Freire, 2013
Freire, 2013
Freire, 2013
FLORIANÓPOLIS / SC
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CED
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE
FLORIANÓPOLIS / SC
2013
Ao meu marido Alexander, meu maior presente!
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 23
1 INTRODUÇÃO
1
A evangelização versava sobre a vida dos santos da igreja, das escrituras e
também sobre textos clássicos adaptados pela própria Igreja Católica.
33
3
A ―expulsão‖ significa muito mais que os jesuítas foram impedidos de manter
e abrir suas escolas. Perderam este direito.
38
4
Neste método, o professor é o que corrige erros, evitando o desânimo do
aluno; é mais espontâneo e articulador do que simplesmente o detentor do saber,
sendo também observador, o que indica princípios de psicologia.
66
5
O ―taylorismo educacional‖, segundo Lourenço Filho, é uma vertente da
Escola Nova e quer designar a educação voltada à criação de serviços técnicos,
vocacionais, administrativos, educação mais centrada e menos esforços.
Novidades advindas dos Estados Unidos e da Europa.
75
fez o Brasil até 1920, foi simples preparação de terreno. A verdade é que
não havia condições sociais e pedagógicas que estimulassem o
desenvolvimento da nova forma de entender a escolarização‖. Indicativo
de que a efetivação das ideias reformadoras do ensino e de
democratização ficou muito mais no discurso do que na prática, fato
esse que se confirmaria pelo destaque na quantidade de reformas
educacionais a partir das primeiras décadas do século passado.
De acordo com Fiori (1991), as transformações no ensino em
Santa Catarina no século XX podem ser focalizadas tendo-se como
referência o período que se iniciou com o governo de Vidal Ramos. Este
assumiu em 1910 e tinha como uma de suas metas de ação política a
reforma da instrução pública, segundo a Lei n. 846, de 11 de outubro de
1910. Para tanto, foi tomado o modelo paulista como balizador das
reformas, delegando-se ao professor Orestes Guimarães a tarefa de
dirigir o processo de transformação. Tal modelo sugeria que os
problemas da educação catarinense seriam solucionados à luz das
sistemáticas dos ―países adiantados‖ e com o emprego de métodos de
ensino inovadores, reconhecidos, o da Escola Nova.
Devido à formação do citado professor, orientada pelas
tendências escolanovistas que atuavam vigorosamente em São Paulo, ele
se apresentou como porta-voz do novo e se empenhou em reformar a
escola catarinense propondo a substituição do ensino tradicional. Como
fatores dessa reorganização educacional, podem-se atrelar, ainda, as
questões referentes à nacionalização, consideradas princípio da proposta
de modernização.
A mesma questão é tratada por Fiori (1991), que evidencia a
influência das concepções de Orestes Guimarães no âmbito da
nacionalização do ensino em Santa Catarina. De acordo com a autora,
no plano da legislação, implementou, entre 1911 e 1935, diversos
decretos com vistas a alterar o ensino público, criando e reorganizando o
sistema educacional. Considera-se aqui sua influência, porém sua
reforma está vinculada à legislação que data de 1911 a 1918.
O plano de mudanças para Santa Catarina preconizou alterações
nos estabelecimentos de ensino – escola normal, escola isolada, escolas
complementares, escolas reunidas e grupos escolares – e nas práticas
pedagógicas, afetando métodos de ensino, espaço físico, materiais
didáticos, tempos escolares e aspectos curriculares. Foi implementada
uma complexa estrutura administrativa com um aparelho de controle e
orientação centrado nos serviços de inspeção escolar.
A Escola Normal sofreu as primeiras ações da reforma. Foi
regulamentada pelo Decreto n. 572, de 25 de fevereiro de 1911, e pelo
86
Para Fiori (1991), foi nesse ano de 1911 que em Santa Catarina se
criou o grupo escolar, que já existia no Estado de São Paulo. Ele
significou, na teoria, a tentativa de rompimento com o modelo
tradicional de escola, acusado de não ter seriação e de um único
professor ensinar a todos6. Assim, tal modelo significaria os primeiros
avanços na estrutura do ensino catarinense com a divisão do trabalho, a
seriação e uma suposta economia de instalações pedagógicas. Segundo a
autora (1991, p. 86), ―desde o ano de 1904, o Estado de Santa Catarina
almejava seguir o exemplo paulista e criar Grupos Escolares. No
entanto, somente em 1911, foram criados os primeiros desses
estabelecimentos de ensino, destinados a serem unidades de ensino
modelo‖, o que reflete a tentativa de se adequar às novas perspectivas
educacionais em discussão no Brasil, advindas dos pressupostos da
Escola Nova. Segundo Nóbrega (2003), os grupos escolares podem ser
considerados as primeiras escolas primárias e públicas no Brasil e em
Santa Catarina. De fato, porém, há de se considerar que as escolas
6
É fundamental aqui evidenciar que, até os primórdios do século XX, o
território catarinense era pontilhado por um considerável número de escolas
primárias conhecidas como ―multisseriadas‖, presentes notadamente nas regiões
rurais e que abrigavam num mesmo espaço crianças de idades e nível de
aprendizagem escolar diversos, sob regência de um professor que
eventualmente contava com um auxiliar (por isso também são denominadas
escolas ―unidocentes‖). E a maior parte daquelas teve sua origem em
associações escolares lideradas por imigrantes europeus que abriram suas
próprias escolas uma vez que praticamente inexistiam instituições públicas
(SANTOS, 2012; 2010).
87
7
As LIÇÕES DE COISAS atendem à necessidade de se procurar junto aos
mestres, aos pais e, em geral, a quem quer que seja encarregado da educação
das crianças, uma amena, variada e instrutiva série de temas para dialogar com
seus filhos ou alunos, mesclando o útil ao agradável, para despertar nos espíritos
juvenis um interesse vivo, exercitando-os nos rudimentos das ciências, das artes
e das indústrias (NUALART, 1933, p. 5 – tradução nossa).
92
8
Os prenúncios do método intuitivo, enquanto elemento de uma pedagogia
moderna, são situados na obra de Comenius, que, em 1657, teve editado Orbis
sensualium pictus, considerado o primeiro manual ilustrado para crianças
(COMÊNIUS, 1996).
94
9
Segundo Teive e Dallabrida (1911, p. 71), as escolas complementares só foram
criadas na Reforma de 1911, juntamente com os grupos escolares e se
localizavam em maior número nos centros urbanos. ―Tinham o objetivo de
evitar o salto abrupto dos egressos dos grupos escolares à Escola Normal, onde
por falta de idade o aluno nem sempre poderia ter entrada e também para
formar, num curto período, professores para as escolas isoladas‖.
100
10
Nereu de Oliveira Ramos foi eleito governador em 1935 e nomeado
interventor em 1937, marco inicial do Estado Novo.
101
Aponta-se que tal reforma teve forte influência das diretrizes traçadas
pelo VI Congresso de Educação, realizado em Fortaleza em 1932.
Evidencia-se, ainda, que em Santa Catarina a Reforma de 1935 foi
inspirada no sistema de ensino do Distrito Federal, que teve como
reformador, em 1928, Fernando de Azevedo. Nota-se nela uma íntima
relação com seus princípios. Tais considerações apontam certa ligação e
harmonia entre as reformas catarinenses e as reformas ocorridas em
outros estados, que lhe serviram de modelo, o que será posteriormente
discutido.
A reforma do ensino realizada em 1935 transformou as escolas
normais em institutos de educação, um deles situado em Florianópolis e
o outro, em Lages. Segundo Daniel (2009), havia, além desses, outros
quatro institutos particulares, equiparados aos oficiais. Os institutos
foram organizados de acordo com o Decreto-Lei n. 306, de 2 de março
de 1939, e assim se apresentavam: pré-primário, que correspondia a três
anos; primário, de quatro anos; fundamental, em cinco anos e normal,
em dois anos. Para Daniel (2007), foi a partir das reformas nos cursos de
formação de professores, em destaque nos anos 30 do século XX, que
em Santa Catarina se introduziram as ―Ciências Fontes da Educação‖
nos currículos. É, sobretudo, pela influência dos novos ideais advindos
do movimento de Escola Nova no País que as reformas em Santa
Catarina vão se configurando. Nesse viés, Carvalho problematiza a
questão da não-implantação do movimento de Escola Nova no Brasil:
didáticos. Isto não quer dizer dissociação entre ato educativo, ato
político e ato pedagógico. A dissociação tem aqui apenas caráter
didático. É o que aponta Cunha:
a) Grupo Escolar;
b) Escola Preliminar;
c) Escola intermediária;
d) Escola provisória.
Art 55. São considerados grupos escolares os
estabelecimentos creados pelo Governo, conforme
o Regulamento dos mesmos; preliminares, as
escolas isoladas regidas por normalistas;
intermédias, as regidas por professores vitalícios
ou effetivos, não normalistas; provisórias, as
regidas por professores nomeados. (SANTA
CATARINA, R G I P, 1914, p. 22).
11
Trata-se do período em que o Brasil se opunha à Alemanha na guerra.
Resultou disso que várias escolas estrangeiras foram fechadas e se proibiu a
entrada de qualquer material escolar estrangeiro no Brasil.
130
em seu território, sob uma educação vista como ―tradicional‖, que aderia
ao método mútuo ou individual, resquícios do período imperial. Mas, a
partir da reforma de 1911, outras formas de ensino foram propostas e se
iniciava um processo de modernização. Isto se deu especialmente com a
construção de grupos escolares, vistos como pilares do empreendimento
renovador. Contudo, no período imediatamente após a reforma (que se
alongou até a década 1930), foram criados apenas sete deles,
consideradas instituições modernas, de ensino graduado e que deveriam
servir de modelo para as demais escolas.
Lançam-se as sementes de um embate entre o moderno e
renovador e o antigo, arcaico. O discurso é de exaltação de um novo
modelo de escola, diferente do que existia, mas que até então havia sido
um das principais responsáveis pela instrução em Santa Catarina.
Justamente por isso questiono a retórica dos postulantes reformadores e
administradores da época, bem como uma historiografia que enaltece e
põe em evidencia o feito reformador: ―Até 1918, quando o professor
Orestes Guimarães deixou o cargo de Inspetor Geral do Ensino, o
número de grupos escolares não se alterou, mas a cultura escolar
prescrita foi afinada por meio de novos textos normativos (TEIVE;
DALLABRIDA, p. 25, grifos meus). Tal descrição se refere aos
Regulamentos da Instrução de 1911 e 1914. Porém, teriam os textos
normativos possibilitado a configuração de uma nova cultura escolar?
Procuro demonstrar, através dos dados estatísticos, antagonismos
que envolveram um projeto que buscou a modernização dos processos
de ensino, tentando remodelar a estrutura administrativa, a formação de
professores e até mesmo a arquitetura das instituições, ela mesma
portadora de uma mensagem de modernidade. Para tanto, analiso vários
relatórios do Departamento da Instrução Pública (depois Departamento
de Educação) e mensagens de governo, entre outros documentos sobre a
situação educacional entre as décadas de 1910 e 1940.
Quanto a matrícula, frequência, faixa etária e sexo dos alunos foi
estabelecido, no Regulamento da Instrução de 1914, que as idades das
crianças atendidas seriam as mesmas tanto para grupos escolares quanto
para as escolas isoladas12, ocorrendo apenas a separação entre meninos e
meninas. Nas escolas isoladas, poderia haver separação, admitindo-se
escolas femininas, masculinas ou mistas. Já nos grupos escolares, sendo
mistos, só era permitido que meninos menores de doze anos se
matriculassem (SANTA CATARINA, RGIP, 1914, p. 32).
12
No Regulamento de 1911, acima de 6 anos e menores de 14; no de 1914,
acima de 6 anos e menores de 15.
141
13
Nota-se que, em alguns casos, os dados são divergentes, dependendo dos
relatórios e das mensagens de governo consultadas.
146
ia visto assoberbado por uma crise temerosa, a qual seria motivada pela
grita dos colonos que perdiam muitas de suas escolas e que viam seus
filhos condenados ao analphabetismo‖ (SANTA CATARINA, 1920,
p. 26-27, grifos meus). Destaco novamente que o conceito de
analfabetismo utilizado pelo governo não se aplicava de fato às
realidades das zonas de imigração: como a historiografia tem
demonstrado, o investimento na alfabetização da infância foi coroado de
êxito, mas realizado com base em idiomas estrangeiros, que não o
português.
Esse discurso demonstra a persuasão de que o governo do Estado
se utiliza para angariar e manter financiamento do governo federal,
demonstrando alinhamento de ideais: ―O auxilio federal ajudou-nos,
porém, a resolver o problema; mas estou ainda trabalhando para que
esse auxilio seja augmentado, de modo que possamos ter dentro em
breve mais quarenta escolas subvencionadas e além disso predios para
as escolas coloniaes‖ (SANTA CATARINA, 1920, p. 27). Subvencionar
as escolas era uma forma de mantê-las sob controle e domínio. Se não
subvencionadas, como regulá-las?
Conjugados os aspectos expostos e retomado o Relatório da
Instrução Pública de 1926, observa-se que o período de 1910 a 1927 é
caracterizado por um conjunto de escolas que se mantinham ―isoladas‖
da instrução considerada adequada, pois perpetuavam um ensino à
margem dos processos renovadores da Escola Nova então anunciados.
Por isso destaco que, aos olhos dos reformadores, as questões de
renovação escolar nos moldes da Escola Nova e da nacionalização
foram equivocadamente aplicadas, na busca de configurar uma parcial
da realidade educacional em Santa Catarina. Na verdade, a intenção era
de reconfigurá-la em conformidade com a visão da elite local.
Diante dos dados discutidos, trago à tona a questão central de
pesquisa: ter-se-ia a escola de Santa Catarina efetivamente tornado
―nova‖, moderna?
Chegando à década 1930, o delinear de conflitos quanto às
permanências e transformações na educação Santa Catarina é percebido
no ―Relatório dos Serviços da Instrução Pública durante o ‘ano
revolucionário‘ apresentado pelo professor Barreiros Filho, Diretor‖
(SANTA CATARINA RIP, 1930-1931). Inicialmente, queixa-se do
aparelhamento escolar e da falta de pessoal técnico e administrativo,
pois, segundo ele, para que eficientes fossem, ―subentenderiam uma
organização amplamente ramificada pelos 36 municípios do Estado‖.
Relatou ainda sobre as ―barreiras‖ de seu trabalho:
151
14
Governos anteriores a 1930: Vidal José de Oliveira Ramos (1911-1914);
Felipe Schmidt (1915-1917); Hercílio Pedro da Luz (1918-1924); Antônio
Pereira da Silva e Oliveira (1925-1926); Adolfo Konder (1927-1929).
152
Bibliotécas Escolares
Não há que negar a poderosa influência das
bibliotécas escolares na formação educacional da
infância. A boa leitura é o cadinho, onde se
purificam não sómente os sentimentos da criança,
mas tambem excelente manancial para uma
linguagem aprimorada, tanto no falar como no
escrever. Foi essa a razão de ser do artigo 49 do
Decreto nº715, de 5 de janeiro de 1935, em que
foram instituidas as bibliotecas recreativas junto
ás Escolas Normais Primárias e aos Grupos
Escolares, preenchendo uma sensivel lacuna que
tinhamos em nosso aparelho esducacional
(SANTA CATARINA, RDE, 1935, p. 151).
Por isso, os livros distribuídos aos alunos deveriam antes ser lidos
pelo diretor ou professor responsável pela biblioteca, que deveria fichá-
los. Já os alunos, após a leitura, também deveriam fazer uma ficha de
leitura do livro, que, posteriormente, seria ―confrontada com a da
170
E segue com a relação das obras didáticas que deviam ser usadas
nos grupos escolares e escolas isoladas:
2.º ANNO
LEITURA
1.º- Leitura diária do livro usado Segundo Livro,
observando-se a pontuação.
2.º- Estudo diário dos Synonymos, antonymos e
homonymos dos termos mais communs do
capítulo lido. Traducção dos termos, dos
synonymos, antonymos e homonymos
correspondentes.
3.º- Depois do estudo do capítulo, conforme os
paragraphos anteriores, isto é, da leitura corrente e
do estudo dos principaes termos, o professor fará
a recapitulação do capítulo, exigindo a traducção
geral do mesmo (SANTA CATARINA, 1926, p.
3).
15
―1908, Francisco Vianna publicava sua primeira série de cadernos de
caligrafia, com tipo vertical, pela Cia. Melhoramentos, série composta de um
caderno preliminar e seis cadernos de exercícios, com o título Caligrafia
Vertical, que permaneceu sendo editada até 1989, com tiragens anuais, já na
década de 40 superiores a 600 mil exemplares‖ (VIDAL; GVIRTZ, 1998, p.
19).
200
Ditado
Jogos Infantis
O professor de educação fisica emsinou nos
alguns jogos engraçadas.
O primeiro foi cabra céga cõm o pau. Um dos
jogadores, denuminado cabra cega tem os olhos
ventados e colocassse no centro de uma roda
formada pelos outros jogadores, com um pau na
mão.
O outros dançam em róda em quanto alguem toca
uma musica rapida áo piano. Parando todos
quando, de repente, o pianista deicha tocar. (sic)
(CADERNO..., 1939, os grifos meus ressaltam
alguns dos erros cometidos pelo próprio
professor).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS