Nidia Dissertacao Final - para Publicacao
Nidia Dissertacao Final - para Publicacao
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Declaração
Eu Nídia Adélia Chamussora declaro que esta dissertação é resultado do meu próprio trabalho e
das orientações do meu supervisor. Está a ser submetida para a obtenção do grau de Mestre em
Língua e Literatura Portuguesa, na Universidade Zambeze, Beira. Ela não foi submetida antes
O Supervisor Autora
Dedicatória
Aos meus filhos (Shirley, Dionísio, Abigail e Amariah) pela paciência de terem uma mãe
que, em certos momentos, se tornou ausente para se dedicar aos estudos, mas sem deixar de amá-
los, respeitá-los e cuidá-los.
Termino a minha dedicação especial a ti meu amor, meu esposo, amigo, companheiro e
colega do curso (Zelino Taiada Suandique). Palavras me faltam para expressar a tamanha
importância na minha vida. Só Deus!
VI
Agradecimentos
Agradeço ao meu supervisor, o Prof. Doutor Aniceto Fernando Mapfala, pelo seu
financeiros concedidos, que tornaram possível o projecto de continuação dos meus estudos.
O meu agradecimento é extensivo a minha família, sobretudo a minha mãe, Maria Sarita;
aos meus filhos: Shirley, Dionísio, Abigail e Amariah; a minha cunhada Julieta Suandique que
puderam suportar as minhas ausências, com paciência e carinho. Aproveito ainda exprimir a
minha gratidão ao meu esposo, quem esteve sempre pronto para me apoiar em todas as
circunstâncias.
Enfim, agradeço a todos aqueles que de uma maneira directa ou indirecta contribuíram
positivamente para o sucesso desta etapa académica, de modo particular aos meus pais
AC - Análise Contrastiva
LM - Língua Materna
LO - Língua Oficial
PB - Português Brasileiro
PE - Português Europeu
PM - Português Moçambicano
VIII
SN - Sintagma Nominal
SV - Sintagma Verbal
Sumário
Dedicatória ............................................................................................................................................ V
Agradecimentos ................................................................................................................................... VI
Resumo ......................................................................................................................................................... X
Abstract ........................................................................................................................................................ XI
0.2 OBJECTIVOS............................................................................................................................. 17
APÊNDICE ................................................................................................................................................. 65
Resumo
O presente estudo debruça-se em torno do tema: «Variação Semântica do Português falado pelos
Comerciantes dos mercados de Maquinino e da Praia Nova, na Cidade da Beira». Com esta pesquisa,
pretende-se perceber a manifestação da variação semântica que ocorre na comunidade de fala de
comerciantes dos mercados urbanos de Maquinino e da Praia Nova, na Cidade da Beira, quando eles
exprimem a duração de uma acção, local de proveniência da mercadoria e negação. Através da entrevista
semi-dirigida, coadjuvada com análise de conteúdo e análise contrastiva, percebeu-se que, nos mercados
em questão, ocorre variação semântica quando os falantes falam de locais de proveniência de mercadoria,
devido de um lado, à interacção da rede social e à relação mental entre as representações imagéticas entre
o significante e o significado, de outro, devido às línguas maternas mais faladas na Cidade da Beira
(cisena e cindau, respectivamente) e o nível de escolaridade dos informantes.
Abstract
This study focuses on the theme: «Semantic Variation of Portuguese spoken by Traders in the markets of
Maquinino and Praia Nova, in Beira City». The research aims to understand the manifestation of semantic
variation that occurs in the speech community of traders of the urban markets of Maquinino and Praia
Nova, in Beira city, when they express the duration of an action, place of origin of the goods and denial.
Through semi-directed interviews, along with content analysis and contrastive analysis, it was noticed
that, in the afore-mentioned markets, semantic variation occurs when speakers talk about places of origin
of goods due, on the one hand, to the interaction of the social network and the mental relation between the
image representations between the signifier and the meaning, on the other, to the most widely spoken
mother tongues in Beira city (cisena and cindau, respectively) and the level of education of the
informants.
Comerciantes dos Mercados de Maquinino e da Praia Nova, na Cidade da Beira, que pertence à
português falado na Cidade da Beira, quando eles exprimem a duração de uma acção, local de
Não deixa de ser verdade que a Cidade da Beira, pela sua localização geográfica (Centro
comerciais. Cada um deles, sendo membro de uma comunidade linguística diferente, necessita de
usar a língua portuguesa, que é oficial em Moçambique, para realizar interacções verbais entre si.
É interesse nesse estudo, perceber como é que a Língua Portuguesa, sendo de Unidade
Nacional e Oficial, é realizada nos vários contextos comunicativos na Beira, especificamente nos
Mercados de Maquinino e da Praia Nova, pois, de acordo com MOURIN (1997, p.71), cada
língua corresponde a uma reorganização de dados de experiências que lhe é sempre particular.
comunidade linguística, fazendo com que esta seja um prisma do qual os seus utentes estão
condenados a ver o mundo determinado pela língua que fala. Por exemplo, o citadino que apenas
13
conhece a árvore não vê o mundo através das mesmas formas do que o camponês que reconhece
menção a dois exponentes e extremos que estudaram a língua: Ferdinand de Saussure e William
Labov. Saussure deu um grande contributo no estudo da língua ao elaborar uma teoria linguística
perspectiva desse autor, a língua é um facto social homogéneo, tomada em si mesma, cuja
vitalidade é separada dos factores externos, porque ela é uma estrutura autónoma que se vale das
Saussure explica ainda que «os fenómenos variáveis não são visíveis na língua, mas na
fala, a sua evolução ou mudança pode verificar-se apenas em alguns elementos, que, no entanto,
seria suficiente para que ela se reflicta em todo o sistema, embora o falante não tenha
consciência dos estados sincrónicos» (COELHO e ALL, 2010, p.13). Em suma, Saussure
pretendia defender a teoria da invariabilidade da língua, alegando que esta possuía uma estrutura
fixa e imutável.
COELHO (2010) salienta o trabalho de William Labov. Para este autor, Labov é o
criador do modelo teórico metodológico que é a Sociolinguística, também conhecida por Teoria
Meillet que descrevia a língua como facto social que podia sofrer variações devido a factores
externos. Para Labov, a língua é um sistema heterogéneo, pois os indivíduos de uma comunidade
14
que a língua deve ser orientada pelas regras categóricas, obrigatórias e invariáveis e pelas regras
variáveis (aquelas que permitem que em certo momento, certos contextos linguísticos se fale de
Ainda no contexto da variação, BAKHTIN citado por COELHO (2010) destaca a língua
social mais amplo). Assim, a mudança linguística pode ser motivada por diferentes contextos de
uso da língua que acabam, conferindo diferentes sentidos a mesma palavra. Logo, o contexto real
português está susceptível à mudança e à variação pois é falado em contextos e por redes sociais
com as línguas bantu e pelo facto de ser falado por pessoas de estrato social, nível de
escolaridade e profissões diversificados, está emergindo uma variedade de português (PM) que
se distancia do outro que é falado em outros países, como prenunciava (GONÇALVES, 1996,
p.48) citado por (STROUD ET GONÇALVES, 1997, p.48): « [...] os desvios à norma europeia,
que ocorrem no discurso, não podem ser analisados como «erros» [...] mas sim como evidências
GONÇALVES (1996), mas para TIMBANE (s.d), «o PM é uma realidade presente e cabe a cada
linguista contribuir para a sua descrição, bem como na criação de gramáticas e de dicionários que
15
reflectem esta realidade moçambicana.» É na senda de TIMBANE (s.d) que vários estudos foram
GONÇALVES (2000), DIAS (2009) e MACHUNGO (s.d), devido a factores como contactos
com as línguas bantu, empréstimos, neologismos, níveis de escolarização, estrato social, etc.
heterogeneidade presente nos fenómenos linguísticos, as quais são identificadas e analisadas por
meio de pesquisas de campo. Deste modo, o sociolinguista, ao realizar o seu estudo deve
sociais, numa tentativa de identificar qual factor ou grupo de factores é o responsável por
determinada variação. Ainda, ele deve interessar-se em perceber de que maneira a língua
portuguesa é operacionalizada ao nível de fala pelos seus usuários e que factores sociais
semântica do português que é falado pelos comerciantes da Cidade da Beira, concretamente, nos
Interessa a escolha dos 2 (dois) mercados, primeiro por serem locais onde há fluxo
concentrarem, diariamente, vendedores de diferentes faixas etárias (jovens e adultos), com níveis
entre si ou com seus clientes, tendo como recurso a língua portuguesa e também pelo facto de
cidade.
0.1 Problematização
Mas, naquele momento, eram poucos os moçambicanos nativos que podiam falar esta língua,
número de pessoas a frequentar a escola também sobe, por exemplo, de acordo com os dados
50.4% em 2007 para 39% (INE, 2019). Outrossim, o fluxo populacional do campo para a cidade
e vice-versa, faz com que a língua portuguesa seja a única a ser usada para as transacções
comerciais, profissionais, religiosas, políticas e culturais. Veja-se também que nem todos esses
grupos sociais de comunidades linguísticas diferentes, como por exemplo, na conversa entre
amigos na rua, vizinhos no bairro, colegas de escola, grupos de whatsap, colegas de trabalho,
pescadores, vendedores dos mercados, entre outros, há desvio da norma da língua portuguesa,
sociedade, em alguns mercados da Cidade da Beira, para aferir o nível de influência das línguas
bantu no português falado nesses mercados. Foi a partir deste estudo, que se ficou persuadida da
necessidade de se realizar uma pesquisa mais complexa nesses mercados, porque se constatou
sobretudo no uso das expressões que indiquem o lugar da proveniência da mercadoria; uso de
expressões que determinem a frequência de clientes para compra da sua mercadoria. Face a esta
• Como é que a variação Semântica do português ocorre nos mercados do Maquinino e da Praia
Nova?
Como se vê, é esta a questão que vai nortear a presente pesquisa. Para tal, propõem-se as
seguintes metas.
0.2 OBJECTIVOS
ou objectivos:
0.2.1 Geral:
Perceber a ocorrência da variação semântica, do português falado pelos comerciantes da
Cidade da Beira, especialmente dos mercados de Maquinino e da Praia Nova. Portanto, para o
0.2.2 Específicos:
• descrever as variações semânticas predominantes que ocorrem nos dois (2) mercados em estudo
e;
• comparar as variações semânticas que ocorrem nos 2 (dois) mercados em estudo com a norma
europeia.
0.3 Motivação
contexto informal, embora não afectasse o entendimento das mensagens veiculadas em tais
discursos. Mesmo assim, não deixava de ser um ruído linguístico para quem é falante fluente do
português padrão.
curso de Ensino de Português, a visão sobre o purismo e o variacionismo da língua ficou mais
clara, graças aos trabalhos académicos realizados ao longo da formação nas áreas de língua
Foi por isso, que em 2010, a estudiosa desenvolve, no âmbito da sua Monografia
Criatividade Linguístico-literária na obra Terra Sonâmbula, de Mia Couto, por ela ter notado
que a obra transpunha um alargamento das marcas do português falado em Moçambique, que
Mestrado em Língua e Literatura Portuguesa, retoma o desejo de voltar a falar do assunto, tendo
à variação linguística, retoma, pois nos locais por onde foram colhidos dados para o
desenvolvimento das pesquisas para os módulos acima referidos, houve sempre essa propensão
de ocorrência de falares específicos para um certo espaço, como é caso de vendedores dos
mercados destacados para o presente estudo. Estes factos passam a ser a força motriz que
0.4 Justificativa
Estudar uma língua pressupõe estudar a maneira como ela é usada nos vários contextos
vendedores dos mercados de Maquinino e da Praia Nova porque, os mercados são espaços onde
ocorrem contactos linguísticos entre pessoas de idades, sexos, culturas, línguas e níveis sociais
que mereça um estudo para a sua descrição e explicação e que podem, igualmente, garantir a
Portanto, com este estudo, pode-se, de um lado, permitir a valorização das diferenças e
equilíbrio e unidade social entre os falantes, de outro pode permitir o começo de um estudo
atendendo a que vários estudos têm sido feitos no âmbito das outras regiões do país, com
Outro aspecto não menos importante revela-se no facto de que, com o presente estudo,
da linguagem, isto é, através dos resultados deste estudo o erro deixará de ser atribuído um valor
discriminatório para os puristas da língua e passa ser considerado um passo importante para o
português falado por vendedores dos mercados (comerciantes). Deste modo, os utilizadores
dessas variantes do português têm maior participação na vida pública e política do país e criam
baseada nos estudos de LAVILLE ET DIONE (1999); análise contrastiva orientada pelos estudos
de MAGRO (s.d) e entrevista, norteada pelos trabalhos de MANZINI (s.d), (SANTOS, 2009),
Este trabalho está organizado da seguinte maneira: a primeira parte apresenta os aspectos
português falado nos mercados urbanos da Cidade da Beira. Nesta parte, dá-se enfoque ao
de Estatística, publicados pelo Ministério da Educação (2010), avançado por TIMBANE (2012,
p.2); conta com vinte e uma Línguas Bantu (LB) e uma língua europeia - o Português, que é
oficial, segundo a Constituição da República do país e falado por 10.7% dos moçambicanos.
Todavia, não se pretendem excluir os espaços ocupados pelo inglês e francês em Moçambique,
independência.
De acordo com o mesmo autor, a língua portuguesa não é falada pela maioria da
população, pois maior parte dela (cerca de 85.2%) fala as LB. Uma vez que uma língua nunca é
percurso evolutivo da língua portuguesa, entram em jogo factores de vária ordem: uns inerentes a
própria língua, os chamados factores internos e outros factores inerentes às comunidades de fala,
que provêm do seu contacto com as outras línguas. Deste modo, de acordo com a localização,
género, a língua materna, nível de escolaridade, profissão, faixa etária, a língua portuguesa sofre
É verdade que a língua é um fenómeno social, isto é, ela é criação do homem enquanto um
ser social, que necessita de comunicar com outro que lhe é semelhante. Embora os signos
linguísticos e as estruturas linguísticas de base das línguas criadas por uma determinada
comunidade de língua sejam comuns, nem todos os membros das famílias falam da mesma
maneira. Para elucidar mais o que se disse anteriormente, COELHO (2010, p. 27), seguindo a
não existe uma comunidade de fala homogénea, nem um falante-ouvinte ideal. Pelo
contrário, a existência de variação e de estruturas heterogéneas nas comunidades de fala é
um fato comprovado. Existe variação inerente à comunidade de fala – não há dois
falantes que se expressam do mesmo modo, nem mesmo um falante que se expresse da
mesma maneira em diferentes situações de comunicação. Podendo desta feita a variação
ocorrer nos seguintes níveis linguísticos: lexical, fonológico, morfo-fonológico, morfo-
sintáctico, variação sintáctica, variação e discurso.
Como se vê, para a língua garantir a sua sobrevivência, recorre ao fenómeno variação nas
diversas áreas que a compõe, como por exemplo, léxico, fonologia, morfo-fonologia,
morfossintáctica, semântica, entre outras áreas. A visão variacionista da língua, de Labov é uma
crítica à linguística pura de Saussure, que não admite a influência dos factores externos da língua
Para Labov, o estudo de uma língua não pode cingir-se apenas aos aspectos internos
inerentes a própria língua, mas também à análise dos factores externos que influenciam a
ocorrência de variação linguística que concorrem para a emergência de uma variante de língua.
Todavia, admite-se que as características particulares que marcam esta variante devem apresentar
fala ou linguística. De acordo com a citação em análise, os factores que podem determinar a
TARALLO e LABOV citados por BORSTEL (2014, p. 4), admitem também que a variação e/ou
É por esse motivo que COELHO (2010, p.25) diz que “a variação é algo ligado à língua,
por isso não compromete o seu sistema linguístico nem a possibilidade de comunicação entre os
falantes, mas sim constitui uma riqueza em termos de significado social, e têm o poder de
disputam”. Assim, apesar de diversidades na forma de uso de certa língua, este factor não ditará
que esta seja melhor ou pior que a outra, mas sim, continuará exercendo seu papel na sociedade.
nos parágrafos acima. Ele está também sujeito a variações que, de acordo com TIMBANE (s.d),
necessário passar primeiro por um período de transição em que há variação, para em seguida
relacionadas, por isso, é muito difícil estudar uma sem estudar a outra.
BORSTEL (2014, p.5), segundo as quais, variações linguísticas são «maneiras de dizer as coisas,
mas de forma diferente» e a de TIMBANE (S/A, p.3), que descreve a variação linguística «como
por uma gramática. Assim, tanto é uma variante do português com interesse
científico, por exemplo, aquela que sistematicamente se flexiona às formas da
segunda pessoa do singular do pretérito perfeito simples por analogia do
presente do indicativo; ou aquela variante, tão frequente em muitas regiões do
país e grupos populacionais (PERES & MÓIA, 1995, p. 35).
O objecto do presente estudo é a variação linguística, no nível semântico. Sendo assim, acha-
se importante que se lance, antes de tudo, um olhar superficial em torno da noção de Semântica,
como uma estratégia de busca de fundamentos que possam explicar, de um lado, a visão teórica a
se ter em conta para a descrição dos fenómenos variáveis que se propõem estudar e de outro,
CANÇADO (2008), BASSO et all (2009) e SILVA (2010) definem a semântica como uma
área da linguística que se preocupa com significado ou sentido linguístico (aquele que é
veiculado pelas palavras ou frases que pertençam a uma língua natural). Pois, os significados não
finalidade. Para se compreender essa distinção, toma-se o exemplo seguinte: (1) Assim, vindo de
onde, mano? Diante desta frase, de acordo com os autores, a Semântica preocupar-se-ia com o
significado da frase (o que a frase quer dizer?) e a Pragmática com o significado do falante (o
que o falante quer dizer com a frase?). Porém, quer para a interpretação Semântica quer para a
mundo e da relação entre a linguagem e o mundo. Mas esse conhecimento é, muitas vezes,
implícito, porque segundo BASSO et all (2009, p.32) «os possíveis nexos semânticos são fruto
Voltando ao exemplo (1), para que um sujeito possa identificar o significado dessa frase
a) Formal - que permite encontrar o significado a partir do conhecimento das condições da verdade
implícito de encontrar o significado de uma palavra ou frase a partir do significado das partes
mínimas que a compõe, tais como assim, vindo, de, onde, mano. Logo, na visão formal, a
construindo e interpretando palavras ou frases que nunca ouvimos antes» (BASSO & ALL,
2009, p. 31);
b) Cognitivista - que permite perceber que a língua tem uma relação com a representação mental.
quando parte da palavra ou expressão para encontrar os diferentes sentidos a ele associados,
apoiando-se da descrição dos vários sentidos (polissemia) da palavra ou expressão. E quando ele
toma o conceito como ponto de partida para encontrar as diferentes palavras ou outras
Repare-se a frase (1), tendo em conta o que se destaca no parágrafo precedente, o falante
tem a possibilidade de construir sentidos diferentes, tais como, procurar saber da nacionalidade;
identificar outras construções que remetam a mesma significação, como as seguintes: (1.a.) De
onde é que o senhor vem? (1.b) Irmão, chegas de onde? (1.c) Qual é sua nacionalidade?
c) Representativa - é uma perspectiva que acredita que a mente pode representar uma realidade
porque apresenta as formas das representações mentais internas que constituem a estrutura
conceitual inata que experimenta relações formais com os outros níveis de representações
que encontram substância quando se associam a uma estrutura sintáctica. No contexto da frase
(1), cada uma das palavras apresenta um conceito, mas que ganha uma função quando inserida
d) Argumentativa - para esta perspectiva, a verdade e as condições da verdade de uma frase não
têm maior importância porque a frase é pronunciada como parte de um discurso em que o falante
tenta convencer o interlocutor de hipóteses. Admitindo esse pressuposto, não seria nenhum
problema que uma palavra ou frase tivesse vários significados, dependendo do seu uso. Assim, é
evidente que não há limite entre a Semântica e a Pragmática. Esta visão Semântica é assente na
ideia de que há interesse em contar com categorias descritivas que dizem respeito mais ao
Uma das noções envolvidas na análise desta visão é a escala, que tem uma implicação em
fenómenos linguísticos, como uso de até, da negação, conjunções coordenativas (mas, pois, já
que) e subordinadas e escolha de perspectiva (Eu trabalho com João/João trabalha comigo) e
e) Acto de fala - esta teoria de CANÇADO (2008, p.36) advoga que o sentido de uma frase tem
uma função social porque os significados das palavras ou das frases encerram em si
especificidades culturais de uma sociedade, mesmo aquelas que aparentam ser universais. Aqui,
chama-se atenção também ao papel dos estereótipos, das normas semânticas, dos significados
sociais da variação da língua e a importância das frases não declarativas, como por exemplo,
como fazer uma pergunta, dar ordens, agradecer, etc. Analisam-se igualmente as implicações
perlocutórios.
f) Lexical - a semântica lexical estuda a estrutura argumental e a ligação entre uma estrutura
2008, p.36).
Enfim, não querendo perder-se no mundo complexo da Semântica, acredita-se que já estão
autora do texto face à análise das frases que apresentem características variacionais.
29
colecta de dados, uma vez que, segundo ETTO e CARLOS (2017, p.726), «a metodologia de
uma pesquisa sociolinguística exige que os dados sejam colectados por meio de entrevistas
estruturadas, previamente elaboradas pelo pesquisador». E, para o seu tratamento, foram optadas
2.1 A Entrevista
língua falada em situações naturais de interacção social face à face. Para a sistematização dos
internet e realizadas em 2 (dois) dias, para a maximização de tempo para as outras etapas do
trabalho. Segundo MANZINI (S.d, p.3), para a operacionalização da presente pesquisa, foram
sociais (faixa etária -jovens e adultos; nível de escolarização - escolarizado e não escolarizado e
língua materna), por se achar que elas contribuem para a ocorrência das variações semânticas do
Portanto, são no total trinta (30) informantes, dos quais quinze (15) mulheres e quinze
sociais, como advoga OLIVEIRA E SILVA (2003, p.120) citados por SANTOS (2009, p.69)
subsidiados por COELHO et all (2010), ao referir que, no contexto de uma pesquisa
sociolinguística todos os comerciantes dos mercados em estudo têm a mesma chance de serem
escolhidos por apresentarem as mesmas características, tendo em cada célula social para cada
Jovens 5 5 5
Adultos 5 5 5
Total 10 10 10
Amostra = 30
Fonte: Autora
acordo com GONÇALVES (1997, p. 23), que é nestas faixas etárias que se usa um leque mais
Em segundo lugar, definiu-se o guião de entrevista com três perguntas esclarecidas pelos
falantes pretendem dizer o tempo em que desenvolvem a actividade; indicar a proveniência das
31
suas mercadorias e apontar o tipo de advérbio de negação que usam para dizerem que não têm
Fonte: Autora
negócio. Utilizou-se, por vezes, a língua e o nível de língua dos entrevistados e foram comprados
certos produtos. Foram igualmente, durante esta etapa, experimentadas situações em que as
informações eram passadas por via de interacção verbal e não-verbal (dados de natureza
observacional, como por exemplo, barulho, vozes de outras pessoas que, de algum modo,
quinésicas.
1
Questões que ocorreram como estratégia de fazer com que os informantes se expressassem mais.
32
codificação dos informantes. QUEIRÓS (1983) citado por MANZINI (s.d., p.4) diz que a
escrito) e que deve exibir total conformidade e identidade com o primeiro. Cada informante foi
codificado de acordo com as letras iniciais dos nomes dos mercados em estudo, enumerados a
partir de 1 em diante e descriminados por sexo (masculino/feminino), como forma de criar mais
uma acção, indicação de proveniência, expressão de negação e outros - que congregam todas
MARCUSCHI (1986) e de QUEIRÓS (1983) apud MANZINI (s.d) para a prossecução desta
tarefa. Estes autores advogam que não há melhor transcrição, porque ela é uma questão
complexa. E sublinham que mesmo que ela seja fiel e consiga apresentar uma boa produção do
material gravado, ela não conseguiria captar todas as informações apresentadas nas entrevistas,
porque o transcritor poderá recorrer-se a mutilações. Mas para o efeito, acorreu-se aos catorze
que pudessem contribuir para uma correcta interpretação das estruturas semânticas ocorridas no
estrangeiras (inglês, cindau e cisena), pronunciadas como na língua de origem, estas foram
serve para estudar minuciosamente o conteúdo contido num texto, em frases e palavras que o
compõem, procurando captar o seu sentido com a intenção de comparar, avaliar, reconhecer o
essencial e seleccioná-lo em termos de ideias principais. Ele é, muitas vezes, usado para
examinar ideologias políticas implícitas nas notícias dos jornais ou assuntos relacionados com
preconceitos de raças e géneros subjacentes aos textos escolares ou outros. Também é utilizado
para demonstrar a estrutura e os elementos desses conteúdos com o intuito de esclarecer suas
Enfim, o método proposto por LAVILLE ET DIONE é usado para estudar atitudes,
construir as suas unidades de análise a partir da compreensão que tem do corpus e das perguntas
2ª - Definição das categorias analíticas: rubricas sob as quais são organizadas as unidades
em temas. E para dar mais importância a cada tema, faz a descrição, as vezes, além da frequência
da sua ocorrência, para dar uma medida mais precisa do seu lugar no conjunto de conteúdos.
4ª - Pré-exploração dos corpora das entrevistas em unidades de análise: nesta fase, foram
descrição é geralmente de outra ordem: para cada uma das categorias produz-se um texto síntese
incluídas em cada uma delas. Faz-se o uso intensivo de “citações directas” dos dados originais
para elucidar a argumentação. Com o apoio da Filosofia da Linguagem assente nas teorias
avançadas pelos autores destacados para o estudo, procura-se ir além, atingindo uma
A Análise Contrastiva de acordo com Magro (S/d, p.124) constitui um dos métodos
Para Magro (S.d, p.125), este método centra-se essencialmente na interferência que uma
língua pode trazer noutra, por exemplo, a autora cita o facto apresentado por MACKEY (1965,
80):
e é em função de sua predição e explicação que ela existe. Portanto, WARDHAUGH (1970),
• Versão fraca, que de acordo com o nosso estudo, consiste em colectar as possíveis variações e
então explicá-las com base na Análise Contrastiva dos sistemas envolvidos na aprendizagem;
• Versão forte, que e procede através de uma comparação sistemática entre dois ou mais sistemas
Com este método, pretendemos fazer o levantamento das variações semânticas que
possam ocorrer nos mercados de Maquinino e da Praia Nova, ilustrando as suas diferenças e
O presente estudo foi realizado em dois (2) mercados da Cidade da Beira, por isso, antes
de descrever o português nela falado, é mister desenhar uma radiografia da urbe. Decide-se fazer
essa abordagem porque se pensa que os traços a serem ressaltados nesta parte do estudo podem
Até 1888 na Beira funcionava uma escola com alunos do sexo masculino, cuja frequência
era de 22 alunos. Poucos eram os que falavam ou tinham conhecimento da Língua Portuguesa.
Os muzungos2 que sabiam falar a língua só a empregavam nas suas relações com europeus e nas
Actualmente, a Cidade da Beira dispõe de uma grande rede escolar (Ensino Primário,
censo populacional de 2017, citado pelo Instituto Nacional de Estatística, a cidade possuía uma
população de 592.090 habitantes, dos quais 295.362 mulheres e 296.728 homens. Na maioria
2
Brancos em cindau
37
deles pertenciam ao grupo Bangwe entre os machangas, matewes e podzos provenientes do Vale
do Zambeze.
culturais, existindo uma diversidade de idiomas. Apesar da língua portuguesa ser a LO (Língua
Oficial) do país, para a maioria da população, estes idiomas nacionais constituem a sua língua
beirenses (habitantes da Beira) têm competência linguística em cindau, cicena e português, quer
dizer, não só falam a sua língua como também falam pelo menos duas (2) línguas. No contexto
linguístico inter- geracional e atitude linguística, o cindau e cisena são aprendidos nas ruas
falado por cerca de 36% da população, seguido das línguas maternas, o cisena e o cindau com
existiu desde o período colonial, com apenas um pavilhão. Segundo fonte oral advinda do
reservaram a parte da reserva do Chiveve, para a edificação de lojinhas para a venda de produtos,
3
Steni Martinho, Técnico dos Serviços Municipais de Indústria, Comércio, Mercados e Feiras do Conselho
Municipal da Beira
38
Com a ida dos portugueses, um dos trabalhadores de um português que tinha lojinhas deu
continuidade ao negócio que o seu patrão português fazia, tornando-se o primeiro negro a erguer
o seu negócio de venda de galinhas. Com a sua falência, depois de 1975, apareceu um
comerciante muçulmano designado de Bai (monhém), nos anos 1983-1990, que comprou os
compra, dava rebuçados aos seus clientes que chamavam de “quinino”. Devido a influência da
língua materna cindau, os clientes passaram a dizer (vamos ao Maquinino) que traduzido do
cindau é (Tendeni kumaquinino) daí que o mercado passou a designar-se de Maquinino, até aos
dias de hoje.
Por volta dos anos 2000-2004, o mercado foi se alastrando cada vez mais, tendo mais
vendedores, daí que o Conselho Executivo, na altura sob governação de Chivavice Muchangage,
ergueu-o como Património Municipal, passando a ser um mercado formal, albergando um total
de 896 vendedores, fora dos informais. Actualmente, alberga indivíduos de diversas partes da
Província de Sofala (Búzi, Machanga, alguns nativos) e também estrangeiros, segundo dados
Por sua vez, o Mercado da Praia Nova, localizado na orla do Oceano Índico, muito próximo
provenientes da etnia ndau. Os anos 60 e 70 foram os que marcaram a existência deste mercado,
pois com a dragagem da areia do mar para o continente, pela empresa EMODRAGA, foi
surgindo um espaço, que parecia antes uma ilha, mas que passou a fazer parte do continente e
que era designado de Aruângua e, tal como aconteceu com o mercado de Maquinino, os
4
15 de Março de 2019
39
trabalhadores dos portugueses, praticavam a venda de peixe que era vendido não só em Nova
Sofala, mas também na zona do Aruângua, que para tais vendedores era uma praia nova em
fixar-se residências provisórias, isto por volta dos anos 1880-1890. E, os primeiros “nativos” da
Praia Nova eram indivíduos advindos de Nova Sofala, Búzi, Machanga, Devinhe e Buene (parte
da Província de Sofala).
Devido à guerra dos 16 anos, os barcos desapareceram e todos os pescadores fugiram dos
distritos para a cidade, acabando por fixar residências e começaram a criar pequenas bancas com
material precário. Por volta dos anos 1981-1982 o mercado foi-se alastrando informalmente.
Depois da guerra, foi-se ampliando cada vez mais o negócio do peixe e também de outros
produtos como o coco. E, com a abundância do peixe fresco e seco tornou-se um mercado
bancas, para se fazer a conservação do pescado e municipalizar o mercado, facto que aconteceu
em 2012, durante o mandato liderado pelo actual edil, Daviz Mbepo Simango. Foi nessa altura
Ademais, preferimos trabalhar com vendedores dos mercados, que na sua maioria são
jovens e adultos, primeiro devido a falta de emprego, muitos deles tem envergado pela via do
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empreendedorismo, como o recurso mais próximo para a aquisição de dinheiro, de modo a usar
no seu auto- sustento, segundo, porque se realizam assim, uma série de interacções
Através de uma inferência assente no estudo de REITE (2013), em 1980, uma minoria da
população da Beira tinha o português como língua materna, sendo o cisena e o cindau as duas
línguas maternas mais importantes, porque representam as línguas maternas de mais de 90% da
população de Sofala. Este estatuto do cisena e cindau prevalece, mesmo no Censo de 2017,
como língua materna também aumentou consideravelmente, devido ao aumento da rede escolar e
É evidente que, com mais anos de convivência com os falantes do cindau e do cisena, os
citewe, acabam aprendendo o cindau e o cisena. E esse contacto interlinguístico acaba jogando
entre o som vibrante alveolar (l) da primeira sílaba e o som lateral alveolar (r) da segunda sílaba,
neologismo que, usando-se a base cindau ou cisena e processos usados para formar palavras
(2). a. Empréstimos
b. Neologismo
Atinente à variação do nível sintáctico, por falta de estudo e por as construções serem
semelhantes com as que ocorrem no português falado em outras regiões do país, não se avança
nenhuns exemplos.
Decerto, pensa-se que o português falado na Cidade da Beira, apresenta marcas peculiares
fruto do contexto em que é falado. No ponto que se segue, apresenta-se o estudo feito nos
Nas linhas que se seguem, apresenta-se o panorama do PM falado na Cidade da Beira, através de
Tratando-se de uma pesquisa qualitativa, a descrição será da seguinte maneira: para cada uma
das categorias representativas patentes nos apêndices, produz-se um texto síntese em que se
expressa o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de análise incluídas em cada
uma delas. Faz-se uso intensivo de “citações directas” dos dados originais para elucidar a
argumentação. Com o apoio das teorias de variação semântica de TIMBANE (S.d), CANÇADO
(2008), GULI (2014) e GONÇALVES (2012), procurar-se-á ir além, para atingir uma
Nova.
Como se disse na metodologia utilizada, tomou-se como referência neste estudo, três
perguntas orientadoras, que conduziram a pesquisa para o alcance dos objectivos previstos. É
nesta linha de pensamento, que se faz uma abordagem científico-analítica, de cada área
variacional apresentada pelos vendedores dos dois mercados escolhidos, tendo como pontos de
referência variações comuns, na base de: uso de expressões que marcam duração de uma acção;
que os vendedores destes mercados se exprimem nas situações de comunicação indicadas acima.
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Para os vendedores exprimirem a duração da acção, foi-lhes inquerido para que eles indicassem
o tempo que estavam a exercer a actividade de comércio naqueles mercados. Face a esta
a. Há três anos. (IMQH1) ap. Eu to (+) dois anos nesse negócio. (IPNH1)
ad. Tó há três anos. (IMQM1) ah. Estou quase há três anos. (IMNM1)
A. Mais ao menos oito anos. (IMQH2) AP. Eu estou há sete, oito anos. (IPNH2)
AD. Desde dois mil e catorze. (IMQM2) AP1 Estou aqui há oito anos. (IPNH2)
ax. Dois anos. (IMQH3) H. Estou desde /.../ noventa e quatro. (IPNM2)
au. Um mês só. (IMQM3) AH1. /.../ estou aqui há muito tempo. (IPNM2)
AX. Tó aqui há três meses. (IMQH4) ai. Desde quando eu tinha trinta anos (+) desde que
perdi meu pai. (IPNM3)
AU. Há três anos. (IMQM4) AI. Estou aqui desde /.../ noventa e quatro.
(IPNM4)
ab. Estou quase há um ano. (IMQH5) Ea. Há uns seis anos. (IPNH4)
AB. Tem dez anos estou aqui. (IMQH6) EA. Tenho seis anos aqui nesse mercado. (IPNH4)
AB1 Dez anos. (IMQH6) e. Tem três anos. (IPNH5)
acima, extraídos das grelhas representativas dos apêndices, nota-se que na sua maioria, os
informantes optam pela estrutura haver+quantidade (mesmo nas situações em que o verbo haver
ocorrido o caso de quatro (4) deles, sendo uma proposição no Mercado de Maquinino (1AD) e
três proposições no Mercado da Praia Nova (1H, 1ai e 1E), terem usado a estrutura
Notam-se igualmente, duas situações também especiais que ocorreram nos dois
mercados, que mereceram algum estudo, marcadas pelo uso da estrutura ter+quantidade de
tempo, como são os casos das proposições (1EA e 1e), do mercado da Praia Nova e (1AB), do
mercado de Maquinino. Sendo assim, pensa-se que os vendedores recorrem ao verbo ‘’ter’’, que
pode remeter para o tempo de vida dos indivíduos (idade) e não ao tempo de permanência num
determinado espaço ou actividade, talvez pela influência das línguas maternas dos informantes
(cisena e cindau) porque segundo MARTINS (2012) e PRIETRO (2015) o verbo ter ora pode ser
atribuído o valor dos verbos estar ou haver, cujo infinitivo pode indicar uma acção a se realizar
presentemente.
ilustram uma ocorrência de variação, mesmo, por exemplo, nas proposições (1A,1au,1AB1 e
1ap), em que o verbo haver está omisso. Entretanto, no nível semântico, cuja preocupação seria
de verificar o significado das frases (o que a frase quer dizer), observa-se que todas as frases
indicam o mesmo significado. Admitindo-se o caso de se ter uma variável categórica, a frase
(1.1) Eu estou há oito anos, nove, cinco... neste negócio e, variáveis secundárias, as proposições,
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por exemplo: (1ap) Eu to (+) dois anos nesse negócio, (1A) Mais ao menos oito anos, (1au) Um
mês só, (1AB1) Dez anos; chega-se a conclusão que tanto as sentenças (1.1) e (1ap,1A,1au e
1AB1) são verdadeiras, visto que todas elas enceram o mesmo significado – duração do tempo de
uma acção. Desta feita, entende-se que não há ocorrência de variação semântica, mas sim de
mudança linguística, uma vez que, os falantes deixaram de usar o cisena,cindau, cinyungue,
echuabo e emakwa (que são suas LM) para usar o português e, recorrem-se a mesma maneira de
Além disso, as variações de forma que ocorrem nas frases antes referidas são fruto da
tenham um nível de escolarização que parte de analfabeto até 12ª classe, Línguas Maternas
Bantu (cisena, cindau, cinyungue, echuabo e emakwa) e estejam na faixa etária dos 21 anos a
predicado é constituído pelo verbo Estar, no presente do indicativo. Logo, os factores sociais
(faixa etária, nível de escolarização, língua materna) não têm influência na variação semântica
Portanto, entende-se que, tal facto teria sucedido porque os entrevistados têm um
conhecimento prévio e extralinguístico compartilhado por eles (como falantes e ouvintes) no acto
estar+haver+quantidade de tempo pode dever-se à simplicidade da estrutura dado que ela não
selecciona uma predicação complexa, como poderia acontecer com desde..., faz...
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AD. Desde dois mil e catorze (IMQM2) H. Estou desde /.../noventa e quatro (IPNM2)
Decerto que, a semântica formal assume que o sentido destas asserções construir-se-ia da
composição (capacidade que os falantes têm de produzir frases diferentes através de uma já
existente). Face a isto, nas unidades de sentido da frase (1ai) Desde quando eu tinha trinta anos
(+) desde que perdi meu pai, parece haver, igualmente, uma nova maneira de dizer a duração da
acção que pode ser característica dos falantes do português da Cidade da Beira. Nesta ordem de
Observe-se que nos exemplos extraídos da frase (1ai) não só a quantidade de tempo (dois
mil e catorze, noventa e quatro e trinta anos) podem completar a proposição indicadora de
duração da acção, como também o sucedido (morte do pai). Pensa-se que este fenómeno
acontece porque, muitas vezes, em Moçambique, caso da Cidade da Beira, por incerteza de
acontecimentos não só marcantes das suas vidas, mas também à acontecimentos históricos ou
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que marcam o contexto em que se encontram. Para o caso em apresso, a situação de duração não
é explícita nem verificada (não planificada) porque ela deriva de um facto que aconteceu. Se se
tiver em conta que este fenómeno acontece no seio da comunidade falante africana, ou mesmo
frase: (2) De onde é que vem os produtos que estão a vender? Para o efeito, os entrevistados
deviam recorrer-se à palavras variáveis que relacionam dois termos de uma oração, de modo que
(2000). Nesse contexto, o recurso à preposição de é o mais recomendável porque, de acordo com
CUNHA E CINTRA (1984, p.551) apud CARDOSO (S.d, p.36), pode indicar movimento de
afastamento ou de procedência. Nesse sentido, a relação que ela estabelece na frase é necessária,
pois o termo principal ou antecedente exige um consequente que lhe seja sintacticamente
necessário.
preposição de pode indicar posição inicial a partir da qual se opera um movimento ou início de
uma contagem de ciclo temporal. Assim, o estudo realizado nos mercados de Maquinino e da
Praia Nova, acerca do uso de expressões que exprimem a proveniência da mercadoria, observa os
seguintes resultados:
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presença de várias expressões que enunciam o mesmo significado. À luz do preceituado por
Silva (2010), em torno da análise semântica, pode-se dizer que se está diante da Onomasiologia,
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partindo do conceito de: indicar a proveniência, foram enunciados vários tipos de frases ou
Veja-se, se a frase (2.1) PE: O peixe que vendo vem do mar, for a variável principal,
então as proposições (2) bp e BP1, não seriam verdadeiras, porque não indicam a proveniência do
produto, mas sim especificam ou determinam o tipo de peixe. Portanto, o de da frase (2.1) indica
a procedência e o das frases (2) bp e BP1 especificam o peixe. Por outras palavras, dizer que o
peixe é do mar (peixe marinho) não é o mesmo que dizer que o peixe é extraído do mar. O
mesmo acontece com as frases (2b, 2bx, 2BX, 2bb, 2bu, 2BU, 2bh1, 2bi, 2bi1, 2BI, 2f e 2F), pois
declarar que o produto foi comprado (nas lojas, na baixa, na Beira, aí, no Maquinino, no
armazém), não é o mesmo que afirmar que o produto vem (das lojas, da Beira, dalí, do
Maquinino, do armazém).
como especificidades culturais, o papel dos estereótipos e das normas semânticas, atribuem às
frases (2) bp e BP1 e (2b, 2bx, 2BX, 2bb, 2bu, 2BU, 2bh1, 2bi, 2bi1, 2BI, 2f e 2F) à
semanticidade de proveniência. Entretanto, esta análise não se enquadra às frases (2) do PBe5: B.
Vem de diversos sítios (IMQH2); bd. Vem de Chimoio (IMQM1); Fa. Vem da praia (IPNH3);
FA. Vem de praia (IPNH4) porque, são todas elas verdadeiras, isto é, não são contraditórias à
frase ( 2.1) , PE: O peixe que vendo vem do mar, logo dizem a mesma coisa.
(2) BP. Eu sou do sul (IPNH2) e BH. Eu sou da Zambézia (IPNM1) para responderem ao mesmo
5
Português da Beira
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fazem uma confusão com a sua origem ou proveniência. Neste caso, não há variação porque os
Nessa ordem de ideia, pode-se pensar que os factores escolarização, língua materna,
actividade motivada pelo tipo de mercadoria que vendem e pela relação interaccional entre os
membros da rede social (interacção verbal) teriam influenciado na ocorrência dessas variações.
Ainda, repare-se que para indicar a proveniência, normalmente a preposição de rege os verbos de
movimento como ir, vir, sair, mas os informantes, talvez, pelo baixo nível de escolarização e
influenciados pela prática conversacional usada na transacção comercial de produtos que não
tenham sido extraídos do mar, a título de exemplo, legumes, medicamentos tradicionais e pela
língua materna, acabaram seleccionando verbos como estar (de estado), trazer, procurar e o
locativo lá para indicar a proveniência, facto vislumbrado, por exemplo, nas frases (3) BB. e
BB1.
nenhum, ninguém, antepostos ou pospostos ao verbo. Neste estudo, os dados mostram que os
informantes exprimem a negação usando os dois primeiros (não e nada) quando solicitados para
dizer se vinham muitos clientes para comprar os seus produtos. Em alguns casos, ocorrendo de
c. Por enquanto negócio está um pouco cp. Aqui nesse mercado ...nada (IPNM1)
mal (IMQH1)
Cx Voltei p´ra casa nem cem meticais cp1. Não, não sai muito nada (IPNH1)
(IMQH3)
C. Não. Agora já tá sendo muito difícil em CP2. Nada (+) assim pouco (IPNH2)
relação aos três...quatro anos atrás
(IMQH2)
CX. Pouco aos poucos. (IMQH4) ci. Pouco-pouco, movimento é fraco (IPNH3)
CX1 Os clientes não me aparecem mesmo ch. Não é comprado, não nada (IPNM1)
(IMQH4)
cd. Como hoje não tem movimento ch1. Não temos clientes (IPNM1)
(IMQM1)
Fonte: Autora
linguística derivada da violação da formação da frase negativa, que normalmente deve ser: [SN
Neg V], [Neg V], [SN Neg V Neg]. Por exemplo, Sobre a negação com o advérbio nada, PINTO
(2010) diz que quando a partícula nada for apresentada isoladamente numa posição pós-verbal
acompanhado com não pode marcar ora o valor de um quantificador ou a negação propriamente
dita. Mas, neste último caso, a partícula de negação quando é anteposta ao verbo, reforça a
negação, atribuindo-lhe o sentido de negação total. Portanto, analisando as variações das frases
(3) indicadas abaixo, notam-se estruturas que apresentam as partículas de negação indicadas
precedentemente:
(1) C. Não. Agora tá sendo muito difícil em relação aos três...quatro anos atrás (IMQH2);
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da formação da frase negativa, que normalmente deve ser: [SN Neg V], [Neg V], [SN Neg V
Neg]. Outrossim, uma outra análise em torno das frases em (3) notam-se estruturas inusitadas,
nomeadamente: C. [Neg V], cp. [CCL CCL Neg], cp1. [Neg Neg V Adv.Q], cp2. [Neg Adv.Q],
ch. [Neg V Neg Adv.Q], ci. [Adv.Q]. Deste modo, elas constituem maneiras diferentes de
exprimir a negação, mesmo que esteja a reforçar ou não. Observa-se por exemplo, a frase (3) cp.
O nada confere a frase o significado de que naquele mercado não tem aparecido muitos clientes,
quando se tomar como base o contexto conversacional em que o discurso foi enunciado. Ele
desempenha a função de não porque afecta toda a frase, KHOLLER (1988). Porém, o nada do
enunciado cp1, embora apareça depois da dupla negação, exprime igualmente uma negação total.
negação permitiu que os entrevistados produzissem mais estruturas diferentes de negação, porém
que não concorre para a ocorrência de variação semântica. Assim, quando os falantes exprimem
a negação ocorre mais a variação formal e não semântica, pois a negação está imanente no
A presente pesquisa é orientada por três questões com as quais se procura testar as variáveis já
semânticas do campo lexical que afectou, por exemplo, o uso dos verbos guardar, apagar, girar,
estragar, estar; substantivos sítio, bebidas, saias, movimento, raça e valor e a contracção da
e. PM: Estamos a ser girados ai na praia numa de que vão vender no mercado/.../ no mercado
PE: Estamos a ser expulsos da praia para o mercado, onde não há clientes.
g. PM: minha raça não consigo falar. Só consigo falar mandau e macena (IPNM2)
Quando se analisava a noção de semântica, sublinhou-se que não havia nenhum problema
em uma palavra ou frase invocar vários significados. Esta proposição encontra a sua realização
nos exemplos (4) apontados precedentemente. Comece-se com a frase (4).a, onde o verbo
guardar passa a ter o significado de conservar. Pensa-se que isto aconteceu porque quer em
cicena quer em cindau, o verbo conservar é traduzido pelos verbos Kuviga e Kukoya (guardar em
Outro exemplo, não menos importante que o primeiro, é a frase (4) d., onde ocorrem os
do informante pois, para ele, fazem parte das bebidas somente o álcool, portanto os sumos, os
refrigerantes não são bebidas. Pensa-se, talvez, que este comportamento linguístico poderá ter
ocorrido porque nas línguas cisena e cindau não haja um substantivo comum que se refira as
(cisena) e cokumwa (cindau) significam apenas bebidas alcoólicas e as outras bebidas são
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indicadas pelo nome. No tocante ao substantivo saias, o informante IPNH2, apoiando-se do facto
das mulheres usarem saias e, talvez, querendo suavizar ou evitar ofender a entrevistadora, o
entrevistado em questão recorre-se a palavra saia para designar mulher. Neste caso, a
metonímica é uma estratégia inconsciente que este informante se recorre para fazer valer o
Para o caso do substantivo raça utilizado pela informante IPNM2, no enunciado (4) g. ,
nota-se que há uma associação mental entre a raça e a língua. É provável que esta informante
pense que ndau e sena são raças e não uma etnia. Neste caso, é a língua que determina a raça e
não a cor da pele. Este pensamento poderá ter sido construído pela informante por causa do seu
baixo nível escolaridade (3ª classe) ou da rede social onde ela faz parte.
Atinente ao uso do adjectivo apagado, na frase (4).b, está associado ao argumento a não
entrada de clientes. Neste caso, a não entrada ou não aparecimento de clientes para a comprar as
suas mercadorias tornava o mercado sem luz, sem vida. Ademais, em relação ao uso do
substantivo movimento nos enunciados (4) e. e f explicar-se-ia pelo facto do número elevado ou
no mercado. Por isso, os informantes IPNM1 e IMQM1 associam a existência de clientela com o
substantivo movimento.
uma palavra ou frase não é só fruto dos factores sociais, mas também da relação que se constrói
entre representações mentais. Quer dizer que o significado de uma palavra ou frase é construído
que esta seja a razão que explica o aparecimento das restantes variações linguísticas apontados
O estudo permitiu perceber que a semântica é uma área da linguística complexa cujo
lógica. Aprendeu-se ainda que ela se ocupa dos significados das palavras e das frases, que são
resultantes do conhecimento que o falante possui dos vários contextos ou mundos e da sua
das variações que ocorrem nos domínios da fonética/fonologia e semântica. Todavia, deixa claro
que não ocorre variação semântica quando os vendedores dos Mercados de Maquinino e da Praia
Nova exprimem a duração de uma acção nem a negação, porquanto as diferentes frases
proveniência e uso de verbos guardar, apagar, girar, estragar estar; substantivos sitio, bebidas,
materna (cindau, cisena) não influenciam para o aparecimento dessas variações. Mas sim, o
contexto conversacional dos vendedores, determinado pelo local onde se situa o mercado e o tipo
Em torno do uso de verbos guardar, apagar, girar, estragar, estar; substantivos sitio,
bebidas, saias, movimento, raça e valor e a contracção da preposição numa, contribuíram para
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ocorrência dessas variações, a língua materna, para o caso da frase (4). a e a relação mental
cumprimento do sonho de MACEDO (1983, p. 55) citado por CAPUCHO (S.d, p.257) quando
disse que a língua tem de criar constantemente novos substantivos, categorias, formas de
expressão, de perceber e definir novas relações. Tem que ser capaz de integrar novas funções e
necessidades culturais, sociais críticas. São essas adaptações que constituem não só a histórias de
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APÊNDICE
1.Unidades significativas de Análise dos Informantes do Mercado de Maquinino
(1) Uso de expressão de a.”- Há três anos.” A. “- Mais ao menos oito anos.”
duração de uma acção
(2) Indicação de b. “- Compro aqui nas lojas e B. “-Transporta mercadorias que vem de
proveniência vendemos aqui no mercado.” diversos sítios. Praticamente a
preocupação das pessoas. Quase
tudo...falecimento, produtos das lojas,
menos passageiros.”
(3) Expressão de c. “- Por enquanto negócio está um C. “- Não. Agora já tá sendo muito difícil
negação pouco mal...como é uma coisa de em relação aos três...quatro anos atrás.”
habituar... ”
(4) Outras variáveis d. “- Na altura meus pais não tinham D. “- Faço conta própria.”
linguísticas possibilidade para comprar lugar.
D1. “- ...podemos cruzar com jovens que
Consigo mandar estudar meus
nem matabicho sabe, mas tem uma garrafa
filhos...habituaram comer o quê?...”
de tentação.”
d1. “- ...está totalmente mal. A gente
D2. “- Mas como esse indivíduo pode-se
quando andamos vemos muita
conservar...!”
coisa...talvez há qualquer coisa não
acaba.”
(1) Uso de expressão de ax. “- Hiii! Venho quando tenho AX. “- Aqui sou novo...tó aqui há três
duração de uma acção tempo...dois anos” meses”
(2) Indicação de bx. “...aqui da zona urbana.” BX. “- ...nas lojas também dos
proveniência bangladezes”
(3) Expressão de cx. “- Hiii! Por exemplo ontem saí de CX. “-...pouco aos pouco.”
negação mãos a abanar...voltei p´ra casa nem
CX1. “- /.../os clientes não me aparecem
cem meticais.”
memo!”
(4) Outras variáveis dx. “- Ah!!!...todo jovem que entra DX. “Existem dias de aflições”
linguísticas para o serviço onde passa dinheiro,
DX1. “-Há dias de movimento.”
não leva três anos.”
DX2. “- Há dias ficamos isolados.”
dx1. “- querem enriquecer rapidamente
sem gatinhar.” DX3. “- Falta de condições/.../pensei uma
ideia de que entrar no bolso de alguém.”
dx2. “- Eu acabei sola...este carro...
trilhei. Admiro jovens que não querem DX4. “- Pensei numa boa vida de que me
gastar sola.” possa compreender.”
(1) Uso de expressão de ab. “- /.../ estou quase há um ano.” AB. “- /.../ tenho/.../ tem dez anos estou
duração de uma acção aqui.”
(4) Outras variáveis dd. “- /.../ o meu irmão que me DD. “/.../ vendo aqui gonozololo pr´a
linguísticas bastecia naquele momento acabei de homem dar força do sexo.”
perdendo.”
DD1. “/.../ para ter movimento quando ter
dd1. “/.../ Como não bastasse, eu era banca.”
miúdo...até acabei tendo uma
DD2. “/.../quando andar nas
regaída.”
sarvejas...andar aonde...corpo acaba.”
dd2 “./.../ há dias com maior
DD3. “/.../ você com quinze anos já vai
movimentos.”
embora.”
dd3. “/.../ está num sítio mesmo ser
guardo /.../”
(1) Uso de expressão de ad. “Tó há três anos.” AD. “/.../ desde dois mil e catorze”
duração de uma acção
(4) Outras variáveis dc. “ Tem dia tem movimento.” DC. “/.../não pode esperar o bolso do
linguísticas marido”
dc1. “/.../ tem saída memo.”
DC1. “Se você ser casada em casa...”
(1) Uso de expressão de au. “/.../ um mês só.” AU. “Há três anos”
duração de uma acção
(2) Indicação de bu. “/.../ aqui na baixa.” BU. “Compramos aqui na Beira”
proveniência
(4) Outras variáveis du. ᴓ DU. “/.../ não pode desistir quando já não
linguísticas tem fundo”
(1) Uso de expressão de ap. Eu tou (+) dois anos nesse negocio AP. Eu estou há sete, oito anos.
duração de uma acção
AP1. Estou aqui há oito anos.
(2) Indicação de bp. É de mar, da água (+) é de mar BP. Eu sou do sul
proveniência
BP1. Sai de la /.../ na praia, na descida, sai
daí
70
(3) Expressão de cp./.../aqui nesse mercado, nesse CP. As veze entra movimento
negação mercado, nada
CP1. Sexta e domingo entra movimento
cp1./.../ não, não sai muito nada
CP2. Nada (+) assim pouco
cp2. /.../ não vem pessoa que está aqui
dentro
(4) Outras variáveis dp. Costuma guardar (+) sim, tem DP./.../ é um mercado apagado, não entra
linguísticas frigorífico movimento
dp1. O peixe vem, não como hoje DP1./.../ nu é num sitio aberto
também está muito baixo.
DP2. Tudo corre para na praia, onde sai
dp2. Quando sai muito. Sim, quando peixe.
sai muito peixe.
DP3. É privinir bebida, nas saias estraga
dp3. Faço isso para ter peixe que eu
DP4. Não há outra maneira/.../ maneira é
comprei com ele e ter pão também.
esse.
(1) Uso de expressão de Ea. “/.../ há uns seis anos” EA./.../“tenho seis anos aqui nesse
duração de uma acção mercado”
(2) Indicação de Fa. “/.../ Vem da praia.” FA. “/.../ vem de praia...compramos na
proveniência canoa”
negação
(4) Outras variáveis Ha. “/.../ antes vendi, depois cai e HA. “/.../ é ter alguém que traz de canoa e
linguísticas continuei de novo.” nós compra e vendemos a molho”
(1) Uso de expressão de ah. Estou quase há trê anos AH../.../estou desde/.../ noventa e quatro
duração de uma acção
ah1. Vim aqui em 1977 AH1. /.../estou aqui há muito tempo
(3) Expressão de ch./.../ não é comprado, não é nada CH. Nada xiii, só cheguei ate só 5ª
negação classe
ch1./.../ não temos clientes
CH1. Não é fácil
0(4) Outras variáveis dh. Estamos a ser girados ai na praia DH. Minha raça não consigo falar. Só
linguísticas numa de que vão vender no mercado/.../ consigo falar mandau e macena
só que mercado dele não entra
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(1) Uso de expressão de ai. Desde quando eu tinha trinta (+) AI. “/.../ estou aqui desde /.../ noventa e
duração de uma acção comecei a fazer negocio quando perdi quatro”
(+) desde que perdi meu pai
(3) Expressão de ci./.../ pouco-pouco, movimento é fraco CI. “/.../movimento dele vem, mas está
negação ser muito fraco”
ci1./.../dizem que não há dinheiro
CI1. “/.../ movimento é pouco...pouco”
ci2./.../quando não tem mercadoria
(4) Outras variaveis di./.../dzarasca de outra maneira, tinqui DI. “segredo para ficar jovem /.../
linguística dzarascar outra coisa para vender depende de massa...corpo”
di2./.../ pero meno de chapa eu de pão alguma coisa que vai me pegar braço e
apanha eu lavantar, é o xtique, nossa união”
(4) Outras variaveis h. “comecei a vender... sofrimento” H. “quando vender tem que saber comer
linguística dinheiro. Quando não sabe comer cai.
Depois amanhã não tem maneira”