda
que ſejao niuy eſcondidos os deſignios dos Princi
pes , nao deixa) de ſer penetradas as ſuasmaximas,
porque des muitos , que diſcorrem ſobre ellas , al
guns as vem a manifeſtar : e tendo tomado nasCor
tes o conhecimento do eſtado das couſas , que lhe
pareceraõ mais importantes , foy entre ellas alterar
a fórma dashomenagens, que os Senhores haviao Reſende Vida do dito
Rey , cap. 25.
de dar nas mãos delRey , dos Caſtellos , e Forcale
zas ; e porque nað havia até aquelle tempo o mo
do deſta folemnidade , lhe deu fórma com algumas
clauſulas , que nað ſó moſtravaõ deſconfiança , mas
tambem eraõ em detrimento das prerogativas , e
privilegios, que gozava ) . Promulgou logo ordem ,
man lando ſobre graves penas aos Donatarios, que
moſtraſſem as Doações, e privilegios , que gozavao
Tom . V . Hhh ï as
426 Hiſtoria Genealogica
as ſuas Caſas , para o que lhes a ſinou termo limi
tado , de que ſe inferia , que o animo delRey era
reſtringir humas , extinguir outras , e emendar to
das: mandou nas meſmas Cortes , que osCorrege
dores entraſſem nas terras dos Donatarios com no.
vos poderes ſobre elles, e os ſeusMiniſtros , tiran
delhes a juriſdicçað , que tinha) nos ſeus Vaſſallos
de mero , e mixto Imperio , que em Caſtella con .
ſerva ) os Senhores , a que chamaó de foga , e
cuchillo , ficando tao diminuido nos caſos crimes
o poder , que neſta parte ficara ) os ſeus Officiaes
repreſentando huma ſombra apparente de Juſtiça .
Reſolverað os Senhores , e Donatarios defender ju .
ridicainente os ſeus privilegios , para o que elege,
raó por cabeça ao Duque de Bragança , a quem
tocava mais que a outro algum eſte negocio , pela
grandeza dos Efados, que poſſuía , e tal vez que
D.Azaltin. Manos!, ElRey ( como diſſe D . Agoſtinho Manoel na lua
pag. 74 . Vida) vendo-o Senhor de tantas terras, deſconfiou
detaó grandepoder em hum Vaſſallo , por ſer ma
yor do que permittia a extenſa) do feu Imperio.
Acabou ElRey as Cortes , e tendo tomado
as homenagens na fórma, que tinha determinado , a
Relende cap. 27 . todos os Grandes do Reyno , o que refere Reſende
por extenſo , foy o primeiro , que a deu , o Duque
de Bragança pelas ſuas Fortalezas , e Caſtellos , e
pelos do Duque de Viſeu feu cunhado, que entao
eſtava em Caſtella por cauſa das Terçarias , a que
ſe ſeguirao fus irmãos o Marquez de Monte môr,
o Con
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 427
W
o Conde de Faro , e D . Alvaro. Proteſtou o
Duque de Bragança a força , e que juridicarnente
tratava de defender a authoridade , e grandeza da
ſua Caſa. Sentio -ſe ElRey dos ſeus requerimentos ,
em que lhe fallava com mais liberdade , do que po
dia ſofrer a condiçao , e ſeveridade delRey , e co
nio deſconfiava da peſſoa do Duque , começou a
idear omodo de ſe livrar do temor , que lhe caufa .
va hum Vaſſallo tað poderoſo . Deſde eſte ponto
ficou quaſi impoſſibilitada a reconciliaçað , achan
do ElRey occaſia ) depois no tempo , e o Duque
precipicios , que totalmente o arruinarað . Tinha)
os Donatarios em poder delRey as Doações , e
Inflrumentos dos privilegios , e iſenções das ſuas
Calas , a que nao differia , difficultando a ſua conar
maçao , como ſe föra huma merce nova. Era o
coſtume dos Reys logo depois da lua Coroação ,
confirmar por hum Decreto publico , com clauſu
la geral, tudo o que havia ) concedido ſeus prede.
ceſſores. Derogou eſte eſtylo ElRey , e depois de
largas dilações tratou de averiguar em huns as rene
das , em outros os privilegios , e em todos a juriſ
dicçaõ. Deſta novidade fe queixavaõ os Senhores
do Reyno , e chegando eſtas vozes indiſtintamen
te a ElRey , as que mais ſentia eraõ as do Duque
de Bragança , e ſeus irmãos , os quaes arrebatados
com immoderado ardor hiaõ diſpondo a ruina deſ.
ta Caſa , de que ſe ſeguia o deſejo , que ElRey ti
nha de lhes diminuir os privilegios , ordenando em
vir
428 Hiftoria Genealogica
virtude do Decreto , que promulgou nas Cortes ,
que entraſſem os Corregedores nas Tuas terras. Re.
cuſou o Duque deſcubertamente , fallando a ElRey
com razoens forçoſas , e concludentes ; e ſuppoſto ,
que foſſe verdade o que o Duque dizia , nað dei
xou de ſe julgar ouſadia. ElRey lhe reſpondeo com
colera , moſtrando no ſemblante nað fó diſſabor,
mas deſabrimento. A inteireza , e liberdade do Du.
que naquella audiencia deſpertou mais o diſgoſto
das couſas , que nað eſtava) eſquecidas no animo
delRey ; e ſuppofto , que fe naõ queixou em publi
co , aſſentou comſigo darlhe remedio em ſegredo ,
com que ſe fatisfizeſſe das offenſas , e nao tardou
em achar a occaſiao , que eſperava.
Em quanto eſtas couſas paſava) chegou Lo
po de Figueiredo , que havia ſido Contador do Du.
que , a delatar humas Cartas, que havia caſualmen .
te achado de ſeu amo para os Reys de Caſtella : e
foy o caſo , que determinando o Duque apreſentar
a ElRey as Doações da ſua Caſa , mandou de Evo .
ra , aonde eſtava , a Villa - Viçoſa , lugar , em que
coſtumava reſidir , e aonde tinha o Archivo da ſua
Caſa , a buſcallas por Joao Affonſo ſeu Contador,
o qual enfermando , fiou aquella diligencia de hum
ſeu filho , que por ſua curta idade, emuita pregui.
ça , levou comſigo a Lopo de Figueiredo para que
o ajudaſſe a buſcar as Doações: achou entre ellas
as Cartas, de cujo pouco recato de guardallas fe
póde inferir o pouco , que lhe podiaõ produzir de
culpa.
da Caſa Real Portug. Liv . VI. 429
culpa. Eftimou ElRey a offerta , e premiando ao
Figueiredo , fez copiar as Cartas por Antaõ de Fa
ria , de quem fiava os ſeus ſegredos. Com eſta tað
debil prova ſe reſolveo ElRey a prender o Duque
de Bragança ; e porque a grandeza dos negocios
cauſa a irreſoluçað , e os retarda , nao teve tanta
dem ora na reſoluçao , quanto nosmeyos , e forma
para o executar, affectando ſegredo , e diſſimulaçao ,
que he alma das materias graves. Ulou de nova
politica , emudando de eſtylo , começou a parecer
mais benigno no trato do Duque , e de ſeus irmãos
para os tornar a confiança , e amizade : e porque
de Caſtella entendia , que vinha todo o damno pe
la familiaridade , com que os Reys Catholicos tra
tavað ao Duque , quizlhe dar receyos, e pollos em
cuidados , que duraſſem tempo . A eſte fim orde
nou , que a Excellente Senhora, que vivia em hum
Convento , fahiſſe da Clauſura , e tiveſſe Cafa , e
ſerviço 'de Princeza . Deu que diſcorrer eſta nao
eſperada novidade , e ainda mais quando ſe ſoube ,
que osReys de Caſtella tinhaõ prezo em Noſſa Se
nhora de Guadalupe a Pedro Monteſinos de Sala
manca com Cartas , e inſtrucções do Biſpo de La
mego Fernao Gonçalves de Miranda , Capellao
môr delRey , de Affonſo de Herrera , Caſtelhano
de naçað , e de Alvaro Lopes , Secretario delRey ,
para Franciſco Febus , Rey de Navarra , ſobre ca
fallo com a Excellente Senhora. Jeronymo Zurita libZurita Anal. tom . 4.
. 20. cap.45.
diz , que ElRey tratara eſte caſamento por meyo
del.
430 Hiſtoria Genealogica
delRey de França , que era tio do de Navarra ,
com tal ſegredo , que eſtiveſſe executado antes de
percebido .
Todos eſtes negocios ſe dirigiaõ ao rompimen
to do Tratado de Moura , que tao conforme fize
raõ eſtes Principes , ainda que ſe diſcorria de cada
hum delles, que mais queriaõ dar receyos de guer.
ra , que rompella. Pedio ElRey de Caſtella ao
de Portugal por ſeu Embaixador ſatisfaçao , e cal
tigo dos cumplices daquelle trato ; EIRey com
diſſimular com elles moſtrava ſer o Author , e aſſim
procurou ſatisfazer mais com palavras , do que com
obras. He certo , que as Terçarias , em que tinha)
poſto ſeus filhos , aſſegurava) mais as pazes , que
os animos encontrados nas conveniencias , e aſſim
ambos deſejavao acabar com ellas. Mandou El
Rey propor primeiro eſte negocio pelo Barað de
Alvito D . Joao Fernandes da Sylveira , que foy
com o caracter de Embaixador , levando por ſeu
Secretario a Ruy de Pina , com deſejos de o effei
tuar , por ſe ter perſuadido a que nao poderia obrar
livremente no caſtigo do Duque de Bragança , em
quanto as Terçarias duraſſem , e nað foy errada a
ſua idea pelos effeitos , que ſe viraõ depois. A In
fante D . Brites as ſuſtentava com grande neutrali
dade pelo affecto , com que tratava ao genro , de
quem verdadeiramente era mãy no amor. Final
mente depois de varias negociações , e Embaixadas
ſe aſſentou , que as Terçarias ſe desfizeſſem , e ſe
capia
da Caſa Real Portug . Liv. V l. 431
capitulou o caſamento do Principe com o mais ,
que nað toca a eſte lugar. Neſte meſmo tempo
ſe augmentara ) as acculações contra o Duque for
jadas por Pedro Juzarte ſeu criado , e por ſeu irmao
tomt 3 Gaſpar Juzarte ; porque de qualquer Carta do Du.
que eſcrita a Caſtella ſe formava hum delicto. Era
hum dos que lhe imputava) , ( e o principal) que
contra o que ElRey determinava , deſejava o Du
que , que ſe nao desfizeſſem as Terçarias, conſer
vando -ſe os refens em poder da Infante ſua ſogra ,
porque como conhecia o perigo , pertendia obvial
lo , conhecendo , que o havia com hum Principe
prudente, e alturo , que com eſta correſpondencia
parecia , que o Duque o queria ter ſempre com re
ceyos, e ſuſpeitas dos Reys Catholicos.
· Já temos dito como no principio ſe deu a co .
nhecer na vontade delRey hum aborrecimento ao
Duque. Eſte foy creſcendo com a idade , e aug .
mentando- ſe ſempre com os incidentes ; porque a
authoridade , e poder , que o Duque tinha conſegui.
do nos negocios , converteo a deſconfiança delRey
em temor. Reconhecia-o ſubdito , mas nað ſe po
dia fiar inteiramente delle ; accuſou-o primeiro o
delejo , e a deſconfiança , que os delatores, que de.
pois ſemultiplicarað por inſtantes. Voltou da ſua
Embaixa da deCaſtella o Baraõ de Alvito , e ſe en
cheo ElRey demais offenſas do Duque, perſuadin . D. Agoſtinho Manoel
Vida delRey D . Joao
do- ſe , que a repoſta daquelles Principes anticipa. II.
11. pag. 97:
da nað nafcia , ſenaõ de aviſos do Duque . Porém
: Tom . V . OS
432 Hiſtoria Genealogica
os ſeus parciaes moſtrava) , que era inveroſimel,
que nadeſconfiança , e diffimulaçao , com que El
March. Alegretenſ. de Rey tratava ao Duque , pudeſſe caber confiar del
De Reb. geltis Joan.II.
pag. 60. le algum dos ſeus ſegredos : e em ſumma , que
aquelles aviſos , quando foſſem verdadeiros , nað
continhao conſpiraçað ; e que era nimio eſcrupulo
em hum Principe andar continuamente inquirindo
as acções de hum Vaſſallo , e fazer crime de todas
as ſuas correſpondencias. Tinhao chegado já a El
Rey eſtas murmurações, e como nao ignorava o
quam preciſo era advertir ao Duque, e fingir huma
reconciliaçao em quanto nað tiveſſe em ſeu po.
der ao Principe , hum dia em Almeirim chamou ao
Duque , e particularmente lhe diſſe : Como ſendolle
o Duque tað conjuncto em ſangue, nað encaminhava as
ſuas acções do ſeu Real ſerviço , antes com diſcredi
to da propria reputaçað le fazia ſuſpeitoſa a ſua fideli
dade no trato com os Reys Catholicos , que ſentia ſón
mente imaginallo , porque lhe era mais fenhvel o deli.
cto do Duque , do que o proprio perigo , pois em tað
eſtreito parenteſco como ambos tinhao , padeciao igual
afronta , porque de duas filhas , que tinha o Infante
D . Fernando ſeu ſogro, e tio , dando a ElRey huma ,
havia concedido ao Duque outra . Que reconhecendo
as virtudes do Duque , confeſava , que nao havia cou
ſa grande , que nað mereceſſem ; porém que ſe compa .
decia , que as manchaſe com huma ſombra de liberda ,
de, como ſe vira na reſoluçao , que tomara nas Cortes,
porque ſendo o Duque dos primeiros dos leus Reynos ,
pela
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 433
pela imitaçao da ſua obediencia cobrariað força , e au .
'thoridade as Leys ; e finalmente , que lhe lembrava ,
que os defignios particulares le podiaõ emendar de for .
te, que nað ficaſem em memoria , antes com demonſtra
ções novas conſeguiſem premios. Com eſta conſtan
cia , com que ElRey fallou, ſe perſuadio o Duque
da apparencia , ſem que percebeſſe o engano , e lhe
reſpondeo : Que tomava a Deos por teſtemunha , que
nunca em ſua vida violara a fidelidade , que lhe devia ,
nað tanto pela memoria da Mageſtade , como pela
obrigaçað herdada dos ſeus Mayores para o ſervir , e
amar ; e que aſim preferia na obediencia , como no pa
renteſco , igualando o amor ao beneficio , e o reſpeito à
obrigaçað . Porém que tambem ElRey a tinha de nað
dar ouvidos às calumnias , com que ſe pertendia pôr
nota na ſua fama , pondo o ſeu nome innocente entre
os culpados ; e que nao podia deixar de ſentir fe afron .
taſe a ſua fidelidade , pois era mais ſenſivel na honra
a mancha da Mageftade no chegar a ſuſpeitar , do que
todo o intereje do Mundo : que ſe a amizade dos Reys
Catholicos era a ſua culpa , nað a podia ter em paren
teſco tað chegado com aquella Coroa , em que fomen .
te le fundava a ſua correſpondencia. E que nao me
recia ſer tað reprehendido por defender os fóros , e pri
vilegios , que recebera dos Reys ſeus predeceſſores ,
que era ) communs avós ; e que ſe com mais liberdade
o impugnara, ao generoſo animo de hum Principe juſ.
to tocava compadecerſe naquella parte de hum Vaſ
Jallo , que le naõ deſordenara no animo , com que ſem .
Tom . V . Iii ii
pre
434 Hiſtoria Genealogica
pre ſerviria fielmente , como devia , a ſua Real peſſoa.
Ouvio ElRey eſtas razoens com ſofrimento cauſa
do do temor , a que ajuntou huma diſſimulaçao be.
nigna , e abraçou o Duque com demonſtraçao de
agrado ; o Duque lhe rendeo as graças, porém del
ta apparente reconciliaçao ſe nað ſeguio ſuſpender
ElRey as ſuas ordens, pois ſegurando por huma
parte ao Duque , mandou por outra aos Correge
dores , que entraſſem nas terras dos Donatarios.
Ajuntara)-le em Vimieiro com o Duque ſeus ir.
mãos, e o Duque de Viſeu ſeu cunhado , e aſſenta.
ra ) denoyo a le opporem a eſta reſoluçao. Teve
noticia ElRey da conferencia , e reſolveo -ſe a con.
cluir o ſeu projecto .
Neſte tempo ſe ajuntarað algumas vezes o
Condeſtavel D . Joað , D . Alvaro , e o Conde de
Faro no Moſteiro do Eſpinheiro da Ordem de S .
Jeronymo junto da Cidade de Evora , a conferir ſo .
bre o remedio das ſuas dependencias , já temeroſos
da indignaçaõ delRey , que os aviſava do perigo
na ſua meſma diſſimulaçao , entendendo , que nao
eſperaria mais tempo , que a ſegurança da peſſoa do
Principe , aſſim que ſe desfizeſſem as Terçarias. O
Condeſtavel em huma deſtas juntas dando-ſe por
mais offendido , ſe queixou delRey com termos
deſordenados em hum largo diſcurſo . Rebateraõ
os irmãos ao Condeſtavel de ſorte , que moderarao
a ſua deliberaçao , e entre todos tres ſe determinou
por ultima concluſao , que D . Alvaro fallaſſe deno.
VO
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 435
vo a ElRey , pedindolhe puzeſſe em Juizo conten .
entoat ciofo aquellas pertenções. Soube depois o Duque
emN
DuWOlcNI
deſta pratica, e approvando o parecer de D . Alva.
ro , ſentio o do Condeſtavel , a quem reprehendeo
afperamente , como eſcrevem Garcia de Reſende , D.Agoltin.Manoel na
D . Agoſtinho Manoel de Vaſconcellos , e o Mar,? 11.
Vida delRey D . Joao
pag. 103.
quez de Alegrete. ElRey reſpondeo com artifi. RebMarch. Alegretenſ. De
. geſtis Joann. II.
cio a D . Alvaro , porque ſuſpendendo a execuçað pag.68.
das Cortes , lhe concedeo tudo o que lhe pedia , e
com palavras benignas, e de eſtimaçaõ achou todo
aquelle acolhimento , que podia deſejar na Magef
tade , para que tiveſſem por verdadeira a diſſimula
ça ) , com que os favoreceria , neceſſitado por enta)
deſta cautela pelo deſabrimento dos Reys Catho .
licos , no que tocava aos intereſſes da Excellente
Senhora , para cuja ſegurança deſejavao, que o Du
que de Bragança , ou algum de ſeus irmãos tomaf
ſem entrega da ſua peſſoa , para que em ſeu poder,
em virtude dos Tratados da Paz , a ſeguraſſem na
Clauſura , em que entrara. ElRey , que ſentia ef
tas couſas, dava por Author dellas ao Duque , pa
recendolhe , que a offenſa , que os Reys Catholi
cos formavao deſta mudança de eſtado da Excel
lente Senhora , nao chegava a penetrar os ſeus de
ſignios , querendo em parte reſarcir a violencia ,
com que tinha em vida de ſeu pay tratado a eſta
Princeza , que a neceſſidade dos tempos punha à
Satisfaçao dos intereſſes , como em noſſos tem
pos ſuccedeo com outro Principe , a quem dao
o no
436 Hiſtoria Genealogica
o nome de Pretendente da Grãa Bretanha.
Eſtas couſas trazia ) tað deſconfiados os ani.
mos dos Reys de Portugal , e Caſtella , que ſup.
poſto ſe havia acabado a guerra exterior, fe conti
nuava nosGabinetes : até que ſerenados os animos
ceſſara ) as diſcordias, ainda que por meyos tað ex :
traordinarios, que puderað fer prejudiciaes. Deſe.
java) os Reys dar fim às Terçarias , de que já ſe
tinha tratado ; e aſſim mandou ElRey de Caſtella
por Embaixador a Portugal a Fr. Fernando de Ta.
lavera ſeu Confeſſor , e ſuppoſta eſta nova aliança
ajuſtada entre as duas Coroas nos caſamentos capi.
tulados, nao deixavao de ficar raizes das diſcordias
paſſadas , porque nem os Reys de Caſtella dimi
nuîað a eſtreita correſpondencia , que tinha) com
o Duque de Bragança , nem ElRey deixava de ful..
peitar mal della. Finalmente nomeou ElRey Pro
curadores para a entrega do Principe ſeu filho a D .
Pedro de Noronha ſeu Mordomomôr , de quem
ElRey fez grande confiança , que aſſentava bem
ſobre a ſua grande peſſoa , e merecimento , Fr.
Antonio ſeu Confeſſor , Religioſo de S. Franciſ
co , e Joað Teixeira , Chanceller môr do Reyno ,
e por Secretario a Ruy de Pina. Paſſaraõ a Mou
ra ( aonde eſtavaõ as Terçarias ) e no caminho fa
hio a encontrallos o Duque de Bragança , o qual
ſuppoſto diſſimulava o diſgoſto , que o affligia de
ver reſtituidos os refens, com que ſe ſegurava, mor
trou ſatisfaçao , e lhe propoz a deliberaçao , em
que
da Caſa Real Portug . Liv. VI. 437
que eſtava de acompanhar ao Principe até a Corte,
depois de ter referido algumas queixas juſtificadas
contra a má preſumpça ) , que ElRey tinha da ſua
fidelidade , querendo o Duque com eſta confiança
fincera tirar algumanoticia da deliberaçao delRey :
porém elles louvando a ſua reſoluçaõ , ſe nað atre .
vera) a aconſelhallo , porque ignorava) o que El
Rey queria , temendo , que a ſua ſeveridade fizel
fe culpa daquelle encontro , porque naquelle tem
po qualquer communicaçao com o Duque podia
produzir funeftas conſequencias.
Eſtava ElRey havia muito tempo na reſolu .
çaõ de o prender , o que ſuſpendeo com notavel diſa
ſimulaçao , como confeſſa Reſende na Vida do di- Reſende cap.40.
to Rey ; porque aviſando D . Pedro de Noronha o
que paſſara com o Duque , lhe reſpondeo logo El
Rey com palavras , que moſtrava) a ſatisfaçao do
que o Duque obrava , tao artificioſas , como fingi
das , apontando os motivos, que o ſuſpenderao para
nao eſcrever ao Duque, pois eſtava na certeza, que
elle neſte tempo ſe achava falto de ſaude. Eſta Car
ta , que o Duque vio , o perſuadio tanto do bom
animo delRey , que ſe enganou , e ſeguio o conſe
Iho da Infante ſua ſogra , e do Duque de Viſeu feu
cunhado ; e affim veyo acompanhando ao Principe,
a quem fektejou com grandes demonſtrações de goſ
to , para deſte modo diſſuadir a ElRey do errado
conceito , que delle fazia , porém nað teve lugar
eſta juſtificaçao , porque era mayor a deſconfiança .
Con
438 Hiſtoria Genealogica
Concluido finalmente o importante negocio de
ſe acabarem as Terçarias a 24 de Mayo de 1483 , ſe
entregou o Principe D . Affonſo aos Procuradores
delRey ſeu pay pela Infante D . Brites ſua avô , e
ao meſmo tempo ſe entregou aos Embaixadores de
Caftella a Infante D . Iſabel , e fahindo da Praça de
Moura o Principe , foy à Cidade de Evora, de don
de ElRey o ſahio a receber hum grande eſpaço fó.
ra da Cidade ; mas nao pode o grande goſto de o
ver ſerenarlhe a ira , que tinha concebido contra o
Duque, que alli pudera prender, ſe o nað guardaf
ſe para melhor occaſiao , ainda que para eſta tinha
prevenido em ſegredo gente armada. No caminho
recebeo o Duque muitos aviſos de ſeus irmãos , e
outras peſſoas , prevenindo-o , que nao entraſſe na
Corte , e ſe refere , que como foy tað eſpalhada eſ
ta noticia , teve della parte ElRey ; porém o Du .
que com grande conſtancia nað fez caſo de tantas
advertencias , porque como eſtava innocente , deſ
prezou a cautela .
. Delaſſombrado ElRey do cuidado , que lhe
davao osrefens , e tendo já o Principe em ſeu po
der , tratou ſem demora de prender ao Duque de
Bragança , a quem ſe multiplicavaõ os aviſos , de
que ElRey o prendia , porque já fe fallava publicaç
mente na Corte ; porém o Duque com reflexa) ſe
deteve nella , moſtrando niſto , como em outras
couſas , que tinha ſegura a ſua conſciencia ; e allim
paſlados cinco dias, e a Feſta do Corpo de Deos ,
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 439
fe reſolveo a tornar a Villa- Viçoſa , ordinaria reſi,
dencia deſte Principe. Em huma feſta feira , que
fe contava) 29 de Mayo , entrou a deſpedirſe del
Jaat : Rey, e como era dia de conſultas , o fez ElRey af
ſentar junto a ſi, e cauteloſo , e aftuto em ſua pre
ſença acabou de as deſpachar. Deſpedido o Con- Abreu Cholebuleman,
felho , ficou ſó com o Duque , que tornou a fallar cap•33•Pae17°
na ſua fidelidade , aſſegurando a ElRey a ſua fé , e
obta) amor , ſentindo- ſe das ſuſpeitas, com que pertendiao
infamar a ſua peſſoa , ſatisfazendo aos cargos , que
os ſeus inimigos lhe imputavað , pedindo a ElRey,
que ſe inteiraſſe delles com a equidade , e juſtiça ,
que pedia a raza) , a que ElRey reſpondeo , que
brevemente o faria , e ſobindo com o Duque a hu
ma ſua guarda roupa , o deixou em poder de Ayres
da Sylva , ſeu Camereiro môr , e de Antaõ de Fa
ria , ſeu Camereiro : pertendeo Ayres da Sylva con
ſolallo , augurandolhe huma gloriofa fahida daquel
la caſa , ao que elle conſtante lhe reſpondeo : Se
nhor Ayres da Sylva , homem tal como eu , nað ſe
prende para o ſoltar. Logo mandou ElRey alguns
Fidalgos , e Cavalleiros , a quem encommendou a
ſua guarda. E na meſma noite declarou aos do
ſeu Conſelho o motivo , porque prendera ao Du
que , e reprehendeo ao de Viſeu na preſença da
Rainha D . Leonor ſua irmãa , como a culpado nas
ſuſpeitas do de Bragança. Os Conſelheiros ouvin
do os cargos, com myſterioſas ponderações vota
raó , que ſe aſſeguraſſe a peſſoa do Duque , e que
Tom . V . Kkk as
Hiſtoria Genealogica
as ſuas Villas , Caſtellos , e Fortalezas ſe occupaf.
ſem logo , e ſe participaſſe aos Reys de Caſtella o
que paſſava , prevenindo com eſta adulaçao os des
ſejos delRey por lhe evitar o embaraço de os decla
rar.
Cauſou eſte procedimento huma conſterna
çað geral , e medroſos pertendiaõ muitos encobrir
no ſemblante o meſmo , que por elle ſe lhe queria
examinar , porque a vigilancia delRey attendia a
tudo liſongeado do povo , que com vozes publi.
cava o ſeu affecto , com a qual alguns Fidalgos ſe
nað moſtrarað menos zeloſos , repreſentandolhe a
queixa , que tinha) de que lhes tiraſſe a gloria de
o vingarem ; nao faltando porém quem deixaſſe de
moſtrar , que conſervava a amiſade do Duque, re.
conhecendo , que nao tinha culpa , porque tam
bem entre a liſonja ſe fez diſtinguir a virtude.
Repreſentarað muitos Senhores a ElRey con
venientes partidos ſobre as couſas do Duque , pore
que ſe intereſſavaõ no bom ſucceſſo , pois era a pri
meira peſſoa do Reyno , em cujo valor, e grande
za ſe amparava) nos ſeus temores ; e ſeguros de
que o Duque era leal a ElRey , offerecera ) entre .
gar os ſeus Eſtados, Caſtellos , e asmeſmas peſſoas ,
Reſende cap. 44. com tanto , que ſe lhe déſre liberdade. Nað foy
admittida delRey a propoſta , porém ouvindo-a
com attençao , lhes deu eſperanças de ſe accommo
dar , diſſimulando , e entretendo até que eſtiveſſem
à ſua obediencia as Villas , e Caſtellos do Duque ,
ele
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 441
e ſe ſeguraſſe dos movimentos de Caſtella , que era
o que mayor cuidado lhe dava , porque ſe perſua
dia', que aquelles Reys eraõ empenhados naquella
materia ; e aílim deixou aquellemeyo para o ſeguir
em qualquer alteraçao , mas ſuccedeolhe tudo prof
peramente , porque os Reys de Caſtella como nað
cinhao mais tratos com o Duque , do que os da
amiſade , e parenteſco , eſtavað bem longe dos que
lhe imputavao , e o Duque como eſtava com a
conſciencia ſegura , tinha as ſuas Fortalezas , e Caf
tellos ſem guarniçaõ , nem prevençaõ alguma ; e
aſſim vendo , que em Caſtella nað havia movimen
il to , nem em Portugal reſiſtencia , ſe eſcuſou do par
tido , que os Senhores lhe fazia ) , ordenando , que
logo ſe viſſe o caſo do Duque , e mandando vir a
F,10 Evora todos os Miniſtros da Caſa da Supplicaçao ,
que eſtava em Torres-Novas, o Doutor Joao de
Elvas , Fiſcal da cauſa , deu o libello contra o Du
que , que continha eſtes cargos:
„ Que o Duque de Bragança Reo fallava
„ mal da peſſoa delRey , e em tudo o que podia ,
„ tratava de o deſervir : e com eſta idea contra
„ hira eſtreita correſpondencia com os Reys de
„ Caſtella , communicando -ſe por Cartas , em que
„ manifeſtava os ſegredos , que alcançava del
„ Rey.
,, Que calara as deſordens do Marquez de
„ Monte môr ſeu irmao , com manifeſta deslealda
„ de , devendo-as manifeſtar a ElRey ſem demora,
· Tom . V . Kkk ii „ pela
442 Hiſtoria Genealogica
„ pela obrigaçaõ de ſubdito , parenteſco mais eſtrei
„ to , que o do ſangue.
„ Que ſolicitou aos Reys Catholicos porque
„ naõ desfizeſſem as Terçarias , por ſe oppor à von
„,tade delRey , para que com eſte intento tiveſſem
„ inteiro cumprimento os Tratados , que ſe eſtipu.
„ larað em Moura .
„ Que procurou , que os Caſtelhanos entraſ.
„ ſem na Conquiſta de Guiné , com grande detri
„ mento da Coroa Portugueza.
„ Que em as Cortes deu ſecretamente aos
„ Procuradores das Cidades inſtrucções para reſiſti
„ rem ao que ElRey pedia.
„ Que fazia muitas injuſtiças aos ſeus Vaſſal
„, los, a quem tirava o recurſo da appellaçaõ Real,
„ contra as Leys, ſem ter para iſſo juriſdicçao .
A eſta accuſaçao reſponde doutiſſimamente confor.
me a Direito o Doutor Franciſco Homem de
Abreu no livro , que imprimio , de que adiante fa
remos mençao.
Para eſte proceſſo nomeou Juiz ao Licencia
do Ruy da Grãa , Corregedor da Corte , e Caſa ,
nað querendo em nada eximir a peſſoa do Duque
da ordinaria via de qualquer delinquente , e para
Abreu Cholobul. cap. Procuradores do Duque ao Doutor Affonſo de Bar
41. pag. 228.
ros , e ao Doutor Diogo Pinheiro , depois Biſpo
do Funchal , dos mayores Juriſconſultos daquella
idade. Notificado ao Duque o libello , nao quiz
replicar à accuſaçao , por ſubmeterſe à clemencia,
ebe
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 443
e benignidade delRey ; e aſſim quando lho lerað ,
ſem confeſſar , nem contradizer , mandou dizer a
ElRey por Ruy de Pina ſeu Secretario , que em
ſeu nome lhe diſſeſſe o verſo 2 do Pſalmo 142 , que
diz : Non intres in judicium cum fervo tuo, Domine ;
quia non juftificabitur in confpectu tuo oninis vivens.
A eſta humilde ſupplica ajuntou outra nao menos
juſtificada , e foy pedir a ElRey, que aquella cauſa
foſſe reſoluta com o voto , e parecer de peſſoas de
alto naſcimento , que pela grandeza das peſſoas nao
ſe faria) ſuſpeitoſas. Em nenhuma deſtas couſas
veyo ElRey , antes abbreviando -ſe os termos de
Direito , em vinte e cinco dias de tempo , ſe prin
cipiou , e proceſſou a cauſa ; pelo que ſe dizia , que
nað era aquelle o modo de formar proceſſo , ſenao
de ordenar a ſentença , e executar o caſtigo. Pro
ſeguira) - ſe as diligencias , e multiplicarað - ſe os Jui
zes, que chegaraõ a vinte e hum , como diz Re
ſende : affiftio ElRey com os Juizes , e o Duque
foy duas vezes à ſua preſença , porém ſendo cha
mado a terceira , reſpondeo a quem lhe levou o re
cado : Dizey a ElRey meu Senhor , que eu tenho
acabado de commungar , e que eſtou com o Padre Pau .
lo ( era o ſeu Confeſſor, da Congregaçaõ de S . Joao
Euangeliſta ) tratando ſobre coulas do outro Mundo ,
e que para eſſas, que me chama , laõ defte , e de ſeu
Reyno , de que elle he Juiz , que la determine como
quizer , porque a minha preſença he mais neceſaria
aqui, do quelá . Conheceo o Duque claramente , que
o cha
444 Hiſtoria Genealogica
o chamallo era mais para ſatisfazer com o Mundo,
do que com elle , e nao cuidando mais , que da ſua
ſalvaçao , ſe exercitava em couſas , que o condu.
ziſlem à vida eterna.
Determinado o dia , em que havia de ſer ſen
tenciada a cauſa pelosMiniſtros, juntos em huma
ſala , ornada toda de quadros com pinturas da vida
do Emperador Trajano , querendo ElRey neſta de
monſtraçað manifeſtar a virtude , e juſtiça daquelle
Principe , a quem imitava , dando cauſa a novas
murmurações, ſendo a mayor o acharſe elle meſmo
preſente no dia , em que ſe havia de ſentenciar , pa
ra dar a entender , que a ſua preſença nao podia
coarctar a liberdade dos Juizes , a quem fez huma
oraçao bem compoſta , em que encareceo o quan
to lhe pezava o ler obrigado a chegar a tal termo
com o Duque ſeu cunhado , e que era forçoſo que
cedeſſe a clemencia à juſtiça ; e que aſſim na duvida
ſe encoſtaſſe o juizo à equidade , que elle ſempre
deſejara. Neſta occaſiao entrou o Doutor Diogo
Pinheiro , Procurador do Duque, na fala do Sena
do , em que ElRey eſtava , e reſolutamente diſſe ,
que nað era licito a ElRey eſtar preſente quando
ſe tratava aquella cauſa ; porque ſendo nella parte ,
o repugnavað o Direito , e as Leys. Finalmente
pronunciara) contra o Duque ſentença demorte ,
e confiſcaçao de todos ſeus bens , e Eſtados , em
cuja grandeza conſiſtia todo o ſeu crime.
No dia 21 de Junho do anno de 1483 , ainda
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 445
de noite antes de amanhecer , tirarað ao Duque da
Caſa , em que eſtava prezo , que era no Palacio do
Conde de Olivença , aonde ElRey aſſiſtia , e mon
tando-o em huma mulla , abraçado de Ruy Telles,
que hia de ancas , acompanhado de muitas guar
das, nað ſabia para onde o levava) , e o conheceo
quando ſe vio na praça de Evora , porque lhe re
tardarao a noticia da ſentença , até o meterem na
caſa de hum official , que alli vivia , aonde o eſpe
rava o Padre Paulo , e entað lhe notificara ) a ſen
tença , que ouvio animoſamente ſem fazer mudan
ça nem no roſtro , nem no animo. Alli ſe deu a
conhecer os quilates dehum coraçao ſoberano. De
pois com grande piedade fez todos os actos de ver
dadeiro Catholico , confeſſando-ſe repetidas vezes,
e depois de commungar com grande devoçað , para
fou a noite. implorando com actos de amor de
Deos a Divina miſericordia . E apartando-ſe a ou
tro apoſento todo em ſi , com ſingular conſtancia ,
fez eſcrever brevemente o ſeu Teſtamento , e cha
mando o ſeu Confeſſor , lho entregou com huma
Carta para que a déſre a ElRey , que em fumma
dizia .
„ Ainda que já nað he tempo de me juſtifi.
„ car na preſença de V . Alteza , como os pecca
» dos , que contra Deos tenho commettido ,me fa
„ Zem merecedor do caſtigo , que eſpero , reconhe
„ cendo a mao , donde vem , tenho por piedoſa o
„ terſe retardado tanto huma morte , ainda que
1 afron
446 Hiftoria Genealogica
„, afrontoſa , muy mais honrada , do que a que ſe
,,executou com o Author da vida. Venturoſo ſó
„ em a perder , quando poſſo allegar por merecia
„ mento a voſſa juſtiça , e já que osmeus para com
,, V . Alteza valerað tað pouco , obriguevos a cle .
„,mencia à miſeravel infelicidade de minha mulher ,
, e filhos , por voſſa cunhada , e por voſſos ſobris
„ nhos , cuja tenra idade os deve eximir da minha
,,deſgraça , acabando eſta na minha peſſoa , e nao
„ ſe eſtendendo à familia ; porque ſeria afrontar o
„ Real nome de hum Principe , deixando -a man
„ chada , por ſer mais vehemente a paixao para a
,, vingança , do que para a clemencia . E quando
„ os aduladores infamem a lealdade demeus irmãos,
i com Real conſideraçað ſe examine a ſua innocen
, cia para ſatisfazeres à voſſa obrigaçað melhor, do
„ que com o meu exemplo , pois fað voſſos paren
„ tes ; e parece jufta' equidade , que com os favores
„ lhe façaes eſquecer aminha fortuna , para na pol
„ teridade ſegurares o voſſo credito com o meu
» procedimento .
Abreu Cholobul. cap. A eſtas ultimas clauſulas dos rogos do Duque reſs
38.
pondeo ElRey aſperamente dizendo , que ſem diſ
tinçaõ de peſſoas ſeriað punidas as culpas , porque
verdadeiramente ſentio , e ſe deu por offendido de
que o Duque nao confeífaſſe as que lhe imputavaõ ,
DVida
. Agoſtinho Manoel ( como eſcreve D . Agoſtinho Manoel na ſua Vida )
delRey D . Joao
11. pag . 1 : 0 . paº porque amava ElRey grandemente a reputaçao, e
The parecia , que ſe poderia duvidar na poſteridadd e
a
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 447
da juſtificaçaõ deſte caſtigo. O Teſtamento , que
fez , foy breve , como referem , porém eu o nao
achey no Archivo da Caſa : reduzia-le ſomente a
fua mulher, e filhos, parentes, e criados , perſua.
dindo a todos o ſerviço delRey, eſquecendo-ſe da
in juria com amemoria da fidelidade, que ſempre os
feus Mayores tivera ) . Pouco depois cançado do
diſvelo , e vigilia da noite , ſentado em huma cadei
ra dormio hum breve ſono focegadamente , e deſ
pertando bebeo hum pouco de vinho ſobre huns
figos. Eſte repouſo admirou aos que o viab , jul
gando por nao pequena prova da ſua innocencia
aquella conſtancia na deſgraça , porque de ordina
rio a culpa he o fiſcal, que faz deſmayar ao que a
commette.
Sahio ao cadafalſo por hum corredor da caſa ,
em que eſtava , e regiſtando com a viſta o appara .
to , diſſe : Å bem , ao modo de França , porque ha
via ouvido a ElRey nað havia muitos tempos o
modo , com que em França ſe tinha degollado ou
tro Duque. Neſte acto fez o officio deMeirinho
môr Franciſco da Sylveira , porque mandando El
Rey ao Conde de Marialva , Meirinho môr , que
foſſe aſſiſtir ao Duque , elle ſe eſcuſou , e pedio por
merce , que tal lhe nað mandaſſe , porque antes
perderia tudo quanto rinha , que fazer tal , porque
era grande amigo do Duque. ElRey o eſcuſou , e
mandou ſervir por elle ao Coudel môr Franciſco
da Sylveira , o qual com muita gente de armas, e
Tom . V . LII elle
448 Hiſtoria Genealogica
elle ricamente armado eſtava com a ſua inſignia
na mao , e o Duque quando o vio , lhe diſſe : Bem
galan eſtá Franciſco da Sylveira. Em fim o Du.
que pareceo huma viva imagem do valor , e da pru.
dencia , e contrito o coraça) , e os olhos no Ceo,
e a cabeça nasmãos de hum homem , que nað foy
conhecido , cuberto deſde a cabeça de luto , o de.
gollou , ficando aſſim no cadafalſo por eſpaço de
huma hora. ElRey havia mandado , que ao pon.
to , que foſſe morto , fe tocaffe o ſino da Igreja de
Santo Anta ) , e tanto que o ouvio , diſſe para os
que com elle eſtava ) : Encomendemos a Deos a al.
ma do Duque , que agora acaba de padecer , e levan.
tando-ſe da cadeira fe poz de joelhos , e rezando , e
chorando eſteve algum tempo , por cujo motivo
Faria Europ. tom , 2. hum Author diz , que ElRey chorando fizera a
pag. 441. piedade inutil.
Executou-ſe a ſentença com grandes preven
ções de gente armada , como ſe ſe intentaſſe huma
empreza militar muy arriſcada , porque ElRey ti
nha muitos, de que ſe recear neſte caſo , pois por
diverſos motivos tocava eſta morte à mayor parte
de Heſpanha ; pelo que foy tanta a brevidade da
execução , que nað paſſara ) de dez horas as que o
Duque teve de vida depois que lhe notificarað a
fentença : e levado o ſeu corpo aos hombros do
Cabido da Igreja Metropolitana de Evora , foy de.
poſitado na Capella mộr de S. Domingos daquella
Cidade , de donde depois o trasladara ) para Villa
Viço .
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 449
Viçoſa para o enterro , que naquella Villa tem os
Duques no Moſteiro de Santo Agoſtinho , aonde
jaz com eſte breve Epitafio :
ento
radores das Obras deſte eſtimavel Author , tranſ
creverey as ſuas meſmas palavras , para que nað fie
que diminuida a ſua diſcriçaõ. Diz aſſim : Reco .
gieronſe los Portuguezes a Toro, menos el Rey que ina
ciertamente vagava. Però el Duque no abrio las pue
e de
ertas de la Ciudad a ninguno , antes entendido del ze.
lo de ſu obligacion ( que hiſo indiſcreto elexceſo ) de
notava libremente a los Cavalleros , fin reparar los
acaudillava el Principe , porque faltando ElRey , in
tentavan recogerſe. D . Juan altivo, y victorioſo , di
cen guardò tenazmente la memoria deſta accion , cua
yos effetos reprimieron los años , parece tomaron ma
yor fuerça en las ligeras deſconfianças , que yà mas
pueden faltar al quexofo : llegaron a todo augmento
en elReynado de D . Juan , para Bragança infaufto ,
quando ſu eſtado ſe hallava en la mayor cumbre de glo
ria , y aplauſo , deudo , y alianças. Entonces diligen
tes los intereſes , y los intereſados , empecaron a acu
mular nuevas Spechas, que veſtidas de la paſion abul.
tavan
454 Hiftoria Genealogica
tavan como deli&tos. Motivoſe la ultima ruina de
las diſcordias, que caſi naturalmente nacen , y mueren
entre Principes confinantes. Era el Duque D . Fer.
nando vinculado eſtrechamente con los Reys de Portu:
gal, y Cahilla ; ellos vecinos , y deudos , le ſervian
para el odio , de las miſmas razones , que les obliga.
van a la conveniencia . Peró el Duque deſeando el
acomodamiento de las dos Coronas como deudo , y de
vedor a entrambas, no rehuſava eſcuchar las queixas
de los enimigos de ſu Rey. Es ligerilima la balança
de la fidelidad ; de qualquiera preſuncion padece injuſ.
tiça. Y como por lo miſmo la lealtad es confiada,
ſuele atreverſe el fiel a demonſtraciones mas arduas,
que el desleal. Por tales paços caminó el Duque D .
Fernando a ſu ruina , haſta conſumarla con horrible
tragedia , deſcaimento de ſu Caſa , deslucimento de ſie
grandeza , y de los ſuyos univerſal peligro , perdida,
y deſtierro. Peró guardando-ſe deſde entonces algunas
verdades , que no ofaron aparecer aquel tiempo , fue
ron ſobreſaliendo por los dias de tal fuerte , que en el
publico juicio no fuera menos dichoſo aquel gran Rey
efcufando ela ſeveridad , que aquel gran Principe no
haviendola palecido. Aſy fue reputada la pena ex
ceſiva a la caſa . Mas la ſeguridad de Imperio es
antigo no quieran los Monarcas contrapeſar otro ref
peto. Donde a D . Juan refultò vivir ſiempre penoa
fo , y ſobreſaltado en ſu trono , regulando la deſconfi.
ança por la ocaſion , que fue artifice de ſu infelicidad ,
y la agena ; lo qual dio motivo a que un Politico eſcri
viera
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 455
viera ( cotejando eſte Rey , y el ſuceſor ſuyo ) que
Juan haviendo nacido Principe , vivera con deſconfian .
ças de Cavallero, y Manuel haviendo nacido Cavalle.
ro , viviera con la ſeguridad de Principe. Efte he o
juizo deſte illuſtre Eſcritor , que nao acabou eſta
Obra , como diremos adiante.
Dos Authores Eſtrangeiros , que reconhece
raõ a innocencia do Duque , ſeja o primeiro Jero - Zurita Annal.liv. 20.
cap. 446
nymo Zurita , Hiſtoriador de grande authoridade, cap
o qual tem para ſı , que a amizade dos Reys Ca
tholicos foy a cauſa principal damorte do Duque,
porque ElRey ſuſpeitava mal della , ſem razao ,
nem fundamento : porém que a ſua aſtucia , e má.
vontade , que tinha contra os Reys Catholicos,
fora a cauſa de proceder tað afperamente contra o
Duque eſtando innocente do que lhe imputara ) .
O meſmo Author em outra parte diz , que ElRey Idem . Hiſtor. delRey
D . Fernando o Catho
buſcara pretextos para condemnar ao Duque de lico ,liv.z. cap.13.
Bragança , mas que o nað executara com juſtiça ,
nem como devia . O Padre Pedro de Abarca tam - Abarca Annal. de Ara.
gao na Vid .delRey D .
bem diz , que com pouca, ou nenhuma cauſa man- Fernand, II.cap.g. fob
dara ElRey degollar ao Duque ſeu primo , e cu- 3
nhado , e ſe admira , que Garibay ſentiſſe o contra
rio , dizendo : Quando los Eſcritores Portuguezes,
que ſon muchos , havian hablado con tantas dudas, y
con tan poca ſatisfacion daquel deguello. . O Padre
Joao de Mariana ſemeteo mais no eſcuro , porque MarianaHiſtor.Gener.
de Heſpaña , tom . 2 .
depois de referir os cargos , que ſe deraõ ao Du- is
liv, 24. cap. 24.
que , que forað ſobre o trato , que tinha com os
Tom . V . Mmm Reys
456 Hiſtoria Genealogica
Reys de Caſtella , acaba, que o ſentenciarað à mora
te, como quem commetteo crime de lefa Magefta
de. Antonio de Nebrija , a quem Mariana ſeguio ,
e trasladou neſta parte , diz , que houve a ſuſpeita ,
porém nenhum deſtes Authores dá por certa eſta
murmuraçao , nem deſcobriraõ no trato culpa ca
pital contra o Duque , ſenao amizade , e correl
pondencia com os Reys de Caſtella , nem ainda fou .
bera ) , que trato fora aquelle , e em que peccava
Memoires de Comines contra a fidelidade de Portugal. Filippe de Comi
es CO
Vie de Charles Vill!, nes, Senhor de Argenſon , Author coetaneo , cu
liv,8.cap.1 7.pag.183.
imp, 1723 " jos Eſcritos correm com grande eſtimaçaõ , con.
demna a ElRey com muita liberdade, dizendo, que
com grande crueldade havia mandado cortar a ca
beça ao Duque , e que havia morto por ſuas pro
priasmãos a ſeu cunhado , e que havia commettido
muitas maldades , ſó com o deſejo de fazer Rey a
hum filho baſtardo , e refere outras couſas aſperas,
e indecentes , que já lhe eſtranhou D . Agoſtinho
Manoel, por nað ſerem termos decentes os de Co
mines para fallar de hum Rey , ſendo elle hum ho
mem tað Politico , e verſado , que em diverſas Cor
tes havia ſido Embaixador dos Reys Luiz XI. e
Carlos VIII. de França , principalmente equivo
cando-ſe com dizer , que o Duque era pay da Rai
nha, nað ſendo fenað ſeu cunhado ; falta em que de
ordinario tropeçað os Authores Eſtrangeiros quan
do eſcrevem as noſſas couſas. Porém he certo ,
que eſte procedimento , com que o Duque foy con .
demna
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 457
demnado , foy ſempre mal avaliado, erefutado por
diverſos Authores ; além dos que já acimareferimos,
Boss#
P. Ant einhilt,Ge.
temos allegado , os quaes todos reconheceraõ a in - nealog,de
1 . pag.616Franc.tom
,
.
nocencia do Duque. Eſta ſe vê ainda mais diſtin - Neutile Hitt,Gener,de
tamente , além do que em ſumma temos referido , ePortug
528 ol
.
.4.pag.524
Š
101
Debrie FTS
120 .
A Se
D . Affonſo iV . Rey de Portugal,
n . a 8 . de Fevereiro de 1261 , +
D . Pedro I. Rey de 2 em 28 de Mayo d : 1357.
( Portugal, . a 8 de ) A Rainha D . Brites de Caftella , +
Abril de 1 320, + em Cem 25 de Outubro de 1359 .
D . Joao I. Rey deBu de Jan, de 1367. CN . . . . . . . . . . . . . . . . .
Portugal, na 11
de Abril de 1357, C Thereſa Lourenço . N. . . . . . . . . . . . . . . . .
tem 14 de Agoſ.
Duarte Rey { to de 143 3. C Duarte III. Rey de Inglaterra , ta
de Portug. n. a Joao deGinte , Du. 23 de Junho de 1377.
31 de Outubro que de Lencaitre , + 3 A Rainha D . Filippa de Hainau , +
de 1391 , + a 9
de Setembro de A Rainha D . Fi. ) no anno d : 1399. Ca 15 de Agoſto de 1369.
lippa de Lencara Branca , Duqueza (( Henrique , Dsqu : de L :acait :e
O Infante D . 1438. tre de Lencaitre , pri
15.de C meira mulher , + 3 em 1361 ,
em 1419
Fernando , n . Jul,ho+ de
a 17 de No em 1369. CADaquezı Iſabel de Beaumont
vembro de ( D . Henrique II. Rey de Caſtella ,
1433 , ta 11 ut
D .Jozó I.R :y deCif ) + :a 3 de Mayo de 1 379 .
18 de Setem tella , + a 9 de01: A Rainha D . JoinnaNanoel , + a
bro de 1470. tubro de 1 390 . Code Morcode 128 .
D .Fernando , Rey
de Aragao , + a23 Rainha D .Leonor : < D . Pedro IV . Rey de Aragaó , + a
de Abril de 1416 . ( ten 18 de Agoſto 5 . de Janeiro de 1387.
A Rainha D . de 1382 , primeira A Rainha D .Leonor de Arazao , +
Leonor de Ara. mulher, Cem 1374.
gao , + em 18 CO. Affonſo XI. Rey de Caſtella , +
de Fevereiro de ( D . Sancho , Conde ) a 26 de Março de 1 350.
1445 A Rainha D . Leo - \ de Albuquerque. D . Leonor Nunes de Galmas, t
nor, la Rica hem Cem 1351.
bra , + em 1435. D . Brices Infanta de CD . Pedro I. Rey de Portugal.
Portugal 3 A Rainha D .Ignes de Caſtro , + a
A Senhora ( 7 . de Janeiro de 1355.
D . llabel
mulher do CD. Pedro I. Rey de D .Affun .o IV.Rey de Portugal.
Duque D . Portugal
Fernando A Rainha D . Brites de Caſtilla .
Il ElRey D . Joaó I. )
de Portugal. Thereſa Lourenço. N . . . . . . . . . . . . . . ..
O Infante D . N .. . . . . . . . . . . . . . . .
Joao ,n, a 13 de
Janeiro de 1400, C Joao deGante , Du. S Duarte III. Rey deInglaterra.
temi8 de Ou
tubro de 1442. A Rainha D . Filip quedeLeacaitre. 2 a Rainha Filippa de Hainaue
de Lencaltre .
pa de Lencaſtre. A Duqueza Branca , C Herrique Duque de Lencaltre .
( primeira mulher. )
A Duqueza Iſabel de Beaumont,
50.Pedro l.Rey de Portugal.
A Infante D . D . Joaó I. Rey de '
Brires , + em O Senhor D . AF. Portugal. Thereſa Lourenço.
30 de Setem fonſo I. Duque de 3 D . Ignez Pires , de. ( Pedro Eſteves.
bro de 1906 . Bragança , * em pois Com mendadei. )
A Infante D .Ila - \ 1401. Cra de Santos, Maria Annes.
ebel , + em 26
de Outubro de r D . Alvaro Gonçalves Pereira, Prior
1409. D .Nuno Alvares Pe- do Crato .
reira, Conteftavel de
( D . Brites Pereiraa ,, Portugal, + em 12 C Eria Gonçalves de Carvalhal.
Condeſſa de Bare de Mayo de 1432.
cellos.
CD . Leonor de Al. Joao Pires de Alvim .
vim . ( D.Branca Pires
Nan i
Tom . V .
457
MARA
NEC
Debric
CAPITULO VIII.
Do Senhor D . Fayme, unico donome, IV . Duo
que de Bragança .
INTRE os Principes da Sere.
niſſima Caſa de Bragança foy
o Duque D . Jayme hum dos
mais eſclarecidos , que nella ſe
numera , aſſim pelos Reaes pa
Nrenteſcos com osReys de Por
tugal , e Caſtella , como pela
ſem igual prerogativa de fer elle jurado preſumpti
vo herdeiro da Coroa Portugueza.
Naſceo no anno de 1479 , e nao contava mais
que quatro quando ſuccedeo a terrivel tormenta ,
em que eſteve quaſi ſubmergida eſta grande Cafı ,
de que ſe livrou o Duque D . Jayme, paſſando com
feus
46 8 Hiſtoria Genealogica
ſeus irmãos a Caſtella por induſtria da Duqueza fua
māy ; onde entre tantas diſgraças com admiravel
acordo , e conſtancia tratou de ſalvar os penhores,
que no tempo futuro havia ) de ſegurar o eſtabele.
cimento da Sereniſſima Caſa de Bragança . Naquel
le Reyno tivera) eſtes Senhores a protecçaõ de ſua
tia a Rainha Catholica D . Iſabel, que com parti
cular attençaõ cuidou dos ſeus intereſſes. Deulhe
a Duqueza por Ayo a Lopo de Souſa , deſcenden.
te por varonia delRey D . Affonſo III. Fidalgo,
em quem concorria ) circunſtancias para a ſegura
criaçað deite Principe , que depois lhe deu os Se
nhorios das terras de Prado , Paiva, e Baltar , a Al
caidaria môr de Bragança , e o Caſtello de Outeiro,
com as datas dos officios , de ſorte , que teve gran
de Caſa , tratando-a com notavel oftentaçao , e ef.
plendor , o qual ſendo caſado com D . Brites de Al.
buquerque , filha de Joao Rodrigues de Sá , Alcai.
de môr do Porto , Senhor deSever , e outrasmui.
tas terras, e de D . Joanna de Albuquerque , ſua
terceira mulher, teve entre outros filhos ( como ve.
remos quando chegarmos ao Livro XIV . a tratar
da antiquiſſima familia de Souſa , nos deſcendentes
do dito Rey ) a Martim Affonſo de Souſa , do qual
em grandes , e eſclarecidas Caſas ſe perpetua a fua
memoria , e ainda que quebrada a varonia , ſeconſer
va nellas o ſeu appellido , como herdeiros , e deſcen
dentes deite illuſtriſſimo ramo da Caſa de Souſa ; 0
qual depois de ſucceder a feu pay nos ditos Senho
rios ,
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 469
rios , e ſervir ao Duque D . Jayme, largou o ſeu fer
viço , e paſſou ao delRey com approvaçao do Du
que , renunciando nas ſuas mãos tudo , o que lhe
pertencia de ſeu pay por Doações , que tinha , de
que fez inſtrumento publico em Villa - Viçoſa a 28 Prova num .92.
de Junho do anno de 1520 , o qual ElRey D .Ma.
noel approvou por hum Alvará feito em Evora a
2 de Julho do referido anno. ElRey o accommo
dou no ſerviço do Principe D . Joað , que lhe era
inclinado , como ſe vê de huma Carta original, que
fe conſerva no Archivo da Sereniſſima Caſa de Bra .
gança , a qual nos pareceo tranſcrever , e diz aſlım :
, Honrado Duque Primo, nós o Principe vos
„, enviamos muito ſaudar como aquelle , quemuito
„ amamos, e prezamos. Martim Affonſo de Souſa
„ nos diſſe , como ſe queria ir para vós , nós lheman
„ dámos , e o advertimos aſſim , e houvemos por
„ bem ; e eſtes dias , que cá eſteve , foy por noſſo
„ reſpeito , por quam certo temos nao vos pezar
„ com o que nós folgarmos ; ſe eſtes dias, que lá eſ.
„ tiverdes, que devem já de ſer poucos, delle nað
„, tendes neceſſidade , receberemos muito prazer ,
„ quererdes que ſe torne cá para nós , e ſe tambem
„ vos lá he neceſſario , fareis o que vósmais folgar
„ des , porque com iſſo nos haveremos por mais ſer
„ vido ; eſcrita em Evora a dez de Janeiro. Fran
„ ciſco Carneiro a fez anno de 1520 .
Principe.
Deſta
470 Hiſtoria Genealogica
Deſta Carta ſó tiramos a grande attençað ;
que o Principe tinha ao Duque, porque nao pode
mos ſaber onde eſte ſe achava quando lha eſcreveo,
mas della ſe ſeguio o paſſar para o ſeu ſerviço Mar
tim Affonſo , ao qual já depois de o Principe ſer
Rey , lhe fez grandes ſerviços , occupando-o em
grandes póſtos , e ultimamente no de Governador
da India , como referiremos no ſeu proprio lugar,
que agora a occaſia) de ſeu pay fer Ayo do Duque
nos obrigou a eſta preciſa digreſſa ) .
Subio ao Throno ElRey D .Manoel, a quem
logo a Infante D . Brites ſua mãy lembrou a infeli
cidade, em que ſe achavað ſeus netos , deſterrados,
e privados dos ſeus Eſtados , e que devia principiar
a felicidade do ſeu Reynado , enchendo a expecta.
çaõ dos que nelle tinhao poſto as ſuas eſperanças,
pelos apertados vinculos do ſangue , ſendo redemp
de
Marian. Hiſt. Gen . de tor da ſua diſgraça , pois ſatisfazia deſta forte àequi.
Heſpan.tom .2.liv.26. dade de grande Rey , e às obrigações da natureza,
cap. 13.
cumprindo com o amor de filho , e com o carinho
de irma) , aos clamores da juſtiça de ſeus innocen .
tes netos, e ſobrinhos ſeus.
Participou ElRey D .Manoel aos Reys Ca
tholicos a ſua exaltaçaõ à Coroa por Gonçalo de
Azevedo , do ſeu Conſelho , e ſeu Deſembargador
do Paço , que tambem foy Senhor da Ponte do
Sor, e Alcaide môr de Cintra , e ao meſmo tempo
nað ſó deu vivas eſperanças, mas ſegurou o accom .
modamento dos intereſſes dos Senhores da Caſa de
Bra
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 471
Bragança , porque eſtava já na reſoluçao de os chas
mar ao Reyno. Eſta noticia foy cao grata aos
elgerang Reys, como eſtimada da Corte . Mandarao cha
mar ao Senhor D . Alvaro , aos filhos do Duque de
Bragança D . Fernando II. e a D . Sancho , filho do
Conde de Faro , e lhe communicarao a noticia , que
ElRey D . Manoel lhe dera ; pelo que todos lhe
beijarað as mãos. Levava o meſmo Gonçalo de
Azevedo na ſua inſtrucçað ordem para participar
eſta noticia aos Senhores D . Jayme, e D .Diniz , e
o meſmo ao Senhor D . Alvaro. A ' Rainha D . Ifa
bel ſuamáy , que vivia em Arevalo ,mandou logo
eſta boa nova, que recebeo com tanto goſto , que
ſe lhe conheceo accidentalmelhora na enfermidade,
que padecia ; e aſſim mandou a Lourenço Guterres
de Velaſco , que eſcreveſſe à Rainha ſua filha , pa
ra que eſte negocio de ſeus ſobrinhos tiveſſe feliz
fim em tað opportuna conjunctura ; e da meſma
:
Aqui
daCaſa Real Portug. Liv. V . 601
2DMED
10 Lmo I Aqui jaz a Madre Soror Maria das
Chagas , primeira Profeſa deste Con
vento , filha do Duque D . Faymes , e
da Duqueza D . Joanna de Mendoça.
E D . Theotonio , Arcebiſpo de Evora,
leto 1953 lhe mandou pôr esta campa. Faleceo em
pror VI. de Fulho de M . D . LXXXVI.
SITLUS
rcb 14 D . VICENCIA , que nada menos fervoroſa ,
e contemplativa ſeguio a vida Religioſa com lua
irmāa no meſmo Moſteiro , onde profeſſando com
total eſquecimento do Mundo , ſe chamou Soror
Vicencia do Eſpirito Santo . Antes de fazer pro
fiſfað , renunciou na Duqueza ſua mãy hum Pa- Prova num . 133.
draõ de juro , que tinha no Almoxarifado de El
vas , de que lhe fez Doaça ) , pedindo a ElRey o
houveſſe aſſim por bem , confirmando a dita Doa
çað , que foy eſcrita pela ſua propria maó. As ſuas
virtudes a fizerað tao digna na Religia) , como no
Mundo o era a grandeza da ſua altiſſima esféra: pe
lo que ſendo eleita Abbadeſſa deſte Religioſo Mof
teiro , exercitou pormuitos annos o lugar com fa
tisfaçað notavel dasReligioſas , porque nella luzio
igualmente o zelo da obſervancia , a prudencia ,
e amor das ſubditas : e depois de huma larga ida
de , quando já contava oitenta annos, adoeceo de
huma queixa leve , que a poz na cama , da qual
Tom . V . Gggg ii em
602 Hiftoria Genealogica
em breves dias veyo a falecer de hum accidente ,
quando menos ſe eſperava. Porém como o fiel fer
vo ſempre anda preparado , e com o livro da conta
ajuſtada para a dar a ſeu Senhor a toda a hora , que
lha pedir ; da meſma forte ſuccedeo à Madre D .
Vicencia , em quem o exercicio das virtudes era tað
frequente , que dellas deixou naquelle Moſteiro hu
ma ſaudoſa memoria , que paſſando na tradiçaõ de
humas a outras Religioſas , ainda hoje dura o zelo ,
e o exemplo , com que naquella Caſa viveo. Fale
ceo a 23 de Junho de 1603. Neſte tempo ſe cele
bravaõ com grandes feſtas em Villa -Viçoſa as vo
das do Duque D . Theodoſio II. com a Duqueza
D . Anna de Velaſco , que durarað por largos dias,
como diremos em ſeu lugar , as quaes o Duque
fez ſuſpender por tres dias , encerrando-ſe , e to
mando luto pela Madre D . Vicencia , que era ſua
tia , por ſer irmãa de ſeu avô o Duque D . Theo
doſio I. e ainda a ſua demonftraçað foy mayor pela
piedade, com que a ſoccorreo com muitos ſuffra
gios : entre outros mandou , que no meſmo Mof
teiro o Deaõ da ſua Capella com os Capellães , e
Cantores , lhe celebraſſem as Exequias no meſmo
dia , o que ſe fez com grande authoridade. No ou.
tro dia o Senhor D . Alexandre , Arcebiſpo de Evo
ra , lhe fez cantar hum Officio ſolemne , e ultima.
mente as Religioſas entre ſuſpiros , e ſaudades lhe
cantarao o ſeu . Achava-ſe em Villa -Viçoſa neſta
occaſiao ( por aſſiſtir ao caſamento do Duque D .
Theo
da Cala Real Portug. Liv. VI. 603
Theodoſio ) D . Joao de Bragança , Biſpo de Viſeu ,
neto do Duque D . Jayme, ao qual como a paren
temais chegado deſta Princeza, o Duque foy viſi
tar , porque era filho de ſua irmãa a Senhora D , Eu
genia , mulher de D . Franciſco de Mello II. Mar
=::; quez de Ferreira . Jaz no Coro debaixo , onde tem
efte letreiro :
Aqui jaz a Madre Soror Vicencia do
Eſpirito Santo, filha do Duque D . Fay
mes, e da Duqueza D . Joanna. Foy
Abbadeſſa neſta Caſa muitos annos , fa
leceo a XXIll. de Funho de M . DCÍMI.
Teve o Duque D . Jayme por filhas illegitimas :
14 A Madre SOROR ANTONIA DA ENCAR
NAÇAő , que foy Religioſa no referido Moſteiro , e
viveo mais de cem annos ; porque faleceo no anno
de 1635 , como conſta das Memorias do meſmo
Moſteiro , ſobrevivendo muito à Senhora D . Ca.
tharina , mulher do Duque D . Joao I. em cuja con
templaça ) ElRey Filippe lhe fez merce de huma
tença em ſua vida.
14 D . MARIA , de que nao ha mais noticia ,
e ſó Memorias antigas , de que foy ſepultada no
M oſteiro dasChagas, ſem que ſe faiba o lugar, on
de eſtá , nem a referida ſua irmãa , porém enten.
de- ſe ſeria no meſmo Coro ; ainda que com tanta
differença , que' ſe nao acha nefte Moſteiro del
las
604 Hiſtoria Genealogica
las outra noticia mais , que a que temos referi
do .
Teve o Duque D . Jayme por Empreza , que
ſe praticou depois na Real Caſa de Bragança , huns
Cordoens atados com huns nós com a letra , que
dizia : Depois de vós : alludindo a ſerem os Duques
os primeiros depois da Caſa Real.
BANDESPOIS DE 40 UKAT
1
10
A Du
605
D .Joao Affonſo deGuſmaó I. Conde de
D .Henrique deGura Niebla , n . a 20 de Dezembro de 1 342 ,
- maó II. Conde de 3 + a 5 . de Outubro de 1356 .
Niebla
D . Joao Affonſo" Fev , n . a 30 de 2 delRey
. de 1 200. taz
A Condella D . Brites de Caſtella , filha
D .Henrique II. de Caltella.
deGuſmaó I.Duc deAgoſto de 1426 . c Lourenço Soaresde Figueira ,Meſtre de
que deMedina Si. Santiago , + cm 1409.
donia , Senhor de CAC
Jenhor de C A Condeſſa D . The- 3 D .Maria Horoſco , Senhora de Eſcami.
Gibra
ltal , n, em reſa de Horoſco , Se- ( lha , ſegunda mulher , filha de Inigo
D . Henrique de ( 14io, + cm De nhora deEſcamilha. Lopes Horoſco , Senhor de Elcamilha.
Guſmaó 11. Du - ) zembro de 1468 .
que de Medi ( D .Fernando deMen N . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
na Sidonia , IV ./
Conde de Nie - L A Duqueza D . Iſa- ) nezes , Fidalgo Por- / N. . . . . . . . . . . . . .
D . Joao Afo bla , Senhor de bel de Menezes. Stuguez,
fonio deGuſ. I Gibraltar, + em N . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
mas maó III. Due JAgoſto de 1492 CN... ... da Fonſeca . )
N. . . . . . . . .. . . . .. .. . .
que deMedio
na Sidonia , D . Diogo Gomes de CD. Pedro Afan de Ribera I. Adiantado
V . Conde de de. Andaluzia,
Ribera II. Adianta - 30 Aldonca de Avala , filha de Diogo
Niebla ,Mar. D . Pedro de Afando de Andaluzia.
quez de Ca de Ribera III.Adi C Gomes de Toledo,Sen . de Caſa Rubios.
zaça , Senhor antado de Anda / D . Brites
Brites Porto Con C Martim Fernandes Porto -Carrero , Se
Porto Car
deGibraltar , luzia, - rero . nhor de Maguer , e Villa -Nova.
n . em Fever . D . Leonor Cabeça de Vaca , filha do
de 1464 , + LA Duqueza D . ) C Meſtre de Santiago.
a 16 de Jue Leonor deMen D . Inigo Lopes de CD.Diogo Furtado , Senhor deMendo
Tho de 1507 . doça. ça , Almirante de Cartella, + em 1405.
Mendoça , I. Mar D . Leonor
D .Maria de Meno 2 quez de Santilhana.2 C Ve ga. de la Vega , Senhora de la
doça.
( D . Catharina Soares ( D .Lourenço Soares de Figueiroa ,Mela
IDuqueza de Figueiroa . tre de Santiago , tem 1409 .
) . Leonor 3 D . Maria de Horoſco , ſegunda mu
eMendo ( lher.
Joao de Velaſco IVV .. Pedro
a mulher Senh.deMedin . Ar- mem Pedro,Fernandes
Senhor de de Velaſco
Medina , Rico1384
, tem Ho.
o Duque ned. & c . Camerm
. or < D . Maria Sarmento , Senhora de Ci•
), Jayme. delRey , Tutor del ruelo .
D . Pedro Fernan . ) Rey D . Joao Il. de Arnao de Solier , Rico Homem , Se
r des de Velaſco 1. Caſtella , tem Ou- nhor de Vilhalpando.
D . Pedro Ferol Conde de Haro , / iubro de 1418 , 2
nandes deVelalo Camereiro môr D .Maria Solier , Se- D . Marina Affonſo de Menezes, Se
> nhora
'co ll. Conde de delRey , + a 25 olier, Je /
nhora de Vilhalpan - lim Affonſde Arroyomolinos, filha deMar
o Tizon deMenezes.
Haro , Condelo de Fevereiro de do , Gandul , & c. CD . Diogo Gomes Manrique , VII. Se .
ravel de Caitel
Johor de Amuſco , e Trevinho.
la , Camereiro Pedro Manrique, ) D . Joanna de Mendoca , filha de Pedro
môr,naſceo em A Condella D .Bri Senhor de I revinho , C Gonçalves , Senhor de Mendoça , & c.
1425. + ſen - tes Manrique, mor de D . Fradique , Duque de Benavente +
do Vice-Rey de Leao.
depois do II.
an.de1394
Caſte,lla.
filho delRey D .
Cattella a 6 . de
Janeir, de 1492. 2tella..Cronor
D . Leonor de Calo Henrique
A Duqneza D . Leonor , filha de D .San
A Duqueza cho , Conde de Albuquerque,
D . Iſabel de Diogo Furtado , CD. Pedro Gonçalves , Senhor deMen
.
19
W
W
W
Debrie fec .
CAPITULO IX .
Do Senhor D . Conſtantino , VII. Vice-Rey
da India.
NTRE os grandes Varoens,
que produzio a fecundidade
da Sereniſſima Caſa de Bragan
ça em todas as ſuas linhas, ne
nhum contribuîo mais à gloria
deſta excelſa familia , que D .
Conſtantino , em quem o va .
lor , prudencia , integridade de coſtumes , e reſpei
to à Religiao , acompanhado de heroicas acções,
baſtarað fómente para o exaltar , ſendo nelle os
grandes póſtos, e lugares , inferiores à ſua origem , e
à repreſentaçao dos ſeus Mayores. Naſceo no an
no de 1528 quarto filho do Duque de Bragança
D . Jayme, e o ſegundo de ſua ſegunda mulher a
· Tom . V . Hhhh Du
608 Hiſtoria Genealogica
Duqueza D . Joanna de Mendoca , e foy educado
como convinha a tao grande peſſoa , dando logo
em curta idade a conhecer as virtudes , que nelle já
enta) começara ) a luzir na magnanimidade do ſeu
incomparavel coraçað .
Ñað contava mais que cinco annos , e ſeu ir
mað D . Fulgencio aindamenos, quando no de 1533
ElRey D . Joað III. ſe quiz ſervir de tað grandes
peſſoas no bautizado do Infante D . Filippe ſeu fi
lho ; e porque neſte acto ſe praticou alguma prece.
dencia , de que ficarað pouco ſatisfeitos, ElRey por
hum Alvará os quiz ſatisfazer , dizendo poreſtas pa
Prova num . 134. lavras: Por alguns reſpeitos demeu ſerviço mandei ſer.
vir nobautiſmo do Infante D . Felipe, meu muito ama.
do , e prezado filho , a D . Conſtantino, e a D . Fulgen .
cio , meus muito amados ſobrinhos ; e poſto que no dito
ſerviço parece, que ſe declarou alguma precedencia em
feu prejuizo, porquanto minha tençaõ nom foy , nem he
mingoarlhes niſto , nem em nenhuma outra couza ſeus
merecimentos , mas antes acrecentarlhos, e guardarlhe
inteiramente ſeu direito , a mim praz , e por eſte meu
alvara decraro , que hei por nenhum , e de nenhum vi
gor , nem poſje o modo que no dito bautiſmo com os di
tos meus ſobrinhos ſe teve , nem le poderá alegar con
tra elles ho lugar em que entað forað , nem por iſo
receberáð diminuiçað , nem quebra alguma em ſua pre.
cedencia que devem teer em ſimilhantes luguares , mas
antes lhes fique reſguardada toda ſua auçað , e direi.
to como ſe ho auto que no dito bautiſmo do Infante meu
filho
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 60g
filho fe fez , nað fora, oʻc. Deſta forte compoz El
Rey a queixa , que juſtamente tinha a familia de
Bragança de poderem os filhos deſta grande Caſa
deixar em todos os actos, e occaſioens de preceder
TOS, er
aos demais Senhores do Reyno.
Naſceo a ElRey de França Henrique II. hum
filho , e a boa correſpondencia , e amizade , que ti
nha com ElRey de Portugal deu occaſia ) de o con.
vidar para Compadre : a eſte fim mandou a Portu .
gal a Monſieur de Biron , Gentil-homem ordinario
da ſua Camera, com huma Carta , em que o roga
va para eſte acto . Foy o menſageiro recebido com
agrado , e eſtimaçao , porque foy conduzido à pre
ſença delRey por D . Affonſo de Lencaſtre , Com .
mendador môr da Ordem de Chriſto ; ElRey o def
pedio contente , mandandolhe dar huma cadeya de
ouro de valor de mil cruzados , reſpondendo a El
Rey de França , que logo mandaria com pleno po.
der , e procuraçað ſua a D . Conſtantino , irmao do
Duque de Bragança ſeu ſobrinho , para ſuſtituir a
Tua peſſoa naquelle acto . Nomeou ElRey por Em
baixador extraordinario a D . Conſtantino , que nao
contando de idade mais que vinte annos, tinha mui.
tos de prudencia , e virtudes , que ſobre a ſua peſſoa
o faziao digno da repreſentaçao do ſeu Rey , o qual
lhe ordenou paſſaſſe pela poſta àquelle negocio ; e
depois de lhebeijar a mao por ſe querer ſervir delle,
e o eſcolher para huma materia tanto do ſeu agra .
do , ſe deſpedio .
Tom . V . Hhhh ii Sa
610 Hiſtoria Genealogica .
. . Sahio de Almeirim ( onde a Corte entað ef.
tava ) para ſeguir a ſua jornada a França , e come
çando logo a correr a poſta , levou moderada fami
lia : acompanharað -no quatro Fidalgos dos que ſer
via) ao Duque ſeu irma) , a ſaber: D . Luiz deNo.
ronha, Alcaide môr de Monforte , Commendador
de S. Salvador de Elvas, que depois foy Camereiro
môr do Duque D . Joa) I. Fernao Pereira , Alcai
de môr de Arrayolos, Duarte de Souſa , Cavalleiro
da Ordem de S . Joaó , e Affonſo Vaz Caminha,
Alcaide môr de Villa - Viçoſa , veſtidos de veludo
carmeſí com rendas de ouro , que os guarnecia ) to
dos : compunha-ſe o fequito ſómente de doze cria.
dos, em que nos oito entrava) Antonio de Olivei
ra , Mordomo da jornada , Joao Gomes da Gama,
Theſoureiro , e por interprete hum Antonio de Caf.
tro , que já tinha eſtado em França com o Biſpo
de Miranda D . Antonio Pinheiro . Eftes , e os mais
criados hiao veſtidos de veludo negro , com diffe
rença nas guarnições conforme as peſſoas, e os fó .
ros, que gozava ) na Caſa do Duque, entrando nel
tes os criados , que haviaõ de ſervir aos Fidalgos, e
hum Cofinheiro Francez dos da Caſa do Duque ,
de quem ſe quiz diſpedir o Senhor D . Conſtantino ,
e aſſim fez o caminho por Villa- Viçoſa , aonde ſe
deteve dous dias para ſe refazerem das couſas mais
preciſas para o caminho ; e depois de ſe diſpedir do
Duque , e lhe agradecer a generoſidade , com que
llie tinha feito pôr creditos abertos promptos em di.
verſas
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 611
NMN
verſas partes , e a muita deſpeza , que com elle fac
ment
zia naquella jornada , porque aceitando a pequena
ajuda de cuſto , que ElRey lhe deu, de tres mil cru
zados , nao poderia luzir , fenað foſſe tað largamen.
te foccorrido do Duque, que em tudo foy grande.
Deſta forte ſahio de Villa -Viçoſa , e paſſando por
Valhadolid , aonde eſtava a Corte, della foy recebi.
do com attençað notavel, tanto , que ſedeteve tres
dias , e depois de ter recebido delRey de Caſtella
eſpeciaes honras, continuou a jornada , e entrou em
França pela Cidade de Burdeus. O Governador lhe
fez todas aquellas honras devidas ao caracter , e à
peſſoa ; chegando cinco legoas de Pariz , o veyo
receber o Grao Meſtre das poſtas acompanhado de
muitos Portuguezes , que eſtavao naquella Cidade,
e aviſinhando-ſe a eſta ſe encontrou com hum Gen
til homem delRey , que por ſeu mandado o havia
de conduzir , e lhe diſſe , que ElRey ſe achava in .
cognito para o ver em huma rua , por onde elle ha.
via de paſſar , e depois de ſe comporem , o que per
mittia o tempo , ſeguira ) a poſta , e atraveſſarað
toda a Cidade de Pariz , ſeguindo o Conductor até
chegarem ao Palacio , que ElRey lhe tinha manda
do preparar para aſſiſtir : eſtavaõ as caſas delle rica.
mente ornadas , aſſim para o Embaixador, como os
apoſentos para os Fidalgos da ſua comitiva, e mais
officiaes , e familia , que toda foy bem fervida. No
dia ſeguinte mandou ElRey viſitar a D . Conſtan
tino , e ſaber como tinha paſſado dos incommodos
do
612 Hiſtoria Genealogica
do caminho, e ſignificarlhe a ſatisfaçað , que tinha
de que elle foſſe o encarregado daquella commif
fað , e que deſcançaſſe , porque o Bautiſmo havia
ainda de ter demora . Paſſados tres dias tornou a
mandallo viſitar , e dizerlhe, que ſe queria entreterſe
com o goſto de hum exercicio de juftas , o convida.
va para o ver a elle com outros Cavalleiros quebrar
algumas lanças, e exercitaremſe com aquelle paſſa
tempo naquella tarde, para o que ſe lhe mandava
preparar huma janella no Paço. Agradeceo o Em .
baixador a ElRey o cuidado , com que o honrava ,
ſegurandolhe, que lhe dava ſatisfaçao namerce de
o convidar para aquelle divertimento , o qual vio
com goſto , ficando muito ſatisfeito da bizarria del
Rey , e da deſtreza , com que compria as obriga.
ções de bom Cavalleiro , em que os que o acompa.
nhavaõ moſtrarað tudo o que a arte pode dar de fi
em ſemelhante exercicio . Erað os divertimentos
muitos, porque ſempre a Caſa de D . Conſtantino
eſtava aſſiſtida de grandes Senhores , e Senhoras,
que comia ) com elle , e jugava ) , com que ſe pal
fava o tempo em hum continuado divertimento .
Monſieur de Biron , que devia ſer encarregado del
ta hoſpedajem , lhe aſſiſtio ſempre. ElRey ( que era
inclinado aos jogos de armas , tinha tanta fatisfaçao
do dasjuſtas, que finalmente em humas veyo a aca
bar a vida , ſendo ferido pela lança do Conde de
Mongomery em hum olho , de que veyo a falecer
em 10 de Julho de 1559 ) ſegunda vez mandou
con
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 613
convidar a D . Conſtantino para o ver , e depois de
ter quebrado algumas lanças com admiravel deſtre
za , ſe poz no meyo da tea , e fahiraõ doze Caval.
leiros mocos, filhos de Senhores grandes, muy bem
montados , e armados com lanças , e os mandou
correr pela tea , e que quebrallem as lanças, e El.
Rey os enſinava , lembrandolhe o modo , e o tem
po ; e o que a nao quebrava, tornava a correr a tea,
e neſte goſtoſo deſenfado ſe gaſtou grande parte da
tarde. ElRey dando por acabado aquelle jogo , foy
paſſeando até o fim da tea , e tirando o elmo deſ
cobrio o roſto , e pondo huma gorra na cabeça ,
voltou para donde eſtava D . Conftantino , e fazen
dolhe cortezia tirou a gorra , e ſe debruçou ſobre o
peſcoço do cavallo , dizendolhe , que ſe nað foſſe
porque lhe queria fallar , o que elle agradeceo com
todas as demonſtrações, que podia manifeſtar o ſeu
reconhecimento : apeou-ſe ElRey , e entrando na
Camera do Paço , eſteve por bom eſpaço de tem
po converſando com o Embaixador , que recebeo
neſta , e em outras occaſioens aquellas particulares
honras , com que os Reys coſtumað , e ſabem dif.
tinguir as peſſoas , quando com o caracter concor
rem circunſtancias para iſſo . Determinado o dia do
Bautiſmo, que havia de ſer em S. Germain , foy o
Embaixador ao Paço ricamente veſtido , e com hu
ma luzida comitiva , e depois de entregar a Carta
decrença , eſteve converſando com EIRey , e pal
ſou a viſitar a Rainha Catharina de Medices , que
com
614 Hiftoria Genealogica
com a Princeza Margarida , irmãa delRey, que de
pois foy mulher de Manoel Felisberto , Duque de
Saboya , o eſperavao ; e feitas as ceremonias devidas
à Mageftade, e tambem as que eraõ proprias , e
indiſpenſaveis no Paiz , deu o Embaixador a paz
à Rainha , e Princeza , e depois paſſando ao lugar
das Damas , que eſtava) à parede , com o meſmo
cortejo repetio a todas aquelle obſequio , que na.
quella Naçað he hum ſinal da ſingeleza na mayor
veneraçað , e cortezia : acabada a audiencia , foy o
Embaixador apoſentado nomeſmo Caſtello ; e por
que eraõ muitos os que ſeguiao a ElRey, eos com
modos poucos , ficou D . Conſtantino com os Car.
deaes, que comia ) com eile , e os Fidalgos do ſeu
fequito . No dia do Bautiſmo o Embaixador rica , e
cuſtoſamente veſtido, acompanhado da ſua familia ,
em que todos hiao luzidos , e bizarros , levou o
Principe nos braços precedido da Corte , em que
todos ſe via ) com magnificas, e cuſtoſas galas , com
que ſe conhecia a grandeza dos Vaſſallos no obſe
quio do ſeu Soberano , e aſſim ſe celebrou eſte acto
com admiravel magnificencia . Paſſados tres dias,
que eſteve no Caſtello , e Palacio de S. Germain ,
voltou o Embaixador a Pariz , a quem ElRey man
dou convidar para ver a ſua entrada publica naquel.
la Cidade , que foy com ſingular pompa na rique
za , no aparato , e magnificencia , com que ſe exe
cutou aquella entrada , em que ſe via o poder do
Rey , e o goſto dos Vaſſallos: trinta dias durarað
da Caſa Real Portug . Liv.VI. 61 $
as feſtas com divertimentos , continuados banque
tes , exquiſicos regalos , e huma larguiſſima profu
ſao. D . Conſtantino comeo algumas vezes com
ElRey , e Rainha , com tanta diſtinçað , e honra ,
que elle tinha o quarto lugar na meſa da parte del.
Rey entre muitos Principes, que gozarao deſte fa .
vor. Derað fim as feſtas , e em todas obſequiou o
Embaixador a ElRey com notaveis expreffoens da
merce , que lhe fazia , que lhe recompenſava em
novas , e diſtintas honras. Finalmente tendo a ul
tima audiencia de deſpedida , e fatisfeitos todos os
cumprimentos, que erao preciſos , recebendo del.
Rey grandes honras, lhe fez preſente de huma ba
xela de prata dourada de valor de quatro mil cru
zados, e aos Fidalgos mandou dar cadeas de ouro
de cento e cincoenta cruzados ; e tendo o Embaixa
dor com generoſidade moſtrado à Naçao Franceza
em largas deſpezas a grandeza da ſua peſſoa , e do
ſeu animo , ſahio de Pariz , e fez caminho pelo Pia.
monte para ver a D . Mecia de Lencaſtre , mulher
de Renato , Conde de Chalant, Marichal de Sa.
boya , que era irmãa da Duqueza ſua cunhada. Nao
feguio o Senhor D . Conftantino a eſtrada direita pa.
ra poder ver , e obſervar as principaes Praças de
França , para o que o acompanhava Monſieur de
Lanſac , peſſoa de grande diſtinçað , que ElRey
mandara com elle , e que em toda a parte ſe lhe fie
zeſſem todas as honras como à ſua Real peſſoa , e
o meſmo mandou ao Exercito , que eſtava ſobre a
Tom . V . liji Cida
616 . Hiftoria Genealogica
Cidade de Bolonha , que o Embaixador teve curio
ſidade de ver no campo ; e aſſim nað houve couſa ,
em que nao moſtraſſe a grande eſtimaçao , e deſe
jo de dar goſto ao Embaixador , a quem Monſieur
de Lanſac acompanhou até que fahio do Reyno de
França ; nelle deixou com ſentimento a Duarte de
Souſa , que falecera em Pariz , e ElRey mandou ,
que ao ſeu enterro affiftiſfem todas as Communida
des Religioſas da Cidade , e todos os Commenda
dores, e Cavalleiros da Ordem de S. Joað , de que
elle tinha o habito. Fez D . Conftantino eſta fun
çaõ com toda a magnificencia , e apparato , que
convinha a quem era , e a quem repreſentava , ven
cendo em pouco tempo com ſumma diligencia o
luzimento daſua familia ; e ſatisfazendo no que obra
ra a huma, e outra Coroa , voltou a Portugal, aon
de ElRey o recebeo com agrado , e particulares
expreſſoens , como quem ſe dava por tao pago da
Andrade Chronic.del- ſua miſſa ) . O Chroniſta Franciſco de Andrade
Rey D. Joaó III.liv.4. poem eſta Embaixada no anno de 1549 ; porém dos
Cap. 33.
filhos, que teve aquelle Rey , meparece , que nao
podia ſer outro , ſena) Luiz , que naſceo Duque de
Orleans a 3 de Fevereiro do anno de 1548 , e foy
bautizado a 29 de Mayo do meſmo anno , e neſte
O P. Anſelmo liv,1. aſſinað os Authores Francezes o naſcimento do re
in hol Geneal.Fran. ferido Principe, e nao podia ſer nenhum de ſeus
ciæ ,1.part.Tab.XII. irmãos, porque diſcorda aindamais no tempo . Os
OsIrmãos SantasMar. Irmãos Santas Marthas o declara , dizendo , que
thas, tom .1, liv, 10. ElRey D . Joað fora o Padrinho de Luiz , Duque
cap: 5 .
de
da Caſa Real Portug . Liv. VI. 617
di
de Orleans, por D . Conſtantino , que mandara por
bomu
feu Embaixador a França , e Madrinha Maria de
Lorena, Rainha de Eſcocia , viuva delRey Jaques
V . repreſentada por Anna de Eſt , mulher de Fran
ciſco de Lorena , Duque de Aumale , e depois de
Guyſe. Depois o fez ElRey feu Camereiro môr,
lugar que occupava quando o dito Rey faleceo .
Succedeo na Coroa pela morte de ſeu avó , El
Rey D .Sebaſtia) , mas de idade tað tenra , que nao
fe podia apartar dos braços da Ama ; e ficando a
regencia do Reyno à Rainha D .Catharina , aſſiſti
da do Cardeal Infante D . Henrique, entre as cou
lasmais principaes , que lhe levava) a attençao , era
a quem haviaõ de mandar governar o Eſtado da InTo - Couto
cap.1.Decad. 7.liv.6 .
dia ; e buſcando peſſoas demerecimento , e deſinte
reſſe , tentaraõ duas , em quem concorriao as cir
cunſtancias de haverem de ter por objecto ſómente
o que cumpriſſe ao ſerviço de Deos, e delRey ; po
rém ellas ſe eſcuſaraõ demaneira , que a Rainha , e
o Cardeal manifeftarað publica diſplicencia da eſcu
fa . Succedeo neſte tempo em hum dia praticar o
Duque de Bragança D . Theodofio com ſeu irmað
D . Conſtantino ſobre eſte negocio : eſtranhando
ambos a repulſa , que aquelles Fidalgos fizera ) ,
diſſe D . Conſtantino : Agora que elles o engeita
rað , fora eu de muito boa vontade à India ſó por
ſerviço de Deos , e delRey. Calou-ſe o Duque, e
fem dizer couſa alguma ao irmao , antepoz o zelo
do ſerviço do Reyno ao goſto da amiſade , com
Tom . V . Iiiiïi q ue
618 Hiſtoria Genealogica
que ſe tratavað , e participou logo à Rainha, e ao
Cardeal o que paſſara , e os ſegurou , de que ſe lhe
fallaffem , ſem duvida iria ſeu irmao à India ; por
que o zelo do Real ſerviço era nelle primeiro , do
que a propria commodidade. Agradecerao muito
ao Duque o ſeu zelo na inculca , e logo foy D .
Conſtantino chamado , e encarregado do governo
com expreſſoens benignas , e honroſas , de que os
Reys ſe ſervem nas occafioens , que querem fer fer
vidos , e eſqueceraõ depreſſa com D . Conftantino;
porque nao tendo duvida em paſſar à India , a teve
a Regencia para attender aos ſeus merecimentos ;
ficando eſtes por entao eſperando pelos ſucceſſos pa .
ra o premio , como ſenao o tivera conſeguido ſó .
mente na perigoſa viagem , a que ſe expunha; po
rém D . Conſtantino com animo grande os deſpre
zou , nað fallando mais neſte negocio . Hum gran
de Miniſtro daquelle tempo vendo o que com elle
ſe praticava , diſſe , que nað votava em D . Conſ
tantino para Vice-Rey , porque como ſe eſperava
que ſerviſſe bem , com que o havia ) de premiar , e
ſe foſle ao contrario , quem o havia de caſtigar ?
Faria Alia Portugueza, Contava trinta annos D .Conftantino quando
tom .2 . part. 2. cap.14 .
foy nomeado Vice-Rey da India , lugar , que ſe
achava pequeno para a ſua peſſoa no diſcurſo dos
politicos , porque aos filhos ſegundos da Caſa de
Bragança ainda lhe ficavao curtos osmayores pól.
tos ; porém eſte Principe, a quem o naſcimento fez
participante do Real ſangue Portuguez , parece que
nao
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 619
2000
nao tinha mais que aſpirar , que a ter naſcido filho
CEON daSereniſſima Caſa de Bragança , e procurou pelas
proprias virtudes fazer nova fortuna com o ſeu
valor para deixar no Mundo admiravel memoria .
Mandoulhe ElRey paſſar Carta deſte pollo em 3
domez de Março de 1558. Sað tao grandes, e eſpe.
ciaes as prerogativas , e poder deſte lugar , que pa.
rece ſempre devia ſer occupado pelas mayores pelo
ſoas ; porque como vemos na Patente , elle tem pro
Prova num . 135 .
hum tao pleno poder no mar , e na terra , e tao
diſpotico , que he huma foberania delegada ; por .
que na Armada , em que embarca , tem o dominio
com a declaraçao de Capitað môr daquella Eſqua .
dra , ( nao coſtumara ) dar outra Patente os Reys
aos que mandara ) à India ) que nao differe nada da
deGeneral mais , que namudança do nome anti
go , que ſe quiz conſervar ; porque nelle conſiſte to.
do o poder , ficandolhe ſubordinados todos osmais
Cabos , e Officiaes , que nella embarcao . Todos
os poſtos das Fortalezas , Cidades , e Generaes das
Armadas faõ providos pelos Vice-Reys , com ju .
riſdicçao , e pleno poder ſobre todos os ſubditos , e
Vaſſallos do Eſtado de qualquer condiçao , que ſe.
jao , e tanto nos caſos Civeis , como Crimes , até
morte natural incluſive , que pode mandar exécutar,
ſem delle poder haver appellaçaõ , nem aggravo .
Na fazenda Real tem inteira adminiſtraçaõ , ſendo
todos os Officiaes ſeus ſubalternos , e obrigados a
cumprir as ſuas ordens em todos os Dominios do
Elta
620 Hiſtoria Genealogica
Eſtado , e ainda fóra , onde asmercadorias perten
centes à fazenda Real eſtiverem , podendo punic
aos que faltarem à obſervancia das ſuas ordens , al
ſim no corpo , como na fazenda ; podendo tambem
remover , e tirar os Capitães das Fortalezas , e das
naos , ainda que vao carregar mercadorias , e os da
Armada ; e os Feitores , e todos os mais officios da
fazenda, Civeis , e Militares , fað ſogeitos à ſua dife
poſiçaõ ; e ultimamente o poder fazer guerra por
mar , e por terra a todos os Reys , e Senhores da
India , e das outras partes , que de fóra della ſejao ,
como lhes parecer para mayor ſegurança do ſerviço
Real ; e aſſim fazer com os ditos Reys , e Princi
pes, paz , confederaçao , e amiſade , tratados , e
capitulações com as clauſulas , que entender , o
que fará cumprir, e obſervar ElRey na forma, que
o Vice-Rey o tiver aſſentado com toda a boa fé ,
como outro qualquer tratado , que elle houveſſe fire
mado ; porque o poder do Vice-Rey he pleno , e
ſem limite no governo da India , aſſim na paz , co
mo na guerra . Partio de Lisboa em 7 de Abril do
anno de 1558 com huma Armada de quatro naos ,
a ſaber : a em que hia o Vice-Rey chamada a Grao
ça, de que era Capitað D . Payo de Noronha , que
hia provîdo na Capitanîa de Cananor em vida ; a
nao Rainha , Capitað Aleixo de Souſa Chichorro ,
que pela ſua idade de ſerenta annos , experiencia ,
deſintereſſe , e pratica das couſas da India , hia no
meado Védor da Fazenda do Eſtado para poder
infor
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 62 I
informar , e aconſelhar ao Vice-Rey; a nao Tigre ,
Capitað Pedro Peixoto da Sylva ; e a nao Caſtello ,
de que era Capitao Jacome de Mello : levava) dous
mil homens de guerra para ſervir na India , e mui
tos Fidalgos , que por acompanharem o Vice-Rey
paſſara ) a ſervir naquelle Eſtado neſta occaſiao .
Os que achamos nomeados , forað : D . Diniz Cou.
tinho , que depois morreo na India, tao parente do
Vice-Rey , que era filho de ſua prima com irmãa
D . Antonia de Lencaſtre , e de D . Alvaro Couti.
nho , Marichal de Portugal ; Franciſco de Mello ,
filho de Jorge de Mello , Monteiro môr do Reyno ,
do Conſelho delRey , Commendador do Pinheiro ,
que tinha ſido Porteiro môr delRey D .Manoel , o
qual voltando ao Reyno por Capitao da nao Cha.
gas, ſendo atacado na altura das Ilhas por tres naos
de Coffarios Inglezes, depois de ter peleijado vale
roſamente , pereceo abrazada no fogo , que lhe lan
çarað dentro , em que laſtimoſamente acabarað to
dos, menos poucas peſſoas , que ſe ſalvarao ; D .
Antonio de Vilhena , que tambem veyo a morrer
na India , que era filho de D . Chriſtova) Manoel de
Vilhena , Alcaide môr de Fontes , Commendador
deMoreira naOrdem de Chriſto , filho terceiro de
D . Manoel de Vilhena , III. Senhor de Cheles ;
Ayres deSaldanha , que tambem depois morreo na
India ſem geraçao , filho de Antonio de Saldanha ,
Commendador de Caſevel na Ordem de Chrifto , a
quem chamarað o Cativo ; D . Franciſco Lobo , que
veyo
622 Hiſtoria Genealogica
veyo a caſar na India , e era filho de D . Luiz Lo.
bo , Pagem da lança do Principe D . Joao , filho del.
Rey D . Joað III. ; D . Luiz de Almeida , filho de
D . Lopo de Almeida , que tinha ſido Veador da
Caſa da Princeza D . Joanna ; D . Franciſco de Al
meida , que depois de ſervir na India foy Capitað
de Tangere , e teve outros póſtos, e era filho de
D . Joaõ de Almeida ; Fernaõ de Caſtro , filho de
Pedro de Caſtro , Veador do Duque de Bragança,
Alcaide môr deMelgaço ; Pedro de Mendoça , a
quem chamarao o Larim , que depois foy Capitað
de Chaul, filho de Triſtao deMendoça, Commen .
daaw. deMoura) ; Joao Gomes de Caſtro , que ti.
nha ſervido de Moço Fidalgo ao Infante D . Luiz ;
Pedro da Sylva de Menezes ; Jeronymo Dias de
Menezes , filho de Damiao Dias de Menezes , Al.
caide môr da Amieira , Eſcrivao da Fazenda del
Rey D . Joað III. ; Joað Lopes Leitað , filho de
Franciſco Leitað ; Gil de Goes , que hia deſpacha .
do com a Capitanía de Goa , e outros Fidalgos , e
Cavalheros. Seguindo huma feliz viagem chega
raõ a Goa antes de cumprirem cinco mezes ; por
que na entrada de Julho aportara ) em Moçambi
que, e em Goa a 3 de Setembro , ſem emtoda a
viagem experimentarem as inconſtancias do mar ,
porque na tranquillidade o deſconhecerað os prati
cos, nao havendo dado ſinaes da lua ferocidade em
toda a viagem ; antes eſteve tað igual , que ſenaó
ſentio em toda a Armada effeito algum da ſua ſo
berba .
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 623
berba. Parece ſe humilhava para ſervir a D . Conf.
tantino .
Começou o Vice-Rey a dar principio ao go
verno do Eſtado , nomeando Capitães para as For
talezas, provendo-as do neceſſario . Foy para Ca
nanor D . Payo de Noronha , cuja aſpereza deu mo
tivo aos Mouros a ſe levantarem , e a principiar hu
ma guerra. O Vice-Rey , que tinha determinado
ganhar a Praça de Dama) , tao deſejada para ſegu
rar as terras de Bacaim , que a Franciſco Barreto
( que acabara de governar o Eſtado ) havia cedido
ElRey de Cambaya , Senhor della ; porém para fe
tomar poſſe della era forçoſo arrancalla por armas
da mao do Abexim Cid Bofeta , levantado contra o
ſeu Soberano , que com eſta condiçaõ a largava ;
porque ſó he facil de dimittir o que ſe nað póde al.
cançar. Achava-ſe o Abexim bem armado , e com
valor para a nað entregar menos , que por dura
guerra. Poz o Vice-Rey em Conſelho eſte impor
tante negocio , e reſolveo , que em peſſoa havia de
ir ſobre ella .
Eſtava em Cananor Luiz de Mello da Sylva,
a quem os Mouros incitarað aſſaltandolhe as trin
cheiras em numero de tres mil, que elle rebateo tao
fortemente , que com morte de muitos , e pondo
em fogida aos de mais , ficou bem ſuperior neſta ac
çao , porque em quanto dava conta ao Vice-Rey
do bom ſucceſſo , pedindolhe ſoccorro , ſeguio a
proſperidade da fortuna. Chegou eſta noticia a
Tom . V . Kkkk Goa
624 Hiſtoria Genealogica
Goa eſtando o Vice-Rey preparando-ſe para a emi
preza de Dama) , e deſpedio hum ſoccorro de ſeis,
ou ſete navios para ſe ajuntarem com Luiz deMel
lo , que quando chegarað andava já no mar fazen .
do guerra aos Mouros , e repartio os navios pe.
las bocas dos rios principaes para lhe impedir o fa.
hirem os Coſſarios a roubar , e osimpoſſibilitar a ſe
rem providos de mantimento , que era a guerra ,
com que mais os podia opprimir. Deſpedido eſte
foccorro deſpachou o Vice-Rey a D . Pedro de Al.
meida para ir entrar na Capitanîa de Bavaim ; e par.
ticipando a eſta Cidade , e à de Chaul a empreza ,
para que ſe ficava apreſtando , rogava aosmorado.
res principaes o quizeſſem acompanhar com alguns
navios ; e ordenando aos Officiaes a proviſao de
mantimentos , e outros petrechos neceffarios para a
Armada , mandou alguns Mercadores Gentios par.
ciaes do Eſtado , e homens de confiança , para que
foſſem reconhecer a Cidade deDama) , e o eſperal
ſem em Bacaim com o aviſo da gente , que os Abe.
xins tinha) , e a força , com que ſe havia ) fortifi
cado .
• Era o tempo da feſta do Naſcimento de Noſſo
Redemptor, quando em huma das oitavas ſe fez o
Vice-Rey à véla com huma Armada compoſta de
mais de cem embarcações , que levaria ) quaſi tres
mil homens, gente eſcolhida, e luzida, em que en :
travaõ muitos Fidalgos, e outras peſſoas principaes,
que com póſtos huns , e outros voluntarios ſe em
barca
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 625
barcarað por fazerem obſequio ao Vice-Rey. Com
socorroda eſta luzida Armada appareceo ſobre Damao com
terror de todas as terras viſinhas, e com fuſto gran .
me on a de da Cidade. Sahio a reconhecer as ſuas forças D .
CS CATA Diogo deNoronha , e achou diſpoſtos aquelles Bar
baros de forte , que eſperava ) defenderſe animoſa
Vivo mente com a guarniçaõ de quatro mil homens eſco
lhidos , e reſolutos. Deſembarcarað da Armada os
Capitães D . Diogo de Noronha , Antonio Moniz
Barreto , Martim Affonſo deMiranda , Pantaleaõ de
Sá , Pedro Barreto Rolim , emarcharað contra a Ci.
dade , que vendo ſobre ſi eſte apparato , com hum
Da
terror Panico a deſamparara) , e foraó viſtos ir fogin .
do deſordenadamente com grande preſſa , carregados
os hombros com as fazendas , e osbraços dasmulhe
res com os filhos. O Vice-Rey entrou na Cidade,
e vendo , que fem perda alguma conſeguia huma tal
vitoria , com a piedade , de que era dotado , poſto
de joelhos em terra , rendia ao Deos das vitorias as
graças por haver concedido eſta tað facilmente. Pu.
rificou-ſe com agua benta , e ritos Catholicos a Meſ.
quita , das abominaveis fuperftições da barbaridade,
e conſagrada já em Igreja , ſe lhe deu o nome de
Noſſa Senhora da Purificaçao por ſer ganhada no
dia , em que a Igreja celebrava eſte Santo myfterio
no anno de 1559 .
O Governador , que tinha deſamparado a Ci
dade , formou da ſua gente hum Exercito em Par
nel , diſtante ſó duas legoas. Deſte Lugar ſahia to .
Tom . V . Kkkk ii das
626 Hiſtoria Genealogica .
das as noites com dousmil cavallos a inquietar a
noſſa gente , e impedir ao Vice-Rey a fórma de ſe .
gurar a Cidade. Offereceo -ſe animoſamente Anto
nio Moniz Barreto a deſalojar , e deſtruir o inimi
go com ſó quinhentos homens. Concedeolhos o
Vice-Rey com os Capitães D . Lourenço de Sou
ſa , e D . Diogo de Souſa ſeu irmao , D . Diogo Pe
reira , Joað Lopes Leitað , Jorge de Moura , e Triſ
ta ) Vaz da Veiga , e com grande ſilencio lahirað
huma noite marchando em demanda do inimigo.
Antonio Moniz Barreto ſe achou defronte delle ſo
mente com cento e vinte homens , porque os mais
com a obſcuridade da noite errarað os caminhos ;
com eſtes ſó ſe lançou Antonio Moniz arrojada.
mente ſobre o Exercito , com tanto impeto , e va
lor , que com eſtrago notavel poz em fogida ao ini
migo , que imaginou cahia ſobre elle o poder do
Vice-Rey : porém como a manhãa lhe moſtrou o
pequeno corpo , que o tinha poſto em fogida , bai.
xou de huma colina nað menos furioſo , que cor
rido , carregando fortemente a Antonio Moniz ; e
elle a tempo , que já com os companheiros , que a
noite ſeparara , ſe havia ) unido , com eſte pequeno
corpo deu tað pezadamente ſobre o Abexim , que
ſegunda vez vencido , com a morte de quinhentos
dos ſeus, ſe poz em fogida , e deſiſtindo da eſperan
ça demelhorar de fortuna ſe paſſou a outras terras ,
onde ſe déſle por ſeguro . Nos alojamentos ſe acha
rao deſpojos , que fizerað mayor a vitoria : forað
entre
da Caſa Real Portug. Liv. Vl. 627
entre outros trinta e ſeis peças de artilharia , e gran .
de quantidade de moeda de cobre , que carregarað
carros , e outras couſas, com que os Soldados ce.
vando a cobiça ſuaviſarað o trabalho , e com dupli
cado goſto applaudiao o bom ſucceſſo .
O Vice-Rey vendo as terras deſpejadas dos
Abexins, entrou a cuidar na fortificaçaõ da Cidade ;
e para que a ella acudiſſem moradores , obrigou com
franquezas, e privilegios aquellesmeſmos, que o te .
mor tinha eſpalhados, para que voltaſſem a meſma
reſidencia ; e por ſegurar os habitantes concedeo ao
Rey de Sarzeta o tributo , que tinha naquellas ter .
ras por doaçaõ antiga dos Reys de Cambaya. Dir
poſtas todas as couſas da Cidade , e terras de Da.
ma) , para mayor ſegurança reſolveo apoderarſe
da Villa de Balſar , ſem a qual nað poderiaõ ter fo .
cego os noſſos , para o que mandou a D . Pedro de
Almeida , Capitaõ de Bacaim , e D . Franciſco de
Almeida , com cento e cincoenta Cavallos, e outros
tantos Infantes, e apenas os ſentirao os de Balſar ,
quando deſampararað a Villa , e D . Pedro ſe apo
derou della ſem reſiſtencia . Entrou o Vice-Rey a
tomar poſſe della , e lhe poz por Capitao a Alvaro
Gonçalves Pinto com a guarniçaõ de cento e vin
te Soldados, e alguma artilharia , da que tinha ) to .
mado aos Abexins. Voltou o Vice -Rey a Damaó,
e paſſando por Parganas , Bouticer , e Poari , man .
dou publicar ſeguros Reaes , para que os ſeus natu
raes pudeſſem vir povoar , e tratar do ſeu commer
cio ,
628 Hiftoria Genealogica
cio , ſem que ſe lhes innovaſſe couſa alguma dos ſeus
antigos Foraes. Informado de que em Meca ſe fa
ziao preſtes as galés do Cafar , ordenou mandar hu .
ma Armada ao eſtreito de Meca à ordem de D . Al
varo da Sylveira , filho de D . Luiz da Sylveira , I.
Conde de Sortelha , compoſta de dous galeoens, e
dezoito embarcações de remo, com que ſe fez à vé.
la a quinze de Fevereiro , dandolhe por ordem , que
trabalhaſſe por queimar as galés de Meca , e que el
peraſſe as naos do Achem , e acabada a monçað fol.
ſe invernar a Maſcate , e recolheſſe as naos de Or
muz , que haviao de partir em Outubro , para as li.
vrar de algum inſulto do Cafar: porém o temporal
desfez eſta Armada , eſpalhando as naos, que com
grande trabalho , e deſtroçadas ſurgirao em varios
portos da India , depois de nao terem achado occa.
ſiaõ naquelles deſtrictos da ſua commiſſað , em que
ſe empregaſſem . Depois do Vice-Rey ter encar
regado o governo de Damao a D . Diogo de No
ronha , guarnecido a Fortaleza de Cabos , e Ofi
ciaes com mil e duzentos homens, e tudo o preciſo
para a ſua defenſa , ſe recolheo a Goa já em o mez
de Março , e começou a entender no governo do
Eſtado , provendo em peſſoas capazes as Fortale
zas de Ceilað , Malaca , e Maluco , e outras cou
ſas uteis à conſervaçað , e reſpeito do Eſtado.
Corria ) as couſas do governo com a vigilancia
do Vice-Rey , em que ſendo muitas as proſperida
des , ſe nao podiaõ deixar de experimentar caſos
adver
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 629
adverſos , que a prudencia reparava com o meſmo
ſemblante , do que as vitorias. Era já entrado o
anno de 1560, quando a 7 de Setembro o Vice-Rey
ſe fez à véla com huma Armada , compoſta de do
ze galeoens, doze galés , e ſeſſenta embarcações de
remo , a que chamava) Fuſtas , e Catures , com a
proa ſobre a Cidade de Jafanapatao , contra cujo
Rey, e Senhor da Ilha de Manar , D . Conſtantino
encaminhava eſte poder. Era aquelle Rey impio
Aagello de todos , os que abraçavao no ſeu Reyno as
verdades do Euangelho , pelo que havia pouco ti
nha obrigado a ſeu proprio irmao mais velho , a
quem tyrannamente tinha arrebatado a Coroa , a
que foſſe fogindo da ſua crueldade. Buſcou eſte
deſpojado Principe para ſegurar a ſua peſſoa ą Ci
dade de Goa , aonde ſe bautizou com o nome de
D . Affonſo . Era favorecido por ordem delRey D .
Joao , e agora reflectindo o Vice -Rey na ſua deſ
graça , e nas que padeciað os Chriſtãos do Cabo Ca
mori , e praya da Peſcaria com os inſultos daquel.
le barbaro Rey , que irado contra o Chriſtianiſmo
executava nelle a ſua tyrannia , mandando degollar
a todos , os que ſe reduziaõ à Fé de Chriſto , deter
minou caſtigar tanta ouſadia , deſpojando-o da Co
roa para a pôr na cabeça de ſeu irmao D . Affonſo ,
a quem tocava pelo direito hereditario , e dando
hum Rey Catholico aos que o era ) , e deſejavao
ſer. Deſembarcou defronte da Cidade de Jafanapa.
tað com mil e duzentos homens, e começou a en .
trar
630 Hiſtoria Genealogica
trar a Cidade , ſem embargo da oppoſiçaõ dos ini
migos , que fazia ) tudo o que podia) por impedir
aos noſſos, que rompendo por entre nuvens de ſet
tas , e balas , ſe adiantarað ganhando a rua princi.
pal , a que acudio o Principe por outra com alguma
gente , mas com pouco effeito . Aſſinalarab-ſe muy
diſtinctamente Gonçalo Falcao , e D . Antonio de
Noronha com conhecido riſco , porque decima dos
telhados , e quintaes offendia) os inimigos aos noſ
ſos à ſua vontade , e ſem perigo. O Vice-Rey
montado a cavallo , veſtido de armas brancas, com
o Eſtandarte de Chriſto diante , acompanhado de
muitos Fidalgos , e Cavalleiros honrados, ſeguia o
bom ſucceſſo , que lhe promettia o principio daquel
le dia , e animava tudo com a ſua prekença . Com
as palavras honrava aos que ſe aſfınalavao , e com
o exemplo perſuadia a todos: diftribuîo as ordens
com tal actividade , que os noſſos carregarao tanto
os inimigos, que ſe vio ElRey obrigado do perigo,
em que eſtava , a retirarſe ao Paço , que era hum
Caſtello forte , com tençaõ de alli ſe defender. En
trou a noite , que o Vice -Rey levou toda armado,
e os noſſos ſobre as armas ; e E Rey reconhecendo.
o perigo , em que eſtava , deſamparou o Paço , e ſe
recolheo a huma Fortaleza , que diſtava huma le
goa da Cidade , onde os noſſos depois de ganhada
eſta ſe encaminharað , e EIRey já medroſo procu
rou o ſeguro na diſtancia. Em ſeu ſeguimento en
viou o Vice-Rey algumas Eſquadras , de que foy
a pri.
da Caſa Real Portug . Liv .VI. 631
a primeira a de Luiz de Mello , e as outras as de
Martim Affonſo de Miranda , Gonçalo Falcao ,
e Fernaõ de Souſa de Caſtellobranco , que o forað
ſeguindo com tal impeto , que o conſtrangera) a
ſometerſe às noſſas armas , com pactos , que nos fo
in
D .Ma- ;
. Maria
kaleido ,
wherde
à Conf
anno
039
ElRey D .Joaó I. + em 14 de Agoſ
Sto de 1433 .
O Senhor D . Affon - 3 D . Ignes Pires , Commendadeira de
cro l. Duque de Bra. C Santos.
D . Fernando I. do gança , + em 146 1 .
nome, Duque de CD.Nuno Alvares Pereira , Condela
p . Brites Pereira , cavel.
Bragança, + no 1. (
de Abril de 1478&. los.
Condella de Barcelo
O Senhor Dom . CD.Leonor de Alvim . H .
Alvaro , + em D . Joao de Caſtro , ( D . Pedro de Caſtro , Senhor do Ca
1500,
Senhor do Cadaval , 2 daval.
( A Duqueza D . Jo - Peral , & c. ( D . Leonor Telles de Menezes.
D .Rodrigo de anna de Caſtro. D . Leonor da Cunha ( Marlim Vaſques da Cunha 1. Con
Mello I.Mar
quez de Fer
0.Lo.cobor daci
: 2Giraó de de Valença de Campos.
reira , Conde 2D.Ter
D. Tereſa Telles Giraó.
de Tentugal, roda
Martim Affonſo de (C Martim Affonſo de Mello , Senhor
+ em 17 de cMello , Senhor do de de Barbacena , & c. Guarda mór
Agoſto de D . Rodrigo Afo Ferreira deAves, & c. delRey D . Joaó I.
1545. * fonſo de Mello 1. Guarda môr delReyUC D . Brites Pimentel , 1 .mulher..
Conde de Oliven ( DD ..Marg
Duarte . a de Vi. )c do
arid
Ruy Vaz Coutinho,Meirinhomôr
Reyno , Senhor de Ferreira , & c.
ça.
D . Filippa de Thena. H .. D .Branca de Vilhena , filha de D .
CHenrique , Conde de Cea , e Cintra,
Mello , H . ČJoao Gomes da Sylva II. Senhor de
c AyresGomes daSyle Vagos , & c. Alferes môr delRey D .
A Condella D . Ifa . va , Seohor de Vao ) Joað l. + a 26 de Março de 1445 .
bel deMenezes. gos , Regedor das ( D .Margarida Coelho.
Julliças.
D . Brites de Mene CD.Martinho de Menezes II.Senhor
de Cantanhede.
D . Maria zes,ſegunda mulher. 3
deMeilo , ( D . Tareja Vaſques Coutinho.
mulher de
D . Conſ D .Alvaro Vaz de Al C Joao Vaz de Almada , Capitaomôr
tanung. mada 1. Conde de ) de Lisboa, .
Abranches, Cavallei. D . Maria Annes , filha de Joanne
Dom Fernando de ro da Jarretiere , & c. Annes de Almada, Senhor de Aljez.
Almada II. Conde ( D . Catharina de Caloc D . Fernando de Caſtro , Senhor de
de
pitao mộrhes,
Abranc Ca
de Lira tro , legunda mulher . Angan , & c. Governador da Cara
D . Antao deAl. 3 do Civel, + em 1441.
mada , Capitao boa, e do ſeu mar. ( D . Iſabel de Atcaide.
môr de Lisboa , P
ereira o° CD.Gonçalo
Ruy Vaz Pereira 3 Pereira , Senhor de Ca
do Conſelho
delRey, Velho. beceira de Balto ,
M .AFFOR
ari C Miranda
3D. Brites de Noro - C D .Mariaa de
D . Conſtança de
Noronhao
nha , que fov Cime.
que foy Camec O Senhor D . Affonſo , Conde de
reira môr, Gijon , e Noronha , filho delRey
3 D . HenriqueIl. de Castella.
A Marqueza A Senhora D . Iſabel filha delRey
D . Brices de
LD. Fernando de Portugal.
Menezes , ſeo c D .Joaó Tello deMe- CD. Fernando de Menezes III. Se
gunda mu D .Rodrigo deMe nezes , herdeiro da ) nhor de Cantanhede , Mordomo
Ther,
nezes , Commen - Caſa de Cantanhede. ) mör da Rainha D . Iſabel.
dador deGrando CD. Brites de Andrade.
D .Maria deMc. la na Ordem de CD . Leonor da Sylva. c Ayres Gomes da Sylva.
nezes, Santiago , Mordo
momôr daRainha 3D. Leonor de Miranda , primeira
D . Leonor. ( mulher,
Martim Vaz Maſca. ( FernaóMartinsMaſcarenhas,Com
D . LeonorMaſca renhas , Commenda- 2 mendador môr de Santiago.
renbas. dor de Aljuſtrel na
Ordem de Santiago. CD. Filipa. . . . . . .
( Iſabel Correa , ( Martim Correa , Guarda môr do
Infante D . Henrique.
Tom . V . D .Leonor da Sylva , Dama da Rais
Cnha D . Iſabel.
avwg mn
Debrie
CAPITULO X .
Do Senhor D . Fulgencio , XI. Dom Prior
da Collegiada de Guimarães.
E o eſquecimento tað geral
nas noſſas couſas, que preciſa
ni mente nos devemos de quei.
xar por muitas vezes do def
cuido , com que ſe houvera)
os antigos, e agora com eſpea
cial razao , pois vemos , que
naſceo D . Fulgencio , filho quarto do Duque de Chron.delRey D.Ma
Bragança D . Jayme, e da Duqueza D . Joanna de noel, part.1.cap.61.
Mendoça ſua ſegunda mulher , e que ſómente nos
ficaſſe em memoria , que fora hum dos filhos deſte
Matrimonio , ſem alguma outra individuaçao do
tempo , em que naſcera , emuito menos das acções
Tom . V . Mmmm ii da
642 Hiſtoria Genealogica
da ſua vida, o que nos tem cauſado neſta Obra por
muitas vezes trabalho ſem fruco .
De muy curta idade ſe achou D . Fulgencio
com ſeu irmao D . Conſtantino no Bautiſmo do In
fante D . Filippe , filho delRey D . Joað o III . co .
mo fica dito no Capitulo antecedente. Seus pays
o deſtinarað para a vida Eccleſiaſtica , que elle ſe
guio ( parece que mais por obediencia , que por
vontade) porque dos verdes annos da ſua mocida
de deixou penhores , que teſtemunharáð , que nao
erað os coſtumes tao ajuſtados ao eſtado Clerical,
que abraçara , por ſer a continencia huma das prin
cipaes virtudes , que deve obſervar hum Eccleſiaſ.
tico. Já no anno de 1551 ſe achou na trasladaça ),
que ElRey D . Joað o III. mandou fazer dos ollos
delRey D . Manoel, e da Rainha D .Maria para o
Moſteiro de Belem : foy eſta funçaõ de pompa on
tavel , porque além dosGrandes , aſſiſtirao nella os
Biſpos do Reyno , e ElRey ordenou , que nomer
mo banco dos Biſpos eſtiveſſe D . Fulgencio , logo
ſeguido a elles. Neſta occaſiaõ na Milla , que can .
tou o Arcebiſpo de Lisboa D . Fernando de Vaſcon.
cellos de Menezes , foy D . Fulgencio o Subdiaco
no ; e ſuppoſto a Relaçaõ , que entao le imprimic ,
nað faz memoria de quem cantou o Euangelho ,
devia ſer algum Biſpo , e ſó ſe lembrou da grande
peſſoa de D . Fulgencio , para moſtrar a ſolemnida .
de daquelle acto . Depois ſe achou nas Cortes de
Thomar com aſſento no banco dos Biſpos,mas no
ultimo
da Caſa Real Portug. Liv.VI. . 643
ultimo lugar , ſendo o motivo nað fer raza) de que
hum Sacerdote ſimples houveſſe de preceder aos
da ſua meſma Ordem com qualidades de Prelados.
Foy eſte Principe Abbade Commendatario de S .
Salvador de Travanca da Ordem do Patriarcha S .
Bento , Prior tambem Commendatario de Santa
Maria deMoreira dos Conegos Regrantes , Chan
tre da Igreja Collegiada da Villa de Barcellos, eXI.
Dom Prior de Santa Maria de Guimarães. Todos Benedi&tina Lufitana ,
eſtes Beneficios teve ao meſmo tempo , e foy o ulci. tom .2. tic. l. part.4.
cap .8 .pag. 255 .
mo Commendatario daquelles dous Moſteiros, eo
era ao tempo , que pormandado do Cardeal Infante
D . Henrique ſe fez a inquiriçao dos Moſteiros. O
meſmo Cardeal fez com elle , que renunciaſſe a Ab.
badia com penſa ) de mil cruzados , que o Moſtei.
ro lhe pagava. Faleceo a 7 . de Janeiro de 1581.
No tempo , em que reſidio na Villa de Guima Mon. part. 4 . liv . 1 3 .
rães, vendo a grande veneraçað , que os moradores cap. 13.
tinhao ao Santo Fr. Gualter da Ordem de S . Fran .
ciſco , lhe fez lavrar hum decente ſepulchro , para
donde ſe trasladara ) asReliquias do Santo , em que
ſe lhe gravou o Verſo ſeguinte :
Gualteri tegit hoc venerabilis oſa ſepulchrum .
Tevepor filhos os ſeguintes:
15 D . FRANCISCO DE BRAGANÇA , que naſceo
na Villa de Guimarães. Criou -ſe em caſa de ſeu tio
D . Theotonio de Bragança , Arcebiſpo de Evora,
de cuja exemplar vida elle ſoube tirar documentos
para
644 . Hiſtoria Genealogica
para a que depois ſeguio . Foy Porcioniſta do Coli
legio Real de S . Paulo , em que entrou a 21 de
Fevereiro de 1585 . Eſtudou na Univerſidade de
Coimbra , em a qual ſe graduou Bacharel em Cas
nones : foy Conego da Sé de Evora , Deputado do
Santo Officio de Lisboa , em que entrou a 30 de
Setembro de 1599 , Sumilher da Cortina , Deputado
da Meſa da Conſciencia , e Ordens , de que tomou
poſſe a 10 de Julho de 1594 , Deſembargador do Pa.
ço , Reformador da Univerſidade de Coimbra por
Proviſaõ de 20 de Março de 1604 , que ſe publi.
cou em 1o de Novembro do meſmo anno , a qual
reformaçað veyo a fazer no tempo , em que era
Reytor Affonſo Furtado de Mendoça ; e ſendo con .
firmada por ElRey , ſe aceitou em Clauſtro pleno
a 15 de Outubro de 1612 , e anda nos Eſtatutos da
Univerſidade a fol. 301 ; Commiſſario Geral da Bul.
la da Cruzada por Bulla do Papa Paulo V . de 16
de Dezembro de 1609, de que tomou poſle no an
no ſeguinte ; Deputado do Conſelho Geral do Santo
Officio , em que entrou a 8 de Setembro de 1617 .
Neſte anno por nomeaçaõ de 21 de Outubro feita
em Ventozilha , ſendo promovido ao Biſpado da
Guarda D . Franciſco de Caſtro , o nomeou ElRey
Preſidente da Meſa da Conſciencia , e por algum
motivo devia de deixar de aceitar eſte grande lu
gar , porque he certo , que o nað exercitou ; mas
tambem nað ha duvida , que nelle foy provîdo, co
mo yi em as reſoluções originaes daquelle tempo.
Teve
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 645
961 Teve em Madrid o lugar Eccleſiaſtico no Conſe
lho de Portugal , e foy do Conſelho de Eſtado. No
anno de 1619 ſe achou nas Cortes , que ſe celebra
We
raó em Lisboa , fendo hum dos Procuradores da No.
breza. Foy viſitador da Inquiſiçao , e voltando pa
ra o ſeu lugar na Corte de Madrid no anno de 1629,
foy eleito no de 1630 Patriarcha do Braſil, e India,
lugar , que nao teve effeito . Eſtando nomeado por
ElRey com a commiſſaõ de expor aos Prelados do
Reyno o aperto , em que ſe achava o Eſtado da In
dia Oriental, para tirar hum ſubſidio Eccleſiaſtico, o
diſpenſou ElRey por hum Alvará , e deſpachou ao Chancel. delRey Filip
meſmo tempo , dizendo : E repreſentandome a prom - pe IV.liv. 29.fol.52
pta vontade para oexecutar , e juntamente ſeus ſervi
ços , e idade , a reſpeito de eſtar tao adiantada , me
nao poder tornar a ſervir na praça de Conſelheiro de
Elado no ſupremo Conſelho da Coroa deſte Reyno,
que reſide junto à minha pejoa , *c. e pedindome lie
cença para ſe retirar a ſua caſa com grata vontade
minha , a qual licença lhe concedi, & *c. Dada em Liſ
boa a 19 de Junho de 1631. Neſte meſmo Alvará
lhe fez merce de dous mil cruzados de penſoens Ec
cleſiaſticas, de que já tinha mil cruzados no Fiſco
da Inquiſiçaõ , com outras merces , a ſaber : duas
Capellas para dous criados , e a do foro de Fidalgo Chancel.do dito Rey ,
para a peſſoa , que elle nomeaſſe , o qual tendo a liv.2 9. fol.6 .c liv.32.
qualidade neceſſaria , o Mordomo môr lhe paſſaria tol.
Alvará em forma. Em todas eſtas grandes occu
pações moſtrou ſempre grande zelo do ſerviço de
Deos ,
646 Hiſtoria Genealogica
Deos , dando admiraveis exemplos de virtude. . A
ſua caſa compoſta com a grandeza devida ao ſeu al
to naſcimento , foy o exemplar da modeſtia , e hu
maAcademia das ſciencias, e artes liberaes, em que
educava aos ſeus domeſticos , applicando a cada
hum conforme a categoria das peſſoas , para o que
mantia Meſtres com grande deſpeza , ou foſle nas
Humanidades , ou na Muſica, ou na Pintura , e ain
da aos eſcravos fazia enſinar , do que podiao tirar
na ſua esféra utilidade. Oseſpiritos de grande Se
nhor lhe abria ) o caminho aos divertimentos inno.
centes do ſeu eſtado , conſervando grande numero
de paſſaros diverſos , e animaes de todas as caſtas ,
que mandava vir de todas as partes do Mundo, o
que conſervava com deſpeza , ſendo grande a das
conduções ; e póſtos em parte , aonde podia) ſer
viſtos, concorria) à ſua caſa aſſim os nacionaes , co .
mo os Eſtrangeiros , a admirar aquellas diverſas eſ.
pecies da producçao da natureza. Era de vida irre
prehenſivel , de animo pio , e heroico , como grande
Senhor. No culto Divino muy cuidadoſo , e al
ſim a ſua Capella era ornada de precioſos ornamen
tos, de muita prata , e grande aceyo. A ſua fami.
lia com o ſeu exemplo era caſta , e reformada ; e ar.
dia nelle tanto eſta virtude, que fazendo reflexa) ,
que nað era pequena ruina das almas exporem ſe
pinturas indecentes , e laſcivas por ornato ; fez im .
primir os pareceres de homens doutos contra eſte
abuſo em hum livro em Madrid no anno de 1632,
e vol
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 647
e voltando para o Reyno com licença delRey Ca.
lot tholico , ſe retirou a Coimbra , dizendo , que na
quella Cidade vivia) osmelhores Medicos para a
alma, e para o corpo ; e nao podendo reſiſtir aos
frios daquelle clima em ſeſſenta annos de idade, veyo
para Lisboa , aonde de huma doença morreo a 31
de Julho do anno de 1634 , e mandou-ſe enterrar na
Caſa Profeſſa da Companhia ( de quem fez grande
eſtimaçao ) ao pé da Capella do Naſcimento , que
elle mandara lavrar à entrada da Sacriſtia , onde jaz
com eſte Epitafio :
Aqui jaz D .Franciſco de Bragança ,
indigno Sacerdote , do Conſelho de Eſ
tado dos Reys deste Reyno , que em
ſua vida eſcolheo , e fabricou eſte lu
gar , e Capella , e Altar , que está de
fronte, pela muita devoçaõ , que tinha à
Companhia , particularmente a eſta ca
ſa . Faleceo aos XXXI. de Julho de
M . DC. XXXIV .
15 D . ANGELICA DE BRAGANÇA ſua irmãa ,
foy Religioſa , e Abbadeſſa do Moſteiro das Cha.
gas de Villa - Viçoſa .
Tom . V . Nnnn CA
649
Debring
CAPITULO XI.
Do Veneravel, e Santo Darao D . Theotonio ,
Arcebiſpo de Evora .
E S TE Illuſtriſſimo Prelado foy
El Arcebiſpo Metropolitano da
Santa Igreja de Evora , e hum
dosmais inſignes Paſtores , que
nella ſe numerao , a qual regeo
com integridade , e illuſtrou
com exemplos de virtude , e
de charidade , com total eſquecimento de que naſ.
cera Principe ; porque ſe nao lembrava mais , de
que formar no ſeu coraçaõ hum Templo a Deos ,
erigido em abatimento , e profunda humildade. Naf
ceo na Cidade de Coimbra a 2 de Agoſto de 1530
quinto filho do Duque de Bragança D . Jayme, e
Tom . V . Nnnn ii de
650 Hiſtoria Genealogica
de ſua mulher a Duqueza D .Joanna deMendoça ,
que entao ſe achava) com toda a ſua Caſa neſta
Cidade, onde os levara o receyo da peſte , que ar
dia em diverſas partes do Reyno. Foylhe poſto o
nome de Theotonio por devoçao dos Duques ao
Santo Portuguez deſte nome , e ſó agora achámos
a razaõ de alguns nomes, pouco uſados , que os Se.
nhores da Caſa de Bragança puzera) a ſeus filhos ,
nao attendendo muitas vezes ao uſo , que ſe prati
cava já muito em Portugal , e tinha ſido , ſegundo
diz Demoſthenes , dos Athenienſes , dando ao filho
primogenito o nome de ſeu avó paterno , e ao ſe.
gundo o de ſeu avô materno , o que na Sereniſſima
Caſa de Bragança ſe obſervou com os dous Duques
D . Theodoſio , e D . Joao ; porém o de Jaymenað
ſabe nos, que tiveſſe motivo , ſenað foy a memoria
de ſeu antigo , e heroico aſcendente ElRey D . Jay
me I . de Aragað o Conquiſtador , o que ſe infere
com o Duque D . Jayme, quando reformou as ſuas
Armas, meter no Eſcudo as de Aragao , como fica
dito . Pode ſer , que a memoria dos grandes Empe.
radores Conſtantino , e Theodoſio , foſſe cauſa de
que tomaſſem eites nomes, os que eſtavad deſtina
dos para o Imperio ; e que o de Alexandre folle pe.
lo meſmo motivo , ſe nao lembraſſe a affinidade de
Alexandre Farneſio , nað menos illuſtre , que o de
Macedonia. Nos Eccleſiaſticos o de Fulgencio , po
deria ſer pelo Santo Doutor deſte nome; e nas Se.
nhoras o de Serafina , Cherubina , Angelica , e Eu
genia ,
da Caſa Real Portug . Liv.Vl. 651
genia , moſtrað ou ſingularidade para diſtinguirſe,
ou a imitaçao do que ſignifica) , ou a devoçað a
alguns Santos, e Santas ; e tambem pode ſer , que
naſceſſem no dia , em que a Igreja celebra a memo
ria daquelles Santos , pois infelizmente ignoramos
os dias dos naſcimentos de muitos. Na Univerſi.
dade de Coimbra eſtudou D . Theotonio Humani
dades em companhia do Senhor D . Duarte , filho
delRey D . Joað III. e do Senhor D . Antonio , fic
lho do Infante D . Luiz , que depois com diverſa
fortuna morreo em Pariz appellidando-ſe Rey de
Portugal. Eſtudou Theologia em Burdeos , e Pa
riz ; é tendo feito progreſſos nos ſeus eſtudos , paſ.
fou a correr varias Cortes de Italia , e depois à de
Inglaterra , onde ſe achou incognito no anno de
1554 , quando naquella Corte ſe celebrara ) as vo.
das delRey D . Filippe II. de Caſtella com a Rai.
nha Maria de Inglaterra ; e tendo- ſe inſtruido nas
politicas do Mundo , com o que fez moſtrou , que
nao queria praticar mais, que nas do Ceo , em que
perſeverou toda a vida : ſoube as linguas Italiana ,
Ingleza , e com perfeiçao a Franceza , em tempo ,
que nað era tað commua como hoje em Portugal,
para onde voltou , e ſeguindo hum methodo de vi
da excellente , fervia de admiraçao o ſeu recolhi.
mento .
- Nosmais floridos annos da idade ſe achava D .
Theotonio , quando movido do exemplo dos Reli
gioſos da Companhia , que havia pouco ſe formara
em
(652 Hiſtoria Genealogica
TellesChron, da Com . em Roma no anno de 1540 , tomou a roupeta def.
panhia,
cap:37.
part. 1. liv.2. ta eſclarecida Familia , nað ſem contradiçaõ do Du
que ſeu irmao , que ſentio muito eſta reſoluçao .
Aqui perſeverou com grande exemplo dilatando o
ſeu coraçaõ nas delicias do eſpirito , e ſe mortifica.
va com tanta aſpereza, que aosmeſmos Padres cau .
ſava admiraçað , ſem que a prudencia dos Prelados
The pudeſſe pôr termo. Neſtes exercicios perſeverou
alguns annos , até que foy chamado a Roma por
ordem de Santo Ignacio , que com luz ſuperior co
nheceo , que a Divina Sabedoria pelos inexcrutaveis
ſegredos daſua Omnipotencia , ſe queria ſervir dels
le em outro eſtado , como o Santo lhe declarou , e
depois fez com tanta gloria lua. Aſſim ſe vio conf.
trangido a largar a roupeta com beneplacito del.
Rey , e do Duque ſeu irmao ; mas com grande
ſentimento ſeu , e da Companhia , a que ſempre con.
ſervou amor, e reſpeito deMãy , tendo com eſtes
Religioſos grande trato , e lhe fiou os negocios
mais arduos da ſua vida. Ordenado Sacerdote come
çou a luzir na ſua peſſoa hum recolhimento , e de
cencia de vida , e coſtumes , que eraõ abonadores
da ſua alma. Achava-ſe D . Theotonio com os de
ſejos de ſoccorrer aos pobres , mas com curtas ren
das; porque nao tinha mais Beneficios, que a The
ſouraria da Collegiada de Barcellos, e huma penſað
de mil e quinhentos cruzados , que ſeu primo fe
gundo ElRey D . Filippe lhe dera , e huma Igreja
por provimento do Duque ſeu irma) na Provincia
de
da Caſa Real Portug. Liv.Vl. 653
de Traz os Montes. Eſta occupou com tal exem
plo , e caridade , que pode ſervir de admiraçao ; e
ſe da ſua vida nos nað deixara outra memoria , eſta
ſómente baſtava para conſeguir huma univerſal ve
neraçao ; porque era para ver hum filho do Du
que de Bragança , ſobrinho delRey D . Joað , a :
quem os Reys tratava) com attençao , morar em
humas caſas tao humildes , que eraõ cubertas de
palhas , ſem adorno algum , pois todo o ſeu patri
monio diſpendia com osneceſſitados freguezes, edi.
ficando-os com o exemplo , e com a caridade, (que
he a Rainha das virtudes) e ainda mais quando di
latava o ſeu coraçao em profunda humildade. Eſta
Igreja renunciou D . Theotonio , e ſe foy viver a
Salamanca, aonde lhemandou as boas vindas a Ma.
dre Santa Thereſa , que entao eſtava em Segovia , e
com ella teve eſpecial trato. No Tomo das Cartas
da Santa , que ſe imprimio em 1661 , andað algu
mas para o Arcebiſpo ; e quando da ſua virtude nað
tiveramos tað irrefragaveis teſtemunhos , baſtava
para credito da ſua vida o reſpeito , com que a San
ta Madre o tratava. Dameſma forte com S .Car
los Borromeo , entao Arcebiſpo de Milao , com
quem teve muita familiaridade , e nao menos com
o Cardeal Gabriel Paleoto , Arcebiſpo de Bolonha,
e com o Santo D . Fr. Bartholomeu dos Martyres ,
Arcebiſpo de Braga ; e como era virtuoſo , toda a
ſua amiſade era com Santos. Deſta Cidade o tirou
ſeu tio o Cardeal Infante D . Henrique para ſeu
Coad
654 : Hiſtoria Genealogica :
Coadjutor , e futuro ſucceſſor no Arcebiſpado de
Evora , em que o confirmou o Papa com o titulo
de Biſpo de Fêz, de que ſe lhe expedirao as Bullas
a 28 de Junho de 1578. Com a perda delRey D .
Sebaſtiao , retrocedendo a linha Real dos noſſos
Reys , foy coroado o Cardeal em Rey , e fazen .
do ceſſaõ do Arcebiſpado de Evora em D . Theoto .
nio , ſem dilaçað ſe recolheo à ſua Dioceſi, e nella
foy recebido com demonſtrações de goſto , fazendo
a ſua publica entrada em 7 de Dezembro do referi
do anno . No ſeguinte convocou Cortes ElRey
D . Henrique em a Cidade de Lisboa , e o mandou
chamar a Evora. Neſte tempo lhe chegou o Pallio
de Roma, que tomou na Igreja do Carmo da mað
do Arcebiſpo de Lisboa D . Jorge de Almeida. Aca
bado o acto das Cortes, obteve permiſſao delRey
para ſe recolher à ſua Igreja , e em pouco tempo
começou a luzir o ſeu zelo , paſſando a reforma ao
auge da perfeiçao. Foy a ſua Caſa o exemplo da
modeſtia , e da pobreza ; nao parecia Palacio de
hum Principe , que era Arcebiſpo de Evora , fena)
caſa de hum muy pobre Parocho. Nað ſe via no
feu Palacio couſa alguma de ſeda , nem armações ;
as paredes eſtava) cubertas de huns panos ſem guar.
niçao , as cadeiras, e bofetes eraõ denogueira , cou.
fa muy ordinaria , nað havia prata , ſervia-ſe de ef
tanho , a ſua cama pobre, e de ordinario ſobre hum
eſtrado , ou em hum catre de nogueira , que pare.
ce reſervava para algumas occaſioens ; nað havia
mais ,
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 655
mais , que duas almofadas de veludo preto para
algum hoſpede de reſpeito , as do ſeu ſerviço erao
de pano preto , e cordova) ; uſava commummente
de baeta , e no campo çaragoça, ou eſtamanha par
da, mas tudo ſeu muy aceado , e com grande lim
peza : era tal a ſuamoderaçao , emodeftia , que ſe
refere em Memorias particulares , que tenho ſuas ,
mandadas do Moſteiro da Cartuxa de Evora , que
o Papa Clemente VIII . em huma occaſiaő moſo
trandolhe os ſeus criados hum peça de pano com
meſcla de huma cor alegre para veſtido de campo,
gavando-a , diſſera : Nao ficaria mal deſte pano hum
veltido ao Papa ; mas que diria D . Theotonio Arce
biſpo de Evora ? Taõ dilatada era a fama da ſua mo.
deſtia ! Nað havia oſtentaçao , que foſſe demonſ
tradora da grandeza de quem a occupava , ſenao
da ardente charidade , com que ſoccorria aos po .
bres. Toda a opulencia daquella grande Mitra
ſe diſtribuîa em ſagrados empregos, e em remedio
dos miſeraveis , ſó elle era o neceſſitado , pois ſó
para a ſua peſſoa tinha por perdido qualquer leve
gaſto .
No dito anno de 1579 padeceo a Provincia de ſua
Nicolao
vida.
Agoſtinho na
Alentejo huma fatal eſterilidade , de que ſe ſeguio “
huma geral fome em toda ella , e principalmente na
Cidade de Evora. Fora ) logo abertos os celleiros
do Arcebiſpo , e ſenhores delles os neceffitados , e
moſtrou a experiencia , que na grandeza do ſeu ani.
mo perigaria ) depois todos osmais ; porque de toa
Tom . V . Oooo
656 : Hiſtoria Genealogica
da a Provincia concorria ) mendigos ſem numero
às vozes da fama da generoſa caridade do Prelado ;
e aſſim ſe determinou , que ſe deſſe o paõ já coſido ;
repartia-ſe codos os dias , dando-ſe a cada hum pelo
numero da familia , que havia de manter. A eſte
caſtigo da Divina Juſtiça ſuccedeo outro , ſena ) ma.
yor , mais horroroſo , com que ella coſtuma moſtrar
aos Reynos o pouco , que ha de miſter para aca.
bar com os mais dilatados , e opulentos Imperios ,
pois he o mal da peſte hum ſummario periodo da
vida . Aqui ſe vio o valor , e o zelo do Prelado ,
nað fó como pay , (porque em tað funeſtos acci
dentes coſtuma) fogir os pays dos filhos) mas como
Santo . Vencia tudo a caridade , que obriga com
mais eſtreitos vinculos , que a natureza . Todos
eraõ nað ſó ſoccorridos com o preciſo ,mas regala
dos com o que appeteciao ; ſendo tað largas as def.
pezas, que empenhada a ſua prata , chegou a nao
ter hum caſtiçal , em que ſe lhe puzeſſe huma véla ,
e a metiao em huma laranja para ſe ter direita ; dei
xando neſte exemplo à vaidade dos vindouros hu
ma confuſao dos inuteis apparatos, com que ſe ſer:
vem alguns Prelados da Igreja Catholica .
Nað era no Arcebiſpo menor , que a genero .
ſidade do animo , o zelo , em que ardia da ſalvaçao
das almas , como bom Paſtor , diſtribuindo Paro .
chos , e Religioſos , que voluntariamente ſe offere
ciao a ſervir neſta virtuoſa empreza , ſendo tal a ſua
vigilancia , que acodia aos que viviao em quintas,
e ain
da Caja Real Portug. Liv.VI. 657
e ainda aos das Comarcas mais diſtantes , fem que
ao feu cuidado nada foſſe difficil ; porque todos o
achava) como Santo , e como Principe , com a peſo
ſoa , com o conſelho , e com a fazenda. Andava
pelas ruas, e praças publicas o Arcebiſpo animando,
e conſolando a todos com a ſua preſença ; grande
foy a edificaçaõ dos que ſervia) , mas ainda mayor
a gloria do Prelado , que com o exemplo os perſua
dia . Serenada eſta horroroſa tempeſtade, em que
acabaraõ tantas vidas , premiou com Beneficios , e
outros lugares aos Clerigos , que ſervira) com diſ
tinçað , ſendo preferidos osdemayores merecimen
tos no trabalho : quizerað os Eſmoleres dar contas
das largas deſpezas, que ſe tinhao feito , e nað as quiz
o prudente Prelado ver. Tal era o ſeu animo , e
tal o conceito , em que tinha as peſſoas, de que ſe
ſervia !
En quanto durou o mal, aſſiſtio no Convento
da Cartuxa , ſeguindo a vida Monaſtica , como ſe
a profeffara . Eile ſó lervia nos dias de Refeitorio
aosMonges , aſſiſtia aos doentes , fazialhes a cama,
varrialhes a cella , ajudava ao Sacriſtað em todo o
ſerviço da Igreja , e paſſando a mayores expreſſoens
da humildade, a ſeus proprios hombros carregava os
ladrilhos para a obra ; e como fazia mayor pezo do
que o Padre , que neſte humilde exercicio o acom .
panhava , o exhortava com galantaria de lhe dizer,
que elle levava mayor carga. Deſta forte foy a ſua
peſſoa vivo exemplar da humildade. Nelle ſe via
Tom . V . Oooo ii pra
658 Hiftoria Genealogica
praticada eſta virtude em grao heroico ; porque
em todo o tempo , e em toda a occaſia) reſplande
cia , ou foſſe em caſa , ou na rua. A ſua meſa quan
do eſtava na Cidade, era rodeada de doze pobres , a
quem elle ſervia , e adminiſtrava a comida , e de or
dinario mandava ſempre ao Hoſpital , ou aos Ca.
puchos huma iguaria . Em quanto eſtava à meſa
ouvia liçao eſpiritual. Depois de comer mandava
examinar os pobres da Doutrina Chriſtaa , e inſtru
illos nos principaes myfterios da Fé. Neſte tempo,
que eſtava na Cartuxa, lhe foy hum Religioſo de S.
Franciſco pedir licença para prégar , o qual pelo
coſtume de fallar com os ſeus Religioſos , chamou
inadvertidamente ao Arcebiſpo Padre , e corrido ,
emendou Senhor : 0 Arcebiſpo com graça lhe ref
pondeo : Padre nao vos retrateis , porque a dignida.
de, que tenho de Arcebiſpo , nað he por Senhor , he por
Padre.
Dentro do ſeu proprio Palacio havia Hoſpital
para enfermos , convertendo as alfayas magnificas ,
que inventou a vaidade para adornar os Palacios
dos Principes, e grandes Senhores, em o uſo dos ne
ceſſitados. Caminhava hum dia para o Convento
da Cartuxa montado em humamulla , que era o ap- -
paratoſo trem , de que ordinariamente uſava ; e ven
do hum enfermo muito mal tratado no caminho ,
ſe apeou , e o mandou pôr nella , e levar ao ſeu Hof
pital. Em outra occaſiao eſtando em Almeirim ,
nað tendo mais lançoes, que os da cama , mandou
tirar
da Caſa Real Portug. Liv .VI. 659
tirar hum para amorcalhar hum homem , que o frio,
ou amiſeria , fizera perecer à mingoa. Chegou a
deſcalçar os çapatos para os calçar a hum pobre.
Nað houve quem nað experimentaſſe os effeitos do
ſeu compadecido animo , nem deixaſſe de admirar
a ſua ardente caridade. Duvidava o ſeu Eſmoler
ſoccorrer a huma mulher honrada recolhida , mas
muy pobre , e tinha tres filhas, ſendo o motivo ,
porque quando hia ) à Miſſa as via com luvas. Nao
faltou quem o diſſeſſe ao Prelado ; e agradecendo
a advertencia , ordenou ao Eſmoler , que a viſitaſſe ,
por nao ſer o trato , que pedia a decencia das pel
ſoas , a que as privaſſe do beneficio da eſmola : ſuc
cedendo omeſmo neſte caſo , que ao grande Patri
n Vida de S . Joao Eſmo
archa de Alexandria S. Joa) Eſmoler , pois na ca ler , cap.6 . in Vitis Pao
ridade com o proximo parece nao excedeo ao Ar- trum , liv. 1. pag.182.
cebispo nenhum dos Prelados , que venera a Igreja
Catholica .
Eftimou muito o Eſtado Religioſo , ſendo as
Religioens reformadas as de ſeu mayor trato . No
Convento dos Capuchos de Valverde ( fabrica ſua )
aſſiſtia muitas vezes , mas com tal recolhimento ,
que nao fazia differença dos mais Religioſos , fe
guindo todos os actos da Communidade. Lavava
na coſinha a louça , e algumas vezes os pés aosRe
ligioſos , nað ſe eximindo de lhe ajudar a coſer os
habitos , e fazendo outros exercicios de verdadeira
humildade. Mas como nað ſeria defta forte entre
Religioſos Obſervantes , onde a virtude coſtuma
fer
660 Hiftoria Genealogica
ſer eſtimulo , e fiſcal do mais empedernido coraçao,
ſe em ſua caſa cinha osmeſmos exercicios, porque
no tempo da peſte ſe punha o Arcebiſpo D . Theo
tonio a fazer fios para os doentes , cozerlhe asman
tas, e os enchergoens? Naó teve magnificencia de
Prelado , em que foy moderado: loube uſar de vo .
luntaria pobreza ainda no trato da ſua peſſoa. Em
huma occaſia ) o buſcava hum Cidadao honrado de
Evora, e nao achando a quem dar recado , ſe foy
alargando pelas caſas dentro , a ver ſe encontrava
algum criado ; e quando menos o cuidava dá com
os olhos no Arcebiſpo , e o vê: occupado , coſen .
do huns calções groſleiros : corrido daquelle nao
imaginado encontro le foy retirando ſem dizer pa
lavra. Sentindo o Prelado gente , chamou , aco .
dio o homem , e lhe perguntou : Como ſe retirava
ſem lhe fallar ? Pois , Senhor , nao quereis ( lhe diz )
que me envergonhe de vos ver eſtar coſendo ! A
quem o Santo Prelado com roſto alegre reſpondeo :
Nunca ouvilles aquelle celebre adagio , remenda o teu
pano para te chegar ao anno ? Ijo , Senhor , he mui
to bom para mim ; mas para vós Principe por naſci
mento , e pela alta dignidade da Igreja , a quem a
gran teza da pejoa poz no Mundo na mayor gradua
çaõ da terra , nað póde ſer decente. Ao que o San
to Prelado reſpondeo eſtas palavras dignas de eter
na memoria : Em quanto me poſſo ſervir deltes, vou
poupando outros para os meus pobres. Oh exemplo
de Prelados ! Oh confuſao de animos ambicioſos !
Qual
da Caſa Real Portug. Liv. VI. 661
Qual ſerá a daquelles, que ſeguindo o nome de ſuc.
ceffores dos Apoſtolos na dignidade , devendo ſer
Meſtres do exemplo , e da doutrina , nao ſe lem
braõ da pobreza , parecendolhes , que as rendas das
Mitras fað heranças dos ſeusmayores ?
Sendo eſte virtuoſo Prelado tao pio , e eſmo.
ler , como temos viſto , nað foy menos magnifico
nas occaſioens publicas , em que devia obrar como
Principe , como ſe vio quando veyo a eſte Reyno
a Emperatriz D . Maria de Auſtria no anno de 1582
a viſitar a ſeu irmao ElRey D . Filippe II . que eſ.
tava em Lisboa , e trazendo huma luzida comitiva
de Senhores, e familia , a todos hoſpedou , e fez as
deſpezas no ſeu Arcebiſpado , o que lhe agradeceo
com notaveis expreſſoens o Cardeal Archiduque Al.
berto da parte delRey , e da ſua. No anno de 1583
recolhendo-ſe de Lisboa para Madrid o Prudente
Filippe , fez o caminho por Evora , ſomente por vi
ſitar ao Arcebiſpo , que o hoſpedou , e a toda a Cor
te com igual grandeza. Eſta foube ſempre conſer
var tendo nas Cortes eſtrangeiras Agentes ſeus, pa
ra ter noticia do que ſe paſſava , porque os interef
ſes da Republica nao lhe impedia ) os caminhos do
Ceo , nao faltando em parecer Principe quem ſó
mente cuidava em ſer Santo ; e aſſim foy taó deſin
terellado de todas as vaidades do Mundo , que ten
do na Curia a nomina de Cardeal por ElRey D .
Sebaſtiao , a quem a anticipada morte privou ao
Arcebiſpo deſta dignidade , nunca ſe lembrou de
fazer
662 Hiftoria Genealogica
fazer negociaçað alguma ſobre eſta materia , nem
ainda huma leve inſinuaçaõ a EIRey D . Henrique,
que ſuccedera no Throno , e menos a ElRey D .
Filippe , o que a ſua grande peſſoa pelo parenteſ
co com a Caſa Real , que reynava , poderia facili
tar. Porém como cuidaria em mayores dignidades
quem era tað humilde , que ordenou , que falecen
do fóra da Cidade de Evora , foſſem ſeus oſſos tral
ladados ſem mais apparato , do que póſtos ſobre
hum jumento dentro de hum ſaco , e levados ao lu
gar , que tinha deſtinado para ſua ſepultura ! Vivia
ta ) radicada no interior do feu coraçao a humilda.
de , que nada pode alterar a ſua paciencia , ainda
quando era ultrajado, eoffendido o reſpeito em deſ.
attenções ; pois chegou hum Conego (atrevida.
mente deſcomedido ) a offendello com palavras ,
faltando ao que devia como a Prelado , e como a
Principe , contra quem o atrevimento o fazia reo
de atroz culpa : porém o Arcebiſpo com o ſemblan .
te inalteravel , placido o coraçao , com alegre mo
do , o focegou , e abraçando-o o deſpedio , allaz cal
tigado , e confuſo deſte carinho . Eftimou muito os
ſeus Conegos, e coſtumava dizer delles , que como
foſſem caftos , tudo omais lhe ſofreria. Viſitava-os
nas ſuas enfermidades , e com osClerigos bem pro
cedidos , e de bons coſtumes tinha o meſmo cuida.
do , e osmandava viſitar em ſemelhantes occaſioens.
Achava-ſe em Evora doente hum Clerigo , que ti
nha ſido Prior deMuja , homem de vida exemplar;
por
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 663
por eſte motivo ſomente , elle meſmo o foy viſitar.
Aborreceo muito a hypocreſia , e veſtindo ſempre
honefto , e pobre , foy com muita limpeza , e gra
vidade ; ſuccedendolhe o meſmo , do que a S. Boa- .
ventura, que dizia ſer a limpeza exterior, ſignifica
çaõ do que no interior paſſava a alma. As fuas
mãos nunca virao mais dinheiro , que o que diſtri
buîa com os pobres. Deſpendeo grandes ſommas
em fabricas, de que ſe vem eternos teſtemunhos da
ſua piedade na Dioceſi de Evora . He obra ſua a
Cartuxa de Scala Cæli daquella Cidade , digna do
ſeu generoſo animo, a quem deve Portugal o co .
nhecimento deſta Religiao , que à cuſta da ſua di
ligencia , e deſpeza trouxe para elle , adonde ſeguin .
do a auſtéra vida Monaſtica , que lhe deixou o ſeu
Santo Patriarcha , ſe conſerva na perfeitiſſima ob
ſervancia do ſeu Inſtituto, e nella tem forecido Va.
roens inſignes em virtude . Neſta Caſa entrarao os
Monges a 15 de Dezembro do anno de 1598 , mu
dando-ſe do Paço de Evora , onde eſtivera ) com
grande edificaçao , até que ſe poz em termos o
Moſteiro de poder ſer habitado. Neſta obra gaf
tou o Arcebiſpo mais de cento e cincoenta mil cru
zados, eſtabeleceolhe rendas para a ſua ſubſiſtencia ,
provendo -o deprata , ricos ornamentos , e inſignes
Reliquias , entre ellas he hum pedaço do caſco da
cabeça de S . Bruno , que ſe guarda com grande ve
neraçao em hum corpo de prata . Ultimamente
deixou o Veneravel Arcebiſpo eſte Moſteiro por
Tom . V . Pppp hera
664 . Hiſtoria Genealogica
herdeiro de toda a ſua fazenda , para que ſe acabaf:
ſe na ultima perfeiçao , que elle tinha determinado.
Entre muitas alfayas ricas, lhe deixou huma ſelecta,
e para aquelle tempo numeroſa Livraria , nað ſó de
livros impreſſos das edições mais raras , em que ſe
acha) os primeiros Authores, que eſcreveraõ con.
tra os Hereſiarchas daquelles ſeculos ; mas muitos
manuſcricoś Gregos dos Santos Padres , de que al.
guns nao correm impreſſos , Arabigos , Synicos, e
de outras linguas Orientaes, emuitos Portuguezes.
Entre eſtes ſe conſerva ) as Obras delRey Ď . Du
arte , de que fizemos mençað no Livro III. Capi
tulo VII. pag. 491, e outros, de que nos temos va.
lido , e alguns dematerias differentes , os quaes depois
vinos no anno de 1736 quando fomos à Cidade de
Evora. O Padre Manoel Pimenta lhe fez o ſeguin .
te Epigramma:
Hactenus ignotas per te quod vector in oras,
Princeps , ingenii etmunus, opusque tui:
Adjicis egregiis quod templa inſignia natis :
Natorum , eo Patris , ſub lare vivit amor .
Quod veniente die , quod me fugiente requiris ,
Te Duce , Brunonem , noxque , diesque , Jonat:
Spiro quod auguſta cælatus imagine , mira
Hoc animi pietas, hoc tua dextra facit.
Multum aliis, Princeps, tribuis, mihi prodigus uni
Cum fis , fi jubeas folvere , parcus erit.
Не
da Caſa Real Portug. Liv.VI. 665
He eſte Moſteiro do Padroado da Sereniſſima Caſa
de Bragança , porque o Arcebiſpo , ſeu Fundador ,
renunciou o titulo , e Padroado nos Senhores deſta
Caſa , e o aceitou o Duque D . Theodoſio II. do
nome, na forma em que os Padres lho offerecera ,
por huma Carta patente do Geral , e Definidores,
juntos em Capitulo geral , a qual doaçao do Padroa.
do o Duque aceitou , mandando paſſar Carta de
aceitaçað. E porque todos eſtes papeis ſe perde
rað , o Prior, eMonges daquella Caſa querendo rá
tificar a doaçao do dito Padroado nameſma forma,
em que fora concedida, aos ſucceſſores da Sereniſſi
ma Caſa de Bragança , para conſervarem a Cartu .
xa de Scala Cæli na ſua Real protecçao , o repre.
fentarað à Mageftade do Senhor Rey D . Pedro II.
entao Adminiſtrador da peſſoa , e bensdo Principe
do Braſil ſeu filho , Duque de Bragança , o que acei.
tou em ſeu nome , por hum Inftrumento publico Prova num . 127.
feito em Lisboa a 17 de Fevereiro de 1701, pelo
Procurador do Eſtado da Sereniſſima Caſa André
Lopes de Oliveira , e o Padre Antonio de Santa
Anna , Procurador da Cartuxa de Evora. Foy
grande a devoçao , que o Arcebiſpo conſervou
ſempre ao ſagrado Inſtituto da Cartuxa ; o trato ,
e amiſade , que teve deſde os ſeus primeiros annos
com os Religioſos das Cartuxas de Pariz , Roma,
Colonia , e outras terras , aonde reſidio , e o quan
to reconhecia os ſeus merecimentos, como elle re
lata em huma Carta , que eſcreveo ao Papa Gre
· Tom . V . Pppp ii gorio
666 Hiſtoria Genealogica
gorio XIII. que porſer ſua lançarey neſte lugar, e
diz aſſim :
BEATISSIME PATER .
,,Religioni , & Monafticæ vitæ mancipatos
„, viros femper colui , & peculiari quodam amore
„ proſecucus ſum : fed præcipue eos , qui fanctiſſi.
„ mum Cartuſiani Ordinis Inſtitutum profitentur:
„ quod perſpectum , compertumque habeam , quan :
„, ta cura , ac ſolicitudine illam ſuam vivendi nor.
„ mam , Angelicæ ſimilem , & vere Divinam perpe
„, tuo conſervare , atque integram , & intactam re
w tinere ftudeant. Fuit enim mihi cum illis , jam
„, inde ab ineunte ætate , arcta quædam familiari
„ tas , atque conſuetudo , non folum in Hiſpaniâ , &
„ Galliâ , fed etiam apud Coloniam Agrippinam ,
„ necnon in ipſa omnium Religionum , virtutum
„ que altrice , Urbe Roma. Cum igitur apud illo .
„ rum Cænobia aſſidue verſarer , quamplurimos in
, ligni pietate , & virtute in eis viros cognovi, qui
w ob eximiam Religionis obſervantiam , egregiam
„ que vitæ , ac morum fanctitatem , omnibus ad
„ mirationi erant ; inter quos conveni Petrum Sar
„ dum magnæ Cartuſiæ Præfectum in ſummis Al.
„ pium jugis, virum incredibili abſtinentia , & hu
» militate præſtantem . Cumque aliquot annos Lu
„ tetiæ Pariſiorum commoratus, familiariſſimè eo
„ rum conſuetudine fruerer ; tanta me benevolen .
„, tia , ac potius pietate proſequuci, atque comple
„ Xi
da Caſa Real Portug. Liv .Vl. 667
„ xi funt , ut mihi intra fepta Monaſterii , atque in
ÉS
Tom . V . Rrrr
Rrrr CA
681
Debrie f .
CAPITULO XII.
CAPITULO XI
Da Senhora D . Foanna, Marqueza de
°Elche.
E eſta Princeza a ſegunda fie
RUP
THE
៨២ ។
IN D E X
DOS NOMES PROPRIOS, APPELLIDOS,
e couſas notaveis .
O numero denota a pagina .
rbe e a, Caque
ashediſcordias la dhavia entre o
a via entre
de (P.:D . JJoao
ApoBreu omes ddee )) PBif-
oao GGomes ſobreveyo a morie , 414 .
ic D .TheAffonſo , primeiro Duque de Bra.
po de Viſeu , aſſiſtio ao caſa gança , quem foraó ſeus pays , e
mento do Duque D . Fernando quando naſceo , 5 . Aonde ſe criou ,
11.415. Apura - ſe hum erro per e quem foy leu ayo . Ibid . Retu
tencente ao ſeu nome , e refere -se (a - ſe huma memoria , que por.
o anno em que foy legitimado hum poem o ſeu naſcimento , 3 . Por
filho feu. Ibid . quem foy armado Cavalleiro , e
D . Alfonſo III. e D . Alfonſo IV . quando foy legitimado, 9 . Quan
Reys de Portugal , zelaraó , e de do ſe acha noricia de que ſe inti
fenderaó muito os privilegios do tulou Conde. Ibid . Com quem ca
Couto da Cornelháa , 20. e leg. ſou a primeira vez , e com que do
D . Affonſo V . Rey de Portugal , que te , 9 , e ſeg. Em que anno acom
merces fez ao Senhor D . Affonio , panhou a Inglaterra a Senhora D .
37 , e ſeg. 62 , e ſeg. Declaraçao Brites ſua irmáa , 13. Que dili
iua acerca das precedencias dos Se gencias lhe commetteo ſeu pay pa
nhores no Reyno ,79 , e ſeg. Que ra a Conquiſta de Ceuta , 14. Foy
merce fez ao Duque D . Fernando, hum dos Capitáes da Armada , que
115. Carta notavel ſua , pela qual conquiſtou a dita Cidade, em cu
deu o governo de Ceuta 2o dito ja Praça fez acções dignas de lou .
Duque , 16. Que merces mais vor. ibid. Com que comitiva de
lhe fez , 118. Aceitou a offerta , terminou ir a Jeruſalem , cuja jora
que lhe fizerao alguns Fidalgos nada he incerta , 15 , e leg. Com
Caſtelhanos de o caſarem com a quem caſou ſegunda vez ; e que
Infante D . Iſabel , o que nao ap condições houve no contrato ma
provou o Duque de Bragança , trimonial , 17 , e ſeg . Foy Senhor
150 , e leg. Eltando perluadido do Couto da Cornelháa por con
a calar com a Princeza D . Joanna , trato , que fez com o Prelado , e
lho nao approvou o Duque Dom Cabido de Santiago , 18 , e ſego
Fernando , e porque , 165 , e leg . Mandandolhe ſeu pay propor hu .
Que merces fez ao Duque D . Fer ma expediçao , que queria fazer o
nando II. 417. Querendo ajuſtar Infante D .Henrique , reſpondeo em
huma
694 Index
huma notavel Carta , que ſe con partés foy dotado , 84. Que obras
pea , que nao convinha aceitarſe , fez, 85. Quando faleceo , aonde
22 , e ſeg. Acompanhou com os foy lepultado , e para onde tranſ
filhos , e Fidalgos da ſua Caſa o ferido o ſeu corpo , 86 , e ſeg. Em
corpo delRey ſeu pay , quando que forma ordenou o Eſcudo das
foy trasladado ao Moſteiro da Ba ſuas Armas , 88. Com quem , e
talha , 30. Nao approvando a ex . quantas vezes caſou , 89 , e 95.
pedicaó de Tanger , mandou a el . Que deſcendencia teve , 95 .
la ſeu filho. Ibid. ElRey D . Af- Affonſo Furtado de Mendoca , que
fonfo V . na ſua menoridade lhe deicendencia teve , 595 , e leg.
commetteo hum ampliſſimo po - D . Affonſo Nogueira , foy por Lm .
der para caſtigar as deſordens, que baixador a Caſtella para tratar hum
os noſſos faziaó em Galliza , 31 , caſamento , que ſe offerecco a Ele
e ſeg. Que principio foy o das Rey D . Affonſo V . 155.
diſcordias , que teve com o Infan - D. Alfonſo de Noronha, foy Apoſen
te D . Pedro , 34 , e ſeg. Quem tadormôr delRey D . Joao Ill. Go .
lhefufpendeo a reſoluçaó com que vernador de Ceuta , e Vice-Rey
queria acometer ao dito Infante , da India , 206 , com quem caſou,
36 . Eſte o encarregou de perſua e que defcendencia teve. Ibid , e
dir à Rainha D . Leonor , a que ſeg.
voltaſſe para o Reyno , 37. Quan : D . Affonſo de Noronha , quando par.
do foy feito Fronteiro môr de En tio para o Vice-Reynado da India,
tre Douro , e Minho. Ibid, Man e que lugares mais teve , 210 ,
Com quem caſou , e que defcens
Pedro ficaile com o governo do dencia teve , 211.
Reyno , 64. Por ordem Rcal fez Affonſo Peres Pantoja , com quem
huma ratificaçao de amizade com foy calado , e quando faleceo ,
o dito Infante , a qual foy mal 366.
cumprida pelo Senhor D . Áffon - Agentes. Tinha- os nas Cortes Eſtrani.
fo , 67. Infanie D . Pedro lhe g eiras o Senhor D . Theoconio ,
impedio a entrada , que elle quee 661.
ria fazer pelas ſuas terras , eoque Alafoens, quando foy erigida em
obrou , 68. Levou à Pia , e foy Ducado , 62.
padrinho do Principe D . Joao , 6 . Albuquerque ( Affonſo de ) com
Foy Regente do Reyno em quan. quem foy caſado , que filhos , e
to ElRey foy à conquiſta de Al lugares teve , 254 .
cacer Ceguer , 70 , e ſeg . O lu. Alcacer -Ceguer , quando , e por quem
gar da ſua reſidencia foy a Villa foy conquiſtado , 70.
de Chaves , aonde edificou hum Alcaforado ( Antonio ) por galantear
Palacio , 74. No de Barcellos col. huma Dama da Duqueza de Bra .
locou as columnas de alabaſtro , e gança foy morto por ordem do
marmore , que foraó de Callaben Duque D . Jayme , preſumindo
zala , 74 , e ſeg. Que Beetrias tee lhe offendia a ſua honra , 576 , e
ve, 76 . De que terras foy Senhor, ſeg.
77. Foy tanta a preeminencia da D . Alda Martins Carutelo , de quem
ſua Caſa , que elle precedia aos fi foy filha , e com quem caſou , 97.
lhos dos Infantes , 78 . De que D . Aldonça Rodrigues da Sylua, de
quem
das couſas notaveis. 695
quem foy filha , e com quem foy Alvaro Pires deCaſtro , que recado
caſada, 97. levou à Rainha D . Leonor , 37 .
Algezira ( OsPalacios de deu El Alvaro da Sylveira , com quem foy
Rey D . Joao I. a ſeu filho o Du- calado , e que filhos teve , 394 .
que D . Affonio , 15. Andrade ( D . Violante de) Condeſſa
Almada ( Joao Vaz de ) com quem de Linhares , com quem caſou ,
foy caſado , e que defcendencia 256 . Fernaó Alvares de Andrade,
teve , 639. Alguns Senhores del quelugares teve , e com quem foy
la Familia . Ibid . caſado , 257. Referemſe algumas
Almedina ( A Cidade de ) foy deſ. prerogativas deſta Familia . Ibid .
amparada pelos Mouros ſabendo Alvaro Peres de Andrade com
da conquiſta de Azamor , 524 .Por quem foy caſado , 258. Diogo
quem a mandou o Duque D . Jay de Paiva de Andrade de quem foy
me preſidiar, e a quem deu o go filho , e que irmãos teve. Ibid .
verno della. Ibid . D . Angelica de Bragança , de quem
Almeida ( D . Luiz de) de quem foy foy filha , e que eltado reve , 647.
filho , 022. D . Franciſco de Al. D . Anna Franciſca de Toledo e Caſ .
meida , que lugares teve , e de tro , de quem foy filha , e com
quem foy filho. Ibid . D . Pedro quem caſou , 299.
de Almeida por quem foy feito Ca• D . Anna Joaquiria de Mello e Caſ
pitaó de Baçaim , 624 . Como ſe tro , de quem toy filha , e com
apoderou da Villa de Balſar ,627 . quem calada , 364.
Almeida ( D . Franciſco de ) foy no- D . Anna Joaquina de Portugal , com
meado pelo Senhor D . Theotonio quem calou , e que filhos teve ,
( de quem era ſobrinho ) feu Telo 309.
tamenteiro , 677. D . Anna de Meriezes , de quem foy
Almeida ( D . Jorge de ) Arcebiſpo filha , que deſcendencia teve , é
de Lisboa , entregou o Pallio Ar- quando faleceo , 300.
chiepiſcopal ao Senhor D . Theo - D . Anna da Sylveira , com quem
tonio , 654 . foy caſada , e que filhos teve , 395.
Alonſo de Herrera , de quem foy fic D . Anna T hereza de Moſcoſo , quan
Tho , e de quem ogro , 196. do naſceo , calou , e com quem ,
D . Alvaro ( O Senhor ) rebateo a 357.
paixao , que ſeu irmao tomou del- Antao Martins Homem , quem foy ,
Rey ſobre a infracçao dos ſeus e com quem caſou , 208.
privilegios, pelo que fallou nova - Antonia da Encarnaçao ( A Madre
menie a ElRey , 434 , e ſeg. Soror) filha do Duque D . Jayme,
D . Alvaro Coutinho , de quem foy quando falecco , 603
filho , e que deſcendencia teve , Antonio Corte- Real de S. Payo , ſeu
304. caſamento , 307.
D . Alvaro Fernandes de Caſtro , Se- D . Antonio da Coſta , que lugares te
nhor de Fonie Arcada , de quem ve , e quando faleceo , 352. Seu
foy filho , com quem calou , e caſamento , e filhos. Ibid . e ſeg.
que filhos reve , 368. D . Antonio da Coſta Pimentel, com
D). Alvaro de Menezes , com quem quem caſou , e que filhos teve ,
foy caſado , e com quem eſteve 305 , e ſeg.
ao depois eſpoſado , 292. Santo Antonio de Ferreirim (O Mof
Tom . V . Ture teiro
696 • Index
teiro de ) por quem fundado , e Arcebiſpado de Braga. Carca , que o
com que grandeza dotado , 399. Infante D . Pedro eſcreveo ao Du.
Antonio Joſeph de Saldanha e Album que D . Affonſo ſobre a iſençaó
den
querque , quando naſceo , e com de huma terra delle , 65.
quem caſou , 357. D . Archangela Maria de Portugal,
D . Antonio de Lencaſtre , com quem de quem foy filha , e com quem
foy caſado , 357 . calou , 211.
Antonio Luiz de Tavora . Veja -ſe D . Archangela Maria de Portugal,
Tavora. feus pays, e caſamento , 216.
D . Antonio Maſcarenhas, com quem D . Archangela Maria de Portugal,
caſou , quando faleceo , e que fiz com quem foy caſada , e quando
lhos teve , 337. faleceo , 240.
D . Antonio Máſcarenhas da Coſta , Argote de Molina , enganou- ſe deſ.
quando , e com quem caſou , 340. crevendo a occupaçao de Covilhei
Quando faleceo , 341. ra , go.
Antonio de Mendoça , ſeu caſamen - Armas da Caſa de Bragança , por
to , e filhos , 389. quem foraó ordenadas , 88. Que
D . Antonio de Menezes , quem foy , motivo houve para ſerem muda
e que filhos teve , 272. das , e por quem , e que conti
D . Antonio Pereira , de quem foy nhao , 486 , elege
filho , e que empregos teve , 292, Ataide ( D , Roſa Leonarda de ) de
Fr. Antonio da Piedade. Veja- ſe D . quem he filha , e com quem ca•
Fernando de Menezes. lou , 228 , e ſeg. D . Maria de
Antonio Rodrigues da Coſta , he lou Ataide , ſeus pays, e caſamento ,
vado , 94. 251.
Antonio de Saldanha, de quem foy Athenienſes , que coſtume obſerva
filho , e com quem caſou , 353 , vao na impoſiçao dos nomes a ſeus
e ſeg. filhos , 650.
Antonio de Saldanba , quem foraó Aveiras (OsCondes de) com quem
ſeus pays, e que lugares occupou, caſaraó , e que deſcendencia tive
367. raó , 327 , e ſeg.
Antonio de Saldanha , quepóſtos oc- Aveiro. Veja- ſe Ducado de Aveiro.
cupou , e com quem cafou , 367. Avila ( D .Ignez de ) de quem foy
Antonio de Saldanha , Biſpo de Por filha , e com quem caſou , 277 .
talegre , e Guarda , de quem foy Ayala ( D . Aldonça de) de quem foy
filho , e quando faleceo , 359. filha , e o ſeu caſamento , 605.
Antonio Telles de Menezes , Conde D . Aldonça de Ayala , com quem
de Villa Pouca , que lugares teve, caſou , e que deſcendencia teve. Ib .
e que acções obrou , 321, e leg. Ayres de Saldanha, que lugares te
Quantas vezes , e com quem ca ve , e quando faleceo , 354 , com
ſou , 32 3. quem caſou , e que filhos teve ,
Antonio Telles de Menezes , com 354 , e ſeg.
quem , e quantas vezes foy cala- Ayres de Saldanha, Vice-Rey da In .
do , 327. dia , em que anno partio para a
Aragao . Porque razao meteo o Du quelle Eſtado , 353. Que lugares
que D . Jayme as Armas deſte Reye teve , e com quem calou . Ibid . e
no no ſeu Eſcudo , 650. 354 .
Ayres
das Couſas notaveis. 697
Ayres de Saldanha e Albuquerque, hum Panegyrico a ElRey D .Ma
quando naiceo , 356 . Que luga- noelna ſua Comedia Trofea , 528 .
res tem occupado. Ibid . e 357. Beavvolier de Courchant , Governa
Quando , e com quem caſou , e dor da Ilha de Bourbon , como re
que filhos tem tido , 357 , e ſeg. cebco nella ao Conde da Ericeira ,
Ayres Telles de Menezes , de quem 383
toy filho , e com quem caſou , Beetrias , quaes teve o Senhor D . Af
324 .
fonda
fonſo , 92648. Queme.foyIbiodemultimo
. Quem Ducao
Azamor. Quando ſe emprendeo a Senhor , que as teve. Ibidem .
conquiſta deſta Praça , 503, De Béja , quando foy erigida em Duca
que gente , e numero de Naos ſe do , e que Senhores o poſluiraó , e
compunha a Armada , 506, Em
que dia fe principiou a expugnar ,
gozaó , 56 , e leg . by Cote 3aCabo de Cala
Beſteiros do Monte da Caſa do Du.
517. Como foy rendida , e que que D . Jayme gozavao dosmel
mais le paſſou nette caſo , 522 , mos privilegios , que os da u
e ſeg. Como ſe feſtejou na Corte Real , 500.
a noticia da ſua conquiſta , 525. Bogio. O dente de hum , que idola
E o que ſe fez em Roma com a trava ElRey de Pegú , mandou
meſma nova , 527. O Duque D . queimar o Senhor D . Conftanti
Theodoſio I. fez pintar em Villa no , 633.
Viçoſa a conquiſta , e expugna- Botelho ( Alvaro Joreph ) filho pri
çao deſta Praça , 529 . mogenito dos Condes de S. Mi
Azevedo ( D . Joao de quem foy , pouces, com elbispo de buque D
guel , com quem he calado , 238.
com quem caſou , e que filhos te Braga ( Arcebiſpo de) teve gran
ve , 276 . des demandas com o Duque D .
Jayme, e que determinou o Papa
àcerca dellas , 551 , e ſeg. Veja
fe Arcebiſpado de Braga.
Bragança . Quando , e por quem foy
D Alfar , Villa da India , com que dada ao Duque D . Affonſo , 39.
B facilidade foy tomada, 627. Em que documento ſe faz mençaó
Banco de pinchar, que couſa he de que lhe folle dada com o titulo
na Armaria , e que ſignifica , 488 , de Ducado , 40. Veja-ſe Duca
Quem pode uſar delle , e que dife do de Bragança . Quando , e por
ferenças teve , 486 , e leg. quem foy elevada ao foro de Cie
Earcellos ( Ducado de) quando foy dade , 149.
creado , e a quem conferido , 53 , Bragança . Como ſe tratavaó , e afli
e ſeg. navaň os Senhores delta Caſa , e
Barcellos. No Palacio deſta Villa col que merces faziaó , 40 , e ſeguint,
locou o Senhor D . Affonſo as co Quando morria o Duque de Bra
lumnas , que tinhaó ſido de Cala gança , o ſeu ſucceſſor ſe nomea
benzalla , 75. A ſua Collegiada va logo com o meſmo Titulo , ſem
por quem foy fundada , 85. mais alguma ceremonia , 62. El
Barcellos. Como livrou o Duque D . Rey D . Affonſo V . lhe fez merce,
Jayme os ſeus moradores de hu que faltando varaó , luccedeſſe a
ma injurioſa ſervidao , 567. filha , para aſſim ſe perpetuar a
· Bartholomeu de Torres Navarro , fez Caſa na linha direita , 63. OsDuo
Tom . y . Tru ii ques
698 Index
- ques precediao aos filhos dos In - , 226 . D . Iria de Brito , Condella
fantes, cos filhos deſta Caſa , aine · da Feira , quem forao ſeus pays,
da que nao tivellem Titulo , a 10 291.
dos os mais Fidalgos , 78 , e ſeg.
Por permillao Regia conferiao os
Duques a Nobreza nos meſmos С
• graos, que ElRey , 571. Porque
razao punhaó os Senhores deſta D Abedo ( Jorge de ) e Vaſcon .
Caſa nomes pouco uſados neste u cellos , de quem foy filho , e
. Reyno ea ſeus filhos , m650 quando faleceo , 297. Com
D.D
D . Braz ue tin, occomo qquem
ragoldeeqCaſtro uem ffoyoy quem caſou , e que filhos teve. Ib.
caſado , e que filhos teve , 395 . e 298. ..
D . Braz de Caſtro , de quem toy fi. Cadaval ( A Villa de quando foy
. lho , 325. Que acções fez na In erigida em Ducado , 61.
dia , e com quem caſou , 324 , e Camera ( Joao Gonçalves da ) que
reg. gente levou à ſua culta , e com
D . Brites ( A Senhora ) de quem foy que apparato foy à conquiſta de
fiina , 187. Quando , e com quem Azamor , 510.
· caſou , 188. Que dote The fizeraó Caminha ( A Villa de ) quando foy
feus pays. Ibid . Que arrhas the erecta em Ducado , e quem pol.
fez o marido , e com que condie - ſuîo eſte Ticulo , 60 , e ſeg.
ções , 189. Acompanhou o mario Camiſi , Povoaçao forte de África ,
do indo governar Ceuta , 193. por quem foy faqueada , e coníu .
D . Brites Maſcarenhas , Condeia de mida , 200 , e ſeg. .
Palma , & c, com quein foy caſa . Capella do Duque de Bragança era
· da , 344. . ſemelhante à Real , e por quem
D . Brites de Menezes , Condeſſa de foy excellentemente ornada , 567,
Loulé , com quem caſou , 398. eleg.
· Que deſcendencia teve , 400, Aon- Capella ) môr do Senhor D . Affonſo,
de jaz. Ibid . quem foy , 67.
D . Brices de Menezes , Condeſa de Capellães do Duque D. Jayme ſe in
· Sabugal ,de quem foy filha , quan - lirulavaó os Monges de Serra de
• tas vezes , e com quem caſou , e Olla , 400 ,
que filhos teve, 342 , e ſeg. Cardeal. Foy nomeado por ElRey
D . Brites Pereira , com quem , e com D . Sebaſtiaó para elta dignidade o
que dote caſou , 9 , e ſeg. De Senhor D . Theotonio , 661.
· quem foy filha , 89. Aonde fale - Cardenas ( D . Bernardino de ) Mar
ceo , e jaz ſepultada , 04 , e tez quez de Elche , com quem , e quan .
. Que deſcendencia teve , 95 . A do caſou ,682. Quando faleceo ,
(ua Arvore , 97. 684. Que filhos , e deſcendencia
D . Brites de Vaſconcellos , de quem · teve , 685, e leg, A (ua Arvore ,
foy filha , 38 , com quem foy cao 691.
fada. Ibid . Cardenas ( D . Iſabel de) com quem
Brito ( Deíembargador Jeronymo calou ,685. D .Bernardino de Care
de ) com quem caſou , 367. D . denas quando naſceo , e que luga .
· Joſefa Gabriela de Brito , de quem res teve. Ibid. Com quem caſou ,
toy filha , e com quem calada , e que deſcendencia ieve , 685 , 0
leg.
das couſas notaveis. 699
seg. D . Jorge Manrique de Carde. — Qutra , que o Infante D . Pedro
nas com quem foy caſado , 686 . eſcreveo ao Duque D . Affonſo ſo
AlgunsSenhores deſta Familia, Ib . bre a iſençao de huma terra do Ar
e ſeg cebiſpado de Braga , 69.
Carlos V . Copea-ſe huma Carta ſua — Quira do dito Infante , em que
eſcrica ao Duque D . Jayme, 557. dá larga conta a ſeu fobrinho do
Carta delRey D . Affonio V . em que que lhe tinhaó feito os teus emu.
com melte hum ampliſſimo poder los , 120 , e leg.
ao Duque D . Affonſo para caſti - Outra , que o Arcebiſpo D .Theo
gar as deſordens , que osnoſſos fa tonio eſcreveo ao Pajia Gregorio
ziao em Galliza , 31 , e leg. Sill. em que louva muito a Reli
— do meſmo Rey , pela qual com . giaó da Cartuxa , 666.
metico a Regencia do Reyno ao Cartuxa ( Molteiro da ) de Evora ,
dito Duque , 71. por quem foy fundado , 663. Em
- Outra do meſmo Rey , em que que dia entraraó nelle os primei
deu com grande poder o governo ros Monges. Ibido Conſerva hu .
de Ceuta , ao Conde de Arrayolos, ma ſelecta Livraria , 664 . He do
15
DD.
MariananadeJoCaſtell
caſamento , 207.
. Marian sefaceo,e. coma,l350.
obranco eceo, Mello. Caſamentos, e ſucceſlao deal.
guns Fidalgos deſta Familia , 347,
D . Marianna Joſefa Caetana deCaſa e leg .
tro , quando naiceo , e com quem Mendoça ( D . Inigo de ) Marquez
caſou , 349. Quando falecco , de Santilhana , com quem foy ca•
350. ſado , e que deſcendencia ieve ,
D. Marianna Joſefa Joachina de 605 , 6691. Quando faleceo.Ibu
Men .
das couſas notaveis. 719
Mendoça ( D . Leonor de 220. foy caſado , e que deſcendencia tea
Mendoça . Veja - ſe D . Leonor de Men ve , 269 , e leg.
doça . Menezes ( D .Rodrigo de) ſeus em
Mendoça. Fidalgos
s deſtailFamilia ,e pregos , caſamento , e filhos , 289 .
zesgrandenobreza
Menaelua o Fidalgo a f,am594.
i.. Quan
Quan . D . Joſeph de Menezes, Conde de
do principiou eita Familia , 597 .Vianna , quando faleceo , e com
Alguns Fidalgos della , 605. quem foy caſado , 290.
Menezes ( D .Ignacia de ) de quem Menezes. Alguns Senhores antigos
foy filha , c com quem caſou , deſta Familia , 175.
218. Meſa do Arcebiſpo D . Theotonio
Menezes ( D . Joaó de ) Senhor de era affiſtida de doze pobres , aos
Cantanhede , de quem foy filho , quaes mandava examinar da Dou
e deſcendente , 272. Com quem trina Chriſtáa , 658.
caſou , e que filhos teve , 271 , e Miguel Carlos de Tavora , Conde
ſeg. D . Pedro de Menezes, reus de S. Vicente , ſeus lugares , caſa
caſamentos , e filhos, 274 , e ſeg mento , e lucceflaó , 223, e ſeg .
D . Antonio de Menezes com quem D . Miguel de Noronha , 209.
caſou , e que deſcendencia reve , D . Miguel de Noronta , Conde de
277. D . Pedro deMenczes , Con - Linhares , 211 , e leg. Foy feito
de de Cantai hede , ſeu caſamen . por ElRey Filippe IV . Marquez de
to , e morte , 277 , eleg. D . An Gijon , e Duque de Viſeu. Ibid .
tonio Luiz deMenezes , Marquez D . Miguel de Nuronba , Duque de
de Marialva , que póftos teve, e Linhares , teus lugares , e caſamen
de que terras foy Senhor , 278, 10 , 214 , e leg.
Empregos , e acçées ſuas milita- Miniftro. Que diſſe hum acerca da
res , 279 , e ſeg. Cuando faleceo, eleiçao , que ſe fez de D . Conſ.
e aonde jaz , 282 . Seu caſamento , tantino para Vice-Rey da India ,
e filhos. " Ibid . e 283. O Marquez 218.
D . Pedro quando naſceo , 285. Mombaça , e Pate , quando foraó
Que empregos teve , e quando madas aos Arabios , 363.
faleceo , 286 . Seu caſamento , e Monforte ( A Igreja da Villa de )
ſucceſlao . Ibid . A Marqueza D . foy concedida por ElRey D .Ma
Joach ina , quando naſceo , 286 , noel ao Duque D . Jayme , pa
e ſeg . Seu caſamento , e filhos , ra que a erigiſſe em Commenda,
287 . O Conde D . Pedro , ſeu naſ 522.
cimento , e alliança matrimonial , D . Môr Viegas , de quem foy filha ,
288 , e leg. e com quem calada, 97.
Menezes ( Ö. Pedro de ) de quem Moraes (Manoel de ) Sopico , ſeu
foy filho , 264 . Louva- ſe o ſeu caſamento , 395 .
valor , e acçoes , que fez , 265. Muley -Zeimao , Senhor da Praça de
Quando fa leceo , e com quem foy Azamor , a quem entregou o go
caſado. Ibid . Que filhos teve, 266 , verno della , 517.
c ſeg . D . Antonio de Menezes ,
que Eſtados teve , e quando fale
ceo , 267. Seu caſamento , e ſuc
ceſlao. Ibid. D . Pedro de Mene
zes , quantas vezes , é com quem
Tom . V . Yyyy Nobre
720 Index
lugares Ecclefiafticos ſe lhe offere
Ceraó , 198. D . Joaó de Noronha,
Capitao de Ceuta , quando faleceo,
204. D . Leonor de Noronha , que
N obreza , que graos tem , e por Obras compoz , e aonde jaz , 204 ,
IV quem foy' conferida além delo € 205. D . Affonſo de Noronha ,
Rey , a quem pertence privati fcuslugares, caſamento , e deſcen
vamente , 572. dencia , 206 , e ſeg. D .Miguel de
Noronha ( [ . Antonia de) ſeu caſa. Noronha , 209. D . Affonſo de
mento , 308. Noronha , 210 , e ſeg . D .Miguel
Noronha ( D . Antaó de ) ſeus pays , de Noronha , 211, e ſeg . D . Fer
acções, caſamento , emorte , 247, nando de Noronha , Duque de Li
e ſeg. D . André de Noronha , Biſ. nhares , ſeu caſamento , e deſcen
po de Portalegre , de quem foy dencia , 214. D .Miguel de Noro
Cu
filho , e que lugares teve , 249 , nha , 214 , e ſeg.
e leg. Quando faleceo , aonde jaz , Noronha ( D .Marcos de) Conde dos
e que Epitafio tem , 250. Que fic Arcos, leu caſamento , e deſcen
lhos teve. Ibid . dencia , 234. D . Affonſo de Noe
Noronha ( D . Antonio de Conde ronha , 235 . D . Rodrigo de No
de Linhares , que lugares teve , ronha , leu caſamento , e ſucceſ.
quando faleceo , e aonde jaz , 252. faó , 235 , e ſeg. O Conde D .
Com quem foy caſado , e que deſ Thomas , ſeus caſamentos , e der
cendencia teve. Ibid , e 25 3. D . cendencia , 237 , e ſeg. D , Mar
Ignacio de Noronha , ſeu caſa cos de Noronha , 238.
mento , 254 . O Conde D . Fran - Noronha ( D . Nuno de ) naó foy
ciſco , que lugares teve , quando provido em huma Igreja , por lhe
faleceo , e aonde jaz , 255. Seu nao querer diſpenſar o exame o
caſamento , e filhos , 256 , 258 , Arcebiſpo D . Theotonio , 673 .
eleg. D . Margarida de Noronha , D . Nuno Alvares de Noronba , que
que eſtado reve , e que Obras com - lugares teve, e com quem foy ca
poz , 262. O Conde D . Fernando, ſado , 204. Aonde jaz o ſeu cor
ſeus lugares , c caſamento , 263. po . Ibid .
Quando taleceo , aonde jaz , e D . Nuno Alvares Pereira ( O Con
que filhos teve , 263 , € 264. deltavel ) naó foy tronco da Caſa
Noronha ( D .Carlos de ) ſeus pays, de Bragança, 6. Quando foy fei
e empregos , 270. Com quem foy to Conde de Ourem , 93. Deque
caſado , e que filhos teve , 270 , terras foy Senhor , e de que virtu
e 271. D . Antonio de Noronha , des adornado. Ibid. Quando fales
ſeu caſamento , filhos , e morte , ceo , e aonde jaz , 94. Com quem
270 , e 271, foy caſado. Ibid . Que doaçaó fez
Noronha ( D . Diogo de ) Marquez a ſeu neto o Duque D . Fernando,
de Marialva , ſeus pays , calamen 103 , e ſeg .
to , e filhos , 287. D . Nuno Alvares Pereira , ſeu caſa
Noronha ( D .Diogo de ) com quem menio , filhos , emorte , 298.
foy caſado , e que deſcendencia D . Nuno Alvares de Portugal , ſeus
teve , 196 , e ſeg. D . Joao deNo pays , empregos , e falecimento ,
ronha , de quem foy filho , e que 330 , e ſeg,
Nuno
das couſas notaveis. 721
Nuno Freire de Andrade , quem foy, Paulo ( O Padre ) Confeſſor do Du.
203. que D . Fernando II. em que Obras
D , Nuno Maſcarenhas , que merces moſtrou a innocencia delte Prin
teve , com quem caſou , e que fi- cipe , 457 , e ſeg
Thos teve , 336 . D . Pedro ( O Infante ) foy Regente
D . Nuno Maſcarenhas , ſeus empre do Reyno , 31 , e leg. Que prin
gos, caſamento , filhos , emorte , cipio houve para as diſcordias , que
342 , e leg. teve com ſeu irmaó o Duque D .
Nuno Vaz de Caſtellobranco , ſeus lu Affonſo , 34. Tendo entregado a
gares , e luccellaó , 196. ElRey o governo do Reyno , e
mandandolhe , que continualle
com elle , o impugnou o dito Du.
que, 64. Quando ſoy deſpedido
delle , 67. ElRey lhe ordenou ,
Ratorio do Duque , he por tra que ſe reconciliaſſe com o Duque
diçao o nome dehuma Ermida, D . Afonſo , de que ſe fez huma
que o Duque D . Jaymemandou ratificaçao reciproca , que nao foy
fazer na cerca do Moiteiro dosRe verdadeira , 67. Que le ſeguio de
ligioſos , que formaó hoje a Pro impedir , que o Duque D . Affon
vincia da Piedade , 497, ſo entraſſe pelas ſuas terras com
Ordenaçao feita por ElRey D . Manoel gente armada , 68. Vendo a ſeu
nao tinha exercicio nas terras do ſobrinho empenhado a pacificar as
Eſtado de Bragança , 539 , e ſeg. diſcordias referidas , lhe elcreveo
Ordenaçao do Reyno, foy diſpenſada huma notavel Carta , que ſe tranſ.
para que o Duque de Bragança creve , 120 , e ſeg.
delle aos ſeus criados , em remu. Pedro Ceſar de Menezes , ſeus em
neraçao de o ſervirem , os officios pregos , caſamento , e filhos, 300,
das ſuas terras , 549 . Pedro Ceſar de Menezes , 303 .
Ouvidores das terras do Eſtado de D . Pedro de Menezes , primeiro Con
Bragança gozaó dos meſmos pri de de Cantanhede, com quem ca
vilegios, que os Corregedores das fou , 311.
Comarcas , 540. D . Pedro'de Menezes , primeiro Con
de de Villa Real , que lugares , e
deſcendencia teve , e quando fale
cco , 460,
D . Pedro de Menezes , terceiro Con
Acheco ( D . Joaó ) Duque de de de Villa Real , quando , e com
[ Eſcalona , com quem foy caſa quem caſou , 188 , e ſeg. Quan
do , e que aſcendencia , e del do , e por quem foy creado Mar
cendencia teve ,691. Quando fa quez damelma Villa , 190. Com
leceo, Ibid . que ceremonias ſe lhe conferio eſo
Palacio de Villa Viçoſa , em que an ta dignidade , 190 , e ſeg. Foy
no , e por quem foy edificado , tambem Conde de Ourem , e Sea
500 . nhor de muitas terras , que ſe re
Palma ( Condado de ) por quem foy ferem , 192. Que diſe ElRey
creado , ea quem conferido , 340, quando lhe conferio o governo de
e ſeg. Ccuta , no qual foy muito pru
Tom .V . Үyyyii dente ,
722 Index
dente , e valeroſo , e venceo a Gie Pobre. Refere- ſe o que ſuccedeo com
Iharé , Capitao dosMouros , 193 . hum ao Duque D . Jayme , 566 . :
Voltando para o Reyno acompa. Porpatane ( Cidade de ) por quem
nhou a ElRey D . Affonſo V . a foy queimada , 379. '
Caſtella , e qué obrou neſta occa- Porto Carrero ( Martim Fernandes )
fiaó , 193 ; e ſeg. Que acções ſeu caſamento , e deſcendencia ,
mais obrou na paz , e que merces 605.
lhe fez ElRey , 194 . ` De quem Portugal ( D . Maria de ) de quem
foy filho , 194 , e ſeg. Quando foy filha , e com quem caſada ,
faleceo , e aonde jaz , 195 . Que 269.
luto tomou ElRey pela ſua mor. Prior do Moſteiro de Noſſa Senhora
te. Ibid . Que deſcendencia teve , da Graça de Villa Viçoſa era no
195 , e ſeg. . meado pelo Duque D .Jaymc, 561.
D . Pedro de Menezes , terceiro Mar
quez de Villa Real , foy muito
erudito , e grande General , 203.
Com quem foy caſado, Ibid .
Q
D . Pedro de Noronha , ſeus pays , ca- Ueiros ( TriſtaoGuedes de) de
ſamento , e filhos , 251. fendeo a innocencia da Duque
D . Pedro Rodrigues Pereira , com za D . Leonor de Mendoça ,
quem foy caſado , e que deſcen 578. Quando faleceo . Ibid .
dencia teve , 97. Quinhones ( D . Thereſa de) Condel
Pereira ( D .Manoel ) filho primogco la deMelgar , de quem foy filha,
nito dos Condes da Feira , ſeu ca e com quem caſou , 691.
ſamento , e ſucceſlao , 291, D .
Diogo Forjaz Pereira . Ibid . D .
Joað Forjaz Pereira , que empre
gos teve, e quando faleceo , 293.
Com quem foy caſado , e que deſ. D Egente do Reyno foy o Du
cendencia teve , 294. A Condeſła K que D . Affonſo , 70 , e ſeg . E
D . Joanna Pereira , 294 , e ſeg. tambem em duas occaſioens o
o Conde D . Joao Forjaż Pereira , Duque D . Fernando I. 158 ,
295. O Conde D .Fernando Foro 168.
jaz Pereira quando falecco , e com Ribera ( D . Pedro Afan de ) primei
quem foy caſado , 296. Que fic ro Adiantado de Andaluzia , com
lhos teve fóra do Matrimonio , quem foy caſado , e que deſcen
296 . dencia teve , 605 .
Pereira. Alguns Fidalgos deſta Fami- Rio ( D . Brites do ) ſeus pays, caſa.
lia com quem caſaraó , 97. mento , e filhos, 2733
Perſia ( ElRey da mandou huma D . Rita Porefa da Cofta Freire , ſeu
Embaixada ao Conde da Ericeira , caſamento , e ſucceſlao , 235 , e
Vice-Rey da India , e o que ſe ſe ſeg.
guio della , 380. D . Rodrigo da Coſta , que logares te
Pimentel ( Đ . Manoel ) Conde da ve , e quando faleceo , 306 .
Feira , ſeus pays , e empregos , D . Rodrigo da Coſta , feu caſamen
294. Com quem foy calado , e to , 307.
que ſucceſlao deixou. Ibid , e ſeg. D . Rodrigo de Mello, primeiro Con
de
das couſas notaveis. 723
de de Olivença , com quem foy de Evora , por quem foy fundado,
caſado , e que deſcendencia teve, 671. .
· 639. Senhor de Fonte Arcada , de quem
D . Rodrigo de Mello , primeiro Mare era deſcendente , com quem foy
quez de Ferreira , 639. caſado , e que filhos teve , 368.
D . Rodrigo de Menezes , ſeu caſa - Sepulturas dos Duques de Bragan .
mento , 1966 ça , por quem foraó edificadas ,
D . Rodrigo de Noronha , ſeus pays , 561.
caſamento , e ſucceſlao , 288 , é Sepultura do Condeſtavel D . Nuno
310. Alvares Pereira foy reedificada
D . Rodrigo Telles de Menezes , que pelo Duque D . Jayme, 561.
lugares teve, e com quem caſou , Silva ( Ayres Gomes da ) ſeu caſa
320. Que filhos teve , e quando mento , e deſcendencia ,639. Joao
faleceo . Ibid . Gomes da Silva com quem foy
Rolim ( D . Franciſco ) de Moura , caſado , e quando faleceo, Ibid .
ſeu caſamento , e filhos, 268. Silva ( D . Joanna da ) ſeus pays , e
Ruy Furtado , com quem foy ca - caſamento , 266.
ſado , e que deſcendencia teve , Silva. Veja-ſe Joao da Silva Tello
595 . e Menezes , Conde de Aveiras,
Ruy da Grāa , foy o Juiz do procef- Silza ( D . Iſabel da ) Condella de
fo , que ſe formou contra o Due Alvor , de quem foy filha , e com
que de Bragança , 442. quem caſada , 230 , e 240.
Ruy de Mello , Conde de Olivença, Silva ( D .Marianna da ) ſeus pays,
foy Governador de Tanger , 198. e caſamento , 214 .
Ruy Telles de Menezes , feu caſa . Silveira ( D . Manoel Lobo da ) de
mento , filhos, e morte , 316 . quem ſoy filho , com quem caſou ,
Ruy Telles de Menezes , ſeus pays , e que deſcendencia teve , 241.
empregos , emorte , 329. Silveira ( D. Maria Joanna Viceg
cia da ) com quem foy caſada , e
quando fa lecco , 235.
Silveira ( D . Rodrigo Lobo da )
Conde de Sarzedas , ſeus lugares ,
PA ( D , Filippa de ) Condella de e caſamento , 238 , e ſeg. Que
I Linhares, de quem fov filha , e deſcendencia teve. Ibid. D . Miguel
com quem caſou , 263. Como da Silveira. Ibid , e 240. O Con
diſpoz da ſua fazenda , quando fa- . de D . Luiz da Silveira , ſeu naſci
leceo , e aonde jaz , 264. Que fi mento , empregos, emorte , 241,
lhos teve. Ibid . e ſeg. Com quem foy caſado , e
Saldanha ( D . Antonio da Sylva de que deſcendencia teve', 242. O
ſeus pays, e caſamento , 274. Conde D . Rodrigo da Silveira ,
Saldanha. Caſamentos , e deſcenden . e sda e
244 , e ſeg.
u lue da ) QQue
cia dealguns Fidalgos deſta Fami- Silzeira (qVaſco u vida ſe
lia , 353 , e leg. guio , e que lugares teve , 316 .
reita ( Vaſco da ) Que empre
Sebaſtiao Céſar de Menezes , que lu - Silzeira
· gares teve , quando faleceo , e aon - gos teve , e com quem caſou , 316 .
de jaz , 301. Aonde faleceo . Ibid .
Seminario de S . Mancio na Cidade Soeiro Mendes Petite , de quem foy
filho ,
724 Index .. .
filho , com quem caſou , e que nor de Tavora , ſeu caſamento , e
deſcendencia teve , 97. deſcendencia , 223 , 2233.
Souſa ( D . Anna de ) ſeus pays , c Tavora ( Franciſco de ) Conde de
caſamento , 268. Alvor, feu naſcimento , e empre
Souſa ( Duarte de ) aonde faleceo , gos , 229. Ccm quem foy caſa
. . . e com que grandeza ſe lhe fez o do , e quando faleceo. Ibid , e 230.
funeral, 616 . O Conde Bernardo de Tavora ,
Souſa ( Henrique de ) Tavares , pri- 230 , e leg. .
meiro Marquez de Arronches , Tavora ( D .Maria Joſefa de ) Con
com quem foy caſado , 220. della dos Arcos , ſeu caſamento ,
Souſa (Martim Affonio de ) depois morte , e deſceodencia , 234
de servir na Caſa de Bragança , T avora ( Miguel Carlos de ) Conde
paſlou para a Real, 469. de S. Vicente , que lugares teve ,
com quem foy calado , e que ſuc
cellaó teve , 223 , e ſeg. O Con
de Joao Alberto de Tavora , ſeu
naſcimento , e matrimonio , 225.
Anger. Tratando os Infantes da Quando faleceo. Ibid . 0 Conde
Conquiſta delta Praça , a nao ap Manoel Carlos de Tavora , 227 ,
provou o Duque D . Affonio , e ſeg. O Conde Miguel Carlos ,
mas mandou o Conde de Arrayo - (cu caſamento , e filhos , 228 , e
los ſeu filho , 30. Que le paſlou feg.
na expugnaçao della , 114 . Quem Telles ( D . Antonio ) de Menezes,
tomou ao depois poſſe della , e foy Conde de Villa Pouca , ſeus pays,
nomeado ſeu primeiro Governa- acções , e caſamento , 321, e ſeg.
dor , 178. Telles ( Manoel ) de Menezes , de
Tapada de Villa Viçoſa foy feita pe- quem foy fiho , e com quem ca
lo Duque D . Jayme , 559. lou , 314. Alguns Fidalgos deſta
Targa por quem foy ſaqueada , e Familia , 315 , e ſeg.
reduzida a cinzas , 200 . Telles ( Ruy de Moura ) que luga
Tavora ( Antonio Luiz de ) Conde res teve , com quem foy caſado ,
de Sarzedas, feu casamento , em - e que ſucceſſaó teve , 268.
pregos, e ſucceſſaó , 245. Terçarias , porque mocivo , e como
Tavora (Antonio Luiz de) Conde de ſe desfizeraó ,430 , 4436 . Quan
S . Joao , de que terras foy Senhor, do le concluiraó de todo , 438 .
com quem caſou , e quando fale- D . Theodoſio 1. Duque de Bragança,
ceo , 216 , e feg. Luiz Alvares de tez pintar em huma Sala do ſeu
Tavora , ſeu naſcimento , e em Palacio de Villa Viçoſa a Conquiſ
pregos , 217. Quando foy feito ta da Praça de Azamor , 529.
Marquez de Tavora , 218 . Seu D . Theotonio ( O Arcebiſpo ) aonde,
caſamento , deſcendencia , e mor e quando naſcco ,649. Aonde eſ•
te. Ibid . Antonio Luiz de Tavora , tudou as letras humanas, e Divi
quando naſceo , e que lugares leo nas, 651. Para ſe inftruir na po
ve , 219. Quando faleceo , com lirica , andou pelas principaes Cor
quem foy calado , e que ſucceſao tes de Europa. Ibid . Porque mo.
teve , 220. Luiz Bernardo de Ta a roupeta
e largouQue
tivo veſtio , ,652. da
vora , 222, A Marqueza D . Leo Companhia Beneficios
teve,
das couſas notaveis. 725
teve , e com que caridade ſatisfazia . do Reyno , 674 , e ſeg. Indo im
as obrigações de Parocho , 653. pedir o perdaó geral, que perten
Teve grande iraio com Santa The dia a gente de Nacao Hebrea , fa
rela , S. Carlos Borromeo , c ou leceo , eaonde , 675. O ſeu ca
tros Azottolicos Varvens. Ibid . ra &ter , 676 . Referemſe algumas
Quando foy fcito Coadjutor do clauſulas do ſeu teftamento , e
Arcebiſyo de Evora , 054 . Em quem foraó os ſeus Teſtamentei
que anno foy feiro Arcebispo del ros, Ibid. e 677. Que Obrascom
ta Metropoli. Ibid . Com que jo foz , c mandou imprimir , 678.
breza era guarnecido o ſeu Pala- Aonde jaz , e que Epitafio tem ,
cio , e adornada a ſua jeſioa , 654 , 678 , e ſeg.
e ſeg. Como remediou a elterilida- Iite ( A Cidade de ) foy deſampa
de , e ſe houve com os apeltados rada pelos Mouros , laber do que
da ſua Dioceſi , 655 , e ſeg . Com ſe tinha conquiſtado Azamor ,
que humildade affiftia noMoſtei. 524 .
ro da Cartuxa, 657. Dito galan. Tojal ( D .Ignacia do ) de quem foy
te (eu a hum Religioſo ,058. Cui- filha , 269.
dado com que mandava curar os Torres Noras ( A Villa de) quando
cofermos , e ſoccorrer os pobres , foy erecta em Ducado , e a quem
658 , e ſeg. Caſo celebre , que lhe ſe conferio , 59 .
fuccedeo com hum Cidadao Ebo. Torar ( C .Maria de ) Duqueza de
renle , 660. Com que grandeza Frias , feus pays , e caſamento ,
hoſpedou a Emperatriz D .Maria , 691,
ea ElRey Filippe II. 661. Pacien- Tronco da Caſa de Bragança foy El
cia com que tolerou as injurias , Rey D . Joaó I. 6 . e leg.
que lhe fez hum Conego , 662.
Viſitava os Coregos , e Clerigos de
bom procedimento , 663. Fun
dou o Moſteiro da Cartuxa , ao
qual deixou por herdeiro . Ibid. A Alverde ( Moſteiro de ) for
devoçaó , que tinha ao Inſijuto quem foy fundado , 659.
da Cartuxa , a publicou em huma Vaſco Fernandes Cejar , que lu
Caria eſcrita ao Papa Gregorio gares teve , com quem caſou , e
XIII, a qual ſe tranſcreve , 065 , quando faleceo , 300 .
c fcg. Que mais fundaçčes fez , D . Vaſco da Gama , que beneficio
671, Que diſc recolhendo -ſe de deveo ao Duque D . Jayme, e pa
viſitar o Arcebiſpado , 672. Que ra que fim lhe vendeo eſte duas
rectida ó , e promptidaó teve em Villas ſuas , 570.
adminiſtrar a Juſtiça. Ibid. Nao D . Vaſco Luiz Coutinho , ſeus em
quiz diſpenſar o exame , que ha pregos , caſamento , e filhos, 306 ,
via fazer D . Nuno de Noronha , e leg.
para ſer provido em hum .a Igre. Vaſco Martins Pimentel com quem
ja , 673. Que reſpondeo a Dom caſou , e que deſcendencia teve ,
Chriſtovao de Moura pedindolhe 97.
huma Coneſia . Ibid. Que dille Vega ( D . Leonor de la ſeu caſa .
delle ElRey Filippe II. quando ſe mento , e ſucceſlao , 605 , e 691.
hia oppor em Roma a huma Ley Velaſco ( D . Iſabel de) de quem foy
filha ,
726 Index das couſaſ notaveis.
filha , 605. Pedro Fernandes de Vitero ( P . Alonſo Peres de ſeus
Velaſco , Senhor de Medina , • says , calamento , e deſcendencia ,
quando faleceo. Ibid . Seu caſa 691. Quando faleceo. Ibid . :
mento , e de cercorcia. Ibid . D . Voto do Duque D . Fernando I. para
Iſabel de Velaſco , fous pays , e que E Rey D . Duarte nao dilataſ.
aſcenden tes , 691. te as primeiras Cortes , que con .
Viana. Os nor cores dela Villa , vccou , 109. He louvado outro
que fupplica fizeraó a ElRey D . voto feu acerca do relgate do In
Affonſo V . e como lhes ciflcrio , fanie D . Fernando , 114 . j
Untao ( Condado de ) quando foy
D . Vicencia ( A Senhora ) de quem creado , ca quem conferido , 31 .
foy filha , e que eſtado de vida te. Alguns Senhores, e Condes detta
ve , 601. Foy muitos annos Ab Cala com quem caſaraó , e que fic
ücheiro das
badelle do McBeiro Chagas de
das Chagas de los tiveraó , 314 , e leg.
Villa Viçoſa . Ibid . Quando fale - Urenta ( O .Conde de) porque cau :
cco , 602, Que demonſtrações fez fa fe refugiou em Cala do Duque
o Duque ſeu ſobrinho pelo ſenti. D . Jayne, e como foy tratado
mento da ſua morte , 602. Aon por elle , 501 , e leg . Porque mo
de jaz , e que Epitafio tem , 0938 rivo deſafiou ao dito Duque , c
Vicente Martins Curutello , leu cala - que lhe mandou eſte dizer , 587,
menio , e delcerdencia , 97. . e ſeg.
Vice-Rey da India , que poderes faó D . Urraca Fernandes , ſeus pays,
os ſeus , 619. caſamento , e deſcendencia , 97.
Villa Boim . Nella principiou huma D . Urraca Viegas , 97.
Caſa de Campo o Duque D . Jay
me , 559
Villagarut ( D . Brites de que occu
paçao teve , e de quem foy filha ,
595 . 7 Uniga ( D .Ignez de) de quem
Villa Pouca ( Conde de ) com quem toy filha , com quem caſou , e
caſou , 323. Referemſe algumas que filhos teve , 275 .
- acções ſuas ; e a deſcendencia , que Zuniga ( D .Maria Luiza de ) Mar
teve , 121 , e ſeg. c 323 , e leg. queza de Baides , com quem eſte.
Villa Real , quando foy creeta em ve ajuſtada para caſar , depois de
Ducado , 60 ficar viuva , 215 , 1216 .
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