A Entrevista Com Crianças Nos Processos de Trabalho Do
A Entrevista Com Crianças Nos Processos de Trabalho Do
A Entrevista Com Crianças Nos Processos de Trabalho Do
RESUMO:
ABSTRACT:
Pouco se fala, nas produções de Serviço Social, sobre a abordagem com este
grupo específico de sujeitos. Em nossa compreensão há que se ter um olhar
diferenciado para tal segmento, pois, para entendermos estes em sua totalidade e
como sujeitos de direitos, algumas especificidades advindas de questões fisiológicas,
psíquicas e sociais, devem ser consideradas, o que nos remete a pensar em
intervenções próprias para esta condição de “ser em desenvolvimento”, respeitando,
inclusive, o que preconiza o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), o qual destaca
que:
A criança tem, portanto, direitos estabelecidos por lei, para ser compreendida
como ser em desenvolvimento e, em se tratando das diretrizes necessárias para a
garantia de seu atendimento, o ECA sinaliza que:
Segundo Ariès (1986) até o fim da Idade Média não havia noção de infância, ou
seja, esta percepção de diferença entre adulto e criança não existia, tal como vimos
nos dias atuais. A criança era entendida como um adulto em “miniatura”, portanto,
compartilhava dos mesmos espaços, assim como, também tinha as mesmas
responsabilidades destes. Desta forma, as crianças eram expostas a condições
semelhantes aos adultos, o que, pela própria condição de desenvolvimento físico,
cognitivo e psíquico, provocava riscos e vulnerabilidades, resultando em períodos
marcados por altos índices de mortalidade infantil. Foi em meados do século XVII, a
partir do olhar da Igreja e da intervenção pública, que a infância passou a ser vista em
sua especificidade, logo, a ter um olhar e posição diferenciada na sociedade.
O uso das palavras por parte da criança: sabemos que a maior parte das
crianças ainda está adquirindo um vocabulário próprio; portanto, o uso das palavras
de seu conhecimento facilitará a comunicação entre o (a) Assistente Social e a
criança envolvida no processo de entrevista. Assim, devemos perguntar para a
criança o significado de algumas palavras utilizadas por ela para termos o
reconhecimento de seu repertório;
Outra questão que queremos enfatizar diz respeito à pergunta. Saber perguntar
é uma “arte”. Engana-se quem pensa que quanto maior o número de perguntas num
processo de entrevista, maior a quantidade de informações. Pelo contrário, o processo
de entrevista não pode ser resumido somente a perguntas e respostas. Ele exige um
domínio do conhecimento, por parte do (a) Assistente Social, que requer a observação
do sujeito, uma escuta aberta e sem pré-conceitos e a elaboração de perguntas que
possam responder aos objetivos da entrevista. Uma pergunta bem construída permite
a elaboração de respostas mais completas. Em se tratando de crianças, as perguntas
devem ser simples e mais diretivas possíveis, de modo a facilitar a compreensão e a
elaboração de respostas.
Outro fato importante diz respeito ao cuidado com o uso da palavra “por
que”, principalmente no processo de entrevista com crianças. A palavra “por que”,
segundo BENJAMIN (idem, p. 109) “(...) quando usada pelo entrevistador, comunica
que o entrevistado agiu „errado‟ ou comportou-se „mal‟”. Isto pode ocorrer mesmo
quando a intenção do profissional não seja esta. Complementa o autor dizendo que “O
efeito sobre o entrevistado será visivelmente negativo, porque é muito provável que
tenha sido educado em um ambiente que o „por que‟ implicava culpa ou condenação”.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, então, que o processo de entrevista com crianças exige não meramente
o uso de técnicas, mas, também a apreensão e correlação das dimensões teórico-
metodológica (apreensão de teorias que permitam a compreensão da realidade);
técnico-operativo (que incluem o conjunto das ações e procedimentos adotados pelo
profissional, para responder à finalidade de sua ação) somando à entrevista outros
instrumentos para a obtenção de uma intervenção efetiva, eficiente e eficaz; e, ético-
político (que articula os princípios éticos norteadores do fazer profissional, a visão de
mundo e sociedade expressa nas ações do/a Assistente Social, seu compromisso com
uma nova ordem societária e com as diretrizes de seu projeto profissional).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Trad. Dora Flaksman. 2ª.
Edição. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
BENJAMIN, A. A entrevista de ajuda. 13ª. Ed. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2011.
RIZZINI, Irene. O Século Perdido: Raízes Históricas das Políticas Públicas para
a Infância no Brasil. 3ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
1 Como é o caso de LEWGOY e SILVEIRA (2007) que tratam diretamente da questão da entrevista e
outros autores (as) como GUERRA (2011), SANTOS (2012), SOUZA (2009) que abordam a
instrumentalidade, o instrumental técnico-operativo no Serviço Social e a operacionalizam no cotidiano, o
que perpassa, também, pelos processos de entrevista.
2 Segundo o ECA (2012) em seu artigo 2º. “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”.
3 Excelente produção do Serviço Social que merece ser lida integralmente (citamos apenas para
registrar que adotamos a mesma estrutura, com alguns ajustes para o processo de trabalho com
crianças, os quais foram apresentados no texto).