Monografia - Julia
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INSTITUTO DE HISTÓRIA
JULIA TRIGUEIRO
UBERLÂNDIA
2023
JULIA TRIGUEIRO
UBERLÂNDIA
2023
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus avós paternos, que estiveram presentes e prestaram
suporte incondicional ao longo de toda a minha trajetória acadêmica. Dedico ao meu avô de
consideração Cel. Jacques Rodrigues Alves, que sempre incentivou minha carreira
acadêmica, além de ter contribuído para a escolha do curso de História, uma vez que, devido
ao seu vasto conhecimento sobre as Ciências Humanas, compartilhava histórias comigo por
meio de narrativas acerca de suas experiências e vivências enquanto membro do Exército
Brasileiro no século XX, no âmbito do Estado Novo de Getúlio Vargas. Dedico este estudo
para os meus pais, que integralmente dedicaram suas vidas para a minha criação, e me
moldaram enquanto uma mulher crítica, politizada, amante das Ciências Humanas e
empenhada com os meus estudos. Dedico sobretudo, para o meu tio paterno Alexandre Silva
Araújo que em momentos cruciais esteve presente no meu cotidiano de diversas formas,
oferecendo suporte, amor e atenção. Por fim, dedico este estudo aos meus amigos e ao meu
namorado, que forneceram e fornecem, a dose de alegria, amor e leveza necessária para que
eu conseguisse concluir a graduação, mesmo em uma conjuntura política desfavorável para a
carreira acadêmica de modo geral.
AGRADECIMENTOS
Resumo
Abstract
1 Introdução........................................................................................................................ 10
5 Considerações Finais....................................................................................................... 43
6 Referências....................................................................................................................... 44
10
1 Introdução
todavia, ao ingressar no conflito, o faz ao lado dos Aliados, aqueles responsáveis por deferem
o Estado liberal, a democracia e a modernização das nações do globo. Para compreender as
razões que levaram o governo brasileiro a operar na guerra ao lado de nações que não
condiziam com o seu posicionamento político, além de analisar de que maneira tais
movimentações contribuíram com o fim do Estado Novo e, como consequência, na
flexibilização dos instrumentos de controle e repressão estatais, que impediam a livre atuação
crítica da imprensa brasileira, serão discutidos e examinados os apontamentos de Antonio
Pedro Tota1 em sua obra acerca da americanização do Estado brasileiro por meio de
iniciativas que visavam a aproximação entre os Estados Unidos da América e o Brasil.
Os países da América Latina revisitados como deficientes perante as grandes potências
Europeias, foram bombardeados pelos modelos de governos importados do hemisfério Norte.
No Brasil tal conjuntura não foi diferente, a estética nazista além de agradar as colônias
alemãs existentes nos Estados do Sul brasileiro, também faziam o gosto do alto escalão do
exército, uma vez que, ao mesmo tempo em que o “fascinante fascismo” ia ao encontro dos
projetos de uma Nação forte, máscula e comprometida com a moral, ele afastava a maior
ameaça para os países de Terceiro Mundo que almejavam aproximar-se das referências da
Europa, o comunismo.
“A ascensão da direita radical após a Primeira Guerra Mundial foi
sem dúvida uma resposta ao perigo, na verdade à realidade, da
revolução social e do poder operário em geral, e à Revolução de
Outubro e ao leninismo em particular. Sem esses, não teria havido
fascismo algum, pois embora os demagógicos ultradireitistas tivessem
sido politicamente barulhentos e agressivos em vários países europeus
desde o fim do século XIX, quase sempre haviam sido mantidos sob
controle antes de 1914. Sob esse aspecto, os apologetas do fascismo
provavelmente têm razão quando afirmam que Lenin engendrou
Mussolini e Hitler. Contudo, é inteiramente ilegítimo desculpar o
barbarismo fascista alegando que ele foi inspirado pelas supostas
barbaridades anteriores da Revolução Russa — que teria imitado —,
como alguns historiadores alemães estiveram perto de fazer na década
de 1980 (Nolte, 1987).” (HOBSBAWM, 1994, p. 103).
Ademais, a forma encontrada pelo governo brasileiro da época para instaurar a sua
longevidade e afastar quaisquer ameaças de um comunismo latente após a Revolução Russa
1 Antonio Pedro Tota em sua obra O Imperialismo Sedutor, discorre acerca dos projetos americanos que visavam
americanizar o Brasil e exercer a política de boa vizinhança com o intuito de afastar as ameaças dos países do Eixo e o
expansionismo das ideologias nazifascistas que operam de encontro com os anseios do capitalismo liberal.
14
de 1917, foi uma atuação pautada no autoritarismo e focada na promoção do Estado por meio
da propaganda e do controle da imprensa através de aparatos de censura e persuasão. Dessa
forma, as democracias liberais se revelavam como um contratempo para tais estruturas, pois
concediam espaço e voz para camadas sociais que poderiam pôr em xeque a integridade de
um governo que muitas vezes não correspondia aos anseios de determinados grupos.
“As forças que derrubavam os regimes liberal-democráticos eram de
três tipos, omitindo a forma mais tradicional de golpes militares que
instalavam ditadores ou caudilhos latino-americanos, sem qualquer
coloração política a priori. Todos eram contra a revolução social, e na
verdade uma reação contra a subversão da velha ordem social em
1917-20 estava na raiz de todos eles. Todos eram autoritários e hostis
às instituições políticas liberais, embora às vezes mais por motivos
pragmáticos do que por princípio. Reacionários anacrônicos podiam
proibir alguns partidos, especialmente o comunista, mas não todos.”
(HOBSBAWM, 1994, p. 94).
Outro fator de suma importância para que os moldes autoritários fossem
frequentemente requisitados nos países Latino Americanos, era a repulsa destes frente aos
arquétipos estadunidenses. A americanização, assim denominado o conjunto de estratégias
que objetivavam propagar a cultura dos Estados Unidos da América por Antônio Pedro Tota,
era encarada como uma desnecessária popularização do progressismo, da democracia liberal,
e do consumismo que poderia afastar os verdadeiros princípios civilizatórios inspirados nos
países Europeus tais como a Inglaterra e a França. Portanto, o American way of life sustentado
pela fábrica de ideologias do governo estadunidense, necessitaria de outras vias para se
instaurar nessas sociedades da América Latina. Ademais, a própria crise do liberalismo de
1929 acabava por fortalecer o repúdio pela figura dos Estados Unidos da América e seu
modelo econômico.
“O velho liberalismo estava morto, ou parecia condenado. Três
opções competiam agora pela hegemonia intelectual-política. O
comunismo marxista era uma. Afinal, as previsões do próprio Marx
pareciam estar concretizando-se, como a Associação Econômica
Americana ouviu em 1938, e, de maneira ainda mais impressionante,
a URSS parecia imune à catástrofe. (...) a terceira opção era o
fascismo, que a Depressão transformou num movimento mundial, e,
mais objetivamente, num perigo mundial. O fascismo em sua versão
alemã (nacional-socialismo) beneficiou-se tanto da tradição
15
dos espectadores e encantar o público, que por sua vez já se encontrava facilmente persuadido
com a novidade tecnológica americana, foi o cinema (Figura 3).
demonstrações de poderio constantes, o que implica segundo o autor, tanto no fim dos
conflitos a níveis antigos, por meio de lutas políticas e militares, como também no
desaparecimento da paz. Logo, os conflitos clássicos pautavam-se nos combates armados e na
demonstração de poderio militar na prática, ao se medir o poderio de uma nação voltava-se
aos seus tanques, armamentos e exército, diferentemente a estratégia nuclear se transfigura em
sua dissuasão e na possibilidade de concretizar uma catástrofe em larga escala.
A Guerra Fria, marcada pelo forte investimento no desenvolvimento de ogivas
nucleares, tanto por parte da URSS como dos países capitalistas, se atrela ao conceito de
dissuasão nuclear uma vez que, o conflito se desenrola por meio da própria dissuasão e
demonstrações de poderio. O conflito direto entre as potências capitalista e socialista não foi
às vias de fato, todavia, a corrida armamentista se fazia necessária, para que as nações
pudessem se assegurar de que em caso de ataque, possuiriam uma resposta à altura. Dessa
forma, a dissuasão nuclear no contexto da guerra fria, foi responsável por ditar os movimentos
do conflito, e quais seriam as nações protagonistas e mais influentes nesse âmbito.
Sendo assim, ao longo deste trabalho a revista O Malho é utilizada como uma
ferramenta para entendermos a forma pela qual as revistas foram capazes de popularizar
informações e construir versões sobre a História presente, sendo o foco da análise às
interpretações das movimentações dos países envolvidos na Segunda Grande Guerra, entre
eles, o Brasil. Portanto, a revista será investigada enquanto uma representação da sociedade
na qual ela era veiculada, uma vez que as revistas, ao escreverem sobre o seu espaço e tempo,
contribuem enquanto fonte histórica, no momento em que retratam sua realidade, e cooperam
para a formação da opinião daqueles que as consomem, ao proporem críticas e reflexões sobre
determinado contexto. (LUCA, 2008).
2 Luiz Sá, nasceu em 1907 em Fortaleza Ceará e se tornou um importante cartunista brasileiro, trabalhando em revistas como
Eu vi, O Tico-Tico e O Malho.
24
3 Maria Helena Rolim Capelato, historiadora e professora na Universidade de São Paulo, discorre em sua obra Imprensa e
História do Brasil acerca do papel da imprensa enquanto um meio para retratar a ação dos homens através do tempo.
25
Diante do exposto, qual seria o público alvo da revista carioca em questão? Quais
eram as razões políticas de O Malho, ou seja, qual a intenção dos responsáveis pela revista em
atingir determinada camada social e interpelá-los a refletir criticamente acerca das
movimentações do conflito? Ademais, de que maneira é possível recorrer a este periódico
para extrair através da análise de suas caricaturas e posicionamentos, o imaginário brasileiro
em relação ao desfecho da Segunda Grande Guerra?
Posteriormente, é relevante investigar como os elementos de persuasão utilizados pela
revista, por exemplo as caricaturas presentes em suas capas, foram manuseadas como
instrumentos de poder, para moldar opiniões ou até manipulá-las. Além de colocar em foco de
que maneira O Malho pode ser um meio para a interpretação da época, suas ideologias,
morais e visões de mundo, ademais, será debatido a forma com a qual revistas ilustradas se
comportam como propagadoras de modismos, modelos de ação e posicionamentos políticos.
(LUCA, 2008). Diante disso, é preciso compreender a imprensa enquanto uma fonte histórica,
capaz de afirmar narrativas dominantes, ou como veículo para propagar novas ideologias e
pensamentos revolucionários, (LUCA,2008), dessa forma, é de extrema importância
interpretá-la não como um meio para se absorver na totalidade a História e o pensamento
político de determinado período, mas sim como um recurso para se compreender e analisar
um recorte de espaço e tempo específico.
Para tanto, as obras de Maria Helena Rolim Capelato, Imprensa e História do Brasil, e
o texto de Tânia Regina de Luca 4 História da Imprensa no Brasil são importantes campos de
reflexões. Com o auxílio metodológico das autoras, e com o suporte de outros historiadores
que já trabalharam com o periódico, como Guilherme Mendes Tenório 5, a doutora em História
Cláudia Maria Ribeiro Viscardi6 e a historiadora Lívia Freitas Pinto Silva Soares7,
delimitamos o público-alvo de O Malho, e averiguamos o posicionamento e os objetivos dos
proprietários do periódico.
Em suma, a revista ilustrada O Malho pode ter contribuído de maneira efetiva para a
construção de um imaginário popular acerca do desfecho da Segunda Guerra Mundial. No
levantamento de doze edições publicadas mensalmente de janeiro a dezembro do ano de 1945,
e a primeira edição do ano de 1946, objetiva-se avaliar a perspectiva dos proprietários,
dirigentes, cartunistas e escritores da revista em relação ao conflito e suas expectativas no
primeiro ano após o fim da Guerra. Como já mencionado anteriormente, as imagens são de
suma importância neste contexto, de acordo com Tânia Regina de Luca em sua obra História
e Imprensa no Brasil:
“Essas revistas e tantas mais, muitas de vida efêmera, entretinham
com informações leves e, sobretudo, apuro gráfico. Naqueles
impressos, os ilustradores foram fundamentais no quadro de uma
população com alto índice de analfabetismo, para a qual imagens
comunicavam mais que texto” (LUCA, 1999, p. 62).
Diante de tal apontamento nos deparamos com revistas ilustradas que se
comportavam, nas primeiras décadas do século XX como um dos principais recursos para a
propagação de informações e conduziam-se como um poderoso meio para legitimar narrativas
e ideologias políticas. No que diz respeito a revista O Malho, é relevante salientar que ela foi
criada pelo jornalista Luís Bartolomeu de Souza e Silva, assim como aponta Guilherme
Mendes Tenório8. O proprietário da revista era um homem engajado politicamente e atrelado
ao pensamento modernista e positivista, frequentemente visitado pelos republicanos que se
posicionaram contra a Monarquia. A conjuntura e o contexto histórico do surgimento da
revista também devem ser observados, as primeiras edições de 1902 do periódico, traziam
sátiras sobre a recém instaurada República e abordavam as tensões e contradições de um
sistema que ainda se embasava nos velhos moldes da Monarquia. Portanto, é notável o
engajamento crítico da revista conforme observado por Tenório (2009, p. 37):
“O título escolhido para batizar o periódico de Luís Bartolomeu
precisa, assim, ser analisado com cuidado. Na medida em que
"malhar" é sinônimo de criticar, podemos concluir que a escolha do
martelo como símbolo da publicação não foi aleatória, e sim marcada
com uma intenção: identificar O Malho com a crítica”.
Ademais, é de igual pertinência salientar que no contexto da aparição da revista, é
verídico o crescimento populacional brasileiro, bem como o desenvolvimento da tecnologia
responsável pelo surgimento de bens de consumo como o rádio e o telefone. Todavia, é
notável que tais avanços tecnológicos foram desfrutados por uma pequena parcela do
montante total da população brasileira, diante disso, as revistas de baixo custo, continuavam
sendo um importante meio para se atingir as camadas mais pobres da população. Ainda se
referindo à pesquisa de Guilherme Mendes Tenório, o historiador aponta a grande circulação
8 Informação presente na dissertação: “Zé Povo cidadão: humor e política nas páginas de O Malho.” Rio de Janeiro:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2009.
27
Ademais, para reafirmar o caráter popular da revista, é possível identificar em suas charges e
caricaturas, o constante apelo por trazer discussões de cunho político por meio de sátiras, cujo
tom humorístico resultava não em críticas mais brandas, mas em conteúdos mais tênues e de
fácil compreensão para o seu público-alvo (Figura 2). Por meio dessas imagens, O Malho
trazia uma visão do Estado e de seus governantes, fornecia entretenimento e o riso para seus
leitores e desempenhava um estimado papel pedagógico, ao se propor a educar e convidar ao
debate político as camadas mais populares da sociedade, como afirmam Viscardi e Soares
(2018, p. 7-8):
“Em contrapartida, a revista O Malho teve como propósito maior ser
lida e adquirida pelos grupos populares, apresentando um forte viés
político-combativo. Fundada por Luís Bartolomeu de Sousa e Silva, a
publicação ilustrada semanal circulou no Distrito Federal entre os
anos de 1902 e 1954, contando com os principais chargistas do país,
que contribuíram com suas sátiras políticas e com seu elevado padrão
editorial e gráfico. O periódico possuía um caráter eminentemente
político e humorístico, o qual se fazia presente tanto em suas crônicas
como em suas imagens. Esforçava-se por desempenhar um papel
político-pedagógico, tornando-se cada vez mais popular. Tal
peculiaridade lhe rendeu um espaço importante entre os leitores”.
28
da sociedade nesse momento, uma vez que os periódicos, para caírem no gosto popular, e
conseguirem vender-se diante do sentido mercadológico capitalista, precisavam ser
congruentes com a visão comum.
“As inovações não se limitaram às mudanças na estrutura de
produção, organização, direção e financiamento, mas atingiram
também o conteúdo dos jornais e sua ordenação interna, que começou
a exigir gama variada de competências, fruto da divisão do trabalho e
da especialização. Esta, por sua vez, não se circunscreveu à
composição e a impressão propriamente ditas, mas atingiu a própria
fatura do conteúdo, que passou a contar com redatores, articulistas,
críticos, repórteres, revisores, desenhistas, fotógrafos, além de
empregados administrativos e de operários encarregados de dar
materialidade aos textos. (...) Sem abandonar a luta política, os diários
incorporaram outros gêneros, como notas, reportagens, entrevistas,
crônicas e, ao lado da produção ficcional, que só lentamente perdeu
espaço nos grandes matutinos, compareciam os inquéritos literários”
(LUCA; MARTINS, 2008, p. 151).
Para explorar e delimitar o espaço tempo da pesquisa, concentrado nas edições de
1945 da revista O Malho, faz-se necessário discutir acerca das suspensões e censuras das
quais a imprensa brasileira foi alvo na primeira metade do século XX. A chegada de Getúlio
Vargas no poder em 1930, originou movimentações cujos objetivos seriam o de coagir as
publicações da grande imprensa, uma vez que, assim como já destacado anteriormente, tais
veículos de informação se caracterizam como importantes agentes na formação e propagação
de ideologias. Ao longo do governo provisório, iniciativas como a criação do Departamento
de Imprensa e Propaganda em 1939, o DIP, foram responsáveis tanto pela disseminação de
ideologias condizentes com o pensamento varguista como por controlar as informações
veiculadas pelos meios de comunicação da época.
De acordo com Tânia Regina de Luca e Ana Luiza Martins as instabilidades e
oposições sofridas pelo governo provisório, foram os fatores responsáveis por originar os
sistemas de censura ao longo da Era Vargas. Diante disso, a revista O Malho, veiculada na
primeira metade do século XX, presenciou as revisões e o cerceamento dos órgãos de controle
do Governo Provisório9 ao Estado Novo varguista.
“Entretanto, o relacionamento amistoso entre a grande imprensa e
governo provisório não durou muito. A instabilidade dos momentos
9 Após as movimentações de 1930, Getúlio Vargas chega ao poder em 1930 implementando um governo provisório que se
estende até 1934.
30
10 “O conceito de povo é vago, indefinido e muito abrangente. Pode ser entendido como o conjunto da população de um
país, governados, multidão, classes menos favorecidas etc. Em qualquer desses sentidos é possível contestar o objetivo
apregoado pelos representantes da imprensa de que ela expressa a vontade do povo; na sociedade há múltiplas vontades e
interesses. As contradições aí existentes geram conflitos que a ideia de povo oculta porque sugere unidade” (CAPELATO,
1988, p. 71).
33
fardo de ter sido um ano em que a ideologia fascista e suas mazelas estiveram presentes e
ditaram os momentos de maiores tensões da época. Diante de tal ilustração veiculada no
periódico, é possível inferir que os responsáveis pela confecção e produção de O Malho não
possuíam feição aos movimentos de extrema direita, os viam como algo pejorativo assim
como a fome, a miséria e a guerra, que deviam ser deixados para trás juntamente com o fim
de 1945, concedendo espaço para que a paz pudesse prosperar no ano seguinte. Diante disso,
é relevante destacar que a revista objetiva enaltecer para seus leitores as moléstias da guerra, e
ressaltar que a ideologia fascista foi um dos vetores responsáveis pela eclosão do conflito,
consequentemente, deveria ser “levado embora”, com o encerramento do ano de 1945.
12 Força Expedicionária Brasileira (FEB), fundada em 1943 a FEB foi o contingente militar aeronáutico brasileiro
responsável por atuar ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial até o final do conflito em 1945.
37
As imagens veiculadas nas capas de O Malho, como observado nas Figuras 9, 10, 11 e
12, retratam de forma entusiasmada e com cores vibrantes as suas perspectivas políticas
acerca das movimentações dos países envolvidos no conflito. Ao observar a Figura 9, é
possível identificar que a cor amarela foi utilizada para coloria a pele da personagem que
representa o Japão, além disso, o indivíduo japonês se encontra com as feições atormentadas e
tapando seus ouvidos, uma vez que ao seu redor, todas as outras nações ilustradas aparecem
acendendo fósforos com o intuito de acender o pavio de bombas que se encontram em seu
continente. Na ilustração é possível visualizar figuras que representam, Josef Stálin, retratado
com seu característico bigode e nariz protuberante, além das vestes militares frequentemente
utilizadas pelo antigo líder da União soviética, ademais, na imagem, Stálin é o único
personagem que não aparece segurando o fósforo com o membro superior erguido, e sim, para
acender o seu próprio charuto. Tal representação pode fazer alusão ao fato de a URSS não ter
atacado diretamente o Japão no âmbito da segunda guerra, no entanto, ao analisar a caricatura
é viável inferir que a nação foi conivente com os ataques, uma vez que era um dos países
Aliados.
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A nação norte-americana foi retratada pela figura do “Tio Sam”, a famosa ilustração
de um homem branco de meia idade que utiliza vestes completamente estampadas pela
bandeira dos Estados Unidos. A figura é caracterizada segurando uma bomba na mão
esquerda, e um fósforo aceso na direita, indicando que a nação estadunidense, foi uma das
nações que bombardearam ativamente o país japonês naquele momento do conflito. Ademais,
visualiza-se mais duas figuras na caricatura, a figura que caracteriza Winston Churchill,
apresenta as típicas vestes do estadista britânico, ademais, é possível observar que a
personagem ergue em sua mão direita um fósforo aceso, e é retratada com expressões faciais
de felicidade. Por fim, a figura que representa a nação chinesa, também carrega em sua mão
um fósforo aceso, o projetando para frente rumo à nação japonesa onde encontram-se vários
explosivos.
Em suma, como foi exequível constatar ao longo da análise de algumas das caricaturas
e ilustrações propagadas pelo periódico, é possível afirmar que a revista do jornalista Luís
Bartolomeu se ocupa em trazer em suas páginas críticas, sátiras e informações repletas de
conotações políticas e analogias, com o uso de uma linguagem de fácil compreensão
destinada as classes mais populares da sociedade e por meio de ilustrações coloridas,
amistosas, que carregavam símbolos por meio dos quais era praticável a compreensão do
contexto que se era retratado, por exemplo a suástica para definir os nazistas, o grande bigode
e a farda bege para representar o líder soviético Josef Stálin, o uso da figura norte-americana
Tio Sam. Portanto, tais formas ímpares de retratar o desfecho da segunda grande guerra ao
longo do ano de 1945, em uma revista admirada e amplamente consumida pela sociedade
daquela época, foram responsáveis por difundir perspectivas políticas como o antifascismo,
para a população que consumia a revista, contribuindo assim, para a construção do imaginário
popular acerca do desfecho do conflito.
5 Considerações Finais
A imprensa elucida a sua força política por meio de elementos de persuasão, conforme
foi observado no periódico O Malho, as ilustrações chamativas e coloridas das capas que
dividiam espaço com sátiras e críticas dirigidas a retratar os contratempos do cotidiano, foram
responsáveis por difundir as ideologias dos proprietários da revista. Diante disso, é possível
ressaltar que as produções midiáticas possuem em si objetivos pré-estabelecidos ao serem
publicadas, logo, ao observar a cultura política dos fundadores do periódico, dentre eles o
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jornalista Luís Bartolomeu, foi possível elucidar as ideologias políticas de O Malho por trás
de sua publicação. Outrossim, o engajamento crítico, forjado em um contexto de grande
insatisfação e desilusão com a recém proclamada república, demonstrou ao longo do estudo
os anseios da revista em tornar popular as movimentações, a barbárie nazista, e as batalhas
que resultaram no fim da Segunda Guerra Mundial.
Em suma, foi possível sistematizar, reunir e organizar determinadas ilustrações do
periódico que tornaram viável a demonstração da formação da opinião pública acerca do
conflito, com base nas ilustrações que narraram o conflito em uma revista de grande
longevidade e popularidade, culminando na constituição do imaginário popular sobre guerra
de acordo com a concepção de O Malho.
Adiante, foi possível concluir que as suspensões e censuras que foram características
inerentes ao Estado Novo varguista, não foram significativas no período analisado ao longo
deste estudo, ou seja, o ano de 1945 e o primeiro mês de 1946. Logo, é exequível afirmar que
o cerceamento da liberdade de expressão não foi significativo no período analisado, uma vez
que, o DIP e demais órgãos estatais responsáveis pela regulamentação e controle da imprensa,
encontravam-se enfraquecidos devido às contradições ideológicas internas entre o governo e
sua declaração de apoio às nações liberais na Segunda Guerra Mundial.
Ademais, as representações de uma época através da imprensa, em uma sociedade
capitalista, estão sujeitas a lógica do capital. Sendo assim, os modismos, projetos de nação e
estratégias políticas propagadas pelos periódicos, por formarem a opinião pública ao
permearem o gosto do público alvo e se tornarem estimados, dizem respeito a conjuntura
política e econômica na qual o país está envolto, e nas movimentações e influências
internacionais das grandes potências do tempo.
Por fim, foi confrontado ao longo do presente trabalho, o paradoxal Estado Novo de
Getúlio Vargas, uma vez que, seu governo intervencionista, autoritário e controlador, atuou na
Segunda Guerra ao lado das potências liberais, e da socialista União Soviética. Ademais, foi
salientado ao longo do estudo os motivos que levaram a atuação brasileira ao lado dos aliados,
uma vez que, sendo o Brasil um importante parceiro comercial para os EUA, os norte-
americanos ocuparam-se de desenvolver estratégias para cativar e garantir a parceria entre
essas nações. A sedutora estética nazifascista aclamada no sul do Brasil, confrontavam os
planos econômicos da grande potência capitalista, dessa forma, projetos políticos e produções
culturais norte-americanas, foram responsáveis por educar as outras américas e aproximar os
vizinhos latinos do modelo estadunidense, cujo intuito era o de afastar os paradigmas do
nazifascismo que poderiam colocar em xeque a sua supremacia.
45
6 Referências
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos – O breve século XX: 1914 - 1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
47
LUCA, Tânia Regina de; MARTINS, Ana Luiza. História da Imprensa no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2008.
LUCA, Tânia Regina de. República Velha: temas, interpretações, abordagens. In: Silva,
Fernando Teixeira da et al. (org.) República, liberalismo, cidadania. Piracicaba: Editora
UNIMEP, 2003. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a Nação. São Paulo: Editora da
Unesp, 1999.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro; SOARES, Lívia Freitas Pinto Silva. Votos, Partidos e
Eleições na Primeira República: a dinâmica política a partir das charges de O Malho.
São Paulo, 2018.