Adilson Moreira Etc. Manual de Educação Jurídica Antirracista - Fichamento - P. 1 A 50
Adilson Moreira Etc. Manual de Educação Jurídica Antirracista - Fichamento - P. 1 A 50
Adilson Moreira Etc. Manual de Educação Jurídica Antirracista - Fichamento - P. 1 A 50
p. 12
Raça ainda importa: a cor da pele continua sendo, em muitos espaços, um
critério (implícito ou explícito) para excluir e segregar pessoas.
pp. 13-14
Há, portanto, um problema estrutural que não podemos ignorar: a ausência
de compreensão dos modos de operação do racismo cria dificuldades
consideráveis para as pessoas e instituições interessadas no engajamento
na luta contra esse sistema de opressão.
Pessoas brancas não sofrem discriminação racial, razão pela qual nunca
foram motivadas a desenvolver estudos sobre esse assunto – por isso, a
vasta maioria delas não o reconhece como objeto legítimo de debate. Esse
problema também está associado a outro fato relevante: discussões sobre
as formas como o racismo afeta as diferentes esferas da vida social não
fazem parte da formação acadêmica da vasta maioria dos indivíduos que
ocupam posições relevantes em instituições de ensino superior.
Essas pessoas passam vários anos em nossas universidades e raramente
têm a possibilidade de compreender como ele opera e quais são suas
consequências na vida de muitos. Assim, geração após geração, saberes e
práticas que ignoram o fato do racismo – ou são, eles mesmos, racistas –
são replicados em diversas universidades como legítimos, universais e
corretos, sem que haja um esforço coletivo para alterar essas dinâmicas em
sala de aula.
Acreditamos que essa seja uma falha significativa na formação acadêmica
de todos, mas pensamos que ela adquire proporções ainda maiores quando
consideramos os propósitos de certas ocupações. Esse é o caso daqueles
que atuam nas profissões jurídicas.
Faculdades de Direito formam indivíduos que ocupam posições de
fundamental importância na organização institucional de uma sociedade.
Profissionais desse campo atuarão no Poder Legislativo, no Poder
Executivo e no Poder Judiciário, instâncias para as quais o conhecimento
sobre a operação de sistemas sociais de opressão possui tremenda
relevância.
Esses indivíduos podem vir a representar pessoas na condição de
advogados e defensores, assumindo um papel central na proteção de
grupos subalternizados contra práticas discriminatórias. Podem, também,
ocupar posições de autoridades, com a capacidade de guiar órgãos
públicos e privados, e mesmo tomar decisões determinantes sobre a vida e
a liberdade de indivíduos que pertencem a grupos subalternizados.
Apesar disso, a grande maioria desses indivíduos têm pouco conhecimento
sobre a operação de mecanismos discriminatórios, o que obviamente
compromete a possibilidade de uma prestação judicial adequada. Ora,
poucas instituições de ensino jurídico debatem o racismo, e quando isso
ocorre, o assunto é tratado de maneira acessória, associado a outros temas
e com finalidade apenas exemplificativa, não sendo tratado como assunto
autônomo que merece atenção particular.
p. 15
p. 16
pp. 18-19
pp. 21/22
Assim, a proposta de uma educação antirracista partirá de uma discussão
de conceitos da Teoria Crítica Racial, da Teoria Feminista Negra, da
Teoria Queer e da Teoria Decolonial. Seguiremos de perto as formulações
de Paulo Freire, bell hooks e Miguel Arroyo sobre a educação como uma
prática da liberdade.
p. 23/24
O aumento significativo da presença de minorias raciais nas salas de aula
de nossas universidades tem operado deslocamentos e questionamentos
constantes de referências culturais e pressupostos epistemológicos que,
embora se apresentem como universais, estão associados a uma realidade
marcada pela presença hegemônica de pessoas brancas nas instituições de
produção de conhecimento. Os novos participantes reconhecem que os
problemas de disparidade de poder também estão associados ao processo
de produção do saber, motivo pelo qual professores e professoras precisam
estar preparados para o engajamento em um debate sobre as maneiras
como discussões acadêmicas são formuladas.
pp. 24-25
pp. 25-26
O capítulo seis, por sua vez, apresenta as orientações a serem seguidas por
professores e professoras na condução do debate sobre justiça racial. Essa
parte do manual começa com reflexões sobre as características de uma
educação multicultural e problematiza o lugar do professor e da professora
dentro do sistema de hierarquias sociais, um exercício necessário para que
eles e elas possam refletir sobre suas funções no processo de
transformação da realidade social.
p. 28/29
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Por isso, uma educação jurídica que se resume à aplicação de técnicas de
interpretação e aplicação de normas legais se mostra incapaz de promover
transformação social, uma vez que alunos e alunas, ao aplicarem esse tipo
de lógica, acabam por replicar hierarquias sociais e não se tornam capazes
de pensar o Direito como um possível instrumento de emancipação
social.9
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p. 34/35
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p. 36/37
A educação jurídica oferecida pela vasta maioria das nossas instituições de
ensino superior sofre de um problema especialmente grave: a
homogeneidade racial do corpo docente. Ela implica uma uniformidade de
experiências sociais e uma uniformidade de perspectivas sobre a relevância
da questão racial. Esse fato tem consequência direta: a ausência de
reflexões teóricas sobre as formas como práticas discriminatórias afetam o
status de grupos raciais subalternizados. Esses estudantes serão
contratados por escritórios que também são racialmente homogêneos e
ingressarão em entidades de classe que possuem a mesma característica.
p. 38
O controle sobre as publicações acadêmicas por membros do grupo racial
dominante permite o estabelecimento de certas epistemologias como as
únicas capazes de serem utilizadas dentro do campo jurídico, fator que
dificulta a aplicação de outras perspectivas aptas a desvelar as relações de
poder que o discurso jurídico procura encobrir muitas vezes. Assim, a
homogeneidade do corpo docente das nossas instituições de ensino
superior aprofunda o problema da injustiça epistêmica, pois temas e
estratégias de luta estão ausentes dos lugares nos quais deveriam ter
presença preponderante.18
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pp. 44-45
pp. 45-46
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