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TESTES DE AVALIAÇÃO
TESTE DE AVALIAÇÃO 6
II
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube1, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de “dom”2!
5 E eu desconfio, até, de um aneurisma3
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
10 E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
15 Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções retas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
20 E os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras4,
Brônzeo5, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico6 doutrora ascende, num pilar!
25 E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.
Partem patrulhas de cavalaria
30 Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
35 Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins7, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
40 E muitas delas são comparsas ou coristas.
E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie8; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
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NOTAS:
1
a cadeia do Aljube, junto à Sé de Lisboa.
2
das classes sociais mais elevadas.
3
doença que resulta de uma dilatação anormal num vaso sanguíneo.
4
planta de origem oriental.
5
de bronze.
6
referência à estátua de Luís de Camões.
7
termo francês; trad. lojas; armazéns.
8
termo francês; trad. cervejaria.
B.
5. No poema “O Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde, o olhar do sujeito poético detém-se,
frequentemente, num ambiente adverso.
Escreve uma breve exposição sobre a “necessidade de evasão” sentida pelo sujeito poético, no poema
“O Sentimento dum Ocidental”.
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GRUPO II
Lê o texto e seleciona a única opção correta.
A minha professora
Chega setembro e voltámos à escola. Ou, mais estrondoso ainda, ingressámos na escola pela
primeira vez. Com que palavras se evocam essas figuras que, nos anos primeiros da nossa
formação, nos ensinaram não só a ler e a contar, mas antecipadamente nos revelaram o que viria a
ser impacto disso na nossa vida. São figuras matriciais, protagonistas pacientes que não se
5 assustaram com a nossa turbulência e ignorância, que ativaram em nós o espanto, a inteligência e a
dedicação, e fizeram de nós aquilo que depois seremos até ao fim: aprendizes.
Há dias dei comigo a pensar numa das minhas professoras do ensino primário. Conheci-a no
último ano do primeiro ciclo do ensino básico, a então quarta classe. Havia feito os anos iniciais de
escolaridade em Angola e chegava à Madeira, onde para mim tudo era novo e, certamente, também
10 difícil, penso eu agora. A escola ajudou-me a refazer de dores de que eu não era consciente.
Lembro-me de três episódios. O primeiro foi uma aula fora da escola, por meados de outubro: a
professora levou-nos ao caminho do cais, serpenteado de grandes árvores, para que recolhêssemos
folhas de outono. Eu até aí não sabia o que era o outono, habituado às duas estações africanas.
Entreguei-me, por isso, àquela atividade um bocado às cegas, valorizando erroneamente
15 alterações mínimas nas folhas, coisas que o verão produzira nelas. Enchi as mãos de folhas que me
fizeram ouvir aquela que é a primeira frase que recordo da professora: “Essas não são ainda as
folhas do outono.” A verdade é que, não sei bem porquê, recebi aquela correção sem descorçoar.
Deve ter sido feita no tom certo. Voltei àquele caminho sozinho e com mais atenção. Encontrar o
outono nas folhas tornara-se uma tarefa pessoal importantíssima e depressa aquelas folhas
20 amareladas e vermelhas, como se fixassem em si uma labareda, vieram a ser a minha primeira
coleção, para desconcerto dos meus irmãos e primos, que seguiam com ironia e desespero aquele
meu súbito arrebatamento de caçador de inutilidades. Porém, alguma utilidade tiveram aquelas horas
perdidas, pois, quando a professora nos pediu uma composição escrita sobre o outono, tinha alguma
coisa para dizer. Isso, porém, não diminuiu a surpresa que para mim foi o modo como a professora
25 festejaria a minha composição, colocando-a num quadro de cartolina, dependurado numa das
paredes da sala. Experimentei contentamento e vergonha, pois na infância tudo nos custa mais do
que se mostra, até a alegria. Este foi o segundo episódio. O terceiro foi dramático e não teve nada de
escolar, mas atesta como os professores humanizam a escola, evitando que ela se torne uma
máquina de processos e de técnicas. O barco onde trabalhava o meu pai não tinha entrado no porto,
30 falava-se à boca pequena de um possível naufrágio e que os tripulantes estariam dispersos, e, quem
sabe, mortos. A minha mãe sacudia como podia a nossa angústia e não tinha dúvidas de que o
melhor seria não faltarmos à escola. Assim foi. Recordo que o nó que tinha na garganta estrangulava
o meu corpo e que choramingava. A professora falou-me com desembaraço, como se fala aos
crescidos nesses momentos, mas deu depois uma parte da aula sentada a meu lado.
35 Sei muito pouco da vida desta mulher maravilhosa que na minha cabeça ficou sempre como “a
minha professora”. E o nosso encontro mais recente, teve o seu quê de cómico. Ela assistiu a uma
sessão em que eu falava e no final veio cumprimentar-me. Senti uma emoção que não fui a tempo de
esconder. E atrapalhado perguntei se ainda dava aulas. Ela deu uma gargalhada e, nesse momento,
os nossos olhos com doçura se cruzaram. Só então me dei conta de como e porquê, dentro de nós,
40 fantasiamos que o tempo não passa.
http://www.vozprof.com/a-minha-professora-jose-tolentino-mendonca/
(consultado em 07.10.2021).
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(B) principiante.
(D) aprendente.
(C) “mãe”.
(A) desanimar.
(B) entender.
(C) conseguir.
(D) atingir.
5. Na frase “Lembro-me de três episódios.” (l. 11) a expressão destacada desempenha a função sintática de
6. Indica o antecedente do pronome presente na expressão “colocando-a num quadro de cartolina” (l. 25).
7. Classifica a oração subordinada na frase “O barco onde trabalhava o meu pai não tinha entrado no porto” (l. 29).
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GRUPO III
O futuro da humanidade está muito ligado ao desenvolvimento científico e tecnológico. Todavia, a recente
pandemia demonstrou que o homem é um ser eminentemente social.
Quando se perspetiva um futuro dominado pela Inteligência Artificial, até que ponto as relações interpessoais
ficarão relegadas para segundo plano?
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a questão apresentada.
No teu texto:
• explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada um
deles ilustrado com um exemplo significativo;
• utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
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