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Globalização - Entre Conceito Sociológico e o Processo Histórico

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GLOBALIZAÇÃO: ENTRE CONCEITO SOCIOLÓGICO E O PROCESSO

HISTÓRICO.

A globalização não é um fenômeno fácil de ser explicado. Existe uma multiplicidade


de conceitos e de pontos de vista diferentes sobre o tema. Mister, por isso, apontar
o que se compreende com o termo "globalização" como premissa para entender
suas conseqüências. Anthony Giddens sintetiza brilhantemente um conceito de
globalização ao afirmar que ela é a "intensificação das relações sociais em escala
mundial" (GIDDENS, 2008, p.61). Essa idéia simples, remete a perspectiva de "uma
crescente interconexão em vários níveis da vida cotidiana a diversos lugares
longínquos no mundo" (LIMA, 2002, p.125). Daí o empenho dos pesquisadores em
desvendar "os nexos políticos, econômicos, geoeconômicos, geopolíticos, culturais,
religiosos, lingüísticos, étnicos, racionais e todos os que articulam e tencionam as
sociedades nacionais, em âmbito internacional, regional, multinacional,
transnacional ou mundial." (IANNI, 2006, p.30).

Globalização é normalmente associada a processos econômicos, como a circulação


de capitais, a ampliação dos mercados ou integração produtiva em escala mundial.
Mas descreve também fenômenos da esfera social, como a criação e expansão de
instituições supranacionais, a universalização de padrões culturais e o
equacionamento de questões concernentes à totalidade do planeta (meio ambiente,
desarmamento nuclear, crescimento populacional, direitos humanos etc.) Assim, o
termo tem designado a crescente transnacionaliação das relações econômicas,
sociais, políticas e culturais que ocorrem no mundo, sobretudo nos últimos 20 anos.
(VIEIRA, 2002, p.72-3)A globalização aparece sobre as mais diversas dimensões,
porém para análise é preciso delimitá-las. Uma classificação operativa dessas
dimensões é a Liszt Vieira, apontando que existem cinco dimensões da
globalização: a) econômica; b) política; c) social; d) ambiental; e) cultural (VIEIRA,
2002, p.80 e Ss.). Essa classificação, que não se pretende inesgotável, destaca o
papel da economia e da cultura dentro do processo de globalização.

O principal deles é o econômico, que se refere a novos padrões de comércio,


investimento, produção e empreendimento. Um segundo tipo, geralmente derivado
do primeiro, é o sócio-político, concentrando-se no papel cada vez menor do estado
e de um tipo de organização social a ele associada. Em terceiro lugar, a
globalização surgiu como centro de um discurso e de um protesto sócio-críticos,
como uma nova forma que assumem as forças adversas: o inimigo da justiça social
e de valores culturais particulares. Há outros dois outros discursos, mais
especializados, mas igualmente importantes. Existe o discurso cultural, dos estudos
antropológicos e culturais, que apresenta a globalização como fluxos, encontros e
hibridismo culturais. Por fim, como responsabilidade social, a globalização é parte
de um discurso ecológico e de preocupações ambientais planetárias. (THERBORN,
2001).
Dimensão Econômica: Normalmente a globalização é apontada como um fenômeno
econômico. Tal ênfase está relacionada à autonomia adquirida pela Economia em
relação à política nas últimas três décadas (FARIA, 2004, p. 59) em decorrência da
internacionalização do capital. No discurso oficial a política econômica dirige os
interesses públicos, no sentido de guiar o Estado para possibilitar à participação na
produção internacionalizada de bens. Para tanto os países devem se acomodar as
demandas do mercado e dos investimentos internacionais. Assim, a abertura
econômica é um imperativo de participação no desenvolvimento social
proveniente das conquistas do capitalismo. É possível vislumbrar, por esse
elo econômico da globalização, mudanças no cotidiano das pessoas. Os bens
de consumo passam a ser produzidos predominantemente por
conglomerados de empresas multinacionais. Estes, por sua vez, exercem cada
vez maior controle sobre a produção de bens.

(SANTOS, Boaventura, 1998, p.40)

Portanto, pode-se afirmar que a internacionalização do capital e da produção


de bens é o cerne do conceito de globalização em termos econômicos. Com
essa dimensão da globalização ocorreu: a) a liberalização dos mercados de
capitais, permitindo que os capitais transfiram-se para locais que gerem
maiores rendimentos; b) a eliminação de barreiras comerciais entre os
Estados; e, ainda, c) a produção independentemente das fronteiras nacionais
e continentais (HOBSBAWN, 2009, p. 62-63). Por isso, a busca incessante pelo
lucro diferenciado (e sempre crescente), gera a produção compartilhada
internacionalmente, situação favorecida pelas técnicas de comunicação e
transporte (cf. SANTOS, Milton, 2006, p. 26).

Em termos históricos, o processo de globalização não pode ser situado fora do


capitalismo, entretanto, como Marx apontava, é próprio do capitalismo
internacionalizar-se, desde o século XIX. "A burguesia, através da exploração do
mercado mundial, deu um caráter cosmopolita para produção e o consumo em
todos os países (...) No lugar da antiga reclusão e auto-suficiência local e
nacional, temos conexões em todas as direções, uma interdependência
universal das nações." (MARX; ENGELS, 1998, p. 14-15). O que diferencia a
internacionalização do capitalismo do período da globalização é a intensificação das
relações econômicas. Tais idéias surgem, em especial, no pós-guerra, que pode ser
simbolicamente demarcado com o consenso de Washington [01]. Porém, é só a
partir da década de 70 que se assiste a mudança de paradigma econômico, da
concepção de "industrialização substitutiva de importações" para a "industrialização
orientada para a exportação" (IANNI, 2006, p. 61). Observe-se tal fenômeno nas
palavras do historiador Eric Hobsbawn:

(...) os EUA, que tinham sido em grande parte auto-suficientes antes da Segunda
Guerra Mundial, quadruplicaram suas exportações para o resto do mundo entre
1950 e 1970, mas também se tornaram um maciço importador de bens de consumo
a partir do final da década de 1950. Em fins da década de 1960, começaram até a
importar automóveis. Contudo, embora as economias industriais comprassem e
vendessem cada vez mais suas respectivas produções, o grosso de suas atividades
econômicas continuou centrado no mercado interno. No auge da Era de Ouro, os
EUA exportaram apenas pouco menos de 8% de seu PIB, e, mais
surpreendentemente, o Japão, tão voltado para a exportação, só um pouco mais."
(HOBSBAWM, 2003, p. 271-2)

Entre 1965 e 1990, a porcentagem do produto mundial destinado às exportações iria


duplicar (World Development, 1992, p. 235). Três aspectos dessa
transnacionalização foram particularmente óbvios: as empresas transnacionais
(muitas vezes conhecidas como "multinacionais"), a nova divisão internacional do
trabalho e o aumento de financiamento offshore (externo). Este último foi não só
uma das primeiras formas de transnacionalismo a desenvolver-se, mas também
uma das que demonstraram mais vividamente a maneira como a economia
capitalista escapava do controle nacional, ou de qualquer outro. (HOBSBAWM,
2003, p. 272)

Essa globalização econômica, que pode ser constatada por qualquer um que
verifique as origens nacionais de produtos vendidos num centro comercial
norte-americano, desenvolveu-se lentamente na década de 1960 e se acelerou de
modo impressionante durante as décadas de perturbações econômicas mundiais
após 1973. A rapidez com que avançou pode ser ilustrada mais uma vez pela
Coréia do Sul, que no fim da década de 1950 ainda tinha quase 80% de sua
população trabalhadora na agricultura, da qual extraía quase três quartos da renda
nacional. Inaugurou o primeiro de seus planos qüinqüenais de desenvolvimento em
1962. Em fins da década de 1980, extraía apenas 10% de seu PIB da agricultura e
tornara-se a oitava economia industrial do mundo não comunista. (HOBSBAWM,
2003, p. 354)

Pode-se afirmar que as transformações históricas que levaram a intensificação do


fenômeno da globalização foram: a) a suplantação do espaço parcelado dos três
mundos (primeiro, segundo e terceiro) por outro unificado em torno do mercado
mundial capitalista; b) o surgimento do fenômeno complementar de
macrorregionalização do mundo, ao redor de três principais áreas: América do
Norte, Europa Ocidental e Ásia Oriental, e outras secundárias; c) a destruição dos
anteriores Segundo e Terceiro Mundos, dando lugar a uma nova polarização
internacional entre países semi-industriais (de crescente peso na economia mundial)
e países pré-industriais marginalizados. (VIEIRA, 2002, p.78).

Em conseqüência do processo de globalização em sua dimensão econômica, o


planeta tornou-se um grande mercado, aonde o capital transita, preferencialmente
nos espaços que não encontra barreiras. Para os economistas e o mundo foi
redesenhado, agora sob o vértice econômico (do ponto de vista das finanças, pouco
importando as fronteiras geográficas-nacionais). (OHMAE, 1996).

Em contraposição, as linhas divisórias territoriais que fazem sentido pertencem ao


que denomino "Estados-regiões" (...) são essas as zonas econômicas naturais.
Embora limitadas no tamanho geográfico, sua influência econômica costuma ser
enorme. (...) podem ou não enquadrar-se nas fronteiras de uma nação específica. O
fato de se enquadrarem ou não é puramente um acidente da história (...) a
população, então, não é a questão-chave. O mais importante é que cada
Estado-região possua, em uma ou outra combinação, os ingredientes básicos para
a participação bem-sucedida na economia global. (OHMAE, 1996, p. 74-5).

Dimensão Política: em termos políticos, o termo globalização remete a idéia de crise


do Estado nacional. Nesse sentido, a figura do Estado-nação teria perdido suas
características elementares em favor de novas formas de poderes, ou seja, perdeu
sua capacidade de gestão pública:

A nova divisão internacional do trabalho, contribui para o esforço desde poder, eis
que o processo de produção sendo realizado em vários países, em certa medida,
torna obsoletas as fronteiras dos Estados, mitigando cada vez mais o poder dos
mesmos e consolidando de forma crescente o poder das empresas transnacionais,
[...]. (LIMA, 2002, p. 151-152).

A China talvez seja um exemplo extremo, mas o veredicto é universalmente


aplicável: os antigos meios de controle não mais funcionam e já não podem ser
usados com impunidade. Eles simplesmente espantarão a economia global e a
participação ativa dessa economia é essencial para o desenvolvimento num mundo
sem fronteiras. A não ser que optem por isolar-se dela inteiramente, como a Coréia
do Norte tem mais ou menos feito (embora recursos continuem afluindo,
não-oficialmente, é claro, das vendas de armas ao exterior e do grande número de
coreanos no Japão), os governos perderam simplesmente o poder de manter à
distância os mercados de capitais globais. Ao mesmo tempo, eles ainda detêm —
mas estão gradualmente perdendo — o poder de manter seus mercados internos
fechados aos produtos estrangeiros e à participação direta de empresas
estrangeiras. (OHMAE, 1996, p. 69).

Com o surgimento dos grandes grupos econômicos ocorreu certo deslocamento de


parcela do poder dos Estados para os grandes conglomerados, aliados, por vezes,
por Estados fortes e, ainda, pelos organismos internacionais (Fundo Monetário
Internacional). As grandes empresas estariam em posição privilegiada em termos de
negociação, requerendo expressivas concessões para a permanência em país
periféricos.

Ao lado dos Estados nacionais, mesmo os mais fortes, já se colocam e impõem as


corporações transnacionais, que se transformaram inclusive em estruturas mundiais
de poder. (IANNI, 2006, p. 186).

O outro instrumento de ação internacional era igualmente, senão mais, protegido


contra Estados-nações e democracias. A autoridade dos organismos financeiros
internacionais estabelecidos depois da Segunda Guerra Mundial, sobretudo o Fundo
Monetário Internacional e o Banco Mundial. Apoiados pela oligarquia dos grandes
países capitalistas, que, sob o vago rótulo de "Grupo dos Sete", se tornaram cada
vez mais institucionalizados a partir da década de 1970, eles adquiriram crescente
autoridade durante as Décadas de Crise, à medida que as incontroláveis incertezas
das trocas globais, a crise da dívida do Terceiro Mundo e, após 1989, o colapso das
economias do bloco soviético tornaram um número cada vez maior de países
dependentes da disposição dos países ricos de conceder-lhes empréstimos. Esses
empréstimos eram cada vez mais condicionados à busca local de políticas
agradáveis às autoridades bancárias globais. O triunfo da teologia neoliberal na
década de 1980 na verdade traduziu-se em políticas de privatização sistemática e
capitalismo de livre mercado impostas a governos demasiado falidos para
resistir-lhes, fossem elas imediatamente relevantes para seus problemas
econômicos ou não (HOBSBAWM, 2003, p. 420).

Dentre as características do Estado Nacional que estariam em crise, pode-se


destacar a soberania. O Estado teria perdido a capacidade gerir a economia pela
vontade política. Portanto, deixando de ser um ente soberano para ser um ente
subordinado a vontade internacional. A partir desse discurso justificam-se as
privatizações de empresas públicas, com a passagem de seus ativos para o capital
privado, aparecendo como ações inexoráveis numa sociedade globalizada. Da
mesma forma a abertura a especulação internacional. Essas ações demonstrariam
a fragilidade estatal em termos de controle econômico.

A política agora é feita no mercado. Só que esse mercado global não existe como
ator, mas como uma ideologia, um símbolo. Os atores são as empresas globais, que
não têm preocupações éticas, nem finalísticas. Dir-se-á que, no mundo da
competitividade, ou se é cada vez mais individualista, ou se desaparece. Então, a
própria lógica de sobrevivência da empresa global sugere que funcione sem
nenhum altruísmo. Mas, se o Estado não pode ser solidário e a empresa não pode
ser altruísta, a sociedade como um todo não tem quem a valha. Agora se fala muito
num terceiro setor, em que as empresas privadas assumiriam um trabalho de
assistência social antes deferido ao poder público. Caber-lhes-ia, desse modo,
escolher quais os beneficiários, privilegiando uma parcela da sociedade e deixando
a maior parte de fora. Haveria frações do território e da sociedade a serem deixadas
por conta, desde que não convenham ao cálculo das firmas. Essa "política" das
empresas equivale à decretação de morte da Política. (SANTOS, Milton, 2006,p.67)

A fragilidade do poder político na sociedade atual ocorre em grande medida devido


à fragmentação das demandas sociais. (BAUMAN, 2000, p.113). Os grandes
projetos de sociedade estão limitados por certa visão fragmentada de sociedade,
nessa o poder é multifacetado e a ação política ineficiente. Essa limitação da ação
política tradicional e de grandes projetos de sociedade, em especial devido à
desilusão com as alternativas socialistas pós-queda do muro de Berlim, formula uma
certa obstrução do Estado como espaço de ação coletiva. Ao menos como projeto
total de sociedade. Nesse espaço desabitado instalam-se poderosos lobbys
econômicos.

No final do século XX, reabrem-se os espaços e fronteiras, inesperados ou


recriados, disponíveis ou forçados. Juntamente com a desagregação do bloco
soviético, com a dissolução do mundo socialista, generalizam-se políticas de
desestatização, desregulação, privatização, abertura de mercados, fluxo cada vez
mais livre das forças produtivas, modernização das normas jurídico-políticas e das
instituições que organizam as relações de produção, tudo isso universalizando mais
do que nunca o modo capitalista de produção; e o capitalismo como processo
civilizatório. (IANNI, 2006, p. 180-81).

Outro sinal que parecia apontar para a crise do Estado-Nação é a formação de


blocos econômicos. Em especial, a formação de blocos de países com objetivo de
fortalecer a economia, organizar vantagens tributárias e estreitar laços políticos
apontava para o enfraquecimento do Estado nacional.

Entretanto, tais sinais apenas mascaravam o papel do Estado. O discurso tem


apenas um efeito ilusório, não traduz a realidade. Objetiva ludibriar a real função do
aparato político. "Fala-se, igualmente, com insistência, na morte do Estado, mas o
que estamos vendo é seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de
outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as
populações cuja vida se torna mais difícil." (SANTOS, Milton, 2006, p.19). Outros
autores já apontavam que a globalização não podia ser apontada como
inevitabilidade natural, mas deveria ser pensada como construção política em que o
Estado tem papel relevante:
A interdependência econômica de forma alguma é fenômeno natural, mas sim
provocado por uma política deliberada, consciente de suas metas. Cada acordo,
cada lei, foi aprovado por governos e seus parlamentos, cujas deliberações
removeram barreiras alfandegárias, permitindo o livre trânsito de capital e
mercadorias, por cima das fronteiras nacionais. (MARTIN; SCHUMANN, , p. 17).

A crise do sistema financeiro de 2008-2009 problematizou a idéia de crise do Estado


nacional. O conflito entre tendências liberais e intervencionistas pareceu ainda mais
acirrado. Do acontecido parece que ficou no ar a idéia que o Estado Nacional não
está em declínio, mas em fase de mutação.

A palavra não aparece na mídia norte-americana, mas é disso que se trata:


nacionalização. Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de
importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do
país e da maior seguradora do mundo, o governo dos EUA decidiu assumir o
controle direto de uma parte importante do sistema financeiro. (...) O que é novo na
intervenção em curso é a sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de trinta anos
de evangelização neoliberal conduzida com mão de ferro a nível global pelos EUA e
pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e o Banco Mundial:
mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação;
Estado fora da economia porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de
restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.
(...) o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o
direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames
da globalização (SANTOS, Boaventura, 2009).

Segundo Milton Santos, o Estado-nação na verdade não está enfraquecido, ao


contrário, continua com sua antiga força porém com objetivos diversos dos
interesses dos cidadãos.

Ao contrário do que se repete impunemente, o Estado continua forte e a prova disso


é que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais dispõem
de força normativa para impor, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade
política ou econômica. Por intermédio de suas normas de produção, de trabalho, de
financiamento e de cooperação com outras firmas, as empresas transnacionais
arrastam outras empresas e instituições dos lugares onde se instalam, impondo-lhes
comportamentos compatíveis com seus interesses. (SANTOS, Milton, 2006, p.77)

Dimensão Social: Quando se refere à globalização no campo social, em geral,


aponta-se a ação corrosiva que a entrada de grandes capitais tiveram em países
periféricos. As crises econômicas têm efeito intensificado nesses países em virtude
da sua dependência em relação à produção de multinacionais. Em geral, o
empobrecimento de países periféricos caminha ao lado do desemprego e da
marginalização de certas populações. São os períodos de queda de consumo que
mais demonstram a desigualdade social dentro do processo de globalização.
(VIEIRA, 2002, p.89).

De fato, para a grande maior parte da humanidade a globalização está se impondo


como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A
pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário
médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os
continentes. Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas doenças,
supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil
permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de
qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males
espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção. (SANTOS,
Milton, 2006, p.19-20).

Outras conseqüências sociais significativas são os problemas da alimentação e da


saúde. Em relação aos alimentos, a globalização trouxe regulação mundial de
preços. Isso explica, por exemplo, preços elevados de gêneros essenciais. A crise
de produção em países distantes pode gerar aumentos de preço em gêneros
alimentícios como o litro do leite ou o açúcar. Bem como surtos e doenças ganham
escala mundial. Os riscos de grandes pandemias como a gripe A (H1N1) ou da
gripe aviária, ou doenças como a AIDS tem levado o problema da prevenção para a
escala global.

Além disso, a urbanização sem planejamento tem trazido conseqüências de igual


forma nefastas. Vive-se numa realidade de globalização perversa em que a própria
noção de espaço e de realidade acaba per perder-se. "A população aglomerada em
poucos pontos da superfície da Terra constitui uma das bases de reconstrução e de
sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço
dos homens, do sistema técnico atual." (SANTOS, Milton, 2006,p. 21). Ao invés do
homem dominar o território ele fica a mercê do território e das possibilidades que o
próprio mercado impõe. Não há uma verdadeira globalização territorial mas uma
concentração daninha.

O território fragmentaliza-se nos estados-nações e começam a surgir objetivos


diversos dentro da mesma esfera de poder político. "Dentro de um mesmo país se
criam formas e ritmos diferentes de evolução, governados pelas metas e destinos
específicos de cada empresa hegemônica, que arrastam com sua presença outros
atores sociais, mediante a aceitação ou mesmo a elaboração de discursos
"nacionais-regionais" alienígenas ou alienados." (SANTOS, Milton, 2006, p.87).

Daí se criarem situações de alienação que escapam a regulações locais ou


nacionais, embora arrastando comportamentos locais, regionais, nacionais em todos
os domínios da vida, influenciando o comportamento da moeda, do crédito, do gasto
público e do emprego, incidindo sobre o funcionamento da economia regional e
urbana, por intermédio de suas relações determinantes sobre o comércio, a
indústria, os transportes e os serviços. Paralelamente, alteram-se os
comportamentos políticos e administrativos e o conteúdo da informação." (SANTOS,
Milton, 2006,p.93)

Tudo isso gera o que Milton Santos denomina de esquizofrenia do espaço, que não
é mais representativo da organização social, mas perde-se em relação a forma de
organização social. "Os lugares são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos
específicos, individuais, diversos. Eles são singulares, mas são também globais,
manifestações da totalidade-mundo, da qual são formas particulares." (SANTOS,
Milton, 2006,p. 112)

Por fim, o desemprego e as crises econômicas, por vezes, também tem motivado o
surgimento de sectarismos nacionalistas bem como segregação de minorias. As
reações locais ao desemprego ou as crises que a economia global coloca
manifesta-se como sectarismos raciais, religiosos e outros. (VIEIRA, 2002, p.91-2).

Dimensão Ambiental: A globalização é vislumbrada como uma questão ambiental


quando se propõe o problema da industrialização descontrolada e da expansão do
mercado. Em certo aspecto tal dimensão é continuidade da dimensão social. É certo que o
meio ambiente é uma questão global e que só pode ser preservado com ações globais.

Os principais problemas ambientais enfrentados no mundo atual não podem ser combatidos
apenas localmente. O aquecimento global devido à emissão de gases poluentes (em
especial CO2) e o buraco na camada de ozônio não podem ser combatidos sem uma ação
global efetiva. A frustração maior está na falta de acordos internacionais como o tratado de
Kyoto (1997) e/ou o fracasso da conferência sobre o clima em Copenhagem em 2009.

Em conseqüência do desequilíbrio ambiental, a maior freqüência de


fenômenos de grande repercussão ambiental (Furações, Tornados, Tsunamis,
Enchentes, Queimadas) tem afetado a vida de muitas pessoas. Outro
problema importante é a escassez de água potável que logo afetará grandes
parcelas populacionais e poderá gerar migrações e novos problemas sociais
(VIEIRA, 2002, p.94-5).

A globalização poderia possibilitar auxílio a essa crise ambiental se


existissem investimentos em questões ambientais. Alguns inclusive poderiam
ser sustentáveis como a busca por fontes alternativas de energia. Entretanto,
a lógica do capital ainda não se adaptou aos problemas eminentes a serem
enfrentados.

Dimensão Cultural: A última dimensão é a dimensão cultural. Nessa,


enfatiza-se em geral a padronização global do consumo. No processo
histórico recente, o desenvolvimento tecnológico tem facilitado o contato
cultural entre diversos povos. O desenvolvimento dos meios de comunicação
transformou a forma das pessoas observarem o mundo. A mídia possibilita
que pessoas das mais diversas culturas e formações educacionais usufruam,
a partir da televisão por exemplo, de uma experiência de conhecimento
padronizada. Entretanto, a dimensão cultural da globalização é muito mais
complexa, recheada não só de homogenizações, mas também de resistências
e hibridismos. (CANCLINI, 2000, p. 163 e Ss.)

É difícil explicar o sucesso da mídia e da tecnologia, alguns autores como


Russel Neuman (Cf. CASTELLS, 2005, p.416) apontam que as pessoas são
atraídas pelos caminhos de menor resistência, ou seja, a platéia em geral é
preguiçosa e procura formas de obter informação com o menor esforço
possível. A televisão representou o fim do predomínio da linguagem alfabética
na cultura humana, hoje predomina uma linguagem multisensorial, em que a
imagem, os sons e a mídia escrita se misturam. Na década de 90 um adulto
americano dedicava cerca de 6,43 horas diárias vendo televisão, o que
portanto, representa grande parcela de seu dia útil. Outra pesquisa apontava
apenas 14 minutos de interação familiar por dia nos EUA. No Japão o tempo
gasto com televisão é de 8 horas e 17 minutos em 1992, 25 minutos a mais que
em 1980 (Cf. CASTELLS, 2005, p. 418 e Ss). Tudo isso leva a crer que o
cotidiano das grandes cidades tende a homogenização devido a proliferação
da mídia, o que determina profunda mudanças culturais.

Nós não vemos a realidade como ela é mas como são nossas linguagens. E
nossas linguagens são os nossos meios de comunicação. Nossos meios de
comunicação são nossas metáforas. E nossas metáforas criam nossa cultura.
(POSTMAN, 1985 apud CASTELLS, 2005, 414).

Entretanto, não existem provas contundentes que as pessoas respondem a


todos os estímulos da televisão. Existem estudos que falam de algo em torno
de 1600 mensagens publicitárias por dia atingindo o notrte-americano médio.
A resposta consciente a essa publicidade ocorrerá apenas 12 vezes durante o
dia. Além disso, nem sempre essa resposta a publicidade será positiva, muitas
vezes desvalorizará o produto. (CASTELLS, 2005, p. 419)

O que se observa nos últimos anos é, por um lado, o crescimento da mídia


privada e a abertura acionária das emissoras de televisão, e por outro lado, a
expansão da televisão a cabo. Ambos os movimentos tem relativizado o poder
das grandes redes de televisão nacionais. A televisão também perde a força
com a internet de banda larga que oportuniza entretenimento e informação
direcionados em que ao usuário. A velocidade de penetração da internet no
cotidiano das pessoas tem reorganizado suas rotinas e vidas. A internet vem
superando barreiras de classes sociais e traz um meio recheado de novas
representações sociais. O cibermundo tem uma esfera simbólica própria e
transforma as culturas de diferente formas. (CASTELLS, 2005, p. 423; 428 e Ss)

Outro ponto interessante de se ressaltar é que as pessoas não procuram nessas


novas mídias apenas lazer. A principal função da internet entre adultos nos EUA, é a
busca de informação, serviços e economia de tempo Apesar da importância das
sociedades interativas, os vínculos oportunizados pela internet, em geral, ficam
restritos a própria área de convivência dos usuários. (CASTELLS, 2005, p. 442 e
Ss). Por isso, é necessário relativizar idéias maniqueístas de completa
americanização do mundo, simplificação das idéias ou invasão cultural. As culturas
têm trabalhado com a tecnologia no sentido de adaptá-las a interesses locais.

Apesar de relativizar a homogenização da cultura, deve-se atentar para a seleção


que a grande mídia ainda realiza. Além de mundializar informações fúteis, acaba por
repassar preceitos ideológicos no campo econômico. Talvez uma das grandes
mentiras da globalização seja o mito da informação prestada de forma ampla e
irrestrita.

Uma dessas fabulações é a tão repetida idéia de aldeia global (Octávio Ianni,
Teorias da globalização, 1996). O fato de que a comunicação se tornou possível à
escala do planeta, deixando saber instantaneamente o que se passa em qualquer
lugar, permitiu que fosse cunhada essa expressão, quando, na verdade, ao contrário
do que se dá nas verdadeiras aldeias, é freqüentemente mais fácil comunicar com
quem está longe do que com o vizinho. (SANTOS, Milton, 2006, p.40-1).

Tais instrumentos têm apenas o objetivo de manter certos preceitos do mercado e


de seus interesses. Tudo isso leva a crer que os efeitos da globalização na cultura
devem ser observados com maior cuidado.

Características

. Aculturação
A aproximação entre diferentes países do mundo possibilita a aculturação dessas
nações.

A aculturação consiste em um processo de mudanças ocorridas em uma sociedade


por meio do contato com culturas diferentes da sua. Trata-se de um fenômeno de
interação social que não necessariamente implica a sobreposição de uma cultura
sobre outra.

A aculturação também pode consistir na mistura de duas ou mais culturas que,


juntas, acabam por formar uma cultura nova.

O Brasil é um exemplo de sociedade onde ocorreu a aculturação, pois foi formado


através das culturas indígenas, europeia (especialmente portuguesa) e africanas.

2. Criação de blocos econômicos


A união de diferentes nações com o intuito estabelecer uma relação econômica
fortalecida entre si deu origem à criação de blocos econômicos.

Um bloco econômico é um conjunto de países com afinidades culturais e comerciais


geograficamente próximos, que buscam fortalecer a comercialização entre si.

Os principais blocos econômicos mundiais são:

​ APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation - Cooperação Econômica da Ásia e


do Pacífico): formada por Estados Unidos da América, Japão, China, Ilha
Formosa (Taiwan), Coreia do Sul, Hong Kong (região administrativa da China),
Cingapura, Malásia, Tailândia, Indonésia, Brunei, Filipinas, Austrália, Nova
Zelândia, Papua Nova Guiné, Canadá, México, Rússia, Peru, Vietnã e Chile.
​ ASEAN (Association of Southeast Asian Nations - Associação de Nações do
Sudeste Asiático): formada por Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura,
Indonésia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Camboja.
​ CEI (Comunidade dos Estados Independentes): formada por Armênia,
Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia,
Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
​ Comunidade Andina de Nações: formada por Bolívia, Colômbia, Equador e
Peru. Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai interagem como países
associados. México e Panamá são países observadores.
​ Mercosul: formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Bolívia, Chile,
Colômbia, Equador, Peru, Suriname e Guiana são membros associados. Já o
México e a Nova Zelândia são membros observadores.
​ SADC (Southern Africa Development Community - Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral): formada por África do Sul, Angola,
Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malaui,
Maurícia, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e
Zimbábue.
​ União Europeia: São eles: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre,
Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia,
França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta,
Países Baixos (Holanda), Polônia e Portugal.
​ UMSCA (United States–Mexico–Canada Agreement – Acordo entre Estados
Unidos, México e Canadá). Este bloco econômico substitui o NAFTA (North
American Free Trade Agreement - Tratado Norte-Americano de Livre
Comércio).
​ Benelux: formado por Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

Saiba mais sobre blocos econômicos, Mercosul e a União Europeia.

3. Expansão do capitalismo

Algumas teorias estabelecem uma relação direta entre a expansão do capitalismo e


a globalização.
Para o economista Paul Singer, por exemplo, a globalização foi uma das formas
através da qual o capitalismo se desenvolveu.

O também economista Mário Murteira defende que a globalização esteja ligada a


uma nova forma de capitalismo, onde o “mercado de conhecimento” determina a
evolução da economia mundial.

A globalização de certa forma trouxe um estreitamento na relação comercial de


alguns países e isso culminou no aumento da difusão do capitalismo. Um exemplo
disso é o aumento em compras de artigos de tecnologias como smartphones,
computadores, etc.

Veja o significado de capitalismo.

4. Presença de multinacionais

As multinacionais são empresas que possuem sua sede em um determinado país e


filiais em outros.
A indústria de alguns produtos como, por exemplo, a de máquinas pesadas, é
subdividida entre as filiais; por vezes, cada parte de um produto é feita em um país.

A globalização resultou em uma aproximação entre diferentes países e, com isso,


estreitou as relações comerciais entre eles.

Por conta dessa aproximação, ocorreu uma expansão considerável das


multinacionais e o comércio passou a contar com uma quantidade maior de
empresas competindo umas com as outras.

Um dos benefícios trazido por essa competitividade foi o fato de as empresas


conseguirem espaço em mercados onde antes não tinham vez devido ao monopólio
de empresas estatais.

A globalização conquistou o fim do monopólio e a desestatização de vários setores.

No Brasil, um dos setores impactados foi o das telecomunicações. Os sistemas


estatais foram privatizados através de leilões e todas as empresas que compraram
o direito de fornecer seus serviços em determinadas regiões podem fazê-lo.

5. Maior propagação de conhecimentos


Além do reflexo nas relações comerciais entre os países, a globalização também
tem influência direta na propagação de conhecimentos e de informações.

Com a tecnologia a serviço da humanidade, notícias sobre guerras, copas do mundo


e invasões territoriais rapidamente são de conhecimento do mundo todo.

Além disso, com o boom da Internet, os países passaram a ter uma integração
dinâmica e a sociedade passou a adquirir dados e informações quase que de forma
instantânea.

Essa espécie de globalização virtual também trouxe muitas vantagens para as


empresas, que passaram a poder gerir funcionários remotamente e a organizar
reuniões através de aplicativos e programas de comunicação online.

Apesar de todos os benefícios mencionados, a propagação do conhecimento pode


causar destruição se aplicada com más intenções.

Exemplo disso é a disseminação de ideias terroristas, alavancada pela facilidade de


acesso a dados respectivos em diversos tipos de plataformas de informação.
Veja os pontos positivos e negativos da globalização, consumismo e tipos de
globalização.

Saiba mais sobre globalização, Internet e informação.

https://www.significados.com.br/caracteristicas-da-globalizacao/

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