Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Diagrama de Fluxo Cumulativo - Paulo Caroli

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 56

Coordenação Editorial e Revisão

Juliana Cury Rodrigues

Preparação
Gabriela Müller Copyright © 2020 by Paulo Caroli
Todos os direitos desta edição
Projeto Gráfico, Diagramação e Capa
são reservados à Editora Caroli.
Vanessa Lima
Avenida Itajaí, 310 – Bairro Petrópolis
Desenvolvimento de eBook Porto Alegre, RS, Brasil – 90470-140
Loope Editora www.caroli.org/editora
www.loope.com.br contato@caroli.org

Dados Internacionais de Catálogo na Publicação (CIP)


Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Caroli, Paulo
Diagrama de Fluxo Cumulativo : uma ferramenta valiosa para melhorar o
fluxo de trabalho / Paulo Caroli. – São Paulo: Editora Caroli, 2020.

ISBN 978-65-86660-01-2

1. Administração da produção 2. Planejamento da produção 3.


Administração de projetos I. Título

20-1461 CDD 658.51

Índices para catálogo sistemático:


1. Administração da produção
AGRADECIMENTOS

E
u agradeço a todas pessoas com quem trabalhei e aprendi na minha
vida profissional. Especialmente às várias equipes de
desenvolvimento de software que participei, tenha sido como
desenvolvedor, testador, gestor ou como agile coach.
Ao longo da minha carreira, fui responsável pela gestão de vários projetos.
Os anos de gestão, somados aos de experiência sob diferentes óticas — dados
pelos distintos papéis que assumi durante minha trajetória —, me ajudaram a
evoluir e esclarecer muitos conceitos. Dentre eles, o que compartilho nesta
obra.
Quando comecei a ser gestor, eu costumava gerenciar, conduzir e orientar
as pessoas sobre o trabalho a ser feito.
Alguns anos se passaram e eu mudei. Percebi que deveria gerenciar o
trabalho, e não as pessoas.
Meu foco principal como gestor passou a ser os itens de trabalho. Eu
ficava atento a cada um deles. Em relação às pessoas, eu tentava ajudá-las
com capacitação e autonomia para realizarem o trabalho.
Mais anos se passaram e eu mudei de novo. Cheguei à conclusão de que
não deveria gerenciar as pessoas ou os itens de trabalho. Mas, sim, o fluxo do
trabalho!
Não se engane: o foco principal são as pessoas, sempre! Pessoas sempre
em primeiro lugar. Devemos entender suas necessidades e expectativas,
devemos ajudá-las a colaborar para realizar um ótimo trabalho e para
maximizar a eficiência do fluxo de trabalho.
Porém, independente de onde estava o foco principal, eu senti muita
necessidade de entender e melhorar esse fluxo de trabalho.
Imagine você olhando uma foto da sua equipe na festa de comemoração do
produto entregue. Você logo se olha na foto, depois os seus colegas. Primeiro
como estava a sua aparência e suas roupas. Depois, as pessoas ao seu redor.
Agora, imagine um fotógrafo profissional quando tira uma foto. Ele olha as
pessoas, mas presta muita atenção no enquadramento, no plano de fundo, em
todo o resto.
Assim como um plano de fundo, como algo que precisa de olhos atentos e
analíticos, é o fluxo de trabalho, a sincronização entre processo, produto e
pessoas. Esse plano de fundo faz a diferença entre uma foto boa e uma foto
maravilhosa.
Então, foque principalmente as pessoas, mas preste atenção em tudo que
acontece ao redor delas, como o fluxo de trabalho!
Boa leitura!
SUMÁRIO

PREFÁCIO
UMA FERRAMENTA VALIOSA
INTERPRETANDO O CFD
Itens de trabalho
A FAZER / FAZENDO / FEITO
QUANDO ESTARÁ PRONTO?
A regra de três
MUDANÇA NO ESCOPO
TRABALHO EM ANDAMENTO (WIP)
TEMPO DE ATRAVESSAMENTO (LEAD TIME)
TAXA DE TRANSFERÊNCIA (THROUGHPUT)
LEI DE LITTLE
Vamos para as contas
Então, como funciona isso?
TEMPO DE CICLO (CYCLE TIME)
Tempo de Ciclo e Taxa de Transferência
ESTABILIZANDO O SISTEMA
Sistema Puxado
Sistema Estável
ESTABILIDADE NO SISTEMA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Onde encontrar mais

SOBRE A EDITORA CAROLI


SOBRE O AUTOR
DEIXE A SUA AVALIAÇÃO
PREFÁCIO

Q
ue honra escrever o prefácio de um livro do Paulo Caroli,
profissional e pessoa que admiro muito e tenho o privilégio de ter
contato constantemente. Quero, primeiramente, agradecer a
confiança do Caroli, espero contribuir à altura! Escrever o prefácio de um
livro sobre Diagrama de Fluxo Cumulativo é também uma estima para mim.
Considero-o uma ferramenta simples, mas muito poderosa! Infelizmente,
ainda é pouco utilizada pelos profissionais de desenvolvimento de produtos
de software.
A primeira vez que vi um CFD foi no curso Zen of Agile Management,
com o David Anderson, no ano de 2009, em Recife. Sim, acredite, o David
Anderson em pessoa esteve em Recife nos dias 29 e 30 de janeiro de 2009 no
programa Recife Summer School, e eu caí de paraquedas no curso dele. Eu
nunca tinha ouvido falar dele e o nome do curso era uma incógnita. Mas,
naquela época, eu trabalhava como analista de negócios no CESAR – Centro
de Estudos e Sistemas Avançados do Recife – e alguns colaboradores foram
convidados a participar do curso. Como sempre fui faminta por
conhecimento, confirmei minha presença!
Foram dois dias muito intensos, de foco total para conseguir entender todo
o conteúdo que o David trouxe, incluindo o diagrama. Para ter uma ideia do
conteúdo, você pode acessar o meu LinkedIn (www.linkedin.com/in/deapinto
/) e ver a recomendação que ele deixou lá para mim em 2009. Saí do curso
pensando: “Eu sabia que desenvolvimento de software poderia ser gerenciado
de uma maneira diferente, mas não sabia como e, agora, eu sei!” A minha
cabeça ficou a mil na época, estava muito entusiasmada e coloquei em prática
tudo o que eu aprendi em todas as oportunidades que tive.
Aprender a utilizar o CFD foi um dos desafios que eu tive na época.
Demorou para eu entender o poder do diagrama. Primeiro, precisei entender
como elaborar um; eu sempre fiz isso de maneira manual, como o Caroli
sugere fazermos neste livro, e reforço a sugestão dele. Depois, precisei ter
disciplina para coletar os dados do fluxo de trabalho periodicamente por um
período de tempo considerável para, então, começar a perceber o
comportamento do fluxo no decorrer do tempo. E o terceiro passo foi, a partir
do entendimento do comportamento do fluxo através do CFD, propor
melhorias nele e começar a fazer previsões de entrega dos itens de trabalho
de maneira empírica.
Este livro ensina de uma maneira fácil como elaborar e interpretar um CFD
no decorrer de um período de tempo. O Caroli, mais uma vez, nos mostra que
é possível abordar um assunto novo de maneira lúdica. Esta obra é uma
excelente introdução para o assunto. Se você seguir o passo a passo que o
autor descreve, vai entender muito rapidamente como pode utilizar o CFD em
fluxos de trabalho simples e, então, vai poder utilizá-lo em contextos mais
complexos. Além de aprender como criar um diagrama, você também vai
entender como interpretá-lo, seguindo um caminho bem mais rápido do que o
meu em 2009, quando praticamente não existia literatura sobre o assunto.
Por fim, utilizar um bar com garrafas de whisky como exemplo para
explicar conceitos como Sistema Estável, Taxa de Transferência e Tempo de
Atravessamento só poderia vir de uma mente focada em pensar sobre como
abordar um assunto de forma que também divirta o aprendiz. Aproveite!
Andrea Pinto, agile coach na Accenture | Solutions IQ
Uma ferramenta valiosa

O
Diagrama de Fluxo Cumulativo é uma ferramenta valiosa de
gerenciamento para:

1. rastrear e prever a realização de itens do trabalho;


2. indicar a necessidade de agir sobre o fluxo e o processo de
melhoria.

O Diagrama de Fluxo Cumulativo (ou, em inglês, Cumulative Flow


Diagram, abreviado para CFD) fornece uma representação gráfica do
andamento do trabalho no sistema, esclarecendo gargalos e alertando sobre
possíveis instabilidades nele. É uma ferramenta simples, porém muito
informativa, que descreve o trabalho em andamento (WIP – Work in
Progress, em inglês), a taxa de entrada, taxa de saída, Tempo de
Atravessamento, Taxa de Transferência, o tempo decorrido, trabalho
completo, trabalho restante e escopo total do trabalho.
A seguir, uma sequência que mostra CFDs nas primeiras dez semanas de
um projeto.
CFD NA SEMANA 2

CFD NA SEMANA 5
CFD NA SEMANA 7

CFD NA SEMANA 10
INTERPRETANDO O CFD

A
baixo está um CFD com muitos de seus parâmetros. Cada um deles
será explicado em detalhes nas próximas páginas.

PARÂMETROS DE FLUXO EM UM DIAGRAMA DE FLUXO CUMULATIVO

Antes de tudo, você deve entender como o CFD é construído. O CFD


apresentado foi baseado em uma tabela atualizada semanalmente. Na próxima
página temos um exemplo dela que corresponde ao CFD acima.
tempo escopo WIP pronto

semana 1 20 0 0

semana 2 18 2 0

semana 3 17 3 0

semana 4 15 3 2
semana 5 14 4 2

semana 6 14 3 3

semana 7 14 2 4

semana 8 12 2 5

semana 9 11 2 5

semana 10 10 2 6

Essa tabela descreve o fluxo de trabalho do sistema como:


escopo → WIP → pronto; ou, em outras palavras,
a fazer → fazendo → feito.

Muitas ferramentas constroem o CFD automaticamente para você,


poupando o trabalho manual para a criação do mesmo. Entretanto, para seu
aprendizado, recomendo que construa um CFD simulando o que acontece em
um projeto real.
O CFD apresentado neste artigo foi gerado pelo Excel. Você pode fazer o
download deste modelo em www.caroli.org/livro/diagrama-de-fluxo-cumul
ativo.
ITENS DE TRABALHO
O número em cada célula da tabela exibida representa a quantidade de itens
de trabalho naquela etapa para tal semana. É importante esclarecer que o item
de trabalho é uma unidade que faz sentido para quem vai ler o CFD.
Exemplos comuns deles na área de desenvolvimento de software são:
funcionalidades, pontos de função, histórias, pontos de histórias, bugs, tarefas
etc.
Outra consideração essencial é que não se misture diferentes itens de
trabalho em um mesmo CFD. Ou seja, um CFD de funcionalidades deve
conter somente elas, enquanto que um CFD de pontos de histórias deve
conter somente esse tipo de item.
A FAZER / FAZENDO / FEITO

A
pesar de os CFDs poderem e serem comumente usados para fluxos
de trabalho com muitas fases, recomendo começar com um simples
fluxo “a fazer / fazendo / feito” para entender completamente o
CFD. Depois, quando já tiver dominado e sentir a necessidade de mais dados,
considere dividir a etapa “fazendo” em um fluxo de trabalho mais detalhado.
A quantidade de trabalho em relação aos itens “a fazer / fazendo /
feito” é descrita no CFD na imagem abaixo.

A FAZER / FAZENDO / FEITO NO CFD


QUANDO ESTARÁ PRONTO?

Q
uando todo o trabalho estará pronto? Essa é a pergunta mágica que
todo mundo tenta responder. Ao usar o CFD, há duas maneiras
simples de responder a essa questão: graficamente ou
matematicamente.

Neste momento específico (representado pela seta azul na semana 6), você
sabe a quantidade de trabalho que está pronto e o tempo decorrido. Com
esses dois parâmetros, pode desenhar a linha da taxa de conclusão. Você tem
que responder a questão estendendo a linha da taxa de conclusão até que ela
alcance o total da linha do escopo de trabalho.
Apesar de ser possível fazer isso graficamente, prefiro fazer
matematicamente, utilizando a regra de três.
A REGRA DE TRÊS
"A regra de três, na matemática, é uma forma de se descobrir uma quantidade
que tenha para outra já conhecida a mesma relação que têm entre si entre
outros dois valores numéricos conhecidos."1

1 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Regra_de_tr%C3%AAs>. Acesso em: fev.


2020.
MUDANÇA NO ESCOPO

A
linha do escopo é a linha horizontal que computa o total de itens de
trabalho. Essa linha é claramente definida e deve mudar apenas
quando itens de trabalho são adicionados ou removidos do escopo
de trabalho.
O escopo total do CFD deve computar todos os itens de trabalho do
sistema, estejam eles prontos, em andamento ou ainda a fazer. Se um novo
item surge, ele deve ser adicionado no escopo de trabalho total e a linha total
deve ser ajustada. Dessa forma, a nova linha torna fácil identificar quando um
trabalho é adicionado.
A linha de escopo também monitora quando itens de trabalho são
removidos. Esse cenário é ilustrado na figura a seguir.
O ESCOPO FOI REDUZIDO
TRABALHO EM ANDAMENTO
(WIP)

O
trabalho em andamento (WIP) é o número de itens de trabalho
atualmente em andamento. Por exemplo, o cenário da figura abaixo
tem um Kanban com WIP de um: três itens de trabalho estão na
fase “a fazer”, um está sendo trabalhado (WIP) e quatro itens já estão feitos.

QUADRO KANBAN: A FAZER / FAZENDO / FEITO

No CFD, o WIP em um momento é a altura da linha vertical para a área


WIP em um dado momento. A próxima figura representa o WIP na semana 5.
WIP NO CFD
TEMPO DE ATRAVESSAMENTO
(LEAD TIME)

O
Tempo de Atravessamento (Lead Time, em inglês) é
o tempo entre o item de trabalho ser adicionado no sistema (fase
“fazendo”) e ele sair do sistema (trabalho completado, a fase
“feito”).
Para o quadro Kanban — “a fazer/fazendo/feito” apresentado
anteriormente —, o Tempo de Atravessamento é o tempo que leva para
completar o item de trabalho, ou seja, o tempo do item na etapa “fazendo”.
Como acontece frequentemente, mais de um item estará em andamento na
fase “fazendo”. Por esta razão, normalmente a questão a ser respondida é: em
média, quanto tempo leva para concluir um item de trabalho? A resposta para
essa pergunta é descrita no CFD.
A imagem seguinte mostra uma linha horizontal representando o Tempo de
Atravessamento: quanto tempo leva para um item de trabalho passar pelo
sistema? Ou, em outras palavras, quanto tempo leva para um item de trabalho
ir da fase “fazendo” para a fase “feito” (da área verde para a azul escuro no
CFD)?
TEMPO DE ATRAVESSAMENTO NO CFD
TAXA DE TRANSFERÊNCIA
(THROUGHPUT)

A
Taxa de Transferência (Throughput, em inglês) é a vazão, ou
quantidade por tempo — itens/Δt —, dos itens de trabalho passando
pelo sistema.
No CFD, a Taxa de Transferência é descrita pelo ângulo da linha dos itens
de trabalho concluídos (a linha entre as áreas cinza e azul escura). Abaixo,
duas imagens com duas marcas no CFD, comparando dois momentos
distintos: o segundo tem uma Taxa de Transferência menor.

TAXA DE TRANSFERÊNCIA NO CFD NO MOMENTO 1


TAXA DE TRANSFERÊNCIA NO CFD NO MOMENTO 2
LEI DE LITTLE

Lei de Little: O número médio de itens de trabalho em um


sistema estável é igual à sua taxa de conclusão multiplicada
pelo tempo médio no sistema.
(John Little, 1961)

O
texto acima é de A proof for the Queuing Formula2, de John Little
(1961) e é conhecido como a Lei de Little.
John Little estudou e provou a relação entre o WIP e o Tempo de
Atravessamento. Como se vê, é uma simples equação de primeiro grau. Ao
resolvê-la, é possível encontrar o tempo médio para os itens de trabalho em
seu sistema.
Meu bar de whisky mostra um bom exemplo de sistema estável para
ilustrar como se pode aplicar a Lei de Little para entender e monitorar o WIP,
a Taxa de Transferência e o Tempo de Atravessamento.
Eu e minha esposa temos um acordo: o lado direito do bar é meu e o lado
esquerdo é dela. Eu só bebo whisky. No meu lado do bar, cabem doze
garrafas de whisky. Sempre que uma acaba, eu a removo do bar. Então, abro
uma nova e a adiciono a ele. Meu bar é um sistema estável: a taxa de entrada
das garrafas é igual à taxa de saída delas.
O número de garrafas de whisky no meu bar é constante: doze garrafas.
Por ano, eu termino, em média, seis garrafas de whisky. Então, qual é o
tempo médio que uma garrafa de whisky permanece no meu bar?
VAMOS PARA AS CONTAS
WIP = T x L, ou seja, o número médio de itens de trabalho em um sistema
estável (WIP) é igual à taxa média de conclusão (T) x tempo médio no
sistema (L).
Doze garrafas = seis garrafas/ano x L.
Dessa forma, provamos que o tempo médio que uma garrafa fica no bar é
de dois anos.
É contraintuitivo: você viu a fórmula e teve a resposta! Mas você
provavelmente tinha em mente que o resultado era dois meses – meses, não
anos! Essa é uma confusão comum. Quando lê que uma média de seis
garrafas são terminadas por ano, você deve ter feito um simples cálculo: seis
garrafas por ano é igual a uma garrafa a cada dois meses. Seriam dois meses
para uma dada garrafa se no bar coubesse apenas uma garrafa.
Pense: o consumo de whisky não é apenas de uma garrafa, todas estão
abertas e sendo consumidas. Se apenas um copo é servido, uma garrafa tem
seu conteúdo diminuído, enquanto as outras onze não se movem. Porém, o
bar tem doze garrafas abertas.
ENTÃO, COMO FUNCIONA ISSO?
Ter menos garrafas no bar significa que cada garrafa terminará mais rápido.
Como descrito, por ano, seis garrafas são esvaziadas. No entanto, o bar
comporta doze garrafas, isso certamente afeta o tempo médio de espera.
Por um momento, esqueça da Lei de Little. Vou contar outro episódio.
Whisky é bom para o coração. Por esta razão, eu bebo uma pequena
quantidade todo dia. Para essa comparação, considere que o meu hábito de
beber é bem constante.
No último verão, fui para uma casa de praia, onde passei dois meses. Levei
algumas roupas, meu laptop para trabalhar remotamente e escrever sobre este
tópico, e uma garrafa de whisky. Como o carro estava cheio, eu não ia levar
todo o bar – escolhi uma garrafa lacrada e a levei comigo. Na mosca! Aquela
garrafa estava vazia em exatos dois meses. Então, o que aconteceu?
É simples, e John Little provou isso muito bem. O WIP, ou trabalho em
andamento, na casa de praia era de apenas uma garrafa. A Taxa de
Transferência era a mesma: seis garrafas por ano. Mais uma vez, em uma
conta simples:
WIP = T x L ou, em outras palavras, número médio de itens de trabalho em
um sistema estável (WIP) é igual à taxa média de conclusão (T) x tempo
médio no sistema (L).
Usando os termos do bar de whisky:
WIP = uma garrafa
T = seis garrafas/ano
L=?
Uma garrafa = seis garrafas/ano x L

Dessa forma, o tempo médio que uma garrafa fica no bar é de dois meses
(1/6 de um ano).
WIP = T x L: o Tempo de Atravessamento médio é diretamente
proporcional ao WIP, e esta relação é a Taxa de Transferência. Como
provado no exemplo do bar de whisky, menos WIP significa entrega mais
rápida de itens de trabalho (garrafas de whisky).
Ok, eu tenho certeza que você já está cansado de matemática nesse
momento. O CFD mostra a mesma coisa. A próxima figura mostra o CFD
tanto com a representação do WIP como com a do Tempo de Atravessamento
em dois diferentes momentos. Nela, você verá a questão principal da Lei de
Little: WIP menor representa Tempo de Atravessamento mais curto.

LEI DE LITTLE NO CFD


O CFD apresentado foi tirado de um projeto real, provando o ponto
explicado até aqui: uma vez que o WIP foi reduzido, o Tempo de
Atravessamento médio também o foi.

2 Little, J. D. C. A Proof for the Queuing Formula: L= λW (1961). Disponível em: <https:/
/www.jstor.org/stable/167570>. Acesso em: abr. 2020.
TEMPO DE CICLO
(CYCLE TIME)

O
Tempo de Ciclo (Cycle Time, em inglês) é a frequência, ou
intervalo de tempo, de término do item de trabalho. No exemplo do
meu bar de whisky, considere que a cada dois meses eu termino
uma garrafa. Nesse caso, o Tempo de Ciclo é de dois meses por garrafa.
TEMPO DE CICLO E TAXA DE TRANSFERÊNCIA
No CFD, o Tempo de Ciclo, similar à Taxa de Transferência, é descrito pelo
ângulo da linha dos itens de trabalho concluídos (a linha entre as áreas azul
escura e cinza). Abaixo, as mesmas duas imagens utilizadas no capítulo Taxa
de Transferência, comparando dois momentos distintos; já o segundo com
Tempo de Ciclo maior.

TEMPO DE CICLO NO CFD NO MOMENTO 1


TEMPO DE CICLO NO CFD NO MOMENTO 2

Tipicamente a Taxa de Transferência é descrita em quantidade de itens por


unidade de tempo (no exemplo do meu bar, seis garrafas por ano). Já o
Tempo de Ciclo é descrito em termos de tempo por item (no mesmo
exemplo, dois meses por garrafa). O Tempo de Ciclo e a Taxa de
Transferência são parâmetros de fluxo recíprocos, equivalentes e inversos.
Novamente, eu vou utilizar o meu bar e a Lei de Little para demonstrar,
matematicamente, a afirmação.
No capítulo anterior eu apresentei a fórmula da Lei de Little em termos de
WIP, Taxa de Transferência e Tempo de Atravessamento, como segue:

WIP = Taxa de Transferência x Tempo de Atravessamento

Abaixo está uma fórmula da Lei de Little com o parâmetro Tempo de


Ciclo, ao invés de Taxa de Transferência:
WIP x Tempo de Ciclo = Tempo de Atravessamento

Ambas as fórmulas têm os parâmetros WIP e Tempo de Atravessamento.


A diferença, na segunda, é o parâmetro Tempo de Ciclo em vez da Taxa de
Transferência, posicionado no lado oposto da equação, demonstrando que o
Tempo de Ciclo e a Taxa de Transferência são recíprocos.
De volta ao exemplo anterior, vamos considerar um cenário mais simples:
um bar com apenas uma garrafa (WIP = 1); eu termino uma garrafa em dois
meses (Tempo de Atravessamento = dois meses).

Calculando a Taxa de Transferência:

WIP = Taxa de Transferência x Tempo de Atravessamento


Taxa de Transferência = WIP / Tempo de Atravessamento
Taxa de Transferência = uma garrafa / dois meses
A Taxa de Transferência é uma garrafa em dois meses.

Calculando o Tempo de Ciclo:

WIP x Tempo de Ciclo = Tempo de Atravessamento


Tempo de Ciclo = Tempo de Atravessamento / WIP
Tempo de Ciclo = dois meses / uma garrafa
O Tempo de Ciclo é de dois meses por garrafa.

Logo, com os mesmos valores dos parâmetros WIP e Tempo de


Atravessamento, temos os seguintes resultados:

O Tempo de Ciclo é de dois meses por garrafa.


A Taxa de Transferência é uma garrafa em dois meses.

Esses resultados são equivalentes, ou seja:

Dois meses por garrafa ↔ uma garrafa em dois meses


Tempo de Ciclo = 1 / Taxa de Transferência

O resultado obtido também demonstra que a medida de Taxa de


Transferência é o inverso da medida do Tempo de Ciclo. A medida de Taxa
de Transferência é de itens de trabalho por
período de tempo, enquanto que a medida de Tempo de Ciclo é intervalo de
tempo por item de trabalho.
ESTABILIZANDO O SISTEMA

Sempre que uma garrafa termina, ela é removida do bar.


Então, uma nova é aberta e colocada no bar.

E
sta frase descreve como as garrafas de whisky são removidas e
adicionadas ao bar. Nela, encontramos dois conceitos de sistema
importantes: Sistema Puxado e Sistema Estável.
SISTEMA PUXADO
O Sistema Puxado descreve o movimento de itens de trabalho guiados pela
demanda. No exemplo do bar, uma garrafa terminada abre uma vaga. Assim,
cria uma demanda para uma nova garrafa ser aberta e colocada no bar.
Essencialmente, o movimento dos itens de trabalho é guiado pela demanda
vigente: uma garrafa é removida do bar, abrindo espaço para uma nova que
será prontamente adicionada, ocupando o espaço vazio.

SISTEMA PUXADO

A manufatura lean descreve o Sistema Puxado em relação a um produto,


que é puxado pelo sistema em vez de empurrado por ele. Um exemplo de um
Sistema Empurrado seria adicionar garrafas ao bar sem que nenhuma garrafa
tenha sido removida dele. Basicamente, novas garrafas seriam adicionadas
sem qualquer demanda (espaço no bar) ter sido criada.
SISTEMA EMPURRADO

Nos anos 80, a Ford Motors e a Toyota eram grandes exemplos de


Sistemas Empurrados e Sistemas Puxados, respectivamente. Seguindo
um Sistema Empurrado, a Ford produzia grandes quantidades de carros
que ficavam nos pátios das fábricas e lojas esperando pelos clientes.
Por outro lado, a Toyota focava na manufatura rápida de um carro
customizado a cada nova demanda, assim que um cliente fazia uma
nova compra, seguindo, portanto, um Sistema Puxado.
SISTEMA ESTÁVEL
John Little formulou a Lei de Little de maneira simples e direta. Dessa forma,
ele alcançou um resultado notável que permitiu muitas melhorias nas teorias
e ferramentas de sistemas, fluxos e filas. Porém, em sua declaração, há um
ponto muito importante: "em um sistema estável”. Por isso, ele definiu em
sua pesquisa e em seus trabalhos sobre medições e melhorias de processos
como é um sistema estável.

Um sistema estável é um sistema no qual a taxa de entrada se


iguala à taxa de saída .

O bar de whisky é um sistema estável: a taxa de entrada de garrafas no bar


é a taxa de saída das mesmas. Simples assim!
ESTABILIDADE NO SISTEMA

O
CFD é seu melhor aliado para estabilizar o sistema. Nele, você
pode claramente visualizar as taxas de entrada e saída. As próximas
três imagens retratam: 1) a taxa de entrada, isto é, a taxa na qual os
itens estão sendo adicionados ao sistema; 2) a taxa de saída ou a taxa na qual
os itens estão saindo do sistema; e 3) um sistema estável, em que a taxa de
entrada se iguala à taxa de saída.

TAXA DE ENTRADA NO CFD


TAXA DE SAÍDA NO CFD

SISTEMA ESTÁVEL NO CFD

Enquanto as taxas de entrada e saída não forem iguais, o sistema estará


instável. As próximas duas imagens mostram dois momentos em que isso
ocorre. No primeiro, a taxa de entrada está maior do que a taxa de saída,
fazendo com que o WIP aumente e o sistema fique em risco de sobrecarga.
Na segunda imagem, a taxa de saída é maior do que a de entrada, fazendo
com que o WIP diminua e o sistema fique em risco de ficar sem itens de
trabalho.

SISTEMA INSTÁVEL: SOBRECARGA


SISTEMA INSTÁVEL: REDUÇÃO DE ITENS DE TRABALHO

Nestes CFDs, você pode, mais uma vez, perceber a Lei de Little: reduzir o
WIP reduz o Tempo de Atravessamento. Note que o modelo do CFD tem
dados de um projeto real.
Períodos instáveis acontecem. Dessa forma, o ponto principal é que o CFD
é uma ferramenta para perceber e agir sobre a instabilidade. As duas figuras
seguintes demonstram o projeto-modelo. Ele começou estável, passou por um
momento de instabilidade, no qual o time agiu sobre ele, e, então, seguiu para
outro período estável.

PERÍODOS ESTÁVEIS NO CFD


PERÍODO INSTÁVEL NO CFD
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O
CFD é uma ferramenta simples e muito valiosa. Nele você
consegue enxergar vários parâmetros do fluxo de trabalho, a partir
dos quais é possível melhorar a eficiência do seu processo.
Entretanto, às vezes, chegar ao simples pode ser complicado. Pelo menos
foi para mim: levei bastante tempo (e muitas garrafas de whisky) para
elaborar este conteúdo.
Espero que você tenha devorado este livro em poucas horas e que o
mantenha por perto para consultar quando necessário.
CFD é uma dentre várias outras ferramentas que podem te ajudar na busca
pela eficiência e pela melhoria contínua. Assim, para ser coeso e sucinto,
decidi compartilhar neste livro somente este assunto.
Outra escolha: decidi compartilhar um CFD para um processo simples (a
fazer / fazendo / feito). A minha expectativa é que, após compreender o CFD
de um processo simples, você estará melhor equipado para decidir se e
quando usar o diagrama para fluxos e processos mais complicados (por
exemplo, com várias etapas).
ONDE ENCONTRAR MAIS
Quer encontrar mais sobre o assunto que tratamos aqui?
No site do livro você encontra a planilha de exemplo dele e também os
links para outros materiais relacionados ao assunto.
Acesse em:
www.caroli.org/livro/diagrama-de-fluxo-cumulativo

A melhor forma de aprender é criando um diagrama para um projeto real.


Um dos treinamentos da Caroli.org tem um jogo que simula o fluxo de
trabalho das tarefas necessárias para criar as funcionalidades de um produto
digital. Nesse treinamento, os participantes criam um Diagrama de Fluxo
Cumulativo e conversam sobre assunto relacionado a melhorias do fluxo de
trabalho.
Confira mais em: www.caroli.org/treinamentos
SOBRE A EDITORA CAROLI

Para leitores e autores que buscam e compartilham conhecimento de forma


ágil, a Editora Caroli é uma editora-butique – todos os livros são escritos,
lidos, editados e/ou revisados por Paulo Caroli, que auxilia na produção,
divulgação e distribuição de livros e e-books. Diferentemente das editoras
tradicionais, a Editora Caroli dá acesso ao conhecimento na sua essência,
disponibilizando o texto das novas obras via e-books gratuitos, além de
apoiar eventos e entidades de ensino, presenteando-os com livros impressos.
Em www.caroli.org você encontra este e outros conteúdos de qualidade.
Aproveite, pois os livros e e-books em WIP estão disponíveis gratuitamente.
WIP (WRITING IN PROGRESS)
A Editora Caroli apresenta uma nova proposta de trabalho, aproximando os
autores dos seus leitores desde o início da geração do conteúdo. Por que
esperar o autor terminar de escrever para saber se o conteúdo é bom? No
mundo atual, isso não faz mais sentido. Por isso, a Editora Caroli promove o
compartilhamento (gratuito sempre que possível) do WIP por meio dos
formatos e-book (pdf, mobi e epub). Dessa forma, leitores têm acesso rápido
a novas ideias e podem fazer parte da evolução da obra. Para os autores, é
uma forma efetiva de feedback e motivação para a geração do conteúdo.
SOBRE O AUTOR

© Openspace

PAULO CAROLI é apaixonado por inovação, empreendedorismo e


produtos digitais. Ele é engenheiro de software, autor, palestrante e um
excelente facilitador.
Consultor principal da Thoughtworks e cofundador da AgileBrazil, Paulo
possui mais de vinte anos de experiência em desenvolvimento de software,
trabalhando em diversas corporações no Brasil, na Índia, nos Estados Unidos
e em outros países da América Latina e da Europa. Em 2000, ele descobriu o
Extreme Programming e, desde então, concentrou sua experiência em
processos e práticas da Agile & Lean. Ele ingressou na ThoughtWorks em
2006 e ocupou os cargos de Agile Coach, Trainer, Project e Delivery
Manager. Ele é bacharel em informática e mestre em Engenharia de
Software, ambos pela PUC-Rio.
Acompanhe o autor em:
www.caroli.org
paulocaroli

paulocaroli

Paulo.Caroli
DEIXE A SUA AVALIAÇÃO

Se você você chegou aqui, é porque acabou de ler o livro. Parabéns! Muito
obrigado por compartilhar e por ler o conteúdo que desenvolvi aqui.
Autores vivem e morrem pelas avaliações que recebem dos leitores. Então,
se você gostou deste livro, ficarei extremamente feliz em receber uma
avaliação 5 estrelas pela sua leitura!
Caso você tenha alguma crítica, por favor envie um e-mail para paulo@ca
roli.org e me diga o que melhorar. O maior benefício do e-book é a
facilidade com que consigo adicionar conteúdo e corrigir eventuais erros para
que a sua experiência de leitura seja cada vez melhor.

Muito obrigado!

Você também pode gostar