O Que É Tutela Provisória
O Que É Tutela Provisória
O Que É Tutela Provisória
É uma antecipação de uma decisão que vigora antes do fim do processo, com a
finalidade de resguardar um direito ou bem.
FUNDAMENTOS
DURAÇÃO
Enquanto o processo não tiver seu mérito julgado, a tutela continuará existindo.
Mas, caso o juiz entenda que não existe mais fundamento para a tutela, ela
poderá ser revogada a qualquer momento do processo.
Não há regras que determinem exatamente qual deve ser a medida a ser tomada
pelo juiz para efetivar a tutela provisória, mas ela pode seguir as normas
referentes ao cumprimento de sentença provisório, no que for adequado.
Art. 298, CPC. Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a tutela
provisória, o juiz motivará seu convencimento de modo claro e preciso.
Art. 299, CPC. A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e, quando
antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.
“É correto entender a tutela provisória, tal qual disciplinada pelo CPC de 2015,
como o conjunto de técnicas que permite ao magistrado, na presença de
determinados pressupostos, que gravitam em torno da presença de ‘urgência’ ou
da ‘evidência’, prestar tutela jurisdicional, antecedente ou incidentalmente, com
base em decisão instável (por isto, provisória) ata a assegurar e/ou satisfazer,
desde logo, a pretensão do autor”. 1
Bem se vê, portanto, que a tutela provisória trazida pelo NCPC traduz uma
tutela plasmada em cognição sumária e, portanto, revogável, voltada à satisfação
do autor (antecipação de tutela) ou à proteção de seu direito (tutela cautelar), que
pode ser deferida de forma antecedente ou incidental ao processo, mediante
urgência ou evidência, conforme o caso.
Esta conceituação pode ser extraída do art. 294 do NCPC que no caput esclarece
que a tutela provisória pode fundamentar-se em urgência e evidência. Por sua
vez, no parágrafo único, divide a tutela fundada na urgência em cautelar e tutela
antecipada, estabelecendo, para ambas, a mesma regra geral quanto ao seu
procedimento, ou seja, podem ser concedidas em caráter antecedente ou
incidental.
Há, portanto, somente nesse dispositivo várias posições a serem consideradas, a
saber: (i) a tutela provisória é gênero, do qual a tutela de urgência e da evidência
são espécies; (ii) a tutela de urgência, por sua vez, divide-se em tutela
cautelar e tutela antecipada; (iii) tanto a tutela antecipada quanto a tutela
cautelar podem ser concedidas em caráter antecedente ou incidental.
2. Espécies da tutela provisória: noções gerais a respeito da tutela de
urgência da tutela da evidência
A tutela de urgência tem como nota característica a situação de perigo, ou seja,
o periculum in mora. Noutras palavras: somente haverá tutela de urgência
quando o provimento jurisdicional visa a evitar a ocorrência de um dano
irreparável ou de difícil reparação.
A tutela antecipada, por sua vez, utiliza técnica distinta. Para a proteção de
determinada situação viabiliza-se, antecipadamente, a fruição do bem da vida
(ou de seus efeitos) buscado pelo processo. Nessa situação, a tutela é satisfativa
porquanto adianta aquilo que muito provavelmente virá ao final, quando do
julgamento do processo. Note-se que aqui a expressão satisfatividade está sendo
empregada no sentido de que a medida pleiteada não tem por objetivo preservar
a possibilidade de eficácia de outro pronunciamento, mas sim, desde já, adiantar
a sua fruição. 2
Mas em todas essas gradações, por assim dizer, o legislador foi expresso, ou
seja, tratou de prever expressamente a situação que viabiliza a concessão da
medida. E assim deve ser, porquanto a tutela de evidência é uma opção
legislativa utilizada para redistribuir o ônus do tempo no processo frente ao dano
marginal do processo6 e não diante do periculum in mora.
Como se vê, a técnica da tutela de evidência mira seu foco na repressão do dano
marginal, ao passo que a tutela de urgência serve para neutralizar ou minimizar
lesão irreparável ou de difícil reparação ao direito da parte.
3. As disposições gerais do CPC/2015 a respeito da tutela provisória
O título I do Livro V, que contempla os arts. 294 a 300, traz uma série de regras
e disposições aplicáveis tanto à tutela de urgência (cautelar e tutela antecipada)
quanto à tutela da evidência.
Esta regra, a nosso ver, é a mesma para a tutela da evidência. Conquanto a tutela
da evidência esteja plasmada por um grau de convencimento maior, ou melhor,
uma maior probabilidade do direito em favor de quem houve a concessão da
tutela, não se trata de cognição exauriente, de um juízo de certeza.
Assim, se a tutela provisória tiver por objeto uma obrigação de fazer ou não
fazer ou mesmo uma obrigação de entrega de coisa, aplicar-se-á a sistemática do
cumprimento de sentença específica (obrigação de fazer ou não fazer ou de
entrega de coisa). Tratando-se, por sua vez, de uma tutela de urgência com
conteúdo condenatório em pecúnia, observar-se-á, no que couber, o regime de
cumprimento de sentença de uma obrigação de pagar. Isso tudo sem se esquecer
de aplicar, no que couber, a sistemática do cumprimento provisório, dada a
provisoriedade do título.
Quanto à primeira, deve se ter em mente que a decisão que concede a tutela
provisória tende a ser substituída por outra, de cognição mais aprofundada, daí a
necessária observância do instrumental previsto para o cumprimento provisório
previsto nos arts. 520 a 522 do NCPC, os quais são aplicáveis às obrigações de
pagar e, no que couber, às obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa.
Nesse sentido, pode-se dizer que a execução fundada num título provisório,
processar-se-á tal como a definitiva, ressalvando-se que o exequente responderá
objetivamente pelos danos causados ao executado na hipótese de reforma da
decisão, obrigando-se à restituição das partes ao status quo e, bem assim, que os
atos executivos e/ou de expropriatórios que causarem grave prejuízo ao
executado são, via de regra, precedidos de caução.
Mas a norma tem alcance ainda maior. Ora, como regra, tem-se que atos
executivos são “típicos”, ou seja, são aqueles previstos pelo legislador. Nesse
contexto é que se fala em adequação dos meios executivos à modalidade da
obrigação de pagar quantia, pagar alimentos, obrigações de fazer/não-fazer e de
entrega de coisa, cada qual com seu instrumental previsto na lei.
Fica evidente, pela dicção do mencionado dispositivo, que não se pode ter por
respeitado o princípio da fundamentação das decisões com a utilização de
expressões genéricas. Cabe ao juiz indicar os fundamentos da decisão, ou seja,
esclarecer quais as provas e por que elas o convenceram a decidir daquela
forma.
Nesse ponto reside uma importante questão atinente à tutela provisória. Com
efeito, no mais das vezes, sob a vigência do CPC/73, disseminou-se no foro uma
prática infeliz (e inconstitucional) de se negar ou conceder a tutela liminar com
fundamentação nenhuma ou, na melhor das visões, com fundamentação débil. É
o caso da decisão genérica e padrão a que nos referimos anteriormente, como,
por exemplo, a locução “presentes os requisitos autorizadores concedo a
liminar” e o inverso igualmente vazio: “ausentes os requisitos autorizadores da
liminar denego a liminar”.
Tais decisões são nulas, porquanto como bem ensina Teresa Arruda Alvim, com
quem concordamos em gênero, número e grau: “fundamentação inadequada é o
mesmo que fundamentação inexistente”. 10
Particularmente no que respeita à tutela provisória há norma expressa quanto à
necessidade de fundamentação da decisão a seu respeito. Trata-se do art. 298
que assim dispõe: “Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a
tutela provisória, o juiz motivará seu convencimento de modo claro e preciso.”
O parágrafo único do art. 299, por sua vez, versa sobre as causas de competência
originária no Tribunal e os recursos. Ressalvada disposição especial, a tutela
provisória (e aqui estão contempladas tanto a tutela de urgência quanto a de
evidência) será requerida perante o órgão jurisdicional competente para apreciar
o mérito do recurso. Tratando-se de causa de competência originária, a regra é a
mesma, porquanto o tribunal funciona como o órgão competente para o
julgamento da causa.
3.6. Recorribilidade da tutela provisória
As tutelas provisórias, sejam de evidência, sejam de urgência (tutela cautelar e
antecipação de tutela) seguem a mesma sistemática recursal. Com efeito, se
deferidas por meio de decisões interlocutórias, sujeitam-se ao recurso de agravo
de instrumento (art. 1.015, inciso I).
Pode ocorrer, contudo, de a tutela provisória ser deferida na própria sentença,
hipótese que caberá apelação, sendo certo, porém, que o capítulo relativo ao
deferimento desta medida não estará sujeito ao efeito suspensivo, mercê da regra
prevista no art. 1.012, inciso V. Esse dispositivo legal contido no art. 1.012,
inciso V, não está circunscrito à hipótese de “concessão” da tutela provisória na
sentença. Abarca expressa e literalmente outras duas hipóteses: quando a
sentença “confirma” ou “revoga” a tutela provisória.
Assim, como já dissemos anteriormente, pelo NCPC não pode haver qualquer
dúvida a respeito. O capítulo da sentença relativo à tutela provisória - seja para
confirmá-la, concedê-la ou infirmá-la - não está sujeito ao efeito suspensivo da
apelação.
Dessa forma, tem-se que: (i) julgado procedente o pedido, está confirmada a
tutela provisória adrede deferida, a qual continuará em vigor durante a
tramitação da apelação; (ii) concedida a tutela provisória na própria sentença,
esta passará a vigorar imediatamente; (iii) uma vez julgado improcedente o
pedido, a antecipação de tutela, seja isso dito expressamente ou não na sentença,
deixa de produzir efeitos.
Aplicando-se a mesma regra, resolvem-se também duas outras hipóteses até aqui
não referidas, quais sejam, (iv) quando há uma antecipação parcial de tutela e
advém uma sentença de procedência total do pedido e, bem assim, a hipótese
reversa, na qual (v) há uma antecipação total da tutela e uma posterior sentença
de procedência parcial.
Há muito temos dito que a tutela de urgência (seja cautelar, seja antecipada)
exige, para sua concessão, a presença de fumus boni juris e de periculum in
mora. Utilizando-se os termos o art. 300 do NCPC, fala-se em probabilidade do
direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. Tais expressões
devem ser tomadas como sinônimas.
O fumus boni iuris – ou, como também se costuma designar “aparência do bom
direito” – ou ainda a probabilidade do direito deve ser lido como sinônimo de
uma cognição sumária, não exauriente, sem maiores preocupações em
estabelecer graus distintos de intensidade para formar o convencimento do juiz.
Não se deve, segundo pensamos, ficar preso a uma “escala de grau de
convencimento” prévia do juiz, a partir da ideia de que para a proteção cautelar
é suficiente mera plausibilidade do direito, enquanto para a antecipação de tutela
exige-se algo mais profundo, uma maior probabilidade. Insistir nessa tese,
notadamente diante do NCPC, trata-se de um equívoco.
Vem daí a analogia com uma “gangorra”. Numa das pontas, o fumus boni iuris;
noutra, o periculum in mora. Quanto maior for o periculum, menos importância
se dará ao fumus para a decisão acerca da concessão da tutela de urgência. É
claro que precisa haver algum fumus, ou seja, algum grau de convencimento do
juiz da possibilidade de, ao final, reconhecer o direito invocado. Ambos os
requisitos devem estar presentes, mas são os dois variáveis ao sabor das
particularidades de caso concreto. Faz-se, portanto, o jogo da proporcionalidade,
do juízo do mal maior, tendo como fator de maior peso para pender a gangorra,
para um lado ou para o outro, o periculum in mora.
4.2. Caução
Pelo NCPC resta claro que a caução é instituto voltado para a tutela de urgência,
englobando obviamente tanto a tutela cautelar quanto a antecipatória. Há, nesse
ponto, evidente avanço, pois o CPC/1973 referia-se à caução para a cautelar,
silenciando quanto à sua possibilidade para a tutela antecipada. Esse silêncio, na
prática, infelizmente significou a total inobservância da caução para a concessão
da tutela antecipada.
Prevê a primeira parte do § 1.o do art. 300 que “para a concessão da tutela de
urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea
para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer”. É importante dizer
que essa caução tem natureza de contracautela, ou seja, diante da cautela
oferecida ao autor, prevê o sistema uma contracautela em favor do réu, visando
a assegurar-lhe o resultado útil de eventual responsabilização do autor pelos
danos causados com a execução da tutela de urgência. Trata-se da mesma
natureza daquela caução prevista no inc. IV do art. 520, do CPC/2015 que trata
do cumprimento provisório das sentenças e que se aplica “no que couber” à
execução da tutela de urgência, por força do § 5o do mesmo art. 520.
Não há, pois, nenhuma novidade trazida pelo NCPC que deva ser considerada.
Basta dizer que tal vedação aplica-se, à primeira vista, somente à tutela de
urgência de natureza antecipada (satisfativa), porquanto a tutela de urgência
cautelar, por ser conservativa, em princípio, não ostenta potencial de
irreversibilidade.
Sob a ótica do CPC/2015, a tutela cautelar está toda fundada no poder geral de
cautela do juiz que continua a existir. Em realidade, o novo Código vai além: o
juiz tem um poder geral de tutela provisória, podendo se utilizar de providências
cautelares ou antecipatórias.
Uma vez recebida a petição inicial que veicule uma tutela cautelar em caráter
antecedente, seja deferida ou não a liminar, o réu será citado para, no prazo de
cinco dias, contestar o pedido, indicando as provas que pretende produzir (art.
306). A contestação aqui está circunscrita à petição que veicula o pedido de
tutela cautelar e não ao pedido principal que somente será deduzido
posteriormente (art. 308).
Faculta-se, nos termos do § 1.º do art. 308, que a petição inicial preveja, desde
logo, o pedido principal juntamente com o pedido de cautelar antecedente,
evitando-se, com isso, a necessidade de sua formulação posterior quando
deferida a cautelar. De qualquer forma, optando o autor por deduzir
posteriormente o pedido principal, possibilita-se o aditamento da causa de pedir
no momento da formulação desse pedido principal (art. 308, § 2.º).
É bom que se diga que além das situações tarifadas no art. 309, há ainda outras
que igualmente justificam a revogação da cautelar, implicando a cessação de
seus efeitos. Veja-se, por exemplo, a alteração das circunstâncias fáticas que
autorizaram sua concessão. Isso se dá porque nas medidas cautelares está
implícita a cláusula rebus sic stantibus, permitindo-se, pois, sua alteração e/ou
revogação se ocorrer alteração no quadro fático ou probatório vigente ao
tempo da concessão.19
Norma interessante está colocada no parágrafo único do art. 309 ao prever que
“se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é vedado à parte
renovar o pedido, salvo sob novo fundamento”. Assim, tendo a medida cautelar
perdido sua eficácia, não poderá o demandante novamente deduzir o mesmo
pedido, salvo por fundamento novo (nova causa de pedir).
O último dispositivo relativo à tutela cautelar antecedente (o art. 310) prevê que
o indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a parte formule o pedido
principal, nem influi no julgamento desse, salvo se o motivo do indeferimento
for o reconhecimento de decadência ou de prescrição. É o reconhecimento da
independência entre a tutela cautelar e a tutela satisfativa pretendida no pedido
principal.
Conquanto a tutela cautelar no sistema adotado pelo novo Código não tenha
autonomia, ou seja, não seja deduzida por meio de um processo autônomo, ela
não perdeu sua característica essencial de instrumentalidade em relação ao
pedido principal. Se sob a égide do Código de 1973 afirmava-se que a cautelar
serve ao processo principal, sob a ótica do Código de 2015, pode-se dizer que
ela serve ao pedido principal.
Deveras, pois todo o sistema até então em vigor era informado pela necessidade
de cognição exauriente com decisão final de mérito (definitiva) para que, só
após, se cogitasse de eventual produção de efeitos. Com a antecipação de tutela,
o sistema mudou sua lógica, permitindo, mesmo que em caráter excepcional,
porém para a generalidade dos casos, uma tutela provisória, fundada em
cognição sumária, com imediata efetividade.21
Tal possibilidade, mesmo antes de 1994, era possível, porém tão somente em
determinados procedimentos especiais, v.g., mandado de segurança,
possessórias etc. Em razão disso, noutros feitos que não permitiam tal
possibilidade, diante de uma situação urgente, a parte valia-se da via cautelar,
mais precisamente do poder geral de cautela previsto no art. 798 do CPC/1973,
que era utilizada como verdadeira “válvula de escape” na tentativa de
precipitação dos efeitos materiais da tutela pretendida.22 Em que pese haver
falta de sintonia, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, a respeito da
possibilidade de cabimento das chamadas cautelares “satisfativas”, o fato é que
tal expediente, à míngua de outro veículo para a tutela de urgência, teve larga
utilização na praxe forense.
A tutela antecipada, tal como a cautelar, é marcada por uma luta contra o tempo,
visando a minimizar (e até a neutralizar) as consequências deletérias que a
demora na outorga da prestação jurisdicional definitiva poderá acarretar ao bem
litigioso. Para tanto, o legislador muniu o juiz do poder de precipitar, antecipar a
ocorrência de certos efeitos externos ao processo, ou seja, propiciar a imediata
satisfação do bem tutelado.
Para que não haja qualquer dúvida sobre se a “petição inicial” refere-se tão
somente ao pedido de antecipação de tutela, o autor deverá indicar
expressamente na petição inicial que “pretende valer-se do benefício previsto
no caput deste art.” (§ 5.º do art. 303).
Uma vez concedida a tutela antecipada, o autor deverá aditar a “petição inicial
simplificada”, cabendo-lhe complementar sua argumentação, juntar novos
documentos e confirmar o pedido de tutela final, no prazo de quinze dias, ou em
outro prazo maior que o juiz fixar (art. 303, § 1º, I). O aditamento será feito nos
mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais (§ 3º do art. 303), as
quais já devem ter sido recolhidas tomando-se por base o valor do pedido final
quando da propositura da “petição inicial simplificada”.
Tendo sido concedida a tutela antecipada “o réu será citado e intimado para a
audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334”, sendo certo que,
não havendo autocomposição, “o prazo para contestação será contado na forma
do art. 335.” (incs. II e III do § 1º do art. 303).
Prevê o caput do art. 304 que “a tutela antecipada, concedida nos termos do
art. 303, torna-se estável”, ou seja, a tutela antecipada (e não a cautelar)
concedida de forma antecedente (art. 303). Ora, a técnica conservativa
empregada pela tutela cautelar, presume a adoção de uma providência protetiva
temporária, que deve ser eficaz até que a parte possa ser satisfeita pelo pedido
principal. Utilizando-se desse raciocínio, fica mesmo difícil imaginar a
estabilização de efeitos cautelares. Como se justifica, por exemplo, que um
arresto subsista por tempo indeterminado, retirando o bem da disposição do
devedor, sem permitir, entretanto, a satisfação do direito material do credor?27
Além disso, não se pode perder de vista que o pedido de tutela antecipada de
urgência antecedente é medida excepcional, justificando-se diante de
uma urgência contemporânea à propositura da ação (art. 303). Sendo assim, no
mais das vezes, a tutela antecipada continuará a ser requerida tal como no
sistema do CPC/1973 – ou seja, incidentalmente, vale dizer, no bojo de um
processo definitivo já instaurado, com petição inicial que contemple o pedido
final, dotada de cognição plena – o que restringirá sobremaneira a incidência
desse dispositivo.
Tal questão ganha um contorno interessante diante do fato de que o prazo para
recurso (15 dias) e para o aditamento (15 dias) podem ser coincidentes. A
consequência da inércia do réu implica a estabilização da tutela antecipada, ao
passo que a consequência da inércia do autor implica a extinção do processo
com a revogação da tutela antecipada adrede deferida.
Imagine-se, então, que sendo coincidente o prazo, o autor não adite a inicial e o
réu não recorra da decisão que deferiu a antecipação de tutela. Nesta hipótese,
extinguir-se-á o processo com ou sem a tutela antecipada “estável”?
A nosso ver, o processo será extinto sem estabilizar a tutela antecipada. Poder-
se-ia cogitar da extinção do processo com a estabilização da tutela antecipada,
porquanto é conferida às partes a ação prevista no §2o do art. 304 para rever,
invalidar ou reformar a antecipação de tutela, mas, se vingar tal raciocínio,
nenhum autor se preocupará em proceder ao aditamento que a lei lhe impõe, na
medida em que o arquivamento do processo lhe favorecerá, mesmo diante de
sua inércia, pois obrigará o réu a ingressar com uma ação para discutir a tutela
antecipada. Justamente por isso, a hipótese de extinção do processo com a
estabilização da tutela antecipada deve ser confinada somente à hipótese de
inércia do réu em não impugná-la.
Essa nova demanda reabre, por assim dizer, a discussão do processo extinto,
aprofundando a cognição até então exercida e, por isso, não altera a distribuição
originária do ônus da prova. Assim, caso seja o réu da ação extinta a assumir a
condição de autor dessa segunda demanda, não haverá a redistribuição do ônus
de prova, de forma que o réu dessa segunda ação (autor da ação extinta),
continuará tendo o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito.
No que respeita à revisão da tutela antecipada concedida, diz a lei que qualquer
das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi concedida a
medida estabilizada, para instruir a petição inicial da ação para discuti-la. Nesse
caso, será prevento o juízo em que a tutela antecipada estabilizada foi concedida
(§ 4º, do art. 304).
O § 6.o do art. 304 esclarece que a decisão que concede a tutela não fará coisa
julgada, mas a estabilidade dos respectivos efeitos “só será afastada por decisão
que a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das
partes, nos termos do § 2º”.
O prazo de dois anos encerra a possibilidade de se ajuizar uma ação que reabra a
discussão do processo extinto, nos exatos limites e contornos da lide originária
na qual se deferiu a antecipação de tutela. Assim, passado esse prazo, diante da
inexistência de coisa julgada acerca da matéria, nada impede que qualquer das
partes, respeitados os prazos prescricionais pertinentes, ingresse com uma nova
demanda, com cognição exauriente, que diga respeito ao mesmo bem da vida
discutido na ação que foi extinta (mas não a mesma ação). Fechar essa
possibilidade seria o mesmo que dar prevalência a uma decisão de cognição
sumária em relação a uma decisão fruto de cognição exauriente e completa, com
o que não podemos concordar.
Pensemos, no seguinte exemplo:33 uma ação de alimentos em que se conceda
liminar e a decisão que antecipou a tutela torne-se estável. Após dois anos,
move-se uma ação negatória da paternidade, na qual, após exame de DNA, seja
julgado procedente o pedido. Nessa situação, aquele que não é pai (assim
reconhecido por decisão transitada em julgado) continuaria obrigado a pagar os
alimentos, mercê da tutela antecipada estável? Pensamos que não.
Quanto ao inc. II do art. 273, pode-se dizer que se tratava, por expressa
disposição legal, de uma hipótese de antecipação de tutela quando ficar
“caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório
do réu”. Assim, mercê da defesa inconsistente e/ou procrastinatória apresentada
pelo réu, o direito do autor fica ainda mais evidenciado, emergindo maior
probabilidade de vitória da sua pretensão. Tratava-se, pois, de uma antecipação
dos efeitos da tutela jurisdicional plasmada na ideia de evidência e não
de urgência. Concedia-se, antecipadamente, aquilo que muito provavelmente
viria a final.41
Nesse sentido, a defesa apresentada pelo réu deveria mostrar uma característica
de embaraço à justa pretensão do autor, afastando-se dos limites estabelecidos
pelo princípio da ampla defesa42 e resvalando numa postura assemelhada à
litigância de má-fé regulada pela legislação brasileira. Deveria ser analisado o
comportamento do réu para distinguir se este estava usando ou abusando do seu
direito de defesa.43
Por sua vez, o Código de Processo Civil de 2015 dá um tratamento mais robusto
à tutela da evidência. Consolida num único dispositivo legal (art. 311) quatro
hipóteses, das quais duas delas (as dos incisos. II e IV) não estavam previstas no
Código de Processo Civil de 1973.
É certo que há situações em que o direito invocado pela parte se mostra com um
grau de probabilidade tão elevado, que se torna evidente. Nessas hipóteses, não
se conceber um tratamento diferenciado pode ser considerado com uma espécie
de denegação de justiça, pois, certamente, haverá o sacrifício do autor diante do
tempo do processo.46
Tais situações não se confundem, é bom que se esclareça, com aquelas em que é
dado ao juiz julgar antecipadamente o mérito (arts. 355 e 356), porquanto na
tutela de evidência, diferentemente do julgamento antecipado, a decisão pauta-se
em cognição sumária e, portanto, traduz uma decisão revogável e provisória.
É, pois, com esse foco que se estruturou no novo Código de Processo Civil um
tratamento diferenciado para as tutelas de evidência, permitindo-se ao autor,
mediante a demonstração da evidência de seu direito, a antecipação dos efeitos
da tutela final.
Como se sabe, trata-se de uma tutela provisória, mas não de urgência, porquanto
fundada exclusivamente na evidência do direito, não se exigindo, para sua
concessão, a demonstração do periculum in mora. O caput do art. 311 traz,
desde logo, esse conceito ao referir que a “tutela da evidência será
concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco
ao resultado útil do processo”.
Dessa forma, a defesa deve ser abusiva, excessiva, anormal, inadequada, com o
propósito de frustrar e/ou atrasar a prestação jurisdicional. É interessante
observar que o réu pode apresentar defesa técnica adequada e mesmo assim
abusar do direito de defesa, que deve ser lido consoante o princípio da ampla
defesa, abarcando não só as peças confeccionadas a esse título (contestação,
reconvenção etc.) como também a conduta do réu na defesa de seus interesses,
em suma, todas as situações subjetivas processuais que integram a defesa.
Nesse sentido, a defesa stricto sensu pode até ser adequada, porém ficar
evidenciado, por sua conduta, o manifesto propósito protelatório, como, e.g.,
insistir em discutir matéria já preclusa, repetir alegações indeferidas, fazer
reiteradas cargas, repetir recursos que foram inadmitidos.
Por tal razão, concordamos com Flávio Luiz Yarshell e Helena Abdo, no sentido
de que o “manifesto propósito protelatório” integra o “abuso do direito de
defesa”.47 Nesse mesmo sentido, José Roberto dos Santos Bedaque entende que
defesa abusiva equivale à defesa carente de seriedade, que demonstre a postura
incorreta do réu, em situação assemelhada às condutas descritas nos dispositivos
que tratam da litigância de má-fé.48
Por fim, é imperioso consignar que a hipótese deve ser lida com certa amplitude
e não ficar limitada ao contrato de depósito. Todo e qualquer pedido
reipersecutório, ainda que não com fundamento em depósito, abre a
possibilidade de concessão da tutela da evidência. Imagine-se, por exemplo,
uma compra e venda com reserva de domínio de uma maquina e a necessidade
de se retomá-la diante do inadimplemento.
A contrario sensu, as demais hipóteses, tratadas nos incs. I e IV, que se referem
à defesa abusiva e/ou procrastinatória e à defesa inconsistente, respectivamente,
devem necessariamente ser objeto de análise somente após avaliação da defesa
apresentada pelo réu, providência, a nosso ver, acertada, na medida em que não
é dado ao juiz “intuir” qual será a qualidade da defesa a ser apresentada pelo réu.
Outra questão que merece ser apontada à luz do novo Código diz respeito à
aplicação das disposições gerais previstas nos arts. 294 a 299. Tais normas
dizem respeito às disposições gerais da tutela provisória e, portanto, são
evidentemente aplicáveis à tutela da evidência que, ao lado da tutela de
urgência, é uma de suas espécies.
Bem se vê, portanto, que além das disposições gerais da tutela provisória, à
tutela da evidência, devem ser aplicadas, no que couber, as disposições gerais
relativas à tutela de urgência.
Tutelas Provisórias
DE URGÊNCIA DE EVIDÊNCIA
Probabilidade do
Probabilidade do direito + perigo de
(independentemente da dem
Requisitos dano ou risco ao resultado útil do
perigo de dano ou de risco
processo.
útil do processo).
Tutelas Provisórias
Para a concessão das tutelas de urgência o juiz pode exigir caução real ou
fidejussória para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer
(dispensada para hipossuficientes).
Incidental:
Antecedente:
A tutela antecipada antecedente pode ser requerida nos casos em que a urgência
for contemporânea à propositura da ação, devendo ser apresentada ao juízo
competente para conhecer do pedido principal.
Caso o juiz entenda que não há elementos para a concessão de tutela antecipada,
este determinará a emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena
de ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de mérito.
Atente-se ao fato de que não cabe ação rescisória da decisão que antecipou a
tutela e tornou-se estável, trata-se de uma ação comum, com prazo decadencial
de 2 anos.
Incidental:
Antecedente:
A tutela cautelar antecedente pode ser requerida nos casos em que a urgência
em proteger o bem jurídico elementar ao pedido principal seja
contemporânea à propositura da ação, devendo ser apresentada ao juízo
competente para conhecer do pedido principal.
A lide;
Os fundamentos da lida;
Exposição sumária do direito que se objetiva assegurar;
O perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Arresto;
Sequestro;
Arrolamento de bens;
Registro de protesto contra alienação de bem.
Pedido Principal
E ainda nas situações a seguir, em que o juiz pode, inclusive, conceder a tutela
liminarmente: