Realismo
Realismo
Realismo
Apresentação do Realismo enquanto emergência histórica e movimento artístico na Europa; consolidação da sociedade burguesa e da sua expansão na produção artística; doutrinas
e teorias no âmbito do Positivismo, Evolucionismo e Socialismo Científico.
PROPÓSITO
Compreender a emergência histórica, as questões socioculturais e o movimento artístico do Realismo para a formação do conhecimento humanístico, em especial para o
entendimento desse período e de sua produção no contexto das narrativas visuais – pictóricas e escultóricas – e arquitetônicas do século XIX na Europa, bem como seus reflexos no
Brasil.
OBJETIVOS
Analisar as principais obras pictóricas, escultóricas e arquitetônicas do período do Realismo à luz dos princípios estéticos, teóricos e historiográficos da Arte
INTRODUÇÃO
Começamos com a pintura Desespero ou Autorretrato, de Gustave Courbet (1819-1877),
responsável pela “bandeira” do Realismo, especialmente na França. É considerada uma
das obras-primas do artista e está na lista das obras mais conhecidas no mundo.
Com a captação do instante e da surpresa, o Realismo terá como premissa o retrato das
expressões e das feições, as temáticas do cotidiano, bem como os personagens ainda
pouco vistos e figurados em grandes obras até então. É por essa mistura de instante
pictórico, “registro” fotográfico e cenas do “incomum/comum” que passearemos hoje pelo
mundo e pelo conhecimento das artes visuais e da literatura.
MÓDULO 1
Reconhecer os fundamentos essenciais relativos ao contexto histórico e sociocultural do Realismo
Vale destacar que alguns autores já chamaram a atenção para o movimento pendular que caracterizaria a evolução artística do Ocidente, desde o Renascimento.
ROMANTISMO
Movimento artístico do fim do século XVIII que pregava a ruptura com a estética neoclássica, retomando a Idade Média, de forma idealizada, e a liberdade de padrões restritos,
valorizando a emoção e o exagero.
CLASSICISMO
Postura equilibrada
BARROCO
Conflito angustiado
NEOCLASSICISMO
Racionalismo
ROMANTISMO
Intuição e subjetivismo
No caso do Realismo, é preciso considerar que, muito antes de ser um programa estético específico, adotado e difundido na segunda metade do século XIX, o realismo (assim, com
letra minúscula), isto é, a representação artística objetiva da realidade, sempre foi uma aspiração buscada por artistas em diferentes épocas e lugares. Isso vale para a
contemporaneidade, como o caso que ocorreu no Brasil, a partir da exposição realizada pela Pinacoteca de São Paulo sobre o artista Almeida Júnior. Veremos isso mais à frente.
Nosso objetivo aqui é distinguir a atitude realista, que sempre existiu, de uma escola ou um movimento artístico, dotado de um conjunto de convenções estéticas e temas
privilegiados, cujo surgimento se deu na segunda metade do século XIX.
Do ponto de vista histórico, vale destacar que a década de 1850 marca o início do movimento artístico realista na Europa, com os franceses:
Literatura
Pintura
A linha do tempo a seguir resume os eventos que de alguma forma colaboraram para o início do movimento artístico realista na Europa.
1789
Revolução Francesa
1799
Período Napoleônico
Esse período se dividiu em duas etapas distintas: o Consulado (1799-1804) e o Império (1804-1815).
1804
1814
Congresso de Viena
Conferência entre embaixadores das grandes potências europeias que aconteceu entre 1814 e 1815 e tinha como objetivo reorganizar as fronteiras da Europa.
1815
Batalha de Waterloo
Confronto militar que marcou o fim dos Cem Dias. A derrota de Napoleão marcou o fim de seu governo como imperador.
1830
Três Gloriosas
Revolução liderada pela burguesia contra Carlos X que culminou na coroação de Luís Filipe I, o rei burguês.
1848
Neste vídeo, a professora Flavia Miguel nos conta como o surgimento do Realismo se relaciona com esses eventos históricos.
O SÉCULO DO CIENTIFICISMO
O século XIX é o século da ciência, o século de Mendel e Darwin. No campo das ciências naturais e humanas, vê-se um extraordinário desenvolvimento de ideias, pautadas nos
princípios científicos. Os avanços científicos foram acompanhados pelo surgimento de doutrinas e teorias que expressavam – e muitas vezes justificavam – a dinâmica da sociedade
burguesa que se consolidava. Refletindo as transformações socioeconômicas em curso, a produção intelectual científica desse momento insistia no primado dos métodos e das
técnicas empregadas pelas ciências naturais como fonte de inspiração para o seu desenvolvimento.
MENDEL
Gregor Mendel (1822-1884) foi um biólogo, botânico e monge austríaco. Descobriu as leis da genética. Isso mudou a direção da Biologia.
DARWIN
O naturalista Charles Darwin (1809-1882), depois de uma expedição pelo mundo para conhecer e estudar novos animais e ambientes, escreveu uma de suas teses mais
famosas: A origem das espécies. Seus trabalhos foram tão intensos, que os conceitos foram aplicados desde as Ciências Sociais até a Arte.
NA FRANÇA
Influenciado pelo progresso contínuo das descobertas científicas, Comte concebeu para a
Filosofia (entendida como sistema geral de conhecimento humano) um novo papel,
propondo que os fatos só são conhecidos pela experiência e perceptíveis pelos sentidos.
De acordo com a filosofia positivista, o mundo social deveria ser explicado a partir dos
mesmos procedimentos e métodos utilizados pelas ciências exatas e biológicas. A Fonte: Wikimedia Commons.
AUGUSTE COMTE, POR TONY TOUILLON.
confiança absoluta no poder das ciências, a exigência irrevogável de objetividade e o
rechaço a qualquer especulação idealista representavam uma forte reação à filosofia
liberal e ao questionamento da sociedade individualista por ela defendida.
NA INGLATERRA
necessariamente o mais forte, e sim o que melhor se adapta às condições do ambiente em Fonte: Wikimedia Commons.
que vive. EDIÇÃO EM INGLÊS DO LIVRO A ORIGEM DAS ESPÉCIES (1859).
O MUNDO EM CONTESTAÇÃO
A força do poder da burguesia e sua relação com o Estado-nação, as feiras mundiais e a arte em exposição geraram um novo mundo, onde:
Os europeus precisavam lidar com esgoto a céu aberto, doenças, guerras e indigência.
Alguns ícones intelectuais dessa crítica foram os cientistas Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895), autores do célebre Manifesto do Partido Comunista, lançado
em 1848. O chamado Socialismo Científico tem como um de seus marcos essa publicação.
Um dos fatos de maior importância relacionados com a Revolução Industrial é o
aparecimento do proletário e o papel histórico que ele desempenhará na sociedade
capitalista.
A arte expressa esse olhar; chama para a contradição deste mundo. Noções e ideias radicais que teriam bastante influência nas insurreições sociais que pontilharam a primeira
metade do século XIX eram fornecidos pelas obras de alguns artistas, como:
SAINT-SIMON
(1760-1825)
CHARLES FOURIER
(1772-1837)
ROBERT OWEN
(1771-1859)
PIERRE-JOSEPH PROUDHON
(1809-1865)
Porém, foi a publicação do Manifesto do Partido Comunista que inaugurou o chamado Socialismo Científico, que diferia tanto das proposições anteriores, reunidas sob a rubrica do
Socialismo Utópico, quanto da ênfase dada à luta de classes como método de apreensão dos movimentos históricos e da formulação de interpretação socioeconômica da história
conhecida como materialismo histórico. Além disso, define os conceitos de luta de classes, mais-valia e revolução socialista.
LUTA DE CLASSES
Conceito de Marx e Engels para explicar como se move a História. Para eles, as mudanças históricas são sempre uma ação dos homens, mas de homens que estão na
condição de dominados, contra os mecanismos e o poder dos dominantes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O REALISMO CONSISTE EM UM MOVIMENTO OU UMA ESCOLA ARTÍSTICA CONSTITUÍDO COMO UMA REAÇÃO A CERTOS EXCESSOS
DOS PRINCÍPIOS ESTÉTICOS DO ROMANTISMO. NÃO É MENOS VERDADE QUE A EMERGÊNCIA DO REALISMO OCORREU EM FUNÇÃO DE
ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS E TRANSFORMAÇÕES SOCIOCULTURAIS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX LIGADOS À
CONSOLIDAÇÃO E EXPANSÃO DA SOCIEDADE BURGUESA E SEUS VALORES CORRELATOS. SOBRE O CONTEXTO DO SURGIMENTO DO
REALISMO, A PARTIR DO CONTEÚDO DIDÁTICO DO PRIMEIRO MÓDULO, IDENTIFIQUE A ALTERNATIVA CORRETA A PARTIR DA ANÁLISE
DAS AFIRMATIVAS LISTADAS A SEGUIR:
I. O REALISMO SE INTEGROU À PROGRESSÃO DAS REPERCUSSÕES SOCIOCULTURAIS QUE IRROMPEM COM A 2ª REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL E ÀS TRANSFORMAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E CULTURAIS DECORRENTES DA CONSOLIDAÇÃO DA SOCIEDADE BURGUESA.
II. AS CRENÇAS INABALÁVEIS NA CIÊNCIA, NA TÉCNICA E NO PROGRESSO DA CIVILIZAÇÃO SE TORNARAM VALORES DE GRANDE
ACEITAÇÃO E DISSEMINAÇÃO NO ÂMBITO DA SOCIEDADE BURGUESA.
III. O POSITIVISMO, CORRENTE FILOSÓFICA QUE SURGE NA FRANÇA DO COMEÇO DO SÉCULO XIX, CONSIDERAVA COMO ÚNICO TIPO DE
CONHECIMENTO LEGÍTIMO AQUELE QUE SE ENCONTRA NA INTUIÇÃO, NOS SENTIMENTOS E NA BUSCA PELO IDEAL.
IV. A PARTIR DA METADE DO SÉCULO XIX, OCORRE O SURGIMENTO DA CLASSE OPERÁRIA, COM CONSCIÊNCIA DE SEUS INTERESSES,
QUE COMEÇAVA A SE ORGANIZAR PARA ENFRENTAR OS PROPRIETÁRIOS DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO – NESTE PERÍODO,
SURGE O SOCIALISMO CIENTÍFICO, COM A PUBLICAÇÃO, EM 1848, DO MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA.
V. DIANTE DOS MOVIMENTOS DE SABOTAGEM E DESTRUIÇÃO DE MÁQUINAS POR PARTE DOS OPERÁRIOS, A BURGUESIA INGLESA VIA-
SE EM OPOSIÇÃO À CLASSE TRABALHADORA; DIFERENTE DA BURGUESIA FRANCESA, CUJOS IDEAIS LIBERAIS QUE CERCEARAM A
REVOLUÇÃO DE 1789 PERMANECERAM APROXIMANDO-A DAS DEMAIS CAMADAS SOCIAIS DURANTE O IMPÉRIO DE NAPOLEÃO III.
A) V-V-V-F-F
B) F-V-V-V-F
C) V-V-F-V-F
D) F-F-V-F-F
2. QUANDO ESTUDAMOS O REALISMO ENQUANTO MOVIMENTO, FICA GRITANTE DIANTE DE NÓS A RELAÇÃO ENTRE ARTE E HISTÓRIA;
LOGO, ESSE NOVO MOVIMENTO DIALOGAVA COM AS CONTRADIÇÕES SOCIAIS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE EXPLICITE DE FORMA
CORRETA A RELAÇÃO ENTRE TEMPO E ARTE NO REALISMO.
A) Realismo é marcado pela surpresa do mundo; de um lado, tudo parecia perfeito: a ciência, a economia; de outro, a classe operária lutava, fazendo greves e provocando
convulsões sociais.
B) Realismo é influenciado pela crise de desconfiança do avanço burguês e dos estados nacionais, diante das contradições entre o avanço tecnológico e a pobreza nos grandes
centros.
C) Realismo é uma reação ao Romantismo, em uma disputa que defende o retorno do formalismo necessário.
D) Realismo é fruto da burguesia, é crítico às tradições recorrentes e que permanecem vivas, apesar da industrialização, representadas em especial pela Igreja.
GABARITO
1. O Realismo consiste em um movimento ou uma escola artística constituído como uma reação a certos excessos dos princípios estéticos do Romantismo. Não é menos
verdade que a emergência do Realismo ocorreu em função de acontecimentos históricos e transformações socioculturais na segunda metade do século XIX ligados à
consolidação e expansão da sociedade burguesa e seus valores correlatos. Sobre o contexto do surgimento do Realismo, a partir do conteúdo didático do primeiro
módulo, identifique a alternativa correta a partir da análise das afirmativas listadas a seguir:
I. O Realismo se integrou à progressão das repercussões socioculturais que irrompem com a 2ª Revolução Industrial e às transformações sociopolíticas e culturais
decorrentes da consolidação da sociedade burguesa.
II. As crenças inabaláveis na ciência, na técnica e no progresso da civilização se tornaram valores de grande aceitação e disseminação no âmbito da sociedade burguesa.
III. O Positivismo, corrente filosófica que surge na França do começo do século XIX, considerava como único tipo de conhecimento legítimo aquele que se encontra na
intuição, nos sentimentos e na busca pelo ideal.
IV. A partir da metade do século XIX, ocorre o surgimento da classe operária, com consciência de seus interesses, que começava a se organizar para enfrentar os
proprietários dos instrumentos de trabalho – neste período, surge o Socialismo Científico, com a publicação, em 1848, do Manifesto do Partido Comunista.
V. Diante dos movimentos de sabotagem e destruição de máquinas por parte dos operários, a burguesia inglesa via-se em oposição à classe trabalhadora; diferente da
burguesia francesa, cujos ideais liberais que cercearam a Revolução de 1789 permaneceram aproximando-a das demais camadas sociais durante o império de Napoleão
III.
A arte é sempre fruto de seu tempo. Nesse sentido, o Realismo é um privilegiado, pois está diante de um tempo em modificações e disputas em alta velocidade. É o início do mundo
moderno, das grandes feiras de ciência, da industrialização, mas também do abuso do trabalho infantil, das mulheres, das jornadas de trabalho. A questão pede que você reconheça
esse mundo no entorno do Movimento Realista.
2. Quando estudamos o Realismo enquanto movimento, fica gritante diante de nós a relação entre arte e História; logo, esse novo movimento dialogava com as
contradições sociais. Assinale a alternativa que explicite de forma correta a relação entre tempo e arte no Realismo.
É preciso destacar a observação feita por outros autores da História da Arte para o movimento pendular que caracterizaria a evolução artística do Ocidente, desde o Renascimento.
Dessa forma, substitui-se a postura equilibrada defendida pelo Classicismo; o conflito angustiado que marca o Barroco; o racionalismo assumido pelo Neoclassicismo; a intuição e o
subjetivismo propalados pelo Romantismo. No estudo histórico sobre a segunda metade do século XIX na Europa, podemos notar que o contexto sociocultural da época (ascensão da
burguesia, 2ª Revolução Industrial, surgimento da classe operária) e seus efeitos sobre a produção intelectual científica (Positivismo, Socialismo Científico) desencadearam o
surgimento de um movimento artístico de oposição ao idealismo romântico propalado pela burguesia: o Realismo, que também era crítico aos resultados deletérios de sua ascensão.
MÓDULO 2
Identificar os princípios estéticos que marcaram a produção artística do Realismo
Fonte: Shutterstock
Realmente, a produção artística realista primou pela objetividade e exatidão, rejeitando quaisquer resquícios de subjetividade, imaginação ou evasão. Seus adeptos, à maneira dos
cientistas, deveriam se manter distantes do resultado alcançados por suas obras, tornando-as objetos impessoais.
MADAME BOVARY
Nesse célebre livro, o autor descreve com objetividade e de maneira impassível o destino
de Emma Bovary, uma bonita jovem, que, frustrada com a vida de casada em uma
pequena cidade do interior da França, comete sucessivos adultérios, para, ao final, dar fim
à própria vida, desesperada com as dívidas acumuladas em razão de sua infidelidade.
A edição indicada do romance Madame Bovary é a única em Língua Portuguesa que traz, em anexo, os autos do processo movido contra Gustave Flaubert, além de sua própria
defesa. Constitui um documento importante para se entender não apenas as motivações do Estado francês, assim como a justificativa literária alegada pelo escritor para a elaboração
de sua obra.
Realismo
Personagens com maior complexidade interna. Na literatura realista, as motivações pessoais, contradições internas e a imprevisibilidade do comportamento dos personagens
avultam como elementos de grande importância.
Elaboração de personagens
Romantismo
Personagens lineares, despojados de profundidade psicológica e geralmente divididos entre bons e maus.
Realismo
As obras realistas descrevem a vida contemporânea das grandes cidades da Europa. Os escritores realistas retratavam a vida cotidiana da família burguesa, a lida dos trabalhadores
do campo, os grandes problemas sociais que assolam as cidades, profundamente modificadas com as consequências da Revolução Industrial.
Ambientação
Romantismo
Predileção por lugares exóticos ou épocas históricas pretéritas como os romances históricos, ambientados, sobretudo, na Idade Média, que alcançaram bastante sucesso durante a
primeira metade do século XIX.
Veremos essas temáticas também nas pinturas que serão analisadas mais adiante.
Observamos a transição entre esses movimentos na Inglaterra, onde em substituição aos bem-sucedidos romances históricos de Walter Scott (1771-1832), que retratavam com
habilidade a Inglaterra medieval, surgem as obras de Charles Dickens (1812-1870) e Thomas Hardy (1840-1928), descrevendo agruras da vida das classes populares nas grandes
cidades da Era Vitoriana (1837-1901).
Oriundo da baixa classe média, Dickens conheceu de perto o lado mais sombrio da
prosperidade vitoriana. Desde cedo, foi obrigado a trabalhar pregando rótulos em potes de
graxa, e seu pai permaneceu algum tempo preso em decorrência de dívidas. A crítica
social das agruras de seu tempo é uma constante em suas obras.
Em Oliver Twist (1838), ele relata os infortúnios da delinquência infantil nas ruas de
Londres do século XIX. Já em David Copperfield (1849), sua obra-prima, combate, em
relato quase autobiográfico, certas instituições inglesas: o mau tratamento dispensado às
crianças nas escolas, as condições dos operários, a humilhação do encarceramento por
dívida.
O REALISMO PORTUGUÊS
Em Portugal, outro centro importante para nosso tema, o movimento Realista foi precedido de uma polêmica entre os poetas portugueses: a chamada “Questão Coimbrã”, na qual um
grupo de poetas liderados por Antero de Quental (1842-1891) rebelou-se contra o tradicionalismo estético, político e religioso dos romantismos e o obscurantismo reinante em
Portugal. Um marco importante das publicações literárias inspiradas nesse período foi o romance escrito por Eça de Queiroz – um dos maiores escritores portugueses – chamado O
primo Basílio (1878).
A sala estarrada, alegrava, com o seu teto de madeira pintado a branco, o seu papel claro de ramagens verdes. Era em julho, um domingo, fazia um grande calor; as duas janelas
estavam cerradas, mas sentia-se fora o sol faiscar nas vidraças, escaldar a pedra da varanda; havia o silêncio recolhido e sonolento de manhã de missa; uma vaga quebreira
amolentava, trazia desejos de sestas ou de sombras fofas debaixo de arvoredos, no campo, ao pé da água; nas duas gaiolas, entre as bambinelas de cretone azulado, os canários
dormiam; um zumbido monótono de moscas arrastava-se por cima da mesa, pousava no fundo das chávenas sobre o açúcar mal derretido, enchia toda a sala de um rumor dormente.
Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado, muito fresco na sua camisa de chita, sem colete, o jaquetão de flanela azul aberto, os olhos no teto, pôs-se a pensar na sua jornada ao
Alentejo. Era engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para Évora, mais para o sul até São Domingos; e aquela jornada, em julho, contrariava-o como uma
interrupção, afligia-o como uma injustiça. Que maçada por um verão daqueles! Ir dias e dias sacudido pelo chouto de um cavalo de aluguel, por esses descampados do Alentejo que
não acabam nunca, cobertos de um rastolho escuro, abafados num sol baço, onde os moscardos zumbem! Dormir nos montados, em quartos que cheiram a tijolo cozido, ouvindo em
redor, na escuridão da noite tórrida, grunhir as varas dos porcos! A todo o momento sentir entrar pelas janelas, passar no ar o bafo quente das queimadas! E só! (...)”.
Inspirado no enredo de Madame Bovary, O primo Basílio retrata o caso amoroso de Luísa,
a jovem esposa do engenheiro Jorge, com Basílio, antigo namorado que retorna a Lisboa a
negócios. Com a ausência do marido, Luísa se deixa seduzir, mas seu caso é descoberto
pela empregada, Juliana, que passa a chantagear a patroa. Sem conseguir o dinheiro
exigido, Luísa apela a Sebastião, um amigo da família, que resolve a situação arrancando
as cartas comprometedoras das mãos de Juliana, que morre ao ver seu sonho de
enriquecimento escapar.
VICTOR HUGO
Para fornecer um exemplo expressivo, vejamos o célebre romance Os miseráveis (1862),
de Victor Hugo. Nele, o escritor francês apresenta um painel da História e da sociedade
francesa de sua época, focalizando o período agitado da Monarquia de Julho, instalado em
1830, detendo-se, mais precisamente, ao levante de 1832.
O que Hugo havia proposto no prefácio de sua peça de teatro Cromwell (1827), como
programa estético para o drama burguês, será posto em prática igualmente em seus
romances:
Fonte: Shutterstock
Ou seja, uma parte dedicada aos temas do cotidiano e das “relações sociais e do luxo da classe social mais abastada”, e outra iria “abordar o dia a dia das pessoas mais humildes”,
como veremos nos casos exemplares dos pintores Édouard Manet (1832-1883) e Gustave Courbet (1819-1877).
Ainda segundo a Pelegrini (2013, p. 26), observando as obras desses dois artistas, notaremos o seguinte:
Um artista que opta por tematizar em suas pinturas a vida luxuosa dos burgueses e “expor a fragilidade dos seus padrões de moralidade.”
O pintor que “partiu da ideia de que a beleza plástica não era privilégio da aristocracia e dedicou-se ao desvendamento das vivências dos segmentos sociais menos favorecidos e
suas condições de vida.”
Courbet, que se declarava autodidata, também foi considerado um artista precursor da arte moderna, inaugurando, de maneira pouco usual à época, a apresentação pictórica de
costumes e dos problemas do seu tempo. Esse anseio de representar a realidade em meio às inúmeras transformações socioeconômicas e culturais que estavam ocorrendo nas
pinturas será a marca do tema que estamos estudando.
NOTA
No próximo módulo, veremos alguns casos exemplares, analisando minuciosamente suas composições e intenções artísticas à luz das premissas que já traçamos.
REALISMO NO BRASIL
O movimento Realista também se fez presente no Brasil como veremos no vídeo a seguir.
Neste vídeo, a professora Adriana Nakamuta nos conta um pouco sobre o movimento Realista no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NO SEGUNDO MÓDULO, VIMOS QUE O REALISMO FOI UM MOVIMENTO ARTÍSTICO QUE SE OPÔS A CERTOS PRINCÍPIOS ESTÉTICOS
DEFENDIDOS PELO ROMANTISMO. ASSINALE, DENTRE AS ALTERNATIVAS ABAIXO, AQUELA QUE CORRESPONDERIA A UMA DAS
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DO IDEÁRIO ESTÉTICO REALISTA:
A) Na literatura, a descrição científica conferia linearidade e constância aos personagens, quase sempre os distinguindo sob a lógica maniqueísta do bom e do mau.
B) Caráter contemporâneo das obras literárias, que iam da representação da família burguesa aos grandes problemas sociais.
C) Primazia pela liberdade de expressão da opinião individual do artista através das obras carregadas de sentimentalismo.
D) Fuga da realidade, em meio às inúmeras transformações socioeconômicas e culturais que ocorriam no período.
2. EMBORA TENHA REFUTADO OS EXAGEROS DO SUBJETIVISMO E DO INDIVIDUALISMO DA ESCOLA ROMÂNTICA, VALE LEMBRAR QUE
O REALISMO SE BENEFICIOU DE CERTAS INOVAÇÕES FORMAIS E TEMÁTICAS CONSOLIDADAS PELAS GERAÇÕES ANTERIORES DE
AUTORES ROMÂNTICOS. A PARTIR DO ENUNCIADO E DO CONTEÚDO DO SEGUNDO MÓDULO, ASSINALE, DENTRE AS ALTERNATIVAS
ABAIXO, QUAL INOVAÇÃO DO ROMANTISMO BENEFICIOU O MOVIMENTO ARTÍSTICO REALISTA:
A) A exaltação do feminino.
B) A retomada dos valores medievais, como a exaltação da religião e dos feitos heroicos.
C) Rompimento com a hierarquia de gêneros e com as regras poéticas clássicas, de inspiração greco-romanas.
GABARITO
1. No segundo módulo, vimos que o Realismo foi um movimento artístico que se opôs a certos princípios estéticos defendidos pelo Romantismo. Assinale, dentre as
alternativas abaixo, aquela que corresponderia a uma das características fundamentais do ideário estético realista:
Um dos pontos de oposição do Realismo em relação ao Romantismo diz respeito ao caráter contemporâneo da ambientação da produção literária realista. Ao contrário da predileção
por lugares exóticos ou épocas históricas pretéritas, cenários ideais de parte dos principais romances escritos por autores do Romantismo, as obras realistas descreviam a vida
contemporânea das grandes cidades da Europa. Os escritores realistas retratavam a vida cotidiana da família burguesa, a lida dos trabalhadores do campo, os grandes problemas
sociais que assolam as cidades, profundamente modificadas com as consequências da Revolução Industrial; temáticas que também foram abordadas nas pinturas.
2. Embora tenha refutado os exageros do subjetivismo e do individualismo da escola romântica, vale lembrar que o Realismo se beneficiou de certas inovações formais e
temáticas consolidadas pelas gerações anteriores de autores românticos. A partir do enunciado e do conteúdo do segundo módulo, assinale, dentre as alternativas
abaixo, qual inovação do Romantismo beneficiou o movimento artístico realista:
Ao romper com a hierarquia de gêneros e com as regras poéticas clássicas, de inspiração greco-romanas, os escritores românticos franquearam a possibilidade de se retratar a vida
moderna em toda a sua extensão, e, como vimos no Módulo 2, as obras do movimento realista retratavam – até mesmo a partir de uma observação científica de fatos sociais – a vida
cotidiana da família burguesa, a lida dos trabalhadores do campo, os grandes problemas sociais que assolam as cidades, profundamente modificadas com as consequências da
Revolução Industrial.
MÓDULO 3
Analisar as principais obras pictóricas, escultóricas e arquitetônicas do período do Realismo à luz dos princípios estéticos, teóricos e historiográficos da Arte
A pintura Funeral em Ornans, datada de 1849-50, e Os quebradores de pedra (II), de 1849, ambas a óleo, são dois exemplos importantes para a compreensão da temática, da
composição e das intenções artísticas de Courbet.
TINTA A ÓLEO
A tinta a óleo é obtida através da mistura de pigmentos coloridos com óleos, mais comumente o de linhaça, que atuam como uma barreira de proteção para os pigmentos após a
secagem, por isso sua característica principal é a secagem lenta. Seu resultado final varia do opaco ao translúcido, conferindo textura única perante as outras tintas. Devido ao
tipo de secagem, o artista pode fazer alterações na pintura ou corrigi-la com mais flexibilidade. Pinturas a óleo são mais “comuns” e facilmente encontradas na literatura artística,
isso porque as características e composições dessa tinta – a secagem lenta – contribuem para um trabalho “vagaroso” e primoroso por parte do/da pintor/a.
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com interação.
As marcações em vermelho sinalizam pontos importantes para compreendermos a composição da obra, visto que o artista explorou pontos de iluminação dentro de uma paleta
escura [claro-escuro], divididas em dois momentos importantes da cena. Um deles iluminado pelo cão, branco, onde se aglomeram os participantes do funeral, todos com vestes
escuras; o outro, pelos religiosos e familiares que se “aglomeram” ao redor da cruz, em frente ao buraco aberto no chão para o sepultamento.
Essa cena é considerada por muitos como uma “analogia” ao enterro do “Romantismo”. Trata-se de uma cena de enterro do tio-avô de Courbet na sua cidade de nascimento, Ornans
– daí o título da obra. Esse trabalho gerou muitas críticas e surpresas à época por se tratar de uma temática “aparentemente de pouca relevância cultural e social” e por ter sido
pintada em uma tela de grandes dimensões – mais de 6 metros de comprimento –, que eram, tradicionalmente, reservadas apenas para pinturas históricas ou religiosas. Podemos
dizer que a inserção dessa temática, a composição, a dimensão da obra, juntamente aos propósitos de Courbet, inauguraram o que se chamou, mais tarde, de Realismo Social, uma
das bandeiras desse movimento.
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com interação.
Em termos de composição, observe as marcações para compreender a construção pictórica da cena pelo artista. Pelos triângulos em amarelo, vemos que dois personagens
estruturam a cena. São dois homens “comuns”, simples, em uma ação/trabalho do cotidiano. Os homens estão de costas e/ou de perfil, numa demonstração de que o trabalho
continua independentemente do registro que o artista faz. As linhas azuis nos ajudam a compreender a estruturação diagonal dos corpos em “ação e movimento”, o que nos deixa
com essa sensação de captação de um momento e de uma atividade. Observe ainda que os instrumentos de trabalho ligam também o movimento ou a base de sustentação dos
corpos, seja pelo pé, seja pela ligeira inclinação da perna. Esses recursos contribuem para o equilíbrio da cena.
Um fator importante quanto à temática é o fato de o artista se dedicar à construção pictórica com uma narrativa de trabalho no campo, na qual a simplicidade da atividade
também está ligada à simplicidade dos personagens, inclusive vestuários e costumes alimentares – vide a refeição pintada do lado direito da tela. Não vemos um grupo de pessoas
bem-vestidas fazendo um piquenique no campo, algo comum no Romantismo, mas, sim, trabalhadores no campo, em uma atividade pesada, dentro de uma simplicidade de vida e
de cotidiano, dentro de um “cenário” da vida real.
O campo, a agricultura familiar – expressão contemporânea para melhor exemplificar a temática dessas pinturas – e o trabalhador e a trabalhadora desses locais serão
constantemente retratados nas pinturas desse período. Se, no Renascimento e no Barroco, as temáticas religiosas e as inúmeras representações das cenas bíblicas apareceram com
frequência, perpassando diversas soluções técnicas, composições e escolas artísticas, no Realismo, as questões sociais serão a pauta “da vez”, inclusive com diversas
representações de trabalho, sobretudo no campo.
REALISMO E O COTIDIANO
JEAN-FRANÇOIS MILLET
Três exemplos importantes podem ser analisados dentro da mesma temática: o trabalho,
os trabalhadores e o campo. As pinturas Angelus, de 1859, e as Respigadoras, de
1857, ambas a óleo sobre tela, são do artista francês Jean-François Millet (1814-1875),
pintor realista e um dos fundadores da Escola de Barbizon, na França rural.
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com interação.
Para compreender essa composição, além dos efeitos do claro e escuro, vemos que a torre da igreja ao fundo, os instrumentos deixados de lado e a inclinação dos corpos,
especialmente das cabeças, num gesto de “reverência”, “constroem” a narrativa visual do Angelus pelos trabalhadores do campo. Observe que não há uma definição clara dos rostos
– e isso nem se faz necessário para compreender a temática –, apenas verificamos que se trata de um homem e uma mulher. Vemos ainda que o importante nessa composição é
retratar as cenas do cotidiano, ligado ao trabalho no campo, que constituem, em certa medida, a materialização de uma memória afetiva e devocional do próprio pintor.
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As três camponesas retiram do chão os respingos das espigas de trigo que foram colhidos. Observe que, à semelhança da coloração da terra, as camponesas são pintadas com
vestes da mesma paleta das cores do campo; ao fundo, vemos os empilhados de trigo – que contribui para compreensão da temática –; e, com olhares para o chão, corpos curvados
e mãos “calejadas”, vemos mulheres da classe mais baixa da França, as trabalhadoras do campo, que ganham o espaço pictórico das obras de Millet.
Em outro país, António Carvalho da Silva Porto (1850-1893), artista português, também
deixa em seu legado de pintura realista a apresentação das ceifeiras, mulheres que
também colhem os trigos e as espigas que sobram pelo chão. O Realismo português tem
grandes semelhanças com o francês em matéria de propósito e intenção artística diante da
temática, ou seja, apresentar/representar cenas de um cotidiano e de uma “nova” realidade
das mulheres à época.
Fonte: Wikipédia
COLHEITA – CEIFEIRAS, SILVA PORTO, 1893.
A paleta de cores de Silva Porto ganha tonalidades e nuances diferentes das apresentadas por Millet. Vemos uma abundância de amarelo e azul que gera uma “vibração” e uma
“sensação” de trabalho pesado sob o dia ensolarado. Não são mulheres que pousam para o artista, mas mulheres captadas, de forma instantânea, em uma ação/atividade. Assim, é
possível compreender parte dos propósitos do Realismo em diversas partes do mundo, inclusive no caso brasileiro que veremos mais adiante.
GUSTAVE COURBET
A pintura O ateliê do artista, de Courbet, é um exemplo de retrato “realista”. Vários aspectos podem ser observados, tais como a composição do claro e do escuro, a distribuição dos
personagens. Contudo, é importante destacar a narrativa de Courbet em retratar não apenas essa cena do interior de seu ateliê, mas todo o “sistema da arte e sociedade” no qual ele
está inserido.
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com interação.
Observe pelas marcações em vermelho que, de um lado (direito), estão os personagens que representam a aristocracia ou os “negociantes” de arte, ou seja, quem encomenda e
quem vende. Já do outro (esquerdo), estão os personagens que representam a outra parcela da sociedade, que, por sua vez, figuram as temáticas das pinturas de Courbet –
trabalhadores, músicos, artistas. Ao centro, o artista tem, de um lado, uma modelo, uma figura feminina muito representada nas pinturas; de outro, uma criança, tornando possível
uma analogia com a observação de sua própria infância.
Nessa obra, podemos compreender que, ao mesmo tempo em que o artista mostra seu ateliê, ele também se “retrata” dentro das suas práticas de pintura.
Assim como a obra de Courbet, outro exemplo de artista realista retratando cenas do
cotidiano, ligadas ao seu ofício, em um cenário mais íntimo, arquitetonicamente falando, é
de Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875), nascido em Paris. A pintura Estúdio Corot é
a intenção artística de Camille Corot, que mostra seu estúdio da perspectiva de um
observador que se depara com alguém apreciando a sua pintura. Na cena de paisagem
encontrada no cavalete, o artista apresenta o instante da apreciação da obra feita pela
jovem musicista. É uma demonstração de interior em duplo sentido, ou seja, no âmbito da
arquitetura/do ambiente e na íntima apreciação de sua pintura de paisagem, tema que será
uma das suas especialidades.
Ainda sobre a produção pictórica de Corot, a tela A Catedral de Chartres, um óleo sobre
tela de 1830, é também um importante exemplar enquanto registro histórico da época.
Nela, vemos a representação de uma emblemática catedral francesa, na cidade de
Chartres, construída no século XII.
SAIBA
MAIS
Em 1836, um incêndio danificou o telhado da Catedral, que passou por várias restaurações ao longo do século XIX, sendo considerada Monumento Histórico na França em 1862 e
Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1979.
No século XIX ocorreu uma grande expansão de obras arquitetônicas, em sintonia com o
crescimento das grandes cidades da Europa. Um exemplo emblemático desse período, em
Paris, na França, será a construção do maior e mais alto monumento construído pelo
homem, a Torre Eiffel, entre 1887-1889. Até então, a Pirâmide de Quéops, no Egito,
carregava esse “título”. Esse fato motivou, à época, uma divertida ilustração caricata,
publicada, em 1887, na Revista The Artist’s Protest, na qual Gustave Eiffel, responsável
pelo projeto da torre, comparou o tamanho monumental de sua obra ao das pirâmides
egípcias.
Fonte: Wikipédia
ILUSTRAÇÃO DE COMPARAÇÃO DA TORRE EIFFEL COM AS PIRÂMIDES
EGÍPCIAS.
O beijo, 1888-89, do artista realista francês Auguste Rodin (1840-1917), é uma das obras
mais conhecidas do artista/escultor, ao lado de Portões do inferno e O pensador, a
escultura em que também se vale das premissas relativas ao período artístico que estamos
estudando. O beijo é inspirada em passagem da Divina Comédia, escrita pelo italiano
Dante Alighieri, na qual uma nobre se apaixona pelo irmão mais novo do seu marido; por
esse motivo, a obra apresenta um casal que se aproxima, mas não consuma o beijo, numa
cena de “paixão interrompida”. Há várias versões dessa temática, em proporções
diferentes e materiais distintos em termos de soluções técnicas, tais como mármore, ferro
e barro.
Rodin faz de suas esculturas uma apresentação da realidade corpórea dentro de materiais
“frios e rígidos” como mármore e ferro. Sua habilidade na construção da forma e da
captação do instante, dentro das intenções e dos repertórios por ele escolhidos, tornaram-
no um dos principais escultores do Realismo.
Fonte: Wikipédia
O BEIJO, AUGUSTE RODIN, 1888-89, MÁRMORE.
Vamos analisar a pintura Caipira picando fumo, de 1893, óleo sobre tela, particularmente sua estrutura de composição. Em processo comparativo, estudo e obra finalizada, observe
a delicadeza com que o pintor emprega a luz sobre o caipira. Na obra final, essa luz proporciona a sensação de leveza, tranquilidade e naturalidade típicas de um caipira em uma
atividade de seu cotidiano – picar o fumo.
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com interação.
Almeida Júnior cria zonas mais densas de cores para o chão, de modo a projetar a sombra das árvores. A ampliação do tamanho da tela do estudo para a obra finalizada também
proporcionou um coerente equilíbrio entre as linhas determinadas e estruturantes desse quadro: “basta atentar: a viga, que corta a tela no sentido da largura, é uma forte faixa
horizontal. Ela dá sustentação aos batentes verticais, de mesma espessura: são sólidas como as tramas de um Piet Mondrian criando superfícies retangulares” (COLI, 2009, p. 100).
Além disso, esse jogo ortogonal ainda é reforçado pelas linhas que formam os troncos dos degraus, paralelos à viga, a cruzada de pau-a-pique, o barrote e as tábuas da porta. Ainda
segundo Jorge Coli, esse personagem, bem como a sua disposição no quadro, tem uma presença sólida, “não como uma imagem de impacto, mas como uma imagem de
permanência”; de igual maneira, as manchas de sombras também “corroboram essa estabilidade construtiva de modo inesperado” (COLI, 2009, p. 100).
No ano de 2000, a Pinacoteca do Estado de São Paulo realizou uma exposição comemorativa em prol do aniversário de São Paulo, celebrado em 25 de janeiro, e dos 150 anos de
nascimento de Almeida Júnior, cuja proposta foi convidar 16 artistas contemporâneos para uma releitura das obras desse pintor.
A obra Amolação interrompida, principalmente a machadinha, foi a que ganhou o maior número de releituras. Não à toa, segundo Coli (2009), os artistas enfatizaram a arma e seu
poder simbólico na representação das cenas e dos temas trabalhados por Almeida Júnior.
João Câmara, um dos artistas convidados, usou essa carga expressiva e simbólica da machadinha na instalação Amolador (1999). Na releitura, usando óleo sobre tela e madeira, ele
usa o personagem da amolação, “no qual aparece cortando madeira em que se encontra pintada A grande odalisca (1814), de Ingres” (COLI, 2009, p. 102).
Há ainda as obras produzidas por Percival Tirapeli e Siron Franco: na primeira, o objeto machadinha é a única representação feita na tela de fundo vermelho; na segunda, “um
verdadeiro machado apoia-se contra a imagem abstrata da tela” (COLI, 2009, p. 102).
Nesse projeto de releitura, vimos que, a partir de pinturas com temáticas e composições que nos informam sobre um cotidiano no interior – da cidade e da casa –, foi possível, a partir
dos temas e símbolos, expandir e provocar uma reflexão crítica da arte brasileira, com base nas pinturas contemporâneas. Reviu-se que a “aparente tranquilidade” na disposição dos
objetos, nas cores utilizadas e nos instrumentos do cotidiano – visto nas pinturas de Almeida Júnior – revela também um sentimento de violência, como pode ser visto nas pinturas de
Siron, Percival e João Câmara. Todas essas obras foram apresentadas no ano de 2000 na exposição denominada “Arte Brasileira na Pinacoteca de São Paulo”.
Quer conhecer um pouco mais? Que tal conhecer a Pinacoteca de São Paulo?
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NASCIDO NO ANO DE 1819, NA CIDADE DE ORNANS, NA FRANÇA, GUSTAVE COURBET FOI UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA PINTURA
REALISTA, ESPECIALMENTE EM SEU PAÍS DE ORIGEM. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA DAS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS QUE DISTINGUEM A PINTURA REALISTA DO PERÍODO.
A) Temática do cotidiano
2. ALMEIDA JÚNIOR, UM IMPORTANTE PINTOR E DESENHISTA, CRIOU OBRAS QUE CONFERIAM DESTAQUE ÀS CENAS DO COTIDIANO DO
INTERIOR DE SÃO PAULO, SENDO CONSIDERADO PRECURSOR DE QUAL TEMÁTICA?
A) Realidade corpórea.
B) Regionalista.
D) Naturalista.
GABARITO
1. Nascido no ano de 1819, na cidade de Ornans, na França, Gustave Courbet foi um dos principais nomes da pintura realista, especialmente em seu país de origem.
Assinale a alternativa que apresenta uma das principais características que distinguem a pintura realista do período.
O cotidiano, os problemas e costumes da classe mais baixa da sociedade eram temas abordados nas obras do movimento realista, sendo que as obras de Gustave Courbet
marcaram o início do Realismo na pintura. Sua valorização dos pormenores do cotidiano abriu caminho para futuras correntes pictóricas, a exemplo do Impressionismo.
2. Almeida Júnior, um importante pintor e desenhista, criou obras que conferiam destaque às cenas do cotidiano do interior de São Paulo, sendo considerado precursor
de qual temática?
Almeida Júnior é um dos representantes do movimento realista no Brasil, com obras que se distanciam da representação alegórica e nacionalista que evidenciava a pintura romântica,
marcando o início da temática regionalista no país.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mergulhar na arte é um exercício. Estudar a História da Arte é saber que, ainda que esta surja da inspiração e da capacidade humana, está sempre vinculada à sociedade em que
está sendo produzida. O Realismo é fruto das crises do século XIX, é o mundo que se volta para ele e tenta entender suas bases.
Em termos de estética, rompe com o Romantismo; em termos de olhares, ele se volta para o sujeito e sua representação, algo em voga dado o avanço da industrialização, da
organização de cidades. Seu olhar na literatura – um dos seus “filhos” mais ternos – expõe contradições.
Nas artes visuais, ele visa redescobrir personagens, histórias e formas, mas também romper com o exagero, passando a valorizar em especial uma estética clara, crítica e
compreensível aos que lhe assistiam.
EXPLORE+
Aproveite as redes sociais e as páginas oficiais de museus internacionais, como o Museu do Louvre e o Museu D’Orsay, ambos em Paris; o Museu do Prado, em Madri; o
Museu Metropolitan de Nova Iorque; a Galeria Nacional, em Londres, e a nossa Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo (MASP), para
compreender a formação de acervos e coleções de arte pelo mundo, em especial os de pintura e escultura do tema em estudo: o Realismo.
Pesquise vídeos sobre Madame Bovary proferida por Samuel Titan Jr., professor do Departamento de Teoria Literária da FFLCH-USP. Em sua exposição, o pesquisador traça
um panorama mais amplo do gênero romance na França do século XIX, para que se possa entender as continuidades e rupturas de Madame Bovary com a produção literária
francesa desse período.
Assista ao filme Madame Bovary (Idem, 1991, França). Dentre as várias adaptações cinematográficas do célebre livro de Gustave Flaubert, esta se destaca pelo grande elenco
e pela direção segura de Claude Chabrol, um dos nomes mais conhecidos da Nouvelle Vague francesa.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. M. Apresentação. In: Arte brasileira na Pinacoteca de São Paulo: do século XIX aos anos de 1940. São Paulo: Cosac Naify / Imprensa Nacional / Pinacoteca, 2009, p.
17.
COLI, J. Violeiro Violento. In: Arte brasileira na Pinacoteca de São Paulo: do século XIX aos anos de 1940. São Paulo: Cosac Naify / Imprensa Nacional / Pinacoteca, 2009, 99-107.
MOISÉS, M. Presença da Literatura Portuguesa: Romantismo e Realismo. Lisboa: Bertrand Brasil, 2007.
PALHARES, T. Percursos críticos. In: Arte brasileira na Pinacoteca de São Paulo: do século XIX aos anos de 1940. São Paulo: Cosac Naify / Imprensa Nacional / Pinacoteca, 2009,
20-23.
PELEGRINI, S. C. A. Revista Patrimônio & Memória. São Paulo, Unesp, v. 9, n. 2, p. 17-42, julho-dezembro, 2013.
CONTEUDISTA
CURRÍCULO LATTES