Artigo - CIBIMFinalRev
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Departamento de Formação Geral, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Av. dos Imigrantes,
1000, Jardim Panorama, Varginha, MG, Brasil. Email: antunes.pd@gmail.com
2
Laboratório de Pesquisa e Tecnologia de Soldagem (LPTS), Universidade Federal do Ceará, Av. da Universidade,
2853, Fortaleza,CE, Brasil. Email: cleitonufc@yahoo.com.br
3
Instituto de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Itajuba (UNIFEI), Av. BPS, 1303, Caixa postal. 50,
Pinheirinho, Itajuba, MG, Brasil. Email: ecotoni@unifei.edu.br
Resumo
Neste trabalho foi investigado da energia de soldagem e do envelhecimento térmico sobre a microestrutura e as
propriedades mecânicas de juntas soldadas do aço inoxidável austenítico AISI 317L usado na indústria de petróleo.
O metal de adição usado foi o eletrodo AWS ER317L em dois diferentes níveis de energia (4 e 8 kJ/cm). As
amostras foram envelhecidas à 700°C por 50 e 100 horas. Foram realizadas a quantificação dos precipitados e o
mapeamento microquímico das fases precipitadas após a soldagem e o tratamento térmico de envelhecimento (TTE).
Para avaliar as propriedades mecânicas foram realizados teste de tração e microdureza Vickers. Observou-se que o
envelhecimento promoveu um refinamento da região do metal base e toda ferrita delta foi transformada em fase
sigma. A ferrita delta presente na zona fundida se transformou completamente em fase sigma e fase chi. Nas
amostras tratadas termicamente por 100 horas identificou-se uma menor ocorrência da fase autenita secundária (γ 2) o
que indica que com o aumento do tempo de TTE ocorreu uma dissolução da mesma na fase sigma já precipitada.
Com relação as propiedades mecânicas, foi verificado um aumento considerável da dureza, do limite de escoamento
e do limite de resistência à tração das juntas que sofreram envelhecimento em relação àquelas não envelhecidas, para
todas as condições de soldagem
Palavras chave: Aço inoxidável AISI 317L, Soldagem, microestrutura, propriedades mecânicas
Abstract
This work investigated the effect of aging on the microstructural characteristics and mechanical properties of welded
joints of the AISI 317L austenitic stainless steel used in the petroleum industry. The filler metal used was the AWS
ER317L electrode at two different energy levels (4 and 8 kJ/cm) in order to verify the influence of this parameter on
the precipitation of deleterious phases. The samples were heat treated at 700 °C for two period of times: 50 and 100
hours. Quantification and microchemical mapping of precipitated phases after welding and aging thermal treatment
(ATT) were performed. Vickers hardness and tensile tests were used to evaluate the mechanical properties.It was
observed that aging promoted a refinement of the base metal region and all delta ferrite was transformed into sigma
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P. Antunes, C. Silva, E. Correa
phase. The delta ferrite present in the fusion zone was completely transformed into sigma and chi phases. In the
thermally treated samples for 100 hours a lower occurrence of the secondary austenite phase (γ2) was identified,
which indicates that with the increase of ATT time the dissolution of γ2occurred in the already precipitated sigma
phase. All welding conditions showed an increase in tensile strength, flow limit and hardness profile with the ATT.
Keywords: AISI 317L Stainless Steel, Similar Welding, Mechanical properties, microstructure
O aço inoxidável austenítico 317L tem como Chapas de aço AISI 317L de 3 mm de espessura
principal característica um baixo teor de carbono bem foram soldadas em junta de topo por meio do processo
como a presença de molibdênio na sua composição GMAW automatizado com corrente pulsada em dois
química, em teores superiores àqueles observados nos níveis de energias: 4 e 8 kJ/cm. Para o preenchimento
aços 316L; conferindo-lhe uma maior resistência da junta utilizou-se o arame-eletrodo AWS ER317L.
mecânica, à sensitização, à corrosão por pites e Na Tabela 1 apresenta-se a composição química
melhores características de fluencia em elevadas nominal (% em peso) das chapas do aço inoxidável
temperaturas quando comparado com o aços 316L [1,2]. AISI 317L e do eletrodo AWS ER317L usado da
Devido à estas características, o aço 317L é soldagem.
largamente utilizado em unidades de refino de petróleo
para fabricação de equipamentos e linhas de transmissão Tabela 1. Composição química do aço inoxidável
de fluido, as quais são compostas por vasos de pressão, austenítico AISI 317L e do eletrodo AWS ER317L
tubos, flanges, e outras conexões.
Uma aplicação de grande importancia do aço 317L Material Composição química (%)
na industria de petróleo é na operação de lining C Cr Ni Mo Mn Si
(revestimento em chapa interno) em torres de AISI 317L 0,01 19,0 13,1 3,1 1,6 0,4
processamento de óleo pesado, de modo a torná-las AWS ER317L 0,01 20,3 12,4 3,7 1,6 0,4
mais resistentes à ação de ácidos contaminantes
presentes no petróleo tais como os ácidos naftênicos Na Tabela 2 são apresentados os principais
(R(CH2)nCOOH), carbônico (H2CO4), sulfídrico (H2S), parâmetros de soldagem usados no processo.
além de elevada concentração de cloretos (Cl-) [3,4].
Cabe ressaltar que na operação de lining para a Tabela 2: Parâmetros de soldagem adotados.
montagem destes sistemas é necessário a soldagem dos Parametros de soldagem
referidos componentes.. Uma das grandes dificuldades Energia de soldagem 4KJ/cm 8KJ/cm
enfrentadas nesta aplicação é desenvolver um I pico 250 A 240 A
procedimento de soldagem que ofereça a produtividade
I base 65 100
esperada e garanta na região soldada uma
tempo de pico 3s 4,5 s
microestrutura estável, em que prevaleça as mesmas
tempo de base 10 s 8s
propriedades quimicas e mecânicas do material base.
Tais dificuldades se apresentam porque o ciclo I eficaz 139 165
térmico no qual estes materiais estão submetidos V 19 26
durante a soldagem, leva a zona térmicamente afetada Velocidade de soldagem 45 35
(ZTA) a experimentar uma faixa de temperatura crítica Velocidade Alim arame 4,5 4,5
(400 a 1000ºC) e, consequentemente, a passar por Vazão gás de proteção (Ar) 25 l/min 25 l/min
transformações metalúrgicas caracterizadas
principalmente pela formação de fases intermetálicas Com o objetivo de se verificar a influência do tempo
tais como sigma (σ), chi (χ) and Laves e precipitados de envelhecimento sobre a microestrutura e as
indesejáveis M23C6 [4]. propiedades mecánicas das juntas soldadas, foram
Neste contexto, o presente trabalho tem como realizados tratamentos térmicos de envelhecimento em
objetivo estudar o efeito do aporte térmico e do forno mufla à temperatura de 700°C por 50 e 100 horas.
envelhecimento sobre a microestrutura e propriedades Para avaliar a microestrutura da região da solda antes e
mecânicas de juntas soldadas do aço inoxidável depois do tratamento de envelhecimento, amostras da
austenítico AISI 317L. seção transversal das juntas soldadas foram lixadas,
polidas e atacadas com ácido oxálico (10%) e acido
nítrico (20%). Em seguida estas amostras foram
analisadas metalograficamente usando microscopio
Influência da energía de soldagem e do envelhecimento na microestrutura e nas propriedades mecânicas de 3
juntas soldadas do aço inoxidável 317L
SegundoVillanueva et al. [8], quando o material com energía de 4KJ/cm (aproximadamente 8%),
alcança temperaturas superiores a 550 °C ocorre a verificada através de ferritoscopia
formação da fase σ em um mecanismo diferente do
apresentado em microestruturas totalmente austeníticas.
Toda a ferrita δ se decompõe através de uma reação Tabela 6: Propriedades mecânicas das juntas soldadas
eutetóide (ferrita δ→ fase σ+ γ secundária) e não por
uma precipitação contínua. Tempo Energia
LE LRT Alongamento
Isso ocorre porque a ferrita δ é rica em elementos de TTE soldagem
(MPa) (MPa) (%)
facilitadores da formação da fase σ como Cr, Mo e Si, e (horas) (kJ/cm)
a composição química da fase σ formada a partir da
ferrita é mais rica nesses elementos do que a formada a 4 353 ±14 579 ±27 10± 4
partir da γ nos contornos de grão. 0
Além disso, como já mencionado anteriormente, a 8 296±16 663±31 11±2
difusão de elementos formadores da fase σ,
particularmente o cromo, é 100 vezes mais rápida na
ferrita do que na austenita [9], facilitando sua formação. 4 357±14 612±3 15±3
Padilha et al. [10] destacam que a cinética da 50
precipitação da fase σ, em aços inoxidáveis com 8 340±19 632±16 21±5
estrutura totalmente austenítica, é muito lenta, sendo
necessárias centenas ou milhares de horas, para que 4 384±2 607±50 9±6
ocorra a formação destes precipitados. Os autores 100
apontam que a cinética lenta se deve a três causas: a
insolubilidade do carbono e do nitrogênio na fase σ, 8 366±14 674±23 17±6
acarretando na precipitação desta fase após a
precipitação de carbonetos e/ou nitretos; a
complexidade da estrutura cristalina da fase σ, com 30
De acordo com Padilha et al [11], as propriedades
átomos na célula unitária e o fato de ser formada por
mecânicas como limite de resistência, limite de
elementos de solução sólida substitucional, o que requer
escoamento, alongamento e estricção variam com o
longos tempos de difusão.
percentual de ferrita δ presente no material. O
Ainda de acordo com análises de fração volumétrica
das fases, as juntas soldadas com maior aporte térmico endurecimento causado pela presença de ferrita δ não
(8 kJ/cm) e tratadas termicamente por 50 horas, pode ser considerado do tipo dispersão de partículas
incoerentes, uma vez que a ferrita também se deforma
apresentaram menor concentração de fase σ
plasticamente.
(aproximadamente 5,3%) em relação àquelas tratadas a
Além de influenciar no limite de escoamento,
100 horas (6,7%) e maior quantidade da fase χ (0,3%
limite de ruptura, percentagem de alongamento e
contra 0,1% para 100 horas.
percentagem de estricção, a percentagem de ferrita δ
pode ser significativa na fragilização induzida por
3.2. Propriedades mecânicas
hidrogênio. As soldas em aços inoxidáveis austeníticos
3.2.1. Teste de tração apresentam quantidades significativas de ferrita δ, sendo
que esta ajuda a prevenir a formação de trincas a quente,
A princípio é importante registrar que todos os CPs porém proporciona um caminho preferencial para a
de tração romperam na zona de transição ZTA/ZF. A propagação de trinca induzidas por hidrogênio [12].
Tabela 6 apresenta os resultados dos testes de tração Luppo et al [13], verificaram que há uma
realizados para as condições de soldagem e de TTE. diminuição da ductilidade com o aumento da quantidade
Nota-se que apesar das amostras sem TTE soldadas com de ferrita em um aço AISI 347 soldado. Eles também
menor energia (4 kJ/cm) apresentarem um menor limite apontaram que o efeito da quantidade de ferrita δ, acima
de resistência à tração e alongamento, estas de 12%, sobre a absorção de hidrogênio não é bem clara
apresentaram uma maior tensão de escoamento com para este tipo de aço.
relação à junta soldada com maior energía de soldagem. Observa-se também na Tabela 6 que a influência do
Isso pode ser explicado pela maior fração de ferrita δ na aporte térmico no comportamento mecânico das juntas
ZF da junta soldada com energia de 8 kJ/cm tratadas termicamente por 50 horas não foi significativa.
(aproximadamente 10%), em relação às juntas soldadas Porém nas amostras tratadas termicamente por 100
horas ficou evidente que as juntas soldadas com maior
6
P. Antunes, C. Silva, E. Correa
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P. Antunes, C. Silva, E. Correa