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Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS

EMPREGO DA PEGADA HÍDRICA E DA ÁNALISE DE CICLO DE VIDA PARA A


AVALIAÇÃO DO USO DA ÁGUA NA CADEIA PRODUTIVA DO BIODIESEL DE
SOJA

GABRIEL TIMM MÜLLER

Porto Alegre
2012
ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS

EMPREGO DA PEGADA HÍDRICA E DA ÁNALISE DE CICLO DE VIDA PARA A


AVALIAÇÃO DO USO DA ÁGUA NA CADEIA PRODUTIVA DO BIODIESEL DE
SOJA

GABRIEL TIMM MÜLLER

Dissertação submetida ao Programa de Pós-


Graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.

Orientador: Prof. Luiz Fernando Cybis

Banca Examinadora

Prof. Dr. André Luiz Lopes da Silveira IPH/UFRGS


Prof. Dr. José Antônio Saldanha Louzada IPH/UFRGS
IPH/UFRGS
Prof. Dr. Miguel Aloysio Sattler PPGEC/UFRGS
NORIE/UFRGS

Porto Alegre, julho de 2012.


iii

Aos meus pais, simplesmente por


tudo, e à minha namorada, pela
inspiração, companhia e incentivo
constantes.
iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço com toda a sinceridade a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram a
vencer todas as dificuldades e contribuíram para a concretização deste trabalho, em especial...
Ao professor Luiz Fernando Cybis, pela orientação, confiança, oportunidade, apoio e
ensinamentos fundamentais transmitidos.
Ao IPH, pela oportunidade de aperfeiçoamento.
Ao CNPq, por conceder-me bolsa de mestrado.
À FEPAM, pela disponibilização dos processos administrativos para consulta e pela
concessão de diversos dados técnicos, e principalmente aos funcionários do Setor de
Protocolo e do Serviço da Região do Guaíba, pela grande prestatividade e colaboração.
Aos produtores rurais e aos funcionários do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Santa Rosa, pela ótima receptividade e boa vontade em conceder-me importantes informações
à pesquisa.
Às empresas produtoras de óleo degomado e de biodiesel de soja visitadas e seus
funcionários, pelo excelente atendimento e pela cooperação no fornecimento de dados
essenciais à execução deste trabalho.
Ao doutorando e colega, Rafael Zortea, pela fundamental participação, contribuição e
apoio no desenvolvimento deste trabalho e, igualmente, pela amizade e bons momentos de
convívio.
Aos colegas da FMMA de Gravataí, especialmente ao pessoal do setor de
Fiscalização, pelo grande apoio e compreensão pelos atrasos e ausências inevitáveis durante a
realização deste trabalho.
A todos os meus amigos, pela amizade sincera e constante, pelo apoio nas horas
difíceis e pelos incontáveis bons momentos, com muitos churras, comemorações, viagens,
futebol e, principalmente, muitas risadas. Em especial, aos meus amigos de infância que
cresceram junto comigo (aprontando nos “prédios”) e até hoje torcem por mim.
À minha namorada, Gabriela, não só por ter sido uma pessoa essencial na realização
deste curso, me dando força nos momentos de desânimo, me fazendo companhia nas noites
em claro e tornando tudo mais fácil de ser resolvido com seus pensamentos positivos, mas
também pelo amor, carinho, amizade e muitos momentos felizes que tem me proporcionado.
Aos meus pais, Ingo e Leni, pelo amor incondicional e por toda a dedicação,
confiança, carinho, educação e ensinamentos de vida que me desenvolveram como pessoa e
sustentam a minha caminhada em todos os sentidos. Também ao meu irmão, Yuri, pela
amizade, apoio e presença permanente.
v

RESUMO

A água é um elemento essencial para a manutenção da vida no planeta que, devido a


diversos fatores, está sendo cada vez mais consumido em todo o mundo. Até mesmo em
países ricos em recursos hídricos, como o Brasil, nota-se que há um crescimento dos
problemas relacionados com a escassez. Diante disso, a avaliação do uso da água no ciclo de
vida de produtos e serviços torna-se uma ferramenta importante de gestão, principalmente
quando relacionada a produtos derivados de cultivos agrícolas, como o biodiesel. No entanto,
entre as técnicas existentes que possibilitam realizar este tipo de análise, o uso da água ou é
negligenciado por falta de uma estrutura metodológica consistente, como ocorre em estudos
de Análise do Ciclo de Vida (ACV), ou ainda não foi abordado de forma ampla no Brasil,
como acontece no caso da Pegada Hídrica. Dentro deste contexto, o presente trabalho teve
como objetivo principal avaliar o uso da água no ciclo de vida do biodiesel de soja produzido
no Rio Grande do Sul, através do emprego da Pegada Hídrica e da construção de um
inventário específico para os recursos hídricos que possa ser utilizado, posteriormente, em
estudos de ACV. Para tanto, foram coletados dados relacionados às características
quantitativas e qualitativas dos fluxos de água, que compõem cada etapa da cadeia produtiva
estudada, incluindo a simulação do balanço hídrico do solo realizada para o cultivo da soja. A
partir destas informações, foi possível identificar, considerando o escopo deste trabalho, que o
valor da Pegada Hídrica total da produção de um litro de biodiesel de soja é de 19785,4 litros,
sendo composta por 7,8 litros de Água Azul, 8089,6 litros de Água Verde e 11688 litros de
Água Cinza. Quanto ao inventário de ACV, os resultados obtidos para a mesma unidade
funcional indicaram que, no ciclo de vida estudado, ocorre o uso consuntivo de 7,8 litros de
água e o uso degradativo de outros 240 litros, dos quais 94% retornam com qualidade ainda
útil para diversos usos, como por exemplo, a irrigação de cultivos não alimentícios. De forma
geral, os resultados de ambas as metodologias apontaram que a etapa em que ocorre o uso
mais intensivo da água é a fase agrícola e que a principal forma de diminuição da
disponibilidade hídrica é através da degradação da qualidade da água. Por fim, também foi
identificado que as principais diferenças e limitações das ferramentas empregadas estão
relacionadas à contabilização do consumo de água da chuva e à forma de quantificação da
poluição hídrica.
vi

ABSTRACT

Water is an essential element for sustaining life on the planet that, due to several
factors, is increasingly being consumed around the world. Even in countries with abundant
water resources, such as Brazil, may be noted that there is a growth in problems related to the
scarcity. Thus, the assessment of water use in the life cycle of products and services becomes
an important management tool, mainly when related to products derived from agricultural
crops, such as biodiesel. However, among the existing techniques that allows performing this
type of analysis, the water use or is neglected for lack of a consistent methodological
framework, as in studies of the Life Cycle Analysis (LCA), or has not been addressed widely
in Brazil, as in the case of the Water Footprint. In this context, this study had as main
objective evaluate the water use in the life cycle of soybean biodiesel produced in Rio Grande
do Sul, through the application of the Water Footprint and the construction of a specific
inventory for water resources that can subsequently be used in LCA studies. For this purpose,
were collected data related to quantitative and qualitative characteristics of water flows that
compose each phase of the supply chain investigated, including the simulation of soil water
balance performed for soybean cultivation. Based on this information, could be identified,
considering the scope of this work, that the value of total Water Footprint of production one
liter of soybean biodiesel was 19785,4 liters, consisting of 7,8 liters of Blue Water, 8089,6
liters of Green Water and 11688 liters of Grey Water. With respect to the inventory of LCA,
the results obtained for the same functional unit indicated that in the life cycle studied there is
the consumptive use of 7,8 liters and the degradative use of 240 liters, of which 94% return
with quality still useful for several uses, such as irrigation of non-food crops. In general, the
results of both methods indicated that the stage where occurs the most intensive water use is
the agricultural phase and that the main way to decrease the water availability was through the
degradation of its quality. Finally, it was also identified that the main differences and
limitations of the tools employed in this study are related to accounting the consumption of
rainwater and to the form of the water pollution quantification.
vii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS......................................................................................................................... 4
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 5
3.1 ÁGUA ............................................................................................................................... 5
3.1.1 A Situação dos Recursos Hídricos ........................................................................... 5
3.1.2 Usos Múltiplos da Água ........................................................................................ 10
3.1.3 Gestão dos Recursos Hídricos ............................................................................... 15
3.1.4 Ciclo Hidrológico .................................................................................................. 18
3.1.5 Água e a Demanda Energética ............................................................................... 24
3.2 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO USO DA ÁGUA ................................................... 26
3.2.1 Pegada Hídrica ....................................................................................................... 27
3.2.1.1 Características Gerais ............................................................................... 27
3.2.1.2 Metodologia da Pegada Hídrica ............................................................... 31
3.2.1.3 Pegada Hídrica e Bioenergia .................................................................... 38
3.2.2 Análise do Ciclo de Vida (ACV) .......................................................................... 42
3.2.2.1 Características Gerais ............................................................................... 42
3.2.2.2 Metodologia da ACV ................................................................................. 44
3.2.2.3 ACV e o Uso da Água ................................................................................ 48
3.3 BIODIESEL .................................................................................................................... 55
3.3.1 Introdução .............................................................................................................. 55
3.3.2 A Situação do Biodiesel......................................................................................... 56
3.3.3 Cadeia Produtiva do Biodiesel............................................................................... 58
3.3.4 Matéria-Prima do Biodiesel ................................................................................... 62
3.3.4.1 Soja ............................................................................................................ 64
4 ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 68
4.1 DEFINIÇÕES GERAIS .................................................................................................. 68
4.1.1 Objetivos ................................................................................................................ 68
4.1.2 Unidade funcional e fluxo de referência ................................................................ 69
4.1.3 Sistema de produto e delimitação das fronteiras ................................................... 69
4.1.3.1 Subsistema da fase agrícola ...................................................................... 71
4.1.3.2 Subsistema da fase de produção do óleo degomado ................................. 75
4.1.3.3 Subsistema da fase de fabricação do biodiesel ......................................... 77
viii

4.1.4 Critérios de alocação.............................................................................................. 80


4.1.5 Procedimentos da Pegada Hídrica ......................................................................... 81
4.1.5.1 Água Verde ................................................................................................ 81
4.1.5.2 Água Azul ................................................................................................... 83
4.1.5.3 Água Cinza ................................................................................................. 85
4.1.6 Procedimentos do ICV do uso da água .................................................................. 87
4.1.6.1 Uso consuntivo ........................................................................................... 87
4.1.6.2 Uso degradativo ......................................................................................... 88
4.1.7 Requisitos da coleta de dados ................................................................................ 88
4.1.8 Suposições e limitações ......................................................................................... 91
4.2 INVENTÁRIO DE MATERIAIS ................................................................................... 92
4.2.1 Subsistema da fase agrícola ................................................................................... 92
4.2.2 Subsistema da fase de produção do óleo degomado............................................ 104
4.2.3 Subsistema da fase de fabricação do biodiesel .................................................... 109
4.2.4 Inventário final de materiais ................................................................................ 116
4.3 PEGADA HÍDRICA ..................................................................................................... 118
4.4 INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA DO USO DA ÁGUA ...................................... 130
4.5 PEGADA HÍDRICA x ICV DO USO DA ÁGUA ....................................................... 138
4.5.1 Quantificação da Água Verde .............................................................................. 138
4.5.2 Água Cinza x Uso Degradativo ........................................................................... 140
4.5.3 Gestão dos Recursos Hídricos ............................................................................. 141
4.5.4 Avaliação de Impactos Ambientais ..................................................................... 143
5 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 144
6 RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................... 146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 147
APÊNDICES ......................................................................................................................... 163
ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Disponibilidade de recursos hídricos renováveis, por região geográfica ........... 8
Tabela 3.2 – Quadro geral da extração de recursos hídricos renováveis no mundo, por região
geográfica, com dados de 2000, em unidades de km³ por ano ......................... 13
Tabela 3.3 – Características gerais das unidades produtoras de biodiesel localizadas no Rio
Grande do Sul ................................................................................................... 61
Tabela 3.4 – Características gerais das principais culturas oleaginosas com potencial de uso
na produção de biodiesel dentro do território brasileiro ................................... 63
Tabela 4.1 – Produtos e substâncias utilizadas na fase de cultivo da soja, por etapa, com
indicação da fonte de pesquisa e/ou da justificativa ......................................... 73
Tabela 4.2 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema
da fase agrícola ................................................................................................. 74
Tabela 4.3 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema
da fase de produção do óleo degomado ............................................................ 76
Tabela 4.4 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema
da fase de fabricação do biodiesel .................................................................... 79
Tabela 4.5 – Definição dos tipos de uso da água considerados no uso degradativo ............. 89
Tabela 4.6 – Relação de funcionalidade entre as categorias de classificação e os tipos de uso
da água considerados no uso degradativo ......................................................... 90
Tabela 4.7 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase
agrícola, relacionados aos fluxos de materiais e de água, com os valores dos
coeficientes de retorno (CR) utilizados............................................................. 93
Tabela 4.8 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase agrícola, separados pelos principais
processos produtivos ......................................................................................... 96
Tabela 4.9 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, na produção dos
insumos da cadeia produtiva do calcário dolomítico ........................................ 96
Tabela 4.10 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva da ureia, com valores específicos para os principais processos
produtivos ......................................................................................................... 97
Tabela 4.11 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do SSP, com valores específicos para os principais processos
produtivos ......................................................................................................... 97
x

Tabela 4.12 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do KCl, com valores específicos para os principais processos
produtivos ......................................................................................................... 97
Tabela 4.13 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do óleo diesel ......................................................................... 98
Tabela 4.14 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos nas
cadeias produtivas dos defensivos agrícolas ..................................................... 98
Tabela 4.15 – Valores volumétricos resultantes da simulação do balanço hídrico do solo, para
o cultivo de um hectare de soja, em Santa Rosa – RS, no período de 15 de
novembro a 25 de março, com dados climáticos de 2000 a 2011................... 100
Tabela 4.16 – Concentração dos parâmetros qualitativos do fluxo de saída de água da etapa
de cultivo da soja ............................................................................................ 102
Tabela 4.17 – Consumo de óleo diesel, por operação, no cultivo da soja ............................. 103
Tabela 4.18 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase agrícola .................... 104
Tabela 4.19 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase de
produção do óleo degomado, relacionados aos fluxos de materiais e de água,
com os valores dos coeficientes de retorno (CR) utilizados ........................... 105
Tabela 4.20 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase de produção do óleo degomado, separados
pelos principais processos produtivos ............................................................. 106
Tabela 4.21 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do hexano, com valores específicos para os principais
processos produtivos ....................................................................................... 106
Tabela 4.22 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva da energia elétrica e na produção dos insumos da cadeia
produtiva da lenha (biomassa) ........................................................................ 106
Tabela 4.23 – Valores quantitativos dos fluxos de água, por processo industrial, na etapa de
produção do óleo degomado ........................................................................... 108
Tabela 4.24 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
etapa de produção do óleo degomado ............................................................. 109
Tabela 4.25 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase de produção do óleo
degomado ........................................................................................................ 109
Tabela 4.26 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase de
fabricação do biodiesel, relacionados aos fluxos de materiais e de água, com os
valores dos coeficientes de retorno (CR) utilizados ....................................... 110
xi

Tabela 4.27 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase de fabricação do biodiesel, separados pelos
principais processos produtivos ...................................................................... 111
Tabela 4.28 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do metanol ........................................................................... 112
Tabela 4.29 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do metilato de sódio, com valores específicos para os
principais processos produtivos ...................................................................... 112
Tabela 4.30 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do hidróxido de sódio, com valores específicos para os
principais processos produtivos. ..................................................................... 112
Tabela 4.31 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do ácido clorídrico, com valores específicos para os principais
processos produtivos ....................................................................................... 113
Tabela 4.32 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do ácido fosfórico, com valores específicos para os principais
processos produtivos ....................................................................................... 113
Tabela 4.33 – Valores quantitativos dos fluxos de água, por processo industrial, na etapa de
fabricação do biodiesel ................................................................................... 115
Tabela 4.34 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
etapa de fabricação do biodiesel ..................................................................... 115
Tabela 4.35 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase de fabricação do
biodiesel .......................................................................................................... 116
Tabela 4.36 – Dados e resultados relacionados aos procedimentos de alocação .................. 117
Tabela 4.37 – Inventário final dos fluxos de materiais, para cada subsistema do ciclo de vida
do biodiesel de soja, com e sem a aplicação dos fatores de alocação ............. 117
Tabela 4.38 – Resultados finais da Pegada Hídrica, para o subsistema da fase agrícola ...... 120
Tabela 4.39 – Resultados finais da Pegada Hídrica, para os subsistemas das fases de produção
do óleo degomado e de fabricação do biodiesel ............................................. 122
Tabela 4.40 – Análise de contribuição das etapas do ciclo de vida do biodiesel de soja, por
componente da Pegada Hídrica ....................................................................... 126
Tabela 4.41 – Análise das regiões com uso mais intensivo da água, envolvidas no ciclo de
vida do biodiesel de soja, conforme valor total da Pegada Hídrica e dos
componentes Verde, Azul e Cinza .................................................................. 127
Tabela 4.42 – Resultados finais do ICV, para o subsistema da fase agrícola ........................ 132
xii

Tabela 4.43 – Resultados finais do ICV, para os subsistemas das fases de produção do óleo
degomado e de fabricação do biodiesel .......................................................... 133
Tabela 4.44 – Análise de contribuição das etapas do ciclo de vida do biodiesel de soja, de
acordo com a forma de uso da água considerada no ICV ............................... 137
Tabela A.1 – Limites de concentração dos parâmetros de qualidade da água, por tipo de uso
da água, incluindo as referências das fontes dos dados .................................. 163
Tabela A.2 – Limites de concentração dos parâmetros de qualidade da água, por categoria de
classificação do uso degradativo ..................................................................... 165
Tabela B.1 – Valores médios decendiais das variáveis climáticas utilizadas na simulação do
balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera, para o cultivo da soja, em
Santa Rosa - RS .............................................................................................. 167
Tabela C.1 – Consumo de óleo diesel, nas etapas de transporte dos materiais, considerando o
sistema de produto definido para este estudo e a produção de 1 litro de
biodiesel de soja .............................................................................................. 168
xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Quantidade de água extraída, em percentagem, relacionada com a quantidade


de recursos hídricos renováveis disponíveis, por país, com dados de 2001 ....... 6
Figura 3.2 – Divisão das regiões hidrográficas do Brasil........................................................ 9
Figura 3.3 – Situação da disponibilidade hídrica das regiões hidrográficas do Brasil, em
termos de vazão média anual por habitante ........................................................ 9
Figura 3.4 – Situação dos principais rios do Rio Grande do Sul, através da relação entre
demanda e disponibilidade de água .................................................................. 10
Figura 3.5 – Extração anual de água por habitante, em cada país, com dados de 2000 ........ 12
Figura 3.6 – Contribuição dos principais setores usuários de água, em percentagem, relativo
à extração e ao consumo no Brasil .................................................................... 13
Figura 3.7 – Vazão de água extraída para a irrigação, por unidade hidrográfica de área ..... 15
Figura 3.8 – Ilustração dos processos hidrológicos que compõem o ciclo da água .............. 19
Figura 3.9 – Gráfico ilustrativo do comportamento do valor do coeficiente de cultivo (Kc),
durante o período de cultivo ............................................................................. 22
Figura 3.10 – Ilustração dos principais fluxos de entrada e saída de água que compõem o
balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera em um cultivo agrícola ...... 23
Figura 3.11 – Esquematização dos componentes da Pegada Hídrica (Água Verde, Azul e
Cinza), relacionados ao balanço hídrico de uma bacia hidrográfica ................ 30
Figura 3.12 – Fases de execução da Pegada Hídrica ............................................................... 31
Figura 3.13 – Esquematização geral dos dados necessários ao cálculo da Pegada Hídrica de
biocombustíveis ................................................................................................ 40
Figura 3.14 – Exemplificação das fases do ciclo de vida de um determinado produto .......... 43
Figura 3.15 – Estrutura das fases de execução da ACV .......................................................... 45
Figura 3.16 – Esquema geral da aplicação da ACV para o uso da água ................................. 50
Figura 3.17 – Evolução anual da capacidade de produção nominal autorizada pela ANP, da
demanda obrigatória e da produção total de biodiesel ...................................... 58
Figura 3.18 – Ilustração das principais etapas da cadeia produtiva do biodiesel .................... 59
Figura 3.19 – Mapa de distribuição, por estado brasileiro, das principais oleaginosas com
potencial de utilização na produção de biodiesel .............................................. 63
Figura 3.20 – Perfil de contribuição das matérias-primas utilizadas para a produção de
biodiesel no Brasil............................................................................................. 64
xiv

Figura 3.21 – Produção de soja no Rio Grande do Sul, por município, na média de 2004 a
2006................................................................................................................... 66
Figura 4.1 – Fluxograma da cadeia produtiva do biodiesel de soja, com indicação da
fronteira do sistema de produto considerado no presente estudo ..................... 70
Figura 4.2 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase agrícola ..................... 72
Figura 4.3 – Fluxograma do processo industrial de fabricação do óleo degomado .............. 76
Figura 4.4 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase de produção do óleo
degomado .......................................................................................................... 77
Figura 4.5 – Fluxograma do processo industrial de fabricação do biodiesel ........................ 78
Figura 4.6 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase de fabricação do
biodiesel ............................................................................................................ 80
Figura 4.7 – Fluxograma simplificado do uso da água, no processo industrial de fabricação
do óleo degomado ........................................................................................... 107
Figura 4.8 – Fluxograma simplificado do uso da água, no processo industrial de fabricação
do biodiesel ..................................................................................................... 114
Figura 4.9 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Verde, Azul e
Cinza, do subsistema da fase agrícola............................................................. 121
Figura 4.10 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Azul e Cinza, do
subsistema da fase de produção do óleo degomado........................................ 123
Figura 4.11 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Azul e Cinza, do
subsistema da fase de fabricação do biodiesel ................................................ 124
Figura 4.12 – Contribuição da Água Verde, Azul e Cinza, para o valor total da Pegada
Hídrica do biodiesel de soja ............................................................................ 125
Figura 4.13 – Contribuição dos três subsistemas analisados, para os componentes Água
Verde, Azul e Cinza, e para o valor total da Pegada Hídrica.......................... 126
Figura 4.14 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema
da fase agrícola ............................................................................................... 132
Figura 4.15 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema
da fase de produção do óleo degomado .......................................................... 134
Figura 4.16 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema
da fase de fabricação do biodiesel .................................................................. 135
Figura 4.17 – Contribuição das formas de uso da água do ICV gerado neste estudo,
considerando as categorias de classificação do uso degradativo .................... 136
Figura 4.18 – Contribuição dos três subsistemas analisados, para o uso consuntivo e
degradativo da água ........................................................................................ 136
xv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABIOVE Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

ACV Análise do Ciclo de Vida

AICV Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida

ANA Agência Nacional das Águas

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

CAD Capacidade de Água Disponível

CEE Comunidade Econômica Europeia

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CNPE Conselho Nacional de Política Energética

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DALY Disability Adjusted Life Years

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Rio Grande do Sul)

GEMI Global Environmental Management Initiative

HPA Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICV Inventário do Ciclo de Vida

INEA Instituto Estadual do Ambiente (Rio de Janeiro)

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change


xvi

ISO International Organization for Standardization

NPK Nitrogênio-Fósforo-Potássio

ONU Organização das Nações Unidas

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A.

PNPB Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel

PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos

REFAP Refinaria Alberto Pasqualini

SETAC Society for Environmental Toxicology and Chemistry

SINDA Sistema Nacional de Dados Ambientais

SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

SSP Fertilizante Superfosfato Simples

UNEP United Nations Environmental Programme

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

WFN Water Footprint Network

WHO World Health Organization

WSI Water Stress Index

WTA Withdrawal-to-availability
xvii

LISTA DE SÍMBOLOS

ETm Evapotranspiração potencial ou máxima

ETr Evapotranspiração real

ET0 Evapotranspiração de referência

Kc Coeficiente de cultura

∆ Inclinação da curva de pressão de vapor

Rn Radiação líquida na superfície da cultura

G Densidade do fluxo de calor no solo

γ Constante psicrométrica

T Temperatura média do ar a 2 metros de altura

U2 Velocidade do vento a 2 metros de altura

es Pressão de saturação do vapor

ea Pressão de vapor

Umidade volumétrica do solo, no fim do dia i

Umidade volumétrica do solo, no dia anterior ao dia i

Precipitação total, no dia i

Volume de água da ascensão capilar, no dia i

Volume de água da irrigação que atinge o solo e a cultura, no dia i

Evapotranspiração real da cultura, ocorrida no dia i

Drenagem profunda, no dia i

Escoamento superficial, ocorrido no dia i

p Fração da água existente no solo que pode ser utilizada pela planta, sem
haver um gasto energético excessivo

PH Pegada Hídrica Total

AVx Água Verde ou Pegada Hídrica Verde, do produto/processo/etapa x

AAx Água Azul ou Pegada Hídrica Azul, do produto/processo/etapa x

ACx Água Cinza ou Pegada Hídrica Cinza, do produto/processo/etapa x


xviii

ETverde Evapotranspiração da Água Verde

d Dia de plantio

fc Fim da colheita

VIverde Volume de Água Verde incorporado no produto

ETazul Evapotranspiração da Água Azul

VIazul Volume de Água Azul incorporado no produto

NR Água Azul que não retorna ao sistema

ETAagric. Evapotranspiração da Água Azul na fase agrícola

ETAind Evapotranspiração da Água Azul na fase industrial

ETirrig Evapotranspiração da água de irrigação

Earm Evaporação no armazenamento da água de irrigação

Etransp Evaporação no transporte da água de irrigação

Eaplic Evaporação na aplicação da água de irrigação

Ief Irrigação efetiva aplicada

Ic Volume de irrigação, para um crescimento ótimo do cultivo

fef Fração do volume total de água extraída para irrigação, que


efetivamente atinge o solo

Itot Volume total de água extraída para irrigação

Eproc Evaporação da água nos processos industriais

Vent Volume de entrada de água no processo

Vsai Volume de saída de água no processo

ACagric. Água Cinza da fase agrícola

ACind Água Cinza da fase industrial

Vefl Volume efluente do processo/etapa

Vafl Volume afluente do processo/etapa

cefl Concentração do poluente no efluente do processo/etapa

cafl Concentração do poluente no afluente do processo/etapa

cmax Concentração máxima permitida para o poluente no corpo hídrico


receptor, pelo padrão de qualidade do ambiente aquático existente
xix

cnat Concentração natural do poluente no corpo hídrico receptor

CPx Carga do poluente x aplicada no processo/etapa

fp Fração de perda do poluente

KCl Cloreto de potássio

Prodx Produtividade do processo/produto/etapa x

Qx Quantidade do material x utilizada no ciclo de vida

UAVsoja Volume de Água Verde usada por hectare de cultivo da soja

UACsoja Volume de Água Cinza usada por hectare de cultivo da soja

CR Coeficiente de retorno da água extraída


1

1 INTRODUÇÃO

A água é um recurso essencial para a manutenção da vida e para todas as atividades


desenvolvidas pelos seres humanos. Através do ciclo hidrológico, a água circula entre a
atmosfera, os continentes e os oceanos, renovando sua disponibilidade e sua capacidade de
assimilar a poluição. No entanto, devido a fatores como o acelerado crescimento demográfico,
o desenvolvimento econômico não sustentado e o uso ineficiente, os padrões atuais de uso da
água se tornaram insustentáveis. Algumas estimativas apontam que de 5 a 25% do consumo
de água no mundo excede a capacidade de renovação de seus corpos hídricos (WHO, 2005).
Por esse motivo, atualmente existe uma crescente preocupação global com a questão da
preservação e utilização racional da água, uma vez que um número cada vez maior de regiões
está sentindo os efeitos da escassez. Nota-se, por exemplo, que este tipo de situação já é aguda
em muitos locais da África e do Oeste da Ásia e também impõe restrições econômicas mais
acentuadas nos países em desenvolvimento, como a China, a Índia e até o Brasil, incluindo
algumas localidades do Rio Grande do Sul. Este panorama tem gerado previsões alarmantes,
com algumas estimativas indicando que, se a tendência atual de uso da água continuar, em
2025, aproximadamente 1,8 bilhão de pessoas viverão em regiões com escassez de água e
dois terços da população mundial estarão sujeitas a estresses de água (MORRISON et al.,
2010).
Influenciado pelos mesmos fatores, também ocorre, em paralelo, o crescimento da
demanda energética, com um aumento estimado de 55% até 2030 (WWAP, 2009). Essa
questão, somada à instabilidade do preço do petróleo e ao seu caráter não renovável, além dos
recentes comprometimentos dos países desenvolvidos em reduzir a emissão de gases de efeito
estufa, está impulsionando a procura por fontes alternativas de energia, incluindo o biodiesel.
Em termos mundiais, esta tendência se reflete nas estatísticas, onde se percebe que a taxa
média de crescimento da produção de biodiesel, nos últimos cinco anos, foi em torno de 38%
(REN21, 2011). No Brasil, isto tomou forma a partir de 2005, quando foi implementado o
Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Este programa atualmente
estabelece, através da Resolução n° 06/2009, do Conselho Nacional de Política Energética
(CNPE), que desde 2010 deve ocorrer a mistura obrigatória de 5% de biodiesel no óleo diesel
tradicionalmente comercializado, fazendo com que, em 2011, atingisse a produção de 2,7
bilhões de litros e se tornasse o segundo maior produtor mundial deste biocombustível (ANP,
2012b; BRASIL, 2011a).
2

Os principais problemas ambientais que podem ser gerados por estes cenários de
crescimento da demanda por água e energias renováveis são os impactos aos recursos hídricos
e os danos decorrentes do esgotamento dos mesmos, causados pelo alto consumo de água que
ocorre na produção dos biocombustíveis. No caso do biodiesel, isso ocorre, sobretudo, porque
sua principal matéria-prima é o óleo proveniente das culturas oleaginosas, como a soja, as
quais, dependendo das condições climáticas locais, da produtividade requerida e do sistema
de produção, necessitam de grandes quantidades de água e insumos para se sustentarem.
Portanto, isso inclui, muitas vezes, a utilização da irrigação e da aplicação intensiva de
fertilizantes para se obter um desenvolvimento satisfatório, o que pode resultar na diminuição
da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos.
Por esse motivo, pela perspectiva da conservação dos recursos hídricos, fica clara a
necessidade de se desenvolver e aplicar técnicas de gestão ambiental, que sejam capazes de
avaliar a sustentabilidade do biodiesel e da implementação de estratégias e políticas de
incentivo à produção do mesmo; ou ainda, que possam ser utilizadas para o fornecimento de
informações importantes de suporte a futuras decisões de gestão e que possibilitem aos
usuários a obtenção de um melhor entendimento de suas relações com as bacias hidrográficas.
Dentro deste contexto, as metodologias da Pegada Hídrica e da Análise do Ciclo de Vida
(ACV) podem ser muito úteis tanto para entidades públicas como para empresas particulares e
consumidores, uma vez que, de modo geral, possibilitam avaliar e comparar o uso da água
durante toda a “vida” de qualquer produto ou serviço, ou seja, desde a obtenção da matéria-
prima até sua destinação final.
Com relação à Pegada Hídrica, esta é uma metodologia que foi desenvolvida para ser
aplicada especificamente na questão da utilização dos recursos hídricos, a qual fornece um
indicador volumétrico do consumo direto e indireto da água de qualquer produto ou grupo de
consumidores, produzindo resultados discriminados, conforme a fonte e as condições locais.
Entretanto, apesar de ser amplamente aceita e empregada por diversos países e empresas
multinacionais, no Brasil o potencial desta técnica ainda é pouco explorado.
No caso da ACV, apesar de ser uma ferramenta de gestão ambiental consolidada e
capacitada para avaliar e mensurar os principais aspectos e impactos ambientais de produtos e
serviços, tradicionalmente não tem abordado o uso da água e as consequências de seu
esgotamento de forma suficientemente detalhada e abrangente. Por esse motivo, atualmente
estão sendo realizados diversos estudos específicos desta técnica, focados em desenvolver
métodos mais apropriados tanto para a fase de obtenção e organização dos dados como para a
de avaliação de impactos ambientais.
3

A partir destas considerações, o presente trabalho se propõe a empregar,


paralelamente, as metodologias da Pegada Hídrica e da ACV, para avaliar o uso da água,
ocasionado pelo consumo e pela poluição, que ocorre durante o ciclo de vida do biodiesel de
soja, produzido no Rio Grande do Sul. Dessa forma, pretende-se contribuir com o
desenvolvimento destas ferramentas de gestão ambiental, analisando e comparando suas
aplicabilidades através da perspectiva do uso da água. Além disso, também se almeja fornecer
dados mais concretos sobre este ramo da indústria energética, que possam ser úteis no
aprimoramento das discussões sobre a sustentabilidade dos biocombustíveis alternativos.
4

2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é aplicar as metodologias da Pegada Hídrica e da


Análise do Ciclo de Vida (ACV), para avaliar o uso da água que ocorre durante o ciclo de
vida do biodiesel produzido a partir da soja no Rio Grande do Sul.
De modo mais específico, este trabalho é delineado pelos seguintes objetivos:
 Calcular a Pegada Hídrica do biodiesel de soja, seguindo as determinações
da Water Footprint Network (WFN);
 Gerar um inventário do ciclo de vida (ICV) do biodiesel de soja, específico
para o uso da água, seguindo as recomendações recentemente estabelecidas
em publicações científicas especializadas;
 Identificar as etapas e os processos da cadeia produtiva do biodiesel em que
ocorrem os usos mais intensivos da água e de que forma isso acontece,
visando contribuir para a melhoria do conhecimento relacionado à utilização
deste recurso;
 Avaliar e comparar a aplicabilidade destas metodologias para a
quantificação do uso da água, que ocorre tanto pelo consumo como pela
poluição hídrica, levando em consideração o fornecimento de dados para
futuros estudos de avaliação de impactos e para a gestão dos recursos
hídricos.
5

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para que haja um correto entendimento do que foi desenvolvido neste trabalho, antes
de tudo é necessário esclarecer algumas questões e revisar conceitos importantes, que estão
diretamente relacionados com o tema abordado. Dessa forma, o presente capítulo foi
organizado de modo a apresentar aspectos relevantes sobre a água, os métodos de avaliação
do uso da mesma e o biodiesel.
No primeiro item, foi realizada uma contextualização dos recursos hídricos,
abrangendo a situação de disponibilidade, utilização e gestão dos mesmos, além de abordar
conceitos e características do ciclo hidrológico. Depois disso, foi feita uma revisão do estado
da arte das metodologias de Análise do Ciclo de Vida (ACV) e de Pegada Hídrica, com
enfoque na aplicação para a avaliação do uso da água em cadeias produtivas. Por fim, também
foram apresentadas informações sobre a produção de biodiesel, incluindo as principais
matérias-primas, o processo de fabricação e a situação atual.

3.1 ÁGUA

3.1.1 A Situação dos Recursos Hídricos

A água é um dos recursos mais valiosos do planeta, sendo, de modo geral, um


elemento essencial para a manutenção da vida, assim como para todas as atividades
desenvolvidas pelos seres humanos. Além de ser indispensável para assegurar a
biodiversidade e as funções dos ecossistemas, a água é necessária ao fornecimento de
alimentos, à manutenção da higiene e da saúde, à geração de energia elétrica, aos processos
industriais, ao transporte de dejetos e resíduos, entre outros (BRANCO et al., 1991).
Apesar do intenso uso, a capacidade de renovação das águas durante o ciclo
hidrológico e a propriedade de autodepuração, permite a relativa conservação de sua
quantidade e qualidade por um longo período de tempo. No entanto, estas características
favoreceram o surgimento da ideia errada de que os recursos hídricos são infinitos no planeta,
e isso, somado ao fato de serem considerados como um bem gratuito do meio ambiente, criou
condições propícias para o uso irracional dos mesmos (WWAP, 2009).
Atualmente, devido à crescente demanda pela água, existe uma grande preocupação
global com as questões ambientais de sua preservação e utilização racional, uma vez que as
regiões mais vulneráveis do planeta estão enfrentando situações de escassez cada vez mais
6

frequentes e com maior gravidade. A partir de algumas estimativas, verifica-se que os padrões
atuais de uso dos recursos hídricos se tornaram insustentáveis, pois em torno de 5 a 25% do
consumo de água no mundo excede a capacidade de renovação dos corpos hídricos. Em
regiões mais específicas, como o Norte da África e o Oriente Médio, mais de um terço de toda
a água são utilizadas de forma insustentável (WHO, 2005). O mapa da Figura 3.1 mostra a
situação geral dos recursos hídricos renováveis, relacionados com a proporção em que são
extraídos para atender à demanda mundial, destacando as regiões mais críticas.

Figura 3.1 – Quantidade de água extraída, em percentagem, relacionada com a quantidade de


recursos hídricos renováveis disponíveis, por país, com dados de 2001.
(Fonte: FAO, 2008).

Esse aumento nos padrões de utilização da água é influenciado por diversos fatores,
sendo que os principais são: crescimento demográfico; desenvolvimento econômico;
mudanças sociais; políticas, leis e sistema financeiro; e mudanças climáticas. Estes, por sua
vez, direcionam a demanda hídrica pelos setores usuários, que incluem, entre outros, a
agricultura, a energia e a indústria, além da própria necessidade dos ecossistemas (WWAP,
2009).
Assim, pode-se dizer que um dos maiores fatores que contribui para o aumento do
consumo de água é o crescimento da população, através da maior demanda por alimentos,
energia, bens e serviços industrializados e a competição por terras e recursos naturais. Em
paralelo, está o crescimento econômico e o aumento nos padrões de vida da população,
principalmente em países em desenvolvimento, uma vez que, com maior rendimento, as
pessoas consomem mais e exigem produtos e serviços com maior sofisticação, os quais
utilizam mais água no processo de fabricação (GALLOPÍN e RIJSBERMAN, 2000).
7

Somados a isso, os incentivos políticos e financeiros podem determinar quais cultivos


serão utilizados, ou, ainda, qual fonte de energia terá prioridade, afetando indiretamente a
quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Por fim, as alterações climáticas podem
interferir diretamente no ciclo hidrológico, nos padrões de cultivo, nas necessidades de
irrigação e evapotranspiração e, com isso, também contribuir com a diminuição da
disponibilidade de água (GALLOPÍN e RIJSBERMAN, 2000).
Outro aspecto importante é a distribuição desigual da quantidade total de água
disponível para consumo humano ao redor do mundo. De acordo com dados do sistema global
de informações AQUASTAT, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), estima-se que no planeta ocorra uma precipitação de 108.139 km³ por
ano, dos quais a maior parte é perdida devido a fatores climáticos e hidrológicos e não pode
ser aproveitada, restando 43.022 km³ por ano de recursos hídricos renováveis (FAO, 2010).
Estes incluem as águas superficiais (rios, lagos, etc.) e as águas subterrâneas recarregáveis,
não contabilizando águas dessalinizadas, reutilizadas e águas subterrâneas fósseis
(armazenadas entre rochas impermeáveis, onde não ocorre recarga). Diante deste volume
total, a disparidade na distribuição da água fica evidente, quando é feita a comparação da
disponibilidade existente entre os continentes e algumas regiões específicas, como mostra a
Tabela 3.1, mais abaixo.
A partir destas informações, pode-se dizer que o Brasil é um país privilegiado com
relação à disponibilidade de recursos hídricos, possuindo uma vazão média anual dos rios de,
aproximadamente, 180.000 m³/s, o que corresponde a mais de 12% da disponibilidade
mundial de água doce. Em termos de vazão média por habitante, também possui alto valor,
com quase 30 mil m³/hab./ano. Esta quantidade é mais que 17 vezes superior ao piso de 1.700
m³/hab./ano, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), abaixo do qual um
país é considerado em situação de estresse hídrico (ANA, 2011).
Entretanto, da mesma maneira que no resto do mundo, a distribuição da água no Brasil
também é desigual, apresentando grande variação temporal e espacial. Esta diferença faz com
que existam regiões com problemas de escassez hídrica bastante acentuadas, seja devido às
condições climáticas desfavoráveis, seja pela excessiva demanda em centros urbanos com
grande concentração populacional ou em regiões agrícolas com uso intensivo de irrigação.
Segundo dados disponibilizados pela Agência Nacional das Águas (ANA, 2011), entre as
regiões hidrográficas definidas pela Resolução n.º 32/2003, do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH) (Figura 3.2), a região Amazônica é a que concentra a maior parte
dos recursos hídricos superficiais, abrangendo 73,6% da vazão média total do país. Este
volume abastece um número de habitantes que representa apenas 4,5% da população
8

brasileira, o que resulta numa média de 533.096 m³/ano/hab. Enquanto isso, a região
hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental possui média inferior a 1.200 m³/ano/hab., sendo
que, em algumas unidades hidrográficas, são registrados valores menores que 500 m³/ano/hab.
Outro cenário crítico também é observado na bacia do Alto Tietê (região hidrográfica Paraná)
e nos rios que deságuam na Baía de Guanabara (região Atlântico Sudeste) onde, devido à
densidade populacional, a média chega a valores menores que 500 m³/hab./ano. A Figura 3.3
mostra a situação destas regiões hidrográficas, em termos de vazão média anual por habitante.

Tabela 3.1 – Disponibilidade de recursos hídricos renováveis, por região geográfica.

Continente Recursos Hídricos Renováveis

Região Sub-região Volume por ano Volume per capita em


Volume relativo (%)
(km³) 2008 (m³)
África................... 3.931 9,1 4.007
Norte da África......................... 47 0,1 286
África Subsaariana................... 3.884 9,0 4.753
Américas................ 19.238 44,7 20.927
América do Norte..................... 6.077 14,1 13.401
América Central e Caribe......... 781 1,8 9.654
América do Sul......................... 12.380 28,8 32.165
Brasil........ 5.418 12,6 28.223
Ásia.................... 12.413 28,9 3.041
Oriente Médio.......................... 484 1,1 1.632
Ásia Central.............................. 263 0,6 3.020
Ásia Oriental e Meridional....... 11.666 27,1 3.155
Europa.................. 6.548 15,2 8.941
Europa Ocidental e Central...... 2.098 4,9 3.999
Europa Oriental........................ 4.449 10,3 21.430
Oceania................. 892 2,1 33.469
Mundo................... 43.022 100,0 6.383
Fonte: FAO, 2010.

No Rio Grande do Sul, as contribuições das regiões hidrográficas Atlântico Sul e


Uruguai chegam a cerca de 5.900 m³/s, resultando em uma média de aproximadamente 17.300
m³/hab./ano, que é uma quantidade confortável, segundo classificação mostrada na Figura 3.3
(RIO GRANDE DO SUL, 2008a). No entanto, apesar da grande disponibilidade de água, a
intensa demanda em certas regiões torna a situação preocupante ou crítica, exigindo
investimentos e atividades de gerenciamento. A Figura 3.4, mais abaixo, ilustra a situação dos
principais corpos hídricos do Rio Grande do Sul, mostrando a relação entre demanda e
disponibilidade de água e a respectiva classificação. Nesta avaliação, nota-se que as bacias
9

com situação mais crítica estão localizadas próximas da Região Metropolitana de Porto
Alegre, onde ocorrem grande consumo e degradação da qualidade pelo abastecimento urbano
e industrial, e na Região Sudoeste do Estado, devido, principalmente, à irrigação (ANA,
2007).

Figura 3.2 – Divisão das regiões hidrográficas do Brasil.


(Fonte: ANA, 2007)

Figura 3.3 – Situação da disponibilidade hídrica das regiões hidrográficas do Brasil, em


termos de vazão média anual por habitante.
(Fonte: ANA, 2007).
10

Figura 3.4 – Situação dos principais rios do Rio Grande do Sul, através da relação entre
demanda e disponibilidade de água.
(Fonte: adaptado de ANA, 2007).

Diante deste quadro geral, percebe-se claramente que a situação dos recursos hídricos
é delicada e até preocupante em quase todas as regiões do mundo, principalmente se
considerarmos as necessidades futuras. O último relatório da ONU indica que, atualmente, o
gerenciamento da água ao redor do mundo é inadequado, assim como a eficiência no uso da
água e a implementação de medidas ambientais de redução da poluição são insuficientes.
Com isso, é previsto que, em 2030, 47% da população mundial viverá em áreas com alto
estresse hídrico e mais de 67% (5 bilhões de pessoas) ainda podem estar sem saneamento
adequado (WWAP, 2009).

3.1.2 Usos Múltiplos da Água

O “uso da água” é um termo geral que descreve qualquer ação através da qual a água
proporciona um serviço ou exerce uma função. Existem diferentes tipos de uso, os quais são
classificados, na maioria dos estudos, nas seguintes categorias: uso direto no curso d’água ou
fora do curso d’água; uso consuntivo ou não consuntivo; e uso degradativo (KOHLI et al.,
2010).
11

O uso direto no curso d’água (“in-stream”) refere-se ao uso in situ da água, o qual,
geralmente, é realizado diretamente sobre os recursos hídricos superficiais. Portanto, nesse
tipo de uso não há extração da água, como, por exemplo, a navegação, a geração de energia
hidrelétrica, a diluição de efluentes, a manutenção de ecossistemas, entre outros. Já o uso fora
do curso d’água (“off-stream”), ocorre quando a água é removida de sua fonte para um uso
específico, podendo ser proveniente de águas superficiais (ex.: rios, lagos, etc.), águas
subterrâneas renováveis (ex.: aquífero) e não renováveis (ex.: reservas fósseis), além de águas
reutilizadas (ex.: efluentes tratados e água de drenagem agrícola) e outras fontes não
convencionais, como a água dessalinizada (WOMACH, 2005).
Os usos não consuntivos são aqueles que não implicam no consumo da água, ou seja,
depois de usada, a água retorna totalmente ao sistema e fica disponível para outros usos. Entre
os diversos usos não consuntivos podemos citar, como exemplo, a navegação, a recreação e
lazer, a aquicultura e, em alguns casos, a produção de energia hidrelétrica. Os usos
consuntivos, por sua vez, resultam em uma redução substancial (consumo) na quantidade de
água que retorna ao sistema após a extração, sendo que os principais exemplos deste tipo de
uso são o abastecimento público e doméstico, os usos industriais, a irrigação e as atividades
rurais (dessedentação de animais). Por fim, o uso degradativo da água representa a poluição
hídrica, que envolve a alteração da qualidade natural dos corpos hídricos, ocasionado pelo
descarte excessivo de substâncias, como por exemplo, o lançamento de efluentes de uma
indústria ou a lixiviação de um aterro sanitário (BERGER e FINKBEINER, 2010; KOHLI et
al., 2010).
Entre estes diferentes tipos de uso da água, os usos consuntivos e degradativos, nos
setores agrícola, industrial e doméstico (urbano), são os que exercem maior pressão sobre os
sistemas naturais. Por esse motivo, a maioria dos estudos realizam estimativas e avaliações do
uso da água considerando apenas os dados dos usos classificados nestas categorias (BERGER
e FINKBEINER, 2010).
De modo geral, um parâmetro utilizado tradicionalmente como indicador dos impactos
do uso da água pela população é a quantidade total de água extraída, por pessoa, em um país.
Estes valores podem variar de 20 m³/ano em Uganda, a mais de 5.000 m³/ano no
Turcomenistão, sendo que a média mundial é de 600 m³/ano. O mapa da Figura 3.5 mostra a
situação mundial da extração anual de água, por pessoa, em cada país. A partir dessa
ilustração, nota-se claramente que o volume extraído nas regiões áridas e semiáridas são
maiores que nas regiões tropicais. Além disso, também se pode perceber que os países
desenvolvidos utilizam muito mais água que os países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos. A justificativa para essa diferença está na grande necessidade de irrigação
12

para a produção agrícola nas localidades com clima seco e na maior demanda de água
necessária para a fabricação de produtos mais sofisticados (WWAP, 2009).

Figura 3.5 – Extração anual de água por habitante, em cada país, com dados de 2000.
(Fonte: WWAP, 2009).

Com relação ao uso da água pelas diferentes atividades, o setor da agricultura é, de


longe, o mais importante, uma vez que representa cerca de 70% do total de água extraída no
mundo. Apesar do crescimento das economias urbanizadas, o setor da indústria (incluindo a
energia) utiliza somente 20% e o uso doméstico fica em torno de 10%. Ainda analisando por
esta perspectiva, pode-se dizer que o mundo fica dividido em dois grupos: um formado pelos
países onde o uso agrícola predomina, como na África, maior parte da Ásia, Oceania,
América Latina e Caribe; e outro pelos países em que a utilização na indústria e energia
representa a maior parte da extração de água (ex.: América do Norte e Europa), como pode
ser visto na Tabela 3.2, mais abaixo (MOLDEN, 2007).
Segundo a ANA (2011), o Brasil registra retiradas totais de 58,1 km³/ano de água,
sendo que, deste total, cerca de 31,1 km³/ano (53,5%) são efetivamente consumidos, ou seja,
não ficam disponíveis para outros usos nas mesmas bacias hidrográficas devido,
principalmente, à evapotranspiração na agricultura. Em termos de consumo de água
relacionado à população, a média nacional fica em torno de 291 m³/hab./ano, com destaque à
região hidrográfica do Uruguai, que possui o maior valor, chegando a 1.223 m³/hab./ano. Os
gráficos da Figura 3.6 apresentam o perfil da demanda de água pelos setores usuários,
diferenciando entre a quantidade extraída e a consumida.
Nesta contabilização, o uso doméstico considera toda a água que é proveniente da rede
pública de abastecimento e de outros métodos de extração em zona urbana, que são utilizados
para consumo humano, paisagístico e outros usos mistos. No Brasil, o alto valor apresentado
13

para este uso está relacionado, principalmente, à alta taxa de urbanização e ao percentual de
cobertura do abastecimento, que atinge 94,7%. Dessa forma, o uso urbano está associado a
problemas de excessiva demanda em regiões metropolitanas, como a do rio Tietê, em São
Paulo, e a do lago Guaíba, em Porto Alegre, bem como à alta degradação da qualidade dos
cursos d’água, ocasionada pela grande quantidade de carga orgânica lançada nos mesmos
(ANA, 2011; LANNA, 1997a).

Tabela 3.2 – Quadro geral da extração de recursos hídricos renováveis no mundo, por região
geográfica, com dados de 2000, em unidades de km³ por ano.
Setores Usuários

Região Agricultura Indústria Doméstico


Volume Volume Volume
% % %
extraído extraído extraído
África 186 86 9 4 22 10

Ásia 1.936 81 270 11 172 7

América Latina 178 71 26 10 47 19

Caribe 9 69 1 8 3 23

América do Norte 203 39 252 48 70 13

Oceania 18 73 3 12 5 19

Europa 132 32 223 53 63 15

Mundo 2.663 70 784 20 382 10


Fonte: adaptado de MOLDEN, 2007.

Figura 3.6 – Contribuição dos principais setores usuários de água, em percentagem, relativo à
extração e ao consumo no Brasil.
(Fonte: adaptado de ANA, 2011).

O uso da água pela indústria ocorre por diversas maneiras: em procedimentos de


limpeza, aquecimento e refrigeração; para a geração de vapor; para o transporte de
14

substâncias dissolvidas ou particuladas; como matéria-prima; como solvente; e como parte


integrante do produto final. Como foi visto anteriormente, o volume de água efetivamente
consumido por estas atividades no Brasil é baixo. Por esse motivo, a maior pressão que a
indústria pode causar sobre os recursos hídricos é através dos impactos da descarga de
efluentes e seu potencial poluidor, influenciando diretamente na qualidade dos mananciais,
principalmente de regiões próximas a grandes centros urbanos (ANA, 2011; LANNA, 1997a).
Com relação ao setor da agricultura, este, geralmente, contabiliza a dessedentação de
animais, o abastecimento da população rural e a irrigação de cultivos. Dentre estas atividades,
a irrigação é a principal responsável pela grande demanda deste setor, sobretudo em países
com grande parte da economia voltada ao agronegócio, como o Brasil, onde se torna cada vez
mais necessária para aumentar a produtividade agrícola, com o objetivo de suprir as
necessidades da população e do crescente mercado mundial (OLIVEIRA e COELHO, 2004;
WWAP, 2009).
Na agricultura irrigada, ao contrário do cultivo em regime de sequeiro, que utiliza
apenas a água da chuva, a fonte de água são os rios, lagos e aquíferos, de onde a mesma é
extraída e aplicada sobre a terra, permitindo que o cultivo cresça em ambientes com recursos
hídricos escassos. Como grande parte da água extraída acaba sendo consumida pelo cultivo ou
pela evaporação no sistema de irrigação, esse tipo de uso possui a desvantagem de competir
com outros setores usuários e com as necessidades dos ecossistemas (OLIVEIRA e
COELHO, 2004). Atualmente, apenas 20% das terras cultivadas no mundo são irrigadas, as
quais são responsáveis por 40% da produção global de comida. Entretanto, já existem regiões,
como o Oriente Médio, onde a irrigação está saturada e sendo realizada de forma
insustentável (WWAP, 2009).
No Brasil, devido ao clima favorável, apenas 8,3% da área de lavoura é irrigada, o que
equivale a 4,5 milhões de hectares. Mesmo assim, essa quantidade é suficiente para fazer da
irrigação a atividade com uso mais intensivo da água, representando 47% da retirada total e
69% do consumo (ANA, 2011). Dessa forma, já é possível identificar algumas regiões que
estão em situação crítica de estresse hídrico, necessitando de intensas atividades de gestão,
devido a conflitos de uso com a irrigação. Entre estas regiões, destaque pode ser dado aos rios
localizados na parte Sul e Oeste do Rio Grande do Sul, pertencentes às regiões hidrográficas
Uruguai e Atlântico Sul, onde são retirados os maiores volumes de água para o uso na
irrigação, principalmente o cultivo de arroz inundado, como pode ser visto na Figura 3.7
(ANA, 2007).
15

Figura 3.7 – Vazão de água extraída para a irrigação, por unidade hidrográfica de área.
(Fonte: ANA, 2007).

3.1.3 Gestão dos Recursos Hídricos

Diante da limitação da disponibilidade de água e da alta demanda exigida pelas


atividades humanas, torna-se necessário que o poder público exerça o controle sobre o uso da
água, de modo que possibilite o atendimento dos usos prioritários, induza à utilização racional
e garanta a sustentabilidade dos recursos hídricos. Para atingir estes objetivos, primeiramente
é preciso que haja a elaboração de uma política de recursos hídricos, que expresse os
princípios doutrinários que conformam as pretensões sociais e governamentais relacionadas à
regulamentação do uso, controle e proteção das águas. Depois disso, é necessário que seja
implantado um sistema de gestão de recursos hídricos, que defina a estrutura organizacional
(conjunto de organismos, agências e instalações públicas e privadas), as ações, as
responsabilidades, os procedimentos, os processos e os recursos, que são imprescindíveis para
a execução da política de recursos hídricos (LANNA, 1993).
Segundo Campos (2001 apud MEZOMO, 2008), a gestão das águas deve ser formada
por três funções básicas: (a) o planejamento, constituído pelo conjunto das atividades
necessárias à previsão das disponibilidades e das demandas de água, incluindo o inventário
dos recursos existentes e estudos de balanço de oferta versus demanda; (b) a administração,
que se constitui das ações que dão suporte técnico ao planejamento e aos mecanismos de
16

avaliação da efetividade alcançada, englobando a coleta de dados e as estatísticas sobre o uso


da água; (c) e a regulamentação, que desenvolve o suporte legal da gestão.
No Brasil, o principal mecanismo de gestão dos recursos hídricos foi implementado a
partir de 1997, com a promulgação da lei federal n.º 9433, a qual instituiu a Política Nacional
dos Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(SINGREH). Nesta lei, também foram estabelecidos os fundamentos, os objetivos, as
diretrizes e os instrumentos, através dos quais a gestão dos recursos hídricos será embasada e
executada (BRASIL, 1997).
Em seus fundamentos, a água é reconhecida como bem de domínio público, limitado e
dotado de valor econômico. Além disso, determina que a gestão dos recursos hídricos deva
proporcionar o uso múltiplo das águas, considerando a bacia hidrográfica como unidade
territorial e exercendo administração descentralizada. Como diretrizes gerais de implantação
da política nacional, é estabelecido que a gestão dos recursos hídricos deva ser efetuada sem
dissociação entre os aspectos de qualidade e quantidade, de forma adequada às diversidades
das diversas regiões existentes e articulada com o uso do solo, assim como o planejamento
dos recursos hídricos deva ser articulado com os planos dos setores usuários e com os
regionais, estaduais e nacional.
Com relação aos instrumentos definidos nesta mesma lei, estes podem ser
classificados de acordo com suas funções de planejamento e de gestão. Os instrumentos de
planejamento incluem os Planos de Recursos Hídricos (Planos de Bacia, Estadual e Nacional),
o enquadramento dos corpos d’água e o Sistema de Informações, os quais têm por objetivo
geral organizar e definir a utilização da água, solucionando ou minimizando os conflitos de
interesse sobre esse recurso. Quanto aos instrumentos de gestão, estes permitem que os
diversos setores usuários disciplinem o uso da água por meio do controle direto sobre os
direitos de utilização, como ocorre na outorga, e através de ferramentas econômicas, como a
cobrança pelo uso dos recursos hídricos (FERREIRA et al., 2008).
Os Planos de Recursos Hídricos são caracterizados como “planos diretores que visam
fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional e do Gerenciamento de
Recursos Hídricos”. Estes devem ser elaborados com o seguinte conteúdo mínimo: (a)
diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; (b) análise de alternativas de crescimento
demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de
ocupação do solo; (c) balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos
hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; (d) metas de
racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos
disponíveis; (e) medidas, programas e projetos a serem implantados para o atendimento das
17

metas previstas; (f) prioridades para outorga de direitos de uso; (g) diretrizes e critérios para a
cobrança pelo uso dos recursos hídricos; (h) propostas para a criação de áreas sujeitas a
restrição de uso (BRASIL, 1997).
Em nível nacional, o conjunto de diretrizes, metas e programas relacionados à gestão
das águas foi determinado no Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), construído em
2006. Este plano envolve um conjunto estratégico de ações e relações interinstitucionais,
instrumentos da Política, informações e ferramentas de apoio à decisão, que devem ser
implementadas pela União para a gestão dos recursos hídricos do país. Os principais objetivos
deste plano são assegurar: (a) a melhoria das disponibilidades hídricas, superficiais e
subterrâneas, em qualidade e quantidade; (b) a redução dos conflitos reais e potenciais de uso
da água, bem como dos eventos hidrológicos críticos; e (c) a percepção da conservação da
água como valor socioambiental relevante (BRASIL, 2006).
Quanto ao enquadramento dos corpos d’água em classes, este é um instrumento que
objetiva estabelecer o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido ao longo do tempo, de
maneira adequada para atender as necessidades definidas pela sociedade. Além disso, também
pretende diminuir os custos de combate à poluição e assegurar a saúde humana e o equilíbrio
ecológico (LEEUWESTEIN e MONTEIRO, 2001). Os padrões de qualidade da água,
estabelecidos para as diferentes formas de uso, são determinados pela Resolução CONAMA
nº 357/2005 (CONAMA, 2005).
A cobrança pelo uso da água é baseada no princípio usuário-pagador/poluidor-
pagador, com o objetivo de reconhecer o valor econômico dos recursos hídricos e incentivar a
racionalização do uso da água, captando, ao mesmo tempo, recursos financeiros para a
realização das intervenções necessárias. Dessa forma, qualquer usuário que utilize a água ou
prejudique sua qualidade deve pagar pelo uso de um bem que é público ou indenizar a
sociedade pela degradação da mesma (FERREIRA et al., 2008).
A outorga dos direitos do uso da água é um instrumento jurídico, pelo qual o Poder
Público, titular do domínio sobre os recursos hídricos, atribui ao interessado, por meio de uma
autorização administrativa, a possibilidade de usá-los privativamente. Com isso, pretende
assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício de acesso
à mesma (BRASIL, 1997; LANNA et al., 1997b).
O modelo de gestão dos recursos hídricos implementado no Brasil estipula, como
forma de alocação dos direitos de uso da água, a outorga por meio de controle ao usuário
(restrições de extração ou lançamento de efluentes) e de controle por objetivos (vazões
mínimas residuais e enquadramento dos corpos hídricos). Dessa forma, para cada caso devem
ser definidos critérios de outorga, com base na vazão de referência, que deve permanecer no
18

curso d’água para atender aos requisitos dos ecossistemas, e na priorização de demandas
determinadas nos Planos de Recursos Hídricos, os quais devem conter análises de alternativas
de crescimento demográfico e de evolução das atividades produtivas da bacia. Estas
avaliações de aumento na demanda por água, por sua vez, devem ser realizadas com dados
cadastrais de usuários ou, na ausência destes, a partir de censos setoriais, utilizando
estimativas de consumos específicos, como por exemplo, por habitante, por unidade de
produto fabricado, por hectare irrigado, etc. (LANNA et al., 1997b).
Com relação à outorga qualitativa, ou seja, destinada à diluição de efluentes líquidos,
verifica-se, através da Resolução n.º 16/2001, do CNRH, que a abordagem deve ser efetuada
com a reserva de uma vazão para a diluição dos poluentes emitidos, de modo que o corpo
hídrico mantenha sua qualidade dentro dos limites de concentração da classe em que estiver
enquadrado (CNRH, 2001).

3.1.4 Ciclo Hidrológico

A água, através de seu ciclo global, interliga a atmosfera, as massas de terra e os


oceanos, circulando através de cada um destes domínios, mudando de fase (sólido, líquido e
gasoso), dando suporte à biosfera e aos humanos, desgastando os continentes e nutrindo as
zonas costeiras (WWAP, 2009). O ciclo hidrológico terrestre é a base fundamental dos
recursos hídricos, sendo definido como o fenômeno de circulação fechada da água, entre a
superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado, fundamentalmente, pela energia solar,
associada à gravidade e à rotação do planeta. Este intercâmbio pode ocorrer nos dois sentidos:
da superfície para a atmosfera, em que a água encontra-se no estado de vapor, devido aos
processos de evaporação e transpiração; e no sentido atmosfera-superfície, onde pode ocorrer
transferência de água em qualquer estado físico, sendo que as formas mais significativas são
as precipitações de chuva e neve (TUCCI, 2004).
O ciclo da água é composto por diversos processos (Figura 3.8), sendo que os
principais são: precipitação, infiltração, escoamento superficial, evaporação e transpiração. A
seguir, serão descritos os conceitos e aspectos relevantes de cada um destes processos:

a) Precipitação:
É a água proveniente do vapor da atmosfera, que é depositada na superfície terrestre
sob diferentes formas, como chuva, granizo, orvalho, neblina, neve ou geada. É a principal
maneira pela qual a água armazenada na atmosfera retorna para a superfície terrestre, sendo
responsável pela recarga da água subterrânea e pelo escoamento superficial. Além disso, a
19

precipitação apresenta grande variabilidade temporal e espacial, influenciando diretamente na


grande diferença de disponibilidade hídrica entre certas regiões (TUCCI, 2004).

Figura 3.8 – Ilustração dos processos hidrológicos que compõem o ciclo da água.
(Fonte: USGS, 2011).

Um parâmetro relacionado a este processo, que apresenta grande importância


principalmente para a área da agricultura, é a precipitação efetiva, uma vez que esta se refere
à fração da precipitação total que realmente fica armazenada no solo, ou seja, não atinge as
camadas profundas do solo, não escoa superficialmente e nem é perdida por evaporação,
ficando, assim, disponível para os cultivos agrícolas. Por esse motivo, sua estimativa tem
diversas utilidades, como por exemplo, na determinação do volume de irrigação suplementar
que deve ser aplicado em um certo cultivo ou, ainda, no planejamento da produção agrícola de
forma mais eficiente, na seleção de cultivares e de práticas agronômicas mais adaptadas para
uma determinada região (DASTANE, 1974; USDA, 1993).

b) Infiltração:
É o fenômeno de penetração da água nas camadas de solo próximas à superfície do
terreno, fazendo com que se mova para baixo, através dos vazios do solo. O desenvolvimento
deste processo depende da quantidade de água disponível, das características do solo
(densidade, porosidade, estrutura, etc.), do estado da superfície e das quantidades de água e ar
já presentes no solo. É possível distinguir duas zonas no processo de infiltração: a zona de
aeração, ou não saturada, e a zona saturada. A primeira é a zona mais superficial, em que a
20

água ainda pode ser evaporada, ser absorvida pelas raízes das plantas, ou se deslocar
verticalmente para camadas mais profundas. Quanto à zona saturada, esta é onde ocorre a
circulação da água, constituindo o lençol subterrâneo ou formando os aquíferos. Estes corpos
hídricos são muito importantes do ponto de vista dos recursos hídricos, uma vez que refletem
a produção de água na bacia hidrográfica durante os períodos de seca e formam importantes
reservatórios que podem ser bombeados e utilizados, principalmente, em regiões áridas e
semiáridas (TUCCI, 2004).

c) Escoamento superficial:
É o fluxo de água, gerado pelo excesso de precipitação, que escoa pela superfície do
solo. Este fluxo ocorre quando a capacidade de infiltração do solo é superada tanto pela sua
redução gradual como pela elevada intensidade da precipitação.
Assim, os fatores que influenciam neste processo são: características da precipitação,
como a intensidade; os atributos do solo, principalmente a permeabilidade; e as formas de
manejo do solo. O escoamento superficial é um dos componentes do ciclo hidrológico mais
importante para o gerenciamento de uma bacia hidrográfica, pois constitui a maior fonte de
recursos hídricos renováveis na maioria das regiões do planeta. Estima-se que em torno de
75% do uso global da água é derivada do escoamento superficial, sendo que um terço do total
disponível encontra-se na América Latina (PRUSKI et al., 2006).

d) Evaporação e Transpiração:
A evaporação é o processo pelo qual a água se transforma do estado líquido para o
gasoso, retornando da superfície do solo e dos corpos d’água (oceanos, lagos, rios, etc.) para a
atmosfera. A transpiração é o processo de evaporação devido à ação fisiológica dos seres
vivos, sobretudo dos vegetais, por meio dos estômatos localizados em suas folhas. A
ocorrência destes dois processos simultaneamente é denominada evapotranspiração (ALLEN
et al., 1998).
A evapotranspiração das plantas é a principal causa do alto consumo de água pela
agricultura, podendo variar entre diferentes culturas e condições climáticas, como
temperatura, umidade relativa do ar, velocidade do vento, quantidade de luz, entre outros
(ALLEN et al., 1998). Por esse motivo, a estimativa de variáveis relacionadas à
evapotranspiração dos cultivos agrícolas é de grande importância para avaliar tanto o
potencial de adaptação e rendimento da planta às condições ambientais da região de plantio
como os impactos aos recursos hídricos, principalmente em regiões com pouca
disponibilidade de água. Neste contexto, se destacam a (MATZENAUER et al., 2003):
21

 Evapotranspiração potencial ou máxima (ETm): que é o volume de


evapotranspiração que ocorre em condições ideais de crescimento, ou seja, com
boa disponibilidade de água e nutrientes e sem a presença de doenças e pragas;
 Evapotranspiração real (ETr): que expressa o consumo de água ocorrido pela
evapotranspiração das plantas em condições de desenvolvimento limitantes.
Para se obter os valores de evapotranspiração, podem ser empregados métodos diretos
e indiretos. No entanto, a medição direta, através de equipamentos como o lisímetro,
geralmente envolve alto custo e pessoal treinado, fazendo com que este método se torne
inapropriado para procedimentos de rotina e para a realização de trabalhos em que o foco
principal não seja a estimativa destas variáveis. Por esse motivo, os métodos indiretos, que
utilizam fórmulas empíricas, são mais comuns de serem empregados. Uma das metodologias
mais conhecidas e aplicadas para estimar a ETm (mm) é por meio da relação direta entre a
evapotranspiração de referência (ET0, mm) e o coeficiente de cultura (Kc, adimensional),
conforme Equação 3.1 (ALLEN et al., 1998).

( . )

Dentro deste contexto, a variável ET0 se refere à taxa de evaporação proveniente de


uma superfície de referência, que por sua vez, é definida como uma cultura hipotética, do tipo
gramínea, com características específicas padronizadas, cultivada em uma superfície extensa,
totalmente coberta e sem limitação de água. Dessa forma, a introdução deste conceito permite
que a demanda evaporativa da atmosfera, em um local e tempo do ano específicos, seja
estudada apenas em função de variáveis climáticas, pois é independente do tipo e do
desenvolvimento da cultura, das práticas de manejo agrícola e das características do solo
(ALLEN et al., 1998).
Entre as diferentes maneiras de determinar a ET0 (mm), o método Penman-Monteith
foi adotado como o procedimento padrão da FAO, devido a sua capacidade de estimar, com
muito boa aproximação, os valores encontrados em medições diretas. A Equação 3.2 mostra a
fórmula empregada, em que ∆ (kPa/ºC) é a inclinação da curva de pressão de vapor; Rn
(MJ/m².dia) é a radiação líquida na superfície da cultura; G (MJ/m².dia) é a densidade do
fluxo de calor no solo; γ (kPa/ºC) é a constante psicrométrica; T (ºC) é a temperatura média
do ar, a 2 metros de altura; U2 (m/s) é a velocidade do vento, a 2 metros de altura; es (kPa) é a
pressão de saturação do vapor; e ea (kPa) é a pressão de vapor (ALLEN et al., 1998).
22

( ) ( )
( . )
( )

Com relação ao coeficiente de cultura (Kc), este componente é responsável por


expressar as características específicas da cultura plantada em uma certa condição,
diferenciando sua evapotranspiração máxima em relação à da cultura de referência. Os
principais fatores que determinam o Kc são as características da variedade cultivada, como a
altura, as propriedades aerodinâmicas, as propriedades da folha e do estômato e o albedo
(medida da refletividade da luz), além das condições climáticas, da capacidade de evaporação
do solo e do estágio de desenvolvimento da cultura. Segundo Allen et al. (1998), devido às
mudanças no valor do Kc durante o crescimento da planta, o período total de cultivo pode ser
dividido em quatro etapas (Figura 3.9): a inicial (do plantio até 10% de cobertura do solo); a
de desenvolvimento (de 10% à total cobertura do solo); a média (até o início da maturidade);
e a final (do início da maturidade até o período de colheita).

Figura 3.9 – Gráfico ilustrativo do comportamento do valor do coeficiente de cultivo (Kc),


durante o período de cultivo.
(Fonte: adaptado de CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2004)

Com relação à estimativa da evapotranspiração real da cultura (ETr), um dos métodos


indiretos mais empregados é a realização do balanço hídrico volumétrico do solo na região de
cultivo. Nesta técnica, são contabilizadas todas as entradas e saídas de água do sistema solo-
planta-atmosfera. Conforme mostra a Figura 3.10, em um determinado volume de solo e
intervalo de tempo (dia, decêndio e mês), as principais formas de contribuição para o aumento
da quantidade de água são a precipitação, a ascensão capilar e a irrigação, assim como as
23

principais saídas de água são a evapotranspiração do cultivo, a drenagem profunda e o


escoamento superficial (USDA, 1993).

Figura 3.10 – Ilustração dos principais fluxos de entrada e saída de água que compõem o
balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera em um cultivo agrícola.
(Fonte: adaptado de USDA, 1993).

Dessa forma, o balanço hídrico diário para a zona radicular da cultura pode ser
representado pela Equação 3.3, onde e é a umidade volumétrica do solo no fim do dia
i e do dia anterior (i – 1), em mm; é a precipitação total no dia i, em mm; é o volume
de água da ascensão capilar no dia i, em mm; é o volume de água da irrigação, em mm, que
efetivamente atinge o solo e a cultura no dia i, ou seja, descontando as perdas que ocorrem no
sistema de irrigação; é a evapotranspiração real da cultura, ocorrida no dia i, em mm;
é a drenagem profunda, no dia i, em mm; e é o escoamento superficial, ocorrido no
dia i, em mm (USDA, 1993).

(3.3)

A partir dessa equação, nota-se que, se for possível conhecer o volume de água
armazenada no solo e os demais volumes de entrada e saída do sistema, poderá ser encontrado
o valor da evapotranspiração real da cultura, o qual, dependendo da disponibilidade de água,
24

poderá ser menor ou igual à evapotranspiração máxima calculada pela Equação 3.1. Para a
estimativa destes parâmetros, existem, atualmente, diversos modelos de simulação do balanço
hídrico, incluídos em programas computacionais, que vem apresentando resultados
satisfatórios. De forma geral, estes modelos possuem uma interface simples e são facilmente
executados, a partir da inserção de dados essenciais relacionados à caracterização hidráulica
do solo, da cultura e do clima (JOBIM e LOUZADA, 2009; LOUZADA, 2004; SOUZA e
GOMES, 2008).
Um dos programas mais conhecidos e utilizados no mundo é o CROPWAT, o qual é
baseado nas diretrizes estabelecidas pela FAO, descritas na publicação de Allen et al. (1998).
Neste modelo, a equação do balanço hídrico expressa a água disponível em um volume de
solo, determinado por uma área horizontal quadrada e pela altura ajustada à profundidade das
raízes do cultivo. Além disso, a água disponível para as plantas está relacionada à capacidade
de armazenamento do solo (CAD) e à sensibilidade da cultura ao déficit hídrico. Esta última
característica é expressa pela fração “p”, de depleção sem estresse, ou seja, é a fração da água
existente no solo que pode ser utilizada pela planta, sem haver um gasto energético excessivo.

3.1.5 Água e a Demanda Energética

Atualmente, água e energia são recursos que estão fortemente interligados. A água
desempenha um importante papel no desenvolvimento e uso dos recursos energéticos, sendo
necessária para a extração, refino, processamento, transporte e resfriamento, além de ter uso
direto, como no caso das hidrelétricas. Neste mesmo sentido, a energia também é fundamental
para o aproveitamento dos recursos hídricos, sendo utilizada no bombeamento, tratamento,
transporte e condicionamento final da água (USDE, 2006).
Além disso, a demanda energética e os recursos hídricos são afetados praticamente
pelos mesmos motivos: crescimento demográfico e desenvolvimento econômico, social e
tecnológico, incluindo as mudanças nos padrões de consumo. Neste contexto, o consumo de
energia fóssil também é o principal impulsionador das mudanças climáticas, as quais podem
interferir no ciclo hidrológico e ameaçar a sustentabilidade dos recursos hídricos (PATE et al.,
2007).
Em todo o mundo, nota-se uma forte tendência na procura por fontes alternativas de
energia. Um dos motivos desta mudança é o aumento na demanda global, onde se estima que,
se forem mantidas as políticas atuais, haverá um crescimento em torno de 55% até 2030,
sendo que os países em desenvolvimento serão responsáveis por 74% deste aumento
(WWAP, 2009). Somado a isso, a instabilidade e o aumento no preço da energia,
25

principalmente derivada do petróleo, faz com que muitos países estimulem a procura por
novas fontes, a fim de diminuir a dependência da importação. Outro fator importante, é a
implementação de políticas de incentivo à substituição das fontes tradicionais por energias
renováveis, devido aos recentes comprometimentos, principalmente dos países desenvolvidos,
em reduzir as emissões dos gases de efeito estufa, que contribuem com as mudanças
climáticas (GERBENS-LEENES et al., 2009a).
Esta inovação nos recursos energéticos é composta e dividida na seguinte maneira:
tecnologias da primeira geração (energia hidrelétrica e combustão de biomassa); da segunda
geração (aquecimento solar e energia eólica); e da terceira geração (energia solar concentrada,
energia dos oceanos, sistemas geotérmicos e sistemas integrados de bioenergia). Estima-se
que, até 2030, a participação destas novas fontes aumentará em 60% (USDE, 2006).
Dentre estas novas tecnologias, a bioenergia merece maior atenção, quando o assunto
é a relação entre recursos hídricos e energéticos. Isso porque esta energia é derivada de
matéria-prima biológica, como culturas de grãos, de açucareiras, de oleaginosas, de amido e
de celulose (gramíneas e árvores), as quais necessitam de grandes quantidades de água para se
desenvolverem. Entre os diferentes tipos de bioenergia, os biocombustíveis líquidos (etanol e
biodiesel), embora representem uma pequena porcentagem de todos os produtos
bioenergéticos, são de grande importância, devido à capacidade de substituir os combustíveis
fósseis (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2008).
Em termos globais, aproximadamente 10% do suprimento total de energia provêm da
biomassa, porém a maior parte (80%) é fornecida por fontes tradicionais, como madeira,
estrume e resíduos de cultivos agrícolas. Da bioenergia “moderna”, dois terços são produzidos
a partir de materiais vegetais frescos e resíduos orgânicos, que são utilizados para a produção
de eletricidade e calor. Dessa forma, apenas 5% da biomassa destinada à produção de energia
é utilizada para produzir biocombustível líquido, os quais representam atualmente menos de
2,7% da matriz energética mundial para transporte (REN21, 2011).
No entanto, nota-se claramente que a produção destes combustíveis está crescendo em
ritmo acelerado. A produção de etanol, a partir da cana-de-açúcar, milho, beterraba sacarina,
trigo e sorgo, triplicou entre 2000 e 2009, atingindo 86 bilhões de litros em 2010. O Brasil,
usando a cana-de-açúcar (54% do total cultivado), e os Estados Unidos, utilizando na maior
parte o milho, são os maiores produtores, representando 88% do suprimento global. Quanto à
produção de biodiesel, derivado de gordura animal ou do óleo de culturas como canola,
girassol, soja, palma ou pinhão manso, esta chegou a 19 bilhões de litros em 2010, com um
crescimento médio de 38%, nos últimos 5 anos. A União Europeia, com 53% do total, é o
26

centro da produção de biodiesel, destinando em torno de 47% do óleo vegetal produzido para
este setor (REN21, 2011).
Este cenário de expansão na produção de biocombustíveis, dependendo das políticas
locais e das condições agroclimáticas, pode causar grandes impactos quantitativos e
qualitativos sobre os recursos hídricos. Tais impactos seriam provocados, em sua maior parte,
pelo aumento na aplicação de fertilizantes e pela retirada excessiva de água destinada à
irrigação, os quais são necessários para melhorar a produtividade das culturas que servem de
matéria-prima. Dessa forma, essa situação pode resultar no crescimento da eutrofização dos
corpos hídricos e da competição com outros usos, além de diversos danos ao meio ambiente e
à saúde humana ocasionados pela falta de água. Além disso, a acidificação e a erosão do solo,
a perda de biodiversidade pela alteração no uso da terra e a alta toxicidade dos pesticidas
também são fatores que podem influenciar na qualidade e disponibilidade hídrica
(DOMINGUEZ-FAUS et al., 2009).
Diante deste cenário, em muitos países, como a Índia, China e Estados Unidos, os
impactos resultantes podem ser significativos, caso não haja um controle efetivo e não sejam
realizadas avaliações criteriosas na implementação de planos e políticas nacionais
(FRAITURE et al., 2008). No Brasil, apesar de ser muito pequena a quantidade de água usada
na irrigação de culturas para a produção de biocombustíveis, existem algumas localidades,
como a região sul do estado do Rio do Grande do Sul, em que a agricultura irrigada já é muito
praticada para a produção de comida (ver Figura 3.7), provocando situações preocupantes de
disponibilidade de água (ANA, 2011).

3.2 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO USO DA ÁGUA

Nos últimos anos, diante do crescimento dos desafios relacionados à utilização dos
recursos hídricos em nível local, regional e global, há uma necessidade cada vez maior de se
avaliar este aspecto, de forma mais consistente, pelas instituições públicas e privadas e
também de se conscientizar os próprios consumidores. Por esse motivo, atualmente estão
sendo desenvolvidas diversas metodologias e ferramentas que podem ser utilizadas em
estudos de avaliação do uso da água, tais como (MORRISON et al., 2010):
 Global Water Tool, da organização World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD): é uma plataforma online, que faz o cruzamento de
informações sobre o uso coletivo da água, a descarga de efluentes e as instalações
industriais com dados das bacias hidrográficas e/ou dos países, como meio de
auxiliar na avaliação de riscos relacionados ao uso da água.
27

 Water Sustainability Planner/Tool, da organização Global Environmental


Management Initiative (GEMI): são duas ferramentas online, destinadas a auxiliar
as empresas a obter um melhor entendimento das necessidades e outras
circunstâncias relacionadas à água. A ferramenta “Tool” avalia a relação das
empresas com a água, identifica riscos associados e descreve as ações, para cada
tipo de negócio. A outra parte, chamada de “Planner”, ajuda a esclarecer a
dependência de água das empresas e a situação da bacia hidrográfica local.
 Pegada Hídrica, da organização Water Footprint Network (WFN): é um método
para medir o volume de água usado de forma direta e indireta, por qualquer tipo ou
grupo de consumidores.
 Análise do Ciclo de Vida (ACV): é uma ferramenta de análise de sistemas,
desenvolvida especificamente para mensurar a sustentabilidade de produtos, através
de todos os componentes da cadeia produtiva.
Entre estas diferentes opções, a Pegada Hídrica e a ACV, por permitirem avaliações em
toda a cadeia produtiva, são as que têm sido mais mencionadas, debatidas e aplicadas dentro
da comunidade científica e por diversos países e empresas de todo o mundo. Por esse motivo,
esta seção destina-se a relatar e descrever as principais características destes dois métodos.

3.2.1 Pegada Hídrica

3.2.1.1 Características Gerais

O conceito de “Pegada Hídrica”, mundialmente conhecido como “Water Footprint”,


foi introduzido e desenvolvido a partir de 2002, por pesquisadores da Universidade de Twente
– Holanda (fundadores da organização WFN), com o objetivo de fornecer um indicador de
fácil compreensão da apropriação dos recursos hídricos pelo consumo humano, abrangendo os
usos diretos e indiretos (CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2004; HOEKSTRA e HUNG, 2002).
Para tanto, estes pesquisadores se basearam no conceito da “água virtual”, o qual foi
anteriormente criado por Allan (1993, 1994), em seus estudos sobre a escassez da água no
Oriente Médio. Nestes trabalhos, a “água virtual” se refere à quantidade total de água que é
requerida para a produção de um certo produto, relacionando este conceito principalmente à
quantificação dos fluxos de água que ocorre na exportação/importação de bens e serviços
entre países ou regiões. Outro método que serviu de inspiração foi a “Pegada Ecológica”,
introduzido na década de 1990, como um indicador também relacionado ao consumo humano
28

de recursos naturais, entretanto voltado à quantificação do uso de espaço bioprodutivo


disponível, expresso em unidades de área (HOEKSTRA, 2009).
A partir disso, a Pegada Hídrica foi definida, de acordo com a organização WFN,
como a medida do volume total de água utilizada para produzir bens e serviços, consumidos
por qualquer grupo bem definido de consumidores, que pode ser uma pessoa, uma cidade, um
estado, um país, e ainda uma empresa ou seus produtos (WFN, 2011). Assim, por exemplo, a
Pegada Hídrica de um produto é o volume total de água utilizada em todos os processos
envolvidos nas etapas de sua cadeia produtiva; a de uma pessoa, é o volume utilizado para
usos diretos (hidratação, higiene, preparação de alimentos, etc.) e para a produção dos
produtos consumidos pela mesma; e a de um país, é o somatório do volume utilizado por
todos os seus habitantes (HOEKSTRA et al., 2011).
Dessa forma, os resultados podem ser expressos em unidades de volume de água
consumida por unidade de produto fabricado (ex.: m³/kg), ou por habitante, ou por unidade de
tempo, no caso de ter um espaço delimitado (ex.: m³/ano no Brasil). Também é importante
destacar que a Pegada Hídrica é geograficamente discriminada; ou seja, os resultados
mostram a situação específica do local onde ocorre o uso da água e dependem exclusivamente
de suas características (GERBENS-LEENES et al., 2008; HOEKSTRA et al., 2011).
Ainda sobre a definição do conceito da Pegada Hídrica, é importante observar que,
atualmente, a utilização deste termo é objeto de debate na comunidade científica. Isso porque,
alguns autores de estudos relacionados à metodologia da ACV estão propondo incorporar ao
cálculo da Pegada Hídrica fatores de caracterização do estresse hídrico local, transformando
esta medida puramente volumétrica em um resultado ponderado por um índice, que reflita as
condições locais de escassez da água (PFISTER et al., 2009; RIDOUTT et al., 2009;
RIDOUTT e PFISTER, 2010). Segundo estes pesquisadores, esta mudança é justificada,
principalmente, pelo fato de que os resultados da Pegada Hídrica original, por não incluírem a
relação disponibilidade versus demanda, não expressam de forma clara o significado ou o
impacto do valor final encontrado. Desse modo, por exemplo, na comparação de dois
resultados diferentes de Pegada Hídrica, o valor menor pode ter maior importância e ser mais
impactante do que o outro, se o uso da água ocorrer em uma região com maior escassez. Para
ilustrar essa argumentação, é citado o exemplo da Pegada do Carbono, em que todos os
resultados descrevem o potencial de aquecimento global na unidade de dióxido de carbono
equivalente, permitindo, desse modo, a comparação entre diferentes produtos fabricados em
qualquer região do planeta.
Em contrapartida, os integrantes da organização WFN sustentam que as informações
fornecidas pela Pegada Hídrica volumétrica são direcionadas, principalmente, ao apoio na
29

gestão dos recursos hídricos, a qual requer informações explícitas de tempo e espaço, com
valores volumétricos reais. Dessa forma, a alteração proposta não seria apropriada por esta
perspectiva, pois as informações fornecidas pelos resultados consistentes da Pegada Hídrica
original desapareceriam, se transformados em discutíveis índices de impacto agregado, sendo
isso apropriado apenas para estudos de ACV. Por fim, estes pesquisadores argumentam que,
para evitar confusões de objetivos e significados, deve ser mantido o termo “Pegada Hídrica”
somente para os valores volumétricos, que são úteis tanto para a gestão dos recursos hídricos
como para a fase de inventário da ACV, e, assim, deixar para nomear os resultados
ponderados somente como “índices do uso da água” na ACV (HOEKSTRA et al., 2011).
Portanto, ainda cabe salientar que, no decorrer deste trabalho, o termo “Pegada Hídrica” será
sempre relacionado à metodologia desenvolvida pela WFN.
Após a definição do conceito, pode-se dizer que a Pegada Hídrica tem por objetivo
permitir que os consumidores tenham um melhor entendimento de suas relações com as
bacias hidrográficas, prover informações às decisões de gestão e aumentar a conscientização
sobre os desafios da água no mundo. Dessa forma, essa metodologia foi desenvolvida como
uma ferramenta de contabilidade, que pode permitir a legisladores, planejadores e gestores
realizar o mapeamento e a quantificação do uso diversificado da água em um sistema
complexo (agrícola, urbano, industrial) e, assim, auxiliar no entendimento da relação do uso
da água com a sua disponibilidade e de como a água está sendo alocada entre os usuários,
para que suas decisões estejam mais bem fundamentadas. Como ferramenta analítica, a
Pegada Hídrica fornece conhecimento para ajudar as pessoas a entender o quê pode ser feito e
não para mostrar como fazer (MORRISON et al., 2010).
De forma resumida, a Pegada Hídrica é, então, dividida em três componentes diferentes
– Água Azul, Água Verde e Água Cinza – sendo que todos são expressos em unidades
volumétricas de água. Conforme Hoekstra et al., (2011), estes são definidos da seguinte
maneira:
 Água Azul: é o volume de água doce, proveniente dos corpos hídricos superficiais e
subterrâneos, que é efetivamente consumido (uso consuntivo), ou seja, não retorna
ao sistema e, portanto, fica indisponível para uso na região em que foi extraído.
Dessa forma, este componente se refere a qualquer tipo de consumo (ex.:
evaporação, incorporação no produto final, etc.) que ocorrer com o uso da água de
rios, lagos, aquíferos, entre outros.
 Água Verde: é o volume de água consumida proveniente do processo de
precipitação (chuva, neve, orvalho, etc.), após esta se infiltrar e ficar armazenada no
solo. Portanto, esta se refere basicamente ao consumo pela vegetação, incluindo os
30

cultivos agrícolas e florestais, uma vez que esta é a única forma de utilização desta
fonte de água.
 Água Cinza: é um indicador da poluição hídrica, sendo medido pelo volume teórico
de água necessária para diluir os poluentes emitidos aos corpos hídricos, de modo
que estes permaneçam com um padrão de qualidade (concentração) previamente
estabelecido. Dessa forma, este componente é uma maneira de estimar a diminuição
da assimilação dos poluentes que um determinado corpo hídrico possui.
Para facilitar o entendimento da diferença entre estes componentes, será descrito, como
exemplo, o balanço hídrico de uma bacia hidrográfica, relacionado com a Pegada Hídrica de
um produto agrícola (Figura 3.11). De forma geral, após ser precipitada, uma parcela da água
que atinge o solo pode se infiltrar ou escoar, para formar os corpos hídricos e outra parte pode
ficar armazenada no mesmo. Depois disso, a água que permaneceu no solo pode ser
consumida pelo cultivo agrícola (evapotranspiração e incorporação), sendo contabilizada
como Água Verde, ou ser evapotranspirada pela vegetação nativa. Quanto à outra parte, esta
pode ser extraída artificialmente do corpo hídrico para a irrigação ou escoar e evaporar para
fora da bacia. Do volume total extraído, uma fração pode retornar, sem ser utilizada pelo
cultivo, e outra pode ser consumida de diferentes maneiras (Água Azul), incluindo a
evaporação nos canais de transporte, no armazenamento e na aplicação da irrigação, e a
evapotranspiração e incorporação no próprio cultivo. Além disso, as parcelas que escoam,
infiltram e retornam do que foi precipitado e extraído dos corpos hídricos carregam poluentes
originados pela aplicação de insumos no cultivo agrícola (fertilizantes, pesticidas, etc.), que
degradam a qualidade da água, constituindo a Água Cinza (HOEKSTRA et al., 2011).

Figura 3.11 – Esquematização dos componentes da Pegada Hídrica (Água Verde, Azul e
Cinza), relacionados ao balanço hídrico de uma bacia hidrográfica.
(Fonte: adaptado de HOEKSTRA et al., 2011).
31

Diante destas formas de quantificação, a Pegada Hídrica, como um indicador do uso da


água, se diferencia da tradicional medição em três aspectos: (i) não considera o uso da água
extraída de um corpo hídrico, se esta retorna ao mesmo local, sem alterações significativas de
qualidade e quantidade; (ii) não se restringe apenas ao uso da Água Azul, incluindo também a
Água Verde e Cinza; e (iii) não se restringe apenas ao uso direto da água, mas também
considera o uso indireto (HOEKSTRA et al., 2011).

3.2.1.2 Metodologia da Pegada Hídrica

De acordo com a publicação “The Water Footprint Assessment Manual” (HOEKSTRA


et al., 2011), que é o guia padrão de aplicação da Pegada Hídrica da WFN, esta metodologia
envolve um conjunto de atividades com o objetivo de: (i) quantificar e situar a Pegada Hídrica
do objeto em estudo, ou quantificar, no tempo e no espaço, a Pegada Hídrica de uma área
geograficamente delimitada; (ii) analisar a sustentabilidade ambiental, social e econômica do
valor resultante da Pegada Hídrica; e (iii) formular uma resposta estratégica. Assim, a
metodologia da Pegada Hídrica, em sua execução completa, é composta por quatro fases
distintas (Figura 3.12):
a) Definição de objetivos e escopo;
b) Contabilidade da Pegada Hídrica;
c) Análise da sustentabilidade da Pegada Hídrica;
d) Formulação da resposta estratégica.

Figura 3.12 – Fases de execução da Pegada Hídrica.


(Fonte: adaptado de HOEKSTRA et al., 2011).

Para que as escolhas feitas durante o estudo da Pegada Hídrica sejam o mais
transparente possível, deve-se começar com uma definição clara dos objetivos e escopo. Isso
porque, a Pegada Hídrica pode ser empregada para vários propósitos e em contextos
diferentes, como por exemplo, o governo de um país pode estar interessado em conhecer sua
dependência de recursos hídricos estrangeiros, ou o órgão gestor de uma região hidrográfica
pode estar interessado em saber se a Pegada Hídrica total das atividades humanas, dentro da
32

área da bacia, está violando as exigências ambientais ou os padrões de qualidade, ou ainda


uma empresa pode estar interessada em avaliar sua dependência, dentro da cadeia de
suprimentos, de recursos hídricos em áreas com escassez (HOEKSTRA et al., 2011).
Dessa forma, nesta fase de determinação dos objetivos e escopo deve ser especificado,
em primeiro lugar, o objeto de interesse do estudo, que pode ser um processo, um produto, um
grupo de consumidores, um país ou uma região hidrográfica, um setor de negócios, etc.
Depois disso, para que seja conhecido o nível de detalhamento exigido pelo estudo, outras
definições devem ser feitas, dentre as quais estão: o objetivo final, que pode ser a
sensibilização da população, a identificação de pontos críticos, a formulação de políticas, ou
apenas a quantificação do consumo de água; as fases que o estudo irá abordar; os
componentes considerados (Água Azul, Verde e Cinza); a escala de tempo e espaço dos dados
coletados; e a fronteira dos dados incluídos na quantificação da Pegada Hídrica, ou seja, o que
vai ser considerado e o que vai ser excluído do estudo (HOEKSTRA et al., 2011).
A próxima fase é a de contabilidade da Pegada Hídrica (PH, m³ ou L), onde os dados
são coletados e a quantificação do consumo de água é realizada, sendo dividida em Água
Verde (AV, m³ ou L), Azul (AA, m³ ou L) e Cinza (AC, m³ ou L) (Equação 3.4). Nesta etapa, a
base para o cálculo da Pegada Hídrica de qualquer objeto em estudo, é a Pegada Hídrica de
um processo unitário. Desse modo, a Pegada Hídrica de um produto, por exemplo, é a soma
dos valores obtidos nos processos unitários envolvidos em sua produção (CHAPAGAIN e
ORR, 2008).

(3.4)

A Água Verde, conforme definido anteriormente, acaba sendo relevante apenas para
produtos e processos que envolvem alguma atividade agrícola ou florestal. Portanto, o cálculo
deste componente é realizado, basicamente, através do somatório do volume de água da
precipitação natural, que é evapotranspirada diariamente pela cultura (ETverde, m³ ou L),
durante todo o período de cultivo (do primeiro dia de plantio, d=1, ao fim da colheita, fc), e o
volume que fica incorporada na mesma (VIverde, m³ ou L) (Equação 3.5) (CHAPAGAIN e
HOEKSTRA, 2004).

∑ ( . )
33

O cálculo do volume de água incorporada na cultura pode ser realizado simplesmente


identificando a fração de água que compõe o cultivo após ser colhido. Entretanto, a maioria
dos estudos não contabiliza este elemento, por representar um valor muito baixo, na ordem de
0,1 a 1% do total da Pegada Hídrica Verde (CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2004; GERBENS-
LEENES et al., 2008; GERBENS-LEENES e HOEKSTRA, 2009; HOEKSTRA et al., 2011).
Quanto ao componente ETverde, conforme mencionado anteriormente no subitem 3.1.4 Ciclo
Hidrológico, este pode ser medido por meio de diferentes métodos; entretanto, por questões
práticas, os estudos de Pegada Hídrica, geralmente, o determinam utilizando programas
computacionais, que realizam a simulação do balanço hídrico do sistema solo-planta-
atmosfera (ERCIN et al., 2012; HESS, 2010; MEKONNEN e HOEKSTRA, 2010).
Para a quantificação da Água Azul, o consumo efetivo da água extraída de um corpo
hídrico é determinado pela soma das três possibilidades em que isso pode ocorrer (Equação
3.6): evapotranspiração (ETazul, m³ ou L), incorporação no produto (VIazul, m³ ou L) e quando a
água não retorna ao sistema (NR, m³ ou L), por ser descartada em outra bacia hidrográfica ou
no oceano (HOEKSTRA et al., 2011).

( . )

Assim como na Água Verde, o consumo de água pela incorporação no produto (VIazul),
geralmente, representa um valor que não é significativo com relação à Água Azul total, por
esse motivo, a maioria dos estudos relacionados à este tema não inclui este elemento
(HOEKSTRA et al., 2011). Quanto ao componente ETazul, este considera o consumo tanto da
água de irrigação na agricultura (ETAagric., m³ ou L) como da água utilizada em processos
industriais (ETAind, m³ ou L) (Equação 3.7). Na fase agrícola, para simplificar a coleta de
dados, a maioria dos trabalhos de Pegada Hídrica consideram apenas o consumo diário da
água aplicada na irrigação, pela evapotranspiração da cultura (ETirrig, m³ ou L), durante todo o
período de cultivo (do primeiro dia de plantio, d=1, ao fim de colheita, fc) (CHAPAGAIN e
HOEKSTRA, 2007; CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2011; CHAPAGAIN e ORR, 2009;
ELENA e ESTHER, 2010; GERBENS-LEENES et al., 2009a, 2009b). Entretanto, nesse
cálculo também pode ser contabilizada a evaporação diária, que ocorre no sistema de
irrigação, incluindo o armazenamento (Earm, m³ ou L), o transporte (Etransp, m³ ou L) e a
aplicação (Eaplic, m³ ou L) da água (MISHRA e YEH, 2011), conforme Equação 3.8.

( . )
34

∑( ) ( . )

Ainda dentro da Água Azul da fase agrícola, os parâmetros Earm, Etransp e Eaplic podem
ser estimados com a obtenção da fração de perda destes sistemas, os quais dependem das
condições climáticas e da tecnologia empregada (MISHRA e YEH, 2011). Com relação ao
ETirrig, este pode ser determinado, de acordo com a Equação 3.9, pelo menor valor entre a
irrigação efetiva aplicada (Ief, m³ ou L) e o volume de irrigação exigido pelo cultivo para um
crescimento ótimo (Ic, m³ ou L). Nesse cálculo, o componente Ief é definido pela fração (fef,
adimensional) do volume total extraído (Itot, m³ ou L) que efetivamente atinge o solo e fica
disponível para as plantas (Equação 3.10), enquanto que o Ic pode ser determinado através da
mesma simulação do balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera, mencionado para o
cálculo da Água Verde (HOEKSTRA et al., 2011).

( ) ( . )

( . )

A ferramenta amplamente utilizada em estudos de Pegada Hídrica é o software


CROPWAT, desenvolvido pela FAO, uma vez que, através das informações fornecidas pelas
simulações executadas neste programa, é possível estimar e diferenciar, de forma simples, o
uso da Água Azul e da Água Verde na fase agrícola da cadeia produtiva de qualquer produto.
Para tanto, geralmente, assume-se que todo o volume da irrigação efetiva (Ief) é consumido
pelo cultivo, determinando o valor da Água Azul, e o restante do volume necessário para
atingir a exigência da cultura é considerado como o consumo da água da chuva, ou seja, a
Água Verde (CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2007; CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2011;
CHAPAGAIN e ORR, 2009; ELENA e ESTHER, 2010; GERBENS-LEENES et al., 2009a,
2009b; HOEKSTRA et al., 2011; MEKONNEN e HOEKSTRA, 2010).
Portanto, o programa CROPWAT possibilita, com base em dados do solo, do clima e
da cultura, estimar diversos dados essenciais para os cálculos da Pegada Hídrica, como por
exemplo, a quantidade diária de água exigida pela planta em condições ideais ou não de
desenvolvimento (evapotranspiração máxima e real), o volume de irrigação necessário, a
evapotranspiração de referência, o volume de água perdida do sistema de cultivo, entre outros.
Além disso, também possui ligação direta com bancos de dados da FAO, possibilitando, entre
35

outras vantagens, o acesso rápido às informações climáticas de estações espalhadas por todo o
mundo, que podem ser muito úteis, caso não haja informações mais específicas e precisas
(FAO, 2011).
Na fase industrial, a evaporação da Água Azul (ETAind) é obtida pelo somatório do
consumo de água, que ocorre em todos os processos de fabricação (Eproc, m³ ou L),
abrangendo, desde a entrada da matéria-prima (Início), até a saída do produto final (Fim). Este
consumo, por sua vez, pode ser calculado pela diferença do volume de água que entra (Vent, m³
ou L) e sai (Vsai, m³ ou L) de cada processo, como mostra a Equação 3.11 (HOEKSTRA et al.,
2011).

∑ ∑( ) ( . )

Além da quantificação da Água Azul, também podem ser feitas distinções entre as
diferentes fontes de água, caso seja relevante para o estudo. Até o momento, a classificação
que tem se mostrado com maior utilidade é a divisão entre água superficial, água subterrânea
renovável e água subterrânea fóssil (não renovável), as quais podem ser denominadas de
Água Azul Claro, Água Azul Escuro e Água Preta. No entanto, devido à falta de
disponibilidade de dados, esta classificação quase nunca é feita nos trabalhos de Pegada
Hídrica (ALDAYA e HOEKSTRA, 2010; HOEKSTRA et al., 2011; KAMPMAN, 2007).
Com relação à Água Cinza, deve ser observado que, conforme definição apresentada
anteriormente, o resultado deste componente tem por objetivo apenas indicar a gravidade da
poluição dos corpos hídricos em unidade volumétrica, portanto não mostra o volume real de
água poluída. Por esse motivo, quando, por exemplo, o valor da Água Cinza excede a vazão
do corpo hídrico existente, isso apenas significa que a poluição esta maior que a capacidade
de assimilação do mesmo. Por outro lado, se o valor resultante é maior que zero, mas menor
que o fluxo de água existente, isso quer dizer que há um consumo da capacidade de
assimilação, porém ainda existe água suficiente para diluir a poluição para uma concentração
abaixo da que foi previamente estabelecida pela legislação vigente para o corpo hídrico em
questão (HOEKSTRA et al., 2011).
Do mesmo modo que a Água Azul, a AC é determinada pelos valores encontrados na
fase industrial (ACind) e na fase agrícola (ACagric) de uma certa cadeia produtiva (Equação
3.12). Na fase industrial, geralmente a poluição hídrica é caracterizada por ser de fonte
pontual, ou seja, ocorre em um local específico onde há o lançamento do efluente. Assim, o
36

valor da ACind pode ser estimado de acordo com a Equação 3.13, onde Vefl (m³ ou L) e Vafl (m³
ou L) são os volumes do efluente produzido e da água extraída (afluente); cefl (g/m³ ou mg/L) e
cafl (g/m³ ou mg/L) são as concentrações do poluente presente no efluente e no afluente; cmax
(g/m³ ou mg/L) é a concentração máxima permitida para o poluente no corpo hídrico receptor
pelo padrão de qualidade do ambiente aquático existente; e cnat (g/m³ ou mg/L) é a
concentração natural do poluente no corpo hídrico receptor, ou seja, quando não há
interferência antrópica no mesmo (ALDAYA e HOEKSTRA, 2010; CHAPAGAIN e
HOEKSTRA, 2011; GERBENS-LEENES e HOEKSTRA, 2009).

( . )

( . )

Devido à característica difusa da poluição agrícola, a estimativa da carga poluidora


não é tão simples de ser efetuada como nas fontes pontuais, pois quando a substância química
é aplicada no solo, como os fertilizantes e pesticidas, apenas uma fração percola para as águas
subterrâneas ou escoa para as águas superficiais. Essa quantidade de poluente não tem como
ser diretamente mensurada, pois não há um local e período claramente determinados para
realizar a medição. Por esse motivo, a solução encontrada na prática, é estimar a fração das
substâncias químicas aplicadas que atinge os corpos hídricos, através de modelos matemáticos
ou estudos experimentais (HOEKSTRA et al., 2011).
Existem diversos modelos para o cálculo da poluição difusa, sendo que estes variam,
principalmente, em termos de complexidade e exigência de dados. Devido à baixa
disponibilidade de informações e por, geralmente, ser suficiente uma estimativa superficial
(de acordo com os objetivos e escopo), a maioria dos estudos de Pegada Hídrica utiliza o
método mais simples. Nessa estimativa, é assumido, com base em dados da literatura
especializada, um valor fixo para a fração das substâncias que efetivamente atinge os corpos
hídricos superficiais e subterrâneos (fração de perda) (ALDAYA e HOEKSTRA, 2010;
CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2011; GERBENS-LEENES e HOEKSTRA, 2009). A
Equação 3.14 mostra a fórmula utilizada, em que CPx (g ou mg) é a carga do poluente x
aplicada no processo ou etapa e fp (adimensional) é a fração de perda do mesmo.

( . )
37

Depois de concluída a etapa de quantificação da Pegada Hídrica, opcionalmente


podem ser realizadas as etapas de análise da sustentabilidade dos valores volumétricos
resultantes e de formulação de uma resposta estratégica. Para se ter uma ideia do significado
ou da gravidade do valor da Pegada Hídrica encontrado na fase de contabilidade, é necessário
compará-lo com a disponibilidade dos recursos hídricos locais, ou seja, avaliar a oferta de
água na região estudada, levando em conta a demanda já existente para outras atividades
humanas e para a manutenção dos ecossistemas. Esse tipo de avaliação é o objetivo básico da
fase de análise da sustentabilidade, a qual depende, principalmente, do contexto geográfico
em que os vários componentes da Pegada Hídrica estão localizados, ou seja, da
disponibilidade hídrica, do nível de competição entre os diferentes usos, do fluxo mínimo
necessário para sustentar a fauna e flora da região e da capacidade de assimilação do sistema.
Por esse motivo, a sustentabilidade da Pegada Hídrica de um processo, um produto, um
consumidor ou uma empresa não pode ser avaliada sem o conhecimento da Pegada Hídrica
total da região onde estão localizados. Para tanto, é mais apropriado que se utilize a área da
bacia hidrográfica (unidade hidrológica), como escala desta avaliação (CHAPAGAIN e ORR,
2008).
Para a execução desta fase, o primeiro passo é a identificação e a quantificação de um
critério de sustentabilidade para cada uma das perspectivas – a ambiental, a social e a
econômica. Depois disso, o segundo passo é a identificação dos pontos críticos (“hot spots”)
específicos de cada local e período de tempo em que a Pegada Hídrica foi reconhecida como
insustentável, possivelmente, por estar comprometendo as necessidades ambientais ou os
padrões de qualidade ou, ainda, por ser considerada injusta e/ou economicamente ineficiente,
resultando em problemas de escassez, poluição e conflitos de uso. Por fim, o último passo é a
quantificação dos impactos primários e secundários nos pontos críticos identificados, onde o
primeiro se refere às consequentes mudanças no fluxo e na qualidade da água e o último
descreve os danos resultantes destas alterações, que podem ser medidos através da perda de
espécies, redução da biodiversidade, redução da segurança alimentar, efeitos sobre a saúde
humana e sobre as atividades econômicas, entre outros (HOEKSTRA et al., 2011).
Para finalizar, uma completa avaliação da Pegada Hídrica termina com a fase de
formulação de respostas, estratégias ou políticas que possam apresentar alternativas para a
diminuição da Pegada Hídrica e a mitigação de seus impactos. No entanto, nota-se que, até o
momento, poucos estudos realizaram as últimas duas etapas opcionais. Nos trabalhos de
Chapagain e Orr (2008), Kampman (2007) e Oel et al. (2008), os impactos da Pegada Hídrica
foram estimados através de mapas da escassez de água, obtidos utilizando indicadores de
estresse hídrico, que, por sua vez, foram calculados de diferentes maneiras, como, por
38

exemplo, dividindo o total da população pelo volume total de escoamento superficial; ou


dividindo a taxa de extração de água pelo total disponível; ou ainda pela divisão entre o total
de extração de água e a diferença entre o total disponível e o fluxo necessário para a
manutenção do ecossistema. Após esta avaliação, estes estudos discutiram e apresentaram
opções para solucionar os problemas encontrados.

3.2.1.3 Pegada Hídrica e Bioenergia

Diante da crescente demanda mundial por recursos hídricos e a consequente


diminuição da disponibilidade hídrica, nota-se um significativo aumento na atenção
dispensada às questões relacionadas ao uso da água, principalmente por parte da comunidade
científica. Esta situação acaba se traduzindo em um aumento da quantidade de trabalhos
relacionados a este tema, incluindo, dentro deste contexto, o desenvolvimento de diversos
estudos de quantificação e avaliação da Pegada Hídrica de países, produtos e processos
(CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2011).
A Pegada Hídrica mundial e da maioria dos países já foram calculadas por três
diferentes estudos (CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2004; HOEKSTRA e HUNG, 2002;
HOEKSTRA e MEKONNEN, 2012). No mais recente destes, Hoekstra e Mekonnen (2012)
incluíram a estimativa dos três componentes da Pegada Hídrica (Água Azul, Verde e Cinza) e
obtiveram uma média global de 1.385 m³/ano por pessoa, com uma variabilidade de 552 a
3.775 m³/ano por pessoa. Para o Brasil, a média obtida foi de aproximadamente 2.000 m³/ano
por pessoa. Também foi possível verificar que a Pegada Hídrica mundial é formada por 74%
de Água Verde, 11% de Água Azul e 15% de Água Cinza, com a produção agrícola sendo
responsável por 92% do total. Outro aspecto importante observado foi a obtenção de altos
valores de Pegada Hídrica tanto para países desenvolvidos como para alguns países em
desenvolvimento (ex.: 2.842 m³/ano.pessoa para os Estados Unidos e 3.468 m³/ano.pessoa
para a Bolívia). A justificativa para tal resultado é de que a intensidade do uso da água não é
determinada apenas pelo elevado padrão de consumo de produtos que exigem grande
demanda de água para serem produzidos, como a carne bovina, mas também pela baixa
eficiência de seu uso (menor produtividade por volume utilizado). Na Bolívia, seguindo
exemplo anterior, apesar de possuir um consumo de carne apenas 1,3 vezes maior que a média
global, contra um padrão de 4,5 vezes maior encontrado nos Estados Unidos, a Pegada
Hídrica de sua produção de carne (m³ por tonelada) é 5 vezes maior que a média global,
explicando parcialmente o grande valor da Pegada Hídrica nacional.
39

Devido à alta representatividade do setor da agricultura na demanda por água, diversos


estudos foram e estão sendo conduzidos com o objetivo de quantificar a Pegada Hídrica de
uma grande variedade de produtos agrícolas e seus derivados, como trigo, soja, cevada, carne,
leite, etc. (CHAPAGAIN, 2006; CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2003, 2004; HOEKSTRA e
HUNG, 2005; MEKONNEN e HOEKSTRA, 2010). No entanto, estes estudos se focaram em
fornecer apenas uma visão geral da situação global do uso da água, uma vez que realizaram
estimativas com dados secundários e sem considerar especificidades locais. Alguns estudos
mais detalhados e específicos foram realizados para o algodão (CHAPAGAIN et al., 2006); o
chá e o café na Holanda (CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2007); o tomate na Espanha
(CHAPAGAIN e ORR, 2009); a beterraba, a cana-de-açúcar e o milho (GERBENS-LEENES
e HOEKSTRA, 2009); e o arroz em 13 países diferentes (CHAPAGAIN e HOEKSTRA,
2011), nos quais os dados foram coletados em uma escala pequena, propiciando o
mapeamento de pontos críticos e a identificação de possíveis impactos e soluções para os
mesmos.
De forma mais específica à bioenergia, a metodologia da Pegada Hídrica faz a
correlação entre a demanda de energia, a produção de biomassa e a quantidade de água
requerida para o crescimento das culturas e para os processos industriais (MEEKEREN,
2008). A Pegada Hídrica dos biocombustíveis, por exemplo, pode ser baseada na quantidade
de biocombustível, ou de energia fornecida por este, consumida ou produzida em um
determinado tempo (ex.: litros/ano ou GJ/ano) e/ou a quantidade de água usada na produção
de uma unidade do biocombustível ou energia (ex.: m³/litro ou m³/GJ). Este último dado, por
sua vez, depende dos seguintes fatores: a água usada no cultivo (m³/ha); a produtividade total
biológica (toneladas/ha); e a energia contida na biomassa cultivada (GJ/toneladas). Além
disso, também deve ser contabilizada a água usada no processo industrial de conversão da
biomassa em biocombustível (GERBENS-LEENENS et al., 2009a). A Figura 3.13
esquematiza os principais fatores que devem ser incluídos no cálculo da Pegada Hídrica da
produção de bioenergia.
A seguir, serão descritos os elementos que influenciam cada fator e como estes estão
relacionados com o valor da Pegada Hídrica:
 Água consumida no cultivo da biomassa (m³/ha): depende de diversas
características que contribuem para a Água Azul, Verde e Cinza, como por
exemplo, tecnologia e manejo da irrigação, características do solo, do clima e da
cultura, e quantidade e tempo de aplicação dos fertilizantes e pesticidas
(CHAPAGAIN et al., 2006).
40

Figura 3.13 – Esquematização geral dos dados necessários ao cálculo da Pegada Hídrica de
biocombustíveis.
(Fonte: adaptado de MEEKEREN, 2008).

 Produtividade biológica total (ton./ha): a relação deste fator com o teor de “água
virtual” no biocombustível também é complexa, pois a produtividade do cultivo vai
depender muito do sistema de produção utilizado pelo agricultor, além das
condições climáticas e das características do cultivo. Geralmente, quanto maior for
a produtividade da cultura, menor será a Pegada Hídrica do produto final. Na
prática, o que ocorre, normalmente, é que para alcançar maiores rendimentos na
safra, torna-se necessário suprir o cultivo com mais água, por meio da aplicação ou
aumento da irrigação, o que acaba elevando o teor de Água Azul no produto.
Entretanto, dependendo do nível de crescimento da produtividade alcançado, o
valor da Pegada Hídrica total pode diminuir consideravelmente (LIENDEN, 2009).
 Energia contida na biomassa (GJ/ton.): quanto maior o rendimento energético da
biomassa cultivada, menor será a necessidade de produção da cultura e,
consequentemente, menor é a “água virtual” contida no biocombustível. A
quantidade de energia na matéria-prima cultivada depende da composição de seus
elementos, como o teor de carboidratos, gorduras, lignina, minerais, ácidos
orgânicos e proteínas (MEEKEREN, 2008).
 Água consumida na fase industrial (m³/GJ): os dois elementos que influenciam a
Pegada Hídrica desta fase é a Água Azul e a Cinza, os quais dependem do consumo
41

de água nos processos internos da fábrica de biocombustível, como na refrigeração


e a incorporação no produto, e da concentração das substâncias presentes no
efluente descartado (HOEKSTRA et al., 2011).
Assim, de forma resumida, a Pegada Hídrica do consumo ou produção de bioenergia
depende: do tipo de bioenergia usado (etanol, biodiesel ou bioeletricidade); da matéria-prima
(biomassa) usada na produção; do local onde é produzido; e sob quais circunstâncias. Cada
país tem suas próprias condições climáticas, sistema hidrológico, tipos de solo e práticas
agrícolas, os quais têm um efeito direto sobre o crescimento da vegetação e, portanto, grande
influência na escolha da cultura e na forma de uso da água (LIENDEN, 2009).
Nos últimos anos, devido à fácil compreensão dos resultados gerados e à praticidade
com que a Pegada Hídrica relaciona o uso da água com o consumo humano, juntamente com a
situação de aumento no uso da bioenergia e no número de regiões com estresse hídrico, estão
sendo desenvolvidos diversos trabalhos que utilizam a metodologia da Pegada Hídrica para
prover dados e estimativas sobre essa situação (GERBENS-LEENES et al., 2009b).
Entre os diferentes assuntos, existem estudos, como o de King e Webber (2008), onde
foram feitas comparações da eficiência de uso da água entre a produção dos combustíveis
fósseis e dos que são derivados de biomassa (etanol e biodiesel). Neste trabalho, através da
estimativa da intensidade do uso da água (Água Azul), em unidades de volume de água por
distância percorrida, foi mostrado que os biocombustíveis, de modo geral, podem consumir
muito mais água em sua produção. Como por exemplo, um dos resultados encontrados foi o
valor de 0,15 gal./milha (0,35 litros/km) para gasolina e diesel e de 25 e 38 gal./milha (59 e 89
litros/km) para o biodiesel de soja e etanol de milho com irrigação. Dessa mesma forma, em
outros estudos também foram feitas comparações entre os biocombustíveis e as diferentes
fontes de biomassa, onde foram obtidos valores com grandes diferenças, dependendo,
principalmente, do tipo de cultivo, do sistema agrícola usado e das condições climáticas
(GERBENS-LEENES et al., 2009b; MEEKEREN, 2008).
Também existem estudos que se focaram em avaliar o uso da água na produção dos
biocombustíveis e, a partir disso, estimar cenários futuros. Berndes (2002) e Fraiture et al.
(2008), mostraram que o crescimento acelerado do uso de combustíveis derivados de
biomassa, em escala global, acarretará em um aumento substancial no uso da água para a
irrigação dos cultivos agrícolas e, consequentemente, poderá aumentar a competição por água
e terras produtivas e o número de regiões com situações de escassez, sobretudo em países com
recursos hídricos limitados. Através de dados específicos para a Espanha, Elena e Esther
(2010) estimaram que a Pegada Hídrica (Água Azul e Verde) deste país aumentaria
substancialmente - cerca de 49% - se a meta estabelecida para os biocombustíveis (etanol e
42

biodiesel), de chegar a 5,83% do consumo de gasolina e diesel, for alcançada. Neste mesmo
sentido, Dominguez-Faus et al. (2009) mostraram o grande consumo de água que deverá
ocorrer, para que se possa atingir as metas estabelecidas para 2015 pelas políticas de incentivo
ao uso de biocombustíveis nos Estados Unidos e os impactos em alguns aquíferos locais.
Diversos estudos de avaliação do uso da água também foram realizados com o objetivo
de fornecer informações úteis de apoio à elaboração de políticas nacionais e regionais. Na
publicação de Chiu et al. (2009), foi demonstrado que, conforme o local de cultivo do milho,
há uma ampla variação na quantidade de água usada para a irrigação voltada à produção de
etanol dentro dos EUA. Os resultados obtidos chegaram a uma faixa de variabilidade de 5 a
2138 litros de água usada por litro de etanol produzido, ressaltando a necessidade de se
considerar as especificidades regionais tanto em estudos de Pegada Hídrica como no
desenvolvimento de planos nacionais de incentivo à produção de biocombustíveis, para que se
possa atingir boa eficiência e minimizar os impactos do consumo excessivo.
Além disso, alguns trabalhos também quantificaram a Pegada Hídrica dos diferentes
tipos de bioenergia, a partir de uma grande variedade de culturas e com a utilização de dados
característicos dos principais países produtores. Entre outros resultados, obteve-se que, no
geral, o biodiesel tem a maior Pegada Hídrica, com média global de 394 m³/GJ para a soja e
de 409 m³/GJ para a colza, seguido pelo etanol, que variou de 59 m³/GJ para a beterraba a 211
m³/GJ para o trigo, e por último a bioeletricidade (queima de cultivos agrícolas), com média
de 50 m³/GJ (GERBENS-LEENES et al., 2009a). Também foi estimado que, se a utilização
dos biocombustíveis atingir 10% do combustível total usado para o transporte, em todo o
mundo, o consumo de água pode chegar a 9% do total usado para a produção de alimentos e
algodão, aumentando significativamente a competição pelos recursos hídricos (GERBENS-
LEENES e HOEKSTRA, 2010).

3.2.2 Análise do Ciclo de Vida (ACV)

3.2.2.1 Características Gerais

“Ciclo de Vida” é a expressão usada para referir-se a todas as etapas e processos de


um sistema de produtos e serviços, englobando toda a cadeia de produção e consumo, onde
são consideradas a aquisição de energia, matérias-primas e produtos auxiliares; aspectos dos
sistemas de transporte e logística; características da utilização, manuseio, embalagem,
marketing e consumo; e emissões, sobras e resíduos, incluindo a reciclagem e destino final
(CASAGRANDE e AGUDELO, 2009).
43

Com isso, a ACV é uma ferramenta de análise de sistemas, que foi projetada
especificamente para avaliar a sustentabilidade ambiental de produtos, processos e atividades.
Dessa forma, permite aferir todos os elementos que podem interagir com o meio ambiente
(aspectos ambientais) e as modificações que ocorrem como consequência destes (impactos
ambientais), através da identificação, quantificação e avaliação dos fluxos relacionados aos
recursos consumidos em todas as fases do ciclo de vida do objeto em estudo, assim como
todas as emissões e resíduos liberados no meio ambiente (BRENTRUP et al., 2001).
Em outras palavras, a ACV consiste basicamente em uma técnica que, através da
quantificação das entradas e saídas de um sistema associado a um produto ou serviço
particular, realiza a avaliação dos impactos ambientais relacionados a estas entradas e saídas,
fazendo a interpretação dos resultados alcançados, de acordo com os objetivos estipulados
para o estudo (ABNT, 2009a). A Figura 3.14 apresenta, de forma simplificada, as fases
integrantes do ciclo de vida de um determinado produto.

Figura 3.14 – Exemplificação das fases do ciclo de vida de um determinado produto.


(Fonte: FERRÃO, 2009).

Se realizada de forma apropriada, a aplicação da ACV pode possibilitar que


companhias e outras partes interessadas (incluindo os consumidores) possam tanto fazer
comparações entre diferentes produtos e serviços como também avaliar e otimizar a
performance ambiental dos mesmos. Além do uso pelo setor privado, a ACV também pode
ser muito útil como ferramenta de apoio às políticas nacionais e internacionais, sendo,
atualmente, incorporada em muitas leis da União Europeia, Japão, Austrália, entre outros
países. Também deve ser observado que a ACV foi desenvolvida para analisar impactos
ambientais em diferentes escalas, como por exemplo, países, municípios, bacias hidrográficas,
etc. (MORRISON et al., 2010).
Diante destas características, pode-se dizer que a ACV também se apresenta como um
bom instrumento de suporte à tomada de decisões tanto na indústria como em órgãos
governamentais e não governamentais. As principais aplicações que podem ser identificadas
44

para a ACV são: identificação de oportunidades (pontos críticos) para melhorar os aspectos
ambientais de produtos e processos em vários pontos de seu ciclo de vida, também conhecida
como produção eco-eficiente; tomada de decisões políticas, permitindo o desenvolvimento de
uma visão mais racional e holística acerca dos impactos ambientais das atividades realizadas;
e decisões de compra e venda baseadas em questões ambientais, fornecendo indicadores
pertinentes de desempenho ambiental e informações essenciais para programas de rotulagem
ecológica, seleção de fornecedores, marketing de produtos, entre outros (ABNT, 2009a;
MORRISON et al., 2010; RIBEIRO, 2003).
Apesar de sua grande aplicabilidade, a ACV é uma ferramenta que apresenta diversas
limitações em sua metodologia. Segundo a norma NBR ISO 14040 (ABNT, 2009a), as
principais limitações são: as escolhas e suposições feitas na ACV podem ser subjetivas; os
modelos utilizados na análise de inventário ou para avaliação de impactos são limitados pelas
suas suposições; a exatidão da ACV pode ser limitada, em razão da qualidade e abrangência
dos dados e a disponibilidade dos mesmos; e a falta de dimensões temporais e espaciais dos
dados do ICV introduz incertezas nos resultados da análise.

3.2.2.2 Metodologia da ACV

Diferentemente da Pegada Hídrica, que se concentra em um único recurso ambiental


(ou seja, a água), a ACV foi desenvolvida como uma metodologia que possibilita realizar
avaliações em diversos meios e fazer comparações entre diferentes tipos de recursos
ambientais, emissões e seus impactos. De fato, a habilidade de avaliar impactos através de
uma série de categorias ambientais é a principal função e valor da ACV. Dessa forma, esta
análise necessita de um processo muito mais abrangente do que as medições estritamente
relacionadas à água que ocorrem na Pegada Hídrica (KOEHLER, 2008).
A norma NBR ISO 14040 (ABNT, 2009a) sugere uma estrutura metodológica para a
execução da ACV. Segundo a mesma, a análise pode ser dividida em quatro fases distintas:
definição de objetivo e escopo, análise do inventário, avaliação de impactos e interpretação
dos resultados. A relação entre estas fases está ilustrada na Figura 3.15 e, a seguir, é feita uma
descrição sucinta de cada uma destas etapas.

a) Definição de Objetivos e Escopo:


Nesta fase, são estabelecidas as premissas iniciais, que irão determinar o subsequente
plano de trabalho do estudo, definindo-se, de forma clara, o objetivo e o escopo. O objetivo é
formulado de maneira que defina a aplicação pretendida, as razões para o desenvolvimento do
45

estudo e o público-alvo, enquanto que o escopo deve identificar e definir o objeto de análise, e
limitá-lo para a inclusão dos pontos mais importantes e significativos (FERRÃO, 2009).

Figura 3.15 – Estrutura das fases de execução da ACV.


(Fonte: ABNT, 2009a).

Quanto ao escopo, de acordo com Chehebe (1997), este restringe a ACV em três
dimensões: extensão, largura e profundidade. A extensão determina o tamanho do estudo
(início e fim), a largura determina o número de subsistemas que devem ser incluídos no
mesmo e a profundidade representa o nível de detalhamento.
A norma NBR ISO 14040 (ABNT, 2009a) estabelece que, na definição do escopo,
devam ser considerados e claramente descritos os seguintes itens:
 O sistema de produto e sua função, onde são determinados os processos unitários
que devem ser incluídos na análise e para qual propósito servirá.
 A unidade funcional, que é a unidade de medida da função realizada pelo sistema, a
qual fornece uma referência, por onde todas as entradas e saídas estejam
relacionadas, de modo que se possa garantir a comparabilidade dos resultados.
 Os procedimentos de alocação, que podem ser aplicados quando ocorre, em uma
unidade de processo, a geração de um ou mais subprodutos, ou existe reciclagem,
ou reuso de um certo material, com o objetivo de distribuir os aspectos ambientais
de forma proporcional a cada um destes produtos gerados. Os métodos mais
empregados se baseiam na massa ou no valor econômico.
 Tipo de impacto e metodologia de avaliação, onde são definidas as categorias de
impactos consideradas e de que modo serão avaliadas.
46

 Requisitos dos dados, onde é especificada a precisão requerida dos dados e a


descrição dos métodos de obtenção e integração dos mesmos.
 Tipo de análise crítica e formato do relatório final.

b) Análise de Inventário:
A fase do ICV é a etapa que envolve, basicamente, a coleta de dados e os
procedimentos de cálculo, que devem ser executados para quantificar as entradas e saídas
(matéria, energia, resíduos, etc.) relevantes do sistema de produto, provendo uma perspectiva
ampla e sistemática do ambiente e dos recursos envolvidos (ABNT, 2009b). Cabe, ainda,
destacar que esta fase é altamente dependente das fronteiras do sistema e das unidades
funcionais definidas na etapa anterior. Além disso, esse processo é iterativo com outras fases
da ACV, ou seja, conforme os dados vão sendo coletados, mais conhecimento sobre o sistema
é adquirido e, assim, pode ser necessário haver adaptações em outras etapas.
De acordo com a NBR ISO 14044 (ABNT, 2009b), o ICV deve incluir os seguintes
procedimentos:
 Preparação para coleta de dados, que inclui a construção de fluxogramas e a
descrição dos processos unitários; a listagem das categorias de dados associadas; a
determinação das unidades de medida, dos métodos de coleta e dos cálculos
utilizados, entre outros.
 Coleta de dados, que é a parte onde são obtidos os valores das entradas e saídas
consideradas, sendo que estes dados podem ser coletados de diversas maneiras,
como, por exemplo, através de revisão bibliográfica, da aplicação de questionários,
do uso de modelos matemáticos ou de medições em campo.
 Procedimentos de cálculo, onde são feitos cálculos para adequar os dados brutos
coletados aos processos unitários e à unidade funcional, além de verificar sua
validade, através de balanços de massa e energia, e análise comparativa.
 Refinamento das fronteiras do sistema, onde são feitas análises de sensibilidade,
para incluir apenas os aspectos mais significativos.

c) Avaliação de Impactos Ambientais (AICV):


Nesta fase, objetiva-se analisar os resultados do ICV e relacioná-los ao seu potencial de
impactar o meio ambiente. Para isso, os dados do inventário devem ser associados aos
indicadores e categorias de impacto (ABNT, 2009a).
A NBR ISO 14044 (ABNT, 2009b) estabelece que esta etapa deve compreender os
seguintes elementos obrigatórios: seleção das categorias de impactos, classificação e
47

caracterização dos dados. Depois disso, opcionalmente, podem ainda serem consideradas a
normalização, o agrupamento e a ponderação dos resultados. Estes elementos são brevemente
descritos abaixo:
 Seleção das categorias de impactos: é o primeiro passo da avaliação de impactos,
pois estas categorias são responsáveis pela ligação entre os impactos potenciais de
cada fluxo e os efeitos destes nas áreas relevantes. As categorias que têm sido mais
utilizadas são: potencial de depleção dos recursos abióticos, potencial de
aquecimento global, potencial de depleção do ozônio estratosférico, eutrofização,
ecotoxicidade, potencial de formação de oxidantes fotoquímicos, potencial de
acidificação, toxicidade humana, efeitos respiratórios, radiação ionizante e uso do
solo (CHEHEBE, 1997; ISO, 2003).
 Classificação: procedimento que classifica e agrupa os dados obtidos no ICV, nas
categorias de impactos selecionadas e identificadas.
 Caracterização: esta etapa consiste na quantificação da classificação; ou seja, se
determina, numericamente, qual é a contribuição das entradas e saídas de cada
categoria para um determinado impacto potencial. Para isso, os resultados do ICV
são convertidos em unidades comuns, através de fatores de equivalência, e
posteriormente agregados em cada categoria de impacto.
 Normalização: tem por objetivo prover uma melhor avaliação da magnitude dos
resultados da caracterização, calculando a representatividade dos valores
encontrados em relação a um valor de referência, como a carga total de um país,
padrões legais de emissão, etc.
 Agrupamento: é a reordenação da apresentação das categorias de impacto, de
acordo com as características do estudo.
 Ponderação: nesta etapa os indicadores de cada categoria de impacto são
multiplicados por fatores e agregados para formar um escore final, sendo que isto é
feito de forma subjetiva.

d) Interpretação dos Resultados:


Segundo a NBR ISO 14040 (ABNT, 2009a), esta etapa tem como objetivos analisar os
resultados, alcançar conclusões, explicar as limitações e fornecer recomendações, com base
nos resultados das fases de análise de inventário e de avaliação de impactos. Existem três
elementos básicos que devem ser abordados, que são: a identificação dos pontos mais
significativos do estudo; a avaliação da confiabilidade dos resultados, com análises de
abrangência (verifica se as informações são suficientes), de sensibilidade (determina a
48

influência das incertezas) e de consistência (verifica a coerência dos métodos, dados,


suposições, etc.); e a realização de conclusões e recomendações.

3.2.2.3 ACV e o Uso da Água

Como foi exposto anteriormente, a ACV é uma metodologia de gestão ambiental


consolidada e amplamente aplicada para avaliar as diversas intervenções ambientais causadas
por produtos e serviços durante seu ciclo de vida, sendo cada vez mais utilizada por gestores
como ferramenta de suporte à tomada de decisão, determinando suas escolhas por produtos e
tecnologias sustentáveis. Nos últimos 40 anos, uma quantidade enorme de estudos de ACV
foram publicados, dentre os quais a maior parte abordou, em seu desenvolvimento, o setor da
agricultura e a produção de alimentos (BAYART et al., 2010; MORRISON et al., 2010).
Devido à grande aplicabilidade e à importância da ACV e de acordo com as
recomendações e princípios da norma ISO 14040, é essencial que os estudos que utilizam esta
ferramenta de avaliação sejam capazes de abordar todas as principais questões ambientais.
Isso significa incluir, entre outros aspectos, as consequências do uso da água, principalmente
quando se trata de produtos agrícolas e seus derivados, como os biocombustíveis, onde o
consumo de água pode ser significativo. Além disso, considerando a importância da água à
saúde humana e à qualidade dos ecossistemas, juntamente com o aumento do número de
regiões que enfrentam situações de estresse hídrico em todo o mundo, fica evidente a
necessidade de se considerar este aspecto dentro de estudos de avaliação de impactos
ambientais. Caso contrário, em um futuro não muito distante, poderá ocorrer o deslocamento
dos problemas ambientais críticos atuais (ex.: aquecimento global) para o novo problema da
escassez de água, fazendo com que haja a necessidade de um redirecionamento dos esforços
mundiais (BAYART et al., 2010; BERGER e FINKBEINER, 2010; KOEHLER, 2008).
No entanto, tradicionalmente, o uso da água não tem sido considerado, de forma
suficientemente detalhada e abrangente, no âmbito de aplicação da ferramenta ACV. Até o
momento, quando o desempenho ambiental de um produto ou serviço é avaliado através desta
metodologia, o foco do estudo geralmente é voltado apenas ao consumo de energia ou sobre
as emissões de gases de efeito estufa e/ou substâncias tóxicas (BERGER e FINKBEINER,
2010). Nos casos em que é mensurado, o uso da água é, normalmente, representado apenas na
fase ICV e, mesmo assim, na maioria das vezes, somente é contabilizado o total de água
retirada do corpo hídrico, sem especificar o quanto é realmente consumido. Além disso,
apresentam informações limitadas sobre sua origem (tipo de recurso hídrico) e sem nenhuma
49

diferenciação quanto ao destino (volume, qualidade, local, etc.), desconsiderando


especificidades locais e a poluição hídrica (BAYART et al., 2010; PFISTER et al., 2009).
Na fase AICV, ainda menos atenção é dada ao uso da água, uma vez que, por falta de
estrutura metodológica, os estudos de ACV não vêm incluindo a avaliação das significativas
consequências da diminuição da disponibilidade dos recursos hídricos, pelo consumo ou
degradação da qualidade. Ainda cabe ser observado que os impactos aos recursos hídricos,
comumente considerados até o momento, são apenas de ordem qualitativa, como por
exemplo, a acidificação, eutrofização, toxicidade, entre outros (BAYART et al., 2010;
PFISTER et al., 2009).
De acordo com algumas publicações, esta limitação da ACV é provavelmente causada
por ser uma técnica que, historicamente, foi construída por métodos desenvolvidos em países
industrializados, que não sofrem com os efeitos da escassez de água. Além disso, também
existem dificuldades metodológicas específicas, como o fato de que a ACV produz resultados
independentes de tempo e local, enquanto que os impactos e aspectos relacionados ao uso da
água são sazonais e muito particulares da região em que ocorrem. Isso porque, em cada bacia
hidrográfica ou área de drenagem de rios, os cursos d’água podem realizar funções ecológicas
distintas e as exigências qualitativas, para as diversas formas de uso da água, também podem
ser diferentes (BERGER e FINKBEINER, 2010; JESWANI e AZAPAGIC, 2011;
KOEHLER, 2008).
Dessa forma, nos últimos anos, cientistas e profissionais dessa área passaram a
considerar como uma das prioridades o desenvolvimento de melhores maneiras de avaliar o
uso da água dentro da ACV, fazendo com que obtivessem consideráveis progressos.
Impulsionadas por iniciativas, como a United Nations Environment Programme
(UNEP)/Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) Life Cycle
Initiative, diversas publicações científicas já foram feitas com o objetivo de colaborar com o
desenvolvimento de métodos mais consistentes. O enfoque principal destes estudos é
considerar o uso da água tanto em nível de inventário, incluindo dados com uma diferenciação
e um detalhamento adequados, como em nível de avaliação de impactos, abordando de forma
consistente os efeitos e danos à saúde humana, à qualidade dos ecossistemas, entre outros.
Além disso, recentemente, a ISO formou um grupo de trabalho que pretende estabelecer um
padrão internacional, para avaliar o uso da água no ciclo de vida de produtos e serviços,
através da criação da norma ISO 14.046 (BERGER e FINKBEINER, 2010; MORRISON et
al., 2010).
Através destes estudos, já foi possível definir uma estrutura básica de trabalho, que
possibilita avaliar os impactos potenciais associados ao uso da água utilizando a ACV, como
50

mostra a Figura 3.16. Este esquema geral, em cadeia de causa e efeito, é resultado de uma
extensiva análise, realizada pela UNEP/SETAC Life Cycle Initiative, dos métodos já
desenvolvidos para a avaliação das principais questões relacionadas ao uso da água
(QUANTIS, 2010). A seguir será realizada uma breve descrição do que já foi feito, até o
momento, com relação às etapas de ICV e AICV.

Figura 3.16 – Esquema geral da aplicação da ACV para o uso da água.


(Fonte: adaptado de QUANTIS, 2010).

A análise de inventário envolve a coleta de dados de entrada e saída, para todos os


processos unitários incluídos no escopo da avaliação, de maneira que forneça todas as
informações necessárias para uma adequada análise dos impactos ambientais. Da perspectiva
dos recursos hídricos, isto se traduz em mensurar todas as formas de uso da água, que de
alguma maneira alteram a disponibilidade hídrica e limitam a utilização do recurso para
outros usuários, o que inclui o consumo e a poluição da água, levando em consideração as
condições específicas do local de retirada e descarte (BOULAY et al., 2011a).
No entanto, os inventários atualmente utilizados em estudos de ACV são muito
simplificados com relação ao uso da água e, na maioria das vezes, negligenciam as distinções
necessárias. Além disso, dependendo do banco de dados, da ferramenta ou da plataforma de
trabalho, a informação contida pode ser consideravelmente diferente. Essas questões foram
mostradas no levantamento realizado por Jeswani e Azapagic (2011), onde foram comparados
os fluxos existentes nos três principais bancos de dados de ACV utilizados no mundo.
Segundo este estudo, no banco de dados do software GaBi, da empresa PE International, os
fluxos de entrada de água são somente diferenciados com relação à fonte básica do recurso
hídrico (ex.: superficial, subterrâneo, de lago, do oceano, etc.). Enquanto isso, o banco de
51

dados Ecoinvent, da empresa Swiss Centre for Life Cycle Inventories, e o software SimaPro,
da empresa PRé Consultants, também incluem alguns fluxos adicionais, baseados na
finalidade do uso, da seguinte forma: uso em turbinas para geração de energia elétrica
(Ecoinvent) e para refrigeração, processos industriais, dessedentação e uso em turbinas
(SimaPro). Com relação aos fluxos de saída, também nota-se que não há padronização, pois
no SimaPro existe apenas um fluxo para o descarte de efluentes; no GaBi há um para
efluentes e outro para o descarte de água do rio; e no Ecoinvent não existe referência à saída
de água. Dessa forma, fica evidente que, não somente a terminologia e a categorização nos
bancos de dados são inconsistentes, mas também faltam diversos parâmetros importantes para
avaliar os impactos do uso da água, como a localização geográfica e a disponibilidade hídrica
do local, tipos de uso, fluxos de saída adequados, parâmetros de qualidade, entre outros
(BERGER e FINKBEINER, 2010).
Com o intuito de resolver esta questão, alguns estudos recentes propuseram diferentes
abordagens na tentativa de modelar o ICV para o uso da água. No trabalho de Milà i Canals et
al. (2009), foi proposto um método de avaliação dos impactos do uso da água através da
ACV, que, na fase de inventário, considera tanto a fonte de água como o tipo de uso,
utilizando como escala a área de uma bacia hidrográfica. Assim, primeiro é feita uma
classificação da água por sua fonte, em quatro tipos: umidade do solo originada pela água da
chuva (“água verde”), fluxo superficial (lago/rio), água subterrânea de aquífero (renovável) e
água subterrânea fóssil. Depois disso, a água proveniente destas fontes é diferenciada em uso
evaporativo (água que fica indisponível para outros usos na área estudada) e não evaporativo
(água que retorna e fica disponível). Além disso, também propõe considerar dados sobre a
mudança no uso do solo, para possibilitar a posterior avaliação dos efeitos desta alteração na
disponibilidade hídrica.
Alguns autores (HOEKSTRA et al., 2009; JESWANI e AZAPAGIC, 2011;
RIDOUTT e PFISTER, 2010) relatam que o método da Pegada Hídrica, desenvolvido e
utilizado pela WFN, também possui potencial para ser adaptado e usado como modelo de
inventário da ACV para o uso da água. Isso porque, segundo os mesmos, este método
considera todas as informações relevantes relacionadas ao uso dos recursos hídricos pelo
objeto em estudo e faz uma adequada classificação das mesmas, além de fornecer dados
explicitados, temporal e espacialmente. Como relatado anteriormente, a Pegada Hídrica
diferencia o uso da água em três tipos: Água Azul, que é o consumo (uso consuntivo) da água
proveniente dos recursos hídricos superficiais (lago/rio) e subterrâneos (aquífero/reserva
fóssil); Água Verde, que é o consumo da umidade do solo originada pela precipitação; e Água
Cinza, que é um indicador da perda de água ocasionada pela degradação de sua qualidade
52

(poluição), calculado através da abordagem conhecida como “distância do objetivo” baseada


na diluição, a qual quantifica o volume de água necessário para diluir os contaminantes, até
atingir padrões de qualidade pré-estabelecidos.
Outra proposta de inventário que merece destaque é a desenvolvida por Boulay et al.
(2011a), onde foi estabelecida uma estrutura de classificação da água que inclui características
qualitativas, junto com diferentes tipos de fontes e finalidades de uso. O objetivo do estudo é
possibilitar a realização de uma subsequente avaliação de impactos na ACV, através da
abordagem baseada na funcionalidade, ou seja, na perda de função que a água exerce para
alguns determinados usuários, que necessitam da mesma em uma certa qualidade mínima.
Dessa forma, com base em 136 parâmetros de qualidade, foram determinados 11 diferentes
usos humanos e considerados 3 tipos de fontes de água (superficial, subterrânea e água da
chuva), que resultaram na criação de 17 categorias de classificação da água na fase ICV, os
quais são úteis para avaliar as consequências do uso degradativo dos recursos hídricos.
Fundamentado na análise de publicações anteriores, um grupo de trabalho da
UNEP/SETAC Life Cycle Initiative, formado por especialistas acadêmicos e da indústria,
estabeleceu orientações e recomendações para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos
métodos de avaliação do uso da água dentro da ACV. Com relação à fase de ICV, os
resultados deste grupo de trabalho foram divulgados através do artigo de Bayart et al. (2010),
onde o esquema de inventário proposto recomenda que se deva considerar apenas o uso
degradativo (poluição) e o uso consuntivo da água extraída do corpo hídrico (também
conhecida como Água Azul), pois, segundo os mesmos, são as únicas formas de uso que
alteram a disponibilidade hídrica. A partir disso, o trabalho determina que esta fase deva
fornecer informações específicas sobre a fonte da água retirada, o local em que foi descartada,
a qualidade com que entra e sai do sistema, e as condições específicas de disponibilidade
hídrica do local (regionalização).
Após a fase de ICV, conforme foi mostrado na Figura 3.16, deve ser realizada a etapa
de avaliação de impactos (AICV), para a qual também já foram desenvolvidos diversos
métodos, que consideraram tanto a obtenção de fatores de caracterização como o cálculo de
impactos primários (“midpoint level”) e secundários (também conhecidos como danos finais
ou “endpoint level”). No entanto, deve ser observado que a maioria destes métodos foram
recentemente criados e publicados, ou seja, são relativamente novos e, dessa forma,
dificilmente são encontradas experiências de aplicação em estudos de caso, ficando estes
limitados a discussões e comparações teóricas (BERGER e FINKBEINER, 2010).
Para a avaliação de impactos, pode-se dizer que existem três áreas ou aspectos
ambientais, que estão relacionados com o uso da água: (i) a quantidade suficiente de recursos
53

hídricos para os atuais usos humanos; (ii) a quantidade suficiente de recursos hídricos para a
manutenção dos ecossistemas existentes; e (iii) a sustentabilidade dos recursos hídricos para
as futuras gerações e para os futuros usos das gerações atuais. Com relação aos impactos de
nível intermediário (“midpoint level”), responsáveis pela ligação entre os impactos diretos do
uso da água e os consequentes danos finais, os métodos desenvolvidos, até o momento,
fornecem fatores de caracterização para as três áreas, com base, principalmente, nas condições
locais de disponibilidade hídrica (BAYART et al., 2010; BERGER e FINKBEINER, 2010).
Dentro deste contexto, podemos mencionar novamente o trabalho de Milà i Canals et
al. (2009), o qual fornece duas categorias de impactos intermediários: (i) impactos no
ecossistema aquático, que utiliza um indicador da escassez de água, definido como a razão
entre a taxa de extração de água da bacia hidrográfica e a quantidade de água disponível para
uso humano na mesma região, considerando neste cálculo a quantia estimada necessária para
a manutenção do ecossistema; e (ii) depleção dos recursos hídricos, onde são consideradas as
taxas de extração e regeneração do recurso e sua reserva atual para as águas subterrâneas
(aquífero e fóssil).
Outro importante fator de caracterização desenvolvido foi o de Pfister et al. (2009),
denominado Índice de Estresse Hídrico (“Water Stress Index” – WSI). Neste método, foi feita
uma expansão da razão entre o volume de água retirada e o disponível no local (conhecida
como “withdrawal-to-availability” – WTA), para que seja possível incluir os efeitos da
variabilidade sazonal. Dessa forma, a aplicação deste índice aos dados volumétricos coletados
resulta em um inventário ponderado do uso da água, expresso em m³ equivalentes, o qual
pode ser mapeado em qualquer escala e, assim, fornecer um meio simples e consistente de
avaliar os impactos potenciais do uso da água. A partir destas considerações, este estudo
fornece índices diferenciados por países, como, por exemplo, 0,0659 m³ equivalentes por m³
consumido no Brasil, 0,499 para os Estados Unidos, 1,0 para o Kuwait, e assim por diante.
Para o cálculo dos impactos no nível de dano final ou “endpoint level”, já existem
diversos trabalhos, que desenvolveram diferentes métodos e abordagens, com o objetivo de
avaliar os efeitos da falta de água sobre a saúde e bem-estar humano e sobre os ecossistemas e
recursos hídricos. Neste contexto, existem metodologias que abordam as três categorias de
forma mais geral, como a de Pfister et al. (2009), e outras que são mais específicas para uma
região particular ou para um determinado tipo de água ou dano, como, por exemplo, os
métodos de Motoshita et al. (2008, 2011), que avaliam os danos à saúde humana provocados
pela desnutrição, relacionada à escassez de água na agricultura, e pelas infecções e doenças,
relativas à escassez de água doméstica; ou ainda, o de Zelm et al. (2011), que avalia o
54

desaparecimento de espécies de plantas, por causa da extração de água subterrânea nos Países
Baixos.
Um dos estudos que apresentou uma estrutura diferenciada de avaliação de impactos à
saúde humana, ocasionados pela diminuição da disponibilidade de água, foi o de Boulay et al.
(2011b). No método elaborado neste estudo, são contabilizados, além da água consumida, o
volume de água degradada, que perde sua funcionalidade para o uso doméstico, o cultivo
agrícola e a pesca. Além disso, também considera, com base no produto interno bruto dos
países, a capacidade de adaptação dos mesmos em compensar a poluição hídrica, através do
tratamento da água ou da importação de alimentos. Dessa forma, depois de quantificar, na
fase de inventário, o volume de água perdida para cada tipo de uso, é verificado se há
possibilidade de compensação ou não. Em caso negativo, são avaliados os efeitos sobre a
saúde humana, na unidade de dias de vida perdidos (“disability-adjusted life years” – DALY),
ocasionados por doenças, geradas pelo uso doméstico de água imprópria para consumo, e por
má nutrição, gerada pela diminuição da produção de alimentos (cultivos agrícolas e pesca),
resultante da menor disponibilidade de água própria para estes usos. Na situação contrária,
estas consequências diretas são evitadas, porém o sistema deve ser expandido, para que sejam
incluídos os impactos gerados em decorrência da adaptação necessária, como, por exemplo, a
produção e o emprego dos produtos para tratamento da água.
No entanto, mesmo com os recentes avanços promovidos pelos diversos estudos
publicados, ainda existem alguns aspectos que estão em discussão, ou que são deficientes, e
que precisam ser resolvidos em futuras pesquisas. Nota-se, por exemplo, que a maioria dos
trabalhos tem seu foco voltado somente ao uso consuntivo da “Água Azul”, enquanto que o
uso direto no curso d’água (“in-stream”) e o uso degradativo (“Água Cinza”) são pouco
representados no desenvolvimento metodológico. Além disso, a inclusão da “Água Verde”,
que é especialmente importante quando se envolve o cultivo agrícola, ainda é objeto de
discordância na comunidade científica. Neste debate, os pesquisadores que são contra a
inclusão deste tipo de fonte de água argumentam que esta só é aproveitada pelas plantas e, por
esse motivo, o seu consumo não contribui para a escassez hídrica. Já o grupo que é favorável,
sustenta que a água da chuva deve ser considerada, pois contribui para a manutenção de
ecossistemas e para a renovação das águas superficiais e subterrâneas, além de que sua
estimativa é importante para a compreensão geral dos impactos do uso da água e para permitir
a comparação entre diferentes produtos. Entretanto, nenhum dos estudos que inclui o uso da
“Água Verde” fornece um modelo de caracterização para avaliar os efeitos negativos de seu
consumo (BERGER e FINKBEINER, 2010; MILÀ I CANALS et al., 2009; MISHRA e
YEH, 2011; PFISTER e HELLWEG, 2009; RIDOUTT e PFISTER, 2010).
55

De forma geral, também existe a necessidade de haver uma melhor definição e


padronização dos tipos de dados que devem ser contabilizados no ICV, incluindo as fontes de
água, os diferentes usos da água, a escala, os parâmetros de qualidade e as condições de
disponibilidade hídrica, considerando as diferenças entre o local de extração e o de descarte.
Para a fase AICV, é preciso, ainda, desenvolver indicadores e métodos mais compreensivos,
aplicáveis e cientificamente consistentes, que estejam relacionados de modo adequado com os
dados fornecidos pelo inventário. No entanto, deve ser observado que o aumento da
sofisticação e do detalhamento dos métodos de inventário e de avaliação de impactos resulta
em um crescimento substancial da exigência de dados, principalmente quando são
considerados os processos de segundo plano, como a extração de matéria-prima, geração de
energia elétrica e a fabricação de produtos semiacabados, o que pode gerar problemas de
aplicabilidade, devido à falta de informações ou ao alto custo em obtê-las (BERGER e
FINKBEINER, 2010; JESWANI e AZAPAGIC, 2011).

3.3 BIODIESEL

3.3.1 Introdução

O biodiesel é definido, segundo a Lei n.º 11.097, de 13 de setembro de 2005, que


introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira, como:

“Biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com
ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa
substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil.” (BRASIL, 2005)

De modo geral, o biodiesel é considerado um combustível natural biodegradável,


usado em motores ciclo-diesel, composto por ésteres alquílicos (metílicos ou etílicos) de
ácidos graxos de cadeia longa, produzido através de fontes renováveis e de forma que atenda
às especificações da ANP. É, geralmente, obtido através do processo de transesterificação,
com a utilização de uma ampla variedade de matérias-primas, que inclui gorduras animais,
óleos residuais e vegetais, como a mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim,
pinhão manso, soja, entre outras (BRASIL, 2011a).
Este biocombustível pode ser utilizado puro ou misturado em uma determinada
concentração com o óleo diesel. Desse modo, definiu-se como BX a nomenclatura adotada
mundialmente para identificar a concentração do biodiesel, onde o “X” é a percentagem em
56

volume de biodiesel na mistura, como por exemplo, o B2, B5, B20 e B100, que possuem uma
concentração de 2, 5, 20 e 100%, respectivamente (KNOTHE et al., 2005).
A utilização do biodiesel como combustível apresenta algumas características que
representam vantagens sobre os combustíveis derivados do petróleo, principalmente
relacionadas ao meio ambiente, tais como: é virtualmente livre de enxofre e de compostos
aromáticos; possui alto número de cetano; alto teor médio de oxigênio; maior ponto de fulgor,
o qual aumenta a segurança no armazenamento e transporte; menor emissão de partículas,
hidrocarbonetos, monóxido de carbono e dióxido de carbono (cerca de 78% menor); caráter
não tóxico e biodegradável, além de ser proveniente de fontes renováveis e amplamente
diversificadas (FERRARI et al., 2005; GERPEN, 2005).

3.3.2 A Situação do Biodiesel

Nos últimos anos, nota-se que há uma significativa expansão da utilização de energias
renováveis em todo o mundo, incluindo o crescimento da indústria do biodiesel. Esta
tendência está sendo provocada por diversos fatores econômicos e ambientais. Entre os
motivos econômicos, está a tentativa de diminuição, principalmente por parte dos países em
desenvolvimento, da grande dependência externa do petróleo, além da instabilidade do seu
preço e do alerta provocado pelas estimativas de esgotamento das reservas fósseis. Quanto aos
fatores ambientais, estes estão relacionados, principalmente, ao aquecimento global e à
subsequente assinatura do Protocolo de Quioto, onde a maioria dos países desenvolvidos se
comprometeram a diminuir consideravelmente as emissões de gases de efeito estufa
(SCHUCHARDT et al., 2001).
A taxa média de crescimento da produção global de biodiesel, nos últimos 5 anos
(2005 a 2010), foi de 38%, chegando a aproximadamente 19 bilhões de litros em 2010. Até o
momento, a maior parte da produção e do consumo está concentrada na União Europeia, com
destaque para a Alemanha, que é o país que lidera o ranking mundial de produção (REN21,
2011). Segundo o Conselho Europeu de Biodiesel (EBB, 2011), este biocombustível começou
a ser produzido em escala industrial em 1992 e, atualmente, são fabricadas em torno de 9
bilhões de litros por ano na Europa.
Com relação ao Brasil, a implantação do Programa Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel (PNPB) foi regulamentada após a aprovação da Lei Federal 11.097, de 2005. Este
programa surgiu com o objetivo principal de implementar, de forma sustentável tanto técnica
como economicamente, a produção e uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no
desenvolvimento regional, através da geração de emprego e renda (BRASIL, 2011a).
57

Além disso, também estabeleceu, inicialmente, percentuais mínimos de mistura do


biodiesel ao diesel fóssil, começando com a adição facultativa de 2% (B2), em 2005, e depois,
de forma obrigatória, a partir de 2008 até 2013, quando a quantidade aumentaria para 5%
(B5). No entanto, devido ao sucesso do programa, através de resoluções do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), a adição de biodiesel já foi autorizada para 3% em
2008, 4% em 2009, até chegar aos 5% em 2010 (GOES et al., 2010).
Dentre as formas de incentivo à produção de biodiesel, está a desoneração de tributos,
as melhores condições de financiamento junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento
(BNDES) e o direito de concorrência nos leilões de compra de biodiesel. Estas vantagens
podem ser adquiridas com a obtenção do Selo Combustível Social, que é concedido às
agroindústrias que comprovem a aquisição de uma porcentagem mínima de matéria-prima
proveniente da agricultura familiar, como forma de estimular o desenvolvimento social
(BRASIL, 2011a).
Os leilões de biodiesel foram criados para impulsionar o recente mercado e são
realizados pela ANP, a qual administra a compra e venda do biodiesel dos produtores para as
refinarias e distribuidoras, que, por sua vez, realizam a mistura ao diesel do petróleo. Desse
modo, estimula-se a produção de biodiesel em quantidade suficiente para que refinarias e
distribuidoras possam compor a mistura (BX) determinada por lei (GOES et al., 2010). Desde
2005, já foram realizados 25 leilões no total (ANP, 2012a).
Com relação aos dados estatísticos de produção, distribuição e comercialização do
biodiesel nacional, segundo a ANP (2012b), que é o órgão responsável pela regulação e
fiscalização destas atividades, atualmente existem 64 plantas produtoras de biodiesel
autorizadas para operação, o que corresponde a uma capacidade total autorizada de,
aproximadamente, 7 bilhões de litros por ano.
Com a entrada do B5, a produção de biodiesel cresceu 46% em 2010 e atingiu o
volume anual de quase 2,7 bilhões de litros em 2011, o que faz do Brasil o segundo maior
produtor do mundo. O gráfico da Figura 3.17 mostra a evolução anual da produção, da
demanda obrigatória e da capacidade nominal autorizada pela ANP. Nota-se, ainda, que a
capacidade nominal é duas vezes maior que a quantidade produzida, o que significa que o
potencial de crescimento é grande e o consumo pode ser ainda mais estimulado (ANP, 2012b;
REN21, 2011).
58

Figura 3.17 – Evolução anual da capacidade de produção nominal autorizada pela ANP, da
demanda obrigatória e da produção total de biodiesel.
(Fonte: ANP, 2012b).

3.3.3 Cadeia Produtiva do Biodiesel

As duas principais formas de matéria-prima, através da qual o biodiesel pode ser


produzido atualmente, é a gordura animal e o óleo vegetal. No entanto, como o tema deste
trabalho engloba apenas o biodiesel obtido a partir do óleo de soja, o enfoque desta seção será
sobre a cadeia produtiva que utiliza as oleaginosas. Com isso, pode-se dizer que as principais
etapas do processo de produção do biodiesel são: a plantação dos cultivos agrícolas, a
extração do óleo dos grãos, a produção do biodiesel, a distribuição e a revenda aos
consumidores (PARENTE, 2003). A Figura 3.18, mais abaixo, ilustra as principais etapas
desta cadeia produtiva.
Dessa forma, pode-se dizer que a cadeia produtiva do biodiesel inicia dependendo de
outra cadeia produtiva complexa, que é a da produção agrícola de oleaginosas. Isso significa
que um aumento na oferta de biodiesel só é possível se houver disponibilidade e/ou
potencialidade de incremento na produção destas culturas. No Rio Grande do Sul, a produção
de biodiesel está diretamente ligada à cadeia produtiva da soja, tendo em vista que esta é a
principal oleaginosa produzida no estado e que já é utilizada em grande escala (GOLLO et al.,
2010).
A cadeia agrícola, mais especificamente da soja, começa com a produção de sementes,
revenda de máquinas, equipamentos, fertilizantes, corretivos, defensivos agrícolas,
combustíveis e qualquer outro insumo que seja necessário ao preparo do solo, à semeadura e
ao trato da cultura. Após o período de colheita, os grãos são, então, armazenados e
59

comercializados por intermédio de contratos com cooperativas de produtores rurais da região


(RATHMANN et al., 2008).

Figura 3.18 – Ilustração das principais etapas da cadeia produtiva do biodiesel.


(Fonte: adaptado de PETROBRAS, 2009).

Depois da fase agrícola, o processo de industrialização das oleaginosas inicia com o


esmagamento e a extração do óleo vegetal. Nesta etapa, os grãos, primeiramente, são
submetidos aos processos de secagem, limpeza, moagem, laminação e cozimento, com o
intuito de realizar a preparação da matéria-prima. Depois disso, é realizado o procedimento de
extração do óleo, o qual, dependendo principalmente do teor de óleo da matéria-prima, pode
ser realizado de duas formas diferentes: a extração mecânica, que utiliza o processo de
prensagem e é realizada para as oleaginosas com altos teores de óleo (mais de 30%), e a
extração química, que utiliza um solvente, geralmente o hexano, e é aplicada em oleaginosas
com baixo de teor de óleo, como a soja (PAULA e FAVARET FILHO, 1998).
Posteriormente à etapa de extração, o óleo é submetido aos processos de degomagem e
neutralização, como forma de eliminar substâncias indesejáveis, que diminuem a eficiência da
produção de biodiesel. A etapa de degomagem consiste, basicamente, na adição de água ao
óleo bruto aquecido, sob agitação constante, para que sejam removidos os fosfatídeos, as
proteínas e as substâncias coloidais. Depois disso, a neutralização ocorre com a adição de
solução aquosa de álcalis, como o hidróxido de sódio, para que sejam eliminados os ácidos
graxos livres e outras impurezas restantes (MANDARINO e ROESSING, 2001). Após a
realização destes procedimentos, os subprodutos formados, no caso da soja, são a goma, que
pode ser utilizada para a produção de lecitina de soja, e o farelo, direcionado à alimentação
60

animal (produção de ração) ou à alimentação humana, por meio da retirada da proteína de soja
(PAULA e FAVARET FILHO, 1998).
O setor das indústrias de processamento de grãos possui uma importante
representatividade na cadeia produtiva do biodiesel, através da Associação Brasileira das
Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE). Segundo dados desta associação (ABIOVE, 2011), o
Rio Grande do Sul está em terceiro lugar no ranking brasileiro da capacidade de
processamento de óleos vegetais, representando 17,2% do total. As principais empresas de
processamento de óleo de soja, situadas neste Estado, são as estrangeiras Bunge, em Passo
Fundo e Marau; Archer Daniels Midland Company, em Três Passos; Louis Dreyfus, em Cruz
Alta; e as nacionais Granol, em Cachoeira do Sul; Camera, em Santa Rosa; Oleoplan, em
Veranópolis; e Olfar, em Erechim.
A próxima etapa, depois da obtenção do óleo vegetal, é a própria produção industrial
do biodiesel nas usinas. Nesta fase, o principal processo envolvido é a transesterificação, onde
é, basicamente, realizada a reação do óleo vegetal com álcool (metanol ou etanol) na presença
de um catalisador, formando uma fase pesada, constituída por glicerina bruta, excesso de
álcool, água e impurezas; e uma fase leve, formada por uma mistura de ésteres etílicos ou
metílicos, água e impurezas. Após separação destas fases, a parte pesada é submetida ao
processo de evaporação para a recuperação do álcool, restando a glicerina bruta como
subproduto, a qual ainda pode ser purificada através da destilação a vácuo, para posterior
comercialização. Quanto à fase leve, os ésteres são lavados, centrifugados e desumidificados
para retirar as impurezas, resultando no biodiesel purificado (KNOTHE et al., 2005;
PARENTE, 2003).
Com relação à matéria-prima para este processo, o álcool possui grande importância,
uma vez que constitui de 10 a 20%, em massa, do material que participa da reação. Portanto,
as cadeias produtivas do metanol, de origem petroquímica, ou do etanol, proveniente do
cultivo de cana-de-açúcar, também devem ser consideradas dentro da cadeia produtiva do
biodiesel (KNOTHE et al., 2005; MEDRANO, 2007).
A escolha da rota tecnológica, entre a etílica e a metílica, definirá fortemente alguns
aspectos do processo de produção industrial, pois o consumo de álcool, as condições de
reação e de separação final serão diferentes, em função das propriedades e características de
cada álcool. Na maioria dos países, incluindo o Brasil, a rota que está sendo amplamente
utilizada é a metílica (ANP, 2012a). Entre as vantagens do emprego do metanol, está o menor
consumo de álcool (45%), tempo de reação e complexidade da reação, resultando em custos
mais baixos de operação (PARENTE, 2003). Entretanto, o etanol também possui algumas
vantagens, principalmente do ponto de vista ambiental, pois é obtido de fonte renovável e é
61

muito menos tóxico. Além disso, especialmente no Brasil, pode ser mais viável
economicamente, uma vez que é produzido em larga escala, com a tecnologia necessária já
desenvolvida e um mercado consolidado (KHALIL, 2006).
Em 2011, do volume total de biodiesel produzido no Brasil, o Rio Grande do Sul foi o
estado que mais produziu, com cerca de 862 milhões de litros (32%), seguido por Goiás e
Mato Grosso, com 19 e 18%, respectivamente. Até o momento, como mostra a Tabela 3.3,
existem sete usinas autorizadas pela ANP, em operação, que compõem a produção de
biodiesel no Rio Grande do Sul (ANP, 2012a,b).

Tabela 3.3 – Características gerais das unidades produtoras de biodiesel localizadas no Rio
Grande do Sul.
Capacidade
Produção Total Rota
Empresa Localidade Autorizada pela Matéria-Prima
em 2011 (m³/ano) Tecnológica
ANP (m³/ano)
Brasil Metílica ou
Rosário do Sul 131.400 67.606 Óleo de soja
Ecodiesel Etílica

Óleo de soja e
BSBIOS Passo Fundo 162.060 125.118 Metílica
de canola

Camera Ijuí 237.250 106.867 Óleo de soja Metílica

Cachoeira do
Granol 340.665 205.509 Óleo de soja Metílica
Sul

Óleo de soja e
Oleoplan Veranópolis 383.250 237.756 Metílica
gordura animal

Olfar Erechim 219.000 119.254 Óleo de soja Metílica

Bianchini Canoas 328.500 - Óleo de soja Metílica

Fonte: dados de ANP, 2012a,b.

Finalmente, depois de produzido, o biodiesel puro (B100) é adquirido pelas


distribuidoras que, por sua vez, efetuam a mistura com o diesel, de acordo com a
regulamentação vigente (atualmente deve ser de 5% de biodiesel). Dessa forma, este setor da
cadeia produtiva é responsável pela aquisição, armazenamento, transporte, controle e
distribuição do biodiesel até os postos revendedores (postos de combustíveis), que,
posteriormente, o comercializam com o consumidor final (DAL ZOT, 2006).
No Rio Grande do Sul, a distribuição é realizada pela PETROBRAS, que transporta o
B100 diretamente das usinas para a Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), localizada em
62

Canoas – RS, a qual possui exclusividade para realizar a mistura do biodiesel com o diesel.
Até o momento, a PETROBRAS tem adquirido a maior parte do biodiesel produzido no Rio
Grande do Sul, através dos leilões realizados pela ANP (GOLLO et al., 2010).
Com relação aos consumidores finais, estes são representados, principalmente, por
transportadoras rodoviárias, que usam ônibus e caminhões e por proprietários particulares de
veículos utilitários a diesel, como caminhonetes e vans. Ainda cabe destacar que as principais
indústrias de caminhões e ônibus estabelecidas no país estão em pleno desenvolvimento de
seus motores para adaptá-los ao biodiesel, estando em estágio avançado para o uso do B20.
Inclusive já existem testes, até para o B100, como no caso da Mercedes Bens e da Scania
(GOLLO et al., 2010).

3.3.4 Matéria-Prima do Biodiesel

Atualmente, o biodiesel pode ser produzido a partir de uma grande variedade de


matérias-primas, as quais devem ser compostas, na maior parte de sua estrutura química, por
triglicerídeos de ácidos graxos. Estas substâncias são os constituintes principais dos óleos
vegetais, gorduras animais e residuais (KNOTHE et al., 2005).
As fontes de óleos vegetais são diversas, pois variam conforme as espécies das plantas
oleaginosas cultivadas. Entre estas, as mais conhecidas são: a soja, a mamona, o algodão, o
girassol, o dendê, a canola, o amendoim e o pinhão-manso. Outras oleaginosas que possuem
bom potencial de rendimento são o babaçu, a macaúba e o abacate, porém ainda não há
domínio tecnológico para aproveitá-las (GOES et al., 2010).
O Brasil, com mais de 90 milhões de hectares de terras próprias para a expansão do
cultivo de oleaginosas de maneira sustentável, desponta como o país com maior potencial
para liderar a produção mundial de biodiesel. Além disso, por possuir um território que
abrange variados meios climáticos e tipos de solos, diversas variedades de oleaginosas podem
ser cultivadas no país (PERES e BELTRÃO, 2006). No entanto, deve ser observado que cada
espécie, dependendo da região em que é cultivada, apresenta grande variação na
produtividade e na fração de óleo da amêndoa ou grão, como mostra a Tabela 3.4.
Por esse motivo, o governo brasileiro, através de estudos coordenados pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), está concentrando esforços para ajustar a
produção de biodiesel no país, com a utilização das oleaginosas mais adaptadas a cada região,
objetivando, desse modo, promover o desenvolvimento socioeconômico e garantir, com
máxima eficiência, a oferta de matéria-prima (NAE, 2004; PERES e BELTRÃO, 2006). A
63

Figura 3.19 mostra as principais oleaginosas consideradas, até o momento, com potencial de
produção mais promissor nas diferentes regiões brasileiras.

Tabela 3.4 – Características gerais das principais culturas oleaginosas com potencial de uso na
produção de biodiesel dentro do território brasileiro.
Produtividade Conteúdo de Meses de Regiões Rendimento de
Espécie
(ton./ha) Óleo (%) Colheita Produtoras Óleo (ton./ha)

Dendê
15 - 25 26 12 BA, PA 3,0 - 6,0
(Palma)

Pinhão Manso 2 - 12 50 - 52 12 Nordeste e MG 1,0 - 6,0

GO, MS, SP,


Girassol 1,5 - 2 38 - 58 03 0,5 - 1,5
RS, PR

Mamona 0,5 - 1,5 43 - 45 03 Nordeste 0,5 - 1,0

Canola
1-2 40 - 48 03 PR, SC, RS 0,5 - 0,9
(Colza)

MT, PR, RS, GO,


Soja 2-3 18 03 0,2 - 0,6
MS, MG, SP

MT, GO, MS,


Algodão 1 - 1,5 15 03 0,1 - 0,2
BA, MA
Fonte: adaptado de NAE, 2004 e SEBRAE, 2007.

Figura 3.19 – Mapa de distribuição, por estado brasileiro, das principais oleaginosas com
potencial de utilização na produção de biodiesel.
(Fonte: SEBRAE, 2007).
64

Apesar da potencialidade das diversas oleaginosas, a soja, que apresenta um dos


menores teores e rendimentos de óleo, é, de longe, a matéria-prima mais utilizada para a
produção de biodiesel no Brasil. Segundo dados da ANP, atualmente o óleo de soja é
responsável por mais de 77% da produção nacional, seguido pela gordura animal (16%) e o
óleo de algodão (3,6%), como pode ser visto no gráfico da Figura 3.20 (ANP, 2012b). O
motivo para tal disparidade é que, nestes primeiros anos de implementação do PNPB, a única
matéria-prima que possui viabilidade para dar suporte à demanda de biodiesel é a soja, pois
esta já possui uma cadeia produtiva altamente organizada, com uma estrutura de produção e
distribuição consolidada, e uma situação econômica estável (GOLLO et al., 2010).

Figura 3.20 – Perfil de contribuição das matérias-primas utilizadas para a produção de


biodiesel no Brasil.
(Fonte: ANP, 2012b).

3.3.4.1 Soja

A soja (Glycine max) é uma planta herbácea, pertencente à família das leguminosas,
que tem por característica ser muito rica em substâncias proteicas e graxas. O óleo contido na
soja, com proporção média de 18%, é rico em ácidos graxos insaturados, contendo em maior
proporção o ácido linoleico (MACIEL et al., 2005).
A produção do grão de soja tem diversas finalidades, pois dá origem a produtos e
subprodutos muito usados pela agroindústria, indústria química e de alimentos. O farelo (ou a
torta), obtido na fase de esmagamento, é o principal produto, sendo muito utilizado na
confecção de ração para alimentação animal. Na alimentação humana, a proteína de soja é a
base de muitos produtos de padaria, massas, cereais, bebidas, etc., além de ser muito usada na
65

indústria de nutrientes e adesivos, adubos, fabricação de fibras, entre outros. Os subprodutos


do processo é o óleo bruto, de onde são produzidos o óleo refinado, usado em produtos
farmacêuticos e medicinais, margarinas, temperos, gordura vegetal e, mais recentemente, na
produção de biodiesel, e a lecitina de soja, muito utilizada na fabricação de salsichas,
maioneses, achocolatados, etc. (EMBRAPA, 2011).
Devido à sua grande versatilidade, atualmente, a soja é uma das principais
commodities do mundo, sendo o quarto grão mais produzido, atrás apenas do milho, do trigo
e do arroz, o que a torna a oleaginosa mais cultivada. Quanto aos países produtores, segundo
dados da safra de 2010/2011, o EUA está em primeiro lugar, representando 34% (90,6
milhões de toneladas) da produção total, seguido pelo Brasil e Argentina, com 28,5% (75,5
milhões de toneladas) e 18,5% (49 milhões de toneladas), respectivamente. Isso significa que
cerca de 81% da produção mundial está concentrada em apenas três países (FOREIGN
AGRICULTURAL SERVICE, 2012).
Com uma área de cultivo de, aproximadamente, 24 milhões de hectares, na safra de
2010/11, a soja é a cultura mais importante do agronegócio brasileiro e também a que possuiu
maior crescimento de produção nas últimas três décadas. Além disso, com um aumento médio
anual na ordem de 3% de área plantada, como ocorreu entre as safras de 2010/11 e 2011/12, a
soja apresenta crescimento estável no cenário agrícola, sustentando previsões positivas de
forma segura para os próximos anos (CONAB, 2012).
Desse modo, essa situação também acaba se refletindo na participação da soja no setor
agroindustrial, onde, por exemplo, é responsável por 73% da disponibilidade de óleo vegetal
(ABIOVE, 2011). Por esse motivo, mesmo que boa parte dos grãos produzidos seja destinada
à exportação e que a finalidade principal dos cultivares plantados, atualmente, seja a obtenção
de proteína para a indústria alimentícia, a soja será, por muito tempo, a base da produção
brasileira de biodiesel (NAE, 2005; PERES e BELTRÃO, 2006).
Especificamente no Rio Grande do Sul, a soja também é a cultura que detém a maior
área de plantio, com cerca de 4 milhões de hectares na safra de 2010/2011, o que representa,
entre os estados, a terceira maior área empregada para essa cultura no Brasil, com 17% do
total. Quanto à produção do grão, também ocupa a terceira posição, com mais de 11 milhões
de toneladas e 15,5% do total produzido no país, ficando atrás apenas do Mato Grosso e
Paraná (CONAB, 2012). Entre as regiões produtoras do Rio Grande do Sul, merecem
destaque os municípios de Tupanciretã, Cruz Alta, Palmeira das Missões, Santa Bárbara do
Sul e Júlio de Castilhos, os quais produziram mais de 100.000 toneladas cada um, no período
de 2004 a 2006, e juntos representam 14% da produção estadual (IBGE, 2009; 2011). O mapa
da Figura 3.21 destaca as regiões com maior produção.
66

Figura 3.21 – Produção de soja no Rio Grande do Sul, por município, na média de 2004 a
2006.
(Fonte: RIO GRANDE DO SUL, 2008b).

No entanto, apesar destes valores expressivos, no quesito produtividade, o Rio Grande


do Sul apresenta uma das piores médias do país, com rendimento de 1.794 kg/ha, no período
entre 1990 e 2009, representando um valor bem menor que a média nacional, de 2.337 kg/ha
(IBGE, 2009). Segundo informações da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul (2006),
esta baixa produtividade da soja no Rio Grande do Sul é devido, principalmente, à frequência
e à intensidade das chuvas que, no período de desenvolvimento da cultura (outubro a março),
muitas vezes não são suficientes para que as plantas da soja manifestem todo seu potencial
produtivo. Isso também explica a variabilidade na produtividade das safras, as quais são
significativamente maiores nos anos em que ocorrem precipitações abundantes, causadas pelo
fenômeno climático denominado “El Niño”, e, por outro lado, são menores nos períodos do
fenômeno “La Ninã”, que possui efeito contrário ao primeiro.
A principal causa disso é que a água, constituindo 90% do peso da planta, é essencial
ao desenvolvimento da planta, onde atua em praticamente todos os processos fisiológicos e
bioquímicos, desempenhando a função de solvente para o transporte de gases e minerais nas
células e na manutenção e distribuição do calor. Dessa forma, a necessidade de água é
crescente durante o desenvolvimento da soja, começando na fase de germinação-emergência e
atingindo o pico na fase de floração-enchimento de grãos (de 7 a 8 mm/dia). Nesta fase, a
ocorrência de déficits hídricos expressivos pode provocar alterações fisiológicas na planta,
como o fechamento dos estômatos e o enrolamento das folhas, o que causa a queda prematura
67

das mesmas e o abortamento das vagens, resultando, por fim, na redução do rendimento dos
grãos. Estima-se que, para uma produtividade considerável, a necessidade total de água para a
cultura da soja varia entre 450 a 800 mm/ciclo, dependendo das condições climáticas, do
manejo da cultura e da duração do ciclo (EMBRAPA, 2008).
Diversos estudos já determinaram que a deficiência hídrica, dentre os componentes
limitantes ao desenvolvimento das culturas de soja no Rio Grande do Sul, é o principal fator
responsável pela diminuição da produtividade (CUNHA et al., 2001; CUNHA e
BERGAMASCHI, 1992; MATZENAUER et al., 2002). Estima-se que 93% das perdas nas
safras de soja ocorram em razão das estiagens (BERLATO e FONTANA, 2003). Também foi
constatado que a probabilidade da precipitação pluvial alcançar as necessidades hídricas
ótimas da cultura é muito baixa, especialmente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro,
inclusive no norte do Estado, onde se concentra a produção de soja (ÁVILA et al., 1996).
68

4 ESTUDO DE CASO

Neste estudo de caso, visando atingir os objetivos inicialmente propostos, foram


aplicadas as metodologias da Pegada Hídrica e da ACV, com enfoque apenas no uso da água
que ocorre na cadeia produtiva do biodiesel de soja, utilizando-se, como modelo, uma
empresa com unidades industriais situadas no Rio Grande do Sul. Para tanto, a Pegada
Hídrica foi desenvolvida seguindo a estrutura recomendada pela organização Water Footprint
Network (WFN), descrita na publicação The Water Footprint Assessment Manual
(HOEKSTRA et al., 2011). Com relação à ACV, esta foi conduzida até a fase inventário,
conforme a estrutura e as determinações das normas NBR ISO 14040 (ABNT, 2009a) e NBR
ISO 14044 (ABNT, 2009b). A partir disso, o presente capítulo apresenta as informações deste
estudo na seguinte ordem: DEFINIÇÕES GERAIS, onde são apresentadas as definições
iniciais obrigatórias a ambas metodologias; INVENTÁRIO DE MATERIAIS, no qual será
realizada a apresentação de todos os dados brutos que foram coletados para a aplicação das
ferramentas; PEGADA HÍDRICA, onde são mostrados e discutidos os resultados da aplicação
da Pegada Hídrica; INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA DO USO DA ÁGUA, no qual são
apresentados e discutidos os resultados do inventário produzido; e PEGADA HÍDRICA x
ICV DO USO DA ÁGUA, onde é discutida a aplicabilidade, as limitações e as diferenças
entre as metodologias empregadas, relacionando com os resultados anteriormente obtidos.

4.1 DEFINIÇÕES GERAIS

Neste subcapítulo, serão apresentados, conforme determinam as normas e publicações


consultadas, os objetivos da aplicação das metodologias e os diversos itens que integram o
escopo do estudo, incluindo a unidade funcional e o fluxo de referência, o sistema de produto
e suas fronteiras, os critérios de alocação, as características específicas da aplicação da Pegada
Hídrica e da ACV, os requisitos de qualidade dos dados coletados e as suposições realizadas.

4.1.1 Objetivos

As metodologias da Pegada Hídrica e da ACV foram empregadas com o objetivo de


quantificar o uso da água no ciclo de vida do biodiesel de soja. Através disso, este estudo
pretende fornecer dados que possam contribuir com a avaliação da sustentabilidade do uso
deste biocombustível e discutir sobre a aplicabilidade, as diferenças e as limitações destas
69

técnicas. Além disso, também possui o intuito de fornecer um modelo de inventário do uso da
água, considerando que a abordagem deste aspecto, em métodos que avaliam o ciclo de vida
de produtos e serviços, é relativamente nova, principalmente no Brasil. Dessa forma, a
principal razão para o desenvolvimento deste trabalho é a necessidade, cada vez maior, de se
conhecer e incluir de forma consistente a questão do consumo e da poluição hídrica dentro de
estudos de avaliação ambiental de produtos e serviços.

4.1.2 Unidade funcional e fluxo de referência

Neste estudo, ao invés de utilizar como unidade funcional a energia fornecida pelo
produto, como ocorre na maioria dos trabalhos sobre combustíveis, considerou-se mais
prático e representativo adotar a produção de 1 litro de biodiesel de soja, que é equivalente a
0,875 kg, segundo a densidade média estabelecida pela Resolução ANP n.º 14/2012 (ANP,
2012c). Ainda cabe ressaltar que esta escolha foi baseada no fato de que a unidade básica de
comercialização do biodiesel, através dos leilões realizados pela ANP, é volumétrica.

4.1.3 Sistema de produto e delimitação das fronteiras

A partir das informações coletadas na revisão bibliográfica, foi possível verificar que o
ciclo de vida do biodiesel de soja é composto, basicamente, por cinco etapas principais, que
são: o cultivo da soja, a extração e degomagem do óleo, a fabricação do biodiesel, a mistura e
distribuição do produto final e a revenda aos consumidores. No entanto, como o foco do
estudo é apenas o uso da água, que ocorre através do consumo e da poluição hídrica, foi
decidido por aplicar as metodologias mencionadas através de uma abordagem conhecida
como “do berço ao portão” (em inglês, “cradle to gate”), ou seja, do início da cadeia
produtiva até a saída do produto final pelo portão da fábrica. Dessa forma, foram incluídas
apenas as etapas do ciclo de vida referentes ao cultivo e produção das matérias-primas e
insumos e à fabricação do produto principal, não sendo consideradas as etapas de distribuição
e uso final. O fluxograma da Figura 4.1 apresenta a delimitação geral do sistema de produto.
Dentro das condições gerais de execução deste estudo (disponibilidade de tempo,
equipamentos, custos, etc.) e com a finalidade de representar, da forma mais próxima
possível, a situação real do ciclo de vida do biodiesel de soja, foi adotado como modelo do
sistema de produto a cadeia produtiva de uma empresa instalada nos municípios de Santa
Rosa e Ijuí – RS, cujo nome não será identificado. Esta empresa, além de estar consolidada há
40 anos no mercado de óleos vegetais refinados, encontra-se em ampla expansão na produção
de biodiesel, possuindo, atualmente, uma das maiores usinas do Brasil e, recentemente,
70

adquirindo a produção de outra grande indústria deste setor, localizada no município de


Rosário do Sul - RS.

Cultivo da soja

Grãos
de soja

Extração e
Fronteira
degomagem do
do sistema
óleo de soja

Óleo
degomado

Fabricação do
biodiesel

Biodiesel
100%

Mistura com o
diesel comum e
distribuição

Biodiesel
5%

Revenda e
consumo final

Figura 4.1 – Fluxograma da cadeia produtiva do biodiesel de soja, com indicação da fronteira
do sistema de produto considerado no presente estudo.

Dessa forma, a fronteira geográfica deste estudo foi definida conforme a localização
da produção dos materiais que participam do ciclo de vida do biodiesel produzido por essa
empresa, como será mostrado mais adiante. Com relação à fronteira tecnológica, esta foi
delimitada, quando especificado, pelas tecnologias ou sistema produtivo empregado pelos
produtores rurais e empresas envolvidas; nos casos contrários, foram consideradas as
tecnologias mais difundidas e utilizadas no Brasil ou no mundo. Por fim, com relação à
fronteira temporal, apesar de não haver restrição inicial quanto ao período dos dados,
procurou-se por informações que representassem a atualidade, da forma mais próxima
possível.
Com o intuito de apresentar de forma mais clara as características de cada fase do
ciclo de vida em estudo, o sistema de produto foi dividido em três subsistemas: fase agrícola,
fase de produção do óleo degomado e fase de fabricação do biodiesel.
71

4.1.3.1 Subsistema da fase agrícola

O subsistema da fase agrícola abrange a primeira etapa do ciclo de vida do biodiesel


de soja, ou seja, a produção de grãos nas plantações, sendo que grande parte dessa matéria-
prima é proveniente da agricultura familiar. Como não há um local bem determinado, adotou-
se, como modelo para este estudo, as lavouras dos produtores de soja do município de Santa
Rosa – RS, devido à proximidade com relação à planta industrial de extração do óleo
(localizada no mesmo município) e por esta região ser uma das maiores produtoras de soja do
Rio Grande do Sul (IBGE, 2011).
Nesta fase de cultivo, os procedimentos empregados podem variar consideravelmente,
dependendo de diversos fatores, como, por exemplo, as condições climáticas, as tecnologias
disponíveis, a presença de praga e doenças na cultura, etc. No entanto, de acordo com
informações obtidas através de entrevistas com agricultores locais e com funcionários do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Rosa, foi possível determinar um procedimento
geral, comumente empregado na região, que será utilizado neste estudo.
Dessa forma, o sistema de cultivo da soja considerado foi o plantio direto, sem
utilização da irrigação e com aproveitamento dos restos do cultivo anterior como cobertura
verde. De modo geral, as atividades agrícolas podem ser divididas, basicamente, em quatro
etapas: preparo do solo, plantio das sementes, trato da cultura e colheita dos grãos. Na
primeira etapa, o solo é preparado através das operações de calagem, para correção de acidez
(procedimento realizado uma vez a cada três anos, em média), e de dessecação (eliminação
das ervas daninhas através da aplicação de um herbicida não seletivo), utilizando como
equipamento um distribuidor de calcário e um pulverizador, acoplados a um trator. Depois
disso, na fase de plantio, as sementes são previamente tratadas com um pesticida e, em
seguida, é feita a semeadura da soja, em conjunto com a fertilização, através de máquinas
plantadeiras tracionadas por um trator. Ainda nesta etapa, com o uso de pulverizador, também
é realizada a aplicação de um herbicida seletivo de pré-emergência. Após a semeadura, o
desenvolvimento da soja é acompanhado pela aplicação de defensivos, que variam de acordo
com o surgimento de doenças, pragas e ervas daninhas. Nesse caso, foi considerada uma
aplicação de fungicida, duas de inseticida e uma de herbicida de pós-emergência. Por fim, na
última etapa, utiliza-se uma colheitadeira para efetuar o recolhimento dos grãos, deixando os
restos da cultura no próprio solo para o próximo cultivo, conforme determina a prática do
plantio direto.
Para determinar quais os produtos e insumos utilizados no cultivo da soja, foi feito um
cruzamento das informações coletadas nas entrevistas mencionadas anteriormente, com as
72

obtidas na literatura especializada, de acordo com a Tabela 4.1, mostrada mais abaixo. Assim,
por exemplo, na seleção dos defensivos agrícolas, foram considerados aqueles mais citados
pelos produtores rurais, levando em conta o tipo, a função e as recomendações técnicas
descritas na publicação Indicações Técnicas para Cultura da Soja no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina 2009/2010 (REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL, 2009).
Quanto aos fertilizantes, as substâncias foram escolhidas com base na quantidade produzida e
no mercado brasileiro. Ainda neste aspecto, deve ser observado que, apesar das indicações
técnicas não recomendarem a aplicação do nitrogênio devido à capacidade da soja em fixá-lo
naturalmente, este nutriente foi incluído no estudo, pois se considerou que esta prática
representa melhor a realidade do local, uma vez que todos os agricultores relataram o uso do
fertilizante composto NPK com a presença do nitrogênio, resultando em uma proporção
média de 2:20:20.
Ainda dentro do subsistema da fase agrícola, também foram considerados os processos
de produção dos insumos envolvidos, incluindo o consumo de combustível no transporte
destes até as plantações. No entanto, cabe salientar que não foi contabilizada a produção de
bens de capital, como máquinas, equipamentos e infraestrutura, nem o trabalho humano,
devido ao elevado grau de incerteza relacionado a esses aspectos. Com isso, os processos
envolvidos ficaram delimitados, de acordo com a Tabela 4.2.
Diante destas definições, o subsistema da fase agrícola é apresentado na Figura 4.2.

Produção de Produção de Defensivos


Fertilizante TR Roundup original
Nitrogenado Spider
TR
Standak top
Opera
Produção de Unidade Certero
Fertilizante TR Misturadora TR Talcord
Fosfatado Composto NPK Pivot

Produção de
Fertilizante TR
Potássico
Produção de
CULTIVO DA SOJA Óleo Diesel
Preparo do solo
Produção de TR Semeadura
Calcário
Trato da cultura Produção de
Colheita dos grãos TR Sementes de
Soja
TR – etapa de transporte
Grãos de soja

Figura 4.2 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase agrícola.


73

Tabela 4.1 – Produtos e substâncias utilizadas na fase de cultivo da soja, por etapa, com
indicação da fonte de pesquisa e/ou da justificativa.
Etapa Insumo Produto Justificativa/Fonte

Entrevistas + Indicações
Corretivo do solo Calcário dolomítico
técnicas*
Preparo do
solo
Herbicida Roundup Original Entrevistas + Indicações
(dessecação) (i.a. glifosato) técnicas*

Geneticamente modificadas
Sementes Entrevistas
(Roundup Ready)

Fertilizante
NPK 2:20:20 Entrevistas
(composto)

Fert. nitrogenado com maior


Nitrogênio Ureia consumo no Brasil
(BRASIL, 2011b)
Fert. fosfatado com maior
Plantio das
Fósforo Superfosfato simples (SSP) consumo no Brasil
sementes
(BRASIL, 2011b)
Fert. potássico com maior
Potássio Cloreto de potássio (KCl) consumo no Brasil
(BRASIL, 2011b)

Herbicida Spider 840 WG Entrevistas + Indicações


(pré-emergência) (i.a. diclosulam) técnicas*

Fungicida/Inseticida Standak Top


Entrevistas + Indicações
(tratamento de (i.a. fipronil + piraclostrobina +
técnicas*
sementes) tiofanato-metílico)
Opera
Entrevistas + Indicações
Fungicida (i.a. epoxiconazol +
técnicas*
piraclostrobina)

Certero Entrevistas + Indicações


Inseticida
(i.a. triflumurom) técnicas*
Trato do
cultivo
Talcord 250 Entrevistas + Indicações
Inseticida
(i.a. permetrina) técnicas*

Pivot Entrevistas + Indicações


Herbicida
(i.a. imazetapir) técnicas*

Combustível (trator,
Todas as
plantadeira, Óleo diesel Entrevistas
etapas
colheitadeira, etc.)
*Fonte: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL, 2009.
74

Tabela 4.2 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema da
fase agrícola.
Tecnologia de Tipo de
Insumos Fonte Localização
produção transporte

Extração,
Calcário Caçapava do Sul –
Diversas trituração e Rodoviário
dolomítico RS(a)
peneiramento

Roundup Monsanto do São José dos


Não disponível Rodoviário
Original Brasil Campos - SP

Cultivo de soja
Sementes Diversas geneticamente RS Rodoviário
modificada

Mistura dos
Fertilizante Rio Grande –
Diversas componentes Rodoviário
composto NPK RS(b)
Ureia, SSP e KCl

A partir da amônia
Ureia Diversas e do dióxido de Rússia(c) Marítimo
carbono

Reação do ácido
SSP Vale Fertilizantes(d) sulfúrico com a Cubatão - SP Rodoviário
rocha fosfática

Mineração e
KCl Diversas beneficiamento da Rússia(e) Marítimo
silvinita

Dow Agrosciences Franco da Rocha -


Spider 840 WG Não disponível Rodoviário
Industrial SP

Standak Top,
Guaratinguetá -
Opera, Talcord Basf Não disponível Rodoviário
SP
250 e Pivot

Certero Bayer Não disponível Belford Roxo - RJ Rodoviário

Óleo diesel Petrobrás Refino do petróleo Brasil -

(a) Principal região produtora do Rio Grande do Sul (SINDICALC, 2012).


(b) Região do Rio Grande do Sul que, devido à facilidade de acesso dos materiais pelo porto, concentra o maior
número de unidades misturadoras.
(c) De acordo com Brasil (2011b), 73% da ureia consumida no Brasil é importada, sendo a maior parte
proveniente da Rússia.
(d) Empresa responsável por 45% do mercado interno de SSP (VALE FERTILIZANTES, 2011).
(e) Conforme Brasil (2011b), 90% do cloreto de potássio consumido no Brasil é importado, sendo que a Rússia é
um dos principais exportadores.
75

4.1.3.2 Subsistema da fase de produção do óleo degomado

Depois da fase agrícola, os grãos de soja produzidos são transportados por meio
rodoviário até a unidade industrial responsável pela extração e degomagem do óleo, que fica
localizada no município de Santa Rosa – RS. Nesta fase, segundo informações coletadas em
visita à empresa, a transformação dos grãos de soja em óleo degomado é realizada por uma
série de processos, como mostra o fluxograma da Figura 4.3, mais abaixo. Os primeiros
procedimentos realizados são o recebimento, a pré-limpeza, a secagem e o armazenamento
dos grãos de soja. Depois disso, os mesmos passam por um processo de preparação, onde são
quebrados, descascados, cozidos, laminados e expandidos (formação de uma massa porosa).
Então, na próxima etapa, ocorre o processo de extração, através do uso de um solvente
orgânico, resultando na formação do farelo e do óleo, ambos contaminados pelo solvente. A
partir da extração, o farelo é encaminhado aos processos de dessolventização (recuperação do
solvente) e tostagem, para que possa ser posteriormente armazenado e comercializado.
Quanto ao óleo bruto, este é primeiramente submetido ao processo de destilação para a
separação do solvente. Logo após, é realizada a degomagem, onde se adiciona água, sob
agitação constante, ao óleo previamente aquecido, para que ocorra a remoção de substâncias
coloidais, proteínas e fosfatídeos, que formam a chamada “goma”, da qual ainda pode ser
obtido o produto comercial conhecido como lecitina de soja.
Além dos processos principais, também foram incluídos os de segundo plano, como a
geração de vapor nas caldeiras e o sistema de refrigeração. Outro processo que merece
destaque é o de reutilização de efluentes líquidos, chamado de “efluente zero”, o qual consiste
basicamente em um sistema evaporador, para onde são encaminhados todos os efluentes
gerados, transformando-os em vapor de baixa pressão, que é aproveitado no processo
principal.
Diante disso, os principais insumos utilizados neste subsistema são: energia elétrica;
biomassa, utilizada como combustível para a geração de vapor nas caldeiras (cascas dos grãos
de soja e lenha); água e o hexano, como solvente orgânico. Da mesma forma que no
subsistema da fase agrícola, a produção destes insumos e o combustível consumido no
transporte também foram considerados, sendo excluídos, apenas, os bens de capital e o
trabalho humano. A Tabela 4.3 apresenta as características relacionadas à fonte e o transporte
destes materiais, segundo informações repassadas pela empresa considerada neste estudo.
76

Grãos de soja

Recebimento
Pré-limpeza
Secagem
Armazenagem

Quebra do grão Caldeiras


Cascas
Descascagem (geração de vapor)

Grãos descascados

Pré-aquecimento
Laminação
Expansão
Resfriamento

Farelo + Solvente Extração Óleo + Solvente

Dessolventização Solvente Solvente Destilação

Farelo Óleo bruto

Tostagem Secagem
Concentração Goma Degomagem Água
Estocagem
Lecitina de Soja Óleo degomado

Secagem
Estocagem Estocagem

Figura 4.3 – Fluxograma do processo industrial de fabricação do óleo degomado.

Tabela 4.3 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema da
fase de produção do óleo degomado.
Tecnologia de Tipo de
Insumo Fonte Localização
produção transporte

Energia elétrica Rede pública Matriz brasileira Brasil -


Cultivo de pinus e
Biomassa (lenha) Diversificada RS Rodoviário
eucaliptus
Água Subterrânea - Santa Rosa - RS -

Hexano Braskem Refino do petróleo Triunfo - RS Rodoviário

Óleo diesel Petrobrás Refino do petróleo Brasil n.c.


n.c. - não foi contabilizado neste estudo.
77

O subsistema resultante da fase de extração do óleo degomado é apresentado na Figura


4.4.

Produção dos
Grãos de Soja

TR

TR
Produção de
Biomassa
Produção de PRODUÇÃO DO ÓLEO DEGOMADO
Energia Extração e degomagem
Elétrica do óleo bruto
TR
Produção do
Hexano

TR – etapa de transporte

Lecitina Óleo degomado Farelo Cascas

Figura 4.4 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase de produção do óleo
degomado.

4.1.3.3 Subsistema da fase de fabricação do biodiesel

Nesta fase do ciclo de vida avaliado, o óleo degomado de soja é encaminhado, através
de transporte rodoviário, para outra unidade industrial da mesma empresa, localizada no
município de Ijuí – RS, onde é transformado em biodiesel. De acordo com informações
coletadas em visita ao local, o processo de fabricação consiste, basicamente, em três etapas
principais: o pré-tratamento do óleo degomado, a transesterificação e a purificação do
biodiesel e da glicerina.
De acordo com o fluxograma mostrado na Figura 4.5, na etapa inicial de pré-
tratamento do óleo degomado, são realizados os processos de neutralização e desacidificação,
visando eliminar os ácidos graxos livres e outras impurezas, que diminuem o rendimento da
reação de transesterificação. Na neutralização, ocorre a adição de ácido fosfórico e hidróxido
de sódio (solução aquosa) ao óleo previamente aquecido, para que ocorra a separação do
material conhecido como “borra” (mistura de sabões, ácidos graxos e outras substâncias).
Depois disso, na desacidificação, o óleo neutro resultante é submetido ao processo de
destilação, com o emprego de vácuo e vapor d’água, para que seja eliminado o restante de
78

ácidos graxos que ainda permanecem no mesmo. Ainda cabe salientar que os ácidos graxos
produzidos nesta etapa também podem ser purificados e posteriormente comercializados.

Óleo degomado

Ácido fosfórico

Hidróxido de sódio Neutralização Borra

Água
Óleo neutro

Purificação
Ácidos graxos Desacidificação
Estocagem

Óleo tratado

Metanol
Metilato de sódio
Transesterificação (catalizador)

Glicerol + Metanol + Biodiesel + Glicerol +


Impurezas Impurezas
Ácidos graxos
Glicerol + Destilação
Reação Ácida Impurezas Lavagem Água
Ácido clorídrico
Impurezas
Neutralização Hidróxido de
Metanol
Destilação sódio Biodiesel
Glicerina bruta
Estocagem
Estocagem

Figura 4.5 – Fluxograma do processo industrial de fabricação do biodiesel.

Após a obtenção do óleo tratado, este é encaminhado ao processo de


transesterificação, onde é feita a reação com o metilato de sódio (catalisador) e o metanol,
formando o biodiesel e a glicerina. No entanto, para que as características do biodiesel
estejam de acordo com a regulamentação da ANP e, desse modo, possa ser estocado para
posterior comercialização, ainda é preciso aplicar uma etapa de lavagem e destilação, para a
remoção de substâncias indesejáveis, compostas por parte do metanol não reagido, por uma
pequena quantidade de glicerina e outras impurezas. Com relação à glicerina formada como
subproduto, esta também deve ser tratada, para que possua algum valor comercial. Diante
disso, tanto a glicerina produzida no tanque de transesterificação, como a parte recuperada na
lavagem do biodiesel, são coletadas e submetidas aos processos de acidificação (aplicação de
ácido clorídrico) e destilação, produzindo assim um produto com 80% de concentração de
glicerol, conhecido como glicerina bruta ou loira. Nesta etapa de purificação da glicerina,
79

mais especificamente na destilação, também é feita a recuperação do metanol que não reagiu
na reação de transesterificação, objetivando sua reutilização no processo.
Ainda cabe relatar que, assim como na fase de extração do óleo degomado, neste
subsistema também foram considerados os processos de segundo plano, como a geração de
vapor nas caldeiras e o sistema de refrigeração, além do sistema “efluente zero”, que elimina
o lançamento de efluentes líquidos aos corpos hídricos, conforme descrito anteriormente.
Desse modo, foi identificado que os principais insumos envolvidos neste subsistema
são: biomassa para as caldeiras (lenha), energia elétrica, metanol, metilato de sódio, hidróxido
de sódio, ácido fosfórico, ácido clorídrico e água. A produção destes materiais e o
combustível consumido para o transporte até a usina também foram incluídos neste estudo,
ficando de fora, apenas, os bens de capital e o trabalho humano. De acordo com informações
da mesma empresa, as características da produção dos insumos foram identificadas conforme
mostra a Tabela 4.4.

Tabela 4.4 – Características gerais do ciclo de vida dos insumos envolvidos no subsistema da
fase de fabricação do biodiesel.
Tecnologia de Tipo de
Insumos Fonte Localização
produção transporte

Energia elétrica Rede pública Matriz brasileira Brasil -

Biomassa (lenha) Diversificada - RS Rodoviário

Água Subterrânea Poços Ijuí - RS -

Reforma a vapor do Punta Arenas - Marítimo


Metanol Methanex
gás natural Chile /Rodoviário

Metilato de sódio Reação do sódio


DuPont Pirapozinho - SP Rodoviário
30% metálico com metanol
Eletrólise da salmoura
Hidróxido de
Carbocloro pelo processo Cubatão - SP Rodoviário
sódio 50%
diafragma
Reação entre o ácido
Ácido Fosfórico
Fosbrasil sulfúrico e a rocha Cajati - SP Rodoviário
85%
fosfatada por via úmida
Ácido Clorídrico Reação entre cloro e
Carbocloro Cubatão - SP Rodoviário
32% hidrogênio

Óleo diesel Petrobrás Refino do petróleo Brasil n.c.

n.c. - não foi contabilizado neste estudo.


80

A partir destas definições, o subsistema resultante da fase de fabricação do biodiesel é


apresentado na Figura 4.6.

Produção do
Óleo
Degomado

Produção do
Produção do
Metilato de
Metanol
Sódio

TR
TR TR

Produção de
Hidróxido de TR
Sódio Produção de
TR
Biomassa
Produção de FABRICAÇÃO DO BIODIESEL
Ácido TR Neutralização do óleo degomado
Clorídrico Reação de transesterificação Produção de
Energia
Produção de Elétrica
TR
Ácido Fosfórico
Ácidos Graxos Biodiesel Glicerina Bruta

TR – etapa de transporte

Figura 4.6 – Fluxograma das etapas incluídas no subsistema da fase de fabricação do


biodiesel.

4.1.4 Critérios de alocação

De acordo com a descrição da cadeia produtiva do biodiesel, realizada anteriormente,


foi possível identificar a produção de outros materiais que são comercializados e que, por esse
motivo, também são responsáveis por parte da carga ambiental. Essa distribuição (alocação)
deve ser realizada de forma proporcional, conforme algum critério de valorização destes
subprodutos. Neste estudo, o critério de alocação empregado foi o de massa em conjunto com
o valor de mercado.
Dentre os três subsistemas analisados, apenas a fase agrícola não necessitou de
alocação, uma vez que, depois de colhidos os grãos da soja, sobram apenas restos de matéria
vegetal, que permanecem no campo como cobertura verde para a próxima cultura, sendo que
essa função não apresenta valor comercial mensurável até o momento.
No subsistema da fase de produção do óleo degomado, são produzidas, como
subprodutos, as cascas, a lecitina e o farelo de soja. As cascas são reaproveitadas na própria
81

planta industrial, como combustível para as caldeiras, enquanto que a lecitina e o farelo são
comercializados para outros segmentos industriais. Contudo, em uma avaliação preliminar,
utilizando os critérios estabelecidos anteriormente, foi verificado que a lecitina e a casca
contribuem com menos de 1% para a alocação deste subsistema e, por esse motivo, não foram
consideradas neste estudo.
Quanto ao subsistema da fase de fabricação do biodiesel, os subprodutos produzidos
são a glicerina bruta (80% de pureza) e o ácido graxo bruto de soja, sendo que ambos são
comercializados como matéria-prima para outros setores industriais. No entanto, o ácido
graxo não foi contabilizado, pois apresentou contribuição de alocação menor que 1% na
avaliação preliminar.
Além disso, ainda cabe observar que, dentro da cadeia produtiva de cada insumo,
também foram feitas alocações das cargas ambientais. No entanto, estes procedimentos foram
realizados pela própria fonte dos dados.

4.1.5 Procedimentos da Pegada Hídrica

Como mencionado anteriormente, a Pegada Hídrica foi calculada seguindo as


determinações da organização WFN, descritas na publicação de Hoekstra et al. (2011). Neste
contexto, o presente estudo se desenvolveu até a fase de contabilidade, não incluindo as fases
de avaliação da sustentabilidade e de formulação de resposta estratégica.
Dentro do escopo estabelecido, a Pegada Hídrica (PHbiodiesel, L) foi composta pelos três
componentes existentes, ou seja, a Água Verde (AVbiodiesel, L), Azul (AAbiodiesel, L) e Cinza
(ACbiodiesel, L), conforme Equação 4.1. A unidade adotada foi de litros de água, levando em
conta a unidade funcional previamente definida de 1 litro de biodiesel produzido. Além disso,
também foi especificada a origem da água extraída, sendo dividida em água superficial e
subterrânea. Diante disso, a seguir serão descritos os procedimentos realizados para a
quantificação dos resultados de cada componente.

(4.1)

4.1.5.1 Água Verde

A Água Verde (AV), conforme descrito na revisão bibliográfica, refere-se apenas ao


consumo de água da chuva armazenada no solo, que pode ocorrer através da
evapotranspiração das plantas. Neste estudo, apesar de estar presente em praticamente todos
82

os processos, devido sobretudo ao uso de biomassa como combustível de caldeiras, este


componente foi considerado somente nas etapas em que seu uso ocorre de forma direta, ou
seja, no cultivo da soja e na produção de lenha usada na fabricação do óleo degomado e do
biodiesel. Isso porque, após realizar uma avaliação preliminar, foi verificado que a
contribuição dos valores encontrados para o restante das etapas (considerando o uso de
biomassa fornecida pela fonte dos dados) era menor que 0,1% do valor final da AVbiodiesel. Por
este mesmo critério, também foi excluído o volume de água que fica incorporado ao produto.
Diante disso, a AVbiodiesel foi determinada pela quantidade total de água da chuva
evapotranspirada durante o desenvolvimento das culturas, envolvidas na cadeia produtiva do
biodiesel. No entanto, de acordo com a relevância apresentada dentro do ciclo de vida
estudado e com a disponibilidade de dados, estes valores foram determinados de diferentes
maneiras.
Na produção de lenha, para o cálculo da Água Verde (AVlenha, L) foram pesquisados na
literatura especializada os valores médios anuais, encontrados para o Rio Grande do Sul, do
volume de evapotranspiração real (ETr, mm/ano) e da produtividade (Prodlenha, m³/ha.ano)
dos cultivos de Pinus e Eucaliptus. Depois disso, estes dados foram relacionados com as
quantidades de lenha (Qlenha, m³) empregadas no ciclo de vida, de acordo com a Equação 4.2
abaixo, onde a multiplicação da evapotranspiração pelo fator 10.000 se faz necessário para
converter a unidade volumétrica de milímetros por ano (mm/ano) para litros por hectare por
ano (L/ha.ano).

( )
( . )

Com relação à estimativa da Água Verde no cultivo da soja (AVsoja, L), esta foi
realizada através da simulação do consumo de água pela cultura, utilizando o software
CROPWAT v.8.0, desenvolvido pela FAO. Empregou-se esta metodologia pois, além de estar
amplamente difundida no mundo todo, é a mais empregada em estudos de Pegada Hídrica,
como, por exemplo, em Chapagain et al. (2006), Chapagain e Orr (2009), Gerbens-Leenes et
al. (2009a), Gerbens-Leenes e Hoekstra (2009), entre outros.
Entre as opções de simulação “crop water requirements” e “irrigation schedule”,
oferecidas pelo software, selecionou-se a segunda alternativa, uma vez que, conforme
Hoekstra et al. (2011), além de possibilitar a inclusão de cenários de irrigação, é a mais
precisa, pois calcula a ETr da cultura, através do balanço hídrico diário do solo para a zona
83

radicular. Dessa forma, foi necessário inserir os seguintes dados referentes às condições
ambientais da região das plantações e às características do cultivo da soja:
 Dados climáticos diários, necessários para a determinação da
evapotranspiração de referência (ET0) pela fórmula de Penman-Monteith:
temperatura média e diurna, umidade relativa do ar, velocidade do vento e
duração relativa da radiação solar.
 Precipitação total diária.
 Dados da cultura da soja: data de plantio, coeficientes de cultivo (Kc), duração
dos estágios de desenvolvimento, profundidade efetiva das raízes e fração
crítica de depleção (p).
 Dados do solo: tipo (classificação), capacidade de água disponível (CAD) e
taxa de infiltração máxima.
Após executar a simulação, os volumes diários de evapotranspiração real da soja
(ETrsoja, mm/dia), fornecidos pelo software, foram somados, abrangendo desde o primeiro dia
de plantio (d=1) até o último dia da colheita (fim), e transformados para a unidade de litros
por hectare (multiplicação pelo fator 10000), obtendo-se, assim, o volume de uso da Água
Verde por hectare de cultivo da soja (UAVsoja, L/ha) (Equação 4.3). Por fim, a AVsoja foi obtida
relacionando o resultado da UAVsoja com a produtividade da região (Prodsoja, kg/ha) e a
quantidade necessária de grãos de soja para a fabricação do biodiesel (Qsoja, kg), como mostra
a Equação 4.4.

∑ ( . )

( . )

4.1.5.2 Água Azul

O cálculo da Água Azul do biodiesel (AAbiodiesel, L) foi baseado na diferença entre o


volume de água que entra e sai de cada etapa do ciclo de vida, conforme Hoekstra et al.
(2011). Devido à variação da fonte dos dados, estas informações foram adquiridas de duas
diferentes maneiras.
No elo principal da cadeia produtiva, inicialmente foi feito o somatório da diferença
entre o volume diário de entrada de água (Vent, L/dia) e de saída de efluente (Vsai, L/dia) de
84

cada processo interno da empresa estudada. Depois disso, este valor foi relacionado à
produtividade diária da mesma (Prodemp, kg/dia) e à quantidade do produto utilizada no ciclo
de vida estudado (Qprod, kg), obtendo-se, assim, a Água Azul de cada etapa (AAetapa, L). A
Equação 4.5 resume estas operações.

∑( )
( . )

Nas etapas de produção de insumos, a fonte dos dados coletados forneceu os volumes
de entrada de água (Vent, L/unidade do produto) e de saída de efluente (Vsai, L/unidade do
produto) por unidade produzida. Dessa forma, conforme Equação 4.6, depois de fazer a
subtração dos volumes, foi preciso somente multiplicar pela quantidade do insumo (Qinsumo,
unidade do produto) utilizada no ciclo de vida.

( ) ( . )

Por fim, a AAbiodiesel resultou do somatório dos valores encontrados em todas as


AAetapa envolvidas no ciclo de vida (Equação 4.7).

∑ ( . )

Nota-se, ainda, que, de acordo com o sistema de produto anteriormente definido, a


Água Azul da fase agrícola não necessitou de procedimento de cálculo, pois a irrigação não é
aplicada ao cultivo da soja e, portanto, não há extração de água dos corpos hídricos. No
entanto, como uma contribuição adicional deste estudo, também foi realizada uma estimativa
da Pegada Hídrica simulando a aplicação da irrigação.
Neste contexto, para determinar a Água Azul do cultivo da soja (AAsoja, L), foi
necessário, primeiramente, calcular o volume total de Água Azul usada por hectare de cultivo
(UAAsoja, L/ha), através do somatório do consumo diário, pela cultura, da água que é extraída
para a irrigação (ETirrig, mm/dia) e da evaporação diária que ocorre no sistema de irrigação
(Esist, mm/dia), abrangendo todo o período de cultivo, conforme mostra a Equação 4.8, onde a
multiplicação pelo fator 10000 é usada na transformação para a unidade de litros por hectare.
Os valores de ETirrig, por sua vez, foram fornecidos pela simulação executada no software
CROPWAT, como foi descrito no item 4.1.5.1 Água Verde. Quanto aos valores de Esist, estes
foram obtidos através da relação entre o volume de água perdida no sistema de irrigação (Vp,
85

mm/dia) e a fração deste volume que é efetivamente consumida (evaporada) (fc,


adimensional), de acordo com a Equação 4.9.

∑( ) ( . )

( . )

Após a realização destes cálculos, o valor da AAsoja foi obtido relacionando o resultado
da UAAsoja com a produtividade do cultivo da soja considerada (Prodsoja, kg/ha) e a quantidade
de grãos de soja necessários à fabricação do biodiesel (Qsoja, kg), como mostra a Equação
4.10.

( . )

Dentro dos procedimentos relacionados à simulação do cenário de irrigação, ainda deve ser
observado que a diferenciação do uso de Água Azul e de Água Verde foi realizado assumindo,
primeiramente, que todo o volume da água de irrigação aplicada de forma efetiva é consumido pela
cultura, o que acaba determinando o valor de ETirrig. A partir disso, foi considerado como
consumo de Água Verde (água da chuva) todo o volume que faltou para atingir a necessidade
ótima do cultivo.

4.1.5.3 Água Cinza

De acordo com Hoekstra et al. (2011), o cálculo da Água Cinza foi realizado através
de dois modos diferentes: poluição difusa e poluição pontual. Na poluição difusa, foi
contabilizada apenas a etapa de cultivo da soja, uma vez que para o cultivo de biomassa com
fins energéticos não foi considerada o uso de fertilizantes e pesticidas.
A fórmula empregada para o cálculo do volume total de Água Cinza usada no cultivo
da soja (UACsoja, L/ha), mostrada na Equação 4.11, é igual a de todas as publicações
consultadas que calcularam este componente da Pegada Hídrica, dentre as quais estão a de
Chapagain et al. (2006), Aldaya e Hoekstra (2010), Gerbens-Leenes e Hoekstra (2012) e
Ercin et al. (2012), onde: CPx (mg/ha) é a carga do poluente x aplicada no processo ou etapa;
fp (adimensional) é a fração de perda do poluente x, por lixiviação e/ou escoamento
86

superficial; cmax (mg/L) é a concentração máxima permitida do poluente x no corpo hídrico


receptor, pela norma ou legislação vigente; e cnat (mg/L) é a concentração natural do poluente
x no corpo hídrico receptor, ou seja, sem intervenção antrópica.

( . )

Depois disso, para a obtenção do valor final da Água Cinza do cultivo da soja (ACsoja,
L), o resultado de UACsoja foi relacionado com a produtividade da região (Prodsoja, kg/ha) e a
quantidade de soja utilizada no ciclo de vida (Qsoja, kg), conforme Equação 4.12.

( . )

Com relação à Água Cinza das outras etapas (ACetapa, L), esta foi calculada pelo
método da poluição pontual, conforme Hoekstra et al. (2011). A Equação 4.13 mostra a
fórmula empregada, já incluindo a relação com a quantidade do produto ou insumo utilizada
no ciclo de vida (Qprod, unidade do produto), onde: Vefl e Vafl (L/unidade do produto) são os
volumes de efluente e de afluente (entrada de água) por unidade produzida; cefl e cafl (mg/L)
são as concentrações da substância no efluente e no afluente; cmax e cnat (mg/L) possuem a
mesma definição descrita anteriormente.

( ) ( )
( . )

Ainda cabe salientar que estes procedimentos foram aplicados separadamente a todas
as principais substâncias descartadas, em termos de quantidade ou relevância ambiental, nas
etapas que compõem o ciclo de vida do biodiesel. No cultivo da soja, por exemplo, foram
quantificados os valores da Água Cinza para o nitrogênio, o fósforo e os pesticidas. A partir
disso, o resultado final da Água Cinza, de cada etapa, foi definido pela substância que
apresentou o maior valor final, partindo do princípio que o volume de água necessária para
diluir o poluente crítico também servirá para os outros poluentes, conforme procedimento
adotado por Chapagain et al. (2006) e Ercin et al. (2012).
87

4.1.6 Procedimentos do ICV do uso da água

De acordo com os objetivos deste estudo, o inventário construído teve como enfoque
apenas os fluxos elementares relacionados ao uso da água. No entanto, conforme visto na
revisão bibliográfica, até o momento não há nenhum tipo de norma ou padronização que
determine, de maneira consistente, as informações sobre o uso da água que devem constar no
ICV. Diante disso, utilizou-se, como referência, as recomendações e a estrutura proposta na
publicação de Bayart et al. (2010) e o modelo desenvolvido no estudo de Boulay et al.
(2011a). Estas pesquisas expressam resultados recentemente alcançados pelo grupo de
trabalho da UNEP-SETAC Life Cycle Initiative, engajados no projeto intitulado “Avaliação
do uso e da depleção dos recursos hídricos dentro da estrutura de trabalho da ACV”
(tradução livre).
A partir das informações destes estudos, foi determinado que o ICV do biodiesel
gerado neste trabalho será dividido em duas formas de uso da água: o uso consuntivo e o uso
degradativo. A seguir serão descritos os procedimentos adotados para a quantificação de cada
tipo de uso da água.

4.1.6.1 Uso consuntivo

A metodologia adotada para a quantificação do uso consuntivo da água foi igual


àquela utilizada para a Água Azul da Pegada Hídrica, ou seja, foi realizado o balanço hídrico
de todas as etapas envolvidas no ciclo de vida estudado, contabilizando a diferença entre o
volume de água que entra (extração) e sai (efluente) de cada uma. Além disso, também foi
especificada a fonte da água extraída, sendo dividida em água superficial e água subterrânea.
Devido à ênfase dada ao elo principal da cadeia produtiva, os resultados alcançados,
nas etapas de produção do óleo degomado e de fabricação do biodiesel, foram apresentados
com maior detalhamento, através da quantificação do consumo de água que ocorre nos
principais processos industriais. Na etapa de cultivo da soja, não ocorreu uso consuntivo, pois,
conforme visto anteriormente, não há extração de água dos corpos hídricos para irrigação.
Quanto à simulação do cenário de irrigação, o uso consuntivo foi determinado pelo mesmo
valor encontrado para a Água Azul, conforme procedimentos descritos no item 4.1.5.2 Água
Azul.
88

4.1.6.2 Uso degradativo

Para expressar o uso degradativo da água, ou seja, a perda de funcionalidade da


mesma devido ao descarte de substâncias por um determinado processo ou atividade, foi
necessário classificar a água de entrada e de saída (efluente), de acordo com sua qualidade.
Portanto, para cada etapa do ciclo de vida, inicialmente foi preciso obter as características
qualitativas dos fluxos de água, por meio da identificação das concentrações das substâncias
presentes e de outros parâmetros.
Então, depois de conhecer o volume e a qualidade com que a água entra e sai do
processo, esta foi classificada nas categorias de funcionalidade definidas por Boulay et al.
(2011a). De forma resumida, esta classificação foi feita utilizando dezessete categorias de
qualidade da água, sendo: oito para água superficial, oito para água subterrânea e uma para a
água da chuva. Estas categorias, por sua vez, foram definidas com base nos requisitos de
qualidade da água necessários para o desempenho das funções de onze diferentes tipos de uso.
As Tabelas 4.5 e 4.6, mais abaixo, mostram, respectivamente, a descrição dos diferentes tipos
de uso da água e a relação resultante de funcionalidade entre as categorias formadas e os tipos
de uso da água.
Para caracterizar os requisitos qualitativos da água, os autores deste estudo se
basearam em diferentes referências, incluindo padrões da World Health Organization (WHO),
da FAO, da Comunidade Econômica Europeia (CEE), entre outros. Dessa forma, foram
selecionados 136 parâmetros, que incluem desde os mais comuns, como sólidos suspensos e
dissolvidos, dureza, pH, DBO e nitrogênio total, até os mais específicos, como pesticidas,
metais pesados e hidrocarbonetos. No entanto, conforme recomendação do mesmo estudo,
não foi necessário utilizar todos os parâmetros para classificar os fluxos de água, sendo
somente contabilizados os que apresentaram resultados mais críticos e, por esse motivo,
determinaram as categorias de classificação. Maiores detalhes sobre as faixas de concentração
dos parâmetros, os limites de cada categoria e as respectivas fontes de consulta são mostrados
no APÊNDICE A ou podem ser consultados na própria publicação de Boulay et al. (2011a).

4.1.7 Requisitos da coleta de dados

Em termos gerais, considerando a complexidade do ciclo de vida do biodiesel de soja


e as condições de execução do presente estudo, optou-se por dividir o procedimento de
obtenção dos dados em duas formas diferentes: (a) coleta de dados primários específicos para
as etapas que constituem o elo principal da cadeia produtiva do biodiesel, que são: o cultivo
89

da soja, a produção de óleo degomado e a fabricação do biodiesel; e (b) coleta de dados


secundários para a produção dos insumos, procurando sempre obter de fontes confiáveis e
reconhecidas pela comunidade científica, e também levando em conta as similaridades
tecnológicas, temporais e geográficas, da forma mais próxima possível com a realidade do
ciclo de vida estudado.

Tabela 4.5 – Definição dos tipos de uso da água considerados no uso degradativo.
Tipos de uso da água Definição

Uso doméstico sem necessidade de tratamento prévio ou com apenas uma


Doméstico I
desinfecção química simples.

Uso doméstico com necessidade de tratamento físico-químico


Doméstico II convencional (coagulação ou precipitação, remoção de sólidos e
desinfecção) ou outro tratamento equivalente.
Uso doméstico com necessidade de tratamento avançado (ex.: tratamento
convencional mais um tratamento adicional, como a desinfecção UV,
Doméstico III
adsorção, etc.) ou um tratamento avançado específico (ex.: osmose reversa,
nanofiltração, adsorção, troca iônica, dessalinização, entre outros).
Uso por qualquer setor industrial, considerando que este retira a água
Industrial disponível e faz o tratamento necessário para adaptar ao nível de qualidade
requerido.

Refrigeração Uso exclusivo para o processo de resfriamento da água nas indústrias.

Atividade agrícola que requer água de boa qualidade para a irrigação (ex.:
Agricultura I
cultivos que geralmente são consumidos de forma crua).

Atividade agrícola na qual pode ser utilizada água de baixa qualidade na


Agricultura II irrigação (ex.: cultivos que não são consumidos de forma crua ou que não
servem como alimento).

Pesca Atividade de aquicultura e pescaria.

Hidrelétrica Uso na produção de energia hidrelétrica.

Uso para transporte de materiais através de águas interiores (rios, lagos,


Transporte
etc.).

Atividades de recreação no geral, como natação e outros esportes


Recreação
aquáticos.

Fonte: adaptado de BOULAY et al. (2011a).


90

Tabela 4.6 – Relação de funcionalidade entre as categorias de classificação e os tipos de uso da água considerados no uso degradativo.

Categoria 1 2a 2b 2c 2d 3 4 5 AC

Água da
Fonte S ou G S ou G S ou G S ou G S ou G S ou G S ou G S ou G
Chuva

Nível da Média Média Não


Excelente Boa Média Baixa Muito baixa -
Qualidade toxicidade microbiológica utilizável

Doméstico I √ X X X X X X X √

Doméstico II √ √ √ X X X X X √

Doméstico III √ √ √ √ √ √ √ X √

Agricultura I √ √ X √ X X X X √

Agricultura II √ √ √ √ √ √ X X √

Pesca √ X X X √ X X X √

Indústria √ √ √ X X X X X √

Refrigeração √ √ √ √ √ √ √ X √

Recreação √ √ X √ X X X X √

Transporte √ √ √ √ √ √ √ √ √

Hidrelétrica √ √ √ √ √ √ √ √ √
Legenda: √ - funcional, X - não funcional; S – superficial, G - subterrânea.
Fonte: adaptado de BOULAY et al. (2011a).
91

As principais fontes dos dados secundários foram dois bancos de dados de ACV: o
software GaBi v.4.4 (PE INTERNATIONAL, 2011) e a base de dados Ecoinvent v.2.2
(ECOINVENT CENTRE, 2010). A partir dos inventários disponibilizados por estes
programas, foi possível extrair dados referentes ao volume de entrada de água, separados pela
origem (superficial e subterrânea), e a massa de substâncias emitidas aos recursos hídricos.
Quanto ao volume de efluente, esta informação está disponível apenas no software
GaBi. Dessa forma, quando os dados foram fornecidos pelo Ecoinvent, o volume de efluente
foi determinado multiplicando-se o volume de água extraída por um coeficiente de “retorno”
(CR) característico da atividade industrial avaliada, o qual é definido como a fração do
volume total de água que não é consumida no processo e acaba sendo descartada como
efluente.
A partir disso, a qualidade do efluente foi caracterizada através da divisão entre a
massa das substâncias descartadas e o volume de efluente, obtendo-se as concentrações em
miligramas por litro. Ainda cabe ressaltar que este procedimento de obtenção dos dados
secundários foi baseado nas recomendações de Boulay et al. (2011a), que foram descritas para
os casos em que há baixa disponibilidade de informações sobre as diferentes formas de uso da
água.

4.1.8 Suposições e limitações

As principais suposições e limitações deste estudo estão relacionadas à produção dos


insumos, uma vez que se utilizou de dados secundários para a caracterização dos fluxos de
água. Uma importante limitação identificada é referente à localização das regiões onde
ocorrem os usos da água dentro da cadeia produtiva de cada insumo, pois, devido à grande
complexidade de cada ciclo de vida envolvido, foram feitas simplificações, que acabaram
concentrando os usos da água em poucos locais ou em regiões maiores que uma bacia
hidrográfica. Isso pode ser visto, por exemplo, na produção do herbicida Roundup Original,
onde foi considerado que o volume total de água usada em seu ciclo de vida ocorreu somente
em São José dos Campos – SP. Outro exemplo claro é a etapa de extração e beneficiamento
do cloreto de potássio, onde foi considerada a Rússia como local da atividade, sem haver
maior especificação.
Além disso, a característica do efluente lançado na produção de alguns materiais
também ficou simplificada, pois a concentração dos poluentes foi determinada de uma só vez,
através dos valores totais de volume e de emissão para a água obtidos em todo o ciclo
92

produtivo, enquanto que, na situação real, cada etapa tem suas características particulares de
quantidade e qualidade.
Como o local em que o uso da água ocorre é importante para a questão dos recursos
hídricos, procurou-se diminuir estas simplificações, separando e detalhando os inventários
consolidados fornecidos pelos bancos de dados, de acordo com os fluxos de materiais
existentes. No entanto, devido ao grande número de processos envolvidos, este procedimento
foi adotado apenas para os fluxos que representavam mais de 1% da massa total de entrada.
Quanto aos demais fluxos, incluindo a produção de energia e o combustível consumido, estes
foram agrupados em um único fluxo e local, uma vez que apresentam menor significância
com relação ao uso da água e pela produção ocorrer de forma muito distribuída em termos de
localização (ex.: energia elétrica).
Estes aspectos, apesar de estarem relacionados apenas aos insumos, devem ser
observados, principalmente, se os resultados obtidos com este trabalho forem utilizados
posteriormente para estudos de avaliação de impactos ou de sustentabilidade, visto que
tendem a concentrar o consumo e a poluição hídrica em um número menor de regiões. Outras
limitações e suposições de menor importância serão discriminadas ao longo da apresentação
dos resultados finais.

4.2 INVENTÁRIO DE MATERIAIS

Neste subitem, serão apresentados e discutidos os resultados relacionados aos fluxos


de materiais envolvidos no ciclo de vida do biodiesel de soja. Dessa forma, para cada
subsistema, além de descrever o método de obtenção dos dados, serão mostrados os dados
brutos referentes aos fluxos de água em cada etapa e as quantidades de insumos e produtos
utilizadas para a produção da unidade funcional (1 litro de biodiesel). Portanto, todas as
informações apresentadas a seguir foram organizadas de maneira que possam servir de base
para a consolidação tanto da Pegada Hídrica como do ICV do uso da água.

4.2.1 Subsistema da fase agrícola

O primeiro procedimento adotado foi o de coletar, junto aos bancos de dados de ACV,
informações sobre o ciclo de vida dos insumos envolvidos neste subsistema, incluindo o
volume de água extraída, o volume de efluente gerado e as emissões de poluentes para a água.
Depois disso, a concentração dos poluentes na água extraída foi determinada com dados
referentes à qualidade dos corpos hídricos existentes na região de produção de cada material,
utilizando as fontes mostradas na Tabela 4.7.
93

Tabela 4.7 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase
agrícola, relacionados aos fluxos de materiais e de água, com os valores dos coeficientes de
retorno (CR) utilizados.
Fonte dos fluxos de
Fonte da qualidade da
Processos internos de materiais, volume de
Insumos CR(a) água extraída / Local
produção água extraída, volume e
de referência
qualidade do efluente
Calcário Boulay et al. (2011a) /
Insumos GaBi v.4.4(b) -
dolomítico Brasil
Boulay et al. (2011a) /
Ureia e amônia 0,7
Rússia
Ureia Ecoinvent v.2.2(c)
Boulay et al. (2011a) /
Outros insumos 0,8
Europa
CETESB (2012) /
SSP e ácido sulfúrico 0,75
Cubatão - SP
Extração e beneficiamento CETESB (2006) /
Superfosfato 0,62
de rocha fosfática Aquífero São Paulo
simples Ecoinvent v.2.2(c)
(SSP) Boulay et al. (2011a) /
Enxofre 0,8
Europa
Boulay et al. (2011a) /
Outros insumos 0,8
Brasil
Extração e beneficiamento Boulay et al. (2011a) /
Cloreto de 0,62
do KCl Rússia
potássio Ecoinvent v.2.2(c)
(KCl) Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Europa
CETESB (2012) /
São José dos Campos -
Roundup Original(d)
SP e CETESB (2006) /
Aquífero Taubaté.
INEA (2011) / Belford
Certero(e)
Roxo - RJ
CETESB (2012) / Franco
Defensivos (f) da Rocha – SP e
Spider 840 WG Ecoinvent v.2.2(c) 0,7
agrícolas CETESB (2006) /
Aquífero São Paulo
Standak Top(g)
CETESB (2012) /
Opera(h)
Guaratinguetá – SP e
CETESB (2006) /
Talcord 250(i)
Aquífero Taubaté
Pivot(j)

Boulay et al. (2011a) /


Óleo diesel - GaBi v.4.4(b) 0,8
Brasil
Resultados da fase
Sementes Cultivo - -
agrícola deste estudo
(a) Fonte: SILVA, 2011; (b) Fonte: PE INTERNATIONAL, 2011; (c) Fonte: ECOINVENT CENTRE, 2010; (d)
i.a. glifosato 360 g/kg; (e) i.a. diclosulam 840 g/kg; (f) i.a. fipronil 205 g/kg, piraclostrobina 20,5 g/kg, tiofanato-
metílico 184 g/kg; (g) i.a. epoxiconazol 47 g/kg, piraclostrobina 125 g/kg; (h) i.a. permetrina 245 g/kg (i) i.a.
imazetapir 96 g/kg; (j) i.a. triflumurom 430 g/kg.
94

A partir destas informações, a fim de esclarecer a relação entre a origem dos dados e
as características da produção destes materiais definidas para o sistema de produto estudado,
algumas observações devem ser feitas:
 Calcário dolomítico: não foram encontrados dados referentes à produção
brasileira, por esse motivo utilizou-se a base de dados da Europa (“limestone,
flour 2mm, RER). No entanto, a sequência do processo produtivo, além de ser
simples, é praticamente igual ao empregado no Brasil, ou seja, extração com
explosivos, britagem e moagem. Outro aspecto importante, é que não foi
encontrado uso da água no processo de produção do calcário; portanto, apenas
foram considerados os insumos do ciclo de vida deste produto, que são compostos
basicamente por eletricidade e combustível.
 Ureia: conforme identificado anteriormente, grande parte da ureia consumida no
Brasil como fertilizante é importada da Rússia. Dessa forma, utilizou-se a base de
dados da Europa (“urea, as N, at regional storehouse, RER), que considera os
principais processos empregados no mundo, que são a reação entre a amônia e o
dióxido de carbono para a produção da ureia e a reforma catalítica do gás natural
para a produção da amônia. Os outros insumos são energia elétrica, combustível,
níquel e solventes diversificados.
 SSP: na falta de dados consistentes sobre o uso da água na cadeia produtiva
brasileira de SSP, empregou-se a base de dados da Europa (“single
superphosphate, as P2O5, at regional storehouse, RER”). Neste inventário, são
consideradas tecnologias similares às condições brasileiras, onde o SSP é
produzido através da acidificação da rocha fosfática. Este último insumo, por sua
vez, é extraído e beneficiado através da rota seca. Quanto ao ácido sulfúrico, este
é produzido através da oxidação do enxofre proveniente das refinarias de petróleo,
que, no caso do Brasil, é importado. De forma geral, os outros insumos dessa
cadeia produtiva são eletricidade, combustível, soda cáustica e outras substâncias
químicas diversificadas.
 KCl: foi utilizada a base de dados da Europa (“potassium chloride, as K2O, at
regional storehouse, RER”), pois grande parte do KCl consumido no Brasil é
importado, principalmente, da Rússia. Neste inventário, são contabilizadas as três
técnicas mais utilizadas no mundo para a concentração do sal após a extração, que
são a flotação, a separação eletrostática e a solução em água quente. Os insumos
empregados nestes processos são energia elétrica, combustível e compostos
inorgânicos variados.
95

 Defensivos: todos os inventários utilizados para estes insumos são baseados em


dados europeus. No entanto, acredita-se que, por serem compostos muito
específicos, não haja grande variabilidade dos processos de fabricação. Também
deve ser observado que, para alguns produtos específicos, foram utilizados
inventários genéricos, de acordo com a classe ou o grupo químico do ingrediente
ativo (i.a.). Diante disso, a base de dados ficou da seguinte forma: Roundup
Original - “glyphosate, RER”; Spider WG - “herbicides, RER”; Standak Top -
“insecticides, RER” (i.a. fipronil), “fungicides, RER” (i.a. piraclostrobina) e “urea-
compounds, RER” (i.a. tiofanato metílico); Opera - “cyclic-N-compounds, RER”
(i.a. epoxiconazol) e “fungicides, RER” (i.a. piraclostrobina); Certero - “urea-
compounds, RER”; Talcord 250 - “pyretroid-compounds, RER”; Pivot - “diazole-
compounds, RER”.
 Óleo diesel: utilizou-se o conjunto de dados baseado na produção brasileira
(“diesel, consumption mix, 500 ppm sulphur, at refinery, BR”).
 Sementes: foram utilizados os resultados obtidos no cultivo da soja, considerando
a área de plantio necessária para a produção da quantidade de sementes requeridas
no ciclo de vida estudado. Os fluxos de água da produção dos insumos utilizados
nesta etapa não foram incluídos.
A partir da obtenção destes dados, foi possível determinar os valores quantitativos e
qualitativos dos fluxos de água envolvidos na produção dos insumos da fase agrícola. A
Tabela 4.8 mostra os valores volumétricos de entrada e saída de água de todos os processos,
enquanto que da Tabela 4.9 a 4.14 são apresentadas as concentrações das substâncias
presentes na água, que determinam a qualidade de cada fluxo. Nota-se que, conforme
justificado anteriormente, os dados relacionados aos processos que pertencem ao ciclo de vida
de cada insumo foram divididos de acordo com a região em que são produzidos, uma vez que
alguns ocorrem de forma muito diversificada e outros são produzidos na mesma planta
industrial. Outra observação importante é que, conforme descrito nos procedimentos da
Pegada Hídrica e do ICV, não é necessário quantificar a concentração de todas as substâncias
emitidas e, portanto, foram mostradas somente as que apresentaram os resultados mais
críticos. Além disso, para a água da chuva também não foi preciso incluir seus aspectos
qualitativos.
96

Tabela 4.8 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase agrícola, separados pelos principais processos produtivos.
Calcário Ureia SSP
(1 kg) (1 kg N) (1 kg P2O5)
SSP e
Ureia e Outros Rocha Outros
Insumos ácido Enxofre
amônia insumos fosfática insumos
sulfúrico
Entradas
Água da chuva (l)
Água superficial (l) 0,034 1,353 18,7 85,4 1,687 62,22
Água subterrânea (l) 0,012 0,748 3,8 2,37
Saídas
Efluente (l) 0,036 0,947 15,56 64,05 2,356 1,35 51,67
Defensivos agrícolas
(1 kg produto)
Roundup Spider Standak Talcord
Opera Certero Pivot
Original 840 WG Top 250
Entradas
Água da chuva (l)
Água superficial (l) 294,79 523,93 351,9 98,6 332,5 170,61 86,5
Água subterrânea (l) 8,07 6,22 6,45 1,39 4,03 2,17 0,96
Saídas
Efluente (l) 212 371,11 250,84 70 235,57 120,95 61,22
KCl
(1 kg K2O) Sementes Óleo diesel
(1 kg) (1 kg)
Extração KCl Insumos
Entradas
Água da chuva (l) 1649
Água superficial (l) 16,5 6,39 1,22
Água subterrânea (l) 0,18
Saídas
Efluente (l) 10,2 5,26 51,4 1,13

Tabela 4.9 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, na produção dos
insumos da cadeia produtiva do calcário dolomítico.
Parâmetros Insumos
(mg/l) Água Superficial Água Subterrânea Efluente
Fósforo 0,05 0,05 0,297
Cloreto 300 125 832,3
Sólidos Suspensos Totais 12,5 - 119
Nitrato 15 15 18,7
Sulfato 250 250 328
Manganês 0,1 0,1 0,121
97

Tabela 4.10 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva da ureia, com valores específicos para os principais processos produtivos.
Ureia e amônia Outros insumos
Parâmetros
(mg/l) Água
Água Superficial Efluente Água Superficial Efluente
Subterrânea
Amônia 0,55 384,4 0,55 0,075 0,112
Fósforo 0,05 - 0,05 0,05 7,6
DBO 2,5 - 2,5 2,5 220,6
Ferro 2,5 - 2,5 2,5 14,03
Cromo 0,025 - 0,075 0,025 0,084
Sulfato 250 - 250 250 267

Tabela 4.11 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do SSP, com valores específicos para os principais processos produtivos.
SSP e ácido
Parâmetros Rocha fosfática Enxofre Outros insumos
sulfúrico
(mg/l)
AS Efluente AG Efluente AS Efluente AS AG Efluente
DBO 7 - 0,56 107 2,5 0,17 2,5 2,5 66,1
Fósforo 0,079 22,5 0,017 14,4 0,05 0,026 0,05 0,05 5,3
Amônia 0,3 - 0,07 - 0,075 0,2075 0,075 0,025 0,3
Cádmio 0,0007 0,068 0,0001 - 0,0165 0,015 0,0165 0 0,001
Chumbo 0,008 0,297 0,0002 - 0,055 0,02 0,055 0 0,011
Sulfato 9,67 10,52 10,9 475,4 250 - 250 250 225,8
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea.

Tabela 4.12 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do KCl, com valores específicos para os principais processos produtivos.
Extração do KCl Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água
Água Superficial Efluente Água Superficial Efluente
Subterrânea
DBO 2,5 - 2,5 2,5 53,9
Cloreto 125 12316 300 125 12446
Sódio 100 7194 205 100 9510
Enxofre 2,5 12,22 2,5 2,5 -
Sulfato 250 - 250 250 1282
Fósforo 0,05 - 0,05 0,05 0,74
98

Tabela 4.13 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do óleo diesel.
Parâmetros Óleo diesel
(mg/l) Água Superficial Efluente
Sólidos Suspensos Totais 12,5 361
Cloreto 300 5472
Benzeno 0,055 0,386
Arsênico 0,055 0,121
Cádmio 0,0165 0,062
HPA* 0,0038 0,017
* Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos

Tabela 4.14 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos nas
cadeias produtivas dos defensivos agrícolas.
Parâmetros Roundup Original Spider 840 WG Standak Top Opera
(mg/l) AS AG E AS AG E AS AG E AS AG E
Amônia 0,5 0,01 4,96 0,3 0,03 33,4 0,5 0,01 53,6 0,5 0,01 91,3
DBO 3,25 1,74 54,4 4 2,4 104,4 3 1,74 119,2 3 1,74 149
Fluoreto 0,35 0,21 0,22 0,47 0,18 5,74 0,28 0,21 13 0,28 0,21 6,38
Ferro 0,62 0,07 6,04 0,57 1,5 5,52 4,17 0,07 7 4,17 0,07 5,92
Fósforo 0,037 0,02 18,3 0,041 0,018 1,61 0,034 0,02 11,7 0,034 0,02 7,33
Cloreto 3,76 1,2 2270 1,33 1,2 2214 1,27 1,2 1474 1,27 1,2 2024

Parâmetros Certero Talcord 250 Pivot


(mg/l) AS AG E AS AG E AS AG E
Amônia 1,3 0,03 36,7 0,5 0,01 5,55 0,5 0,01 6,03
DBO 7 2,4 157 3 1,74 56,9 3 1,74 44,56
Fluoreto 0,67 0,18 19,7 0,28 0,21 8,11 0,28 0,21 0,18
Ferro 2,3 1,5 5,66 4,17 0,07 5,2 4,17 0,07 5,45
Fósforo 0,73 0,018 1,65 0,034 0,02 1,81 0,034 0,02 1,58
Cloreto 5,89 1,2 2002 1,27 1,2 300 1,27 1,2 2081
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea; E – efluente.

Depois da produção de insumos, foram obtidos dados relacionados ao uso da água no


cultivo da soja, onde não há irrigação e, portanto, a única fonte é a água da chuva. Desse
modo, os únicos procedimentos realizados para a estimativa do volume de entrada, de saída e
de consumo pela cultura foram aqueles descritos no subitem 4.1.5.1 Água Verde.
De forma resumida, para definir as características do cultivo de soja, a ser simulado no
software CROPWAT v.8.0, primeiramente foi determinado o período em que ocorre o ciclo
produtivo da soja. Esse dado foi obtido através do cruzamento das informações fornecidas
pelos produtores rurais (data de plantio e principais cultivares utilizadas) com as indicações
99

técnicas consultadas (REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL, 2009). Com


isso, foram estabelecidos os seguintes valores: duração do ciclo da soja de 130 dias (ciclo
semiprecoce – médio), iniciando em 15 de novembro (semeadura) e com término em 25 de
março (fim da colheita); duração dos estágios de desenvolvimento com 20 dias na fase inicial
(plantio até 10% de cobertura do solo), 40 dias na fase de desenvolvimento (de 10% a 100%
de cobertura do solo), 40 dias na fase média (da cobertura completa até o início da
maturidade) e 30 dias na fase final (início da maturidade até o fim da colheita).
Ainda dentro das características da cultura, os valores dos coeficientes de cultivo (Kc)
para os estágios de desenvolvimento da soja foram obtidos do trabalho de Martorano (2007),
uma vez que, neste estudo, os valores de Kc foram determinados experimentalmente no Rio
Grande do Sul, em um padrão de clima (subtropical do tipo Cfa - Köeppen) e solo
semelhantes aos encontrados em Santa Rosa – RS, e para o mesmo sistema de manejo
considerado no ciclo de vida estudado (plantio direto). Dessa forma, foram utilizados os
seguintes valores de Kc: 0,49 (fase inicial), 1,16 (fase média) e 0,69 (fase final). Além disso,
os resultados deste mesmo trabalho também foram empregados para a profundidade efetiva
das raízes, sendo 0,15 metros no período de emergência e 0,60 metros para o valor máximo.
Por fim, o último dado sobre o cultivo da soja inserido no software foi o fator de depleção (p),
obtido na publicação de Allen et al. (1998), onde os valores para as fases inicial, média e final
são de 0,5, 0,6 e 0,9, respectivamente.
Com relação aos dados climáticos, que incluem a precipitação, a temperatura máxima
e mínima, a umidade relativa do ar, a velocidade do vento e a duração relativa da radiação
solar, todos foram obtidos junto ao banco de dados do Sistema Nacional de Dados Ambientais
(SINDA), administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Estes dados
foram coletados diariamente por uma estação agrometeorológica localizada em São Borja –
RS, abrangendo o período de cultivo (novembro a março), nos anos de 2000 a 2011 (INPE,
2012). Ainda cabe ser salientado que, dentre as estações e dados disponíveis, selecionou-se
esta estação, pois é a que está localizada em uma região com um padrão climático semelhante
ao do município de Santa Rosa – RS (EMBRAPA, 2012) e, também, por ser a mais próxima
ao mesmo município. Os valores médios destes dados podem ser visualizados no APÊNDICE
B.
Para a caracterização do solo, primeiramente, foram coletadas informações sobre o
tipo de solo predominante na região de estudo. Com base no levantamento realizado por
Engeplus (2011) na região da bacia hidrográfica dos rios Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo, foi
possível identificar que o solo predominante é classificado como Latossolo Vermelho
distroférrico típico (Sistema Brasileiro de Classificação de Solos), o qual é caracterizado por
100

possuir alto teor de argila (acima de 60%). A partir disso, a capacidade de água disponível
(CAD) e a taxa de infiltração máxima foram obtidas através de pesquisa na literatura
especializada. Para a CAD, foi adotado o valor de 155 mm/m, baseando-se nos trabalhos de
Genro Junior et al. (2009), Marcolin (2009) e Serafim et al. (2008), os quais determinaram
experimentalmente este parâmetro, para o mesmo tipo de solo, com cultivos variados em
sistema de plantio direto e obtiveram variações de 130 mm/m à 180 mm/m. Quanto à taxa de
infiltração máxima, utilizou-se o valor de 84 mm/dia, que é a média da variação apresentada
em Gomes (1997) para solos argilosos.
Após a inserção de todos os dados no software CROPWAT v.8.0, foi realizada a
simulação do balanço hídrico diário do solo, considerando que o conteúdo de água
inicialmente presente no solo é de 50% da CAD, ou seja, 77,5 mm/m. Os resultados finais,
produzidos para todo o período de cultivo em um hectare de área, são mostrados na Tabela
4.15.

Tabela 4.15 – Valores volumétricos resultantes da simulação do balanço hídrico do solo, para
o cultivo de um hectare de soja, em Santa Rosa – RS, no período de 15 de novembro a 25 de
março, com dados climáticos de 2000 a 2011.
Componente Valor (mm)
Conteúdo inicial de água no solo 77,5
Precipitação total 522
Entrada total de água 599,5
Evapotranspiração da cultura 535,8
Perdas totais
16,7
(percolação profunda e escoamento superficial)
Saída total de água 552,5
Conteúdo final de água no solo 47

A partir destes resultados, foi possível obter os volumes de consumo e de saída de


água do processo de cultivo da soja por quilograma de grão produzido. Para tanto, foi
considerada a produtividade média de 1707 kg/ha, referente às safras de 2000 a 2011, da
região de Santa Rosa – RS (EMATER/RS, 2011). Com isso, foram encontrados os valores de
3139 litros de água consumida e 97,83 litros de água que sai do sistema.
Para estimar as emissões de poluentes aos corpos hídricos, derivados do uso de
diferentes insumos agrícolas, foi estabelecida, para cada substância, uma fração de perda por
lixiviação e escoamento relacionada à massa total aplicada. O valor destas frações foi
determinado com base em revisão bibliográfica, onde foram pesquisados estudos tanto da área
101

de análise do ciclo de vida como outros específicos para a quantificação da poluição causada
pela agricultura.
No caso do nitrogênio, a maior parte dos estudos de ACV tem adotado o valor de 30%
de perda deste nutriente na forma de nitrato, como, por exemplo, a base de dados do
Ecoinvent (NEMECEK e KÄGI, 2007), Sallaberry (2009), Rocha (2011), Emmenegger et al.
(2011), entre outros, os quais se basearam, principalmente, nas estimativas do IPCC (1996).
Outra grande parcela adota o modelo GREET (WANG, 1999), o qual, através de diversas
medidas experimentais, chegou ao valor de 24%. Quanto aos estudos que realizaram
medições diretas, foi encontrada uma grande variação de resultados, que vão de 1,5 a 35,9%
(FERNANDEZ e LIBARDI, 2009; KLADIVKO et al., 2009; RANDALL e VETSCH, 2005;
SANTOS et al., 2009). Estes resultados estão de acordo com o estudo de Powers (2007), o
qual analisou dados de duas décadas de perdas de nutrientes na agricultura e comparou com
outros trabalhos de campo, encontrando uma variabilidade de 10 a 80% para o nitrogênio,
devido, principalmente, à quantidade de precipitação de cada período. No entanto, neste
mesmo estudo, a média resultante foi de 31,6% e, por esse motivo, o autor chega à conclusão
de que fatores em torno deste valor fornecem ótimas estimativas médias para grandes
períodos. Diante disso, neste estudo será adotado o valor de 30% de perdas para o nitrogênio,
seguindo a tendência da maior parte dos trabalhos consultados.
Para as perdas de fósforo, muitos estudos de ACV tem adotado o valor de 2,9%, com
base nas estimativas de Dalgaard et al. (2006). No banco de dados do Ecoinvent, também se
chega a um valor próximo de 3%, seguindo um modelo adaptado às condições suíças
(NEMECEK e KÄGI, 2007). Quanto aos estudos com medições de campo, de forma geral é
encontrada uma variabilidade de 0 a 12%, com média de 3,5%, sendo também muito
dependente do volume de precipitação no período avaliado (BASSO, 2003; POWERS, 2007;
SELIM et al., 2000; SHARPLEY e HOLVORSON, 1994). Dessa forma, neste estudo foi
utilizada a fração de 3,5% de perdas de fósforo, pois é um valor que está próximo dos
resultados encontrados pela maioria dos trabalhos analisados e, ao mesmo tempo, não é muito
diferente dos valores utilizados pela maioria dos estudos da área de ACV.
Com relação aos defensivos agrícolas, somente foram considerados o glifosato e a
permetrina, uma vez que, dos ingredientes ativos incluídos neste estudo, estes são os únicos
que possuem limites padronizados de concentração em normas que regram a qualidade da
água dos corpos hídricos, como por exemplo, na Resolução CONAMA n.º 357/2005 e na
compilação realizada por Boulay et al. (2011a). Em pesquisa à literatura, não foram
encontradas frações de perda para estas substâncias em estudos da área de ACV, entretanto,
em trabalhos mais específicos sobre poluição agrícola, foram encontrados os seguintes valores
102

que serão utilizados neste estudo: 0,07% para o glifosato (SHIPITALO et al., 2008) e 0,11%
para a permetrina (OROS e WERNER, 2005).
Depois de obter estas frações, foi possível calcular a concentração da água que infiltra
e escoa da plantação de soja para os corpos hídricos, utilizando o volume de perda (infiltração
e escoamento), resultante da simulação previamente descrita. Os resultados são mostrados na
Tabela 4.16.

Tabela 4.16 – Concentração dos parâmetros qualitativos do fluxo de saída de água da etapa de
cultivo da soja.
Parâmetro Valores (mg/l)
Fósforo total 4,12
Nitrato 8,08
Glifosato 0,0035
Permetrina 0,0002

Para propiciar um melhor embasamento sobre estes resultados, os valores das


concentrações obtidas para estes poluentes podem ser comparados com os resultados de
estudos que foram executados com o objetivo de determinar a perda de substâncias em
cultivos agrícolas e que, para tanto, realizaram experimentos com medições diretas. Com
relação ao fósforo, Bertol et al. (2010) realizaram diversos experimentos práticos em
plantações com sistema de plantio direto, em solos do tipo Latossolo Vermelho, e obtiveram
valores que variaram entre 2,09 a 5,31 mg/L de fósforo total no escoamento formado pela
água da chuva. Para o nitrato, Randall e Vetsch (2005) também realizaram estudos similares
com o cultivo de soja e milho, durante 6 anos, e as concentrações médias anuais resultantes
variaram de 5 a 16 mg/L. Por fim, Shipitalo et al. (2008) pesquisaram a perda do glifosato em
plantações de soja resistentes a esta substância, sob plantio direto, e verificaram a
variabilidade de 0,00005 a 0,0092 mg/L na água de escoamento. Portanto, a partir destes
resultados, nota-se que os valores produzidos na simulação da presente pesquisa (Tabela 4.16)
estão dentro da faixa de variação encontrada na literatura especializada.
Ainda nesta etapa do estudo, também foram determinadas as quantidades de insumos
e produtos que são necessários para o cultivo da soja. As quantidades aplicadas de calcário,
fertilizantes (fósforo e potássio) e defensivos, foram determinadas com base nas doses
fornecidas pelas indicações técnicas específicas para o Rio Grande do Sul (REUNIÃO DE
PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL, 2009). Para o caso do calcário, foi considerada a
quantidade média de corretivo necessária para elevar o pH do solo em água à 6,0, no sistema
103

plantio direto, levando em conta o intervalo de três anos para a próxima aplicação e o cultivo
de duas culturas por ano. Com relação à aplicação de fósforo e potássio, foi selecionada a
quantidade referente a um rendimento de 2.000 kg/ha, para um solo com teor médio destes
nutrientes, considerando que uma nova adubação só é necessária depois de dois cultivos.
Depois disso, a quantidade de nitrogênio aplicada foi calculada através da proporção do
composto NPK (2:20:20), utilizada pelos produtores rurais, os quais também indicaram a
quantidade de sementes utilizadas por hectare de plantação. Dessa forma, os valores utilizados
por hectare foram: 600 kg de calcário, 4,5 kg de nitrogênio, 45 kg de fósforo e potássio, 50 kg
de sementes, 2,33 kg de Roundup Original, 0,036 kg de Spider 840 WG, 0,12 kg de Standak
Top, 1,06 kg de Opera, 0,033 kg de Certero, 0,102 kg de Talcord 250 e 1,04 kg de Pivot.
Quanto ao consumo de óleo diesel, foram utilizados os valores encontrados no estudo
de Mello et al. (2005), onde foi estimado o consumo que ocorre em cada operação de uma
plantação de soja. A Tabela 4.17 mostra estas quantidades por etapa de cultivo, com a unidade
convertida de litros para quilograma, de acordo com a densidade média de 0,84 kg/l
(PETROBRAS, 2011).

Tabela 4.17 – Consumo de óleo diesel, por operação, no cultivo da soja.


Etapa do cultivo Operação Óleo diesel (kg/ha)
Calagem (distribuição) 0,65
Preparo do solo
Dessecação (pulverização) 0,49
Semeadura / Fertilização 7,28
Plantio da soja
Pulverização herbicida 0,49
Trato da cultura Pulverização pesticidas (4x) 1,95
Colheita dos grãos Colheita 24,36
Fonte: adaptado de MELLO et al. (2005).

Como a maior parte dos dados são fornecidos por área de cultivo, também foi preciso
relacioná-los à quantidade de hectares utilizados para produzir 1 kg de grãos de soja. Isto foi
realizado utilizando a produtividade da região, já anteriormente definida como 1707 kg/ha, o
que resultou na área de 0,000586 hectares.
Além disso, o consumo de óleo diesel também foi contabilizado nas operações de
transporte dos insumos e produtos até a região de cultivo da soja. Para tanto, utilizou-se como
padrão de consumo o valor de 0,01024 kg/ton.km para o transporte rodoviário e de 0,0025
kg/ton.km para o transporte marítimo, com base nos dados do Ecoinvent v. . (“operation,
lorry 20-28t, fleet average” e “operation, transoceanic freight ship”), onde é considerado o
104

consumo médio de um caminhão com capacidade de carga de 20 a 28 toneladas e um navio de


carga transoceânico, respectivamente. Quanto à extensão percorrida, foram utilizadas as
distâncias médias entre os locais previamente identificados na definição do sistema de
produto. Para maiores detalhes, deve ser consultado o APÊNDICE C.
Os resultados dos fluxos de massa para o subsistema da fase agrícola, obtidos a partir
destas informações, podem ser vistos na Tabela 4.18.

Tabela 4.18 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase agrícola.


Materiais Unidade Quantidade
Entradas
Calcário dolomítico kg 3,51E-01
Nitrogênio kg 2,64E-03
Fósforo (P2O5) kg 2,64E-02
Potássio (K2O) kg 2,63E-02
Semente kg 2,93E-02
Óleo diesel kg 3,56E-02
Roundup original kg 1,36E-03
Spider 840 WG kg 2,11E-05
Standak top kg 7,03E-05
Opera kg 6,21E-04
Certero kg 1,93E-05
Talcord 250 kg 5,97E-05
Pivot kg 6,09E-04
Saídas
Grãos de soja kg 1,000E+00

4.2.2 Subsistema da produção do óleo degomado

Neste subsistema, os resultados obtidos serão apresentados com o mesmo padrão da


fase agrícola; ou seja, primeiro será mostrado os aspectos relativos aos fluxos de água na
produção dos insumos e, depois, na própria fabricação do óleo degomado, finalizando com os
fluxos de massa.
De forma geral, os procedimentos de obtenção das características quantitativas e
qualitativas dos fluxos de água dos processos de produção dos insumos também foram os
mesmos da fase agrícola. Por esse motivo, as informações relacionadas ao óleo diesel, que é
um insumo comum a ambos os subsistemas, tem os mesmos valores mencionados
105

anteriormente e, portanto, não serão mostrados nesta seção. A Tabela 4.19 mostra a fonte dos
dados e os coeficientes de retorno utilizados.

Tabela 4.19 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase de
produção do óleo degomado, relacionados aos fluxos de materiais e de água, com os valores
dos coeficientes de retorno (CR) utilizados.
Fonte dos fluxos de
Fonte da qualidade da
Processos internos materiais, volume de
Insumos CR(a) água extraída / Local de
de produção água extraída, volume e
referência
qualidade do efluente

Hexano 0,71 FEPAM (2012a) / Rio Caí


(b)
Hexano Ecoinvent v.2.2
Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Brasil
Ecoinvent v.2.2(b) (c) e Boulay et al. (2011a) /
Lenha - 0,8(e)
Literatura específica(d) Brasil
Boulay et al. (2011a) /
Energia Elétrica - Ecoinvent v.2.2(b) 0,8
Brasil
(a) Fonte: SILVA, 2011; (b) Fonte: ECOINVENT CENTRE (2010); (c) Fonte utilizada para todos os dados, com
exceção da água da chuva consumida no cultivo florestal; (d) Fonte: BRACELPA (2009) e RIO GRANDE DO
SUL (2010), utilizada para a estimativa do consumo de água da chuva no cultivo florestal; (e) Este coeficiente de
retorno não foi utilizado para o fluxo de água da chuva.

Com relação às características das fontes dos dados, algumas observações foram
realizadas:
 Hexano: não foram encontrados dados sobre a produção brasileira; por esse
motivo, utilizou-se a base de dados da Europa (“hexane, at plant, RER”). No
entanto, a base do processo produtivo é a mesma, ou seja, processamento da
nafta, obtida no refino do petróleo, por separação molecular.
 Lenha: na estimativa do fluxo de água da chuva, utilizou-se dados específicos
para as condições do estado do Rio Grande do Sul, que é a região de produção
definida neste estudo. Para o restante dos fluxos, foi utilizada uma base de
dados genérica da Europa (“logs, mixed, at forest, RER”), que considera apenas
as atividades básicas realizadas no cultivo florestal, como o corte, a
manutenção, entre outros.
 Energia elétrica: os dados fornecidos pela base de dados “electricity, medium
voltage, production BR, at grid” são específicos para a geração e distribuição
de energia nas condições brasileiras.
Diante disso, os resultados relacionados aos volumes de entrada e saída de água da
produção de insumos são mostrados na Tabela 4.20 e as concentrações das emissões de
106

poluentes são mostradas nas Tabelas 4.21 e 4.22. Ainda cabe salientar que a estimativa do
consumo de água da chuva na produção de lenha foi realizada conforme descrito na seção
“4.1.5.1 Água Verde”, utilizando a produtividade de 35 m³/ha.ano (BRACELPA, 2009) e a
evapotranspiração de 1125 mm/ano (RIO GRANDE DO SUL, 2010).

Tabela 4.20 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase de produção do óleo degomado, separados pelos principais
processos produtivos.
Hexano (1 kg) Lenha Energia elétrica
Hexano Insumos (1 m³) (1 kWh)

Entradas
Água da chuva (l) 321428
Água superficial (l) 25,9 14,58 19,36 1,14
Água subterrânea (l) 0,35 0,47
Saídas
Efluente (l) 20,7 11,95 15,87 0,93

Tabela 4.21 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do hexano, com valores específicos para os principais processos produtivos.
Hexano Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água
Água Superficial Efluente Água Superficial Efluente
Subterrânea
DBO 1,6 941,06 2,5 2,5 1113
Benzeno 0 - 0,05 0 0,27
Fósforo 0,014 - 0,05 0,05 3,33
Bário - - 0,35 0,35 1,78
Ferro 0,45 - 2,5 2,5 7,56
Sódio 104 - 205 100 1238

Tabela 4.22 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva da energia elétrica e na produção dos insumos da cadeia produtiva da lenha
(biomassa).
Energia elétrica Lenha (insumos)
Parâmetros
(mg/l) Água
Água Superficial Efluente Água Superficial Efluente
Subterrânea
DBO 2,5 57,33 2,5 2,5 248,3
Fósforo 0,05 9,8 0,05 0,05 2,83
Cloreto 300 360,7 300 125 593

As características dos fluxos de água, relacionados diretamente com o processo de


extração e degomagem do óleo de soja, foram determinadas com base em dados declarados
pelas próprias empresas, em seus processos administrativos de licenciamento ambiental, que
107

estão disponíveis para consulta pública na Fundação Estadual de Proteção Ambiental


Henrique Luiz Roessler - RS (FEPAM). Nestas pesquisas, realizadas nos meses de janeiro e
fevereiro de 2012, além de serem obtidos dados da fábrica localizada em Santa Rosa - RS
(empresa definida no sistema de produto) (FEPAM, 2007), também foram coletados dados de
outra empresa situada em Cachoeira do Sul – RS (FEPAM, 2011). Este procedimento foi
realizado com o objetivo de aumentar a abrangência do estudo e de possibilitar a realização de
comparações, uma vez que foi previamente identificado que estas indústrias se diferenciam
nos aspectos relacionados aos efluentes, pois, enquanto a última trata e lança seus efluentes no
curso d’água, a primeira possui um sistema de recirculação total, onde evapora todo o efluente
gerado e reaproveita o vapor no próprio processo industrial. Para facilitar a identificação
destas empresas ao longo do trabalho, estas serão denominadas como “Empresa com
recirculação” para a de Santa Rosa – RS e “Empresa sem recirculação” para a de Cachoeira
do Sul – RS.
A partir das informações coletadas, foi possível identificar que os principais processos
em que ocorre uso da água são: produção de vapor nas caldeiras, para posterior utilização no
condicionamento dos grãos descascados, no cozimento dos grãos triturados, no
processamento do farelo e na recuperação do óleo após extração; processo de degomagem,
onde se adiciona água ao óleo bruto para a remoção da “goma”; sistema de resfriamento dos
processos; e lavagem de pisos e equipamentos. Além disso, conforme mostra a Figura 4.7,
também foi possível produzir um fluxograma simplificado do uso da água na fabricação do
óleo degomado, considerando as diferenças nas duas empresas pesquisadas.

Lavagem
(pisos e equip.)
Degomagem
FONTE DA ÁGUA ETE
Empresa com recirc. (Empresa sem recirc.)
Outros
(subterrânea) Caldeiras
Empresa sem recirc. processos
Evaporador
(superficial) (Empresa com recirc.)

Torres de
resfriamento

Legenda: Água
Vapor
Efluente
Perda de água

Figura 4.7 – Fluxograma simplificado do uso da água, no processo industrial de fabricação do


óleo degomado.
108

O volume de entrada e saída de água de todo o processo produtivo foi obtido através
do somatório dos fluxos dos processos unitários. Estes dados foram fornecidos em vazão
diária e, por esse motivo, tiveram que ser relacionados com a produção diária das empresas,
como mostra a Tabela 4.23.

Tabela 4.23 – Valores quantitativos dos fluxos de água, por processo industrial, na etapa de
produção do óleo degomado.
Empresa com recirculação Empresa sem recirculação
(produtividade 214,67 ton/dia) (produtividade 400 ton/dia)
Vazão diária Resultado final Vazão diária Resultado final
(m³/dia) (l/kg) (m³/dia) (l/kg)
Entradas
Caldeiras 192 0,89 624 1,56
Água de processo 45 0,21 264 0,66
Torres de resfriamento 384 1,79 480 1,20
Lavagens 2 0,009 0,6 0,0015
Entrada total 623 2,9 1368,6 3,4
Saídas
Caldeira - - 20 0,05
Água de processo - - 50 0,125
Lavagens - - 0,6 0,0015
Efluente total zero zero 70,6 0,176

Com relação à qualidade dos fluxos de água, estes foram determinados de diferentes
maneiras. Para a água utilizada pela Empresa sem recirculação, a qualidade foi obtida com
dados do monitoramento, realizado nos últimos cinco anos pela FEPAM (FEPAM, 2012b), do
rio Jacuí, que é o corpo hídrico de onde a água é captada. Quanto ao efluente desta mesma
empresa, os dados de concentração das substâncias presentes foram obtidos através dos
relatórios semestrais, que constavam no mesmo processo de licenciamento consultado
(FEPAM, 2011). Para a água extraída pela Empresa com recirculação, foram utilizados os
dados apresentados em COAMB (2005). Os resultados finais destas consultas, mostrando os
principais parâmetros qualitativos, estão na Tabela 4.24, mais abaixo.
Os fluxos de materiais, envolvidos nesta fase do ciclo de vida, também foram
determinados com base na mesma fonte de dados; entretanto, foi considerado apenas um valor
para cada fluxo, formado pela média das duas empresas. Entre estes dados, também estão
incluídas os valores das quantidades de subprodutos produzidos (cascas, farelo e lecitina de
soja), que foram utilizados na estimativa da alocação das cargas ambientais. Quanto ao
consumo de diesel para o transporte dos insumos, foram adotadas as mesmas suposições
109

realizadas na fase agrícola, considerando as distâncias entre os locais de produção dos


materiais (maiores detalhes são mostrados no APÊNDICE C). Os valores resultantes para
estes fluxos relacionados à produção de 1 kg de óleo degomado podem ser vistos na Tabela
4.25.

Tabela 4.24 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
etapa de produção do óleo degomado.
Parâmetros Empresa sem recirc. Empresa com recirc.
(mg/l) Água Superficial Efluente Água Subterrânea
DBO 1,3 58,3 1,05
Óleos e graxas - 5,5 -
Fósforo 0,23 1,6 0,067
Sólidos Suspensos Totais 88 38,7 11,6
Dureza (CaCO3) - 45 59,6
Nitrogênio total 0,73 7,33 1,15

Tabela 4.25 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase de produção do óleo
degomado.
Materiais Unidade Quantidade
Entradas
Grãos de soja kg 5,00E+00
Energia elétrica kWh 4,31E-01
Biomassa (lenha) m³ 8,60E-04
Hexano kg 1,44E-02
Óleo diesel kg 9,68E-03
Saídas
Óleo degomado kg 1,00E+00
Farelo kg 3,87E+00
Cascas kg 1,10E-01
Lecitina de soja kg 1,74E-02

4.2.3 Subsistema da fase de fabricação do biodiesel

De forma geral, os procedimentos de caracterização dos fluxos de água deste


subsistema seguiram o mesmo padrão de coleta de dados da fase de produção do óleo
degomado. Isto significa que as informações utilizadas na produção de insumos comuns a
ambos os subsistemas, como o óleo diesel, a lenha e a energia elétrica, são iguais e, portanto,
não serão mostradas nesta seção.
110

A Tabela 4.26 mostra, de forma resumida, a origem dos dados da cadeia produtiva de
cada insumo, os coeficientes de retorno utilizados quando a fonte não disponibiliza o volume
de efluentes gerados e a fonte utilizada para determinar a qualidade da água extraída.

Tabela 4.26 – Fontes dos dados utilizados no ciclo de vida dos insumos envolvidos na fase de
fabricação do biodiesel, relacionados aos fluxos de materiais e de água, com os valores dos
coeficientes de retorno (CR) utilizados.
Fonte dos fluxos de
Fonte da qualidade da
Processos internos materiais, volume de
Insumos CR(a) água extraída / Local
de produção água extraída, volume e
de referência
qualidade do efluente
Boulay et al. (2011a) /
Metanol - Ecoinvent v.2.2(b) 0,71
Chile
CETESB (2012) /
Metilato de sódio 0,7
Pirapozinho – SP
Metilato de sódio Ecoinvent v.2.2(b)
Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Brasil
CETESB (2012) /
Hidróxido de sódio 0,74
Hidróxido de Cubatão – SP
GaBi Software v.4(c)
sódio Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Brasil
CETESB (2012) /
Ácido clorídrico 0,74
(c)
Cubatão – SP
Ácido clorídrico GaBi Software v.4
Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Brasil
CETESB (2006) /
Ácido fosfórico 0,74
Aquífero São Paulo
Ácido fosfórico Ecoinvent v.2.2(b)
Boulay et al. (2011a) /
Insumos 0,8
Brasil
(a) Fonte: SILVA, 2011; (b) Fonte: ECOINVENT CENTRE, 2010; (c) Fonte: PE INTERNATIONAL, 2011.

Após a seleção desta base de dados, alguns aspectos devem ser destacados, de modo a
relacionar as características do ciclo de vida estudado com as fontes dos dados:
 Metanol: utilizou-se o inventário com dados globais (“methanol, at plant,
GLO”), pois foi identificado que este produto é importado do Chile, o qual é
um dos maiores produtores mundiais.
 Metilato de sódio: não foram encontradas informações específicas do Brasil e,
por esse motivo, foi selecionada a base de dados global (“sodium methoxide, at
plant, GLO”), que considera o processo mais utilizado no mundo, realizado a
partir da reação entre o metanol e o sódio metálico.
 Hidróxido de sódio: na falta de dados específicos do Brasil, utilizou-se a base
de dados “sodium hydroxide, from chlorine-alkali electrolysis, diaphragm,
111

100%, DE”, que considera o processo de produção por diafragma, a qual,


segundo Fernandes et al. (2009), é a tecnologia mais empregada pela indústria
de soda-cloro brasileira.
 Ácido clorídrico: selecionou-se o inventário que considera o processo
produtivo baseado na reação entre o cloro e o hidrogênio (“hydrochloric acid
32%, reaction of hydrogen with chlorine, DE”), que é o processo mais
utilizado pela indústria brasileira, segundo Fernandes et al. (2009).
 Ácido fosfórico: na ausência de dados específicos do Brasil, utilizou-se a base
de dados da produção de ácido fosfórico, de nível industrial, da Europa
(“phosphoric acid, industrial grade, 85% in H2O, at plant, RER”), a qual tem
como processo produtivo a reação do ácido sulfúrico com a rocha fosfatada,
por via úmida, que, por sua vez, é o processo mais empregado na indústria
brasileira (SILVA e GIULIETTI, 2010).
A partir das informações fornecidas, foi possível obter os volumes de entrada e saída
de água da produção de insumos, conforme Tabela 4.27, e as características qualitativas
destes fluxos de água, que podem ser vistas nas Tabelas 4.28 a 4.32.

Tabela 4.27 – Valores quantitativos dos fluxos de água, para a produção unitária dos insumos
envolvidos no subsistema da fase de fabricação do biodiesel, separados pelos principais
processos produtivos.
Metilato de sódio Hidróxido de sódio
Metanol (1 kg) (1 kg)
(1 kg) Metilato de Hidróxido de
Insumos Insumos
sódio sódio
Entradas
Água da chuva (l)
Água superficial (l) 11,59 144,8 123,3 135,1 51,6
Água subterrânea (l) 0,5 5,8 1,7
Saídas
Efluente (l) 8,58 101,4 103,3 100 42,7
Ácido clorídrico Ácido fosfórico
(1 kg) (1 kg)
Ácido clorídrico Insumos Ácido fosfórico Insumos
Entradas
Água da chuva (l)
Água superficial (l) 68 52,7 126,5
Água subterrânea (l) 1,8 28,4 7,2
Saídas
Efluente (l) 50,3 43,8 21 107
112

Tabela 4.28 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do metanol.
Parâmetros Metanol
(mg/l) Água Superficial Água Subterrânea Efluente
DBO 12,5 2,5 27,4
Ferro 2,5 2,5 4,46
Fósforo 0,05 0,05 1,74
Cromo 0,075 0 0,025
Arsênico 0,055 0,005 0,009
Benzeno 0,055 0 0,004

Tabela 4.29 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do metilato de sódio, com valores específicos para os principais processos
produtivos.
Metilato de sódio Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água Água Água
Efluente Efluente
Superficial Superficial Subterrânea
DBO 6 342,6 2,5 2,5 17,9
Boro 0,37 5,4 1,75 0,25 0,16
Bromato - 1,02 0,055 0,005 -
Fósforo 0,062 - 0,05 0,05 4,42
Ferro 2,84 - 2,5 2,5 20,8
Sódio 3,84 183,4 100 205 30,7

Tabela 4.30 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do hidróxido de sódio, com valores específicos para os principais processos
produtivos.
Hidróxido de sódio Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água Água Água
Efluente Efluente
Superficial Superficial Subterrânea
DBO 7 - 2,5 2,5 11,9
Fósforo 0,079 - 0,05 0,05 3,52
Ferro 0,315 - 2,5 2,5 15,7
Bromato - 1,27 0,055 0,005 -
Cromo 0,001 - 0,05 0 0,02
Cloreto 187,7 69,4 300 125 153
113

Tabela 4.31 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do ácido clorídrico, com valores específicos para os principais processos
produtivos.
Ácido clorídrico Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água Água Água
Efluente Efluente
Superficial Superficial Subterrânea
DBO 7 - 2,5 2,5 10,7
Fósforo 0,079 - 0,05 0,05 2,54
Ferro 0,315 - 2,5 2,5 15,7
Bromato - 1,27 0,055 0,005 -
Cromo 0,001 - 0,05 0 0,02
Cloreto 187,7 69,4 300 125 152,9

Tabela 4.32 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
cadeia produtiva do ácido fosfórico, com valores específicos para os principais processos
produtivos.
Ácido fosfórico Insumos
Parâmetros
(mg/l) Água Água Água
Efluente Efluente
Subterrânea Superficial Subterrânea
DBO - - 2,5 2,5 24,1
Sulfato 10 6,35 250 250 2794
Fluoreto 0,47 66,5 0,5 0,5 8,97
Cromo 0,002 - 0,055 0 0,317
Arsênico 0,002 - 0,055 0,005 0,177
Fósforo 0,035 0,057 0,05 0,05 0,89

Do mesmo modo como ocorreu no processo de produção do óleo degomado, as


características dos fluxos de água, envolvidos diretamente na fabricação do biodiesel, também
foram determinadas com dados obtidos em consulta aos processos de licenciamento ambiental
das referidas empresas. Os processos consultados, em janeiro e fevereiro de 2012, na FEPAM,
foram os que se referem à usina da empresa localizada em Ijuí – RS (FEPAM, 2010) e à
mesma planta industrial da empresa localizada em Cachoeira do Sul – RS, porém de forma
específica para a atividade de fabricação de biodiesel (FEPAM, 2009). Assim como na fase
anterior, a principal diferença relacionada ao uso da água entre estas empresas é o método de
tratamento do efluente gerado, uma vez que, na unidade industrial de Ijuí - RS da primeira
empresa, também foi implementado o mesmo sistema de reaproveitamento total do efluente
na forma de vapor, enquanto que a outra lança seus efluentes no curso d’água depois de
realizar o tratamento. Por esse motivo, a identificação destas empresas, para esta fase do ciclo
de vida, será realizada da mesma forma que na produção do óleo degomado, ou seja, será
114

denominado “Empresa com recirculação” para a de Ijuí – RS e “Empresa sem recirculação”


para a de Cachoeira do Sul – RS.
De acordo com as informações obtidas, a água é utilizada de diversas formas dentro da
usina de biodiesel, sendo que as principais são: resfriamento de equipamentos e processos;
geração de vapor nas caldeiras, para uso posterior em procedimentos de secagem e
aquecimento em quase todas as etapas; remoção de impurezas do óleo após ser submetido à
reação de neutralização; purificação do biodiesel depois da reação de transesterificação; e
lavagem de pisos e equipamentos. A Figura 4.8 mostra o fluxograma simplificado do fluxo de
água dentro da usina de biodiesel, produzido a partir dos dados coletados.

Lavagem do óleo
Lavagem neutralizado
(pisos e equip.)
Purificação do
biodiesel ETE
FONTE DA ÁGUA
Empresa com recirc. (Empresa sem recirc.)
(subterrânea) Caldeiras Outros processos
Empresa sem recirc. Evaporador
(superficial) (Empresa com recirc.)

Torres de
resfriamento

Legenda: Água
Vapor
Efluente
Perda de água

Figura 4.8 – Fluxograma simplificado do uso da água, no processo industrial de fabricação do


biodiesel.

Através da obtenção dos volumes de entrada e saída de água de cada fluxo, foi
possível determinar o total de água extraída e de efluente gerado no processo produtivo. Estes
dados foram fornecidos em vazão diária e, por esse motivo, tiveram que ser relacionados com
a quantidade de biodiesel produzido por dia pelas empresas, como mostra a Tabela 4.33, mais
abaixo.
As características qualitativas destes fluxos de água foram determinadas com
diferentes fontes de dados. Na Empresa sem recirculação, devido ao fato de que as atividades
de fabricação do óleo degomado e do biodiesel estão localizadas na mesma planta industrial, o
fluxo da água captada e do efluente gerado é o mesmo para ambos os processos e, portanto,
115

somente há distinção dos dados que se referem aos valores de volume. Dessa forma, a
qualidade da água na fabricação do biodiesel foi determinada com os mesmos dados
utilizados na fase anterior. Com relação à água utilizada pela Empresa com recirculação, sua
qualidade foi obtida com as informações fornecidas pela própria empresa nos processos
administrativos consultados (FEPAM, 2010). Os resultados finais dos principais parâmetros
qualitativos dos fluxos de água são mostrados na Tabela 4.34.

Tabela 4.33 – Valores quantitativos dos fluxos de água, por processo industrial, na etapa de
fabricação do biodiesel.
Empresa com recirculação Empresa sem recirculação
(produtividade 650 ton./dia) (produtividade 821,3 ton./dia)
Vazão diária Resultado final Vazão diária Resultado final
(m³/dia) (l/kg) (m³/dia) (l/kg)
Entradas
Caldeiras 64,8 0,01 192 0,234
Água de processo 65 0,1 141,57 0,172
Torres de resfriamento 117 0,18 192 0,234
Lavagens 0,48 0,00074 0,6 0,0015
Entrada total 247,28 0,38 526,17 0,64
Saídas
Caldeira - - 20 0,024
Água de processo - - 75,83 0,092
Lavagens - - 0,6 0,0015
Efluente total zero zero 96,43 0,118

Tabela 4.34 – Concentração dos parâmetros qualitativos dos fluxos de água, envolvidos na
etapa de fabricação do biodiesel.
Parâmetros Empresa sem recirc. Empresa com recirc.
(mg/l) Água Superficial Efluente Água Subterrânea
DBO 1,3 58,3 -
Óleos e graxas - 5,5 -
Fósforo 0,23 1,6 0,015
Sólidos Suspensos Totais 88 38,7 13,4
Dureza (CaCO3) - 45 38,4
Nitrogênio total 0,73 7,33 1,72

O procedimento adotado para determinar as quantidades de insumos, matérias-primas


e subprodutos (glicerina e ácidos graxos), envolvidos no processo produtivo do biodiesel, foi
o mesmo da produção de óleo degomado, ou seja, utilizou-se a média das informações
coletadas para as duas empresas. Do mesmo modo, também foram adotadas as mesmas
116

suposições realizadas na fase agrícola para estimar o consumo de óleo diesel nas operações de
transporte destes materiais, levando em conta as respectivas distâncias dos locais de produção,
como é mostrado em detalhes no APÊNDICE C. Os valores resultantes para estes fluxos,
relacionados à produção de 1 litro de biodiesel, são mostrados na Tabela 4.35.

Tabela 4.35 – Resultados dos fluxos de massa do subsistema da fase de fabricação do


biodiesel.
Materiais Unidade Quantidade
Entradas
Óleo degomado kg 9,88E-01
Energia elétrica kWh 4,10E-02
Biomassa (lenha) m³ 1,53E-04
Metanol kg 1,40E-01
Metilato de sódio kg 3,43E-03
Hidróxido de sódio kg 2,03E-03
Ácido fosfórico kg 2,21E-03
Ácido clorídrico kg 3,06E-03
Óleo diesel kg 6,76E-03
Saídas
Biodiesel L 1,00E+00
Glicerina loira (80%) kg 1,48E-01
Ácidos graxos kg 2,86E-02

4.2.4 Inventário final de materiais

Para consolidar o inventário final dos materiais, primeiramente foi necessário


relacionar os valores encontrados em cada subsistema com a unidade de referência do ciclo de
vida, ou seja, a produção de 1 litro de biodiesel. Isso significa que todos os fluxos da fase
agrícola foram transformados para a saída de 4,94 kg de grãos de soja e os da fase de
produção do óleo degomado para a saída de 0,988 kg do produto.
Depois disso, também foi preciso alocar os valores encontrados, de acordo com a
produção dos subprodutos identificados. Conforme critérios previamente estabelecidos, os
fatores de alocação foram definidos considerando a massa produzida e o valor de mercado
atual para cada produto. No entanto, devido à baixa representatividade (menos de 1%) dos
valores resultantes para a casca, a lecitina de soja e os ácidos graxos, foram incluídos nos
resultados finais apenas o farelo, como subproduto do óleo degomado, e a glicerina, como
117

subproduto do biodiesel. Diante disso, a Tabela 4.36 mostra os dados utilizados, a fonte de
obtenção dos mesmos e os valores finais dos fatores de alocação empregados.

Tabela 4.36 – Dados e resultados relacionados aos procedimentos de alocação.


Produto Produção (kg)(a) Valor de mercado (R$/kg)(b) Fator de alocação (%)
Subsistema da fase de produção do óleo degomado
Óleo degomado 1 2,404(c) 52
(c)
Farelo de soja 3,87 0,572 48
Subsistema da fase de fabricação do biodiesel
Biodiesel 1 2,231(d) 96,7
(e)
Glicerina 0,169 0,443 3,3
(a) Fonte: FEPAM (2007, 2009, 2010, 2011); (b) Período jan./2011 a jan./2012; (c) Fonte: ABIOVE (2012); (d)
Fonte: ANP (2012d); (e) Fonte: BRASIL (2012).

A partir destes resultados, pode-se concluir que 96,7% dos valores de cada fluxo do
ciclo de vida analisado são destinados, exclusivamente, para a produção do biodiesel e, antes
disso, 52% dos fluxos dos dois primeiros subsistemas são exclusivos para a fabricação do
óleo degomado. Com isso, estas proporções foram aplicadas aos fluxos de cada subsistema,
para que seja efetuada a devida alocação.
Após a realização destes procedimentos, foi possível estabelecer o inventário final dos
materiais, que será utilizado como referência para a posterior estimativa da Pegada Hídrica e
do ICV do uso da água. A Tabela 4.37 mostra os resultados finais, com e sem a aplicação dos
fatores de alocação, para cada subsistema.

Tabela 4.37 – Inventário final dos fluxos de materiais, para cada subsistema do ciclo de vida
do biodiesel de soja, com e sem a aplicação dos fatores de alocação. (continua)
Materiais Unidade Resultados sem alocação Resultados com alocação
Subsistema da Fase Agrícola
Entradas
Calcário Dolomítico kg 1,73E+00 8,70E-01
Nitrogênio kg 1,30E-02 6,54E-03
Fósforo (P2O5) kg 1,30E-01 6,54E-02
Potássio (K2O) kg 1,30E-01 6,54E-02
Semente kg 1,45E-01 7,29E-02
Óleo Diesel kg 1,60E-01 8,06E-02
Roundup Original kg 6,72E-03 3,38E-03
Spider 840 WG kg 1,04E-04 5,23E-05
Standak Top kg 3,47E-04 1,74E-04
Opera kg 3,07E-03 1,54E-03
118

(continuação)
Certero kg 9,53E-05 4,79E-05
Talcord 250 kg 2,95E-04 1,48E-04
Pivot kg 3,01E-03 1,51E-03
Saídas
Grãos de soja kg 4,94E+00 2,48E+00
Subsistema da Fase de Produção do Óleo Degomado
Entradas
Grãos de soja kg 4,94E+00 2,48E+00
Energia elétrica kWh 4,26E-01 2,14E-01
Biomassa (lenha) m³ 8,50E-04 4,27E-04
Hexano kg 1,42E-02 7,14E-03
Óleo diesel kg 9,56E-03 4,81E-03
Saídas
Óleo degomado kg 9,88E-01 9,55E-01
Farelo kg 3,82E+00 -
Cascas kg 1,08E-01 -
Lecitina de soja kg 1,72E-02 -
Subsistema da Fase de Fabricação do Biodiesel
Entradas
Óleo degomado kg 9,88E-01 9,55E-01
Energia elétrica kWh 4,10E-02 3,96E-02
Biomassa (lenha) m³ 1,53E-04 1,48E-04
Metanol kg 1,40E-01 1,35E-01
Metilato de sódio kg 3,43E-03 3,32E-03
Hidróxido de sódio kg 2,03E-03 1,96E-03
Ácido fosfórico kg 2,21E-03 2,14E-03
Ácido clorídrico kg 3,06E-03 2,96E-03
Óleo diesel kg 6,76E-03 6,54E-03
Saídas
Biodiesel L 1,00E+00 1,00E+00
Glicerina loira (80%) kg 1,48E-01 -
Ácidos graxos kg 2,86E-02 -

4.3 PEGADA HÍDRICA

A Pegada Hídrica do biodiesel de soja foi calculada conforme procedimentos e


características previamente estabelecidas nas definições gerais deste estudo. Além disso,
praticamente todos os dados necessários para as estimativas dos componentes denominados
Água Verde, Água Azul e Água Cinza foram determinados, anteriormente, no inventário de
119

materiais. Portanto, o presente subcapítulo destina-se somente a apresentar e discutir os


resultados encontrados. Ainda cabe salientar que todos os valores resultantes são relacionados
às quantidades de materiais utilizadas no ciclo de vida com o fator de alocação, conforme
Tabela 4.37.
Na fase agrícola, a estimativa da Água Verde foi realizada para o cultivo da soja e para
a produção de sementes, utilizando o volume de evapotranspiração da cultura simulado no
software CROPWAT v.8.0. Para a Água Azul, que nesta fase só ocorreu na produção de
insumos, foram somados os volumes de entrada de água superficial e subterrânea, e depois
subtraídos pelo volume de efluente gerado. Na estimativa deste componente, também foi
considerado que o efluente é lançado em corpo hídrico superficial e, portanto, o consumo de
água subterrânea acaba sendo total.
Quanto à Água Cinza, os resultados deste componente foram determinados com base
nos valores volumétricos de entrada de água e saída de efluente e nas concentrações de cada
parâmetro presente nestes fluxos de água, mostrados nas tabelas anteriores. Nestes cálculos,
também foram empregados os padrões de qualidade estabelecidos pela Resolução CONAMA
n.º 357/2005, para águas doces de Classe I (CONAMA, 2005), como concentração máxima
permitida de cada parâmetro analisado. Além disso, devido à inexistência de dados, foi
assumida como zero a concentração natural do corpo hídrico receptor para todas as
substâncias. Depois de se obter a Água Cinza de cada parâmetro, foi selecionado aquele que
apresentou o maior valor como resultado definitivo de cada etapa. Diante disso, os resultados
finais para a Pegada Hídrica da fase agrícola são mostrados na Tabela 4.38.
Através do somatório de cada fluxo, foi possível chegar ao valor de 19404,3 litros para
a Pegada Hídrica da fase de cultivo da soja, sendo este total composto por 11496 litros de
Água Cinza, 7905 litros de Água Verde e 3,3 litros de Água Azul. Entre as etapas deste
subsistema, os valores obtidos para o processo de cultivo da soja foram amplamente maiores
do que o restante, representando 91,6% do total, ou ainda, 87% da Água Cinza e 98,5% da
Água Verde. Quanto aos insumos, estes contribuíram com 8,4% do total, dentre os quais a
produção do fertilizante fosfatado foi a que obteve maior uso da água, com aproximadamente
10% (1140 litros) da Água Cinza e 71% (2,4 litros) da Água Azul. Por outro lado, alguns
processos produtivos não apresentaram contribuição igual ou maior que 1% em nenhum
componente da Pegada Hídrica desta fase, que são a produção de insumos do calcário, todos
os processos do fertilizante nitrogenado, a produção de enxofre para o fertilizante fosfatado e
a produção de óleo diesel. Os gráficos da Figura 4.9, mais abaixo, mostram, de forma
resumida, a composição da Pegada Hídrica desta fase e de seus componentes.
120

Tabela 4.38 – Resultados finais da Pegada Hídrica, para o subsistema da fase agrícola.

Água Azul Água Cinza


Processo Água Verde
Material
produtivo (l) Parâmetro
AS (l) AG (l) Valor (l)
crítico
Calcário Insumos - zero 9,0E-03 7,2E-02 Fósforo

Fertilizante Ureia e amônia - 2,6E-03 - 6,4E-01 Amônia


nitrogenado
Outros insumos - 2,0E-02 4,9E-03 7,7E+00 Fósforo
SSP e ácido
- 1,4E+00 - 9,4E+02 Fósforo
sulfúrico

Fertilizante Rocha fosfática - - 9,4E-02 2,2E+01 Fósforo


fosfatado
Enxofre - 2,2E-02 - 3,0E-03 Amônia

Outros insumos - 6,9E-01 1,5E-01 1,8E+02 Fósforo


Cloreto de
Fertilizante - 4,1E-01 - 3,2E+01 Cloreto
potássio
potássico
Insumos - 7,4E-02 1,2E-02 1,7E+01 Cloreto

Roundup - 2,8E-01 2,7E-02 1,3E+02 Fósforo

Spider - 7,6E-03 3,2E-04 6,2E-01 DBO

Standak Top - 1,8E-02 1,1E-03 5,1E+00 Fósforo

Pesticidas(a) Opera - 4,4E-02 2,1E-03 7,8E+00 Fósforo

Certero - 4,6E-03 2,0E-04 1,5E-01 Fluoreto

Talcord - 7,3E-03 3,2E-04 3,2E-01 DBO

Pivot - 3,8E-02 1,4E-03 1,4E+00 Fósforo

Óleo diesel(a) - - 8,0E-03 - 6,5E+00 Benzeno

Sementes Cultivo 1,2E+02 - - 1,5E+02 Fósforo

Grãos de soja Cultivo 7,8E+03 - - 1,0E+04 Fósforo


(a) Para estes materiais, os processos não foram divididos e, portanto, referem-se a todo o ciclo de vida.
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea

Outro resultado significativo, obtido ainda na fase agrícola, foi a participação do


fósforo como poluente crítico da Água Cinza, contribuindo com 99,5% do valor total deste
componente. Nota-se, ainda, que este grande percentual resultou, principalmente, da poluição
difusa, causada pela fração de fósforo perdida no uso do fertilizante fosfatado para o cultivo
agrícola.
121

Figura 4.9 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Verde, Azul e
Cinza, do subsistema da fase agrícola.

Nas fases de produção do óleo degomado e de fabricação do biodiesel, a Água Verde e


a Água Azul foram obtidas a partir dos valores volumétricos apresentados anteriormente para
cada processo que participa destes subsistemas. No cálculo da Água Cinza, também foram
utilizados os mesmos procedimentos, considerações e tipos de dados empregados na fase
agrícola, levando em conta os diferentes processos envolvidos. Além disso, os resultados
definitivos destes componentes para os processos específicos de produção do óleo degomado
e do biodiesel foram obtidos com o uso dos valores médios de consumo de água e geração de
efluente entre as duas empresas analisadas. A partir destes procedimentos, obtiveram-se os
resultados finais da Pegada Hídrica destes subsistemas, os quais são mostrados em conjunto
na Tabela 4.39.
122

Tabela 4.39 – Resultados finais da Pegada Hídrica, para os subsistemas das fases de produção
do óleo degomado e de fabricação do biodiesel.
Água Azul Água Cinza
Processo Água
Material
produtivo Verde (l) Parâmetro
AS (l) AG (l) Valor (l)
crítico
Cultivo 1,8E+02 - - - -
Biomassa
Insumos - 2,0E-03 2,7E-04 7,4E-01 DBO
Energia
- - 5,3E-02 - 2,3E+01 Fósforo
elétrica(a)
Óleo diesel(a) - - 1,0E-03 - 8,3E-01 Benzeno

Hexano - 3,7E-02 - 4,6E+01 DBO


Hexano
Insumos - 1,9E-02 2,5E-03 3,1E+01 DBO
Óleo
Fabricação - 1,6E+00 1,3E+00 1,9E+00 DBO
degomado

Metilato de Metilato de sódio - 1,4E-01 - 3,7E+01 DBO


sódio Insumos - 7,0E-02 2,0E-02 1,5E+01 Fósforo

Hidróxido Hidróxido de sódio - 6,9E-02 - zero -


de sódio Insumos - 1,8E-02 3,0E-03 3,5E+00 Ferro

Ácido Ácido clorídrico - 5,3E-02 - zero -


clorídrico Insumos - 2,7E-02 5,0E-03 5,4E+00 Ferro

Ácido Ácido fosfórico - - 1,6E-02 2,1E+00 Fluoreto


fosfórico Insumos - 4,2E-02 1,5E-02 2,5E+00 Fluoreto

Metanol(a) - - 4,0E-01 6,7E-02 1,9E+01 Fósforo

Biodiesel Fabricação - 2,9E-01 1,7E-01 2,0E+00 DBO


(a) Para estes materiais, os processos não foram divididos e, portanto, referem-se a todo o ciclo de vida.
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea.

No subsistema de produção do óleo degomado, o valor da Pegada Hídrica total ficou


em torno de 239,1 litros, sendo composta por 137 litros de Água Verde, 3,1 litros de Água
Azul e 99 litros de Água Cinza. Ao contrário da fase agrícola, neste subsistema a maior parte
do uso da água ocorreu pela produção de insumos, com cerca de 98,4% do valor total. Entre
estes materiais, as maiores contribuições ocorreram pelo consumo de água da chuva no
cultivo de biomassa (100% da Água Verde) e pela Água Cinza da produção de hexano, como
pode ser visto na Figura 4.10. Quanto ao processo produtivo do óleo degomado, este
apresentou grande importância apenas na Água Azul, abrangendo 97% do consumo de água.
123

Por outro lado, a produção de insumos do cultivo de biomassa e a produção de óleo diesel
obtiveram representatividade menor que 1% em todos os componentes.

Figura 4.10 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Azul e Cinza, do
subsistema da fase de produção do óleo degomado.

De forma específica para a Água Cinza, também nota-se que nesta fase a emissão de
matéria orgânica, representada pelo parâmetro da DBO, é o tipo de poluição que mais
contribui para o resultado final deste componente (80,3%), incluindo o efluente do processo
produtivo do óleo degomado.
Na comparação entre as duas diferentes empresas consideradas, obteve-se o total de
240,2 litros para a Empresa sem recirculação e 238,1 litros para a Empresa com recirculação.
Essa pequena diferença de 2,1 litros, menor que 1% do valor total, derivou da diferença de
10% (0,3 litros) na Água Azul e 1,8% (1,8 litros) na Água Cinza. Portanto, em termos de
representatividade, pode-se dizer que a recirculação de efluentes resultou em uma diferença
pouco significativa, levando em conta todos os processos do subsistema. No entanto, se for
considerado apenas o processo de produção do óleo degomado e não forem contabilizadas as
diferenças pela eficiência do uso da água (assumindo o consumo médio de 3 litros para as
duas empresas), pode-se concluir que o volume de 1,8 litros da Água Cinza representa uma
adição de 60% no valor da Pegada Hídrica do processo, mostrando a importância do
reaproveitamento do efluente.
Com relação à fase de fabricação do biodiesel, a soma dos valores apresentados na
Tabela 4.39 resulta em 47,6 litros de Água Verde, 1,4 litros de Água Azul e 90,3 litros de
Água Cinza, totalizando a Pegada Hídrica de 139,3 litros. Assim como na produção do óleo
degomado, neste subsistema as etapas de produção dos insumos contribuíram com quase todo
o valor da Pegada Hídrica, atingindo um percentual de 98,7%. Conforme mostra os gráficos
124

da Figura 4.11, entre os diferentes materiais, o uso da água ocorre com maior intensidade na
produção do metanol e do metilato de sódio tanto pelo consumo de Água Azul como pela
Água Cinza, além da produção de biomassa pelo valor total da Água Verde. Quanto ao
processo de fabricação do biodiesel, este somente obteve grande representatividade na Água
Azul, abrangendo 32% do volume consumido. Particularmente para o componente Água
Cinza, a contribuição para o resultado final ficou dividida entre o parâmetro da DBO (43,4%)
e as emissões de fósforo (41,3%).

Figura 4.11 – Composição da Pegada Hídrica total e dos componentes Água Azul e Cinza, do
subsistema da fase de fabricação do biodiesel.

Quando considerados os resultados separados pelas empresas analisadas, os valores


totais resultantes são de 140,5 litros para a Empresa sem recirculação e de 138,3 litros para a
Empresa com recirculação. Nota-se que, como o uso da água ocorre majoritariamente na
produção dos insumos, a diferença acaba sendo muito pequena, com apenas 2,2 litros ou 1,6%
em relação ao valor total. Entretanto, se para este subsistema forem feitas as mesmas
considerações realizadas para a fase do óleo degomado, ou seja, contabilizar somente o
processo de fabricação do biodiesel e o consumo médio entre as empresas (0,45 litros), a
adição do volume de 2 litros da Água Cinza resulta em um aumento de cinco vezes no valor
da Pegada Hídrica da Empresa sem recirculação.
A partir da obtenção dos valores totais de cada subsistema, foram encontrados os
resultados finais para todo o ciclo de vida do biodiesel de soja, que foram de 8089,6 litros de
Água Verde, 7,8 litros de Água Azul e 11688 litros de Água Cinza, totalizando o valor de
19785,4 litros para a Pegada Hídrica. Portanto, em termos de contribuição, nota-se que a
Pegada Hídrica resultante é, em sua maior parte, composta pela Água Cinza e depois pela
Água Verde, não sendo significativa a fração de Água Azul (0,04%), conforme mostra a
Figura 4.12. No entanto, cabe ressaltar que, conforme sugerido em diversos estudos
125

(CHAPAGAIN et al., 2006; DABROWSKI et al., 2009; FRAITURE et al., 2004; YANG et
al., 2006), esta comparação entre os diferentes componentes não é recomendada, uma vez que
possuem significados e objetivos diferentes. Por exemplo, enquanto a Água Azul significa o
consumo real (físico) de certo volume de água e, portanto, possui consequências diretas sobre
a disponibilidade hídrica, a Água Cinza é apenas um indicador da poluição causada, o qual
depende da escolha de alguns parâmetros específicos da região em estudo (ex.: concentração
máxima permitida).

Água Verde
40,89%
Água Cinza
59,07%

Água Azul
0,04%

Figura 4.12 – Contribuição da Água Verde, Azul e Cinza, para o valor total da Pegada Hídrica
do biodiesel de soja.

Com relação à representatividade de cada fase do ciclo de vida, os valores resultantes


são mostrados na Figura 4.13, mais abaixo. Como pode ser visto, a fase agrícola é responsável
por quase toda a Pegada Hídrica do biodiesel de soja, uma vez que domina amplamente os
resultados da Água Verde e Cinza. Além disso, apesar de não haver extração de água para
irrigação, também possui expressiva participação na Água Azul, devido ao consumo na
produção dos diversos insumos utilizados.
Entre os resultados totais de cada componente da Pegada Hídrica, somente alguns
processos do ciclo de vida obtiveram contribuição maior que 1%. Conforme mostra a Tabela
4.40, o processo de cultivo da soja contribuiu amplamente para os valores da Água Verde e
Cinza. Quanto aos outros processos do elo central da cadeia produtiva, apenas o de produção
do óleo degomado obteve grande participação no resultado da Água Azul. Por outro lado, a
inclusão das etapas de produção dos insumos se mostrou importante, pois obteve significativa
participação em todos os componentes da Pegada Hídrica, com 56,6% da Água Azul, 14,4%
da Água Cinza e 3,8% da Água Verde. Entre estes materiais, destaque deve ser dado para o
126

fertilizante fosfatado e para os defensivos agrícolas, que obtiveram resultados significativos


em dois componentes.

100%

80%

60%
Biodiesel
Óleo degomado
40%
Agrícola

20%

0%
Água Verde Água Azul Água Cinza Pegada
Hídrica

Figura 4.13 – Contribuição dos três subsistemas analisados, para os componentes Água
Verde, Azul e Cinza, e para o valor total da Pegada Hídrica.

Tabela 4.40 – Análise de contribuição das etapas do ciclo de vida do biodiesel de soja, por
componente da Pegada Hídrica.
Água Verde Água Azul Água Cinza
Etapa % Etapa % Etapa %
Cultivo da soja 96,2 Óleo degomado 37,6 Cultivo da soja 85,5
Biomassa 2,3 Fert. fosfatado 30,4 Fert. fosfatado 9,7

Sementes 1,5 Fert. potássico 6,4 Sementes 1,4


Metanol 6 Pesticidas 1,2
Biodiesel 5,8 Outros 2,2

Pesticidas 5,5
Metilato de sódio 3
Hidróxido de sódio 1,2
Ácido clorídrico 1,1
Outros 3

Outra forma importante de se analisar os resultados da Pegada Hídrica é através da


relação entre os valores volumétricos encontrados para o uso da água e o local em que
ocorrem. Neste estudo, os processos do ciclo de vida do biodiesel de soja que apresentaram os
127

usos mais intensivos da água foram delimitados de acordo com as regiões em que são
realizados, procurando utilizar, como unidade territorial, a bacia hidrográfica, conforme
disponibilidade de dados. Dessa forma, os resultados produzidos são mostrados na Tabela
4.41, onde nota-se que grande parte do uso da água fica concentrado na Região Hidrográfica
do Uruguai, que é o local no qual são realizados os processos de cultivo da soja e de produção
do óleo degomado e do biodiesel. Entretanto, também não pode passar despercebido o volume
de consumo e poluição que ocorre nas outras regiões, principalmente na Região Hidrográfica
do Atlântico Sudeste.

Tabela 4.41 – Análise das regiões com uso mais intensivo da água, envolvidas no ciclo de
vida do biodiesel de soja, conforme valor total da Pegada Hídrica e dos componentes Verde,
Azul e Cinza.
Pegada
Água Verde Água Azul Água Cinza
Hídrica
Região Subregião
Valor (l) % Valor (l) % Valor (l) % Valor (l) %
Bacia dos rios Turvo-
7,78E+03 96 2,90E+00 37 9,99E+03 85 1,78E+04 90
Santa Rosa-Santo Cristo
R. H. do
Bacia do rio Ijuí - - 4,60E-01 6 2,00E+00 0 2,46E+00 0
Uruguai
- 3,05E+02 4 - - 1,50E+02 2 4,55E+02 2

Bacia Baixada Santista - - 1,52E+00 19 9,40E+02 8 9,41E+02 5

R. H. Bacia Paraíba do Sul - - 4,19E-01 5 1,44E+02 1 1,45E+02 1


Atlântico
Sudeste Bacia Ribeira de Iguape - - 1,10E-01 2 2,41E+01 0 2,42E+02 0

Bacia Baía de Guanabara - - 4,80E-03 0 1,50E-01 0 1,55E-01 0


R. H.
Atlântico Bacia do rio Caí - - 3,70E-02 0 4,60E+01 0 4,60E+01 0
Sul

R. H. do Bacia do Alto Tietê - - 7,90E-03 0 6,20E-01 0 6,28E-01 0


Paraná
Bacia de Paranapanema - - 1,40E-01 2 3,70E+01 0 3,71E+01 0

Brasil(a) - - - 1,13E+00 15 2,68E+02 2 2,70E+02 1

Rússia(a) - - - 4,13E-01 5 3,26E+01 0 3,30E+01 0

Europa(a) - - - 1,33E-01 2 2,47E+01 0 2,48E+01 0

Chile(a) - - - 4,67E-01 6 1,90E+01 0 1,95E+01 0


(a) Nestes itens, foram consideradas regiões mais abrangentes, pois não foi possível realizar uma maior
especificação do local onde o uso da água ocorre.

Depois da apresentação dos resultados, é importante salientar que os valores


encontrados neste estudo foram obtidos seguindo a metodologia proposta e com o uso de
128

diversas estimativas mostradas ao longo do mesmo. Portanto, para o posterior uso destes
resultados tais aspectos devem ser considerados.
Entre os diversos estudos de Pegada Hídrica desenvolvidos nos últimos anos, existe
uma grande variabilidade nos métodos de coleta de dados e nas diversas suposições que
devem ser realizadas para que seja possível executá-los. Por esse motivo, muitas vezes a
realização de comparações mais específicas de resultados ficam prejudicadas. Mesmo assim,
diante do que foi apresentado, algumas observações importantes ainda podem ser feitas. Nota-
se, por exemplo, que a principal diferença deste estudo para a grande maioria dos trabalhos de
Pegada Hídrica, que envolvem a quantificação do uso da água no ciclo de vida de produtos, é
a inclusão, através de uma abordagem adaptada da metodologia ACV, das etapas de produção
dos insumos, os quais geralmente são negligenciados, como por exemplo, em Chapagain et al.
(2006), Aldaya e Hoekstra (2010), Mekonnen e Hoekstra (2010), Gerbens-Leenes et al.
(2009a), entre outros. Conforme mostrado anteriormente, o uso da água pela fabricação dos
insumos pode contribuir significativamente para o valor final da Pegada Hídrica e, portanto,
devem ser contabilizados para que o resultado não seja subestimado.
Outra questão importante é relacionada especificamente à determinação da Água
Cinza no cultivo da soja. No presente estudo, este componente foi determinado pela emissão
de fósforo, uma vez que este resultou em um valor muito maior (9996 litros) que as outras
substâncias (196 litros para o nitrogênio, 13 litros para o glifosato e 2,5 litros para a
permetrina). Este resultado acabou fazendo com que a Água Cinza apresentasse uma
contribuição maior que os outros dois componentes (Água Verde e Azul), contrariando os
resultados encontrados na maioria dos estudos de Pegada Hídrica (ex.: CHAPAGAIN et al.,
2006; CHAPAGAIN e HOEKSTRA, 2011; GERBENS-LEENES e HOEKSTRA, 2009;
MEKONNEN e HOEKSTRA, 2010). Nestes trabalhos, a estimativa da Água Cinza da fase
agrícola foi realizada somente com a emissão de nitrogênio, muitas vezes sem justificar o
motivo da escolha, resultando em uma baixa contribuição no valor total da Pegada Hídrica,
com cerca de 2 a 12%.
Os poucos estudos que realizaram uma avaliação mais detalhada da Água Cinza
apresentaram resultados com um padrão diferente dos demais. No estudo de Ercin et al.
(2012) foram contabilizadas todas as substâncias emitidas, resultando em uma contribuição
mais expressiva da Água Cinza (em torno de 50% da Pegada Hídrica total), porém a emissão
de fósforo foi considerada nula, através da justificativa de que há forte adsorção entre este
elemento e o solo. Na publicação de Dabrowski et al. (2009), com base em frações de perda
retiradas da literatura especializada, foram contabilizadas as emissões de fósforo para
diferentes cultivos, o que resultou em valores de Água Cinza sempre maiores para este
129

elemento e também maiores que a Água Verde e Azul, concordando com o que foi obtido no
presente trabalho. Dessa forma, os resultados apresentados neste estudo reforçam a ideia de
que a contabilização somente do nitrogênio na estimativa da Água Cinza pode acabar
subestimando o valor final da Pegada Hídrica.
Devido às frequentes situações de baixa disponibilidade de água da chuva,
enfrentadas por diversas regiões produtoras de soja do Rio Grande do Sul, em muitos anos
ocorrem diminuições drásticas na produtividade deste cultivo. Por esse motivo, estão sendo
incentivados, com cada vez mais força, a implantação de sistemas de irrigação. Diante deste
contexto, como um ponto adicional deste estudo, também foi realizada a estimativa da Pegada
Hídrica, incluindo a aplicação da irrigação no cultivo da soja. Neste procedimento, além de
serem consideradas as mesmas condições e suposições feitas anteriormente, foi assumido que
o rendimento potencial da soja, sem sofrer nenhum estresse hídrico, é de 3500 kg/ha, que é o
valor aproximado obtido por Martorano (2007). Além disso, foi considerado que a eficiência
da água extraída para a irrigação é de 62,2%, conforme dados de Christofidis (1999) para a
região sul do Brasil, e que do volume total de água perdida há evaporação (uso consuntivo) de
10%, de acordo com Mishra e Yeh (2011). Por fim, também deve ser observado que não foi
considerado o consumo a mais de energia elétrica para o bombeamento da água nem qualquer
outro insumo adicional.
A partir destas definições, foi realizada a simulação no software CROPWAT v.8.0,
selecionando-se a opção que considera os intervalos de irrigação com eficiência máxima, ou
seja, somente é aplicada quando a água disponível no solo chega ao limite de esgotamento
para a cultura. Dessa forma, o valor encontrado para o consumo efetivo da água proveniente
da irrigação foi de 281,7 mm e para o volume total perdido foi de 172,7 mm, dos quais 17,3
mm são consumidos pela evaporação e o restante retorna aos corpos hídricos. Depois disso,
para que se possa obter o resultado da evapotranspiração da água da chuva, o consumo efetivo
da irrigação foi subtraído da necessidade total da cultura (704,4 mm), resultando em 422,7
mm. Com estes resultados, mais a produtividade assumida e a quantidade de soja necessária
para a produção de 1 litro de biodiesel (2,48 kg), foi possível obter os valores finais de 2126
litros para a Água Azul e de 2995 litros para a Água Verde da fase agrícola. Além disso, com
os novos valores de produtividade e, consequentemente, de aplicação de fósforo (60 kg/ha,
segundo indicações da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul (2009)), o resultado da
Água Cinza também se modifica, diminuindo para 6503 litros e totalizando a Pegada Hídrica
de 11616 litros.
Como pode ser notado, a aplicação da irrigação reduziu consideravelmente o valor
total da Pegada Hídrica (cerca de 8169 litros), o que concorda com os estudos de Mekonnen e
130

Hoekstra (2010) e Ercin et al. (2012). Essa diminuição do valor pode ser explicada,
principalmente, pela maior produtividade alcançada pela soja com o suprimento ótimo de
água em seu desenvolvimento. Além disso, a eficiência da água da irrigação, do modo como
foi simulado, é maior que a água da chuva, uma vez que somente é aplicada quando a cultura
realmente está necessitando de água.
No entanto, também se percebe que ocorre uma mudança significativa na
composição da Pegada Hídrica, pois há um grande aumento da participação da Água Azul,
ficando em torno de 18% do total, e consequente diminuição da Água Verde e Cinza, com
26% e 56%, respectivamente. Portanto, considerando que a competição pelo uso da Água
Azul é maior, este resultado reforça a ideia de que o uso do valor total da Pegada Hídrica não
é recomendado, uma vez que, neste caso, fica claro que, apesar da diminuição, o aumento
considerável da Água Azul obviamente resultaria em impactos mais significativos aos
recursos hídricos.

4.4 INVENTÁRIO DO CICLO DE VIDA DO USO DA ÁGUA

O ICV voltado ao uso da água, no ciclo de vida do biodiesel de soja, foi produzido
seguindo os procedimentos e considerações especificadas e determinadas no subitem
relacionado às definições gerais deste estudo. Além disso, do mesmo modo como foram
realizados os cálculos da Pegada Hídrica, todos os dados brutos relacionados aos fluxos de
materiais e de água necessários para a consolidação deste inventário foram determinados e
apresentados no subitem 4.2 Inventário de Materiais. Portanto, nesta parte do estudo será
apenas realizado o tratamento destes dados e a apresentação e discussão dos resultados finais.
De forma geral, para cada processo envolvido nos subsistemas, o uso consuntivo foi
determinado pela diferença entre o volume de entrada de água (água superficial e água
subterrânea) e o volume de efluente gerado, utilizando os valores anteriormente mostrados em
tabelas devidamente identificadas. Entretanto, como foi considerado que todos os efluentes
são lançados em corpo hídrico superficial, o volume de água subterrânea extraída sempre foi
totalmente consumida, uma vez que este volume não retorna à fonte original. Quanto ao uso
degradativo, o valor quantitativo foi determinado pelos volumes de efluente gerado e a
classificação da qualidade dos fluxos de água (entrada e saída) foi realizada utilizando os
valores de concentração dos parâmetros mostrados anteriormente, em tabelas específicas para
cada processo.
Diante destes procedimentos, o inventário produzido para a fase agrícola é mostrado
na Tabela 4.42, mais abaixo. Com relação aos resultados relacionados à água da chuva,
131

ressalta-se que os estudos em que a produção deste inventário se baseia, ou seja, o de Bayart
et al. (2010) e o de Boulay et al. (2011a), recomendam a inclusão da precipitação como fonte
de água apenas quando for coletada artificialmente (ex.: cisternas), justificando que esta
interceptação é a única forma de diminuir o volume da contribuição natural aos corpos
hídricos. Dessa forma, não é contabilizada a evapotranspiração das culturas como uso
consuntivo, pois, segundo os mesmos, este consumo aconteceria de qualquer maneira, caso
houvesse a presença de vegetação nativa. Entretanto, estes mesmos estudos não deixam claro
quanto à contabilização do excesso da água da chuva que escoa ou infiltra para os corpos
hídricos com sua qualidade degradada pela solubilização de poluentes derivados dos insumos
agrícolas, como os fertilizantes. De acordo com os princípios do uso degradativo, entende-se
que este volume poluído deve ser contabilizado, pois esta água atingiria os corpos hídricos
com uma qualidade superior e, portanto, com menos restrições de uso, caso houvesse apenas a
vegetação nativa. Diante disso, neste estudo foi decidido por quantificar o volume de água da
chuva degradada pelo cultivo da soja, se diferenciando do que foi apresentado nos estudos
citados anteriormente. Para tanto, utilizou-se, além da carga de poluentes derivados do
cultivo, o valor encontrado na estimativa realizada pelo software CROPWAT v.8.0 para o
volume de água que fica em excesso no balanço hídrico do solo após se esgotar a capacidade
de armazenamento do mesmo, ou seja, a parte que infiltra de forma profunda ou escoa
superficialmente.
A partir da soma destes resultados, pode-se chegar aos valores de 3,3 litros de
consumo efetivo da água e de 256,4 litros que são degradados. Como pode ser visto nos
gráficos da Figura 4.14, o uso consuntivo foi determinado somente pela produção dos
insumos, com destaque para o fertilizante fosfatado. Quanto ao uso degradativo, apesar do
alto valor apresentado, nota-se que sua maior parte é composta pela água da chuva degradada
à categoria S3 (96%), a qual, segundo Tabelas 4.5 e 4.6, ainda pode exercer diversas funções
importantes, como o uso doméstico com tratamento avançado, a irrigação de cultivos não
consumidos de forma crua ou não comestíveis e o uso em sistemas de refrigeração industrial,
fazendo com que o impacto deste resultado seja amenizado, dependendo do tipo de uso da
água que se pretende exercer. O restante do volume, cerca de 10 litros, são degradados de
forma intensa (categoria S5) e, por esse motivo, perdem totalmente sua funcionalidade, com
exceção da navegação e da produção de energia hidrelétrica. Por fim, entre os diferentes
processos envolvidos neste subsistema, a produção de insumos do calcário, a do fertilizante
nitrogenado e seus insumos, a do enxofre para o fertilizante fosfatado e a do óleo diesel, não
apresentaram contribuição maior que 1% em nenhuma das duas formas de uso da água.
132

Tabela 4.42 – Resultados finais do ICV, para o subsistema da fase agrícola.


Uso consuntivo Uso degradativo
Material Processo produtivo
AS (l) AG (l) Q E (l) Q

Calcário Insumos zero 9,0E-03 S2c/G1 3,1E-02 S4

Sementes Cultivo - - R 3,7E+00 S3

Óleo diesel(a) - 8,0E-03 - S2c 1,0E-01 S5

Fertilizante Ureia e amônia 2,7E-03 - S2b 6,2E-03 S5


nitrogenado Outros insumos 2,0E-02 4,9E-03 S2c/G2b 1,0E-01 S5
SSP e ácido sulfúrico 1,4E+00 - S3 4,2E+00 S5

Fertilizante Rocha fosfática - 9,4E-02 G2a 1,5E-01 S5


fosfatado Enxofre 2,2E-02 - S2c 8,8E-02 S3
Outros insumos 6,9E-01 1,5E-01 S2c/G1 3,4E+00 S5

Fertilizante KCl 4,1E-01 - S2b 6,7E-01 S5


Potássico Insumos 7,4E-02 1,2E-02 S2c/G2b 3,4E-01 S5

Roundup 2,8E-01 2,7E-02 S2b/G1 7,2E-01 S5


Spider 7,6E-03 3,2E-04 S2b/G1 1,9E-02 S5

Standak Top 1,8E-02 1,1E-03 S2b/G1 4,4E-02 S5

Pesticidas(a) Opera 4,4E-02 2,1E-03 S2b/G1 1,1E-01 S5

Certero 4,6E-03 2,0E-04 S3/G1 1,1E-02 S5

Talcord 7,4E-03 3,2E-04 S2b/G1 1,8E-02 S5

Pivot 3,8E-02 1,4E-03 S2b/G1 9,2E-02 S5


Grãos de
Cultivo - - R 2,4E+02 S3
soja
(a) Para estes materiais, os processos não foram divididos e, portanto, referem-se a todo o ciclo de vida.
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea; Q – qualidade (categoria).

Figura 4.14 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema da


fase agrícola.
133

Com relação aos subsistemas das fases industriais, os inventários finais são
mostrados em conjunto na Tabela 4.43. Dentro deste contexto, deve ser observado que, para a
obtenção dos resultados finais dos processos de fabricação do óleo degomado e do biodiesel,
foram considerados os valores médios de consumo de água e geração de efluente entre as duas
empresas analisadas.

Tabela 4.43 – Resultados finais do ICV, para os subsistemas das fases de produção do óleo
degomado e de fabricação do biodiesel.
Uso consuntivo Uso degradativo
Processo
Material
produtivo AS (l) AG (l) Q E (l) Q

Biomassa Insumos 2,0E-03 2,7E-04 S2c/G1 9,1E-03 S5

Energia elétrica(a) - 5,3E-02 - S2c 2,3E-01 S5

Óleo diesel(a) - 1,0E-03 - S2c 1,0E-01 S5

Hexano 3,7E-02 - S1 1,5E-01 S5


Hexano
Insumos 1,9E-02 2,5E-03 S2c/G1 8,5E-02 S5

Óleo degomado Fabricação 1,6E+00 1,3E+00 S3/G1 1,7E-01 S5

Metilato de sódio 1,4E-01 - S3 3,4E-01 S5


Metilato de sódio
Insumos 7,0E-02 2,0E-02 S2c/G1 3,4E-01 S5

Hidróxido de Hidróxido de sódio 6,9E-02 - S3 2,0E-01 S5


sódio Insumos 1,8E-02 3,0E-03 S2c/G1 8,3E-02 S5

Ácido clorídrico 5,3E-02 - S3 1,5E-01 S5


Ácido clorídrico
Insumos 2,7E-02 5,0E-03 S2c/G1 1,3E-01 S5

Ácido fosfórico - 1,6E-02 G2a 4,5E-02 S5


Ácido fosfórico
Insumos 4,2E-02 1,5E-02 S2c/G1 2,3E-01 S5

Metanol(a) - 4,0E-01 6,7E-02 S4/G1 1,2E+00 S5

Biodiesel Fabricação 2,9E-01 1,7E-01 S3/G1 1,2E-01 S5


(a) Para estes materiais, os processos não foram divididos e, portanto, referem-se a todo o ciclo de vida.
Legenda: AS – água superficial; AG – água subterrânea; Q – qualidade (categoria).

Para o subsistema de produção do óleo degomado, através da soma dos valores


encontrados para cada processo, pode ser observado que há um consumo efetivo de 3,1 litros
de água e a degradação total (categoria S5) de outros 0,5 litros. Entre os diferentes processos,
a produção de óleo diesel e a dos insumos na produção de biomassa não apresentaram
resultados significativos (contribuição maior que 1%) em nenhuma forma de uso da água. De
acordo com os gráficos da Figura 4.15, nota-se que a utilização da água na indústria de
134

extração e degomagem do óleo de soja representa a principal forma de consumo, enquanto


que no uso degradativo os insumos predominam com 84% do total.

Figura 4.15 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema da


fase de produção do óleo degomado.

Na comparação entre as duas empresas analisadas, os resultados obtidos foram de 3,2


e 2,9 litros de uso consuntivo e de 0,6 e 0,4 litros de uso degradativo para a Empresa sem
recirculação e a Empresa com recirculação, respectivamente. Apesar de ser pequena a
diferença de valores, o uso da água na empresa que não realiza o reaproveitamento de seus
efluentes é 30% maior, contabilizando apenas o uso degradativo.
Quanto à fase de fabricação do biodiesel, os valores totais resultantes foram de 1,4
litros de uso consuntivo e 2,8 litros de uso degradativo, com descarte dos efluentes na pior
categoria de qualidade possível (S5). Em termos de contribuição, conforme mostra a Figura
4.16, a produção dos insumos representou a maior parte do uso da água, com destaque para o
metanol, que teve a maior contribuição nas duas formas consideradas. Por outro lado, os
processos envolvidos na produção de biomassa, energia elétrica e óleo diesel não
apresentaram contribuição maior que 1% de nenhuma maneira. Quanto ao processo de
fabricação do biodiesel, este teve grande representatividade apenas no uso consuntivo.
Os resultados discriminados entre as duas empresas foram de 1,5 e 1,3 litros de
consumo de água e de 2,8 e 2,7 litros de uso degradativo para a Empresa sem recirculação e
para a Empresa com recirculação, respectivamente. Dessa forma, considerando apenas a
questão do descarte de efluentes, nota-se que a diferença foi de apenas 5% entre as empresas,
uma vez que o volume de efluente gerado é baixo, se comparado ao volume total de todos os
processos envolvidos.
135

Figura 4.16 – Composição do uso consuntivo e degradativo da água, no ICV do subsistema da


fase de fabricação do biodiesel.

Depois de obtidos os resultados de cada subsistema, pode-se dizer que o consumo


total de água, que ocorre no ciclo de vida do biodiesel de soja, é de 7,8 litros por litro de
combustível produzido. Além disso, também ocorre a degradação da qualidade de outros 260
litros, dos quais 95% (247 litros) ficam com a qualidade S3 e os 5% restantes (13 litros) são
devolvidos aos corpos hídricos com a pior qualidade possível (categoria S5). De forma
prática, isto significa que, por exemplo, se em um futuro estudo for avaliado o impacto da
diminuição de disponibilidade de água causada pela produção de biodiesel para um tipo de
uso mais exigente de qualidade, como a irrigação de cultivos que são consumidos de forma
crua (ex.: hortaliças), o valor a ser considerado será de 267,8 litros (7,8 de consumo e 260
litros degradados). No entanto, se o objetivo do estudo for avaliar a perda de água para usos
menos exigentes, como a irrigação de cultivos não comestíveis (ex.: oleaginosas para
biodiesel), o resultado será de apenas 20,8 litros (7,8 litros consumidos e 13 litros
degradados). A partir destes resultados, podem ser produzidos dois perfis de perda de água,
conforme mostra a Figura 4.17, onde o primeiro gráfico refere-se aos usos que não são
satisfeitos com a qualidade da água na categoria S3 (ex.: doméstico I e II, agricultura I, pesca
e recreação) e o segundo gráfico são os usos que ainda podem ser exercidos com esta
qualidade (ex.: doméstico III, agricultura II e refrigeração).
Estes valores também sugerem que o impacto desta cadeia produtiva na
disponibilidade dos recursos hídricos para os principais usos em atividades humanas é maior
pela poluição gerada do que pelo consumo efetivo. Dessa forma, os resultados deste estudo
reforçam as conclusões de Boulay et al. (2011b), que através de um estudo de caso sobre uma
indústria de papel, demonstrou a importância de se considerar a perda de funcionalidade da
água devido a sua degradação.
136

Figura 4.17 – Contribuição das formas de uso da água do ICV gerado neste estudo,
considerando as categorias de classificação do uso degradativo.

Em termos de contribuição, entre os três subsistemas definidos para o ciclo de vida


do biodiesel de soja, nota-se claramente, conforme Figura 4.18, que a fase agrícola tem maior
importância, principalmente no uso degradativo. De acordo com a Tabela 4.44, que mostra a
contribuição dos processos aos valores totais de uso da água, esse resultado está relacionado,
sobretudo, à poluição difusa, causada no cultivo da soja, devido à lixiviação dos fertilizantes
empregados neste processo. Depois disso, também apresentam contribuições importantes ao
uso consuntivo os processos de produção do óleo degomado e do fertilizante fosfatado.

100%

80%

60%
Biodiesel
Óleo degomado
40%
Agrícola

20%

0%
Uso consuntivo Uso degradativo

Figura 4.18 – Contribuição dos três subsistemas analisados, para o uso consuntivo e
degradativo da água.
137

Tabela 4.44 – Análise de contribuição das etapas do ciclo de vida do biodiesel de soja, de
acordo com a forma de uso da água considerada no ICV.
Uso degradativo Uso consuntivo
Etapa % Etapa %
Cultivo da soja 93,4 Óleo degomado 37,6
Fert. fosfatado 3,0 Fert. fosfatado 30,4
Sementes 1,4 Fert. potássico 6,4

Outros 2,2 Metanol 6


Biodiesel 5,8
Pesticidas 5,5

Metilato de sódio 3
Hidróxido de sódio 1,2

Ácido clorídrico 1,1


Outros 3

Devido ao fato de que a utilização da ACV para a avaliação do uso da água é muito
recente, existem, até o momento, poucos estudos de caso, ou exemplos de aplicação desta
técnica, que realizaram tal análise no ciclo de vida de produtos (BOULAY et al., 2011b;
EMMENEGGER et al., 2011; JESWANI e AZAPAGIC, 2011; RIDOUTT et al., 2012;
STOESSEL et al., 2012). Por esse motivo, fica difícil de serem realizadas comparações mais
específicas de resultados. Dentre os citados, o mais próximo às condições do presente estudo
foi o de Emmenegger et al. (2011), o qual avaliou o consumo de água no ciclo de vida do
biodiesel, produzido a partir da colza cultivada na Argentina, e comparou com dados de
outros combustíveis, obtidos de fontes secundárias. Neste trabalho, também foram utilizadas
informações fornecidas por bancos de dados, principalmente do Ecoinvent, para a produção
dos insumos e, consequentemente, o volume consumido de água para estes processos teve que
ser estimado com o uso de coeficientes fixos de retorno ou evaporação. Além disso, a
determinação da necessidade de irrigação para o cultivo também foi estimado com o uso do
software CROPWAT. A partir destes procedimentos, o resultado obtido foi o consumo de 24
litros de água por litro de biodiesel de colza cultivada sem irrigação. Outro valor apontado
neste estudo foi o uso consuntivo de 27 litros de água por litro de biodiesel de soja cultivada
nos Estados Unidos. Apesar de apresentar valores maiores que o consumo obtido no presente
trabalho (7,8 litros), provavelmente causado pelas inúmeras variáveis contidas em um sistema
agrícola, o perfil de contribuição dos processos envolvidos foi semelhante, indicando,
principalmente, a produção dos fertilizantes como maior consumidor.
138

Do mesmo modo como foi realizado na Pegada Hídrica, para o ICV do uso da água
também foi produzido o cenário de aplicação da irrigação. Dessa forma, utilizando os mesmos
dados e suposições, foram obtidos os resultados de 2126 litros para o uso consuntivo e de
1009 litros para o uso degradativo. Esse grande aumento no consumo de água já era previsto,
pois, no momento em que se aplica a irrigação, ocorre o consumo da água extraída dos corpos
hídricos (uso consuntivo) pela evapotranspiração da cultura e por perdas no sistema. No
estudo de Emmenegger et al. (2011), descrito anteriormente, o volume de uso consuntivo
aumentou para 1480 litros de água por litro de biodiesel quando considerada uma cultura
irrigada, atingindo uma proporção semelhante à obtida no presente trabalho. Quanto ao uso
degradativo, grande parte deste aumento é proveniente das maiores perdas de água por
infiltração ou escoamento, que ocorrem devido à manutenção da umidade do solo em um
certo limite desejável. Entretanto, apesar do grande volume, a qualidade com que sai do
sistema melhora (S2d), uma vez que, considerando que é assumida uma fração fixa de perdas
das substâncias aplicadas no cultivo, os poluentes acabam lixiviando de uma forma mais
diluída.

4.5 PEGADA HÍDRICA x ICV DO USO DA ÁGUA

Além da determinação da Pegada Hídrica do biodiesel de soja e a produção de um


ICV voltado ao uso da água, a proposta deste estudo também inclui a comparação entre estas
duas metodologias. A partir disso, objetiva-se esclarecer alguns aspectos e verificar a
aplicabilidade das mesmas, de maneira que se possa contribuir para melhorar o conhecimento
e o desenvolvimento dos estudos de avaliação da utilização dos recursos hídricos. Dessa
forma, neste subitem serão discutidas algumas características importantes da Pegada Hídrica e
do ICV do uso da água, com base nos resultados obtidos anteriormente e em outras
publicações pesquisadas.

4.5.1 Quantificação da Água Verde

Uma das principais diferenças entre os resultados encontrados para a Pegada Hídrica
e o ICV é referente à inclusão da Água Verde. O ponto central das discussões realizadas pela
comunidade científica especializada é focado no significado prático da quantificação deste
elemento. Muitos pesquisadores da área de ACV (BAYART et al., 2010; MILÁ I CANALS
et al., 2009; PFISTER e HELLWEG, 2009), por estarem preocupados exclusivamente com a
avaliação de impactos ambientais, recomendam não contabilizar o consumo de água da chuva
139

pelo cultivo agrícola, uma vez que, caso não existisse a cultura, este consumo ocorreria de
qualquer maneira pela vegetação natural e, portanto, não causa impacto direto sobre a
disponibilidade de água útil para outras finalidades.
No entanto, este tipo de abordagem tende a desvalorizar a água da chuva como
potencial recurso hídrico em diversos aspectos. Uma das principais questões está relacionada
à competição entre diferentes tipos de cultivos e suas finalidades, como a produção de
alimentos e de bioenergia. Isso porque, com a crescente demanda por estes recursos, as áreas
que possuem grandes potenciais de precipitação e, consequentemente, boa produtividade
agrícola se tornarão cada vez mais escassas e, dessa forma, a ocupação destas com cultivos
energéticos poderá diminuir a disponibilidade de água da chuva para culturas alimentícias
(HOEKSTRA et al., 2009). Portanto, dentro do contexto da avaliação de impactos ambientais,
este tipo de consumo pode apresentar grande importância, uma vez que se o mesmo ocorrer
de forma intensa em uma região ou país com pouco potencial de precipitação e baixo poder
econômico de compensação (importação de recursos, desenvolvimento de novas tecnologias,
etc.), poderão ser provocados impactos sobre a saúde humana tanto de forma direta, com a
diminuição da disponibilidade de alimentos, como de maneira indireta, pela necessidade do
emprego da irrigação e a consequente diminuição dos recursos hídricos prontamente
disponíveis (Água Azul).
Por fora da questão específica de impactos ambientais, também nota-se que apenas
com a inclusão da Água Verde é que se pode ter um indicativo consistente da quantidade real
de água que é necessária para sustentar uma certa cadeia produtiva. Como um bom exemplo
deste aspecto, pode ser mencionado o resultado obtido no ICV gerado no presente estudo,
onde apenas os 7,8 litros de uso consuntivo não indicam, de nenhuma forma, que este baixo
consumo de água na produção do biodiesel de soja só é possível se houver a ocupação de
áreas com bom potencial de precipitação.
Além disso, os resultados da Água Verde também proporcionam a possibilidade de
realizar estimativas que relacionam o aumento no consumo de água da chuva, decorrente de
cenários de expansão de mercado, e o potencial de uma determinada região em suportar tal
crescimento na demanda. Este tipo de avaliação pode ser realizada, por exemplo, para o
biodiesel de soja, utilizando o resultado da Água Verde deste estudo para estimar o quanto
será consumido a mais de água, se for instituído o aumento para 10% na mistura com o diesel
comum e depois comparar com os potenciais de precipitação e produtividade da região
estudada e de outras com características semelhantes.
Outra maneira de se utilizar as informações fornecidas pela Água Verde é realizar
comparações de eficiência do uso da água entre duas culturas produzidas para uma mesma
140

finalidade. Assim, em uma determinada região, é possível verificar qual oleaginosa consome
menos água na produção de um litro de biodiesel.
Diante destas questões, sugere-se que em inventários de futuros estudos de ACV
sejam incluídos dados referentes ao consumo de água da chuva, assim como ocorre em
estudos de Pegada Hídrica. Além disso, com o intuito de incluí-los em análises de impactos
ambientais, também devem ser realizadas pesquisas que desenvolvam fatores de
caracterização diferenciados para este tipo de fluxo.

4.5.2 Água Cinza x Uso Degradativo

Outra grande diferença entre os resultados obtidos para a Pegada Hídrica e o ICV,
foram os valores de uso da água pela poluição gerada no ciclo de vida, onde o primeiro, com
11688 litros (Água Cinza), obteve um volume muito superior ao segundo, que atingiu 260
litros (Uso degradativo). Isso ocorreu, obviamente, pela diferença do método de
quantificação, pois enquanto o uso degradativo mensura os volumes reais de efluentes
lançados em cada etapa, a Água Cinza expressa um indicativo volumétrico da quantidade de
água necessária para diluir as emissões de poluentes.
De fato, os dois métodos possuem limitações consideráveis. Na Água Cinza, existe
uma grande tendência em superestimar a poluição hídrica, pois não considera o potencial de
autodepuração dos corpos hídricos, que ocorre para alguns parâmetros que não são
permanentes, como por exemplo, o consumo de oxigênio (DBO) pela degradação da matéria
orgânica (BOULAY et al., 2011b). O uso degradativo, por sua vez, tende a subestimar o
volume de água poluída, pois considera as concentrações das substâncias presentes no
efluente apenas para classificar os fluxos nas categorias de qualidade previamente
estabelecidas e, portanto, não contabiliza os valores reais das mesmas, os quais, dependendo
do caso, podem fazer com que um volume muito maior de água perca sua funcionalidade no
momento em que atingem os corpos hídricos.
A partir destas observações, conclui-se que os dois métodos necessitam de
refinamentos para que se tornem mais precisos. Com relação às informações disponibilizadas,
a vantagem da Água Cinza é que esta fornece um perfil de quais poluentes são considerados
críticos no ciclo de vida estudado, auxiliando no planejamento de quais medidas e ações
devem ser adotadas para amenizar os problemas de poluição hídrica. Como exemplo disso,
pode ser mencionado o resultado obtido no presente estudo, o qual indicou que o fósforo,
derivado principalmente do emprego de fertilizante na fase agrícola, tem grande possibilidade
de ser o principal poluente do ciclo de vida do biodiesel de soja. Portanto, na prática, isto
141

ressalta a importância de se investir na adoção de procedimentos de manejo na agricultura que


minimizem a perda das substâncias aplicadas, como por exemplo, evitar o emprego excessivo
de fertilizantes e em períodos próximos à ocorrência de precipitação, adotar medidas que
diminuam a erosão do solo, entre outros.
Outro aspecto importante é que, conforme visto na revisão bibliográfica, o método da
Água Cinza é semelhante à forma de quantificação adotada para a outorga qualitativa
(diluição de efluentes), determinada na Resolução n.º 16/2001 do CNRH (CNRH, 2001).
Dessa forma, a estimativa deste componente da Pegada Hídrica também pode ser útil para
auxiliar na realização de previsões de demanda e na concessão destas autorizações pelos
órgãos de gestão e controle dos recursos hídricos.
Além disso, também nota-se que a estrutura de quantificação da Água Cinza é mais
flexível e adaptável às condições específicas da região estudada, uma vez que o valor da
concentração máxima permitida, em que o cálculo se baseia, pode ser selecionada de acordo
com a legislação vigente no local. Ao contrário disso, no uso degradativo os padrões de
qualidade da água já estão previamente definidos com base em valores globais, o que muitas
vezes não condiz com a situação particular da região estudada; entretanto, favorece uma
melhor padronização dos resultados obtidos e, assim, permite a comparação de diferentes
estudos.
Por outro lado, também é importante salientar que o método de quantificação
adotado para o uso degradativo possui a vantagem de mostrar, com maior detalhamento, os
volumes de água perdidos pela poluição hídrica para cada tipo de função exercida pela água.
Dessa forma, este método possibilita que sejam realizados estudos específicos para um tipo de
uso da água ou generalizados, de forma a se produzir um panorama dos usuários que são mais
atingidos pela degradação da qualidade da água gerada em um determinado ciclo de vida.

4.5.3 Gestão de Recursos Hídricos

Com relação à aplicação dos resultados fornecidos pela Pegada Hídrica e pelo ICV
para as atividades de gestão dos recursos hídricos, pode-se dizer que, sem contar as diferenças
mencionadas anteriormente, ambas as metodologias possuem grande aplicabilidade tanto no
setor público como em empresas privadas. Através dos resultados deste estudo, por exemplo,
foi possível identificar e mapear as etapas e regiões da cadeia produtiva do biodiesel em que
ocorrem os usos mais intensivos da água e de que forma acontecem. A partir disso, as
empresas envolvidas podem conhecer melhor a pressão exercida por suas atividades sobre os
recursos hídricos e, assim, tomar decisões de gestão e agir de forma mais efetiva, com o
142

intuito de diminuir ou compensar estas interferências. Na prática, isto pode resultar na


melhoria da performance das plantas industriais (ex.: a implantação do sistema de
reaproveitamento de efluentes mencionado neste estudo), na aquisição de insumos que
utilizam menos água em sua produção, no investimento em projetos de conservação e
restauração das bacias hidrográficas que participam do ciclo de vida do produto (ex.:
reflorestamento de matas ciliares), na elaboração de projetos de conscientização das partes
envolvidas e da população sobre os desafios da água (ex.: incentivos às melhores práticas na
agricultura), entre outros.
Especificamente para o poder público, as estimativas sobre o uso da água no ciclo de
vida de produtos, como foi realizado no presente estudo, podem contribuir, principalmente,
para a questão do planejamento na gestão dos recursos hídricos de uma determinada região.
Isso porque, através do cruzamento de dados de uso da água específicos para os setores
usuários (ex.: por unidade de produto fabricado) com outros dados de desenvolvimento
econômico e político, é possível realizar previsões de crescimento na demanda de água e na
poluição hídrica. Além disso, se forem adicionados dados sobre a disponibilidade hídrica da
região, também é possível efetuar estudos envolvendo balanços hídricos atuais e futuros com
a identificação de conflitos potenciais, que são informações essenciais na elaboração dos
planos de recursos hídricos. Estes tipos de avaliações já foram realizadas nos estudos de Elena
e Esther (2010), Dominguez-Faus et al. (2009) e Lienden (2009), os quais verificaram as
futuras consequências da implementação de políticas de incentivos à produção de
biocombustíveis em alguns países e no mundo.
Segundo Araújo (2010), os resultados fornecidos pela Pegada Hídrica podem ser
úteis, inclusive, para o Plano Nacional de Recursos Hídricos, incluindo análises dos fluxos de
água entre as Regiões Hidrográficas, a caracterização das unidades de gerenciamento e a
quantificação e avaliação da Pegada Hídrica de alguns setores chave (ex.: setor hidrelétrico,
agronegócios, etc.). Neste contexto, nota-se que os resultados do presente estudo podem ser
utilizados como uma primeira aproximação da Pegada Hídrica do biodiesel brasileiro, que é
um importante ramo do agronegócio, estando, atualmente, em plena expansão. Além disso,
também podem contribuir para as análises de exportação e importação de água entre as
Regiões Hidrográficas, uma vez que os principais fluxos encontrados foram discriminados
conforme as bacias em que ocorrem.
143

4.5.4 Avaliação de Impactos Ambientais

Além de avaliar o uso da água de forma quantitativa, este trabalho também teve
como objetivo fornecer todos os dados necessários para a realização de um futuro estudo de
avaliação de impactos ambientais. Com isso, primeiramente foi verificado que a Pegada
Hídrica, apesar de ser uma metodologia consolidada, é focada apenas no fornecimento e na
análise de dados quantitativos, uma vez que a maioria dos trabalhos que chegam à etapa de
avaliação de impactos realizam apenas comparações entre a disponibilidade e a demanda de
água (identificação de pontos críticos), sem mensurar os danos finais resultantes dos conflitos
de uso da água identificados (CHAPAGAIN e ORR, 2008; KAMPMAN, 2007; OEL et al.,
2008).
Com relação à ACV, conforme foi previamente identificado na revisão bibliográfica,
apesar do uso da água ter sido recentemente incluído no âmbito desta técnica, já existem
diversas propostas de métodos de avaliação dos impactos (AICV) gerados pela diminuição da
disponibilidade hídrica (BOULAY et al., 2011b; MILÁ I CANALS et al., 2009;
MOTOSHITA et al., 2008, 2011; PFISTER et al., 2009; ZELM et al., 2011). Nestes estudos,
foi identificado que, apesar de serem empregadas fórmulas e procedimentos de cálculo
diferentes, todos se baseiam nos mesmos tipos de dados, que devem ser coletados na fase de
inventário, os quais são: os volumes de água consumida e degradada, a qualidade dos fluxos
de entrada e saída da água (concentração dos principais poluentes), a fonte da água
(superficial ou subterrânea) e a localização da atividade em que ocorre o uso da água.
A partir dessa avaliação, verificou-se que, apesar de alguns estudos indicarem a
possibilidade de utilizar os dados fornecidos pela Pegada Hídrica em posteriores estudos de
AICV (JESWANI e AZAPAGIC, 2011; RIDOUTT e PFISTER, 2010), apenas a Água Azul
teria utilidade nos métodos desenvolvidos até o momento. Isso porque para a Água Verde e
Cinza, ainda não foram criados fatores de caracterização, que permitam a avaliação dos
impactos decorrentes destas formas de uso da água. Por outro lado, também foi verificado que
o ICV do uso da água gerado no presente estudo fornece todas as informações necessárias
para emprego das recentes metodologias de AICV desenvolvidas pela comunidade científica,
uma vez que os resultados produzidos descrevem de forma clara a quantidade de água
consumida (uso consuntivo) e descartada, descrevendo a qualidade com que a mesma é
extraída e depois retorna ao corpo hídrico (uso degradativo) e, também, especificando a
localização (bacia hidrográfica) destes fluxos e a fonte dos recursos hídricos.
144

5 CONCLUSÕES

Diante da necessidade cada vez maior de se avaliar de forma consistente o uso da


água no ciclo de vida de produtos, o presente estudo concluiu seu objetivo principal de aplicar
a Pegada Hídrica e a Análise do Ciclo de Vida para quantificar a apropriação de recursos
hídricos na cadeia produtiva do biodiesel de soja. A partir disso, pelo fato de ser um assunto
relativamente novo nesta área, principalmente no Brasil, também foi possível apresentar uma
estrutura básica de dados a serem coletados para suprir a exigência deste tipo de avaliação, a
qual pode servir como modelo para a realização de futuros estudos semelhantes.
Outro diferencial deste trabalho foi a aplicação do procedimento metodológico da
Pegada Hídrica, tradicionalmente calculada considerando apenas o elo principal da cadeia
produtiva, a todo o ciclo de vida estudado, através da inclusão das etapas de produção dos
insumos, com o uso de bancos de dados comumente empregados em estudos de ACV. Por
outro lado, também foram utilizados alguns procedimentos comuns de estudos de Pegada
Hídrica para gerar o ICV do uso da água, como por exemplo, a simulação do balanço hídrico
do solo para estimar o uso degradativo que ocorre no cultivo da soja.
Apesar da baixa disponibilidade de dados relacionados ao uso da água e das diversas
suposições realizadas, foi possível obter um grande número de informações de fontes
primárias, principalmente para o elo principal da cadeia produtiva analisada, que
possibilitaram atingir resultados com certo grau de confiabilidade. Mesmo assim, observa-se
que, para a utilização dos valores encontrados, devem ser levadas em conta todas as variáveis
discriminadas ao longo do estudo.
Dito isso, alguns aspectos importantes podem ser destacados. Primeiramente, nota-se
que, apesar das diferenças entre as duas metodologias, alguns resultados foram semelhantes,
como por exemplo, o processo de cultivo agrícola obteve amplo predomínio nos valores
encontrados para todo o ciclo de vida tanto pela poluição causada com a lixiviação do fósforo
como pelo consumo de água da chuva pela cultura. Dessa forma, isso indica claramente que
as ações de gestão e a elaboração de projetos que tenham o objetivo de minimizar a pressão
sobre os recursos hídricos causada pela produção do biodiesel de soja poderão ser mais
efetivas se forem focadas nesta fase e na bacia hidrográfica onde ocorre.
Outro ponto relevante é que a contabilização do uso da água na produção de insumos
também apresentou resultados expressivos, principalmente na produção do fertilizante
fosfatado, indicando a necessidade de considerá-los em avaliações do uso da água. Além
disso, as duas metodologias apontaram que a principal forma de diminuição da
145

disponibilidade hídrica provocada pela cadeia produtiva do biodiesel de soja foi a degradação
da qualidade da água.
A estimativa de cenários do emprego da irrigação, para evitar a quebra de safra em
épocas de seca e elevar a produtividade do cultivo da soja, também apresentou resultados
interessantes. O principal ponto a ser destacado é o grande volume de água que deverá ser
extraído e consumido dos corpos hídricos para suprir a demanda da irrigação, indicando a
necessidade de serem elaborados estudos mais detalhados de avaliação da capacidade da
região em suportar este consumo e os seus consequentes impactos, antes de serem
implementadas tais medidas.
Por fim, as principais diferenças e limitações das duas ferramentas foram apontadas,
indicando a necessidade de se aprimorar a quantificação da poluição hídrica e de se incluir na
ACV os aspectos referentes ao consumo de água da chuva pelos cultivos agrícolas. Também
foi possível notar que, em termos práticos, a Pegada Hídrica é mais aplicável como um
indicador para a gestão de recursos hídricos, apesar de ainda necessitar de alguns
refinamentos. Quanto ao ICV produzido neste trabalho, pode-se concluir que este modelo
fornece todos os dados necessários para a realização de futuros estudos de avaliação de
impactos pelo uso da água, a partir das metodologias desenvolvidas até o momento.
146

6 RECOMENDAÇÕES

A partir das conclusões realizadas anteriormente, é possível apontar algumas


recomendações para a realização de futuros estudos na área de avaliação do uso da água no
ciclo de vida de produtos:
 Aplicar as metodologias da Pegada Hídrica e do ICV ao biodiesel de soja,
aumentando a abrangência da coleta de dados referentes aos principais
processos da cadeia produtiva e utilizando dados primários para a produção de
insumos;
 Verificar, de forma mais precisa, as perdas de substâncias aplicadas na
agricultura (ex.: pesticidas e fertilizantes) e a quantificação dos fluxos de água
nesta fase, comparando com as simulações realizadas no presente estudo;
 Estimar a Pegada Hídrica do biodiesel, com a utilização de outras culturas
oleaginosas e a substituição do metanol pelo etanol, e comparar com os
resultados obtidos neste trabalho, a fim de verificar quais alternativas possuem
maior eficiência no uso da água;
 Avaliar as consequências ao uso da água, frente a diferentes cenários de
expansão da produção de biodiesel;
 Identificar pontos críticos do ciclo de vida do biodiesel de soja, através da
comparação entre a disponibilidade hídrica das regiões envolvidas e o uso da
água que ocorre nas mesmas;
 Utilizar os dados fornecidos pelo ICV gerado neste estudo para executar a
avaliação dos impactos ambientais provocados pela diminuição da
disponibilidade de água e comparar estes resultados com os outros tipos de
impactos do ciclo de vida do biodiesel de soja.
 De forma geral, aprimorar as informações sobre o uso da água fornecidas pelos
inventários tradicionalmente produzidos, utilizando o modelo empregado neste
estudo.
147

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163

APÊNDICES

APÊNDICE A – Dados relacionados à metodologia do uso degradativo no ICV do uso da água.


Tabela A.1 – Limites de concentração dos parâmetros de qualidade da água, por tipo de uso da água, incluindo as referências das fontes dos dados.
(continua)
Parâmetro Unidade Agricultura 1 Agricultura 2 Pesca Doméstico 1 Doméstico 2 Doméstico 3 Recreação Refrigeração

SST(a) mg/L 100 100 40 25 25 300


(WHO06, TAI98) (WHO06, TAI98) (TAI98) (TAI98, EEC75) (TAI98) (EPRI03)

DBO5 mg O2/L 5 5 5 20 5
(FAO93, TAI98) (EEC75) (EEC75) (EEC75) (EEC75)

Nitrogênio Total mg N/L 30 30


(WHO06) (WHO06)

Dureza mg CaCO3/L 500 500 7000(b)


(WHO08) (WHO08)

Óleo e Graxas mg/L 1,4 1,4 1,4 1,4


(TAI98) (EEC75) (EEC75) (EEC75)

Amônia mg N/L 0,3 0,05 1 2 0,1 2


(TAI98) (EEC75) (EEC75) (EEC75) (TAI98) (EPRI03)

Arsênico mg/L 0,1 0,1 3 0,01 0,01 0,1(c) 0,1(c)


(WHO06) (WHO06) (FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08, EEC75) (WHO08)

Bário mg/L 0,7 0,7 7(c) 7(c)


(WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Boro mg/L 3 3 0,5 0,5 5(c) 5(c)


(WHO06) (WHO06) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Cádmio mg/L 0,03 0,03 Ausência 0,003 0,003 0,03(c) 0,03(c)


(WHO06) (WHO06) (FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Cloreto mg/L 350 350 250 250 25000 (b)


25000(b)
(WHO06) (WHO06) (WHO08) (WHO08)

Cromo mg/L 0,1 0,1 Ausência 0,05 0,05 0,5(c) 0,5(c)


(WHO06) (WHO06) (FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Fluoreto mg/L 1 1 1,5 1,5 15(c) 15(c)


(WHO06) (WHO06) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Ferro mg/L 5 5 0,5


(WHO06) (WHO06) (EPRI03)
164

(continuação)
(c) (c)
Chumbo mg/L 5 5 Ausência 0,01 0,01 0,1 0,1
(WHO06) (WHO06) (FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Manganês mg/L 0,2 0,2 0,4 0,5


(WHO06) (WHO06) (WHO08) (EPRI03)

Nitrato mg N/L 50 50
(WHO08) (WHO08)

Fósforo mg/L 0,1 0,1 0,1


(TAI98) (TAI98) (TAI98)

Enxofre mg/L 5
(EPRI03)

Sódio mg/L 210 210 200 200 15000(b) 15000(b)


(WHO06) (WHO06) (WHO08) (WHO08)

Sulfato mg/L 500 500 3000(b) 3000(b)


(WHO08) (WHO08)
Pesticidas Ausência
mg/L
organofosforados(d) (FAO93)
Pesticidas Ausência
mg/L
piretróides(e) (FAO93)

Benzeno mg/L Ausência 0,01 0,01 0,1(c) 0,1(c)


(FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

HPA(f) mg/L Ausência 0,0007 0,0007 0,007(c) 0,007(c)


(FAO93) (WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)

Bromato mg/L 0,01 0,01 0,1(c) 0,1(c)


(WHO08) (WHO08) (WHO08) (WHO08)
Fonte: adaptado de BOULAY et al. (2011a).
(a) Sólidos Suspensos Totais; (b) Nestes casos foi considerado a concentração da água do mar como limite; (c) Nestes casos foi considerado um valor 10 vezes maior que o padrão de
WHO08; (d) Inclui o glifosato; (e) Inclui a permetrina; (f) Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos.
Legenda: WHO06 – Fonte: WHO (2006); TAI98 – Fonte: TAIWAN EPA (1998); EEC75 – Fonte: EEC (1975); EPRI03 – Fonte: EPRI (2003); FAO93 – Fonte: SVOBODOVA et
al. (1993); WHO08 – Fonte: WHO (2008).
165

Tabela A.2 – Limites de concentração dos parâmetros de qualidade da água, por categoria de classificação do uso degradativo.
(continua)
Categorias
Unidade 1 2a 2b 2c 2d 3 4 5
Parâmetros
SST(a) mg/L 25 25 100 25 40 100 300

DBO5 mg O2/L 5 5 5 5 5 20 20

Nitrogênio Total mg N/L 30 30 30 30 30 30

Dureza mg CaCO3/L 500 500 500 7000 7000 7000 7000

Óleo e Graxas mg/L 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4

Amônia mg N/L 0,05 0,1 1 0,1 0,3 2 2

Arsênico mg/L 0,01 0,01 0,01 0,1 0,1 0,1 0,1

Bário mg/L 0,7 0,7 0,7 7 7 7 7

Boro mg/L 0,5 0,5 0,5 3 3 3 5

Cádmio mg/L 0 0,003 0,003 0,03 0 0,03 0,03

Cloreto mg/L 250 250 250 350 350 350 25000

Cromo mg/L 0 0,05 0,05 0,1 0 0,1 0,5

Fluoreto mg/L 1 1 1 1 1 1 15

Ferro mg/L 5 5 5 5 5 5 10

Chumbo mg/L 0 0,01 0,1 0,1 0 0,1 0,1

Manganês mg/L 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,5


166

(continuação)
Nitrato mg N/L 50 50 50

Fósforo mg/L 0,1 0,1 0,1 0,1

Enxofre mg/L 5 5 5 5 5 5 5

Sódio mg/L 200 200 200 210 210 210 15000

Sulfato mg/L 500 500 500 3000 3000 3000 3000


Pesticidas
mg/L 0 0
organofosforados(d)
Pesticidas
mg/L 0 0
piretróides(e)
Benzeno mg/L 0 0,01 0,01 0,1 0 0,1 0,1

HPA(f) mg/L 0 0,0007 0,0007 0,007 0 0,007 0,007

Bromato mg/L 0,01 0,01 0,01 0,1 0,1 0,1 0,1


Fonte: adaptado de BOULAY et al. (2011a). (a) Sólidos Suspensos Totais; (b) Inclui o glifosato; (c) Inclui a permetrina; (d) Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos.
167

APÊNDICE B – Dados climáticos.


Tabela B.1 – Valores médios decendiais das variáveis climáticas utilizadas na simulação do balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera, para o
cultivo da soja, em Santa Rosa - RS.
Período Temperatura Temperatura Umidade Relativa Velocidade do Radiação Solar Precipitação
Mês ET0 (mm/dia)(a)
Decendial Mínima (°C) Máxima (°C) do Ar (%) Vento (km/dia) (MJ/m²/dia) (mm/dia)
1° 15,2 28,3 69 454 21,5 5,56 5,54
Novembro 2° 16,1 29,5 71 334,7 21,9 5,48 6,14
3° 15,7 31,2 67 388,5 22,2 6,05 4,70
1° 18 31,1 67 461 23,5 6,50 2,80
Dezembro 2° 17,7 31 72 477 23,6 6,47 5,29
3° 17,8 32,2 70 393 23,6 6,37 3,60
1° 19,2 32,7 70 484,5 24 6,70 4,05
Janeiro 2° 19 32,4 68 428,5 23,7 6,44 4,47
3° 19,7 32,6 67 412,4 23,6 6,40 2,66
1° 19,4 31,9 72 447 23 6,12 4,38
Fevereiro 2° 19,5 31 70 459 22,5 5,90 3,15
3° 19,1 31,5 69 412,5 21,9 5,76 4,25
1° 19,2 31 74 420,8 20 5,26 4,68
Março 2° 16,7 29,2 71 420,6 19,4 5,52 2,11
3° 16,8 28.9 73 407,1 18,5 4,66 4,00
Fonte: dados obtidos em INPE (2012).
(a) Este item foi calculado pela fórmula de Penman-Monteith.
168

APÊNDICE C – Inventário das etapas de transporte de materiais.


Tabela C.1 – Consumo de óleo diesel, nas etapas de transporte dos materiais, considerando o sistema de produto definido para este estudo e a produção
de 1 litro de biodiesel de soja.
(continua)
Etapa Distância Média Quantidade de Consumo de Óleo
Material Local de Origem Tipo de Transporte
Local de Destino (km)(a) Material (kg) Diesel (kg)(b)
Sementes de soja Rio Grande do Sul(c) 100 0,1447 Rodoviário 0,0003

Calcário dolomítico Caçapava do Sul – RS 370 1,7364 Rodoviário 0,0130

Fert. Nitrogenado (Uréia) Rússia 13000(d) 0,0281 Marítimo 0,0018

Fert. Fosfatado (SSP) Cubatão – SP 1400(d) 0,6205 Rodoviário 0,0178

Fert. Potássico (KCl) Rússia 13000(d) 0,2178 Marítimo 0,0142

Unidade Misturadora NPK Rio Grande – RS 616 0,8665 Rodoviário 0,0109


Cultivo da Soja
Roundup Original São José dos Campos – SP 1300 0,0067 Rodoviário 0,0002
Santa Rosa - RS
Spider 840 WG Franco da Rocha – SP 1220 0,000104 Rodoviário 0,000003

Standak Top Guaratinguetá – SP 1390 0,000347 Rodoviário 0,00001

Opera Guaratinguetá – SP 1390 0,00307 Rodoviário 0,000087

Certero Belford Roxo – RJ 1615 0,000097 Rodoviário 0,000003

Talcord 250 Guaratinguetá – SP 1390 0,000295 Rodoviário 0,000008

Pivot Guaratinguetá – SP 1390 0,00301 Rodoviário 0,000086

Grãos de soja Santa Rosa – RS(e) 70 4,94 Rodoviário 0,007


Produção do Óleo
Degomado Biomassa (lenha) Rio Grande do Sul(f) 200 0,484 Rodoviário 0,002
Santa Rosa - RS
Hexano (20%) Triunfo – RS 470 0,0712 Rodoviário 0,00068
Fabricação do Óleo degomado Santa Rosa – RS 100 0,988 Rodoviário 0,002
Biodiesel
Ijuí - RS Biomassa (lenha) Rio Grande do Sul(f) 200 0,0874 Rodoviário 0,00036
169

(continuação)
(g)
Punta Arenas – Chile 2800 Marítimo 0,00196
Metanol 0,14
Rio Grande – RS 616 Rodoviário 0,00176

Metilato de sódio (30%) Pirapozinho – SP 1010 0,0114 Rodoviário 0,00024

Hidróxido de sódio (50%) Cubatão – SP 1200 0,0041 Rodoviário 0,00012

Ácido fosfórico (50%) Cajati – SP 970 0,0044 Rodoviário 0,00009

Ácido clorídrico (32%) Cubatão – SP 1200 0,0096 Rodoviário 0,00023


(a) No cálculo do consumo de óleo diesel, estes valores são multiplicados por dois para considerar as viagens de ida e volta; (b) Para o transporte rodoviário, foi considerado o
consumo de 0,01024 kg/ton.km de óleo diesel conforme o processo "operation, lorry 20-28t, fleet average" do banco de dados Ecoinvent, o qual considera o consumo médio de um
caminhão com capacidade de carga de 20-28 ton. Para o transporte marítimo, foi considerado o consumo de 0,0025 kg/ton.km de óleo diesel, conforme o processo "operation,
transoceanic freight ship" do banco de dados do Ecoinvent, o qual considera o consumo médio de um navio de carga transoceânico; (c) Para este material foi considerada a produção
em diversas localidades próximas à região de cultivo; (d) Esta distância é relacionada ao município de Rio Grande – RS, onde os produtos chegam pelo porto e são encaminhados
para as unidades misturadoras do composto NPK localizadas na mesma região; (e) Foi considerado que os grãos de soja utilizados na indústria (localizada no centro do município)
são provenientes das regiões agrícolas do entorno do município; (f) Para este material considerou-se que sua obtenção ocorre de diversas localidades do Rio Grande do Sul e,
portanto, foi estabelecida uma distância média; (g) Distância até o porto de Rio Grande – RS.

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