Livro 6
Livro 6
Livro 6
Rossana Piccoli
Graduada em Engenharia Civil
Mestre em Engenharia Civil (Gerenciamento de Resíduos
e Sustentabilidade)
ISBN 978-85-9502-352-9
CDU 624.1
Introdução
A distribuição de cargas em estacas e tubulões envolve os conceitos fun-
damentais das parcelas de capacidade de carga nesses elementos. Parte da
resistência das estacas e dos tubulões se deve à ponta desses elementos e
a outra parte se deve ao atrito lateral dos elementos com o solo.
Do ponto de vista econômico e de segurança, é primordial que o
engenheiro entenda o mecanismo de distribuição de carga e a aplica-
ção dos métodos para avaliação da capacidade de carga de estacas e
tubulões, disponíveis na literatura.
Onde:
= capacidade de carga da estaca/tubulão;
= parcela da capacidade de carga promovida pela ponta da estaca/
tubulão;
= parcela da capacidade de carga devido ao atrito lateral entre o
solo e a estaca/tubulão;
= peso próprio da estaca/tubulão (frequentemente, esse termo é des-
prezado por ser pequeno).
Onde:
= área da base da estaca/tubulão;
= resistência unitária (ou seja, por unidade de área) do solo;
= perímetro da estaca;
= resistência lateral unitária (proveniente do atrito solo-estaca/
tubulão).
A integração da capacidade de carga devido ao atrito lateral é feita sobre a
profundidade da estaca/do tubulão, contemplando, assim, os diferentes valores
da resistência lateral, conforme tipos de solos encontrados em cada camada.
Dentro dos métodos racionais ou teóricos, há uma divisão conforme a parcela
de contribuição para a capacidade de carga. A resistência de ponta ou base tem
como origem descrições datadas do início do século XX, propostas por Verendeel
e Bénabenq e baseadas na teoria da plasticidade. Dentre as diversas soluções
propostas, com diferentes idealizações dos estados de ruptura, salientam-se
as de: Terzaghi (1948), que admitia a ruptura do solo juntamente com o deslo-
camento do solo para os lados e para cima; Meyerhof (1951), com um modelo
bastante próximo ao de Terzaghi, com a diferença de considerar diferente linha
de ruptura; Berezantzev e colaboradores (2018); Vésic (1975). Os métodos têm
coeficientes que dependem do tipo de solo e, algumas vezes, do tipo de estaca.
A resistência lateral é análoga à resistência ao deslizamento de um sólido.
Desse modo, ela pode ser representada como a soma de dois termos:
https://goo.gl/PKfOPC
No Brasil, boa parte das sondagens de solo é feita a partir da sondagem SPT
(standard penetration test), também conhecida como sondagem à percussão.
Esse tipo de sondagem apresenta como grandes vantagens rapidez, facilidade
e custo. Com este ensaio, é possível identificar as camadas que compõem o
solo, bem como classifica-las e determinar o nível do lençol freático. A partir
desses dados, estimam-se as propriedades geotécnicas do solo. Assim como
no caso dos métodos baseados no CPT, existem inúmeros métodos baseados
nos resultados do SPT. Os mais utilizados no Brasil são: Método de Meyerhof,
Método de Aoki-Velloso, Método de Décourt-Quaresma, Método de Velloso,
Método de Teixeira, entre outros.
Distribuição de cargas em estacas e tubulões 155
Método de Décourt-Quaresma
Entre os métodos utilizados no Brasil, um dos mais utilizados é o Décourt-
-Quaresma. O método, proposto por Décourt e Quaresma em 1978, estima
a capacidade de carga a partir do ensaio SPT para estacas pré-moldadas de
concreto. A resistência de ponta unitária é estimada como sendo, em :
Tipo de solo
Argilas 12
Arenosos 40
Coeficientes de segurança
O coeficiente global de segurança, F, para dimensionamento da capacidade
de carga da estaca é composto por coeficientes parciais, sendo descrito pela
expressão:
Desse modo, obtém-se o valor de 1,3 para o atrito lateral e 4 para a re-
sistência de ponta. A carga admissível na estaca, , é, portanto, igual a:
Distribuição de cargas em estacas e tubulões 157
Tipo de estaca
Escavada Injetada
(bento- Hélice altas
Escavada nita) contínua Raiz pressões
Tipo de
solo α β α β α β α β α β
Argilas 0,85 0,80 0,85 0,90 1,00 1,00 1,50 1,50 1,00 3,00
Solos 0,60 0,65 0,60 0,75 0,30 1,00 0,60 1,50 1,00 3,00
interme-
diários
Areias 0,50 0,50 0,50 0,60 0,30 1,00 0,50 1,50 1,00 3,00
Profundidade
1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00
(m)
2 1 3 8 15 21 25 30 29
Para o cálculo de , considera-se o conjunto (3, 3, 3, 8, 15, 21, 25, 30) – desconsidera-se
o valor para a profundidade de 9 m, pois é mais profunda que a estaca – de modo
que a soma é igual a 108, o que resulta em = 13,5. Assim:
Estacas inclinadas
Em estruturas do tipo ponte, além dos esforços verticais (causados pelo peso
próprio da estrutura, cargas acidentais, etc.), há também esforços horizontais,
ocasionados por frenagem, força centrípeta (no caso de curvas), entre outros.
Existem duas abordagens para a absorção dos esforços horizontais: a primeira
é considerar que as estacas ou os tubulões funcionam como um pilar engastado,
no qual os esforços horizontais geram momento de flexão sobre o elemento de
fundação; a outra é utilizar estacas inclinadas (com relação a vertical), de modo
que os esforços horizontais sejam absorvidos axialmente (como compressão
ou tração) pelas estacas inclinadas. Apesar de as estacas inclinadas levarem à
redução dos deslocamentos, sua execução é complicada, porque introduz um
novo parâmetro de controle (que é o ângulo de inclinação com relação à vertical).
Esse tipo de solução deve ser pensado em conjunto com o executor, verificando a
capacidade técnica do mesmo para que não haja problema. Além disso, o ângulo
da estaca inclinada não pode ser maior do que o ângulo de atrito do solo, sob
pena de diminuição drástica da capacidade de carga. Desse modo, a expressão
para estimar a capacidade de carga de estacas inclinadas submetidas à tração é
escrita como (o coeficiente de segurança mínimo recomendado, neste caso, é 2):
Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6484:2001. Solo - Sondagens
de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 12069:1991. Solo - Ensaio
de penetração de cone in situ (CPT) - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 1991.
TOGNETTI, G. Cálculo da capacidade de carga de fundações em estacas pelo SPT.
Engenheiro no Canteiro, 09 abr. 2015. Disponível em: <http://engenheironocanteiro.
com.br/calculo-da-capacidade-de-carga-de-fundacoes-em-estacas-pelo-spt/>.
Acesso em: 24 jan. 2018.
TONHÁ, A. C. F.; ANGELIM, R. R. Capacidade de carga de fundações e verificação de
recalques a partir de parâmetros do ensaio Panda 2 e de outros ensaios in situ. Revista
Eletrônica de Engenharia Civil, v. 14, n. 1, p. 50-65, jan./jun. 2018. Disponível em: <https://
www.revistas.ufg.br/reec/article/download/42593/pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações. Cubatão: Oficina de Textos, 2011.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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