Brasilcon DN: Revista Bos Tribunais"
Brasilcon DN: Revista Bos Tribunais"
Brasilcon DN: Revista Bos Tribunais"
REVISTA DE
DIREITO DO
CONSUMIDOR
Ano 25 º vol. 103 * jan.-fev. / 2016
Coordenação
Craupia Lima MARQUES
Publicação óficial do -.
BRASILCON - o
“ Instituto Brasileifo de Política” Deo
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BRASILCON
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“SITVIO BRASLETO CE PRLÍTSE E CNSETTA DO.PESA:
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À TUTELA DO MELHOR INTERESSE DO VULNERÁVEL: UMA VISÃO A
PARTIR DOS JULGADOS RELATADOS PELO Min. HERMAN BENJAMIN
(STJ)
+ THE PROTECTION OF THE VULNERABLE BEST INTEREST: THE VISION FROM THE CASES
CONDUCTED BY JusticE HERMAN BENJAMIN (STJ)
FERNANDO À. VASCONCELOS
Doutor e Mestre (UFPE). Professor de carreira da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Parai-
ba (UFPB). Promotor de Justiça aposentado (MP-PB). Advogado.
fermengoBuol.com.br
k j
MauriLio Casas MAiA
Mestre em Ciências Jurídicas (UFPB). Pós-graduado em "Direito Público: Constitucional e Administrati-
vo" e em "Direito Civil e Processual Civil" Professor de carreira da Faculdade de Direito da Universida
de
Federal do Estado do Amazonas (FD/UFAM) e Defensor Público (DPE/AM). Colunista no site Empório do
" Direito. Ex-advogado privado e ex-assessor jurídico de desembargador (TJAM).
mauriliocasasmaiaO gmail.com
,
Resumo: O presente artigo apresentará o princi- ABstRACT: This paper analyses the best interest
pio'da tutela do melhor interesse do vulnerável of the vulnerable in the Minister Herman Benja-
à partir dos julgados relatados pelo Min. Herman min's decisions in the STJ.
Benjamin (STJ).
PaLavras-cHAvE: Melhor interesse - Vulnerável - Kevworos: Best interest - Vulnerable - Minister
Min. Herman Benjamin - STJ.
Herman Benjamin - STJ.
1
A
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São
Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
244 Revista DE Direito DO CONSUMIDOR 2016 * RDC 103
INTRODUÇÃO
EE
1.
ido amplamente,
Embora o dever de proteção do vulnerável seja reconhec a ver-
umidor (art. 4.º, 1, do CDC),
mormente na esfera do direito do cons
Taçà aços
estudos.
ente texto buscará expor
Com o intuito de en riquecer os debates, o pres
esse do vulnerável a partir
algumas consequências d a tutela do melhor inter
da visão do STJ. Aliás, co nsiderando-se a gran
diosidade do universo de aná-
lise indicado, optou-se po r catalogar algumas das
principais decisões do Min.
os decisórios provenientes do
Herman Benjamin sobre o t ema. Isso porque
l e preocupação com tute-
referido julgador são marcad os de forte teor socia
a efetivação dos direitos sociais
la dos vulneráveis, hipervuln eráveis e com
Provavelmente, o teor humanist
dos sobre direito do consumidor
ministro.
de incidência do princípio:
Com o objetivo de apresentar o campo concreto
em um primeiro momento
da tutela do melhor interesse dos vulneráveis,
em seguida e a partir das liçõe
retrocitado princípio será apresentado para,
expor O respectivo eixo pro
jurisprudenciais do ministro Herman Benjamin,
estão a relação entre o nível de;
tetivo detectado. Dentre os temas debatidos,
ao dever de informar os hipervul
vulnerabilidade e a maior exigência quanto
$
- dos VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse
do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271, São Paulo: Ed. RT,
A jan.-fev. 2016.
246 Revista DE Direito DO ConsumiDOR 2016 * RDC 103
6. BARLETTA, Fabiana Rodrigues. O direito à saúde da pessoa idosa. São Paulo: Saraiva,
2010. p. 111-118. nao
não
7. CF/1988, “art. 5.º (...) 8 2.º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos:tra-
tados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Fabiana
8. Embora se referindo ao princípio da tutela do melhor interesse do idoso,
Barletta traz raciocínio aplicável à proteção dos demais vulneráveis, ao indicar a pro-
teção do melhor interesse como expressão do princípio da dignidade humana, Vide:
BARLETTA, Fabiana Rodrigues. O direito à saúde da pessoa idosa. São Paulo: Saráivá,
2010. p. 111. ed
Ricardo Luis. Teoria da Decisão Judicial: Fundamentos de Diréito.
9. LORENZETTI,
Paulo:
Trad. Bruno Miragem. Notas de tradução: Claudia Lima Marques. 2. ed. São
Ed. RT, 2010. p. 251 ess.
dos
10. MARQUES, Claudia Lima. MIRAGEM, Bruno. O novo Direito Privado e a proteção
vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 111.
izador
11. Leciona Fernanda Tartuce: “A vulnerabilidade emerge como critério caracter
Fernand a. Igualdad e
de justa causa para a promoção da igualdade real” (TARTUCE,
p. 363).
de Vulnerabilidade no Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
bilidade
12. Claudia Lima Marques e Bruno Miragem lecionam sobre o tema: “A vulnera
fraco, é apenasà
não é, pois, o fundamento das regras de proteção do sujeito mais
papai
em
ris-
status de neces-
em tal condição pela Constituição, quando esta lhes confere o
. Dito isso, é:pos-
' sitados (jurídicos) de proteção estatal e social diferenciada
existência silenciosa,
” sível com uma breve análise da legislação, perceber-se a
dos vulneráveis.
mas operante, de um princípio da tutela do melhor interesse
exemplo, no:Fs-
Na legislação, visualiza-se a tutela do melhor interesse, por
prestigia as crian-
tatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/ 1990), o qual
na efetivação
ças e adolescentes com a “absoluta prioridade” (art. 4.º, caput)
único,
de seus direitos, além de primazia, precedência e preferência (parágrafo
retrocitados, percebe-
art. 4.º) em diversas situações. À partir dos dispositivos
scentes é baseada
-se que a hermenêutica relativa à tutela das crianças e adole
vulnerável. 4
na tutela do melhor interesse desse segmento social
+
10.741/2003)
Ainda em nível legislativo, percebe-se no Estatuto do Idoso (Lei
social vulnerável (idosos).
o objetivo de tutelar o melhor interesse de grupo
prioridade” na efetivação
O art. 3.º, caput, nesse sentido, regula a “absoluta
extensão da referida
dos direitos dos idosos, e seu parágrafo único explica a
idualizado?-em
prioridade, citando “atendimento preferencial imediato e indiv
formulação e na exe-
órgãos públicos e prestadores de serviço, preferência na
outras manifestações da
cução de políticas sociais públicas específicas, entre
-
tutela de seu melhor interesse.
vulnerabilidade!” em
Portanto, quanto às vulnerabilidades etárias!” — a
reconhecimento legisla-
virtude da idade —, das crianças e idosos há um
daí decorren-
tivo-constitucional de seu estado de vulnerabilidade social
Como bem registra
te o necessário caráter tutelar de ambas as legislações.
vocabular que,os
Professora Barletta,!º não é meramente pela aproximação
guardam afinidade,
Estatutos do “Idoso” e da “Criança e do adolescente”
social com “intrínseca
mas sim pelo “caráter protecionista” de segmento
“po
vulnerabilidade”.
do vulnerável não é
Certamente, o princípio da tutela do melhor interesse
circunscrito às categorias que possuem estatutos legislativos protetores; Ob-
s pacientes. Na doutrina,
serve-se, por exemplo, o caso dos (hiper) vulnerávei
como categorias vulne-
os pacientes também são lembrados doutrinariamente
4 i a
dos
do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir.
VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. À tutela n Benjamin (STJ).
julgados relatados pelo Min. Herma
RT, jan.-fev. 2016.
Revista de Direito do Consum idor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed.
Novos Temas DO Direito DO CONSUMIDOR 249
ráveis cujo melhor interesse deve ser tutelado. Nesse sentido, já se posicionou
o professor Gustavo Tepedino,” Braga”! e Maia.”
Com efeito, percebe-se que a concepção de tutela do melhor interesse dos
vulneráveis é realidade constitucional implícita decorrente de princípios cons-
titucionais — dignidade, solidariedade, igualdade real, Justiça e liberdade, prin-
cipalmente —, impondo ao intérprete das normas sempre o atuar no sentido de
construir uma sociedade livre, justa e solidária, razão pela qual se deve sempre
observar os interesses dos vulneráveis com igual consideração e atribuir inter-
pretação igualitária e protetiva — ou seja, sem fechar os olhosà realidade dos
mais fracos e débeis. '
Pois bem, exposto o princípio da tutela do melhor interesse dos vulnerá-
veis, passa-se a expor aplicação do mesmo no STJ, a partir dos julgados relata-
dos pelo ministro Herman Benjamin.
rina,
20. TEPEDINO, Gustavo. A Responsabilidade médica na experiência brasileira contem-
tIne-
porânea. In: - Temas de direito Civil. Tomo II. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
p. 94.
21. BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2008.
tica € p. 319-320.
-363, 22. MAIA, Maurilio Casas. Os planos de saúde e o melhor interesse do paciente hiper-
vulnerável no tratamento mais adequado e indicado: Da distinção entre a técnica
raiva, moderna e a experimental? Notas ao REsp 1.320.805/SP. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 942, p. 342-348, 2014.
23. p. 190-191.
r dos VASCONCELOS, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse
do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT,
jan.-fev. 2016.
250 Revista DE Direito DO ConsuMIDOR 2016 º RDC 103
26. STJ, REsp 586.316/MG, 2º T., j. 17.04.2007, rel. Min. Herman Benjamin, DJe
19.03.2009.
27. Sobre o tema rotulagem e direito à informação da população com alergia alimentar,
recomenda-se: CHADDAD, Maria Cecília Cury. Rotulagem de alimentos: o direito à
e da - informação, à proteção da saúde e à alimentação da população com alergia alimentar.
“isas, Curitiba: Juruá, 2014.
ades, | 28. Tratava-se de Mandado de Segurança impetrado pela Associação Brasileira das Indús-
utros trias da Alimentação — Abia a fim de se afastar da fiscalização do Procon e não ser
1 do | compelida a informar ostensivamente a presença de glúten nos alimentos. Discutia-se
T.,j. a extensão e a zona de aplicação da “Lei do Glúten” (Lei 10.674/2003, precedida da
| ab-rogada Lei 8.543/1992), a qual determina ampla informação sobre a presença do
andi- "citado produto nos alimentos. Vide o artigo primeiro da sobredita Lei: “Art. 1.º Todos
mpra os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo e bula, obrigatoriamente,
lação as inscrições “contém glúten! ou “não contém glúten”, conforme o caso”.
con- 29. Cumpre informar que, em outra oportunidade, o STJ já tratou das peculiaridades do
ão de | nível da informação a ser recebida por deficientes visuais: “Recurso Especial. Ação
idade Civil Pública. Direito do Consumidor. Direito de Informação. Consumidor
Deficien-
Her- te Visual. Manuais de Eletrodomésticos. Obrigação de Fornecimento. Solicitação
do
Consumidor. 1. O Código de Defesa do Consumidor, com seu arcabouço normativo
—— —
rdos VASCONCELOS, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse
do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103: ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev.
À
2016.
252 Revista DE Direito DO ConsumiDOR 2016 * RDC 103
forma a suprir
; balizador das relações de consumo, busca equilibrar essas relações de
é
| a vulnerabilidade do consumidor, que, portador de necessidades especiais ou não,
004
| vulnerável pelo só fato de ser consumidor. 2. O 8 2.º do art. 58 do Dec. 5.296/2
doméstico
determina que os fabricantes de equipamentos eletroeletrônicos de uso
em fon-
disponibilizem os manuais de instrução de uso em meio magnético, Braile ou
r de deficiên cia visual.
te ampliada, sempre que solicitado pelo consumidor portado
especiais
A lei, então, protege o direito de informação ao consumidor com necessidades
| (..)” (STJ, REsp 1.520.202/SP 3.º T., j. 12.05.2015, rel. p/ Acórdão Min. João Otávio
De Noronha, DJe 26.05.2015, g.n.).
ção-con-
| 30. “21. Existência de lacuna na Lei 10.674/2003, que tratou apenas da informa
jurídica,
| teúdo, o que leva à aplicação do art. 31 do CDC, em processo de integração
e, à
: de forma a obrigar o fornecedor a estabelecer e divulgar, clara e inequivocament
/MG,
N conexão entre a presença de glúten e os doentes celíacos” (STJ, REsp 586.316
, dl 2.º T., j. 17.04.2007, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 19.03.2009).
à informação
7 31. “(...) 6. No âmbito da proteção à vida e saúde do consumidor, o direito
/M6,
é manifestação autônoma da obrigação de segurança (...). (STJ, REsp 586.316
E rel. Min. Herman Benjamin).
dos VasconceLos, Fernando A.: Mai, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão
a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
A.
254 Revista DE Direito DO ConsuMmIDOR 2016 º RDC 103
dos | VasconceLos, Fernando A.; Mata, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
256 Revista DE Direito DO ConsuMIDOR 2016 * RDC 103
VasconceLos, Fernando A.: Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
Novos Temas DO Direito DO CONSUMIDOR 257
37. “(...) 2. O que qualifica uma pessoa jurídica como consumidora é a aquisição ou uti-
sse lização de produtos ou serviços em benefício próprio; isto é, para satisfação de suas
necessidades pessoais, sem ter o interesse de repassá-los a terceiros, nem empregá-los
na geração de outros bens ou serviços. Desse modo, não sendo a empresa destinatária
de , final dos bens adquiridos ou serviços prestados, não está caracterizada a relação de
12/ - Consumo. (...)” (STJ, AgRg no REsp 916.939/MG, 1.º T., j. 04.11.2008, rel. Min. De-
er nise Arruda, DJe 03.12.2008).
de 38. “(...) 2. A jurisprudência desta Corte possui entendimento pacífico no sentido de que
. a relação entre concessionária de serviço público e o usuário final, para o fornecim
en-
Ivo | to de serviços públicos essenciais, tais como água e energia, é consumerista, sendo
pa- cabível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. (...)” (STJ, AgRg no AREsp
354.991/RJ, 2.º T.,j. 05.09.2013, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 11.9.2013).
los VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável:
uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
258 Revista DE Direito DO Consumidor 2016 * RDC 103
pessoa jurídica sempre que se tratar de serviço público essencial”. À tese seria
interessante para o debate acadêmico e jurisprudencial. Entretanto, afirmou
Benjamim, “[eJm nenhum deles, contudo, está assentada essa tese”.
er
ne
Pa iisa
a
serviço, por atuar fora do seu ramo de atividade. 4. De acordo com o art. 29 do
o. CDC, “equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
ua
VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a cartir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
ESPE
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
Novos Temas DO Direito DO CONSUMIDOR 259
À
260 Revista DE Direito DO ConsuMIDOR 2016 * RDC 103
.*2 ;
é | através dos tributos arrecadados”
;> Não sem antes explanar as teorias finalistas, maximalistas e finalistas apro-
essa fundadas — com lastro na professora Claudia Lima Marques no clássico “Ma-
on- nual de Direito do Consumidor” —, arrematou o Min. Herman Benjamin: “o
e. CDC é aplicável, pois formulou-se o pedido em nome da coletividade, que
indubitavelmente a consumidora da energia elétrica sob forma de iluminação
) pública, conforme decidido no julgamento do REsp 913.711/SP” (Trecho de
voto, In: REsp 1.164.710/MG, g.n.).
Em outro julgado, o ministro Herman Benjamim se viu envolto à seguinte
“OM- discussão: Em ação civil pública proposta pelo MP em desfavor de “Compa-
ida. nhia Energética do Piauí S/A, com o fito de restabelecer a qualidade do servi-
Jmo ço de fornecimento de energia elétrica na região do bairro de Santa Luzia do
município de São Raimundo Nonato/PI”, poderia ser evitada a inversão do
lica, ônus da prova porque o Ministério Público não se enquadraria no conceito de
uni- hipossuficiente?
Ação A resposta vem por meio da ementa do Min. Benjamin: “(...) tal alegação
tivo não prospera. A uma, porque a hipossuficiência refere-se à relação material
ar à de consumo, e não à parte processual. A duas, porque, conforme esclarecido
Bla alhures, tal medida também pode se sustentar no outro pressuposto legal, qual
Asu- seja, a verossimilhança das alegações” (STJ, AgRg no AREsp 655.584/PI, 2.º T.,
Nes, |; 16.06.2015, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 05.08.2015).
to Correto o Min. Herman Benjamin. Em primeiro lugar, porque o CDC
con- (art. 6.º, VIII) apresenta pressupostos não cumulativos para concessão da in-
versão do ônus da prova em desfavor de Companhia Energética. Eis os pressu-
postos alternativos: (1) hipossuficiência ou (2) verossimilhança da alegação.
Por Desse modo, mesmo o Ministério Público não se enquadrando na figura do
vul- hipossuficiente, poder-se-ia deferir, em tese, a inversão do ônus da prova (em
pelo favor do consumidor protegido pela ACP) com base na verossimilhança da
nte alegação. Em um segundo plano, inteligentemente e em favor do consumidor
cida (inc. XXXII, art. 5.º, da CF/1988), o ministro Herman mitigou a necessidade
trulo de perquirir a hipossuficiência do Ministério Público, aduzindo que a hipossu-
ão é, ficiência seria analisada em observando a relação jurídica de direito material e
oa não a relação processual — com o respectivo substituto processual.
riços
midor no CDC, além do conceito basilar (art. 2.º, caput) e, para os demais conceito,
a remuneração (direta ou indireta) é irrelevante, entende-se. A questão aqui poderia
ser enquadrada até mesmo a partir dos conceitos consumidor por equiparação a de-
ção à pender das peculiaridades do caso: parágrafo único, do art. 2.º; art. 17; art. 29, todos
msu- do CDC.
dos VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
262 Revista DE Direito DO ConsuMIDOR 2016 * RDC 103
VasconceLos, Fernando A.; Mais, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
Novos TEMAS DO Direito DO CONSUMIDOR 263
Vasconcetos, Fernando A.; Mata, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão à partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
264 REvisTA DE Direito DO ConsuMIDOR 2016 * RDC 103
democrático e por
H pelos quais se definiu a legitimidade a partir do princípio
a (“segunda onda de
critério de solução de dúvidas em favor do acesso à Justiç
pessoas com deficiência
acesso à Justiça)” em favor da tutela ministerial de
a uma sociedade,
| - física, mental ou sensorial: “(...) 1. Quanto mais democrátic
Tribunais que se espera seja
maior e mais livre deve ser o grau de acesso aos
garantido pela Constituição e pela lei à pessoa, individual ou coletivamente,
legitimação para agir de
2. Na Ação Civil Pública, em caso de dúvida sobre a
soria Pública e associações,
sujeito intermediário — Ministério Público, Defen
da pessoa humana, O juiz
p. ex. —, sobretudo se estiver em jogo à dignidade
e, assim, abrir as portas para a solução judicial de
deve optar por reconhecê-la
(STJ, REsp
litígios que, a ser diferente, jamais veriam seu dia na Corte. (...)”.
Herman Benjamin,
931.513/RS, 1.º Seção, j. 25.11.2009, rel. p/ Acórdão Min.
DJe 27.09.2010).
adotou um
| Percebe-se que o ministro Herman Benjamin, implicitamente,
na dúvida, deve-se optar
| critério de definição da legitimidade ativa pelo qual,
instrumental (ex.:
à por conferir legitimidade ao sujeito intermediário ou parte
sentido, parece ter adotado
Ministério Público e Defensoria Pública). Nesse
Socialis —** princípio
um princípio em prol da legitimidade in dubio pro Justitia
a finalidade de
utilizado pela Suprema Corte Argentina, em 13.09.1974,” com
os sociais. o
solucionar questões em prol da efetivação de direit
ão do ministro
A relação do princípio in dubio pro justitia socialis e a posiç
ontada com a justifica-
Herman Benjamin parece ser confirmada quando confr
possibilidade de resposta à
do aparelho judicial, tem-se no acesso coletivo a única
de direitos e interesses difu-
massificação dos conflitos, que se organizam em torno
(art. 81 do CDC). 7. Além de
sos, coletivos stricto sensu e individuais homogêneos
resolvidas de maneira uniforme
beneficiar as vítimas, que vêem suas demandas serem
m do Ministério Público e das
e com suporte institucional, a legitimação ad causa
prestigia e favorece o próprio Judi-
ONGs para a propositura de Ação Civil Pública
sua elevada missão constitucional,
ciário, que, por essa via, sem deixar de cumprir REsp
es de litígios individuais. (..)” (STJ,
evita o dreno de centenas, milhares e até milhõ
an Benjamin, DJe 04.11.2009).
347.752/SP 2.º T., j. 08.05.2007, rel. Min. Herm
Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.
45. Para maiores detalhes, vide: CAPPELLETTI,
, 1988.
Tradução Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris
Carnelutti e o mito de Sísifo: a (i)legitimi-
46. MAIA, Maurilio Casas. Os necessitados de ca
dos encarcerados, Revista Jurídi
dade coletiva da Defensoria Pública para a tutela
.2015.
Consulex, Brasília (DF), vol. 436, p. 42-45, 15.03
regime jurídico, implementação
47. GOTTI, Alessandra. Direitos Sociais: Fundamentos,
118.
e aferição de resultados. São Paulo: Saraiva, 2012. p.
uma visão a partir dos
A tutela do melhor interesse do vulnerável:
VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. in (STJ).
julgados relatados pelo Min. Herman Benjam
25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano
Novos Temas DO DireiTO DO CONSUMIDOR 265
por tiva da legitimidade a partir da relevância social do direito sub judice na ação
de coletiva.
icia
Em relação ao Ministério Público, o ministro Herman Benjamin reconhe-
ide
ceu a legitimidade ministerial para a defesa coletiva dos interesses dos con-
Seja
sumidores de plano de capitalização a partir da relevância social, cumprindo
nte,
ressaltar Os seguintes trechos: “(...) 7. Além de beneficiar as vítimas, que vêem
: de
suas demandas serem resolvidas de maneira uniforme e com suporte institu-
des
cional, a legitimação ad causam do Ministério Público e das ONGs para a pro-
juiz
positura de Ação Civil Pública prestigia e favorece o próprio Judiciário, que,
Ide
por essa via, sem deixar de cumprir sua elevada missão constitucional, evita
Esp
o dreno de centenas, milhares e até milhões de litígios individuais. (...) 10. A
nin,
legitimação do Ministério Público para a propositura de Ação Civil Pública,
em defesa de interesses e direitos difusos e coletivos stricto sensu, é automá-
um tica ou ipso facto e, diversamente, depende da presença de relevância social
ptar no campo de interesses e direitos individuais homogêneos, amiúde de caráter
ex: divisível. 11. A indivisibilidade e a indisponibilidade dos interesses coletivos
tado não são requisitos para a legitimidade do Ministério Público. (...) 13. Há re-
ípio
levância social na tutela dos interesses e direitos dos consumidores de Socie-
e de dades de Capitalização, grandes captadoras de poupança popular mediante
remuneração, cuja higidez financeira importa à economia nacional, tendo por
istro isso mesmo o Estado o dever de controlar “todas as operações e de fazê-lo “no
fica- interesse dos portadores de títulos de capitalização” (arts. 1.º e 2.º, do Dec.-lei
261/1967) (...)” (STJ, REsp 347.752/SP 2.º T., j. 08.05.2007, rel. Min. Herman
Benjamin, DJe 04.11.2009).
Convém esclarecer que o posicionamento exposto pelo Min. Herman Ben-
sta à jamin no REsp 1.264.116/RS, tornou-se o paradigma adotado pela Corte Espe-
difu- cial do STJ no EREsp 1.492.577, em outubro de 2015, a fim de aferir o conceito
m de
de “coletividade necessitada” e, assim, detectar a legitimidade coletiva da De-
orme
e das fensoria Pública. Desse modo, mais uma vez um trabalho de lavra do ministro
Judi- Herman Benjamin pode ser citado como inspirador da ampliação da proteção
ional, social no âmbito jurisprudencial do STJ.
REsp
Do mesmo modo, com esteio na relevância social, o ministro Herman Ben-
jamin votou favoravelmente à legitimidade da Defensoria Pública em ação co-
astiça.
itimi-
rídica 48. No mesmo sentido: “(...) 2. O Ministério Público tem legitimidade processual para a
propositura de ação civil pública objetivando a defesa de direitos individuais homo-
gêneos e direitos difusos indisponíveis do consumidor, mormente se evidenciada a
tação
relevância social na sua proteção. (...)” (STJ, AgRg no AREsp 681.111/MS, 4.º T., j.
06.08.2015, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 13.08.2015).
ol
ir dos VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. À tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
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3. NorAS CONCLUSIVAS
O princípio da tutela do melhor interesse do vulnerável é princípio implíci-
to da ordem constitucional, decorrente da confluência entre outros princípios
as
49. Sobre o tema, Herman Benjamin ressaltou que a hermenêutica do termo “necessitado”
deve ser ampliativa para abranger os hipervulneráveis e todos os que necessitem da mão
solidarista do Estado. Nesse sentido, vide: BENJAMIN, Herman. A legitimidade' da Dê
fensoria Pública à ação civil pública. STJ, REsp 1.264.116/RS, 2.º T., v.u.,j. 18.10.2011,
rel. Min. Herman Benjamin, DJe 13.04.2012. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJA-
MIN, Antônio Herman. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; VIGORITI, Vicenzo. Proces-
so Coletivo: do surgimento à atualidade. São Paulo: Ed. RT, 2014. p. 935.
50. No mesmo sentido: “(...) 6. É imperioso reiterar, conforme precedentes do Superior
Tribunal de Justiça, que a legitimatio ad causam da Defensoria Pública para intentar
ação civil pública na defesa de interesses transindividuais de hipossuficientes é re-
conhecida antes mesmo do advento da Lei 11.448/2007, dada a relevância social (e
jurídica) do direito que se pretende tutelar e do próprio fim do ordenamento jurídico
brasileiro: assegurar a dignidade da pessoa humana, entendida como núcleo central
dos direitos fundamentais. (...)” (STJ, REsp 1106515/MG, 1.º T., j. 16.12. 2010, rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 02.02.2011).
VasconceLos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
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los Vasconcetos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
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Ah.
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i
Í 1 do CDC para além do limite estrito do finalismo minimalista. Desse modo, a
!
proteção igualizadora em prol dos vulneráveis pode ser invocada por profis.
É!“| sionais e pessoas jurídicas ainda que não se adequem estritamente ao conceito
e de destinatário final. Assim, o finalismo aprofundado atua como mecanismo de
(1) reconhecimento do vulnerável e (2) garantia de igual consideração e Proteção
|
oi dos interesses de vulneráveis que não se enquadrariam no conceito de consu.
84
va
midor a partir do finalismo.
Viu-se ainda que o Ministro Herman Benjamin, interpretou as normas do
microssistema processual coletivo a fim de garantir a máxima tutela do me-
lhor interesse da coletividade vulnerável (ou do “vulnerável-coletivo”). No caso,
tratava-se de categoria coletiva enquadrada como necessitado jurídico-consti-
tucional (art. 5.º, XXXII) e vulnerável (art. 4.º,1, do CDC): os consumidores. A
fim de resguardar o melhor interesse da coletividade vulnerável, interpretou-se o
conceito de consumidor de modo amplo, partindo da concepção de finalismo
aprofundado; ressaltou-se a existência de pressupostos alternativos para con-
cessão da inversão do ônus da prova — a hipossuficiência ou a verossimilhança
da alegação (art. 6.º, II, do CDC) -, a qual não estaria sob o mero arbítrio do
| juiz, mas também não poderia representar surpresa ao fornecedor causando
desequilíbrio na relação de consumo; Por fim, sobrelevou-se que a paíte ins-
trumental do processo coletivo — conceito no qual se enquadram Ministério
Púbico e Defensoria Pública, por exemplo -, não é a referência para a incidên-
cia da concepção de hipossuficiência, mas sim a relação base de direito mate-
rial (consumerista). Desse modo, a inversão do ônus da prova foi garantida
no processo coletivo como mecanismo de salvaguarda do melhor interesse da
coletividade vulnerável, cujos direitos e interesses também devem ser conside-
rados dignos de proteção.
à Por fim, considerou-se a incidência do princípio do melhor interesse do vul-
nerável sobre a interpretação e aplicação das condições da ação no processo
coletivo, garantindo-se a primazia das decisões de mérito e mais democracia pro-
| cessual, por meio da observação do critério da relevância social para evitar a ex-
tinção do feito sem julgamento de mérito. Constatou-se que a lógica analisada
se assemelha com princípio in dubio pro Justitia Socialis.
DOR Pois bem, embora longe de esgotar as balizas de aplicação do princípio da
| tutela do melhor interesse do vulnerável, pode-se concluir a partir deste bre-
ve estudo sobre a visão jurídica do ministro Herman Benjamin sobre a tutela
| dos socialmente mais fracos, que os julgados analisados buscam reequilibrar
a relação desigual à qual é exposto o vulnerável em sociedade, criando-se um
EN paradigma interpretativo favorável ao mais fraco, em favor debilis e in dubio pro
homine et vulnerabilis.
Vasconcetos, Fernando A.; Maia, Maurilio Casas. A tutela do melhor interesse do vulnerável: uma visão a partir dos
julgados relatados pelo Min. Herman Benjamin (STJ).
Revista de Direito do Consumidor. vol. 103. ano 25. p. 243-271. São Paulo: Ed. RT, jan.-fev. 2016.
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