Tronco Encefálica
Tronco Encefálica
Tronco Encefálica
Ponte e Bulbo
O que é o tronco encefálico?
O tronco cerebral ou tronco encefálico é um dos componentes do sistema nervoso central, e fica
interposto entre o diencéfalo e a medula espinal. É essencial para vida, por controlar funções e
reflexos indispensáveis a mesma.
A estrutura do tronco cerebral se dá por núcleos e fibras nervosas que geralmente encontram-se
agrupadas, formando tratos, fascículos e lemniscos.
Para você ter ideia, dos 12 pares de nervos cranianos, apenas 2 deles (o nervo olfatório e o nervo
óptico não fazem conexão no tronco encefálico.
O tronco cerebral é formado por três estruturas: o mesencéfalo, a ponte e o bulbo. Vamos conhecer
agora a anatomia dessas estruturas.
Os pedúnculos são dois feixes de fibras, calibrosos, que surgem na borda superior da ponte e
penetram no cérebro. Entre os dois pedúnculos existe a fossa interpeduncular.
Existe também a substância negra, formada por melanina, e dessa substância delimitam-se sulcos,
sendo dois longitudinais, um sulco lateral (o sulco lateral do mesencéfalo) e um sulco medial (sulco
medial do pedúnculo cerebral). O sulco medial possui uma grande importância, pois é dele que
emerge o III par craniano, o nervo oculomotor.
Imagem 2:
Nervo oculomotor emergindo do sulco medial do pedúnculo cerebral.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
O teto do mesencéfalo contem algumas estruturas posteriores importantes e conhecidas que são os
colículos. Os colículos são quatro eminências arredondadas, que formam a lâmina quadrigêmea,
sendo dois colículos superiores e dois colículos inferiores. De cada colículo inferior, emerge o
quarto par, o nervo troclear. Assim, o nervo troclear emerge abaixo do colículo inferior, contorna o
mesencéfalo, e surge ventralmente entre o mesencéfalo e a ponte.
Imagem 3:
Nervo troclear emergindo dorsalmente, no teto do IV ventrículo, abaixo do colículo inferior.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
Além do surgimento do VI par inferiormente aos colículos inferiores, os colículos possuem ainda
outras funções. Isso porque esses se ligam aos corpos geniculados (estruturas do diencéfalo).
O colículo inferior se liga ao corpo geniculado medial e faz parte da via auditiva. Já o colículo
superior se liga ao corpo geniculado lateral e está envolvido na via óptica.
No mesencéfalo temos também a presença do núcleo rubro, localizado posteriormente à substância
negra do mesencéfalo e superiormente à decussação dos pedúnculos cerebelares superiores. O
núcleo rubro apresenta duas porções: a porção caudal envolvida no sistema alternativo de
motricidade, e a porção rostral, a principal constituinte do núcleo, e essa faz conexão com o
cerebelo, com o núcleo olivar inferior e conexões corticais, estando envolvida em padrões de
aprendizagem motora.
Imagem 4:
Núcleo rubro presente no mesencéfalo.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
A ponte
A ponte localiza-se entre o mesencéfalo e o bulbo. Situada ventralmente ao cerebelo, repousa sobre a
parte basilar do osso occipital e o dorso da sela túrcica. Possui inúmeros feixes que convergem e
formam o pedúnculo cerebelar médio, um de cada lado, e esses penetra no hemisfério cerebelar
correspondente.
Na superfície ventral da ponte, existe um sulco importante, o sulco basilar, que aloja a artéria
basilar.
Imagem 5: Na imagem podemos ver a artéria basilar no sulco basilar localizado na ponte.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
A região da ponte é muito rica quando se fala de nervos cranianos, pois muitos emergem nessa
região. No limite entre a ponte e o pedúnculo cerebelar médio emerge um par muito importante, o
quinto par. O nervo trigêmeo possui duas raízes que emergem nessa região, uma raiz maior, que é a
raiz sensitiva, e uma raiz menor, a raiz motora.
Imagem 6: A
seta indica as raízes do nervo trigêmeo.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
Na transição entre ponte e bulbo, existe o sulco bulbopontino, também emergem alguns pares.
Entre a ponte e a pirâmide do bulbo, emerge o sexto par, o nervo abducente.
Imagem 7:
A imagem acima mostra o nervo abducente emergindo entre a ponte e o bulbo.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
O bulbo
O bulbo também conhecido como medula oblonga, é uma das estruturas que compõe o tronco
cerebral. Sua forma é semelhante a um cone, e a extremidade menor “desse cone” é contínua com a
medula espinal.
Superiormente, o bulbo limita-se com a ponte, pelo sulco bulbopontino onde emergem vários pares
cranianos, como já conversamos.
Na superfície do bulbo, podemos ver alguns sulcos e esses se continuam na medula espinal. São
esses sulcos que delimitam as porções anterior, lateral e posterior do bulbo, e na medula os
correspondentes são os funículos.
Havendo essa separação, na área anterior do bulbo existe a fissura mediana anterior, e lateralmente a
essa fissura, existem as pirâmides, que são eminências alongadas. As pirâmides bulbares são
formadas por um feixe de fibras nervosas descendentes, que fazem a ligação entre as áreas
motoras cerebrais e os neurônios motores da medula. Essas fibras (que formam o trato
corticoespinal), na região mais terminal do bulbo, se cruzam, formando a decussação das
pirâmides (tenho certeza que você já ouviu falar sobre isso). Quando estudamos lesões nervosas,
por exemplo, é de suma importância saber se aquela estrutura lesionada, como um trato, decussa ou
não nas pirâmides bulbares, pois isso vai determinar o lado de acometimento – ipsilateral ou
contralateral à lesão). Devido à decussação das pirâmides, o hemisfério cerebral esquerdo controla o
lado direito do corpo, e vice versa.
Na área lateral do bulbo, existem dois sulcos, o sulco lateral anterior e sulco lateral posterior. Entre
esses sulcos, podemos observar a oliva bulbar, uma eminência oval e composta por substância
cinzenta do núcleo olivar inferior.
Do sulco lateral posterior emergem raízes que formam o nervo glossofaríngeo e o nervo vago, além
de fibras que formam a raiz craniana do nervo acessório.
Imagem 11:
Raízes que formam os nervos glossofaríngeo, vago e ramo craniano do nervo acessório.
Fonte: Anatomia Patológica – UNICAMP.
E a área posterior do bulbo, situada entre o sulco lateral posterior e o sulco mediano posterior, é
contínua com a medula, e, portanto dividida em funículo grácil e funículo cuneiforme, sendo
constituídos por fibras ascendentes, originadas na medula, e que terminam como dois núcleos – o
núcleo grácil e núcleo cuneiforme, e na topografia dos núcleos, notam-se duas proeminências, o
tubérculo do núcleo grácil e o tubérculo do núcleo cuneiforme, respectivamente.
Confundiu-se com tantos nervos emergindo nessa região? Veja esse desenho esquemático:
Antes de falar das vias em si, é importante termos uma visão geral do tronco encefálico. Na porção
anterior do tronco passam as vias descendentes, que como veremos a seguir, estão relacionadas
às funções motoras. Já na parte posterior, no tegmento, temos as vias ascendentes envolvidas
em funções sensoriais.
Vias ascendentes do Tronco Cerebral
No tronco cerebral, temos algumas vias ascendentes, e como veremos, envolvidas nas funções
sensoriais.
Uma dessas vias é o feixe espinotalâmico lateral e anterior. Esse feixe participa da sensibilidade
termoalgésica (temperatura e dor) e sensibilidade tátil protopática (relacionada ao tato grosso e
pressão).
Existem também dois lemniscos: o medial e o lateral. O lemnisco medial é formado no bulbo, e
conduz a sensibilidade vibratória, proprioceptiva (reconhecimento dos segmentos corporais no
espaço) e tátil epicrítica (tato fino e preciso). Já o lemnisco lateral, formado na ponte e se
estendendo até o colículo inferior do mesencéfalo, é o responsável por conduzir fibras
de sensibilidade acústica.
E outra via ascendente são os feixes espinocerebelares anterior e posterior, que como o nome
sugere fazem conexão com o cerebelo, pois levam informações de propriocepção inconsciente ao
cerebelo.
Vias descendentes do Tronco Cerebral
Além dos estímulos ascendentes, passam também pelo tronco cerebral vias descendentes,
envolvidas nas funções motoras.
Uma dessas vias é muito conhecida, o feixe piramidal que se dá pela união dos feixes corticoespinal
e corticonuclear. Esse feixe segue até as pirâmides bulbares, onde cruza para o lado oposto, na
decussação das pirâmides, e por isso dizemos que o hemisfério cerebral esquerdo controla o lado
direito do corpo e vice versa.
Próximo ao feixe piramidal segue também o feixe corticopontino que faz sinapse com os núcleos da
base da ponte, e desses partem axônios para o lado oposto, fazendo conexão com o cerebelo.
Existem também os feixes rubroespinal (originado no mesencéfalo) e reticuloespinal (originado no
bulbo) que são as vias finais do sistema extrapiramidal.
Outra via descendente é o feixe central do tegmento, que faz a ligação entre o núcleo rubro e o
núcleo olivar inferior, integrando assim o neocerebelo e o núcleo rubro.
O feixe tectoespinal e tectonuclear, originam-se nos colículos superiores, também decussam (no
tegmento do mesencéfalo), e fazem a conexão de neurônios envolvidos com os estímulos do II
par craniano, o nervo óptico, enviando informações para o III, IV e VI par. Esses feixes estão
envolvidos com os movimentos reflexos dos olhos e da cabeça frente a estímulos visuais.
E por fim, existe também o feixe simpático central, que diferente de todos os outros, não está
envolvido com funções motoras, mas sim com o sistema nervoso simpático, e uma vez lesado pode
causar a síndrome de Horner, caracterizada por ptose, miose, enoftalmia e anidrose.
Formação reticular
Acredito que você já deve ter ouvido falar na formação reticular, mas você sabe as funções em que
ela está envolvida?!
Ao se deparar com um paciente comatoso, seja decorrente de algum trauma ou decorrente do uso
indevido de determinada substância, a pesquisa dos reflexos pode trazer informações importantes a
respeito do tronco encefálico, indicando se sua função está mantida ou não, se houve alguma lesão
ou possível compressão do mesmo.
Vamos então aos reflexos, falando separadamente dos reflexos do mesencéfalo, da ponte e do bulbo.
Reflexos mesencefálicos
Existem dois importantes reflexos do mesencéfalo: o reflexo fotomotor e consensual e o reflexo de
convergência.
O reflexo fotomotor e consensual se dão pela via aferente que é o nervo óptico (II par craniano) e
via eferente que é o nervo oculomotor (III par craniano). Para avaliar esse reflexo é necessário um
ambiente escuro. Primeiramente realiza-se o reflexo fotomotor (direto) onde o examinador posiciona
a sua mão perpendicularmente ao nariz do paciente, e incide um feixe luminoso no olho, e observa a
reação desse mesmo olho. O esperado é que ocorra a miose ipsilateral. Depois o reflexo consensual
(ou fotomotor indireto), onde realiza-se o mesmo procedimento, mas dessa vez observa o olho
contralateral, ou seja, aquele que não recebeu a luz, e o esperado é que também ocorra a miose.
O reflexo de convergência também faz parte dos reflexos mesencefálicos, porém este precisa ser
realizado com o paciente acordado. Assim como o anterior, a via aferente é o nervo óptico e a via
aferente o nervo oculomotor. Na realização desse teste, o examinador posiciona o dedo próximo ao
nariz e pede que o paciente olhe para o dedo. O esperado é a convergência dos dois olhos para
dentro.
Reflexos Pontinos
Três reflexos são desempenhados por estruturas pontinas: o reflexo oculocefálico e oculovestibular,
reflexo corneopalpebral e reflexo de piscar.
Outro reflexo pontino é o reflexo corneopalpebral. A via aferente desse reflexo é o V par (nervo
trigêmeo) e a via eferente o VII par (nervo facial). Para testá-lo deve ser realizado um estímulo tátil
da córnea com um algodão ou gaze estéril. O esperado é que ao tocar a córnea ocorra o fechamento
palpebral bilateral. Se houver lesão em um dos nervos envolvidos, o reflexo ou o fechamento da
pálpebra não ocorrerá apenas no lado lesado.
E por fim o reflexo de piscar, que envolve o II par (nervo óptico), o responsável pela via aferente, e
o nervo facial, responsável pela via eferente. Esse reflexo é um reflexo que utilizamos ao longo do
nosso dia, sempre que um objeto se aproxima rapidamente dos nossos olhos, imediatamente
fechamos os olhos, no ato de piscar.
Reflexos Bulbares
E agora falando dos reflexos bulbares temos quatro reflexos importantíssimos.
Imagem
13: Teste dos reflexos do tronco cerebral e os resultados em paciente com morte encefálica
Veja com mais detalhes esses testes clínicos realizados para diagnóstico de morte encefálica.
Você sabia que o tronco cerebral participava de tantas funções?!! Imaginava que ele fosse tão
importante assim?!! Espero que tenham gostado e que essa conversa de hoje tenha ajudado em seus
estudos!
E como é um assunto muito complexo e importante, temos aulas incríveis em nosso site. Veja aqui
a Anatomia do Tronco Encefálico e as Síndromes de tronco cerebral.
Bons estudos e até a próxima!!!