13 A PSICOLOGIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Quais Interfaces
13 A PSICOLOGIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Quais Interfaces
13 A PSICOLOGIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Quais Interfaces
2005
RESUMO: Discute-se a relação da Psicologia com o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil tomando-se como
ponto de partida uma crítica à separação entre clínica e política fortemente presente na formação e na prática
profissional dos Psicólogos. Indicam-se três princípios para a construção de políticas públicas em saúde: o da
inseparabilidade, o da autonomia e co-responsabilidade e o da transversalidade, estando a contribuição da
Psicologia no entrecruzamento do exercício destes três princípios. O artigo destaca, ainda, a importância dos
modos de fazer acontecer as políticas públicas, indicando a urgência na criação de dispositivos que dêem
suporte à experimentação das políticas no jogo de conflitos de interesses, desejos e necessidades dos diferentes
atores que compõem a rede de saúde.
Palavras-chave: Políticas públicas; psicologia; Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT: The Psychology and Public Health System relation is discussed having as a starting point a criticism
to the gap between the clinic and politics strongly present in the formation and in the professional practice of
the psychologists. Three principles are suggested to the construction of public politics in the health system,
which are the inseparability, the autonomy and co-responsibility and the transverseness, being the contribution
of Psychology the interchange of these three principles. This paper also emphasizes the importance of the ways
to make happen the public politis, pointing out the urge to create some devices which will give support to these
politics in the game of conflicts and interests, desires and needs of the different actors who are part of the public
health network.
Key-words: Public Politics; Psychology; Public Health System.
O título do artigo já indica um ponto de par- vel², de uma outra saúde possível e, digo logo, de
tida lamentavelmente pouco encontrado no campo da uma saúde pública possível.
Psicologia: a preocupação com a saúde pública, com Convocada ao debate e em sintonia com o
a inserção do trabalho do Psicólogo no debate sobre movimento de resistência que institui o Fórum Social
modos de intervenção que se façam para além dos Mundial desde sua primeira versão em 2001, fiquei
enquadres clássicos de uma clínica individual e pri- me perguntando por onde nele entrar. Poderia reto-
vada, ou mesmo de uma psicologia social que man- mar a história da Psicologia indicando suas alianças
tém a separação entre os registros do individual e do com as ciências positivistas ou com as filosofias
social, tal como a ainda predominante em nossos cur- subjetivistas. Poderia apontar para a tradição
sos de formação. Digo isso para que fique logo claro humanista que amarra a Psicologia ao campo das
que não acredito numa crítica à Psicologia e às suas Ciências Humanas, tornando-se separada das ciênci-
diversas áreas pela identificação de uma face conser- as da saúde. Poderia, ainda, rastrear as inúmeras ci-
vadora, porque cuidando do indivíduo, e uma face sões entre correntes da Psicologia ou entre estas e a
emancipadora, porque voltada para o social, para a Psicanálise, cada uma delas marcando e se apropri-
comunidade, para os processos educacionais ou de ando do sujeito como seu objeto de investigação.
trabalho. Como pretendo aqui sustentar, trata-se de Não é preciso ir muito longe para perceber-
não se iludir com esta solução de compromisso da mos que o discurso sobre o sujeito tem vindo acompa-
Psicologia. nhado, no campo das práticas psi, de um processo de
Especialmente quando queremos pensar as despolitização destas mesmas práticas. No mesmo
interfaces da Psicologia com o Sistema Único de Saú- movimento em que o sujeito é tomado como centro
de (SUS) urge que problematizemos o que podemos, (ou mesmo eventualmente descentrado) opera-se uma
o que queremos e, principalmente, como fazemos para dicotomização com o social que se acredita circundá-
contribuir na construção de um outro mundo possí- lo.
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Benevides, R. “A Psicologia e o Sistema ùnico de Saúde: quais interfaces?”
Duas realidades (interna/externa) em cons- cursos de formação devemos nos perguntar sobre quais
tante articulação, mas sempre duas realidades dadas práticas tais psicólogos têm efetuado, quais compro-
a serem olhadas com seus específicos instrumentos de missos ético-políticos têm tomado como prioritários
análise. Esta operação não se faz sem conseqüências em suas ações. É claro que isto não se separa dos
e uma delas tem sido, justamente, a de manter em referenciais teórico-conceituais que dão suporte a es-
dois registros separados: o sujeito/indivíduo tas práticas e, é claro também, que se trata de uma
(Benevides, R, 2002) e o social, o desejo e a política tomada de posição, de atitude, quanto ao que se defi-
(Guattari & Rolnik, 1986). ne como objeto e campo de intervenção da Psicolo-
gia. Trata-se, então, de uma discussão ética, melhor
Assim é que não causa espanto, entre muitos, dizendo, ético-política. Se não aceitamos as posições
a afirmação de que Psicologia e Política não se mistu- abstratas, transcendentes, descoladas de onde a vida
ram, ou, de que, quando somos psicólogos não somos se passa, precisamos, imediatamente, trazer ao deba-
militantes e se somos militantes não devemos sê-lo te questões sobre o contemporâneo, tanto em sua di-
enquanto psicólogos. mensão transnacional, mundial, quanto local, brasi-
leira.
O paradigma que está norteando tais afirma- Para seguir neste caminho não podemos nos
ções é o de que ciência e política são duas esferas furtar, portanto, de outras perguntas: O que será que
separadas e de que as práticas psi ao se encarregarem os novos tempos do Capital reservam ao Psicólogo
do sujeito não devem tratar de questões políticas. quanto à sua tarefa profissional? Será possível e/ou
desejável continuarmos na busca de uma identidade
Tal ascese, pretendida por muitos e, afirma- para o Psicólogo, definida a partir de uma formação
da por tantos outros como alcançada, tem sistemati- assentada na dicotomia entre o subjetivo e o político?
camente colocado o desejo como algo da ordem do Como romper com a tradição de uma Psicologia cuja
individual, ou como questão do sujeito e a política história, datada do final do século XIX, atrela-se ora
como da ordem do social, ou como questão do coleti- a uma perspectiva objetivo-positivista, ora a uma pers-
vo. O efeito-despolitização neste tipo de análise é no- pectiva interno–subjetivista, mantendo, de todo modo,
tório, posto que as práticas psi passam a se ocupar de a separação em registros excludentes, das esferas in-
sujeitos abstratos, abstraídos/alienados de seus con- dividual, grupal, social? Como pensar nas práticas
textos e tomam suas expressões existenciais como pro- dos psicólogos ainda classificadas em áreas de atua-
dutos/dados a serem reconhecidos em universais ção que se definem pela separação e, muitas vezes,
apriorísticos. Digo despolitização para marcar o lu- pela desqualificação umas das outras: escolar, comu-
gar exterior, separado, em que a política, em suas nitária, clínica, do trabalho, judiciária? Como pensar
mais variadas formas, é lançada quando se trata da a formação do Psicólogo em tempos de banalização
análise das questões subjetivas. Entretanto, o mais da injustiça social? (Dejours, 1999)4 O que propor
correto seria dizer que aí também há a produção de como diretrizes para sustentar uma posição ética que
uma certa política: aquela que coloca de um lado a não se abstraia de seus compromissos políticos? Como
macropolítica e, de outro, a micropolítica; de um lado, pensar na atuação dos psicólogos ou nas contribui-
o Sistema Único de Saúde como dever do Estado e ções da Psicologia se não incluirmos o mundo em que
direito dos cidadãos, como conquista garantida pela vivemos o país em que habitamos? Como pensar numa
lei, pela Constituição e, de outro, os processos de pro- Psicologia que não tome como seu objeto, sujeitos
dução de subjetividade. Aqui, me parece, há uma pis- abstratos? Como fortalecer práticas profissionais que
ta importante para seguirmos, pois é a partir da fun- se co-responsabilizem com a saúde de cada um e com
dação da Psicologia nestas dicotomias que o indivi- a saúde de todos sem separá-las?
dual se separou do social, que a clínica se separou da Cabe-nos, portanto, a pergunta sobre quais
política, que o cuidado com a saúde das pessoas se relações há entre o capitalismo contemporâneo, o
separou do cuidado com a saúde das populações, que exercício da clínica e a produção de subjetividade.
a clínica se separou da saúde coletiva, que a Psicolo- Isto nos obriga a discutir o plano da clínica na sua
gia se colocou à margem de um debate sobre o SUS. inseparabilidade da filosofia, da arte, da ciência, e,
em especial, da política. E por que esse destaque da
A pergunta, então, insiste: quais as interfaces
interface clínica-política? Porque aí nos encontramos
da Psicologia como campo de saber e, mais precisa-
com modos de produção, modos de subjetivação e não
mente, dos psicólogos enquanto trabalhadores, com
mais sujeitos, modos de experimentação/construção
o Sistema Único de Saúde? Mais do que fazer uma
e não mais interpretação da realidade, modos de cri-
discussão de conteúdos curriculares, ou mesmo indi-
ação de si e do mundo que não podem se realizar em
car disciplinas a serem incluídas e/ou excluídas dos
sua função autopoiética5, sem o risco constante da
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Psicologia & Sociedade; 17 (2): 21-25; mai/ago.2005
experiência de crise. O que queremos dizer é que de- da Psicologia com o SUS:
finir a clínica em sua relação com os processos de
produção de subjetividade implica, necessariamente, – Princípio da inseparabilidade: se tomamos a
que nos arrisquemos numa experiência de crítica/aná- Psicologia como campo de saber voltado para
lise das formas instituídas, o que nos compromete os estudos da subjetividade e se esta é enten-
politicamente. dida como processo coletivo de produção re-
A forma subjetiva, o sujeito, é produto sultando em formas sempre inacabadas e
resultante de um funcionamento que é de produção heterogenéticas, é impossível separar, ainda
inconclusa, é heterogenético, nunca havendo que distinções haja, a clínica da política, o
esgotamento total da energia potencial de criação das individual do social, o singular do coletivo;
formas. É por isso que dizemos que a subjetividade é os modos de cuidar dos modos de gerir; a
plural, polifônica sem nenhuma instância dominante macro e a micropolítica. Fazer política pú-
de determinação. blica – e o SUS é fundamentalmente política
O que mais interessa aqui destacar é este as- pública, porque de qualquer um -, é tomar
pecto de produção do sujeito, de um sujeito autônomo esta dimensão da experiência coletiva como
(Eirado & Passos, 2004) e, mais ainda, o que histori- aquela geradora dos processos singulares.
camente vem se dando como efeito das modulações Neste sentido, pensar a interface da Psicolo-
do capitalismo, a saber, a separação entre produção gia com o SUS se dará exatamente por este
e produto, portanto, entre processo de subjetivação e ponto conector: os processos de subjetivação
sujeito. Esta separação tem como conseqüência a cap- se dão num plano coletivo, plano de
tura da realidade em uma forma dada, tida como multiplicidades, plano público. O SUS, en-
natural, mas que deve ser entendida como forma-sin- quanto conquista do povo brasileiro, da hu-
toma6 a ser posta em análise. O sintoma se apresenta manidade, se faz como política pública de
em duas dimensões: forma e força. Sua face instituí- saúde.
da, face-forma, é aquela que se vê aprisionada no – Princípio da autonomia e da co-responsabili-
circuito de repetição fechada sobre si. O trabalho da dade: assim sendo, também é impossível se
análise deverá incidir neste circuito, de modo a nele pensar em práticas dos psicólogos que não
produzir desvios que forcem a repetição a diferir A estejam imediatamente comprometidas com
operação analítica freqüente nas intervenções clíni- o mundo, com o país que vivemos, com as
cas não é outra coisa senão a desestabilização destas condições de vida da população brasileira,
formas, permitindo o aparecimento do plano de for- com o engajamento na produção de saúde
ças de produção a partir do qual tal realidade se cons- (Campos, 2000). que implique a produção
tituiu. de sujeitos autônomos, protagonistas, co-
E aqui já podemos enunciar que entendemos partícipes e co-responsáveis por suas vidas.
a experiência clínica como a devolução do sujeito ao Aqui, a interface da Psicologia com o SUS se
plano da subjetivação, ao plano da produção que é dá pela certeza de que o processo de inven-
plano do coletivo. O coletivo, aqui, bem entendido, tar-se é imediatamente invenção de mundo e
não pode ser reduzido a uma soma de indivíduos ou vice-versa.
ao resultado de um contrato que os indivíduos fazem – Princípio da transversalidade: a Psicologia,
entre si. Coletivo diz respeito a este plano de produ- tal como qualquer outro campo de saber/
ção, composto de elementos heteróclitos e que experi- poder não explica nada. É ela mesma que
menta, todo o tempo, a diferenciação. Coletivo é deve ser explicada e isto só se dá numa rela-
multidão, composição potencialmente ilimitada de ção de intercessão com outros saberes/pode-
seres tomados na proliferação das forças. No coletivo res/disciplinas. É no entre os saberes que a
não há, portanto, propriedade particular, invenção acontece, é no limite de seus pode-
pessoalidades, nada que seja privado, já que todas as res que os saberes têm o que contribuir para
forças estão disponíveis para serem experimentadas. um outro mundo possível, para uma outra
É aí que entendemos se dar a experiência da clínica: saúde possível.
experimentação no plano coletivo, experimentação A contribuição da Psicologia no SUS pode
pública. estar justamente no entrecruzamento do exercício destes
A pista que segui, a que indicava a fundação três princípios.
da Psicologia assentada na separação entre a macro Mas, é, sobretudo num certo método, num
e a micropolítica, abre-se, então, em alguns desvios certo modo de operar que acreditamos poder estar
que tomarei como princípios éticos que, acredito, nossa maior contribuição e também nosso maior de-
possam contribuir para o debate sobre as interfaces safio. De nada adiantam tais princípios se eles não
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Benevides, R. “A Psicologia e o Sistema ùnico de Saúde: quais interfaces?”
forem imediatamente ação política, ação sobre a polis, as redes de saúde, exige um estar com o outro: usuá-
ação sobre os processos de constituição da cidade e rio, trabalhador, gestor. Aqui certamente a Psicologia
dos sujeitos. O que queremos ressaltar é que os eixos pode estar, aqui ela pode fazer intercessão. Insisti-
da universalidade, equidade e integralidade, mos, não basta à distância formular, regular, contro-
constitutivos do SUS só se efetivam quando consegui- lar políticas, é preciso criar modos, criar dispositivos
mos inventar modos de fazer acontecer tais eixos. In- (Benevides, R, 1997)dispositivos8, que dêem suporte à
teressa perguntar o como fazer e, aqui, nossa experi- experimentação das políticas no jogo de conflitos de
ência indica que a construção das redes, das interesses, desejos e necessidades de todos estes ato-
grupalidades, de dispositivos de co-gestão, de aumen- res.
to do índice de transversalidade, de investimento em Os rumos tomados desde o final de 2004 nos
projetos que aumentem o grau de democracia e parti- inquietam na medida em que o MS decide, dentre
cipação institucional, são alguns dos caminhos a se- outras medidas, mudar o perfil da SE deslocando tais
rem percorridos. políticas transversais para outras Secretarias.
Em nossa recente, e já finda, experiência na A experiência na coordenação destas políti-
Secretaria Executiva (SE) do Ministério da Saúde (MS) cas no MS nos impôs, então, uma modulação daquilo
(www.saude.gov.br)7, coordenando a Política Nacio- que já afirmávamos anteriormente. Se antes faláva-
nal de Humanização e a Política Nacional de Promo- mos da inseparabilidade entre a clínica e a política
ção à Saúde, nos vimos frente ao desafio de constru- (ver Passos & Benevides, 2004), agora podemos dizer
ção de políticas públicas que estivessem comprometi- da inseparabilidade entre modos de atender, de cui-
das com os princípios que acima enunciamos. Estar dar e modos de gerir, inseparabilidade entre atenção
na máquina do Estado num cenário contemporâneo e gestão, portanto. Aí está um caminho a ser traçado,
que naturaliza o capitalismo neoglobaliberal impôs, percorrido, inventado, se queremos, também nós, psi-
o tempo todo, movimentos de resistência àquilo que cólogos, nos aliar aos movimentos de resistência que
se apresentava como inexorável: programas, proje- apostam na construção de um outro mundo possível.
tos, secretarias e processos de trabalho fragmentados, Por último vale lembrar que o SUS nasce como
separação dos regimes de atenção e de gestão da saú- movimento, conhecido como Reforma Sanitária, ali-
de. ado a outros movimentos sociais, na luta contra a
Mais ainda, o desafio se colocava em exercitar ditadura militar e em prol da democracia, da garan-
com os trabalhadores e gestores do próprio MS um tia dos direitos do homem. Estávamos nos anos 1970/
outro modo de construir políticas públicas. Não 80, onde também se organizava em nível internacio-
queríamos, de fato, apenas uma outra política de nal a grande onda neoliberal. O SUS foi, sem dúvida,
governo. Queríamos avançar numa outra direção de durante estes anos, o movimento que se firmou como
nosso modo de fazer e, para isso, não nos bastava resistência à privatização da saúde. Resistir à
apenas concordar com os eixos do SUS: privatização, da saúde, da vida é tarefa para muitos,
universalidade, integralidade, equidade. Precisávamos é tarefa para todos nós. Cabe a nós, psicólogos, deci-
ousar estabelecer na máquina do Estado, políticas de dir com que movimento nos aliamos, quais movimen-
produção de autonomia e emancipação social. tos inventamos, quais intercessões fazemos entre a
Precisávamos redimensionar as políticas de saúde de Psicologia e o SUS, entre a Psicologia e as políticas
tal forma a criar espaços de gestação, difusão e públicas.
contaminação de novas alternativas societárias e
civilizatórias (cf. Eixo 1 do V FSM em NOTAS
www.forumsocial.org). Pensávamos dar outros rumos ¹ Versão revisada do trabalho apresentado no V Fórum
para a própria Secretaria Executiva do MS que até Social Mundial, Porto Alegre, janeiro de 2005 na mesa
então apenas executava políticas formuladas por redonda A Psicologia no Sistema Único de Saúde, or-
outras Secretarias. Precisávamos efetivar a co-gestão ganizada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP-
com a qual dizíamos concordar, co-formulando 07), pelo Sindicato dos Psicólogos do Rio Grande do
políticas e não simplesmente reproduzindo tolos Sul e pela Sociedade de Psicologia do Rio Grande do
espaços de disputa de territórios de saber/poder. Sul, como parte da Atividade: Psicologia e saúde nas
Apostamos em políticas transversais e que não políticas públicas: estratégias e esferas de ação/ Eixo:
separassem atenção/gestão/formação e participação Defendendo as diversidades, pluralidade e identida-
social. Apostamos, enfim, num outro modo de pensar des.
e de fazer política. ² A alusão se refere à convocação que instituiu o Fórum
Pensar-fazer políticas de saúde exige, então, Social Mundial desde sua primeira versão em 2001
criação de dispositivos, exige criação de espaços de quando, num movimento de resistência à globalização
contratualização entre os diversos atores que compõem e ao Capitalismo Mundial, organizações não–gover-
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Psicologia & Sociedade; 17 (2): 21-25; mai/ago.2005
namentais e redes sociais de toda ordem propuseram Dejours, C. (1999). A banalização da injustiça social.
o encontro em Porto Alegre/Brasil em contraposição Rio de Janeiro: FGV.
ao Fórum Econômico Mundial realizado na mesma
época em Davos/Suíça. Eirado, A. & Passos, E. (2004). A noção de autonomia
³ Sabemos que os termos aqui referidos têm diferen- e a dimensão do virtual. Psicologia em Estudos, 9,
ças a depender do enfoque teórico aos quais estão 77-85.
filiados. Não é preocupação do presente artigo se de-
ter nestas diferenças. O que queremos sobretudo Guattari, F. & Rolnik, S (1986). Micropolítica; carto-
problematizar é a separação entre os registros subje- grafias do desejo. Petrópolis, RJ:Vozes.
tivo e objetivo da experiência. A esse respeito ver
Benevides (2002). Kastrup, V. (1999). A invenção de si e do mundo. Cam-
4
Título de um livro de Christophe Dejours, inspirado pinas, SP: Papirus.
em termo utilizado por H. Arendt – banalidade do
mal. Dejours (1999) procura investigar as motivações Passos, E. & Benevides de Barros, R. (2004). Clínica,
subjetivas da dominação, tomando o trabalho e o cha- política e as modulações do capitalismo. Lugar Co-
mado novo capitalismo na sociedade contemporânea, mum, 19/20, 159 -171.
como eixo condutor de suas análises.
5
Uma importante contribuição sobre o tema da Regina Benevides
autopoiese pode ser encontrado em Kastrup (1999). Psicóloga; Professora do Dep de Psicologia da UFF;
E, sobre a questão da autonomia, ver Eirado e Passos Doutora em Psicologia Clínica; Pós-Doutorado em
(2004). Saúde Coletiva. Entre janeiro de 2003 e janeiro de
6
Trabalhamos aqui com a idéia de que o sintoma se 2005 foi Diretora de Programas da Secretaria Execu-
apresenta em duas dimensões: forma e força. Sua face tiva do Ministério da Saúde, coordenando a Política
instituída, face-forma, é aquela que se vê aprisionada Nacional de Humanização e a
no circuito de repetição fechada sobre si. O trabalho Política Nacional de Promoção à Saúde.
da análise deverá incidir neste circuito, de modo a End. para correspondência: Mestrado em Psicologia.
nele produzir desvios que forcem a repetição a diferir. Universidade Federal Fluminense. Campus do
7
Sugiro o site www.saude.gov.br para melhor Gragoatá, s/n, bloco O, sala 214 - Gragoatá -
entendimento da estrutura, atribuições e Niterói - RJ . E-mail: rebenevi@terra.com.br
responsabilidades das instâncias do MS.
8
Em artigo publicado anteriormente discutimos o dis- Regina Benevides
positivo grupal como um importante mecanismo de A psicologia e o
resistência às políticas individualizantes presentes no sistema único de saúde:
contemporâneo. Neste mesmo artigo trabalhamos a quais interfaces?
noção de dispositivo a partir das contribuições de G. Recebido: 01/03/2005
Deleuze como emaranhado de linhas, enfatizando o 1ª Revisão: 03/10/2005
plano de constituição do dispositivo (Benevides de Aceite Final: 11/10/2005
Barros, 1997).
REFERÊNCIAS
Benevides de Barros, R. (1997). Dispositivos em ação:
o grupo.Em A Silva & cols. (Orgs.), Cadernos de Sub-
jetividade (pp. 183-191). São Paulo: Hucitec.
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