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Depressão Sem Tristeza, Com Tristeza e Melancólica

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Outras palavras

Revista Brasileira de Psicanálise · Volume 54, n. 4, 161-176 · 2020

Depressão sem tristeza,


com tristeza e melancólica1

Marion Minerbo2

Resumo: Este estudo psicanalítico das depressões parte do pressuposto de que esse
quadro é sintoma da atividade de um núcleo inconsciente que se organiza em res-
posta a modos específicos de presença do objeto primário: 1) operatório, 2) em
codependência, e 3) por desinvestimento ou por investimento negativo do sujeito.
Essa compreensão permite reconhecer as características do campo transferencial-
-contratransferencial e conduzir as análises em cada caso.
Palavras-chave: psicopatologia, depressão sem tristeza, depressão com tristeza,
depressão melancólica

Introdução
Clinicamente, a depressão é um quadro mais ou menos típico de infeli-
cidade e falta de prazer com a vida. Muitas vezes há também um rebaixamento
da autoestima e a certeza de ser indigno do amor do outro. Mas o que melhor
caracteriza o estado depressivo é a falta de esperança e a vivência de futuro blo-
queado (Bleichmar, 1983). Entretanto, assim como a febre é apenas sintoma de
uma infecção, a depressão é a manifestação sintomática de processos psíquicos
inconscientes.3 Da mesma forma que febres diferentes remetem a processos
infecciosos distintos, podemos reconhecer infelicidades diferentes produzidas
por núcleos inconscientes distintos. Estes irão se manifestar na transferência
com características próprias e exigirão estratégias terapêuticas específicas.

1 Agradeço a Alexandre Maduenho, Daniel Delouya e Perla Klautau pelas sugestões que ajuda-
ram a melhorar este texto.
2 Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sbpsp).
3 No recorte proposto não vou me referir a elementos socioculturais ligados às depressões.
Entendo que o sistema simbólico no qual nos constituímos determina em grande parte as
representações de si e do mundo que formam o pano de fundo da vida psíquica.
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Marion Minerbo

Há um tipo de infelicidade difusa, muito próxima do tédio. A expe-


riência subjetiva não é propriamente de tristeza, mas de vida vazia, estéril,
burocrática, sem criatividade psíquica, colada à concretude das coisas. Nesse
contexto de pobreza simbólica o futuro está bloqueado pela incapacidade de
criar um ideal a ser investido.
Outro tipo de infelicidade aparece como desempoderamento gene-
ralizado. A experiência subjetiva é de não dar conta da vida. Há grande
dependência em relação a um objeto que funciona como muro de arrimo
para o eu. Essas pessoas vivem assujeitadas, com medo de perder o objeto e
desmoronar. Por isso não têm autonomia psíquica suficiente para sustentar
projetos, desejos, opiniões. O futuro está bloqueado porque não conseguem
ser sujeitos da própria vida.
Uma terceira forma de infelicidade aparece como autodepreciação. A
certeza de não ter valor para o objeto vem junto com a vergonha de ser e de
existir, agravada pelo sentimento de culpa pelo próprio fracasso. A vivência
subjetiva é de que nada adianta nada, porque nunca será digno e merecedor do
amor do objeto. Aqui o futuro aparece bloqueado pela certeza de que nenhuma
conquista fará brilhar os olhos do objeto.
Na origem de cada forma de infelicidade – difusa, por desempo-
deramento generalizado e por autodepreciação – encontrei três núcleos
inconscientes distintos. Com base neles, organizei um pequeno painel dife-
renciando respectivamente: 1) depressão sem tristeza, 2) com tristeza e 3) me-
lancólica. Em cada uma, as características específicas do campo transferencial-
-contratransferencial revelam qual foi o modo de presença do objeto primário
em torno do qual se organizou o núcleo inconsciente.
Entendo por modo de presença do objeto as respostas que este pôde dar
aos movimentos pulsionais do bebê, respostas essas que exigiram as defesas
(clivagens e identificações) que, por sua vez, organizaram as dinâmicas consti-
tutivas dos núcleos em questão (Roussillon, 2012).
Posto isso, o objetivo deste trabalho é reconhecer, a partir da clínica,
os distintos modos de presença do objeto primário que estão na origem de três
tipos de depressão, de modo a instrumentar o analista em seu trabalho com esses
pacientes.
Antes de passar à clínica, faço uma breve apresentação do que estou
chamando de pequeno painel sobre as depressões.

1. Depressão sem tristeza, mas com uma infelicidade difusa

Clinicamente, o núcleo inconsciente pode estar menos ou mais tam-


ponado (compensado) por defesas eficazes. Como se sabe, o termo depressão
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Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

essencial ou sem tristeza foi proposto por Marty (1968) para caracterizar o
funcionamento psíquico encontrado em muitos quadros psicossomáticos. A
tristeza está ausente porque o sujeito se cortou de sua vida psíquica, e o sofri-
mento foi “solucionado” pela via somática.
Proponho ampliar essa ideia para os quadros em que a pessoa também
se amputou de sua vida psíquica, mas em vez de somatizar, usou defesas com-
portamentais: adições, compulsões, transtornos alimentares, hiperatividade,
violência, perversões. Essas pessoas não procuram análise por estarem depri-
midas, mas por causa dos sintomas mencionados. De modo geral, sentem que
“algo” não vai bem em sua vida, e descrevem, à sua maneira, o que chamei de
infelicidade difusa. Reconhecemos aí a angústia branca descrita por Green.

2. Depressão com tristeza, com desempoderamento


generalizado

A depressão com tristeza ou narcísica se manifesta como desmorona-


mento do eu pela perda do objeto de apoio, objeto que estou chamando de
muro de arrimo do eu (Bleichmar, 1983; Freud, 1914/1969c). A perda desse
objeto lança o eu numa condição de impotência e desamparo.
Proponho ampliar essa ideia para as situações em que, inversamente,
o próprio sujeito foi usado como muro de arrimo pelo objeto. É nesse campo
intersubjetivo que o sujeito se torna tão desempoderado e tão dependente do
objeto, já que sua autonomia lhe foi sequestrada por suas (do objeto) necessi-
dades narcísicas. Como resultado, sujeito e objeto precisam desesperadamente
um do outro para não desmoronar.
O sujeito se deprime porque sua existência fica limitada a lutar para não
perder o objeto do qual depende, e ao mesmo tempo lutar para se desvencilhar
do objeto que depende dele. Reconhecemos aqui as angústias de separação e
de intrusão descritas por Green.

3. Depressão melancólica com rebaixamento da autoestima

Aqui a questão não é a perda do objeto, como acabamos de ver, mas a


perda do amor do objeto. Não é o desempoderamento por perda da sustenta-
ção egoica, mas a perda do investimento libidinal no eu/do eu.
Como se sabe, na depressão melancólica o supereu odeia e critica o eu
de forma cruel (Freud, 1917/1969b). Identificado a essa instância, o sujeito
é tomado pela certeza de não merecer o amor do objeto, certeza essa que é
primária, inabalável e refratária aos testes de realidade. “Simplesmente não
sou o que deveria ser para merecer esse amor.”
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Marion Minerbo

Proponho considerar essa certeza como um microdelírio cuja função


é dar sentido ao absurdo do desinvestimento pela mãe morta (Green, 1988),
ou pior, ao investimento negativo por parte do aspecto paranoico do objeto
(Minerbo, 2015).
A busca pela perfeição, tão comum nesses pacientes, é secundária, e
revela a tentativa desesperada de merecer seu amor. “Se/quando eu for perfeito,
ele me amará.” Quando essa esperança é perdida, mergulha-se na melancolia.
Esse é o painel. Vamos à clínica.

Depressão sem tristeza


Leonora4 apresenta um transtorno alimentar. Já tinha procurado análise
vários anos antes, mas desistira depois de três sessões. Achou “a terapeuta
muito fria… Ela não falava comigo. Ela esperava que eu falasse, e eu estava
vazia, não tinha nada para dizer.”
Agora quer tentar novamente porque, pela primeira vez, está interes-
sada num homem. Mas tem pavor de imaginar uma relação mais séria. Até
então teve vários “ficantes”. Reconhece sua grande necessidade de seduzir e
chegou a ter diversos casos ao mesmo tempo. Não suporta ficar sozinha em
casa à noite, por isso trabalha até tarde e se mantém ocupada com esses rela-
cionamentos. Quando se angustia, come tudo que tem na geladeira, sem fome
e sem prazer, “só para ocupar as mãos e esvaziar a cabeça”. Em seguida provoca
o vômito para se aliviar. Depois de ter limpado tudo, consegue ir dormir… até
a próxima crise. Recusa-se “a continuar com esta vida. Antes acabar com ela do
que ter essa comilança como única companheira!”
Trabalha até nos fins de semana, mas vai todo dia à academia. Faz mus-
culação cinco vezes por semana. Reconhece que às vezes exagera: “Todos esses
exercícios me matam, mas adoro a sensação de fazer força e de sair dali exausta,
esvaziada”. Apesar da dificuldade diante da solidão, a perspectiva de uma vida
em comum com seu novo amigo a angustia. “A ideia de viver com alguém, de
uma presença cotidiana… Só de imaginar já começo a passar mal. Ter filhos,
então, nem pensar… É horrível imaginar um ser vivo dentro da minha barriga.”
Finaliza a entrevista dizendo que precisa estar o tempo todo trabalhando, se
mexendo, saindo com os amigos. “Se eu paro, estou perdida.”
O que mais chama a atenção nas entrevistas é a ausência de vida interior.
Não há associações, fantasias ou questionamentos a respeito de si. Seu relato
é operatório, quer dizer, se atém à concretude dos fatos, e está inteiramente
voltado para o espaço externo. Também não vemos sinal de afetos da linhagem
4 Livre adaptação do caso Éléonore, apresentado no capítulo 2 (caso 4) do livro 15 cas clini-
ques en psychopathologie de l’adulte (Dumet & Ménéchal, 2005). As elaborações teóricas são
minhas.
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Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

depressiva, que estão tamponados pelo modo de vida descrito. Por isso é uma
depressão sem tristeza. Mas a ameaça depressiva está lá, e se anuncia quando
diz “Se eu paro, estou perdida”, e “Antes acabar com ela [a vida] do que ter essa
comilança como única companheira”.
Descreve um modo de vida organizado pelas lógicas de evacuação. Isso
indica a falta de recursos psíquicos, em especial da função simbolizante, o que
torna impossível tolerar qualquer tensão psíquica e a obriga a descarregar pela
via do comportamento (trabalhar até tarde, malhar até ficar exausta, seduzir
um homem atrás do outro, comer e vomitar). Graças a essas defesas, consegue
funcionar, trabalhar, ser produtiva, ter amigos e sair. Mas esse frágil equilí-
brio fica ameaçado com a possibilidade de um relacionamento sério com um
homem.
Vimos na introdução que na origem de cada tipo de depressão podemos
reconhecer um modo de presença do objeto primário – o qual, nesse caso, não
permitiu a instalação suficiente da função simbolizante. Como todos sabem,
Bion e Winnicott trouxeram contribuições fundamentais sobre o modo de pre-
sença necessário para a instalação da função simbolizante: respectivamente,
função alfa e função espelho da mãe.
Partindo dessas duas contribuições, Roussillon (2008b, 2012) propõe
uma espécie de microscopia desses dois processos – uma metapsicologia do
processo de simbolização –, ressaltando a dimensão pulsional envolvida na
relação intersubjetiva. Por um lado, enfatiza a participação da mãe e do bebê (e
não só da mãe) na constituição da função simbolizante. O símbolo, por defini-
ção, se constitui na e pela junção de duas partes, uma que vem do bebê e outra
que vem da mãe. O processo de simbolização se dá na intersubjetividade, com
a participação de dois sujeitos – dois psiquismos.
Por outro lado, resgata a importância do prazer compartilhado no
vínculo primário. Primeiro, como condição para criar as reservas narcísicas
necessárias para que o bebê se torne progressivamente mais e mais capaz de
tolerar frustrações. Sem essas reservas, a excitação produzida pelas experiên-
cias emocionais desprazerosas não poderá ser retida no interior do aparelho
psíquico e terá que ser descarregada. Segundo, como condição para investir
libidinalmente a própria função simbolizante. O bebê vem ao mundo com o
potencial para simbolizar, mas este só se torna efetivo quando investido po-
sitivamente por seu próprio psiquismo. E isso só acontece se aquela atividade
tiver sido fonte de prazer compartilhado no vínculo intersubjetivo. Somente
então a atividade de simbolizar – ou qualquer outra função psíquica – pode
ser retomada internamente sem a ajuda do objeto.
Qual é o tipo de prazer que precisa ser compartilhado no vínculo pri-
mário? Além do prazer de matar a fome e de sugar, Roussillon (2008b, 2012)
enfatiza o prazer ligado a uma comunicação bem-sucedida entre a mãe e o
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Marion Minerbo

bebê. O autor fala em pulsão mensageira. Para ele, a pulsão não busca apenas
a descarga. Busca também a comunicação com o objeto, que ele chama de
conversação primitiva.
O que seria essa conversação primitiva? O choro do bebê e toda a sua
linguagem corporal significam potencialmente alguma coisa. Mas a comuni-
cação só se torna efetiva, inaugurando o processo de simbolização, se houver
alguém capaz de decodificar e responder a essas mensagens. As demandas, os
apelos e a comunicação de estados emocionais precisam ser bem interpretados
para que sejam atendidos de forma suficientemente adequada. Isso depende
da capacidade empática da mãe, isto é, de sua capacidade de se identificar aos
estados emocionais do bebê.
O primeiro “assunto” da comunicação primitiva são as sensações do
bebê. Quando um movimento/demanda corporal encontra uma resposta ade-
quada por parte da mãe, essas duas partes “se encaixam”. Esse encaixe forma o
protossímbolo, graças ao qual a sensação corporal pode se descolar do corpo.
Ela deixa de ser uma “coisa em si” e passa a ter uma protorrepresentação. A
experiência corporal/sensorial/emocional pode, então, ser integrada.
Com a ampliação progressiva de seu repertório simbólico, o bebê se
torna cada vez mais capaz de tolerar frustrações e reter excitações. O salto
qualitativo acontece quando o trabalho psíquico de dar sentido às experiências
emocionais passa a ser fonte de prazer para o bebê. A função simbolizante será
investida positivamente. Teremos, então, o que Bion chamou de vínculo +K.
Mas quando a mãe sofre de “daltonismo emocional”, ela não consegue
reconhecer mensagens ligadas à vida psíquica. Por isso, irá traduzi-las sempre
no plano concreto: frio, fome, sono, dor de barriga, doenças etc. Dizemos,
então, que o objeto tem um modo de presença operatório.
A inadequação sistemática desse tipo de resposta por parte da mãe con-
figura uma forma específica de trauma precoce e produz sofrimento psíquico
por dois motivos. O primeiro é que as necessidades emocionais não são aten-
didas. O segundo é que se instala uma condição de incomunicabilidade: o
sofrimento não pode ser compartilhado e é vivido como agonia.
Além disso, como os apelos emocionais da criança caem no vazio, o
bom encaixe entre os apelos do bebê e a resposta da mãe não acontece. A
capacidade de comunicação simbólica, que era um potencial inato da criança,
degenera (Roussillon, 2010). A função simbolizante não será instalada de
modo suficiente. Ou pior, será investida negativamente. Pois quando o vínculo
primário produz dor em vez de prazer, o psiquismo irá se organizar contra o
objeto e contra a simbolização. Teremos o que Bion chamou de vínculo –K.
Voltando a Leonora. Vimos que ela construiu uma vida organizada
pelas lógicas de evacuação. Está o tempo todo engajada em diversas formas de
agir. Foi a solução defensiva encontrada para descarregar as tensões ligadas à
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Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

dificuldade de mentalização. Diante da dor de não ter encontrado um objeto


psiquicamente vivo, e para evitar o retraumatismo da incomunicabilidade com
o objeto operatório, ela se organizou contra a atividade de pensar e contra o
vínculo com o objeto. É por isso que a perspectiva de ter um companheiro fixo
e mesmo a maternidade são tão angustiantes.
Como tudo isso nos ajuda a reconhecer a repetição desse tipo de vínculo
no campo transferencial-contratransferencial e a conduzir essas análises?
Em primeiro lugar, sofreremos na pele a incomunicabilidade outrora
vivida pelo infans, enquanto, complementarmente, o paciente estará iden-
tificado com o seu objeto operatório. O material clínico terá características
muito factuais e concretas, pois ele não conhece o que costumamos chamar de
mundo mental. Essa pobreza simbólica tende a nos deixar perdidos, descon-
certados e desalojados de nossa condição habitual de escuta.
É importante evitar o silêncio, já que o paciente cairia num vazio an-
gustiante. Mas há que evitar também interpretações em processo primário
(simbólicas/oníricas), pois o paciente não saberia como usá-las. Será necessá-
rio respeitar o conteúdo manifesto concreto, permanecendo próximo do nível
factual do relato – muitas vezes, um relatório dos acontecimentos da semana –,
para aos poucos ir introduzindo nele alguma espessura emocional.
O trabalho mais produtivo se dará na transferência (passando ao largo de
interpretações da transferência). Caberá ao analista usar sua criatividade clínica,
inventando maneiras de ser o psiquismo vivo que o paciente nunca conheceu,
apostando que ele possa vir a descobrir a dimensão mental da existência.

Depressão com tristeza


Manuela5 tem 25 anos, mora com os pais e está fazendo um doutorado.
Sempre foi tímida e insegura. Quando vai ao cinema com amigos, todos co-
mentam o filme, mas ela não consegue pensar em nada para dizer. Tem medo
de dizer alguma bobagem, mas também sente que é inadequado ficar quieta.
Tem amigas de infância, vai a festas, mas nunca namorou. Sabe que um dia
vai ter que enfrentar isso, mas por enquanto “conseguiu escapar”. Apesar do
doutorado, diz que está perdida, não sabe o que fazer da vida. Não tem planos
para o futuro.
Aparentemente não há nada de muito errado com ela. Mas logo perce-
bemos que é uma adaptação de superfície. Ela gasta muita energia para parecer
que está tudo bem. Procura ajuda na véspera das férias de verão porque está
apavorada com o que chama de “vazio das férias”. Os amigos vão viajar, cada
5 Adaptação livre do caso Émanuelle, apresentado no capítulo 2 (caso 1) do livro 15 cas cliniques
en psychopathologie de l’adulte (Dumet & Ménéchal, 2005). Aqui também faço minha própria
leitura do caso apresentado.
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Marion Minerbo

um vai viver sua vida, a irmã vai fazer um aperfeiçoamento em ginástica.


Ela… não tem uma vida própria para viver. Vai ficar em casa e trabalhar na
empresa do pai, como nos outros anos. Quando a analista lhe pergunta se não
pode manter contato com os amigos durante esse tempo, diz que não se vê
telefonando “porque não teria nada para dizer”.
Na segunda entrevista conta que é a filha mais velha. A mãe não quis
uma segunda gravidez durante cinco anos para poder “curtir a primogênita”.
Essa decisão tem a ver com sua (da mãe) própria história: quando a irmã
nasceu, ela tinha 3 anos e foi mandada para a casa dos avós, numa cidade do
interior. Sofreu muito, porque só via a mãe aos domingos. Mas acabou repe-
tindo a história. Quando esperava a segunda filha, tentou mandar Manuela
para a escola. A adaptação foi impossível. Quando o bebê nasceu, ela passava
os dias na casa da avó.
Na terceira entrevista Manuela desaba. Desesperada, diz que sua vida é
um fracasso, que pensa em suicídio.
Manuela é uma pessoa desvitalizada, apagada, triste e assustada. Não
tem iniciativa nem vida própria. O que mais chama a atenção é a falta de au-
tonomia do eu e um desempoderamento generalizado (é muito tímida, não
consegue se colocar, não pode ligar para as amigas porque não teria nada a
dizer, nas férias vai ficar em casa e trabalhar com o pai). Há também elementos
melancólicos (minha vida é um fracasso etc.), mas falaremos da depressão
melancólica adiante, com Bárbara.
Diferentemente do que acontece com Leonora, aqui os afetos são ple-
namente vividos em nível psíquico. Manuela procura ajuda porque tem pavor
de desmoronar em face do vazio das férias, revelando a fragilidade do eu.
Angustia-se porque vai perder seu objeto – no caso, o enquadre dado pela
faculdade. É ele que organiza seu cotidiano e garante a presença das amigas.
O doutorado importa menos como projeto de vida (não tem planos
para o futuro) do que como enquadre. Este funciona como objeto-tampão da
angústia de separação, que aliás está presente desde a infância (aos 5 anos, não
conseguiu se adaptar na escola). Mas funciona também como muro de arrimo
que mantém o eu “de pé”, minimamente organizado e coeso.
O desempoderamento e a falta de autonomia nos dão notícias do grau
de dependência em relação ao objeto. Do ponto de vista metapsicológico, a
separação sujeito-objeto não se completou. O objeto não foi suficientemente
representado em nível psíquico; o sujeito não conseguiu retomar internamen-
te as funções psíquicas realizadas por ele. Por isso continua tão dependente do
objeto externo.
Que condições o sujeito precisaria ter encontrado no vínculo primário
para conseguir se separar de seu objeto? Qual teria sido o modo de presença
do objeto que dificultou esse processo?
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Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

Quando a mãe começa a retomar sua vida, a criança frustrada irá ex-
pressar sua raiva. Ela tem o “direito” de atacar a mãe. Como sabemos, cabe a
esta o trabalho psíquico de sobreviver a esses ataques. Entretanto, parece-me
que não se enfatizou o suficiente que não basta a mãe sobreviver aos ataques
explícitos da criança frustrada; é importante que ela sobreviva aos seus peque-
nos momentos de autonomia, que implicam também alguma “agressividade”,
ou pelo menos podem ser interpretados assim. Por exemplo, os movimentos
de retração autoerótica em que a criança lhe sinaliza que necessita estar a sós
consigo mesma. A mãe deve sobreviver aos mil micromovimentos “agressivos”
em que a criança diz: “Agora não preciso de você, me deixa em paz”.
Para sobreviver a esses micromovimentos, a mãe também precisa aguen-
tar ficar só na presença da criança. Como a relação mãe-bebê é uma relação
entre dois sujeitos, para que a criança conquiste sua autonomia em relação
à mãe, é importante que esta tenha autonomia em relação à criança. Mas
há situações em que, em virtude de sua própria fragilidade narcísica, a mãe
sentirá necessidade de usar a criança como muro de arrimo. Ela mesma não
conquistou a separação sujeito-objeto, nem conseguiu fazer o luto pela perda
de seu próprio objeto (Klautau & Damous, 2015). Inconscientemente, viverá
os movimentos de autonomia da criança como rejeição e/ou abandono, e não
conseguirá sobreviver a eles. A dialética presença-ausência se interrompe, e
a criança ficará impedida de prosseguir em seu movimento de separação em
relação à mãe. Com sua autonomia assim sequestrada, ficará desempoderada
e dependente de seu objeto.
Na origem desses quadros reconhecemos um modo de presença do
objeto primário em codependência com a criança. Nessa relação intersubjetiva
a criança depende da mãe e a mãe depende da criança. A melhor imagem
não é a do muro de arrimo, mas a de duas cartas de baralho que, para ficar
de pé, precisam do apoio uma da outra. Numa relação de codependência, se
qualquer uma delas sair, a outra cai. Elas não podem se separar porque ambas
correm o risco de desmoronamento narcísico.
Parece ter sido o caso de Manuela. Ela conta que sua mãe foi separada
da própria mãe quando a irmã nasceu. Foi enviada para a casa da avó, numa
cidade do interior. Por isso, quando Manuela nasceu, “não quis outro filho
durante cinco anos para poder curti-la plenamente”. Esse material pode ser es-
cutado como representação de uma mãe que se agarra à filha para compensar
o buraco deixado pela relação insuficiente com a própria mãe. Reconhecemos
aí o que estou chamando de codependência no vínculo primário.
Esses pacientes passam a vida lutando para não perder o objeto. Como se
sentem desempoderados, vivem submetidos, com medo de perdê-lo e desmo-
ronar. Ao mesmo tempo passam a vida lutando para se desvencilhar do objeto
que se apoia/se agarra neles para não desmoronar. Por isso, quando tentam
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Marion Minerbo

ter alguma autonomia, se sentem culpados por abandoná-lo. Imobilizados


nesse impasse, não conseguem construir uma vida própria, o que leva a uma
depressão com tristeza.
Como tudo isso nos ajuda a reconhecer a repetição desse vínculo no campo
transferencial-contratransferencial e a conduzir essas análises?
Esses pacientes costumam gratificar o narcisismo do analista porque
“valorizam” muito a análise – leia-se: se apoiam sobre ela para se manter de pé.
Eles nos fazem sentir que jamais nos abandonarão. É importante reconhecer
que, embora haja trabalho analítico acontecendo na superfície, inconsciente-
mente a análise está sendo usada como objeto-tampão. Não é raro o analista
se revoltar com tamanha dependência e tentar “empurrar” o paciente para que
ande com as próprias pernas, o que obviamente não vai funcionar.
Ao mesmo tempo, inconscientemente esses pacientes sentem que estão
lá para cuidar do analista – eles vão às sessões para que este se sinta útil e
valorizado. Transferencialmente, é o analista que precisa da presença, do di-
nheiro e do amor do paciente. Desnecessário dizer que em algum momento a
transferência negativa irrompe: o paciente se revolta por “ser obrigado” a ficar
lá para sempre.
Há sempre o risco de fazer um uso narcísico desses pacientes. O analista
tem de aceitar internamente que um dia aquela pessoa tão assídua e gratifi-
cante não precisará mais de análise. Será importante reconhecer e valorizar
os pequenos brotos de potência e de autonomia que surgirem. É o trabalho na
transferência. A interpretação da transferência também tem seu lugar – tanto
o projeto de continuar eternamente em análise quanto a fantasia de que o ana-
lista não sobreviveria sem o paciente.

Depressão melancólica
Bárbara tem 30 anos, é solteira e mora com os pais. Procura análise por
uma “depressão crônica”. Sempre foi difícil começar o dia. Não tem energia
para investir nas atividades, ou então desanima logo. A vida é pesada e sem
graça. Tem poucos amigos. Não gosta de sair com eles. “Prefiro ficar em casa
vendo séries.” Investigando um pouco, descobrimos que se esconde do mundo
porque não se sente suficientemente interessante. Pelo mesmo motivo, acabou
se isolando profissionalmente.
Pergunto o que seria ser suficientemente interessante. Responde que
teria que entender de arte, literatura, cinema, política. Ela se ofende e se retira
quando percebe que sua conversa “não repercute”. Pergunto o que seria reper-
cutir. Responde que seria “virar assunto no grupo”. Sua amiga garante que as
pessoas curtiram o que disse, mas Bárbara não acredita.
171
Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

O sofrimento narcísico e a autodepreciação estão em primeiro plano,


resultado dos ataques do supereu cruel contra o eu que caracterizam a melan-
colia. Além disso, vemos que não consegue acreditar na amiga que garante que
curtiram o que disse. Ao contrário, tem certeza de “não ser gostável”. Imagina
que se fosse perfeita (entender de cinema, literatura etc.) mereceria o amor do
objeto.
O melancólico grave tem a certeza delirante de ser um fracasso, digno de
desprezo, o que pode levá-lo ao suicídio. Bárbara não chega a esse ponto, mas
podemos considerar sua certeza de não ser gostável como um microdelírio –
tanto que ela se esconde do mundo, o que não deixa de ser um microssuicídio.
Qual é o estatuto metapsicológico do delírio? Em “Construções em
análise” (1937/1969a), Freud reconhece que há sempre um núcleo de verdade
histórica, algo da ordem do traumático que de fato aconteceu. O delírio seria
uma tentativa de dar algum sentido a essa experiência precoce. Aprofundando
essa hipótese, Roussillon (1999) vê o delírio como uma forma particular de
ligação não simbólica do traumático. A sutura do trauma é feita graças a uma
representação. O problema é que ela se fixa e se torna dura como cimento,
pois é absolutamente necessária para que o mundo tenha alguma ordem e
inteligibilidade. Nesse sentido, resolve o problema, mas como não tem valor
simbólico (e sim de sutura), perde qualquer possibilidade de ser metaforizada.
Vira uma certeza inabalável.
Se o microdelírio é uma tentativa de dar algum sentido ao traumáti-
co, qual seria a verdade histórica nesse caso? Como diz Aulagnier (1989), o
tema do delírio está sempre relacionado a essa verdade histórica. No caso do
melancólico, o tema é a perda do amor do objeto – ele tem certeza de não
ser gostável. Podemos, então, supor que algo análogo à perda do amor tenha
acontecido no passado. E, de fato, em “Luto e melancolia” (1917/1969b), Freud
se refere a uma real ofensa ou decepção vivida na relação com o objeto amado.
Voltemos a Bárbara. Ela se queixa de que sua conversa não repercute,
não vira assunto no grupo. Como escutar esse material? Numa leitura, ela quer
um tapete vermelho – que todos fiquem encantados e mobilizados pelo que
tem a dizer. Ela se decepciona e se ofende quando isso não acontece. Se for
isso, ela não conseguiu fazer o luto do narcisismo primário. Ela, a Bárbara-
-adulta, continua querendo ser Sua Majestade o Bebê. Mas em outra leitura
a criança-em-Bárbara está tentando nos contar algo a respeito do traumático.
O que poderia ser? Que seu objeto primário falhou em sua função reflexiva.
Que seus movimentos pulsionais em direção ao objeto caíram no vazio. Que
o olhar da mãe não se encantou, não se mobilizou, não lhe devolveu nada:
“não repercutiu” (Green, 1988). Essa seria a real ofensa ou decepção vivida na
relação com o objeto amado, como diz Freud.
172
Marion Minerbo

Na verdade, não precisamos escolher entre as duas escutas. Bárbara-


-adulta não consegue fazer o luto do narcisismo primário, e continua pre-
cisando de um tapete vermelho, justamente porque o objeto primário “não
repercutiu” – não confirmou o narcisismo primário – de forma suficiente.
O que significa, afinal, fazer o luto? Como sabemos, a experiência inicial
de plenitude – ilusória, mas vivida como real – é necessária para a constitui-
ção de um bom narcisismo de vida. Suas marcas vão ser transformadas no
ideal a ser reencontrado, só que agora na forma de representação da plenitude
perdida. Nessas condições o ideal do eu é um ideal possível, toma em conside-
ração o princípio de realidade; há esperança de gratificação e o futuro se abre.
Fazer o luto significa, então, se contentar com algo que se aproxima,
mas não é idêntico, ao ideal narcísico perdido. Significa se contentar com uma
representação – com um símbolo – da perfeição no lugar da própria perfei-
ção. Mas essa representação só pode ser criada se a ilusão narcísica primária
tiver sido vivida de modo suficiente. Ora, num contexto de decepção narcísica
primária não há traços mnésicos de perfeição e plenitude para serem trans-
formados em representação do ideal perdido (Roussillon, 2008a). O sujeito
continuará se consumindo na busca da perfeição e da plenitude em si mesmas,
como Bárbara.
Em certa sessão, a expressão “minha conversa não repercute” repercu-
te em mim e produz uma imagem: a de uma bola que, jogada na areia fofa,
não quica. E por que não quica? Para Bárbara, não existe a possibilidade de a
areia ser fofa. A conclusão inevitável é que, se a bola não quica, é porque está
murcha: ela é insuficiente.
“Eu não sou gostável.” Essa representação organiza o mundo e dá sentido
ao traumático; resolve o absurdo do olhar vazio da mãe – a decepção narcísica
primária. Mas, uma vez constituída, essa identificação se fixa e se transforma
numa certeza inabalável. É o que estou chamando de microdelírio melancóli-
co de não ser digno do amor do objeto. Clinicamente, reconheço dois tipos de
microdelírio na depressão melancólica: 1) não sou o esperado/não sou sufi-
ciente, por isso não mereço o amor do objeto; 2) sou o oposto do que deveria
ser, sou “do mal”, por isso mereço o ódio e o desprezo do objeto.
Metapsicologicamente, reconhecemos dois modos diferentes de presença
do objeto:
• A criança não é suficientemente investida porque a mãe está psiquica-
mente em outro lugar – são variações da mãe morta, de Green (1988).
• Em função de seu núcleo paranoico, o objeto projeta no psiquismo
em formação tudo o que não tolera em si mesmo. Interpreta negati-
vamente todos os movimentos pulsionais do infans. Nesse modo de
presença a criança é muito investida, mas com uma valência negativa.
173
Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

De maneira inconsciente, o objeto odeia o infans porque o vê, proje-


tivamente, como mau (Minerbo, 2015). Aqui o quadro melancólico é
muito mais grave do que no primeiro caso.

Esses dois modos de presença do objeto primário ferem o narcisismo


primário em seus fundamentos. No caso de Bárbara, o material clínico e a
transferência indicam que seu objeto é uma variação da mãe morta, psiquica-
mente incapaz de investir a filha de modo suficiente.
Como isso me ajudou a reconhecer a repetição desse tipo de vínculo no
campo transferencial-contratransferencial e a conduzir essa análise?
Por questões de sigilo, sou obrigada a ser muito sucinta. Em certa sessão
eu estava com tosse. A cada vez que tossia, ela parava de falar de uma maneira
ostensiva e irritada. Silenciava até ter certeza de que eu poderia continuar a
escutá-la. A extrema sensibilidade ao desinvestimento, na transferência e na
vida, indicava uma zona de traumatismo primário ligada ao modo de presença
específico de seu objeto.
Por outro lado, me cumulava de dicas sobre livros e filmes. Era possí-
vel reconhecer, pelo avesso, a certeza de não ser gostável: tentava ser gostável
sendo a paciente “interessante” que me trazia “novidades”.
A certa altura, a análise estava particularmente pesada. Eu me vi identifi-
cada à mãe morta, sem forças para continuar investindo nela. Nesse momento,
ela faz um movimento que me surpreende: decide aumentar o número de
sessões e passa a investir a análise de um modo que realmente “me acordou”
– ou melhor, “me ressuscitou”. Depois de algum tempo, a representação “não
sou suficiente para merecer o amor do objeto” começa a se mexer.

bárbara: Levei meu cachorro no veterinário. Na fila havia uma senhora com um
cachorro que não tinha uma perna. Achei incrível perceber que mesmo assim ela
amava o cachorro! Eu não seria capaz disso.

Mesmo que Bárbara diga que não seria capaz disso, reconhece que é
possível amar um cachorro sem uma pata. Não é preciso ser perfeito para
merecer o amor do objeto.
As transformações se sucedem, embora sempre sujeitas a retrocessos.
Começa a perceber a mãe sob outra luz. No lugar de uma pessoa má e mes-
quinha, surge uma mulher infantilizada e assustada com a vida. Diz que vem
estranhando o mundo e a si mesma.

bárbara: Perdi minha depressão. Parece que tiraram uma tampa.


marion: Uma tampa?
bárbara: Desenroscaram a tampa do tubo de pasta de dente, e agora tudo flui.
174
Marion Minerbo

Fui num jantar e levei uma sobremesa. No dia seguinte minha amiga ligou para
dizer que adorou e que queria a receita.
marion: Quer dizer que sua sobremesa repercutiu?!
bárbara: [Ri.] Sim, repercutiu. Antes, se me pedissem a receita, eu teria certeza
de que a pessoa só estava sendo gentil. Mas dessa vez eu acreditei. Ela realmente
tinha gostado, e realmente queria a receita. É isso que está tão diferente.

Para concluir, gostaria de reunir os fios da meada.


Este estudo psicanalítico das depressões partiu do pressuposto de que a
depressão é o sintoma da atividade de um núcleo inconsciente.
Optei por começar com uma exploração fenomenológica da infelicida-
de, termo menos saturado do que depressão.
Encontrei três tipos de infelicidade, sempre acompanhados da vivência
de futuro bloqueado: 1) infelicidade difusa, mais próxima do tédio, 2) por de-
sempoderamento generalizado, e 3) por autodepreciação.
Cada um desses tipos me remeteu, clinicamente, a uma forma de de-
pressão: 1) sem tristeza, tamponada por defesas do tipo comportamental,
2) com tristeza, por falta de autonomia em relação ao objeto e impossibilidade
de viver para si, e 3) melancólica, com microdelírios de perda do amor do objeto.
Passando da clínica à metapsicologia, propus a hipótese de que os núcleos
inconscientes subjacentes às três depressões se organizam em resposta a modos
específicos de presença do objeto primário: 1) operatório, 2) em codependência,
e 3) por desinvestimento ou por investimento negativo do sujeito.
Por fim, retornando à clínica, tentei mostrar como a compreensão da me-
tapsicologia nos ajuda a reconhecer as características do campo transferencial-
-contratransferencial e a conduzir as análises em cada caso.

Depresión sin tristeza, con tristeza y melancólica


Resumen: Este estudio psicoanalítico de las depresiones parte del supuesto de que
ese cuadro es un síntoma de la actividad de un núcleo inconsciente que se organiza
en respuesta a modos específicos de presencia del objeto primario: 1) operatorio;
2) en codependencia; y 3) por desinversión / inversión negativa del sujeto. Esta
comprensión permite reconocer las características del campo transferencial-con-
tratransferencial, y conducir los análisis en cada caso.
Palabras clave: psicopatología, depresión sin tristeza, depresión con tristeza, depre-
sión melancólica
175
Depressão sem tristeza, com tristeza e melancólica

Depression without sadness, with sadness and melancholic one


Abstract: This psychoanalytic study on depressions assumes that this condition is a
symptom of the activity of an unconscious nucleus that is organized in response to
specific modes of presence of the primary object: 1) operative; 2) in codependency;
and 3) by disinvestment or negative investment by the subject. This understanding
allows us to recognize the characteristics of the transferential-countertransferen-
tial field, and to conduct the analyzes in each case.
Keywords: psychopathology, depression without sadness, depression with sadness,
melancholic depression

Dépression sans tristesse, avec tristesse et mélancolique


Résumé : Cette étude psychanalytique des dépressions se base sur le présupposé
que cette condition est un symptôme de l’activité d’un noyau inconsciente qui s’or-
ganise en réponse à des modes spécifiques de présence de l’objet primaire : 1) opé-
ratoire ; 2) dans la codépendance ; et 3) par désinvestissement ou investissement
négatif du sujet. Cette compréhension permet de reconnaître les caractéristiques
du champ transférentiel / contre transférentiel et de mener les analyses propres à
chaque cas.
Mots-clés : psychopathologie, dépression sans tristesse, dépression avec tristesse,
dépression mélancolique

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Marion Minerbo

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Recebido em 28/1/2021, aceito em 8/2/2021

Marion Minerbo
marionminerbo@gmail.com

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