A Atenção Básica em Saúde No Município de Três Rios: Uma Análise Da Gestão e Organização Do Sistema de Saúde
A Atenção Básica em Saúde No Município de Três Rios: Uma Análise Da Gestão e Organização Do Sistema de Saúde
A Atenção Básica em Saúde No Município de Três Rios: Uma Análise Da Gestão e Organização Do Sistema de Saúde
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Este trabalho finaliza um dos maiores desafios de minha vida profissional, mas
também o mais importante. Foi um momento de realização de um sonho de fazer
mestrado na ENSP, escola que sempre admirei e que achava inalcançável.
Em maio de 2009, após quatro meses de início do mestrado e no dia em que
entreguei meu trabalho de conclusão do curso de especialização em saúde pública,
recebi a grata surpresa de ser convocada no concurso do município de Três Rios, minha
cidade natal e objeto de meus estudos desde a graduação. Ao mesmo tempo em que
fiquei feliz, fiquei também muito preocupada. Como conciliar as aulas do mestrado que
tomavam cerca de 18 horas semanais com um emprego de 30 horas? Como deixar um
concurso no município em que nasci e onde sempre sonhei em levar contribuição por
meio de meu trabalho?
Quando me apresentei na secretaria de saúde tive uma maravilhosa recepção.
Naquela época, o subsecretário Rafael Martello, o secretário Romero Bandeira, e
principalmente, o subsecretário Luiz Alberto Barbosa (atual secretário de saúde),
aceitaram prontamente a minha condição. Apenas solicitaram que trabalhasse nos
horários que tinha disponível e assim foi até o final do mestrado. Apoio total para a
realização do estudo e liberação incondicional para todas as atividades do mestrado que
eu precisei. Não posso esquecer também a amiga Adriane, coordenadora de saúde bucal,
que sempre me ajudou tanto no trabalho, como nos estudos. E todos da secretaria de
saúde que contribuíram de alguma forma para facilitar a realização da pesquisa. Nunca
esquecerei essa ajuda dada pelos novos amigos de Três Rios, sem isso eu não
conseguiria chegar ao resultado do trabalho.
Foi um período muito difícil. Nos dois primeiros meses de trabalho, nas quartas
e sextas, saía da aula, viajava pra Três Rios e ia trabalhar à tarde na secretaria de saúde.
Um imenso desafio que achei que não seria capaz de enfrentar, e só consegui graças ao
apoio de meu pai que viajava toda semana comigo e minha mãe que cuidava de tudo pra
mim, pois não tinha tempo pra nada.
Seria maravilhoso se eu pudesse me dedicar exclusivamente ao mestrado, mas
não podia perder a oportunidade de emprego. Ainda bem que não perdi, pois aprendi
muito no trabalho que realizo. Consegui colocar muita coisa que tive conhecimento na
ENSP em prática na secretaria de saúde. Essa mistura de teoria e prática me rendeu
conhecimentos pra vida toda. Mas foi cansativo, pois depois de um dia inteiro de
trabalho, sentar pra estudar é muito difícil. Sinceramente, achei que não chegaria ao fim.
Mas tive total apoio de minha orientadora Doutora Cristiani Vieira Machado e
minha co-orientadora Doutora Marina Ferreira de Noronha. Agradeço muito toda a
dedicação e empenho para que o trabalho rendesse bons frutos. Cobravam muito de
mim, mas reconheço que só consegui chegar até aqui por causa da perseverança de
minhas orientadoras. Espero ter atendido suas expectativas! Agradeço também a
colaboração fundamental das Professoras Doutoras Roseni Pinheiro e Maria Helena
Mendonça. É uma honra tê-las em minha banca.
Durante o percurso de dois anos muita coisa boa aconteceu e uma das melhores
foi conhecer pessoas maravilhosas da turma de diversas partes do país e do mundo, o
que possibilitou crescimento pessoal e grande aprendizado. Nunca esquecerei de cada
amigo novo que fiz.
E meus amigos? Nem tenho o que dizer. Afinal foram praticamente dois anos de
ausência. Muitas vezes neguei convites, cancelei viagens e não estive em vários
momentos. Agradeço o apoio e peço desculpas pela distância, em especial à amiga de
infância Patty. Agradeço também à amiga Lu por tudo que fez pra me ajudar, além de
todo o apoio, permitiu que eu dividisse o pequeno apartamento em que morava durante
os seis meses que residi no Rio e todas as vezes que precisei ficar. Muito obrigada!
Nesse período ganhei o melhor presente de todos: minha sobrinha Isabel! Não
pude acompanhar como gostaria sua gestação, mas a todo momento esteve em meus
pensamentos e minhas orações. Agora é uma linda menina que cresce muito rápido e
que pretendo estar mais presente a cada dia. Agradeço aos meus irmãos e cunhadas pela
força que sempre me deram.
O que falar de Victor? Meu namorado, meu melhor amigo, meu amor... soube
levar tudo da melhor forma e me deu forças nos momentos mais difíceis. Todas as vezes
que pensava que não ia conseguir, ele estendia os braços e num abraço forte devolvia o
ânimo e a força pra continuar. Como sempre o tempo todo esteve do meu lado e estará
pro resto da vida!
Agradeço a Deus por tudo e por todas as pessoas que fazem parte da minha vida!
Obrigada a todos!
RESUMO
Este trabalho consiste em um estudo de caso sobre a política e a configuração da
Atenção Básica em Saúde de Três Rios, município de médio porte localizado na região
Centro Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. A metodologia se baseou nos
diferentes aportes da literatura de avaliação sobre Atenção Básica em Saúde,
principalmente em estudos de implementação da política e os que enfocam o papel e a
configuração da APS no sistema municipal de saúde. As principais categorias de análise
foram o contexto político institucional, a configuração e organização da Atenção
Básica, as condições de atendimento das Unidades de Saúde da Família e a articulação
entre os serviços de saúde. A pesquisa compreendeu uma diversidade de estratégias
metodológicas, tais como: realização de revisão bibliográfica; análise documental;
análise de dados primários e secundários; e realização de entrevistas com atores-chave.
No que concerne ao contexto político-institucional, constataram-se fragilidades
históricas na gestão pública municipal na saúde e a importância da indução da política
no período recente por outros atores, como o Ministério da Saúde, o Poder Judiciário e o
Ministério Público. A Atenção Básica do município está configurada principalmente
pela Estratégia de Saúde da Família, mas apresenta também as policlínicas como
importantes unidades de atendimento básico. As unidades de saúde da família
apresentam infraestrutura inadequada e equipamentos em más condições de uso. O
Núcleo de Apoio à Saúde da Família é uma estratégia inovadora, mas é recente e precisa
de adequações para atingir seus objetivos. A integração dos serviços de saúde do
município apresenta dificuldades, principalmente relacionadas à escassez de
mecanismos de coordenação e à limitada comunicação entre os profissionais dos
serviços. A Unidade de Pronto Atendimento apresenta capacidade de resolução limitada
dos problemas de saúde da população, atuando como intermediária de
encaminhamentos de pacientes para outros serviços da rede, de atenção básica ou
hospitalar. O município também apresenta um setor privado expressivo, particularmente
na área hospitalar. Identifica-se um modelo de atenção fortemente centrado no
atendimento médico individual. O trabalho permite concluir que houve avanços
importantes na condução e organização da política de saúde e de atenção básica no
período recente, mas é necessário maior investimento, principalmente na Estratégia de
Saúde da Família, por meio de unidades bem estruturadas e equipadas e da valorização
dos profissionais.
Palavras chaves: Atenção Primária à Saúde, avaliação em saúde, política de saúde,
sistema de saúde.
Abstract
This work consists of a case study into the Primary Health Care policy and set-up in
Três Rios, a mid-sized municipality located in the Mid-South region of Rio de Janeiro
state. The methodology was based on different contributions from evaluative literature
about Primary Health Care, especially studies into policy implementation and studies
focused on the role and configuration of Primary Health Care in the municipal health
system. The main categories of analysis were the institutional political context, the
configuration and organization of Primary Health Care, the care conditions at Family
Health Units and the coordination between health services. The research involved
various different methodological strategies, such as: literature review, documental
analysis, analysis of primary and secondary data, and interviews with key actors. As
regards the institutional-political context, public health management at the municipal
level was found to be historically fragile and, in recent years, policy has been
significantly induced by other actors, such as the Ministry of Health, the Judiciary and
the State Prosecution Service. Primary Health Care in the municipality consists mainly
of the Family Health Strategy, but also includes polyclinics as important basic health
care units. The family health units have inadequate infrastructure and equipment in poor
conditions. The Family Health Support Group is an innovative strategy, but still recent
and in need of adaptations in order to achieve its goals. There are difficulties concerning
the integration of the municipal health services, especially related to the lack of
coordination mechanisms and the limited communication between health service
professionals. The First Aid Unit has a limited capacity to resolve the population’s
health problems, acting in an intermediary role to refer patients to other basic health
care or hospital services in the system. The private sector also has significant presence
in the municipality, particularly with hospitals. A model focused strongly on individual
medical care can be identified. The study leads to the conclusion that important recent
advances have been achieved in the administration and organization of health policy and
primary health care, but heavier investment is required, especially in the Family Health
Strategy, to provide well-structured and equipped units and give more value to the
professionals.
Keywords: Primary Health Care, Health Policy, Health Systems, Health Evaluation
Studies.
SUMÁRIO
Quadro:
Quadro 2.1: Matriz de análise do estudo sobre Atenção Básica do município de Três
Rios/RJ. .................................................................................................................................. .43
Tabelas:
Tabela 3.1: Valor do Produto Interno Bruto total (em R$), do município de Três Rios,
Regional Centro-Sul e estado do Rio de Janeiro, 2006. ......................................................... .48
Tabela 3.2: Classes de rendimento nominal mensal domiciliar, Três Rios, Centro Sul,
Rio de Janeiro e Brasil, 2000. ................................................................................................. .49
Tabela 3.3: Grupos de instrução, Três Rios, Centro Sul, Rio de Janeiro e Brasil, 2000. ....... .50
Tabela 3.4: Taxa de analfabetismo em mairores de 15 anos por localidade, 2000. ............... .50
Tabela 3.5: Tipo de estabelecimento por esfera administrativa, Três Rios, 2010. ................. .53
Tabela 3.6: Distribuição (nº, %) de óbitos por capítulo da CID 10, Três Rios, 2006
2007. ....................................................................................................................................... .56
Tabela 3.7: Internações hospitalares por capítulo da CID 10 no SUS, Três Rios,
2006/2007 e 2008/2009. ......................................................................................................... .60
Tabela 3.8: Internações de residentes de Três Rios por categorias diagnósticas mais
freqüentes segundo a CID 10, 2006/2007. ............................................................................. .62
Tabela 3.9: Internações de residentes de Três Rios por categorias diagnósticas mais
freqüentes segundo a CID 10, 2008/2009. ............................................................................. .63
Tabela 3.10: Evolução dos recursos do PAB variável, segundo programas, entre 1998 e
2009, Três Rios/RJ (em R$ de 2009). .................................................................................... .70
Tabela 3.11: Despesas de saúde com recursos próprios de arrecadação municipal, 2005-
2009, Três Rios/RJ (R$ de 2009). .......................................................................................... .74
Tabela 3.12: Evolução das transferências financeiras federais por nível de atenção e
pagamento direto a prestadores, 1998-2006, Três Rios/RJ (R$ de 2009) .............................. .75
Tabela 4.1: Unidades implantadas e cobertura populacional por ano, 2000-2009, Três
Rios/RJ. .................................................................................................................................. .80
Tabela 4.2: Distribuição das demandas judiciais por medicamento (nº e valor pago em
reais), pelos meses de 2008 e 2009 em Três Rios. ................................................................. .85
Tabela 4.3: Consultas médicas das especialidades básicas e demais especialidades, Três
Rios, 2010. .............................................................................................................................. .89
Tabela 4.4: Consultas médicas por Unidade de Saúde da Família, Três Rios, 2010. ............ .90
Tabela 4.5: Número de consultas médicas por especialidade nas policlínicas, Três Rios,
2010. ....................................................................................................................................... .91
Tabela 4.6: Procedimentos de enfermagem realizados nas policlínicas, Três Rios, jan –
out 2010. ................................................................................................................................. .92
Tabela 4.7: Número de consultas odontológicas individuais por unidade, Três Rios,
2010. ....................................................................................................................................... .94
Tabela 4.8: Atendimentos realizados na Saúde da Mulher e Saúde da Criança por tipo,
Três Rios, 2010. ...................................................................................................................... .96
Tabela 4.9: Número de exames preventivos por unidade, Três Rios, jan – dez 2010. ........... .97
Tabela 4.10: Número de vacinas aplicadas por unidade, Três Rios, jan – out 2010. ............. .98
Tabela 4.11: Número de atendimentos do NASF, Três Rios, jan-nov, 2010. ........................ .101
Tabela 4.12: Ambientes componentes das Unidades de Saúde da Família, Três Rios,
2010. ....................................................................................................................................... .104
Tabela 4.13: Remuneração dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família por
função, salário base, aditivos e complementos, Três Rios, 2010. .......................................... .114
Tabela 4.14: Distribuição dos pacientes atendidos na UPA por bairro, Três Rios, jan-
nov 2010. ................................................................................................................................ .128
Gráficos:
Gráfico 3.1: Componentes da taxa de mortalidade infantil, Três Rios, 2006-2007. .............. .57
Gráfico 3.2: Proporção nascidos vivos por número de consultas pré-natal das mães, Três
Rios, 2006/2007. ..................................................................................................................... .58
Gráfico 3.3: Proporção de nascidos vivos por idade materna, Três Rios, 2006/2007. ........... .59
Gráfico 3.4: Percentual de recursos próprios aplicados em ações e serviços públicos de
saúde entre 2002 e 2008, Três Rios/RJ. ................................................................................. .65
Gráfico 3.5: Despesa total com saúde (em R$ per capita) sob a responsabilidade do
município, entre 2002 e 2008, Três Rios/RJ. ......................................................................... .66
Gráfico 3.6: Percentual da participação das transferências SUS no total da despesa com
saúde, entre 2002 e 2008, Três Rios/ RJ. ............................................................................... .67
Gráfico 3.7: Recursos de composição do PAB, entre 1998 e 2009, Três Rios/RJ (R$ de
2009). ...................................................................................................................................... .69
Gráfico 3.8: Composição do PAB variável, 1998 a 2009, Três Rios/RJ (R$ de 2009). ........ .72
Gráfico 3.9: Composição % do PAB variável, 2009, Três Rios/RJ. ...................................... .73
Gráfico 4.1: Distribuição das unidades de saúde da família por tipo de imóvel de
instalação, Três Rios, 2010. .................................................................................................... .103
Gráfico 4.2: Pacientes encaminhados pela UPA para internação, por unidades
hospitalares, Três Rios, jan-jul, 2010. .................................................................................... .126
Gráfico 4.3: Principais motivos de procura da UPA por não atendimento na ESF, Três
Rios, 2010. .............................................................................................................................. .127
Figuras:
Figura 3.1: Regiões e municípios do estado do Rio de Janeiro .............................................. .46
Figura 3.2: Pirâmide etária, Três Rios, 2009. ......................................................................... .47
Figura 3.3: Microrregiões de Saúde da região Centro-Sul Fluminense. ................................ .52
Figura 4.1: mapa das unidades de saúde, Três Rios, 2010. .................................................... .87
Figura 4.2: mapa da unidade de saúde da família da zona rural, Três Rios, 2010. ................ .88
Figura 4.3: Fluxo de atendimento dos pacientes nos serviços de saúde, Três Rios, 2010. .... .118
Figura 4.4: Fluxo de referência entre a UPA e as unidades municipais, Três Rios, 2010. .... .125
LISTA DE SIGLAS
AB – Atenção Básica
ACD – Atendente de Consultório Dentário
ACS – Agente Comunitário de Saúde
AIS – Ações Integradas de Saúde
APS – Atenção Primária à Saúde
BM – Banco Mundial
BVS – Biblioteca Virtual em Saúde
CAA/DAB - Coordenação de Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPs – Caixas de Aposentadoria e Pensões
CAPS _ Centro de Atenção Psicossocial
CEO – Centro de Especialidades Odontológicas
CIB – RJ Comissão Intergestores Bipartite do estado do Rio de Janeiro
CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONASP - Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária
DAB – Departamento de Atenção Básica
DAPS - Departamento de Administração e Planejamento em Saúde
DATASUS – Departamento de Informática do SUS
DMP/FM/USP - Departamento de Medicina Preventiva/Faculdade de
Medicina/Universidade de São Paulo
DNSP - Departamento Nacional de Saúde Pública
EC 29 – Emenda Constitucional n° 29
ELB - Estudos de Linhas de Base
ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
ESB – Equipe de Saúde Bucal
ESF – Estratégia de Saúde da Família
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FMS – Fundo Municipal de Saúde
FNS – Fundo Nacional de Saúde
GPAB – Gestão Plena da Atenção Básica
GPAB-A – Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada
GPSM – Gestão Plena do Sistema Municipal
GM – Gabinete Ministerial
IAPs - Institutos de Aposentadorias e Pensões
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
INAMPS - Instituto de Assistência Médica da Previdência Social
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas
MESP - Ministério da Educação e Saúde Pública
MTIC - Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
MS – Ministério da Saúde
NASF - Núcleos de Apoio à Saúde da Família
NOAS – Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB - Norma Operacional Básica do SUS
OMS – Organização Mundial da Saúde
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde
PAB – Piso da Atenção Básica
PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PAIS - Programa de Ações Integradas de Saúde
PAISC - Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança
PAISM - Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher
PDR - Plano Diretor de Regionalização
PHC - Primary Health Care
PIASS - Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento
PIB - Produto Interno Bruto
PNAB - Política Nacional da Atenção Básica
PREV-SAÚDE - Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde
PROESF - Projeto de Expansão e Consolidação da Saúde da Família
PSF – Programa Saúde da Família
REMUME – Relação Municipal de Medicamentos
RENAME - Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
SADT - Serviços de Apoio Diagnóstico e Terapêutico
SCIELO - Scientific Eletronic Library Online
SESDEC – Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil
SESP - Serviço Especial de Saúde Pública
SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica
SIH - Sistema de Informações Hospitalares
SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade
SINASC - Sistema de Informações de Nascidos Vivos
SIOPS - Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde
SMS – Secretaria Municipal de Saúde
SPC - Selective Primary Care
SUDS - Sistema Descentralizado e Unificado de Saúde
SUS – Sistema Único de Saúde
TCE – Tribunal de Contas do Estado
UPA – Unidade de Pronto Atendimento
USF - Unidade de Saúde da Família
15
APRESENTAÇÃO
II
De acordo com o IBGE, apenas 10,6% dos municípios do país possuem mais de 50.000 habitantes. Três Rios
está entre os 5,6% de municípios brasileiros com população de 50.000 a 100.000 habitantes, configurando-se
como uma cidade de médio porte populacional.
17
III
Vale destacar, por outro lado, que há autores que utilizam esse termo indistintamente e que, recentemente, o
próprio Ministério da Saúde passou a dar mais destaque à utilização de “Atenção Primária à Saúde”
(http://189.28.128.99/dab/noticia_caps.php).
20
As origens do debate sobre atenção primária nos sistemas de saúde remetem ao início
do século XX, momento em que alguns países como Estados Unidos e Inglaterra visavam
racionalizar o uso de recursos em saúde e oferecer ações mais abrangentes e de baixo custo.
Um marco dessa discussão é o relatório do Comitê Dawson que, em 1920, apresenta
proposições sobre a organização dos serviços de saúde. O relatório propunha uma organização
hierarquizada e regionalizada de serviços de acordo com níveis de complexidade e custos do
tratamento em primários e secundários, serviços domiciliares, serviços suplementares e
2,5
hospitais de ensino, com bases territoriais e população alvo . Este relatório influenciou a
organização dos sistemas de saúde no mundo inteiro, principalmente os sistemas universais.
Dos anos 1920 até os anos 1950 ocorreu amplo debate sobre a medicina preventiva,
numa crítica à medicina curativa de crescente custo voltada para cura das doenças. Leavell e
Clark sistematizaram os princípios da medicina preventiva em 1965 e desenvolveram o
modelo da história natural da doença com três níveis de prevenção: primária, secundária e
terciária. Este movimento propôs que a atenção à saúde considerasse as realidades sociais e
culturais, a partir de práticas próximas ao ambiente sociocultural dos indivíduos e famílias
para prevenção e controle do adoecimento, tendo influenciado propostas de atenção primária
em saúde a partir dos anos de 1960 2.
As idéias da medicina preventiva influenciaram a caracterização da atenção primária
como sendo um contato inicial próximo ao cotidiano dos indivíduos. O debate da atenção
primária surgiu como uma discussão da formação médica e só depois foi referido à
organização dos serviços de saúde e suas ações 5. Neste contexto, surgiu nos anos 1960, nos
Estados Unidos a Medicina Comunitária, quando conciliaram formação médica com a
assistência comunitária, em decorrência disso, aumentaram os debates sobre as desigualdades
no uso e distribuição dos recursos em saúde com ampla divulgação no âmbito internacional e
21
com grande repercussão entre países mais pobres resultando em fortalecimento de políticas
para desenvolvimento econômico e social 6.
Os anos 1970 foram marcados pela disseminação da idéia de atenção primária como
ações elementares que todos os serviços deveriam ofertar, tendo sido veiculada através da
institucionalização de programas de extensão de cobertura. Essa concepção de atenção
primária à saúde foi difundida por agências internacionais como a Organização Mundial da
Saúde (OMS)4.
A Conferência Internacional de Alma Ata realizada em 1978 pela OMS influenciou a
organização dos sistemas de saúde, uma vez que proporcionou intenso debate no sentido de
afirmar a saúde como um direito fundamental. Nesta conferência foi instituída a meta
internacional de “Saúde para Todos no Ano de 2000”, tendo os participantes da conferência
defendido a adoção da Atenção Primária em Saúde como estrutura fundamental em um
sistema de saúde. Os cuidados primários em saúde foram definidos como aqueles de alcance
universal dos indivíduos e famílias, com função central dentro do sistema de saúde, sendo o
primeiro nível de contato dos indivíduos e os serviços oferecidos de forma próxima da
comunidade 7.
Esta concepção abrangente teve contraposição de outros organismos internacionais
como a Fundação Rockefeller, que realizou em 1979 a Conferência de Bellagio e discutiu a
noção de atenção primária seletiva, considerada como um pacote de intervenção de baixo
custo e dirigida às principais doenças que acometiam populações de países em
desenvolvimento 8.
A tensão entre as duas concepções de atenção primária (Selective Primary Care e
Primary Health Care) persistiu nos anos 1980 e repercutiu nos anos 1990, tendo ocorrido uma
maior disseminação de programas seletivos de atenção primária com extensão de cobertura de
ações simples e de baixo custo. Em meio à crise econômica mundial do período, a concepção
restritiva foi apoiada por organismos de cooperação internacional como o Banco Mundial
(BM), que defendia a noção de “cestas básicas” de serviços de saúde, cabendo ao setor
público a provisão de ações essenciais de baixo custo e alto impacto junto para a população
pobre 6.
Em 2000 a OMS sugeriu que os Estados deveriam responsabilizar-se por ações
essenciais de alta qualidade para toda a população, em uma lógica designada como “novo
universalismo”9. Em 2005 a OMS afirmou que a atenção primária era a estratégia para
22
alcançar uma maior efetividade dos sistemas de saúde e firmar o compromisso assumido na
Declaração do Milênio em 2000 em reconhecer a saúde como um direito humano 10.
Com a publicação do relatório “Primary Health Care: now more than ever” 11, a OMS
reafirmou a importância da APS no cenário internacional depois de 30 anos da Declaração de
Alma Ata. O relatório trouxe uma análise do desenvolvimento alcançado pelos sistemas de
saúde e apontou que a Atenção Primária em Saúde podia enfrentar o desafio de um sistema de
saúde que respondesse rapidamente e melhor às demandas da sociedade e às expectativas das
pessoas. Para isso, defenderam uma reforma para a convergência entre os valores da atenção
primária e as expectativas dos cidadãos, pautada em quatro aspectos: “universal converage
reforms” – os sistemas de saúde contribuem para a equidade, justiça social e o fim da
exclusão, principalmente se baseados no acesso universal e proteção social; “service delivery
reforms” – reorganização dos serviços de saúde entorno das necessidades das pessoas; “public
policy reforms” – promoção da saúde das comunidades integrando ações de saúde pública
com a atenção primária; “leadership reforms” – para maior negociação e compartilhamento
das decisões dos gestores no sistema de saúde.
A partir da análise das experiências históricas e de discussões teóricas, alguns autores
procuraram sistematizar as concepções sobre a Atenção Primária à Saúde.
Baseado em uma revisão histórica, Vuori identifica quatro diferentes enfoques de
interpretação sobre a APS: “um grupo de atividades, um nível de atenção, uma estratégia para
organização dos serviços de saúde e uma filosofia que deve permear os sistemas de saúde”12.
A compreensão da atenção primária como um conjunto de atividades em geral engloba ações
como: educação em saúde; adequada alimentação; abastecimento de água e saneamento
básico; assistência materno-infantil; imunização; prevenção e controle de doenças endêmicas;
tratamento básico a problemas de saúde; fornecimento de medicamentos essenciais. O autor,
no entanto, considera essa abordagem muito limitada12.
Um segundo enfoque presente na literatura é a compreensão da atenção primária como
um nível de atenção do sistema de saúde, no qual os indivíduos têm o primeiro contato
quando apresentam um problema de saúde, ou seja, a APS vista como porta de entrada do
sistema. Esse enfoque, tal como o anterior, esteve presente na concepção de “cuidados
primários em saúde” da Conferência de Alma-Ata, que apresentava limitações12.
O terceiro enfoque, este mais abrangente, seria o da atenção primária como uma
estratégia para promover acessibilidade, de acordo com as necessidades da população, que
23
deve reorientar a organização e distribuição dos recursos entre os níveis de atenção. Nesse
sentido, segundo Vuori, a atenção primária deve funcionar de forma integral, baseada na
12
participação comunitária e na colaboração dos diferentes setores da sociedade . Para
concluir, o último enfoque é apresentado pelo autor como a essência do movimento da
atenção primária em saúde, pois só seria possível consolidar a atenção primária se o sistema
de saúde for caracterizado por igualdade, justiça social e solidariedade, baseado em uma
concepção ampla de saúde. 12
Starfield contestou o entendimento da APS como “um grupo de atividades” e
desenvolveu uma abordagem que caracteriza uma atenção primária abrangente. Nessa
concepção a APS pode ser compreendida como um nível de atenção que se relaciona com os
demais níveis, num sentido de organizar e racionalizar os recursos básicos e especializados
utilizados em todo o sistema de saúde. A APS seria o nível de atenção que oferece a entrada
no sistema para as novas necessidades e problemas, com uma abordagem voltada para o
usuário e não para a enfermidade, que proporciona prevenção, cura e reabilitação para
melhorar a saúde e aumentar o bem-estar. Seria também um tipo de atenção que lida com
problemas mais comuns e de forma contínua, com os profissionais mais próximos do contexto
dos usuários e capazes de avaliar melhor os múltiplos determinantes da doença e da saúde 13.
É importante também o argumento da autora de que a atenção primária possui quatro
atributos, sendo estes: “atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e
coordenação”. A atenção ao primeiro contato diz respeito à acessibilidade e ao uso do serviço,
ou seja, ter um serviço acessível e que reflita na sua utilização pelo usuário a cada novo
problema. A longitudinalidade é caracterizada como a regularidade de atenção do usuário ao
longo do tempo que deve receber o atendimento na unidade, e com fortes laços interpessoais
entre os profissionais e a população. A integralidadeIV é descrita no sentido de atenção
integral, de garantir que o paciente receba todos os tipos de serviços de atenção à saúde,
mesmo que fora da unidade, e também, da equipe enfrentar todos os tipos de problemas
apresentados pela população, sejam estes funcionais, orgânicos ou sociais. A coordenação é
caracterizada como integração do cuidado, que o paciente tenha continuidade de seu
tratamento, ou seja, um problema de saúde deve ser acompanhado durante os atendimentos
subseqüentes mesmo que tenha sido necessário fazer encaminhamentos 13.
IV
Observe-se que no Brasil, por vezes a expressão integralidade tem sido usada em uma perspectiva mais ampla,
abrangendo vários sentidos 14, 15, que podem incluir inclusive elementos relatados por Starfield em outros
atributos.
24
V
Existe uma vasta literatura nacional que descreve a história da política de saúde no Brasil 18,19,16,17. Porém, não
é objetivo deste trabalho aprofundar essa discussão, feita aqui de forma breve somente para situar a trajetória da
atenção básica em saúde. .
25
VI
Em 1923 foi aprovada a lei Eloy Chaves que instituía a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões
(CAPs). No governo de Getúlio Vargas foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) que
ampliou o papel das CAPs e formou o arcabouço da proteção social no país. Os IAPs passaram a contar com a
participação do Estado na administração, controle e financiamento e iniciou-se a construção do sistema público
de previdência social. Estavam excluídos os trabalhadores rurais, liberais e todos os que exerciam uma atividade
não reconhecida pelo Estado17.
26
saúde mais próximas da população. Já outra perspectiva trazia como proposta a ampliação da
cobertura da previdência social16, 20.
A última proposta se consolidou em 1966 com a unificação dos institutos
previdenciários no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), durante o regime
autoritário. Nessa época, houve grande crescimento da prática privada e empresarial da
medicina dentro da organização dos serviços de saúde da previdência social, que apresentou
crescimento da produção quantitativa de atos médicos e construção de grande número de
hospitais, laboratórios e serviços privados por meio de financiamento pelo setor público. O
Ministério da Saúde, por sua vez, continuava com práticas campanhistas fragmentadas 16, 21.
Nos anos 1970 algumas experiências da medicina comunitária foram desenvolvidas
pelas escolas médicas para atender comunidades urbanas e rurais em condições de vida
precárias, isso com apoio de organismos internacionais junto às secretarias estaduais e
municipais. Assim, a precariedade da assistência médica pública ficou evidente, o que trouxe
novas bases para o debate do modelo assistencial vigente, indicando a necessidade de uma
reforma nacional 2, 21.
Nesse contexto, entra em crise o modelo de assistência médica curativa centrada no
indivíduo, de acesso restrito e oneroso da Previdência Social, desenvolvido pelo Instituto de
Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) 2, 21. Essa crise do modelo de saúde foi
marcada pelo decréscimo nos recursos destinados ao setor e pelo aparecimento de
manifestações de protesto e insatisfação que acabaram induzindo a adoção de algumas
iniciativas opostas ao modelo hegemônico. Destaque-se nesse sentido o Programa de
Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), que buscava absorver as
orientações das proposições de atenção primária à saúde e de “Saúde para todos até o ano
2000” da OMS 15. Este programa foi financiado com recursos do Fundo de Apoio Social, que
eram destinados à construção de unidades básicas de saúde e implantação de serviços de
primeiro nível de atenção em municípios de pequeno porte, por meio de convênios entre o
Ministério da Saúde, a Previdência Social e as secretarias municipais de saúde 21.
Paralelamente, intensificaram-se os movimentos de crítica do modelo vigente e
tentativa de busca de alternativas pelo poder central. Em 1980, foi proposto o Programa
Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Prev-Saúde), para diminuir os efeitos da crise
previdenciária e tentar uma reforma do sistema nacional por meio da universalização dos
cuidados básicos de saúde, mas que não teve êxito por atingir interesses divergentes 2, 16, 21.
27
Como uma medida do governo federal de combater a crise foi criado o Conselho
Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP). O CONASP elaborou um
plano que continha um diagnóstico das distorções do sistema de saúde e uma proposta de
racionalização da atenção médica previdenciária baseada na orientação de organismos
internacionais como a OPAS e no conhecimento técnico produzido no país. Buscou-se
também romper com a tendência centralizadora das políticas de nível federal. A partir do
plano CONASP foi implementada a política de Ações Integradas de Saúde que visava
alcançar níveis de articulação institucional que viabilizassem ações mais eficientes e eficazes
16, 21
.
Com a implantação das Ações Integradas de Saúde (AIS), tomadas como estratégia em
1985, pretendia-se a organização de um primeiro nível de atenção com ações de caráter
preventivo e assistencial, que integrariam o sistema público de saúde e o sistema de saúde
previdenciário, e deveria prestar assistência a toda população independente de contribuição
para a Previdência Social 21. Além disso, as AIS criaram a infraestrutura de rede de cuidados
básicos de saúde essencial ao desenvolvimento posterior de políticas de universalização e
descentralização e impulsionaram os níveis subnacionais de governo como atores
fundamentais de um sistema de saúde descentralizado 16.
Neste período observou-se uma crescente tendência descentralizadora por meio de
iniciativas dos níveis subnacionais na formulação e implementação de programas sociais e
ações autônomas 16. Outros programas de atenção primária foram lançados paralelos às Ações
Integradas de Saúde, como o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e da
Criança (PAISC), que foram direcionados a grupos específicos como parte da estratégia de
consolidar a rede de atenção básica. Estes serviram como modelo para os demais programas
voltados a grupos de risco como: idoso, adolescente e portadores de doenças crônicas como
21
diabetes e hipertensão . Esses programas iniciaram uma ruptura com os princípios das
políticas do Ministério da Saúde de programas verticais, e passaram a incorporar diretrizes de
descentralização, regionalização, hierarquização dos serviços, além de equidade e
integralidade da atenção 2.
A 8ª Conferência Nacional de Saúde que aconteceu em 1986 é considerada um marco
no processo da reforma sanitária, na qual foram pactuados os princípios e diretrizes para a
reorganização do sistema de saúde brasileiro, que posteriormente viriam embasar o Sistema
Único de Saúde (SUS). Nesta conferência, a atenção básica não era questão central, os
28
esforços estavam voltados para uma proposta mais ampla que abrangia a atenção básica, mas
sem uma discussão objetiva sobre a reorientação do modelo de atenção. Houve maior
destaque para as questões relativas à universalização, descentralização e financiamento 2.
Em 1987, foi criado o Sistema Descentralizado e Unificado de Saúde (SUDS), com
grande incentivo do Governo Federal para os estados na implantação de políticas de saúde. O
SUDS tinha como objetivo principal contribuir para a construção de um sistema
descentralizado e de direção única 16, 20.
A proposta do Sistema Único de Saúde (SUS) afirmada na Constituição Brasileira de
1988 e nas leis da saúde de 1990 buscava transformar o padrão de organização dos serviços
de saúde do país, principalmente por ter como princípios a universalidade de acesso dos
cidadãos brasileiros aos serviços de saúde de todos os níveis, a descentralização de ações e
serviços para instâncias estaduais e municipais e a participação popular 20.
Os anos 1990 foram marcados pelo predomínio de uma agenda de reforma do Estado
de caráter restritivo à Administração e aos gastos públicos e pela reestruturação da economia
brasileira. Neste contexto adverso, ocorreu forte movimento dos atores do setor de saúde no
sentido de fazer valer as bases legais do SUS em contraposição às pressões por redução da
atuação do Estado 2.
A história do Programa de Saúde da Família tem como precursora a implantação do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde em 1991VII, que foi iniciado nas regiões Norte e
Nordeste e teve como objetivo central atender à demanda de redução da mortalidade infantil e
materna. O Ministério da Saúde institucionalizou as experiências de práticas com agentes
comunitários que já eram desenvolvidas de forma isolada em várias regiões do país. O PACS
pode ser considerado o antecessor do PSF, pois iniciou o enfoque na família como unidade de
ação programática de saúde e não somente o indivíduo; introduziu uma visão de atuação
voltada para a prevenção, constituindo-se como um instrumento real de reorganização da
demanda e inseriu a concepção de integração com a comunidade e um aspecto menos
reducionista da saúde 22.
Os agentes comunitários de saúde, frente às necessidades dessas regiões, ampliaram as
ações desenvolvidas, realizando cadastramento da população, diagnóstico comunitário,
identificação de áreas de risco, e ações de proteção da saúde da mulher e da criança. O PACS
VII
Observe-se que propostas anteriores como o PIASS, bem como propostas locais de alguns estados, já
envolviam a atuação de agentes comunitários de saúde.
29
VIII
Inicialmente foi concebido como um programa, mas no referencial oficial que se segue passou a ser
considerado uma estratégia de reorientação do modelo assistencial.
IX
Por meio da Portaria GM/MS nº 3.925 de 13 de novembro de 1998.
30
X
A Portaria GM/MS nº 1.444 de 28 de dezembro de 2000, estabelece incentivo financeiro para a reorganização
da atenção à saúde bucal prestada nos municípios por meio do Programa de Saúde da Família.
XI
Portaria GM/MS n° 648/GM de 28 de março de 2006.
31
Gráfico 1.1: Meta e evolução do número de equipes de saúde da família implantadas. Brasil
1994 – nov 2010.
A avaliação é uma atividade antiga, que faz parte do cotidiano das pessoas e é inerente
ao processo de aprendizagem. É um conceito muito amplo que não permite uma única
definição e que, na área da saúde, pode apresentar diversas perspectivas como: avaliação de
políticas, de sistemas, de programas e de serviços.
Os estudos avaliativos sobre Atenção Básica em Saúde têm sido influenciados pelas
distintas correntes. Para efeito deste trabalho, será feita uma breve revisão a partir da
produção de autores selecionados, situados nos diferentes enfoques, que oferecem
contribuições para a avaliação da Atenção Básica em Saúde.
26
Um enfoque importante é a avaliação de políticas públicas. Viana afirma que desde
os anos 1970 intensificou-se a produção de estudos realizados por cientistas políticos sobre os
caminhos das ações desenvolvidas pelos Estados, para analisar o funcionamento da “máquina
estatal”. A autora acrescenta que a preocupação deste campo teórico é conhecer as
características gerais dos sistemas políticos e as relações estabelecidas entre políticas públicas
e política, e entre governo e sociedade.
A análise de políticas pode ser definida como uma descrição das causas e
conseqüências das ações governamentais com a finalidade de entender a política e o processo
político, além de possibilitar melhorias na qualidade da política. Os estudos podem ter ênfases
distintas, enfocando: o conteúdo da política, o processo político, os resultados da política ou a
avaliação de impacto. Os estudos do conteúdo da política podem ser realizados para descrever
a origem e desenvolvimento de políticas específicas. Os estudos do processo político
focalizariam os diferentes fatores que influenciam o desenvolvimento da política. Já os
estudos de resultados da política estariam relacionados à análise dos motivos que explicam a
variação entre os gastos ou serviços de provisão de recursos entre diferentes áreas, servindo
para entender as políticas em termos sociais, econômicos, tecnológicos e outros fatores. A
avaliação teria em geral a finalidade de levantar o impacto que a política tem sobre a
população 27.
A análise de políticas públicas pode ser diferenciada da avaliação da política, cada
abordagem com distintos instrumentos e conclusões de diferentes naturezas. A avaliação da
política pode ser entendida como a análise dos critérios que fundamentam determinada
33
XII
Alguns autores apresentam contrapontos sobre essa perspectiva de avaliação.
35
melhoria e a caracterização dos pontos fracos e fortes na visão dos principais atores que serão
34
atingidos pela avaliação . Enfatiza-se também que a parceria e co-produção de
conhecimento entre pesquisadores e profissionais da saúde é que promove o aprendizado.
Seria uma concepção da avaliação concebida a partir do diálogo, na qual os avaliadores e
lideranças dos programas são co-responsáveis pela utilidade do conhecimento gerado 35.XIII
A pesquisa avaliativa pode apresentar limitações e a análise de implantação seria uma
forma de potencializar os resultados das avaliações. A análise de implantação consiste em
especificar o conjunto dos fatores que influenciam os resultados obtidos após a introdução de
uma intervenção, discriminando a contribuição dos componentes implantados do programa na
produção dos efeitos 36.
A avaliação seria uma forma de sistematizar e comparar os dados, sendo necessário
uma pergunta para orientar a transformação dos dados em informação e possibilitar a análise
37 XIV
. Cada vez mais a avaliação vem sendo considerada uma prática importante na saúde.
Destacam-se, no entanto, algumas limitações como: as dificuldades de operacionalização da
avaliação; o longo tempo que há geralmente entre coleta e análise de dados; e a associação
que ainda se faz da avaliação com a idéia de auditoria e acreditação 34.
Uma quarta perspectiva diz respeito à avaliação dos serviços de saúde. Um autor
importante nesse âmbito é Donabedian, cuja produção enfoca a avaliação de qualidade dos
serviços de saúde. O autor definiu três dimensões para avaliação de qualidadeXV que são:
estrutura, processo e resultado. Estes planos estão diretamente relacionados, ou seja, as
características estruturantes dos serviços podem influenciar o processo de atenção e interferir
nos seus resultados. A estrutura se refere às características mais estáveis dos serviços, o que
inclui os recursos humanos, financeiros e físicos, bem como o modo como os serviços são
organizados e financiados. A estrutura isoladamente é um plano limitado para a avaliação da
XIII
Os autores complementam ainda que para a realização de avaliações úteis é importante fazer um estudo de
avaliabilidade. O estudo da avaliabilidade compreende etapas que antecedem a avaliação, sendo facilitador do
processo avaliativo e fundamental para a racionalização dos recursos, necessitando que o avaliador tenha
conhecimento do contexto político e organizacional35.
XIV
Ressalta-se que vários autores diferenciam avaliação de monitoramento. O monitoramento pode ser
entendido como um processo rotineiro para acúmulo de informações por meio de observação sistemática e
registro das atividades que são desenvolvidas. Permite que as informações reunidas sejam utilizadas para tomada
de decisões em prol do aperfeiçoamento das ações 38.
XV
Donabedian 39 considera que definir qualidade no campo da saúde não é algo fácil, tendo em vista sua
abrangência e natureza dinâmica, além de ser uma definição revestida de interesses e valores sociais. Com isso,
para uma aproximação maior do conceito de qualidade, elenca sete atributos que definem a qualidade do cuidado
à saúde, os “sete pilares da qualidade”: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade
e equidade 40.
36
qualidade, pois pouco se sabe sobre a relação entre a estrutura e prestação de serviços. O
processo é o elenco de atividades que se desenvolvem entre os profissionais de saúde e os
pacientes. As medidas de processo tendem a ser menos estáveis e às vezes podem sugerir se o
cuidado à saúde foi proporcionado de forma adequada. Já o resultado é a mudança no estado
de saúde do paciente que a princípio pode ser atribuído aos cuidados de saúde recebidos. A
avaliação nesse plano deve considerar a complexidade da saúde, pois os resultados podem ser
influenciados por condições genéticas e ambientais, entre outras. A relação entre os três
planos é funcional e dinâmica e sua separação é um artifício metodológico 39.
Vale ressaltar que os vários enfoques descritos – análise e avaliação de políticas,
avaliação de sistemas de saúde, de programas e de serviços – não são excludentes e muitas
vezes contribuições de autores situados em diferentes perspectivas se expressam em um
mesmo estudo de avaliação da Atenção Básica em Saúde.
Na realidade, nos últimos anos no Brasil têm-se observado uma proliferação
importante de estudos sobre esse tema, vários deles financiados pelo Ministério da Saúde,
com uma grande diversidade de enfoques analíticos e abordagens metodológicas.
Houve grande esforço governamental a partir de 2000 no sentido de avaliar a Atenção
Básica à Saúde, com destaque para a criação neste ano da Coordenação de Investigação
dentro do Departamento de Atenção Básica (DAB), da Secretaria de Atenção à Saúde (que na
época era denominada Secretaria de Assistência à Saúde) do Ministério da Saúde. Esta
coordenação tinha a finalidade de formular e conduzir avaliações da Atenção Básica que
considerassem os planos da estrutura, processo e resultados 34.
Em 2003 a Coordenação de Investigação passou a denominar-se Coordenação de
Acompanhamento e Avaliação da Atenção Básica (CAA/DAB) com a finalidade de fortalecer
a avaliação como importante instrumento de gestão do SUS, disseminar os resultados dos
estudos realizados e favorecer a incorporação dos conhecimentos produzidos pelos atores
envolvidos com a política. Neste mesmo ano, após muitos debates, uma comissão específica
definiu diretrizes a Política Nacional de Avaliação da Atenção Básica à Saúde 34.
O Ministério da Saúde estimulou a institucionalização da avaliação da Atenção Básica
junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e financiou importantes pesquisas
acadêmicas sobre a Atenção Básica e o Programa de Saúde da Família. Ao menos 110 estudos
37
XVI
Almeida & Giovanella 30 classificaram os estudos em três grupos principais: “Estudos de Linha de Base do
Projeto de Expansão e Consolidação da Estratégia de Saúde da Família (PROESF)” , estudos de fomento à
pesquisa acadêmica e “Estudos de apoio à expansão do PSF”.
38
problemas como fato de a Estratégia de Saúde da Família não ter sido construída de fato em
co-gestão entre os entes federados e a ausência de metas para implantação progressiva de um
sistema de atenção básica em todo o país. Além disso, haveria evidências da impossibilidade
de os municípios isolados resolverem a política de pessoal para o SUS, não existindo uma
estratégia efetiva e parcerias consistentes para enfrentar o desafio de formação dos
profissionais e para superar os modos precários de contratação e de gestão de pessoal 45.
A partir dessa breve revisão conceitual e da consideração do contexto brasileiro, o
trabalho consistiu na realização de um estudo exploratório em um município, que considerou
diferentes aportes da literatura sobre avaliação da Atenção Básica em Saúde, com destaque
para os estudos de implementação da política e os que enfocam o papel e a configuração da
APS no sistema de saúde.
39
2 METODOLOGIA
XVII
Essa base de dados é resultado da pesquisa: “Avaliação Nacional das Comissões Intergestores Bipartite
(CIBs): as CIBs e os modelos de indução da regionalização no SUS” desenvolvida pelo Departamento de
Medicina Preventiva/Faculdade de Medicina/Universidade de São Paulo – DMP/FM/USP e Departamento de
41
Administração e Planejamento em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da FIOCRUZ
(DAPS/ENSP/FIOCRUZ).
XVIII
Todas as entrevistas foram realizadas com roteiro semi-estruturado (APÊNDICE A, B e C) e mediante a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE D).
42
XIX
No caso de Três Rios os coordenadores das Unidades de Saúde da Família são os enfermeiros das equipes.
XX
Os arquivos de áudio e os arquivos das entrevistas transcritas foram armazenados em computador de uso
restrito pela pesquisadora e protegido por senha; os dados permanecerão sob responsabilidade da pesquisadora
por cinco anos e serão destruídos após esse período.
43
Quadro 2.1: Matriz de análise do estudo sobre Atenção Básica do município de Três Rios/RJ.
FONTES
As terras da cidade de Três Rios, banhadas pelos rios Paraíba do Sul, Piabanha e
Paraibuna, constituíam a antiga Fazenda do Cantagalo. Esta fazenda tinha como principais
atividades o plantio de café e a criação de gado e era importante propriedade do interior do
estado, pertencente ao cidadão Antônio Barroso Pereira, o 1° Barão de Entre-Rios 50.
O desenvolvimento econômico iniciou-se através da cultura de café, e posteriormente
com agricultura de subsistência e pecuária de corte, que foi transformada em pecuária leiteira
51
.
Mais tarde, com a inauguração da Estação das Diligências da Companhia União
Indústria em 1861, a localidade de Entre Rios teve avanços enormes e tornou-se grande centro
comercial. Em 1867 foi implantada a Estrada de Ferro D. Pedro II que cruzava com a estrada
local em um importante entroncamento rodoferroviário em torno do qual toda a região se
desenvolveu 51.
Mesmo com todo o desenvolvimento ocorrido, Entre Rios só se tornou distrito do
município de Paraíba do Sul em 1890, após a Proclamação da República, juntamente com os
distritos de Mont Serrat, Areal e Bemposta. Em dezembro de 1938 o distrito de Entre Rios foi
emancipado de Paraíba do Sul, formando um novo município juntamente com Mont Serrat,
Areal e Bemposta. O topônimo de Entre Rios, que já pertencia a um município da Bahia, foi
mudado para Três Rios por determinação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em
dezembro de 1943 50, 51.
Em 1955 o povoado de Serraria foi elevado ao título de distrito, passando a integrar o
município de Três Rios. Mais tarde o distrito de Serraria recebeu o nome de Comendador
Levy Gasparian. Em 1993, os distritos de Comendador Levy Gasparian (composto pelo
46
distrito de Afonso Arinos, antigo Mont Serrat) e Areal foram emancipados. A partir de então
o município de Três Rios passou a ter a composição atual 51.
Três Rios pertence à região Centro-Sul Fluminense (figura 3.1), da qual também
fazem parte os municípios de Sapucaia, Comendador Levy Gasparian, Areal, Paraíba do Sul,
Paty do Alferes, Vassouras, Engenheiro Paulo de Frontin, Miguel Pereira e Mendes. Possui
área de 325 quilômetros quadrados 52 e compreende também o distrito de Bemposta.
A população total de Três Rios, segundo estimativa do IBGE, era de 76.070 habitantes
em 2009, da qual 96% residia em área urbana. O município apresentava densidade
populacional de 224 habitantes por quilômetro quadrado nesse ano.
A população estava distribuída por faixa etária e sexo conforme apresentado na figura
3.2.
Fonte: IBGE.
Tabela 3.1: Valor do Produto Interno Bruto total (em R$), do município de Três Rios,
Regional Centro-SulXXII e estado do Rio de Janeiro, 2006.
PIB total (R$)
Três Rios 891.085,33
Regional Centro Sul 2.800.077,90
Estado do Rio de Janeiro 275.362.725,50
Fonte: Base de Indicadores dos Colegiados de Gestão Regional. Pesquisa Avaliação Nacional
das Comissões Intergestores Bipartites (CIBs): As CIBs e os modelos de indução da
regionalização no SUS.
O PIB de Três Rios representa 30% do PIB total dos municípios que compõem o
Colegiado de Gestão Regional Centro Sul, ou seja, é um município relevante na economia
regional. Já a região do Centro Sul apresenta um PIB que corresponde a cerca de 10% do total
do Estado, sugerindo que a região não se destaca economicamente em relação a outras regiões
(tabela 3.1). O município apresenta o setor de serviços como o mais desenvolvido na
economia local, representando cerca de 74% do total do PIB.
O PIB é limitado para indicar condições sociais. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH)XXIII pode permitir uma avaliação das condições de desenvolvimento da
população por agregar dados de educação e expectativa de vida às informações econômicas.
XXI
Segundo IBGE 53 o Produto Interno Bruto dos Municípios baseia-se na distribuição do valor corrente de todos
os bens produzidos e serviços prestados dentro do município.
XXII
Corresponde ao conjunto de municípios que compõem o Colegiado de Gestão Regional Centro Sul. Segundo
o processo de regionalização recente, o estado foi dividido em dez regiões, nas quais existem os Colegiados de
Gestão Regional, instituídos pelo Pacto pela Saúde (portaria GM/MS nº 399) como instância de co-gestão no
espaço regional.
XXIII
IDH leva em conta a longevidade e a educação, além do PIB per capita corrigido pelo poder de compra da
moeda de cada país 54.
49
Tabela 3.2: Classes de rendimento nominal mensal domiciliar, Três Rios, Centro Sul, Rio de
Janeiro e Brasil, 2000.
Classes de rendimento Três % Centro % Rio de % Brasil %
nominal mensal Rios Sul Janeiro
domiciliar
Até 1/4 de s.m. 18 0 54 0 3.837 0 218.886 1
Mais de 1/4 a 1/2 s.m. 87 0 236 0 16.470 0 627.425 1
Mais de 1/2 a 1 s.m. 1.663 9 3.700 9 279.352 7 4.703.692 11
Mais de 1 a 2 s.m. 3.114 16 6.553 16 504.276 12 7.155.086 17
Mais de 2 a 3 s.m. 2.879 15 6.087 15 482.855 12 5.496.909 13
Mais de 3 a 5 s.m. 4.214 22 8.274 22 783.855 19 7.838.215 18
Mais de 5 a 10 s.m. 4.538 23 8.524 23 1.004.039 25 8.748.041 20
Mais de 10 a 15 s.m. 1.403 7 2.417 7 371.636 9 3.023.330 7
Mais de 15 a 20 s.m. 613 3 1.154 3 209.620 5 1.648.861 4
Mais de 20 a 30 s.m. 423 2 910 2 190.025 5 1.459.683 3
Mais de 30 s.m. 469 2 917 2 238.427 6 1.787.797 4
Total 19421 100 38826 100 4.084.392 100 42.707.925 100
Fonte: IBGE s.m.= salário mínimo
No ano de 2000, 40% população do município tinha renda mensal de até 3 salários
mínimos e 45% entre 3 e 10 salários, sendo a faixa de maior concentração de renda. A
distribuição percentual das famílias do município por rendimento refletia a realidade da região
Centro Sul Fluminense. Já o estado do Rio de Janeiro apresentou uma concentração maior nas
classes de maior rendimento em comparação com o município de Três Rios. Em relação ao
Brasil, o município apresentou menor proporção de famílias nas classes mais baixas e nas
classes mais elevadas, o que sugere um nível de desigualdade de renda menor do que o
observado no plano nacional (tabela 3.2).
As informações sobre o nível de instrução da população são apresentadas na tabela
3.3.
50
Tabela 3.3: Grupos de instrução, Três Rios, Centro Sul, Rio de Janeiro e Brasil, 2000.
Grupos de anos de Três % Centro % UF Rio de % Brasil %
estudo Rios Sul Janeiro
Sem instrução e 8.788 13 41466 15 1.556.712 12 25.951.324 17
menos de 1 ano
1 a 3 anos 11.731 18 51512 19 2.100.127 16 31.430.946 21
4 a 7 anos 21.973 33 90271 34 3.967.278 30 46.979.147 31
8 a 10 anos 11.149 17 40401 15 2.247.906 17 21.034.423 14
11 a 14 anos 10.228 16 37111 14 2.394.605 18 20.957.396 14
15 anos ou mais 1.730 3 7637 3 853.916 7 5.911.119 4
Total 65.599 100 268398 100 13.120.544 100 152.264.355 100
Fonte: IBGE.
Observa-se que em 2000 a maior parte da população do município tinha até sete anos
de estudo (64%), ou seja, o primeiro grau incompleto e a proporção maior estava no grupo de
4 a 7 anos (tabela 1.3). O município apresentou uma distribuição percentual da população nos
grupos de estudo próxima à da região Centro Sul, ao estado e ao Brasil, com pequenas
diferenças. Em relação ao estado do Rio de Janeiro, o município apresenta maior percentual
de pessoas com níveis mais baixos de escolaridade (até sete anos de estudo). Já em relação ao
país, o município possui número menor de pessoas até sete anos de estudo (tabela 3.3).
Já a taxa de analfabetismo em maiores de 15 anos no ano de 2000 era menor no
município de Três Rios do que na região Centro Sul, sendo bem próxima à taxa do estado do
Rio de Janeiro e menos elevada que a taxa nacional. (tabela 3.4).
XXIV
Segundo a NOAS 01/02 (2002) 56, documento que norteou a elaboração do referido Plano Diretor de
Regionalização, município pólo é aquele que é referência para outros municípios em qualquer nível de atenção.
XXV
Deliberação nº 92 de 10 de Agosto de 2001.
XXVI
Mais recentemente, essa divisão em duas microrregiões, definida em 2001, tem sido questionada pela
Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil.
52
Fonte: SESDEC
XXVII
O Pacto pela Saúde é regulamentado pela Portaria/GM nº 399, de 22 de Fevereiro de 2006, e compreende
três componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.
XXVIII
Deliberação CIB-RJ nº 895 de 15 de abril de 2010.
XXIX
Portaria GM/MS nº 1.084 de 11 de maio de 2010.
53
Tabela 3.5: Tipo de estabelecimento por esfera administrativa, Três Rios, 2010.
Tipo de Estabelecimento Estadual Municipal Privada Total
XXX
Posto de Saúde 0 21 0 21
Policlínica 0 2 3 5
Consultório Isolado 0 0 119 119
Clinica Especializada/Ambulatório 0 3 17 20
Especializado
Unidade de Serviço de Apoio de Diagnose e 0 1 11 12
Terapia
Unidade de Vigilância em Saúde 0 1 0 1
Pronto Socorro Geral 1 0 0 1
Centro de Atenção Psicossocial 0 2 0 2
Central de Regulação de Serviços de Saúde 1 0 0 1
Secretaria de Saúde 0 1 0 1
Hospital Geral 0 0 2 2
Hospital Especializado 0 0 1 1
Total 2 31 153 186
Fonte: CNES/DATASUS
XXX
Posto de Saúde é a denominação que o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde utiliza para
Unidades de Saúde da Família.
54
XXXI
Os estabelecimentos de gestão dupla ou estadual devem passar para responsabilidade do município após o
início do Pacto de Gestão. No momento da pesquisa, tal processo de transferência de responsabilidade de gestão
estava em andamento.
55
59
Em estudo realizado anteriormente , foram levantadas informações epidemiológicas
importantes para compreender as necessidades e o perfil de atendimento da população de Três
RiosXXXII na área de saúde.
O município apresentou uma taxa bruta de mortalidade de 8,4 óbitos por mil
habitantes nos anos de 2006 e 2007, que pode ser considerada relativamente elevada, pois em
2007 essa taxa era de 7,6 óbitos por mil habitantes no estado do Rio de Janeiro e de 6 óbitos
por mil habitantes no Brasil 60.
Ao analisar as causas de mortalidade da população geral (tabela 3.6), 13,7% foram
causas mal definidasXXXIII, valor mais elevado que o do conjunto do estado do Rio de Janeiro,
60
que apresentou 9,1% dos óbitos por causas mal definidas em 2007 . Do total dos óbitos
registrados, 16,3% ocorreram sem assistência médica. Isso sugere problema na identificação e
registro da causa básica que pode ser influenciado, principalmente, pela baixa assistência
médica no momento do óbito.
XXXII
O estudo analisou os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações de
Nascidos Vivos (SINASC) e Sistemas de Informações Hospitalares (SIH) dos anos de 2006 e 2007.
XXXIII
Causas mal definidas são classificadas no capítulo XVIII da Classificação Internacional de Doenças - CID
10, como “Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra
parte”
56
Tabela 3.6: Distribuição (nº, %) de óbitos por capítulo da CID 10, Três Rios, 2006-2007.
Capítulos da CID 10 Óbitos
Nº %
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 37 3,0
II. Neoplasias (tumores) 145 11,9
III. Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e 2 0,2
alguns transtornos imunitários
IV. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 95 7,8
V. Transtornos mentais e comportamentais 6 0,5
VI. Doenças do sistema nervoso 15 1,2
IX. Doenças do aparelho circulatório 354 29,0
X. Doenças do aparelho respiratório 109 8,9
XI. Doenças do aparelho digestivo 51 4,2
XII. Doenças da pele e do tecido celular subcutâneo 2 0,2
XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido 6 0,5
conjuntivo
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 38 3,1
XV. Gravidez, parto e puerpério 1 0,1
XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 71 5,8
XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias 7 0,6
cromossômicas
XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de exames 167 13,7
clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte
XX. Causas externas 116 9,5
Total 1222 100,0
Fonte: SIM
meio de ações preconizadas para a Atenção Básica. Esses dados podem sugerir a necessidade
de maior intervenção nesses problemas de saúde.
No mesmo período, a taxa de mortalidade infantil no município foi de 15,6 óbitos por
mil nascidos vivos, o que correspondeu nesses dois anos a 35 óbitos em menores de um ano
(gráfico 3.1).
vivos, e a do estado do Rio de Janeiro, que foi de 4,7 60. Ocorreram ainda 2 óbitos em crianças
entre um e cinco anos, que tiveram como causas neoplasias.
A proporção de nascidos vivos com baixo peso ao nascer (inferior a 2.500 gramas) foi
de cerca de 9% (194 casos), percentual próximo ao do estado do Rio de Janeiro e ao do Brasil
60
em 2007, com 9% e 8% respectivamente . Já a proporção de nascidos vivos com
prematuridade foi de 7%, sendo provável que boa parte dos casos com baixo peso tenha sido
de neonatos prematuros, o que pode sugerir baixo nível de desenvolvimento socioeconômico
e/ou baixa qualidade de assistência pré-natal.
A prematuridade e o baixo peso ao nascer são problemas que podem ser em parte
evitados pela assistência materno-infantil adequada, que deve ser realizada pelas equipes de
Atenção Básica, principalmente por meio das consultas de pré-natal. Assim, o número médio
de consultas de pré-natal a que as mulheres têm acesso é um importante indicador,
apresentado no gráfico 3.2.
Gráfico 3.2: Proporção nascidos vivos por número de consultas pré-natal das mães, Três Rios,
2006/2007.
Fonte: SINASC
mais consultas de pré-natal, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, mostrando que
possa haver problemas de capitação de gestantes em seu início de gravidez pelos serviços da
Atenção Básica do município (gráfico 3.2). Em comparação ao estado e ao país, a proporção
de 7 e mais consultas do município é menor, visto que o estado do Rio de Janeiro apresentou
63,8% e o Brasil 56,6% de nascidos vivos cujas mães tiveram 7 ou mais consultas em 2007 60.
A proporção de nascidos vivos por idade materna permite identificar qual faixa etária
das mães é predominante e se há ocorrência de gravidez na adolescência (gráfico 3.3).
Gráfico 3.3: Proporção de nascidos vivos por idade materna, Três Rios, 2006/2007.
Fonte: SINASC
Observou-se que a maior parte das mães tinha idade entre 20 e 29 anos, dentre as quais
a faixa etária predominante foi de 20 a 24 anos. Mães com idade acima dos 30 anos somaram
importante percentual, inclusive com um caso de mãe com 50 anos ou mais (gráfico 3.3). Um
dado relevante foi que mais de 20% das mães estavam na faixa etária de 10 a 19 anos de
idade, mostrando importante ocorrência de gravidez na adolescência. A alta freqüência de
gravidez precoce pode estar associada a baixas condições sociais e econômicas da população.
Esse dado também sugere a necessidade de ações de prevenção da gravidez precoce, que
podem ser realizadas por meio das atividades das equipes que atuam na Atenção Básica,
associadas a políticas sociais intersetoriais.
60
Esses dados sobre idade materna estão muito próximos aos da realidade do estado do
60
Rio de Janeiro e também do Brasil no ano de 2007 . A gravidez na adolescência pode ser
considerada um problema de âmbito nacional.
Ao comparar as causas de internação entre os residentes do município no período de
2006/2007 com as do período 2008/2009, algumas mudanças podem ser observadas (tabela
3.7).
Tabela 3.7: Internações hospitalares de residentes de Três Rios por capítulo da CID 10 no
SUS, 2006/2007 e 2008/2009.
Capítulos CID 10 2006/2007 2008/ 2009
Nº (%) Nº (%)
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 914 6,4 664 6,9
II. Neoplasias (tumores) 469 3,3 294 3,1
III. Doenças do sangue e dos órgãos 87 0,6 92 1,0
hematopoéticos e alguns transtornos imunitários
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 448 3,1 476 5,0
V. Transtornos mentais e comportamentais 2948 20,6 395 4,1
VI. Doenças do sistema nervoso 177 1,2 133 1,4
VII. Doenças do olho e anexos 98 0,7 73 0,8
VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 21 0,1 6 0,1
IX. Doenças do aparelho circulatório 1490 10,4 1305 13,6
X. Doenças do aparelho respiratório 1609 11,3 1237 12,9
XI. Doenças do aparelho digestivo 851 6,0 687 7,2
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 171 1,2 151 1,6
XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do 280 2,0 147 1,5
tecido conjuntivo
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 754 5,3 498 5,2
XV. Gravidez, parto e puerpério 2186 15,3 2005 21,0
XVI. Algumas afecções originadas no período 294 2,1 103 1,1
perinatal
XVII. Malformações congênitas, deformidades e 73 0,5 40 0,4
anomalias cromossômicas
XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de 71 0,5 61 0,6
exames clínicos e de laboratório, não classificados
em outra parte
XIX. Lesões enven e alg out conseq causas 942 6,6 783 8,2
externas
XX. Causas externas 0 0 8 0,1
XXI. Contatos com serviços de saúde 393 2,8 407 4,3
Total 14276 100,0 9565 100,0
Fonte: SIH
61
XXXIV
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira
que possibilita a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os CAPS são serviços de
saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário 61.
A Portaria n.º 336/GM de 19 de fevereiro de 2002 define: “Art. 4.2 - CAPS II – Serviço de atenção psicossocial
com capacidade operacional para atendimento em municípios com população entre 70.000 e 200.000 habitantes;
Art. 4.5 - CAPS ad II – Serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos
decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas, com capacidade operacional para atendimento em
municípios com população superior a 70.000.”
62
existirem diferenças importantes na ordem das principais causas de internação entre os dois
momentos.
Tabela 3.8: Internações de residentes de Três Rios por categorias diagnósticas mais freqüentes
segundo a CID 10, 2006/2007.
Categoria diagnóstica segundo CID 10 Número de Percentual
internações (%)
Parto único espontâneo 1.343 9,5
Esquizofrenia 995 7,0
Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de 928 6,5
álcool
Pneumonia 890 6,2
Hipertensão essencial (primária) 446 3,1
Diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumível 339 2,3
Insuficiência cardíaca 337 2,4
Parto único por cesariana 319 2,2
Infecções intestinais 263 1,8
Aborto não especificado 221 1,6
Outros transtornos do trato urinário 216 1,5
Outras categorias 7.979 55,9
Total 14.276 100,0
Fonte: SIH
Tabela 3.9: Internações de residentes de Três Rios por categorias diagnósticas mais freqüentes
segundo a CID 10, 2008/2009.
Categoria diagnóstica Número de Percentual
internações (%)
Parto único espontâneo 1256 13,1
Pneumonia 810 8,5
Outras complicações da gravidez e do parto 436 4,6
Outras doenças infecciosas intestinais 398 4,2
Hipertensão essencial (primária) 304 3,2
Insuficiência cardíaca 298 3,1
Diabetes mellitus 271 2,8
Fratura de outros ossos dos membros 262 2,7
Outras doenças do aparelho urinário 222 2,3
Pessoas em contato serviços de saúde por outras razões 192 2,0
Esquizofrenia 174 1,8
Outras categorias diagnósticas 5.116 53,4
Total 9.565 100,0
Fonte: SIH
A análise das internações no período de 2008 e 2009 mostra que as internações mais
freqüentes foram por parto único espontâneo, que aumentaram de 9,5% para 13,1% do total.
As internações por complicações da gravidez e aborto foram significativas, mas os partos
cesáreos não estiveram entre as causas mais freqüentes de internação. Nos anos de 2008 e
2009, apenas internações por esquizofrenia se destacaram no capítulo de transtornos mentais e
comportamentais, sendo que houve uma queda de 995 casos em 2006/2007 para 174 em
2008/2009. As internações por pneumonia continuaram importantes, assim como as
XXXV
A Portaria GM/MS Nº 221, DE 17 DE ABRIL DE 2008, publicou a Lista Brasileira de Internações por
Condições Sensíveis à Atenção Primária que estão listadas por grupos de causas de internações e diagnósticos,
de acordo com a Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
XXXVI
Ressalta-se que para a análise de causas evitáveis não foi feito nenhum tipo de controle.
64
Gráfico 3.4: Percentual de recursos próprios aplicados em ações e serviços públicos de saúde
entre 2002 e 2008, Três Rios/RJ
Fonte: SIOPS.
XXXVII
A Emenda Constitucional n° 29 estabeleceu em 2000 os recursos mínimos para o financiamento das ações e
serviços públicos de saúde oriundos das arrecadações fiscais de cada ente federado (art. 7º): [...] II – no caso dos
Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e
dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem
transferidas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do
66
pela EC 29 foi respeitada, porém houve no período um máximo de 16,39% de aplicação dos
recursos próprios em saúde. Além disso, nos anos de 2007 e 2008 identificou-se uma
diminuição do percentual das receitas aplicado em saúde (gráfico 3.4). Observa-se que o
município em geral aplica de sua arrecadação fiscal um valor próximo ao mínimo
estabelecido pela EC 29.
Em relação ao valor da despesa com saúde per capita por ano, houve aumento de 2002
a 2008, com momentos de queda entre 2002 e 2003 e entre 2007 e 2008 (gráfico 3.5).
Gráfico 3.5: Despesa total com saúde (em R$ per capita) sob a responsabilidade do município,
entre 2002 e 2008, Três Rios/RJ
Fonte: SIOPS
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) do IBGE.
Houve crescimento de 25% entre 2002 e 2008, com aumento de 20% entre 2006 e
2007, porém houve queda de 3% em 2008. Esse crescimento na despesa com saúde por
habitante pode ter ocorrido pelo aumento da arrecadação de impostos municipais, que elevou
a aplicação em saúde em termos de valores absolutos, ou pode ter decorrido de aumento do
montante das transferências provenientes de outras esferas de governo.
produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159,
inciso I, alínea b e § 3º. [...] § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais
inferiores aos fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de 2004,
reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a aplicação será de
pelo menos sete por cento.
67
Gráfico 3.6: Percentual da participação das transferências SUS no total da despesa com saúde,
entre 2002 e 2008, Três Rios/ RJ
Fonte: SIOPS
Infelizmente a gente não tem autonomia na gestão dos recursos. Agora outro
grande problema é o comando nas licitações. Eu acho que enquanto a
secretaria de saúde não tiver um sistema de licitação, eu acho que isso é um
fator complicador. (Gestor 1)
XXXVIII
O FMS foi criado por meio da lei 1195/97 e regulamentado pelo decreto municipal 2555/01.
XXXIX
O Piso da Atenção Básica foi instituído como forma de financiamento da Atenção Básica pela Norma
Operacional Básica (NOB) 01/96 e passou a ser implementado a partir de 1998. O PAB fixo consiste em um
valor transferido a todos os municípios que é calculado pela multiplicação de um valor per capita fixado pelo
Ministério da Saúde pela população do município. O PAB variável representa os recursos federais destinados ao
financiamento de estratégias nacionais de organização da Atenção Básica 65.
69
Gráfico 3.7: Recursos de composição do PAB, entre 1998 e 2009, Três Rios/RJ (R$ de 2009)
Fonte: FNS
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) do IBGE.
Os dados do município mostram que houve crescimento nos recursos do PAB de cerca
de seis vezes entre 1998 e 2009. O maior crescimento foi em relação ao PAB variável, que
teve um aumento de mais de 226 vezes, refletindo a adesão do município a programas
federais. O montante do PAB fixo teve variação menor, praticamente mantendo-se constante,
por ser calculado a partir de um valor per capita que só sofreu reajustes mais expressivos a
partir de 2003 (gráfico 3.7).
O aumento do PAB variávelXL se relaciona à expansão das estratégias adotadas para a
organização da Atenção Básica no município, por meio de programas como: Saúde da
Família, Agentes Comunitários de Saúde, Assistência Farmacêutica Básica, Combate às
Carências Nutricionais, Ações Básicas de Vigilância Sanitária, Saúde Bucal, Compensação de
Especificidades Regionais e Núcleo de Apoio à Saúde da Família. A seguir é apresentada a
composição dos vários programas em montante de recursos (tabela 3.10) e em termos de
participação percentual no PAB variável (gráfico 3.8).
XL
Para a realização desse estudo foram considerados como programas componentes do PAB variável:
Epidemiologia e Controle de Doenças, Farmácia Básica, Ações Básicas de Vigilância Sanitária, Ações de
Combate a Carência Nutricional, Saúde Bucal, Programa Agentes Comunitários de Saúde, Programa Saúde da
Família, Especificidades Regionais e Núcleo de Apoio à Saúde da Família.
70
Tabela 3.10: Evolução dos recursos do PAB variável, segundo programas, entre 1998 e 2009, Três Rios/RJ (em R$ de 2009)
Programas 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Programa
Saúde da - 13.580,99 589.956,79 764.954,56 1.105.205,56 1.251.662,63 1.243.269,08 1.344.318,07 1.439.220,90 1.508.367,88 1.488.990,54 1.606.400,00
Família
Agentes
Comunitários - 6.401,86 134.561,02 195.297,08 306.563,60 323.359,81 343.178,08 416.700,30 521.212,10 704.403,81 876.477,98 899.500,00
de Saúde
Programa de
Assistência
- 169.168,50 120.688,43 115.699,12 113.708,50 99.677,95 93.682,63 113.416,50 139.944,80 135.028,05 313.324,94 298.676,76
Farmacêutica
Básica
Programa de
combate às
- 20.165,87 75.355,51 70.530,87 65.035,28 - - - - - - -
carências
nutricionais
Ações básicas
de vigilância 16.874,03 32.240,88 30.172,22 28.924,73 28.427,08 24.919,54 23.530,15 22.090,77 34.668,47 8.745,61 - -
sanitária
Saúde Bucal - - - - 47.444,33 80.353,63 215.397,65 333.685,79 359.345,70 429.632,12 424.481,88 486.000,00
Compensação
de
- - - - - - - - - 16.201,24 137.976,09 202.769,40
Especificidades
Regionais
Núcleo de
Apoio à Saúde - - - - - - - - - - - 120.000,00
da Família
Total 16.874,03 241.558,10 950.733,96 1.175.406,35 1.666.384,35 1.779.973,57 1.919.057,59 2.230.211,42 2.494.391,98 1.294.010,83 3.241.251,43 3.613.346,16
Fonte: FNS
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) IBGE.
71
XLI
Os agentes comunitários de saúde iniciaram suas atividades junto com a implantação do Programa de Saúde
da Família, inseridos nas equipes, porém existe o incentivo financeiro separado destinado ao pagamento aos
agentes comunitários de saúde. Isso explica a diferenciação como “PACS” nos dados oficiais de financiamento
relativos ao município, apesar de não existirem agentes comunitários funcionando fora de equipes de saúde da
família.
72
Gráfico 3.8: Composição do PAB variável, 1998 a 2009, Três Rios/RJ (R$ de 2009)
Fonte: FNS
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) IBGE.
Fonte: FNS
Tabela 3.11: Despesas de saúde com recursos próprios de arrecadação municipal, 2005-2009,
Três Rios/RJ (R$ de 2009)
Ano Despesas de Despesas totais % Atenção
Atenção Básica (R$) Básica/ total
(R$) (%)
2005 427.463,70 5.190.621,27 8
2006 1.046.192,28 5.887.904,64 18
2007 978.200,07 5.803.303,53 17
2008 2.176.804,32 6.250.207,72 35
2009 3.251.010,00 7.818.537,15 42
Fonte: Demonstrativo de Despesas, Fundo Municipal de Saúde.
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) do IBGE.
Tabela 3.12: Evolução das transferências financeiras federais por nível de atenção e
pagamento direto a prestadores, 1998-2006, Três Rios/RJ (R$ de 2009)
Ano Transferências de Transferências Pagamentos diretos a Total
atenção básica de média e alta prestador
complexidade
R$ % R$ % R$ % R$
1998 922.447,57 10 0 0 8.540.924,00 90 9.463.371,57
1999 1.483.337,14 14 0 0 9.355.281,77 86 10.838.618,91
2000 2.425.211,47 20 0 0 9.844.748,82 80 12.269.960,29
2001 2.853.059,07 22 0 0 10.086.107,70 78 12.939.166,77
2002 3.246.558,27 23 0 0 10.821.699,70 77 14.068.257,97
2003 3.273.469,40 24 0 0 10.573.557,45 76 13.847.026,85
2004 3.346.498,40 23 89.392,26 1 11.241.916,78 77 14.677.807,44
2005 3.579.966,78 24 91.150,98 1 11.238.928,34 75 14.910.046,10
2006 3.744.326,20 25 116.222,72 1 11.326.650,01 75 15.187.198,93
Total 24.874.874,31 21 296.765,96 0 93.029.814,57 79 118.201.454,84
Fonte: DATASUSXLII
Nota: Valores ajustados para R$ de dezembro de 2009, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) do IBGE.
XLII
A fonte não fornece dados de anos mais recentes.
76
realizadas pela rede privada. O município não tinha governabilidade sobre esses recursos, pois
o pagamento a prestadores era realizado de forma direta pelas esferas federal ou estadual.
Esses dados refletem de certa forma uma característica nacional, já que o programa
orçamentário destinado ao custeio da assistência ambulatorial e hospitalar no SUS tem
representado o principal montante de recursos do orçamento do Ministério da Saúde desde
2001 63.
O financiamento da Atenção Básica do município indica forte indução federal com a
instituição de vários programas e estratégias. No âmbito municipal, houve aumento do aporte
de recursos destinados à saúde que foram investidos na Atenção Básica, o que pode sugerir
que esta vem se tornando uma área importante para gestão local. Apesar disso, há evidências
de que ainda predominam os gastos com o pagamento da assistência ambulatorial e hospitalar
oferecida pelos prestadores privados.
77
Este capítulo descreve a Política de Atenção Básica a nível municipal a partir das
categorias de análise, que são: contexto político institucional, configuração e organização da
Atenção Básica, estrutura e funcionamento das Unidades de Saúde da Família e a articulação
entre os serviços de saúde.
Para tanto foram utilizadas algumas fontes de informação como documentos, dados
fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, observação direta das unidades de saúde da
família e entrevistas com atores locais.
XLIII
Lei municipal nº 1.638 de 27 de março de 1989.
78
construção e ampliação do “Hospital Municipal Walter Gomes Franklin”67, que hoje é uma
policlínica, o novo hospital teria como atividades assistenciais: maternidade com oito leitos e
seis berços; clínica médica com oito leitos; clínica cirúrgica geral com dez leitos e um centro
cirúrgico; além de um ambulatório. A Policlínica Hélvio Tinoco foi cadastrada no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) como hospital municipal, sugerindo a
perspectiva de torná-la também um hospital. Isso ilustra o predomínio de um modelo
assistencial voltado para ações curativas e assistenciais, com investimento em serviços
especializados.
A partir de meados dos 1990, houve inflexões na política de saúde local, com
mudanças no modelo vigente e investimentos na Atenção Básica, induzidos pela esfera
federal.
Um marco histórico foi a habilitação do município em Gestão Plena da Atenção
Básica pela Norma Operacional Básica SUS 01/96 em abril de 1998 XLIV. A partir disso, o
município passou a receber o Piso da Atenção Básica fixo, que teve sua primeira parcela no
ano de 1998 para custeio de ações de assistência básica de responsabilidade tipicamente
municipal. Outra forma de financiamento da Atenção Básica instituída pela NOB SUS 01/96
foi o PAB variável, criado para financiar programas estratégicos como forma de organização
deste nível de atenção e que teve peso importante na indução de programas federais, conforme
visto no capítulo anterior.
Analisando-se os documentos encontrados e os dados financeiros, é possível inferir
que a política de Atenção Básica municipal foi fortemente induzida por normas e programas
federais, além dos incentivos financeiros que nortearam a implantação e desenvolvimento das
ações de saúde.
Em 1998 foi aprovado o incentivo para Ações Básicas de Vigilância Sanitária XLV,
componente do PAB variável para financiamento de ações básicas de fiscalização e controle
sanitário em produtos, serviços e ambientes sujeitos à vigilância sanitária, além de ações de
educação sanitária. Esse foi o primeiro programa componente do PAB variável instituído no
município.
O programa de combate às carências nutricionais também pode ser considerado como
uma das primeiras ações desenvolvidas para consolidar a rede de Atenção Básica no
município, que funcionou de 1999 até 2002, de acordo com dados de transferências federais
XLIV
A habilitação na NOB SUS 01/96 foi oficializada pela Deliberação da Comissão Intergestores Bipartite do
Rio de Janeiro (CIB-RJ) nº 21 de 07 de abril de 1998. Tal deliberação é o documento mais antigo encontrado que
faz menção à Atenção Básica.
XLV
Portaria GM/MS nº 2.283, de 10 de março de 1998.
79
Há dez anos era um programa novo onde todo mundo começou bem cru, não
é? Nós começamos com uma proposta nova. Teve muita resistência da parte
médica, porque vinha daquele famoso assistencialismo, não olhar o paciente
como um todo, e na época tivemos alguns problemas (Coordenador - AB 4).
69
Em 2001 o projeto de implantação do PSF previa 100% de cobertura da população
ao recomendar o cadastro de mais 19 unidades, o que totalizaria 28 unidades credenciadas a
serem distribuídas em todo território municipal.
XLVI
Portaria GM/MS nº 2.409, de 23 de Março de 1998.
80
Tabela 4.1: Unidades implantadas e cobertura populacional por ano, 2000-2009, Três
Rios/RJ.
Ano Nome das unidades Nº de Cobertura
unidades populacional
inauguradas acumulada (%)
2000 Werneck Marine, Ponto Azul, Moura 9 39
Brasil, Cidade Nova, Monte Castelo, Pilões,
Cantagalo, Purys e Bemposta
2001 Mãe Preta, Morada do Sol e Ponte das 3 42
Garças
2002 Triângulo 1 59
2003 Portão Vermelho 1 63
2004 - - 61
2005 Boa União, Caixa D’água, Cariri e JK 4 68
2006 Santa Terezinha 1 74
2007 Palmital 1 77
2008 Pátio da Estação 1 77
2009 - - 77
Total 21 77
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde, CNES, SIAB.
XLVII
De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica70 são estabelecidas duas modalidades de
financiamento para as ESB: Equipe de Saúde Bucal Modalidade 1- composta por no mínimo 1 cirurgião-dentista
e 1 auxiliar de consultório dentário; Equipe de Saúde Bucal Modalidade 2- composta por no mínimo 1 cirurgião-
dentista, 1 auxiliar de consultório dentário e 1 técnico de higiene dental.
81
XLVIII
O Relatório Anual de Gestão foi instituído pela Lei 8.142/90 como um dos requisitos para que o município
receba os recursos financeiros do Fundo Nacional de Saúde.
XLIX
Este relatório foi escrito como resposta ao ofício 0933/2009 (ref: IC 1213 TR CID) do Ministério Público
quanto às condições da Atenção Básica73.
83
L
A Portaria GM/MS nº 154, de 24 de janeiro de 2008 criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF e
estabeleceu duas modalidades: NASF1, composto por, no mínimo cinco profissionais de nível superior de
ocupações não-coincidentes, escolhidos entre 13 categorias profissionais; NASF 2, composto por no mínimo três
profissionais de nível superior de ocupações não-coincidentes. O NASF foi credenciado pela Portaria GM/MS nº
1489 de 03 de julho de 2009.
84
LI
O funcionamento do NASF será abordado em maior profundidade no próximo item.
LII
Por meio da Portaria Municipal nº 319/2009.
LIII
Por meio do Decreto municipal nº 4.270 de 14 de dezembro de 2010.
LIV
Por meio da Portaria Municipal de nº 544/2009.
85
contato com o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública para esclarecimento das
regras e normas instituídas no âmbito municipal para regular a assistência farmacêutica.
Os gestores relataram que se montou uma equipe de farmacêuticos na secretaria
municipal, capacitada e orientada para estabelecer maior integração desse setor com a rede de
serviços municipais. Essa equipe possui um responsável pela assistência farmacêutica no
nível da atenção básica, um que trabalha com as questões judiciais, outro profissional que é
responsável pelos medicamentos excepcionais, um farmacêutico que integra a equipe de
saúde mental, e um que fica no almoxarifado para organizar o abastecimento de
medicamentos das unidades. Porém, ainda há dificuldades na integração e na própria gestão
dessa equipe. De acordo com os entrevistados, busca-se ainda melhor organização dos
processos licitatórios para agilizar as compras e evitar a falta de medicações.
A melhoria na assistência farmacêutica se refletiu nos dados sobre demandas judiciais
de medicamentos, que apresentaram queda entre 2008 e 2009, conforme tabela 4.2.
Tabela 4.2: Distribuição das demandas judiciais por medicamento (nº e valor pago em reais),
pelos meses de 2008 e 2009 em Três Rios.
2008 2009
Mês Nº de pagamentos Valor pago (R$) Nº de pagamentos Valor pago (R$)
Janeiro 12 32.163,81 2 17.635,42
Fevereiro 18 43.094,49 0 0,00
Março 15 35.151,83 2 16.420,76
Abril 28 53.612,98 1 19.290,00
Maio 12 55.155,05 1 91,10
Junho 9 9.683,21 1 19.740,00
Julho 24 59.551,81 0 0,00
Agosto 9 49.148,09 0 0,00
setembro 11 83.907,95 0 0,00
outubro 17 57.445,09 0 0,00
novembro 11 41.629,76 1 9.578,00
dezembro 11 49.935,20 0 0,00
Total anual 177 570.479,27 8 82.755,28
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Três Rios
Farmacêutica por meio de várias ações que possibilitaram o atendimento das necessidades da
população do município e a diminuição da intervenção do poder JudiciárioLV.
LV
Esse relatório foi entregue à prefeitura para prestação de contas em 2010 76.
87
Figura 4.2: mapa da unidade de saúde da família da zona rural, Três Rios, 2010.
Tabela 4.3: Consultas médicas das especialidades básicas e demais especialidades, Três
Rios, 2010.
Tipo de consultas médicas Nº de consultas médicas %
Especialidades básicas 98.100 80
Demais especialidades 24.577 20
Total 122.677 100
Fonte: Secretaria Municipal de SaúdeLVII
Nota: Para fins de cálculo dos atendimentos, a produção fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde
contemplou até o mês de outubro de 2010. A produção total de consultas para o ano de 2010 foi estimada
considerando a produção dos meses de novembro e dezembro no ano de 2009.
LVI
Segundo instrutivo dos indicadores do Pacto pela Saúde 77 consideram-se especialidades básicas:
clínica geral, pediatria e ginecologia-obstetrícia.
LVII
Os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde referem-se a relatórios para informação da
produção do Sistema de Informações Ambulatoriais SIA/SUS.
90
Tabela 4.4: Consultas médicas por Unidade de Saúde da Família, Três Rios, 2010
Unidade ESF Nº consultas População Consultas por
médicas adscrita habitante
Morada do Sol 5.208 3.182 1,64
Bemposta 4.862 2.678 1,82
Cariri 4.439 2.488 1,78
Werneck Marine 4.089 3.344 1,22
Palmital 3.953 4.050 0,98
Cidade Nova 3.883 3.087 1,26
Purys 3.813 2.828 1,35
Caixa D'Água 3.797 2.467 1,54
Mãe Preta 3.614 3.473 1,04
Cantagalo 3.597 3.257 1,10
Pátio da Estação 3.494 2.689 1,30
Portão Vermelho 3.441 1.131 3,04
Pilões 3.440 2.456 1,40
Santa Terezinha 3.386 2.759 1,23
Moura Brasil 3.376 1.648 2,05
Ponto Azul 3.354 2.766 1,21
JK 3.218 2.385 1,35
Ponte das Garças 3.189 2.646 1,21
Boa União 2.965 2.450 1,21
Monte Castelo 2.965 3.113 0,95
Triângulo 2.906 3.322 0,87
Total 76.989 58.219 1,32
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
Nota: Para fins de cálculo dos atendimentos, a produção fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde
contemplou até o mês de outubro de 2010. A produção total de consultas para o ano de 2010 foi estimada
considerando a produção dos meses de novembro e dezembro no ano de 2009.
Tabela 4.5: Número de consultas médicas por especialidade nas policlínicas, Três Rios,
2010
Especialidade Policlínica Walter Policlínica Total
Gomes Francklin Hélvio Tinoco
Pediatria 9.997 1.246 11.243
Clínica Geral 5.637 1.090 6.727
Cardiologia 5.054 396 5.450
Neurologia 3.452 0 3.452
Ginecologia 2.194 947 3.141
Ortopedia 1.107 1.395 2.502
Endocrinologia 2.132 0 2.132
Oftalmologia 1.579 0 1.579
Cirurgia 1.498 0 1.498
Angiologia 977 460 1.437
Urologia 1.218 0 1.218
Dermatologia 701 501 1.202
Otorrinolaringologia 1.184 0 1.184
Gastroenterologia 1.071 0 1.071
Reumatologia 981 0 981
Alergologia 481 0 481
Geriatria 0 390 390
Total 39.263 6.425 45.688
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
Nota: Para fins de cálculo dos atendimentos, a produção fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde
contemplou até o mês de outubro de 2010. A produção total de consultas para o ano de 2010 foi estimada
considerando a produção dos meses de novembro e dezembro no ano de 2009.
Destaca-se que, nas duas policlínicas, dentre as especialidades com mais atendimento
estão clínica geral, pediatria e ginecologia, típicos da Atenção Básica, o que reflete o
atendimento pelas policlínicas da população que não é acompanhada pela ESF. As
demais especialidades mais demandadas são: cardiologia, neurologia e endocrinologia,
o que demonstra as necessidades da população, principalmente relacionadas a
problemas de saúde mais freqüentes como a diabetes e a hipertensão.
Já em relação aos procedimentos de enfermagem, as duas policlínicas possuem
atendimento diferenciado, conforme dados da tabela 4.6.
Tabela 4.6: Procedimentos de enfermagem realizados nas policlínicas, Três Rios, jan –
out 2010
Procedimentos Policlínica Walter Policlínica Total
Gomes Francklin Hélvio Tinoco
Aferição de pressão arterial 5.848 794 6.642
Curativo 4.465 482 4.947
Administração 1.696 96 1.792
medicamentos
Retirada de pontos 915 44 959
Nebulização 699 61 760
Cateter vesical 106 0 106
Vacina anti-rábica 42 0 42
Vacina anti-tetânica 28 0 28
Total 13.829 1.477 15.306
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
centro da cidade, que favorece o acesso e a torna unidade de referência para todo o
município.
Já a Policlínica Hélvio Tinoco apresenta um menor volume de atendimentos,
provavelmente por se tratar de unidade localizada em um bairro afastado da cidade
(Vila Izabel), o que a leva a atender em geral pacientes oriundos apenas dessa
localidade. Os entrevistados relataram que muitos pacientes são atendidos como se
fosse uma unidade de saúde da família, com acompanhamento de hipertensos,
diabéticos, vacina e acompanhamento de famílias cadastradas no Bolsa-Família.
Inclusive existe uma Unidade de Saúde da Família que funciona dentro da policlínica,
tendo alguns setores em comum, como a sala de vacina. Algumas vezes os profissionais
da USF ajudam no atendimento da policlínica e vice-versa:
Tabela 4.7: Número de consultas odontológicas individuais por unidade, Três Rios,
2010.
Unidade de saúde Nº de consultas População Consultas por
adscrita habitantes/ano
Unidades de Saúde da Família
LVIII
Nas unidades de atendimento a pacientes com deficiência e idosos não são realizados atendimentos
especializados, apenas procedimentos básicos em odontologia. Quando necessário, o atendimento
especializado é referenciado para o Centro de Especialidades Odontológicas.
95
LIX
O parâmetro nacional é de 0,5 a 2 consultas odontológicas por habitante/ano 47.
96
Pediatra 9.997
Teste do Pezinho 1.017
Total 11.014
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
LX
Os atendimentos de ginecologia geral e pediatria estão incluídos entre as consultas por especialidades
na tabela 4.5 da página 90.
97
Tabela 4.9: Número de exames preventivos por unidade, Três Rios, jan – dez 2010
Unidade Nº de exames
Saúde da Mulher (PWGF) 655
Mãe Preta 364
Palmital 298
Boa União 250
Werneck Marine/Habitat 206
Policlínica Helvio Tinoco 189
Morada do Sol 180
Monte Castelo 178
Cantagalo 176
Santa Terezinha 169
Bemposta 157
JK 156
Caixa D’água 150
Cariri / Rua Direita 148
Cidade Nova 143
Purys 139
Ponto Azul 118
Triângulo 109
Pátio da Estação 103
Ponte das Garças 103
Pilões 101
Portão Vermelho 97
Moura Brasil 89
Total 4.278
mulheres entre 50 e 69 anos residentes no município. Esse percentual está bem abaixo
do parâmetro preconizado de realização de exames em 50% das mulheres nessa faixa
48
etária por ano . Isso sugere problemas na prevenção do câncer de mama, que podem
ser devidos à baixa assistência à saúde da mulher na Atenção Básica ou a dificuldades
de acesso para a realização do exame.
No serviço de Saúde da Criança também são realizadas as vacinas do calendário
básico. Apresenta-se na tabela 4.10 um comparativo entre todas as unidades do
município que realizam tal procedimento.
Tabela 4.10: Número de vacinas aplicadas por unidade, Três Rios, jan – out 2010
Unidade Nº de vacinas
Policlínica Walter Gomes Francklin 22.435
Policlínica Helvio Tinoco 1.838
Werneck Marine/Habitat 584
Boa União 451
Cantagalo 442
Pilões 395
Mãe Preta 379
Cidade Nova 356
Purys 253
Bemposta 205
Ponto Azul 188
Monte Castelo 144
Ponte das Garças 118
Morada do Sol 64
Triângulo 15
Total 27.868
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
Olha, o NASF veio pra somar com o PSF, não é? Onde a gente tem os
outros componentes que formam a equipe interdisciplinar que dão
suporte no que o PSF em si não consegue, não é? Que é o caso do
psicólogo, nutricionista (Enfermeiro coordenador USF 2).
LXI
Lei municipal nº 3.380 de 11 de maio de 2010.
LXII
O salário previsto para os educadores físicos é de R$691,68 e para os fisioterapeutas, psicólogos,
nutricionistas e pediatras é de R$926,10, sendo que o médico tem que cumprir 20h. Os demais
profissionais devem cumprir 40 horas semanais.
101
Gráfico 4.1: Distribuição das unidades de saúde da família por tipo de imóvel de
instalação, Três Rios, 2010.
Tabela 4.12: Ambientes componentes das Unidades de Saúde da Família, Três Rios,
2010.
Ambientes Número Freqüência
de relativa(%)
unidades
Consultório médico 20 100
Consultório odontológico 20 100
Sanitário para funcionário 20 100
Sala de curativo 19 95
Sala de espera 19 95
Farmácia 19 95
Sala de vacina 16 89
Consultório de enfermagem 14 70
Sanitário para usuário 12 60
Sala de procedimentos 6 30
Copa/cozinha 6 30
Sala de reuniões 4 20
Central de esterilização 3 15
Sala de nebulização 2 10
Depósito de material de limpeza 2 10
Expurgo 1 5
Fonte: Prefeitura Municipal de Três Rios, 2010.
LXIII
As visitas de observação direta das unidades foram realizadas em sete Unidades de Saúde da Família
para avaliação das condições de estrutura das unidades (local de funcionamento, condições físicas,
equipamentos e materiais disponíveis). As anotações foram feitas em diário de campo.
106
LXIV
O projeto “Planeta Cidadão” foi desenvolvido para abrigar no mesmo espaço todos os programas
sociais do município, oferecendo oficinas de capacitação para jovens de 18 a 29 anos a fim de qualificá-
los para o mercado de trabalho. O projeto integra também ações de saúde, educação, esporte e cultura 79.
107
Sorriso”LXV. Outras atividades foram citadas de forma isolada, como: café da manhã
com gestantes; planejamento familiar; saúde do escolar; acompanhamento de pacientes
para o Sistema de Vigilância Nutricional (SISVAN); higiene corporal nas escolas; saúde
do idoso; controle de tuberculose; vacinação em escolas.
Em relação à população cadastrada, os dados do relatório mostraram uma média
de 2.786 pessoas por unidade, sendo que a unidade com o menor número de pessoas
adscritas tinha 1.131 pacientes e a com maior número tinha 4.050 pessoas cadastradas.
Esse dado sugere distribuição irregular da população por unidadesLXVI. Essa distribuição
irregular pode ser reflexo da forma como a população do município apresenta-se
espalhada no território, tendo poucas áreas de maior concentração que são os bairros
Centro e Vila Izabel. Geralmente há uma equipe de Saúde da Família por bairro, por
isso onde o bairro é menos populoso a população cadastrada na unidade em geral é
menor.
Nas entrevistas com os gerentes das unidades, contatou-se que os tipos de
atendimento existentes nas unidades são, principalmente, consultas de enfermagem,
médica e de odontologia. O atendimento em algumas unidades é realizado segundo
marcação de demanda programada com o agendamento da consulta e atendimento de
grupos como: gestantes, crianças, hipertensos e diabéticos. O trecho exemplifica esse
tipo de organização:
LXV
O Projeto Primeiro Sorriso é um programa criado pela Coordenação de Saúde Bucal do município
para o acompanhamento de crianças de 0 a 3 anos de idade por meio de visitas domiciliares.
LXVI 70
A recomendação do Ministério da Saúde é de no máximo 4.000 habitantes por equipe, sendo a
média de 3.000 pessoas.
109
essa equipe dá maior apoio às ações de promoção da saúde como: práticas de atividade
física, incentivo à adoção de alimentação saudável e orientações para grupos como
hipertensos e diabéticos.
Outra importante atividade educativa citada foram as palestras e grupos
realizados nas escolas com crianças e adolescentes para atender demandas que a própria
escola solicita, por meio de professores e diretores:
[...] eu queria que aqui tivessem mais grupos. Igual a gente está
tentando fazer um grupo de artesanato, já chamamos as pessoas, as
senhoras do bairro. Só que a gente nota que tudo tem empecilho.
Sempre. Acho que isso é do bairro. [...] eu noto assim que a
população, por ter muita pessoa de idade, eles querem vir no médico
quando está doente. Prevenção e promoção eles ainda não absorveram
essa idéia. (Enfermeiro coordenador USF 5)
LXVII
A Lei municipal nº 3412 de 26 de julho de 2010 dispõe sobre a contratação por tempo determinado
para atender a necessidade temporária do Programa de Saúde da Família. Destaca-se o art. 6º: “O contrato
firmado de acordo com esta Lei extinguir-se-á: I - pelo término do prazo contratual e respectivas
prorrogações; II – por iniciativa do contratado; III – pela extinção do Convênio celebrado pelo Município
de Três Rios e a União Federal do Programa PSF; IV - pela conversão do programa temporário em ação
permanente do Governo Federal”.
114
LXVIII
Edital do concurso público nº 01/2008 SEMUS. O edital apresenta os salários: R$ 625,81 para
agente comunitário de saúde; R$ 714,12 para auxiliar de consultório dentário; R$ 1.335,70 para técnico
de enfermagem e R$ 5.035,00 para médico, enfermeiro e dentista. Além dos salários apresentarem
valores superiores do que em Três Rios, houve diferenciação entre os profissionais de nível médio e
técnico e os profissionais de nível superior tiveram seus salários equiparados. Isso sugere maior
investimento do gestor de Campos dos Goytacazes na Atenção Básica com vinculação por meio de
concurso público e valorização dos profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família.
115
Mas hoje em dia, por exemplo, no meu PSF essa parte de diabéticos e
hipertensos é bastante grande. E, assim, uma boa parte trabalha. Então
o que acontece? O horário que a gente está aberto, eles estão
trabalhando. E quando eles chegam pra nos procurar, eles já chegam
doentes. Aí é porque passou mal no trabalho, e aí o trabalho mandou ir
lá (Enfermeiro coordenador USF 7).
Figura 4.3: Fluxo de atendimento dos pacientes nos serviços de saúde, Três Rios, 2010.
LXIX
A lista inclui os exames: Hemograma completo, hematócrito, hemoglobina, eritrograma, leucograma,
contagem de plaqueta, classificação sanguínea, coagulograma, protrombina, glicose, hemoglobina
glicosilada, uréia, creatinina, colesterol total e frações, sódio, potássio,TGO, TGP, proteínas totais e
frações, Beta HCG, EAS, exame parasitológico de fezes, PSA total e livre, T3, T4 total e livre, TSH,
BAAR, Coombs direto, rubéola (IGG, IGM), hepatites (HBE, HBC, HCV), herpes simples (IGG, IGM),
herpes zoster (IGG, IGM), ABS – sífilis (IGG, IGM), HIV, Waaler Rose (fator reumatóide), Rubéola
(IGG, IGM), dengue (IGG, IGM), antibiograma, entre outros.
122
[...] a primeira coisa que eu fiz foi trazer a atenção básica para dentro
da UPA. Porque eu sabia que se a gente não controlasse a atenção
básica, esse fluxo dos usuários da saúde, dos munícipes, ia ser todo
para a UPA, descaracterizando, a rede de saúde de uma maneira geral
(Gestor 1).
Figura 4.4: Fluxo de referência entre a UPA e as unidades municipais, Três Rios, 2010
Tal fluxo define que os casos de urgência e emergência devem ser referenciados
pelas unidades básicas para a UPA, que contra-referencia para as unidades básicas
contribuindo para a continuidade do tratamento. Os pacientes atendidos diretamente na
UPA considerados de baixa complexidade devem ser encaminhados para as Unidades
de Saúde da Família/policlínicas para tratamento adequado. Como a UPA possui
atendimento de urgência e emergência odontológica, quando há necessidade, os
pacientes são referenciados para os especialistas do CEO.
As gerentes de USF entrevistadas relataram que a assistente social da UPA
sempre entra em contato com as unidades quando vai encaminhar um paciente para
saber quando ele pode ser atendido.
Quando há necessidade de consulta e acompanhamento com especialista, os
profissionais da UPA orientam o paciente para que procure a unidade básica para que
seja referenciado, de acordo com a organização municipal para consultas especializadas,
conforme lógica discutida anteriormente.
A UPA também às vezes encaminha pacientes atendidos para internações de
média e alta complexidade, estabelecendo a referência com os hospitais da região
(gráfico 4.2).
126
Gráfico 4.2: Pacientes encaminhados pela UPA para internação, por unidades
hospitalares, Três Rios, jan-jul, 2010.
LXX
O protocolo de classificação de risco foi elaborado pela equipe da UPA baseado nas orientações do
Ministério da Saúde 82 e estabelece a seguinte avaliação: Vermelha: emergência, prioridade 0 - necessitam
de atendimento imediato; Amarela: urgência, prioridade 1 - atendimento no máximo em 15 minutos;
Verde: prioridade não urgente, prioridade 2 - atendimento em até 30 minutos; Azul: consultas de baixa
complexidade, prioridade 3 - tempo pode variar até 3 horas de acordo com a demanda do atendimento.
127
Gráfico 4.3: Número de pacientes por nível de complexidade avaliado pela classificação
de risco, Três Rios, jan-jul, 2010.
Cerca de 70% dos casos foram classificados como risco azul, que são os
pacientes que necessitam de consultas de baixa complexidade. Isso evidencia que a
maior parte das demandas da UPA de Três Rios é de usuários que poderiam ser
atendidos pela Atenção Básica, mostrando fragilidades na organização do sistema local,
já que os pacientes têm procurado a UPA para atendimento de baixa complexidade.
A tabela 4.14 mostra o local de origem dos pacientes atendidos na UPA.
128
Tabela 4.14: Distribuição dos pacientes atendidos na UPA por bairro, Três Rios, jan-
nov 2010.
Bairro Nº de pacientes %
atendidos
Vila Izabel 20.869 32
Centro 8.497 13
Triângulo 7.092 11
Cantagalo 4.375 7
Boa União 2.339 4
Purys 2.267 3
Monte Castelo 2.058 3
Cidade Nova 2.030 3
Pilões 1.876 3
Ponte das Garças 1.785 3
Bemposta 1.752 3
Ponto Azul 1.742 3
Moura Brasil 1.560 2
Santa Teresinha 1.527 2
Não informado 1.475 2
Portão Vermelho 925 1
Caixa D´Água 696 1
Pátio da Estação 413 1
Outros 1.741 3
Total 65.019 100
Fonte: UPA Três Rios
de Saúde da Família deslocada para outra localidade, pois sua unidade foi destruída na
última enchente que houve na cidade e passou por reforma estrutural.
A inserção da UPA levanta as dificuldades da Atenção Básica, pois os pacientes
que não conseguem atendimento nas unidades de Saúde da Família ou nas policlínicas
procuram acesso na unidade de pronto atendimento. Além disso, pode indicar a baixa de
resolutividade de unidades que estão em funcionamento, por causa de questões como
limitado horário de funcionamento, falta de profissionais e precárias condições de
infraestrutura.
Para entender melhor essas causas, a coordenação da UPA fez uma pesquisa que
compreendeu a aplicação de um questionário estruturado (Anexo B) para saber os
principais fatores que levaram o paciente procurar a unidade. Dos 698 pacientes
entrevistados, 159 (23%) haviam procurado a Unidade de Saúde da Família e não foram
atendidos. Os motivos para não atendimento pelas equipes de Saúde da Família são
apresentados no gráfico 4.3.
Gráfico 4.3: Principais motivos de procura da UPA por não atendimento na ESF, Três
Rios, 2010
A maior parte dos pacientes que procuraram a UPA por falta de atendimento na
ESF o fizeram porque o médico não estava na Unidade de Saúde da Família, o que
demonstra que uma das maiores dificuldades da Atenção Básica do município é o não
cumprimento do horário total de trabalho pelos médicos. Isso prejudica a qualidade de
130
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LXXI
Por exemplo, o Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde (Lappis/UERJ)
desenvolve o projeto “Direito à Saúde - Responsabilização e poderes públicos”, que tem por objetivo
analisar as relações entre os usuários do Sistema Único de Saúde e os Ministérios Públicos no país, no
que concerne à utilização de dispositivos institucionais e jurídico-legais no cumprimento do direito à
saúde.
135
saúde no município - que até então não havia sido feita-, bem como em levantar
algumas limitações, possibilidades e desafios para a melhoria da gestão e da
organização do sistema local de saúde.
No que concerne às estratégias metodológicas, considerando as limitações de
tempo e a realização de um número expressivo de entrevistas com gestores, dirigentes e
enfermeiros das equipes, não foi possível nesta pesquisa entrevistar os outros
profissionais, os agentes comunitários de saúde e os usuários dos serviços. Considera-
se, no entanto que, para uma compreensão mais aprofundada sobre o cuidado em saúde,
seria importante incorporar em estudos posteriores a perspectiva desses outros atores,
com destaque para os usuários 31.
Em síntese, a análise da Atenção Básica em Saúde no município de Três Rios
permitiu identificar uma série de dificuldades observadas no âmbito nacional, como
forte indução de políticas de saúde pelo nível federal, problemas com a estrutura das
unidades de saúde da família e perfil inadequado dos profissionais que atuam na
Estratégia de Saúde da Família. Algumas características marcantes da política e da
gestão do sistema municipal de saúde identificadas foram: as fragilidades históricas na
gestão pública do SUS, a forte indução da política por atores como o Ministério Público
e o Poder Judiciário, a pouca valorização dos profissionais de saúde e o papel
questionável da recém implantada Unidade de Pronto Atendimento.
O estudo abre questões que podem ser enfocadas em outras pesquisas sobre o
município, tais como: a avaliação da atenção básica na perspectiva dos agentes
comunitários de saúde e, sobretudo, dos usuários; a análise da dimensão do cuidado no
sistema de saúde local; a participação e o controle social das políticas; a atuação do
Ministério Público na garantia do direito à saúde; as relações público-privadas em saúde
no município; e o papel de Três Rios no processo de regionalização em saúde.
A pesquisa permitiu ainda levantar vários desafios a serem enfrentados pelos
gestores e outros atores envolvidos na política de Atenção Básica em Saúde, visando a
melhoria da organização do sistema, do acesso e da qualidade dos serviços no
município. Entre eles, destacam-se: a instituição de instâncias formalizadas de discussão
e de mecanismos de coordenação que permitam maior integração entre os setores da
secretaria e entre os serviços de saúde, de diferentes tipos; a maior articulação e
comunicação entre os profissionais da atenção básica e os especialistas, para assegurar a
longitudinalidade e a continuidade do cuidado; a implantação de novas unidades de
saúde da família para aumentar a abrangência da estratégia e a realização de
139
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Data da entrevista:
Cargo/função ocupada na SMS:
Tempo em que está no cargo/função:
Trajetória profissional relevante anterior ao cargo (formação e atuação profissional; se
atuava em SMS ou SES):
(versão preliminar)
Data da entrevista:
Cargo/função ocupada na unidade:
Tempo em que está no cargo/função:
Trajetória profissional:
Formação profissional:
(versão preliminar)
Data da entrevista:
Unidade de Saúde da Família:
Tempo em que está na função de enfermeiro de USF no município:
Tempo em que atua nesta USF:
Trajetória profissional:
Formação profissional:
O(a) Sr(a) está sendo convidado(a) para participar da pesquisa “A Atenção Básica em Saúde no
município de Três Rios/RJ: um estudo avaliativo na perspectiva da gestão e da organização do
sistema de saúde”, desenvolvida como parte do mestrado em Saúde Pública da Escola Nacional
de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.
O(a) Sr(a) foi selecionado por ser considerado ator chave para a pesquisa e sua participação não
é obrigatória. A qualquer momento pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua
recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.
Os objetivos do estudo são: descrever o contexto de implantação da política de Atenção Básica
no município; caracterizar a configuração e organização da Atenção Básica do município;
analisar a situação atual de implementação e a inserção da Estratégia de Saúde da Família no
sistema de saúde do município e identificar as possibilidades e limites da Atenção Básica em
Saúde no município.
Sua participação na pesquisa consistirá em responder a uma entrevista semi-estruturada com
duração de cerca de uma hora relacionada a esses temas.
Caso o Sr.(a) autorize, a entrevista será gravada e transcrita por profissionais qualificados. Para
assegurar o sigilo e confidencialidade dos relatos, os arquivos de áudio e as entrevistas
transcritas serão armazenados em computador de uso restrito pela pesquisadora e protegido por
senha; os dados ficarão sob responsabilidade da pesquisadora por cinco anos e serão destruídos
após esse período.
Na divulgação dos resultados, os entrevistados não serão identificados pelos nomes, mas
poderão ser agrupados pelo grupo a que pertencem: dirigentes de saúde do município ou
enfermeiros gerentes das unidades de saúde da família (sem identificação do nome ou da
unidade de atuação).
Além das entrevistas, outras estratégias metodológicas serão utilizadas, como análise
documental e dados dos sistemas de informações de acesso público. A análise será de
responsabilidade do pesquisador, a partir do conjunto do material da pesquisa.
Sua participação na pesquisa contribuirá para o melhor conhecimento sobre a configuração da
Atenção Básica no município de Três Rios/RJ e os resultados da pesquisa poderão subsidiar a
política de atenção básica local.
O(a) Sr(a) receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço institucional do
pesquisador principal e do CEP, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação,
agora ou a qualquer momento.
_______________________________ _________________________________
Renata Odete de Azevedo Souza Cristiani Vieira Machado
Mestranda em Saúde Pública Pesquisadora - Orientadora
Rua Drº Vasconcelos, 147/501 Rua Leopoldo Bulhões, 1480 7º andar
Centro – Três Rios/RJ - CEP 25804-240 Tel: (21) 2598-2849
Tels.: (24) 8828-7913 2255-5113 E-mail: cristiani@ensp.fiocruz.br
E-mail: rsouza@ensp.fiocruz.br
Comitê de Ética em Pesquisa
Rua Leopoldo Bulhões, 1480 3º andar
Tel: (21) 2598-2863 E-mail: cep@ensp.fiocruz.br