O Rosa Cruz Natal
O Rosa Cruz Natal
O Rosa Cruz Natal
O MINISTÉRIO DO HOMEM-ESPÍRITO
Louis-Claude de Saint-Martin
S.I.
n MENSAGEM
Saudações Rosacruzes!
Temos então duas referências. A primeira nos remete ao aumento da sensibilidade para as coisas da
alma e a segunda para o conhecimento, a razão e as reflexões sobre os ensinamentos.
Há um aparente paradoxo, mas somente aparente porque, na realidade, existe uma linha do meio
que podemos e devemos buscar.
Não podemos negar que o processo da caminhada na Senda que leva à iluminação passa pelo
conhecimento convertido em sabedoria.
Por esta razão, encontrar a mediania entre o conhecimento da gnose arcana presente em nossa
Tradição e a vivência proporcionada pelas iniciações e pelo trabalho metafísico do Sanctum do lar
é tão importante. Torna-se imperioso portanto consultarmos o pensamento de grandes pensadores
especialmente aqueles com bases rosacruzes. E, como sabemos, a bibliografia rosacruz é bastante
rica em místicos e filósofos que contemplam todos os períodos do pensamento humano, sejam
antigos, modernos ou contemporâneos.
Assim, a resposta a questão é positiva: esta revista e toda bibliografia complementar servem para
provocar as reflexões necessárias ao buscador de um conhecimento mais profundo.
Neste contexto, quero destacar que os artigos desta edição contêm princípios e leis místicas em suas
entrelinhas que precisam ser percebidos para usufruirmos da luz que elas possuem.
Minha recomendação é que procurem ler os artigos, sejam os históricos, os reflexivos ou esotéricos,
como se estivessem levantando um véu que revela um conhecimento especial e fidedigno.
O primeiro é pela resposta atenciosa e imediata dos artesãos de nossa Hierarquia ao pedido que foi
atendido amorosamente sobre o Sanctum Celestial.
O segundo é relativo à XXVI Convenção Nacional Rosacruz, com a presença de fratres e sorores de
todo o Brasil, Portugal e Angola, além dos dignitários do México, Nigéria, Itália e Estados Unidos.
Tanto durante o evento quanto após, através dos relatórios de avaliação, os depoimentos foram
muito positivos. Não somente na organização, na parte lúdica, como também no nível das palestras
e convocações ritualísticas.
Agradeço a boa vontade de todos(as) que reconhecem na Ordem um caminho para a sua evolução
e para beneficiar toda a humanidade.
Despeço-me com meus melhores votos de Paz Profunda, com o desejo sincero de que todos tenham
um bom Natal e um ano de 2023 repleto de realizações.
Sincera e Fraternalmente
AMORC-GLP
GRANDE MESTRE
21 Mensagem de Natal
De GRANDE LOJA DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA - AMORC
32 Nāgārjuna o Alquimista
Por FRASER LAWSON
22
37 Como Começar um Novo Ciclo
Por DR. HARVEY SPENCER LEWIS - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC
46 Terra
38
Por KAHLIL GIBRAN
46
4 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022
Publicação trimestral da
ORDEM ROSACRUZ, AMORC
O s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da AMORC,
salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos artigos represen-
ta a palavra e o pensamento dos próprios autores e são de sua inteira
responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar inter-relacionados
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Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem Rosa-
cruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.
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As demais jurisdições da Ordem Rosacruz também editam uma revista do mes
mo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian Digest e Rosicrucian
Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux Rosae, em alemão; De Rooz, em
holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano; Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em
línguas nórdicas.
CIRCULAÇÃO MUNDIAL
expediente
Propósito da n Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
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n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga-
nização internacional de caráter templário, n Diagramação: Léia Regina Nascimento Guimarães
místico, cultural e fraternal, de homens e
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mulheres dedicados ao estudo e aplicação
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da n Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do autor
humanidade através do desenvolvimento cedendo os direitos ou autorizando a publicação.
das potencialidades de cada indivíduo e
propiciar ao seu estudante uma vida har- n A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem nas
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felicidade e paz. revista.
Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe-
rece um sistema eficaz e comprovado de n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não serão
instrução e orientação para um profundo devolvidos.
autoc onhecimento e compreensão dos
processos que conduzem à Iluminação. n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a
Essa antiga e especial sabedoria foi cui- autorização dos autores, necessária para publicação.
dadosamente preservada desde o seu
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacru-
rios Esotéricos e possui, além do aspecto zes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.
filosófico e metafísico, um caráter prático.
A aplicação destes ensinamentos está ao
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
aprender, de mente aberta e motivação
nossa capa
positiva e construtiva. Nossa capa faz referência ao peregrino
em busca de luz.
A Luz que vem dos Mestres do Passado.
Os Filósofos e a
Rosacruz
René Descartes
Por CHRISTIAN REBISSE
que declarava:
Se alguém deseja nos ver somente por curio-
sidade, jamais se comunicará conosco; mas se
-se quanto a um texto da juventude de Des- Países Baixos, perto de Leyde, para trabalhar
cartes que nunca fora publicado: o Tesouro com calma e se dedicar totalmente às suas
matemático de Políbio o Cosmopolita. Nele pesquisas. Alguns dados históricos mostram
Descartes propusera resolver todas as dificul- que o rosacrucianismo tinha se difundido ra-
dades da matemática e indicara que essa obra pidamente naquele país12. Foi lá que Frederico
era oferecida “aos eruditos do mundo inteiro e V se refugiou após a batalha da Montanha
especialmente aos F.R.C. [Irmãos Rosacruzes], Branca (1620). Já em 1615 Fama Fraternitatis
muito célebres na G. [Germânia]”11. À maneira fora traduzido para o holandês: Fama Fraterni-
dos pensadores do século XVII, que respon- tatis Oft Ontderckinge van de Broederschap des
deram ao apelo dos Manifestos Rosacruzes loflijcken Ordens des Roosen-Cruyces (Gedruckt
publicando um livro, na de Copye van Jan Berner,
Sophie Jama acha que Franckfort, Anno 1615).
René Descartes tinha Essa tradução incluiu
sem dúvida o mesmo uma carta em que
projeto. Contudo, os Andreas Hoberves-
eventos dramáticos chel von Hobernfeld
que se seguiram à pedia sua admissão
batalha da Montanha nessa Ordem da
Branca na Boêmia e o Rosa-Cruz. Esse ho-
sectarismo que reinava mem, originário de
numa França tomada Praga, seguiu Frede-
pela Contrarreforma, o rico V em seu exílio
induziram sem dúvida em Haia. A presença
a renunciar a esse projeto. da Ordem da Rosa-Cruz
Devemos acrescentar que o pro- © AMORC.ORG.BR
na Holanda nos é também conhecida
pósito desse texto se assemelhava por uma carta do pintor de Anvers,
ao que seu amigo Johann Faulhaber dedicou Paul Rubens, dirigida a Nicolas-Claude Fabri
também aos rosacruzes com seu livro Mistério de Peiresc. Nessa correspondência datada de
aritmético… Mesmo que René Descartes tenha 10 de agosto de 1623 ele contava que a Ordem
negado que tivesse encontrado rosacruzes, da Rosa-Cruz estava ativa fazia vários anos em
pode-se levantar a questão de sua adesão às Amsterdã. Mas essa informação, assim como
ideias rosacruzes. Comparando as ideias fortes a de Orvius, que afirmava que a Ordem tinha
dos Manifestos Rosacruzes com a Olympica um palácio em Haia, são muito imprecisas
e outros textos de Descartes, Sophie Jama para se conhecer o real desenvolvimento do
mostrou em seu livro que, longe de terem sido rosacrucianismo nos Países Baixos13.
um episódio marginal na vida do filósofo, as Como quer que fosse, uma correspondên-
ideias rosacruzes contribuíram para fecundar cia de janeiro de 1624, entre diversas persona-
seu pensamento. Ela foi mesmo a ponto de lidades da Corte de Justiça, denunciou a exis-
sugerir que, se René Descartes não encontrou tência de um círculo rosacruz em Haarlem.
rosacruzes na Alemanha, poderia ter encon- Os teólogos de Leyde de fato se queixaram
trado a Ordem da Rosa-Cruz através de uma da presença de uma ordem que contestava a
experiência visionária, a que ele viveu em seus integridade da Igreja. Achavam que ela po-
três sonhos. dia se tornar causa de perturbações políticas
e religiosas14. No ano seguinte, em junho, os
A Holanda magistrados ordenaram uma enquete. Hof Van
Holland pediu aos teólogos de Leyde que pro-
René Descartes não gostava da agitação que cedessem a uma análise de Fama Fraternitatis
reinava na França. Em 1628 ele se instalou nos e Confessio Fraternitatis. Seu estudo produziu
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A relatividade da
noção de
valor
Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC IMPERATOR EMERITO DA AMORC
ciência do eu.
Como determinamos o
grau de valor? Cada uma de
é necessária enquanto valor se desejamos nossas experiências está in-
dirigir de maneira conveniente a nossa vida. serida numa das classes gerais de valor hedô-
São as reações que as experiências produzem nico. Queremos dizer com isso que todas as
em nós que despertam a noção de valor. Se nossas experiências entram na categoria das
existem falsos valores, fica evidente, então, sensações, proporcionando graus diferentes
que conformar sua vida a eles é prejudicial à de prazer ou de dor. Algumas sensações são
personalidade. Consequentemente, o valor tão intermediárias entre o sofrimento e o
tem importância em nossas vidas. prazer que nossa consciência não as classifica
Consideremos o eu durante alguns ins- nem em uma categoria, nem em outra. Estas
tantes. Dissemos que o senso de valor é sensações diferentes tornam-se valores para o
dado pela relação que existe entre certas nosso ser orgânico, para nossa mente e para
experiências e o eu. Nossa consciência não nosso corpo. As sensações agradáveis são de-
é unicamente um amontoado de impressões sejadas e procuradas, e o prazer é, com razão,
externas de sentimentos internos. Por exem- considerado um valor positivo pelo fato de
plo, não podemos dizer que a consciência engendrar em nós a ação de encontrá-lo e de
de si seja somente um conjunto de imagens, adquiri-lo. O sofrimento, antítese do prazer,
de sons, de sofrimentos, de prazeres e de é considerado como um valor negativo que
emoções. Também não podemos dizer que não é procurado por um ser normal. No
a consciência de si seja formada unicamente entanto, ele pode levar o homem à ação, no
pela totalidade de nosso julgamento. O que único intuito de se livrar dele. Mentalmente e
conseguimos distinguir como sendo o eu no biologicamente, o prazer favorece um aspecto
meio de nossas diversas experiências, é a rea- do ser e do eu. No entanto, quando exagera-
lização da nossa força de vontade. É a cons- do, ele não conservará seu caráter agradável,
ciência da nossa vontade própria. No entanto, mas retrocederá para se transformar em so-
podemos ser conscientes das impressões, das frimento.
coisas externas a nós mesmos, ou ainda de Na vida, os fatos que constituem nossas
nossos próprios sentimentos internos; somos experiências, nem sempre nos fornecessem
conscientes igualmente do nosso poder de uma resposta imediata de valor. Como diz o
preferência. filósofo americano Josiah Royce: Os fatos são
Possuímos, então, aquilo que poderíamos realidades. Eles podem ser descritos, mas não
chamar de consciência da consciência, e que nos permitem nenhuma apreciação sobre eles.
faz brotar a natureza do eu. É essa vontade ou Em outras palavras, os fatos podem, às ve-
u estava caminhando pela calçada de nove metros de largura na antiga cidade maia de Ti-
E kal, na atual Guatemala, quando meu guia me chamou ao pé de uma magnífica árvore Cei-
ba que se estendia até o céu. Ao pé havia o que parecia ser bagas vermelhas do tamanho de
groselhas, o guia pegou um par em sua mão e me deixou cheirá-los: um perfume adorável e doce
que ele me disse que era Pom para os maias e Copal para os astecas.
Sabemos que o incenso é usado desde os tempos mais antigos e só podemos especular como
isso aconteceu. Foi quando os primeiros humanos queimavam lenha para suas fogueiras e notaram
que alguns bosques ou arbustos tinham um cheiro mais suave, pacífico e encantador do que todos
os outros? Na verdade, poderia ser que tais momentos nos levem de volta às próprias origens dos
humanos modernos oitenta ou mais mil anos atrás, quando nossos ancestrais ponderaram e bus-
caram a morada de seus ancestrais falecidos, um mundo espiritual de conhecimento de eventos
futuros e poderes além das capacidades humanas?
O sentido do olfato deve ter sido para nossos ancestrais mais antigos, um sentido muito mais
dominante e sofisticado do que é para nós hoje. Ser capaz de sentir o cheiro da próxima refeição,
sem dúvida, os ajudou a sobreviver muito mais fácil do que faríamos hoje se deixados sozinhos no
mato. E ser capaz de sentir o cheiro da presença de predadores perigosos contra o vento também
teria sido uma vantagem decisiva para a sobrevivência com seu constante imperativo de sair do
caminho do perigo o mais rápido e silenciosamente possível. Então, quase certamente, o olfato era
para nossos ancestrais o mais importante de todos os cinco sentidos, como de fato é para a maioria
dos mamíferos de hoje.
Alimentos especiais,
ervas, cascas de
árvores e plantas com
aromas agradáveis
eram oferecidos
aos deuses em
ritos solenes.
PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ
23
n SIMBOLOGIA
Avanço Rápido
Avançando dezenas de milhares de anos para eras onde
várias formas de consciência espiritual começaram a emergir,
sejam ritos pré-históricos de adoração aos ancestrais ou um
senso em desenvolvimento de uma presença espiritual pan-
teísta imanente que permeia todas as coisas..., várias crenças
religiosas definidas começaram a evoluir ao longo dos mi-
lênios, a maioria das quais não temos conhecimento hoje.
Qualidades humanas eram atribuídas aos deuses, e os deuses
eram aqueles que amam, temem e respeitam em igual medida
por causa de seu poder de ajudar e atrapalhar os humanos.
Quaisquer substâncias que os humanos considerassem
gratificantes, como o cheiro pungente e de dar água na boca
de um sacrifício assado em um altar ao ar livre, ou incenso
aromático e de cheiro agradável, supunha-se que os deuses
achariam tão gratificantes quanto seus súditos humanos. Os
deuses foram, afinal, criados à imagem dos humanos e, na
maioria das vezes, não se comportavam melhor do que seus
adoradores, embora geralmente com maior e especial força.
E, eventualmente, tornou-se a norma que: se os deuses fizes-
sem qualquer coisa por seus adoradores, eles precisariam ser
aplacados com coisas preciosas que os humanos desfrutavam,
e madeiras e resinas aromáticas acabaram se tornando uma
dessas coisas.
Alimentos especiais, ervas, cascas de árvores e plantas
com aromas agradáveis eram oferecidos aos deuses em ritos
solenes. Se certas áreas de locais sagrados eram consagradas
ao culto dos deuses, como os elementos naturais, o céu, a ter-
ra e as estrelas, todos respeitados como seres sobrenaturais,
flores perfumadas eram espalhadas no chão ou colocadas em
altares. Isso, pensava-se, tornava os deuses mais propícios aos
apelos de seus adoradores.
O propósito original de usar materiais com aromas agra-
dáveis de forma organizada era quase certamente para uso
em ritos religiosos. Os corpos dos mortos eram perfumados
com óleos aromáticos e enfeitados com flores. Os óleos foram
misturados com outros ingredientes para compor uma for-
ma de perfume. Os antigos persas, por exemplo, acreditavam
que o malfeitor era punido na vida após a morte sendo en-
viado para uma região de odores fétidos. Em outras palavras,
acreditava-se que o que era ofensivo para os vivos o era mais
depois da morte, como retribuição pelas más ações cometidas
durante a vida. Isso equivale ao conceito dos odores e fuma-
ças malcheirosas que dizem existir como uma forma de puni-
ção no conceito cristão de Inferno. Então, descobrimos que o
incenso era usado como...
Visões do paraíso
A ideia de que o paraíso tem um cheiro agradável é encon-
trada nos escritos judaicos, cristãos e gnósticos. A morada dos
deuses devia ser uma região, acreditava-se, agradável ao olfato.
O estado de prazer na vida após a morte era, portanto, uma
recompensa. O uso Rosacruz do incenso Rosa Musgosa é uma
boa indicação disso.
Além de seu principal propósito como oferenda aos deuses,
o incenso era usado para fins práticos, simbólicos e místicos.
Madeiras perfumadas eram usadas na cremação para neutrali-
zar o forte odor do corpo queimado ou dos sacrifícios queima-
dos, especialmente em climas quentes. Onde isso é feito hoje,
como por exemplo na Índia e no Sri Lanka, o cheiro é geral-
mente o mesmo em todos os ritos de cremação devido ao uso
habitual de materiais semelhantes. O odor é forte e, uma vez
experimentado, sempre sugere a queima próxima de um corpo
humano. Na verdade, o perfume tem uma doçura enjoativa.
Um outro conceito simbólico dizia respeito à fumaça que
ascendia da queima de plantas aromáticas e resinas; pensava-
-se que carregava as palavras de oração aos deuses, que ficaram
satisfeitos com o odor. Além disso, também se acreditava que
a alma dos mortos subia ao céu pela fumaça do incenso quei-
mado em seu nome. Psicologicamente, é interessante notar que
os primeiros humanos buscavam algum vínculo tangível entre
sua substância material finita e o infinito, ou a região invisível
onde eles acreditavam que os deuses habitavam. A fumaça a
princípio não era simbólica, mas pensava-se que era um meio
real para a transmissão da oração.
Incenso no Egito
No Egito, oferendas de incenso eram feitas aos deuses den-
tro de seus templos e nas ocasiões especiais em que a estátua do
deus saía do templo para que o incenso “levasse a alma para o
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Imagens de incenso aparecem em imagens egípcias antigas. Esquerda - Ramsés III oferecendo
incenso. Direita - seção do livro dos mortos mostrando o uso do incenso.
céu na fumaça do incenso”. Provavelmente a referência mais antiga ao uso de incenso para qual-
quer propósito religioso apareceu no aviso de um faraó da 11ª Dinastia, Sankhkara Mentuhotep
III (c.2004-1992 a.C). Ele enviou uma expedição de aromáticos através do deserto e navegou para
o sul no Mar Vermelho até a “Terra do Incenso de Punt”. Acredita-se que esta terra tenha sido na
região norte da Somália moderna.
Acreditamos que todos os templos tinham árvores de incenso ou arbustos plantados em seus
terrenos ou ao redor deles. Para aqueles que visitaram o Templo Mortuário do Faraó feminino
Hatshepsut, em Deir el-Bahri, na margem oeste do Nilo, em Luxor, sabe-se que, além das elegantes
ruínas que restam, árvores de incenso trazidas de sua expedição às terras de Punt foram plantadas
na frente e nas laterais das rampas, e podemos ver essa história exposta nas paredes de seu templo.
Nas paredes de outros templos mortuários reais, no lado oeste do Nilo, em frente à moderna
Luxor, podem ser vistas representações de reis oferecendo incenso. “Ele segura um incensário em
uma mão e na outra joga pequenas bolas de incenso sobre ele, rezando para que o deus o aceite e
lhe dê uma vida longa.” Durante os ritos funerários, o incenso era usado para purificar o falecido;
grãos finos eram oferecidos duas vezes à boca, olhos e mãos, uma para o Norte e outra para o Sul.
Os egípcios acreditavam que o incenso tinha uma qualidade divina. Acreditava-se que a deusa Ísis
tinha um perfume maravilhoso que ela podia transferir para os outros. Este perfume tinha quali-
dades benéficas, bem como propriedades curativas. Acreditava-se que Osíris era capaz de transferir
seu odor e o poder que o acompanhava para quem ele amasse.
Aparentemente, a importação dos ingredientes do incenso e sua composição era uma indús-
tria bastante próspera no antigo Egito. Foram usadas imensas quantidades de incenso. Durante
o reinado do faraó Ramsés III da 20ª Di-
nastia, foi relatado que 1.938.766 peças de
incenso foram usadas durante os 31 anos
de seu reinado. Aparentemente, todos os
deuses ficaram encantados com os aromas
que lhes foram oferecidos. Até as estátuas
dos deuses eram incensadas com substân-
cias perfumadas.
Queimador de incenso egípcio antigo
Tipos de incenso
Os ingredientes específicos usados no incenso podem va-
riar de acordo com a região e o fabricante. Alguns exemplos
específicos de ingredientes aromáticos que você pode reco-
nhecer incluem: canela, incenso, almíscar, mirra, patchouli e
sândalo.
Gomas e resinas têm sido usadas como incenso por milê-
nios em todo o mundo. No Oriente Médio, o incenso é usado
liberalmente em perfumarias e casas. Também tem um cheiro
maravilhoso. O material de ligação combustível encontrado
no incenso é o que acende, permitindo que o incenso queime
e produza fumaça. Os materiais usados variam,
mas podem
incluir coisas como carvão ou pós de madeira.
Aromas, perfumes, fragrâncias (independentemente de
como você os descreva) podem ser usados para desencadear
respostas específicas. Por exemplo, para estimular o relaxa-
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e correr de uma
coisa para outra
e, para reduzir
o Ocidente, nomes como Michael pouco, em uma fuga, ele decidiu que seria
cado.
em troca Apesar do bem que ele fez, a vida de
do encanto. Nāgārjuna terminou tragicamente. Sua ami-
Vyali aceitou zade com o rei da região era tão conhecida
o encanto e, quanto seu domínio da alquimia. Tanto o
Notas
Como começar um
novo Ciclo
Por DR. HARVEY SPENCER LEWIS, FRC - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC
P
ara mim, tem sido algo estranho que pessoas em todo o mundo considerem o chamado dia de
Ano Novo ou o começo de um novo calendário em primeiro de janeiro, como início de um novo
ciclo para fazer determinadas coisas como: tomar novas resoluções, iniciar atividades e promo-
ver mudanças. A verdade é que, para muitos poucos de nós, o primeiro dia de janeiro é o verdadeiro
começo de um novo ciclo. No caso da média dos indivíduos, o seu aniversário, o aniversário de sua data
natalícia, é, realmente, o começo de um novo Ciclo. E esse ciclo transcorre de aniversário a aniversário.
Não posso, de modo algum, compreender por que a média dos místicos e filósofos sinceros e toda
pessoa sensata não se apercebe de que o começo de cada dia, com o nascer do sol, é o começo de um
novo Ciclo. Pode haver ciclo maior, mais propício, mais fértil, do que o de vinte e quatro horas que esteja
iminente todas os dias?
Pensemos em ter de esperar de um para outro ano ou, de um para outro aniversário, para tomar
novas resoluções, modificar velhos hábitos e promover atividades novas, quando cada nascer do sol,
apenas vinte e quatro horas após, dá origem ao nascimento de um ciclo que é tão cheio de possibilidades
como pode ser qualquer grande ciclo místico!
Assim, se o(a) leitor(a) ainda não o fez, faça deste ano, um ano novo, um ciclo novo, um começo
novo. Esqueça-se do fato de que o primeiro dia de janeiro já passou e que, provavelmente, esqueceu-
-se do começo desse ciclo calendário – desse começo estabelecido pelo homem, arbitrário, indefinido,
instável, que não é uniforme em todo o mundo e pense apenas no ciclo que começa no dia seguinte ao
que tiver lido estas linhas.
Levante-se amanhã de manhã cheio(a) de disposição, energia e determinação de que tão logo o
sol comece a surgir no horizonte e se encaminhar para o meio do céu, antes de começar a descambar,
eleve-se com ele ao apogeu da glória. Determine que se elevará interior, espiritual e poderosamente, por
todos os meios possíveis, ao zênite, antes do meio-dia e que irá conquistar o mundo e tornar-se senhor
de tudo aquilo que vir.
Pense nesse dia como sendo o seu único dia. O último dia de sua vida em que terá a oportunidade,
a consciência e a vitalidade para fazer algo e torne cada um de seus minutos não apenas um minuto
feliz, mas, um minuto cósmico, essencial para realizar algo, seja esse algo um período de relaxamento
que beneficiará sua saúde, uma boa ação em favor de alguém, uma ou duas horas para estudo, atos de
caridade ou todas essas coisas combinadas.
Quando o dia terminar e o Sol já tiver desaparecido no horizonte, coloque sua cabeça no travesseiro
e seja capaz de dizer a si mesmo que esse dia - esse dia, precisamente - foi o maior ciclo de atividades e
realizações de sua vida. Faça isto todos os dias!
Não espere por qualquer outro dia “especial “. Isto será tão ridículo como aqueles que esperam pelo
domingo para ir ao seu local de e ajoelhar-se num genuflexório de banco de igreja, esquecendo-se de
Deus todo o resto da semana.
Podemos elevar nosso pensamento e consciência a Deus, em oração, a qualquer minuto, a qualquer
hora do dia, onde quer que estejamos - em um templo, no escritório, em casa, no campo ou em um
automóvel. E podemos fazer de cada dia o começo de um novo ciclo.
Portanto, se pudermos combinar cada dia deste ano com o espírito conveniente de um novo mês,
próximo ao começo de um novo ano, façamo-lo tornando-o o maior ano, o maior ciclo de nossa vida. 4
A Importância dos
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Escritos Herméticos
O Corpus Hermeticum
único volume na época bizantina, e uma caiu como uma bomba cer-
cópia deste volume sobreviveu para chegar teira entre os sistemas filosóficos da Europa
às mãos dos agentes de Lorenzo de Medici medieval tardia. Citações da literatura her-
no século XV. Marsílio Ficino, o chefe da mética dos primeiros escritores cristãos (que
Academia Florentina, foi dispensado da ta- nunca tiveram pudor de se apoiar em fontes
refa de traduzir os diálogos de Platão para pagãs para provar um ponto) aceitavam uma
traduzir primeiro o Corpus Hermeticum para cronologia tradicional que datava “Hermes
o latim. Sua tradução foi impressa em 1463 e Trismegisto” como uma figura histórica do
reimpressa pelo menos vinte e duas vezes ao tempo de Moisés. Como resultado, os em-
longo do século e meio posterior. préstimos dos tratados herméticos da escri-
tura judaica e da filosofia platônica foram
O Conteúdo do Corpus Hermeticum vistos, no Renascimento, como evidência de
que o Corpus Hermeticum havia antecipado e
Os tratados dividem-se em vários grupos. influenciado ambos.
O primeiro (cap. 1), o Poimandres, é o rela- A filosofia hermética era vista como uma
Também forneceu
uma das armas mais
importantes para outra
grande rebelião da época,
a tentativa de restabelecer a magia como um caminho espiritual socialmente aceitável no Oci-
dente cristão. Outro corpo de literatura atribuído a Hermes Trismegisto era composto de textos
astrológicos, alquímicos e mágicos. Se, como acreditavam os estudiosos da Renascença, Hermes
foi uma pessoa histórica que escreveu todas essas coisas, e se os primeiros escritores cristãos cita-
ram suas obras filosóficas com aprovação, e se essas mesmas obras pudessem ser mostradas total-
mente de acordo com algumas definições do cristianismo, então toda a estrutura do hermetismo
mágico poderia receber uma legitimidade de segunda mão em um contexto cristão.
Claro que isso não funcionou, e a redefinição radical do cristianismo ocidental que ocorreu
na Reforma e Contrarreforma, endureceu as barreiras doutrinárias a ponto de pessoas serem
queimadas no século
XVI por práticas que
eram consideradas
evidências de devoção,
assim como anterior-
mente no século XIV.
A tentativa, no entanto,
tornou a linguagem e
os conceitos dos trata-
dos herméticos centrais
para grande parte da
magia pós-medieval no
Ocidente. 4
Artigo traduzido do
Rosicrucian Beacon – Ju-
nho de 2006
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PRIMAVERA
PRIMAVERA2022
2022 · O ROSACRUZ
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n ORIENTAÇÃO
Terra
Por KAHLIL GIBRAN
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A Função dos
Rituais
Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC IMPERATOR EMERITO DA AMORC
uitas pessoas não concordam com os vezes associados aos dogmas e às doutrinas
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ritualista é interpretado como uma parte das
leis fundamentais gerando a fertilidade.
No plano teórico, o mesmo se aplica ao
processo químico do qual se espera determi-
nado resultado. Não existe nenhum elemento e cenas que deviam representar em imagens
moral nestes ritos mágicos. Ritos semelhan- seus pensamentos e sentimentos. Alguns se
tes foram incluídos, pelo menos parcial- tornaram a expressão das ideias subjetivas do
mente, no ritualismo das religiões. O maior homem.
fator de contribuição para o ritualismo é Tem-se um exemplo deste fato no símbo-
constituído pelos costumes e tradições. Antes lo quaternário que representa os quatro pon-
da magia e da religião, os homens já se sur- tos cardiais ou as quatro posições principais
preendiam e refletiam. Suas noções abstratas dos movimentos humanos: à frente, atrás,
eram representadas por símbolos. Sabemos embaixo, em cima. Muitos costumes consi-
que uma imagem vale muito mais do que mil derados como símbolos mais expressivos, ou
palavras. O pensamento do cérebro primiti- simplesmente mais eficazes, pouco a pouco
vo muitas vezes ultrapassava o vocabulário evoluíram para o ritual. Eles tornaram-se
que dispunham os homens daquela época. santos como consequência de seu uso tradi-
Os conceitos relativos à origem do universo, cional. Há nos povos primitivos, e também
as ideias sobre o retorno do dia e da noite, nos modernos, uma relação muito acentuada
sobre a vida e a morte, os acontecimentos com a tradição. Isto se deve à veneração que
felizes ou infelizes, suscitavam no homem atribui idade às coisas e ao respeito conferi-
reações emocionais e inspiravam símbolos do pelo homem a tudo que lhe foi favorável
entre as lembranças que ele celebra. Como
resultado, muitos ritos religiosos surgiram
independente de toda crença em seres espi-
rituais ou sobrenaturais, e a religião chegou
a usar esses ritos e rituais para reforçar suas
próprias concepções, em virtude do respeito
que eles tinham obtido nas práticas pura-
mente profanas.
A psicologia do ritualismo embora com-
plexa no que concerne à identificação de
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fenômenos para os quais nenhuma causa fí-
sica foi encontrada. Eles dão à ideia o caráter
objetivo necessário e levam para o domínio
da experiência e realidade através da repre-
sentação ritual. Contudo, o ritual frequente- satisfação e encerra a substância de um rito
mente é mais evidente do que a representa- ou de um ritual.
ção de um mito. Estima-se que ele constitui Devemos estabelecer uma distinção entre
o meio de avaliar a efetividade atribuída aos o costume e o ritual, ainda que o primei-
personagens mitológicos. Em outras pala- ro tenha contribuído para a existência do
vras, o ritual é um meio de associar harmo- segundo. Um costume poder se tornar um
niosamente o observador ou o participante às ritual, mas nem todos os rituais, necessaria-
entidades míticas, de modo que ele participe mente, provêm de um costume. Podemos
dos poderes e das virtudes que supostamente fazer de alguma coisa um hábito porque, de
essas entidades míticas possuem. É uma ação fato, segundo nossa opinião, é o único cami-
por substituição, ou seja, uma substituição de nho a ser seguido. Isso, em si mesmo, não é
si mesmo por aqueles que se acredita perten- um ritual, mas sim um método eficiente e
cerem a outro plano. essencial. Contudo, quando conservamos um
Em determinadas religiões, a comunhão costume por atração ou interesse, mesmo que
não é considerada como um ato simbólico, outro meio possa ser seguido ou outros atos
mas sim como uma ação pela qual o partici- realizados com mais proveito, ou quando
pante, por meio dos elementos da cerimônia, nos agarramos a esse meio porque ele parece
participa do espírito e da substância de Cris- expressar muito melhor nosso próprio sen-
to. Mesmo que não haja nenhuma ligação re- timento, então esse costume irá adquirir a
ligiosa, todo o ato que acreditamos essencial qualidade de ritual. Se um costume se torna
à nossa compreensão e à nossa relação com muitas vezes um ritual, é consequência do
qualquer coisa, é, em si mesmo, o fundamen- desejo de mantê-lo vivo e de respeitar sua
to de um ritual. Ele nos leva a sentir certa memória cativante. A tradição torna-se para
nós uma sugestão que estimula nossa natu-
reza emocional e psíquica. Outro costume
poderia também ser do mesmo modo eficaz,
mas ele não satisfaria tão bem nosso “eu”
emocional e psíquico. Esses costumes agra-
dáveis acabam por assumir um caráter bené-
fico que nos leva a venerá-los e a atribuir-lhes
a qualidade de rituais.
A filosofia do ritualismo reside em seu va-
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