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Psicologia e Políticas Públicas: Contribuições do CREPOP Bahia para a


Formação em Psicologia

Chapter · August 2021

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0 37

1 author:

Pablo Jacinto
Universidade Federal da Bahia
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02
EXPERIÊNCIAS
ÊN
VOLUME EM
M POLÍTI
POLÍTICAS
PÚBLICAS

PSICOLOGIA,
SOCIEDADE E
DESIGUALDADE
SOCIAL
BOAS PRÁTICAS
NA FORMAÇÃO
EM PSICOLOGIA
Renan Vieira de Santana Rocha
Diego Solci Toloy
Wilson Maranhão Sampaio
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social
Boas Práticas na Formação em Psicologia
Experiências em Políticas Públicas - Volume 2
Renan Vieira de Santana Rocha
Diego Solci Toloy
Wilson Maranhão Sampaio

Editor(a): Gilmaro Nogueira


Diagramação: Daniel Rebouças
Capa: Humberto Ferreira Nunes

Conselho Editorial:
Dr. Bruno Puccinelli, NUMAS – USP
Profa. Dra. Darlane S. V. Andrade - UFBA
Profa. Dra. Débora Ferraz de Oliveira – UNIJORGE
Profa. Dra. Dodi Tavares Borges Leal - UFSB
Profa. Dra. Feibriss Henrique Meneghelli Cassilhas – UFBA
Prof. Dr. Iran Melo – UFRPE/UFPE
Prof. Dr. Pablo Cardozo Rocon - UFTM
Profa. Dra. Patrícia Lessa dos Santos - UEM
Prof. Dr. Pablo Pérez Navarro - Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra
Dr. Vinícius Zanoli - Freie Universität Berlin

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(BENITEZ Catalogação Ass. Editorial, MS, Brasil)
P969 Psicologia, sociedade e desigualdade social : boas práticas
1.ed. na formação em psicologia : experiências em políticas públicas,
v. 2 / organização Renan Vieira de Santana Rocha, Diego Solci
Toloy, Wilson Maranhão Sampaio. – 1.ed. – Salvador, BA :
Diálogos, 2021
412 p.; 16 x 23 cm.
Bibliografia.
ISBN : 978-65-89872-09-2
1. Desigualdade social. 2. Políticas públicas. 3. Psicologia. 4.
Sociedade. I. Rocha, Renan Vieira de Santana. II. Toloy, Diego
Solci. III. Sampaio, Wilson Maranhão.
07-2021/48 CDD 302

Índice para catálogo sistemático:


1. Psicologia e políticas públicas 302
Bibliotecária: Aline Graziele Benitez CRB-1/3129

Qualquer parte dessa obra pode ser reproduzida, desde que


citada a fonte. Direitos para essa edição cedidos à Editora Devires.

Av. Ruy Barbosa, 239, sala 104, Centro – Simões Filho – BA


www.editoradevires.com.br
A toda(os)s as(os) estudantes, professoras(es), coordenadoras(es)
e pesquisadoras(es) em Psicologia, bem como (e especialmente)
às comunidades assistidas e às(aos) usuárias(os) de nossos
serviços no Brasil, que produzem, cotidianamente, as verdadeiras
belezas e potências ético-políticas de nossa ciência-profissão.
CAPÍTULO 09:
Psicologia e Políticas Públicas: Contribuições do
CREPOP Bahia para a Formação em Psicologia
Muriel Marinho Pereira 60
Naira dos Santos Bonfim 61
Natani Evlin Lima Dias 62
Pablo Mateus dos Santos Jacinto 63

UMA BREVE INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA


E POLÍTICAS PÚBLICAS

Historicamente, a psicologia como profissão tem suas raízes atreladas a


uma atuação nos padrões do modelo médico e elitista. Conforme aponta o
Conselho Federal de Psicologia (2011, p.09), inicialmente se tinha uma psicologia
“executada em consultórios particulares escolas e empresas, cujo acesso estava
limitado àquelas(es) que dispunham de recursos para custear o trabalho das(os)
psicólogas(os)”.
Com a crise do capitalismo e a diminuição dos postos de trabalho, bem
como a diminuição do poder de consumo da classe média, grande consumidora
dos serviços psicológicos até então, houve mudanças no alvo da atenção da
psicologia. Acrescem-se também, o fortalecimento dos movimentos sociais nos
anos finais da ditadura civil militar e a discussão quanto ao compromisso social
da psicologia, tensionando uma prática direcionada às parcelas populacionais
marginalizadas pela lógica do capital-trabalho (BETTOI, 2003).

60
Graduanda em Psicologia pelo IMS/UFBA. Ex-estagiária do CREPOP/CRP-03. murielmarinhop@gmail.com
61
Graduada em Psicologia pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Mestranda em Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM/UFBA). Psicóloga (CRP-03/21024).
Ex-estagiária do CREPOP/CRP-03. nairabonfimpsi@gmail.com
62
Graduada em Psicologia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Pós-Graduada em Atenção Psicossocial
no SUS e SUAS, pelo Centro Universitário FG - UNIFG. Psicóloga (CRP-03/16212). Assessora Técnica de
Pesquisas e Projetos em Políticas Públicas do CREPOP/CRP-03. evlinnatani@gmail.com
63
Psicólogo (CRP-03/14425) graduado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre e Doutorando
em Psicologia (UFBA). Docente do Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). Assessor Técnico de
Pesquisas e Projetos em Políticas Públicas do CREPOP/CRP-03. E-mail: pablojacintopsi@gmail.com

Volume 2

168
No processo de democratização na década de 1980 e a abertura do
mercado de trabalho no serviço público de saúde, novos desafios à categoria são
apresentados, impulsionando as(os) profissionais de psicologia a reinventarem o
seu fazer de modo a dar respostas eficazes às necessidades de uma população
com a qual, tradicionalmente, não estavam habituados a trabalhar (YAMAMOTO;
OLIVEIRA, 2010).
Posteriormente, diante de um cenário de maior defesa às políticas
sociais, bem como perante o amadurecimento e efetivação das deliberações
constitucionais, uma nova conjuntura de trabalho começou a se modelar e a
partir dos anos 2000. Se fortalece um movimento de reflexão quanto à atuação
profissional, favorecendo a emersão de novos temas no leque das práticas psi.
Bock (1999) pontua que, inseridas(os) em comunidades distintas das elites e diante
de fenômenos sociais, vivenciados por essas comunidades, as(os) psicólogas(os)
foram convocadas(os) a repensar as práticas exercidas e a qualificarem o seu
trabalho, exigindo um conhecimento de aspectos que até o momento não
estavam no escopo delimitado pelo seu campo de saber. Exigindo a criação
de novos conhecimentos e uma mudança da postura profissional, deixando de
lado a ideia de que a Psicologia só intervém no sofrimento psíquico e através do
modelo clínico de atuação.
Ainda segundo Bock (1999), é preciso romper com a ideia de que o mundo
psicológico não tem relação com mundo social. Sugere-se que as(os) profissionais
devem compreender que ao fazer ou saber psicologia estão com sua prática e
conhecimento interferindo na sociedade, reforçando a importância ético-política
no reconhecimento e o compromisso social da profissão, passando pela reflexão
da prática até a formação qualificada, no que toca a garantia de direitos sociais.
Com o passar dos anos, corroborando a ampliação das reflexões, houve
uma inserção significativa de psicólogas(os) no campo social e tornou-se
urgente a necessidade de aprofundar os referenciais teóricos e práticos sobre
o exercício profissional, sobretudo através do diálogo com profissionais que
atuam desde a ponta até a gestão angariando conhecimentos sobre a relação
entre psicologia e políticas públicas. Psicólogas(os) vêm, desde a década de
70, construindo um lugar importante na elaboração e execução das políticas
públicas e, consequentemente, buscando garantir (e qualificar) o atendimento às
necessidades da população em respeito aos direitos sociais, indo de encontro
ao combate à desigualdade social (CFP, 2005a).
Para o Conselho Federal de Psicologia, naquela época, o compromisso
que as(os) psicólogas(os) tinham perante a sociedade brasileira era ainda muito
recente. Entretanto, poderia ser tomado como um importante redirecionamento
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
169
dos caminhos da profissão, apresentando à sociedade possibilidades a serem
seguidas na direção da transformação social, da construção de condições dignas
de vida e da garantia de direitos. No tocante ao exercício profissional, sabia-se
que ainda havia muito o que avançar e rever, em se tratando das teorias e práticas,
contudo, as(os) psicólogas(os), a partir daquele ponto. sabiam por quais caminhos
queriam trilhar (CFP, 2005a).
Ademais, Silvia e Carvalhaes (2016) sinalizam que as implicações que
permeiam pela reinvenção de diferentes formas de atuação da Psicologia,
sobretudo no campo social, estão intimamente atreladas ao reconhecimento
de que o público atendido pelas políticas sociais, também possuem e contam
suas histórias, sendo então agentes de transformação de seu modo de viver
e interagir socialmente. As autoras acreditam ainda ser indispensável que
reflexões sobre as experiências subjetivas e sociais, sejam iniciadas desde o
início da formação da(o) psicóloga(o), no intuito de reduzir a incidência de ações
padronizadas e despolitizadas em seu exercício frente às desigualdades sociais
às quais a(o) profissional irá se deparar nas políticas públicas, de modo que esta(e)
saiba problematizar “diretrizes e normativas sociais que, de diferentes formas,
tentam interditar a produção e visibilidade de configurações plurais de existência”
(SILVA; CARVALHAES, 2016, p.255). Tal posicionamento corrobora o terceiro
inciso dos Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Psicólogo
(CFP, 2005b, p.07) afirmando que “III. O psicólogo atuará com responsabilidade
social, analisando crítica e historicamente a realidade política, economia, social
e cultural”.
É pensando nesse compromisso social e na ampliação dos subsídios teóricos
e técnicos da Psicologia nas políticas públicas, que surge em 2006, o Centro de
Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), uma ferramenta
do Sistema Conselhos de Psicologia64, criado para promover a qualificação da
atuação das(os) psicólogas(os), no âmbito das políticas públicas, mapeando
essas(es) profissionais, elaborando referências técnicas e fomentando práticas,
a nível local e nacional, que dialoguem com a discussão e o fortalecimento do
lugar da Psicologia Social (CFP, 2018).

64
A nomenclatura “Sistema Conselhos de Psicologia” engloba a junção do Conselho Federal de Psicologia
e Conselhos Regionais de Psicologia.

Volume 2

170
O CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E
POLÍTICAS PÚBLICAS (CREPOP)

O CREPOP é resultado do V Congresso Nacional da Psicologia (CNP),


realizado em Brasília, em junho de 2004, que reuniu psicólogas(os) delegadas(os)
eleitos, nos 15 Congressos Regionais da Psicologia (COREPs), realizados por
todo o Brasil. Deste modo, o Centro é um projeto que advém de demandas da
categoria e que o Sistema Conselhos implementou dois anos após (CFP, 2005a).
Em 2021, o Centro completa 15 anos de atuação em rede no Sistema
Conselhos de Psicologia. Seu desdobramento perpassa pelas reflexões sobre
a prática profissional da Psicologia no Brasil desde a década de 70.  Desde
sua implementação, o CREPOP passou a ser uma “nova etapa na construção
da presença social da profissão de psicóloga(o) no Brasil” (CFP, 2005a, p.126).
Inicialmente, o CREPOP funcionava como uma ferramenta de pesquisa,
investigando a prática profissional em distintas políticas públicas de modo a
fomentar referências técnicas de atuação, com base em contextos e práticas
reais de trabalho, além de valorizar a fala e os posicionamentos éticos das(os)
psicólogas(os) colaboradoras(es) do processo.
Na edição revisada da Referência Técnica para Atuação de Psicólogas(os)
em Questões Relativas à Terra (CFP, 2019), é relembrando o contexto histórico do
surgimento do CREPOP que possui uma singularidade que deu razão, sentido e
conteúdo para a sua realização, enquanto ferramenta de gestão para o Sistema
Conselhos de Psicologia. Acresce-se, então, o reconhecimento a uma nova
função, já que o CREPOP passa a executar atividades para além dos ciclos de
pesquisas, incluindo produções técnicas, e assessoramento às gestões dos
Conselhos Regionais de Psicologia, Grupos de Trabalho e Comissões do Sistema
Conselhos de Psicologia, além de colaborar com processos de orientação em
casos referentes às políticas públicas.
O documento destaca ainda que o CREPOP surge em uma época marcada,
como um momento histórico no qual a sociedade brasileira terminava seu ciclo
de ser regido por um Estado, voltado para as demandas das classes alta e média,
para o início de um ciclo de construção de um Estado mais acessível às demandas
sociais. Processo esse que tem sido aviltado, considerando a emergente crise
que vive o Brasil, com ataques e empenhados investimentos nos desmontes das
políticas públicas nas mais diversas vertentes (CFP, 2019).
O surgimento do CREPOP é dado num momento em que psicólogas(os)
passam a ocupar o serviço público nas mais variadas áreas, como fruto da
expansão de ministérios e secretarias de governo na área social, da paulatina
efetivação de legislações em áreas como a Assistência Social, Saúde Pública
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
171
e Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, e de uma
atuação profissional que buscava novas práticas da ciência e da profissão, numa
perspectiva voltada às demandas de grande parte da população que ansiava
por um Estado de garantia de direitos. Para o Conselho Federal de Psicologia
(2005a, p.128), é uma nova forma de dialogar e se relacionar politicamente “com
o Estado brasileiro e com suas várias esferas: Executivo, Legislativo, Judiciário
e com as autoridades governamentais responsáveis pelo governo”.
Cabe aqui ressaltar que um dos principais propósitos do CREPOP envolve
“ampliar a atuação dos psicólogos na esfera pública e expandir a contribuição
profissional da Psicologia para a sociedade brasileira” (REIS; GUARESCHI,
2010, p.859). Neste período, o CREPOP vem para somar ao fortalecimento do
compromisso social da Psicologia brasileira que buscava romper com modelos
tradicionais de oferta de serviços, tornando a atuação cada vez mais crítica e
sensível às questões sociais. Ademais, ao investigar a prática profissional,
o CREPOP reforça ao poder público a importância do fazer psi nas políticas
estudadas.
Para o Sistema Conselhos de Psicologia, além da função técnica, o CREPOP
tem um importante papel ético e político. Ético no sentido de orientar uma
prática voltada à garantia de direitos, assim como à qualificação do exercício
profissional que corrobore com as legislações vigentes. E político, por demarcar
as contribuições da Psicologia no campo das políticas sociais, voltadas para uma
transformação social daquelas(es) que delas necessitam (CRP-12, 2020).
No processo de desenvolvimento dos produtos do CREPOP, como afirmam
Reis e Guareschi (2010), as temáticas, políticas e/ou serviços que são foco da
investigação da prática profissional são definidas durante a Assembleia de
Políticas, da Administração e das Finanças (APAF), instância deliberativa que
reúne representantes de todo o Sistema Conselhos tendo como critérios a
tradição na Psicologia, a abrangência territorial, o caráter social e emergencial dos
serviços e a existência de marcos lógicos e legais. Levam-se em consideração,
também, as demandas da categoria expressas nos Congressos Regionais da
Psicologia e no Congresso Nacional da Psicologia.
Considerando a peculiaridade do CREPOP como ferramenta de produção
técnica, foi desenvolvida uma metodologia organizada em torno de áreas
temáticas, envolvendo múltiplas estratégias de coleta de dados com vistas à
produção de referências técnicas para a atuação de psicólogas(os), no âmbito
das políticas públicas. Atualmente, o Centro segue metodologia própria que
dispõe de 3 circuitos de pesquisas envolvendo: (1) levantamento do campo; (2)
investigação da prática; (3) produção de referência (CFP, 2012). 
Volume 2

172
Desde sua criação, diversas políticas, serviços, programas e temas
transversais (ligando-os ao âmbito das políticas públicas) já foram focos de
pesquisa do CREPOP. Suas produções estão à disposição da categoria que
atua ou deseja trabalhar nestes campos, das(os) gestoras(es) para que tenham
ciência das contribuições e especificidades da psicologia, bem como das
expectativas reais acerca da participação da psicologia nas políticas públicas,
e das universidades e demais centros de formação, para conhecer as práticas
e orientar uma formação qualificada das(os) futuras(os) psicólogas(os), para o
trabalho no setor público.
Seu principal objetivo é sistematizar e difundir o conhecimento sobre a
interface entre psicologia e políticas públicas. Através das referências técnicas é
possível demonstrar a contribuição da psicologia na elaboração e implementação
de políticas públicas mais humanizadas a partir da compreensão da dimensão
subjetiva dessas políticas. Desse modo, é possível promover a interlocução da
psicologia com espaços de formulação, gestão e execução de políticas públicas.
Cabe ressaltar que a atuação do CREPOP é articulada em rede, contando
com instâncias de coordenação nacional (no CFP) e regional (nos CRPs). Em 2021,
o Sistema Conselhos de Psicologia contava com 24 unidades locais do CREPOP
em funcionamento nos Conselhos Regionais espalhados pelo Brasil. Na Bahia, o
Conselho Regional de Psicologia 3ª Região (CRP-03), conta com uma unidade
local desde 2006, o que faz do Regional também, um debutante em 2021, ao
completar seus 15 anos de trabalhos pelo território baiano.
A expansão do campo de atuação da psicologia tem promovido um
movimento cuja análise é fundamental para compreender a prática profissional
nos dias atuais: a interiorização. Ao longo deste texto e do que se pretende
dialogar, é notória a ampliação dos postos de trabalho da psicologia, com recorte
especial ao campo das políticas públicas, espaços que garantem (ou ao menos
deveriam, atendendo ao disposto nas legislações e necessidades da população)
a presença da Psicologia em dimensões territoriais, inclusive para o interior,
muito maiores do que há 40, 50 anos, se considerarmos o percurso histórico do
compromisso social da profissão.
Atendendo ao plano de interiorização do CRP-03, a equipe CREPOP
Bahia está alocada tanto na Sede do CRP-03, em Salvador, quanto na Subsede
Sudoeste do CRP-03, em Vitória da Conquista, contando com psicólogas(os)
pesquisadoras(es) no corpo de funcionárias(os), estagiárias(os) e Conselheiras(os)
da Comissão de Políticas Públicas. A equipe baiana denota um marco diferencial
nas equipes CREPOP por todo o Brasil, sendo a única com três técnicas(os)
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
173
atuando e com tal configuração, estando tanto na capital quanto no interior do
Estado.
Macedo e Dimenstein (2011) elegem reflexões acerca da temática e
associam a interiorização da psicologia à expansão de políticas públicas, nas
quais a presença desta(e) profissional é essencial, por lei, como parte da equipe
mínima, ou, ainda que não seja exigido obrigatoriedade, que esteja no escopo
de profissionais possíveis. O CRP-03 segue essa mesma ótica ao entender que
se faz necessário investir em interiorização para uma melhor abrangência dos
territórios que constituem a Bahia e reconhecimento de suas diferentes realidades
e demandas para, assim, uma melhor atuação.
Em âmbito local, os planos de trabalho anuais preveem que, enquanto
recurso de gestão, diversas ações sejam articuladas junto aos Grupos de Trabalho
(GTs) e Comissões visando à mobilização do CRP-03 para ampliar e estreitar as
relações com gestoras(es) estaduais e municipais, psicólogas(os) que atuam
no controle social, profissionais das políticas públicas e instituições de ensino
superior, para divulgação dos documentos de referência e fortalecimento de
relações institucionais. Ademais, o CREPOP segue realizando pesquisas na Bahia,
visando ao maior conhecimento sobre a realidade profissional no estado, bem
como dando valor aos saberes produzidos pela categoria no território baiano.

CREPOP BAHIA COMO CAMPO DE ESTÁGIO

Pensando o CREPOP Bahia como um espaço que possibilita o aprendizado


teórico e prático sobre pesquisa, psicologia e políticas públicas, possibilitando
uma experiência profissionalizante na Psicologia Social, o CRP-03 possui
programas de estágio supervisionado que oferecem subsídios para que as(os)
estudantes utilizem os conhecimentos adquiridos durante o processo educativo
formal, de maneira que possam vivenciar e refletir no dia a dia a teoria. Os arquivos
internos da autarquia, apontam que a primeira estagiária do CREPOP Bahia iniciou
suas atividades em junho de 2007. Desde então, o Centro tem sido também um
ambiente rico em apresentação de conteúdos que dificilmente as(os) estudantes
acessam durante a formação.
O desenvolvimento das atividades realizadas pelo CREPOP Bahia referente
à atuação das(os) estagiários contribui para a construção de reflexões críticas,
frente ao cenário atual e futuro da psicologia nas políticas públicas, bem como
a aquisição de outras competências pertinentes à atuação profissional, como
a pesquisa, o estabelecimento de diálogo com distintos postos hierárquicos e
a produção de documentos. Atendendo ao disposto na Lei nº 11.788 (BRASIL,
Volume 2

174
2008), que dispõe sobre o estágio de estudantes, o plano de estágio do CREPOP
Bahia promove o ato educativo supervisionado visando à preparação para o
mercado de trabalho, como parte do projeto pedagógico da formação através
do aprendizado de competências próprias da atuação profissional.
Dentre as atribuições de estágio desenvolvidas no Centro, encontram-se
no plano de estágio do CREPOP no CRP-03: acompanhar as(os) técnicas(os)
e conselheiras(os) no processo de fazer cumprir o plano de trabalho anual;
aprofundar-se nas normativas que regulamentam a psicologia enquanto ciência
e profissão no Brasil; participar das discussões relativas à psicologia e políticas
públicas; levantar e estudar marcos lógicos e legais das pesquisas; mapeamento
da rede de serviços existentes referente às políticas que estejam como foco de
pesquisa; identificar psicólogas(os) que atuam em políticas públicas; auxiliar na
elaboração e realização de eventos, como espaços de diálogo com a categoria
profissional; representar e apresentar o CREPOP em instituições externas e no
próprio CRP-03; acompanhar as(os) técnicas(os) e conselheiras(os) do CREPOP
Bahia em eventos internos e externos, como visitas a instituições e audiências
com gestoras(es); elaborar orientação supervisionada sobre a atuação de
psicólogas(os) nas políticas públicas, baseando-se nas referências técnicas
produzidas e demais normativas vigentes; produzir textos (relatórios, transcrições
de gravações, minutas, artigos, projetos, entre outros); participar das reuniões
de capacitação e planejamento da equipe CREPOP Bahia.
Nesse sentido, o previsto no plano de estágio do CREPOP Bahia corrobora
Reis e Guareschi (2010, p. 860), a partir de suas experiências na unidade regional
do CREPOP no Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP/
RS), quando afirmam que os objetivos do Centro perpassam por considerar na
formação, o contato com a “rede pública em relação à gestão, à intersetorialidade,
aos serviços e ao controle social, promover maior aproximação do estudante de
Psicologia com as atividades dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia”.
Preocupa-se também com os demais enfoques de relevância para uma prática
profissional comprometida socialmente e, assim como com a qualidade no
serviço público.
Respalda-se a reafirmação do campo de estágio neste espaço, através de
apontamentos como os de Mandelbaum (2012), que vê o campo social como
território fértil, um verdadeiro laboratório para a produção em Ciências Humanas,
de forma que cada vez mais o social e o psicológico são concebidos de modo
indissociável. Lembrando que, atualmente, as políticas públicas se configuram
como o espaço de grande inserção desses profissionais.
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
175
Em se tratando da territorialidade, entender sua ideia é um caminho
norteador para as ações a serem produzidas pelos serviços, estando associada
ao tempo e ao lugar em que as ações são elaboradas e realizadas, a partir da
compreensão dos espaços e culturas como um todo (LIMA; YASUI, 2014).
Historicamente, a equipe CREPOP Bahia contou com estagiárias(os) tanto
na Sede, localizada da capital baiana, como na Subsede da Região Sudoeste
do Estado, capilarizando as ações do Centro pelo território baiano, para além
da dimensão territorial onde se localizam os escritórios, cobrindo ações pela
Bahia, sobretudo potencializando o diálogo com a categoria, peça chave para
as produções do CREPOP nacionalmente. Sobre esse aspecto, Queiroz (2014)
apresenta o conceito de território social como “espaço das redes e das interações
espaciais, dos territórios e das territorialidades, dos lugares e das representações
sociais”, uma vez que o espaço geográfico não seria, unicamente, um lugar físico
para a ação da sociedade, mas sim parte dela, um espaço sólido, porém dinâmico
para as interações sociais. Assim, o CREPOP compreende o território baiano
como dotado de multiplicidade e singularidades culturais que balizam formas
de fazer psicologia também múltiplas.
Lembrando que, no que tange à importância da experiência de estágio aqui
apontada, vale considerar a expansão da psicologia no interior na Bahia em que
houve uma ampliação dessa graduação no estado. Em dez anos, este número
se multiplicou e a quantidade de cursos de Psicologia chega a 62 cursos, sendo
21 na capital e 41 no interior, segundo dados do Ministério da Educação (2020).
Neste espaço, destaca-se a relevância do CREPOP Bahia, enquanto espaço
formativo em Psicologia Social num recorte de tempo entre 2018 e 2020,
período em que a equipe era composta pelas(os) autoras(es) deste texto, dentre
estagiárias e técnicas(os) de referência. Cabe aqui, elucidar que a atuação do
CREPOP busca cobrir o território baiano e, não somente as cidades em que o
CRP-03 possui escritório físico (sede e subsede), de modo que nos processos de
trabalho, toda a Bahia é considerada, ainda que com limitações dada a dimensão
territorial do Estado.
Representando a concretização do compromisso com um eixo político
central no trabalho do Sistema Conselhos de Psicologia, o CREPOP vem para
contribuir na defesa da garantia dos direitos sociais que se materializam, por meio
da implementação de políticas públicas, sob responsabilidade do Estado, bem
como a defesa irrestrita da presença da psicologia nessas políticas. Entendendo,
inclusive, que para uma presença cada vez mais qualificada, faz-se necessário
o conhecimento do processo estruturante e de desenvolvimento das políticas
públicas e, logo, o papel da Psicologia Social desde a graduação. Como destaca
Volume 2

176
Machado (2011), é notória a percepção de recorrentes dúvidas quanto ao exercício
da profissão no campo da Psicologia Social por parte das(os) estudantes do
curso de psicologia, tais como “O que é Psicologia Social?”, “Quem é o psicólogo
social?”, “O que ele faz?”, inquietações que perpassam também pelos lugares de
atuação, saberes e fazeres profissionais nesses territórios.
Atualmente, considerando todo o percurso histórico aqui tratado, a presença
das(os) psicólogas(os) nas políticas públicas é uma realidade na medida em que
os conhecimentos produzidos nessa área refletem diretamente o compromisso
defendido consoante aos direitos sociais ao longo dos anos (CFP, 2011).
Construções estas que refletem não apenas a atuação de uma categoria que já
exercia a profissão, quando as demandas sociais ainda engatinhavam para se
tornarem foco de estudos e práticas da psicologia, mas inclui as(os) profissionais
que concluíram suas graduações posteriormente, sobretudo após a promulgação
da Constituição Federal de 1988 e mudança da postura do Estado perante
garantia de direitos sociais.

A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO

As estagiárias, apesar de terem entrado no mesmo período, tiveram um


tempo de estágio diferente em razão do semestre em que estavam no curso
de Psicologia. Por estarem alocadas em diferentes lugares, puderam também
conhecer diferentes realidades e formas de atuação de acordo com suas cidades
e regiões, ainda que na mesma equipe, o que possibilitou o crescimento em
diferentes direções, fomentando conhecimentos e habilidades sobre várias
questões para além do que é previsto no plano de estágio do CREPOP e que
pode ser considerado enquanto a parte comum/compartilhada da experiência.
Apesar do CREPOP não focar exclusivamente na atuação em Psicologia
Social, por atender às diferentes demandas em políticas públicas, as atividades de
estágio acabam por direcionar ao desenvolvimento de competências poderem
ser consideradas básicas, para atuação nessa área. Ao entrar em contato com
os marcos lógicos e legais que regulamentam as diferentes políticas públicas,
por exemplo, é possibilitado às estagiárias, do conhecimento de questões que
são básicas para a atuação, como os saberes legais que normatizam práticas,
propiciando o desenvolvimento de um senso crítico necessário para a atuação em
políticas públicas. Observa-se também que muitas(os) profissionais de psicologia,
alocadas(os) no primeiro setor não se reconhecem como psicólogas(os) sociais,
embora os aportes teóricos desse campo, sejam com frequência mencionados
como basilares na práxis.
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
177
Considerando cada vez mais a intensa inserção da(o) profissional de
psicologia nas políticas públicas, como já explorado anteriormente, os cursos
de graduação acabaram por não acompanhar esse mesmo desenvolvimento,
por vezes carecendo de um contato maior com essas práticas. Logo, estudantes
se tornam profissionais sem maior domínio de áreas que não sejam a clínica,
inclusive, no que tange às competências, habilidades e conhecimentos básicos
que as envolvem. Ao contribuir com as orientações aos profissionais de Psicologia
nas políticas públicas, uma das atividades desenvolvidas pelo CREPOP, as
estagiárias puderam construir essa ponte entre desenvolver-se e auxiliar no
desenvolvimento de outras(os) simultaneamente.
Vale ressaltar que durante o período de estágio, a maior parte das solicitações
de orientação recebidas pelo CREPOP, foram de profissionais atuantes na área
de assistência social, evidenciando a fragilidade mencionada anteriormente.
Pode-se dizer que as políticas de assistência social têm estado entre as que
mais demandam a atenção do CREPOP, tendo demandado o desenvolvimento
de uma Nota Técnica Conjunta publicada em 2019 pelo CRP 03 através da
articulação do CREPOP Bahia, com a Comissão de Orientação e Fiscalização
(COF) e a Comissão Regional de Psicologia na Assistência Social (COREPAS),
com a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da
Bahia (SJDHDS), através da Superintendência de Assistência Social (SAS), e o
Conselho Regional de Serviço Social da 5ª Região - Bahia (CRESS-5), principais
órgãos reguladores e orientadores da atuação nesse setor (SJDHDS; CRESS-
BA; CRP-03, 2019).
A nota em questão objetivou orientar a atuação conjunta de profissionais
de psicologia e assistência social, e teve o acompanhamento das estagiárias
durante o seu desenvolvimento. Outra atividade sobre o tema se trata da I Mostra
Nacional de Psicologia na Assistência Social, proposta pelo CFP e executada
pelo CRP 03 em conjunto com outros CRPs da Região Nordeste, que ocorreu
em junho de 2019, no campus da Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
em Salvador, e foi desenvolvido especialmente pelo CREPOP Bahia, que ficou
responsável desde a programação até a execução do evento, demandando
todo o setor nessa atividade. Como evento orientador, também se destaca a 2ª
edição da Mostra de Práticas em Psicologia em Políticas com o tema “Fazeres
Profissionais e Resistência nos Territórios”, realizada em outubro de 2018, no
campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Vitória da
Conquista.
Durante ambas as realizações, as estagiárias tiveram um papel primordial,
uma vez que participaram de todos os momentos dos eventos, com atenção
Volume 2

178
especial à mediação de rodas de apresentação de trabalhos dos diferentes eixos
que falavam das múltiplas formas de atuação. A gestão de eventos grandes que
visavam a agregar e referenciar a prática da psicologia pôs a equipe de estágio
em contato com debates consolidados e emergentes sobre o campo das políticas
públicas. Mesmo após os eventos, a elaboração dos anais auxiliou a fechar e
firmar a experiência.
No que tange aos eventos desenvolvidos no período de estágio, estão
em destaque aqueles que ocorreram tanto em 2018 quanto em 2019 no Mês
Psi, que se trata de uma proposta do CRP-03 executada durante todo o mês
de agosto em comemoração ao mês das(os) psicólogas(os), celebrado em 27
de agosto, em alusão à data de regulamentação da profissão de psicologia no
Brasil, em 1962. Durante todo o Mês Psi, o CREPOP, através da Comissão de
Políticas Públicas, cria eventos e os executa, com temáticas voltadas para a
atuação em políticas públicas e nos quais as estagiárias participam ativamente,
a construção de eventos com o envolvimento ativo de estagiárias que possibilitam
o tensionamento das temáticas que envolvem a psicologia, enquanto ciência e
profissão, fomentando uma postura crítica e reflexiva. Os eventos promovidos
apresentam formatos variados e agregam profissionais de muitos campos de
atuação, servindo também como estratégia de orientação profissional.
Foram incluídas nas atividades do CREPOP Bahia, a representação em
importantes espaços de controle social, como as Conferências Municipais e
Estaduais, sobretudo nas áreas de saúde e assistência social e a colaboração
nas ações de secretaria executiva, do Fórum Estadual das(os) Trabalhadoras(es)
do Sistema Único de Assistência Social (FETSUAS/BA). Essa vivência eleva as
possibilidades do aprendizado desenvolvido no campo de estágio para outra
vertente do setor público, no que tange à compreensão do papel da sociedade
civil, na fiscalização e controle da execução das políticas públicas. Esses pontos,
envolvem o conhecimento acerca de financiamento e gestão de uma determinada
política, fatores de suma importância numa prática profissional comprometida
com o trânsito de atuação entre técnicas(os) de referência, coordenação ou
equipe gestora. De acordo com Rolim, Cruz e Sampaio (2013, p.141), apesar da
nomenclatura “controle social”, a inserção popular e profissional nesses espaços,
representa ações mais amplas, incluindo a participação na “formulação de
políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração Pública quanto
às melhores medidas a serem adotadas com objetivo de atender aos legítimos
interesses públicos”. Alinhar o estágio tem demonstrado um aprimoramento
técnico e político à equipe de estagiárias, e pode ser expandido para outros
campos, já que grande parte das atividades dos órgãos de controle social, é
aberta e o público presente tem voz para contribuir.
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
179
A atividade central do CREPOP segue sendo a realização de pesquisas
na área de psicologia e políticas públicas. Como todo processo de pesquisa,
o CREPOP passa por discussões teóricas e metodológicas antes da sua
execução. Embora presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso
de psicologia no Brasil (BRASIL, 2004, 2011), observa-se que as faculdades
têm pecado em desenvolver essa habilidade, gerando profissionais cada vez
menos comprometidos com a investigação, interpretação e construção de
novos saberes. Desse modo, no CREPOP busca-se aproveitar a oportunidade
de estágio para realizar uma imersão da(o) estudante em todas as etapas de um
processo de pesquisa.
Além de conhecimentos metodológicos, em cada nova pesquisa, a equipe
tem a oportunidade de conhecer novos cenários de atuação profissional. Ao
realizar o primeiro ciclo, por exemplo, que consiste nos mapeamentos dos marcos
lógicos e legais, serviços e profissionais que constituem a política, é possível
dimensionar a realidade dos territórios nos quais essas políticas são aplicadas
e construídas, o que se torna mais visível nos ciclos seguintes. No entanto, nem
todas as políticas dispõem de um sistema que informam quais e onde se localizam
os serviços e profissionais, assim como, quais marcos lógicos e legais, disponíveis
de acordo com cada cidade investigada, demandam criatividade em conseguir
essas informações com o tempo e ferramentas disponíveis. Telefonemas,
garimpo em sites governamentais e não governamentais e contato direto com
as instituições são recursos adotados.
Como exemplo, durante o período de estágio foi possível participar de todos
os ciclos da pesquisa realizados para a construção da Referência Técnica sobre a
Rede de Atenção Psicossocial. Dessa forma, as estagiárias estiveram envolvidas
desde o mapeamento do primeiro ciclo, até o contato com profissionais que
atuam com a política, através da realização de entrevistas individuais e coletivas.
Por fim, realizou-se a análise inicial desses dados e posterior sistematização
para envio ao CFP, já que os dados locais são alinhados aos demais Conselhos
Regionais de Psicologia para produção de um documento nacionalizado.
Como atividades que envolvam atuação em políticas públicas são entendidas
pelo CRP-03 como demandas que envolvem o CREPOP, as equipes participam
ocasionalmente de atividades externas, como inspeções. Em 2019, as estagiárias
participaram ativamente na inspeção dos hospitais psiquiátricos da Bahia, parte
de uma investigação nacional também coordenada pelo CFP, em consonância
com o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT),
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Ministério Público do
Trabalho (MPT) (CFP, 2019).
Volume 2

180
Tal experiência possibilitou conhecer de perto a realidade do campo da
saúde mental e como tem sido a atuação dos profissionais de psicologia nesse
contexto específico, fornecendo subsídios importantes para uma atuação crítica e
compromissada socialmente. É possível afirmar, então, que o CREPOP está muito
além de ser um setor exclusivamente de pesquisa, pois ao fornecer o contato
com a realidade da atuação profissional nessas políticas, possibilita também o
aprendizado e, consequentemente, o desenvolvimento de expertise sobre a
atuação profissional.
Longe de apenas elencar atividades desenvolvidas, o que se pretende
apontar aqui são as amplas possibilidades que o CREPOP Bahia apresenta,
às suas estagiárias e a potencialidade da experiência, ao ofertar aquilo que
um estágio se propõe a ofertar; uma contribuição ímpar para a formação de
futuras(os) profissionais. Por suas atividades serem essencialmente capilarizadas,
essa contribuição acaba por ser mais ampla do que é prevista no próprio plano de
estágio, uma vez que o próprio planejamento é transformado conforme surgem
novas demandas de interesse à psicologia.
O grande ponto mediador para o desenvolvimento deste trabalho é
evidenciar como o CREPOP é uma experiência transformadora, na medida que
fornece subsídios para atuação em diferentes setores, tendo destaque para
a Psicologia Social de forma ampla, uma vez que possibilita o contato com a
área em seus diferentes níveis de atuação (da gestão à assistência), bem como
de distintos campos de ação do Estado. Não apenas se aprende a atuação em
si, mas o que medeia essa atuação, quais os parâmetros éticos e legais estão
envolvidos. É necessário evidenciar também que, o que se tensiona aqui é o
fato de que a atuação em Psicologia é, e precisa ser, essencialmente social,
independentemente do campo de inserção. Dessa forma, as atividades do
CREPOP, ainda que direcionadas para diferentes políticas públicas, possibilitam
uma formação em Psicologia Social, por colocar em ênfase o fato de que não
existe uma psicologia que não seja social (LANE, 1981).
Curiosamente, grande parte das pessoas que estiveram envolvidas no
CREPOP Bahia não apenas no período de estágio, mas anterior a ele, são pessoas
que estão envolvidas ativamente com a Psicologia Social, enquanto área através
de políticas públicas, especialmente de assistência social e saúde, o que fornece
às estagiárias uma visão ampla e experiente da psicologia nas diferentes subáreas
possíveis neste eixo, potencializando ainda mais o aprendizado. Pode-se dizer
que o estágio no CREPOP é uma posição privilegiada por permitir às estagiárias
que se mostram fundamentalmente profissionalmente atuantes em: senso
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
181
crítico, contato intensivo e visão de diferentes partes do processo de atuação
nas políticas públicas, compromisso social, e autonomia.
A territorialidade também afetou a prática do estágio, uma vez que são
diferentes realidades da Bahia a serem exploradas e também construídas, na
medida em que se aprende e atua nesses espaços. Por uma estagiária estar
alocada na Região Sudoeste, interior da Bahia, esta pôde entrar em contato
com uma atuação que não varia exclusivamente no que se considera o papel
da(o) profissional de psicologia nas políticas estudadas, mas também nas
suas possibilidades dentro do desenvolvimento dessas políticas. A forma
como as políticas públicas se desenvolvem na capital, considerando marcos
legais, disponibilidade de serviços, quantidade de profissionais e desafios
territoriais é diferente daquela encontrada nos interiores. Alguns municípios
contemplados nos mapeamentos do CREPOP, por exemplo, não apresentavam
leis que regulamentassem o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ou que
organizassem a política voltada para população em situação de rua, diversidade
sexual e de gênero, entre outras, assim como não dispunham de alguns serviços
relacionados, especialmente em cidades menores do interior baiano. Outro
aspecto se refere aos desafios relacionados à população rural, historicamente
negligenciada na atuação em políticas públicas, porém, se materializam como
realidade às equipes do interior do estado. Assim, ter uma experiência de estágio
em Salvador, capital baiana, é diferente de ter uma experiência de estágio em
Vitória da Conquista, interior da Bahia e pensar (e fazer) a Psicologia Social, em
interface com as políticas públicas, de modo geral, também será diferentemente
afetado pelos territórios.
Vale ressaltar que por um programa de estágio do CRP-03 e, portanto,
inserido no Sistema Conselhos de Psicologia, a experiência possibilita um
intenso contato com a estrutura que regulamenta, fiscaliza e orienta o exercício
da profissão de psicologia no Brasil, fomentando o compromisso ético-político
e social, assim como maior conhecimento também sobre os seus parâmetros
éticos e legais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atuação da psicologia nas políticas públicas ainda encontra uma série


de desafios, envolvendo especialmente o processo de formação. Apesar de a
Psicologia Social, principal aporte teórico-metodológico nesse contexto, não ser
um campo recente, observa-se que sua tradução na prática profissional ainda
carece de maior qualificação e reconhecimento. Dessa forma, é urgente que
essas práticas façam parte, desde o início, do rol de conhecimentos e atividades
Volume 2

182
desenvolvidas na graduação, não apenas no âmbito conceitual, mas também nas
ações práticas, como ocorre nos estágios.
Neste trabalho foi explorado o Centro de Referência Técnica em Psicologia
e Políticas Públicas (CREPOP), enquanto campo de estágio em políticas
públicas que proporciona diferentes oportunidades de desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades e competências nessa área de atuação. Apesar da
grande abrangência do CREPOP, pretendeu-se expor o caráter, essencialmente
social, da atuação em psicologia que perpassa as suas diferentes áreas e que,
consideramos que no contato com políticas públicas, se está diretamente e
indiretamente, pensando e construindo Psicologia(s) Social(is). Fora colocada
em ênfase as diferentes linhas de trabalho desenvolvidas pelas estagiárias do
setor, envolvendo atividades de orientação, pesquisa e produção de materiais
de referência para a categoria profissional.
Além disso, buscou-se evidenciar o espaço do CREPOP Bahia enquanto
campo de estágio que proporciona parâmetros básicos e essenciais para
essa atuação, dando às estagiárias, a possibilidade de ter contato intensivo
com questões da profissão que dificilmente seriam possíveis de visualizar
dentro da formação tradicional. Esse ponto em específico é ressaltado pelas
próprias estagiárias nos diferentes feedbacks e relatórios, assim como trabalhos
desenvolvidos durante o processo de estágio, ao delinearem o CREPOP, enquanto
uma experiência divisora de águas, ou seja, enquanto um ponto de transição que
pode ser considerado como um salto qualitativo na formação profissional.
No tocante à supervisão, em respeito às diretrizes legais que regulamentam
o estágio do Brasil, há funcionárias(os) psicólogas(os) responsáveis por executar
as atividades do CREPOP Bahia, tanto na Subsede, quanto na Sede da autarquia,
mas formando uma única equipe de trabalho, ainda que geograficamente
distantes. Questão essa que permitiu a adoção de estratégias de comunicação
aos processos de trabalho da equipe e das relações de estágio que, apesar de
possuir supervisão in loco, visava à contribuição de ambas(os) as(os) profissionais
que ocupavam o lugar de supervisão do processo de ensino-aprendizagem.
É perceptível, do ponto de vista profissional, o amadurecimento do
conhecimento que fora desenvolvido a partir do programa de estágio; através
das ações de pesquisas; elaboração de documentos; orientações; elaboração
de projetos; e realização de eventos como potentes espaços de diálogo com a
categoria, estudantes, gestoras(es) e demais membros do escopo de atuação
aqui referenciada.
Sabe-se que o processo formativo não se encerra junto à graduação,
sendo papel da(o) psicóloga(o) o constante aprimoramento profissional,
Psicologia, Sociedade e Desigualdade Social . Boas Práticas na Formação em Psicologia
183
estudando e atualizando seus conhecimentos, prezando pelo atendimento de
qualidade, promoção da saúde, à garantia de Direitos Humanos e atuando com
responsabilidade social, pontos fundamentais regidos pelo Código de Ética
Profissional (CFP, 2005). Sendo o CREPOP um importante espaço de diálogo
direto com a categoria que atua na ponta, com os processos de gestão e
execução das políticas, e também com a instituições de ensino, além da essência
pela produção técnico-científica e pela atuação direta à estrutura do Sistema
Conselhos de Psicologia, é inegável o quão produtiva é tornada a experiência
de estágio para um exercício sensível às questões sociais.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao incentivo do XVI Plenário do CRP-03 para a elaboração


deste texto, especialmente as(os) conselheiras(os) responsáveis por acompanhar
a Comissão de Políticas Públicas e o CREPOP: Regiane Lacerda Santos, Monaliza
Cirino de Oliveira, Leísa Mendes de Sousa, Mailson Santos Pereira, e Álvaro Pinto
Palha Júnior.

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184
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