Alisson Luã Vale
Alisson Luã Vale
Alisson Luã Vale
São Luís
2018
ALISSON LUÃ VALE MINA
Orientador:
Prof. Dr. Tadeu de Paula Souza.
São Luís
2018
Vale Mina, Alisson Luã.
39 f.
BANCA EXAMINADORA
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1ºAvaliador
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2º Avaliador
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3º Avaliador
DEDICATÓRIA
Agradecer é saber reconhecer àqueles que de alguma forma nos fez chegar até
aqui, e com certeza sem eles eu não conseguiria.
Agradeço aos meus pais, Luiz e Ana, que sempre me incentivaram e acreditaram
que pudesse ser o que sou. E que mesmo à distância estiveram presentes, e junto com meu
irmão, Aldo, foram (são) o principal motivo da minha luta diária.
À minha namorada, Érica, por todo carinho e dedicação. Esteve a meu lado me
ajudando a concluir esse trabalho. Ver sua inteligência e paciência no trabalho com a pesquisa
me faz admira-la cada vez mais.
Aos meus amigos, Thyarlison e Vinícius, que mesmo com a distância não
permitiram que mudasse nossa amizade, e entenderam a necessidade desse momento para a
concretização desse sonho.
Aos meus colegas de curso que dividiram comigo esses anos de crescimento e
aprendizado.
Aos mestres que não mediram esforços para passar o conhecimento necessário
para minha formação acadêmica. Em especial, ao meu Orientador Prof. Dr. Tadeu de Paula
que dedicou seu tempo a me ajudar, oferecendo o material necessário, corrigindo, discutindo,
fazendo que a produção deste trabalho não fosse apenas uma formalidade.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação,
muito obrigado.
RESUMO
AB – Atenção Básica
ABS – Atenção Básica de Saúde
ACS – Agente Comunitário de Saúde
APS - Atenção Primária à Saúde
CER – Centro Especializado em Reabilitação
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
ESF – Estratégia da Saúde da Família
NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família
PI – Projeto de Intervenção
PNH – Política Nacional de Humanização
PPD – Teste Tuberculínico
PTS – Projeto Terapêutico Singular
RAS – Redes de Atenção à Saúde
RCPD – Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência
SUS – Sistema Único de Saúde
TB – Tuberculose
UBS – Unidade Básica de Saúde
UPA – Unidade de Pronto Atendimento
VDRL – Teste para detecção de Sífilis (Venereal Disease Research Laboratory)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................09
2 ATENÇÃO BÁSICA COMO ORDENADORA DO CUIDADO EM REDE ................11
2.1 Atenção Básica enquanto campo de prática de ensino de medicina ............................11
2.2 Clínica Ampliada: PTS e Trabalho em equipe ..............................................................15
2.3 Equipe Multiprofissional .................................................................................................20
3 METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................22
4 PTS - RELATO DA ELABORAÇÃO DO PTS ...............................................................23
4.1 Acolhendo a demanda ......................................................................................................23
4.1.1 Reconhecendo o Território ..............................................................................................23
4.1.2 Primeira visita .................................................................................................................24
4.1.3 Segunda visita .................................................................................................................25
4.1.4 Terceira visita ..................................................................................................................25
4.1.5 O lugar de franzino na família: uma dinâmica complexa – genograma .........................26
4.1.6 Fechamento do diagnóstico ampliado e as metas do PTS ..............................................28
5 CONCLUSÃO .....................................................................................................................34
REFERÊNCIAS........................................................................................................................37
ANEXO ...................................................................................................................................39
1 INTRODUÇÃO
Objetivo geral:
Analisar a experiência de elaboração de Projeto Terapêutico Singular (PTS)
durante o estágio de saúde pública do curso de medicina da UFMA.
Objetivos específicos:
Descrever e analisar o processo de formulação do PTS.
Descrever e analisar os avanços e limites do trabalho em equipe da Estratégia
de Saúde da Família na elaboração do PTS.
Descrever e analisar a realidade territorial do usuário envolvido no PTS.
Descrever alguns aspectos da relação da rede de saúde com o território de vida
do usuário.
2 ATENÇÃO BÁSICA COMO ORDENADORA DO CUIDADO EM REDE
“Se imaginarmos que cada equipe de AB tem hoje pelo menos 3.000 pessoas
vinculadas a ela, e que temos ao menos 30 a 40% da população brasileira coberta
pela atenção básica, podemos dimensionar a potencialidade de uma parceria com os
usuários da AB em um movimento de afirmação do SUS. Trata-se também de um
importante aprendizado político para a população incorporar uma certa capacidade e
diferenciar as pessoas que trabalham em um serviço de saúde, das diversas causas
dos problemas que o incomodam, assim como a complexidade de algumas
“situações”. Alguns setores do SUS conseguem fazer este movimento político com
relativo sucesso (por exemplo, o Programa de DST-AIDS e a Luta Anti-
Manicomial) e produzem, além de serviços melhores, um saudável “efeito colateral”
terapêutico para o usuário, que afirma seus direitos, sua diferença, contribuindo não
só com a qualidade do serviço de saúde, mas também com transformações culturais
e políticas na sociedade” (BRASIL, 2010, p. 40).
Assim, pensamos na rede de atenção básica para um olhar que vai além do foco na
doença, onde o atendimento humanizado seja base e o paciente seja percebido também para
além de seu estado de saúde, levando em consideração que a vida social e o convívio com a
família podem influenciar em seu estado de saúde tanto quanto os fatores físicos.
Segundo o Ministério da Saúde, a definição de parâmetros e espaços oficiais de
encontro entre os serviços de atenção básica e os outros serviços da rede assistencial é um
aspecto fundamental da gestão na atenção básica (BRASIL, 2010). Geralmente, o que
acontece é apenas uma relação de encaminhamento do paciente de um serviço para outro,
praticamente não existe um link de conversa entre a ABS e outros níveis de atenção. Muitas
vezes, na ABS, nem mesmo se sabe o nome dos profissionais que atuam em outros serviços
de saúde. E nessa “relação” entre os serviços é preciso que se possa tomar as decisões e
articular as ações de acordo com as necessidades do usuário.
Percebemos assim, que a AB não é uma estrutura organizada apenas para fazer
um trabalho de triagem, os serviços são mais amplos e de fato acontece quando há uma
organização e uma estrutura que possibilite sua aplicabilidade. A atenção básica precisa ser
considerada com a responsabilidade que lhe cabe, direcionando os casos a suas
especialidades, facilitando e ampliando o acesso, acolhendo, vinculando e identificando os
riscos. Segundo a Política Nacional de AB, as funções da atenção básica na Rede de atenção à
Saúde estão diretamente vinculadas às ideias de ser base, ser resolutiva, coordenar o cuidado e
ordenar as redes (BRASIL, 2012).
A AB é a principal porta de entrada para o sistema de saúde, é a via de acesso
diário de centenas de casos, dos mais simples aos mais complexos e a partir do atendimento
na AB são/deveriam ser encaminhados para os atendimentos específicos. Campos et al (2014)
aponta, de acordo com alguns estudos, que a APS (Atenção Primária à Saúde) tem capacidade
de resolver cerca de 80% dos problemas de saúde de uma determinada população e deve aliar
as ações de assistência com a prevenção e promoção da saúde, além de coordenar a atenção
oferecida nos demais setores, atuando de fato como base.
A AB deve produzir um cuidado à população de forma longitudinal por meio de
articulação de ações assistenciais e não assistenciais. Na AB, o termo longitudinalidade é
empregado em “uma relação pessoal de longa duração entre os profissionais de saúde e os
pacientes em suas unidades de saúde”, ou seja, refere-se a um acompanhamento a longo
prazo, onde o paciente recebe um acompanhamento direcionado para sua saúde de forma
geral, o foco deixa de ser apenas o seu atual “problema de saúde”, e ele passa a ser
investigado a partir de um olhar mais amplo (BARATIERI E MARCON, 2011).
Toda essa investigação fornece dados para que seja feita a territorialização de
determinada zona de abrangência. Trata-se de uma ferramenta que torna possível o
reconhecimento das condições de vida e da situação de saúde da população de uma
determinada localidade. Possibilita a captação de dados demográficos, epidemiológicos e de
condições de vida (BRASIL, 2010).
A vivência na AB durante o período de formação é essencial, visto que nos insere
em situações desafiadoras, nas quais precisamos pensar em soluções e articular ações junto à
equipe atuante. Trata-se de uma prática de grande relevância no período de formação,
principalmente pela ideia de inserir os futuros médicos dentro das comunidades, identificando
as problemáticas e tentando solucioná-las, superando a fragmentação dos processos de
trabalho dentro das UBS e do próprio sistema de saúde.
Uma estratégia utilizada para organizar e combater a fragmentação, a atenção e a
gestão em saúde, são as Redes de Atenção à Saúde (RAS), que tem o intuito de assegurar o
atendimento eficaz à população. Logo, tomar a AB como principal porta de entrada no
sistema, exige pensá-la enquanto um componente fundamental na articulação do cuidado em
rede.
A proposta de organização de um sistema em rede surgiu na Inglaterra a partir do
Relatório Dawson no início do século XX, sendo a base conceitual para a organização do
Sistema Nacional de Saúde britânico. Entretanto, sua evolução para o conceito de Rede de
Atenção à Saúde “são recentes, tendo origem nas experiências de sistemas integrados de
saúde, surgidas na primeira metade dos anos 90 nos Estados Unidos. Dali avançaram pelos
sistemas públicos da Europa Ocidental e para o Canadá, até atingir, posteriormente, alguns
países em desenvolvimento” (MENDES, 2011, p. 61).
No contexto brasileiro, a criação da Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010,
estabeleceram diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do SUS,
avançando na direção preconizada no artigo 198 na Constituição Federal que estabelece que
os serviços de saúde devem se organizar enquanto uma rede regionalizada. A RAS estabelece
princípios e diretrizes normativas e tecnológicas que dão maior consistência para a proposta
de redes, fazendo com que a atenção à saúde saia de um olhar verticalizado, em que as
responsabilidades se limitavam às demandas do momento, passando a um olhar horizontal,
onde o cuidado passa a ser contínuo e de igual responsabilidade entre as equipes
multiprofissionais.
A organização das redes sofreu uma mudança, saindo do sistema piramidal para
uma distribuição onde os setores passam a ter uma comunicação mais direta entre si. É o que
podemos observar na figura abaixo.
Fonte: As Redes de Atenção à Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Organização Mundial da Saúde.
Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília – DF, 2011, 2ª edição.
O objetivo da RAS é estimular a integração sistêmica de ações e serviços de saúde
com garantia de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, além de
incrementar o funcionamento do Sistema em relação à eficácia sanitária e clínica, ao acesso, à
equidade, etc.
No mesmo período em que foi lançada a portaria da RAS também foram lançadas
as denominadas Redes Temáticas, em que passam a tratar diretrizes para temas específicos
que a população necessita. Assim, em 24 de junho de 2011 é lançada a portaria nº 1473 que
institui os Comitês Gestores, Grupos Executivos, Grupos Transversais e os Comitês de
Mobilização Social e de Especialistas dos compromissos prioritários de governo, organizados
por meio de Redes Temáticas de Atenção à Saúde.
Compreender esses conceitos é importante, porém as práticas dentro das unidades
de saúde da atenção básica são o principal campo para o estágio em saúde coletiva. Isso nos
permite vivenciar situações reais e perceber como essas propostas estão sendo
operacionalizadas no contexto de São Luís - MA.
2) Definição de metas: uma vez que a equipe fez os diagnósticos, ela faz propostas
de curto, médio e longo prazo, que serão negociadas com o sujeito doente pelo
membro da equipe que tiver um vínculo melhor.
3) Divisão de responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um com
clareza. Uma estratégia que procura favorecer a continuidade e articulação entre
formulação, ações e reavaliações e promover uma dinâmica de continuidade do
Projeto Terapêutico Singular é a escolha de um profissional de referência. Não é o
mesmo que responsável pelo caso, mas aquele que articula e “vigia” o processo.
Procura estar informado do andamento de todas as ações planejadas no Projeto
terapêutico singular. Aquele que a família procura quando sente necessidade. O que
aciona a equipe caso aconteça um evento muito importante. Articula grupos menores
de profissionais para a resolução de questões pontuais surgidas no andamento da
implementação do Projeto Terapêutico Singular. Pode ser qualquer componente da
equipe, independente de formação. Geralmente se escolhe aquele com modo de
vinculação mais estratégico no caso em discussão.
Trata-se de uma pesquisa documental que tem como principal fonte de dados os
diários de campo dos alunos envolvidos na elaboração do Projeto Terapêutico Singular da
turma 96ª, de medicina da UFMA, que atuaram no período de 13 de fevereiro de 2017 a 22 de
abril de 2017 no estágio de saúde pública no 10º período.
A análise documental justifica-se porque possibilita ampliar o entendimento de
objetos cuja compreensão necessita de contextualização histórica e sociocultural (SÁ-SILVA,
ALMEIDA E GUINDANI, 2009). Outra justificativa para o uso de documentos em pesquisa
é que ele permite acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social. A análise
documental favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos,
grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros.
Maior parte do estágio ocorre junto à Unidade Básica de Saúde (UBS Turú II),
localizada no bairro Turú, porém, sua região de abrangência se estende a diversos bairros
vizinhos. Durante o estágio os alunos produzem um diário de campo, onde são registrados
todos os passos para a elaboração de um PTS, através do caso do “Seu Franzino”, utilizado
como base para o desenvolvimento desta pesquisa.
Por ser uma pesquisa realizada por um dos alunos envolvidos na elaboração do
PTS, objeto da pesquisa, entende-se que se trata de uma triangulação de método (MINAYO,
2005) uma vez que o diário de campo foi também um registro de uma intervenção, o que se
aproxima de uma observação participante de pesquisa-intervenção. Na observação
participante, que é voltada para interação entre pesquisadores e membros das situações
investigadas, o observador passa a agir com os informantes. Tem “origem na antropologia e
na sociologia e é geralmente utilizada na pesquisa qualitativa para coleta de dados em
situações em que as pessoas se encontram desenvolvendo atividades em seus cenários
naturais, permitindo examinar a realidade social” (HOLLOWEY e WHEELER apud LIMA et
al, 1999, p. 131).
Para seguir uma ordem lógica dos acontecimentos, elaboramos um roteiro de
observação, que obedeceu a seguinte ordem:
Evolução do caso/PTS - Diagnóstico ampliado e definição de metas, dinâmica
familiar;
Processo de trabalho dentro da UBS (ESF, NASF);
Território e Redes de Atenção.
4 PTS: RELATO DA ELABORAÇÃO DO PTS
Dentro do estágio coube ao grupo a escolha de um caso para que fosse trabalhado
a elaboração de um PTS. Em conversa com as Agentes Comunitárias de Saúde(ACS),
conhecemos a ACS Nilma, que nos contou sobre o caso do Seu “Franzino” de 56 anos. Disse
que tinha muita dificuldade de acesso a essa família e que não conseguia dar seguimento às
necessidades que ali havia. E com a turma anterior a nossa, Turma 95B, juntamente com o
preceptor, ela iniciou as primeiras ações junto a esta família. Foram realizadas algumas visitas
de aproximação para constituição de um diagnóstico preliminar, que descreveremos abaixo:
Na última visita da Turma 95B observou-se a necessidade de levar Seu Franzino a
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) devido ao quadro que se encontrava de desnutrição.
Lá internado foi diagnosticado com Tuberculose (TB), apenas pelo quadro clínico e um raio x
com imagens cavitárias sugestivas de TB, pois o PPD (Teste tuberculínico) deu negativo.
A partir de então a turma 95B já tinha encerrado seu estágio e o acompanhamento
continuou sendo feito pela ACS Nilma, que nos relatou que ele já tinha iniciado o tratamento
pra TB, porém com pouca adesão do paciente e dos familiares em ajudá-lo. E que continuava
com baixo peso (36kg). A casa em que Seu Franzino reside, moram o irmão (Severino, 52),
junto com a cunhada (Dona Lamentação, 58), dois sobrinhos (M. P., 19 e P.F., 24) e a
namorada do sobrinho, que está gestante (G., 17).
Assim, decidimos dar continuidade no caso junto a ACS, observar a demanda que
essa família nos daria e a partir disso ter direcionamento para a elaboração do PTS.
Os vizinhos lhe ajudavam, mas com o tempo ele foi ficando em estado de
abandono e não tinha mais como cuidar de Seu Franzino. A vizinhança, então comovida, o
levou até sua família para que cuidassem dele. Desde então está sob os “cuidados” da família
de seu irmão. Mesmo ele estando dentro da casa de um familiar, recebendo os possíveis
cuidados, Seu Franzino nos mostrou incomodado com a situação em que se encontrava:
“É, agora estou aqui incomodando meu irmão e sua família, sendo
um peso. Mas, graças a Deus, eles cuidam bem de mim, não posso
reclamar. Ganho comida, quando tem, tenho minha rede pra dormir,
estou aqui morando de favor, né! Não posso reclamar. Queria pelo
menos poder ajudar” (Seu Franzino).
1
<http://www.mob.ma.gov.br/projeto-travessia-cadeirantes-terao-servico-de-transporte-exclusivo-e-gratuito-
cadastre-se/> Acessado em 22 de novembro de 2017.
Em conversa com o professor propomos pagar o exame de VDRL, porém ele
orientou que buscássemos uma alternativa através do sistema público. Mas o grupo percebeu
a dificuldade em realizar o exame, visto que para realizar pelo SUS seria necessário gasto
com transporte, pois o laboratório era longe e o valor do exame era mais barato que esse
gasto, então reunimos o valor para realização do exame. Na visita seguinte à família,
organizamo-nos para que fosse feito o exame de VDRL, já que estava aguardando esse
resultado para iniciar o tratamento da sífilis e já agendamos uma próxima consulta com
Médico para levá-lo.
Na consulta com o Médico da UBS, foi confirmado a infecção por Sífilis. Sendo
assim, o tratamento foi receitado, Penicilina G benzatina, 2,4 milhões UI, IM, (1,2 milhão UI
em cada glúteo), semanal, por três semanas. Dose total de 7,2 milhões UI. Entretanto, havia
falta dessa medicação na rede e a família do paciente não tinha condições de comprá-la. Mais
um desafio! Após uma semana, a ACS nos informou que a família conseguiu comprar o
medicamento e havia iniciado o tratamento.
Além disso, marcamos a ida do Franzino ao mutirão de glaucoma que aconteceria
na UBS. Dona Lamentação pareceu sem esperança com a situação “Ih meu filho, essa
cegueira só Deus na causa, não tem mais o que fazer”. Percebendo a situação procuramos
conversar com Seu Franzino e entender seus anseios com tratamento de sua visão: “Se der
pra melhorar um pouco minhas vistas, e poder viver melhor”. Assim acordamos sua ida à
UBS, em que Atêncio iria levá-los. No mutirão de Glaucoma, o paciente fez as consultas
necessárias, onde o oftalmologista confirmou a perda da visão sem cura. Lá Dona Lamentação
também fez a consulta para saber se tinha glaucoma, nada foi encontrado, mas a atenção dada
a ela fez ter uma melhor relação com a UBS.
Dentro de todas as intervenções não conseguimos agendar uma visita domiciliar
do médico em que pudéssemos acompanhar e nem fomos informados que ele realizou uma
visita enquanto estávamos acompanhando o caso. E a queixa de polaciúria se mantinha, algo
que incomodava muito Seu Franzino, porém foi orientado pelo médico que aguardássemos a
finalização do tratamento TB para que uma pesquisa maior fosse realizada, já que o PSA
(marcador de CA de próstata) não estava alterado.
Foi agendada uma reunião com todos os profissionais de saúde envolvidos no
caso, para que fosse alinhado o Projeto Terapêutico Singular e definido quem seria o
profissional de referência para o caso, porém, sem sucesso até o fim do estágio realizado pela
Turma 96A.
5 CONCLUSÃO
Entendemos que a AB deva ser a porta de entrada preferencial do sistema, mas não
exclusiva, conforme normatiza o próprio Decreto nº 7.508 de 28 de junho de 2011.
Para nós, o sistema deve ser ordenado em função das necessidades de saúde,
individuais e coletivas, da população de um território determinado e a AB tem papel
destacado na identificação, no manejo e na transformação destas necessidades
(MAGALHÃES JÚNIOR E PINTO, 2014, p. 16).
BRASIL. Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com
Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 25 abr. 2012. Seção 1, p.94-95.
Reside na casa do irmão (Paulo), junto com a cunhada (Bernarda 58), dois sobrinhos (Marcos
Paulo 19 e Paulo Filho 24) e namorada do sobrinho, que está gestante (Geovana 17). Está
morando nesta casa há 4 anos (SIC).
Paciente portador de deficiência visual (Glaucoma), pesando 35 quilos, relata que mora com
eles “de favor” e que antes não tinha muito contato com o irmão. Antes de ir para esta casa
morava no bairro Altos do Turu, sozinho e estava em situação de abandono, onde a
vizinhança lhe ajudou e levou até a casa desse único irmão que tem em São Luís. Desde então
vem sendo “cuidado” pela família do irmão. Devido a deficiência, se locomove com
dificuldade pela casa e não tem vida social, ficando dentro de casa todo tempo do dia. Dorme
em uma rede improvisada. Alimenta-se bem (SIC) (Café/almoço/janta). Única queixa clinica
é a disúria (urina a cada 15 minutos), por isso não consegue dormir bem pois tem que levantar
com frequência durante a noite. Está tentando a aposentadoria, que, segundo ele, um
advogado particular está cuidando do processo há um tempo, mas não sabe nenhuma
informação.
____________________________
Enfermeira Responsável
Equipe n° 74