Misael TCC LGPD Final - 2022 .1
Misael TCC LGPD Final - 2022 .1
Misael TCC LGPD Final - 2022 .1
CURSO DE DIREITO
São Luís
2022
MISAEL DE ARAUJO FERREIRA FILHO
São Luís
2022
Ferreira Filho, Misael De Araujo.
62f.: il.
Impresso por computador (fotocópia).
Orientador: Prof.ª Me. Albylane Nery do Nascimento.
CDU 344.51
Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Prof.ª Me. Albylane Nery do Nascimento (Orientadora)
Mestra em Direito Civi
Faculdade do Maranhão
_________________________________________________
1º Examinador (a)
________________________________________________
2º Examinador (a)
AGRADECIMENTOS
The present work seeks to study the Civil Liability Institute imposed on the actors of
the General Data Protection Law, inserted between articles 42 and 44. The study
method chosen was initially to demonstrate the role of personal data and its
ramifications within the legal system, as well as on the national and international
scene. Further on, it is studied doctrinally and legally about the Civil Liability Institute
and its consequences within the General Data Protection Law, in addition to the
analysis of jurisprudence of the higher courts. Therefore, it was observed that among
the scholars there is a division of understanding regarding the regime chosen by the
new law, with those who defend the objective line and others the subjective line. After
that, a study was carried out on the new law, its concept, data processing agents,
principled basis, in addition to the insertion of the protection of personal data as a
fundamental right. Finally, real cases processed in our courts of justice were brought
up where topics about the new law and how it is being applied in practice are already
available. In conclusion, it is the strict liability modality that prevails over the novatio
legis.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 8
2 APONTAMENTOS ACERCA DA PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS. 9
2.1 Da conceituação...................................................................................... 12
2.2 Contexto global sobre a proteção dos dados....................................... 13
2.2.1 Da proteção de dados e contextualização nacional.................................. 15
2.3 A Lei Geral de Proteção de Dados......................................................... 17
2.3.1 Definição.................................................................................................... 17
2.3.2 Dos Fundamentos..................................................................................... 17
2.3.3 Do estudo principiológico........................................................................... 19
2.3.4 Agentes de Tratamento de Dados............................................................. 21
2.3.5 Da figura do Controlador........................................................................... 22
2.3.6 Operador de dados.................................................................................... 22
2.3.7 Do Encarregado......................................................................................... 23
2.4 Da Proteção de Dados como Direito Fundamental.............................. 23
3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS AGENTES RESPONSÁVEIS
PELO TRATAMENTO DOS DADOS PESSOAIS..................................... 30
3.1 Condições específicas para o tratamento de dados: a tônica do
consentimento............................................................................................ 30
3.2 Responsabilidade Civil: do conceito aos pressupostos de
admissibilidade.......................................................................................... 33
3.3 Pressupostos........................................................................................... 33
3.3.1 Do ato ilícito............................................................................................... 33
3.3.2 Do liame de causalidade............................................................................ 34
3.3.3 Do dano causado....................................................................................... 35
3.4 Classificações.......................................................................................... 35
3.4.1 Obrigação: Solidária – subsidiária............................................................. 35
3.4.2 Vínculo jurídico: extracontratual – contratual............................................. 36
3.4.3 Voluntariedade: objetiva – subjetiva.......................................................... 37
3.5 Pressupostos da Responsabilidade Civil em relação a Proteção de
Dados........................................................................................................ 39
3.5.1 Da Conduta Ilícita...................................................................................... 39
3.5.2 Do Nexo de Causalidade........................................................................... 40
3.5.3 Do Dano..................................................................................................... 41
3.6 Doutrina Sobre o Regime de Responsabilidade Civil dos Agentes
de Tratamento.......................................................................................... 42
3.6.1 Regime de Responsabilidade Civil Subjetiva dos Agentes de
Tratamento................................................................................................. 45
3.6.2 Regime de Responsabilidade Civil Objetiva dos Agentes de Tratamento 47
4 DECISÕES JUDICIAIS BASEADAS NA LEI GERAL DE PROTEÇÃO
DE DADOS................................................................................................ 50
4.1 Tribunal de Justiça de São Paulo: uso indevido de dados.................... 50
4.2 Tribunal de Justiça do Distrito Federal: Comercialização de dados
pessoais..................................................................................................... 51
4.3 Lei Geral de Proteção de Dados: Cacau Show...................................... 53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 56
REFERÊNCIAS......................................................................................... 59
8
1 INTRODUÇÃO
econômico se transmite muito rápido, por outro, existe um longo processo legislativo
para a geração de normas jurídicas. No ordenamento jurídico brasileiro, a proteção
de dados pessoais tem base normativa desde a Constituição Federal de 1988
(CF/88), que prevê a inviolabilidade da vida íntima e privada, a autonomia da
informação e o livre desenvolvimento da personalidade. (BRASIL, 1988).
A proteção de dados pessoais atingiu patamares sem precedentes na
chamada sociedade tecnológica (da informação), especialmente desde a introdução
do uso da tecnologia da informação e a digitalização generalizada que se tornou
onipresente e afeta todas as esferas da sociedade, tanto econômica quanto na vida
social, cultural e contemporânea. Na esfera do direito internacional, embora a partir
do limiar da década de 1970, o regime da proteção jurídica dos dados pessoais e
consequente expansão em termos quantitativos e qualitativos foi também
reconhecido como direito fundamental, com exceção da Constituição da República
Portuguesa de 1976 e da Constituição Espanhola de 1978. (SARLET, 2022).
No entanto, somente a partir da década de 1990, as razões para o
surgimento de regulamentações de proteção de dados pessoais se tornaram mais
consistentes e uniformes estando diretamente relacionadas ao desenvolvimento dos
modelos de negócios da economia digital, cada vez mais dependentes dos fluxos
internacionais de informação. Os avanços tecnológicos e a globalização tornaram
isso possível. (PINHEIRO, 2021).
A sociedade da informação se destaca na economia porque a própria
informação é o fornecimento de produtos e serviços. A informação é um valor em si,
não como meio de criação de bens e prestação de serviços. Em 2004, a receita
inicial do Facebook foi de US$ 400.000. Em 2014, sua receita atingiu US$ 12,5
bilhões. (LIMA, 2020,)
Com a formação dessa nova sociedade, surgiram escândalos e polêmicas
relacionados aos dados pessoais entregues às diversas empresas como Playstation
Network, Facebook e Banco Inter, a primeira teve seus servidores invadidos
expondo os dados de 77 milhões de clientes, a segunda cita-se como exemplo o
caso de 2018, o qual atingiu 30 milhões de usuários, e a terceira sendo o banco
pioneiro nas contas digitais no país, registrou um vazamento em 2018 de dados de
19 mil correntistas. Em relação ao vazamento de tais dados, se tornou necessária a
análise das violações seja para utilização de notícias relacionadas à determinada
pessoa, seja para utilizar em negociações fraudulentas e/ou publicidade política.
11
2.1 Da conceituação
de apontar quais produtos tiveram maior saída, sintetiza-se, desta feita, uma base
aproveitável. Fundamentalmente, apresenta mediante essas informações quais
foram os produtos que tiveram uma afeição maior por parte dos consumidores para
(re)lança-los em conformidade com a referida tendência.
Após a introdução desses elementos, uma questão relacionada é que tais
atividades de uso de dados revelam informações sobre direitos fundamentais como
privacidade, autodeterminação informacional e livre desenvolvimento da
personalidade. Diante disso, é necessário que o Estado proteja essas informações
para não violar os direitos supracitados, pois são garantias fundamentais
consagradas na Constituição. Dessa forma, a proteção de dados pessoais inclui a
proteção legal do uso correto dessas informações e a possibilidade de os titulares
dos dados determinarem se seus dados são processados e como seus dados serão
utilizados.
América em 1974, intitulada "Privacy Atc", que deu aos americanos maior segurança
no processamento de dados pessoais. (CRESPO, 2019).
Em seguinte, na década de 1980, o continente europeu já estava na
vanguarda da proteção de dados quando editou a Convenção do Conselho da
Europa. Ainda nessa década, e mais especificamente, em 1983, o Tribunal
Constitucional alemão entrou em ação, que resolveu a inconstitucionalidade da lei
censitária (Volkszählungsgesetz), que obrigava os cidadãos alemães a fornecer
dados ao governo. Nesta Sentença, reconhece-se a existência do direito à
autodeterminação à informação com base no referido direito ao livre
desenvolvimento da personalidade e da dignidade humana. Com direito à inovação,
os indivíduos agora podem decidir como seus dados pessoais são exibidos.
(CRESPO, 2019).
Ao longo do caminho, outros países também criaram suas leis acerca do
tema. Consequentemente, a União Europeia, que já possui um histórico legislativo
como a Convenção nº 108 e a Diretiva nº 95/46 de 1995, promulgou uma legislação
geral de proteção de dados para regular o processamento de dados por seus
signatários, chamada de General Data Protection Regulation (GDPR). Cumpre
ressaltar que a referida norma previu, por exemplo, o que hoje se conhece como
direito ao esquecimento e desde já retrata em seu art. 8º o consentimento de dados,
trazendo assim novos elementos protetivos. É possível afirmar que a promulgação
dessa legislação impulsionou o desenvolvimento da proteção de dados (LGPD).
(CRESPO, 2019).
Nos Estados Unidos, compreende-se que atualmente o direito à privacidade
(right to privacy) não se encontra previsto explicitamente na Constituição norte-
americana, no entanto, a jurisprudência entende a sua aplicação principiologica
como: a) o direito de não interferir, ou seja, de ser deixado em paz, b) a
inviolabilidade de sua residência, e c) a tomada de decisões com base no seu
caráter e interesse. A partir da análise histórica se reconhece que até o ano de 1890,
nenhuma corte inglesa ou americana reconheceu a privacidade como direito, mas
somente em 1960 a maioria das cortes norte-americanas reconheceram a existência
de um direito de privacidade. (ALVAREZ; TAVARES, 2017).
Em seguinte no ano de 1974 os Estados Unidos promulgaram a Lei de
Privacidade (Privacy Act of 1974), decorre que enquanto a Lei de Privacidade norte-
americana de 1974 foi promulgada e representou um inegável avanço na proteção
15
de dados pessoais nos Estados Unidos, seu campo de ação limitado deixa a
situação consagrada na Lei longe de responder à criação e desenvolvimento dos
avanços tecnológicos ocorridos e expostos através da internet. Cerca de uma
década após a Lei de Privacidade em 1986 viu-se a introdução da Lei de
Privacidade de Comunicações Eletrônicas (Electronic Communications Privacy Act -
ECPA -), que é considerada a legislação de proteção de dados mais abrangente nos
Estados Unidos para proteger informações pessoais disponíveis na Internet.
(ALVAREZ; TAVARES, 2017).
Por fim, como um momento imprescindível para o desenvolvimento do
cenário mundial de proteção de dados, levando às já mencionadas mudanças na
legislação europeia e norte-americana e à criação de legislação de violações aos
dados no mundo – incluindo a brasileira – diretrizes elaboradas pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em julho 2013 por meio de
seu Conselho emitiu uma série de recomendações aos países no desenvolvimento
de suas respectivas leis, identificando os principais princípios orientadores para o
processamento e compartilhamento de dados para evitar violações de direitos
individuais, incluindo os mais proeminentes: o Princípio da Limitação de Coleta,
Transparência, Qualidade dos Dados, Finalidade e o da Responsabilidade.
(CRESPO, 2019).
2.3.1 Definição
Assim, pode-se notar que, por meio da proteção verbal contida no artigo, o
legislador vê o titular dos dados em posição desigual em relação ao agente de
tratamento, indicando claramente sua vulnerabilidade. (CARDOSO, 2020,).
informa que irá coletar os dados para faturar determinada prestação de serviço ou
compra de um produto e depois utiliza para envio de marketing. Segundo caso, é
quando a empresa coleta seus dados e informa que apenas será compartilhado com
uma determinada empresa e depois compartilha com outra. (CARDOSO, 2020).
Pelo princípio da adequação, diferentemente do princípio da finalidade, este
está relacionado com a atividade meio e não fim, conforme disciplinado pelo outrora
mencionado princípio. Aqui, visa-se o procedimento utilizado pelo agente
responsável pelo tratamento dos dados. Cita-se como situações de violação ao
princípio da adequação, quando informado que os dados pessoais serão excluídos,
mas reter cópia consigo, bem como, informar também que os dados serão
protegidos pelo anonimato e na verdade é a modalidade pseudoanônimo.
Quando se fala em Princípio da Necessidade, o próprio nome já idealiza que
no tratamento dos dados, deve-se ater ao uso mínimo necessário, fazendo o liame
com o Princípio da Finalidade e Adequação. Como exemplo de casos de violação a
este princípio, são as situações que se solicitam cor da pele para faturar produtos ou
solicitar a sexualidade e orientação sexual como requisitos de empregabilidade,
além disso, também pode ser mencionado o caso de solicitação de todos os
telefones, até mesmo de parentes para fins de cadastro. (CARDOSO, 2020).
Não discriminação é um princípio basilar em nosso ordenamento jurídico e
representa uma luta diária na consolidação de direitos, notadamente porque existe
em nosso país uma onda de preconceito e discriminação histórica, então, não seria
diferente com a nova Lei Geral de Proteção de Dados, vez que o uso de dados não
pode ser utilizado para fins de discriminação, tais como exemplo, a situação de
realização de senso sobre candidato que participa de seletivo e é desligado em
função da informação da crença religiosa. (CARDOSO, 2020).
Princípio da Transparência é o basilar dentro da LGPD, sobretudo porque é
esta a finalidade da lei, mostrar de forma clara, acessível e transparente o que é e o
que será feito com os dados pessoais e de quem está utilizando e tratando os
referidos dados. Pode ser dito como violação, os casos onde não demonstra a
qualificação completa do agente controlador, bem como o não fornecimento
completo das informações sobre o fácil acesso dos dados e seus tratamentos.
(CARDOSO, 2020).
Segurança e Prevenção são tidas como princípios de forma complementar,
na qual os agentes de tratamento devem se valer de meios que almejem o
21
Neste tópico, será feito um estudo sobre os agentes de tratamento, que são
figurados como Controlador e Operador, e são os novos atores dentro da Lei Geral
de Proteção de Dados, que de acordo com ela, as novas figuras possuem
tratamento específico, no qual é citado, direitos e deveres, bem como o sistema de
responsabilidade.
De acordo com a Lei 13.079 de 14 de agosto de 2018, em seu artigo 5º,
incisos VI, VII e VII, tem-se a figura dos respectivos agentes.
22
2.3.7 Do Encarregado
Refira-se ainda que a arranjo de pontos jurídicas supra não é exaustiva, pelo
que não se excluem outras possibilidades, ainda que não expressamente expressas
na constituição ou diploma de lei. Além disso, percebe-se que há uma abundante
simetria entre a Lei Geral de Proteção de Dados e o Regime Geral de Proteção de
Dados (artigo 17), de modo que as diferenças geralmente se limitam a mudanças de
terminologia, no sentido mais ou menos da precisão da terminologia empregada.
Portanto, dado o caráter histórico dos direitos fundamentais, eles não se
esgotam na terceira dimensão que pode ser defendida. Assim, discutiu-se a quarta
dimensão dos direitos fundamentais, a proteção e segurança dos direitos que vêm
sendo desenvolvidos diante dos impactos e desafios trazidos pelos
desenvolvimentos tecnológicos contemporâneos.
30
3.3 Pressupostos
3.4 Classificações
Desta forma, fica claro que há um fator econômico inerente quando se fala
em atividade. Quanto ao risco, é importante observar que o direito civil brasileiro
adere à teoria da criação de risco e, diante disso, é preciso entender que certas
atividades têm o poder de criar perigo e a possibilidade de infringir os direitos de
outras. Portanto, em caso de dano, o autor assume o risco, não tem espaço para
discutir se há culpa e conceitua-se como teoria da objetividade.
Gonçalves (2021, p.19) conceitua as duas responsabilidades da seguinte
forma:
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na
ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto
necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a
responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu
com dolo ou culpa.
A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas
situações, a reparação de um dano independentemente de culpa.
Quando isto acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou
“objetiva”, porque prescinde da culpa e se satisfaz apenas com o
dano e o nexo de causalidade.
39
Partindo da lógica posta no subitem 3.2.2, tendo sido elencado que o nexo
de causalidade se trata do elemento primordial para a conduta chegar no resultado
pretendido ou não pelo agente. Por meio dele, pode-se determinar quem é o
responsável pelo dano, portanto, para fins de responsabilidade civil, é necessário
examinar, no caso concreto, a correlação entre o dano sofrido pelo titular dos dados
e a ação realizada pelo processador.
Em relação ao nexo de causalidade, cita-se como exemplo uma situação em
que uma cliente realiza a solicitação de orçamento em uma concessionária para a
compra de um automóvel e expressa o desejo de um carro de marca X, no entanto,
41
a cliente ao fazer o test drive, descobre que o carro não era o que imaginava e
assim resolve não comprar o automóvel solicitado. (DIVINO, 2020).
Alguns meses depois chegou a sua residência cobranças de parcelas do
referido carro, informando que caso não seja pago será encaminhado os dados da
cliente para os órgãos de proteção ao crédito. Logo, a cliente relembra que ao fazer
o orçamento concedeu seus dados pessoais tais como: nome, residência, CPF,
endereço eletrônico e renda para o fim de saber o preço do carro e sequer assinou
contrato de compra e venda. (DIVINO, 2020).
A cliente titular dos dados esteve ciente que sua privacidade foi violada pela
conduta adotada, e assim ajuíza ação arguindo que não houve contrato firmado
entre as partes. Assim, conforme prova documental, houve a utilização de seus
dados para finalidade diversa e sem que a autora tivesse informação adequada
violando o Código de Defesa do Consumidor e a LGPD prevista no art. 6º, I em
ambas as legislações. Tal exemplo foi um caso extraído do processo nº Processo
Nº: 0034398-48.2019.8.03.0001 do Tribunal de Justiça do Amapá em 2021.
3.5.3 Do Dano
dados pessoais; o titular dos dados. Porque nenhuma das partes precisa provar
intenção ou culpa para atribuição quando a responsabilidade for objetiva. Mais uma
vez, entendendo-se que a interpretação da lei é correta e que pela natureza das
atividades realizadas serão solidariamente responsáveis, o titular dos dados que
sofrer danos pode reclamar qualquer um deles, o operador ou o responsável pelo
tratamento, individualmente ou em conjunto. (MIRAGEM, 2021).
Em contramão ao doutrinador acima, Rizzardo (2019, p. 934) expõe que:
De forma clara o art. 43 representa uma tendência que pode ser interpretada
como determinante da responsabilidade objetiva, desde que estabeleceu
exaustivamente as circunstâncias em que a obrigação de indenizar pode ser evitada:
o agente responsável não tratou dos dados; não há violação da proteção de dados
na legislação; culpa exclusiva da pessoa ou de terceiros. Deve-se notar que em
nenhum momento a culpa do operador/controlador se torna um ponto central.
(BARROS, 2022).
Bruno Miragem (2021, p. 26) acredita que a responsabilização objetiva é
necessária pelos seguintes fatores: (i) Quanto ao tratamento de dados pessoais - é
necessário saber se o responsável tem responsabilidade de segurança pelo
tratamento, em relação a aqueles que realizam atividades a título profissional as
expectativas legítimas das pessoas em relação à sua segurança e, portanto,
assumem que possuem conhecimentos suficientes para garantir a integridade dos
dados e proteger a privacidade de seus titulares: (ii) a responsabilidade do agente
de processamento pelo manuseio indevido de dados pessoais causadores de danos
Causados - Não se deve perguntar se a falha se deu por dolo ou negligência, mas
apenas para verificar se o tratamento irregular dos dados é suficiente para
determinar a atribuição de responsabilidade.
Desta forma, compreende-se que os defensores do regime de
responsabilidade objetiva entendem que, pela sua própria natureza, o tratamento de
dados pessoais está intrinsecamente ligado a atividades de risco pela sua
capacidade de causar danos materiais/morais e violar direitos e liberdades,
privacidade e individualidade. Com base nessa premissa, os parágrafos únicos do
artigo 927 do Código Civil estabelecendo a obrigação de reparar o dano, culposo ou
não, quando o autor do dano normalmente exerce atividade que por sua natureza
constitua uma ameaça a direitos de outrem. (BRASIL, 2002).
50
ofertas dos dados pessoais e a empresa que figura como réu, era beneficiária pelos
pagamentos. (BRASIL, 2020),
Com isso, a decisão exarada pelo juízo, teve fundamentação completa de
acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados. In verbis:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
especial, com o fito de reforçar a defesa do indivíduo, bem como impor limites à
atuação do Estado. (BRASIL, 2022).
Ademais, foi trazido tópico específico sobre casos levados ao judiciário que
já se utilizaram da Lei Geral de Proteção de Dados como fato gerador para a
propositura das ações. Foi discutido casos concernentes ao Tribunal de Justiça de
São Paulo, Distrito Federal, bem como comentado um caso de conhecimento
nacional onde figurava a Cacau Show como polo passivo de uma reclamação
trabalhista onde foi arguido afronta à Lei Geral de Proteção de Dados.
Logo, foi verificado em toda sistemática dos casos trazidos, bem como de
toda discussão exarada no presente trabalho que o regime definidor da
responsabilidade civil dos agentes de tratamento de dados seria a modalidade
subjetiva, ou seja, aquela onde se deve levar em consideração um processo que
ateste a culpabilidade do ato praticado causador do dano.
59
REFERÊNCIAS
BARROS. Laura Mendes Amando de. LGPD: risco do negócio e dever de indenizar.
2022. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2022-mar-27/laura-mendes-
indenizacao-vazamento-dados. Acesso em 10 mai. 2022.
BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais. São Paulo: Forense, 2021.
DIVINO, Sthéfano Bruno Santos; LIMA, Taisa Maria Macena de. Responsabilidade
Civil na Lei Geral de Proteção de Dados Brasileira. Revista em Tempo, [S.l.], v. 20,
n. 1, nov. 2020. Disponível em:
https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/3229. Acesso em: 24 out. 2021.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 26. ed. ed. São Paulo:
Saraiva Jur, 2018. 1552 p.
SANTOS, Camila Ferrão dos; SILVA. Jeniffer Gomes da; PADRÃO, Vinicius.
Responsabilidade Civil pelo tratamento de dados pessoais na Lei Geral de Proteção
de Dados. Revista Eletrônica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de
Janeiro -PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, set./dez. 2021. Disponível em:
https://revistaeletronica.pge.rj.gov.br/index.php/pge/article/view/256/198. Acesso em:
12 mai. 2022.
SARLET, Ingo, W. et al. Estudos sobre protecao de dados pessoais. São Paulo:
Saraiva, 2022. (Coleção Direito, tecnologia, inovação e proteção de dados num
mundo em transformação).
WACKS, Raymond. Personal information: privacy and the law. Oxford: Clarendon
Press, 1989.