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Introdução
Pedro Pereira
1. Introdução 1
1.1. Risco versus Perigo 1
1.2. Processos Perigosos 2
2. Tipos de Perigos 3
2.1. Perigos Naturais 3
2.2. Perigos Antropogénicos 3
3. Efeitos dos Perigos 4
4. Vulnerabilidade e Susceptibilidade 4
5. Avaliação de Perigos e Riscos 5
6. Previsão e Aviso 5
6.1. Previsão (Prediction) 5
6.2. Previsão (Forecasting) 6
6.3. Aviso Precoce 6
7. Capacidade de Resposta e o Papel dos Cientistas, da Protecção Civil e do
Cidadão Comum nas Avaliações do Perigo/Risco, Previsões e Avisos 6
8. Bibliografia 8
1. Introdução
VARNES (1984) definiu Risco Ambiental (que inclui o risco natural e o risco
antropogénico) como o "grau de prejuízo ou dano causado a pessoas e bens, devido à
ocorrência de um perigo (hazard)" ou "número esperado de perda de vidas, danos a
pessoas, bens e propriedades, ou interrupção de actividades económicas devido a um
fenómeno natural particular". Segundo este autor, o Risco total (Rt) é expresso por: Rt =
E x (P x V), onde E é Elemento em risco, P é Perigo e V é Vulnerabilidade. Elemento
em risco refere-se a populações, propriedades, bens e actividades económicas em risco
num determinado território. Perigo significa "um evento físico, fenómeno natural e/ou
induzido por uma actividade humana, potencialmente danoso ou nocivo, que pode
causar perda de vidas, ferimentos, danos a propriedades e bens, interrupção de
actividades sociais e económicas e degradação ambiental". Envolve a probabilidade de
ocorrência de um fenómeno potencialmente destruidor, num determinado período de
tempo, numa dada área e com uma dada magnitude. Vulnerabilidade refere-se ao grau
de perda ou dano de um elemento ou conjunto de elementos em risco resultante da
ocorrência de um fenómeno natural de determinada magnitude. Expressa numa escala
de 0 (sem perda) a 1 (perda total).
1
EINSTEIN (1988) introduziu diferentes conceitos sobre o tema. Segundo ele, o
fenómeno natural em si seria denominado "Danger” (em português ainda seria Perigo).
O "Hazard" (H) corresponderia à "probabilidade de ocorrência de um perigo (danger)
particular em determinado período de tempo". O Risco (Risk) seria "função da
probabilidade de ocorrência (Hazard) e das consequências, ou seja, do valor (custo)
potencial de perdas".
Para as Nações Unidas (ISDR, 2004), Risco compreende a "probabilidade de
consequências danosas ou perdas esperadas (de vidas, propriedades, bens de sustento
próprio, interrupção de actividades económicas e danos ambientais) resultantes das
interacções entre perigos (hazards) naturais ou induzidos e as condições de
Vulnerabilidade/Capacidade". Por outras palavras, Risco pode ser expresso como R = H
x V/C. A Vulnerabilidade corresponde a um conjunto de condições e processos
resultantes de factores físicos (relacionados como o uso e ocupação do solo), sociais,
económicos e ecológicos. A Capacidade refere-se à maneira pela qual as pessoas e
organizações conseguem lidar positivamente com as condições adversas de um desastre
ou evento.
Estas equações para cálculo dos riscos são esquemáticas pois, para a quantificação da
possibilidade de ocorrência de um processo natural, devem ser considerados diversos
parâmetros, muitas vezes de difícil definição. Por outro lado, as consequências
socioeconómicas que podem ser causadas por um processo natural também são de
difícil determinação.
Embora, num passado não muito longínquo, os termos hazard e risk fossem ambos
traduzidos em Portugal por “risco”, o facto é que, da forma como foram utilizados
originalmente na literatura sobre eventos naturais extremos e como acima foi referido
estes termos não são sinónimos. Assim, seguindo outros autores portugueses, nesta
Unidade Curricular (UC) utilizar-se-á o termo perigo (hazard) para nos referimos a um
processo natural que ameaça os interesses humanos e o termo risco (risk) para nos
referirmos aos prejuízos provocados por esse mesmo perigo.
2
2. Tipos de Perigos
3
3. Efeitos dos Perigos
4. Vulnerabilidade e Susceptibilidade
4
populações dessas cidades são responsáveis pela utilização da maior parte dos
combustíveis fósseis, libertando grandes quantidades de CO2 para a atmosfera.
6. Previsão e Aviso
A previsão envolve:
- Uma declaração da probabilidade de ocorrência de determinado evento baseada
na observação científica.
- Tal observação envolve normalmente a monitorização do processo com vista à
identificação de qualquer tipo de evento precursor – uma pequena alteração
física anómala conhecida por anteceder um evento mais devastador. Por
exemplo, as erupções vulcânicas são geralmente precedidas de um súbito
aumento no número de sismos imediatamente abaixo do vulcão e alterações da
composição química dos gases libertados pelas fumarolas. Se estes forem
cuidadosamente monitorizados, as erupções vulcânicas podem ser previstas com
razoável precisão.
5
6.2. Previsão (Forecasting)
6
• Responsabilidade dos cientistas e engenheiros:
- Avaliação da Perigosidade: os cientistas têm capacidade de determinar onde
estão os perigos naturais e quais os seus efeitos no caso de ocorrer
determinado evento.
- Previsão: os cientistas têm acesso à monitorização de processos que permitem
efectuar previsões. Eles devem ser capazes de comunicar as probabilidades de
ocorrência de desastres às autoridades competentes para posterior divulgação à
população.
- Minimização do Risco: cientistas e engenheiros devem informar as
autoridades competentes sobre o que deve ser feito para minimizar a
vulnerabilidade e o risco, sugerindo regulamentos de ordenamento do
território e construção.
- Aviso Precoce: os cientistas com acesso à monitorização e informação sobre
os perigos devem (ajudar a) desenvolver sistemas de aviso precoce que
permitam uma resposta rápida das autoridades responsáveis pela comunicação
dos avisos à população em geral.
- Comunicação: os cientistas têm de ser capazes de apresentar a informação
disponível numa forma que seja compreensível para todos os interessados.
• Responsabilidade da administração pública:
- Avaliação dos riscos: as autoridades competentes precisam de compreender a
avaliação dos perigos e desenvolver a avaliação dos riscos. Decidir onde e
quando deverão ser disponibilizados meios para minimizar o risco.
- Aplicação de Planeamento e Regulamentação: as autoridades devem trabalhar
com cientistas e engenheiros para ajudar a reduzir a vulnerabilidade, através de
leis de ordenamento do território e regulamentos de construção que ajudem a
reduzir o risco e a vulnerabilidade.
- Aviso Precoce: as autoridades, com base nas previsões e avisos emitidos pela
comunidade científica, têm a responsabilidade primária de informar a
população sobre a existência de perigos iminentes.
- Capacidade de Resposta: as autoridades têm a responsabilidade primária de
manter uma infra-estrutura capaz de lidar com as situações de emergência
criadas por um desastre natural. Necessidade de desenvolver planos para
evacuação, resposta de emergência, salvamento e recuperação.
- Comunicação: as autoridades devem ser capazes de comunicar eficazmente
com a comunidade científica e com os cidadãos comuns de modo a
divulgarem informação pertinente.
• Cidadãos:
- Compreender os perigos: os cidadãos em geral precisam de ter consciência dos
efeitos dos perigos naturais nas suas comunidades para poderem ter alguma
compreensão do que poderá acontecer no caso de ocorrer um desastre.
- Compreender os sistemas de Aviso Precoce: as pessoas têm de ser informadas
sobre o que devem fazer após a emissão de um aviso.
- Comunicação: os cidadãos devem (poder) contactar com as autoridades
competentes para se assegurar de que estas disponibilizam a informação
necessária e de que cumprem as suas responsabilidades para a minimização
dos perigos e dos riscos.
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Bibliografia
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Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
Resumo
Os níveis de vulnerabilidade e de risco são estabelecidos por elaboração e análise de cartas de unidades
integradas (zonas) ou de cartas temáticas específicas. Em ambos os casos o risco é um factor primordial
para a avaliação da capacidade das unidades territoriais para os distintos usos.
Com base na informação recolhida nas cartas de riscos, podem estabelecer-se normas de carácter
preventivo, determinar prioridades quanto às medidas correctivas dos danos, estabelecer planos de
protecção civil e implementar sistemas de vigilância dos fenómenos e alerta às populações.
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
I. Introdução
Desde há muito que é reconhecida, no início de forma puramente empírica, a influência que a dinâmica
da superfície terrestre tem no condicionamento quantitativo e qualitativo do tipo de uso que o Homem
pode fazer dos diferentes segmentos da mesma; é nesta dinâmica, nos seus mecanismos e nos
fenómenos naturais de que é responsável, que se situa a noção de risco geológico.
A noção de risco geológico está integrada numa noção de âmbito mais vasto que é a de risco natural. A
amplitude dos danos e perdas provocados por uma catástrofe, tenha ela origem natural ou origem
antrópica, depende em primeiro lugar da natureza e da magnitude das suas causas, mas também das
características do espaço territorial em que ocorre. Tal significa a existência de segmentos da superfície
terrestre mais vulneráveis do que outros a riscos potenciais, de origem natural e/ou antrópica. A
vulnerabilidade de uma região a tais riscos depende de factores tão diversos como a densidade
populacional, a natureza dos seus bens tecnológicos e culturais, o tipo de organização social e
económica e a capacidade exibida pelas comunidades para enfrentarem os diferentes factores de risco.
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
Nesta perspectiva Brum Ferreira (1993) define risco ambiental como o produto da frequência e da
magnitude dos factores de risco naturais e antrópicos pela vulnerabilidade a esse mesmo risco. Se
retivermos apenas a vulnerabilidade de um território aos factores de risco de natureza geológica,
chegamos à noção de risco geológico (Figura 1).
Enquanto os factores de risco constituem um perigo potencial para as populações e bens, o risco
ambiental integra as consequências da ocorrência desses mesmos factores independentemente da sua
origem.
Figura 1 ----- Definição de risco geológico integrada na noção de risco ambiental (modificado de Brum
Ferreira, 1993).
A maioria dos processos geológicos tem lugar de forma gradual, com magnitudes que não representam
perigo para as populações nem afectam o normal funcionamento das suas actividades. No entanto, em
determinados locais e em certos momentos, ocorrem fases críticas (fases paroxísmicas), durante as
quais a magnitude dos processos geológicos é muito superior à habitual. Tais ocorrências são
frequentemente responsáveis pela devastação de grandes áreas da superfície terrestre, por perdas de
vidas humanas, das suas obras e actividades e pela desorganização social e económica das
comunidades; constituem, então, sérios constrangimentos ao desenvolvimento das regiões afectadas.
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
Os processos naturais e os processos geológicos em particular, tais como aqueles que produzem sismos,
erupções vulcânicas, deslizamentos de terras e avalanches de lama, quedas de blocos, assoreamentos,
inundações, erosão costeira, ... apenas são causadores de danos quando atingem as populações, os seus
bens ou as suas actividades. No entanto, e apesar do estado de desenvolvimento científico e tecnológico
das sociedades modernas, o número de vítimas mortais directa/indirectamente provocadas por
catástrofes tem-se mantido dramaticamente elevado (ver tabela 1), tendo mesmo aumentado em cerca
de 6% ao ano desde 1960 (Masure et al., 1994).
Tabela 1 ----- Confronto entre as ocorrências de desastres naturais e as suas consequências em perdas
de vidas humanas à escala mundial, entre 1960 e 1980 (Masure, et al, 1994).
Nº de ocorrências 21 23 44
Vítimas mortais:
Superior a 50 000 1 2 3
A tal facto não é alheio o crescimento exponencial da população mundial, em particular após os meados
do século XIX, a explosão demográfica descontrolada verificada em países economicamente deprimidos
do continente africano, Sul americano e do sudeste asiático e a concentração das populações em
gigantescas cidades com dezenas de milhões de habitantes, muitas delas implantadas em zonas de
elevado potencial de risco natural e onde as políticas de planeamento e ordenamento do território
estão quase sempre ausentes ou são ineficazes. No fim do século XX poucas são as sociedades no
mundo com tradição e uma cultura de planear e ordenar o território, onde têm que se desenvolver e
evoluir.
Como mostra a tabela 2, a distribuição geográfica das catástrofes com origem em fenómenos naturais
não é, à escala do planeta, homogénea.
Tabela 2 ----- Distribuição das catástrofes naturais em função do desenvolvimento económico dos
países, no período entre 1960 -1980 (modificado de Masure et al. 1994).
As catástrofes originadas por fases paroxísmicas de processos naturais colocam, assim, enormes
obstáculos ao crescimento económico e social nos países em desenvolvimento mas também em países
desenvolvidos, particularmente em zonas densamente povoadas.
O registo mundial das catástrofes de origem natural verificadas entre o período de 1970 e 1985 revela a
relação existente entre a amplitude dos danos e o estado de desenvolvimento das regiões onde tais
fenómenos ocorrem. Esta relação é posta em evidência na tabela 3.
Tabela 3 ----- Distribuição dos danos devidos a catástrofes de origem natural em países desenvolvidos
(Masure, et al., 1994).
(Milhões de dólares)
Apesar de se registarem na América do Norte 2.5 vezes mais catástrofes que na Europa Ocidental, o
número de vítimas verificadas é cerca de metade. Esta evidente e profunda diferença de vulnerabilidade
das populações às fases críticas dos fenómenos naturais versus riscos dessas mesmas fases é indicador
que tal "injustiça social", de origem natural, não é uma inevitabilidade. Por outro, lado é possível às
sociedades modernas organizarem-se de forma a formularem e a implementarem políticas de
planeamento e ordenamento do território que visem no essencial a prevenção, a mitigação e a
correcção dos danos e prejuízos provocados pelas catástrofes. A articulação destas políticas entre todas
as entidades oficiais e os agentes da comunidade, cuja acção e contributo são indispensáveis em caso de
catástrofe, nomeadamente a Protecção Civil, Autarquias, Bombeiros, Polícias, agentes distribuidores de
electricidade, água e gás e de outros bens de primeira necessidade, é fundamental para o sucesso e
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
eficácia de tais políticas; a tabela 3 mostra que, também nestes aspectos, os países europeus têm muito
que progredir relativamente à América do Norte.
As fase críticas em processos geológicos, apesar de não serem frequentes, são uma característica quase
constante do funcionamento desses processos sendo, portanto, possíveis de prever em determinadas
condições e situações (Smith, 1985).
A tomada de decisão acerca do uso do território, tendo como preocupação minimizar os efeitos dos
processos naturais em geral, e dos geológicos em particular, deve ser baseada na avaliação da natureza
e magnitude dos riscos presentes e seus impactos potenciais. Tal avaliação deve integrar diferentes
componentes de carácter multidisciplinar, que dizem respeito não só à realidade actual mas também à
evolução histórica das ocorrências no território a ordenar. Dessas componentes destacam- se:
- a prevenção de danos;
processo afecte uma zona com uma determinada intensidade, independentemente de afectar ou não as
populações; o conceito de risco inclui a possibilidade da existência de danos nas populações,
instalações, infraestruturas ou actividades. Assim, no zonamento de um território há que ter em conta
não só a vulnerabilidade das zonas aos fenómenos naturais, como a existência de população,
infraestruturas, actividades, etc. que possam ser atingidas. É, portanto, diferente um zonamento que
expresse os diferentes graus de vulnerabilidade (ou de risco potencial) a um determinado processo de
um zonamento de níveis de riscos. Por exemplo, uma zona atingida por sismos de média a elevada
magnitude, com uma periodicidade da ordem de dezenas de anos, mas que seja desabitada e onde a
actividade antrópica esteja ausente, apresentará um elevado grau de vulnerabilidade e um risco nulo, já
que o fenómeno geológico não produzirá danos ao Homem; ao contrário, se a periodicidade do
fenómeno geológico é da ordem de séculos, mas a região é densamente povoada, o grau de
vulnerabilidade é menor mas o risco é muito maior.
Tabela 4 ---- Dados geológicos necessários para o planeamento e tomadas de decisão com vista a
minimizar os danos causados por fenómenos geológicos (Hays e Shearer, 1981).
Redução dos efeitos da Informação técnica necessária acerca de riscos sísmicos, cheias,
estabilidade de terrenos e erupções vulcânicas
tomada de decisão
Projecto de engenharia
Qual é a frequência das fases críticas ?
O tipo de zonamento é também função dos fins para os quais é elaborado. Se o zonamento tem como
principal objectivo uma acção de carácter preventivo, que evite a fixação de pessoas, bens e/ou
actividades em zonas identificadas como potencialmente perigosas, o mais adequado é um zonamento
de graus de vulnerabilidade. Se se deseja levar a cabo medidas correctivas e minimizadoras de danos,
um zonamento de riscos será o mais indicado.
O planeamento ambiental ou físico tem como objectivo central a utilização correcta e eficaz do
território, de acordo com as suas potencialidades e limitações; tal implica que uma comunidade,
actividade ou bem só deverá implantar-se em zonas onde as condições ambientais sejam óptimas
(idealmente) para o seu desenvolvimento e estabilidade.
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
Segundo este conceito, o planeamento e o ordenamento do território deverão ser orientados para a
identificação e delimitação das unidades territoriais, susceptíveis de serem caracterizadas e avaliadas
quanto às suas características físicas, de modo a que possam ser utilizadas na distribuição espacial dos
aglomerados populacionais e respectivas actividades (Cendrero, 1987). Com esta distribuição espacial
deve-se não só optimizar as capacidades das unidades territoriais, mas também minimizar os impactos
negativos sobre as mesmas. Esta harmonização entre capacidade e impacto, entre os efeitos das
actividades antrópicas sobre o meio e os efeitos deste sobre aquelas, é a essência do planeamento
ambiental (Gomez, 1978; Claver et al., 1982; Cendrero, 1882).
A consideração e o estudo dos processos geológicos activos que actuam na superfície da terrestre, ou
que a possam afectar, é uma parte substancial e uma condição básica de sucesso do exercício de avaliar
as capacidades e os impactos das diferentes actividades em cada zona definida.
As zonas territoriais que estão sujeitas à ocorrência periódica de fases críticas de fenómenos de origem
natural, com magnitudes tais que impliquem riscos, têm, como é lógico, uma capacidade menor para
uma série de usos. Por outro lado, as diferentes actividades antrópicas podem produzir impactos
negativos sobre os processos naturais, modificando-os, de modo a que se produza um incremento dos
riscos para as populações. Nesta perspectiva, uma zona submetida a risco anual de inundação tem uma
capacidade muito baixa para a maioria dos usos. Se a periodicidade das inundações forem da ordem das
dezenas de anos, a capacidade da zona de suportar actividades de urbanização continuará baixa
(elevado nível de risco) mas, por exemplo, aumentará para o uso agrícola. Por outro lado a
desflorestação, a monocultura intensiva, o plantio extensivo em vertentes de espécies de crescimento
rápido e de fraca produção de manta morta, produzem impactos negativos no meio ao contribuírem
para o incremento da taxa de erosão dos solos, o assoreamento das linhas de água e consequente
degradação ou mesmo destruição de sistemas ecológicos, quer terrestres quer aquáticos.
Portanto, a elaboração de uma cartografia de zonas de riscos para planificar o uso do território constitui
um instrumento que serve não só para prevenir os danos que a dinâmica do meio pode causar às
populações e às suas actividades, mas também para proteger o meio ambiente de modificações não
desejáveis na sua dinâmica.
A elaboração de uma cartografia visando o zonamento do território com base na determinação das
características físicas, das classes de capacidade e graus de vulnerabilidade e dos impactos das
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
actividades, em diferentes zonas, segue diversos procedimentos que têm sido largamente explanados
em Anon, 1965, 1972, 1976; Lutzen et al., 1971; Matula, 1971; Forster et al., 1978; Froelich et al., 1978;
Robinson et al., 1978; Soule, 1980; Johnson et al., 1981; Perrusset, 1981; Smolka et al., 1981; Nickless,
1982; Browne et al., 1985; Gostelow et al., 1986; Brook, et al., 1987; Doornkamp et al., 1987; McMillan
et al., 1987; Ferreira, 1993; Rodrigues et al., 1993; Masure, 1994.
- representação do território descritizado num conjunto de mapas temáticos para cada um dos
elementos considerados: mapas geológicos, mapas geomorfológicos, mapas de pendores,
mapas de solos, mapas hidrogeológicos e hidrológicos, mapas de distribuição da vegetação, ...
Neste caso a cartografia descritiva é sectorizada e a integração e a avaliação do território são
estabelecidas a partir de mapas temáticos.
- delimitação de zonas com distintos graus de vulnerabilidade (alto, médio, baixo ou nulo), de
forma a que o mapa final sirva como instrumento preventivo no planeamento e ordenamento
da ocupação da terra;
- formulação de políticas gerais conducente a reduzir os efeitos dos potenciais riscos geológicos,
através da previsão e prevenção de catástrofes e de medidas de minimização e correcção dos
danos. Neste caso é útil a quantificação de índices ou graus de vulnerabilidade com significado
económico, já que a aplicação destas medidas implica o estabelecimento de prioridades quanto
às acções a realizar.
Um possível índice a ser utilizado é o seguinte (Cendrero, 1987 e modificado de Fournier D` Albe, 1979):
V= valor (escudos)
v= vulnerabilidade (%)
P= periodicidade (anos)
ano, caso as condições ambientais se mantenham inalteradas num largo período de tempo. Esta
hierarquia pode servir como indicador das zonas em que é mais aconselhável aplicar primeiro as
medidas correctivas, por corresponderem aquelas onde se pode evitar danos e perdas maiores.
- identificação de locais onde é necessário estabelecer sistemas de vigilância e alerta, bem como o tipo
destes. Estes sistemas devem detectar, nos casos em que tal é tecnologicamente possível, os
indicadores premonitórios de uma fase paroxísmica potencialmente perigosa dos processos e
fenómenos geológicos: deformações na crusta, actividade sísmica anormal , emanações gasosas no caso
de vulcanismo; estudo do estado de tensão da crusta, de parâmetros eléctricos e magnéticos no caso de
sismos; indicadores meteorológicos de aproximação de chuvas torrenciais e ventos fortes no caso de
inundações e furacões.
O processo de avaliação e cartografia de riscos, aqui descrito de forma sumária, tem sido limitado
essencialmente aos aspectos de carácter técnico e que dizem respeito, desde a primeira abordagem,
aos profissionais das Ciências da Terra.
Como em ponto anterior já foi aflorado, para que as acções nesta matéria sejam eficazes é fundamental
estabelecerem-se canais e sistemas de informação com as mais diversas autoridades interessadas e a
população em geral (figura 2), para que se adoptem medidas legislativas e de prevenção que sejam
viáveis e aceites a nível colectivo e individual (Undro, 1984).
Simões, L. (1997). A Importância da Integração dos Riscos Geológicos, no Planeamento, no
Figura 2 ----- Possível relação entre um processo de origem geológica e a população afectada por ele;
canais de comunicação entre todos os agentes envolvidos na formulação e implementação das políticas
de planeamento e ordenamento do território (modificado de Peterson, 1988).
No que se refere á ligação com as diversas entidades e disciplinas é necessário que em todas as etapas
do planeamento e ordenamento de um território, desde as fases do estudo prévio até à tomada de
decisão final, os especialistas em Ciências da Terra estejam presentes e sejam chamados a dar o seu
contributo científico e técnico.
Bibliografia
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Undro, 1984. Disaster prevention and mitigation. Preparedness aspects, Vol. 11. United
A globalização do risco de desastres
e o desenvolvimento sustentável
The globalization of the disasters’ risk and sustainable development
Jorge Trindade
UNIVERSIDADE ABERTA / jorge.trindade@uab.pt / ORCID | 0000-0001-5610-5942
Resumo: Os desastres globais associados a fenómenos naturais são uma característica intrínseca
da dinâmica do nosso planeta e, ao longo da história da Terra, provocaram impactos elevados na
distribuição mundial das espécies e na forma como estas utilizam recursos. Este trabalho pretende
contextualizar a gestão dos desastres, ligando-a às tendências de globalização verificadas no passado
recente e debatendo a importância da adoção de conceitos comuns para dos modelos de governança
dos riscos. Neste sentido, é possível verificar que a globalização dos desastres associados a fenómenos
naturais corresponde a um processo recente e segue lógicas globais onde os efeitos sistémicos originam
uma ampliação das consequências de fenómenos locais ou regionais. A resposta aos desastres tem
sido coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em articulação com os governos dos
Estados-membro, organizações não governamentais e entidades privadas. Em conjunto, definem
planos de prevenção, reação e resiliência às catástrofes e estabelecem estratégias de médio prazo para
a mitigação e adaptação. Os quadros de ação de Hyogo (2005 e 2015) e de Sendai (2015-2030)
representam uma resposta coordenada da ONU e assumem compromissos nacionais no âmbito da
redução do risco de desastres, com ligações muito claras aos objetivos do desenvolvimento sustentável.
Esta resposta globalizada exige a adoção de conceitos e metodologias uniformes na fase de avaliação
e na fase de comunicação de resultados a atores-chave com capacidade decisória. Assim, a decisão
de ação será mais eficiente se os modelos de governança souberem enquadrar a resposta a dar nas
fases de avaliação e de gestão do risco com vista ao desenvolvimento sustentável das sociedades.
A governação do risco está hoje centrada nas ações de prevenção, com grande incidência em medidas
de adaptação suportadas pelo estudo dos fatores naturais e humanos de predisposição. Estes mo-
delos de governação tendem também para uma maior ligação ao desenvolvimento sustentável, com
estratégias, ações e metas que implicam uma atuação direta nos fatores que potenciam e melhoram
o desempenho sustentável das comunidades e, com isso, diminuem exposições e vulnerabilidades
face ao risco de desastres.
Palavras-chave: riscos; globalização dos desastres; conceitos de risco; adaptação; governança;
desenvolvimento sustentável
145
Abstract: Global disasters related to natural phenomena are an intrinsic feature of the dynamics of
our planet and, throughout the Earth’s history, have had high impacts on the worldwide distribution
of species and the way they use resources. This paper aims to contextualize disaster management,
linking it to the globalization trends seen in the recent past and debating the importance of
adopting common concepts for risk governance models. In this sense, it is possible to observe that
the globalization of disasters associated with natural phenomena corresponds to a recent process
and follows global logics, where the systemic effects lead to an amplification of the consequences
of local or regional phenomena. The response to disasters has been coordinated by the United
Nations (UN) in articulation with Member-state governments, non-governmental organizations,
and private entities. Together, they define disaster prevention, response and resilience plans and
establish medium-term strategies for mitigation and adaptation. The Hyogo (2005 and 2015),
and Sendai (2015-2030) frameworks for action represent a coordinated UN response and national
level commitments to disaster risk reduction, with very clear links to the sustainable development
goals. This globalized response requires the adoption of uniform concepts and methodologies in
the assessment and in the communication of results to stakeholders with decision-making capacity.
Thus, the decision to act will be more efficient if governance models are able to frame the assessment
and risk management phases for the sustainable development of societies. Risk governance is today
focused on preventive actions, with a high incidence on adaptation measures supported by the
study of natural and human predisposition factors. These governance models also tend towards
a greater linkage to sustainable development, with strategies, actions and goals that imply a direct
action on the factors that enhance the sustainable performance of communities and, therefore,
reduce exposures and vulnerabilities to disaster risk.
Keywords: risks; globalization of disasters; concepts of risk; adaptation; governance; sustainable
development
Desastres globais
A ocorrência de desastres associados a fenómenos naturais à face do globo está na
estreita dependência quer da dinâmica da terra quer da forma como ocupamos
territórios perigosos. A dinâmica da terra, que origina fenómenos potencialmente
perigosos, é uma característica indissociável do sistema global terrestre e deve ser
observada numa perspetiva holística e sistémica. Nesta perspetiva, a ocupação
humana do território pode ser condicionada pela distribuição das ocorrências de
episódios de cheias, sismos, tsunamis, movimentos de vertente, ondas de calor, secas
entre outros. O conhecimento local e leigo da dinâmica do território foi, durante
séculos e em muitos casos, o melhor mecanismo de prevenção dos efeitos destes
fenómenos extremos, sendo habitual verificar que as comunidades mais afetadas
por desastres são aquelas que se instalaram mais recentemente, ocupando áreas
perigosas deixadas para outros usos pelos núcleos de povoamento iniciais (Roder
et al., 2016). Mas, ainda na mesma perspetiva, a ocupação humana do território e
as suas atitudes face ao ambiente, podem também condicionar a distribuição dos
Pedro Pereira
1. Geração de Sismos 1
2. Ondas Sísmicas 2
3. Localização do Epicentro 3
4. Escalas de Medição de Sismos 4
4.1. Magnitude 4
4.2. Intensidade 5
5. Distribuição Mundial de Sismos 7
6. Risco Sísmico 8
7. Perigosidade Sísmica 9
8. Previsão de Sismos 12
8.1. Previsão a Longo Prazo 12
8.2. Previsão a Curto Prazo 14
9. Perspetivas em Portugal Continental 15
10. Bibliografia 17
1. Geração de Sismos
Como acima se referiu, quando um sismo ocorre, as ondas sísmicas viajam através da
Terra sob a forma de vibrações. O sismógrafo (fig. 2) é o instrumento usado para
registar essas vibrações e o gráfico resultante é o sismograma (fig. 5).
1
O foco ou hipocentro é o local do interior da Terra onde as ondas sísmicas são
geradas pela libertação súbita da energia elástica armazenada (local onde se origina o
sismo). O epicentro é o ponto na superfície da Terra imediatamente acima do foco (fig.
3).
2. Ondas Sísmicas
Figura 4 – Diagramas esquemáticos ilustrando a propagação dos diferentes tipos de ondas sísmicas.
Adaptado de Press & Siever (2002).
2
As ondas P, também denominadas compressivas ou primárias, são mais rápidas do
que as ondas S e, por isso, são as primeiras a ser detetadas pelos sismógrafos (fig. 5). À
semelhança das ondas sonoras, deslocam-se comprimindo e expandindo o material à
medida que se propagam (fig. 4). Podem propagar-se em meio sólido, líquido ou
gasoso. Viajam muito mais depressa através de sólidos do que de líquidos: a velocidade
média de propagação das ondas P através da crosta terrestre é de 6 km/s e de 1,5 km/s
através da água. Curiosamente, quando as ondas P atingem a superfície e se transmitem
ao ar, algumas pessoas e animais podem ouvir parte delas. Contudo, o som que algumas
pessoas ouvem de um sismo que se aproxima é o ruído forte dos objetos que vibram e
não das ondas P.
As ondas S, também denominadas ondas de cisalhamento ou secundárias, propagam-
se apenas em meio sólido. A velocidade média de propagação das ondas S através da
crosta terrestre é de 3 km/s. As ondas S provocam um movimento para cima e para
baixo (corte lateral) perpendicularmente à direcção de propagação da onda (fig. 4).
Quando as ondas P e S atingem a superfície do solo, formam-se ondas superficiais
complexas que se propagam na superfície da Terra. Estas ondas são mais lentas do que
as ondas volúmicas (fig. 5) e causam grande parte da destruição junto ao epicentro do
sismo. Este tipo de ondas comporta-se como as ondas S, uma vez que à sua passagem
elas provocam movimentos para cima e para baixo e de um lado para o outro (fig. 4).
3. Localização do Epicentro
O sismograma (fig. 5), tal como ele é produzido pelo sismógrafo, corresponde a uma
projecção das vibrações em função do tempo. No sismógrafo o tempo é marcado a
intervalos regulares de modo a que seja possível determinar o tempo de chegada da
primeira onda P e o tempo de chegada da primeira onda S.
3
Figura 6 – Gráfico mostrando o aumento do intervalo S-P
com a distância percorrida pelas ondas sísmicas (Press &
Siever, 2002).
Como o intervalo S-P nos indica a distância a que o epicentro se encontra da estação
sismográfica, podemos, em cada estação, desenhar no mapa um círculo cujo raio é igual
à distância a que o epicentro se localizou. O ponto onde três destes círculos se
intersectam é o ponto onde se localiza o epicentro do sismo (fig. 7).
4.1. Magnitude
4
Outra medida da dimensão dos sismos, cada vez mais utilizada internacionalmente, é
a denominada magnitude de momento (MW) do sismo. Esta determina-se a partir da
estimativa da área que se rompe ao longo do plano de uma falha durante um sismo, a
quantidade de movimento ou deslizamento na falha e a rigidez das rochas próximas do
foco do sismo. Com exceção dos sismos muito grandes, a magnitude de Richter é
aproximadamente igual à magnitude de momento.
As escalas de magnitude acima referidas não têm valor máximo. Os sismos de maior
dimensão são provavelmente limitados pela resistência das rochas, embora os impactos
de meteoritos possam provocar sismos ainda maiores. Os maiores sismos alguma vez
registados ocorreram em 1960 (Chile) e em 1964 (Alasca), com magnitude de momento
9,5 (8,5 ML) e 9,2 (8,6 ML), respetivamente.
4.2. Intensidade
5
Tabela 1 – Escala de Mercalli Modificada (versão simplificada).
6
5. Distribuição Mundial de Sismos
7
focos dos sismos nas zonas de Benioff pode atingir os 700 km. Exemplo:
Regiões costeiras do oceano Pacífico, incluindo América do Sul, América
Central, México, EUA, Alasca, Japão, Filipinas.
− Fronteiras de colisão – Neste tipo de fronteiras duas placas continentais
colidem, originando cadeias de montanhas. Os sismos ocorrem devido a
cavalgamentos; os focos podem ser pouco profundos ou ocorrer a
profundidades que vão até cerca de 200 km. Exemplos: Ao longo dos
Himalaias e ao longo da margem norte do Mediterrâneo, prolongando-se pelo
Mar Negro e Mar Cáspio, até ao Irão.
6. Risco Sísmico
8
de construção muito apertados, exigindo que o design e a construção de edifícios e
outras estruturas sejam de modo a resistir a um grande sismo. Embora estes
regulamentos nem sempre se mostrem totalmente eficazes, o certo é que
acontecimentos passados parecem demonstrar a sua importância: Por exemplo, em
1989, um sismo em San Francisco, Califórnia (sismo de Loma Prieta), com
magnitude 7,1, provocou 63 vítimas mortais, a maior parte das quais devido ao
colapso de um viaduto de dois andares em Oakland; cerca de 10 meses mais tarde,
um sismo com magnitude 6,9 ocorreu na Arménia, onde não existiam
regulamentos de construção anti-sísmica, e matou cerca de 25.000 pessoas; a 12
de janeiro de 2010, o sismo de magnitude 7,0 que atingiu a cidade de Port-au-
Prince, Haiti (onde não existem regulamentos de construção) terá causado cerca
de 300.000 vítimas mortais!!!
7. Perigosidade sísmica
Efeito directo das ondas sísmicas – A vibração do solo provocada pela passagem
das ondas sísmicas, especialmente das ondas superficiais, próximo do epicentro do
sismo, é responsável pela maior parte dos danos causados por um sismo. A intensidade
de vibração do solo depende de:
− Características geológicas locais: geralmente, sedimentos não consolidados são
sujeitos a vibração mais intensa do que rocha sólida.
− Dimensão do sismo: geralmente, quanto maior for o sismo, maior será a
intensidade e a duração da vibração provocada.
− Distância ao epicentro: A vibração sísmica é mais intensa nas proximidades do
epicentro e diminui com a distância ao epicentro. Existem no entanto, exceções
curiosas. Por exemplo, em 1985, um sismo com magnitude 8,1, com epicentro a
350 km a sul da Cidade do México, provocou danos substanciais nesta cidade
porque esta está construída sobre sedimentos não consolidados que preenchem um
antigo lago (ver Liquefação, abaixo).
− Os danos provocados em estruturas construídas pelo homem provocados pela
vibração sísmica dependem do tipo de construção.
− Estruturas de cimento e alvenaria são frágeis e, por isso, mais susceptíveis
de sofrerem danos;
− Estruturas de madeira e aço são mais flexíveis e, por isso, menos
susceptíveis de sofrerem danos.
Rutura superficial cossísmica – Geralmente, a vibração do solo ocorre apenas ao
longo da zona de falha que se move durante o sismo. Assim, estruturas construídas
sobre zonas de falha podem ruir, enquanto estruturas adjacentes à falha, mas que não a
atravessam, podem resistir.
Movimentos de terreno – Em regiões montanhosas, a vibração do solo provocada
por sismos pode desencadear diversos tipos de movimentos de terra (ver Tópico 4).
Liquefação – A liquefação é um processo que ocorre em sedimentos não
consolidados saturados de água devido à vibração sísmica. A vibração dos grãos faz
com que estes percam o contacto uns com os outros, e, assim, o material tende a fluir
(fig. 12).
Denominam-se por sismitos (ex: vulcões de areia), as estruturas preservadas no
registo geológico resultantes da perturbação da estrutura sedimentar (fig. 13).
9
A B
Figura 11 – Exemplos de rutura superficial cossísmica. A – Izmit (Turquia, 1999); desligamento direito.
B – Taiwan (1999); falha inversa.
Figura 13 – Esquema ilustrando a ocorrência de vulcões de areia (Press & Siever, 2002).
10
Figura 14 – Efeito da liquefação do terreno. Sismo
ocorrido em 1964, em Niigata, Japão; magnitude 7,5
(http://www.ce.washington.edu/~liquefaction/html/whatl).
11
A B
8. Previsão de Sismos
12
eventos no registo geológico, junto à superfície topográfica, constituindo um dos
principais objetos de estudo da Neotectónica e, em particular, da Paleossismologia.
As evidências dos paleossismos no registo geológico superficial (deformações em
rochas ou afetando a topografia) resultam do mecanismo da sismogénese: a
generalidade dos sismos tectónicos ocorre por rutura em falhas ativas. Nos sismos
superficiais de magnitude moderada a elevada, a dimensão da área de rutura cossísmica
conduz à sua propagação até à superfície topográfica, gerando-se uma "assinatura" do
evento sísmico nos elementos geológicos superficiais, que permite identificá-lo e
caracterizá-lo, bem como a outros eventos semelhantes que tenham ocorrido
previamente na mesma estrutura sismogénica.
Na caracterização dos paleossismos utilizam-se também outras evidências, como o
reconhecimento de paleossismitos (figuras de liquefacção), de deslocamentos verticais
episódicos (subsidência ou levantamento de áreas mais ou menos extensas), de
movimentos de terreno, ou de tsunamitos (depósitos sedimentares originados por
tsunamis).
A ocorrência, em falhas ativas, de ruturas superficiais sucessivas associadas a sismos
passados, conduz a que essas falhas apresentem expressão morfológica e afectem
formações geológicas superficiais. Esta situação justifica a aplicabilidade dos critérios
geomorfológicos e de corte na identificação de falhas sismogénicas e fundamenta o
reconhecimento e caracterização dos sismos "fósseis", ou paleossismos, gerados por
essas falhas.
Acima do limiar de magnitude de cerca de 6, os paleossismos deixam marcas ou
evidências em formações geológicas superficiais e na paisagem, que permitem
identificá-los e estudá-los:
- Evidências primárias: diretamente relacionadas com deslocamento cossísmico
na falha, nomeadamente, deformações tectónicas afetando a paisagem
(escarpas, deflexões horizontais em referências morfológicas) e estruturas
tectónicas afetando formações superficiais recentes;
- Evidências secundárias: estruturas induzidas pelas vibrações sísmicas
(liquefacção – paleossismitos, movimentos de terreno; inundações, etc.).
A metodologia mais comum em estudos de paleossismicidade consiste na abertura de
sanjas em locais selecionados com base em diversos critérios, nomeadamente, a
presença de acidentes topográficos suspeitos, de ruturas superficiais reconhecidas, e/ou
de rochas quaternárias junto a acidentes ativos ou que se suspeita serem ativos.
Os estudos geológicos detalhados nas sanjas têm como objetivos confirmar a
atividade tectónica, reconhecer deslocamentos recorrentes, ou seja, identificar
paleossismos, e colher material para datação de modo a determinar períodos de
recorrência dos paleossismos.
Os princípios utilizados na interpretação da informação exposta nas paredes das
sanjas correspondem aos usualmente utilizados em geologia estrutural, fundamentando-
se na geometria e natureza das estruturas, relações de corte, relações de sobreposição,
relações com a superfície topográfica, e, particularmente, relações com sedimentos
coluviais provenientes da escarpa de falha adjacente.
A avaliação de períodos de recorrência implica a identificação de paleossismos
distintos e a datação dos diferentes eventos (por datação de horizontes estratigráficos
afetados ou de alguma forma relacionados com os paleossismos).
A estimativa da magnitude dos paleossismos identificados nos estudos geológicos
(por análise de escarpas de falha e/ou estudo de sanjas), e da magnitude do sismo
máximo que uma falha ativa tem o potencial de gerar, fundamenta-se na relação de
13
escala entre a dimensão da rutura na falha sismogénica (deslocamento e área de rutura)
e a magnitude do sismo que é gerado.
Para estimar a magnitude dos paleossismos identificados nos estudos de
neotectónica, ou a magnitude do sismo máximo que uma falha ativa tem o potencial de
gerar, utilizam-se correlações entre magnitude e parâmetros de falha, fundamentadas em
dados empíricos referentes a sismos actuais em que ocorreu rutura superficial
cossísmica.
Para além da paleossismologia, na previsão de sismos a longo prazo também se
utiliza o estudo de vazios sísmicos. Um vazio sísmico (seismic gap) é uma zona ao
longo de uma região tectonicamente ativa na qual não foram registados sismos
recentemente, mas onde é sabido que se está a acumular deformação elástica nas rochas.
Se um vazio sísmico é identificado, então é identificada uma área onde se deve esperar
que venha a ocorrer um grande sismo num futuro próximo.
− Exemplo – Vazios sísmicos de San Francisco, Loma Prieta, e Parkfield.
Na figura 17 apresentam-se dois perfis de sismicidade ao longo da Falha de
San Andreas, Califórnia. O perfil superior mostra sismos que ocorreram ao
longo da falha antes de 17 de outubro de 1989. Os três vazios sísmicos são
visíveis, onde a densidade de sismos é menor do que ao longo dos sectores da
falha fora dos vazios. Devido à baixa densidade de sismos nestes vazios, a
falha diz-se bloqueada ao longo dessas áreas, e consequentemente está a
acumular-se tensão. Isto levou os geólogos a emitir uma previsão para o vazio
de Parkfield de que algures entre 1986 e 1993 deveria ocorrer um sismo de
magnitude 6 ou maior a sul de Parkfield. Esse sismo ainda não ocorreu,
contudo, um sismo de magnitude 7,1 sismo ocorreu no vazio de Loma Prieta a
17 de outubro de 1989, seguido de numerosas réplicas. Observe-se como, no
perfil inferior, este sismo e as suas réplicas preencheram o vazio de Loma
Prieta. O que ainda deixa os vazios de San Francisco e Parkfield como áreas
onde se pode prever um grande evento futuro.
Figura 17 – Perfis de sismicidade ao longo da falha de San Andreas, Califórnia, antes (em cima) e
depois (apenas vazio de Loma Prieta; em baixo) de 17 de outubro de 1989.
14
8.2. Previsão a Curto Prazo
15
− Ondas de rádio anómalas: Antes do sismo de Loma Prieta de 1989, alguns
investigadores referiram ter detetado ondas de rádio anómalas. Onde se
geraram estas ondas e porquê, ainda não é sabido mas a investigação continua.
− Comportamento animal anómalo: Antes do sismo de magnitude 7,4 de
Tanjin, China, os tratadores dos animais do zoo observaram comportamentos
animais estranhos: cobras que se recusavam a ir para as suas covas, cisnes que
se recusavam a aproximar-se da água, pandas a berrar, etc. Este foi o primeiro
estudo sistemático deste fenómeno antes de um sismo. Apesar de terem sido
efetuadas outras tentativas para repetir uma previsão baseada no
comportamento animal, ainda não houve previsões bem sucedidas.
16
10. Bibliografia
17
FALHAS ACTIVAS E SISMOS
A Terra é um Planeta turbulento e frágil, mas vivo. A convecção exprime-se pelo
movimento diferencial das Placas, gerando-se os sismos ao longo das Falhas activas
nas fronteiras e, mais raramente, no interior das Placas. Saberemos viver com os
sismos desde que os estudemos e que o risco, estimado pelos especialistas, com
as inerentes margens de erro, seja assumido pela sociedade no seu conjunto,
mais culta e esclarecida.
‘(...) My eight year old son asked me: “What did Einstein study?” “For historical reasons earthquakes are considered to be the
I answered: “The universe”. He replied: “Nothing else?”’ province of the seismologist and the study of faults is that of the
geologist. However, because earthquakes are a result of an instability
(Pais, A., 1994) in faulting that is so pervasive that on many faults most slip occurs
during them, the interest of these two disciplines must necessarily
become intertwined."
"I
magine, leitor, que é um visitante do nosso abrir e a fechar e veríamos que, ao longo das tais ci-
Sistema Solar, vindo do espaço exterior. catrizes, os blocos se moveriam rapidamente, ou
Vagueou pelo minúsculo Plutão, por Saturno deslizando lateralmente, ou sobrepondo-se com um
e Júpiter, maiores, e bruscamente o mais no- bloco superior a cavalgar outro ou separando-se para
tável objecto aparece. Debaixo de manchas de nuvens deixar entre si blocos afundados que em que certos
vislumbra-se uma superfície dominada por azuis e ver- casos se abririam para gerar os oceanos.
des. Parece que este Planeta tem uma atmosfera muito Veríamos então que a própria Terra sólida era tur-
pouco usual, com vinte por cento de oxigénio, alta- bulenta e que, tal como a criança turbulenta que estica
mente reactivo. Há um campo magnético bastante forte. demais o seu brinquedo, este acaba por fracturar-se
Cerca de setenta por cento da su- nos tais blocos que encaixam entre
perfície parece coberta por água no si como peças separadas de quebra-
estado líquido. A superfície sólida cabeças.
está estranhamente fragmentada, mas Vivemos pois num Planeta tur-
alguns dos blocos maiores parecem bulento e frágil. Uma das expressões
encaixar entre si como peças sepa- deste facto é a sismicidade. Como
radas de um quebra-cabeças. O nosso explicá-la no quadro que temos vin-
capitão considera este planeta pou- do a traçar?
co vulgar e atribui-nos a tarefa de
descrever como funciona - que pro- Mecanismos de geração
cessos formam este estranho arranjo de sismos
de superfícies de terra, o que man-
terá a água no estado líquido...?” (W. Os sismos, tal como muitos ou-
Fyfe, 1988). tros fenómenos, podem ser devidos a
A Terra vista do espaço mostra- várias causas, sintetisadas na Tabela I,
nos de facto a turbulência da atmosfera consoante o mecanismo de geração
e oceanos. Mostra-nos também enor- Nascido em Lisboa, cidade sísmica, onde se licen- e a sua origem natural ou artificial.
mes cicatrizes estreitas que cortam a ciou em geologia; fez estudos pós-graduados em Numa classe de sismos naturais,
trama dos tais blocos maiores que as Paris e Leeds em Tectonofísica. Doutorou-se em estes são devidos a rotura em falha
Montpellier. Foi geólogo nos Serviços Geológicos
bordejam. de Portugal e é Professor da Faculdade de activa ou sismos tectónicos, que ex-
Se pudessemos passar em dese- Ciências, Universidade de Lisboa. É autor de cerca plicaremos a seguir; os sismos vulcânicos
nho animado a visão do Planeta no de 130 publicações sobre Geologia Estrutural, são produzidos por movimentos brus-
Tectónica, em especial da Cadeia Varisca e
seu conjunto, de tal modo que cerca Sismotectónica, nomeadamente na área ibero- cos do magma no seu caminho para
de 10 milhões de anos durassem ape- atlântica. Sobrevoou os Capelinhos em erupção, a superfície, e que em certas condi-
nas alguns segundos, o que veríamos? mergulhou, a 3000 metros, no Banco de Goringe, ções pode produzir a explosão do
subiu a Mata Bia (Timor Leste) no decurso de es-
Veríamos uma dança dos conti- tudos de Tectonofísica dos Continentes e aparelho vulcânico; os sismos de co-
nentes, umas vezes afastando-se para Oceanos. Foi membro do Comité Director da lapso ou implosão são devidos, próximo
os “cantos” da Terra e outras vezes União Europeia de Geociências (1983-9), é mem- da superfície, ao colapso de cavernas
bro correspondente da Academia das Ciências de
correndo a juntar-se num “supercon- Lisboa (desde 1989) e é membro da Academia e, por vezes, devidos a escorrega-
tinente” único. Veríamos oceanos a Europæa (desde 1991). mentos de terrenos; em profundidade
34
de um suporte rígido, através de uma mola elástica en-
Tabela 1 rolada a velocidade constante em torno de um cilindro.
Um dos blocos tem a base rugosa e só se move, repen-
Classificação dos sismos consoante o mecanismo de tinamente, quando a força exercida na mola ultrapassa
geração e origem natural ou artificial
o atrito na superfície de contacto entre o bloco e o seu
Mecanismo de Tipo de Sismo substrato. Este fenómeno chama-se deslizamento às sa-
Geração Naturais Artificiais cadas (“stick-slip”). O outro bloco tem uma base lisa e
lubrificada e move-se com a mesma velocidade que a
Rotura em Tectónicos Induzidos
falha activa (enchimento mola puxada pelo cilindro. Este fenómeno chama-se des-
de barragens; lizamento estável (“stable sliding”); esta experiência
exploração de
hidrocarbonetos,...) mostra-nos que a natureza da superfície de contacto é o
factor que controla a natureza dos movimentos, inde-
Explosão Vulcânicos - Explosões em pendentemente da composição dos materiais em contacto;
minas, pedreiras
e nucleares mostra-nos também o importante papel dos fluidos na
lubrificação das superfícies.
Colapso -Desabamento de
ou caverna
Implosão -Escorregamento Desabamento
de terreno em
minas
-Mudança de fase
e colapso em fenda
profunda
35
e o efeito das tensões tectónicas traduz-se na geração de de Reid. Esta foi confirmada em dezenas de outros ca-
falhas activas, em que os blocos separados pela falha ou sos, sempre que um sismo tectónico foi acompanhado
lábios tendem a deslizar a uma velocidade, aproxima- por rotura superficial. E ainda antes de Reid, já Guilbert
damente constante, em primeira aproximação. Na parte (1884) tinha estabelecido a ligação entre sismos e falha-
superior da litosfera, com cerca de 15 a 20 km, o falha- mento. Note-se, desde já, que a mesma falha activa pode
mento ocorre sobretudo durante os sismos na esquizosfera conter segmentos que deslizam às sacadas e outros, as-
(que significa sujeita a cisão); abaixo, na plastosfera, o sismicos, onde o deslizamento é estável ou ocorre em
movimento é essencialmente assísmico. períodos curtos, de minutos a dias, de reptação (“creep”).
No domínio mais próximo da falha activa, o atrito Existem assim “sismos lentos”, não registáveis em sis-
entre os dois lábios impede o movimento, se a superfí- mogramas, entre os extremos de um espectro que abrange
cie da falha for suficientemente rugosa. Em determinado desde os sismos em sentido restrito e o deslizamento es-
momento a tensão tectónica ultrapassa o atrito e dá-se tacionário.
um movimento brusco na falha - gera-se um sismo tec- O movimento dos lábios das falhas durante o pe-
tónico. Os lábios ressaltam para a posição alinhada com ríodo entre sismos é extremamente lento; varia entre
os dois segmentos de recta, agora deslocada pela falha alguns centímetros por ano até 0,0001 centímetros por
activa (Fig. 2). A energia elástica acumulada nos lábios ano, fazendo transição com as falhas inactivas e chama-
da falha é libertada, em parte como calor e em parte co- se taxa de deslizamento (slip-rate); pode ser medido por
mo ondas elásticas. Estas constituem o sismo. técnicas geodésicas extremamente precisas, tais como a
geodesia de satélite.
Durante o sismo a rotura propaga-se a velocidade
da ordem de cerca de 2 km por segundo até que as ir-
regularidades do plano de falha tenham atrito suficiente
para a obrigar a parar. Quanto maior for o sismo maior
é a área de rotura na falha. Para um sismo que liberta
pouca energia, isto é, de baixa magnitude a rotura nas-
ce numa área que se reduz quase a um ponto, o hipocentro
ou foco do sismo (Fig. 3). A profundidade do foco dos
sismos é variável; nos sismos superficiais é inferior a 70
km; nos intermédios situa-se entre 70 e 300 km; nos pro-
fundos situa-se entre 300 e 680 km. Os mecanismos de
geração são diferentes consoante a profundidade, como
vimos atrás.
36
Na vertical do hipocentro do sismo o movimento vi- ficável. O advento dos sismógrafos, no início do século,
bratório do solo é máximo, designando-se por epicentro. permitiu quantificar a energia sísmica através da escala
As ondas sísmicas ao irradiarem da fonte, no hipocen- de Magnitudes de Richter ou magnitude local (ML): é o
tro, sofrem atenuação, pelo que a severidade das vibrações logaritmo na base 10 da amplitude máxima, em micra,
do solo depende do conteúdo em energia do sismo mas das ondas sísmicas registadas num sismógrafo padrão, a
também da distância ao foco. uma distância de 100 km do epicentro do sismo. Esta é
Durante um sismo geram-se ondas elásticas que se a escala de magnitudes mais usada.
propagam no interior das massas rochosas ou ondas vo- A razão de ser desta escala logarítmica é a enorme
lumétricas (“body waves”) e outras que se propagam variabilidade da energia libertada num sismo, que pode
apenas à superfície ou ondas superficiais (“surface waves”). variar entre +9 (109) ou seja 1 seguido de 9 zeros, até
As ondas volumétricas são de dois tipos (Fig. 4): -2 (10-2=1/100) ou seja 1 centésimo, no limite da sensi-
- ondas primárias ou P, as mais rápidas, que corres- bilidade dos sismógrafos mais sensíveis.
pondem a movimento vibratório das partículas rochosas A energia sísmica libertada por um sismo de deter-
minada magnitude é cerca de 30 vezes a de um sismo
na direcção de propagação, comprimindo ou dilatando,
de uma unidade de magnitude abaixo (por exemplo, um
alternadamente, as rochas;
sismo de magnitude 7 liberta cerca de 30 vezes a ener-
gia libertada por um sismo de magnitude 6; um de
magnitude 8 cerca de 302=30x30=900 vezes a de um de
magnitude 6; um de magnitude 9, o máximo permitido
pela resistência das rochas na litosfera, cerca de 303=27.000
a de um de magnitude 6).
Para termos uma ideia da energia libertada durante
os sismos podemos compará-la com outros quantifica-
dores energéticos, no sistema métrico em que a unidade
é o erg. Os Estados Unidos da América são o maior con-
sumidor de energia por ano, com 1026 ergs; o fluxo de
calor interno para a atmosfera, por ano é de 1028 ergs; a
libertação anual de energia nos sismos é de 1025 a 1026
ergs; a bomba atómica de Bikini, detonada em 1946, li-
bertou 1019 ergs; o sismo de 1755 em Lisboa libertou
talvez 1028 ergs, o equivalente a cerca de 5 milhões de
bombas atómicas de 1021 ergs.
Fig. 4 - Ondas volumétricas P e S. (Adaptado de Uyeda e Bolt). Convém esclarecer, para terminar esta secção, a di-
ferença conceptual entre magnitude e intensidade, que
são confundidas muitas vezes pelos leigos, por deficiente
-ondas secundárias ou S, oscilando perpendicular-
poder de comunicação entre estes e os especialistas.
mente à direcção de propagação, cisalhando pois a rocha
Para tal vamos utilizar uma analogia. Uma lâmpada
alternadamente para um lado e para o outro.
de determinada potência (energia por unidade de tem-
A localização do epicentro de um sismo pode pro-
po) pode produzir num local a determinada distância da
ceder-se graças à diferença de velocidades entre as ondas
lâmpada uma intensidade luminosa inferior à da causa-
P, 5km/s, e as ondas S, 3km/s, em crosta continental.
da noutro local por uma lâmpada de menos potência
Para tal há que ter registo do mesmo sismo em 3 esta-
mas a menor distância. O equivalente da potência da
ções sismográficas diferentes.
lâmpada é a magnitude e o da intensidade luminosa é
Localizado um sismo, no tempo e espaço, há que
o da intensidade sísmica.
descrever também a sua severidade.
Finalmente, explicada a génese dos sismos tectóni-
A intensidade sísmica é uma medida qualitativa da
cos, os mais frequentes, por rotura nas falhas activas, há
severidade das vibrações através dos seus efeitos no am-
biente natural e nas estruturas construídas pelo homem. que explicar a génese destas falhas activas. Para tal há
De entre as muitas escalas saliente-se a mais usada, de que entender que a tectónica de Placas é um sistema di-
Mercalli modificada (IMM), com 12 graus e expressa em nâmico (Dias de Deus, 1993), em perpétua reorganização.
numeração romana. Esta escala permite traçar linhas de Fechado um oceano, por colisão dos continentes que o
igual intensidade ou isosistas mesmo na ausência de ins- bordejam, reinicia-se a abertura de outro, propagando-
trumentos, pelo que é muito útil no estudo da sismicidade se no interior de um continente um “rift” que se alargará
histórica. Mas tem inconvenientes porque não é quanti- para constituir um novo oceano. As antigas falhas trans-
37
formantes deixam de estar orientadas favoravelmente pa-
ra concentrar o movimento e geram-se novas falhas, com
novas orientações, a partir de zonas de fraqueza ante-
riores. Estas coalescem até formar uma falha contínua,
que passa a concentrar o movimento das placas.
38
As falhas inversas são geralmente menos inclinadas e por vezes não atingem a superfície, designando-se por
(30-0°) que as normais (cerca de 60°); se subhorizontais carreamentos cegos (“blind thrust”) . Acima de um car-
e com movimentos que , por vezes , atingem dezenas reamento cego activo deve gerar-se, por compatibilidade
de kilómetros chamam-se carreamentos. A sua geome- da deformação um dobra activa do tipo anticlinal - isto
tria pode ser complexa alternando rampas e chãs ("flat") é, arqueamento com face convexa para cima (Fig. 7). Na
falha de desligamento, subvertical, o rejeito faz-se se-
gundo a direcção horizontal da falha . Isto traduz um
alongamento numa direcção horizontal, encurtamento
na outra direcção horizontal, perpendicular, sem qual-
quer variação (encurtamento ou alongamento) na vertical.
Se um observador vê o lábio oposto rodar para a direi-
ta, o desligamento é direito; se para a esquerda é esquerdo.
As componentes, de movimentação segundo a di-
recção e inclinação da falha, combinam-se nas falhas
com deslizamento oblíquo.
Muitas vezes a direcção de movimentos na falha es-
tá materializada por estrias de fricção entre dois lábios.
As falhas podem existir a todas as escalas, desde a es-
cala do cristal até à escala do globo no seu conjunto;
assim a Tectónica de Placas (Fig. 8) mostra-nos que o
globo é divisível num pequeno número, 12, de blocos
com grandes dimensões horizontais quando compara-
dos com a sua espessura ou placas , quase rígidos (em
primeira aproximação...), que se deslocam entre si se-
gundo faixas estreitas onde se concentra o movimento
e, portanto, a sismicidade. Estas fronteiras de placas são
Fig. 7 - Anticlinal activo sobre carreamento cego activo. (Adaptado de
Suppe). pois zonas de falha à escala do globo e os tipos de mo-
vimento que ocorrem são exactamente do mesmo tipo
Fig. 8 - Sistema dinâmico de Placas (NUVEL - 1) e sismicidade. (Adaptado de Bolt e de De Mets e outros).
39
Fig. 9 - Falha transformante e de desligamento.
dos que podem ocorrer nas falhas a uma escala menor. tes se podem tornar menos esperados pelos governos,
Nas fronteiras divergentes, situadas acima dos ramos populações, e ... especialistas.
ascendentes das correntes de convecção, nas cristas mé-
dio-oceânicas ou rifts intracontinentais, dá-se o afastamento
entre 2 ou 3 placas, como nas falhas normais.
Nas fronteiras convergentes ou zonas de subducção,
geralmente do oceano sob o continente, dá-se a apro-
ximação entre as placas envolvidas até se atingir mesmo
o choque entre continentes por desaparecimento do
oceano intermédio; são pois falhas inversas acima dos
ramos descendentes das correntes de convecção.
Nas fronteiras transformantes as placas deslizam la-
teralmente na horizontal. Chamam-se transformantes
porque transformam um tipo de movimento em inclina-
ção, divergente ou convergente, em movimentos em
direcção. Podem considerar-se um tipo especial de des-
ligamentos mas em sistema aberto porque nas fronteiras
divergentes há criação de litosfera e nas fronteiras con-
vergentes há destruição de litosfera; nos desligamentos
que não são fronteira de placas não há criação nem des-
truição de litosfera, ou seja, o sistema é conservativo.
(Fig.9).
Verifica-se que a sismicidade à escala global se con-
centra justamente nas fronteiras de placa; a frequência
e magnitude dos sismos interplacas constitui mais de
95% da actividade a esta escala. No entanto, há também
sismos no interior das placas, sismos intraplacas, mais
raros e de magnitudes mais baixas. Isto demonstra que
as placas não são perfeitamente rígidas, como o para-
digma da Tectónica de Placas na sua versão ortodoxa
quer fazer crer; os sismos intraplacas são mais frequen-
tes em domínio continental que oceânico; constituem
um risco significativo porque podem ocorrer em zonas
densamente povoadas e porque sendo menos frequen- Fig. 10 - Mecanismo focal de sismos. (Adaptado de Madariaga).
40
Foto 2 - Falha activa de desligamento de S.Andreas na Planície do Foto 3 - Falha activa de desligamento de Owens Valley (escarpa oci-
Carrizo (Sul da Califórnia). Note-se o desvio das linhas de água, que dental de Sierra Nevada, Califórnia); gerou um sismo, magnitude de
termina contra a falha, à esquerda. Richter de cerca de 8 em 1872, cuja rotura é visível na foto e tem um
comprimento de 110 Km. Os leques aluviais, muito recentes, que se
Referidos os tipos de falhas activas põe-se o pro- estendem da montanha são cortados pela rotura.
blema de saber se existe alguma relação entre o tipo de
das P - iP - pode ser resolvida lançando mão de outra
falha e o tipo de movimento sísmico que pode gerar. O
informação que permita distinguir o plano de falha do
leitor já deve ter desconfiado que a resposta é positiva
chamado plano nodal, perpendicular ao plano de falha
e de facto não se enganou. Mas só cerca de 1920 se des-
e interceptando-o ortogonalmente à direcção de movi-
cobriu o modo de determinar o mecanismo focal dos
mento da falha activa durante o sismo. Assim pode
sismos a partir dos sismogramas.
recorrer-se à observação directa de rotura superficial,
Imaginemos que num certo ponto da litosfera se deu
que coincide com o plano de falha activa; a observação
um sismo de tipo explosivo , natural ou artificial. Em re-
do alongamento das isosistas, geralmente coincidentes
dor do foco há um movimento radial dirigido para fora;
com a direcção da falha activa para sismos de magnitu-
o primeiro movimento registado num sismógrafo à su-
de moderada a elevada; ou à utilização do impulso das
perfície será o de uma elevação do terreno qualquer que
ondas S, mais difícil de caracterizar que o das ondas P,
seja a posição do local onde se situa o sismógrafo em
porque estas são as primeiras a ser registadas no sismo-
relação ao foco. (Fig. 10).
grama. Note-se que há casos, raros, em que 2 falhas
Inversamente se o sismo for de colapso o primeiro
conjugadas podem ser activadas em sismos muito pró-
movimento será o de uma descida do solo.
ximos no tempo (compostos) ou em que o mecanismo
Imaginemos agora que se trata de um sismo tectó-
pode mudar entre o início e fim da rotura no mesmo sis-
nico gerado sobre um desligamento activo orientado E-W
mo (sismos complexos, com sub-eventos).
e com movimento direito. Nos quadrantes NE e SW o
Assim é possível determinar o mecanismo focal de
primeiro impulso é elevado do terreno, por compressão,
um sismo desde que se disponha de sismogramas num
e nos quadrantes NW e SE é abaixamento do terreno,
número suficiente de estações e que se tenha em conta
por dilatação.
De facto, pelo princípio da acção e reacção, o bi-
nário que produz o movimento na falha tem que ser
equilibrado por um binário oposto de reacção do mate-
rial o que equivale a compressão máxima a 45° da falha,
segundo a direcção NW-SE e tracção segundo a direc-
ção NE-SW, perpendicular à anterior. Por isso se designa
este processo mecanismo de binário duplo. O mecanis-
mo focal é pois diferente no caso de explosão e de sismo
tectónico, propriedade que foi utilizada pelos sismólo-
gos para detectar explosões nucleares subterrâneas.
Note-se que um desligamento esquerdo N-S produ-
zirá a mesma distribuição de quadrantes alternados em
compressão e dilatação. A ambiguidade do mecanismo
focal dado pela distribuição do primeiro movimento das Foto 4 - Falhas activas normais no bordo oeste do Planalto do Colorado,
primeiras ondas a chegar, as ondas P, ou impulso de on- que cortam escoadas basálticas do Quaternário.
41
Fig. 11 - Mecanismos focais de sismos nos diferentes tipos de fron- Foto 5 - Rotura da falha activa, predominantemente inversa, de El
teira de placas. (Adaptado de Isacks e outros). Asnam (Argélia), na aldeia de Oued Fodda. A rotura foi gerada du-
rante o sismo de 1980/10/10, magnitude 7,2, e que produziu 3.500
o trajecto dos raios sísmicos. Trabalha-se com uma pro- vítimas; tem um comprimento de 30 Km. À frente da aldeia vê-se a
jecção estereográfica que representa a região mais próxima bossa frontal de cavalgamento e atrás falhas secundárias, normais.
do foco ou esfera focal. canismo motor das placas; e há problemas que têm re-
O estudo do mecanismo focal dos sismos é extre- sistido a todos os ataques, como o da previsão sísmica.
mamente importante, porque é um dos meios principais
no reconhecimento do campo de tensões que actua, no Identificação e Caracterização das
presente momento, na litosfera. Em 1968 Isacks , Oliver falhas activas
e Sykes, aplicando o método de determinação dos me-
canismos focais dos sismos interplacas, demonstraram Uma definição conceptual de falha activa é imedia-
que nas fronteiras divergentes os mecanismos eram do ta: uma falha considera-se activa se desviar qualquer
tipo falha normal; nas convergentes do tipo falha inver- linha de referência traçada entre dois pontos situados
sa; e nas transformantes do tipo desligamento com sentido em lábios opostos da falha.
previsto pela posição em relação às fronteiras conver- Mas como o desvio dessa referência pode ser, para
gentes e divergentes (Fig. 11). A sismologia dava assim as falhas menos activas, de fracções de milímetros por
uma contribuição fundamental na confirmação da teo- ano, logo difícil de evidenciar, mesmo com a precisão
ria da Tectónica de Placas e no estabelecimento da actual das técnicas mais sofisticadas de geodesia de sa-
Cinemática de Placas - isto é a caracterização dos movi- télite, terá que buscar-se uma definição operacional,
mentos de rotação, os únicos possíveis numa Terra esférica. menos precisa mas mais eficaz que a conceptual.
A revolução em Ciências da Terra entrava na sua fase Assim:
institucional, generalizando os resultados da Teoria do
alastramento dos fundos oceânicos (“sea floor spreading”), falha activa
iniciado por Hess (1962); confirmava-se, assim, a intui- é uma falha que deslizou durante o regime sismo-
ção genial de Wegener (1912) com a sua teoria da deriva tectónico actual e é, portanto, provável que venha a
continental, tão combatida pela maioria do “establishment”, sofrer deslocamento renovado no futuro.
mas persistentemente defendida por alguns autores, co-
mo Holmes (1931). Falha inactiva
Não se pense no entanto que “o fim está à vista” em é uma falha que se movimentou durante um perío-
Ciências da Terra. Certos autores, como o destas li- do orogénico anterior, mas não é activa no regime tectónico
nhas,duvidam da aplicabilidade do postulado da rigidez presente e, consequentemente, não rejeita depósitos se-
das placas; assim há uma contradição essencial entre o dimentares ou superficiais de erosão do Cenozóico tardio
efeito de temperatura, que produz uma litosfera rígida e (cerca de 5 milhões de anos) e não é sismicamente ac-
imóvel e a intensa actividade dinâmica à superfície do tiva.
globo, evidenciada pela tectónica de Placas; têm-se fei- O leitor deduzirá que uma falha muito activa é mais
to tremendos avanços no conhecimento da convecção fácil de identificar que uma falha pouco activa; e que de
no manto e no núcleo, mas subsistem problemas no me- facto a fronteira entre falha muito pouco activa e inacti-
42
Fig. 12 - Critério estratigráfico de datação de movimento nas falhas:
a falha f é posterior ao estrato a e anterior ao estrato b. (Adaptado de
Cabral).
43
Geofísicos
As falhas activas são acompanhadas por vezes por
anomalias geofísicas (magnéticas, gravimétricas, etc.).
44
Foto 6 - Rotura da falha activa, predominantemente inversa, del El Foto 7 - Rotura da falha activa, predominantemente inversa, del El
Asnam (Argélia), na aldeia de Oued Fodda; detalhe das falhas secun- Asnam (Argélia), na aldeia de Oued Fodda; detalhe de falha secun-
dárias normais. dária normal. O rejeito vertical é de cerca de 0,5 m.
Foto 8 - Rotura da falha activa, predominantemente inversa, del El Foto 9 - Rotura da falha activa, predominantemente inversa, del El
Asnam (Argélia), na aldeia de Oued Fodda. Traço principal da falha Asnam (Argélia), na aldeia de Oued Fodda; detalhe da foto 8 mos-
inversa com ligeira componente de desligamento, esquerdo, bem vi- trando as estrias de fricção no plano de falha activa, geradas com
sível no deslocamento da conduta de água, à esquerda. componente inversa e de desligamento.
45
Fig. 16 - Classificação de falhas activas segundo taxas de actividade. (Adaptado de Cluff).
Assim, a energia libertada durante um sismo - mag- de pequena magnitude. A heterogeneidade essencial das
nitude - depende sobretudo da área de rotura e, em falhas activas vai, assim, provocar a complexidade do
menor escala, do carácter mais ou menos rugoso da su- fenómeno sismogenético. Estas relações entre parâme-
perfície de rotura: para a mesma área, uma falha mais tros sísmicos e tectónicos são, assim, a base da abordagem
rugosa produz um maior deslocamento porque resiste à determinista ao risco sísmico.
rotura durante mais tempo. Conhecendo a geometria da
falha (inclinação e profundidade), a espessura da es- Previsão sísmica a longo prazo
quizosfera e o comprimento de rotura estabelecem-se
curvas empíricas que relacionam o logaritmo da ener- Na previsão sísmica procura responder-se ás seguintes
gia - magnitude - com o logaritmo da área de rotura e o questões:
logaritmo do deslocamento. Assim, por exemplo, um sis- -Onde podem ocorrer os sismos?
mo de magnitude 9 é devido a rotura em 100.000 a -Com que frequência?
200.000 km2 e deslocamentos de 10-20 m, um sismo de -Com que magnitude?
magnitude 7 é devido a rotura em 200 a 1000 km2 e des- -Quando ocorrerá o próximo sismo?
locamentos de 1 a 5 m. Pode responder-se que os sismos ocorrem nas fa-
Os sismos interplacas correspondem a deslocamen- lhas activas; que tendem, muito grosseiramente a ter uma
tos menores que os sismos intraplacas, porque a sismicidade certa periodicidade (período de retorno); que a magni-
mais frequente nas fronteiras de placas tende a alisar as tude pode prever-se dentro de certos limites, como
superfícies de falha, tornando-as menos rugosas. veremos a seguir; que não estamos próximos de poder
Os períodos de retorno para os sismos de maior mag- responder à quarta pergunta.
nitude podem ser estimados a partir da taxa de actividade
e da relação entre deslocamento e magnitude. Uma fa- Tabela 2
lha activa com taxa de deslizamento rápida tende a Magnitude e frequência anual dos sismos
produzir sismos de magnitude mais elevada (maior des-
Magnitude Numero de sismos
locamento) e período de retorno mais curto que uma
(medida e partir das acima da magnitude
falha activa com taxa de deslizamento mais lenta. (Fig.16).
ondas superficiais) indicada
Os estudos da sismicidade instrumental, histórica e
8 ...2
paleosismológica de muitas falhas mostraram que de-
7 ...20
terminados segmentos das falhas tendem a romper em
6 ...100
grandes sismos sucessivos; estes segmentos são limita-
5 ...3 000
dos por barreiras, onde a rugosidade do plano de falha
4 ...15 000
é tal que a rotura sísmica penetra com dificuldade. Cada
3 ...>100 000
segmento tende a produzir um sismo característico pa-
ra esse segmento. Como há barreiras a várias escalas (Segundo Bolt, 1988).
(geometria fractal) também se podem produzir sismos
46
Os efeitos dos sismos que interessa prever são vi-
bração do solo; rotura superficial; cedência do solo
(deslizamentos de terrenos; liquefacções) e tsunami ou
maremotos.
Existe hoje o consenso em considerar que a previ-
são sísmica pode classificar-se de acordo com o intervalo
de tempo esperado até à ocorrência do sismo em:
curto prazo-algumas semanas antes;
prazo intermédio-algumas semanas a alguns anos
antes;
longo prazo-alguns anos a algumas décadas antes.
A curto prazo, a previsão baseia-se em sismos pre-
cursores, aceleração na taxa de deformação do solo e
Foto 11 - Rotura da falha activa inversa de Spitak (Arménia). O blo-
mudanças rápidas do nível e quimismo das águas sub- co a norte, à direita cavalga de 1,5 a 2 metros o bloco a sul, à esquerda.
terrâneas. O sismo de Haicheng, 1975, com magnitude
7,3 (China) foi previsto, mas infelizmente permanece
carácter fractal, no espaço e no tempo, como expressão
uma excepção. Têm-se feito alguns progressos na pre-
de criticalidade auto-organizada.
visão a prazo intermédio, mas a fiabilidade é maior para
A analogia utilizada por Bak para ilustrar este con-
a previsão a longo prazo.
ceito de criticalidade auto-organizada é muito expressiva:
A questão da previsibilidade dos sismos deve hoje
imaginemos que construimos uma pilha de areia ao dei-
ser vista à luz da descoberta dos fenómenos de caos de-
xarmos escoarem-se, por entre as nossas mãos, grãos a
terminista (Dias de Deus, 1993). Certos autores (Turcotte, ritmo constante. Desde que a pilha atinge um determi-
1992) defendem que o processo sismogenético, como nado ângulo crítico de inclinação, a simples adição de
exemplo de deslizamento às sacadas, pertence a este ti- um grão pode desencadear uma avalanche, de qualquer
po, pelo que é essencialmente imprevisível, porque a tamanho, na pilha já formada. Ora, se consideramos jus-
incerteza cresce exponencialmente com o tempo. Outros tamente a sismicidade de uma área suficientemente vasta
(Bak e Chen, 1991) defendem que o processo de falha- verifica-se a chamada lei de Gutenberg-Richter, em que
mento sísmico é um exemplo de caos fraco, em que a existe proporcionalidade entre o logaritmo da energia li-
incerteza aumenta no tempo de acordo com uma lei de bertada pelo sismo, que é afinal a magnitude, e o logaritmo
potência; a distinção é fundamental porque a previsão da frequência correspondente a essa magnitude. Muitas
a longo prazo é possível em sistemas do tipo caos fra- outras variáveis obedecem a esta distribuição fractal, sen-
co, mas não no caso de caos forte. Veremos que a do a mais evidente para o leigo a distribuição da riqueza
interpretação de caos fraco parece mais próxima da rea- (lei de Pareto): por exemplo em Portugal, os multimi-
lidade do processo de falhamento sísmico; este tem lionários contam-se pelos dedos da mão, os milionários
serão da ordem das centenas, os ricos da ordem dos mi-
lhares, a classe média da ordem das centenas de milhar,
os pobres da ordem do milhão...
Assim, num ano temos, à escala do globo, e em mé-
dia, os valores da Tabela 2.
Num gráfico onde se projecta em abcissa a magni-
tude ou logaritmo da energia e em ordenadas o logaritmo
da frequência obtém-se uma recta com determinado de-
clive, o chamado valor b, e demonstra-se que é o dobro
da dimensão fractal da distribuição. Este exprime a fre-
quência relativa entre os grandes sismos e os pequenos
sismos: varia entre 0,6 e 1,8, para diferentes regiões, con-
soante o regime tectónico, mas em média é próximo de
Foto 10 - Vista de helicóptero da rotura na falha inversa de Spitak 1 - neste caso, b≈1, a frequência aumenta cerca de 10
(Arménia), durante o sismo de 1988/12/07, com magnitude 7,0 que vezes se a magnitude decresce de 1 unidade, como na
provocou 25.000 vítimas. O comprimento da rotura, descontínua, é de
cerca de 20 Km. Existe uma ligeira componente de desligamento di- Tabela 2; quanto mais baixo é o valor b mais frequen-
reito, responsável pela formação de fendas escalonadas, bem visíveis tes são os sismos grandes em relação aos pequenos.
na foto. Utilizando novamente a analogia com a Lei de Pareto
47
Fig. 17 - Estimação do valor b para Portugal e zona oceânica adja- Foto 12 - Rotura da falha activa inversa de Spitak (Arménia). O des-
cente com base na sismicidade instrumental e histórica. (Segundo locamento diminui para o extremo SE da rotura activa.
Martins e Mendes Victor).
cinemática dos carreamentos, alguns cegos, é mais com-
pode dizer-se que as regiões com b baixo são paraleli- plexa e o sismo de Northridge (1994) não foi previsto,
záveis aos regimes capitalistas ultra-liberais, com a riqueza embora já alguns tectonistas tivessem alertado para o ris-
muito concentrada; enquanto as regiões com b elevado co sísmico considerável que estes carreamentos cegos
são comparáveis aos regimes de Estado Providência, com representam. No entanto, se a previsão das magnitudes
a riqueza distribuída de uma forma mais equitativa. (Fig. 17). regista alguns sucessos, a previsão no tempo permane-
Na abordagem probabilística procura estimar-se a ce impossível, porque a variação do estado de tensão
magnitude e período de retorno - para essa magnitude provocada por um sismo sobre determinada falha acti-
- de um futuro sismo através de extrapolações para mag- va pode desencadear um outro sismo sobre outra falha
nitudes mais elevadas da curva - recta em diagrama activa, por vezes distante. Esta interacção entre diferen-
bilogarítmico - registada para magnitudes mais baixas. tes falhas activas provoca um comportamento não periódico,
Mas à medida que a magnitude aumenta verificam-se e difícil de prever.
desvios à lei de Gutenberg-Richter que podem levar a Conhecida a magnitude do sismo máximo credível,
subestimação do risco - com as inevitáveis consequên- o seu período de retorno, e a curva de atenuação para
cias em termos de perdas humanas e materiais. Por outro uma determinada região, pode estimar-se a probabili-
lado, a estatística fractal não permite prever a localiza- dade do movimento do solo ultrapassar determinado
ção no espaço nem no tempo porque há tendência para valor no interior dessa região. Os engenheiros sísmicos
agregação (“clustering”), isto é, ocorrência de eventos podem então projectar as estruturas (habitação, barra-
em “cacho” ou concentrados no tempo e espaço. gens, pontes, centrais nucleares, etc.) para resistir a esse
Na abordagem determinista procura-se estabelecer
sismo de projecto.
para cada falha activa o sismo máximo credível e o seu
Sismólogos, Tectonistas e Engenheiros sísmicos de-
período de retorno, a partir das características dessa falha.
vem dialogar entre si, enquanto especialistas, para
Assim, quanto maior for o comprimento da falha e
caracterizar o risco sísmico. Enquanto cidadãos, devem
mais elevada a taxa de actividade mais elevada é a mag-
esclarecer totalmente os poderes públicos e a socieda-
nitude do sismo máximo credível. No caso da Falha de
de no seu conjunto sobre os riscos estimados e suas
S. Andreas (Califórnia) as condições para aplicação des-
margens de erro. Uma sociedade enriquecida na sua cul-
ta metodologia são as ideais. A falha está bem exposta;
tura e discernimento por este processo de diálogo
a sismicidade instrumental é acompanhada por uma re-
de sísmica, densa e bem equipada; a paleosismicidade permanente com os especialistas - que a ela também per-
é bem conhecida, graças ao estudo exaustivo de sanjas tencem - poderá fazer opções mais conscientes para si
em alguns locais críticos; e - factor muito importante - mesma e para as gerações vindouras.
os poderes públicos investiram o necessário para pro- O autor destas linhas espera ter conseguido persua-
ceder à monitorização e investigação do sistema de falhas dir os leitores de que os sismos são fenómenos naturais
activas que se estende ao longo da Califórnia. Assim foi e expectáveis num Planeta vivo - na Lua não há sismos
possível prever a magnitude do sismo de Loma Prieta tectónicos... nem vida! -, para os quais devemos estar
(1989) a partir da identificação do segmento da falha que preparados, através de uma ligação mais íntima entre
lhe deu origem. Na área de los Angeles, a geometria e ciência e sociedade.
48
O SISMO DE KOBE
Estava já redigido o texto do presente artigo quan- nitude local 8, e passa apenas a 40 km a S de Kobe
do, no dia 17 de janeiro de 1995 um sismo atingiu a (Fig. 2). O regime sismotectónico desta região é domi-
região de Kobe (Japão), causando mais de 5.100 mor- nado por subducção oblíqua da Placa Filipina sob a Placa
tos, 26.800 feridos e 300.000 Eurasiática que induz nesta, a mais
desalojados e provocando danos de 180 km da fronteira de Placa,
estimados em 200 mil milhões de um regime de falhas activas direi-
dólares. tas (Fig. 3).
O sismo teve magnitude local Sendo a sismotectónica do Japão
(escala de Richter) de 7.2 ou mag- bem conhecida a amplitude deste
nitude de momento de 6.9. O desastre vem ilustrar dramaticamente
hipocentro foi bastante superficial, alguns aspectos que já tinhamos
cerca de 20 km. A falha activa de considerado no presente artigo e
Nojima, que provocou o sismo, era que passamos a citar.
conhecida, e figurava no Mapa A previsão a curto e médio pra-
Neotectónico do Japão. Esta falha zo falhou neste caso, como em
é NE-SW, subvertical, e jogou em muitos outros. Mas a reacção da co-
desligamento direito, isto é com munidade científica japonesa foi
movimento lateral de cerca de imediata: os dados fundamentais
1-1.5 m em 30-50 km, de acordo sobre o sismo, indispensáveis para
com o mecanismo focal do sismo orientar a previsão das réplicas e
e a rotura superficial (Fig. 1). É um as hipóteses de desencadeamento
ramo de Linha Tectónica média (“triggering”) de sismo de magni-
(Median Tectonic Line), uma das Foto 1 - Desligamento afecta via de comunicação.
tude ainda superior noutras falhas
mais importantes do Japão, orien- mais importantes, eram conhecidos
tada ENE-WSW e também com jogo activo em desligamento menos de 12 horas depois do sismo principal.
direito. Esta última falha pode provocar sismos de mag- Na previsão, a longo prazo, das magnitudes expec-
Fig. 1 - Falhas activas na região de Kobe. (Adaptado de Somerville). Fig. 2 - Sistema de Placas no Japão. (Adaptado de Taira e Ogawa).
49
Foto 2 - A linha de costa e construções aí situadas são afectadas pe-
la rotura activa.
50
Foto 4 - Desligamento direito de um caminho
51
AGRADECIMENTOS
O presente artigo deve-se à persistente acção junto do autor dos Professores J.Andrade e Silva, João Caraça e J. Moreira Araújo.
Agradece-se a leitura crítica por partes dos colegas L. Mendes Victor, J. Cabral e L. Matias.
A formação do autor em Simotectónica não teria sido possível sem o apoio do Gabinete de Protecção e Segurança Nucleares, desde 1979, que
permitiu o contacto com alguns dos especialistas, quer a Oeste - Lloyd Cluff (Califórnia) e D. Slemmons (Nevada) - quer a Leste - Vladimir Trifonov
(Moscovo) e do Serviço Nacional de Protecção Civil. Agradece-se esse apoio nas pessoas do Sr. Engenheiro A. Marques de Carvalho e Sr. General
Neves Cardoso.
Mais recentemente a JNICT e Práxis XXI têm apoiado a nossa equipa de investigação e ensino pós-graduado, que tem contado também com
a colaboração de M. Mattauer e J. Cl. Bousquet (Univ. de Montpellier) e S. Phipps (Univ. de Pensilvânia, Filadélfia)
Agradece-se a colaboração de Carmen Diego, Benjamim Dâmaso e Paulo Fonseca na preparação do texto, das Figuras e das Fotos.
Agradece-se às seguintes instituições a reprodução das Figuras: American Geophysical Union (EUA); Associação Portuguesa de Geólogos;
Blackie (R.U.); Blackwell Scientific Publications (EUA); Instituto Geofísico Infante D. Luís (Univ. de Lisboa); Presses du CNRS (França); W. Freeman
and Co (EUA).
Agradece-se ao Prof. Kenichiro Hisada, Univ. de Tsukuba (Japão) a inclusão das Fotos sobre o sismo de Kobe.
1) Allègre, C. (1987) - Les fureurs de la Terre. Paris. O. Jacob. 1) Bak, P. & Chen, C. (1989) - Earthquakes as a self-organized
2) Bak, P. and Chen, K. (1991) - Self-organized criticality. Sci. critical phenomenon. J. Geophys. Res., v. 94, pp. 15635-7.
Am. 264(1), pp. 26-33. 2) Ribeiro, A. (1992) - Order and Chaos in the magnitude of earth-
3) Bolt, B. (1993) - Earthquakes, 3ª ed. New York: WH Freeman. quake faulting. Mem. Ac. Ci. Lisboa, t. XXXI (1990-1), pp. 537-49.
4) Bolt, B. (1993) - Earthquakes and Geological discovery. New 3) Scholz, C. (1990) - The mechanics of earthquakes and faulting.
York: WH Freeman.
Camb. Univ. Press.
5) Cox, A. and Hart, B. (1986) - Plate Tectonics - How it works.
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Presses du CNRS, Paris.
Sobre Sismotectónica de Portugal
Em português
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1) Cabral, J. (1988) - Introdução à Neotectónica. Geonovas, Rev. Fac. Ciências Univ. Lisboa. Publicação em Curso, IGM, MIE.
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2) Deus, J. Dias de (1993) - Determinismo e Caos. Colóquio/Ciências, Azores triple junction: a contribution from Tectonics. TectonoPhys., v.
n.13, pp. 3-11. 184, pp. 393-404.
3) Fyfe, W. (1988) - Um planeta convectivo em mudança: a in- 3) Martins, I. e Mendes Victor, L. (1993) - Actividade sísmica na
fluência do Homem. Colóquio Ciências, n. 2, pp. 19-28. Lisboa, Fundação
região oeste da Península Ibérica. Energética e períodos de retorno.
Calouste Gulbenkian.
4) Serviço Nacional de Protecção Civil (1986) - Noções elementa- Inst. Geofísico Infante D. Luís, U. Lisboa, Lisboa.
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Colecção “Ciência Aberta”, n. 56.
6) Wyllie, P. (1971-1982) - A Terra - Nova Geologia Global. Lisboa, Somerville, P. - Kobe Earthquake: An Urban Disaster. EOS, Trans.
Fundação Calouste Gulbenkian. Am. Geophys. Union, vol. 76, nº 6 - Febr. 7, 1995 - pp. 49-51.
52
TÓPICO 3
______________________________________________________________________
Pedro Pereira
2. Perigosidade Vulcânica 6
2.1. Escoadas lávicas 7
2.2. Piroclastos de queda 8
2.3. Escoadas piroclásticas 9
2.4. Emissões de gases 10
2.4.1. Dióxido de enxofre (SO2) 11
2.4.1.1. Névoa vulcânica (vog) 12
2.4.1.2. Arrefecimento global e destruição da camada de ozono 12
2.4.2. Sulfureto de hidrogénio (H2S) 12
2.4.3. Dióxido de carbono (CO2) 12
2.4.3.1. Comparação entre as emissões de CO2 resultantes da
atividade vulcânica e humana 13
2.4.3.2. Aquecimento global 13
2.4.4. Ácido clorídrico (HCl) 13
2.4.5. Ácido fluorídrico (HF) 13
2.4.6. Emissões secundárias de gases 14
2.5. Lahares 14
2.6. Deslizamentos 15
2.7. Tsunamis 17
2.8. Inundações 17
2.9. Fome e doenças 17
4. Bibliografia 25
Vulcões e Erupções Vulcânicas
1
1.1. Estilos eruptivos
2
1.1.1. Índice de Explosividade Vulcânica
0 1 2 3 4 5 6 7 8
não moderada -
Descrição geral pequena moderada grande muito grande
explosiva grande
Volume de
104 106 107 108 109 1010 1011 1012
piroclastos (m3)
Altura da coluna
< 0,1 0.1 - 1 1-5 3 - 10 10 - 25 > 25
eruptiva (km)*
Descrição
suave, efusiva explosiva cataclísmica, paroxismal, colossal
qualitativa
Estromboliana Pliniana
Tipo de erupção
Havaiana Vulcaniana Ultra-pliniana
N.º de erupções
755 963 3631 924 307 106 46 4 0
registadas
* Para IEV ≤ 2, altura acima da cratera; para IEV > 2, altura acima do nível da água.
Vulcões em escudo – Os maiores vulcões do mundo são vulcões em escudo (tab. 2),
os quais estão entre as montanhas mais altas da Terra quando se medem desde a base,
frequentemente localizada no fundo marinho. De perfil, este tipo de vulcões assemelha-
se ao escudo de um guerreiro. São comuns nas ilhas do Havai, Islândia e algumas ilhas
do oceano Índico. Geralmente, os vulcões em escudo têm erupções não explosivas
devido ao relativamente baixo teor de sílica do magma basáltico que lhes dá origem;
quando um destes vulcões entra em erupção, a lava tende mais a fluir pelos flancos do
vulcão do que a explodir violentamente.
Os vulcões em escudo são formados quase totalmente por escoadas de lava, mas
também podem produzir grande quantidade de material piroclástico (material emitido
explosivamente por um vulcão.
Para além de fluir pelos flancos do vulcão, a lava pode deslocar-se para longe da sua
origem de várias maneiras. A lava pode mover-se durante muitos quilómetros sob a
terra em tubos de lava que, com frequência, estão muito próximos da superfície. As
paredes de rocha destes tubos isolam a lava, mantendo-a quente e fluida. Quando
termina a erupção, ficam formados tubos de lava que se podem desenvolver por alguns
3
metros ou quilómetros de extensão, podendo causar problemas quando se pretende
efetuar um qualquer projeto de engenharia.
Estratovulcões (ou vulcões compostos) – Conhecidos pela sua forma de cone
característica, os montes Santa Helena (EUA) e Fuji (Japão) são exemplos de
estratovulcões (tab. 2). O magma deste tipo de vulcões é mais viscoso do que o dos
vulcões em escudo, resultando uma combinação de atividade explosiva e escoadas de
lava. Consequentemente, estes vulcões são compostos por níveis piroclásticos
intercalados com níveis lávicos.
Devido ao seu carácter explosivo, os estratovulcões foram responsáveis pela maior
parte das mortes e a destruição causadas por vulcões na história. Como demonstrou a
erupção do monte Santa Helena (1980), podem produzir gigantescas descargas
horizontais (laterais), análogas na forma ao disparo de um canhão. Estes vulcões devem
considerar-se perigosos.
Tipo de Doma
Vulcão em escudo Estratovulcão Cone de cinzas
vulcão vulcânico
Forma Forma cónica Forma de cone com Forma de doma Forma de cone
achatada; declives de declives pronunciados; com declives
4 a 6º; formado por formado por níveis de pronunciados;
muitas escoadas piroclastos intercalados frequentemente
vulcânicas com níveis lávicos encimado por
cratera
Conteúdo de Baixo Intermédio Alto Baixo
sílica do
magma
Viscosidade Baixa Intermédia Alta Baixa
Tipo de rocha Basalto Andesito Riolito Basalto
formada
Tipo de Escoadas de lava e Combinação de Altamente Emissão de
erupção emissão de material escoadas de lava e explosiva material
piroclástico atividade explosiva piroclástico
(principalmente
cinza)
Exemplo Mauna Loa, Hawaii Monte Fuji, Japão Monte Lassen, Springerville,
Califórnia, Arizona, EUA.
EUA
4
1.3. Origem dos vulcões
5
Figura 2 – Diagrama esquemático mostrando os processos da tectónica de placas e sua relação com a atividade vulcânica;
os números referem-se às explicações do texto (Keller & Blodget, 2007).
1. Perigosidade Vulcânica
6
Figura 3 – Diagrama esquemático mostrando os diversos processos vulcânicos
potencialmente perigosos resultantes de uma erupção. Adaptado de USGS (2009).
Escoadas lávicas são rios de rocha fundida com origem em condutas eruptivas. As
escoadas destroem tudo no seu caminho, no entanto, a maioria desloca-se
suficientemente devagar para que as pessoas se possam afastar. A velocidade a que a
lava se move à superfície depende de diversos fatores, incluindo: o tipo de lava e a sua
viscosidade; o declive da superfície sobre a qual se desloca; o modo como a lava se
move (como um manto, num canal confinado ou no interior de um tubo de lava); e o
caudal de lava no centro eruptivo.
As escoadas basálticas, muito fluidas, podem estender-se a dezenas de quilómetros
do centro eruptivo. As frentes dessas escoadas podem deslocar-se a velocidades
próximas dos 10 km/h nas encostas íngremes, mas a taxa de avanço é normalmente
inferior a 1 km/h nas encostas mais suaves. Contudo, quando uma escoada de lava
basáltica se encontra confinada num canal ou tubo de lava numa encosta íngreme, o
corpo principal da escoada pode atingir velocidades superiores a 30 km/h.
As escoadas andesíticas, mais viscosas, deslocam-se a poucos quilómetros por hora,
e raramente se estendem a mais de 8 km do centro eruptivo. As escoadas dacíticas e
rioliticas, ainda mais viscosas, formam frequentemente relevos arredondados de paredes
íngremes – domas. Os domas de lava crescem frequentemente pela extrusão de muitas
7
escoadas individuais, com mais de 30 m de espessura, ao longo de vários meses ou
anos, Estas escoadas deslocam-se normalmente a velocidades de alguns metros por
hora.
Tudo o que se encontre no caminho de uma escoada de lava em movimento será
derrubado, rodeado ou sepultado pela lava, ou incendiado pela sua temperatura elevada.
Quando a lava irrompe sob um glaciar ou corre sobre neve ou gelo, a água de fusão
pode desencadear lahares que podem atingir grandes distâncias. Se a lava entrar num
corpo de água ou se entrar água num tubo de lava, a vaporização violenta da água pode
originar explosões que projetam fragmentos de lava sobre a área em redor. O metano,
um gás produzido pela carbonização da vegetação coberta pela lava, pode ascender,
acumular-se em cavidades e explodir quando aquecido. Escoadas espessas e multo
viscosas, em especial as que originam domas, podem colapsar e originar escoadas
piroclásticas.
As escoadas lávicas raramente constituem uma ameaça direta para a vida humana
dado que se movimentam a velocidades que permitem evacuar atempadamente as
populações em perigo. Poderão ocorrer mortes ou ferimentos se as pessoas se
aproximarem demasiado de uma escoada ativa, ou quando o seu caminho de fuga for
cortado pelas escoadas. As mortes atribuídas a escoadas são frequentemente devidas a
efeitos indiretos, tais como explosões ocorridas quando as escoadas contactam com
água, colapsos de escoadas, asfixia por gases tóxicos, escoadas piroclásticas ou lahares.
Os principais prejuízos diretos decorrentes do desenvolvimento de escoadas lávicas
relacionam-se normalmente com a destruição de casas, infra-estruturas diversas e
propriedades. Raramente as pessoas conseguem utilizar terrenos soterrados por escoadas
de lava ou vendê-los por mais do que uma pequena fracção do seu valor anterior à
erupção.
Piroclastos ou tefra são termos gerais para designar fragmentos de rocha preexistente
ou de lava, independentemente da sua dimensão, projetados para o ar por explosões ou
transportados por gases sobreaquecidos no interior de colunas eruptivas ou repuxos de
lava. A dimensão daqueles fragmentos varia entre de menos de 2 mm (cinzas) e mais de
um metro diâmetro (bombas e blocos) (tab. 4). Os piroclastos de maiores dimensões
caem sobre o centro eruptivo ou na sua vizinhança depois de descreverem trajetória
balística, enquanto as partículas menores são levadas pelo vento para longe do centro
eruptivo. As cinzas vulcânicas podem ser transportadas pelo vento a centenas ou
milhares de quilómetros do vulcão.
Denominação Dimensões
Cinza < 2 mm
Lapilli 2-64 mm
Bombas e blocos > 64 mm
8
As cinzas cobrem geralmente uma área mais vasta e perturbam a vida de um número
de pessoas superior a outros perigos vulcânicos mais letais. Infelizmente, a dimensão
das partículas e a espessura de cinzas depositadas a sotavento de uma erupção são
difíceis de prever: a dimensão esperada da erupção e a (consequente) quantidade de
cinzas injetada na atmosfera podem variar enormemente e a direção e velocidade dos
ventos dominantes no momento da erupção são de difícil previsão.
A cinza vulcânica é altamente lesiva para a economia porque cobre tudo, infiltra-se
por todas as aberturas e é altamente abrasiva. As cinzas suspensas na atmosfera podem
obscurecer a luz do sol, causando escuridão temporária, e reduzindo a visibilidade a
zero. A cinza vulcânica é escorregadia, especialmente quando molhada; estradas e pistas
de aeroportos podem ficar inutilizáveis. Os motores dos automóveis e aviões podem
falhar devido ao entupimento de filtros de ar, e as peças móveis podem ser danificadas
pela abrasão.
Outros efeitos principais podem ser: o colapso de telhados devido ao peso das cinzas
(em particular quando molhadas pela chuva), a contaminação de terrenos agrícolas,
pastos e águas superficiais, destruição da vegetação, entupimento de sistemas de
drenagem, problemas de saúde pública (vias respiratórias e olhos).
A cinza vulcânica pode ainda provocar a reflexão da radiação solar, e assim
desencadear um abaixamento da temperatura vários anos após uma grande erupção. Em
1815, a erupção do vulcão Tambora (Indonésia), correspondeu à maior erupção de que
há registo histórico; o ano seguinte a esta erupção ficou conhecido como "o ano sem
verão".
9
As escoadas piroclásticas podem apresentar dimensões e velocidades muito
variáveis, mas mesmo os fluxos mais pequenos (que não se estendem a mais de 5 km da
origem) podem causar destruição de edifícios, florestas e terras agrícolas. Nas margens
das escoadas piroclásticas, a inalação de gases e cinzas quentes poderá provocar a morte
ou ferimentos graves a pessoas e animais.
As escoadas piroclásticas escoam-se geralmente ao longo de vales ou outras áreas
deprimidas e, dependendo do volume do material transportado, podem originar
depósitos não consolidados com espessuras de 1 a mais de 200 m. Estes depósitos não
consolidados de cinzas e fragmentos de rocha, cobrindo vales e vertentes, podem ser
remobilizados e originar lahares devido a:
1. Represamento de parte do sistema hidrográfico, com consequente formação de um
lago a montante do bloqueio, cujo transbordo e erosão da represa poderá
desencadear um lahar, resultante da mistura de rochas, cinza e água durante o
percurso ao longo da vertente. Exemplo: Pinatubo, Filipinas, 1991;
2. Aumento da escorrência superficial e erosão no decurso das fortes chuvadas que
geralmente se sucedem a uma escoada piroclástica;
3. Acção direta de uma escoada piroclástica, ao derreter, à sua passagem, a neve e o
gelo existente nas encostas do vulcão. Este processo desencadeia uma súbita
torrente de água (e materiais da escoada) que se escoa pelos tributários que
drenam as encostas em causa. Exemplo: Nevado del Ruiz, Colômbia, 1985.
O magma contém gases dissolvidos que são libertados para a atmosfera durante as
erupções. Os gases também são libertados do magma que permanece abaixo de solo
(por exemplo, uma intrusão) ou que está a ascender em direção à superfície. Em tais
casos, os gases podem escapar continuamente para a atmosfera através do solo,
chaminés vulcânicas, fumarolas e sistemas hidrotermais.
A altas pressões, no interior da Terra, os gases vulcânicos estão dissolvidos no
magma. Mas, à medida que este até à superfície, onde a pressão é menor, os gases
contidos no líquido magmático começam a exsolver-se, formando pequenas bolhas. O
volume crescente ocupado pelas bolhas de gás torna o magma menos denso do que a
rocha circundante, permitindo-lhe continuar a sua ascenção. Mais próximo da
superfície, as bolhas aumentam de número e tamanho de tal modo que o volume de gás
pode exceder o volume do material em fusão, criando uma espuma de magma. A rápida
expansão das bolhas de gás desta espuma desencadeia a erupções explosivas em que o
material em fusão é fragmentado em piroclastos. Se a rocha fundida não for
fragmentada por atividade explosiva, então será gerado um fluxo de lava.
Juntamente com os piroclastos e ar aspirado, os gases vulcânicos podem elevar-se a
dezenas de quilómetros na atmosfera durante grandes erupções explosivas. Uma vez na
atmosfera, os ventos dominantes podem soprar a nuvem eruptiva para centenas ou
milhares de quilómetros do vulcão. Os gases espalham-se a partir de um centro eruptivo
principalmente como aerossóis ácidos (gotículas de ácido), compostos ligados às
partículas de piroclastos e partículas de sais microscópicas.
Os gases vulcânicos sofrem enorme aumento de volume quando o magma atinge a
superfície e é expelido. Por exemplo, considere-se 1 m3 de magma riolítico a 900°C
contendo 5% do seu peso em água trazido rapidamente para a superfície. Esse metro
cúbico de magma expande-se para um volume de 670 m3 (correspondente a um cubo
com arestas com 8,75 m de comprimento) sob a forma de mistura de vapor de água e
10
magma à pressão atmosférica. Esta violenta expansão de gases vulcânicos,
principalmente água, é a principal força motriz das erupções explosivas.
O gás mais abundante libertado para a atmosfera pelos sistemas vulcânicos é o vapor
de água (H2O), seguido do dióxido de carbono (CO2) e do dióxido de enxofre (SO2). Os
vulcões libertam ainda pequenas quantidades de outros gases, incluindo sulfureto de
hidrogénio (H2S), hidrogénio (H2), monóxido de carbono (CO), ácido clorídrico (HCl),
ácido flurídrico (HF) e hélio (He) (tab. 5).
11
Outro efeito foi a aceleração das reações químicas que, juntamente com o cloro
estratosférico resultante dos CFC’s (clorofluorcarbonetos) que destroem a camada de
ozono, levaram aos maais baixos níveis de ozono registados até então.
No vulcão Kilauea, a recente erupção efusiva de aproximadamente 500.000 m3 de
magma basáltico libertou cerca de 2000 toneladas de SO2 na baixa troposfera. A
sotavento do centro emissor, a chuva ácida e a poluição atmosférica são um problema
de saúde persistente quando o vulcão está em erupção.
Os vulcões libertam mais de 130 milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera.
Geralmente, este gás incolor e inodoro não representa perigo direto para a vida porque,
normalmente, sofre diluição rápida na atmosfera. Contudo, em certas circunstâncias, o
CO2 pode atingir concentrações letais para pessoas e animais.
O CO2 é mais denso do que o ar, podendo acumular-se em áreas deprimidas ou
ambientes fechados. Em regiões vulcânicas (e não só) onde ocorrem emissões de CO2, é
importante evitar pequenas depressões, áreas baixas e grutas que podem ser armadilhas
de CO2. A fronteira entre ar respirável e gás letal é extremamente nítida: até mesmo a
subida de um degrau de uma escada pode ser suficiente para escapar da morte. Ar com
5% de CO2 provoca um aumento percetível da frequência respiratória; com 6-10%
resulta em falta de ar, dores de cabeça, tonturas, transpiração e inquietação geral; com
10-15% causa descoordenação motora e espasmos musculares; com 20-30% provoca
perda de consciência e convulsões; concentrações superiores a 30% podem causar a
morte.
Em Agosto de 1992, na Furna do Enxofre, na ilha Graciosa, a elevada concentração
(superior a 15%) de CO2 nesta cavidade vulcânica provocou a morte a dois visitantes.
12
Em 1984, uma nuvem de CO2 escapou do fundo do lago Monoun, um lago de cratera,
nos Camarões, e matou 37 pessoas; Em 1986, emissões ainda maiores de CO2 do Lago
Nyos, também nos Camarões, mataram mais de 1700 pessoas e 3000 cabeças de gado
(fig. 4).
Os vulcões emitem, por ano, cerca de 145 a 255 milhões de toneladas de CO2 para a
atmosfera. Esta estimativa inclui vulcões subaéreos e submarinos, em quantidades
iguais. As emissões de CO2 resultantes das atividades humanas, incluindo queima de
combustíveis fósseis, produção de cimento e queima de gás, atingem cerca de 30 mil
milhões de toneladas por ano, isto é, mais de 130 vezes a quantidade de CO2 emitida
pelos vulcões.
Os gases cloretados são emitidos pelos vulcões sob a forma de HCl. A exposição a
este gás irrita as membranas mucosas dos olhos e vias respiratórias. Concentrações
superiores a 35 ppm causam irritação da garganta após curta exposição; concentrações
superiores a 100 ppm resultam em edema pulmonar e frequentemente espasmos da
laringe. Outra consequência é a chuva ácida a sotavento de vulcões porque o HCl é
extremamente solúvel em gotículas de água da condensação atmosférica e é um ácido
muito forte (dissocia-se facilmente, carregando as gotas de chuva de iões H+).
O flúor é um gás amarelo pálido que se liga às partículas de cinza finas, as quais
podem cobrir a vegetação e poluir rios e lagos. A exposição a este poderoso ácido pode
causar conjuntivite, irritação da pele, degeneração óssea e corrosão dos dentes. O
13
excesso de flúor resulta numa importante causa de morte e de lesões no gado durante
erupções com emissão de cinzas. Mesmo em áreas que recebam apenas 1 mm de cinzas,
o envenenamento pode ocorrer quando o teor de flúor em erva seca exceda 250 ppm. Os
animais que comem a vegetação contaminada são envenenados. Pequenas quantidades
de flúor podem ser benéficas, mas o excesso de flúor provoca doenças ósseas que
podem levar à morte de animais. Tal como o HCl, promove chuva ácida a sotavento do
centro emissor.
Outro tipo de liberação de gases ocorre quando fluxos de lava alcançam o oceano. A
temperatura extrema da lava provoca a vaporização da água do mar, originando uma
série de reações químicas e formando grandes plumas brancas de vapor de água salgada
contendo ácido clorídrico (resultante da combinação do cloro do sal marinho com o
hidrogénio). Este vapor é designado por lava haze ou laze.
2.5. Lahares
Lahar é o termo indonésio que descreve uma mistura, quente ou fria, de água e
fragmentos rochosos, fluindo pelas vertentes de um vulcão e/ou vales fluviais. Quando
em movimento, um lahar assemelha-se a uma massa de cimento líquido que carrega
fragmentos de rocha que podem variar desde partículas da dimensão das argilas até
blocos de mais de 10 m de diâmetro. Os lahares apresentam dimensões e velocidades
variáveis: Pequenos lahares, com apenas alguns metros de largura e alguns centímetros
de espessura, podem fluir a velocidades de alguns metros por segundo; Grandes
lahares, com centenas de metros de largura e dezenas de metros de espessura, podem
fluir a várias dezenas de metros por segundo – demasiado rápido para alguém conseguir
fugir à sua frente.
À medida que um lahar se desloca para jusante, a sua dimensão, velocidade e
quantidade de água e detritos rochosos que transporta, variam constantemente. Ao
deslocar-se o lahar inicial vai erodindo e englobando fragmentos rochosos e vegetação
da vertente do vulcão ou e do vale por onde entrar. Ao mesmo tempo pode incorporar
água da fusão de neve ou gelo (se existir), e das linhas de água por onde for canalizado.
Deste modo, os lahares vão aumentando de tamanho ao longo do seu percurso, podendo
atingir dez vezes o volume inicial. À medida que o lahar se afasta do vulcão e entra em
zonas de menor declive, começa a largar a sua carga mais grosseira, diminuindo
progressivamente a sua dimensão e velocidade
O termo lahar inclui fluxos de detritos (debris flow) e fluxos de lama (mudflow). Os
fluxos de detritos distinguem-se dos fluxos de lama por serem mais grosseiros; mais de
metade das suas partículas são maiores do que grãos de areia.
As erupções vulcânicas podem desencadear diretamente um lahar pela fusão rápida
de neve ou gelo existente no topo do vulcão ou pela projeção da água de um lago de
cratera. Mais frequentemente, os lahares formam-se em consequência de intensas
chuvas que ocorrem durante e após uma erupção – a escorrência superficial da água da
chuva pode facilmente erodir os fragmentos vulcânicos soltos do vulcão, e o solo das
vertentes e vales fluviais. Alguns dos maiores lahares iniciam-se como deslizamentos
de rochas, alteradas hidrotermalmente e saturadas de água, no flanco de um vulcão ou
em vertentes adjacentes. Os deslizamentos podem ser desencadeados por erupções,
sismos, precipitação, ou apenas por acção da gravidade.
14
Os lahares ocorrem quase sempre em estratovulcões ou na sua vizinhança porque
estes tendem a apresentar atividade explosiva e os seus cones altos, com declives
pronunciados, apresentam-se cobertos de neve ou possuem lagos de cratera retidos por
barreiras de fragmentos rochosos, fracamente consolidados, facilmente erodíveis, ou
enfraquecidas internamente por atividade hidrotermal. Os lahares são também comuns
nos vulcões em escudo cobertos de neve e gelo da Islândia, onde as erupções de lava
basáltica muito fluida fundem o gelo do glaciar a partir de baixo, libertando
bruscamente volumes gigantescos de água quando as paredes de gelo do glaciar perdem
a capacidade de reter a água de fusão. A estes lahares dá-se a designação islandesa de
jökulhlaups (jökul = glaciar + hlaup = explosão).
Os lahares podem ser desencadeados nos seguintes cenários:
− No decurso de erupções, por fusão de neve ou gelo, ou na sequência de
precipitação forte. Alguns destes lahares poderão ser lahares quentes;
− Após o final de uma erupção, na sequência de precipitação forte, ou pela
libertação súbita da água de um lago;
− Sem que ocorra erupção, na sequência de escorregamentos súbitos.
Os lahares em deslocamento veloz por vales fluviais e espraiando-se em planícies
aluviais dezenas de quilómetros a jusante do local de origem, causam frequentemente
grandes prejuízos económicos e danos ambientais. O impacto direto da frente turbulenta
de um lahar, ou da sua carga de blocos rochosos e troncos, pode facilmente esmagar,
provocar abrasão, ou arrancar pela base praticamente tudo o que esteja no seu caminho.
Mesmo não sendo arrastados ou esmagados pela força de um lahar, edifícios e terrenos
valiosos podem ficar parcial ou totalmente soterrados por uma ou mais camadas de
detritos rochosos com a consistência de cimento. Ao destruir pontes e estradas
estratégicas, os lahares podem também impedir a evacuação das populações de áreas
vulneráveis ou a chegada de socorros.
Após uma erupção vulcânica, a erosão dos novos depósitos vulcânicos, não
consolidados e acumulados nas áreas de cabeceira de rios, pode levar à ocorrência de
inundações severas e a taxas de sedimentação extremamente elevadas nas regiões a
jusante do vulcão. Ao longo de um período de semanas ou anos, os lahares pós-erupção
e as altas taxas de descarga de sedimentos despoletadas por intensa precipitação,
depositam frequentemente grande volume de materiais rochosos que podem soterrar
povoações inteiras e valiosos terrenos agrícolas. Estes depósitos de lahar podem
igualmente criar barreiras no sistema de drenagem da região, acabando por causar a
inundação das áreas a montante dos represamentos. Se o lago assim formado for
suficientemente grande e transbordar ou romper a barreira, uma cheia súbita ou um
lahar poderá causar ainda maior destruição nas regiões a jusante dos represamentos.
Assim, os lahares podem destruir por impacto direto, causar uma sedimentação mais
intensa, bloquear ou provocar desvios na rede hidrográfica, ou soterrar vales, terrenos e
comunidades.
Um exemplo do efeito destruidor e mortífero dos lahares foi o da cidade de Armero,
quase totalmente soterrada por lahares originados pela fusão das neves perpétuas por
uma pequena erupção do vulcão Nevado del Ruiz, na Colômbia. No dia 13 de
Novembro de 1985 morreram 23.000 pessoas.
2.6. Deslizamentos
15
variam entre partículas muito pequenas até enormes blocos com centenas de metros ou
como grandes movimentos de massa em que o material deslocado quase não sofre
deformação interna. Se a avalanche for suficientemente grande e contiver abundância de
água e partículas finas (tipicamente mais de 3 a 5% de partículas da dimensão das
argilas), pode transformar-se num lahar e fluir pelos vales até mais de 100 km do
vulcão.
Os deslizamentos em vulcões apresentam volumes variáveis, entre menos de 1 km3 e
mais de 100 km3. A alta velocidade (superior a 100 km/h) e a quantidade de movimento
linear dos deslizamentos permite-lhes que subam vertentes e cruzem interflúvios com
centenas de metros de altura. Por exemplo, a avalanche desencadeada pelo colapso do
Monte de Santa Helena em 18 de Maio de 1980, mobilizou um volume de 2,5 km3,
atingiu velocidades de 50-80 m/s (180-288 km/h) e galgou uma crista de 400 m de
altura a 5 km do vulcão.
Os deslizamentos são comuns nos vulcões porque os seus grandes cones se elevam
geralmente centenas a milhares de metros acima da superfície envolvente e porque são
frequentemente enfraquecidos pelo mesmo processo que os gerou – a ascensão e
erupção de lava. Cada vez que dá a ascensão do magma, as rochas encaixantes são
afastadas para criar espaço, gerando zonas de cisalhamento internas ou provocando o
aumento do declive das vertentes do cone. O magma que permanece no interior do cone
liberta gases que são parcialmente dissolvidos na água subterrânea, formando sistemas
hidrotermais ácidos que enfraquecem as rochas por alteração dos seus minerais,
transformando-os em minerais de argila. Para além disso, a enorme massa dos milhares
de níveis de lava e materiais piroclásticos que constituem os cones pode levar à
formação de fraturas, ao longo das quais podem ocorrer assentamentos por acção da
gravidade.
Estas condições permitem que um conjunto de fatores desencadeie escorregamentos
ou colapsos de porções importantes dos cones por acção da gravidade:
− Intrusão de magma no interior do vulcão;
− Erupções explosivas (magmáticas, freatomagmáticas ou freáticas);
− Sismos de magnitude elevada (superior a 5) com foco sob o vulcão ou nas suas
proximidades;
− Precipitação intensa que leve à saturação dos materiais que constituem o
vulcão, especialmente antes ou durante um sismo de magnitude elevada.
Normalmente, um deslizamento destrói tudo à sua passagem, podendo desencadear
um conjunto de outros fenómenos. Ao longo da história, os deslizamentos provocaram
erupções explosivas, soterraram vales fluviais sob dezenas de metros de espessura de
detritos, geraram lahares, originaram tsunamis e criaram grandes depressões em forma
de ferradura.
Um deslizamento, ao remover parte considerável do cone vulcânico, pode provocar a
diminuição súbita da pressão confinante dos sistemas magmáticos e hidrotermais
superficiais e consequentemente pode originar explosões vulcânicas; estas podem variar
desde pequenas explosões freáticas até grandes explosões dirigidas de natureza freática,
freatomagmática ou magmática. Um grande deslizamento soterra frequentemente vales
sob dezenas de metros de espessura de detritos, formando uma paisagem caótica
caracterizada por dezenas de pequenas colinas e depressões fechadas. Se o depósito for
suficientemente espesso, pode bloquear o sistema de drenagem formando lagos nos dias
ou meses subsequentes. Eventualmente, estes lagos podem romper catastroficamente as
barreiras que os suportam, dando origem a lahares e cheias a jusante.
Os deslizamentos são responsáveis pelos maiores e mais mortíferos lahares, quer
seja por transformação direta num lahar ou quer seja por remobilização após a sua
16
deposição. O escorregamento vulcânico histórico mais mortífero ocorreu em 1792 no
Monte Unzen, tendo gerado, ao entrar no Mar Ariaka, um tsunami que matou 15.000
pessoas na margem oposta.
Num vulcão, os deslizamentos podem originar desfiladeiros profundos ou grandes
depressões em forma de ferradura com centenas de metros de profundidade e mais de 1
km de largura.
1.7. Tsunamis
2.8. Inundações
As linhas de água podem ficar bloqueadas por escoadas piroclásticas e lávicas. Tais
bloqueios podem originar uma albufeira temporária que com o tempo pode ficar
preenchida de água. O eventual colapso do dique natural vai provocar cheias a jusante.
Em regiões de clima frio, os vulcões podem derreter a neve e o gelo glaciar,
provocando a rápida libertação de água nas redes de drenagem e, eventualmente,
levando à ocorrência de cheias a jusante.
Tal como foi acima referido, a queda de material piroclástico pode causar graves
danos nas colheitas e a morte do gado e, consequentemente provocar fome. A
deslocação de populações humanas, a destruição das condutas de saneamento básico e
abastecimento de água, e o corte de outros serviços básicos podem provocar doenças
nos anos seguintes a uma erupção, em particular, se as infraestruturas necessárias não
estiverem preparadas para providenciar o rápido socorro às populações e a recuperação
das regiões afetadas.
17
3. Previsão de Erupções e Vigilância de Vulcões Ativos
18
3.2. Previsão a longo prazo
Como as ondas sísmicas podem ser geradas quer por sismos quer por explosões e
como as ondas S não se propagam através de líquidos, redes de sismógrafos podem ser
colocadas em torno de um vulcão e pequenas explosões podem ser provocadas de modo
a gerar ondas sísmicas. Se um corpo de magma existir sob o vulcão, então existirá uma
zona onde não chegarão ondas S (uma zona de sombra para as ondas S) que será
detetada (fig. 6). A monitorização do deslocação da zona de sombra pode delinear a
posição e movimento do corpo de magma.
19
Figura 6 – Diagrama idealizado mostrando
o processo de deteção de um corpo de
magma utilizando ondas sísmicas (Nelson,
2009).
A atividade sísmica sob um vulcão aumenta quase sempre antes de uma erupção pois
o magma e os gases vulcânicos têm de forçar o seu caminho ascendente através de
fissuras e outros espaços subterrâneos. Quando o magma e os gases ou fluidos
vulcânicos se movem provocam a fraturação das rochas e a vibração de fissuras.
Quando a rocha se fratura geram-se sismos de alta-frequência, enquanto quando a
fraturas vibram são gerados sismos de baixa-frequência e vibração contínua
denominados tremores vulcânicos (fig. 7).
20
diminutas mas detetáveis, na topografia, resultantes do aumento de volume do vulcão.
As alterações manifestam-se sob a forma de variações do declive das vertentes,
aparecimento de protuberâncias e aumento da distância entre pontos. O aumento inicial
do volume do edifício vulcânico (inflação) é seguido por deflação após o começo da
erupção, em resultado do esvaziamento das bolsadas magmáticas que a alimentaram.
Os processos utilizados na deteção destas variações são a inclinometria, que utiliza
aparelhos (inclinómetros) que detetam variações muito pequenas de declive, os
processos geofísicos (geodesia de precisão através de distanciómetros ou GPS) e os
sistemas de deteção remota (interferometria de Radar) utilizando imagens de satélite na
gama do Radar.
Inclinómetro eletrónico – Tal como um nível de pedreiro, um inclinómetro
eletrónico contém um recipiente cheio de um fluido condutor e uma "bolha" para medir
mudanças de inclinação. Elétrodos colocados no interior do fluido e da bolha
determinam a posição da bolha à medida que ela se desloca, fazendo mudar a voltagem
de modo correlacionável com o desnivelamento que causou a movimentação da bolha.
Os inclinómetros registam as variações do declive do terreno em microrradianos (1
microrradiano = 0,00006º). Originalmente concebidos como parte do sistema de
controlo de mísseis, estão atualmente disponíveis diversos tipos de inclinómetros
eletrónicos para monitorização vulcânica com diferentes resoluções. Por exemplo,
utilizam-se inclinómetros que trabalham no intervalo entre 100 a 10.000
microrradianos, dependendo do vulcão e da variação de inclinação que é esperada.
Distanciómetro eletrónico – Um distanciómetro eletrónico (EDM) é um
instrumento que envia um raio laser e recebe o seu reflexo a partir de um refletor. A
determinação da distância horizontal entre os dois pontos é efetuada por um pequeno
computador existente no EDM. Ao medirem regularmente a distância entre dois pontos
fixos, estes instrumentos podem detetar empolamentos mínimos do edifício vulcânico
que frequentemente ocorrem antes de erupções.
Sistema de Posicionamento Global – A constelação atual de satélites permite que
qualquer utilizador de GPS (Global Positioning System), em qualquer parte do mundo,
tenha constantemente pelo menos 5 a 8 satélites acima do horizonte. Com esta
informação tão rica, um receptor de GPS pode determinar rapidamente a sua posição
com precisão métrica. Contudo, para a finalidade em causa, é necessária uma precisão
centimétrica ou superior para se poder detetar pequenas modificações topográficas. Para
obter esta precisão é necessário ter em conta outros fatores, incluindo variações na
velocidade do sinal transmitido do satélite à medida que atravessa a atmosfera e a
incerteza na posição do satélite.
Um modo comum de eliminar esses erros potenciais é a utilização de vários recetores
em vários pontos do vulcão para que a informação seja recebida simultaneamente dos
mesmos satélites. Como a maioria dos erros associados ao atraso do sinal ao atravessar
a atmosfera é comum a todos os recetores, pode determinar-se a sua posição relativa
com precisão superior ao centímetro. Para maior precisão, os dados GPS são recolhidos
durante períodos de 8 a 24 horas e só depois é calculada a posição do ponto utilizando
localizações muito precisas dos satélites e modelando o efeito do atraso atmosférico.
Interferometria de Radar (InSAR) – Durante anos sonhou-se com uma "máquina
fotográfica geodésica" capaz de obter um "instantâneo" que mostrasse com grande
detalhe a deformação do terreno próximo de um vulcão. Existe agora essa capacidade, a
partir de imagens de radar obtidas por satélite. A técnica consiste na comparação de
imagens da mesma área, obtidas antes e depois da deformação, que se combinam para
gerar um padrão de interferência representado por franjas de cores do espectro visível.
21
Cada franja corresponde a uma mudança da distância entre o satélite e o terreno de
cerca de 3 cm.
Até à existência do InSAR (Interpherometry by Syntethic Aperture Radar), as
técnicas utilizadas para medir a deformação num vulcão (distanciómetros, inclinómetros
e GPS) apenas permitiam detetar modificações em pontos específicos da superfície. A
quantidade e direção do movimento desses pontos permitiam interpolar o padrão geral
da região deformada do vulcão.
Ao escolher cuidadosamente a localização dos pontos onde estacionar
distanciómetros, inclinómetros e GPS, podem detetar-se razoavelmente os padrões de
deformação, especialmente durante períodos de tempo curtos (minutos a dias). Contudo,
nunca se pode ter a certeza de que o padrão geral está correto, ou que se poderão perder
detalhes da deformação de dimensão inferior à malha da rede de monitorização. Em
condições favoráveis, a InSAR permite obter uma imagem da deformação na totalidade
da área.
A vantagem da utilização da radiação na gama do radar, relativamente ao espectro da
luz visível ou do infravermelho, é que as ondas de radar penetram a nebulosidade e são
igualmente eficientes durante a noite.
22
Os vulcanólogos enfrentam outra dificuldade: gases ácidos como SO2 dissolvem-se
facilmente em água. Assim, a existência de água no subsolo de muitos vulcões pode
impedir os vulcanólogos de medirem a emissão de gases ácidos à medida que o magma
ascende à superfície e mesmo após erupções explosivas. Como o CO2 é menos afetado
pela presença de água, a sua medição quando o vulcão começa a dar sinais de
instabilidade e entre erupções é um parâmetro muito importante para determinar se está
a ocorrer desgaseificação significativa de magma.
As pesquisas efetuadas sobre o comportamento das emissões de gases em vulcões
ativos revelaram que as mudanças que ocorrem na proximidade temporal de uma
erupção podem ser um bom precursor para a previsão vulcânica.
O estudo de gases vulcânicos é efetuado recorrendo aos seguintes métodos:
Quantificação das taxas de emissão de gases numa pluma eruptiva; Amostragem direta e
análise laboratorial de gases; Monitorização continua in-sltu; Monitorização de
desgaseificação através do solo.
23
estação é composta por um sismómetro (sensor, na fig. 8), o qual deteta vibrações no
solo produzidas por um lahar em aproximação e a passar pelo local, e um
microprocessador que analisa o sinal. A informação é enviada via rádio para a estação
base, normalmente um observatório vulcanológico. A energia é fornecida por baterias e
painéis solares.
Segundo a segundo, o microprocessador amostra a amplitude da vibração detetada
pelo sismómetro. A intervalos de tempo regulares (normalmente, de 30 minutos) os
dados são enviados para o observatório; uma mensagem de alerta é enviada
automaticamente sempre que as vibrações ultrapassem um limite preestabelecido por
um período de tempo superior a 40 segundos. O microprocessador continuará a enviar
alertas minuto a minuto enquanto a vibração se mantiver acima do limite programado.
24
4. Bibliografia
25
Departamento de Geologia da FCUL
CeGUL, CREMINER LA/ISR
LATTEX LA/IDL
Desastres naturais
Minimizar o risco,
Departamento de maximizar a consciencialização
GEOLOGIA
Foto de José Madeira
GeoFCUL©2008
Podemos prever um tsunami?
.
Maria Ana Viana Baptista*
Investigadora do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa. Professora do Departamento de Engenharia Civil, ISEL, IPL.
Os grandes sismos e os tsunamis estão na memória histórica da cidade de Lisboa e da costa Portuguesa, os relatos históricos descrevem
acontecimentos desde o ano 60AC. A região de Lisboa foi inundada catastroficamente no século XVI a 26 de Janeiro de 1531 e no século XVIII
a 1 de Novembro de 1755. Outros tsunamis menos importantes foram só observados em Lisboa pelos marégrafos instalados junto à costa.
O tsunami gerado pelo sismo de 1 de Novembro de 1755 foi o maior desastre natural verificado em Portugal. O sismo ocorreu cerca das
9h 30m, hora de Lisboa, tendo sido sentido um pouco por toda a Europa. O tsunami foi observado no Atlântico Norte, desde as Ilhas Barbados
até à Escócia; no entanto as ondas mais destrutivas foram observadas em Portugal Continental, Espanha (Golfo de Cádis) e no Norte de
Marrocos. Passados cerca de 250 anos, no início do século XXI, a humanidade assistiu em directo pela televisão ao desenrolar do tsunami de
Sumatra permitindo-nos a todos compreender o verdadeiro impacto de um mega-tsunami.
O tsunami de 26 de Dezembro de 2004 foi um evento extremo, tal como o sismo que lhe deu origem. A energia libertada na zona de
rotura correspondeu a cerca de 23000 bombas de Hiroshima. O tsunami causou a morte a cerca de ¼ de milhão de pessoas, deixando mais
de um milhão de desalojados, afectou 12 países e ocorreu numa zona do globo onde os tsunamis são pouco frequentes; o último evento tinha
ocorrido há mais de 200 anos. Este tsunami veio lembrar ao mundo que os tsunamis são uma ameaça sempre presente às populações
costeiras e que temos de ser pró-activos na redução dos seus impactos (Bernard et al. 2006). A devastação causada por este evento, mostrou
por um lado a grande vulnerabilidade do litoral, hoje extensamente ocupado, e por outro lado fez voltar as atenções da comunidade cientifica
e das autoridades civis para zonas do globo onde os tsunamis são menos frequentes do que no oceano Pacífico. Quando se considera a
segurança anti-sísmica de empreendimentos críticos (como centrais nucleares ou barragens), ou se avalia o risco sísmico em áreas densamente
povoadas, onde se concentra importante actividade económica, a análise da sismicidade deve considerar períodos de tempo suficientemente
longos para abarcar convenientemente o mecanismo da sismogénese..
.
No que respeita ao ambiente continental intraplaca do interior da Europa, incluindo a maioria da Península Ibérica e Portugal Continental em
particular, os estudos da tectónica activa são essenciais para caracterizar o comportamento das falhas e o período de recorrência dos sismos
grandes, sensivelmente desde o Plistocénico médio (800.000 anos) e, particularmente, desde o Plistocénico superior (125.000 anos).
Baptista, A.M.V. (2008) Podemos prever um tsunami?, in Mateus, A. (Coord.), Desastres Naturais: Minimizar
os riscos, maximizar a consciencialização. Departamento de Geologia FCUL, Lisboa, pp. 3-4.
Acessível em http://geologia.fc.ul.pt/documents/85.pdf, consultado em [data da consulta].
* e-mail: mabaptista@dec.isel.ipl.pt
A Paleossismologia na avaliação da perigosidade
sísmica
.
João Cabral*
Professor Associado. GeoFCUL.
Os custos e a vulnerabilidade são dois parâmetros que têm em conta como um terramoto
afectará a sociedade. Entendem-se como custos o valor que têm as estruturas potencialmente
danificadas ou destruídas (edifícios, pontes, barragens, …), os efeitos na economia, as vítimas e
quaisquer outros bens que possam materializar perdas potenciais devidas a um terramoto. Por outro
lado, a vulnerabilidade define-se como a potencialidade de uma estrutura sofrer danos causados
por um terramoto (por exemplo, se uma casa ou outro edificado suportará ou não a ocorrência dum
terramoto, ou os danos que possa sofrer).
Finalmente, sempre que haja uma falha que tenha a capacidade de gerar terramotos existe
uma perigosidade, mas se não existir população ou alguma estrutura (ponte, barragem, …) na
região envolvente não haverá um risco, porque não há probabilidade de ocorrerem perdas
económicas ou sociais, ou danos sobre o edificado. Por outro lado, se houver perigosidade
(associada à presença de uma falha activa) e, na área envolvente, existir população e edifícios ou
estruturas altamente vulneráveis, os danos expectáveis representam custos elevados e assim o risco
sísmico será elevado. Em conclusão, enquanto a perigosidade é inerente à presença de fontes
sismogénicas com o potencial de gerarem eventos sísmicos de magnitude significativa, e, portanto,
depende apenas da sua ocorrência, o risco varia, dependendo da afectação na sociedade e na
economia.
Perea, H. (2008) Terramotos: risco e perigosidade, in Mateus, A. (Coord.), Desastres Naturais: Minimizar
os riscos, maximizar a consciencialização. Departamento de Geologia FCUL, Lisboa, pp. 7-8.
Acessível em http://geologia.fc.ul.pt/documents/85.pdf, consultado em [data da consulta].
Tsunami é uma palavra japonesa que significa “onda de porto” e é utilizada pela comunidade
científica para designar um conjunto restrito de ondas de grande comprimento e período, que se
propagam na superfície do oceano e acabam por atingir o litoral onde crescem em altura por efeito
de atrito com o fundo.
Estas ondas podem ser geradas por qualquer mecanismo com capacidade para deslocar
subitamente um volume apreciável do oceano - sismos com epicentro no mar (a maioria),
actividade vulcânica, grandes escorregamentos de vertentes litorais ou submarinas e impactos de
corpos extraterrestres. As regiões do Globo associadas a zonas de subducção (como o Japão) são as
mais afectadas por este fenómeno, mas tal não exclui a sua importância noutros contextos
geotectónicos. São dos poucos eventos naturais capazes de impactar em simultâneo locais muito
distantes e afectar grandes trechos litorais.
De facto, o impacto de um tsunami na faixa costeira origina uma inundação efémera, capaz
de produzir erosão ou sedimentação, isto é, um sinal de natureza geológica que, se preservado no
registo sedimentar, importa saber reconhecer e interpretar. As assinaturas de natureza deposicional
têm sido objecto de estudo nas últimas décadas, com base em critérios geométricos, texturais,
mineralógicos, geoquímicos, geofísicos e paleoecológicos. Apesar de, no estado actual dos
conhecimentos, não ser ainda possível atribuír uma assinatura inquestionável aos depósitos de
tsunami, certo é que estes têm sido encontrados um pouco por todo o Mundo e utilizados para
quantificar subsidência co-sísmica, medir a distância alcançada por paleoinundações, deduzir
paleocorrentes, reconstituir altura e número de ondas, estudar a recorrência de tsunamis em
intervalos de milhares de anos e identificar sinais objectivos destas inundações em contextos litorais
até então julgados livres deste risco, dada a inexistência de registos históricos.
Andrade, C. & Freitas, C. (2008) A importância do registo geológico para avaliação do potencial de
inundação por tsunami, in Mateus, A. (Coord.), Desastres Naturais: Minimizar os riscos,
maximizar a consciencialização. Departamento de Geologia FCUL, Lisboa, pp. 9-10. Acessível
em http://geologia.fc.ul.pt/documents/85.pdf, consultado em [data da consulta].
Em território português apenas o arquipélago dos Açores e, em menor grau, a ilha da Madeira
estão sujeitos a perigosidade geológica de natureza vulcânica.
.
A actividade vulcânica na ilha da Madeira encontra-se num estado que pode ser
considerado de dormência, pois o intervalo entre erupções na formação eruptiva mais recente é
relativamente longo. Contudo, a ocorrência de erupções cujos derrames correram no (ou para o)
interior de vales desenvolvidos durante o Quaternário e a recente datação de 6.000 anos de um nível
de piroclastos basálticos de queda, indicam que o vulcanismo na Madeira não se encontra extinto.
Existe, aliás, descrição de uma eventual erupção no mar, a oriente da ilha.
.
Não se conhecem manifestações secundárias de vulcanismo na Madeira. No entanto, em
obras recentes de abertura de túneis rodoviários ou de galerias de captação de água, detectaram-
se emanações de CO2, de provável origem vulcânica. Numa delas a quantidade e concentração
de dióxido de carbono levou à suspensão da obra por configurar riscos elevados para os operários e
técnicos envolvidos.
.
Já o arquipélago dos Açores foi palco de numerosas erupções desde o início do
povoamento, no segundo quartel do século XV. As erupções de que existem registos ocorreram em
terra (erupções subaéreas), nas ilhas de S. Miguel, Terceira, S. Jorge, Pico e Faial, e no mar entre elas
(erupções submarinas). Identificaram-se 26 erupções até à data (veja-se tabela), a última das quais
se iniciou há 10 anos ao largo da ilha Terceira. É muito provável que o número de erupções
efectivamente ocorrido seja bastante superior.
.
Algumas erupções submarinas são pouco profundas e idênticas à dos Capelinhos. Podem
incluir-se neste grupo as de 1638, 1682, 1720, 1800, 1811, 1867 e 1957/58. Trata-se de eventos que
ocorreram junto ao litoral ou no topo de bancos submarinos. As erupções (de estilo surtsiano) são
caracterizadas pela emissão de jactos de piroclastos e nuvens de vapor, com edificação rápida de
cones submarinos que, ao emergir, constituem ilhas. Estas ilhas são frequentemente efémeras, como
sucedeu com as que se formaram em 1638, na erupção de 1720 no Banco D. João de Castro, ou a
que deu origem ao episódio da ilha Sabrina em 1811. Muitas vezes a erosão marinha arrasa a ilha
rapidamente. Noutros casos, o novo edifício resiste e origina uma ilha que permanece durante
alguns milhares de anos. Sucede também a erupção ocorrer tão perto da costa que o cone recém-
formado acaba por se ligar à ilha principal.
Nalgumas situações, como sucedeu nos eventos de 1867, 1911 e 1964, apesar de ocorrerem
a profundidades reduzidas (~200 m), as erupções manifestam-se apenas por jactos de água e/ou
cheiros sulfurosos.
Se as erupções submarinas têm lugar a profundidades um pouco superiores (em torno dos
400 m) as manifestações que atingem a superfície são muito menos evidentes, podendo facilmente
passar despercebidas. Foi o caso da erupção da Serreta em 1998. Neste evento chegaram à
superfície numerosos blocos ocos de basalto que flutuavam durante alguns minutos, originando
plumas de vapor com alguns metros de altura. Por vezes, em períodos de maior intensidade, a pluma
eruptiva submarina, constituída por minúsculas partículas de vidro vulcânico e bolhas de gás,
aflorava dando origem a manchas e descolorações à superfície do mar. Relatos de erupções
anteriores são similares às observações feitas na Serreta o que sugere ter-se tratado de eventos do
mesmo tipo. Nestes incluem-se as manifestações de 1800, 1963 e 1981.
As inundações são dos desastres naturais que maiores prejuízos económicos e perdas de vida
implicam, os quais poderiam muitas vezes ser evitadas com um simples estudo geológico de
previsão e/ou prevenção, determinando os riscos possíveis na área em causa.
Dentro dos processos geológicos rápidos as inundações rápidas são os mais perigosos,
embora outros que se podem considerar lentos, tenham também uma enorme importância na
economia, como é o caso das cheias lentas, ainda que realizem uma função importante no
equilíbrio ambiental.
Todas as cheias provocam inundações, mas nem todas as inundações são devidas às cheias.
Considera-se que há uma Cheia, quando um fluxo de água superficial confinado, cobre zonas
adjacentes geralmente secas, podendo acarretar com isso perdas de vidas humanas e enormes
danos económicos ou seja, existe uma cheia sempre que o rio transborda em relação ao seu leito
ordinário, podendo originar a inundação dos terrenos ribeirinhos. No entanto, resultando as
inundações de processos naturais, só serão consideradas catástrofes no caso de se traduzirem de
algum modo num prejuízo para a vida humana, de forma directa ou indirecta, sendo a ocupação
humana das áreas inundáveis a primeira causa do agravamento dos seus efeitos. As populações
tiveram sempre tendência a implantar-se nos terrenos brandos e férteis das planícies de inundação,
próximos das vias de transporte naturais que são os rios e da fonte alimentar acessível que eles
constituem.
As cheias têm uma origem natural, sendo geradas pela dinâmica externa da terra, através de
alterações na atmosfera, porém, a sua frequência vai sendo alterada tanto por processos naturais
como, e principalmente, por processos antrópicos, como sejam: modificações na bacia
hidrográfica, intensificação da desflorestação, assoreamento dos rios, impermeabilizações do solo e
inadequação dos sistemas de águas residuais e pluviais.
Ao longo dos últimos anos defendem-se cada vez mais outras formas de controle de cheias
como alternativa às grandes obras de engenharia. Uma política de gestão e de ordenamento do
território e uma zonação bem planificada poderiam substituir no futuro as antigas soluções; porém,
isso vem colidir em absoluto com todos os interesses económicos implícitos, como as pressões de
crescimento populacional e de desenvolvimento urbanístico.
É ainda de notar que, no quadro dos desastres naturais, o impacto das instabilidades de
vertente tende a ser subavaliado, por os seus efeitos serem genericamente atribuídos aos eventos
extremos que os desencadeiam (chuvas excepcionais, inundações e sismos). Os seus efeitos são
geralmente distribuídos por regiões mais ou menos vastas, com carácter disperso, tornando
particularmente difícil o inventário rigoroso de perdas.
Neste contexto, não surpreende a inclusão desta problemática em figuras do quadro legal
para o ordenamento do território, como a REN, que reforça a necessidade de prosseguir os esforços
de investigação, centrados na determinação da perigosidade associada à ocorrência de
instabilidades de vertente, incluindo a caracterização de processos e mecanismos de instabilização
principais, de forma a estabelecer medidas de prevenção, tratamento e mitigação tendentes à
redução dos efeitos deste importante perigo natural.
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Formação
GeoFCUL©2008
Departamento de
GEOLOGIA
Departamento de
GEOLOGIA
GeoFCUL©2008
Formação
Pós-Graduada
Criado em 2005, este curso tem duração de 1 ano (60 créditos) e visa o
desenvolvimento de competências, métodos e técnicas específicas em áreas
concretas de aplicação do conhecimento geológico e em contexto real de
trabalho. Procura, igualmente, reforçar e exercitar a capacidade de
aprendizagem autónoma, possibilitando também a integração em equipas
multidisciplinares que perseguem objectivos comuns.
Pós-Graduada
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Formação
Pós-Graduada
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GEOLOGIA
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(Últimos 10 anos)
.
Horta, Ana Isabel Alves (2002). Estabilização de arribas litorais. Relatório de Estágio
Profissionalizante da Licenciatura em Geologia Aplicada e do Ambiente, GeoFCUL - LNEC.
Peixoto, Ana Margarida Marques (2002). Acompanhamento de uma obra de contenção tipo
Munique. Relatório de Estágio Profissionalizante da Licenciatura em Geologia Aplicada e
do Ambiente, GeoFCUL - TECNASOL, FGE.
Roxo, Sónia (2004). Estudo da estabilidade da arriba Azenhas do Mar - Praia Grande. Relatório de
Estágio Profissionalizante da Licenciatura em Geologia Aplicada e do Ambiente, GeoFCUL
- C.M. Sintra.
Rodrigues, Valter (2004). Levantamento de zonas de potencial instabilidade geotécnica em
áreas urbanas consolidadas ou de expansão. Relatório de Estágio Profissionalizante da
Licenciatura em Geologia Aplicada e do Ambiente, GeoFCUL - C.M. Lisboa.
Matildes, Rita Martins Henriques (2005). Estabilidade de vertentes no concelho de Lisboa.
Relatório de Estágio Profissionalizante da Licenciatura em Geologia Aplicada e do
Ambiente, GeoFCUL - C.M. Lisboa.
Departamento de
GEOLOGIA
E W
Produção científica / Teses de Mestrado
.
(Últimos 10 anos)
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Montes e Alto Douro.
Dias, R.P. (2001). Neotectónica da Região do Algarve. Universidade de Lisboa.
Brum da Silveira, A., (2002). Neotectónica e Sismotectónica de um Sector do Alentejo Oriental. Universidade de
Lisboa.
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GEOLOGIA
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(Últimos 10 anos)
Marques, F.M.S.F., Andrade, C., Freitas, C. (1998). Estudo Geológico para o Plano de Ordenamento da
Orla Costeira Alcobaça-Mafra. Centro de Geologia da Universidade de Lisboa (GeGUL).
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Marques, F.M.S.F. (1998). Estudo Geológico para o projecto de consolidação das arribas entre as praias
do Tamariz e da Azarujinha, na Costa do Estoril. Centro de Geologia da Universidade de Lisboa
(CeGUL).
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Cabral, J., Terrinha, P. (1999). Potenciais Localizações do Novo Aeroporto de Lisboa, Estudo Preliminar de
Impacte Ambiental (EPIA), Ota e Rio Frio, Casualidade Sísmica, Neotectónica da Região do Vale
do Tejo, NAER, Lisboa.
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Marques, F.M.S.F. (2001). Estudo do Risco Sísmico da Área Metropolitana de Lisboa e Concelhos Limítrofes
(25 concelhos, 4881 km2): Mapa de Instabilidade de Vertentes. Serviço Nacional de Protecção
Civil (SNPC) Instituto de Ciências da Terra e do Espaço (ICTE).
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Madeira, J., Cabral, J., Carmo, R., Hipólito, A. R., Queiroz, G. (2006). Estudo dos Perigos Geológicos
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Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, Universidade dos Açores,
Departamento de Geociências, Ponta Delgada. 45 pp. (Relatório Inédito).
Produção científica / Publicações relevantes
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Cabral, J. (2003). A Geologia na avaliação da perigosidade sísmica. Geonovas (APG), 17: 21-26.
(continua)
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GEOLOGIA
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GEOLOGIA
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Matias, L.; Dias, N. A.; Morais, I.; Vales, D.; Carrilho, F.; Madeira, J.; Gaspar, J. L.; Senos, l.; Brum da Silveira, A.
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Azevêdo, T.M.; Ramos Pereira, A.; Ramos, C.; Nunes, E. Freitas, M.C.; Andrade, C. & Pereira, D. (2008) Floodplain
sediments of the Tagus River, Portugal: avulsions and channel shifting assessment and human impact
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Martins, L.T.; Madeira, J.; Youbi, N.; Mata, J.; Munhá, J.M.; Kerrich, R. (in press). Rift-related CAMP magmatism in
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GEOLOGIA
(Últimos 10 anos)
. Prestações de serviços
Brum da Silveira, A., Cabral, J., Araújo A., Espinha Marques, J. (1997). Estudo Neotectónico e
Sismotectónico da Falha de Alqueva. ICAT, FCUL, Relatório elaborado para a Empresa de
Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva - EDIA, S. A., 119 pp., 4 Anexos.
Marques, F.M.S.F., Andrade, C., Freitas, C. (1998). Estudo Geológico para o Plano de Ordenamento da
Orla Costeira Alcobaça-Mafra. Centro de Geologia da Universidade de Lisboa (GeGUL).
Marques, F.M.S.F. (1998) - Estudo Geológico para o projecto de consolidação das arribas entre as praias
do Tamariz e da Azarujinha, na Costa do Estoril. Centro de Geologia da Universidade de Lisboa
(CeGUL).
Cabral, J., Terrinha, P. (1999). Potenciais Localizações do Novo Aeroporto de Lisboa, Estudo Preliminar de
Impacte Ambiental (EPIA), Ota e Rio Frio, Casualidade Sísmica, Neotectónica da Região do Vale
do Tejo, NAER, Lisboa.
Marques, F.M.S.F. (2001). Estudo do Risco Sísmico da Área Metropolitana de Lisboa e Concelhos Limítrofes
(25 concelhos, 4881 km2): Mapa de Instabilidade de Vertentes. Serviço Nacional de Protecção
Civil (SNPC) Instituto de Ciências da Terra e do Espaço (ICTE).
Marques, F.M.S.F. (2001). Estudo Geológico para o Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra-Sado.
Centro de Geologia da Universidade de Lisboa (CeGUL).
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Produção científica / Prestações de serviços
.
Marques, F.M.S.F. (2002). Estudo geológico-geotécnico da arriba do Forte do Belixe e Capela de Santa
Catarina. ICAT.
Colaboração com o Serviço Municipal de Protecção Civil da Câmara Municipal de Lisboa, para a
elaboração do Plano de Emergência para o Risco Sísmico (2002).
Madeira, J., Cabral, J., Carmo, R., Hipólito, A. R., Queiroz, G. (2006) - Estudo dos Perigos Geológicos
Existentes na Área de Implantação do Novo Hospital de Angra do Heroísmo (Ilha Terceira, Açores).
Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, Universidade dos Açores,
Departamento de Geociências, Ponta Delgada. 45 pp. (Relatório Inédito).
Colaboração com a CCDR-LVT e a Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades
para a Revisão do Regime Jurídico da REN (2007-2008).
Departamento de
GEOLOGIA
Departamento de
GEOLOGIA
.
António Mateus.
Design gráfico e execução
.
.
Carlos Marques da Silva.
Imagens
.
Movimentos de Massa
Pedro Pereira
6. Bibliografia 22
1. Tipos de Movimentos de Massa
1
Em regiões montanhosas, são particularmente frequentes durante a primavera devido à
gelivação. Por vezes, o mecanismo indutor direto é um sismo. Frequentemente, existe
na base da vertente um depósito de sopé (figs. 1-2).
1.2. Deslizamentos
2
Os deslizamentos rotacionais ocorrem normalmente a velocidades reduzidas (alguns
centímetros a poucos metros por ano). Contudo, podem também ocorrer de modo
brusco, podendo neste caso desencadear diversos tipos de fluxos sedimentares.
Os fluxos granulares são fluxos não saturados em água, podem ocorrer com pouca ou
nenhuma água pois o comportamento fluido advém da mistura com o ar; vulgarmente
contêm até 20% de água. Podem distinguir-se três tipos de fluxos granulares: reptação,
movimentos de terras e avalanches.
3
Figura 5 – Diagrama esquemático representado os efeitos do processo de reptação.
Adaptado de Reis (2001).
4
combinação de vários tipos de movimentação (queda de rochas, deslizamentos, fluxos
sedimentares). Em princípio, quanto maior é a avalanche detrítica maior é a velocidade
a que ela se desloca, pois que maior é a energia associada ao material em movimento
(fig. 7).
Fluxos aquosos são fluxos em que o solo e/ou rególito saturados de água se
comportam como uma massa fluida, apresentando frequentemente comportamentos
torrenciais. Geralmente, contêm entre 20% e 40% ou mais de água. Quando o teor em
água é superior a cerca de 40% do fluxo, este acaba por progredir na rede fluvial
distâncias longas (da ordem de dezenas de quilómetros). O fluxo é do tipo turbulento.
Em geral, devido à quantidade de sedimentos finos em suspensão, a mistura de água e
sedimento comporta-se como um fluido de densidade global elevada. Nestas condições,
os fluxos aquosos podem transportar elementos de grandes dimensões, que podem,
excepcionalmente, ter expressão decamétrica.
5
Em geral ocorrem na sequência de períodos de precipitação intensa ou moderada mas
contínua, estando muitas vezes associados a episódios de cheia. Na história recente têm
sido responsáveis por grandes catástrofes.
Podem distinguir-se três tipos de fluxos aquosos: solifluxão, fluxos de detritos e
fluxos de lama.
6
Geram-se, normalmente, quando massas de materiais não consolidados, saturados em
água, se tornam instáveis. A água pode ser proveniente de chuvas intensas, da fusão de
neve e gelos, ou do transbordo de lagos (p.ex.: lagos vulcânicos). Por vezes iniciam-se
como movimentações rotacionais.
As velocidades atingidas por estes fluxos são muito variáveis, dependendo, entre
outros fatores, da quantidade de água, da percentagem de material sólido, e do pendor.
Em termos genéricos, a velocidade pode variar entre menos de 1m/ano e mais de
100km/h, embora normalmente a frente do fluxo tenha velocidade bastante maior do
que a parte posterior.
Estes fluxos tendem a deslocar-se pela rede de drenagem superficial pré-existente
(fig. 9). No entanto, muitas vezes abrem os seus próprios canais de passagem,
construindo frequentemente, à sua passagem, diques naturais. A localização exata dos
sítios por onde passará um futuro fluxo deste tipo é assim imprevisível.
7
1.4. Movimentos complexos
Muitos dos movimentos de massa são combinações complexas de dois ou mais tipos
de movimentos (deslizamentos, fluxos e, ocasionalmente, quedas de rochas e detritos).
Formam-se quando um tipo de movimento se transforma noutro durante o deslocamento
vertente abaixo. Por exemplo, um movimento pode iniciar-se como deslizamento,
ganhar água durante a descida ao longo da vertente e transformar-se em movimento de
terras na parte inferior do deslocamento.
8
2. Fatores que influenciam a estabilidade de vertentes
2.1. Gravidade
1
São frequentes deslizamentos em vertentes urbanizadas com pendores superiores a 15%.
9
2.2. Água
Apesar de água não estar sempre diretamente envolvida como meio de transporte nas
movimentações de massa, ela desempenha um papel importante. A água torna-se
importante por diversas razões:
1. A adição de água da chuva ou da fusão de neve e gelo acrescenta peso à vertente.
A água pode percolar no interior do solo ou rocha e substituir o ar nos poros ou fraturas.
Uma vez que a água é mais pesada do que o ar, vai aumentar o peso do solo. Este
aumento de peso aumenta a tensão tangencial, podendo levar à instabilidade da vertente.
2. A água tem capacidade de alterar o ângulo de repouso de uma vertente.
Grãos não consolidados e secos formam uma pilha cuja inclinação dos flancos é
determinada pelo ângulo de repouso. O ângulo de repouso é o ângulo máximo no qual
os materiais soltos de uma vertente se mantêm estáveis, e é controlado pela fricção entre
os grãos. No geral, para materiais secos, o ângulo de repouso aumenta com o tamanho
do grão, mas normalmente situa-se entre cerca de 30 e 37o (fig. 12).
10
Materiais não consolidados, ligeiramente húmidos, têm ângulos de repouso muito
elevados porque a tensão superficial entre o filme de água e os grãos tende a manter os
grãos unidos.
Quando o material se torna saturado em água, o ângulo de repouso diminui para
valores muito baixos e o material tende a comportar-se como um líquido. Isto acontece
porque a água se infiltra entre os grãos e elimina a fricção entre estes.
3. A água pode ser adsorvida ou absorvida pelos minerais do solo. Adsorção
significa que a molécula polar da água se liga à superfície dos minerais; absorção
significa que os minerais incorporam moléculas de água na sua estrutura. Em
ambos os casos, devido à adição de água, aumenta o peso do solo ou rocha. Além
disso, devido à adsorção de água, a fricção entre os grãos vai diminuir ou mesmo
desaparecer, originando a perda de coesão do solo.
4. A água pode dissolver os cimentos minerais que mantêm os grãos unidos. Se o
cimento for composto por calcite, gesso ou halite, todos eles muito solúveis em água, a
água ao entrar no solo pode dissolver este cimento e assim reduzir a coesão entre os
grãos minerais.
5. Liquefação. Ocorre quando sedimentos não consolidados se tornam
sobressaturados em água e os grãos individuais perdem o contato entre si à medida que
a água se infiltra entre eles. Este fenómeno pode ocorrer devido a um sismo ou como
resultado da adição de água resultante de chuvas intensas ou fusão de neve ou gelo.
Também pode ocorrer por ação da lenta infiltração de água no interior de sedimentos
soltos ou solos (fig. 13).
11
húmidas quando mais água se infiltra no sistema, e tende a descer durante as estações
secas quando se infiltra menos água (fig. 14). Estas alterações do nível do lençol
freático podem ter efeitos sobre os fatores (1 a 5) acima referidos.
12
Outro material que apresenta comportamento semelhante devido à adição de água é a
turfa. A turfa é um material rico em matéria orgânica acumulado no fundo de pântanos.
Algumas argilas (argilas tixotrópicas) são estáveis quando em repouso mas, quando
perturbadas (agitadas) a sua resistência diminui rapidamente. Devido a esta
característica, pequenos sismos ou vibrações provocadas pelo vento ou pelo homem
podem causar a súbita perda de resistência nesses materiais.
13
Planos de estratificação – São basicamente camadas planas de rocha sobre as quais
ocorreu a deposição original. Uma vez que são planas e que podem ter uma inclinação
paralela à vertente, elas podem funcionar com superfícies de deslizamento,
particularmente se a água entrar ao longo destes planos reduzindo a coesão. Na figura
17 observa-se como a vertente acima da estrada à esquerda é inerentemente menos
estável do que a vertente acima da estrada à direita.
2.4. Vegetação
14
É neste contexto que os incêndios florestais criam, frequentemente, condições
propícias à cedência de vertentes. Efectivamente, a vegetação, ao ser queimada, propicia
que haja impacto direto da chuva no solo, que a escorrência superficial seja mais
intensa, que a humidade no solo seja maior (pois as perdas por evapo-transpiração são
fortemente reduzidas), que haja redução da resistência aparente do solo
(designadamente devido ao apodrecimento das raízes), e que, globalmente, se verifique
redução da estabilidade das vertentes.
Contudo, em alguns casos, o peso adicional provocado pela presença de vegetação
aumenta a probabilidade de ocorrerem deslizamentos no terreno, principalmente em
solos pouco espessos de vertentes muito inclinadas. Estes deslizamentos de solo são
comuns na costa da Califórnia onde a erva-do-orvalho, uma planta invasiva (que
também ocorre em território português) importada da África do Sul nos princípios do
século XX, cobre vertentes muito inclinadas. Nos meses de Inverno especialmente
húmidos, estas plantas de raiz pouco profunda absorvem água e armazenam-na nas suas
folhas. Esta água aumenta consideravelmente o peso das vertentes e, consequentemente,
aumenta a tensão tangencial. Estas plantas também produzem um aumento da infiltração
de água na vertente, o que diminui as forças de resistência. Quando ocorre a rotura, as
plantas e uma camada de vários centímetros de raízes e de solo deslizam até à base da
vertente.
Os movimentos de massa podem ocorrer sempre que uma vertente se torne instável.
Por vezes, como no caso da reptação ou da solifluxão, a vertente é sempre instável e o
processo é contínuo. Contudo, outras vezes, acontecem eventos que podem originar a
súbita instabilidade da vertente. Seguidamente, serão referidos os principais eventos
geradores de instabilidade, contundo, é importante referir que se uma vertente se
encontra muito próximo da instabilidade, um evento menor pode ser suficiente para
provocar o desastre.
Abalos – Um abalo súbito, como um sismo podem provocar a instabilidade de
vertentes. Abalos menores, como camiões pesados deslocando-se na estrada, árvores a
abanar por acção do vento, ou explosões provocadas pelo homem podem também
desencadear movimentações de massa.
Alteração do declive – A modificação do declive de uma vertente por causas
naturais ou acção do homem podem alterar o ângulo de inclinação da vertente para um
valor diferente do seu ângulo de repouso. Uma movimentação de massa pode então
restaurar o ângulo de repouso da vertente (fig. 18).
15
Escavação da base da vertente – A erosão marinha ou fluvial pode escavar a base
uma vertente, tornando-a instável (fig. 19).
Devido ao crescimento demográfico, existe cada vez mais área ocupada à superfície
da Terra e, como tal, os riscos associados aos movimentos de massa tem vindo a
aumentar ao longo do tempo. Só nos Estados Unidos da América, os movimentos de
massa causam todos os anos cerca de 25 mortos e este número pode chegar aos 100-150
se se incluir o desmoronamento de valas e outras escavações. O custo total anual dos
danos causados pelos movimentos de massa ultrapassa os 1000 milhões de dólares,
podendo atingir os 3000 milhões de dólares. Nos países menos desenvolvidos as perdas
são proporcionalmente muito maiores devido a: densidades demográficas elevadas, falta
de ordenamento do território, ausência de informações sobre este tipo de processos e
carência de meios para acudir a situações de emergência. A tabela 2 mostra alguns
exemplos do impacte das movimentações de massa sobre as populações humanas desde
o início do século XX.
Os movimentos de massa ocorrem normalmente como consequência de outros
perigos naturais, tais como sismos, erupções vulcânicas, incêndios florestais e cheias.
16
Tabela 2 – Alguns movimentos de massa catastróficos ocorridos desde o início do século XX.
Data Localização Vítimas mortais Causa Tipo
1916 Itália e Áustria 10.000 Fluxo de terra
1920 Gansu, China 200.000 Sismo
São Vicente,
1929 32 Chuva “Quebrada” (fluxo de detritos?)
Ilha da Madeira
1945 Japão 1.200 Cheias
1949 Khait, Tadjiquistão 12.000 - 20.000 Sismo
1962 Huascaran, Peru 4.000 - 5.000 Avalanche e fluxos de detritos
Fluxo de terra em albufeira provocou
1963 Vaiont, Itália 3.000
cheia súbita
1970 Huascaran, Peru 66.000 Sismo Fluxo de detritos, avalanche
Arosa,
1981 15 Chuva Deslizamento seguido de fluxo de detritos
Cabeceiras de Basto
1985 Armero, Colômbia 23.000 Vulcão Fluxo de lama (lahar)
1987 Equador 1.000 Sismo Fluxo de terra
Ribeira Quente, São
1997 29 Chuva Deslizamento e queda de rochas e detritos
Miguel, Açores
1998 Casitas, Nicarágua > 2.000 Fluxo de detritos
1999 Venezuela > 20.000 Chuva Vários tipos de fluxos aquosos
Praia Maria Luísa,
2009 5 Queda de rochas
Albufeira
2010 Ilha da Madeira 42 Chuva Fluxos de detritos
17
Os geólogos procuram estas evidências de movimentações passadas no terreno e em
fotografias aéreas. Esta informação é depois utilizada para avaliar a perigosidade da
área e obter diversos tipos de mapas.
O primeiro tipo de mapa é o resultado direto do inventário de movimentos de massa
que se acaba de descrever. Pode ser um mapa de reconhecimento, mostrando zonas que
sofreram roturas de vertente, ou um mapa mais detalhado, mostrando depósitos
originados por movimentações de massa de acordo com a sua atividade relativa. A
informação referente a movimentos anteriores pode combinar-se com a utilização que se
pretende dar ao terreno para elaborar um mapa de estabilidade de vertentes para os
engenheiros geológicos ou um mapa de perigosidade de movimentos de massa com
usos recomendados do terreno para os técnicos responsáveis pelo planeamento e
ordenamento do território. Estes mapas não substituem a avaliação detalhada de um
local específico. A preparação dum mapa de risco de movimentos de massa é mais
complicada porque implica avaliar a probabilidade de ocorrência de um movimento e
uma avaliação das perdas potenciais.
18
exemplo, coloca-se debaixo da terra uma tubagem de escoamento com orifícios em todo
o seu comprimento e coberta por gravilha (material permeável) para interceptar e
desviar a água para fora da vertente potencialmente instável (fig. 20).
19
Figura 22 – Muro de contenção construído utilizando gabiões (NRCS, 2006).
Apesar de todos os métodos existentes para estabilizar vertentes, existem locais onde
estes não podem ser aplicados. Nestes casos, as pessoas deverão evitar esses locais ou
utilizá-los para fins que não exponham a vida e a propriedade humana aos perigos das
movimentações de massa.
20
6. Bibliografia
21
O Manual de Deslizamento –
Um Guia para a Compreensão
de Deslizamentos
Lynn M. Highland Peter Bobrowsky
Serviço Geológico dos Estados Unidos Serviço Geológico do Canadá
O Manual de Deslizamento –
Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Por
Lynn M. Highland, Serviço Geológico dos Estados Unidos e
Peter Bobrowsky, Serviço Geológico do Canadá.
Para maiores informações sobre USGS – a fonte federal sobre ciência da terra, recursos
naturais, seres vivos, desastres naturais e o meio ambiente:
World Wide Web: http://www.usgs.gov
Telefone: 1-888-ASK-USGS
Apesar de este relatório ser de domínio público, deve-se solicitar permissão aos
detentores de direitos autorais das publicações mencionadas para reproduzir qualquer
material aqui contido.
Citação sugerida:
Highland, L.M., and Bobrowsky, Peter, 2008, The landslide handbook – A guide to
understanding landslides: Reston, Virginia, U.S. Geological Survey Circular 1325, 129p.
A publicação da versão em português desse relatório foi possível graças a uma doação
da Global Facility for Disaster Reduction and Recovery - GFDRR/World Bank.
iii
Agradecimentos
Os autores agradecem:
Sumário
Agradecimentos .............................................................................................................. iii
Como ler este guia ........................................................................................................ xv
Por favor, observe: ........................................................................................................ xv
Nota da edição brasileira: .............................................................................................. xv
Introdução ....................................................................................................................... 1
Para maiores informações ............................................................................................ 2
Introdução à edição brasileira ......................................................................................... 3
Seção I - Informações Básicas Sobre Deslizamentos .................................................. 5
Parte A - O que é um deslizamento? ........................................................................... 6
Parte B - Tipos Básicos de Deslizamentos ...................................................................... 7
Quedas .................................................................................................................... 8
Queda rochosa .................................................................................................. 8
Ocorrência e tamanho/extensão relativos .................................................... 8
Velocidade de deslocamento ....................................................................... 8
Mecanismo de desencadeamento .............................................................. 9
Efeitos (diretos /indiretos) ........................................................................... 9
Medidas de correção / mitigadoras .......................................................... 9
Previsibilidade .............................................................................................. 9
Tombamento ............................................................................................................ 11
Ocorrência ................................................................................................. 11
Velocidade de deslocamento ....................................................................... 11
Mecanismo de desencadeamento .............................................................. 11
Efeitos (diretos / indiretos) .......................................................................... 11
Medidas de correção / mitigadoras .............................................................. 11
Previsibilidade ............................................................................................ 12
Escorregamentos ................................................................................................... 13
Escorregamento rotacional .............................................................................. 13
Ocorrência ................................................................................................. 13
Tamanho/extensão relativos ....................................................................... 13
Velocidade de deslocamento (Taxa de movimento) ..................................... 13
Mecanismo de desencadeamento .............................................................. 13
Efeitos (diretos / indiretos) ......................................................................... 14
Medidas de correção / mitigadoras ............................................................. 14
Previsibilidade ............................................................................................ 14
Escorregamento Translacional .......................................................................... 16
Ocorrência .................................................................................................. 16
Tamanho/extensão relativos ......................................................................... 16
Velocidade de deslocamento ........................................................................ 16
Mecanismo de desencadeamento ................................................................ 16
Efeitos (diretos / indiretos) ........................................................................... 17
Medidas de correção / mitigadoras ........................................................... 17
Previsibilidade ............................................................................................ 17
Espalhamento ......................................................................................................... 19
Espalhamento Lateral ........................................................................................ 19
Ocorrência .................................................................................................. 19
Tamanho/extensão relativos ........................................................................ 19
vi
Figuras
Figura 1. Este deslizamento ocorreu em La Conchita, Califórnia, EUA,
em Dezembro de 2005 .................................................................... 6
Figura 2. Uma ilustração simples de um deslizamento por cisalhamento
rotacional que evoluiu para um fluxo de terras ................................ 7
Figura 3. Esquema de queda rochosa ........................................................... 10
Figura 4. Queda rochosa e deslizamento ocorrido em Clear Creek Canyon,
Colorado, EUA, em 2005 ................................................................. 10
Figura 5. Esquema de tombamento .............................................................. 12
Figura 6. Fotografia de um bloco envergando em Fort St. John,
British Columbia, Canadá ................................................................... 12
Figura 7. Esquema de escorregamento rotacional ........................................... 14
Figura 8. Fotografia de um escorregamento rotacional ocorrido na
Nova Zelândia ................................................................................. 15
Figura 9. Esquema de escorregamento translacional ...................................... 17
Figura 10. Imagem de um escorregamento translacional que
ocorreu em 2001 no Vale do Rio Beatton, British Columbia,
Canada ........................................................................................... 18
Figura 11. Esquema de espalhamento lateral. Uma camada passível de
liquefação está abaixo da camada superficial ................................. 21
Figura 12. Fotografia de um espalhamento lateral ocorrido em uma rodovia,
como resultado do terremoto Loma Prieta, em 1989,
na Califórnia, EUA ......................................................................... 21
Figura 13. Esquema de fluxo de detritos ....................................................... 24
Figura 14. Danos causados por um fluxo de detritos na cidade de
Caraballeda, na base da Cordilheira de La Costan, no litoral
norte da Venezuela ...................................................................... 24
Figura 15. Esquema de um lahar ................................................................. 26
Figura 16. Imagem de um “lahar” causado pela erupção de 1982 no
Monte St. Helens em Washington, EUA ........................................ 27
Figura 17. Esquema de avalanche de detritos ................................................ 29
Figura 18. Uma avalanche que soterrou o vilarejo de Guinsaugon,
ao sul de Leyte, Filipinas, em fevereiro de 2006 ........................... 29
Figura 19. Esquema de um fluxo de terra ...................................................... 31
Figura 20. Fluxo de terra de Lemieux, 1993 - um rápido fluxo de terra
ocorrido em argila marinha sensível, próximo a Ottawa, Canadá ..... 32
Figura 21. Esquema de um deslizamento lento de terra, geralmente
chamado rastejo ............................................................................ 34
Figura 22. Esta imagem mostra os efeitos do rastejo, em uma área
proxima a East Sussex, no Reino Unido ........................................ 35
Figura 23. Esquema de um escoamento regressivo no degelo ...................... 37
Figura 24. Imagem de um escoamento regressivo no degelo em território
do noroeste do Canadá ................................................................. 38
Figura 25. Danos de espalhamento lateral ..................................................... 40
Figura 26. O Mameyes, Porto Rico, deslizamento de terra, 1985 .................. 42
xii
Este guia é composto de três seções básicas, uma série de apêndices detalhados
e um índice. Este estilo permite uma maior flexibilidade para usuários com diferenças
consideráveis de interesses e de níveis de detalhes. A maioria das informações que
foram expandidas e detalhadas de maneira explicativa, pode ser encontrada nos
apêndices, que inclui um Glossário de Termos Referentes a Deslizamentos com maiores
informações e referências.
• Para facilitar a leitura, as referências estão numeradas ao final das seções e não
estão inseridas ao longo do texto. O usuário pode, também, contactar o Serviço
Geológico dos Estados Unidos (United States Geological Survey) e o Serviço
Geológico do Canadá (Geological Survey of Canada), para maiores orientações
e assistência.
• Páginas da internet são usadas como referência para este livro; entretanto,
endereços de sites (URLs) podem ser modificados ao longo do tempo e os
links disponibilizados nesta publicação podem tornar-se inativos ou incorretos.
Sugere-se que os usuários consultem um mecanismo de busca na Web por
palavras-chave, caso os links não possam mais ser acessados.
Introdução
Este manual tem como objetivo servir de fonte de informação para que
pessoas afetadas por deslizamentos adquiram maior conhecimento, especialmente
a respeito das condições peculiares de suas vizinhanças e comunidades. Muitas
pesquisas e literatura estão disponíveis no que concerne a deslizamentos, porém,
infelizmente, pouco delas está resumido e integrado, o que possibilitaria a
localização geográfica específica das condições climáticas e geológicas ao redor do
globo. Deslizamentos ocorrem por todo o planeta, sob todas as condições climáticas
e de terreno, custando bilhões em perdas monetárias, e são responsáveis por
milhares de mortes a cada ano. Frequentemente causam problemas econômicos de
longo prazo, desalojam a população e afetam negativamente o meio ambiente.
Políticas ultrapassadas de uso do solo nem sempre refletem o melhor
planejamento para uso da terra que está vulnerável a deslizamentos. As razões
para uma escassa, quase inexistente política de uso do solo que minimize o perigo
percebido, atual ou potencial, dos desastres geológicos, são muitas e incluem
as complexidades políticas, culturais e financeiras e as peculiariedades das
comunidades. Deslizamentos de terra são sempre caracterizados como problemas
locais, mas seus efeitos e custos frequentemente ultrapassam as jurisdições locais e
podem tornar-se problemas estaduais ou mesmo nacionais.
O crescimento populacional pode ser limitado em sua expansão geográfica
exceto na ocupação de áreas remotas, íngremes ou instáveis. Geralmente, a
estabilização de áreas marcadas por deslizamentos tem custo muito alto e alguns
habitantes não têm para onde se mudar. Felizmente, precauções e ações de baixa
tecnologia podem ser adotadas para, ao menos, garantir a segurança individual
imediata. Este manual apresenta um breve panorama das muitas opções existentes,
nesse sentido. Sugere-se, veementemente, que, quando possível, seja buscada
a assistência de pessoas com experiência e sucesso na estabilização de taludes
instáveis, antes que qualquer ação seja tomada. Este manual auxilia proprietários,
pessoas responsáveis pelas comunidades e a defesa civil para assuntos de
2
Seção I.
Informações Básicas Sobre Deslizamentos
6 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 2. Uma ilustração simples de um deslizamento rotacional que evoluiu para um fluxo
de terras. A imagem mostra denominações comumente usadas
para as partes de um deslizamento (de Varnes, 1978, Referência 43).
detritos, etc.). Deslizamentos também podem formar uma ruptura complexa, que
pode incluir mais de um tipo de movimento (ou seja, deslizamento de rocha e fluxo
de detritos).
Para os objetivos deste manual, considera-se o “tipo de movimento”
como sinônimo de “tipo de deslizamento”. Cada tipo de movimento pode ser
posteriormente subdividido de acordo com suas propriedades e características
específicas, e as principais subcategorias de cada tipo são descritas mais adiante. As
categorias menos comuns não são discutidas neste manual, mas são abordadas na
fonte de referências.
Evitam-se citações diretas e identificação de fontes e referências textuais no
corpo deste manual, porém todas as fontes são devidamente apresentadas na lista de
referências que o acompanha.
Quedas
Queda rochosa
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Erosão regressiva do talude por processos naturais tais como rios, ribeirões
ou condições climáticas diferenciadas (como o ciclo de congelamento e
degelo); atividades humanas como escavações para construção de estradas e/
ou manutenção dessas; terremotos ou outras vibrações intensas.
Previsibilidade
Figura 4. Queda rochosa e deslizamento ocorrido em Clear Creek Canyon, Colorado, EUA,
em 2005, fechando o trânsito no canyon por várias semanas. A fotografia também mostra
um exemplo de uma parede de pedras (cortina), um tipo de barreira comumente aplicado
sobre faces rochosas de risco (centro e direita da foto). (Foto por Colorado Geological
Survey).
Parte B – Tipos Básicos de Deslizamentos 11
Tombamento
Ocorrência
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 6. Fotografia de um bloco envergando em Fort St. John, British Columbia, Canadá.
(Foto por G. Bianchi Fasani)
Parte B – Tipos Básicos de Deslizamentos 13
Escorregamentos
Escorregamento rotacional
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Para leituras posteriores. Escorregamentos podem ser reativados; fissuras no topo (cabeça) dos
Referências 9, 39, 43 e 45 taludes são bons indicadores de início de ruptura. As figuras 7 e 8 mostram
um esquema e uma imagem de um escorregamento rotacional.
Direção da rotação
Escorregamento Translacional
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
O movimento pode ser inicialmente vagaroso (5 pés ou 1,5 metros por mês),
mas há muitos em velocidade moderada (5 pés ou 1,5 metros por dia) ou
extremamente rápidos. Com o aumento da velocidade, a massa deslizante
ou as rupturas translacionais podem desintegrar-se e tornarem-se fluxo de
detritos.
Mecanismo de desencadeamento
Faz-se necessária uma drenagem adequada para prevenir a queda ou, no caso
de uma ruptura já existente, para prevenir uma reativação do movimento.
Medidas de correção comumente usadas incluem nivelamento do solo,
terraplenagem, drenagem e muros de arrimo. Ações mais sofisticadas em
rochas incluem ancoragens, tirantes e grampos, que em qualquer situação
devem ser feitas por profissionais/firmas especializadas. Escorregamento
translacional em taludes de moderados a íngremes são muito difíceis de
estabilizar de modo permanente.
Previsibilidade
Figura 10. Imagem de um escorregamento translacional que ocorreu em 2001 no Vale do Rio Beatton, British Columbia, Canada. (Fotografia
por Réjean Couture, Canada Geological Survey).
Parte B – Tipos Básicos de Deslizamentos 19
Espalhamento
Uma extensão de uma massa coesiva, formada por solo ou rocha, combinada
a um generalizado afundamento da superfície da massa fraturada de material
coesivo para uma camada inferior, de material menos rígido. Espalhamentos podem
ser o resultado de liquefação ou fluxo (extrusão) do material menos rígido. Tipos de
espalhamentos podem ser em blocos, por liquefação e laterais.
Espalhamento Lateral
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 11. Esquema de espalhamento lateral. Uma camada passível de liquefação está
abaixo da camada superficial. (Esquema da Referência 9 modificado)
Figura 12. Fotografia de um espalhamento lateral ocorrido em uma rodovia, como resultado
do terremoto Loma Prieta, em 1989, na Califórnia, EUA. (Fotografia por Steve Ellen, U.S.
Geological Survey).
22 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Escoamento
Fluxo de detritos
Ocorrência
No mundo inteiro, principalmente em canyons e ravinas íngremes. Pode ser
mais intenso em taludes ou ravinas cuja vegetação tenha sido destruída por
queimadas ou extração madeireira. É comum em áreas vulcânicas de solo
frágil.
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismos de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 14. Danos causados por um fluxo de detritos na cidade de Caraballeda, na base da
Cordilheira de La Costan, no litoral norte da Venezuela. Em dezembro de 1999, esta área foi
atingida pelo pior desastre natural do século 20; muitos dias de chuva torrencial deflagraram
o escoamento de lama, torrões de solo, água e árvores que mataram aproximadamente
30.000 pessoas. (Imagem por L. M. Smith, Waterways Experiment Station, U.S. Army Corps
of Engineers).
Parte B – Tipos Básicos de Deslizamentos 25
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 16. Imagem de um “lahar” causado pela erupção de 1982 no Monte St. Helens em Washington, EUA. (Imagem por Tom Casadevall do
U. S. Geological Survey).
28 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Avalanche de Detritos
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 18. Uma avalanche que soterrou o vilarejo de Guinsaugon, ao sul de Leyte, Filipinas,
em fevereiro de 2006. (Imagem da Equipe Geotécnica da Universidade de Tóquio). Veja
também a figura 30, para uma imagem de outra avalanche de detritos.
30 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Fluxo de Terra
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismos de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 20. Fluxo de terra de Lemieux, 1993 — um rápido fluxo de terra ocorrido em argila marinha sensível, próximo a Ottawa, Canadá. O
cume da escarpa regrediu 680 metros no nível do solo, passando por cima da margem do rio. Aproximadamente 2,8 milhões de toneladas
de argila e silte liquifizeram e escorreram para o vale do rio South Nation, represando o rio. (Imagem de G. R. Brooks do Geological Survey of
Canada).
Parte B – Tipos Básicos de Deslizamentos 33
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismo de desencadeamento
Previsibilidade
Esse fenômeno é indicado por curvas nos troncos das árvores (efeito de
fototropia) ou por inclinação nas cercas e (ou) nos murros de arrimo,
postes e cercas tortos e pequenas ondas ou cristas na superfície do solo.
Para leituras posteriores: Taxas de rastejo podem ser medidas por inclinômetros instalados em furos
Referências 9, 39, 43e 45 de sondagem ou por medidas detalhadas da superfície. As figuras 21 e 22
mostram um esquema e uma imagem de rastejo.
Figura 22. Esta imagem mostra os efeitos do rastejo, em uma área próxima a East Sussex, no Reino Unido, chamada Chalk Grasslands.
Taludes íngremes de depósitos de calcário marinho desenvolvem um padrão estriado, horizontal, com degraus, cobertos por gramado, de
0,3 a 0,6 metros (1 a 2 pés) de altura. Embora, posteriormente, se tornem mais distintos, devido a caminhos do gado ou ovelhas ao longo
dessas formações, (comumente conhecidos por caminho de ovelhas), esses terrenos são formados pelo movimento de rastejo, lento e
gradual do solo, morro abaixo. (Imagem de Ian Alexander).
36 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Ocorrência
Tamanho/extensão relativos
Velocidade de deslocamento
Mecanismos de desencadeamento
Previsibilidade
Figura 24. Imagem de um escoamento regressivo no degelo em território do noroeste do Canadá. Queimadas provavelmente contribuíram
para o tamanho do deslizamento, ao danificar uma camada isolada de musgo, o que gerou um espessamento da camada ativa, a qual está
degelando em uma área permanentemente congelada. (Imagem de Marten Geertsema, Ministry of Forests, British Columbia, Canadá).
Parte C – Onde Ocorrem os Deslizamentos 39
Figura 25. Danos de espalhamento lateral. A imagem mostra a área de Puget Sound em Washington, E.U.A, após o terremoto Nisqually, em
2001. (Fotografia por cortesia do Seattle Times).
Parte D – O Que Causa Deslizamentos? 41
Ocorrências Naturais
Esta categoria possui três mecanismos principais de desencadeamento que
podem ocorrer isoladamente ou em combinação - (1) água, (2) atividade sísmica, e
(3) atividade vulcânica. Os efeitos de todas essas causas variam muito e dependem
de fatores como a declividade da encosta, a morfologia ou a forma do terreno, o tipo
de solo, a geologia subjacente e se há pessoas ou estruturas sobre as zonas afetadas.
Efeitos de deslizamentos de terra serão discutidos em mais detalhes na parte E.
Deslizamentos e Água
Figura 26. O Mameyes, Porto Rico, deslizamento de terra, 1985. Este deslizamento de terra destruiu 120 casas e matou pelo menos 129
pessoas. O fenômeno catastrófico foi provocado por uma tempestade tropical que produziu chuvas extremamente pesadas. Os fatores
contribuintes também podem ter incluído saturação por esgoto em área densamente povoada, e canalização de água com vazamento bem no
cume do deslizamento. (Foto de Randall Jibson, U.S. Geological Survey).
Parte D – O Que Causa Deslizamentos? 43
Figura 27. Danos de deslizamento induzido por terremoto a uma casa construída sobre aterro
artificial, após o terremoto de 2004, na Prefeitura de Niigata, Japão.
(Fotografia pelo Professor Kamai, Universidade de Quioto, Japão).
44 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 28. Lateral do Vulcão Casita, na Nicarágua, América Central, que entrou em colapso
em 30 de outubro de 1998, o dia de precipitação mais alta, conforme o furacão Mitch
atravessava a América Central. Este “Iahar” matou mais de 2.000 pessoas e varreu as
cidades de El Porvenir e Rolando Rodriguez.
(Fotografia por K.M. Smith, U. S. Geological Survey).
Parte D – O Que Causa Deslizamentos? 45
Atividades Humanas
Populações em expansão para novas terras e criação de bairros, vilas
e cidades são o principal meio pelo qual os seres humanos contribuem para a
ocorrência de deslizamentos. Perturbação ou alteração dos padrões de drenagem,
desestabilização das encostas e remoção da vegetação são fatores comuns,
induzidos pelo homem, que podem dar início a deslizamentos de terra. Outros
exemplos incluem inclinação excessiva de encostas, por meio de regressão das
bases, e aumento de carga no cume de uma encosta, excedendo a capacidade do
solo ou de outro componente material. No entanto, deslizamentos também podem
ocorrer em áreas outrora estáveis, devido a atividades humanas como irrigação,
irrigação de gramado, drenagem de reservatórios (ou criação desses), vazamento
de tubulações, escavação ou ocupação imprópria de encostas. Novas construções
em áreas propensas a deslizamentos podem ser melhoradas através de engenharia
adequada (por exemplo, retaludamento, escavação), primeiramente identificando-
se a susceptibilidade do local a falhas em inclinações e a deslizamentos de terra, e
criando-se zoneamento adequado. Para leituras posteriores:
Veja o Apêndice A para uma lista detalhada das causas / mecanismos Referências 16, 19, 32, 38, 39, 43,
desencadeadores de deslizamentos de terra. e 45
46 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 30. Vulcão ativo, Monte Shasta, na Califórnia, EUA. Observe a geografia em primeiro
plano, causada por uma avalanche de detritos que ocorreu cerca de 300.000 anos atrás. A
avalanche de detritos se deslocou para uma grande distância do vulcão e produziu efeitos
duradouros na formação da terra, que podem ser vistos aina hoje.
(Foto por R. Crandall, U.S. Geological Survey).
50 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 31. Vista da jusante, na confluência do Rio Malo (no canto inferior esquerdo) e do Rio Coca, no nordeste do Equador, na América do
Sul. Ambos os canais dos rios foram preenchidos com sedimentos deixados por fluxos de detritos provocados pelos tremores do terremoto
Reventador de 1987. As encostas na área haviam sido saturadas por chuvas fortes nos últimos dias antes do terremoto. Deslizamentos
de terra, fluxos e avalanches de detritos, escoamento de lama e consequente inundações resultantes destruíram cerca de 40 quilômetros
do oleoduto Trans-Equatoriano e a única estrada de acesso a Quito por rodovia. (Fotografia por R.L. Schuster, U. S. Geological Survey;
informação da Referência 32).
Parte E – Quais São os Efeitos e Consequências dos Deslizamentos? 51
Figura 32. O deslizamento de terra Slumgullion, Colorado, EUA. Este deslizamento (formalmente referido também como um fluxo de terra)
danificou o Lago Fork, represado do Rio Gunnison, inundando o vale e formando o Lago Cristobal. (Foto por Jeff Coe, U. S. Geological
Survey).
52 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 33. Exemplo de um evento de riscos múltiplos. A fotografia mostra uma vista aérea de Lituya Bay, no Alasca, EUA. Em 9 de julho de
1958, ocorreu um terremoto que causou um deslizamento para dentro da baía. O deslizamento, por sua vez, gerou uma onda tsunami que
chegou à distância de 174 metros na margem oposta, e uma onda de 30 metros que ultrapassou Lituya Bay. Foi a maior onda produzida
por um deslizamento até hoje documentada. Observe a extensão das áreas de terra sem vegetação que acompanham a encosta da baía,
marcando o alcance aproximado do tsunami.
(Imagem por D.J. Miller, U.S. Geological Survey).
54 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Depósito de
avalanche de
rocha
Cume
Depósito de
fluxos de
detritos
Figura 35. Esta é uma fotografia que mostra o efeito posterior de um evento de riscos
múltiplos. É uma vista aérea mostrando parte da Cordilheira dos Andes e Nevado Huascarán,
o pico mais alto do Peru, América do Sul. Uma enorme avalanche de gelo e fragmentos
de rochas, desencadeada pelo terremoto de 31 de maio de 1970, enterrou as cidades de
Yungay e Ranrahirca, matando mais de 20.000 pessoas, o que equivale a cerca de 40 por
cento da taxa de mortalidade total de 67.000 pessoas. A avalanche começou com um
deslizamento de uma massa de gelo glacial e rocha de aproximadamente 1.000 metros
(3.000 pés) de largura e 1,6 km (uma milha) de comprimento que desceu 5,4 quilômetros
(3,3 milhas) para dentro de Yungay a uma velocidade média de mais de 160 km por hora. O
gelo carregou material de moraina formado de água, lama e pedras. (Fotografia do Serviço
Aerofotográfico Nacional, gráficos de George Plafker, U. S. Geological Survey.) Fotografia e
informações do U. S. Geological Survey Photographic Archives (Arquivo Fotográfico): http://
libraryphoto.cr.usgs.gov/
Seção II.
Avaliação E Comunicação De Risco De Deslizamento
Figura 36. Rachaduras do solo (Cortesia do Alan Chleborad, U.S. Geological Survey).
Figura 37. Calçada afastando-se da casa (Cortesia do Lynn Highland, U.S. Geological
Survey).
58 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura 38. Figura 38. Rachadura na fundação de uma estrutura (Foto por Lynn Highland, U.S. Geological Survey).
Parte A – Avaliação de Riscos de Deslizamento 59
Análise de Mapa
A análise de mapa é geralmente um dos primeiros passos em uma
investigação de deslizamento de terra. Mapas necessários incluem superfície
rochosa e geológica, topografia, solos e, se disponível, mapas de geomorfologia.
Usando o conhecimento dos materiais e processos geológicos, uma pessoa treinada
pode obter uma idéia geral de suscetibilidade a deslizamentos analisando tais
mapas. O apêndice B, ao final desse manual, contém uma seção sobre os diversos
tipos de mapas utilizados na análise do deslizamento.
Reconhecimento Aéreo
A análise de fotografias aéreas é uma técnica rápida e valiosa para identificar
deslizamentos, porque fornece uma visão geral de três dimensões do terreno e
indica as atividades humanas, bem como possui muitas informações geológicas
para uma pessoa treinada. Além disso, a disponibilidade de muitos tipos de
imagens aéreas (por satélite, infravermelho, radar, e assim por diante) torna o
reconhecimento aéreo muito versátil, embora de custo proibitivo em alguns casos.
60 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Reconhecimento de Campo
Muitos dos sinais mais sutis de movimento de massa não podem ser
identificados nos mapas ou fotografias. Com efeito, se uma área possui floresta
densa ou foi urbanizada, mesmo as principais características podem não ser
evidentes. Além disso, as características de deslizamento mudam ao longo do tempo
em um talude ativo. Assim, o reconhecimento de campo é sempre obrigatório para
verificar ou detectar características de deslizamento e para avaliar criticamente
o potencial de instabilidade de taludes vulneráveis. Ele identifica as áreas com
deslizamentos no passado (o que poderia indicar a probabilidade futura de
deslizamentos) utilizando o mapeamento de campo e testes laboratoriais do terreno,
através da amostragem de solo e rocha. Mapeamento e análises laboratoriais, por
exemplo, podem identificar solos de argila vulneráveis ou outros solos sensíveis e
mostrar onde eles existem, seu tamanho e extensão.
Perfuração
Na maioria dos locais, a perfuração é necessária para determinar os
tipos de materiais que constituem o solo do talude, bem como a profundidade
em relação à superfície de deslizamento, a espessura e geometria da massa de
deslizamento, o nível freático e o grau de perturbação dos materiais presentes.
Também pode fornecer amostras adequadas para estimativa de idade do solo e
testar as propriedades de engenharia dos materiais presentes no deslizamento.
Finalmente, a perfuração é necessária para a instalação de alguns instrumentos de
acompanhamento bem como de poços de observação hidrológica. Observe que a
perfuração para obtenção de informações sobre a estratigrafia, geologia e níveis
freáticos e para a instalação de instrumentos, por exemplo, também é feita para as
áreas que nunca tiveram um deslizamento, mas onde a possibilidade existe.
Instrumentação
Métodos sofisticados, como a medição eletrônica de distância (MED),
instrumentos como inclinômetros, extensômetros, medidores de tensão, e
piezômetros (ver glossário para definições destes instrumentos), e técnicas simples,
como estabelecimento de pontos de controle por estacas podem ser usados para
determinar a mecânica do movimento de deslizamento e para monitorar e alertar
contra riscos de ruptura iminente da encosta.
Estudos geofísicos
Técnicas geofísicas (medição de condutividade / resistividade elétrica
do solo, ou medição do comportamento sísmico induzido) podem ser usadas
para determinar algumas características do subsolo, tais como a profundidade
das rochas, as camadas estratigráficas, zonas de saturação, e às vezes o nível do
lençol freático do solo. Essas técnicas também podem ser usadas para determinar
a textura, porosidade, grau de consolidação de materiais do subsolo e a geometria
das unidades envolvidas. Na maioria dos casos, esses métodos de levantamento
da superfície podem ser melhor utilizados para complementar as informações de
Parte A – Avaliação de Riscos de Deslizamento 61
Informações de Segurança
A segurança é, sem dúvida, a primeira ordem de ação para gestores
e funcionários municipais. Pessoas que vivem em áreas propensas a rápidos
movimentos de terra e fluxos de detritos precisam de informações sobre a
probabilidade do perigo. Por exemplo, quando é mais perigoso estar no caminho
dos fluxos de detritos em potencial (como durante chuvas pesadas) e em que ponto
deve-se evacuar o local e (ou) interromper o deslocamento a pé ou de veículos,
em uma área perigosa. Informações de segurança sobre lentos deslizamentos em
movimento são igualmente importantes, pois esses tipos de eventos podem danificar
e (ou) romper linhas elétricas e tubulações de gás, criando um risco adicional de
incêndio, eletrocussão e vazamentos de gás.
Figura 42. O deslizamento de terra Thistle no Utah, EUA. Este deslizamento de 1983
represou o rio Spanish Fork, represando a água que inundou a cidade de Thistle. Muitas
barragens por deslizamento são bem menores que as mostradas aqui e, potencialmente,
podem ser cobertas por água represada e sofrerem erosão. Algumas são muito maiores e
estradas e ferrovias que são bloqueadas, ou danificadas, devem ser desviadas em torno da
massa de terra. O túnel de concreto, na parte inferior da foto, mostra que a linha ferroviária
foi desviada em torno do deslizamento tendo sido escavado por dentro de uma montanha
adjacente.
Parte A – Visão Geral dos Métodos de Mitigação para Vários Tipos de Riscos de Deslizamento 69
Figura 43. O grande terremoto que atingiu a China em 12 de maio de 2008 causou muitos
danos ao terreno montanhoso do distrito de Beichuan. Em muitos casos, os deslizamentos
de terra em vales íngremes formaram barragens, criando novos lagos, em um período de
horas. Este par de fotos de alta resolução, com imagens do satélite Formosat-2 de Taiwan,
em 14 de maio de 2006 (topo) e 14 de maio de 2008 (abaixo), antes e depois do terremoto,
mostram o grande deslizamento que bloqueou o rio Jiangjian, formando um perigoso lago
represado.
70 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
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Apêndice A
Informações Básicas sobre Deslizamentos de Terra
76 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Leque aluvial – massa de aluvião Coluvião – termo geral aplicado Medidor Eletrônico de Distância
esparramada, levemente inclinada, a depósitos soltos e incoerentes, (MED) – dispositivo que emite ondas
depositada por uma corrente, geralmente ao pé de encostas ou de ultrassom que refletem em objetos
especialmente em uma região árida falésias, transportadas principalmente sólidos e retornam para o medidor. O
ou semi-árida, onde o fluxo sai de um pela gravidade. (Referência 2) microprocessador do medidor converte
desfiladeiro estreito em direção a uma Bacia de sedimentos/detritos – (às o tempo decorrido para uma medida de
planície ou vale. Visto de cima, tem vezes chamada de caixa, em esgotos distância. As ondas sonoras espalham-
a forma de um leque aberto, sendo o pluviais) uma grande bacia escavada se em 1 metro de largura para cada 10
ápice na boca do vale. (Referência 3) para a qual um fluxo de detritos metros medidos. Existem vários tipos
Plano de estratificação / acamamento é direcionada ou se dirige e onde disponíveis.
– em rochas sedimentares ou rapidamente tem sua energia dissipada Epicentro – ponto sobre a superfície da
estratificadas, é a divisão de planos e sua carga depositada. Cavas de minas Terra diretamente acima do foco de um
que separa cada camada ou leitos de cascalho ou pedreiras abandonadas terremoto. (Referência 3)
sucessivos, da parte superior para a são muitas vezes utilizadas como bacias Solo expansivo – tipo de solo que
inferior. É comumente marcado por de detritos. (Referência 3) encolhe ou expande com o aumento
uma mudança visível na litologia ou Deslizamento em delta frontal – deltas ou redução do teor de umidade. As
cor. (Referência 3) frontais são regiões onde depósitos estruturas construídas sobre esse tipo
Manto rochoso – rocha sólida que são mais ativos – deslizamentos de solo podem se deslocar, rachar e
serve de base para camadas de subaquáticos ao longo das regiões quebrar quando houver encolhimento
cascalho, areia, argila, e assim por costeiras e do delta, devidos à rápida ou expansão. Também conhecido como
diante; qualquer rocha sólida exposta sedimentação de argila fracamente solos incháveis. (Referência 5)
à superfície da terra, ou coberta por consolidada, que possui baixa força e Extensômetro – um instrumento para
material superficial, não consolidado. alta pressão intersticial. medir pequenas deformações, como nos
(Referência 3) Modelo Digital de Elevação (MDE) – testes de tensão do solo. (Referência 3)
Furo de sondagem – furo circular modelo de elevação digital (MDE) é um Fator de segurança – é usado para
perfurado na terra, muitas vezes a uma arquivo digital composto de elevações fornecer uma margem de incerteza
grande profundidade, como um poço do terreno em intervalos horizontais acima da capacidade teórica do solo
potencial para fins exploratórios de regularmente espaçados. (definição durante a execução do projeto. A
petróleo, gás ou água. (Referência 3) comercial – tecnologia nova). incerteza pode ser qualquer um de uma
Barragens reguladoras – são pequenas Modelo Digital do Terreno (MDT) – série de componentes do processo,
barragens para armazenamento de termo utilizado pelo Departamento de incluindo cálculos e forças materiais,
sedimentos, construídas nos canais de Defesa dos Estados Unidos e outras por exemplo. Geralmente, um fator de
barrancos íngremes, para estabilização organizações para descrever dados de segurança inferior a 1, por exemplo,
do leito. Seu uso acontece mais elevação digital. (Referência 3) na engenharia de um talude indica
comumente no controle do volume Abaixamento do nível da água – em rios, falha potencial, enquanto um fator
e da frequência do fluxo de resíduos lagos, poços ou aquíferos subterrâneos, de segurança maior que 1, indica
canalizados. Barragens reguladoras devido à retirada de água. Pode gerar estabilidade. (Referência 6)
são caras e, portanto, são normalmente taludes de pouca sustentação ou com Medição geodésica – investigação de
erguidas em locais onde existam, terra mal compactada que podem causar qualquer questão científica relacionada
na região inclinada, instalações deslizamentos. (Referência 3) à forma e dimensão da Terra.
importantes ou habitats naturais (como (Referência 3)
uma área de acampamento ou um leito
de desova). (Referência 2)
Parte 1 – Glossário dos Termos Técnicos 77
Fratura – deformação quebradiça Estudos geofísicos – a ciência da Terra, Mapa de inventários de deslizamento
devido à perda momentânea de coesão por métodos físicos quantitativos, – inventários identificam áreas que
ou perda de resistência à tensão no que diz respeito à sua estrutura, sofreram processos de deslizamento,
diferencial com liberação da energia composição e desenvolvimento. incluindo os fluxos de sedimentos
elástica armazenada. Tanto as diaclases Incluem as ciências da geologia e áreas rachadas e preenchidas
quanto as paráclases são fraturas. dinâmica e da geografia física, novamente. (Referência 4)
(Referência 3) fazendo uso da geodésia, geologia, Mapa de suscetibilidade ao
Sistema de Informação Geográfica sismologia, meteorologia, oceanografia, deslizamento – vai além do mapa de
(SIG) – um programa de computador e magnetismo, e outras ciências da Terra inventários e descreve as áreas que têm
base de dados associada que permitem para recolher e interpretar dados da potencial para deslizamentos. Estas
que as informações cartográficas Terra. (Referência 3) áreas são determinadas pela correlação
(incluindo a informação geológica) Hidráulico – referente a fluidos em de alguns dos principais fatores que
sejam consultadas pelas coordenadas movimento; transporte ou ação da contribuem para os deslizamentos,
geográficas das características. água; operado ou movido por meio de como encostas íngremes, unidades
Geralmente os dados são organizados água, como na mineração hidráulica. geológicas frágeis que perdem força
em “camadas”, representando (Referência 3) quando saturadas, e rocha ou solo
diferentes entidades geográficas como Hidrologia – ciência relacionada à água mal drenados, com localização de
a hidrologia, a cultura, topografia da Terra. (Referência 3) deslizamentos de terra no passado.
e assim por diante. Um sistema de Inclinômetro – instrumento usado para (Referência 5)
informação geográfica, ou SIG, medir inclinação horizontal. (Referência Mapas de ameaça de deslizamento
permite que informações de diferentes 3) – mostram a extensão de áreas que
camadas sejam facilmente integradas e Represa por deslizamento – barragem ameaçam processos: onde os processos
analisadas. (Referência 3) de terra criada quando um deslizamento de deslizamento de terra ocorreram
Risco geológico – qualquer condição de terra bloqueia um córrego ou rio. no passado, onde ocorrem agora e a
geológica, natural ou provocada pelo (Referência 3) probabilidade, em diversas áreas, de um
homem, que representa um perigo “Lahar” – deslizamento, fluxo de deslizamento de terra ocorrer no futuro.
potencial para a vida e a propriedade. sedimentos ou de aluvião, de material (Referência 5)
Exemplos: terremotos, deslizamentos, piroclástico no flanco de um vulcão; Mapas de risco de deslizamento –
inundações, rachaduras do solo, erosão depósito produzido por um fluxo de mostram ameaças de deslizamentos
na praia, afundamento da superfície, sedimentos. “Lahars” são descritos e a probabilidade de que ocorram,
poluição, saneamento básico, falhas em como úmidos, se forem misturados com expressos em taxas de recorrência
bases ou fundações. (Referência 3) águas provenientes de chuvas pesadas, estatística; mapas de risco podem
Mapa geológico – mapa no qual estão escapando de um lago de cratera, ou mostrar as relações custo / benefício,
gravadas a distribuição, a natureza produzidos pelo derretimento da neve. potencial de perda e de outros efeitos
e as relações de idade das unidades “Lahars” secas podem resultar de sócio-econômico potenciais em uma
rochosas, bem como a ocorrência de tremores de um cone ou do acúmulo área e (ou) comunidade.
características estruturais. (Referência de material que se torna instável em Litologia – caráter físico de uma rocha,
3) um solo íngreme. Se o material retém geralmente, determinado em nível
Geomorfologia – ciência que trata da muito calor, é chamado “lahar” quente. microscópico, ou com o auxílio de
configuração geral da superfície da (Referência 3) uma lupa de baixa magnitude; estudo
Terra; mais especificamente, o estudo Liquefação – transformação de solos microscópico e descrição de rochas.
da classificação, descrição, natureza, saturados, pouco compactados, de (Referência 3)
origem e evolução das formas do granulação grossa de um estado
solo e suas relações com as estruturas sólido para líquido. Os grãos do solo
subjacentes, e da história das mudanças temporariamente perdem o contato uns
geológicas conforme registradas por com os outros, e o peso das partículas
essas características de superfície. é transferido para a água intersticial.
(Referência 3) (Referência 4)
78 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Loess – depósito generalizado, Pressão de água intersticial – medida Sifão – pequeno corpo de água que
homogêneo, geralmente não de pressão produzida pela altura de ocupa uma depressão fechada ou
estratificado, poroso, quebradiço, pouco água em um solo saturado e transferida “bolsa” formada onde uma falha atual
coeso, geralmente com muito calcário, para a base do solo através da água ou recente ou um deslizamento de terra
de cobertura fina (geralmente inferior contida nos poros. Esta é quantificável tenha impossibilitado a drenagem.
a 30 m de espessura), constituído no campo por meio da medição da (Referência 3)
predominantemente de silte, com grãos água livre na superfície do solo ou por Infiltração – drenagem subterrânea
secundários cujos tamanhos variam medição direta da pressão por meio concentrada, indicada por fontes,
entre a argila e a areia fina. (Referência de piezômetros. A pressão de água sifões (bolsas d’água), lagoas ou áreas
3) intersticial é um fator chave nas falhas úmidas nas encostas abertas, e locais
Mitigação – atividades que reduzem ou de solo em encostas íngremes e opera de escoamento ao longo de cortes de
eliminam a probabilidade de ocorrência principalmente através da redução do estrada. As localizações destas áreas
de um desastre e (ou) atividades que peso da componente de resistência ao de concentrado fluxo subsuperficial
dissipam ou diminuem os efeitos cisalhamento do solo. (Referência 2) devem ser anotadas em mapas e perfis
emergenciais dos desastres, quando Água dos poros ou água intersticial – como locais potenciais de solo ativo e
realmente ocorrerem. (Referência 5) água subsuperficial nos interstícios ou instável. (Referência 2)
Deslizamento de lama (mudslide) – poros. (Referência 3) Falésia – escarpa/penhasco formado
termo impreciso, mas popular, cunhado Argila rápida – É a argila que perde pela ação das ondas, corroendo a parede
na Califórnia, E.U.A., frequentemente quase toda a sua força de cisalhamento costeira em direção à terra. (Referência
utilizado pelo público em geral e após ser perturbada; material que não 3)
pela mídia para descrever um vasto mostra nenhum ganho significativo Cisalhamento – deformação resultante
escopo de eventos, incluindo desde as na força depois da remodelagem. de tensões que causam partes contíguas
cheias carregadas de sedimentos aos (Referência 3) de um corpo a deslizarem um sobre o
deslizamentos. Não é tecnicamente Geologia / cartografia de outro, em direção paralela ao seu plano
correto. Por favor, consulte “fluxo de reconhecimento – análise geral, de contato. (Referência 3)
lama”, na entrada seguinte. (Referência exploratória ou levantamento das Lodo – mistura altamente fluida de
5) principais características de uma água e material finamente dividido, por
Fluxo de lama (mudflow) – termo região, geralmente preliminar a um exemplo, o carvão pulverizado e a água
geral para uma massa de relevo em levantamento mais detalhado. Pode por movimento de tubulações ou de
movimento e processos caracterizados ser feito em campo ou no escritório, cimento e água usados em fundações.
por um fluxo de massa contendo dependendo do grau de informação (Referência 3)
terra e grãos predominantemente disponível. (Referência 2) Mecânica de solos – aplicação dos
finos que possuem um alto grau de Relevo – diferença de altitude entre os princípios da mecânica e hidráulica
fluidez durante o movimento. O teor pontos altos e baixos de uma superfície para problemas de engenharia que
de água pode chegar até 60 por cento. da terra. (Referência 3) lidam com o comportamento e a
(Referência 3) Risco – probabilidade de ocorrência ou natureza dos solos, sedimentos e outros
Lençol freático empoleirado – águas grau esperado de perda, como resultado acúmulos não consolidados; o estudo
subterrâneas do aquífero separadas da exposição a um perigo. (Referência das propriedades físicas e da utilização
do corpo da base principal de água 4) dos solos, especialmente em relação
subterrânea por uma zona não saturada. Mecânica das rochas – ciência teórica à engenharia de estradas e fundações.
(Referência 3) e aplicada do comportamento mecânico (Referência 3)
Piezômetro – instrumento para medir a das rochas, que representa um “ramo da Extensômetro – sismógrafo projetado
altura da pressão (pressão piezométrica) mecânica preocupado com a resposta para detectar a deformação do terreno,
de canalizações, tanques ou solo – é de rochas aos campos de força de seu medindo o deslocamento relativo entre
um poço de diâmetro bem pequeno, ambiente físico.” (Referência 3). dois pontos. (Referência 3)
utilizado para medir a carga hidráulica
de água subterrânea em aquíferos.
(Referência 3)
Parte 1 – Glossário dos Termos Técnicos 79
Tensão – no sólido, força por unidade molham e encolhem a medida que se Referências para o Glossário
de área, atuando em qualquer superfície secam. São comumente conhecidos por
desta, expressa em quilos ou toneladas bentonita, ou solos de montmorinollita. 1. Creath, W.B., 1996, Homebuyers’
por polegada quadrada, ou dinas ou (Referência 1) guide to geologic hazards: An AIPG
quilogramas por centímetro quadrado; Tensão de tração – tensão normal issues and answers publication:
por extensão, a pressão externa que cria que tende a separar o material em Department of Natural Resources,
a força interna. (Referência 3) lados opostos do plano em que atua. Colorado Geological Survey,
“Sturzstroms” (termo alemão (Referência 3) Miscellaneous Publication (MI) no.
para avalanches rochosas) – uma Intemperismo – processo destrutivo 58, 30 p.
enorme massa de movimento rápido pelo qual a terra e materiais de
de sedimentos de rocha e poeira, rochas expostos à atmosfera sofrem 2. Chatwin, S.C., Howes, D.E.,
decorrentes da queda de um precipício desintegração física e decomposição Schwab, J.W., and Swanston, D.N.,
ou montanha, descendo encostas química, resultando em alterações na 1994, A guide for management of
íngremes e em terrenos baixos, muitas cor, textura, composição ou forma. landslide-prone terrain in the Pacific
vezes por vários quilômetros em Esses processos podem ser físicos, Northwest, 2d edition: Research
velocidades de mais de 100 km/h. químicos ou biológicos. (Referência 4) Branch, Ministry of Forests,
“Sturzstroms” são as mais raras e Intemperismo, diferencial – quando o Province of British Columbia,
catastróficas de todas as formas de desgaste de um lado a outro de uma Victoria, British Columbia, Crown
movimento de massa. (Referência 3) rocha ou da superfície exposta ocorre Publications.
Deslizamento subaquático (submarino) em ritmos diferentes, principalmente 3. Jackson, Julia A., ed., 1997,
– condições e processos ou aspectos devido a variações na composição e na Glossary of geology, fourth
de depósitos existentes ou situados resistência da rocha. Isso resulta em edition: Prepared by the American
no interior ou abaixo da água. Termo uma superfície irregular com saliência Geological Institute, Alexandria,
geralmente utilizado para especificar de material mais resistente. (Referência Virginia, USA, Doubleday.
um processo que ocorre tanto em terra 4)
4. Jochim, Candice L., Rogers,
(quando o deslizamento se estende sob Intemperismo, mecânico – processos
William P., Truby, John O., Wold,
a água) ou com início subaquático, físicos pelos quais as rochas expostas
Robert L., Jr., Weber, George, and
por exemplo, em afundamentos à mudança do tempo desintegram-
Brown, Sally P., 1988, Colorado
ou deslizamentos gravitacionais. se mecanicamente em solo. Esses
landslide hazard mitigation plan:
(Referência 3) processos incluem a mudança de
Department of Natural Resources,
Subsidência – afundamento ou porção temperatura (expansão e retração), ciclo
Colorado Geological Survey,
descendente da superfície da terra, gelo-degelo, e a atividade animal de
Bulletin 48.
sem restrição de taxa, magnitude ou construção de tocas. (Referência 4)
área envolvida. A subsidência pode Zoneamento – termo usado em geral, 5. Shelton, David C., and Prouty,
ser causada por processos naturais mesmo vagamente, para uma região Dick, 1979, Nature’s building
geológicos, como dissolução, de caráter mais ou menos latitudinal, codes, geology and construction in
compactação, ou retirada de lava fluida diferenciada de regiões vizinhas por Colorado: Department of Natural
abaixo de uma crosta sólida ou por alguma característica distintiva; por Resources, Colorado Geological
atividades humanas como a mineração exemplo, a zona tórrida da Terra, duas Survey Special Publication No. 48,
de subsolos ou o bombeamento de óleo zonas temperadas e duas zonas frias. 72 p.
ou água subterrânea. (Referência 3) Para estudos de risco, as zonas são
6. Turner, A. Keith, and Schuster,
Geologia superficial – de depósitos regiões geográficas ou denominações
Robert L., 1996, Landslides—
superficiais, incluindo solos; o termo diferenciadas por uma variedade de
Investigation and mitigation:
é por vezes aplicado ao estudo de diferentes critérios; por exemplo, zonas
National Research Council,
camadas de rochas sobre ou próximas à residenciais, zonas de baixo risco, zonas
Transportation Research Board,
superfície da Terra. (Referência 3) de alto risco. (Referência 3)
Special Report 247, National
Solos expansivos – são solos ou Academy Press, Washington, D.C.,
camadas macias de rocha que 673 p.
aumentam de volume à medida que se
80 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura A1. Partes de um deslizamento de terra. (Modificado de Varnes, 1978, referência 43).
Acúmulo ‑ volume de material Flanco ‑ material deslocado adjacente Escarpa principal ‑ superfície íngreme
deslocado, que se encontra acima da à lateral da superfície de ruptura. do solo estável, na borda superior do
superfície do terreno original. Direções de bússola são preferíveis para deslizamento, causada pelo movimento
Coroa ‑ material praticamente deslocado descrever os flancos, mas se esquerda e do material deslocado para longe
ainda em vigor e ao lado das partes direita forem utilizadas, se referem aos da área estável. É a parte visível da
mais elevadas da escarpa principal flancos vistos a partir da coroa. superfície de ruptura.
Depleção ‑ volume delimitado pela Pé / Base ‑ parte do deslizamento de Escarpa menor ‑ superfície íngreme do
escarpa principal, massa empobrecida e terra que tenha ultrapassado a ponta material deslocado pelo deslizamento
a superfície original do solo. da superfície de ruptura e recobre a de terra, produzida por movimento
Massa empobrecida, desestruturada superfície do terreno original. diferencial dentro da parte deslocada.
‑ volume de material deslocado que Topo / cabeça ‑ parte superior do Superfície original do terreno ‑
recobre a superfície de ruptura, mas deslizamento de terra ao longo do superfície do talude que existia antes da
subjaz à superfície do terreno original. contato entre o material deslocado e a ocorrência do deslizamento.
Material deslocado ‑ que se encontra escarpa principal. Superfície de separação ‑ parte da
fora de sua posição original na encosta, Corpo principal ‑ parte do material superfície do terreno original recoberta
devido ao movimento de deslizamento. deslocado pelo deslizamento de terra pela base do deslizamento.
Forma tanto a massa empobrecida que recobre a superfície de ruptura Superficie de ruptura ‑ superfície que
quanto o acúmulo. entre a escarpa principal e a ponta da forma (ou que formou) o limite inferior
superfície de ruptura. do material deslocado, abaixo da
superfície do terreno original.
Parte 2 – Partes de Um Deslizamento Descrição de Características / Glossário 81
Ponta ‑ a ponta da base mais distante do Topo da superfície de ruptura ‑ Fontes de informação sobre a
topo do deslizamento de terra. interseção (geralmente enterrada) nomenclatura:
Pé / Base ‑ parte menor, geralmente entre a parte inferior da superfície de
mais curvada na margem do material ruptura de um deslizamento de terra e a 1. CRUDEN, D.M., 1993, The
deslocado por um deslizamento de superfície do terreno original. multilingual landslide glossary:
terra; é o ponto mais distante da escarpa Zona de acúmulo ‑ área do deslizamento Richmond, British Columbia, Bitech
principal. na qual o material deslocado fica acima Publishers, for the IUGS Working Party
Topo ‑ ponto mais alto de contato da superfície do terreno original. on World Landslide Inventory in 1993.
entre o material deslocado e a escarpa Zona de depleção ‑ área do 2. VARNES, D.J., 1978, Slope
principal. deslizamento na qual o material movement types and processes, in
deslocado fica abaixo da superfície do Schuster, R.L., and Krizek, R. J. eds.,
solo original. Landslides‑Analysis and control:
Transportation Research Board Special
Report 176, National Research Council,
Washington, D.C., p. 11‑23.
82 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Causas Humanas
• Escavação do talude ou de sua base
• Uso de aterros instáveis para construções
• Carregamento sobre o declive ou sua crista, tais como aterros no topo de uma
encosta.
• Escoamento e enchimento (de reservatórios)
• Desmatamento, corte de árvores / extração de madeira e (ou) desmatamento
para cultivo; estradas instáveis de acesso a florestas.
• Irrigação de gramado
• Retenção de resíduos de mineração / minas
• Vibração artificial como cravação de estacas, explosões, ou outras vibrações
fortes no solo.
• Vazamento de água de infraestruturas, tais como tubulações de água ou
esgoto.
• Desvios (planejados ou não) de um rio, córrego ou corrente litorânea
através da construção de pilares, diques, barragens, etc.
Apêndice B
Introdução a Ferramentas de Avaliação de Deslizamentos
– Cartografia, Sensoriamento Remoto e Monitoramento
84 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Parte 1. Cartografia
Os mapas são ferramentas úteis e convenientes para a apresentação de
informações sobre riscos de deslizamentos. Eles podem apresentar vários tipos e
combinações de informações em diferentes níveis de detalhe. Mapas de risco usados
em conjunto com mapas de uso da terra são valiosos instrumentos de planejamento.
Geralmente, há uma abordagem em três etapas para cartografia de risco de
deslizamento. A primeira fase é a regional, ou cartografia de reconhecimento,
que sintetiza os dados disponíveis e identifica áreas problemáticas em geral.
Nesta escala regional (às vezes chamada de “pequena escala”), a cartografia é
normalmente realizada por uma Pesquisa Geológica Municipal, Estadual ou
Federal. A próxima etapa é a cartografia em nível comunitário, um programa
mais detalhado de cartografia da superficie e do subsolo, para áreas problemáticas
complexas. Por fim, são preparados mapas detalhados em grande escala para
localizações específicas. Se os recursos são limitados, pode ser mais prudente
ignorar a cartografia regional e se concentrar em algumas áreas preocupantes e
conhecidas. Discutiremos três tipos de cartografia geral; (1) Regional (2), em nível
comunitário, e (3) para local específico.
Cartografia Regional
A cartografia regional de reconhecimento fornece dados básicos para o
planejamento regional por meio de informações de base para a realização de
estudos comunitários mais detalhados em níveis e locais específicos, para definição
de prioridades para uma futura cartografia.
Tais mapas são geralmente simples inventários ou mapas de susceptibilidade,
direcionados, principalmente, para a identificação e delimitação de áreas regionais
com problemas de deslizamentos e as condições em que eles ocorrem. Eles se
concentram nessas unidades geológicas ou em ambientes nos quais movimentos
adicionais são mais prováveis. A extensão geográfica da cartografia regional
pode variar de municipal ou estadual a nacional, delineando um país inteiro. Esta
atividade depende muito da fotogeologia (a interpretação geológica de fotografia
aérea), do mapeamento para reconhecimento de campo, bem como do acervo de
informações e síntese de todos os dados geológicos pertinentes disponíveis. As
escalas de mapa nesse nível variam, geralmente, de 1:10.000 a 1:4.000.000 ou
mesmo escalas menores.
Parte 1 – Cartografia 85
Inventários de deslizamento
Os inventários indicam as áreas identificadas como tendo problemas por
processos de deslizamento (fig. B1). O nível de detalhe desses mapas varia entre
inventários de reconhecimento simples, que apenas delineiam grandes áreas onde
os deslizamentos parecem ter ocorrido, a inventários complexos, que retratam
e classificam cada um dos deslizamentos e mostram as escarpas, as zonas de
empobrecimento do solo e de acúmulo, os deslizamentos ativos e inativos, a
idade geológica, a taxa de movimento, e (ou) outros dados relevantes sobre a
profundidade e natureza dos materiais envolvidos no deslizamento.
Inventários simples dão uma visão geral da extensão de área da ocorrência
de deslizamentos e identificam áreas onde estudos mais detalhados devem ser
conduzidos. Inventários detalhados fornecem uma melhor compreensão dos
diferentes processos de deslizamento em uma área e podem ser usados para
regulamentar ou impedir o desenvolvimento em áreas sujeitas a deslizamento e para
ajudar na concepção de medidas corretivas. Eles também fornecem uma boa base
para a elaboração de mapas derivados, tais como aqueles que indicam estabilidade
de taludes, para classificação do perigo de deslizamento e para a identificação
de uso do solo. Uma maneira é utilizar a fotografia aérea com verificação de
campo seletivo, para detectar áreas de deslizamento e, em seguida, apresentar
as informações em forma de mapa, utilizando um formato codificado. Os mapas
mostram uma ou todas as seguintes características: estado de atividade, certeza da
identificação, tipos dominantes de movimento dos taludes, espessura estimada do
material no deslizamento, tipo de material e as datas ou períodos de atividade.
Nos Estados Unidos, os mapas regionais são mais frequentemente
preparados em uma escala de 1:24.000 (1:50.000 no Canadá) porque os mapas
topográficos de base, de alta qualidade, da U.S. Geological Survey, estão
amplamente disponíveis nessa escala e as fotografias aéreas têm, normalmente,
dimensões comparáveis. Outras escalas comumente utilizadas nos Estados Unidos,
por exemplo, incluem 1:50.000 (série County), 1:100.000 (série 30 x 60 minutos) e
1:250.000 (série 1 x 2 graus).
Figura B3. Parte do mapa de risco de deslizamento superficial que mostra parcialmente a
área de Magnólia, da cidade de Seattle, Washington, EUA.
Parte 2 – Sensoriamento Remoto e Outras Ferramentas que Mostram Características de Atividade de Deslizamento 89
Figura B5. Modelo esquemático que mostra satélite passando sobre uma área da superfície
da Terra (gráfico modificado a partir da Referência 41)
92 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura B7. Imagem LiDAR oblíqua do deslizamento de terra La Conchita, Califómia, EUA,
tirada em 2005. São mostrados os esboços dos deslizamentos de 1995 (azul) e 2005
(amarelo); as setas mostram exemplos de outros deslizamentos na área; a linha vermelha
contorna a escarpa principal de um deslizamento antigo que envolveu todo o barranco. (Foto
cedida por Airborne 1, El Segundo, Califomia, USA, e Randy Jibson, U.S. Geological Survey.)
94 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura B10. Exemplo de uma rede para medição e transmissão em tempo real de
dados do deslizamento. (Modelo esquemático da U.S. Geological Survey.)
Apêndice C
Introdução à Estabilização e Atenuação de Deslizamentos
Escavação
As Figuras C1, C2 e C3 fornecem uma visão transversal, de forma
esquemática, dos princípios gerais de escavação de declive, mostrando os efeitos e
consequências no local onde ocorre uma escavação da encosta. Estes gráficos são
de natureza geral e um engenheiro geotécnico ou outros profissionais especializados
devem ser sempre consultados, se possível.
Figura C2. Ilustração da diferença de estabilidade de carga, tanto no topo quanto na base de
um declive. (Gráfico por Rex Baum, U.S. Geological Survey)
98 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C3. Ilustração da importância da água na estabilidade de uma encosta. (Gráfico por
Rex Baum, U.S. Geological Survey.)
Parte 1 – Estabilização / Mitigação de Encostas de Terra 99
Terraços
Terraços são uma série de cortes em “degraus” em solo profundo ou parede
de rocha, com o propósito de reduzir as forças motrizes. São principalmente
eficazes na redução da incidência de falhas superficiais, mas geralmente não são
muito eficientes na melhoria da estabilidade global de taludes, para os quais outros
métodos são recomendados. Terraços são úteis no fornecimento de estruturas de
proteção sob penhascos propensos a quedas de rochas, no controle de drenagem
superficial ou no fornecimento de áreas de trabalho para a instalação de tubulações
e outras estruturas.
Por favor, veja Figura C12 para uma foto de terraços cortados em um talude.
Reforço de Declives
Contrafortes de Rochas
Um método simples para aumentar a estabilidade de taludes é aumentar
o peso do material na ponta da base, o que gera uma força contrária que resiste
ao deslizamento (fig. C5). Uma berma ou contraforte de terra pode facilmente
ser despejado na base de um declive. No entanto, o uso de rochas partidas ou
enrocamento, em vez de solo, é preferível, pois gera uma maior resistência de
atrito às forças de cisalhamento e também permite drenagem livre, o que reduz o
problema de impedimento do fluxo de águas subtrrâneas.
102 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Barragens reguladoras
Figura C7. Desenho esquemático e fotografia de uma barragem de controle com parede
de toras. (Gráfico de Referência 11, fotografia tirada em Trafoi, Itália, cortesia de “Erosion
Control,” Forester Communications, Santa Bárbara, Califórnia, EUA.)
106 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C8. Vista da barragem de controle de concreto à montante, com seção central de
baixo fluxo, no sul da Califórnia, EUA. (Fotografia por Controle de Inundações de Los Angeles
County District.)
Parte 1 – Estabilização / Mitigação de Encostas de Terra 107
Técnicas de Drenagem
A água no solo é provavelmente o contribuinte mais importante para o
início de um deslizamento. Não surpreende, portanto, que uma drenagem adequada
seja o elemento mais importante de um sistema de estabilização de encostas para
deslizamentos de terra existentes e potenciais. A drenagem é eficaz, pois aumenta
a estabilidade do solo e reduz o peso da massa de deslizamento. A drenagem pode
ser superficial ou subterrânea. Medidas de drenagem superficial requerem projetos
e custos mínimos e possuem benefícios substanciais para a estabilidade. São
recomendadas em qualquer tipo de deslizamento, potencial ou existente.
Os dois objetivos da drenagem superficial são: evitar a erosão da face,
reduzindo o potencial de queda da superfície, e evitar a infiltração de água no solo,
diminuindo a pressão da água subterrânea. A drenagem subterrânea também é
eficaz, mas pode ser relativamente cara. Assim, é essencial que a água do solo seja
identificada como uma causa do deslizamento antes que os métodos de drenagem
subterrânea sejam utilizados.
São os seguintes os vários métodos de drenagem:
Nivelamento Local
Suavização da topografia da superfície de deslizamento pode impedir que
a água da superfície acumule em poças ou conecte‑se com as águas subterrâneas.
Quaisquer depressões nas encostas que possam reter água parada devem ser
removidas. Preenchimento e vedação de grandes fendas na superfície por
terraplenagem do solo são técnicas benéficas que evitam que a água da superfície
atinja a superfície de deslizamento.
Valas e drenos
A drenagem superficial pode ser feita através de valas na superfície ou
drenos subterrâneos rasos (fig. C9). A drenagem de superfície é especialmente
importante na cabeça do deslizamento, onde um sistema de corte de valas que
atravessam o muro de cabeceira, e drenos laterais para condução do escoamento
em torno da borda do deslizamento é eficaz. A inclinação da vala deverá ser de pelo
menos 2%, para garantir fluxo rápido distante da área instável.
O tipo mais simples de drenagem subterrânea é a trincheira lateral construída
acima de uma encosta instável. Valas de drenagem são econômicas somente
para solos rasos sobre rochas ou sobre terreno impermeável. As valas devem ser
escavadas até a base do solo superficial para interceptar qualquer fluxo de água
subterrânea ao longo do plano de falha. Elas devem ser preenchidas com cascalho
grosso para evitar desprendimento dos fiancos da vala. Um melhoramento é utilizar
um tubo de drenagem e aterrar a área, em seguida, comcascalho groso.
108 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Muros de Contenção
Para todos os tipos de muros de contenção, é essencial uma drenagem
adequada ao longo de toda a estrutura, pois pressão muito alta da água do solo
pode acumular‑se por trás da parede, levando ao seu fracasso. A drenagem pode
ser assegurada apenas por meio de preenchimento de material graúdo e material de
fundação.
Grades de Madeira
Muros de Gabiões
Estacas
Figura C17. Uma parede de estaca preenchida por concreto. Uma rede de reforço foi
colocada sobre a superficíe das estacas, preparando‑as para pulverização de concreto.
A localização é Brighton, em Melbourne, Austrália. (Foto por cortesia de Basement
Construction Services, Victoria, Austrália).
Parte 1 – Estabilização / Mitigação de Encostas de Terra 119
Tipos de sementes
Húmus
Figura C19. Distribuição mundial dos programas ativos de capim Vetiver. Gráfico do site da
internet sobre capim‑vetiver (http://www.vetiver.org).
Figura C20. Esta fotografia mostra medidas contra quedas de rochas que incluem muros
de contenção de concreto maciço, paredes de gabião (ambos os tipos de muro estão no
topo da fotografia), cercas de seleção, tratamento de pedregulhos e pilares. (Foto é o túnel
de Pen‑y‑Clip em uma rodovia no Norte do País de Gales, Reino Unido. Fotografia por Dave
Giles, Grupo de Consultoria em Geologia de Engenharia, da Universidade de Portsmouth,
Reino Unido).
Parte 2 – Técnicas de Mitigação / Estabilização de Taludes Rochosos 125
Valas de Retenção
Amplas valas de captura são eficazes na contenção de quedas de rochas, mas
as valas devem ser concebidas considerando a geometria da encosta, sendo melhor
consultar um profissional sobre as especificações. O fundo da vala de captação
deverá ser coberto com terra solta para evitar que as rochas saltem ou se quebrem
em pedaços ou fragmentos. Se não houver espaço suficiente para a construção de
uma vala grande, conforme especificado, então uma combinação de valas menores,
com um gabião ou um muro de rocha ao longo de suas bordas descendentes, pode
ser usada.
Figura C21. Exemplo de malha de arame colocada sobre uma encosta rochosa para conter
as rochas que possam vir abaixo.
Figura C23. Exemplo de uma “cortina para rochas” que controla as quedas rochosas em
áreas problemáticas. (Fotografia por Doug Hansen, High Angle Techriologies, lnc).
128 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Muros de Contenção
Os muros de contenção podem trabalhar de forma muito parecida com
as descritas para as técnicas de estabilização de taludes de terra para manter os
fragmentos de rochas fora de determinada área. Eles são semelhantes às cercas
contra quedas de rochas, mas, na maioria dos casos, são mais robustos e fortes. Os
muros de contenção podem ser feitos de aço, concreto, madeiras ou outros materiais
e devem ser ancorados de maneira apropriada para não tombarem durante as quedas
de rochas.
Figura C24. Galpões contra rochas em Pitquah, British Columbia, Canadá. Estes galpões
cercam seções de uma estrada de ferro, protegendo‑a contra quedas e avalanches de rocha.
(Foto por John Carter, www.trainet.org).
Parte 2 – Técnicas de Mitigação / Estabilização de Taludes Rochosos 129
Figura C25. Exemplo de um galpão aberto, na Nova Zelândia (Foto por cortesia de Richard
Wright, alpinista).
Escavação de Rochas
Terraços
Terraços horizontais escavados na superfície de rochas estão entre os tipos
mais eficazes de proteção contra quedas. Além de interceptar a queda, os terraços
reduzem as forças tensionais na superfície da rocha e reduzem as taxas de erosão
superficial, reduzindo, também, as taxas de ocorrência de quedas. No entanto, têm
pouco ou nenhum efeito em caso de falha potencial profunda da rocha.
Terraços podem ser construídos em ângulos mais acentuados do que a
inclinação geral do talude, pois as rochas que caírem permanecerão, provavelmente,
na bancada (fig. C28). Devem‑se evitar bancos em ângulos verticais, pois podem
resultar em rachaduras por tensão, saliências perigosas e quedas excessivas. A
colocação de terraços nas faces deve ser evitada na base onde as camadas sejam
formadas de rochas mais fracas, nas zonas de rochas fraturadas ou nas zonas que
vertem água. É recomendada a largura mínima de 4 m para as bancadas e todos os
bancos devem ter valas de drenagem para desviar a água para longe da encosta.
Escamação e Desbaste
Blocos de rocha soltos, instáveis e (ou) pendentes, que representam um
perigo a passagem do tráfego e (ou) de pedestres, podem ser removidos por
redução ou corte. Escamação é a remoção de blocos soltos pelo uso de barras de
alavanca de mão (pés de cabra) e pequenas cargas explosivas. Desbaste envolve
algumas perfurações e detonação de explosivos leves, seguidas de raspagem, para
remover as áreas de maior perigo ou rochas pendentes potencialmente perigosas. As
necessidades de raspagem e limpeza podem ser reduzidas com o uso de detonação
controlada, mas explodir nem sempre é viável. As rochas pendentes podem ser
removidas ou desbastadas até atingirem a parte estável da face rochosa. Operações
de escamação são geralmente realizadas por trabalhadores suspensos por cabos ou
outros meios, utilizando barras de alavanca (pés de cabra), macacos, e explosivos.
Estas operações podem ser demoradas e caras (às vezes perigosas) e nas encostas
ativas poderá ter necessidade de repetição de poucos em poucos anos, ou conforme
necessário. A escamação e o desbaste são trabalhos altamente qualificados, podendo
ser perigosos; as equipes devem ser treinadas e os trabalhos, realizados por
profissionais.
Fotografias C29 e C30 mostram operações de escamação e desbaste de
rocha.
Figura C30. Martelo hidráulico (britadeira) em ação, derrubando rocha da encosta. Esta
é uma alternativa para por rochas abaixo. (Fotografia do Departmento de Transportes de
Washington, EUA).
Parte 2 – Técnicas de Mitigação / Estabilização de Taludes Rochosos 133
Figura C31. Operação com concreto projetado para estabilização de uma área de quedas de
rochas em Wolf Creek Pass, Rocky Mountains, Colorado, EUA. (Fotografia do Departamento
de Transportes do Colorado).
134 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C32. Fotografia em close de uma âncora em uma superfície de rocha, com malha
sobre ela para maior proteção. A âncora é fincada na rocha a cerca de 5 metros (15 pés) de
profundidad.
Figura C34. Declives que sofreram queimadas e fluxos de detritos que ocorreram logo após o
incêndio em Lytle Creek, California, EUA. (Fotografia por Sue Carmon, U.S. Geological Survey).
Figura C35. Fotografia aérea de uma bacia de fluxos de detritos, construída no fundo de uma
encosta, em San Bernardino, Califórnia, EUA. (Fotografia por Doug Morton, US Geological
Survey).
Barragens Reguladoras
Veja Apêndice C, “Parte 1. Estabilização / Mitigação de encostas de terra”,
para uma explicação de como as barragens reguladoras também podem ser usadas
para reduzir os riscos de fluxos de detritos.
138 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C37. Um muro de contenção de fluxo de detritos na Bacia Kamikochi, Japão. (Foto
cortesia de Gonçalo Vieira).
Atenuação de Fluxos de Detritos para o Proprietário 139
Figura C38. Esquema de uma casa desprotegida, Figura C39. Esquema de uma casa com as
no caminho de um fluxo de detritos e (ou) estruturas de proteção em vigor. Mostra a construção
deslizamento de lama. Métodos sugeridos de cercas e de retenção de detritos. Devido à força
para reduzir os riscos de fluxos de detritos são extrema de impacto associado a alguns fluxos
mostrados na Figura C39. de detritos, estas e outras estruturas devem ser
cuidadosamente projetadas e construídas.
140 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Nota: O material ideal para os sacos é areia e estes não devem ser preenchidos
com aparatos de madeira, papel, lixo ou outros materiais. Os sacos de juta
deterioram‑se quando expostos durante vários meses ao processo contínuo de
molhagem e secagem. Se os sacos são colocados muito cedo, podem não ser
eficazes quando necessário.
142 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C42. Esquema de uma colocação típica de sacos de areia para proteção pessoal
(situações individuais podem variar em “layout” e orientação).
Figura C43. Sacos de areia ajudam no direcionamento de detritos para longe de edifícios.
Figura C44. Controle de fluxos ou tempestade de detritos nas ruas, com sacos de areia.
Figura C46. Isolamento de porta deslizante de vidro ‑ Controle do fluxo para evitar que escoe
pela porta deslizante de vidro, usando sacos de areia e lonas plásticas.
Atenuação de Fluxos de Detritos para o Proprietário 145
Figura C49. Este é um defletor de madeira, que é mais permanente do que sacos de areia.
Figura C51. Uma alternativa aos defletores de madeira ‑ pedaços de postes de telefone ou
dormentes de ferrovias.
Figura C52. Barreira removível para garagem. Os postes de metal podem ser removidos e
repostos conforme necessário, uma vez que se encaixam e deslizam em tubos de concreto,
no chão.
148 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Coisas básicas para lembrar com referência à Atenuação e Reação a Fluxos de Detritos e
Outras Reações a Perigos/Emergências de Deslizamentos
Sacos de areia, ferramentas e folhas de plástico podem ser úteis durante chuvas fortes (o plástico pode ser usado para
proteger e impermeabilizar alguns itens). Mantenha‑os disponíveis, sempre que possível. Ajude os outros na comunidade
que podem não ser capazes de reforçar as suas habitações, tais como os deficientes ou idosos. Eduque as crianças em
técnicas de mitigação. As técnicas de mitigação são mais eficazes quando usadas por tantos membros quanto possível de
uma comunidade.
• Sugere‑se que encostas ou áreas de drenagem não sejam alteradas sem aconselhamento de peritos. É
sempre melhor consultar um profissional ou alguém com experiência neste tipo de trabalho.
• Drenagem normal de propriedade geralmente segue para a rua ou para um dispositivo de drenagem
aprovado. Quando fizerem reformas, os proprietários ou outros devem evitar prejudicar os padrões
de fluxo criados quando a propriedade foi originalmente classificada. Obstruções, tais como pátios,
calçadas e pavimentos, não devem ser colocadas em valas laterais a menos que um método alternativo
de drenagem seja fornecido.
• Exponha ilustrações na forma de diagramas esquemáticos simples em lugares públicos, para ajudar as
pessoas a melhorar suas técnicas de mitigação.
• É aconselhável ter um plano de emergência para a evacuação e reassentamento das populações que são
ameaçadas por riscos de deslizamento. Em geral, é melhor ter a certeza que todos têm conhecimento
destes procedimentos.
Parte 3 – Mitigação de Fluxo de Detritos 149
Isso pode ser feito mediante o desvio de água proveniente de correntes para
reservatórios a montante ou para sistemas de irrigação. Embora geralmente seja
apenas uma medida temporária, o desvio pode reduzir o enchimento do lago, o
suficiente para permitir a aplicação de uma solução em mais longo prazo.
Figura C53. O deslizamento Thistle, em Utah, EUA, 1983. Este deslizamento represou um rio, que formou um lago (chamado de “Thistle
Lake”) por trás da represa, inundando a cidade de Thistle. (Fotografia por Robert L. Schuster, US Geological Survey)
152 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Figura C54. Vista em close das medidas de atenuação tomadas para reduzir o impacto da
barragem de deslizamento Thistle, mostrando o túnel para o rio e o túnel para desvio da
cheia. (Fotografia em cortesia do Utah Geological Survey)
Figura C55. Fotografia com anotações que mostram a reativação e ampliação da barragem
de deslizamento Thistle. (Fotografia em cortesia do Utah Geological Survey).
Apêndice D
Exemplo de Informação de Segurança para
Deslizamentos/Fluxo de sedimentos
154 O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de Deslizamentos
Índice
A Fluxo de Terra, vi, xi, 7, 30, 31, 32, 51 P
abaixamento, 13 Fratura, 19, 77, 118, 119, 130 Perfuração, vii, 60, 61, 85, 109, 150
água intersticial, 77, 78 furos de sondagem, 34 Plano de estratificação / acamamento,
alicerce, 89, 96 76
Atenuação, viii, ix, 95, 139, 148, 149, G
152 Geologia superficial, 79, 89 Q
Avalanche de Detritos, vi, xi, 28, 29, 49 Geomorfologia, 59, 77 queda rochosa, v, xi, 8, 9, 10, 125
Glossário, viii, xv, 6, 60, 76, 80 queimadas, xiv, 22, 23, 38, 41, 135, 136
B Grades de Madeira, ix, 112
Bacia de sedimentos/detritos, 76 R
Barragens reguladoras, viii, ix, 76, 103, H Reconhecimento Aéreo, vii, 59
104, 137, 150 Hidráulico, xiii, 77, 132 Reconhecimento de Campo, vii, 60, 84
Hidrologia, 77 Relevo, 49, 78
C risco, vii, viii, xii, 7, 9, 10, 14, 23, 26,
cartografia, viii, 78, 83, 84, 85, 88 I 37, 39, 47, 52-57, 59-68, 70, 71, 78. 79,
cisalhamento, xi, 8, 13, 22, 30, 31, 33, Imagem e Perfis Acústicos, vii, 61 84, 85, 88-90, 124, 135-137, 139, 148,
36, 78, 101, 112, 118 infiltração, 11, 43, 78, 107, 111 149, 155
Coluvião, 76 InSAR, xii, 73, 74, 90, 92 Risco geológico, 77
Instrumentação, vii, viii, 60, 94, 150
D Intemperismo, 79, 82 S
Deslizamento de lama, 78, 139 Inventários de deslizamento, viii, 77, segurança, 1, 49, 62-64, 76, 96, 97, 114,
Deslizamento em delta frontal, 76 85, 86 153
drenos, ix, 99, 107, 109 Semeadura Hidráulica, 119
L Sensoriamento Remoto, vii, viii, 59, 83,
E Lahar, vi, xi, 25, 26, 27, 28, 44, 46, 77 89, 93
emergência, 2, 47, 63, 139, 148, 150, Lençol freático empoleirado, 78 Sifão, 78
154, 155 Leque aluvial, 76 sistema de informação geográfica, 77,
Enchimento com material leve, viii, 99 liquefação, xi, 19, 20, 21, 25, 30, 43, 77 89
Epicentro, 76 litologia, 76, 77 Solo expansivo, 78
Escavação, viii, ix, 45, 66, 82, 96, 97, Lodo, 78 Solos expansivos, 79
99, 100, 118, 130, 150 Loess, 78 Sturzstroms, 79
Escorregamento rotacional, v, xi, 7, 13,
14, 15, 22 M T
Escorregamento Translacional, v, xi, 7, Mapa geológico, 77, 87 Tensão de tração, 79
16, 17, 18 Mapas de Risco de Deslizamento, viii, Terraços, viii, ix, xiii, 100, 130
Espalhamento Lateral, v, xi, 19, 20, 21, 77, 85, 88 tombamento, v, xi, xv, 11, 12, 43, 48
39, 40 Mapas de Susceptibilidade ao
Estudos geofísicos, vii, 60, 77 Deslizamento, viii, 85, 87 Z
Mecânica das rochas, 78, 96 zoneamento, 45, 79, 85
F Mecânica de solos, 78
falésia, 48, 67, 76, 78, 124 Medição geodésica, 76
fator de segurança, 76, 97, 114 Medidor eletrônico de distância, 76
Fluxo de detritos, vi, viii, ix, xi, xiv, 8, Modelo Digital de Elevação, 76, 90, 93
16, 22, 23, 24, 25, 36, 41, 61, 64, 67, monitoramento, vii, viii, 12, 14, 26, 46,
76, 105, 129, 135, 136, 138, 139, 140 59, 61, 66, 83, 94
Fluxo de lama, 78, 155 muro de contenção, xiv, 99, 116, 138
Manuscrito aprovado para publicação em 5 de maio de 2008.
Editado por Mary Kidd.
Projetado e elaborado por Margo VanAlstine com a ajuda de Carol Quesenberry
Para mais informações sobre esta publicação, contatar: Team Chief Scientist, USGS
Geologic Hazards
Box 25046, Mail Stop 966
Denver, CO 80225
(303) 273-8579
Cheias
Pedro Pereira
1. Introdução 1
2. Sistemas fluviais 2
2.1. Geometria e dinâmica dos canais fluviais 2
2.2. Tipos de canais 5
2.3. Erosão fluvial 6
2.4. Depósitos fluviais 7
2.5. Sistemas de drenagem 8
8. Bibliografia 27
1. Introdução
1
escoamento superficial; as bacias hidrográficas de pequena dimensão, com tempos de
concentração reduzidos; a coincidência das pontas de cheia com períodos de preia-mar;
a confluência de vários cursos de água em áreas próximas de fraco declive, dificultando
o escoamento fluvial, como é o caso da bacia de Loures (concentração das águas
provenientes do Rio Trancão e dos seus quatro principais afluentes (Rio de Loures e
Ribeiras de Odivelas, Fanhões e Alpriate). Os factores antrópicos são essencialmente:
descargas de barragens, destruição do coberto vegetal, impermeabilização dos solos,
estreitamentos artificiais dos canais fluviais (construções nas margens dos leitos
menores e ocupação indevida dos leitos de cheia); obstáculos perpendiculares ao sentido
do escoamento; falta de limpeza dos canais fluviais e vazamento indevido de lixos;
entulhamento ou encanamento dos cursos de água e sistemas de águas pluviais e
residuais inadequados.
2. Sistemas fluviais
2
Figura 2 – Perfis longitudinais dos rios Tejo e Douro e dos seus afluentes (DIAS, 1990).
O caudal (Q) de um rio é a quantidade de água que passa num ponto qualquer do rio
num determinado tempo: Q = A x V [Caudal (m3/s) = Área da secção transversal
(largura x profundidade média) (m2) x velocidade média (m/s)].
Quando o caudal aumenta, o rio tem de ajustar a sua velocidade e área da secção
transversal para manter o equilíbrio. O caudal aumenta à medida que mais água é
adicionada ao rio, proveniente da chuva, de afluentes ou da água subterrânea. Com o
aumento do caudal, aumentam também a largura e a profundidade do canal e a
velocidade da corrente. O aumento da profundidade e largura do rio pode fazer com que
o rio transborde o seu canal, originando inundações.
3
As partículas de rocha e iões dissolvidos transportados pelo rio constituem a carga
do rio, a qual pode ser dividida em três partes:
− Carga suspensa – partículas que são transportadas no corpo de água. A
dimensão destas partículas depende da sua densidade e da velocidade da
corrente. Correntes de maior velocidade permitem ao rio transportar partículas
maiores e mais densas. É a carga suspensa que confere aos rios o aspeto
lamacento e a cor castanha ou avermelhada.
− Carga de fundo – partículas maiores e mais densas que se mantêm a maior
parte do tempo no fundo do canal, movendo-se por saltação, em resultado das
colisões entre partículas e dos remoinhos causados pela turbulência. As
partículas podem passar da carga de fundo para a carga suspensa, dependendo
das alterações da velocidade da corrente,
− Carga dissolvida – iões introduzidos na água por alteração química das rochas.
Esta carga é invisível pois os iões estão dissolvidos na água. A carga dissolvida
é composta principalmente por HCO-3, Ca+2, SO4-2, Cl-, Na+, Mg+2 e K+. Estes
iões são transportados até aos oceanos conferindo-lhe a sua salinidade
característica. Os rios que têm origem subterrânea profunda têm geralmente
maior carga dissolvida do que aqueles com origem na superfície da Terra.
Ao longo do curso de um rio, no sentido jusante, verificam-se modificações
importantes (fig. 4):
− O caudal aumenta, como referido acima, porque a água vai sendo acrescentada
pelos afluentes e por água subterrânea.
− Com o aumento do caudal, aumentam também a largura e a profundidade do
canal e a velocidade da corrente do rio.
− O declive do canal do rio diminui.
4
Poderá parecer estranho que a velocidade da corrente aumente para jusante, uma vez
que ao observarmos um rio de montanha, próximo da nascente, onde a inclinação é
elevada, ele parece deslocar-se a velocidade maior do que um rio a fluir numa
inclinação suave. Mas a água nas zonas de cabeceira flui de modo turbulento, devido
aos grandes blocos que compõem o fundo do canal. Se o fluxo é turbulento, então a
água demora mais tempo a percorrer a mesma distância linear, e assim a velocidade da
corrente é menor (fig. 4).
As cheias ocorrem quando o canal do rio se torna demasiado elevado para se
acomodar ao canal do rio normal. Quando o caudal se torna demasiado elevado, o rio
alarga o seu canal galgando as suas margens e inundando as áreas deprimidas adjacentes
ao rio. As áreas que ficam inundadas denominam-se por planície aluvial.
Canais retilíneos – Rios com canal retilíneo são raros. Quando ocorrem, o canal é
geralmente controlado por zonas de fraquezas linear da rocha subjacente, como falhas
ou diáclases. Contudo, mesmo em troços de rio retilíneos, a água flui do modo sinuoso,
com a parte mais funda do canal a ondular de uma margem à outra do canal (fig. 5). A
velocidade é máxima na zona onde a profundidade é maior; nestas áreas, o sedimento é
transportado facilmente, originando zonas mais profundas. Onde a velocidade é baixa, o
sedimento é depositado, formando barras. A margem mais próxima da zona de maior
velocidade é usualmente erodida.
5
Figura 6 – Diagrama esquemático de um canal meandriforme (NELSON, 2006).
6
2.4. Depósitos fluviais
Como a velocidade da corrente num rio varia com a posição no canal, se o sedimento
é arrastado para zonas de menor velocidade, parte deste deixa de estar suspensão e é
depositado. Outras alterações bruscas da velocidade que afetam a totalidade do rio
podem também ocorrer. Por exemplo, se o caudal aumentar subitamente, como acontece
durante uma cheia, o rio galgará as suas margens e ocupará a planície aluvial onde a
velocidade diminui bruscamente. Deste processo resulta a deposição de diques naturais
(levees) e planícies aluviais (floodplains). Se a inclinação do rio varia bruscamente ao
desaguar numa bacia de fundo plano (bacia oceânica ou lago), a velocidade da corrente
diminuirá bruscamente e o sedimento que já não se pode ser transportado será
depositado, originando estruturas, como leques aluviais e deltas.
Planícies aluviais e diques naturais – Quando um rio galga as suas margens,
durante uma cheia, a velocidade desta será inicialmente elevada, mas diminuirá quando
a água começar a fluir sobre o pendor suave da planície aluvial. Devido à brusca
redução da velocidade, o sedimento mais grosseiro suspenso é depositado ao longo da
margem, originando diques naturais (fig. 8). Os diques naturais conferem alguma
proteção contra as inundações porque a cada cheia o dique fica mais alto e o caudal tem
de ser sucessivamente mais elevado para poder ocorrer a próxima cheia.
7
Leques aluviais – Quando um rio de montanha atinge um vale de fundo plano,
ocorre brusca redução na inclinação do canal e na velocidade da corrente. Os
sedimentos transportados no rio serão rapidamente depositados ao longo do vale, num
leque aluvial (fig. 9). À medida que a velocidade do rio de montanha se reduz, o rio fica
bloqueado pelo excesso de sedimento e divide-se em numerosos canais distributários.
Deltas – Quando um rio entra num corpo de águas paradas, a súbita descida da
velocidade causa deposição de sedimento num depósito denominado delta (fig. 9). Os
deltas são depositados nas zonas costeiras, mas apenas resistem se as correntes
oceânicas não forem suficientemente fortes para remover o sedimento. Como a
velocidade da corrente diminui ao entrar no delta, o rio fica bloqueado com sedimento e
as condições ficam semelhantes às dos canais anastomosados mas, em vez de entrançar,
o canal do rio divide-se em muitos canais menores, denominados canais distributários.
8
Figura 11 – Mapa representando as maiores bacias hidrográficas do mundo com localização dos
respetivos deltas (SKINNER & PORTER, 1987).
9
caudal provoca o transbordo do canal, a água ocupa a planície aluvial. Neste capítulo
discutiremos a principal causa de cheias que é a precipitação intensa num curto período
de tempo.
Quando a chuva atinge a superfície do solo, alguma da água evapora e regressa à
atmosfera, alguma infiltra-se no solo e entra no sistema de águas subterrâneas e alguma
é interceptada por depressões e vegetação. A que permanece na superfície e flui para
os rios é denominada escorrência superficial. Assim, no geral:
Escorrência superficial = Precipitação - Infiltração - Intercepção - Evaporação
A evaporação tende a ser o menor destes valores, particularmente em períodos de
tempo curtos, e assim a precipitação, a infiltração e a intercepção são as variáveis mais
importantes que determinam a escorrência e eventual quantidade de água que entra nos
rios.
10
locais podem transbordar o canal, com pouco ou nenhum efeito nas regiões a
jusante. Neste tipo de cheias, o nível da água sobe rapidamente mas também desce
rapidamente após o fim da tempestade. Os tempos de resposta são medidos em
dias.
Cheias rápidas (flash floods) ocorrem quando a taxa de infiltração é baixa e chove
intensamente durante períodos de tempo curtos; têm tempos de resposta muito
curtos (estes podem ser apenas de algumas horas). Como ocorrem sem tempo de
aviso, as cheias rápidas são as mais perigosas para o homem.
− Cheias de jusante (ou de planície) – Se ocorre precipitação intensa durante um
período de tempo longo, numa área vasta, podem ocorrer cheias de jusante. Os
tempos de resposta são normalmente mais longos, com o caudal dos rios maiores
a ser continuamente aumentado pelos respetivos afluentes. Estas cheias
prolongam-se durante períodos de tempo longos e afetam tanto os rios maiores
como os seus afluentes.
3.2. Infiltração
Os diques naturais tendem a ser relativamente baixos e não oferecem muita proteção
contra grandes caudais porque podem ser facilmente galgados. Os diques feitos pelo
homem, como os do Rio Mississipi (visíveis ao longo de grande parte do seu percurso),
são muito mais altos e são construídos para evitar cheias resultantes de caudais elevados
no rio. A maior parte destes diques são construídos de fragmentos de rocha e solo e
cobertos de betão no lado virado para o rio. Estes diques dão muitas vezes um falso
11
sentimento de segurança àqueles que habitam na planície aluvial que o dique protege,
porque a cedência desses diques pode provocar cheias, quer porque o caudal pode ser
suficientemente forte para galgar os diques quer porque estes podem enfraquecer e
ceder. Os diques podem ceder devido a três factores principais:
− Galgamento dos diques – Se o caudal elevado no rio originar nível de água mais
alto do que qualquer ponto do dique, a água irá galgar o dique e começará a fluir
para a planície aluvial. Porque a inclinação inicial do rio para a planície aluvial é
relativamente elevada, a velocidade da corrente a galgar o dique também será
elevada. Velocidades elevadas podem originar taxas de erosão elevadas e, assim,
o dique inicialmente galgado será rapidamente erodido e será criado um canal
através deste.
− Escavação e derrocada de diques – Caudal mais elevado no rio, levará a
velocidades mais elevadas com o rio a tentar aumentar a sua largura e
profundidade. Velocidades mais elevadas podem levar a maiores taxas de erosão
ao longo do lado interior dos diques e assim originar a escavação e a derrocada do
dique para o rio. Chuva intensa ou percolação de água para o interior do dique a
partir do rio pode aumentar a pressão de fluidos no dique e levar à derrocada do
lado exterior do dique. Se as drrocadas se estenderem ao topo do dique, grandes
secções do dique podem cair na direção da planície aluvial, reduzindo a altura do
dique e tornando mais fácil o seu galgamento.
− Aumento da pressão de fluidos sob os diques – O aumento do caudal no rio vai
provocar a subida do lençol freático no dique. Isto aumenta a pressão de fluidos e
pode forçar a passagem de água através do dique e surgir como nascentes na
vizinha planície aluvial. Se se desenvolver uma taxa elevada de fluxo devido à
crescente pressão de fluidos, então pode desenvolver-se uma passagem de alta
velocidade para a planície aluvial e minar o dique provocando o seu colapso.
12
pelos calcários carsificados do Centro do País (tab. 1) apresentam evidente ponderação,
que contribui para diminuir a irregularidade e os picos de cheia.
As cheias progressivas são causadas por longos períodos chuvosos (que podem
durar semanas) relacionados com a permanência da circulação zonal de oeste. Neste
tipo de circulação, a Península Ibérica é varrida por chuvas frontais, provocadas pela
passagem sucessiva de depressões subpolares e sistemas frontais a elas associados.
Estas depressões, que circulam normalmente à latitude das Ilhas Britânicas, encontram-
se, neste caso, a latitudes muito baixas (40º a 45° N).
As cheias rápidas devem-se a curtos períodos chuvosos, mas de grande intensidade,
relacionados fundamentalmente com depressões convectivas: gotas de ar frio
particularmente activas ou depressões resultantes da interação das circulações polar e
tropical.
As gotas de ar frio são muito frequentes em Portugal Continental. Estas depressões
resultam de invasões de ar frio (polar ou árctico) em altitude, que se estendem até
latitudes subtropicais (40º a 30° N). Elas são mais frequentes na área compreendida
entre o Sudoeste da Península Ibérica, a Ilha da Madeira e o Arquipélago dos Açores,
afetando assim particularmente a região Sul do pais. As chuvas de maior intensidade
ocorrem quando existe forte gradiente vertical da temperatura entre a advecção fria em
altitude e o ar quente e húmido da baixa troposfera, que fornece o vapor de água
necessário às condensações abundantes. A temperatura das águas oceânicas é assim
importante. O Outono é a época do ano mais problemática não só porque o oceano tem
maior quantidade de calor armazenada, mas também porque o enfraquecimento do
Anticiclone dos Açores e a intensificação da circulação meridiana favorece a
individualização das gotas frias.
As depressões convectivas que resultam da interação da circulação polar e tropical
têm o máximo de frequência de ocorrência em Novembro, embora com grande
variabilidade interanual. O seu aparecimento depende não somente da intensidade
convectiva da Convergência Intertropical, mas também da sua interligação com as
invasões de ar frio suficientemente grandes para atingir as latitudes subtropicais.
A construção que invade as planícies aluviais reduz o espaço disponível para a água
circular e pode aumentar a altura das inundações futuras (fig. 14).
13
após antes aumento da altura de inundação
Figura 14 – Diagrama esquemático mostrando o aumento do nível da água
devido a cheias antes e depois da construção na planície aluvial (DIAS, 2000).
14
rio, interferir com os ecossistemas, perturbar os aquíferos e agravar os problemas de
poluição. Paradoxalmente verifica-se que a canalização, apesar de minimizar as cheias
nas áreas adjacentes, pode amplificar as cheias nas zonas a jusante.
Os canais fluviais naturais constituem ecossistemas Os canais artificiais constituem ecossistemas a que a vida
com vida animal e vegetal perfeitamente adaptada. As animal e vegetal que existia previamente não está
curvas do rio constituem elementos muito eficazes de adaptada. A ausência de curvas, de vegetação natural e de
dissipação da energia do fluxo. Em caso de cheia a sedimentos que ainda não atingiram o equilíbrio com estas
velocidade de propagação é amortecida por estas condições propicia grande velocidade de propagação de
curvas, pela vegetação e pelos sedimentos grosseiros. cheias.
Figura 16 – Comparação de canais fluviais naturais e artificiais (DIAS, 2000).
15
4.4. Os efeitos das barragens
16
Deixou de haver cheias extraordinárias (como as que ocorriam no século passado),
verificando-se cheias que provocam danos significativos apenas quando há
descoordenação entre a gestão das barragens portuguesas e espanholas. A drástica
redução dos caudais sólidos (principalmente no que se refere a areias) e a diminuição da
frequência e da intensidade das cheias (que amortece muito a transferência de
sedimentos grosseiros dos estuários para o litoral e para a plataforma continental) são,
em grande parte, responsáveis pela erosão costeira que se verifica no litoral português.
A situação tende a agravar-se com a construção de novas barragens (algumas delas
muito grandes, como é o empreendimento do Alqueva, que deu origem ao maior lago
artificial da Europa) e a concretização do plano hidrológico espanhol que inclui toda
uma política de transvases entre bacias hidrográficas (fig. 18).
17
período de Inverno. Braga, Barcelos, Guimarães, Vieira do Minho, Terras do Bouro e
Esposende são alguns dos municípios com núcleos urbanos mais afetados.
Rio Ave – Tanto por influência do Ave, como do seu afluente Vizela, alguns
concelhos da bacia são afetados por cheias, normalmente de curta duração, dada a
relativamente reduzida dimensão da bacia.
Rio Leça – O troço final deste rio, na zona da Maia, é o mais vulnerável a
inundações, normalmente com picos elevados mas curta duração.
Rio Douro – É um rio que origina, nalguns troços, grandes cheias cíclicas, com
grande impacte no tecido socioeconómico das populações ribeirinhas. Localidades
como Porto, Vila Nova de Gaia e Peso da Régua, no rio Douro, e Chaves e Amarante,
no Tâmega, são frequentemente assoladas por cheias impetuosas. A sucessiva
construção de barragens na bacia, principalmente no território espanhol, não veio
introduzir alterações significativas no regime das cheias, pois as suas albufeiras
possuem uma capacidade de encaixe reduzida, impedindo-as de exercer o necessário
efeito amortecedor.
Rio Vouga – As condições estuarinas do troço final do rio Vouga são susceptíveis de
agravar alguns problemas de escoamento de águas, nomeadamente em situações de
elevada agitação marítima em que o escoamento dos caudais do rio para o mar surge
dificultada. Merece também realce nesta bacia, os problemas críticos de algumas sub-
bacias como são os casos das bacias do rio Águeda (influenciada por precipitação na
zona do Caramulo), que afeta a cidade de Águeda e do rio Cáster, afetando Ovar.
Rio Mondego – Os principais problemas nesta bacia surgem nos campos agrícolas
do Baixo Mondego e devem-se geralmente não só ao próprio Mondego como também
aos seus principais afluentes (Dão, Alva e Arunca). A regularização feita na barragem
da Aguieira permite atenuar os principais problemas de cheias, através da laminação de
caudais.
Rio Lis – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as
zonas mais afetadas localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Tejo – Tratando-se de uma bacia internacional, a capacidade de armazenamento
hídrico em Espanha e a forma como a gestão dos recursos hídricos é aí efetuada
determina também a frequência e a intensidade das cheias em Portugal. No entanto,
importará lembrar que o conjunto dos aproveitamentos hidroeléctricos construídos na
parte portuguesa da bacia não é suficiente para impedir a ocorrência de inundações.
As cheias na bacia do Tejo originam no distrito de Santarém situações de cortes de
diversas estradas nacionais e municipais, interrupção da circulação ferroviária,
alagamento de campos agrícolas e isolamento de populações (Reguengo do Alviela,
Caneiras, Valada, Valada do Ribatejo, Azinhaga e Palhota). Os concelhos de Santarém,
Cartaxo, Golegã, Almeirim e Alpiarça (rio Tejo), Tomar (rio Nabão) e Coruche (rio
Sorraia) são alguns dos mais vulneráveis.
Ocorrem também inundações repentinas, como consequência de precipitações
intensas de curta duração, fundamentalmente nas zonas muito impermeabilizadas de
grande desenvolvimento urbano. E o caso da Área Metropolitana de Lisboa, na margem
direita do rio Tejo, entre os concelhos de Cascais e Azambuja.
Rio Sado – A bacia hidrográfica do rio Sado situa-se numa área essencialmente
plana em que só são expectáveis inundações em casos especiais. As barragens
implantadas na bacia hidrográfica do rio Sado têm fundamentalmente fins agrícolas mas
asseguram a regularização de uma parte significativa dos caudais. No concelho de
Alcácer do Sal, no entanto, localizam-se algumas povoações com risco de isolamento,
quando a capacidade de armazenamento das barragens não é suficiente.
Ocorrência de inundações repentinas no concelho de Setúbal.
18
Rio Mira – Sem grandes problemas de cheias ao nível de consequências humanas, as
zonas mais afetadas localizam-se em terrenos agrícolas.
Rio Guadiana – Vulnerável à descarga de alguns aproveitamentos hidroagrícolas
tanto do lado português como do lado espanhol, tem nas zonas a jusante das albufeiras
do Caia (distrito de Portalegre) e sobretudo mais a jusante nas zonas ribeirinhas de
Mértola e de Alcoutim (ambas a jusante do Chança, afluente da margem esquerda) as
áreas mais vulneráveis. Esta situação será naturalmente modificada com a entrada em
funcionamento da barragem do Alqueva.
Ribeiras do Oeste, Alentejo e Algarve – A reduzida extensão destas bacias
favorece o rápido escoamento dos caudais, pelo que não expectáveis cheias de grande
duração. Todavia, zonas como Lourinhã, Alcobaça (ribeiras do oeste), Silves e Tavira
(ribeiras do Algarve) evidenciaram no passado algumas vulnerabilidades a inundações.
19
− Efeitos indiretos:
• Perturbação das actividades socioeconómicas, por vezes por período de
tempo bastante prolongado.
Os impactes no ambiente são por vezes catastróficos, pois podem, em questão de
horas, alterar o canal fluvial e o próprio fundo do vale, através da erosão das margens,
do assoreamento ou aprofundamento de alguns troços do canal.
Tabela 2 – Algumas cheias graves ocorridas em Portugal continental nos últimos 50 anos
Data Observações
1962 O Norte e Centro do País é afetado por cheias violentas, as quais incidiram principalmente
Janeiro nos rios Mondego e Douro, tendo-se neste rio registado a 2ª maior cheia do século XX.
Precipitação excecional na região de Lisboa provocou cheias súbitas com consequências
1967 trágicas: cerca de 700 mortos (a maioria habitando construções localizadas nos leitos de
Novembro cheia), grande número de casas ficou gravemente danificado, muitos quilómetros de estradas
destruídos, etc. Os prejuízos foram da ordem dos 3 milhões de dólares a preços da época.
Cheia no rio Tejo considerada a maior cheia do século XX. Embora tenha afetado todo o
1979
vale do Tejo, teve especial incidência no distrito de Santarém. Durou 9 dias, tendo
Fevereiro
provocado 2 mortos, 115 feridos, 1187 evacuados e avultados prejuízos materiais.
A 29 de Dezembro ocorreram chuvas intensas na região de Lisboa, que afetaram também
1981
outras zonas do país, bem como o oeste de Espanha, tendo originado cheias violentas.
Dezembro
Causaram 30 mortos e mais de 900 desalojados.
Forte pluviosidade concentrada origina cheias violentas na região de Lisboa, Loures e
1983 Cascais, que causam a morte de 10 pessoas (mais 9 são dadas como desaparecidas), 1800
Novembro famílias desalojadas, destruição de 610 habitações tendo os prejuízos ascendido a cerca de
18 milhões de contos (valores da época)
1989 Verificaram-se cheias nos rios Tejo e Douro que provocaram um morto e 61 desalojados no
Dezembro distrito de Santarém e mais 1500 na Régua
A 6 de Novembro de 1997 ocorreu no Baixo Alentejo precipitação muito intensa
1997
ocasionando cheias nos concelhos de Ourique, Aljustrel, Moura e Serpa, em consequência
Novembro
do que morreram 11 pessoas, tendo ficado desalojadas cerca de 200.
O Inverno de 2000/2001 foi excecionalmente chuvoso, tendo ocorrido cheias consecutivas
entre os meses de Dezembro e Março. Embora tenham sido muitas as bacias hidrográficas
onde ocorreram situações de cheia (algumas das quais excecionais), os distritos mais
afetados foram os de Vila Real, Porto e Santarém. Cerca de uma dezena de pessoas perdeu a
vida nas cheias, a maioria ao atravessar indevidamente zonas caudalosas. A situação de
elevada saturação dos solos devido à precipitação contínua causou diversas movimentações
2000/01 de massa que provocaram mortos e desalojados. Em Janeiro, no Baixo Mondego, os diques
Inverno longitudinais não aguentaram a força das águas e a erosão dos taludes provocaram neles a
ruptura em 13 pontos distintos. A zona a jusante de Coimbra ficou alagada durante quase
uma semana, com especial incidência para o concelho de Montemor-o-Velho. No dia 3 de
Março a ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, colapsou devido aos intensos caudais dos
rios Douro e Tâmega, e à excessiva exploração de areia no leito do rio ao longo de anos que
tinha deixado descalço pelo menos um dos pilares da ponte. Ao cair, a ponte arrastou um
autocarro de turismo e dois automóveis, tendo morrido cerca de 60 pessoas
20
7. Prevenção e mitigação de cheias
21
um período de tempo prolongado. A análise estatística destes dados permite determinar
a frequência com que determinado caudal ou nível de água de um rio se pode repetir ou
ser ultrapassado. A partir desta análise é determinado o intervalo de recorrência e é
estimada a probabilidade de ocorrência, num qualquer ano, de determinado caudal do
rio. Os dados necessários para efetuar este estudo são os valores do caudal anual
máximo do rio obtidos na mesma estação fluviométrica, ao longo de período de tempo
(considerado) suficientemente longo.
− Para determinar o intervalo de recorrência, primeiro, ordenam-se os valores de
caudal anual máximo. Cada caudal é associado a uma ordenação (m), onde m = 1
corresponde ao caudal máximo do registo, m = 2 é o segundo caudal mais
elevado, m = 3 é terceiro caudal mais elevado, etc.
− O menor caudal do registo tem o valor m igual ao número de anos do registo (n).
Assim, o caudal mais reduzido terá m = n.
− O número de anos do registo (n) e a ordenação dos caudais (m) são depois
utilizados para calcular o intervalo de recorrência (R), com base na denominada
equação de Weibull: R=(n+1)/m.
− Elabora-se, então, um gráfico, projetando o caudal máximo anual em função do
intervalo de recorrência (em escala logarítmica). Um exemplo de um destes
gráficos é apresentado na figura 19 para o Red River of the North, Fargo, Dakota
do Norte, E.U.A.
− Calcula-se reta de regressão para os pontos projetados. A partir desta reta pode
determinar-se o caudal associado a uma cheia com intervalo de recorrência de, por
exemplo, 10 anos. Esta cheia denomina-se cheia dos 10-anos.
− Para os dados do Red River, o caudal associado à cheia dos 10-anos é cerca de
12.000 ft3/s. De igual modo, o caudal associado a cheia com intervalo de
recorrência de 50 anos (a cheia dos 50-anos) teria caudal de cerca de 21.000 ft3/s.
A cheia dos 100-anos teria caudal de cerca de 25.000 ft3/s.
− De notar que para os dados de Red River (fig. 19), a cheia que ocorreu a 18 de
Abril de 1997 correspondeu ao caudal de 30.000 ft3/s, o que equivalente à cheia
dos 250-anos. De notar também que uma cheia que atingiu altura de água
semelhante (m = 1) ocorreu no Red River em 1887, apenas 110 anos antes.
22
Contudo, isto não torna pouco fiável a análise estatística. Como veremos abaixo, é
possível ter duas cheias dos 100-anos a ocorrer com 100 anos de diferença, 50
anos de diferença, ou mesmo 2 no mesmo ano.
− A probabilidade, Pe, de determinado caudal ocorrer pode ser calculada com base
na inversa da equação de Weibull: Pe = m/(n+1).
− O valor de Pe denomina-se probabilidade anual de excedência. Por exemplo, um
caudal igual ao da cheia dos 10-anos teria probabilidade anual de excedência de
1/10=0,1. Isto significa que num qualquer ano, a probabilidade de uma cheia com
caudal igual ou superior ao da cheia dos 10-anos seria igual a 0,1 ou 10%. Do
mesmo modo, a probabilidade de uma cheia com caudal superior ao da cheia dos
100-anos num qualquer ano seria 1/100 = 0,01, ou 1%.
− De notar que tais probabilidades são iguais para qualquer ano. Assim, por
exemplo, a probabilidade do caudal do Red River exceder os 25.000 ft3/s (o
caudal da cheia dos 100-anos) neste ano ou noutro ano qualquer é de 1%.
− Assim, é importante recordar que mesmo após a cheia dos 250-anos que ocorreu
em Fargo em 1997, existe ainda 1% de probabilidade de que tal cheia, ou outra de
magnitude ainda de maior, possa ocorrer este ano.
Cartografia do risco de cheias – Os mapas de perigo de cheias são usados para
determinar as áreas susceptíveis de serem inundadas em caso de cheia. Usando os dados
históricos do nível das águas e caudais de cheias passadas, conjuntamente com dados
topográficos, podem ser elaborados mapas para mostrar as áreas que se espera serem
inundadas pela água para vários caudais ou níveis de cheia.
Na elaboração deste tipo de mapas, são estudadas fotografias aéreas e imagens de
satélite de cheias passadas para determinar as áreas que seriam inundadas. A figura 20
mostra um possível mapa de perigo de cheia baseado nos caudais ou nível de água
estimados para as cheias hipotéticas dos 10-anos, 50-anos e 100-anos.
Para diminuir sofrimentos e prejuízos, cada cidadão em zona de risco de cheia deve
ter conhecimento das seguintes medidas de autoproteção e procedimentos de segurança
recomendados pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.
23
Se vive numa zona de cheia:
− Adquira o bom hábito de escutar os noticiários da Meteorologia do Outono à
Primavera.
− Procure informar-se sobre o historial de cheias passadas.
− Identifique pontos altos onde se possa refugiar e que estejam o mais perto
possível de casa ou do emprego.
− Elabore uma pequena lista dos objetos importantes que deve levar consigo
numa possível evacuação.
− Pondere a hipótese de fazer um seguro da sua casa e do recheio.
− Arranje um anteparo de madeira ou metal para a porta da rua.
− Tenha sempre em casa uma reserva para dois ou três dias de água potável e
alimentos que não se estraguem.
− Mantenha a limpeza do seu quintal, principalmente no Outono devido à queda
das folhas.
Junte num estojo de emergência o seguinte material:
− Um rádio transístor e pilhas de reserva;
− Uma lanterna e pilhas de reserva;
− Velas e fósforos ou isqueiro;
− Medicamentos essenciais para toda a família;
− Agasalhos, reserva de roupa e objetos;
− Artigos especiais e alimentos para bebés;
− Fotocópias de um documento de identificação para cada membro da família;
− Fotocópias de outros documentos importantes.
Quando houver uma cheia:
− Mantenha-se atento aos noticiários da Meteorologia e às indicações da Proteção
Civil transmitidas pela rádio e televisão.
− Conserve o sangue frio. Transmita calma à sua volta.
− Acondicione num saco de plástico os objetos pessoais mais importantes e os
seus documentos.
− Coloque à mão o seu estojo de emergência.
− Transfira os alimentos e os objetos de valor para pontos mais altos da casa.
− Liberte os animais domésticos e proceda à evacuação do gado para locais
seguros.
− Coloque um anteparo à entrada da casa. Retire do seu quintal objetos que
possam ser arrastados pelas cheias.
− Prepare-se para desligar a água, o gás e a eletricidade, se for caso disso.
Durante uma cheia:
− Mantenha a serenidade. Procure dar apoio às crianças, aos idosos e aos
deficientes.
− Continue atento aos conselhos da Proteção Civil.
− Prepare-se para a necessidade de ter de abandonar a casa.
− Desligue a água, o gás e a eletricidade.
− Não ocupe as linhas telefónicas. Use o telefone só em caso de emergência.
− Não caminhe descalço nem saia de casa para visitar os locais mais atingidos.
− Não utilize o carro. Pode ser arrastado para buracos no pavimento, para caixas
de esgoto abertas, ou até para fora da estrada.
− Não entre em zonas caudalosas. Há o risco de não conseguir suportar a força da
corrente, além de que pode ocorrer uma subida inesperada do nível da água.
24
− A água da cheia pode estar contaminada com substâncias indesejáveis. Não a
beba.
− Procure ter sempre uma atitude prática perante os acontecimentos.
Se for evacuado:
− Mantenha a calma e respeite as orientações que lhe forem transmitidas pela
Proteção Civil.
− Não seja alarmista.
− Não perca tempo.
− Leve consigo uma mochila com os seus pertences indispensáveis, o estojo de
emergência e uma garrafa de água e bolachas.
− Esteja atento a quem o rodeia. Podem precisar da sua ajuda.
Depois da cheia:
− Siga os conselhos da Proteção Civil. Regresse a casa só depois de lhe ser dada
essa indicação.
− Preste atenção às indicações difundidas pela comunicação social.
− Facilite o trabalho das equipas de remoção e limpeza da via pública.
− Ao entrar em casa, faça uma inspeção que lhe permita verificar se a casa
ameaça ruir. Se tal for provável, NÃO ENTRE.
− Não pise nem mexa em cabos eléctricos caídos. Não se esqueça de que a água é
condutora de eletricidade.
− Mantenha-se sempre calçado e, se possível, use luvas de proteção.
− Opte pelo seguro. Deite fora a comida (mesmo embalada) e os medicamentos
que estiveram em contacto com a água da cheia, pois podem estar
contaminados.
− Verifique o estado das substâncias inflamáveis ou tóxicas que possa ter em
casa.
− Comece a limpeza da casa pela dispensa e zonas mais altas.
− Beba sempre água fervida ou engarrafada.
25
Ao longo dos últimos anos defendem-se cada vez mais outras formas de controlo de
cheias como alternativa às grandes obras de engenharia. Uma política de gestão e de
ordenamento do território e uma zonação bem planificada poderiam substituir no futuro
as antigas soluções; porém, isso vem colidir em absoluto com todos os interesses
económicos implícitos, como as pressões de crescimento populacional e de
desenvolvimento urbanístico.
A teoria consensual sobre as alterações climáticas prevê uma aceleração do ciclo
hidrológico e consequentemente alguns autores pensam que os eventos extremos, como
as cheias e as secas, vão aumentar em frequência e severidade.
Em face dessas alterações, o regime de cheias vai certamente acompanhar a mudança
sendo, por isso, importante que a população se consciencialize e aprenda a adaptar-se às
práticas de prevenção e alerta, de forma a reduzir as consequências negativas deste
fenómeno. A Teoria da Adaptação Geral ao Risco de Cheias, de KATES, BURTON &
WHITE (1978), assume que a passagem de um padrão de ajustamento para o seguinte
implica transpor um limiar do que é socialmente considerado um risco aceitável. Os três
limiares definidos são:
• O limiar da consciência que marca a passagem da ignorância do risco para o
seu conhecimento, não sendo possível conceptualizar ajustamentos antes da
consciência da exposição ao risco. É marcado pela identificação do perigo;
• O limiar da ação que marca a passagem de ajustamento de aceitação para outro,
de redução das perdas. Existe a crença na possibilidade de controlo sobre a
Natureza. Depende de estimativas do risco e da avaliação das suas
consequências por parte das populações;
• O limiar de tolerância que marca a passagem de ajustamentos de redução dos
danos para ajustamentos de evitamento do perigo. Esta alteração corresponde à
percepção dos riscos como intoleráveis e à modificação radical da ocupação da
zona ameaçada. Exige avaliação social do risco.
Os padrões de ajustamento comportamental aparecem em fases diferentes consoante
o desenvolvimento das diferentes sociedades (pré-industrial, industrial, pós-industrial) e
caracterizam-se por reações individuais e reações coletivas.
26
8. Bibliografia
27
TÓPICO 6
______________________________________________________________________
Perigos costeiros
Pedro Pereira
1. Introdução 1
1.1. Ondas oceânicas 1
1.2. Corrente de deriva 5
1.3. Tipos de costa 5
2. Perigos Costeiros 6
4. Bibliografia 12
1. Introdução
1
gradualmente até se anular a profundidade igual a metade do comprimento de onda (L),
Esta profundidade é denominada por base da onda (wave base) (fig. 1).
Se só existem órbitas até à base da onda, então o movimento das ondas apenas
consegue movimentar a água até essa profundidade e, consequentemente, a
profundidades superiores a L/2, as ondas não conseguem erodir o fundo ou mover
sedimento na água. No Oceano Pacífico, foram observados comprimentos de onda até
600 m, assim a água a profundidade superior a 300 m não será afectada pela passagem
da onda. Mas a região exterior das plataformas continentais têm profundidade média de
200 m, assim pode ocorrer erosão considerável fora do limite da plataforma continental
com ondas de comprimento de onda tão elevado.
Quando as ondas se aproximam da costa, a profundidade da coluna de água diminui e
a onda começa a sentir o fundo. Devido ao atrito, a velocidade (L/P) da onda diminui
mas o seu período (P = período de tempo necessário para completar uma órbita)
mantém-se inalterado. Consequentemente, diminui o comprimento de onda (L). Além
disso, quando a onda sente o fundo, as órbitas circulares do movimento da água são
deformadas pelo fundo e tornam-se elíticas. Com a diminuição do comprimento de
onda, aumenta a altura da onda (h). A parte frontal (mais inclinada) da onda acaba por
não conseguir suportar a água em movimento e a onda rebenta (fig. 2). A rebentação de
uma onda produz o espraio de uma massa de água sobre a face da praia (fig. 8) à
chegada da crista, a que se sucede a ressaca que corresponde à chegada da cava.
Erosão provocada pelas ondas – Como foi acima referido, as ondas apenas
conseguem erodir o fundo marinho se este, ao longo da costa, se encontrar a
profundidade inferior a metade do comprimento de onda. Na zona de espalho (figs. 2 e
8), isto é, entre a linha de costa e a zona de rebentação, a erosão do fundo é
particularmente intensa devido à libertação brusca de energia que ocorre quando as
ondas rebentam. As ondas rebentam a profundidades de 1 a 1,5 vezes a sua altura.
Assim, para ondas com 6 m de altura, a erosão intensa do fundo pode ocorrer até 9 m de
profundidade.
Na zona de rebentação (fig. 8) as partículas de rocha transportadas em suspensão
pelas ondas são atiradas contra outras partículas de rocha. À medida que estas partículas
colidem entre si, são desgastadas e ficam cada vez menores. Partículas mais pequenas
são transportadas mais facilmente pelas ondas, e assim, à medida que estas partículas
2
mais pequenas são levadas pela ressaca, aumenta a profundidade. Além disso, as ondas
podem escavar a base das arribas, dando origem a movimentos de massa, pelos quais o
material desliza, cai ou flui para a água para ser levado por ação das ondas.
Refração das ondas – A refração das ondas do mar resulta da atividade dos
processos descritos anteriormente sobre secções distintas da mesma onda se esta se
aproximar da costa com alguma obliquidade. De facto, se a trajectória de aproximação
for oblíqua – a aproximação rigorosamente perpendicular é excecional – diferentes
porções da mesma onda encontram-se em dado instante a profundidades diferentes. Tal
significa que diferentes porções da mesma onda sofrem de forma diferencial os efeitos
de atrito com o fundo, isto é, sofrem atrasos diferentes no mesmo instante (fig. 3). Em
consequência, a aproximação oblíqua à linha de costa é acompanhada de encurvamento
da onda, que tende a diminuir progressivamente o ângulo de ataque à costa até rebentar
(fig. 3). Se as ondas se propagarem sobre batimetria irregular, expressa no litoral pela
existência de promontórios e baías sucessivas, haverá lugar a convergência ou
divergência das trajetórias das ondas por efeito da refração, conduzindo ao
empolamento ou à diminuição local da altura da onda incidente. Por esta razão, as baías
constituem habitualmente refúgio para as embarcações e são local privilegiado da
sedimentação de areia ou cascalho que ali ficam aprisionados devido à agitação
moderada. Por outro lado, os cabos e promontórios, habitualmente atacados por maiores
alturas de onda, são tipicamente desprovidos de acumulações sedimentares – com
exceção dos grandes blocos caídos e retrabalhados em permanência pelo mar – e são
descritos pelas gentes do mar como «atraindo as ondas» (fig. 4).
Linha de costa
Diminui a velocidade e o
comprimento de onda.
3
Figura 4 – Diagrama esquemático ilustrando a refração das ondas do mar sobre
batimetria irregular. Note-se que as linhas cor-de-rosa (raios de onda) convergem
nos promontórios (Headland) e divergem nas baías (BAY) (SKINNER & PORTER,
1987).
4
1.2. Corrente de deriva
5
Praias – Acumulações de sedimentos não consolidados ao longo da linha de costa,
formadas pela ação conjunta das ondas, das correntes e das marés. As praias mais
frequentes são as arenosas, mas há praias de cascalho, de calhaus e, mesmo, de
materiais finos (silte e argila). Os materiais detríticos podem ser terrígenos (verificando-
se, normalmente, franca dominância de quartzo), biogénicos (fragmentos de conchas,
etc.) ou autigénicos (oólitos, etc.). Na figura 8 apresenta-se a terminologia morfológica
e dinâmica do perfil de praia.
Figura 8 – Zonas em que normalmente se divide a praia. Refira-se que a nomenclatura da praia apresenta grande
variabilidade na literatura científica em português e em inglês (DIAS, 2007).
2. Perigos costeiros
Os perigos naturais a que estão sujeitas as zonas de costa estão relacionados com a
erosão costeira e com fenómenos que originam elevações pontuais do nível do mar.
Os principais fatores responsáveis pela erosão costeira e consequente recuo da linha
de costa são a diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, a
degradação antropogénica das estruturas naturais, as obras pesadas de engenharia
costeira e a elevação do nível médio do mar (variações seculares do nível do mar).
A ação das ondas também provoca a erosão das arribas – À medida que as ondas
escavam a base das arribas (local onde é concentrada a maior parte da força erosiva das
ondas) estas vão se tornando cada vez mais instáveis, acabando por dar origem a
movimentações de terreno (quedas de rochas e detritos, deslizamentos ou fluxos).
Os fenómenos que provocam a subida pontual do nível do mar podem ser de origem
climatérica (temporais e storm surges) ou geológica (tsunamis).
6
3. Redução dos efeitos dos perigos costeiros
À primeira vista, a erosão costeira pode parecer mais fácil de controlar do que a
maioria dos outros perigos naturais. Por exemplo, pouco se pode fazer para controlar
sismos ou vulcões; apenas podemos adaptar-nos às suas descargas periódicas de
energia. No entanto, algo pode ser feito para controlar a erosão costeira. Estruturas de
engenharia, como paredões, quebra-mares, esporões e molhes, são construídas para
melhorar a navegação ou retardar a erosão. Contudo, como estas estruturas interferem
no transporte litoral de sedimentos ao longo da praia, provocam com demasiada
frequência deposição e erosão não desejadas nas proximidades. Também se utiliza a
alimentação artificial da praia para combater a erosão, mas normalmente é uma solução
cara e apenas temporária.
Paredões – Estrutura rígida de engenharia costeira, do tipo aderente, disposta
longitudinalmente em relação ao desenvolvimento da linha de costa, e que normalmente
é utilizada na proteção contra a erosão costeira. Por vezes são designados também como
quebra-mares aderentes.
Os paredões podem ser construídos com materiais diversificados, designadamente
betão, madeira, blocos de rocha (enrocamento), gabiões, tetrápodes ou materiais
metálicos. Os perfis transversais destas estruturas longitudinais aderentes podem ser
muito diversificados. Os mais simples correspondem a simples muros verticais. Outros,
no sentido de introduzir elementos dissipativos da energia da onda, são inclinados ou
apresentam vários degraus. Outros, ainda, para que a energia da onda incidente seja
defletida para o mar, têm perfil transversal côncavo encurvado.
A primeira obra de proteção costeira executada em Portugal foi deste tipo. Foi
construída em 1909 em Espinho para obviar aos graves problemas de erosão costeira
que aí, então, se faziam sentir. Denominada na altura por “muralha”, estava assente em
estacas e tinha extensão de 354 m. Teve vida efémera; os temporais que ocorreram em
1910 e 1911 destruíram quase por completo esta estrutura.
Esporões – Estruturas dispostas transversalmente ao desenvolvimento da linha de
costa, e que normalmente são utilizadas na proteção contra a erosão costeira. A função
principal é a de reter, pelo menos parcialmente, a deriva litoral, minimizando os
problemas de erosão costeira a barlamar da estrutura.
Em geral, os esporões são retilíneos, mas podem ter forma em T ou em L, ou mesmo
mais complexas, como curvilíneas, em Z ou onduladas. Por outro lado, a parte superior
da estrutura (coroamento) pode estar emersa ou submersa ou ter uma parte emersa e
outra submersa. Podem, ainda, ser do tipo permeável (permitindo que a água e algum
sedimento os atravesse) ou impermeável (o que reforça a defleção dos fluxos). Podem
ser construídos com materiais diversificados que, conforme o tipo, conferem maior ou
menor permeabilidade à estrutura: betão, enrocamento, tetrápodes, gabiões, sacos com
areia ou pedras, madeira e metal.
Normalmente, a proteção com este tipo de estruturas desenvolve-se em grupos,
designados por campos de esporões. O comprimento, a cota de coroamento e o
espaçamento entre esporões são condicionados pela amplitude da maré, pela energia da
onda incidente e pelo pendor da praia. A proteção com esporões pode ou não ser
conjugada com obras longitudinais aderentes e, em certos casos, com alimentação
artificial da praia.
7
Devido à sua disposição transversal, os esporões interrompem, como se disse, a
deriva litoral (pelo menos na fase inicial), o que induz acumulação de areia a barlamar
e, consequentemente, confere proteção efectiva às construções aí existentes.
8
Imediatamente após a construção Alguns anos após a construção
3.2. Tsunamis
9
facilmente a muralha de proteção com 10 m de altura. Outras tentativas de proteção no
Japão incluíram a reurbanização costeira, elevando os edifícios e estradas sobre pilares,
e foi ainda proposta a plantação de bosques costeiros para reduzir o impacto dos
tsunamis.
Nos EUA recorreu-se à replanificação do uso do solo costeiro em algumas
comunidades. Por exemplo, em Crescent City, Califórnia, foram alteradas as restrições
ao ordenamento do território depois do tsunami de 1960 ter danificado gravemente a
zona comercial da cidade. Grande parte da zona afetada pelo tsunami é agora um parque
público e zona de praia.
Apesar das abordagens anteriores, a adaptação primária (e certamente a mais eficaz)
aos tsunamis consiste na criação de um sistema de aviso preciso e eficaz em conjunto
com planos de evacuação. Várias populações das costas do Havai e do oeste dos
E.U.A. têm sistemas de aviso de tsunamis e planos de evacuação. Estes planos incluem
indicações nas praias e portos bem como sirenes.
Depois de um tsunami mortífero ter atingido o Havai e o Alasca em 1946, os Estados
Unidos desenvolveram um sistema de deteção e aviso de tsunamis. Este sistema,
significativamente ampliado e renovado após o tsunami de 2004 na Indonésia, processa
dados provenientes de três fontes:
− Informação sobre sismos em tempo real, a partir de uma rede de sismógrafos
localizados por toda a bacia do Pacífico e E.U.A.;
− Informação sobre o nível da água de mais de uma centena de marégrafos
costeiros e detetores de tsunamis de países em redor do Pacífico;
− Informação de 39 sensores de pressão no fundo do oceano os quais transmitem
as suas medições a bóias DART (fig. 12) às quais estão associados, distribuídas
pelo Oceano Pacífico, Caraíbas e NO do Oceano Atlântico (fig. 11). Estas
bóias transmitem as leituras a um satélite geoestacionário, o qual retransmite a
informação de volta à Terra para os centros de alerta. Estes emitem diferentes
avisos dependendo da magnitude do sismo detetado e da eventual deteção de
um tsunami.
Por acordo internacional, a informação do sistema de aviso de Estados Unidos é
partilhada com os centros de aviso de outros 23 países.
Figura 11 – Distribuição das bóias DART e detectores de tsunamis internacionais (NOAA, 2009).
10
Figura 12 – Características e funcionamento dos sensores de fundo e das bóias DART (Deep-ocean
Assessment and Reporting of Tsunamis) (NOOA, 2009).
11
4. Bibliografia
12
EVOL
EVOLUÇÃ
UÇÃO
O DA
DA ZON A COS
COS TEIRA POR TUGUESA:
TUGUESA: FOR
FORÇ
Ç AMENTOS
AMENTOS
ANTRÓPIC
ANTRÓPICOS OS E N ATURAIS
R esumo: A bs tr act:
act:
As zonas costeiras constituem ecossistemas únicos e Coastal zones are unique, irreplaceable ecosys-
irreconstituíveis à escala humana, resultantes de uma tems. They are the result of a long (millions of
longa evolução, de muitos milhões de anos. Se os years) evolution. Since early times estuaries and
estuários e lagunas costeiras foram, desde sempre, coastal lagoons were intensively occupied by
objecto de intensa ocupação humana, já nos litorais humans. However, sandy oceanic coast only
arenosos oceânicos, por serem inóspitos, essa ocu- started to be intensivelly occupied in the 19th
pação apenas se processou significativamente a partir and 20th centuries. Coastal management struc-
de meados do século XIX, e com maior acuidade na tures were not prepared for this sudden intensi-
segunda metade do século XX. A brusca intensifi- fication in the utilization of coastal zones. Some
cação da utilização das zonas costeiras ocorreu em decades were necessary to the management
simultâneo com o desenvolvimento de várias inter- structures adquire conscience for the new reali-
venções nas bacias hidrográficas e no litoral cujos ty and its consequences. In order to make the
impactes se traduzem, regra geral, em diminuição do intensive utilization of coastal zones sustainable,
abastecimento sedimentar e consequente erosão a new concept was developed during the last
costeira. Estes dois fenómenos incompatíveis (ocu- decades of the 20th century: the Integrated
pação das zonas costeiras e erosão costeira) desen- Coastal Zone Management (ICZM). However,
volveram-se sem que os organismos de gestão this concept is not aplicable, namely because
estivessem para tal devidamente preparados. A cons- coastal systems are open systems. What is possi-
ciencialização da nova realidade e das suas conse- ble, desirable and indispensable is the Integrated
quências e a tentativa de adaptação das estruturas de Territory Management (from wich ICZM have
gestão demorou algumas décadas. Para tornar a ocu- to be an important part).
pação e o desenvolvimento sustentáveis, surgiu, nas
décadas finais do século XX, o conceito de Gestão
Integrada da Zona Costeira. Todavia, em si, é um
conceito impossível de concretizar, pois que as zonas
costeiras são sistemas abertos. O que é possível, dese-
jável e imprescindível é a Gestão Integrada do
Território (em que obviamente se enquadra a Gestão
Integrada da Zona Costeira).
Palavr
alavr as-Chav
as-Chav e: K e ywor
ywor ds:
ds:
Gestão Integrada da Zona Costeira, ICZM, Integrated Coastal Zone Management, ICZM,
Ocupação do Litoral, Erosão Costeira. Coastal Occupation, Coastal Erosion.
7
Encontros científicos
milhões de anos, que a carne se formou através da entes, com particular relevância para os litorais
escala milenar, e que a pele se desenvolveu através arenosos, caracterizam-se por serem agrestes (com
da evolução secular. Qualquer trecho costeiro é, de grandes amplitudes térmicas diárias, forte inso-
certa forma, um repositório da história da Terra, lação, muito ventosos, com ar carregado de salsu-
correspondendo, consequentemente, a um monu- gem, quase sem vegetação e, com frequência, sem
mento museológico insubstituível. água doce facilmente acessível), parcos em recur-
sos básicos (pois que a areia da praia e dos campos
As zonas costeiras são sistemas altamente comple-
dunares inviabiliza a agricultura, e o acesso aos
xos, resultantes da intercepção da hidrosfera, da
recursos pesqueiros é dificultado pela rebentação
geosfera, da atmosfera e da biosfera. É precisamente
das ondas), e apresentarem elevada vulnerabilidade
desta complexidade que resultam não apenas a ele-
no que se refere a riscos naturais (grandes tempo-
vada variabilidade que apresentam, mas também as
rais, tsunamis, etc.).
grandes potencialidades que as caracterizam.
A ocupação humana destes ambientes inóspitos
A complexidade sistémica das zonas costeiras tor-
tornava-se ainda mais difícil devido aos riscos ine-
nam-nas em sistemas altamente sensíveis e vul-
rentes aos conflitos armados, em que adquirem
neráveis. Com frequência, uma pequena alteração
particular acuidade os relacionados com o corso e
num dos parâmetros pode provocar grandes modi-
a pirataria. Em muitos litorais, o flagelo do corso e
ficações em todo o sistema. Acresce que são sis-
pirataria, através dos quais, subitamente, os
temas abertos, extremamente dependentes dos
pequenos povoados eram atacados, sendo as popu-
forçamentos que lhes chegam do exterior, isto é, por
lações roubadas, violadas, raptadas e/ou assassi-
exemplo, de modificações ocorridas nas bacias
nadas. Os reinos Ibéricos, pela sua proximidade
hidrográficas drenantes, de mudanças surgidas na
geográfica ao Norte de África e pelas suas
bacia oceânica adjacente, e de alterações verificadas
tradições na luta contra os infiéis, foram particular-
no sistema atmosférico.
mente sujeitos a acções dos corsários berberes.
Perante esta complexidade, não é, de forma alguma, Todavia, o litoral português foi, com frequência,
surpreendente que o conhecimento científico das alvo de acções deste tipo perpetradas por navios
zonas costeiras seja, ainda, muito limitado. Para ter provenientes de regiões mais setentrionais (nor-
noção de como o conhecimento científico está mandos, vikings, etc.). Nas nossas costas o flagelo
ainda bastante longe de corresponder ao desejável, do corso e pirataria perdurou até ao século XVIII.
basta referir, a título meramente exemplificativo, que Na fachada ibérica atlântica há indícios das investi-
não há quaisquer certezas quanto às razões que das e incursões aludidas desde os tempos proto-
condicionam a localização das correntes de retorno históricos até aos novigodos, que incidiam sobretu-
(rip currents), sobre os processos que conduzem à do nos actuais litorais da Biscaia e Galiza. Embora
constituição dos lobos de praia (cusps), sobre pos- menos frequentes, também o actual litoral por-
síveis relações entre estes e as correntes de retorno, tuguês não estava isento destas acções, como o
sobre a influência das ondas infragravíticas no trans- comprova o ataque normando de 1026 na terra de
porte sedimentar, sobre a existência e importância Santa Maria, no antigo porto de Cabanões, nas
de ondas estacionárias paralelas e/ou perpendicu- proximidades de Ovar (Oliveira, 1967).
lares à linha de costa. Contudo, impunha-se que o Rei estabelecesse
2. A Ocupação das Zonas Cost
Cost eir as claramente a sua soberania mesmo sobre locais
até
até ao Século XIX vulneráveis, pouco atractivos e, consequentemente,
Ao contrário do que, com frequência, é afirmado, a pouco habitados, como acontecia em zonas fron-
ocupação da generalidade das zonas costeiras foi teiriças e no litoral. Recorria, para tal, às forças
sempre muito escassa. É certo que, nalguns ambi- armadas de que dispunha, construindo fortes e ata-
entes, com particular relevância para as zonas estuari- laias, cujas ruínas são actualmente abundantes nas
nas e lagunares, os amplos recursos aí existentes servi- zonas da raia e em pontos costeiros estratégicos.
ram de pólo de atracção para a ocupação, desde a pré- No entanto, utilizando a terminologia actual, pode
-história. É significativo que cerca de dois terços das dizer-se que tal ocupação carecia de sustentabili-
maiores cidades mundiais se situem precisamente nas dade, pois que os militares para aí destacados, ao
zonas adjacentes aos ambientes aludidos. acabar a comissão, abandonavam a região. No sen-
tido de dar maior consistência a essa ocupação
Todavia, os litorais oceânicos foram, desde sempre, recorria o Rei, por vezes, à figura do “couto de
evitados pelo Homem. Efectivamente, estes ambi- homiziados”, isto é, definia e delimitava determina-
8
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
da zona como lugar onde os perseguidos pela xistentes. Basta folhear o 2º volume do Guia de
justiça se podiam radicar, geralmente com a Portugal, de 1927, em que se incluem as zonas
condição de não poderem dali sair. Na realidade, costeiras da Extremadura, do Alentejo e do
era uma tentativa efectiva (e muitas vezes eficaz), Algarve, para constatar como, já em período de
de colonização de zonas perigosas e pouco expansão do fenómeno turístico-balnear, eram
povoadas. Vários pontos do litoral foram assim difíceis (por vezes quase inexistentes) as acessibi-
colonizados entre os séculos XIII e XVI, tais como lidades para a maior parte das localidades ribei-
Caminha, na foz do rio Minho, Caldas da Rainha, rinhas existentes nos litorais oceânicos. Vila Nova
na extremidade da Lagoa de Óbidos, Sezimbra, no de Milfontes não dispunha ainda de estrada
litoral da serra da Arrábida, Vila Nova de (sendo acessível por mar ou, a partir de Odemira,
Milfontes, no estuário do rio Mira, Portimão, na pelo rio Mira).
foz do rio Arade, Arenilha e Castro Marim, no
As primeiras estâncias balneares eram frequen-
estuário do rio Guadiana (Moreno, 1986). É de re-
tadas, como se referiu, pelos estratos sociais mais
levar que, praticamente sem excepção, os coutos de
elevados. A principal motivação da deslocação à
homiziados costeiros foram definidos em litorais
praia era a saúde. É interessante verificar que
abrigados (estuários, lagunas, etc.), não se encon-
Ortigão (1876), à semelhança de muitos opinion
trando qualquer referência a tentativas efectuadas
makers da época, aponta para o banho de mar o
em litorais oceânicos expostos. Depreende-se, por
duplo carácter higiénico e terapêutico. Segundo o
um lado, que a colonização de tais zonas era de tal
autor, “a acção hidroterápica domina quando a
forma difícil que nem a figura jurídica que imuniza-
duração do banho é curta e a temperatura mais fria;
va os habitantes da área coutada (couto de homizia-
produz-se a acção medicamentosa quando a tem-
dos) viabilizava o seu povoamento, e por outro, que
peratura é mais elevada e a duração do banho mais
essa não era preocupação prioritária do poder cen-
longa (três quartos de hora). Assim, o banho de
tral, até porque o desembarque de forças inimigas
mar apresenta o duplo carácter higiénico e terapêu-
era aí bastante difícil devido à rebentação das ondas.
tico”. Aliás, esta visão terapêutica dos banhos de
Todavia, nem o povoamento persistente, suporta- mar, segundo a qual estes devem ser praticados
do pela presença de tropas, era suficiente para como um remédio e não por prazer, persiste, pelo
desmotivar as incursões dos piratas, como é com- menos em grande parte, até meados do século XX.
provado, por exemplo, pela história de Vila Nova Os banhos de mar tomavam-se “como remédio,
de Milfontes. O facto de D. João II lhe ter conce- não por prazer”, e obedeciam a um ritual seguido
dido o privilégio de couto de homiziados, per- pelos banheiros (indivíduos responsáveis pela
mitindo-lhes “viverem livremente na vila e seu administração dos banhos, que na maioria eram
termo com a condição de auxiliarem as duas com- pescadores, mas devido ao seu conhecimento do
panhias existentes na vila, e a defenderem contra as mar, da força das ondas, das praias, exerciam essas
investidas dos corsários” (Beires, 1927), não foi funções durante a época balnear), segundo o qual
suficiente para impedir os ataques. Efectivamente, deviam ser “rápidos, com três mergulhos e
seguindo a descrição do autor aludido, em 1638, apanhando o banhista o choque de sete ondas”
piratas argelinos atacaram o pequeno ancoradouro (Colaço e Archer, 1943). No entanto, as práticas
do Canal, localizado uns 2 km a Norte de talasso-terapêuticas (isto é, os banhos de mar) ape-
Milfontes, destruindo e saqueando um casal isola- nas ocupavam uma pequena parte do dia, sendo
do. Perante o ataque acudiram os habitantes da vila. importante arranjar ocupação para os longos
Era, no entanto, mera manobra de diversão. tempos livres. Esta concatenação de factores
Aproveitando a prevista deslocação dos defen- (aristocracia/burguesia, disponibilidade financeira,
sores, as tripulações de outros barcos desembar- tempo livre) conduziu ao aparecimento de serviços
caram na vila “cevando na povoação indefesa a sua vários, de onde ressaltam os clubes, os casinos e os
fúria destruidora e levando cativos a bordo vários hotéis de luxo.
habitantes, entre os quais o prior”. Reitere-se que o Começam, assim, a surgir em litorais que durante
caso descrito é apenas exemplificativo das dificul- séculos tinham estado ausentes de qualquer ocupa-
dades que havia em colonizar o litoral, e de alguns ção humana, ou em que esta era muito rarefeita, edi-
dos perigos a que os povoados estavam sujeitos. ficações várias para apoio à novel actividade do turis-
Acresce que, ao longo da História, e devido à alu- mo balnear, sejam casas para alojamento de famílias,
dida rarefação da ocupação humana, as acessibili- sejam hotéis para o visitante ocasional, sejam clubes e
dades eram muito difíceis ou, mesmo, quase ine- casinos para ocupação de tempos livres.
9
Encontros científicos
Ramalho Ortigão (1876), na sua obra As Praias de foram decorrendo e a curva demográfica foi, ten-
Portugal, dá-nos uma boa perspectiva da situação no dencialmente, de crescimento.
início do último quartel do século XIX, precisa-
mente quando, em Portugal, se estava a iniciar a Na realidade, desde sempre que intervenções
“corrida para a praia”. Pressente-se, em toda a antrópicas várias, especialmente as desmatações e
prosa aludida, o início de um movimento de ocu- desflorestações e a agricultura, causaram interferên-
pação sem paralelo na História, e que se irá pro- cias na evolução costeira natural, principalmente
gressivamente ampliando, a ritmo exponencial, até devido a incremento da erosão do solo e conse-
à actualidade. Porém, nessa altura, o afluxo de banhis- quentes alterações no abastecimento sedimentar.
tas, embora crescente, era, ainda, extremamente Este potencial morfogenético foi amplificado ou
modesto em comparação com o que se regista amortecido pelas pequenas oscilações climáticas
actualmente. Continuando a cotejar Ortigão acima aludidas. Actualmente, quando se tenta definir
(1876), por exemplo, na praia da Granja, “a con- a génese das modificações costeiras ocorridas no
corrência dos banhistas, (...) cujo movimento pode decurso dos tempos históricos, o investigador
ser actualmente orçado em cerca de trezentas pes- defronta-se, sistematicamente, com o problema de
soas, aumenta consideravelmente de ano para distinguir entre o “sinal natural”, proveniente designa-
ano”. Então, como actualmente, este afluxo de pes- damente das pequenas oscilações climáticas, e o
soas, com poder de compra considerável, era opor- “sinal antrópico”, devido a alterações efectuadas
tunidade de negócio que não podia ser desprezado, pelo Homem nas bacias hidrográficas. Regra geral
como acontecia, por exemplo, na Póvoa do conclui-se que essa distinção é impossível de efectuar
Varzim, em que “em todas as casas ao rés da rua se de forma clara e indubitável.
organizam estabelecimentos de comércio, uns As duas últimas oscilações climáticas, conhecidas
fixos, outros flutuantes”. pelas designações de Pequeno Óptimo Climático e de
Pequena Idade do Gelo (Lamb, 1977), condicionaram
3. Evolução
Evolução do Lit or al at é ao
múltiplos aspectos da nossa História, nomeada-
Século XIX
mente ao nível económico, social e político. É óbvio
Desde há mais de três mil de anos, ou seja, desde que, na medida em que essas oscilações climáticas
que o nível médio do mar atingiu aproximadamente condicionaram a ocupação do território e as práticas
a cota actual, que o litoral português tem apresenta- agrícolas (perturbadoras do trânsito natural dos sedi-
do comportamento predominantemente regressivo mentos), determinaram, por via indirecta, a evolução
(isto é, em que a linha de costa apresenta tendência do litoral. Determinaram-no, também, por via mais
para migrar em direcção ao oceano), embora esta directa, porquanto às oscilações aludidas estiveram,
tendência regressiva geral tenha sido por vezes inter- aparentemente, associadas pequenas oscilações do
rompida por alguns períodos transgressivos (isto é, nível médio do mar, embora este tema seja, infeliz-
em que a linha de costa apresentou tendência para mente, muito mal conhecido em Portugal (Dias,
migrar em direcção ao continente) (Dias, 1993). Tal 1993).
pode ter acontecido nomeadamente na Época Um dos períodos mais marcantes da evolução do
Romana e na Idade Média, em conexão com peque- litoral português foi o que se seguiu à Fundação da
nas oscilações climáticas ainda mal conhecidas, que Nacionalidade e se prolongou até aos séculos
parecem ter tido repercussões na posição do nível XIII/XIV. Existiam, então, condições climáticas
médio do mar (alto nível romano; alto nível medie- bastante amenas, isto é, estava-se no Pequeno Ópti-
vo) (Dias, 1987). No entanto, apesar do grande mo Climático. Provavelmente, na Península Ibérica,
interesse e importância deste assunto, o conheci- a pluviosidade anual, semelhante à actual, não esta-
mento desta evolução climática é ainda rudimentar e va muito concentrada nos meses de inverno, dis-
disperso, em Portugal. tribuindo-se mais ao longo do ano. Consequente-
Até finais do século XIX / início do século XX os mente, existiam boas condições para a agricultura. É
impactes antrópicos nas zonas costeiras foram rela- sob este clima propício que se verifica a Reconquis-
tivamente pequenos. A evolução do litoral processa- ta, e que os territórios conquistados vão sendo
va-se de forma bastante natural, isto é, respondendo povoados (até porque isso tendia a evitar novas
principalmente aos forçamentos climáticos e investidas muçulmanas), o que é facilitado pelo
oceanográficos naturais, embora as actividades excesso demográfico existente na região de Entre
humanas geradoras de impactes no litoral se tenham Douro e Minho, e intensificado pelo refluxo da po-
progressivamente ampliado à medida que os séculos pulação de fronteira que foge aos Almóadas entre
10
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
1180 e 1195 (Mattoso, 1991). Este aumento A população, mal alimentada, não consegue resistir
demográfico nas regiões recentemente conquistadas às doenças, designadamente a peste negra, que se
impõe a necessidade de maiores produções agrícolas propagam com grande rapidez. A crise de 1383-
e, consequentemente, do recrutamento de novos -1385 vem agravar ainda mais a situação. Tudo con-
solos aráveis, o que se consegue através do arrotea- verge para um decréscimo demográfico muito signi-
mento de matos e montes maninhos e de desflo- ficativo, aliás verificado um pouco por toda a
restações. O resultado é, obviamente, aumento da Europa (figura 2), o que implica, também,
erosão dos solos e, consequentemente, das cargas diminuição de terrenos agricultados que rapida-
sedimentares fluviais e do abastecimento de areias mente se transformam em matos. A consequência é a
ao litoral. Estes impactes são reforçados pela explo- redução da erosão dos solos e, portanto, diminuição
ração da floresta para obtenção de madeira, consti- do abastecimento sedimentar à rede fluvial.
tuindo-se Portugal, no século XII, exportador Figura 2
destes materiais (Devy-Vareta, 1985). Efectiva-
mente, e tal deve ser tido em consideração para com-
preender o incremento do abastecimento sedimentar
e da consequente evolução do litoral, verifica-se, entre
o fim do século XI e início do século XIV, ao aban-
dono do sistema dominado pelo auto-consumo, o
qual é progressivamente substituído pela economia
de produção e de trocas (Mattoso, 1991), e mesmo de
mercado, constatando-se a progressiva monetariza-
ção do sistema (Serrão e Marques, 1996).
No século XIII começa a verificar-se degradação
climática, com arrefecimento nítido da temperatura
atmosférica, a qual se agrava no século XIV (Figura
Provável evolução da população europeia entre 400 AC e 1900
1). Eram os primeiros impulsos de uma nova peque- AD, segundo van Bath (1984).
na oscilação climática conhecida pela designação de
Pequena Idade do Gelo.
Porém, por vezes a pluviosidade era intensa, provo-
Figura 1 cando grandes cheias, o que facilitava a transferência
de grandes quantidades de sedimentos dos sistemas
flúvio-estuarinos para o mar e, consequentemente,
forte abastecimento do litoral, o que era amplificado
por um pequeno abaixamento provável do nível
médio do mar. Compensar-se-ia, assim, a redução
do abastecimento sedimentar decorrente do
decréscimo demográfico e consequente diminuição
das áreas agricultadas. Compreende-se, portanto, a
dificuldade do investigador em estabelecer relações
causais claras entre a evolução do litoral, as condi-
Variação média da temperatura atmosférica entre os anos cionantes climáticas e as actividades antrópicas.
1000 e 1900, segundo Folland et al. (1990).
Segundo Tullot (1986), os séculos XVI e XVII foram
Na Península Ibérica, provavelmente, a distribuição caracterizados, na Península, pela congelação frequente
sazonal da chuva alterou-se, concentrando-se mais dos rios e por grandes cheias em quase todas as bacias,
nos meses de inverno, o que provocava longos embora os períodos de chuvas contínuas fossem muito
períodos de estiagem. Tais condições não só eram escassos e quase inexistentes no século XVII, tendo-se
nefastas para a agricultura, como propiciavam, em verificado a progressiva desertificação da Meseta.
muitas regiões, insalubridade e consequente propa- Simultaneamente, verificou-se forte expansão demo-
gação de doenças. Muito provavelmente, as carestias gráfica (figura 2), forte incremento da agricultura e
do pão registadas em 1267, 1273 e 1295, bem como intensificação das desflorestações. Em súmula, quer as
as fomes que se abatem sobre o país a partir de 1331 condições climáticas, quer as influências antrópicas,
e anunciam a grande depressão do século XIV convergiram para a intensificação do abastecimento
(Mattoso, 1991), radicam nesta oscilação climática. sedimentar ao litoral, o que foi amplificado pelo abaixa-
11
Encontros científicos
mento do nível médio do mar que, segundo Plassche et quentemente, para posição absolutamente secun-
al (2000), teria descido cerca de 25cm entre meados do dária as estâncias termais (de alguma forma passadas
século XI (Pequeno Óptimo Climático) e meados do de moda e sem capacidade mínima para concorrer,
século XVII (Pequena Idade do Gelo). em termos de número de utilizadores, com a praia).
Como se referiu, a “revolução” dos transportes,
A conjugação dos impactes difusos das actividades
principalmente a construção da rede ferroviária
antrópicas, principalmente desflorestações e agricul-
nacional, foi determinante na definição dos princi-
tura, com os forçamentos naturais, designadamente
pais pontos costeiros ocupados. Estando já comple-
os decorrentes das pequenas oscilações climáticas,
tamente estruturada nos finais do século XIX,
conduziu a profundas modificações da configuração
foram as estações ferroviárias que, frequentemente,
do litoral português, de entre as quais se destacam a
propiciaram o desenvolvimento das estâncias bal-
constituição bastante recente da laguna de Aveiro a
neares. Caso paradigmático do que se referiu é a
partir de restinga arenosa que progrediu para Sul
estância aristocrática da Granja (a Sul do Porto), que
(Souto, 1923, Girão, 1941; Martins, 1947; Abecasis,
apenas emergiu após 1864, na sequência da cons-
1955), é a formação dos tômbolos de Peniche e do
trução da Linha do Norte (Vaquinhas & Cascão,
Baleal que acabaria por inactivar e deixar distante do
1993), aproveitada por famílias ricas do Porto para aí
litoral o porto medieval de Atouguia da Baleia
construírem as suas residências de Verão (Ortigão,
(Souto, 1933; Martins, 1946; Castelo-Branco, 1957;
1876). Muitos outros casos se poderiam referir, cujo
Calado,1994) . O litoral encontrar-se-ia, então, em
desenvolvimento balnear foi incentivado pela facili-
plena fase de regressão deposicional.
dade da acessibilidade ferroviária, como aconteceu
4. A Ocupação T urística
urística das Zonas em Caminha, em Viana do Castelo, em Vila do Con-
Cost
Cost eir as de, na Figueira da Foz, na Nazaré, nas significativa-
mente designadas por “Praias da Linha” junto a
Os gostos e práticas da sociedade em geral são, por Lisboa, em Setúbal, em Lagos, em Portimão, etc.
via de regra, determinados pelos estratos sociais
Seja por razões demográficas, seja devido ao poten-
mais elevados. Esta tendência para o “seguidismo”,
cial económico, seja por assimetrias nas acessibili-
associada a outros factores relevantes, designada-
dades, o certo é que, na primeira metade do século
mente o aumento generalizado do poder económi-
XX, o desenvolvimento das estâncias balneares se
co das populações, a revolução dos transportes (o
processou predominantemente nas partes norte e
automóvel e o combóio e, mais tarde, o avião), a
central do país. Sobre este assunto, é revelador que
progressiva, mas rápida, melhoria das acessibili-
o primeiro hotel de Faro (o Grande Hotel) tenha
dades, e o início da consignação dos tempos livres
apenas sido inaugurado em 1918. Este contraste está
(com particular acuidade para o reconhecimento do
bem expresso, designadamente, no volume II do
direito a férias), conduziu à expansão do turismo
Guia de Portugal, em que sobre o Algarve se refere
balnear para a generalidade dos estratos sociais.
que “a estação ideal do turismo (...) é o inverno, pela
Surgem, assim, progressivamente, nos finais do
menor poeira das estradas, a temperatura amena, a
século XIX e inícios do século XX, múltiplas estân-
maior verdura da vegetação e o perfume das amen-
cias balneares. Também aqui a estratificação social
doeiras floridas” (Dionísio, 1927). A este propósito
condicionou a ocupação, com estâncias mais reser-
deve-se ter em atenção que, na altura, segundo se
vadas para a aristocracia e alta burguesia, e outras
informa no tomo II da obra referida, a viagem de
frequentadas por estratos sociais mais baixos (o que,
comboio do Barreiro a Vila Real de Santo António
de alguma forma, ainda hoje acontece). Foi, tam-
demorava, nos rápidos (que só existiam 3 dias por
bém, frequente, a transmutação das características
semana), sete horas e meia, enquanto nos comboios
de várias estâncias balneares: umas, com o passar do
ordinários o trajecto se fazia em doze a doze horas
tempo, foram sendo progressivamente conquistadas
e meia ... Aliás, sobre as (actualmente tão famosas)
por estratos sociais mais baixos; outras, foram
praias algarvias, refere-se na obra citada que “... ofe-
subitamente descobertas pela alta burguesia, que
recem muito pouco interesse as praias do Sotaven-
rapidamente lhes criou as estruturas imprescindí-
to” e que as praias do Algarve apenas “... numa ou
veis a esta classe social; noutras ainda, havia como
noutra costa oferecem condições de habitabilidade”.
que uma entente cordiale, havendo períodos do ano
“reservados” para a alta burguesia, e outros que Na altura, e em contraste com as grandes estâncias bal-
eram dominados por classes sociais mais baixas. É, neares do País, havia um hotel em Albufeira, um hotel
verdadeiramente, o início da ocupação sistemática (medíocre) em Armação de Pêra (uma das praias mais
dos litorais arenosos oceânicos, remetendo, conse- frequentadas pelos algarvios), três em Portimão, um na
12
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
Praia da Rocha (registando-se 600 a 700 banhistas por Fenómeno sociológico e económico extremamente
ano, quase todos algarvios e do Baixo Alentejo), dois interessante, muito rapidamente a utilização turísti-
em Lagos, etc. Na maior parte dos núcleos urbanos co-balnear das praias se impõe a toda a sociedade.
costeiros, como Carvoeiro, Quarteira e Monte Gordo, Verifica-se, simultaneamente, modificação dos gos-
nem sequer havia qualquer hotel. tos estéticos, passando a ausência de bronzeado, de
certa forma, a constituir elemento de discriminação
É apenas após a 2ª Grande Guerra, na década de 40
social. Após o Verão, a ausência de bronzeado
que, em Portugal, o turismo balnear começa a domi-
denuncia doença ou fragilidade económica que não
nar a propaganda turística e se começa realmente a
viabilizou a ida para a praia.
tentar captar o mercado estrangeiro, embora sempre
de forma condicionada pelos princípios do Estado Foi na segunda metade do século XX que, em geral,
Novo, onde ressaltava a exaltação nacional, de que a se verificou o grande boom turístico, a maior parte do
Exposição do Mundo Português, inaugurada em qual direccionado para as estâncias balneares marinhas.
Junho de 1940, é exemplo paradigmático. Foi determinado, entre outros, pelo aumento do
A sociedade portuguesa, na generalidade, começa a poder de compra, pela generalização do transporte
interessar-se, inquestionavelmente, pela praia. A aéreo, pelo grande incremento da utilização do
imprensa da época, nomeadamente os periódicos, automóvel, pela melhoria da rede viária, pela pro-
evidenciam isso mesmo. Referem-se, apenas a título gressiva facilitação do acesso ao crédito, e pela
exemplificativo, três artigos do Século Ilustrado. A 5 de expansão dos tempos livres (maior duração das
Agosto de 1939, em jeito de publicidade, enaltecem- férias, ampliação dos fins de semana, etc.). Este
-se as vantagens do sol e do mar escrevendo quadro é complementado pelo forte acréscimo do
“Raparigas: o mar e o sol são vossos amigos. número de segundas habitações nas zonas costeiras,
Chamam-vos com a preocupação de cuidar da vossa de tal forma que este passou a ser um dos objectivos
saúde, da vossa beleza e da vossa mocidade”. Tais da generalidade dos cidadãos.
afirmações são inequívocas: a afluência ao litoral é As assimetrias bem marcadas existentes duas
agora motivada por questões de moda, associada a décadas antes, entre os litorais localizados a norte do
critérios de beleza e de estética, como se reconhece Tejo e o do Algarve, inverteram-se rapidamente,
num outro artigo, publicado em 4 de Agosto de transformando a costa sul do país na principal
1945, em que se afirma que “com quatro ou cinco região turística portuguesa, o que viria a ser consoli-
dias de praia a pele fica da cor do bronze, e isto para dado nas décadas seguintes.
as senhoras, é um prazer, porque causará inveja às
amigas de corpo muito branquinho”. A 25 de A utilização do litoral pela generalidade da popu-
Agosto de 1945, o mesmo periódico inclui o artigo lação foi muito facilitada, principalmente a partir da
intitulado «Praias Portuguesas, Praias de sonho» em década de 70, pelo progressivo aumento do poder
que se pode ler: “o mar está conquistando, apaixo- aquisitivo e, simultaneamente, pela consistente
nando dia a dia a alma do povo. Onde existia uma ampliação dos tempos livres. Após a consignação,
praia deserta encontram-se agora pontinhos bran- no século XIX, do direito dos trabalhadores a terem
cos de lona, a assinalar a vida”, e “o sol, a areia, o férias (que foram sendo progressivamente amplia-
mar constituem hoje a maior atracção dos que das), verificou-se a redução da duração da semana
procuram tonificar-se ou simplesmente, gozar um de trabalho, designadamente com a institucionaliza-
dia de ar livre”, e ainda, “o povo corajoso e destemi- ção das 44 horas semanais (Decreto-Lei 409/71),
do deitou-se a descobrir praias onde pudesse esten- que propiciou a “semana inglesa” (tarde de Sábado
der-se na areia”. É a exaltação do turismo balnear. É e Domingo livres) e, posteriormente, das 40 horas
a intensificação da corrida do cidadão para a praia. semanais, isto é, da “semana americana” (Sábado e
É, também, a ampliação da pressão para ocupação Domingo livres), que apesar de ser praticada desde
das zonas costeiras oceânicas, pois que perante tais 1974, apenas viria a ser formalizada em 1996
afluxos turísticos é forçoso dispor das consequentes (Decreto-Lei 21/96). Em simultâneo com o aumen-
acomodações (casas, pensões, hotéis, etc.), bem to da duração das férias, reconhece-se o direito a
como de outras estruturas de apoio, designadamente férias pagas (Decreto Nº 47031, de 1966), formali-
restaurantes, bares, cafés, e comércio em geral. São zado através do Subsídio de Férias (Decreto-Lei
os primeiros impulsos, embora ainda tímidos, da 292/75), o que vem ampliar a apetência do cidadão
construção intensiva no litoral, a qual viria, alguns comum pelas férias na praia. Como resposta a esta
anos mais tarde, a antropizar completamente a pai- ampliação dos tempos livres (e do poder de compra)
sagem de muitos troços costeiros. surgem, as praias de férias, para onde o cidadão se
13
Encontros científicos
desloca com “armas e bagagens”, e as praias urbanas, forte redução do fornecimento sedimentar ao
localizadas próximo de grandes centros urbanos, que litoral, indutora de intensa erosão costeira.
são ocupadas mais intensamente nos fins de semana. São múltiplos os factores indutores de erosão
Nas décadas de 70 e de 80 o aeroporto de Faro insti- costeira. Embora alguns desses factores sejam (ou
tui-se como a principal porta de entrada do turismo possam ser considerados) naturais, a maior parte é
estrangeiro (com nítida predominância do britânico, consequência directa ou indirecta de actividades
seguidos pelo alemão) que se desloca por avião (figu- antrópicas. Os principais factores responsáveis pela
ra 3). Nem sempre as expansões dos fluxos turísticos erosão costeira e consequente recuo da linha de
estrangeiro e nacional se processam de forma conci- costa são a diminuição da quantidade de sedimen-
liada, existindo mesmo, nos anos de transição entre as tos fornecidos ao litoral, a degradação antro-
décadas aludidas, algum tipo de discriminação de pogénica das estruturas naturais, as obras pesadas
muitos agentes turísticos (hotéis, restaurantes, etc.) de engenharia costeira e a elevação do nível médio
para com os veraneantes portugueses. do mar (Dias et al., 1994). Verifica-se que, ao longo
do século XX, e em simultâneo com o aumento
Figura 3 exponencial da ocupação permanente das zonas
costeiras (como se referiu no capítulo anterior), os
factores aludidos foram, também, fortemente
ampliados. Constata-se, consequentemente, o
acréscimo de dois fenómenos absolutamente
incompatíveis: a intensificação da construção no
litoral e a amplificação da erosão costeira. O resul-
tado foi a geração de problemas cuja resolução é
extremamente difícil, ou mesmo, em muitos casos,
impossível, com consequências económicas, sociais
e ambientais de magnitude extremamente elevada.
14
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
Vide, ou a do Pego da Moura, em Grândola), ou ao Foi deste modo que a capacidade de armazenamento
abastecimento de água à população (como a de instalada nas bacias hidrográficas aumentou de forma
Belas, de onde partia um aqueduto para Lisboa). impressionante, passando, na bacia do Douro, de 1 689
Eram, porém, pequenos empreendimentos (com- x 106 m3, em 1950, para 8 165 x 106 m3, em 1980
parados aos actuais), e os impactes que induziam no (quase 5 vezes mais). As diferenças entre os valores re-
trânsito sedimentar eram negligenciáveis. ferentes a 1950 e a 1980 são ainda mais significativas na
bacia do Tejo (573 x 106 m3 e 13 300 x 106 m3, isto
O abastecimento eléctrico regional apenas surge em
é, 23 vezes mais), e na bacia do Guadiana (56 x 106 m3
1922, a partir da Central do Lindoso (propriedade
e 4 469 x 106 m3, isto é, quase 80 vezes mais).
do grupo espanhol Electra Del Lima), que vem a ali-
mentar toda a região litoral norte, até Coimbra. Na primeira metade década de 80, segundo os
Porém, por enquanto, trata-se, apenas de umas cen- dados DGRAH (1986), nas bacias hidrográficas
tenas de kilowatts. Foram as dificuldades energéticas que drenam para o litoral português existiam já
sentidas durante a 2ª Guerra Mundial que moti- 321 barragens (93 em Portugal e 228 em
varam a intervenção mais profunda do Estado Espanha), cuja capacidade de armazenamento era
(nomeadamente com a Lei 2002, de 1944), no senti- de 32 356 x 106 m3 (7 211 x 106 m3 nas barra-
do de substituir as centrais térmicas (que trabalha- gens portuguesas e 25 145 x 106 m3 nas barra-
vam a carvão, importado) por centrais hidroeléctri- gens espanholas). Progressiva, mas rapidamente,
cas. Assim, as décadas de 40 a 70 são caracterizadas as bacias hidrográficas ibéricas, como a do Tejo
pela construção de grandes centrais hidroeléctricas (figura 4), transformaram-se em grandes cascatas
nas principais bacias hidrográficas portuguesas. Para de barragens. Com tal esquema de aproveitamen-
aquilatar da intensidade de construção de empreen- tos hidráulicos é evidente que só em períodos
dimentos hidroeléctricos basta referir que o ritmo de excepcionais de grande pluviosidade concentrada
crescimento da produção hidroeléctrica foi, entre 1944 e de descoordenação entre a gestão das albu-
e 1961, de 18% ao ano. Em Espanha, onde se localiza feiras espanholas e portuguesas existe a possibili-
a maior parte das bacias hidrográficas que drenam para dade de a capacidade de armazenamento ser exce-
o litoral português, verificou-se processo análogo. dida e ocorrerem cheias.
Figura 4
Representação esquemática da bacia hidrográfica do Tejo, com indicação das barragens exis-
tentes e projectadas em 1986 (adaptado de Dias, 1990).
A simples análise da redução da área que é directa- drenagem directa para o mar foi inibida, é a que
mente drenada para o mar devido à construção apresenta relevo mais montanhoso sendo, em
de barragens (Figura 5) permite deduzir que a geral, mais sedimentogenética. Os aproveitamen-
diminuição dos volumes sedimentares trans- tos hidroeléctricos e hidroagrícolas das bacias
portados por via fluvial é extremamente signi- hidrográficas que desaguam em Portugal são
ficativa. Devido a esses aproveitamentos responsáveis, provavelmente, pela retenção de
hidroeléctricos e hidroagrícolas, a área aludida mais de 80% dos volumes de areias que eram
reduziu-se, ao longo do século XX, em mais de transportadas pelos rios em regime natural.
85%, em Portugal (Dias, 1990). Esta área, cuja
15
Encontros científicos
O conjunto acumulado das acções que têm vindo a (2003) referentes ao período anterior à entrada em
ser referidas justificaria, só por sí, um forte com- funcionamento da barragem do Alqueva, após a
portamento transgressivo do litoral. O rio Douro, construção das barragens, cuja fase mais activa
por exemplo, que em regime natural debitaria cerca decorreu nas décadas de 50 e de 60, os escoamentos
de 1,8x106 m3/ano de carga sólida transportada médios anuais decresceram para metade (figura 6).
junto ao fundo, teve esse valor reduzido para cerca O efeito das barragens manifestou-se por
de 0,25x106 m3/ano, após conclusão de todas as decréscimo acentuado dos anos “húmidos” e
obras previstas (Oliveira et al., 1982). aumento nítido dos anos “secos”, isto é, cerca de
75% dos anos “húmidos” passaram a ser conver-
Outro efeito de grande relevância induzido pelas tidos, pelas barragens, em “normais”, e cerca de
barragens é o da eliminação ou amortização das 75% destes transformam-se em anos “secos”
cheias. Sabe-se que a maior parte das areias são (Dias et al., 2004). É possível que esta modificação
exportadas da zona estuarina para a zona litoral e no regime do rio esteja também relacionada com
plataforma interna no decurso das cheias. Quanto alterações no padrão de distribuição dos sedimen-
maior é a cheia, maior é o volume de sedimentos tos na plataforma continental, nomeadamente
(nomeadamente de areias) exportadas para o expressas pela translação, para o largo, do corpo
litoral. Eliminando ou diminuindo a ocorrência das lodoso adjacente (prodelta de vazante) à foz do
cheias e dos picos de cheia, as barragens vieram Guadiana (Dias et al., 2000).
inibir ou minimizar a exportação das areias para a
plataforma e, consequentemente, a alimentação do Figura 6
litoral (Dias, 1990).
Figura 5
16
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
então disponível. Até ao início do século XX, o era um dos principais abastecedores sedimentares
assoreamento estuarino era periodicamente con- do litoral localizado a Sul, e que se prolonga até
trariado pela ocorrência de cheias, que exportavam Aveiro), o volume de sedimentos dragados entre
para o exterior do estuário (plataforma e litoral) 1982 e 1986 foi de 3x106 m3, isto é, um quantitati-
grande parte dos sedimentos aí acumulados. vo pouco inferior ao estimado para o volume de
sedimentos interessados na deriva litoral, o qual se
Ao longo do século XX o tráfego marítimo aumen- estima ser da ordem de 1x106 a 2x106 m3/ano. Este
tou de forma extremamente significativa, verifican- caso do Douro é apenas exemplificativo das ampli-
do-se progressiva ampliação das dimensões dos tudes de que, actualmente, se revestem, com fre-
navios. Neste contexto, o transporte de petróleo quência, as operações de dragagem. Vários outros
bruto ou dos seus derivados surge como elemento exemplos poderiam ser referidos apesar de, normal-
de extrema relevância, até porque o desenvolvimen- mente, o acesso a estes dados ser muito difícil.
to dos navios petroleiros veio permitir grande
As zonas dragadas ficam em desequilíbrio dinâmico,
economia de escala. Basta referir, a este propósito,
tendendo a ser assoreadas de novo a curto ou médio
que na década de 60 os petroleiros disponíveis eram
prazo, o que obriga a novas operações de dragagem.
da ordem das 100 000 toneladas, e que, passadas
Em geral, quando as zonas dragadas se localizam na
duas décadas, eram já da ordem das 550 000
parte externa do estuário, acabam por ser colma-
toneladas (Sletmo, 1989). Também no transporte de
tadas com areias provenientes da deriva litoral.
outras mercadorias se verificou grande ampliação
Assim, estas dragagens não só diminuem ou inibem
induzida, entre muitos outros factores, pela intro-
a transferência de areias para o litoral, como retiram
dução dos contentores, na década de 50, e pela cons-
à deriva litoral parte dos volumes nela interessados.
trução de terminais de contentores, na década de 80.
Por outras palavras, frequentemente as operações de
Para aquilatar da grande intensificação do transporte
dragagem não só são responsáveis pela inibição do
marítimo pode-se referir, a título de exemplo, que no
abastecimento sedimentar litoral, como ainda reti-
Porto de Lisboa, em 1900 (altura em que, no contex-
ram do trânsito litoral parte das areias que aí transi-
to nacional, este porto tinha um peso bastante
tam (Dias et al., 1994).
maior), entraram 2 772 navios (984 dos quais à vela),
correspondentes à arqueação de 3,6 milhões de Geralmente, quando se trata de areias "limpas",
toneladas (Loureiro, 1907), o que dá uma média de como é frequente acontecer, estes produtos draga-
1 300 toneladas/navio e que, em 2000, entraram dos (em vez de, como seria natural e lógico, serem
3 874 navios cujo conjunto correspondeu a 38 milhões utilizados em operações de realimentação do litoral
de toneladas (www.portodelisboa.com), ou seja, em por forma a reconstituírem a deriva litoral) são uti-
média, 9 800 toneladas/navio. No último quartel do lizados na indústria da construção. Estando o litoral
século XX o porto de Sines, como porto oceânico bastante ocupado, frequentemente em zonas de
que é, veio desviar parte importante do movimento risco elevado, com construções geralmente voca-
de navios do porto de Lisboa. É, também, significa- cionadas para o turismo e lazer, e tendo-se verifica-
tivo que, em 1980, o movimento de navios em Sines do, ao longo do século XX, redução drástica do
tenha sido de 915 e a tonelagem bruta 8,7 milhões abastecimento sedimentar natural devido a inter-
de toneladas, e que esses valores, em 2004, tenham venções várias nas bacias hidrográficas, as dragagens
subido respectivamente para 972 e 18,3 milhões de aludidas, conjuntamente com a utilização, pela
toneladas, o que corresponde ao aumento da indústria da construção, das areias assim obtidas,
tonelagem bruta média de 9 518 para 18 853 correspondem a forte enfraquecimento do ciclo
toneladas/navio (www.portodesines.pt). sedimentar. É como se, ao doente anémico em alto
grau, se fosse, ainda, extrair sangue ...
Este progressivo aumento do calado dos navios veio
aumentar as exigências no que se refere à estabilidade 5.3 Inflências das Extracções de
dos canais de navegação e das bacias de manobra, Inertes
bem como à sua profundidade. Consequentemente,
A quantidade de sedimentos subtraídos ao litoral
as obras de dragagem para abertura, manutenção ou
pelas actividades humanas é, na realidade, muito
aprofundamento desses canais atingiram, progressi-
grande. No que se refere a extracções de inertes
vamente, maior amplitude à medida que a segunda
efectuadas nas zonas fluviais, estuarinas e costeiras
metade do século XX foi decorrendo.
os números conhecidos são reveladores e alar-
A este propósito, e a título apenas exemplificativo, mantes: só no período 1973/76 as explorações
refere-se que, só na parte jusante do rio Douro (que autorizadas de areias nas zonas de Peniche e da
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Encontros científicos
18
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
portuários (que, como se viu, são estruturas forte- Todavia, atacam a “sintomatologia” e não a
mente amplificadoras da erosão costeira), foram “doença”, a qual é a diminuição do fornecimento
construídos ou ampliados a partir de meados do sedimentar. Embora se revelem eficazes na pro-
século XX, numa altura em que, como se constatou tecção local do património edificado em frente ou
mais atrás, se estava a intensificar a ocupação dos imediatamente a barlamar, são amplificadores da
litorais oceânicos. Como, logicamente, existe incom- erosão costeira no sector a sotamar.
patibilidade entre ambas, os problemas multi-
Fundamentalmente, são de três tipos: obras transver-
plicaram-se rapidamente, tentando-se obviar esses
sais (como os esporões); obras longilitorais aderentes
problemas com obras de “protecção costeira”, as
(como os paredões); e obras destacadas (como
quais, por via de regra, vieram agravar ainda mais a
alguns quebra-mares). Todas elas, regra geral, têm
situação. Acontece mesmo que, na maior parte dos
consequências nefastas para o troço litoral em que
casos, a intensificação da construção junto à linha de
são implantadas. Efectivamente, basta o facto de se
costa se verificou, na costa oeste portuguesa, a par-
tratar de estruturas estáticas, rígidas, inseridas num
tir dos anos 80 (como aconteceu, por exemplo, na
meio que é profundamente dinâmico (o litoral), para
Vagueira, no Furadouro e em Esmoriz), numa época
causar perturbações profundas nesse meio. Acresce,
em que já havia plena percepção desta problemática
ainda, que tais estruturas têm, regra geral, como
e em que os casos de edificações ameaçadas ou dani-
objectivo, tornar estático (ou o menos dinâmico pos-
ficadas (quando não mesmo destruídas) estavam a
sível) partes importantes do litoral (Dias et al., 1994).
multiplicar-se.
Figura 7
As estruturas transversais, tipo esporão, inter-
rompem o trânsito litoral de areias, conduzindo a
acumulação a barlamar e a erosão mais intensa a
sotamar. Quando a acumulação a barlamar preenche
o comprimento do esporão, se este é longo, a cor-
rente é deflectida para o largo e transporta parte das
areias para profundidades onde, muitas vezes, dificil-
mente são reintegradas na circulação costeira.
Verifica-se, assim, perda de areias no sistema litoral.
Devido à erosão suplementar que provocam a sota-
mar, com frequência outras edificações começam a
estar em risco, pelo que, na esmagadora maioria dos
casos, não existe apenas um esporão, mas sim um
campo de esporões (figura 8).
Figura 8
19
Encontros científicos
Figura 10
20
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
O caso apresentado, embora apenas exemplificativo, é pela generalidade dos investigadores são conver-
porventura o mais paradigmático do litoral português. gentes, indicando, ao longo do século XX, ele-
Na generalidade, em Portugal, constata-se que: vações da ordem de 1,5mm/ano. Numa primeira
a) ao longo do século XX a erosão costeira foi-se análise, este valor pode parecer muito pequeno.
agravando devido, principalmente, a deficiências de Porém, basta pensar no pendor médio dos sapais
abastecimento sedimentar; (muito pequeno) para concluir que esta elevação é
responsável, anualmente, em média, pela erosão
b) simultaneamente, verificou-se grande intensifi-
de vastas áreas estuarinas ou lagunares. Embora
cação da construção (no Algarve a partir dos anos
não seja tão evidente, esta elevação provoca tam-
60 e na costa Oeste a partir dos anos 80) muito
bém recuos anuais médios que variam entre pou-
próximo da linha de costa (em activo processo de
cas dezenas de centímetros e mais de um metro
recuo), a maior parte da qual vocacionada para o
nas nossas praias e arribas talhadas em materiais
turismo ou constituída por habitação secundária;
pouco consolidados.
c) perante os riscos existentes e, mesmo, danificação
ou destruição de algumas edificações, foi decidido, Na análise deste assunto, Portugal beneficia do
em geral com carácter de urgência, proteger o facto de ser detentor de uma das mais longas
património edificado em zonas muito vulneráveis, séries maregráficas mundiais, a do marégrafo de
utilizando-se para tal estruturas de “protecção Cascais, que além do mais, é uma das poucas
costeira” (apesar de se saber que estas constituem estações oceânicas (isto é, não localizada dentro
factor de forte fragilização do litoral a sotamar); de um estuário ou laguna). O estudo desta série
d) por via de regra, estas estruturas vieram agravar maregráfica (Taborda & Dias, 1988; Dias &
ainda mais os problemas de erosão costeira; Taborda, 1989,1991) permite deduzir, para
Portugal, uma elevação média do nível relativo do
e) apesar disso, a ocupação da orla costeira continu-
mar, ao longo do presente século, da ordem de
ou a intensificar-se, em geral com construções des-
1,3 mm/ano. No entanto, na série aludida, verifi-
tinadas para o turismo e lazer;
ca-se que, desde 1920 até à actualidade, existe
f) os três últimos processos (e apesar da legislação exis- tendência nítida de subida à taxa média de cerca
tente, do conhecimento científico já adquirido e das de 1,7 mm/ano (figura 11).
recomendações das organizações nacionais e interna-
cionais), continuam, actualmente, a intensificar-se. Figura 11
21
Encontros científicos
22
Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
Surgiu, assim, a necessidade de, rapidamente, pro- Este novo panorama vem tornar ainda mais difícil
ceder a uma gestão costeira efectiva e eficaz. a gestão costeira. Por um lado, perante os investi-
Porém, essa gestão costeira é dificultada pela falta mentos realizados, há que manter os núcleos turís-
de experiência da administração pública neste tico-balneares tradicionais, aumentando-lhes a
domínio, pelo deficiente conhecimento científico qualidade (através de melhoria das infra-estruturas
da forma como funcionam os sistemas costeiros, básicas, dos serviços, das características ambientais,
pela grande importância económica do fenómeno etc.). Por outro lado, há que garantir uma fatia (tão
turístico, pela crescente pressão de ocupação, pelos grande quanto possível) dos novos tipos de turis-
vultuosos investimentos que é preciso efectuar mo, geralmente incompatíveis com o turismo de
para sanear a situação, pela forte sazonalidade do massas. Por outro lado, ainda, há que recuperar e
turismo balnear (exigindo infra-estruturas que se preservar os ecossistemas, e manter a sua integri-
revelam fortemente sobredimensionadas durante a dade funcional, o que conflitua fortemente com as
maior parte do ano), etc.. pressões exercidas por este último tipo de turismo
e pelos lobbies ligados ao imobiliário. E há também
No último quartel do século XX o fenómeno turís-
a considerar, entre muitos outros pontos, a vulne-
tico-balnear adquire novos contornos. Os destinos
rabilidade do turismo face a contextos interna-
tradicionais encontram-se saturados, mas a banali-
cionais negativos (conflitos armados, recessões
zação do transporte aéreo propicia deslocação fácil
económicas, actos de terrorismo, epidemias, etc.),
para outros destinos, mais exóticos. Muitas das
as zonas de risco relacionadas com o mar (grandes
estâncias balneares, vencidas pelos novos destinos,
temporais, sobreelevações excepcionais do nível
vêem-se na contingência de baixar os preços,
marinho, tsunamis, elevação do nível médio do mar,
sendo ocupadas por um turismo de massas fre-
etc.), a recuperação de valores culturais tradicionais
quentemente com baixo poder económico. A sua
(imprescindível para manter a identidade das popu-
rentabilidade económica começa a ser questioná-
lações), e a recuperação da boa qualidade das águas.
vel. Por outro lado, no cidadão comum, emerge a
consciência ambiental, bem como a percepção de Surgem, assim, novos conceitos, como o do
outros valores, designadamente da qualidade “Desenvolvimento Sustentável” e o da “Gestão
higiénico-sanitária, da importância da actividade Integrada das Zonas Costeiras”.
física e dos valores culturais (tradicionais ou não).
Os valores estéticos começam, também, a pesar na 7. A Ges tão Int egr
egr ada das Zonas
selecção dos destinos turísticos. Surgem, assim, nas Cos t eir as
zonas costeiras, novos tipos de turismo, de que o
turismo ambiental, o turismo associado ao golfe, o Pode afirmar-se que, quase por definição, a gestão
turismo relacionado com reuniões profissionais das zonas costeiras é uma gestão de conflitos.
(ou outras), o turismo desportivo e o turismo cul- Efectivamente, as múltiplas actividades que aí
tural são apenas exemplos. E todos eles, geral- decorrem (relacionadas com diferentes tipos de
mente, incompatíveis com o turismo de massas de turismo, com a exploração de recursos vivos, com
baixo poder económico. E todos eles, geralmente, indústrias variadas, com o transporte, com a pro-
incompatíveis com a degradação e artificialização dução de energia, com a exploração de recursos
do litoral. E, no entanto, é por este tipo de turismo, geológicos, etc., etc.) são, em geral, conflituais entre
normalmente procurado pelos segmentos médio e si, e conflituam com o correcto funcionamento
elevado, que compensa competir, até porque, sistémico ambiental. As zonas costeiras são, tam-
mesmo em termos económicos, é, de longe, o mais bém, zonas de risco, designadamente porque cor-
compensador. respondem a zonas tampão quanto a eventos ma-
rinhos altamente energéticos, como os grandes
Também nas últimas décadas do século XX, a temporais e os tsunamis, havendo necessidade de
sociedade adquire consciência de que existem proteger correctamente populações e actividades
modificações ambientais em curso, designada- económicas.
mente de índole climática (em geral apelidadas por
“Global Change”), cujos contornos são difíceis de A Gestão Integrada das Zonas Costeiras (interna-
avaliar através do conhecimento científico actual. cionalmente referida pelas siglas ICZM – Integrated
Também nesse período se verifica agravamento Coastal Zone Management) tem como ideia base a
generalizado da erosão costeira, e surgem grandes compatibilização de tudo o que se referiu (e de
preocupações quanto às consequências da elevação muito mais), efectuada de forma sustentável.
do nível médio do mar. Consequentemente, para ser efectivada, tem que,
23
Encontros científicos
obrigatoriamente, contemplar, entre muitos outros, É aqui que releva a actuação do cidadão (designa-
os múltiplos factores ambientais (físicos, geológi- damente a do técnico enquanto cidadão). A parti-
cos, biológicos, químicos), económicos, sociais, cipação pública no acto decisório e na fiscalização
culturais, históricos e políticos. É, por excelência, dos actos de governação (nacional, regional ou
uma actividade profundamente multidisciplinar e local) é essencial e imprescindível. Mas também
interdisciplinar. Tal é a sua complexidade e dificul- neste aspecto se verifica a falência do sistema, com
dade que, com frequência, é considerada como um particular acuidade para os países latinos. Em geral,
ideal a que apenas se podem efectuar aproximações instalou-se a convicção, no cidadão, de que a inter-
grosseiras. Efectivamente, tal tipo de gestão exige a venção pessoal “não vale a pena”, “não serve para
participação de equipas técnicas muito alargadas e nada”, e “eles fazem o que querem”. Nestas
a definição muito clara e precisa de objectivos, que condições, é a completa falência da democracia
necessariamente têm que ser fornecidos pela esfera participativa! Compete à esfera política reconstituir
política. Acontece que, normalmente, na situação a confiança democrática …
actual, os técnicos tentam impor as suas opções
políticas, e os políticos não têm em devida conside- 8. A Gestão
Gestão Integ
Integr
r ada do Ter
Terr
ritór
itório
io
ração os pareceres técnico-científicos, tentando
impor opções que os beneficiem politicamente. No entanto, mesmo que todo o processo decisório
e de implementação, no terreno, das opções políti-
Na realidade, o pessoal técnico e científico deve cas, funcionasse adequadamente, forçoso é con-
restringir a sua actividade ao domínio exclusiva- cluir que a Gestão Integrada das Zonas Costeiras
mente técnico-científico, fornecendo dados objec- seria impossível. Como se referiu, do ponto de
tivos ao poder decisório, desejavelmente sob forma vista ambiental, as zonas costeiras constituem sis-
de “cenários” ou “opções possíveis”. Tal não signifi- temas abertos, estando profundamente depen-
ca, antes pelo contrário, que esses indivíduos dentes, por exemplo, do que se passa nas bacias
abdiquem da sua cidadania, expressando as suas hidrográficas drenantes. Como é óbvio, são, tam-
opiniões e preferências pessoais nos meios adequa- bém, sistemas abertos no que se relaciona com
dos. É uma dicotomia em que se deve ser rigoroso: outros aspectos, nomeadamente os económicos, os
enquanto técnico ou cientista, a função é expressar sociais, e os culturais. Consequentemente, a Gestão
exclusivamente pareceres técnicos ou científicos; Integrada das Zonas Costeiras não faz qualquer
enquanto cidadão, beneficiando dos seus conheci- sentido sem que exista uma Gestão Integrada do
mentos técnico-científicos, deve expressar as suas Território. A primeira deve constituir, apenas, uma
opiniões particulares e políticas. parte da segunda.
Na gestão do território, o poder decisório das Existe, assim, uma subordinação que interessa
grandes opções está atribuído aos governantes, isto definir claramente e instituir de forma assumida:
é, aos políticos. Estes, face aos “cenários” ou Gestão Integrada do Território – Gestão Integrada
“opções possíveis” que lhes são apresentados pela das Bacias Hidrográficas - Gestão Integrada das
esfera técnico-científica, devem decidir, de forma Zonas Costeiras. Esta última tem, forçosamente,
clara e inequívoca, o que é melhor para o País ou que estar condicionada (e, simultaneamente, condi-
para a Região, e consequentemente devem fornecer cionar) às duas primeiras.
aos técnicos as orientações políticas necessárias e
suficientes para que as opções tomadas sejam de- Importa, aqui, precisar o que se entende por
vidamente implementadas no terreno. Verifica-se, “Território” e por “Bacia Hidrográfica”. “Terri-
porém, que também na esfera político-decisória tório” é todo o espaço tridimensional existente
existe, frequentemente, grande falta de coerência. (terrestre, marinho e atmosférico) e que, para que a
Não raro, por exemplo, se consigna determinada gestão integrada seja exequível, deve ser dividido
área como Parque Natural, o que expressa uma em unidades mega-regionais (nacionais ou transna-
opção clara pelo desenvolvimento de uma política cionais), desejavelmente caracterizadas por alguma
de conservação ou de preservação ambiental, e homogeneidade (climática, geológica, biológica,
pouco tempo após (se não quase em simultâneo), económica, social, etc.). “Bacia Hidrográfica” é
cedendo a outras pressões sócio-económicas, se todo o espaço tridimensional correspondente à
aprovam, para a mesma área, indústrias, área ocupada pela bacia hidrográfica (no conceito
empreendimentos turísticos, e outras actividades clássico), mas também por todo o espaço marítimo
incompatíveis com a decisão inicial. em que se faz sentir a influência das águas debi-
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Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
tadas por essa bacia. Nesta lógica, as zonas devidamente preparados. Na actualidade, ten-
costeiras devem estar integradas na bacia hidrográ- tam-se corrigir erros passados e lançar as bases
fica com a qual mantêm relações de dependência. para uma gestão integrada, viabilizadora da
manutenção da integridade funcional dos sistemas
Embora de forma tímida, na União Europeia, esta e, simultaneamente, do máximo de actividades
visão foi já, de alguma forma, consignada, em económicas e sociais. Todavia, tal não é mais do
2000, através da Directiva Quadro da Água. Porém, que um ideal (inatingível nas condições actuais).
e apesar dessa Directiva, numa interpretação mais
abrangente, poder propiciar uma Gestão Integrada Efectivamente, a Gestão Integrada das Zonas
do Território e, consequentemente, poder viabi- Costeiras não pode ser concretizada sem que se
lizar uma Gestão Integrada das Zonas Costeiras, alterem os actuais níveis de actuação política, técni-
verifica-se que, da parte dos competentes organis- ca, e de cidadania. Além disso, não consegue ser
mos de gestão, existe tendência para uma interpre- efectivada sem que:
tação mais restritiva, focalizada prioritariamente a) se modifique a estrutura organizacional de
nos aspectos de qualidade química e bacteriológica gestão do território (até porque, por exemplo, não
da água, preferencialmente das massas de água é possível gerir um litoral intrinsecamente depen-
continentais. São, assim, remetidos para segundo dente do abastecimento sedimentar fluvial inde-
plano (se não, mesmo, esquecidos) os outros pendentemente dos actos de gestão ocorrentes no
aspectos relevantes (tais como, entre muito outros, interior da bacia hidrográfica);
os relacionados com a dinâmica sedimentar, com a b) existam decisões políticas claras e totalmente
física das águas marinhas, e com as actividades assumidas sobre as prioridades para cada trecho
económicas das populações locais). Por outras costeiro (e que sirvam de orientação específica aos
palavras, a Directiva Quadro da Água, tal como técnicos encarregados de implementar essas políti-
parece estar a ser implementada, não viabilizará cas no terreno);
uma Gestão Integrada do Território e, como é
c) se amplie o actual nível de conhecimento cientí-
óbvio, impedirá qualquer tentativa séria de Gestão
fico sobre os ecossistemas costeiros (pois que para
Integrada das Zonas Costeiras.
gerir é preciso conhecer, não sendo possível gerir
correctamente o que não se conhece);
No entanto, é possível viabilizar (exigir) uma
Gestão Integrada. Tal depende do conjunto dos d) se adopte como princípio básico da gestão
cidadãos (e de cada cidadão individualmente), e da costeira o princípio da precaução (extremamente
sua actuação conscienciosa e responsável enquanto aconselhável perante o actual nível do conheci-
cidadãos, seres políticos, e técnicos/cientistas. Fora mento científico, mas também porque é o mais
do imediatismo dos interesses particulares quotidi- adequado perante a possível ocorrência de episó-
anos, o Futuro (nosso e dos vindouros) exige isso. dios raros altamente energéticos);
e) se constituam equipas multidisciplinares
9. Conclusões alargadas (oceanógrafos, físicos, geólogos, cli-
matólogos, biólogos, engenheiros, economistas,
As zonas costeiras correspondem a ecossistemas sociólogos, etc.), funcionando de forma profunda-
complexos, altamente dependentes de forçamentos mente interdisciplinar, que permitam adequado
externos (bacias hidrográficas, bacias oceânicas aconselhamento do poder decisório e viabilizem
adjacentes, espaço atmosférico, ambiente tectóni- actos de gestão que não ponham em causa a inte-
co, parâmetros económicos mundiais, tendências gridade funcional dos sistemas (ambientais,
sociais, gostos estéticos dominantes, etc. etc.). económicos, sociais, etc.);
Compreendem zonas estuarinas e lagunares, e
f) se tenha consciência de que cada sistema é único,
litorais oceânicos. Se os primeiros foram, desde
carecendo, consequentemente, de reconhecimento
sempre, objecto de intensa ocupação humana, já
científico específico (e que soluções que funcionam
nos segundos, por serem inóspitos, essa ocupação
adequadamente num determinado sector costeiro
apenas se processou significativamente a partir de
podem não ter aplicabilidade noutro sector);
meados do século XIX, e com maior acuidade na
segunda metade do século XX. A brusca intensifi- g) se adquira a percepção clara de que os sistemas
cação da utilização das zonas costeiras, principal- costeiros são sistemas em evolução, e de que exis-
mente dos litorais arenosos oceânicos, ocorreu sem tem modificações que são intrínsecas a essa
que os organismos de gestão estivessem para tal evolução (o que, em geral, é facilmente reconheci-
25
Encontros científicos
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Evolução da Zona Costeira Portuguesa - João Alveirinho Dias
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
6
RISCOS NATURAIS
ASSOCIADOS A VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR
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Acresce ainda que, com frequência, o território português é afectado pela passagem
de núcleos de baixas pressões e/ou de superfícies frontais, em consequência das quais se
geram ondas de curto período que, por vezes, são também violentas. Quando se verifica a
sobreposição destes tipos de ondas, e quando ambas são violentas, a energia dissipada no
litoral é muito grande tendo, muitas vezes, consequências catastróficas. É nestas ocasiões que
a erosão costeira atinge amplitude máxima e se verificam grandes recuos da linha de costa.
Embora o conhecimento do regime da agitação marítima em Portugal ainda não seja
muito bem conhecido, existem já vários trabalhos bastante interessantes sobre o assunto,
nomeadamente os de Carvalho & Barceló (1966), Pires & Pessanha (1984; 1986 a, b), Pita et
al (1987), Pita & Santos (1989), Capitão (1992) e Mendes (1992). Aponta-se, a título
exemplificativo, o trabalho efectuado por Pires & Pessanha (1982) os quais, tendo por base as
séries do registo do ondógrafo de Sines obtidos entre 1974 e 1980, determinaram a
distribuição dos valores máximos anuais da altura significativa, da altura máxima e do
período médio das ondas de temporais com períodos de retorno vários.
Trabalhos vários (p.ex.: Carvalho & Barceló, 1966; Pires & Pessanha, 1986a, 1986b)
indicam claramente que a violência dos temporais na costa ocidental portuguesa é maior a
Norte do que a Sul. Assim, o litoral entre Espinho e Nazaré é dos troços portugueses mais
violentamente atingidos pelos temporais.
Na tabela 6.1 estão expressas as alturas máximas significativas atingidas por
temporais com períodos de retorno entre 1 e 100 anos, segundo os valores calculados por
Pires & Pessanha (1986 a, b) para o Cabo da Roca, Mendes (1992), para a Figueira da Foz e
Ferreira (1993), para a generalidade da costa oeste portuguesa.
TABELA 6.1
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
Regista-se que, apesar das incertezas existentes e dos diferentes métodos utilizados
pelos diversos autores, os resultados apresentados são muito semelhantes.
Verifica-se, ainda, que o temporal com altura significativa de 9,5m (que tem ondas
com altura máxima superior a 17m) e período médio de cerca de 16s tem um período de
retorno de apenas 5 anos. Com um período de retorno de 25 anos estima-se um período médio
de cerca de 18s e uma altura significativa superior a 11m (a que corresponde uma altura
máxima superior a 20m).
Os valores apontados testemunham bem o carácter extraordinariamente
energético do sector costeiro em análise, bem como a violência extrema dos temporais
que a podem assolar. Só a título de exemplo comparativo, refere-se que a maior erosão
costeira registada desde sempre na Holanda devida a um único temporal foi de 154m3/m. Na
área considerada neste relatório, no decurso de alguns temporais singulares, com períodos de
retorno de cerca de 4 anos, têm sido quantificadas erosões superiores a 200m3/m nalguns
locais. Aliás, e ainda a título de exemplo, refere-se que, a Sul de Cortegaça, um único
temporal ocorrido em 1989 induziu um recuo da linha de costa local da ordem dos 15m.
Constituindo os temporais o principal veículo de erosão costeira, é importante que os
estudos sobre o assunto sejam mais incentivados, e que os seus resultados sejam devidamente
integrados na gestão desta faixa costeira.
Com efeito, os temporais constituem um dos maiores riscos naturais (e um dos
mais frequentes) do litoral considerado. As consequências da actuação de um temporal
excepcional nesta região podem ser catastróficas. Não só a linha de costa sofrerá recuos
muito grandes, como as estruturas de protecção costeira e algumas das edificações existentes
podem ser seriamente danificadas.
Se, por exemplo, no decurso de um deste temporais, a protecção longilitoral aderente
da Vagueira (para considerar apenas um dos casos) entrar em ruptura, seguramente que se
atingirá o estado de catástrofe regional, com danificação e provável destruição de vários
edifícios, alagamento das caves e rés-do-chão da maior parte dos edifícios, inundação das
terras baixas interiores, salinização dos terrenos, degradação das estradas, etc. Os prejuízos
económicos e sociais serão extremamente elevados, para já não falar nos danos ao nível
ecológico e do património natural. Se esse temporal for persistente, isto é, se durar alguns
dias, ou se se lhe seguir outro temporal, corre-se mesmo o risco de se abrir nova ligação do
mar à laguna de Aveiro. O caso toma amplitude bastante maior se se considerar que,
simultaneamente, ocorrerão provavelmente situações igualmente graves em vários outros
pontos desta região (p.ex.: Espinho, Esmoriz, Cortegaça, Furadouro, Costa Nova do Prado,
Mira, Tocha, Gala, Cova, Lavos, Leirosa, etc.).
Consequentemente, os riscos naturais associados aos temporais devem constituir
preocupação permanente e prioritária de todos os órgãos envolvidos na gestão deste
litoral.
136
Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
14,6m, condições estas que, de acordo com Ferreira (1993), tem um período de retorno de 5
anos. Os valores máximos de sobreelevação registados variam entre 40 (Lagos) a 120cm
(Aveiro) (Figura 6.3).
A grande amplitude dos estragos provocados por estes temporais ficou a dever-se ao
facto de, em ambos os casos, terem ocorrido em situação de marés vivas, as quais, todavia,
não foram excepcionalmente altas. Os níveis máximos de marés atingidos foram de 3,8m
(temporal de 1978) e 3,6m (temporal de 1981), valores que não se podem considerar fora do
normal. Caso estes valores tivessem atingido cotas superiores a 4,0m Z.H. ou 4,5m Z.H.,
valores possíveis em Portugal, as danificações teriam sido muito maiores.
Estes resultados revelam que, ao contrário do que era geralmente aceite, os episódios
de "storm surge" em Portugal podem atingir amplitude bastante significativa, o que justifica o
relevo dado a este fenómeno neste relatório. Todavia, apesar do interesse indiscutível de
trabalho referido, o facto de se terem analisado apenas dois temporais (que nem sequer se
podem considerar como realmente excepcionais), inviabiliza uma completa caracterização do
fenómeno em Portugal.
Assim, existe forte possibilidade de poderem ocorrer episódios de "storm surge" com
amplitudes significativamente superiores às indicadas. Se tal se verificar em período de marés
vivas equinociais e em simultâneo com temporais excepcionais, os estragos provocados na
orla costeira poderão ser muito grandes e, eventualmente, poderá haver perda de vidas
humanas. Certo é que a probabilidade de ocorrer tal coincidência não é grande. No entanto, a
história (mesmo a das últimas décadas) demonstra que tais coincidências ocorrem na
realidade, acarretando, geralmente, grandes custos económicos e sociais.
6.6. "TSUNAMI"
"Tsunami", termo japonês que designa um nível elevado das águas num porto, é
aplicado pelos japoneses às sobreelevações verificadas no litoral (quer nos portos, quer em
baías, quer em costas expostas) resultantes de perturbações ocorridas no fundo do mar. Há já
bastante tempo que o termo foi importado para a terminologia cientifica internacional. Em
Portugal utiliza-se, também, o termo "maremoto" e, por vezes, como sinónimo, o termo
"macaréu".
Como se referiu, os "tsunami" são provocados por perturbações muito rápidas
verificadas no fundo do mar. A causa mais conhecida são os sismos em que se verifica
ruptura superficial. Todavia, existem vários outros mecanismos indutores de "tsunami",
nomeadamente associados a crises vulcânicas submarinas e a episódios turbidíticos.
As ondas de "tsunami" têm comprimentos de onda muito grandes (da ordem dos 80 a
1200 Km). Consequentemente, o estudo destas ondas excepcionais pode ser efectuado
utilizando as equações para águas pouco profundas da teoria de Airy. Portanto, a celeridade
do "tsunami" no oceano será função da raiz quadrada da altura da coluna de água, que em
termos médios é da ordem dos 4000 a 5000 m. Assim, a celeridade destas ondas é da ordem
dos 800 Km/h.
Enquanto se propaga em oceano aberto, o "tsunami" apresenta altura relativamente
baixa, normalmente inferior a 1m, o que torna muito difícil a detecção da passagem da onda
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
por navios ao largo. Todavia, quando se aproximam da costa e começam a aumentar, podem
atingir valores com ordens de grandeza uma ou duas vezes superiores aos que possuíam em
oceano aberto. Esta característica confere frequentemente aos "tsunami" um elevado
potencial de destruição.
Um dos "tsunami" mais destruidores da história foi o que em 1 de Novembro de
1755 atingiu a costa portuguesa, na sequência de um sismo de magnitude excepcionalmente
elevada. Na realidade, é possível concluir através de interpretação das fontes históricas, que o
"tsunami" foi responsável por maiores estragos e maior número de mortes que o próprio
sismo. Aliás, este "tsunami" atingiu também a costa americana com alturas da ordem dos 5m
ou mais (cerca de metade da altura atingida em Portugal), tendo também aí provocado
estragos.
Embora os "tsunami", tais como os sismos, sejam de ocorrência esporádica e não
previsível, os registos históricos, mesmo os recentes, indicam que:
a) a sua frequência não é desprezível,
b) podem ocorrer em qualquer altura,
c) não há qualquer tipo de periodicidade.
Entre os muitos "tsunami" da história recente pode referir-se o que foi gerado pela
erupção do Krakatoa em 1883, o qual atingiu a Indonésia com uma altura estimada em 30 a
40m, tendo aí provocado cerca de 36 000 mortos. Mais catastrófico do que o "tsunami" de
Krakatoa foi o que atingiu a baía de Bengala em 1876, tendo originado mais de 200.000
mortos.
Na costa ocidental da América do Sul, particularmente susceptível à ocorrência de
"tsunami", têm-se registado fenómenos deste tipo cuja altura é da ordem dos 40m. No
entanto, o "tsunami" com maior altura de que há notícia foi o que atingiu em 1737 o Cabo de
Lopatka, na península de Kamchatka, cuja altura está estimada em 70m.
O facto de as margens do Pacífico serem as que com mais frequência são atingidas
por "tsunami", precisamente por ser a principal região sísmica do globo, não significa que não
possam ocorrer "tsunami" muito grandes em outras costas oceânicas, o que aliás é
comprovado pelo "tsunami" de 1755 em Portugal. Com efeito, a faixa costeira portuguesa
deve ser considerada como zona de alto risco dado a sua proximidade e posição livre de
obstáculos em relação à zona de fractura Açores-Gibraltar, nomeadamente à planície abissal
da Ferradura e Banco Submarino do Gorringe, onde a maior parte dos sismos que afectam
Portugal são originados.
Com efeito, encontram-se frequentemente na documentação histórica referências a
destruições por "tsunami" em Portugal (Sousa, 1928; Machado, 1937; Moreira, 1973).
Todavia, essas referências são, muitas vezes, vagas, não sistemáticas e impróprias para
viabilizarem um estudo suficientemente consistente sobre o assunto. No entanto, encontram-
se na literatura referências a destruições por "tsunami" em tempos bastante recuados, ainda
antes da nossa era, como o que em 60 AC atingiu a costa portuguesa, gerado por um sismo
com epicentro provável na zona do Gorringe.
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
registos museográficos permite concluir que o "tsunami" induzido por este sismo teve a
amplitude de 115,5cm em Casablanca, de 85,5cm em Lagos e de 81,5cm em Cascais.
De acordo com o estudo aludido, foi estimado que um "tsunami" gerado na zona da
planície abissal de Ferradura-Banco do Gorringe devido a um sismo de magnitude 8,5 a 9,0
na escala de Ricther, o qual tem um período de retorno calculado em 250 anos, produzirá, na
origem, uma onda com 3,8m. Ao propagar-se em direcção a Portugal, tal onda reduzir-se-á
para 2,3m quando sai da zona de perturbação, começando a aumentar nas proximidades do
continente, aproximando-se da costa à velocidade de 20m/s atingindo as alturas de 4,4m a
profundidades de 20m ,e de 7m a profundidades de 5m em frente a Sines, permanecendo
estes níveis durante cerca de 78 segundos.
Verifica-se, assim, que a possibilidade da orla costeira portuguesa ser atingida por
um "tsunami" de grande altura é bem real. Todavia, é pelo menos bizarro que em Portugal se
tenha dado, e muito acertadamente, bastante atenção ao risco sísmico, tendo sido produzida
legislação variada, nomeadamente sobre construção anti-sísmica, e pouca ou nenhuma
atenção tenha sido dada ao risco de "tsunami".
Convém ter presente que a ocupação da faixa costeira era, na época em que ocorreu
o "tsunami" de 1755, bastante reduzida. Actualmente, a situação é completamente diferente,
nomeadamente nas zonas de Espinho - Cortegaça, Furadouro, Aveiro, Costa Nova,
Vagueira, Praia de Mira, Praia de Tocha, Quiaios, Figueira da Foz, Costa de Lavos, Leirosa,
Praia da Vieira, onde existem núcleos urbanos em que a densidade populacional, pelo menos
no Verão, é bastante grande. A catástrofe que teria lugar se esta região fosse, actualmente,
atingida por um grande "tsunami" é inimaginável. E, no entanto, tal é possível a qualquer
momento...
Basta lançar um olhar rápido sobre as plantas dos núcleos urbanos situadas no litoral
para concluir que, se ocorrer um grande "tsunami", nomeadamente as principais infra-
estruturas de socorro em caso de catástrofe (bombeiros, postos de socorros, unidades de
apoio, entidades de coordenação, etc.) estão implantadas a cotas tais que, muito
provavelmente, seriam elas próprias, em grande parte, destruídas ou seriamente
danificadas.
6.7. - GESTÃO COSTEIRA E RISCOS NATURAIS
Facilmente se conclui, do que acabou de se referir, que toda a faixa costeira entre
Espinho e Nazaré deve ser considerada como zona de risco. E, no entanto, que se saiba, a
gestão deste litoral não tem minimamente em atenção os riscos associados a elevações do
nível do mar. Pelo contrário, e apesar da legislação já existente, a construção em zonas de
risco muito elevado ou de risco extremo continua a progredir a ritmo alarmante.
É imprescindível e urgente que se tomem medidas preventivas neste litoral, e que se
institua, em toda a faixa costeira, uma zonação de riscos.
Considerando que a maré viva cheia pode atingir quase 4m (ZH) e que o "storm
surge" pode sobreelevar esse nível de cerca de 1m, e atendendo a que as ondas de temporal
(com período de retorno de 50 anos) e que progredirão neste nível sobreelevado têm altura
significativa de cerca de 12m e altura máxima de cerca 21 m, conclui-se que a maior parte
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Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar
dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré
dos núcleos urbanos e das construções mais ou menos isoladas existentes no litoral entre
Espinho e a Nazaré estão sujeitas a risco muito elevado. Caso se verifique a coincidência
apontada (e convém relembrar que as coincidências acontecem mesmo), as ondas poderiam
atingir locais situados à cota de 25 metros.
Assim, de forma pragmática, e na ausência de estudos específicos (que devem
obrigatoriamente ser efectuados com carácter de urgência), propõe-se, a título preventivo, a
seguinte zonação tentativa:
- Zona de risco muito elevado: abaixo da cota de 5m;
- Zona de risco elevado: entre 5 e 10m;
- Zona de risco moderado: entre 10 e 25m.
É evidente que os serviços essenciais se não devem localizar em zonas de "risco
muito elevado" nem "elevado".
A zonação apontada é, aparentemente, adequada aos diferentes riscos associados a
elevações do nível do mar: a elevação secular, temporais, "storm surge" e "tsunami".
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