Língua Penetra Na Vida Através
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Bakhtin[i]
Fabrícia Cavichioli
Mestranda em Letras – UFSM
E-mail: fabriciacavichioli@yahoo.com.br
Para Bakhtin, o agir humano não se dá independente da interação; nem o dizer fora do agir (Faraco,
2003:112).
1. Considerações iniciais
2. Preceitos teóricos
2.2 Dialogismo
Para tanto, essa definição de gêneros que corre o risco de provocar uma visão
reducionista quando não levada em consideração as idéias do Círculo, se deve ao
significado mais corrente que os termos enunciado[iv] e tipo[v] têm na área da
lingüística.
Devido a grande heterogeneidade dos gêneros do discurso, Bakhtin (1992)
preocupa-se em conceituar gêneros primários e gêneros secundários. O autor não
formaliza taxionomias dos gêneros, a não ser a distinção que estabelece entre dois
grupos de gêneros, que denominou de gêneros primários (simples) e secundários
(complexos), cuja diferenciação, está assentada na diferença funcional dos gêneros.
Apoiado na idéia de que a língua funciona por meio dos enunciados concretos,
Bakhtin aborda algumas áreas e alguns problemas da lingüística, começando pela
estilística. O estilo está ligado aos gêneros do discurso. Os gêneros possuem um estilo
individual, no entanto, nem todos são aptos a esse estilo.
Os gêneros literários são os mais propícios, neles o estilo individual “faz parte
do empreendimento enunciativo enquanto tal e constitui uma das suas linhas
diretrizes” (Bakhtin, 1992:283). Já os gêneros do discurso apresentam condições
desfavoráveis para refletir a individualidade na língua, pois requerem uma forma
padronizada, como por exemplo, a formulação do documento oficial, da ordem militar,
da nota de serviço e outros.
A diversidade dos gêneros do discurso pode desvendar a variedade dos
estratos e dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode
relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum.
Quando tratamos do problema de estilo lingüístico ou funcional, podemos
atestar o vínculo inseparável entre estilo e gênero. O estilo lingüístico ou funcional nada
mais é senão “o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da
comunicação humana” (Bakhtin, 1992: 283). As esferas conhecem os gêneros, que
são apropriados à sua especificidade, aos quais correspondem determinados estilos.
Por exemplo, uma dada função (seja ela cientifica, técnica, cotidiana ou outras) e dadas
condições, específicas para cada uma das esferas da comunicação verbal, geram um
dado gênero, ou seja, um determinado tipo de enunciado, relativamente estável do
ponto de vista temático, composicional e estilístico.
Sendo assim, a separação entre estilo e gênero é resultado de uma série de
problemas históricos. As mudanças históricas dos estilos da língua são indissociáveis
das mudanças que se efetuam nos gêneros do discurso.
3. Considerações finais
Com a conclusão deste estudo teórico, no qual foram ressaltadas noções de
interação verbal, língua, dialogismo, enunciado e gêneros do discurso, constatou-se
que os aspectos abordados estão profundamente interligados com o estudo da língua.
A língua é o instrumento chave para a conceituação das noções referidas. O uso da
língua se concretiza na forma de enunciados (orais e escritos) pelos participantes de
uma ou outra esfera da atividade social. Então, como dizer que Bakhtin, não se
interessou pelo estudo da língua?
No recorte teórico deste trabalho, fica evidente que o autor desenvolveu
estudos relacionados à língua. O problema disso tudo, se estende para outra
dimensão, ou melhor, deve-se a forma de como ele estudava a língua. Para Bakhtin, a
verdadeira substância da língua é constituída pelo fenômeno social da interação verbal
realizada por meio da enunciação ou das enunciações. Para ele a língua não pode estar
isolada, fechada, ou seja, desvinculada ao contexto lingüístico real. É por tratar a língua
neste viés que Bakhtin critica a radical postura saussuriana, que privilegia o caráter
formal e estrutural do fenômeno lingüístico, em conseqüência disso, Bakhtin tenta
trazer para o centro da cena dos estudos lingüísticos a noção de comunicação social.
Dessa forma, estamos cientes de que as contribuições de Bakhtin para os
estudos lingüísticos são extremamente importantes, pois a construção de suas teorias,
apesar de anos de existência, ainda servem de alicerce para a reformulação e
construção de novos conceitos para os estudos inovadores da linguagem.
Referências bibliográficas:
[ii] A escola de Saussure e seus continuadores mais recentes –os estruturalistas, os behavioristas
americanos, os discípulos de Vossler que, aliás, tinham uma base totalmente diferente.
[iii] Círculo é a denominação atribuída pelos pesquisadores ao grupo de intelectuais russos que se reunia
regularmente no período de 1919 a 1974, dentre os quais participavam Bakhtin, Voloshinov e Medvedev.
[iv] “Para Adam (1992), um gênero seria formado por vários tipos de texto (seqüências/enunciados).
Entretanto, a noção de enunciado do Círculo (por exemplo, um romance é um enunciado) não avaliza essa
leitura” (Rodrigues, 2005:163).
[v] A palavra tipo, nos estudos lingüísticos do texto, acabou sendo associada à teoria de Adam sobre as
seqüências textuais, denominadas tipos textuais.