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Gir Assol

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Simpósio Sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas (2001 – Maringá) Anais do Simpósio Sobre

Produção e Utilização de Forragens Conservadas / Editores Clóves Cabreira Jobim, Ulysses Cecato, Júlio César
Damasceno e Geraldo Tadeu dos Santos. – Maringá : UEM/CCA/DZO, 2001. 319P.
Evangelista, A. R. & Lima, J. A. Utilização de silagem de girassol na alimentação animal. P. 177-217.

UTILIZAÇÃO DE SILAGEM DE GIRASSOL NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

Antônio Ricardo Evangelista1


Josiane Aparecida de Lima2

INTRODUÇÃO

Um dos problemas da pecuária no Brasil é a sazonalidade de produção de forrageiras ao


longo do ano, levando a períodos de grande produção, seguidos de escassez. Assim, para evitar a falta
de alimento volumoso na época seca, são propostos métodos de conservação, sendo a ensilagem o
mais utilizado.
Para produção de silagem, pode-se utilizar uma grande variedade de gramíneas e
leguminosas. Entre a gramíneas, o milho geralmente produz silagem bem preservada, devido aos
elevados teores de matéria seca e de carboidratos solúveis e à baixa capacidade tamponante. Embora
seja considerada silagem-padrão, sua produção e qualidade são incertas por serem muito influenciadas
pela disponibilidade hídrica. Quanto ao sorgo, geralmente apresenta produções mais elevadas que o
milho, principalmente em regiões onde freqüentemente ocorrem deficiências hídricas. Embora o sorgo
seja uma opção para essa situação, são necessárias outras opções de forrageiras que completem o ciclo,
exigindo menores precipitações e, dentre as forrageiras com maior tolerância ao estresse hídrico, o
girassol se apresenta bastante apto a esse tipo de situação.
O girassol é caracterizado por apresentar maior resistência ao frio e ao calor que a maioria
das culturas, além de apresentar ampla adaptabilidade às diferentes condições edafoclimáticas. Sua
capacidade de extrair água disponível na camada de zero a dois metros de profundidade foi estimada
em aproximadamente 92%, contra 64% do sorgo (Bremner et al., 1986), sendo capaz de tolerar
períodos secos e produzir grande quantidade de matéria seca (Sheaffer et al., 1977). Graças a essas
características, o girassol se destaca como nova opção nos sistemas de rotação e sucessão de culturas
(Castro et al., 1993). Assim, o uso do girassol na alimentação animal sob a forma de silagem tem
surgido como boa alternativa para o Brasil devido aos períodos de déficit hídrico, que impossibilitam a
produção de alimentos volumosos de boa qualidade e, conseqüentemente, a manutenção da produção
animal todo o ano. Entretanto, pouco se conhece sobre o seu potencial forrageiro e o valor nutritivo de
sua silagem, mas em 1975, Tosi et al. já mencionavam: "alguns criadores, percebendo o potencial de
produção do girassol em nossas condições, anteciparam-se aos órgãos oficiais de pesquisa e estão
produzindo e utilizando silagem de girassol, sem contudo, terem conhecimento de seu valor nutritivo".
Objetivou-se, com essa revisão, traçar um perfil do comportamento do girassol
armazenado na forma de silagem e evidenciar o seu potencial para utilização na alimentação animal,
visando, assim, a sua utilização com segurança e eficiência na sustentabilidade do sistema de
produção.
1
Prof. Titular do Departamento de Zootecnia /UFLA - Lavras-MG. E-mail: aricardo@ufla.br
2
Pesquisadora UFLA/FAPEMIG - Lavras-MG. E-mail: jlima@ufla.br

1
Algumas características do girassol

‹ Origem: Continente norte-americano


‹ Dicotiledônea anual
‹Ordem Synandrales
‹Família Compositae
‹Gênero Helianthus
‹Espécie Helianthus annuus

O girassol apresenta sistema radicular com raiz principal pivotante (Castiglioni et al.,
1994), mas baixa capacidade de penetração; contudo, na ausência de obstáculos, pode explorar o solo
em profundidades superiores a um metro, conferindo-lhe maior reciclagem de nutrientes (Castro et al.,
1996) e maior resistência à seca e ao tombamento (Kakida et al., 1981). A inflorescência é do tipo
capítulo (Castiglioni et al., 1994), com diâmetro de 6 a 50 cm, que contém de 100 a 8.000 flores
(Frank e Szabo, 1989 citados por Castiglioni et al., 1994). A inflorescência pode ter formação plana,
convexa ou côncava, com flores que desenvolvem do exterior para o interior do capítulo e dão origem
aos frutos (Castro et al., 1996).
As sementes são do tipo aquênio, constituído pelo pericarpo (casca) e pela semente
propriamente dita (amêndoas), de tamanho, cor e teor de óleo variáveis (30 a 48% de óleo)
dependendo do cultivar (Kakida et al., 1981), e o número mais freqüente de aquênios pode oscilar de
800 a 1.700, por capítulo (Castro et al., 1996 b).
O caule é robusto, ereto, provido ou não de pêlos e geralmente sem ramificações, e as
folhas são alternadas, pecioladas com grande variação de número (8 a 70), forma e tamanho (Frank e
Szabo, 1989 citados por Castiglioni et al., 1994).
Essa espécie apresenta polinização cruzada feita basicamente por entomofilia, por ação
principalmente de abelhas e, em menor escala, por outros insetos (Kakida et al., 1981). Conforme
Castro et al. (1996 b), atualmente alguns cultivares têm alto grau de autocompatibilidade,
reproduzindo-se mesmo na ausência de insetos.
A duração do ciclo de produção do girassol para ensilagem varia de 90 a 130 dias para os
cultivares precoces e tardios, respectivamente.

Rendimento da cultura

Tanto os cultivares de girassol desenvolvidos para a produção de óleo, quanto os cultivares


com sementes não oleosas, chamados de "confectinary varieties" são utilizados para produção de
silagem, sendo observado por Sheaffer et al. (1977), maior produção de matéria seca (Tabela 1) e,
geralmente, mais baixa qualidade da forragem oriunda de materiais com sementes não oleosas.

TABELA 1. Produtividade de alguns cultivares de girassol


Cultivar Produtividade (t.MS/ha)
Oleoso
Peredovic 6,70
Não oleoso
Iosanka 5,94
Mingren 6,64

2
Greystriep 8,29
Adaptado: Sheaffer (1977).

Segundo Tosi et al. (1975), as produções estimadas de matéria seca dessa espécie variam
de 4,43 a 5,88 t./ha. Esses autores consideram essa uma baixa produção e a atribuem aos baixos teores
de matéria seca da forragem (15 a 23%). Por outro lado, Câmara et al. (1999) observaram produções
do girassol no período da 'safrinha' oscilando entre 12 a 48 t./ha de matéria natural ou,
aproximadamente, 4 a 11 t./ha de matéria seca para colheitas em estádio de completa maturação da
planta. Assim, deve-se considerar que a produção de matéria seca do girassol é influenciada pela
densidade de semeadura, idade de colheita e pelo cultivar (Tabelas 2, 3 e 4).

TABELA 2. Produtividade de matéria seca (t.MS/ha) de girassol em função da densidade de


semeadura
Densidade de Semeadura Produtividade
(Plantas/ha) (MS t./ha)
27.200 8,21
30.000 5,32
44.000 8,73
50.000 7,82
70.000 10,76
88.000 11,08
Adaptado: Silva et al. (1998) e Arkel (1978).

TABELA 3. Rendimento de matéria seca (t./ha) de alguns cultivares de girassol em duas densidades de
semeadura
Densidade (Plantas/ha)
Cultivares 40.000 60.000 Média
M92007 10,66 11,89 11,27
M 742 8,37 9,55 8,96
V 2000 4,37 5,40 4,88
DK 180 7,72 8,54 8,13
DK 4040 8,90 9,04 8,97
C - 11 8,82 8,92 8,87
Média 8,17 8,87 8,51
Fonte: Rezende (2001).

TABELA 4. Produção de matéria seca (t./ha) em função da idade de colheita e densidade de


semeadura
Densidade de semeadura (Plantas/ha)
Idade de colheita (Dias) 40.000 60.000
95 8,38 Aa 8,11 Ba
110 7,94 Ab 9,62 Aa
Médias com letras diferentes, minúsculas na linha e maiúscula na coluna, diferem entre si.
Fonte: Rezende (2001).

3
A menor produção do cultivar V 2000 (Tabela 3) em relação aos demais, segundo Rezende
(2001), deveu-se ao menor vigor genético e à mais baixa resistência desse cultivar às principais
doenças que afetam o girassol. O autor observou também menor altura de planta no cultivar V 2000
(1,45 m) em relação à altura média dos demais cultivares (1,83 m), o que pode ter contribuído para
menor produção desse cultivar.
A densidade de semeadura do girassol é decisiva no rendimento da cultura; porém, a idade
de colheita é outro fator que deve ser considerado (Tabela 4). A maior produção de matéria seca na
densidade de 60.000 plantas/ha, colhidas aos 110 dias, pode ser explicada pelo aumento na
participação de caules na composição total da planta.
Quanto ao cultivo do girassol na entressafra, esse tem baixos riscos em conseqüência da
tolerância da espécie à seca e ao frio. Essa prática possibilita obter melhor aproveitamento da terra que
fica ociosa após a colheita de cereais e é uma opção para maximizar a produção de volumoso.
Conforme Gonçalves et al. (1996), o cultivo do girassol, após a retirada da cultura de verão, com
semeadura a partir de fevereiro, é uma opção viável para a produção de forragem nas Regiões Sudeste
e Centro-Oeste do País e Castro et al. (1996) mencionam que nos sistemas já implantados existem
espaços físicos, temporais e, ou agronômicos que podem ser ocupados pelo girassol no
estabelecimento de sistemas mais diversificados. Na Tabela 5 pode-se observar a produção de matéria
seca do girassol em função da densidade de semeadura e da idade de colheita, em plantio de
entressafra.

TABELA 5. Produção de matéria seca (t./ha) do girassol em função da densidade de semeadura e da


idade de colheita
Densidade de semeadura (Plantas/ha)
Idade de colheita (Dias) 40.000 60.000 Média
95 7,83 7,90 7,86 A
110 6,53 7,90 7,90 A
125 5,57 6,43 6,00 B
Média 6,64 b 7,41 a
Médias com letras diferentes, minúsculas nas linhas e maiúsculas na coluna, diferem entre si.
Fonte: Rezende (2001).

Os componentes de maior participação na produção de massa do girassol são o caule e o


capítulo, os quais estão condicionados ao número de plantas por unidade de área (Tabela 6), ocorrendo
diferenças na participação desses componentes em função do cultivar (Tabela 7).

TABELA 6. Produção de matéria seca e composição morfológica do girassol cv. Argentário 067
Densidade de semeadura (Plantas/ha)
Parâmetros 27.200 44.000 88.000
Produção de matéria seca (t/ha) 8,21 8,73 11,08
Composição morfológica
Folhas (%) 28,90 22,70 21,20
Caule (%) 38,50 47,50 53,50
Capítulos (%) 32,60 30,10 25,30
Adaptado: Arkel (1978).

4
TABELA 7. Percentagens de caule, folhas e capítulo no peso da matéria natural (MN) das plantas
Caule Folhas Capítulo
1
Cultivar (% da MN)
AS 243 40,79 12,77 46,43
AS 603 37,27 16,46 46,26
Cargill 11 42,36 7,92 49,72
Contiflor 3 32,34 19,96 51,71
Contiflor 7 37,87 10,73 51,40
DK 180 41,17 10,48 48,25
M 734 38,55 8,13 53,32
M 737 34,26 12,77 52,96
M 738 40,53 7,53 51,94
M 742 34,12 12,22 53,65
Rumbosol 90 41,97 12,78 45,25
Rumbosol 91 34,61 18,56 46,83
V 2000 42,41 9,50 48,09
Média geral 38,34 11,99 49,68
Fonte: Tomich (1999).

Pelos dados de Tomich (1999), observa-se que em todos os cultivares o capítulo contribuiu
com maior proporção em relação às demais partes da planta, e a média geral foi de 49,68%.
Sintetizando as informações disponíveis na literatura, tem-se que a produção de matéria seca do
girassol é influenciada pela densidade de semeadura, pelo cultivar e pelo estádio de desenvolvimento
fenológico. Em geral, observa-se aumento na produção de matéria seca da cultura do girassol em
densidades mais elevadas.

POTENCIALIDADE DO GIRASSOL PARA PRODUÇÃO DE SILAGEM

Os primeiros resultados de pesquisa sobre a qualidade da silagem de girassol vêm


comprovando o potencial da cultura; porém, alguns parâmetros qualitativos de avaliação de silagens
vêm mostrando divergências quando comparados aos valores indicados para o milho, sorgo ou capim-
elefante. A planta de milho ideal para ensilagem deve conter cerca de 16% de folhas, de 20 a 23% de
colmo e de 64 a 65% de espigas (Keplin, 1992 citado por Nussio, 1992), estando a qualidade de sua
silagem relacionada à participação de grãos na massa a ser ensilada. Para o girassol, ainda são
necessários estudos para se definir qual a percentagem ideal das diversas partes da planta necessária
para obtenção de silagem de boa qualidade. Por esse fato, sugere-se que, para a classificação da
qualidade da silagem de girassol, seja desenvolvida uma tabela específica para que esses parâmetros
sejam estabelecidos. Nesse sentido, Nogueira et al. (2001) determinaram a composição química e o
valor nutritivo da silagem com plantas integrais e com diferentes proporções entre as partes que
compõem a planta, ou seja, folhas, hastes e capítulos de quatro cultivares de girassol. Os autores
observaram que com o aumento da participação percentual de capítulos nas silagens, houve redução
dos constituintes fibrosos (Figura 1) e dos valores de pH (Figura 2) e aumento dos teores de proteína

5
bruta (Figura 3). Os melhores resultados foram observados nos tratamentos que continham 100% de
capítulos.

a)

60

55

50
Teor de FDN (%)

45

40

35
V 2000 Y=53,938 - 0,255X R2 = 0,88

30 DK 80 Y =54,099 - 0,214X R2 = 0,93

M 734 Y = 58,144 - 0,258X R2 = 0,86


25
RUMBOSOL 91 Y = 54,285 - 0,236X R2 = 0,87

20
0 20 40 60 80 100
Participação de capítulos na silagem (%)

b)
55

50

45
Teor de FDA (%)

40

35

30
V 2000 Y = 49,036 - 0,223X R2 = 0,88
25 DK 80 Y = 51,745 - 0,214X R2 = 0,91
M 734 Y =54,471 - 0,254X R2 = 0,84
20
RUMBOSOL 91 Y = 49,676 - 0,199X R2 = 0,83

15
0 20 40 60 80 100
Participação de capítulos na silagem (%)

FIGURA 1. Teores de fibra em detergente neutro (FDN) (a) e fibra em detergente ácido (FDA) (b) de
silagens de girassol contendo diferentes percentuais de capítulos.

6
Fonte: Nogueira et al. (2001).

6,2 V 2000 Y = 5,301 - 0,0163X R2 = 0,89

DK 80 Y =5,094 - 0,0165X R2 = 0,85

5,7 M 734 Y = 5,416 - 0,0204X R2 = 0,84


2
RUMBOSOL 91 Y = 4,408 - 0,0102X R = 0,92

5,2
pH

4,7

4,2

3,7

3,2
0 20 40 60 80 100
Participação de capítulos na silagem (%)

FIGURA 2. Valores de pH de silagens de girassol contendo diferentes percentuais de capítulos.


Fonte: Nogueira et al. (2001).

16

14

12
Proteína Bruta (%)

10

V 2000 Y = 5,2876+ 0,0853X R2 = 0,97


4
DK 80 Y = 6,446 + 0,0495X R2 = 0,84

M 734 Y = 5,858 + 0,0703X R2 = 0,95


2
RUMBOSOL 91 Y = 6,998 + 0,0417X R2 = 0,82
0
0 20 40 60 80 100
Participação de capítulos na silagem (%)

7
FIGURA 3. Teores proteína bruta (%) de silagens de girassol contendo diferentes percentuais de
capítulos.
Fonte: Nogueira et al. (2001).
Para boa preservação de uma forragem na forma de silagem, suas principais características
devem ser:
‹ Teor ideal de matéria seca
‹ Teor ideal de substrato fermentável na forma de carboidrato solúvel
‹Baixa capacidade-tampão

Matéria Seca

Vários fatores contribuem para obtenção de silagem de boa qualidade; porém, o teor de
matéria seca desempenha um papel fundamental, quer seja aumentando a concentração de nutrientes,
quer seja contribuindo para o aumento do consumo da silagem realizado pelo animal. Assim, no
tocante à forragem, o teor de matéria seca no momento da ensilagem é um dos fatores mais
importantes que determinará a qualidade da fermentação e, conseqüentemente, da silagem.
O baixo teor de matéria seca (Tabela 8) tem sido apontado como uma das principais
limitações para ensilar o girassol, e deve-se considerar que a elevada umidade da forragem ensilada
resulta na produção excessiva de efluentes, que não apenas dificultam o manejo, mas também
carreiam, em solução, nutrientes de alta digestibilidade e compostos fundamentais para que ocorra boa
fermentação da forragem.

TABELA 8. Teores médios de matéria seca de silagens de girassol


Idade de colheita (dias) ou características da Teor de matéria seca
planta da silagem (%) Fonte
94 dias 15,43 a 16,98 Tosi et al. (1975)
129 dias 23,55 Tosi et al. (1975)
90 dias 30,60 McGuffey e Schingoethe (1980)
90 dias 32,40 Schingoethe et al.(1980)
Face posterior do capítulo de coloração amarela,
brácteas marrons e algumas folhas secas 25,20 Sneddon et al. (1981)
Face posterior do capítulo de coloração amarela,
brácteas marrons e algumas folhas secas 25,30 Thomas et al. (1982 a)
Grãos duros 22,80 Valdez et al. (1988 a)
Receptáculos de coloração amarela 24,53 a 25,59 Henrique et al. (1998 a)
90 dias 30,10 Almeida et al. (1995)
121 dias 30,20 a 35,70 Silva et al. (1998)
95 dias 20,89 a 25,70 Rezende et al. (2001)
110 dias 30,12 a 47,81 Rezende et al. (2001)
- 22,60 a 37,70 Jayme et al. (2001)
99 dias 17,46 Rodrigues et al. (2001)
100 dias após emergência 18,06 Ramos et al. (2001)
Receptáculos voltados para baixo com a parte
dorsal na coloração amarelo-escura 21,98 Bueno et al. (2001)

O girassol é composto de uma estrutura tecidual que armazena grandes quantidades de


umidade. Essa é uma característica que pode comprometer a qualidade da silagem, pois forragens com
baixos teores de matéria seca não apresentam fermentação lática adequada, permitindo, assim, a
formação de ácido butírico (Ramos et al., 2001). A umidade retida nos caules, mesmo em estádios de

8
maturidade avançada da cultura, quando a planta apresenta uma grande percentagem de senescência
das folhas e os aquênios estão maduros, é responsabilizada pela baixa percentagem de matéria seca
constatada nas silagens de girassol. Tomich (1999) estudando a qualidade das silagens de alguns
cultivares de girassol, observou que quando a colheita é realizada com mais de 90% dos grãos
maduros, determinadas partes da planta, em alguns cultivares, e os receptáculos de todos os cultivares
estudados, ainda apresentavam elevado teor de umidade (Tabela 9). Conforme Castiglioni et al.
(1994), as condições climáticas e o genótipo determinam o período necessário para que ocorra a perda
de água pelos aquênios, até o ponto correto para a colheita de grãos, e os materiais com receptáculo de
espessura reduzida apresentam maior facilidade para perder água. Assim, o baixo teor de matéria seca
observado nas silagens de girassol pode estar relacionado a colheitas precoces e à utilização de
cultivares que mantêm o alto teor de umidade em determinada porção da planta, mesmo após o período
de maturação fisiológica.

TABELA 9. Teor de matéria seca de caules, folhas, receptáculos, aquênios e capítulos das plantas de
girassol
Teor de matéria Seca (%)
1
Cultivar Caule Folhas Receptáculos Aquênios Capítulo
AS 243 20,48 38,70 11,15 57,88 23,78
AS 603 20,78 29,25 12,18 59,13 23,88
Cargill 11 26,50 79,80 13,15 60,78 31,25
Contiflor 3 23,20 33,85 10,43 65,15 25,63
Contiflor 7 28,13 66,93 12,03 69,93 29,88
DK 180 22,90 54,88 13,93 67,15 24,80
M 734 26,75 73,33 13,70 73,90 28,43
M 737 20,78 28,38 8,03 56,80 21,28
M 738 25,93 80,13 12,38 70,53 32,08
M 742 25,20 38,78 12,85 66,75 25,25
Rumbosol 90 25,53 53,50 10,38 58,58 23,05
Rumbosol 91 29,30 34,95 11,55 53,45 20,28
V 2000 19,10 36,03 12,90 72,08 24,73
Média geral 24,20 49,88 11,82 64,01 25,71
Fonte: Tomich (1999).

Em média, quando a colheita do girassol é realizada com 90% dos grãos maduros, os
diferentes cultivares de girassol têm resultado em silagens cujo teor de matéria seca gira em torno de
25% (Tabela 10).
O teor de matéria seca tem importância fundamental sobre a qualidade da silagem.
Entretanto, recomendações para ensilagem em dias após o plantio ou emergência, como ocorre com o
milho ou o sorgo, não se aplicam ao girassol, uma vez que o teor de matéria seca da planta é variável
conforme o estádio de desenvolvimento da cultura, do cultivar e das condições de cultivo.

9
TABELA 10. Teores de matérias seca dos materiais originais e das silagens de alguns cultivares de
girassol
Teor de MS (%)
Cultivar Material Original Silagem
AS 243 23,13 21,66
AS 603 22,78 21,91
Cargill 11 34,76 32,17
Contiflor 3 24,60 22,98
Contiflor 7 33,83 31,19
DK 180 27,78 26,02
M 734 28,90 26,25
M 737 20,91 19,75
M 738 29,91 27,22
M 742 25,33 23,47
Rumbosol 90 29,71 26,77
Rumbosol 91 26,69 23,53
V 2000 26,41 25,76
Média geral 27,29 25,28
Fonte: Tomich (1999).

Na literatura são encontradas diversas recomendações quanto à época de colheita do


girassol para produção de silagem, ou seja, durante toda a floração (Schuster, 1955), final da floração
(Cotte, 1959, Tan e Tumer, 1996), entre 125-130 dias após semeadura, com no mínimo 90% dos grãos
do capítulo já maduros, no estágio farináceo e quando a planta se apresenta com a cor pardacenta
(Castro et al., 1996). Para Pereira et al. (1999), o momento ideal de colheita do girassol para ensilar é
na maturidade fisiológica das plantas (Fase R9), quando a parte vegetativa está completamente madura,
as brácteas estão amarelas a castanhas e as folhas murchas ou secas. Portanto, não somente a contagem
dos dias após a semeadura, estádio de desenvolvimento da cultura, cultivar e condições de cultivo
devem ser levados em consideração para se determinar o ponto de colheita do girassol, mas também é
fundamental a observação visual quanto às características relacionadas por Pereira et al. (1999).

Carboidratos solúveis

Os carboidratos solúveis são o mais importante substrato para boa fermentação da


forragem. Segundo Haigh (1990), o conteúdo de carboidratos solúveis de uma forrageira é considerado
como um parâmetro indicador da qualidade da forragem para ensilagem, sendo necessária uma
concentração mínima de 2,5 a 3,0% na matéria seca. Porém, existe uma relação inversa entre
necessidade de carboidratos solúveis e teor de matéria seca do material para que se tenha uma
fermentação adequada (Figura 4).
Por meio da Figura 4 observa-se que se o teor de matéria seca da forragem for baixo, para
se obter silagem de boa qualidade, é necessário que a relação carboidrato solúvel:capacidade tampão
seja elevada. Por outro lado, conforme Muck (1988), a quantidade de substrato necessária para uma
boa fermentação lática aumenta com a capacidade tamponante da forragem; enquanto a
disponibilidade deste substrato depende do grau de laceração da forragem e da liberação da seiva,
sendo esta fermentação estimulada em silagens melhor fragmentadas (McDonald et al., 1991).

10
Qualidade da Silagem
400
Matéria Seca (g/kg)

Boa

300

Incerta
200
Pobre

100
1 2 3 4
Relação Carboidratos Solúveis:Capacidade Tampão

FIGURA 4. Relação entre teor de matéria seca e proporção carboidratos solúveis:capacidade tampão e
seus efeitos na qualidade final das silagens.
Fonte: Weissbach et al., citados por Woolford (1984).

Segundo McDonald et al. (1981), o girassol apresenta níveis satisfatórios de carboidratos


solúveis para sua preservação na forma de silagem. Na Tabela 11 observa-se o teor de carboidratos
solúveis do material original e das respectivas silagens de alguns cultivares de girassol. Por esses
dados, observa-se que os teores de carboidratos solúveis das silagens são baixos, evidentemente em
função do consumo durante o processo fermentativo, uma vez que os materiais originais apresentaram
valores bem superiores às silagens. Vale ressaltar também que ocorre diferença marcante no teor de
carboidratos solúveis entre os cultivares.
A média observada para os materiais originais (3,06%) se adequa ao relatado por Haigh
(1990), que considera uma concentração mínima de 2,5 a 3,0% de carboidratos solúveis para que não
ocorra fermentação clostridiana na massa ensilada. Portanto, pela Tabela 12, depreende-se que embora
baixos, os teores de carboidratos solúveis do girassol são suficientes para produções adequadas de
ácido lático e, conseqüentemente, fermentação adequada da massa ensilada.
Freire (2001), avaliando o padrão de fermentação das silagens de cinco cultivares de
girassol, avaliados em diferentes intervalos durante o processo fermentativo (Tabela 12), observou
decréscimos nos teores de carboidratos solúveis com o transcorrer da fermentação. O autor observou
que o consumo de carboidratos solúveis é mais intenso até o terceiro dia de fermentação, após esse
período, não foram mais observadas diferenças marcantes. A partir do quinto dia de abertura dos silos,
não foram observadas diferenças entre os percentuais de carboidratos solúveis entre os cultivares de
girassol. Independente do teor de carboidratos solúveis do material original, a redução no primeiro dia
de fermentação foi cerca de 50%, indicando uma atividade microbiana desde o início do processo
fermentativo.

11
TABELA 11. Percentagem de carboidratos solúveis (%MS) em materiais originais e em silagens de
alguns cultivares de girassol
Material original Silagem
Cultivar (%MS)
1
AS 243 2,39 0,31
AS 6031 3,28 0,27
1
Cargill 11 1,20 0,12
Contiflor 31 2,37 0,22
1
Contiflor 7 2,31 0,16
DK 1801 3,40 0,27
M 7341 3,69 0,51
1
M 737 4,38 0,28
M 7381 2,36 0,48
M 7421 2,51 0,44
Rumbosol 901 2,11 0,51
Rumbosol 911 6,09 0,29
V 20001 1,03 0,14
2
DK 180 4,60 0,11
M 7342 5,51 0,09
V 20002 1,78 0,10
2
Rumbosol 91 3,02 0,14
Média 3,06 0,26
1 2
Adaptado: Tomich (1999) e Stehling (2001).

TABELA 12. Percentagem de carboidratos solúveis na matéria seca do material original e das silagens
oriundas de cinco cultivares de girassol avaliados em diferentes intervalos durante o
processo fermentativo
Cultivar
Tempo de fermentação (dias) Contiflor 3 M 742 AS 243 AS 603 M 737 Média
*
0 2,37 Ca 2,52 Ca 2,39 Ca 3,28 Ba 4,39 Aa 2,99 a
1 1,53 Bb 1,05 Cb 1,11 Cb 1,44 Bb 2,01 Ab 1,43 b
3 0,31 Bc 0,33 Bc 0,43 Bc 0,33 Bc 0,74 Ac 0,43 c
5 0,26 Ac 0,19 Ac 0,15 Ac 0,19 Ac 0,21 Ad 0,20 d
7 0,23 Ac 0,15 Ac 0,16 Ac 0,18 Ac 0,17 Ad 0,18 d
14 0,13 Ac 0,12 Ac 0,12 Ac 0,16 Ac 0,15 Ad 0,13 d
28 0,13 Ac 0,15 Ac 0,16 Ac 0,18 Ac 0,15 Ad 0,15 d
56 0,22 Ac 0,42 Ac 0,20 Ac 0,16 Ac 0,19 Ad 0,23 d
Média:Cultivar 0,65 C 0,61 C 0,59 C 0,74 B 1,00 A 0,72
*
Material original - não foi submetido a tratamento.
Médias com letras maiúsculas repetidas em uma mesma linha não diferem entre si.
Médias com letras minúsculas repetidas em uma mesma coluna não diferem entre si.
Fonte: Freire (2001).

12
Capacidade-tampão

A capacidade-tampão é determinada pela quantidade de ácido requerida para baixar o pH


da forragem no interior do silo a um nível estável. Assim, a resistência à alteração do pH durante o
processo de fermentação é devida à capacidade de tamponamento da planta, que é característica de
cada forrageira e se altera com os seus estádios de maturação (Moisio e Heikonen, 1994). O poder de
tamponamento de forrageiras é exercido por bases inorgânicas de potássio e cálcio, proteína,
aminoácidos livres e por sua capacidade de produção de amônia (Van Soest, 1994). Aminoácidos
básicos, aminas e amônia, produtos finais da degradação de proteína, impedem a rápida queda do pH
da massa ensilada (McKersie, 1985). Dessa forma, o pH da silagem é influenciado pela relação
carboidrato solúvel:proteína da forragem (Van Soest, 1994).
Tosi et al. (1975) observaram valores excessivamente elevados no poder de tamponamento
ao ácido clorídrico, para o girassol em relação ao milho, observando valores de 51,20 e 22,63 mg de
HCl/100 g MS, respectivamente, concluindo que as silagens dos materiais de girassol estudados
apresentaram grande resistência ao abaixamento do pH, mesmo na presença de altos teores de ácido
lático.

CLASSIFICAÇÃO DA SILAGEM DE GIRASSOL

Normalmente, os critérios utilizados para classificação de silagens abrangem os valores de


pH, os ácidos orgânicos e o nitrogênio amoniacal como percentagem do nitrogênio total (Vilela, 1998).
A inclusão da digestibilidade in vitro da matéria seca para a classificação de silagens deve-se à sua
correlação com a ingestão de matéria seca, além de ser um bom parâmetro de avaliação do valor
energético da forragem (Nogueira, 1995).

Valores de pH

A preservação da forragem na forma de silagem é baseada no processo de conservação em


ácido, em que um rápido decréscimo do pH leva à redução da atividade proteolítica, mediada por
enzimas da própria planta, e faz cessar o crescimento de microrganismos anaeróbios indesejáveis, em
especial enterobactérias e clostrídeos (Muck e Bolsen, 1991). Geralmente, um baixo pH final não
garante que a atividade clostridiana foi prevenida durante o processo de fermentação. Para que isso
ocorra, é necessário que a redução do pH seja rapidamente atingida. Na Tabela 13 podem ser
observados os valores de pH das silagens de girassol em diferentes dias de abertura dos silos. Observa-
se queda mais acentuada até o terceiro dia de abertura dos silos, com tendência à estabilidade no 14o
dia. Normalmente, ocorre estabilidade do pH, conforme McDonald et al. (1991), antes do décimo dia
de ensilagem, quando se trabalha com forrageira que apresenta altos teores de açúcar e baixos teores
de proteína.
Silagens com desenvolvimento clostridiano significativo são caracterizadas por alto pH
final, altos teores de amônia e ácido butírico, resultando em forragem mal preservada, com baixo
consumo e também baixa utilização do nitrogênio pelos animais (Leibensperger e Pitt, 1987).
Conforme Van Soest (1994), um critério simples para avaliar qualidade das silagens é a associação dos
valores de pH ao teor de matéria seca, e em silagens com alto teor de matéria seca, o valor de pH é
menos importante, podendo-se obter silagem de boa qualidade, mesmo com valores de pH mais altos.
Os valores de pH das silagens de girassol podem ser considerados altos, quando
comparados aos das silagens de milho e sorgo, e esse fato pode estar relacionado ao seus mais altos

13
teores proteícos, resultando em redução na relação carboidratos:proteína que, conforme Van Soest
(1994), é importante influenciadora do pH da silagem.

TABELA 13. Valores de pH das silagens oriundas de cinco cultivares de girassol em diferentes
intervalos durante o processo fermentativo
Cultivar
Período de fermentação (dias) Contiflor 3 M 742 AS 243 AS 603 M 737 Média
1 5,70Da 6,25Ba 6,00Ca 6,45Aa 5,70Da 6,02a
3 4,80Ab 4,70Abc 4,80Ab 4,70Abb 4,60Bb 4,72b
5 4,60Ac 4,60Ac 4,70Abc 4,60Ab 4,30Bc 4,56d
7 4,60Bc 4,85Ab 4,70Bbc 4,60Bb 4,35Cc 4,62c
14 4,40Bd 4,35Bd 4,75Abc 4,40Bc 4,10Cd 4,40e
28 4,40Ad 4,35Ad 4,50Ad 4,40Ac 3,95Be 4,32f
56 4,50ABcd 4,40Bd 4,60Acd 4,40Bc 4,10Cd 4,40e
Média:Cultivar 4,71C 4,79B 4,86A 4,79B 4,44D 4,72
Médias com letras maiúsculas repetidas em uma mesma linha não diferem entre si.
Médias com letras minúsculas repetidas em uma mesma coluna não diferem entre si.
Fonte: Freire (2001).
Alguns dados referentes aos valores de pH das silagens de girassol encontrados na
literatura (Tabela 14) permitem concluir que o valor é variável com o cultivar e certamente depende,
entre outros fatores, da idade de colheita e prática de ensilagem.

TABELA 14. Parâmetros qualitativos da silagem de alguns cultivares de girassol


N-NH3 DIVMS Ácido lático Ácido acético Ácido butírico
Cultivares pH (%MS)
AS 2431 4,47 10,04 47,09 7,78 2,53 0,00
AS 6031 4,37 7,97 51,13 9,65 1,89 0,00
Cargill 111 5,50 9,20 48,96 4,97 1,65 0,08
Contiflor 31 4,50 8,11 48,90 8,41 2,19 0,00
Contiflor 71 5,30 8,33 46,91 2,77 2,26 0,00
DK 1801 4,53 6,80 49,66 7,88 1,53 0,05
M 7341 4,53 7,25 51,43 5,50 1,48 0,00
M 7371 4,07 8,51 56,68 12,04 1,98 0,00
M 7381 4,53 7,50 49,38 7,40 1,71 0,09
M 7421 4,37 8,96 51,45 7,53 1,52 0,00
Rumbosol 901 5,17 10,14 48,59 4,60 1,94 0,23
Rumbosol 911 4,13 5,89 47,89 7,99 1,77 0,00
V 20001 5,23 14,62 48,86 5,33 2,50 0,28
M 920072 4,69 - 48,18 - - -
M 7422 4,81 - 53,64 - - -
V 20002 5,14 - 49,72 - - -
DK 1802 4,55 - 52,77 - - -
DK 40402 4,67 - 55,32 - - -
C-112 4,80 - 53,23 - - -
Contiflor 33 4,50 8,11 48,84 7,94 2,16 Traços
M 7423 4,40 8,76 51,63 7,72 1,51 Traços
AS 2433 4,60 10,16 47,44 7,78 2,41 Traços
AS 6033 4,40 8,62 51,07 8,84 1,95 Traços
M 7373 4,10 7,81 56,03 12,34 2,05 Traços
DK 1804 4,30 5,86 47,92 11,42 2,44 0,04
M 7344 4,00 5,27 51,04 9,84 3,22 0,00
V 20004 4,77 6,47 49,16 10,85 3,68 0,00

14
Rumbosol 914 4,23 5,53 48,96 7,45 3,53 0,54
1 2 3 4
Fonte: Tomich (1999), Rezende (2001), Freire (2001), Stehling (2001).
Nitrogênio amoniacal

O conteúdo de amônia das silagens, expresso como percentagem do nitrogênio amoniacal


(N-NH3), em relação ao nitrogênio total, é amplamente utilizado na avaliação de silagens. Na forragem
verde, cerca de 75 a 90% do nitrogênio total está na forma de proteína. O restante, ou seja, o nitrogênio
não-protéico, consiste principalmente de aminoácidos livres e amidas, com menor proporção de
ureídeos, aminas, nucleotídeos, clorofila, peptídeos de baixo peso molecular e nitratos, enquanto o teor
de nitrogênio presente sob a forma de amônia, nesse material, geralmente é menor que 1% do
nitrogênio total. Após o corte e ensilagem, tem início uma extensa hidrólise de proteínas, resultando
em aumento do nitrogênio não-protéico para aproximadamente 40% do nitrogênio total, nas primeiras
24 horas de fermentação. Esse conteúdo pode atingir 70% na abertura do silo. A extensa degradação
protéica varia com a espécie da planta, taxa e extensão da queda do pH, teor de matéria seca e
temperatura, mas o conteúdo de proteína pode ser reduzido em 50-60%, mesmo em silagens bem
preservadas. Os compostos resultantes dessa degradação de aminoácidos, além de inibirem o consumo
e apresentarem baixa eficiência na utilização de nitrogênio pelos ruminantes, alteram a fermentação,
impedindo uma rápida queda do pH.
Na silagem, um baixo teor de nitrogênio amoniacal, inferior a 10% do nitrogênio total,
indica que o processo de fermentação não resultou em quebra excessiva da proteína em amônia, e os
aminoácidos constituem a maior parte do nitrogênio não-protéico (Van Soest, 1994). Ao contrário, um
teor de nitrogênio amoniacal superior a 15% do nitrogênio total significa que a quebra de proteínas foi
considerável. Tais silagens podem ser menos aceitas pelos animais, resultando em baixo consumo. Na
Tabela 14 podem ser observados os valores de nitrogênio amoniacal das silagens de alguns cultivares
de girassol, cuja média é inferior a 10% do nitrogênio total, indicando que não ocorreu quebra
excessiva da proteína no decorrer do processo fermentativo.

Digestibilidade 'in vitro' da matéria seca

Tão importante quanto o processo fermentativo é a avaliação da qualidade do volumoso e,


conforme Minson (1990), a digestibilidade in vitro pode ser considerada um método muito preciso de
predição da digestibilidade da matéria seca e da matéria orgânica da forragem.
A digestibilidade refere-se àqueles nutrientes do alimento que, quando atacados e
desdobrados no trato digestivo pelas enzimas ou pela microflora, são absorvidos pelo organismo,
sendo também um dos parâmetros que, juntamente com a composição química e o consumo de matéria
seca, é levado em consideração para definir o valor nutritivo das forragens (Minson, 1990).
Na silagem, a digestibilidade é influenciada pelas características da forragem e por
alterações que ocorrem durante o processo de fermentação. Para McDonald et al. (1991), além do
baixo teor de matéria seca, a digestibilidade relativamente baixa é uma desvantagem do girassol para
ensilagem. O conteúdo de lignina mais alto na silagem de girassol, quando comparada à silagem de
milho (Vandersall, 1976, Marx, 1977, Sneddon et al., 1979, McGuffey e Schingoethe, 1980), pode ser
o principal fator limitante da digestibilidade da silagem de girassol. Por outro lado, o excesso de
lipídeos na dieta, que promove o envolvimento físico da fibra, impedindo o ataque microbiano, e a
formação de complexos insolúveis de cátions, modificando o pH e a microbiota ruminais, também
contribui para reduzir a digestibilidade da silagem de girassol.
As publicações dos últimos três anos evidenciam que a digestibilidade in vitro da silagem
de girassol varia de 46,91% a 56,68% (Tabela 14), sendo considerada típica das silagens de forrageiras
tropicais.

15
Ácido orgânicos

Os ácidos orgânicos mais comumente determinados são os ácidos lático, acético, butírico,
isobutírico, propiônico, valérico, isovalérico, succínico e fórmico, sendo os três primeiros de
determinação mais importante. Apesar de todos os ácidos formados contribuírem para a redução do
pH, o ácido lático, por apresentar uma maior constante de dissociação, possui papel fundamental nesse
processo, enquanto o aumento dos níveis de ácido acético e butírico está relacionado a menores taxas
de decréscimo e maiores valores de pH (Moisio e Heikomen, 1994).
A quantidade de ácido lático necessária para reduzir rapidamente o pH, inibindo a
atividade proteolítica e evitando a fermentação indesejável, altera-se com a capacidade de
tamponamento e com o teor de umidade da forragem. Apesar de o ácido lático ser o principal ácido da
fermentação presente em silagens de boa qualidade, pequenas quantidades de ácido acético podem
aparecer, resultando, principalmente, da ação de bactérias láticas heterofermentativas e enterobactérias
sobre os acúcares, podendo, algumas vezes, ser formado pela degradação do citrato, malato e
aminoácidos.
Os teores de ácido lático observados nas silagens de alguns cultivares de girassol podem
ser considerados adequados para boa preservação da silagem, e o menor e o maior valores observados,
em condições experimentais, foram de 2,77% e 12,34% na matéria seca, respectivamente, havendo
uma associação desses valores com o pH das silagens, que foi de 5,3 e 4,1, respectivamente (Tabela
14). Os teores de ácido acético e butírico não são comprometedores da perspectiva de se conseguir boa
conservação da forragem de girassol na forma de silagem.
No sentido de contribuir para o conhecimento da qualidade da silagem de girassol,
elaborou-se uma tabela com valores de pH, nitrogênio amoniacal, digestibilidade in vitro da matéria
seca e ácidos orgânicos, na qual associam-se alguns dados médios das silagens de girassol disponíveis
na literatura, com padrões pré-estabelecidos para outras espécies forrageiras (Tabela 15). As silagens
de girassol recebem a classificação muito boa, com base nos teores de ácido lático e nitrogênio
amoniacal. Porém, quanto ao pH, ácido acético, ácido butírico e digestibilidade in vitro da matéria
seca, recebem a classificação entre boa e média qualidade. Vale ressaltar que a tabela utilizada como
padrão de qualidade de silagens foi desenvolvida para silagens de milho e sorgo, devendo, portanto,
essa mesma classificação ser desenvolvida para silagem de girassol, para que essa possa expressar seu
verdadeiro potencial.
TABELA 15. Classificação das silagens de girassol
Classificação da silagem
Parâmetro Muito boa Boa Média Ruim
pH1 3,6 - 3,8 3,8 - 4,2 4,2 - 4,6 > 4,6
Média das silagens de girassol 4,59
Ácido lático (%MS)1 > 5,0 5,0 - 3,0 3,0 - 2,0 < 2,0
Média das silagens de girassol 8,0
Ácido acético (%MS)3 < 2,0 2,0 - 2,5 > 2,5 > 2,5
Média das silagens de girassol 2,17
Ácido butírico (%MS)1 ⊆ 0,1 0,1 - 0,2 0,2 - 0,4 > 0,4
Média das silagens de girassol 0,19
Nitrogênio amoniacal (%NT)2 < 10,0 10,0 - 15,0 15,0 - 20,0 > 20,0
Média das silagens de girassol 8,18
DIVMS (%)4 > 63,0 63,0 - 52,0 52,0 - 38,0 < 38,0
Média das silagens de girassol 50,4

16
1
Paiva (1976), 2 Benachio (1965) citado por Borges (1995), 3 Nogueira (1995), 4 Paiva (1976), modificado por Nogueira
(1995).

VALOR NUTRITIVO DA SILAGEM DE GIRASSOL

A finalidade principal da produção de silagem baseia-se na conservação da qualidade


nutritiva da planta forrageira. Na Tabela 16 pode-se observar as médias de proteína bruta no material
original e nas respectivas silagens de 13 cultivares de girassol.

TABELA 16. Teores de proteína bruta dos materiais originais e das silagens de alguns cultivares de
girassol
Material original Silagem
Cultivar (%MS)
AS 243 9,50 8,63
AS 603 8,87 9,25
Cargill 11 10,24 9,24
Contiflor 3 8,41 8,00
Contiflor 7 8,89 7,89
DK 180 8,61 8,11
M 734 9,31 9,81
M 737 8,89 9,51
M 738 9,33 9,79
M 742 9,36 9,42
Rumbosol 90 9,42 8,73
Rumbosol 91 7,52 7,23
V 2000 10,30 9,38
Média 9,13 8,85
Adaptado: Tomich (1999).

Segundo Van Soest (1994), os níveis de nitrogênio total da silagem em relação aos da
forragem fresca não se modificam, embora a fermentação possa alterar as proporções das frações
nitrogenadas. Entretanto, quando ocorre redução significativa nos teores de proteína bruta das silagens,
em relação ao material original, isso pode ser devido à perda de nitrogênio contido em substâncias
produzidas durante a ensilagem e volatilizadas durante o processo de pré-secagem das amostras.
Na Tabela 17 podem ser observadas as características nutritivas das silagens de alguns
cultivares de girassol que apresentaram valores médios de 9,50%, 47,99%, 35,56%, 13,91% e 50,42%,
respectivamente para proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, extrato
etéreo e digestibilidade in vitro da matéria seca.
Quando a composição química da silagem de girassol é comparada à silagem de milho, ou
de sorgo (Tabela 18), normalmente constata-se maior teor de proteína bruta e de extrato etéreo para a
silagem de girassol, que, geralmente, também apresenta diferenças significativas nas proporções dos
componentes da parede celular.

17
TABELA 17. Percentuais de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE) e digestibilidade in vitro de matéria seca
(DIVMS) das silagens de alguns cultivares de girassol
PB FDN FDA EE DIVMS
Cultivares (%MS)
AS 2431 8,63 43,44 33,88 18,01 47,09
AS 6031 9,25 40,68 31,45 17,04 51,13
Cargill 111 9,24 41,13 33,08 19,23 48,96
Contiflor 31 8,00 46,66 36,11 13,54 48,90
Contiflor 71 7,89 46,77 36,11 10,56 46,91
DK 1801 8,11 43,23 34,40 15,48 49,66
M 7341 9,81 50,59 39,43 6,43 51,43
M 7371 9,51 37,75 28,94 18,06 56,68
M 7381 9,79 52,76 40,06 13,71 49,38
M 7421 9,42 51,51 39,72 6,87 51,45
Rumbosol 901 8,73 49,32 38,38 12,57 48,59
Rumbosol 911 7,23 47,67 37,35 11,24 47,89
V 20001 9,38 44,04 35,05 14,83 48,86
M 920072 10,73 57,51 - 13,89 48,18
M 7422 12,01 53,63 - 14,42 53,64
V 20002 12,30 52,45 - 15,10 49,72
DK 1802 11,71 54,19 - 14,46 52,77
DK 40402 12,27 54,80 - 14,97 55,32
C-112 11,87 56,46 - 13,68 53,23
Contiflor 33 7,91 48,83 37,46 15,31 48,84
M 7423 9,59 51,60 39,68 17,14 51,63
AS 2433 9,01 47,44 34,02 17,87 47,44
AS 6033 9,19 41,28 27,61 16,46 51,07
M 7373 9,46 38,11 29,28 17,71 56,03
DK 1804 8,82 48,57 38,63 11,91 47,92
M 7344 8,77 46,11 34,54 13,09 51,04
V 20004 9,80 44,56 35,82 12,86 49,16
Rumbosol 914 7,60 52,68 41,82 6,11 48,96
Média 9,50 47,99 35,56 13,91 50,42
Fonte: 1Tomich (1999), 2Rezende (2001), 3Freire (2001), 4Stehling (2001).

TABELA 18. Composição bromatológica média das silagens de girassol, milho e sorgo
Silagem
Girassol Milho Sorgo
Parâmetro (%MS)
Proteína bruta 11,6 8,6 8,2
Fibra em detergente neutro 46,6 57,2 50,2
Fibra em detergente ácido 35,5 31,0 27,3
Hemicelulose 7,1 24,1 22,9
Lignina 9,0 6,1 -
Relação lignina:FDN 21,0 10,5 -
Extrato etéreo 11,8 2,6 1,4
Matéria mineral 12,4 5,2 -

18
Cálcio 1,39 0,52 -
Fósforo 0,26 0,15 -
Adaptado: McGuffey e Schingoethe (1980), Valdez et al. (1988a), Valdez et al. (1988b), Almeida et
al. (1995) e Henrique et al. (1998).
Quanto ao teor protéico, para Church (1988), uma fermentação microbiana efetiva no
rúmen requer um mínimo de 7% de proteína bruta na dieta. Segundo Vilela (1998), o baixo teor de
nitrogênio da silagem de milho constitui uma limitação do uso dessa forragem, principalmente para
animais de mais alta exigência nutricional. Vários estudos que compararam silagens de milho à de
girassol constataram teores de proteína bruta superiores para a silagem de girassol (Thomas et al.,
1982 a, Thomas et al., 1982 b, Valdez et al., 1988 a, Valdez et al., 1988 b, Henrique et al., 1998 a,
Bueno et al., 2001) e, geralmente, os valores observados para proteína bruta encontram-se acima do
limite mínimo de 7%, mencionado por Church (1988), para o bom funcionamento do rúmen. Esse fato
é evidenciado na Tabela 17, na qual constata-se valor médio para a proteína bruta de 9,5%. Depreende-
se, portanto, que, considerando o teor protéico, a cultura do girassol é uma opção para ser associada à
gramíneas para produção de silagem, ou ainda, a silagem de girassol pode ser associada a silagens de
gramíneas no momento do fornecimento aos animais.
Quanto aos constituintes da parede celular, a lignina, em termos percentuais da fibra em
detergente neutro, representa o dobro do valor observado na silagem de milho (Tabela 18). Bueno et
al. (2001), comparando a silagem de girassol com a silagem de milho, também observaram que o teor
de fibra em detergente neutro da silagem de girassol é inferior, e o teor de fibra em detergente ácido,
superior à silagem de milho. Esses mesmos autores também mencionam que esse fato é devido ao
maior teor de celulose e lignina e menor teor de hemicelulose da silagem de girassol, em relação à
silagem de milho (Tabela 19).
TABELA 19. Composição bromatológica de silagens de milho e girassol
Silagem
Girassol Milho
Parâmetro (%MS)
Matéria seca 21,98 34,62
Proteína bruta 11,61 9,40
Fibra bruta 26,12 24,99
Extrato etéreo 10,07 3,16
Matéria orgânica 85,36 94,19
Matéria mineral 14,64 5,81
Extrato não-nitrogenado 37,56 56,63
Fibra em detergente neutro 44,26 62,61
Fibra em detergente ácido 42,72 31,96
Celulose 31,99 27,05
Hemicelulose 1,53 30,29
Lignina 9,40 3,77
Fonte: Bueno et al. (2001).

Assim, o mais elevado teor de lignina em silagens de girassol, além do extrato etéreo, é
considerado um fator de restrição à digestibilidade da matéria seca e da fibra em detergente neutro
(Tabela 20). Valdez et al. (1988 a), demonstraram que a elevada concentração de extrato etéreo das
silagens de girassol produzidas a partir de aquênios oleosos afetou negativamente a digestibilidade in
vitro da matéria seca e da fibra em detergente neutro (Tabela 21).

19
TABELA 20. Digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e da fibra em detergente neutro
(DIVFDN) das silagens de milho, girassol e milho + girassol
Silagens
Milho Girassol Milho + Girassol
DIVMS (%) 52,40 47,90 51,50
DIVFDN (%) 80,20 54,00 73,90
Adaptado: Valdez et al. (1988 b).
TABELA 21. Digestibilidade in vitro da matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) de
silagens, antes e após a remoção da fração lipídica (EE)
Silagem
Milho Milho + Girassol Girassol
(%)
MS 52,40 51,50 47,90
MS sem EE 54,70 55,20 54,10
FDN 80,20 73,90 54,00
FDN sem EE 84,20 81,40 79,70
Adaptado: Valdez et al. (1988 a).

Das Tabelas 18, 19, 20 e 21 depreende-se que o elevado teor de lignina e extrato etéreo
representam um fator de restrição ao valor nutritivo da silagem de girassol.

SILAGEM MISTA DE CAPIM-ELEFANTE, MILHO OU SORGO COM GIRASSOL

Outra possibilidade de utilização do girassol é associá-lo a outra forrageira para


complementar a qualidade nutricional da silagem, como, por exemplo, com o capim-elefante, com o
milho ou com o sorgo.
A associação do capim-elefante com o girassol no momento da ensilagem eleva o teor de
matéria seca, proteína bruta e energia da silagem, além de reduzir o teor de fibra em detergente neutro
(FDN), resultando em silagens de boa qualidade. As Figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10 ilustram algumas
características das silagens mistas de capim-elefante e girassol associados no momento da ensilagem.

20
35,00

32,00

29,00
Matéria Seca (%)

Y= 17,51 + 0,1532X
26,00 R2 =80

23,00

20,00

17,00
0 25 50 75 100
Nível de Girassol (%)

FIGURA 5. Teor de matéria seca (%) das silagens mistas de capim-elefante e girassol.
Fonte: Rezende (2001).

5,10

4,80

4,50

Y = 3,40 + 0,015X
2
R =79
pH

4,20

3,90

3,60

3,30
0 25 50 75 100
Nível de Girassol (%)

FIGURA 6. Valores de pH das silagens de mistas de capim-elefante e girassol.


Fonte: Rezende (2001).

21
16,00

14,00
Proteína Bruta (%)

12,00

Y =7,63 + 0,0599X
2
R =97
10,00

8,00

6,00
0 25 50 75 100
Nível de Girassol (%)

FIGURA 7. Teores de proteína bruta (%) das silagens mistas de capim-elefante e girassol.
Fonte: Rezende (2001).

62,00

61,00

60,00

59,00
FDN (%)

58,00

Y =61,494 - 0,0618X
57,00
R2 = 98

56,00

55,00
0 25 50 75 100
Nível de Girassol (%)

FIGURA 8. Teores de fibra em detergente neutro (FDN) das silagens mistas de capim-elefante e
girassol.
Fonte: Rezende (2001).

22
14

12

10
Estrato Etéreo (%)

8 Y = 2,04 + 0,1053X
R2 = 97

2
0 25 50 75 100
Nível do Girassol (%)

FIGURA 9. Teores de extrato etéreo (%) das silagens mistas de capim-elefante e girassol.
Fonte: Rezende (2001).

63,00

61,00

59,00

57,00
DIVMS (%)

55,00
Y = 58,877 + 0,0911X - 0,002X2
53,00 R2 = 89

51,00

49,00

47,00
0 25 50 75 100
Nível de Girassol (%)

FIGURA 10. Digestibilidade in vitro da matéria seca (%) das silagens mistas de capim-elefante e
girassol.
Fonte: Rezende (2001).

23
Em função do aumento nos teores de proteína e de extrato etéreo, a participação de até
50% de girassol, associado ao capim-elefante no momento de ensilar, constitui-se em mais uma
opção de uso desta espécie forrageira.
Silagens mistas de milho ou sorgo com girassol (Tabela 22), foram avaliadas por Henrique
et al. (1998 a, b), que observaram, para as silagens mistas oriundas de consórcio das culturas na
mesma linha, valores de pH dentro da faixa considerada adequada para boa fermentação, teor de
extrato etéreo e de nutrientes digestíveis totais superiores e teores de fibra em detergente neutro, fibra
em detergente ácido e hemicelulose inferiores às silagens de milho ou sorgo puras. Não foram
observadas diferenças para o consumo de nutrientes digestíveis totais e de matéria seca. Os autores
consideraram bastante elevados os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, extrato etéreo e
extrativo não-nitrogenado. O coeficiente de digestibilidade da proteína bruta foi considerado baixo,
porém revelaram maiores valores para as silagens resultantes do consórcio e o coeficiente de
digestibilidade da fibra em detergente neutro não foi beneficiado pelo consórcio, em relação às
culturas exclusivas. Já Valdez et al. (1988) recomendam a consorciação de milho com girassol em
função do aumento dos coeficientes de digestibilidade. Henrique et al. (1998 a, b) mencionam que a
consorciação do milho ou sorgo com girassol não se mostrou favorável, dificultando as práticas de
plantio e não evidenciando melhoras significativas quanto aos parâmetros avaliados nas silagens.

TABELA 22. Características bromatológicas, consumo e digestibilidade de silagens puras e mistas de


milho ou sorgo com girassol
Silagens
Milho Sorgo Milho + Girassol Sorgo +Girassol
pH 3,97 3,88 3,95 3,89
Proteína bruta 8,03 8,29 9,15 8,93
Extrato etéreo (%MS) 1,85 2,15 6,89 7,48
Fibra em detergente neutro (%MS) 52,27 50,97 43,19 42,63
Fibra em detergente ácido (%MS) 27,11 23,52 11,94 12,21
Hemicelulose (%MS) 25,17 23,52 11,94 12,21
Nutrientes digestíveis totais (NDT-%MS) 69,62 63,74 75,36 72,29
Consumo de NDT (g/an./dia) 224,46 204,28 299,86 283,34
Consumo de matéria seca (%PV) 1,83 1,56 1,63 1,59
Coeficiente de digestibilidade (%)
Matéria seca 67,92 61,82 66,61 66,50
Proteína bruta 43,75 22,76 50,66 31,13
Extrato etéreo 74,85 68,01 84,44 76,95
Extrativo não-nitrogenado 78,09 73,19 73,01 72,84
Fibra em detergente neutro 56,63 49,25 41,31 41,18
Adaptado: Henrique et al. (1998 a,b).

24
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E PERFORMANCE DE ANIMAIS ALIMENTADOS COM
SILAGEM DE GIRASSOL

O valor nutritivo de uma silagem normalmente é considerado função do consumo,


digestibilidade e eficiência de utilização dos nutrientes. Assim, um dos principais critérios utilizados
para avaliação da qualidade da silagem, além da composição química e das características
fermentativas, é o efeito dessa sobre o desempenho animal.
O consumo de silagem de girassol geralmente é alto (Valdez et al., 1988 a, Valdez et al.,
1988 b, Almeida et al., 1995, Henrique et al., 1998 b). Na Tabela 23 podem-se observar o consumo
voluntário e a digestibilidade in situ de silagens de girassol acrescidas ou não de inoculante bacteriano.
Observa-se que a adição do inoculante aumentou a digestibilidade dos extrativos não-
nitrogenados em 3,05 unidades percentuais, mas reduziu a digestibilidade da fibra bruta e da fibra em
detergente ácido em 6,8 e 4,3 unidades percentuais, respectivamente. Conforme Rodrigues et al.
(2001), mudanças no perfil de fermentação (maior produção de ácido lático e menores perdas de
carboidratos solúveis) poderiam explicar os efeitos da inoculação sobre a digestibilidade dos extrativos
não-nitrogenados. Os autores comentam também que é provável que os ganhos da digestibilidade
alcançados com os extrativos não-nitrogenados tenham sido compensados com a perda da
digestibilidade da fibra, mantendo constante os valores dos nutrientes digestíveis totais. No tocante à
fração fibrosa, os autores mencionam que uma provável redução nos teores de fibra poderia explicar a
menor digestibilidade da fibra remanescente.

TABELA 23. Consumo de matéria seca (g/dia e %PV), digestibilidade aparente da matéria seca, proteína bruta,
extrato etéreo, extrato não-nitrogenado, fibra bruta, fibra em detergente neutro, fibra em
detergente ácido e amido, percentual de nutrientes digestíveis totais e retenção nitrogenada (g de
N/dia e em percentagem do N absorvido/dia) obtidos com silagens de girassol acrescidas ou não
com inoculante
Silagem de girassol
Parâmetro Não-inoculada Inoculada Média
Consumo
Matéria seca (g/dia) 775,69 737,42 756,55
Matéria seca (%PV) 2,54 2,49 2,52
Digestibilidade (%)
Matéria seca 57,83 57,04 57,44
Proteína bruta 55,11 54,64 54,87
Extrato etéreo 65,30 63,60 64,45
Extrativo não-nitrogenado 58,89 b 61,94 a 60,41
Fibra bruta 54,89 a 48,11 b 51,50
Fibra em detergente neutro 44,27 43,68 43,97
Fibra em detergente ácido 50,20 a 45,92 b 48,06
Amido 74,12 78,66 76,69
Nutrientes degestíveis totais (%) 53,00 52,46 52,73
Retenção de nitrogênio (g) - 0,65 - 0,93 - 0,79
Retenção de nitrogênio (%) - 13,60 - 14,18 - 13,89
Médias, na mesma linha, com letras diferentes diferem entre si.
Fonte: Rodrigues et al. (2001).

Na Tabela 24 estão apresentados os dados referentes à degradabilidade in situ da silagem


de girassol colhido em dois estádios vegetativos e acrescido de casca de soja. Observa-se que o estádio
de desenvolvimento do girassol afetou a degradabilidade efetiva da silagem; porém, esse efeito não foi

25
muito marcante, indicando que o girassol tem ampla faixa de colheita. Observa-se também que o
acréscimo no nível de soja à forragem de girassol revelou baixa influência sobre a degradabilidade
efetiva da proteína.

TABELA 24. Teores de matéria seca (%) e de proteína bruta (%) e degradabilidade efetiva in situ (%)
da matéria seca e da proteína bruta de silagens de girassol, colhido em dois estádios
vegetativos, com e sem adição de casca de soja
Maturidade fisiológica 13 dias após a maturidade fisiológica
Níveis de casca de soja (%) Matéria Seca
MS (%)1 DE (%)2 MS (%)1 DE (%)2
0 18,06 48,46 b 26,82 47,55 a
10 27,06 54,73 a 31,47 51,34 a
20 35,06 52,86 ab 34,84 48,49 a
30 44,22 54,35 a 35,81 49,11 a
Proteína Bruta
PB (%)1 DE (%)2 PB (%)1 DE (%)2
0 8,59 60,52 a 9,52 64,79
10 11,07 62,20 a 9,84 64,21
20 10,81 56,77 a 10,24 60,22
30 11,80 58,26 a 10,45 58,41
Médias com letras iguais na coluna não diferem entre si.
1
Ramos et al. (2001 a).
2
Ramos et al. (2001 b).

Em alguns estudos com vacas em lactação, nos quais comparam-se a silagem de girassol
com silagem de outras espécies forrageiras, observaram-se, na maioria das vezes, produções
semelhantes para os grupos de vacas alimentadas com silagem de girassol, silagem de milho ou
silagem de alfafa (Tabela 25). Estudos realizados com bovinos de corte também evidenciaram que a
silagem de girassol é semelhante à silagem de alfafa (Tabela 26).

TABELA 25. Produção e composição do leite de vacas alimentadas com silagem de girassol e com
silagem de outras espécies forrageiras
Produção de leite Teor de gordura do Teor de proteína do
(kg/dia) leite (%) leite (%)
1
Silagem de alfafa 17,5 3,6 A 3,0
Silagem de girassol1 17,7 3,2 B 2,9
Silagem de milho2 13,6 4,5 -
2
Silagem de girassol 15,8 4,4 -
Silagem de milho3 29,3 B 3,4 A 3,0
Silagem de girassol3 30,0 AB 3,0 B 3,0
Silagem de milho+girassol3 30,1 A 3,3 A 3,0
Médias de um mesmo experimento, com letras diferentes, na mesma coluna, diferem entre si.
Adaptado: 1 Thomas et al. (1982 a), 2 Hubbel et al. (1985), 3 Valdez et al. (1988 b).

26
TABELA 26. Desempenho de novilhos alimentados com dietas baseadas em silagens de alfafa ou
girassol
Silagem
Alfafa Girassol
Número de novilhos 12 12
Peso inicial (kg) 276,8 278,9
Peso final (kg) 347,2 351,2
Ganho diário (kg) 1,16 1,20
Consumo de matéria seca (kg/dia) 6,60 7,07
KgMS/kg ganho 5,72 5,84
Adaptado: Thomas et al. (1982 b).

Almeida (1992) também comparou a silagem de girassol com as silagens de sorgo e de


milho por meio do consumo voluntário, digestibilidade aparente, balanço de nitrogênio e alguns
parâmetros sangüíneos (Tabela 27). Observa-se que a silagem de girassol não diferiu da silagem de
milho no tocante ao consumo de matéria seca, energia bruta e energia digestível, mas foi superior à
silagem de milho quanto ao consumo de proteína bruta e de proteína digestível. Com relação à silagem
de sorgo, a silagem de girassol foi superior em todos os parâmetros de consumo avaliados. O maior
consumo de proteína bruta e de proteína digestível observado para a silagem de girassol pode estar
associado ao seu maior teor de proteína bruta, ou seja, 11,73, 7,97 e 8,65% respectivamente, para
silagens de girassol, sorgo e milho.
No tocante à digestibilidade aparente, a silagem de girassol superou as silagens de sorgo e
de milho quanto às digestibilidades da proteína bruta e da fibra em detergente ácido. Nos demais
parâmetros de digestibilidade avaliados, o girassol foi semelhante ou inferior à silagem de sorgo e de
milho.

TABELA 27. Consumo voluntário, digestibilidade, balanço de nitrogênio e parâmetros sangüíneos


observados em ovinos alimentados com silagens de girassol, sorgo e milho
Silagem
Girassol Sorgo Milho
Consumo voluntário (g/UTM/dia)
Matéria seca 61,00 a 56,73 b 61,03 a
Proteína bruta 7,07 a 4,76 b 5,08 b
Proteína digestível 4,43 a 2,79 b 2,75 b
Energia bruta 298,64 a 279,28 b 297,92 a
Energia digestível 198,89 a 178,34 b 199,72 a
Digestibilidade aparente (%)
Matéria seca 63,11 b 63,53 b 65,88 a
Proteína bruta 62,69 a 58,51 b 53,02 c
Fibra em detergente neutro 61,98 b 67,68 a 66,95 a
Fibra em detergente ácido 56,26 a 46,89 b 53,97 b
Energia bruta 66,65 ab 65,90 b 67,43 a
Balanço de nitrogênio (g/UTM/dia)
4,82 a 3,04 b 3,46 b
Parâmetros sangüíneos (mg/100ml)
Glicose 57,49 57,62 57,57
Uréia 21,66 18,15 19,43
Médias com letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si.
Adaptado: Almeida (1992).
27
Ainda com relação ao estudo realizado por Almeida (1992), os animais que receberam
silagem de girassol tiveram maior quantidade de nitrogênio retido, o que pode ser função do maior
consumo de proteína digestível, bem como da maior digestibilidade da proteína bruta observados para
a silagem de girassol. O maior valor energético da silagem de girassol, ou seja, energia metabolizável
de 2.548,19 kcal/kg, em relação às silagens de sorgo (2.226,18 kcal/kg) e de milho (2.390,23 kcal/kg),
assim como o maior teor protéico da silagem de girassol, em relação às silagens de sorgo e de milho,
são outra justificativa para a maior retenção de nitrogênio observada para a silagem de girassol, uma
vez que a eficiência de utilização da proteína pode ser aumentada pelo suprimento de energia.
Quanto aos parâmetros sangüíneos, o menor valor de glicose foi observado no sangue dos
animais que receberam a silagem de girassol, que também apresentou o menor teor de carboidratos
solúveis, ou seja, respectivamente, 17,44, 23,35 e 26,17% para silagem de girassol, sorgo e milho.
Segundo Smith et al. (1978), maiores níveis de lipídeos na alimentação de ruminantes podem alterar o
metabolismo da glicose em função de alterações na fermentação ruminal e, como conseqüência,
reduzir os precursores da glicose sangüínea. Diante desse fato, o maior teor de extrato etéreo
observado nas silagens de girassol (McGuffey e Schingoethe, 1980, Valdez et al., 1988 a, Valdez et
al., 1988 b, Henrique et al., 1998, Bueno et al., 2001) contribuem para o menor teor de glicose no
sangue dos animais. Por outro lado, deve-se considerar que, embora a silagem de girassol tenha
resultado em menor nível de glicose no sangue dos animais, os valores são muito próximos entre as
silagens. Segundo Meyes (1977), isso pode estar associado ao fato de os ruminantes fermentarem
todos os carboidratos em ácidos graxos, que, em grande parte, substituem a glicose como fonte de
energia.
O maior nível de uréia sangüínea foi observado no sangue dos animais que receberam
silagem de girassol. Esse fato encontra apoio na consideração de Kolb (1984), segundo o qual, a
concentração de uréia é compatível com o suprimento protéico, de acordo com as exigências animais.
Nesse sentido, salienta-se, novamente, o maior teor protéico da silagem de girassol em relação às
silagens de sorgo e milho.
Ribeiro et al. (2001), comparando silagens de girassol, sorgo e milho fornecidas a ovinos
confinados, observaram que o uso da silagem de girassol como fonte única de volumoso pode ser uma
ótima opção para a engorda de ovinos, sendo superior às silagens de milho e sorgo, pois além de
maiores peso ao abate e peso de carcaça, é possível obter maiores rendimentos de carcaça (Tabela 28).

TABELA 28. Médias de peso ao abate, peso de carcaça e percentagem dos componentes do peso vivo
para ovelhas confinadas recebendo silagens de girassol, sorgo ou milho
Silagem
Parâmetros Girassol Sorgo Milho
Peso abate (kg) 59,44 a 49,28 b 53,46 ab
Carcaça quente (kg) 31,56 a 23,70 b 24,76 b
Carcaça quente (%) 53,14 a 48,13 b 46,36 b
Pele (%0 5,96 a 5,85 a 5,80 a
Cabeça (%) 4,45 a 4,96 b 5,06 b
Canela-patas (%) 1,65 a 1,92 b 1,99 b
Aparelho digestivo (%) 6,68 a 7,75 a 7,70 a
Gordura cavitária (%) 6,09 a 4,64 a 4,97 a
Rins (%) 0,24 a 0,23 a 0,59 a
Coração (%) 0,38 a 0,38 a 0,44 a
Pulmão-traquéia (%) 1,21 a 1,15 a 1,39 b
Fígado (%) 1,87 a 1,46 b 1,47 b
Baço (%) 0,18 a 0,15 a 0,26 b
Médias com letras diferentes, na mesma linha, diferem entre si.
Fonte: Ribeiro et al. (2001).

28
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, considera-se que a silagem de girassol deve se constituir em alternativa


nas propriedades agrícolas e a decisão pela sua adoção fica na dependência da relação custo:benefício,
em que muitas vezes é válida a adoção dentro de uma estratégia de produção em busca da eficiência do
processo produtivo. Porém, vale ressaltar que muitas vezes é inevitável a comparação com os dados
relativos à silagem de milho, considerada silagem-padrão, que pode auxiliar na tomada de decisão para
formulação da dieta dos animais. Salienta-se, mais uma vez, que, na maioria dos estudos, a silagem de
girassol se equipara à silagem de milho, principalmente quando se considera a performance animal e,
embora o girassol tenha fibra de qualidade inferior, em relação ao milho, considera-se aquela
forrageira uma boa alternativa para ser utilizada na suplementação volumosa de bovinos,
principalmente em função do teor de proteína bruta e de energia. Acrescenta-se a esses aspectos, a
possibilidade de cultivar o girassol na entressafra de cereais e, com maiores possibilidades ainda, para
cultivo na entressafra de milho e, ou sorgo cultivados para ensilagem, em função da possibilidade de
liberação da área de cultivo mais cedo.

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