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Resenha 3 A Razão de Nossa Fé Respostas A Perguntas Difíceis Sobre Deus o Cristianismo e A Bíblia William Lane Craig Joseph E. Gorra Filipe

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FIDES REFORMATA XXIII, Nº 1 (2018): 121-124

Resenha
Filipe Costa Fontes*

CRAIG, William Lane; GORRA, Joseph. E. A razão de nossa fé: res-


postas a perguntas difíceis sobre Deus, o cristianismo e a Bíblia. São Paulo:
Vida Nova, 2018. 480 p.

A Razão de Nossa Fé é um livro de apologética. Não apenas um livro


sobre apologética, mas um livro que faz apologética.1 Editado por Joseph E.
Gorra,2 ele organiza perguntas que foram respondidas pelo famoso apologeta
contemporâneo, Dr. William Lane Craig, recebidas originalmente através de
seu site na internet.3
Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Ingla-
terra, e em teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha. Foi professor
na Universidade Biola, na Califórnia, e atualmente é professor pesquisador
de filosofia na Talbot School of Theology, localizada na mesma região. É
conhecido internacionalmente como um dos principais defensores da fé cristã
na atualidade, tendo estado envolvido, nos últimos anos, em debates públicos
com Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris, principais expoentes

* Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Mestre em Teologia Filosófica pelo CPAJ e em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção; graduado em
Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. Professor assistente de Teologia
Filosófica no CPAJ.
1 “...consideramos importante valorizar o ato de fazer apologética em vez de apenas falar sobre
apologética. Só nos últimos vinte anos, Bill e muitos de seus colegas e amigos escreveram alguns dos
livros de grande influência sobre a apologética. Estes frequentemente oferecem uma base útil e informativa
para a reflexão acerca do labor apologético e de como lidar com importantíssimas questões dessa área.
Mas também é importante (e, de fato, em alguns casos, de importância ainda maior) promover exemplos
concretos de fazer apologética como forma de aprender sobre apologética” (p. 19).
2 Orelha do livro.
3 O site do Dr. Craig é: https://www.reasonablefaith.org/. Acesso em: 2 mai. 2018.

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do neo-ateísmo. Craig tem outras obras traduzidas para o português, dentre as


quais estão: Em Guarda,4 Apologética Contemporânea5 e Filosofia e Cosmo-
visão Cristã,6 todas publicadas pela editora Vida Nova.
Joseph Gorra trabalha no programa de pós-graduação em apologética
cristã da Universidade Biola e na Sociedade Filosófica Evangélica. É instrutor
no Vineyard Bible Institute, e também fundador do Veritas Life Center, uma
associação religiosa sem fins lucrativos que se propõe a “traduzir e a transmitir
a tradição cristã da perspectiva do conhecimento e da sabedoria que ela oferece
para o florescimento cultural”.7
Quanto à apresentação, o livro é volumoso, possuindo 480 páginas. Sua
encadernação em brochura deixa-nos, a princípio, receosos de que o constante
manuseio possa torná-lo rapidamente um tanto desajeitado. As orelhas ajudam
na firmeza da capa, e a diagramação permite algumas anotações marginais.
Mas um maior espaço nas margens não seria mal recebido pelos leitores que
têm apreço pelo diálogo escrito com o autor.
Quanto ao texto, a introdução de A Razão de Nossa Fé é uma pérola. Seu
valor está relacionado, primeiramente, à sua natureza pessoal. O seu autor,
Joseph Gorra, tem trabalhado com Craig há alguns anos, e por isso oferece
algumas sugestões que ajudam o leitor a enxergar, nas respostas de Craig, para
além de suas ideias, o seu próprio coração. Está relacionado, também, à sua
natureza pastoral. Entre as páginas 26 e 50 encontramos um arrazoado muito
interessante e útil sobre a prática e o ministério de responder perguntas, que
não é uma atividade exclusiva de acadêmicos reconhecidos como Craig, mas
de pastores e líderes eclesiásticos de uma forma geral. Nessas páginas o autor
nos estimula a responder perguntas como embaixadores de Deus, como repre-
sentantes das tradições cristãs, como um trabalho de diagnóstico e cuidado da
alma, como forma de educação para o crescimento e como proclamadores do
Evangelho (p. 26-50). Finalmente, o valor da introdução do livro está relacio-
nado à sua natureza didática. Nas páginas introdutórias recebemos instrução
a respeito de como fazer bom uso do material que nos é oferecido pelo livro,
de modo a obter o máximo de proveito dele.
Após a introdução encontramos as perguntas e respostas. Um dado in-
teressante é que o livro mantém as perguntas em seu estado original, ou seja,
exatamente como foram redigidas, alterando apenas o nome de seu autor,

4 Cf. CRAIG, W. L. Em guarda: defendendo a fé cristã com razão e precisão. São Paulo: Vida
Nova, 2011.
5 Cf. CRAIG, W. L. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2ª ed. São Paulo:
Vida Nova, 2012.
6 Cf. MORELAND, J. P.; CRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005.
7 Orelha do livro.

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quando isso é necessário.8 Isto enriquece profundamente a leitura do livro, pois


nos ajuda a perceber como perguntas aparentemente semelhantes podem ser
motivadas por razões diferentes, e como estar atento às razões das perguntas é
algo fundamental na definição da resposta que oferecemos a elas. Para ilustrar:
questões sobre o problema do mal, por exemplo, podem ser tanto a expressão
de uma mente ateísta convicta, que tenta armar ciladas para o pensador cris-
tão, quanto a expressão de uma real crise de fé, causada pela dificuldade de
articular múltiplas experiências de sofrimento no mundo. Craig percebe isso, e
direciona sua resposta tendo em vista as razões evidenciadas pelo contexto da
pergunta, e permitir que o leitor perceba isso é um ponto favorável ao trabalho
de Gorra como editor.
As perguntas foram organizadas, tematicamente, em seis partes. Cada
uma dessas partes é aberta por duas listas de textos, uma de Craig e outra de
autores diversos, organizados por nível em iniciante, intermediário e avançado,
nos quais os assuntos tratados na parte em questão podem ser aprofundados.
Na primeira parte estão perguntas de natureza epistemológica, relacio-
nadas ao conhecimento e à crença sobre a natureza da realidade. Na segunda,
estão perguntas sobre Deus: questões sobre sua existência, seus atributos e a
clássica doutrina da Trindade. Na terceira parte encontramos perguntas sobre
a origem e o sentido da vida, além de questões sobre a relação entre teologia
e ciência. A quarta parte apresenta as perguntas sobre a vida após a morte e o
problema do mal. A quinta, contém as perguntas referentes a Jesus Cristo e a va-
lidade do discipulado cristão. E a sexta e última parte organiza as perguntas que
se referem aos assuntos da prática cristã, isto é, dilemas éticos contemporâneos
para o cristão, como a questão da homossexualidade, por exemplo.
Além da introdução, Joseph Gorra produziu três apêndices para A Razão
de Nossa Fé. O primeiro, mais didático e prático, oferece sugestões de como
utilizar as perguntas do livro em estudos de pequenos grupos. Os outros dois,
mais reflexivos, dizem respeito à importância de pensar o ambiente no qual
a apologética cristã deve se desenvolver. O Apêndice 2 trata sobre como po-
demos criar ambientes favoráveis ao questionamento e à busca por respostas.
E o Apêndice 3 trata especificamente da apologética no ambiente virtual,
oferecendo sugestões para a manutenção da civilidade quando nesse ambiente.
Como era de se esperar de um livro desse tamanho, ele é encerrado com
um índice remissivo que auxilia o leitor a encontrar o tratamento de um de-
terminado tema ou autor, nas várias perguntas respondidas por Craig no livro.
Em geral, as respostas oferecidas por Craig são biblicamente orientadas.
Não queremos dizer, com isso, que elas façam amplo uso de textos bíblicos.
Nem tampouco que elas não contenham elementos dos quais possamos dis-

8 É o caso da pergunta sobre o que significa Jesus ser o Filho de Deus, vinda de um país de
orientação religiosa primordialmente muçulmana, como o Paquistão (p. 334-335).

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A RAZÃO DE NOSSA FÉ: RESPOSTAS A PERGUNTAS DIFÍCEIS SOBRE DEUS, O CRISTIANISMO E A BÍBLIA

cordar. O molinismo9 do Dr. Craig, por exemplo, possui implicações para a


sua argumentação em algumas respostas, e qualquer leitor mais adepto da tra-
dição calvinista, como o autor desta resenha, terá dificuldade com alguns dos
argumentos.10 O que queremos dizer ao afirmar que as respostas são, em geral,
biblicamente orientadas, é que o raciocínio de Craig é dirigido pela estrutura
de pensamento proposta pela cosmovisão cristã, razão pela qual, mesmo que
discordemos dele em questões teológicas particulares, não é possível deixar de
perceber o seu valor para o embate apologético.
Além disso, as respostas de Craig são, geralmente, “sucintas, substanciais
e claras” (p. 18). É verdade que algumas, principalmente da primeira parte,
poderão ser consideradas muito densas pelo leitor médio, pelo fato de se vale-
rem de conceitos de lógica simbólica ou lógica matemática. A maioria delas,
no entanto, consegue ser contundente e esclarecedora, ao mesmo tempo em
que mantem uma linguagem relativamente simples. É o caso, por exemplo,
da resposta à pergunta sobre a existência de verdade objetiva (p. 97-100), que
aponta em quatro páginas, de forma bastante clara, as principais falácias do
subjetivismo epistemológico. Ou então, da resposta à questão polêmica sobre
o suposto “genocídio divino” cometido por ocasião do massacre dos cananeus
no Antigo Testamento, que sintetiza muito bem as questões éticas envolvi-
das no debate, ainda que se valha, ao final, de um argumento complicado que
pressupõe a questão polêmica da eleição de todas as crianças que morrem na
infância (p. 320).
Em virtude do que dissemos até aqui, recomendamos A Razão de Nossa Fé,
crendo que ele pode ser útil para diversas classes de pessoas. Primeiro, a estu-
dantes de teologia filosófica e apologética, como um exemplo prático da tarefa
de defesa da fé. Depois, a pastores e líderes eclesiásticos, como um exemplo do
ministério de responder perguntas. Talvez isto se aplique fortemente a líderes
de adolescentes e jovens, uma vez que boa parte das perguntas presentes neste
livro costumam ser levantadas por pessoas dessa faixa etária, mesmo que com
o uso de uma terminologia diferente. Por fim, o livro pode ser útil a quaisquer
pessoas que estão na busca de compreender questões difíceis e desafiadoras
à fé cristã, de um modo que seja ao mesmo tempo profundo, claro e pastoral.

9 O próprio Craig distingue calvinismo e molinismo afirmando que “o calvinista credita que Deus
elege unilateralmente e causalmente determina quem será salvo. O molinista também afirma a eleição
soberana dos salvos por Deus, mas nega que as pessoas sejam causalmente determinadas por Deus a
responder à sua graça. Antes, a graça salvadora de Deus é estendida a todo o ser humano com o desejo
de que ele responda livremente a ela e seja salvo, mas com o conhecimento de que certas pessoas vão
rejeitar livremente a graça de Deus e assim se condenar, em desacordo com a perfeita vontade de Deus”
(p. 290-291).
10 Para uma tratativa mais ampla sobre a questão do conhecimento médio e o molinismo, cf.
FRAME, J. A doutrina de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 359-411 (Cap. 22 – O conhecimento
de Deus).

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