5 Verbum Domini
5 Verbum Domini
5 Verbum Domini
DO SENHOR
VERBUM DOMINI
DIFUSORA BÍBLICA
Franciscanos Capuchinhos
PALAVRA DO SENHOR
Verbum Domini
Exortação apostólica pós-sinodal, de Bento XVI, 2010
Revisão do texto em português,
apresentação, comentários e reflexões
Herculano Alves
Edição
DIFUSORA BÍBLICA
(Franciscanos Capuchinhos)
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Composição e paginação
Departamento Gráfico da Difusora Bíblica
Impressão e acabamento
Sersilito-Empresa Gráfica, Lda
ISBN 978-972-652-290-4
Depósito Legal N.º 324088/11
APRESENTAÇÃO
O
Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente da Igreja
Católica criada por Paulo VI como resposta ao concílio Vati-
cano II (15.09.1965), a fim de manter vivo o espírito conci-
liar de renovação permanente da Igreja. O próprio termo Sínodo
(do grego synhodos) significa caminhar juntos. Tem como objectivo
encontrar soluções pastorais para os grandes problemas da Igreja,
e participam nele representantes do episcopado mundial. É uma
espécie de concílio em miniatura.
Este Sínodo foi convocado a 6 de Outubro de 2006 para tratar o
tema A palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. Foi também
a resposta de Bento XVI a muitas insistências feitas por várias ins-
tâncias da Igreja, durante o longo pontificado de João Paulo II, para
que se comemorasse dignamente um século da primeira encíclica
bíblica da História da Igreja – Providentissimus Deus, de Leão XIII,
1983 – e os 50 anos da segunda – Divino afflante Spiritu, de Pio
XII, 1943. Bento XVI respondeu a todos com este Sínodo dos Bispos.
Depois do anúncio, apareceu o primeiro documento preparatório
– os Lineamenta/Linhas de orientação. Recebidas e organizadas as
repostas, surgiu o Instrumentum laboris/Instrumento de trabalho,
que serviu de base à discussão do Sínodo. Na reunião do próprio Sí-
nodo, houve ainda a Relatio ante disceptationem/Relação antes do
debate, na qual se recolhia o resultado do Instrumentum laboris.
Seguidamente, ouviu-se a exposição, durante 10 minutos, de cinco
Padres sinodais, que relataram a situação das suas Igrejas em re-
lação à palavra de Deus.
Nesta primeira fase, todos os membros do Sínodo puderam
expor, durante 5 minutos, algum ponto do Instrumentum laboris
que acharam mais importante. Dez dias depois, o cardeal relator
fez a Relatio post disceptationem/Relação depois do debate, du-
rante 70 minutos.
5
APRESENTAÇÃO
6
PALAVRA DO SENHOR
Texto e comentário
INTRODUÇÃO
7
INTRODUÇÃO
Comentário
1. A Exortação recebe o seu nome das primeiras palavras com que abre
este número, em latim. O papa começa por apresentar o dado funda-
mental da teologia da Palavra: a palavra eterna de Deus entrou na
história dos homens e veio habitar connosco. As palavras do papa são
uma espécie de contemplação mística perante a palavra eterna de
Deus. Esta teologia, proposta pelo Prólogo de João, irá ser a linha
orientadora de todo o documento, para recolher a substância de todos
os dados adquiridos nas diferentes etapas deste Sínodo. Importante é
a última afirmação deste número, onde se exprime a finalidade do
documento: indicar algumas linhas “para uma redescoberta da Pala-
vra divina na vida da Igreja, fonte de constante renovação (…), o co-
ração de toda a actividade eclesial”.
8
que se manifestou a nós o que nós vimos e ouvimos, isso vos anun-
ciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E
nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo
(1 Jo 1,2-3).
O Apóstolo fala-nos de ouvir, ver, tocar e contemplar (1 Jo 1,1)
o Verbo da Vida, já que a própria Vida se manifestou em Cristo. E
nós, chamados à comunhão com Deus e entre nós, devemos ser
anunciadores deste dom. Nesta perspectiva querigmática, a As-
sembleia sinodal foi um testemunho, para a Igreja e para o mundo,
da beleza do encontro com a palavra de Deus na comunhão ecle-
sial. Portanto, exorto todos os fiéis a redescobrirem o encontro
pessoal e comunitário com Cristo, Verbo da Vida que se tornou vi-
sível, a fazerem-se seus anunciadores, para que o dom da vida di-
vina, a comunhão, se dilate cada vez mais pelo mundo inteiro. Com
efeito, participar na vida de Deus, Trindade de Amor, é a alegria
completa (1 Jo 1,4). E é dom e dever imprescindível da Igreja co-
municar a alegria que deriva do encontro com a pessoa de Cristo,
palavra de Deus presente no meio de nós. Num mundo que fre-
quentemente sente Deus como supérfluo ou estranho, confessamos
como Pedro que só Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,68). Não
existe prioridade maior do que esta: reabrir ao homem actual o
acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que
tenhamos vida em abundância (Jo 10,10).
Comentário
2. A Palavra eterna, que desceu do seio de Deus ao seio da humanidade,
é para ser ouvida, vista, tocada e contemplada, segundo 1 Jo 1,2-3. Estes
verbos podem constituir a dinâmica da relação de cada discípulo de Jesus
com a sua Palavra, e é esta que nos coloca em profunda relação com Deus.
Não temos outros meios para conhecer Jesus. Quem tem a experiência do
feliz encontro com o Deus feito Palavra sente-se “obrigado” a comunicá-
-la aos outros.
9
INTRODUÇÃO
10
A Igreja confessa, incessantemente, a cada geração, que Ele,
“com toda a sua presença e manifestação da sua Pessoa, com pala-
vras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa
ressurreição e, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa
totalmente e confirma, com o testemunho divino, a Revelação”.8
É de conhecimento geral o grande impulso dado pela constitui-
ção dogmática Dei Verbum à redescoberta da palavra de Deus na
vida da Igreja, à reflexão teológica sobre a Revelação divina e ao
estudo da Sagrada Escritura. E numerosas foram também as inter-
venções do magistério eclesial sobre estas matérias nos últimos
quarenta anos.9 A Igreja, ciente da continuidade do seu próprio ca-
minho, guiada pelo Espírito Santo, com a celebração deste Sínodo,
sentiu-se chamada a aprofundar ainda mais o tema da Palavra di-
vina, seja para verificar a realização das indicações conciliares,
seja para enfrentar os novos desafios que o tempo presente coloca
a quem acredita em Cristo.
Comentário
3. Este número é especialmente rico em afirmações, como: “A palavra
de Deus é (…) o próprio coração da vida cristã”; “a Igreja está fundada
sobre a palavra de Deus, nasce e vive dela”; a Igreja “cresce na escuta,
na celebração e no estudo da palavra de Deus”. Seguidamente, Bento
8 Ibidem, 4.
9
Entre as várias intervenções, de natureza diversa, deve recordar-se: Paulo VI,
carta apostólica Summi Dei Verbum (4 de Novembro de 1963): AAS 55 (1963), 979-
-995; Idem, motu proprio Sedula cura (27 de Junho de 1971): AAS 63 (1971), 665-
-669; João Paulo II, audiência geral (1 de Maio de 1985): L’Osservatore Romano
(ed. portuguesa de 5/V/1985), p. 12; Idem, discurso sobre a Interpretação da Bí-
blia na Igreja (23 de Abril de 1993): AAS 86 (1994), 232-243; Bento XVI, discurso
no Congresso internacional por ocasião do 40.º aniversário da Dei Verbum (16 de
Setembro de 2005): AAS 97 (2005), 957; Idem, angelus (6 de Novembro de 2005):
Insegnamenti I (2005), 759-760. Deve citar-se ainda as intervenções da Pontifícia
Comissão Bíblica, De Sacra Scriptura et Christologia (1984): EV 9, n.º 1208-1339;
Unidade e diversidade na Igreja (11 de Abril de 1988): EV 11, n.º 544-643; A in-
terpretação da Bíblia na Igreja (15 de Abril de 1993): EV 13, n.º 2846-3150; O
povo judeu e as suas Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã (24 de Maio de 2001): EV
20, n.º 733-1150; Bíblia e moral. Raízes bíblicas do agir cristão (11 de Maio de
2008), Cidade do Vaticano, 2008.
11
INTRODUÇÃO
10 Bento XVI, discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2008): AAS 101
(2009), 49.
11 Proposição 37.
12
Além disso, pela primeira vez, o Sínodo dos Bispos quis convidar
também um Rabino, que nos deu um testemunho precioso sobre as
Sagradas Escrituras judaicas; estas são precisamente uma parte da
nossa Sagrada Escritura.12
Pudemos assim constatar, com alegria e gratidão, que “na Igreja
há um Pentecostes também hoje, ou seja, que ela fala em muitas
línguas; e isto não só no sentido externo de estarem nela repre-
sentadas todas as grandes línguas do mundo, mas também, e mais
profundamente, no sentido de que nela estão presentes os varia-
dos modos da experiência de Deus e do mundo, a riqueza das cul-
turas, e só assim se manifesta a vastidão da existência humana e,
a partir dela, a vastidão da palavra de Deus”.13 Além disso, pudemos
constatar também um Pentecostes ainda a caminho; vários povos
aguardam ainda que seja anunciada a palavra de Deus na sua própria
língua e cultura.
Como não recordar também que, durante todo o Sínodo, nos
acompanhou o testemunho do apóstolo Paulo? De facto, foi provi-
dencial que a XII Assembleia Geral Ordinária se tenha realizado pre-
cisamente dentro do ano dedicado à figura do grande Apóstolo das
Nações, por ocasião do bimilenário do seu nascimento. A sua exis-
tência caracterizou-se completamente pelo zelo em difundir a pa-
lavra de Deus. Como não sentir vibrar no nosso coração as palavras
com que se referia à sua missão de anunciador da Palavra divina:
Tudo faço por causa do Evangelho (1 Cor 9,23)? Eu – escreve na
Carta aos Romanos – não me envergonho do Evangelho, pois ele é
poder de Deus para salvação de todo o crente (1,16). Quando re-
flectimos sobre a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, não
podemos deixar de pensar em S. Paulo e na sua vida entregue à di-
fusão do anúncio da salvação de Cristo a todos os povos.
(2009), 50.
13
INTRODUÇÃO
Comentário
4. A palavra de Deus tem o seu espaço próprio “dentro do ‘nós’ da Igreja,
na escuta e no acolhimento recíproco”. Os documentos da Igreja têm in-
sistido, sobretudo no séc. XX, na leitura da Bíblia em Igreja e na Igreja,
isto é, numa leitura que tem em conta o facto fundamental de que o
Cristianismo é, antes de mais, uma comunidade, e é na comunidade que
a leitura e o estudo da Bíblia adquirem o seu sentido pleno.
O papa lembra ainda um facto relevante do ecumenismo vivido no Sí-
nodo: a participação e mesmo as intervenções de outras Igrejas cristãs
e até de um Rabino. S. Paulo foi também a figura que esteve presente
no espírito dos Padres sinodais, pois eles reuniram-se precisamente no
Ano Paulino (2007-2008).
14
Aquele que viu e começou a crer (Jo 20,8) nos ajude também a
apoiar a cabeça sobre o peito de Cristo (Jo 13,25), donde brotou
sangue e água (Jo 19,34), símbolos dos Sacramentos da Igreja. Se-
guindo o exemplo do Apóstolo João e dos outros autores inspira-
dos, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo para podermos amar
cada vez mais a palavra de Deus.
Comentário
5. Aqui, Bento XVI apresenta a finalidade da sua Exortação apostólica:
“que as conclusões do Sínodo influenciem eficazmente a vida da Igreja”.
E o papa especifica os diversos campos da actuação da Palavra: a relação
pessoal com as Sagradas Escrituras, a sua interpretação na liturgia e na
catequese, bem como na investigação científica. Depois acrescenta que
se vai orientar pelo Prólogo do Evangelho de João (Jo 1,1-18). De facto,
este texto aparece como um leit-motif ao longo de todo o documento.
REFLEXÃO
Nesta Introdução o papa apresenta o Sínodo dos Bispos como
um momento importante na vida da Igreja de hoje.
1. O que é o Verbo de Deus?
2. Que meios temos para conhecer Jesus?
3. Que conclusões tirar da afirmação do papa: “A Igreja está
fundada sobre a palavra de Deus, nasce e vive dela”?
4. Que grandes documentos produziu a Igreja sobre a Bíblia até
ao presente?
15
I Parte
Deus em diálogo
17
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
6. Na Primeira Parte da sua Exortação, o papa fala do Verbo/Palavra em
si mesmo (n.º 6-49). É a parte doutrinal por excelência, onde é explicada
a teologia da Palavra, a partir do Logos eterno. É a Palavra vista em Deus.
Esta ideia é explanada em três subtemas: Quem é a palavra de Deus?
Como responder-lhe? Como é que Deus fala? A resposta teológica à pri-
meira questão encontra-se no Prólogo de João: o Logos/Palavra existe
desde sempre e exprime a comunhão, o dom absoluto que existe na vida
intratrinitária de Deus. Por isso, Deus é amor (1 Jo 4,8.16), e é este Amor
– à imagem do qual fomos criados – que nos revela quem é Deus e quem
somos nós. É no acolhimento deste Verbo/Palavra que conhecemos a Deus
e “que se esclarece definitivamente o enigma da condição humana”.
17 Bento XVI, encíclica Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 1: AAS 98
(2006), 217-218.
18
O DEUS QUE FALA
18 Instrumentum laboris, 9.
19 Credo de Niceia-Constantinopla: DS 150.
19
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
7. Neste número, Bento XVI declara que vai falar da sinfonia da Palavra,
ou seja, das diferentes acepções do sintagma “palavra de Deus”. É o
mesmo que falar da analogia da Palavra. Naturalmente, inicia pela acep-
ção mais teológica – o Verbo eterno – a que se referia no número ante-
rior, concluindo que, neste caso, “a expressão ‘palavra de Deus’ indica a
pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem”. Segue a natu-
reza criada, como uma expressão da palavra criadora de Deus, “o livro
da natureza” (Gn 1; Jo 1,1). Uma outra instância em que a palavra de
Deus se revelou foi “pelos profetas”; é também a que Jesus anunciou e
que os Apóstolos pregaram (Mc 16,15) e, posteriormente, foi transmitida
pela Tradição viva da Igreja; e, finalmente, a que está contida na Bíblia
do Antigo e do Novo Testamento.
20
O DEUS QUE FALA
21
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
8. A partir daqui, o papa vai especificar cada uma das acepções da ex-
pressão “palavra de Deus”. Inicia com a sua dimensão cósmica, ou seja,
estabelece uma relação entre a Palavra criadora e o mundo criado, para
concluir, com citações da Escritura, que a Palavra criou o mundo, e este
é um efeito da força divina da Palavra e do seu carácter eficaz. Como
consequência, através da criação, podemos aceder à Palavra, ao próprio
Criador. Também através da criação, Deus dirige-nos a sua Palavra de
amor e nós respondemos-lhe com o nosso louvor. Aqui tem todo o sentido
o Cântico das Criaturas de S. Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Se-
nhor, por todas as tuas criaturas…”.
A criação do homem
22
O DEUS QUE FALA
Comentário
9. Continuando a explanar a sinfonia da Palavra, o papa fala, agora, da
criação do homem como um dos efeitos da Palavra, pois os seres huma-
nos são “a criação do Verbo”. É na criação do homem que tem início a
História da Salvação, e esta salvação é a finalidade da criação. Pode afir-
novo olhar sobre a lei natural, Cidade do Vaticano, 2009, n.º 102.
23
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
mar-se que o mundo e os seres humanos foram criados para que Deus rea-
lizasse uma história de alianças entre Ele e a humanidade. Aqui reside –
afirma o papa – a importância do homem e a dignidade da pessoa hu-
mana. E também a importância da lei “escrita no coração” de cada ser
humano (Rm 2,15; 7,23). A Nova Lei trazida por Jesus vem dar uma ple-
nitude inaudita a esta lei natural.
O realismo da Palavra
Geral do Sínodo dos Bispos (6 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 758-761.
24
O DEUS QUE FALA
Comentário
10. Sob o lema do “realismo da Palavra”, esta é apresentada como funda-
mento do ser e do agir humano. O ter, o prazer e o poder, como “valores”
da sociedade de consumo de hoje, são profundamente enganadores, por-
que são efémeros e incapazes de responder aos mais profundos anseios da
pessoa humana. Só a Palavra é a razão profunda e o fundamento da cons-
trução da própria vida (Mt 7,24-28). Só ela é, realmente, importante.
Cristologia da Palavra
25
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
34 Bento XVI, carta encíclica Deus caritas est (25 Dezembro de 2005), 1: AAS 98
(2006), 217-218.
35 Ho Logos pachynetai (ou brachynetai). Ver Orígenes, Peri Archon, I, 2, 8:
SC 252, 127-129.
36
Bento XVI, homilia na solenidade do Natal do Senhor (24 de Dezembro de
2006): AAS 99 (2007), 12.
26
O DEUS QUE FALA
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I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
28
O DEUS QUE FALA
29
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
11-13. A Palavra é Jesus Cristo. Este é o tema destes números, que con-
tinuam a explicar a “sinfonia da Palavra”. Ele é uma Palavra que já está
no Antigo Testamento, que o percorre e que se manifestou sobretudo nos
profetas; mas manifestou-se definitivamente em Jesus de Nazaré (Heb
1,1-2). E aqui se encontra o máximo grau da condescendência (synkatá-
basis) divina, pois Deus não podia descer mais profundamente, ao assu-
mir a nossa própria natureza (Jo 1,14a; Fl 2,6-8). Se Jesus é a Palavra,
revelada na História, a Palavra tem uma história e revela-se na história
humana como o acontecimento por excelência da mesma. Neste sentido,
a História é um lugar teológico da revelação da Palavra. Poderia definir-
-se Cristo como a Palavra que se revelou na história humana. Esta Pala-
vra é, por isso, o “Verbo abreviado”, pois tornou-se pequena à medida do
ser humano e da sua história, com um rosto humano, para ser visto e con-
templado por ele. Na sua breve história humana, a Palavra desfez-se em
palavras humanas, para ser também audível pelos humanos. Na sua
morte, esta Palavra fez-se silêncio, porque já tinha dito tudo o que devia
dizer à humanidade; mas também porque o seu silêncio de morte na cruz
manifesta mais amor que todas as palavras: a morte na cruz manifesta o
máximo grau da descida de Deus até nós, e, por isso, o máximo grau do
Amor. A Palavra que se deu totalmente numa imolação divina selou, por-
tanto, a Nova e Eterna Aliança com a humanidade, no centro do mistério
pascal (Lc 22,20).
A Palavra incarnada, crucificada e ressuscitada torna-se o Senhor do
Universo (Cl 1,15-20) e fonte de vida nova para os seres humanos que
queiram deixar-se iluminar na sua história. O documento sublinha que a
“história da Palavra” é semelhante a uma partitura em que o “solo” é a
novidade de Jesus Cristo, que dá sentido a toda a peça musical; nele se
resume tudo: a humanidade e a divindade, a criação e o Criador, a antiga
e a nova criação (Cl 1,15-20).
30
O DEUS QUE FALA
31
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
14. Ao falar da dimensão escatológica da Palavra, o papa pretende acen-
tuar a permanência da mesma na comunidade eclesial – como palavra
total e definitiva dada à humanidade num determinado momento da his-
tória humana – mas que continua presente na mesma história “até ao
fim dos tempos” (Mt 28,20). Por isso, o papa acentua o carácter absoluto
e total desta Palavra. Deus já disse tudo em Cristo, que é o “ápice da Re-
velação”. E, citando a DV 4, afirma que não haverá outra revelação de
Deus à humanidade, pois Deus não pode descer mais do que já desceu, em
32
O DEUS QUE FALA
Cristo. Além disso, Ele continua a falar na sua Igreja, pelo seu Espírito.
Como consequência, as revelações privadas não têm o carácter de obri-
gatoriedade, próprio unicamente da Revelação cristã, que se encontra
sobretudo na Bíblia.
33
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
34
O DEUS QUE FALA
35
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
15-16. Qual é a relação entre a Palavra e o Espírito Santo? Vários elos
ligam, indissoluvelmente, o Verbo eterno e o Espírito: em primeiro lugar,
a comunicação intra-trinitária de Deus implica a relação entre o Filho e
o Espírito Santo. Este actua na História da Salvação, inspirando os pro-
fetas e conduzindo Jesus de Nazaré na sua missão; criou o corpo humano
de Jesus no seio de Maria (Lc 1,26-35); foi prometido por Jesus e enviado
sobre a Igreja no dia de Pentecostes, para que esta pudesse prosseguir a
missão de Jesus; finalmente, inspira os autores sagrados, e torna com-
preensível a leitura da Escritura, pois está nas duas vertentes da inspi-
ração, como o manifesta a leitura triangular da Bíblia:
Espírito Santo
Daqui resulta claro que o mesmo Espírito inspirador dos autores sa-
grados da Bíblia também inspira o leitor para a compreensão da sua Pa-
lavra, dentro da Igreja. Daí a bela tradição de pedir ao Espírito a sua
acção para uma leitura fecunda e eficaz da Palavra. Esta leitura eficaz
exige também o estudo da linguagem humana e cultural da Bíblia, que
pertence ao tempo dos autores sagrados. De facto, “a palavra de Deus ex-
prime-se em palavras humanas”.
Tradição e Escritura
36
O DEUS QUE FALA
mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito (Jo 3,16), a Pala-
vra divina, pronunciada no tempo, deu-se e “entregou-se” à Igreja,
definitivamente, para que o anúncio da salvação possa ser eficaz-
mente comunicado em todos os tempos e lugares. Como nos re-
corda a constituição dogmática Dei Verbum, o próprio Jesus Cristo
“mandou aos Apóstolos que pregassem a todos o Evangelho pro-
metido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pes-
soalmente, comunicando-lhes, para isso, os dons divinos como
fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costu-
mes; isto foi fielmente realizado quer pelos Apóstolos que, na sua
pregação oral, com exemplos e instituições, transmitiram aquilo
que tinham recebido pela palavra, convivência e obras de Cristo
ou por inspirações do Espírito Santo, quer por aqueles apóstolos e
varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito, escre-
veram a mensagem da salvação”.57
Além disso, o concílio Vaticano II recorda que esta Tradição de
origem apostólica é realidade viva e dinâmica: ela “progride na
Igreja sob a assistência do Espírito Santo”; não no sentido de mudar
na sua verdade, que é perene, mas “progride a percepção tanto
das coisas como das palavras transmitidas”, com a contemplação e
o estudo, com a inteligência dada por uma experiência espiritual
mais profunda, e por meio da “pregação daqueles que, com a su-
cessão do episcopado, receberam o carisma da verdade”.58
A Tradição viva é essencial para que a Igreja, no tempo, possa
crescer na compreensão da verdade revelada nas Escrituras; de
facto, “mediante a mesma Tradição, a Igreja conhece todo o cânon
dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela
mais profundamente e torna-se incessantemente operante”.59 Em
última análise, é a Tradição viva da Igreja que nos faz compreen-
der adequadamente a Sagrada Escritura como palavra de Deus. Em-
bora o Verbo de Deus preceda e exceda a Sagrada Escritura,
37
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
60Proposição 3.
61Ver Mensagem final, II, 5.
62
Expositio Evangelii secundum Lucam 6, 33: PL 15, 1677.
63
Vaticano II, Dei Verbum, 13.
64 Catecismo da Igreja Católica, 102. Ver também Ruperto de Deutz, De ope-
38
O DEUS QUE FALA
Comentário
17-18. Aqui, o papa defronta um problema tão complicado como tradi-
cional: a relação entre Escritura e Tradição. A unidade das duas funda-
menta-se na assistência do mesmo Espírito. A este propósito, cita a Dei
Verbum como fonte principal da sua exposição, e insiste na formação que
se deve dar ao povo de Deus para que leia a Bíblia “na sua relação com a
Tradição viva da Igreja”. Recorda, a propósito, a analogia que existe entre
“o Verbo de Deus que se fez ‘homem’ e a Palavra que se faz ‘livro’”.
Resumindo: “A palavra de Deus dá-se a nós na Sagrada Escritura, enquanto
testemunho inspirado da Revelação, que, juntamente com a Tradição viva
da Igreja, constitui a regra suprema da fé”.
39
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
40
O DEUS QUE FALA
Comentário
19. Inspiração e Verdade da Escritura. É pela inspiração do Espírito Santo
que aceitamos a linguagem humana da Bíblia como contendo a palavra
de Deus. Importante é a analogia proposta: assim como a Palavra eterna
nasceu do seio de Maria, assim a palavra da Escritura nasceu do seio da
Igreja. Esta analogia depende, nos dois casos, da acção do Espírito. Daí,
a necessidade de ler a Bíblia no mesmo Espírito em que foi escrita (DV 12).
Ora, a inspiração é o fundamento da verdade da Escritura; porque a
sua mensagem vem do autor divino, ela contém a verdade de Deus re-
velador. Quando se lê a Bíblia sem a consciência da inspiração, “corre-
-se o risco de ler a Escritura como objecto de curiosidade histórica”. O
papa afirma que o tema merece mais aprofundamento a nível teológico
e exegético.
41
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
42
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
REFLEXÃO
O DEUS QUE FALA (n.º 6-21)
O Deus da Bíblia é um Deus que fala:
1. De que meios se serve para nos falar?
2. Será que nos fala também nas desgraças, no silêncio e nos
momentos trágicos da vida?
3. Que significa a dimensão escatológica da palavra de Deus e
quais as suas consequências para a Igreja de hoje?
72 Proposição 4.
43
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
22. Inicia-se aqui o tema da resposta humana à palavra/proposta de Deus.
Essa resposta consiste naquilo que a Bíblia chama a aliança entre Deus e os
seres humanos. O papa evidencia que esta aliança não é feita entre partes
iguais – pois o ser humano nada é diante de Deus, nem pode exigir nada
dele. Isso faz que esta aliança seja uma promessa de Deus, um puro dom
gratuito do seu amor, oferecido aos seres humanos. É neste diálogo de
aliança com o seu Deus que os humanos se definem e se conhecem a si mes-
mos como filhos de Deus.
44
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
Comentário
23. O Deus da Palavra é também o Deus da escuta e da resposta. Ele tem
direito a dizer-nos a sua Palavra, antes de nós lhe falarmos; mas, como
é o Deus do diálogo, escuta e responde às nossas palavras e inquietações,
tal como o pai e a mãe escutam o próprio filho. O papa recrimina “so-
bretudo o Ocidente”, porque aí se pensa que Deus é um impedimento
para a felicidade do homem na sua história, quando, afinal, o agir de
Deus na história é precisamente o contrário.
45
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
24. Neste número, Bento XVI aponta os modelos da oração bíblica do homem
a Deus: os Salmos e outras tantas orações sálmicas. Estas orações bíblicas
são como o rio onde vêm desaguar todas as vivências do povo ao longo da
sua conturbada história: a vida vai desaguar à oração e a oração vai desa-
guar à vida. Os Salmos são sempre oração sobre a vida e vida feita oração.
Aí se vê como a oração é a verdadeira resposta do homem à palavra de Deus.
Esta exprime, então, a relação dialógica entre Deus e o povo. No entanto,
a melhor oração, a melhor resposta do homem a Deus é a escuta da sua
Palavra, é o estar com Ele, como fez Maria, irmã de Marta (Lc 10,38-42).
A palavra de Deus e a fé
75 Ver Proposição 4.
76
Ver Relatio post disceptationem, 12.
46
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
Comentário
25. A fé é a adesão humana à palavra de Deus, mas também se pode dizer
que o acolhimento da Palavra é a consequência da fé. Esta é um movimento
interior provocado pelo Espírito Santo, que nos leva a ver as coisas com os
olhos de Deus e a acolher as palavras humanas da Bíblia como contendo uma
Palavra que vem de Deus. Pode, pois, dizer-se que a fé é um dinamismo es-
piritual que nos eleva a um patamar acima do simplesmente humano, ca-
pacitando-nos a escutar o próprio Deus, nas palavras humanas da Bíblia.
77 Dei Verbum, 5.
78 Proposição 4.
47
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
26. Como consequência do número anterior, podemos dizer que o pecado
consiste sobretudo em não escutar a palavra de Deus. Se Deus tem a úl-
tima palavra acerca do projecto de vida dos seres humanos, estes serão
justos ou injustos, santos ou pecadores, na medida em que obedecerem
ou não à palavra de Deus. Ela é a única regra, a norma de vida, como
dizia S. Francisco de Assis. É, pois, a Palavra que revela a nossa condição
de pecadores e nos diz se vivemos ou não em relação de aliança com Ele.
Já no Antigo Testamento, a não escuta da Palavra equivale à desobe-
diência ao próprio Deus, e não escutá-lo é o maior pecado. Temos de estar
conscientes de que escutar Deus não é o mesmo que escutar os homens.
A escuta de Deus não se fica por uma palavra que entra nos ouvidos: é
48
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
80Proposição 55.
81 Ver Bento XVI, exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis
(22 de Fevereiro de 2007), 33: AAS 99 (2007), 132-133.
49
I PARTE - A PALAVRA DE DEUSA RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
Bento XVI, carta encíclica Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 41:
82
50
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA
Comentário
27-28. Bento XVI dedica dois números a Maria, modelo dos que escutam
a Palavra, na fé e na vida; pois foi Ela que deu a sua carne ao Verbo
eterno, para que Ele pudesse viver connosco e falar-nos em palavras hu-
manas. Por isso, Ela é a mulher única, o modelo dos que acolhem, na es-
cuta da fé, a palavra de Deus. Nesse sentido, Ela é também a figura e o
modelo da Igreja, atenta, ao mesmo tempo, aos apelos dos homens e à
palavra de Deus, como “Casa da Palavra” no mundo.
Maria teve a maior familiaridade possível com a Palavra, dando-lhe
um corpo no seu próprio corpo, mas dando-lhe, também, no seu Sim, o
coração. Nisto, Ela será sempre o nosso modelo insuperável, como pri-
meira “Casa da Palavra” no mundo.
REFLEXÃO
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS QUE FALA (n.º 22-28)
Em toda a criação, o ser humano é o único capaz de responder
a Deus:
1. Que tipos de diálogo podemos estabelecer com Ele?
2. Qual a condição, da nossa parte, para lhe responder?
3. Qual é o pecado maior que podemos cometer?
4. Em que sentido Maria é modelo da escuta da Palavra?
51
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
52
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
(2007), 586-591.
91 Commentariorum in Isaiam libri, Prol.: PL 24, 17.
53
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
54
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
29-30. A partir daqui, Bento XVI vai apresentar-nos as diferentes re-
gras de interpretação católica da Bíblia. Estas regras são absolutamente
necessárias para uma leitura da Escritura em Igreja e na Igreja. A regra
fundamental aqui apresentada é a seguinte: a Igreja é o lugar originá-
rio da interpretação da Escritura.
Trata-se de uma regra antiga, que foi formulada ao longo de toda a
História da Igreja, sobretudo quando havia desvios, heresias, que afir-
mavam não ser necessária a Igreja para ler a Bíblia. O tema agudizou-
-se a partir da interpretação protestante da Bíblia. O fundamento desta
regra reside no facto da Escritura nascer da fé da Igreja e, por isso, ser
na fé da Igreja que ela adquire todo o seu sentido como palavra de Deus
que é. Esta afirmação baseia-se, por sua vez, numa outra: o Cristia-
nismo ou é Igreja, comunidade de fé, ou deixa de ser Cristianismo.
Só a leitura na fé da Igreja faz crescer o dinamismo espiritual do lei-
tor da Bíblia e da própria Igreja em que aquele está inserido. Quando
não existe a consciência de pertença à Igreja, não se tem em conta esta
leitura, nem sequer se lê a Bíblia, livro da Igreja por excelência.
96 Concílio Vaticano II, Dei Verbum, 24; ver Leão XIII, Providentissimus Deus
(18 de Novembro de 1893), Pars II, sub fine: ASS 26 (1893-94), 269-292; Bento XV,
carta encíclica Spiritus Paraclitus (15 de Setembro de 1920), Pars III: AAS 12
(1920), 385-422.
55
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
31. Alma da Teologia. Esta expressão, saída da pena de Leão XIII (Provi-
dentissimus Deus, n.º 58) e frequentemente repetida nos documentos bí-
blicos da Igreja, teve sempre muitas dificuldades para se impor na
prática. Outras instâncias das ciências eclesiásticas nem sempre aceita-
ram a importância fundamental da Sagrada Escritura.
Segundo a DV 24, não é a Teologia que traça os caminhos da Escritura
ou que diz por onde os exegetas hão-de caminhar, mas é precisamente o
contrário: é a Escritura que aponta os horizontes da Teologia. Infeliz-
mente, a Bíblia foi serva de outras ciências eclesiásticas, praticamente
até ao Vaticano II. Isso aparece nas dificuldades criadas aos exegetas em
diferentes momentos da História da Igreja (e ainda nos nossos dias).
56
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
57
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
58
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
32-33. A exegese bíblica e o Magistério. O papa faz aqui uma avaliação
retrospectiva dos métodos científicos de interpretação da Bíblia, sobre-
tudo na época moderna – entre Leão XIII e o documento da Pontifícia
Comissão Bíblica de 1993, A Interpretação da Bíblia na Igreja.
Ao longo do século passado, desenvolveu-se sobretudo o método his-
tórico-crítico, que procura o sentido da letra do texto bíblico. Este mé-
todo opõe-se, por um lado, a um fundamentalismo da letra, que não
tem em conta o contexto histórico-literário da Bíblia; e, por outro, a
um espiritualismo, que não tem em conta a verdade fundamental da in-
carnação da Palavra eterna em Jesus Cristo: “Deus falou-nos por meio de
homens e à maneira humana” (DV 12).
59
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
34. Neste número, o papa coloca-se a questão da hermenêutica do Concílio,
que se encontra sintetizada na Dei Verbum. Esta Constituição indica como es-
sencial o estudo dos géneros literários, a leitura do texto no seu contexto; a
interpretação da Bíblia no mesmo Espírito em que foi escrita; a unidade da
Escritura; ter presente a tradição da Igreja e a analogia da fé. Reclama ainda
um aprofundamento da dimensão teológica dos textos bíblicos que acompa-
nhe, paralelamente, a investigação histórico-crítica actual.
60
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
61
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
35. O papa põe de aviso teólogos e exegetas para o perigo de um afas-
tamento progressivo entre exegese e teologia, que leva as duas “a com-
portarem-se como estranhas (…), mesmo aos níveis académicos mais
62
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
altos”. Isso levará a exegese a considerar o texto bíblico como algo sim-
plesmente passado, sem incidências na vida pastoral da Igreja de hoje.
Uma tal perspectiva conduz a uma visão secularizada da Bíblia, que pode
não considerar o seu elemento divino. A solução deste problema reside
no facto de a exegese ter como objectivo final a Lectio Divina, uma lei-
tura orante da Bíblia a partir da fé. Se não atingir este objectivo, é
dúbio o seu interesse.
Igualmente condenável é uma teologia que não parte do estudo exe-
gético dos textos bíblicos, mas se coloca ao nível de um espiritualismo
sem conteúdo bíblico. Resumindo: não existe exegese válida que não leve
à teologia e à pastoral, mas também não existe teologia ou pastoral que
não parta, necessariamente, da exegese bíblica.
116 João Paulo II, carta encíclica Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 55:
63
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
36. Agora, o papa apresenta uma outra solução para a deficiência de que
vinha falando antes – separação entre teologia e exegese. Tal solução
consiste em utilizar como critérios a fé e a razão. O mesmo é dizer que
se devem utilizar diferentes métodos complementares entre si: nem
métodos que, por princípio, se fechem ao divino – o que leva a uma her-
menêutica racionalista, puramente filosófica; nem princípios que pres-
cindam da história e da linguagem humana da Bíblia – que degenerem
em fideísmo e levem a leituras fundamentalistas. Em resumo, o justo
princípio a seguir será o da incarnação do Logos divino e eterno, que se
fez homem. Nele, juntam-se a humanidade e a divindade, a fé e a razão.
117 Ver Bento XVI, discurso no IV Congresso Nacional da Igreja em Itália (19 de
64
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
65
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
66
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
126 Bento XVI, discurso aos homens de cultura no “Collège des Bernardins” de
Paris (12 de Setembro de 2008): AAS 100 (2008), 726.
127 Ibidem, o. c., 726.
67
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
37-38. Na sequência do número anterior, o papa faz a apologia dos dois
sentidos fundamentais da Escritura: o sentido literal e o espiritual. Estes
eram os dois “sentidos bíblicos” estudados pelos Padres e pela exegese
monacal da Idade Média. Lembra ainda os sentidos literal, alegórico,
moral e anagógico, que são expressão dos dois anteriores. Em conclusão,
a verdadeira exegese católica é a que sabe articular o sentido literal e o
espiritual do texto bíblico.
Continuando a falar da relação do sentido espiritual e literal, o papa
sublinha a necessidade de superar a chamada letra da Bíblia, o que é di-
ferente de sentido literal; este pretende precisamente encontrar a
palavra de Deus na letra, mediante o método histórico-crítico. A neces-
sidade de transcender a letra consiste em encontrar o seu sentido espi-
ritual, a presença do elemento divino na linguagem humana da Bíblia.
Isto faz-se ainda através da tipologia do Antigo Testamento, um caminho
aberto em direcção ao Novo. Para transcender a letra é necessário ainda
ultrapassar o processo puramente intelectual da interpretação do texto,
passando a um processo vital do mesmo e interpretando-o no seu con-
texto mais amplo. Resumindo, ultrapassar a letra do texto é deixar-
-se conduzir pelo Espírito de Deus que nos fala no texto. O Antigo Testa-
mento é já um Evangelho.
128 Ver Bento XVI, audiência geral (9 de Janeiro de 2008): Insegnamenti IV/1
(2008), 41-45.
68
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
39. O que acabámos de dizer – leitura do texto no contexto e leitura do
texto segundo o Espírito – leva-nos, necessariamente, a uma visão unitá-
ria de toda a Bíblia, que ela mantém no seu conjunto diversificado e plu-
riforme. Essa unidade não está no seu carácter histórico-literário, pois
estamos a contas com “uma colectânea de textos literários, cuja redac-
ção se estende por mais de um milénio”; mas reside no facto de Cristo
69
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
132 Ver Proposição 10; Pontifícia Comissão Bíblica, O povo judeu e as suas Sa-
gradas Escrituras na Bíblia Cristã (24 de Maio de 2001), 3-5: EV 20, n.º 748-755.
133
Ver Catecismo da Igreja Católica, 121-122.
134
Proposição 52.
135
Pontifícia Comissão Bíblica, O povo judeu e as suas Sagradas Escrituras na
Bíblia Cristã (24 de Maio de 2001), 19: EV 20, n.º 799-801; Orígenes, Homilia sobre
Números 9, 4: SC 415, 238-242.
70
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
71
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
40-41. Ainda sobre a unidade interna da Bíblia, o papa volta-se para a re-
lação entre o Antigo e o Novo Testamento. A presente Exortação reafirma
a doutrina tradicional: há uma unidade interna entre os dois; o Novo re-
conhece implícita e explicitamente o Antigo; este é a raiz do Cristia-
nismo; há um movimento de continuidade entre o Antigo e o Novo
Testamento, como expressão de uma pedagogia divina que vai conduzindo
a humanidade do imperfeito ao mais perfeito (Gl 3,24). Há sempre uma
dinâmica de aperfeiçoamento e de superação do Novo Testamento, em
relação com o Antigo. No entanto, entre os dois Testamentos, além da di-
nâmica de continuidade – mesmo a nível dos conteúdos teológicos – há,
por vezes, situações de ruptura (Mt 5,21-48; 19,7-9).
72
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
73
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
42. Bento XVI não esqueceu as páginas obscuras da Bíblia, sobretudo aque-
las em que a violência e a imoralidade aparecem como coisas normais. Po-
deríamos indicar vários princípios como solução para uma leitura útil
destes textos. O documento limita-se a apontar a leitura em contexto his-
tórico, assim como o princípio da pedagogia divina e o da incarnação.
Por fim, faz um apelo muito necessário: é preciso estudar estes textos,
para os explicar ao povo. Não basta evitar de ler tais textos – como acon-
tece na liturgia; isso é impedir que o povo os escute e os compreenda.
Proposição 29.
141
74
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
43. Depois de falar da relação entre os dois Testamentos, o papa fala da re-
lação entre os seus dois agentes fundamentais: os judeus e os cristãos. A
este propósito, acentua os aspectos fundamentais que unem Cristianismo e
Judaísmo e que se encontram sobretudo no Antigo Testamento. Não esquece
também as rupturas que acontecem ao nível do Novo, na aceitação de Cristo
como Messias prometido no Antigo Testamento. Neste sentido, apresenta a
figura de Paulo como mediadora entre os dois povos e as duas culturas: um
judeu, que é o modelo – depois de Cristo – dos próprios cristãos.
143
Pontifícia Comissão Bíblica, O povo judeu e as suas Sagradas Escrituras na
Bíblia Cristã (24 de Maio de 2001), 87: EV 20, n.º 1150.
144 Ver Bento XVI, discurso de despedida no aeroporto Ben Gurion de Telavive
75
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
76
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
44. Ainda no aspecto da interpretação da Escritura, o papa fala de um
tema muito comum depois da Dei Verbum: a leitura fundamentalista da
Bíblia. Como é sabido, esta leitura literalista tem a sua raiz na ignorân-
cia daquilo que é realmente a Bíblia: palavra de Deus em palavras hu-
manas. A Bíblia tem, pois, dois tipos de autores: Deus e o homem. Ora,
o fundamentalismo admite apenas, como verdadeiro autor, o autor di-
vino, como se as Escrituras caíssem do Céu e não tivessem um carácter
profundamente histórico, que lhes é dado pela condescendência de Deus,
que nos fala em linguagem humana. Tal condescendência teve o seu mo-
mento alto na incarnação do Logos/Palavra eterna, que veio habitar no
meio de nós e “desfazer-se” em palavras humanas, para que nós com-
preendêssemos a sua Mensagem.
Este mal endémico da Igreja poderia remediar-se, em grande medida,
se houvesse grupos bíblicos, escolas bíblicas e outras estruturas de ensino
da Palavra. O documento reafirma que “a leitura fundamentalista cons-
titui uma traição, tanto ao sentido literal como ao espiritual”.
77
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
45. Um dos meios para remediar o mal do fundamentalismo, indicado
pelo papa, consiste numa íntima colaboração de todos os intervenientes
no ministério da Palavra: os pastores, que trabalham com o povo, os teó-
logos, que reflectem sobre os dados adquiridos pelos exegetas, e estes,
que devem apontar caminhos para que o seu estudo aprofundado da Bí-
blia tenda sempre a entrar na vida do povo de Deus.
A meu ver, os exegetas e os teólogos têm feito o seu trabalho. O que
mais tem faltado é o dos pastores, ao não promoverem uma pastoral bíblica
eficaz, isto é, não fazendo chegar ao povo a voz do Magistério e dos estu-
dos exegéticos. Por isso, muitos cristãos ainda não conhecem a sua Palavra
fundamental – a palavra de Deus. Para promover uma autêntica “sinergia
bíblica”, o papa diz que as Conferências Episcopais devem favorecer en-
contros entre os agentes de pastoral bíblica “a fim de promover uma maior
comunhão no serviço da palavra de Deus”. Em Portugal, este “serviço” de-
veria incluir, por exemplo, um “Secretariado Nacional de Pastoral Bíblica”.
78
Bíblia e ecumenismo
152 Em todo o caso não se esqueça que, relativamente aos chamados Dêutero-
79
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
46. O ecumenismo pode resumir-se nisto: “Escutar e meditar juntos as
Escrituras faz-nos viver uma comunhão real, embora ainda não plena;
pois ‘a escuta comum das Escrituras impele ao diálogo da caridade e faz
crescer o da verdade’”. De facto, a Bíblia é o grande ponto de encontro
157 Ver Proposição 36.
158 Ver Dei Verbum, 10.
159 Carta encíclica Ut unum sint (25 de Maio de 1995), 44: AAS 87 (1995), 947.
80
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
81
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
Comentário
47. Acerca da importância da Bíblia, o papa desce aqui ao ponto fulcral
da questão: a formação bíblica daqueles que vão ser os principais agen-
tes de pastoral bíblica e que devem preparar-se para isso nos estudos teo-
lógicos. O estudo da Escritura terá que ser focado na perspectiva de ser
“verdadeiramente a alma da Teologia” (ver n.º 31; DV 24). E afirma
alguns critérios a ter em conta por aqueles que ensinam e pelos que es-
tudam a Teologia: a formação teológica e exegética devem ser acompa-
nhadas por uma intensa vida espiritual; ter em conta os critérios expostos
em DV 12; o estudo deve ser feito em consonância com “o espírito ecle-
sial”, manifestado nas intervenções do Magistério.
Só feito deste modo, o estudo científico da Bíblia se torna realmente
a alma da teologia: “Que o estudo da Sagrada Escritura (…) seja real-
mente como que a alma do estudo teológico”, diz o papa.
Ibidem, 10.
161
82
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
83
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
171 Ordem dos Padres Pregadores, Primeiras Constituições ou Costumes, II, 31.
172
Vida 40, 1.
173
Ver História de uma alma, Manuscrito B, 3vº.
174
Ibidem, Manuscrito C, 35vº.
84
A HERMENÊUTICA DA S. ESCRITURA NA IGREJA
Comentário
48-49. Os santos e a interpretação da Bíblia. “A vida dos santos é uma
leitura viva da Bíblia”, pois foi a partir da Escritura como palavra de
Deus que eles se santificaram e se tornaram modelos para todos os que
se deixam guiar pela mesma Palavra. O papa apresenta muitos modelos
de santidade, mas todos partiram da Bíblia para o seu programa de vida
e também para a fundação das Ordens e Congregações. A este nível, é in-
teressante o programa de vida proposto por S. Francisco de Assis:
“A Regra e vida da Ordem dos Frades Menores é esta: observar o
Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
De facto, não há outra regra de vida. A Palavra é o ponto de partida
e de referência da santidade. E a santidade de vida é um critério de in-
terpretação da Bíblia: “A santidade na Igreja representa uma herme-
nêutica da Escritura da qual ninguém pode prescindir”.
Este princípio enunciado pelo papa é norma para todos os cristãos e
para todos os grupos: tudo deve partir da Escritura em todos os grupos e
85
I PARTE - A PALAVRA DE DEUS
REFLEXÃO
A HERMENÊUTICA DA SAGRADA ESCRITURA NA IGREJA (n.º 29-49)
Hermenêutica significa interpretação:
1. Qual a importância da interpretação na leitura da Bíblia?
2. Que princípios se devem usar para a interpretar correcta-
mente?
3. A interpretação fundamentalista será uma verdadeira inter-
pretação?
4. O que é necessário para uma interpretação correcta da Bíblia?
86
II Parte
87
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
176 Carta encíclica Veritatis splendor (6 de Agosto de 1993), 25: AAS 85 (1993),
1153.
177
Dei Verbum, 8.
178
Relatio post disceptationem, 11.
88
A PALAVRA DE DEUS E A IGREJA
Comentário
50-51. A partir daqui, o papa vai apresentar a relação da palavra de Deus
com a Igreja e vice-versa. Este é um assunto bastante controverso na His-
tória da Igreja, ao longo dos 2000 anos. Nem sempre a Igreja deu à pala-
vra de Deus o valor que ela merece. E este documento pretende também
preencher tal lacuna. Aliás, o tema do Sínodo – A palavra de Deus na Vida
e na Missão da Igreja – é a aplicação ao nosso tempo do capítulo VI da Dei
Verbum do Concílio Vaticano II: A Sagrada Escritura na Vida da Igreja.
O papa declara que a palavra de Deus foi e continua a ser pronunciada
na história humana, precisamente para os seres humanos; pois, em toda
a criação, o ser humano é o único que tem capacidade para escutar a Pa-
lavra e lhe dar a devida resposta. Daí a sua imensa responsabilidade. Mais
ainda, o acolhimento da Palavra é a principal incumbência da Igreja e de
89
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
REFLEXÃO
A PALAVRA DE DEUS E A IGREJA (n.º 50-51)
A palavra de Deus desceu à terra em Jesus Cristo para “morar”
no meio de nós:
1. Qual o papel da Igreja em relação com a Palavra?
2. Qual deve ser a atitude fundamental da Igreja, para que a
Palavra “more” nela?
3. Que significa “contemporaneidade de Cristo na vida da
Igreja”?
90
LITURGIA, LUGAR PRIVILEGIADO DA PALAVRA DE DEUS
91
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
52. A Igreja é, pois, “a Casa da Palavra”, e é nesta “Casa” que a Palavra
deve ressoar como Palavra acolhida e vivida. A liturgia é o lugar teoló-
gico onde a Palavra se torna fermento transformador da vida de cada um
186 Ibidem, 9.
187
Ibidem, 3; ver Lc 4,16-21; 24,25-35.44-49.
188 Vaticano II, constituição sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium, 102.
92
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
que a escuta e de todas as realidades terrestres onde ele próprio irá ac-
tuar. É o espaço em que o povo sacerdotal exerce o seu sacerdócio jun-
tamente como o seu Sumo Sacerdote, Jesus Cristo. A constituição sobre
a sagrada Liturgia do Vaticano II – Sacrosanctum concilium – deu as orien-
tações para uma correcta escuta da Palavra na liturgia. Tal escuta nunca
é separada da acção do Espírito Santo e é Ele que “fermenta” a Palavra
no coração dos fiéis. O papa refere ainda a pedagogia da Igreja, que vai
distribuindo o pão da Palavra ao longo do Ano Litúrgico e na Liturgia das
Horas. Mas, para que aconteça uma autêntica Liturgia da Palavra, é ne-
cessário que os pastores promovam uma educação dos fiéis que os pre-
pare para saborear a Palavra. Pois como a vão saborear, se não sabem o
que ela é e não têm sequer um conhecimento mínimo dela? Este é, hoje,
o grande problema da Igreja na sua relação com a Bíblia. Como se pode
celebrar, amar e viver aquilo que se desconhece?
93
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
53. O papa fala agora da relação entre Palavra e Sacramento. Qual a
relação entre as duas realidades? Existe uma união íntima, que con-
siste no chamado carácter performativo da Palavra; ou seja, a Palavra
realiza-se plenamente na acção sacramental; ela “faz” os sacramen-
tos, e estes são efeitos da palavra criadora de Deus na comunidade
cristã.
É um pouco a mesma relação que existe entre Palavra e criação: Deus
disse e tudo foi criado. Foi uma palavra “performativa”. É este o sen-
tido mais profundo daquilo a que chamamos a Palavra plenamente eficaz.
A Palavra tem também um carácter performativo, na vida do cris-
tão, quando é força do Espírito criador de uma vida nova; se não criar
esta vida, será uma Palavra perdida (Is 55,10-11).
94
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
95
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
lavra e a fracção do pão (L c 24,13-35). Jesus foi ter com eles no dia
depois do sábado, escutou as expressões da sua esperança desilu-
dida e, acompanhando-os ao longo do caminho, explicou-lhes, em
todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito (24,27). Junta-
mente com este viajante, que inesperadamente se manifesta tão
familiar às suas vidas, os dois discípulos começam a ver as Escritu-
ras de um novo modo. O que acontecera naqueles dias já não apa-
rece como um fracasso, mas cumprimento e novo início. Todavia,
mesmo estas palavras não parecem ainda suficientes para os dois
discípulos. O Evangelho de Lucas diz que os seus olhos abriram-se
e reconheceram-no (24,31), somente quando Jesus tomou o pão,
abençoou-o, partiu-o e lho deu; antes, os seus olhos estavam im-
pedidos de o reconhecerem (24,16).
A presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com o
gesto de partir o pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-lo
e apreciar de modo novo tudo o que tinham vivido anteriormente
com Ele: Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo ca-
minho e nos explicava as Escrituras? (24,32).
96
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
Comentário
54-55. Muito se tem falado acerca da relação entre Palavra e Eucaristia.
O papa continua o raciocínio do número anterior, aplicando-lhe o mesmo
princípio: a Eucaristia representa o carácter performativo da Palavra, pois
esta tende para a Eucaristia, e esta não é compreensível sem a Palavra.
Ambas se implicam e exigem mutuamente. Não se poderá, portanto, re-
duzir a presença de Cristo apenas à Eucaristia, o que acontece frequen-
temente na interpretação do discurso do pão da Vida (Jo 6,22-58): quando
Jesus diz Eu sou o pão da Vida, não podemos dar a estas palavras uma in-
terpretação reducionista – apenas eucarística – pois trata-se do Cristo
total, na dimensão da Palavra e do sacramento.
Estas duas realidades teológicas, segundo a DV 21, têm o mesmo valor
de presença real de Cristo na comunidade cristã: “Palavra e Eucaristia cor-
respondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem
a outra (…). A Eucaristia abre-nos à compreensão da Sagrada Escritura,
como esta, por sua vez, ilumina e explica o mistério eucarístico”. Portanto,
fica claro que, sem a compreensão da Escritura, não será possível com-
preender o sentido profundo da Eucaristia nem de qualquer sacramento.
A sacramentalidade da Palavra
195 Ibidem.
97
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
98
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
Comentário
56. A sacramentalidade da Palavra é o resultado da reflexão anterior.
O sacramento pode definir-se como uma realidade interior que é ex-
pressa por gestos e símbolos materiais, exteriores. Há uma união in-
trínseca entre significado (interior) e significante (exterior). Ao aplicar
isto à Palavra, vemo-la como realidade interior que está chamada a tor-
nar-se visível, exteriormente, nos sacramentos. E o papa acrescenta:
“Na origem da sacramentalidade da palavra de Deus está precisamente
o mistério da incarnação: O Verbo fez-se homem (Jo 1,14); a realidade
do mistério revelado [interior] é-nos oferecida na “carne” do Filho
[exterior, visível]”. A palavra eterna de Deus (Logos) [a realidade invi-
sível] tornou-se “visível” para nós nas palavras humanas da Escritura;
a Palavra transcendente desceu à nossa imanência, sem deixar de ser
transcendente. O mesmo processo deve acontecer em cada cristão: a
Palavra transcendente deve descer à nossa vida.
99
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
57. O Leccionário dominical, desde há muito, tem sido contestado em
várias instâncias da Igreja. A questão é, por vezes, a falta de nexo entre
a primeira leitura e o Evangelho; e o facto de se ler uma segunda lei-
100
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
tura, que não tem relação com as outras duas. Além disso, faltaria um
outro ano litúrgico, o Ano D, a fim de valorizar também o Evangelho de
S. João.
Em resposta à primeira objecção, o papa diz apenas que se podem pu-
blicar subsídios que ajudem a encontrar o nexo entre a primeira leitura
e o Evangelho; sobre a segunda objecção, diz que as leituras “devem ser
todas proclamadas na assembleia litúrgica”. De qualquer modo, também
afirma que “eventuais problemas e dificuldades” devem ser remetidos à
autoridade competente na matéria. Daqui sobressai, mais uma vez, a ne-
cessidade de estudar a Bíblia, para viver melhor a liturgia.
101
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
58. O papa desce a um aspecto muito concreto acerca da importância da
Palavra na celebração litúrgica, pois o Sínodo exigiu um “maior cuidado
com a proclamação da palavra de Deus”. Por isso, exige-se uma “ade-
quada formação” para “o ministério do leitorado”, um “ministério lai-
cal”. Para o exercer, é necessário, não a improvisação do costume, mas
uma “preparação bíblica e litúrgica e também técnica”.
A importância da homilia
102
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
103
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
59-60. Este número fala de um tema bastante discutido no Sínodo, e
também um dos mais relevantes da celebração eucarística, muito fo-
cado nos documentos da Igreja sobre a Palavra, desde o Concílio. A ho-
milia tem como incumbência tornar a palavra de Deus acessível aos fiéis,
como um autêntico pão repartido para todos. Tem uma dupla finalidade:
explicar a Palavra e animar a fé. Para a maior parte dos católicos, a ho-
milia tem sido praticamente o único momento de catequese.
A Igreja apenas permite que a homilia seja feita pelo bispo, presbítero
ou diácono. Mas estes devem evitar homilias genéricas e abstractas, assim
como divagações inúteis. O centro da homilia tem que ser Cristo. Para
isso, o pregador deve ter um contacto assíduo com a Palavra, preparar--
104
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
218 Proposição 8.
219
Ritual da Penitência. Preliminares, 17.
220
Ibidem, 19.
105
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
61. Ao falar da ligação entre Palavra e sacramentos, o papa vem agora
sublinhar a relação Palavra-Penitência e Unção dos doentes. No que se
refere à Palavra, é evidente que ela tem já, em si mesma, o poder cura-
tivo do pecador, pois é ela que está no centro e é origem da conversão a
Cristo (Act 2,37-38); por isso, é a Palavra da salvação por excelência.
É neste sentido que o papa fala da “força reconciliadora da palavra de
Deus” e pede que se façam celebrações penitenciais colectivas, para que
a Palavra seja aí mais abundante. Esta “palavra curativa” manifestou-
-se também em Jesus, que curou os doentes com a sua Palavra criadora.
Por isso, é normal que o papa aconselhe a Unção dos doentes em cele-
brações colectivas da Palavra.
221 Proposição 8.
106
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
107
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
62. A Liturgia das Horas é aqui recomendada, não por ser simplesmente
uma oração, mas por ser a oração bíblica, por excelência, da Igreja. Bento
XVI acrescenta que esta voz permanente da Igreja é a voz da Esposa diri-
gida ao Esposo, Cristo, aludindo à metáfora nupcial utilizada também
por São Paulo em Ef 5,25-32.
De facto, na Liturgia das Horas rezam-se os Salmos e são escutados
textos escolhidos da palavra de Deus. Esta oração, que veio da Sinagoga,
une-nos também ao povo do Antigo Testamento, o povo judeu, tornando-
-se, deste modo, uma oração ecuménica. O Sínodo e o papa recomendam
que todo o povo cristão participe, o mais possível, nesta oração da Igreja.
226 Ver Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cânones 377; 473-§§ 1 e 2/1º;
538-§ 1; 881-§ 1.
108
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
Comentário
63. O papa insiste em que a palavra de Deus deve entrar em todas as ac-
tividades da Igreja e em todos os pormenores litúrgicos das mesmas. É
neste sentido que devemos interpretar as bênçãos: sem a palavra de Deus,
que lhes dá sentido, elas podem tornar-se simplesmente acções mágicas,
sem sentido cristão; no Cristianismo não há magia, pois tudo provém da Pa-
lavra criadora e salvadora de Deus, acolhida na fé da Igreja.
109
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
(2007), 162-163.
230
Ibidem, 75: o. c., 163.
231
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Directó-
rio sobre Piedade Popular e Liturgia. Princípios e Orientações (17 de Dezembro
de 2001), 87: EV 20, n.º 2461.
110
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
b) A Palavra e o silêncio
111
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
112
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
(2007), 157.
243
Ver Ordenamento Geral do Missal Romano, 57.
244
Proposição 14.
245
Veja-se o cânon 36 do Sínodo de Hipona do ano de 393: DS 186.
246
Ver João Paulo II, carta apostólica Vigesimus quintus annus (4 de Dezem-
bro de 1988), 13: AAS 81 (1989), 910; Congregação para o Culto Divino e a Disci-
plina dos Sacramentos, instrução sobre alguns aspectos que se devem observar e
evitar em relação à Santíssima Eucaristia Redemptionis sacramentum (25 de Março
de 2004), 62: EV 22, n.º 2248.
113
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
64-71. Nestes números, o papa volta a reafirmar a necessidade de promo-
ver “uma crescente familiaridade com a palavra de Deus no âmbito das ac-
ções litúrgicas”. De facto, este documento acentua mais a relação da Bíblia
com a liturgia do que o estudo da Bíblia em si mesma. Aqui, por exemplo,
refere a importância das Celebrações da Palavra, como sendo “ocasiões
privilegiadas de encontro com o Senhor” e “um elemento importante da
pastoral litúrgica”.
O tema é recorrente desde o Vaticano II. Tais celebrações recomendam-
-se em certos momentos do ano litúrgico – e em muitos outros momentos
– e são necessárias nas comunidades onde não há Eucaristia dominical. Mas
247 Ver Sacrosanctum concilium, 116; Ordenamento Geral do Missal Romano, 41.
248
Ver Proposição 14.
114
LITURGIA, LUGAR DA PALAVRA DE DEUS
REFLEXÃO
115
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
249 Proposição 9.
250
Epistula 30, 7: CSEL 54, 246.
251
Idem, Epistula 133, 13: CSEL 56, 260.
116
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
Comentário
72. O título deste número é sugestivo, pois não basta possuir o texto ma-
terial da Bíblia. É necessário saber encontrar nele a voz de Deus, que nos
quer falar. Interessante é a afirmação de que “este encontro [com Cristo]
deve ser preparado nos corações dos fiéis e, sobretudo, por eles apro-
fundado e assimilado”. Mas, como poderá isso acontecer, se não houver
um estudo prévio da Palavra? Não vai haver “encontro”, se não houver co-
nhecimento daquele que nos quer encontrar. Daí a necessidade urgente
do estudo da Palavra daquele que nos quer falar. De outro modo, não re-
conheceremos a sua voz (Jo 10,4-5). S. Jerónimo foi disto um exemplo in-
superável, quer no estudo quer na meditação da Palavra.
117
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
118
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
119
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
74. O papa refere algo que parece evidente, mas que nem sempre é com-
preendido. Por vezes, pode acontecer que, na catequese, se ensine reli-
gião e não o autêntico Cristianismo; ou seja, que se invista mais tempo
e energias em gestos, fórmulas, ritos e cerimónias, que não terão muito
a ver com a palavra de Cristo. Só quando a catequese conseguir levar
120
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
Comentário
75. Este número deveria ser lido depois do n.º 73, pois apresenta o modo
como os cristãos podem e devem chegar a um conhecimento cada vez mais
profundo da palavra de Deus. O papa chama-lhe “apostolado bíblico”, uma
121
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
76. O papa insiste em diferentes modos de evidenciar a Bíblia no meio
do povo de Deus, mesmo em encontros importantes e oficiais das co-
munidades e da Igreja em geral. Um aspecto algo chocante é o facto de
a Igreja, até ao presente, não ter colocado a Bíblia no lugar que lhe
pertence.
O que aparece, por exemplo, em inaugurações e noutras manifesta-
ções públicas, ou é a água benta ou a missa, frequentemente para pes-
soas que não sabem o que isso é. O mais consentâneo com a Igreja, que
nasceu da Palavra, seria uma Celebração da Palavra, a propósito do acon-
tecimento celebrado. Bento XVI apresenta, pois, o verdadeiro caminho a
seguir nas actividades públicas da Igreja.
122
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
264 Ver Vaticano II, constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium, 39-42.
123
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
124
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
125
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
77-81. Falar de vocação é falar de Cristianismo. Não se pode ser cristão
sem uma relação de causa-efeito com a palavra de Deus. Se sou cristão é
porque Deus me chamou a sê-lo. É Ele que, pela sua Palavra, nos chama,
convoca, elege, escolhe para sermos cristãos. Nem todos o são. Deste
modo, ser cristão é consequência de uma vocação que vem do Alto; e só
quem é chamado é cristão. Ter esta consciência é sentir-se envolvido numa
relação especial com Deus, que chama para cumprir uma missão no mundo.
Além da vocação para ser cristão – que poderíamos chamar a “vocação
comum” – há as vocações específicas, que existem na Igreja para exercer
funções especiais de maior serviço na comunidade. São os bispos, os pres-
bíteros e os diáconos, ou seja, os que receberam o sacramento da Ordem;
assim como os chamados à vida consagrada. O papa dedica a cada um des-
tes um número do documento, para reafirmar que a sua missão deve estar
bem enraizada na Palavra. Sobretudo o bispo e o presbítero devem ser os
primeiros agentes de pastoral bíblica. Se eles não o forem, ninguém o será.
ção dos diáconos permanentes (22 de Fevereiro de 1998), 11: EV 17, n.º 174-175.
272 Ibidem, 74: o. c., 263.
273
Ver ibidem, 81: o. c., 271.
126
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
274Proposição 32.
275
Ver João Paulo II, exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis
(25 de Março de 1992), 47: AAS 84 (1992), 740-742.
127
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
82. Quanto aos que se preparam para o sacerdócio, o papa recomenda, por
um lado, o necessário estudo aprofundado da Bíblia, com os métodos cien-
tíficos actuais. Mas, por outro, diz que a Palavra não pode ser recebida
apenas na sua dimensão teórica e intelectual; tal estudo deve ser acom-
panhado com uma leitura orante, que englobe a Palavra no seu aspecto
cristão de palavra-de-Deus-para-mim. Daí a insistência na “leitura orante
da Escritura”, outro nome da Lectio Divina. Esta será a preparação neces-
sária para um verdadeiro trabalho na pastoral paroquial e diocesana, ra-
dicado na palavra de Deus.
128
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
todo o povo de Deus disso mesmo possa beneficiar. Por isso, o Sí-
nodo recomenda que nunca falte nas comunidades de vida consa-
grada uma sólida formação para a leitura crente da Bíblia.279
Desejo fazer-me eco da solicitude e gratidão que o Sínodo ex-
primiu pelas formas de vida contemplativa, que, pelo seu carisma
específico, dedicam boa parte dos seus dias a imitar a Mãe de Deus,
que meditava assiduamente as palavras e os factos do seu Filho
(Lc 2,19.51), e Maria de Betânia que, sentada aos pés do Senhor, es-
cutava a sua Palavra (L c 10,38). Penso, de modo particular, nos
monges e monjas de clausura que, sob a forma de separação do
mundo, se encontram mais intimamente unidos a Cristo, coração
do mundo.
A Igreja tem extrema necessidade do testemunho de quem se
compromete a “nada antepor ao amor de Cristo”.280 Com frequên-
cia, o mundo actual vive demasiadamente absorvido pelas activi-
dades exteriores, onde corre o risco de se perder. As mulheres e os
homens contemplativos, com a sua vida de oração, de escuta e me-
ditação da palavra de Deus, lembram-nos que nem só de pão vive o
homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (Mt 4,4).
Por isso, todos os fiéis tenham bem presente que uma tal forma de
vida “indica ao mundo de hoje o que é mais importante e, no fim de
contas, a única coisa decisiva: existe uma razão última pela qual vale
a pena viver, isto é, Deus e o seu amor imperscrutável”.281
Comentário
83. Neste documento, o papa pretende colocar a Palavra como raiz de todos
os cristãos e de todos os estados de vida da Igreja. Se toda a vida cristã nasce
da Palavra, com maior razão se poderá afirmar a mesma coisa da vida con-
sagrada; porque esta “acolhe o Evangelho como norma de vida”, no seu ra-
dicalismo. Bento XVI lembra que foi na vida religiosa que nasceram as
grandes experiências de uma espiritualidade que tem a sua fonte na escuta
129
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
84. Já antes e de vários modos foi referida a importância da Bíblia na sua
relação com todos os cristãos em geral. Neste número, o papa apresenta
130
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
285 João Paulo II, exortação apostólica Familiaris consortio (22 de Novembro de
131
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
85. Numa altura em que todos sentimos a grave crise das famílias, Bento
XVI afirma o seu enraizamento numa autêntica espiritualidade bíblica. É
(1988), 1727-1729.
290
Proposição 17.
132
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
a Bíblia que nos revela a origem e o modo de ser família. Jesus concedeu
a máxima importância à família e incluiu-a nas instituições do seu Reino
(Mt 19,4-8). Além disso, o matrimónio serviu como linguagem – no Antigo
e Novo Testamento – para definir a relação de aliança entre Deus/Esposo
e o seu Povo/Esposa (Ef 5,31-32).
É importante o papel evangelizador da família, mediante “a oração
em família, a escuta da Palavra, o conhecimento da Bíblia”; numa pala-
vra, a família deve ser a grande catequista dos seus próprios membros.
Uma recomendação prática interessante é a Bíblia da família, como texto
de estudo e de oração na família: “Que cada casa tenha a sua Bíblia”. Fi-
nalmente, o papa presta homenagem “à função das mulheres relativa-
mente à palavra de Deus”.
133
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
vra dirigida a Deus. Quando lês, é Deus que te fala; quando rezas,
és tu que falas a Deus”.293
Orígenes, um dos mestres nesta leitura da Bíblia, defende que a
compreensão das Escrituras exige, mais ainda do que o estudo, a in-
timidade com Cristo e a oração; realmente é sua convicção de que
o caminho privilegiado para conhecer Deus é o amor e de que não
existe um autêntico conhecimento de Cristo sem enamorar-se dele.
Na Carta a Gregório, o grande teólogo alexandrino recomenda:
“Dedica-te à leitura das divinas Escrituras; aplica-te a isto com
perseverança. Empenha-te na leitura com a intenção de crer e
agradar a Deus. Se durante a leitura te encontras diante de uma
porta fechada, bate e ser-te-á aberta por aquele porteiro do qual
Jesus disse: A esse, o porteiro abre-a (Jo 10,3). Aplicando-te assim
à Lectio Divina, procura com lealdade e inabalável confiança em
Deus o sentido das Escrituras divinas, que nelas amplamente se en-
cerra. Mas não deves contentar-te com bater e procurar; para com-
preender as coisas de Deus, tens necessidade absoluta da oração.
Precisamente para nos exortar a ela é que o Salvador não se limi-
tou a dizer: Procurai e encontrareis e batei e ser-vos-á aberto, mas
acrescentou: Pedi e recebereis”.294
A este propósito, porém, deve evitar-se o risco de uma aborda-
gem individualista, tendo presente que a palavra de Deus nos é
dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Ver-
dade no nosso caminho para Deus. Sendo uma Palavra que se dirige
a cada um pessoalmente, é também uma Palavra que constrói co-
munidade, que constrói a Igreja. Por isso, o texto sagrado deve-se
abordar sempre na comunhão eclesial.
Com efeito, “é muito importante a leitura comunitária, porque
o sujeito vivo da Sagrada Escritura é o povo de Deus, é a Igreja. (…)
A Escritura não pertence ao passado, porque o seu sujeito, o povo
de Deus inspirado por Ele próprio, é sempre o mesmo e, portanto,
a Palavra está sempre viva no sujeito vivo. Então é importante ler
134
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
295 Bento XVI, discurso aos alunos do Seminário Maior Romano (19 de Fevereiro
135
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
136
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
Comentário
86-87. O papa estabelece uma certa diferença entre a “abordagem
orante do texto sagrado” e a Lectio Divina. Esta aparece como um modo
particular de fazer a referida abordagem. Mais uma vez, insiste na Pala-
vra como fundamento da espiritualidade cristã; esta é, portanto, uma
tarefa em que estão implicados todos os baptizados. Sem nomear os gru-
pos bíblicos, afirma que a leitura crente da Bíblia deve ser comunitária,
feita em grupo, sobretudo para evitar o individualismo e tornar visível o
facto de que a Palavra está na origem da Igreja e é em Igreja que en-
137
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
303 Ver congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Direc-
138
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
como Ela e acolher em nós a sua Palavra. Esta prática pode ajudar-
-nos a intensificar um amor autêntico ao mistério da incarnação.
Merecem ser conhecidas, apreciadas e difundidas também al-
gumas antigas orações do Oriente cristão que, através de uma re-
ferência à Theotokos, à Mãe de Deus, percorrem toda a História da
Salvação. Referimo-nos particularmente ao Akathistos e à Paráklesis.
São hinos de louvor cantados em forma de ladainha, impregnados
de fé eclesial e de alusões bíblicas, que ajudam os fiéis a meditar,
juntamente com Maria, os mistérios de Cristo. De modo especial,
o venerável hino à Mãe de Deus denominado Akáthistos – quer
dizer: cantado permanecendo de pé – representa uma das mais
altas expressões de piedade mariana da tradição bizantina.307 Rezar
com estas palavras dilata a alma e dispõe-na para a paz que vem
do Alto, de Deus – a paz que é o próprio Cristo, nascido de Maria
para a nossa salvação.
Comentário
88. Mais uma vez, o papa volta a Maria, depois de a ter apresentado como
modelo dos que escutam a palavra de Deus (n.º 27-28). Sobre o tema,
Bento XVI aconselha a tradicional oração do Rosário, mas afirmando que
ela deve ir acompanhada da palavra da Bíblia, para ser memorizada, e
não simplesmente para preencher determinado espaço de tempo.
Além desta devoção popular e do Angelus, próprias da tradição oci-
dental, o papa recomenda outras orações da tradição oriental: Akáthis-
tos (sobre Maria), Paráklesis e outras.
307 Ver Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Direc-
139
II PARTE - A PALAVRA NA IGREJA
Comentário
89. Ao recordar a relação entre a Palavra e a Terra Santa, Bento XVI pre-
tende reafirmar o mistério da incarnação: o Verbo eterno desceu ao
140
A PALAVRA DE DEUS NA VIDA ECLESIAL
REFLEXÃO
141
III Parte
143
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
90. A partir deste número, o papa aprofunda a principal tarefa da Igreja:
anunciar a Palavra ao mundo. E inicia esta secção com um tema teológico
já antes abordado (n.º 6-21): o Verbo eterno, que estava em Deus, fez-se
homem. É a transcendência divina que desce até à nossa imanência, a que
o papa chama “o paradoxo fundamental da fé cristã”. Ele desceu do Céu
para estar connosco e, depois, nos levar com Ele para o Pai. Esta é a tra-
jectória do Verbo, estas são as etapas da encarnação. Ele tornou visível a
imagem do Deus invisível (Cl 1,15) e é nele e através dele que podemos
“ver” Deus. Não há outro intermediário entre Deus e a humanidade.
144
A MISSÃO DA IGREJA
Cristo que vive em mim (Gl 2,20) – e pela sua missão: Ai de mim
se eu não evangelizar! (1 Cor 9,16), ciente de que, em Cristo, se
revela realmente a salvação de todas as nações, a libertação da
escravidão do pecado, para entrar na liberdade dos filhos de Deus.
Com efeito, o que a Igreja anuncia ao mundo é o Logos da Espe-
rança (1 Pe 3,15); o homem precisa da “grande Esperança” para
poder viver o seu próprio presente – a grande esperança que é
“aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao
extremo (Jo 13,1)”.312
Por isso, na sua essência, a Igreja é missionária. Não podemos
guardar para nós as palavras de vida eterna, que recebemos no en-
contro com Jesus Cristo: elas são para todos, para cada homem.
Cada pessoa do nosso tempo – quer o saiba quer não – tem neces-
sidade deste anúncio. Oxalá o Senhor suscite entre os homens,
como nos tempos do profeta Amós, nova fome e nova sede das pa-
lavras do Senhor (Am 8,11). A nós cabe a responsabilidade de trans-
mitir aquilo que, por nossa vez, tínhamos recebido por graça.
312 Bento XVI, carta encíclica Spe salvi (30 de Novembro de 2007), 31: AAS 99
(2007), 1010.
145
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
313 Bento XVI, discurso aos homens de cultura no “Collège des Bernardins” de
146
A MISSÃO DA IGREJA
315 Ver Bento XVI, homilia por ocasião da abertura da XII Assembleia Geral Or-
dinária do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 757.
316
Proposição 38.
147
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
91-94. A descida da Palavra eterna ao nosso mundo tem uma finalidade:
ser conhecida por toda a humanidade como o maior grau de amor que
Deus lhe manifestou, a partir da criação. Esta finalidade, que tem a sua
origem numa dinâmica vertical – Alto-baixo – conduz a uma responsabi-
lidade por parte dos discípulos da Palavra, numa dinâmica horizontal:
eles devem levar as palavras do Verbo por todo o mundo. S. Paulo apre-
senta-se como modelo perfeito desta responsabilidade plenamente assu-
mida: Ai de mim, se eu não evangelizar! (1 Cor 9,16).
Esta é a grande tarefa de cada cristão ou comunidade, que decorre di-
rectamente da condição baptismal: todo o baptizado é um missionário,
ou ainda não tem consciência cristã. Por esta acção missionária, podemos
aferir se um baptizado já é cristão ou ainda o não é plenamente. Por isso,
o papa afirma que “a missão da Igreja não pode ser considerada como
realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial” (n.º 93).
148
A MISSÃO DA IGREJA
Comentário
95. Bento XVI passa agora a um campo específico da evangelização, que
consiste em levar a Palavra a povos e culturas onde o Evangelho ainda
não é conhecido. Por isso, utiliza uma expressão muito forte, quando
afirma que “a Igreja não pode, de modo algum, limitar-se a uma pasto-
149
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
96. O tema da nova evangelização tornou-se recorrente desde Paulo VI, e
João Paulo II fez dele uma das bandeiras do seu pontificado. De facto,
povos que nasceram do e no Cristianismo, sobretudo na Europa, tornaram-
321 Ver João Paulo II, carta encíclica Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990): AAS 83 (1991), 294-340; Idem, carta apostólica Novo millennio ineunte
(6 de Janeiro de 2001), 40: AAS 93 (2001), 294-295.
322
Proposição 38.
323
Ver Bento XVI, homilia por ocasião da abertura da XII Assembleia Geral Or-
dinária do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 753-757.
150
A MISSÃO DA IGREJA
151
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
152
A MISSÃO DA IGREJA
perseguir a vós (Jo 15,20). Por isso, desejo elevar a Deus, com toda
a Igreja, um hino de louvor pelo testemunho de muitos irmãos e
irmãs que, mesmo neste nosso tempo, deram a vida para comuni-
car a verdade do amor de Deus que nos foi revelado em Cristo cru-
cificado e ressuscitado. Além disso, exprimo a gratidão de toda a
Igreja aos cristãos que não se rendem perante os obstáculos e as
perseguições por causa do Evangelho.
Ao mesmo tempo, unimo-nos, com profunda e solidária estima,
aos fiéis de todas as comunidades cristãs, particularmente na Ásia
e na África, que neste tempo arriscam a vida ou a marginalização
social por causa da fé. Vemos realizar-se aqui o espírito das bem-
-aventuranças do Evangelho para aqueles que são perseguidos por
causa do Senhor Jesus (Mt 5,11). Ao mesmo tempo, não cessamos
de erguer a nossa voz para que os governos das nações garantam a
todos liberdade de consciência e de religião, inclusive para poder
testemunhar publicamente a própria fé.327
Comentário
97-98. O papa termina esta secção apelando a uma unidade intrínseca e
necessária entre palavra de Deus e testemunho cristão, afirmando que
esta é a primeira condição para a eficácia da evangelização. É o teste-
munho que torna credíveis, tanto as próprias palavras como a Palavra. Só
assim se poderá mostrar ao evangelizando que o Evangelho não é uma
utopia ou uma filosofia teórica, mas uma realidade que tende, natural-
mente, para a vida.
Por isso, tem que haver uma relação mútua entre Escritura e vida dos
crentes, na medida em que esta tem origem na força da palavra da Es-
critura; e esta Palavra, por sua vez, explica o testemunho “provocante”
do evangelizador. Por outro lado, o testemunho, de algum modo, “filtra”
e dá crédito à palavra do evangelizador. Trata-se do mesmo dinamismo da
palavra de Deus, quando desce ao coração do profeta, onde é “digerida”,
apropriada, a fim de se tornar compreensível pelo povo.
153
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
REFLEXÃO
154
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
155
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
AAS 83 (1991), 851-852; Idem, discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas
(2 de Outubro de 1979), 13: AAS 71 (1979), 1152-1153.
334
Ver Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 152-159.
156
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
Comentário
99-102. Começa aqui uma nova secção que trata da relação entre a pala-
vra de Deus e o mundo, no sentido das realidades terrestres. Se “a palavra
divina ilumina a existência humana”, então ela deve iluminar todos os as-
335 Ver Bento XVI, mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007 (8 de Dezem-
157
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
338 Bento XVI, homilia por ocasião do encerramento da XII Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos (26 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 779.
339
Proposição 11.
158
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
Comentário
103. O amor é a fonte do agir de Deus e também de todo o agir humano.
Uma das manifestações do amor de Deus por nós é a sua Palavra. Será
também a Palavra amorosa de Deus que irá levar aquele que a escuta a
tornar-se um instrumento do seu amor no mundo.
O ser humano é fruto do amor criador de Deus e só este amor o con-
serva. Quando falta o amor, que vem de Deus, o mundo transforma-se
num inferno e num campo de morte. O único modo de defender o homem
é mostrar-lhe as suas origens, isto é, o amor de Deus, que nos é comuni-
cado pela sua Palavra.
340 Bento XVI, carta encíclica Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 28:
159
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
342 Ver Bento XVI, mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude em 2006
160
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
Comentário
104. O Sínodo foi muito sensível à evangelização dos jovens, que são o fu-
turo da sociedade e da Igreja. E a razão fundamental consiste no se-
guinte: é na idade da juventude que se colocam as grandes questões do
sentido da vida e do mundo. A estas grandes questões filosóficas e exis-
tenciais, só a palavra de Deus é capaz de dar uma resposta completa e
permanente. Neste sentido, a juventude deveria ser o momento da vida
em que lhe tornássemos mais acessível a compreensão da Palavra. É esta
que os pode orientar nas diferentes opções vocacionais; mas eles preci-
sam tanto de mestres como de testemunhas credíveis.
161
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
105. A Palavra deve aplicar-se a todas as situações da história humana. A
Igreja, por seu lado, deve estar atenta a tais situações, ou para evitar pe-
rigos ou para aproveitar as ocasiões de evangelização. Aqui coloca-se o
magno problema dos movimentos migratórios, que existiram em toda a
história humana, mas que assumiram “proporções inéditas” no nosso
tempo. Muitos, que são cristãos, podem tornar-se evangelizadores nos paí-
ses para onde emigram; e os não cristãos podem usufruir de uma bela oca-
sião para conhecerem a Cristo. É tudo uma questão de acolhimento
fraterno por parte das instituições das dioceses e outros organismos ecle-
siásticos, pois “os migrantes têm o direito de ouvir o querigma/anúncio”.
162
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
347 Bento XVI, homilia por ocasião da XVII Jornada Mundial do Doente (11 de Fe-
163
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
106. Os doentes e todos os que sofrem são, frequentemente, aqueles que
melhor colocam o problema do sentido último da vida humana. A palavra
de Deus poderá ser, também para eles, uma luz nos momentos mais dra-
máticos da sua vida. Pode ajudá-los a descobrir que, por detrás do sofri-
mento e da morte, está o Pai misericordioso e compassivo: “A proxi-
midade de Jesus aos doentes não se interrompeu”. Ele próprio passou
pelo maior sofrimento e pela morte, para transformar, mitigar e dar sen-
tido a todas as nossas debilidades humanas. Os doentes e sofredores pre-
cisam – e merecem – tudo, porque também Jesus quis ser um deles.
164
PALAVRA DE DEUS E COMPROMISSO
Comentário
107. Os que melhor aceitam a Palavra são os pobres, pois têm o coração
mais vazio para o encherem de Deus. Assim acontece na Bíblia, onde são
eles os primeiros a aceitar a Boa-Nova. Por isso, deles é o Reino do Céu
(Mt 5,3). São os pobres – os anawîm – que aparecem como modelos da es-
cuta da Palavra e da esperança em Deus, num tempo messiânico: Maria,
João Baptista…
Todos sabemos que há a pobreza voluntária – pelos votos religiosos
(Mt 19,10-12) – e a pobreza imposta a milhões, pelas desigualdades e in-
justiças dos homens. A evangelização dos pobres passa também pela de-
núncia que a Igreja deve fazer de tais situações.
165
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
108. Já referíamos antes a criação de todas as coisas pelo Verbo Eterno.
Ora, se o mundo é efeito da Palavra criadora, aqueles que conhecem a Pa-
lavra são os mais capazes de conhecer os valores presentes na criação.
Que valores são estes? A ecologia, que tem o seu fundamento na Bíblia;
o valor teológico e a bondade da criação; a manifestação da glória de
Deus, que nos leva a contemplar Deus nas suas criaturas, etc.
A tarefa não é fácil, porque vivemos numa sociedade onde estes va-
lores teológicos são simplesmente ignorados ou espezinhados e onde a
criação aparece apenas na sua dimensão imanentista e, portanto, puro
objecto de ciência e de manipulação humana. A palavra de Deus tem,
portanto, muito a dizer à nossa sociedade actual.
353Proposição 54.
354
Ver Bento XVI, exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis
(22 de Fevereiro de 2007), 92: AAS 99 (2007), 176-177.
166
REFLEXÃO
167
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
355 João Paulo II, discurso à UNESCO (2 de Junho de 1980), 6: AAS 72 (1980), 738.
356
Ver Proposição 41.
357 Ver ibidem.
358
Ver João Paulo II, carta encíclica Fides et ratio (14 de Setembro de 1998),
80: AAS 91 (1999), 67-68.
168
PALAVRA DE DEUS E CULTURAS
Comentário
109-111. O princípio teológico que está na base destes números é o facto
de o Verbo de Deus ter incarnado numa determinada cultura, com carac-
terísticas muito próprias. A pedagogia de Deus é, assim, o modelo da in-
culturação da Palavra: Ele falou-nos em linguagem humana, para se poder
entender connosco e nós o podermos entender a Ele.
Por isso, o Cristianismo tem capacidade para estar presente em todas
as culturas, como de facto está, assim como nas mais diversas expressões
artísticas e literárias. O ser humano é, por natureza, cultural, vive numa
determinada cultura e caracteriza-se por ela; e cada cultura tem a sua
maneira própria de exprimir a verdade.
A verdade cristã tem a capacidade de se adaptar a todas as culturas,
“gerando valores morais”, que são a expressão da verdade do Evangelho.
O Sínodo diz, mesmo, que a Bíblia é um grande código cultural, contendo
“valores antropológicos e filosóficos” que podem melhorar a humani-
dade. As escolas e Universidades são o ambiente cultural propício onde a
Bíblia deve estar presente como fermento da cultura e das culturas.
169
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
112. A Palavra da Bíblia “inculturou-se”, isto é, veio ao mundo para estar
presente em todas as dimensões da vida humana, incluindo as mais va-
riadas expressões artísticas das culturas. Tanto no Oriente como no Oci-
dente cristãos, as expressões artísticas têm na Bíblia a sua fonte de
inspiração, sobretudo a pintura, a música, a literatura e a arquitectura.
A Igreja foi uma das grandes instituições que animou e promoveu a cul-
tura ao longo de dois milénios, sobretudo até ao séc. XVIII. Grandes per-
sonagens e temas da Bíblia foram objecto de representações artísticas e
de obras literárias e musicais.
Podemos afirmar que as raízes da cultura ocidental se encontram, em
grande parte, na Bíblia. Porque a beleza das diferentes expressões cul-
turais é um modo de manifestar, humanamente, a própria beleza de Deus
e da sua criação; ou seja, a primeira Palavra dita por Deus num mundo
foi a da criação.
170
PALAVRA DE DEUS E CULTURAS
361 Vaticano II, decreto sobre os instrumentos de comunicação social Inter mi-
171
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
113. A Palavra, que tem como finalidade atingir o maior número possí-
vel de pessoas, deve percorrer todas as estradas do mundo. Hoje, estas
estradas, ou mesmo auto-estradas, encontram-se nos meios de comuni-
cação social, nas novas tecnologias. S. Paulo andou a pé e de barco; hoje
andaria de avião e utilizaria a rádio, a TV e a Internet.
Entretanto, estes meios servem apenas para uma aproximação a
Cristo. A conversão radical à sua Pessoa acontece ao nível do “encontro
pessoal, que permanece insubstituível”.
Bíblia e inculturação
364 João Paulo II, mensagem para o XXXVI Dia Mundial das Comunicações Sociais
172
PALAVRA DE DEUS E CULTURAS
173
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
114. Se a Palavra eterna entrou na cultura de um povo, quer dizer que
tem a capacidade intrínseca para entrar em todas as culturas. De facto,
a história do texto bíblico é uma maravilhosa história de inculturação, ao
longo de mais de 1000 anos. Mas, quando falamos hoje da relação da Bí-
blia com as culturas, queremos dizer que ela não pretende mudar as cul-
turas nas suas manifestações externas; o que a Bíblia pretende é
mudá-las por dentro, dando-lhes um novo coração. Esse coração das cul-
turas é, fundamentalmente, o Verbo de Deus que entra nelas, para as
“transfigurar a partir de dentro”. Evangelizar as culturas é uma tarefa
urgente da Igreja, pois em todas elas já estão “as sementes do Verbo”,
que é necessário fazer germinar e crescer, para darem fruto.
174
PALAVRA DE DEUS E CULTURAS
Comentário
115. Um modo imprescindível da inculturação da palavra de Deus consiste
na tradução da Bíblia para as mais de 4000 línguas, e também para os
dialectos incontáveis existentes no planeta. Ora, uma língua é a expres-
são de um pensamento, de uma cultura, com tudo o que isso representa.
O papa chama a atenção para a formação de especialistas, que este-
jam à altura de fazer traduções a partir das línguas originais para essas
línguas e culturas – pois a isso se chama uma “tradução” da Bíblia. Re-
comenda ainda o apoio da Federação Bíblica Católica (FEBICA) a essas tra-
duções e um trabalho ecuménico com as Sociedades Bíblicas.
175
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
116. Quando a palavra de Deus penetra no coração de uma cultura, pela
sua dinâmica universal – que lhe é dada pelo Espírito do Pentecostes –
alarga o horizonte dessa cultura, estabelecendo pontes com outras cultu-
ras. O Espírito do Pentecostes, ao contrário do egoísmo dos habitantes de
Babel (Gn 11,1-9), cria a comunhão e união das culturas e dos corações,
fazendo de todas elas aquilo que no Novo Testamento se chama a nova fa-
mília de Jesus. Já não é o sangue e a raça que une e desune povos e cultu-
ras, mas é a Palavra a única seiva, o único “sangue” que une culturas e
povos, a ponto de todos poderem dizer juntamente: “Pai-nosso!”.
REFLEXÃO
376 Bento XVI, homilia durante a Hora Tércia, no início da I Congregação Geral
176
PALAVRA DE DEUS E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Paulo II, carta encíclica Dominum et vivificantem (18 de Maio de 1986): AAS 78
(1986), 809-900; Idem, carta encíclica Redemptoris missio (7 de Dezembro de
1990): AAS 83 (1991), 249-340; Idem, discursos e homilias em Assis, por ocasião do
Dia de Oração pela Paz em 27 de Outubro de 1986: Insegnamenti, IX/2 (1986),
1249-1273; Idem, Dia de Oração pela Paz no Mundo (24 de Janeiro de 2002): In-
segnamenti XXV/1 (2002), 97-108; Congregação para a Doutrina da Fé, declaração
sobre a unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja Dominus
Iesus (6 de Agosto de 2000): AAS 92 (2000), 742-765.
177
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
117. O anúncio da Palavra deve atingir outras religiões e tradições reli-
giosas da humanidade. Não na linha do proselitismo, mas na linha do diá-
logo. Este pretende que haja entre as diferentes culturas um mútuo
conhecimento, que leve também a um mútuo enriquecimento; pois, se-
gundo o Concílio, o Espírito de Deus está também noutras culturas e re-
ligiões. Este diálogo inter-religioso terá como consequência evitar inúteis
guerras religiosas que, infelizmente, sempre existiram ao longo da his-
tória humana e, por vezes, são as mais ferozes. As religiões deveriam ser
as grandes promotoras da paz e não de guerras; deveriam, sobretudo,
envidar esforços mais eficazes para apresentar uma verdadeira imagem
do Deus que lhes é comum, num mundo cada vez mais ateu e agnóstico.
378 Ver Vaticano II, declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não
178
PALAVRA DE DEUS E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
179
III PARTE - A PALAVRA DE DEUS PARA O MUNDO
Comentário
118-120. Nem sempre é fácil o diálogo com todas as religiões, o que
acontece sobretudo com a religião muçulmana, embora haja nela muitos
pontos de contacto com o Cristianismo. O fundamentalismo tem sido o
principal obstáculo a este diálogo e tem feito muitos mártires cristãos ao
longo de todo o séc. XX e também no séc. XXI. A Igreja tem estendido con-
tinuamente a mão ao diálogo, sobretudo a partir do concílio Vaticano II.
Este diálogo com as religiões pretende um estudo dos valores das mes-
mas, em ordem a uma colaboração estreita para bem dos povos em ques-
tão e da humanidade em geral. Além disso, este diálogo deve ter como
um dos conteúdos essenciais o respeito da pessoa humana, também em
ordem a poder escolher e professar livremente a sua religião.
REFLEXÃO
382Ibidem.
383
João Paulo II, discurso no encontro com os jovens muçulmanos em Casa-
blanca (Marrocos, 19 de Agosto de 1985), 5: AAS 78 (1986), 99.
180
CONCLUSÃO
122 Por isso, o nosso tempo deve ser cada vez mais de uma
nova escuta da palavra de Deus e de uma nova evange-
lização. É que descobrir a centralidade da palavra de Deus na vida
cristã faz-nos encontrar o sentido mais profundo daquilo que João
181
CONCLUSÃO
A Palavra e a alegria
182
A Assembleia sinodal permitiu-nos experimentar tudo isto, que
está contido na mensagem de João: o anúncio da Palavra cria co-
munhão e gera a alegria. Trata-se de uma alegria profunda que
brota do próprio coração da vida trinitária e é-nos comunicada no
Filho. Trata-se da alegria como dom inefável que o mundo não pode
dar. Podem-se organizar festas, mas não a alegria. Segundo a Es-
critura, a alegria é fruto do Espírito Santo (Gl 5,22), que nos per-
mite entrar na Palavra e fazer com que a Palavra divina entre em
nós e frutifique para a vida eterna.
Anunciando a palavra de Deus na força do Espírito Santo, que-
remos comunicar também a fonte da verdadeira alegria, não uma
alegria superficial e efémera, mas aquela que brota da certeza de
que só o Senhor Jesus tem palavras de vida eterna (Jo 6,68).
183
CONCLUSÃO
184
Comentário
121-124. Nesta conclusão, Bento XVI apresenta algumas das
ideias fundamentais explanadas ao longo do documento, que aqui
resumo em dez pontos:
1. Todo o ser está sob o signo da Palavra: o Verbo sai do Pai,
vem habitar connosco e regressa ao Pai, para nos levar consigo.
2. Todas as pessoas da Igreja devem ter uma íntima familiari-
dade com a palavra de Deus.
3. Deve ser incentivada uma nova e mais intensa escuta da Pa-
lavra, em ordem a uma nova evangelização.
4. Paulo é o modelo da missão ad gentes e da nova evangelização.
5. Colocar-se ao serviço da Palavra é apressar a vinda de um
novo Pentecostes. Esse Pentecostes é fonte de alegria, uma ale-
gria que o mundo não pode dar, pois é fruto do Espírito.
6. Se o Verbo é a fonte da verdadeira alegria, a Mãe do Verbo é
a Mãe da alegria: Feliz de ti, que acreditaste… (Lc 1,45).
7. A alegria, que vem da Palavra, estende-se a todos os que se
deixam transformar por ela: Felizes os que escutam a palavra de
Deus e a põem em prática (Lc 11,28).
8. “O nosso relacionamento, pessoal e comunitário, com Deus
depende do incremento da nossa familiaridade com a Palavra di-
vina”(n.º 124).
9. “Façamos silêncio para ouvir a palavra do Senhor e meditá--
la, a fim de que a mesma, através da acção eficaz do Espírito
Santo, continue a habitar e a viver em nós” (n.º 124).
10. O documento tende para um centro que implica todos os
cristãos e toda a Igreja, especialmente os pastores: A palavra de
Deus deve estar em toda a vida e missão da Igreja.
185
CONCLUSÃO
REFLEXÃO
▪
“A Igreja sempre se renova e rejuvenesce graças à Palavra do Senhor,
que permanece eternamente (1 Pe 1,25; Is 40,8).
Assim também nós poderemos entrar no esplêndido diálogo nupcial
com que se encerra a Sagrada Escritura:
O Espírito e a Esposa dizem: Vem!
Diga também o que escuta: Vem! (…)
O que é testemunha destas coisas diz: Sim. Virei brevemente!
Ámen. Vem, Senhor Jesus! (Ap 22,17.20) ” (n.º 124).
186
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ................................................................. 7
2. Para que a nossa alegria seja perfeita .................................. 8-9
3. Da Dei Verbum ao Sínodo sobre a palavra de Deus ................ 10-12
4. O Sínodo dos Bispos sobre a palavra de Deus ....................... 12-14
5. O Prólogo do Evangelho de João por guia ........................... 14-15
187
ÍNDICE
188
88. Palavra de Deus e oração mariana ............................... 138-139
89. Palavra de Deus e Terra Santa .................................... 139-141
189
Colecção
Cadernos Bíblicos
1. Para ler o Evangelho segundo S. Lucas 47. A Mensagem da Carta aos Hebreus
2. Para ler o Evangelho segundo S. Mateus 48. Maria nos Evangelhos
3. Para uma primeira leitura da Bíblia 49. As Cartas de São João
4. Homem, quem és tu? 50. De Jesus aos Sacramentos
5. Libertação humana e Salvação em Jesus 51. A Segunda Carta aos Coríntios
Cristo (1.ª parte) 52. As Cartas de Pedro
6. Cristo Ressuscitou! 53. Abraão
7/8. Para ler a Evangelho segundo S. Marcos 54. O livro de Jeremias
9. Narrativas da Infância de Jesus 55. A Primeira Carta aos Coríntios
10. Libertação humana e Salvação em Jesus 56. O Livro do Deuteronómio
Cristo (2.ª parte) 57. As Cartas Pastorais
11. Para ler o Evangelho segundo S. João 58. O Decálogo
12. «Segundo as Escrituras» 59. O profeta Ezequiel
13. São Paulo no seu tempo 60. Os livros de Samuel e dos Reis
14. Uma leitura do Pentateuco 61. As parábolas
15. Os Profetas do Antigo Testamento 62. O livro dos Números
16. Para orar com os Salmos 63. A Carta aos Filipenses e a Carta a Filémon
17. Os Salmos e Jesus, Jesus e os Salmos 64. O Sermão da Montanha
18. Os Evangelhos: origem, data, historidade 65. A Carta aos Colossenses e a Carta aos
19. A Eucaristia na Bíblia Efésios
20. Os milagres no Evangelho 66. O Livro de Daniel
21. Uma leitura dos Actos dos Apóstolos 67. A Carta de Tiago
22. Uma leitura do Apocalipse 68. A parábola do Filho Pródigo (Lc 15)
23. A Inspiração e o Cânon das Escrituras: 69. O Sacerdócio na Bíblia
história e teologia 70. Jonas
24. 1.° Isaías 71. A Primeira Carta aos Tessalonicenses
25. Intertestamento 72. O Livro de Tobite
26. Um primeiro contacto com a Bíblia 73. Morte e Vida na Bíblia
27. O Segundo Isaías 74. Um Cristão lê o Alcorão
28. As Fontes da Sabedoria 75. O Cântico dos Cânticos
29. Mateus, o Teólogo 76. O Livro das Crónicas
30. Job - O Livro e a Mensagem 77. O Livro dos Reis
31. A Sabedoria e Jesus Cristo 78. Caim e Abel
32. A Carta aos Gálatas 79. Os Últimos Profetas
33. A mensagem das Bem-aventuranças 80. O Livro de Rute
34. Semiótica 81. O Pentateuco
35. Missão e Comunidade 82. A Justiça no Novo Testamento
36. Levar o Evangelho aos pagãos 83. O livro de Esdras e de Neemias
37. O Livro do Êxodo 84. A Justiça no Antigo Testamento
38. Deus nosso Pai 85. Os sacrifícios no Antigo Testamento
39. O Espírito Santo na Bíblia 86. O sacrifício de Cristo e dos cristãos
40. Jesus Cristo no Evangelho de João 87. Qohélet e Ben Sira
41. A Palestina no tempo de Jesus 88. As origens de Israel
42. A Carta aos Romanos 89. A Bíblia Grega. A Setenta
43. Palavra de Deus e exegese 90. A violência na Bíblia
44. Amós e Oseias 91. O Livro da Sabedoria de Salomão
45. As Cartas aos Coríntios 92. O Levítico. A Lei de santidade
46. Jesus - Treze textos do Novo Testamento 93. A História de José
190
94. O Romance de José 102. Os Apocalipses do Novo Testamento
95. O Livro de Josué 103. O Evangelho de Jesus Cristo segundo
96. O que é o Evangelho? S. Lucas
97. As tentações de Cristo no deserto 104. O mundo do Além no Novo Testamento
98. O Livro de Judite ou a Guerra e a Fé 105. A Aliança, coração da Torá
99. Flávio Josefo, Uma testemunha judaica da 106. O Evangelho de Jesus Cristo segundo
Palestina no tempo do Apóstolos S. Mateus
100. Jesus e a Samaritana 107. Arqueologia, Bíblia e História
101. Os Judeo-Cristãos 108. Escritos joaninos
Colecção
Actualidade Bíblica
1 - Israel, uma terra em conflito
2 - Os manuscristos de Qumrân
3 - Itinerários Bíblicos
4 - O Jesus histórico
5 - A relação entre Judeus e Cristãos
6 - Igrejas Apostólicas. Origem e diversidade
7 - História do texto Bíblico
8 - Os discípulos de Jesus
9 - A Palavra inspirada
10 - Apocalíptica e Milenarismo
11 - Grupos religiosos e políticos na Jerusalém do século I
12 - A formação do Novo Testamento
13 - Jerusalém
14 - Bíblia e culturas
15 - Israel na Palestina
16 - São Paulo
191
BÍBLICA Científica
1 - A família na Bíblia
2 - Linguagem da Bíblia, linguagem de hoje
3 - A mulher na Bíblia, na Igreja e na Sociedade
4 - A festa e as festas na Bíblia e na Vida
5 - O Jubileu 2000
6 - O Espírito Santo, “Senhor que dá a vida”
7 - Deus Pai, «rico em misericórdia»
8 - A Encarnação, glorificação da Santísima Trindade
9 - A Eucarístia, fonte de Vida Divina
10 - A Igreja, povo sacerdotal: os ministérios na Bíblia e na Igreja
11 - A Bíblia e a Vida... Ontem e hoje
12 - Da nossa terra à Terra Prometida
13 - A Igreja vive da Palavra
14 - Da Palavra à Eucarístia
15 - A misericórdia de Deus num mundo de violência
16 - O Santuário, espaço de evangelização
17 - S. Paulo, apóstolo da Palavra
18 - A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja
19 - A Aliança na Bíblia
192