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Estupro Usado Como Arma de Guerra Por Israelenses Na Faixa de Gaza Durante A Primeira Intifada

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ESTUPRO USADO COMO ARMA DE GUERRA POR

ISRAELENSES NA FAIXA DE GAZA DURANTE A PRIMEIRA


INTIFADA (1987-1993)

Amanda Carolina Cegatti1

Giuliana Redin2

Resumo

O presente trabalho pretende analisar a utilização do estupro de mulheres


palestinas como arma de guerra pelos israelenses nos conflitos da Faixa de
Gaza durante a Primeira Intifada. Para alcançar este objetivo, foi abordada a
condição e o papel socioeconômicos da mulher na cultura palestina, a fim de
compreender as razões do abuso sexual estar elencado como tática de guerra
israelense. Deste modo, a pesquisa parte de uma perspectiva feminista
sociológica e política, mediante o apontamento de fatores que auxiliam na
compreensão deste fenômeno. Também foram analisadas a posição de Israel
frente ao Direito Internacional e a discrepância de poder internacional entre
Israel e Palestina. A partir da análise dos dados obtidos buscou-se verificar as
motivações para o estupro de mulheres palestinas ser praticado como arma de
guerra pelos israelenses, para finalmente, identificar os objetivos de se cometer
tais crimes durante o conflito.

Palavras-chave: estupro; mulher; Palestina; Israel.

Abstract

This article aims to analyze the use of rape of Palestinian women as a weapon
of war by Israeli men in Gaza Strip during the first conflict. In order to
accomplish this goal, the conditions of women in Palestine about their
socioeconomic roles will be analyzed in order to understand the reasons for
sexual abuse being casted as an Israeli war tactic. Thus, the research is
conceived through a sociological and political feminist perspective, pointing out
factors that help to understand this phenomenon. The position of Israel against
international law and the discrepancy of international power between Israel and
Palestine were also be analyzed. From the data analysis, the article sought to
verify the motivations for the rape of Palestinian women be practiced as a
weapon of war by the Israelis to finally identify the goals of such crimes during
the conflict.

Key-words: rape; woman; Palestine; Israel.

1
Graduanda do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria -
UFSM
2
Docente e orientadora da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
1 Introdução

A Faixa de Gaza é um território mundialmente conhecido por seus


conflitos crônicos que ocorrem desde o século passado. A disputa – em tese -
territorial, diz respeito a Israel e Palestina , países que mantêm o conflito desde
1948, quando uma resolução da Organização das Nações Unidas criou o
Estado de Israel, o que desagradou aos palestinos residentes da região e
marcou o início das ofensivas de ambos os lados.

Desde o início do conflito, as razões da disputa passaram a ter


diferentes características - entre elas, ser uma guerra religiosa, conflito por
divergências culturais, guerra contra o terrorismo, entre outras -, sempre tendo
como plano de fundo a questão territorial. Com o passar do tempo, ambos os
lados passam a divergir sobre as razões do conflito, e cada vez mais Israel
aumenta o seu poderio militar e aliança com grandes potências mundiais, como
os Estado Unidos, deixando a Palestina em condição de vulnerabilidade
crescente.

A Primeira Intifada, revolta que teve início no ano de 1987, se inicia


depois que um caminhão israelense se choca em uma camioneta
transportando trabalhadores palestinos do campo de refugiados na cidade de
Jabalya, matando quatro pessoas e ferindo outras dez. Os palestinos veem o
incidente como uma resposta a morte de um judeu em Gaza um dia antes. A
partir daí, tomam as ruas em protesto e são rechaçados pelo poderoso exército
israelense, inimigo que não possui na Palestina um adversário a altura. A
Primeira Intifada termina em um acordo mútuo entre líderes de ambos os lados
no ano de 1993, mas alguns outros acontecimentos fazem os territórios
entrarem novamente em conflito no ano de 2000, quando começa a Segunda
Intifada.
A Primeira Intifada ficou conhecida também como “Revolta das Pedras”
devido à veiculação de imagens de crianças lutando com pedras contra
tanques israelenses. A vulnerabilidade da Palestina perante Israel apresenta-se
2
em diversas atrocidades cometidas, como mutilações, assassinatos de
crianças e civis, e principalmente, estupro de mulheres palestinas, utilizado
como arma de guerra, mesmo este sendo considerado um crime de guerra e
crime contra a humanidade.

O presente trabalho pretende compreender as motivações pelas quais o


estupro é utilizado como arma de guerra por Israel nos conflitos da Faixa de Gaza
durante a Primeira Intifada, a partir da compreensão da cultura árabe nos seus
âmbitos social, político e religioso.

A pesquisa se baseia na análise das ações dos dois lados de acordo


com a Teoria Feminista, a qual afirma que o estupro só é possível em
sociedades patriarcais, onde a mulher é mantida em segundo plano, subjugada
e oprimida pelo gênero masculino e este, por sua vez, o é detentor do poder, e
consequentemente, detentor da mulher.
A Teoria Feminista auxiliará desta forma a identificar as relações de
poder estabelecidas a partir do gênero na sociedade palestina. Assim, a essa
teoria permite compreender a opressão da mulher e a dinâmica social e política
do fenômeno do estupro de guerra.
Este trabalho pretende concluir se, a violência sexual cometida por
israelenses contra as mulheres palestinas tem intuito estratégico e não só
ocorre por acaso. Pretende-se confirmar que esta violência é utilizada
objetivamente como arma de guerra.
Para alcançar tal objetivo, é necessário averiguar a condição da mulher
palestina perante a sociedade e a religião islâmica, através de estudos sobre a
cultura árabe e islamismo, com o auxílio de trabalhos embasados em relatos de
mulheres palestinas sobre a violência sexual cometida por israelenses.

O trabalho será divido em três partes, sendo a primeira dedicada a


compreender o conflito árabe-israelense desde o seu princípio, envolvendo outros
países árabes como o Egito, Líbano, Síria e Irã, já analisando brevemente conflitos
que possam ter características semelhantes a este, no que diz respeito ao aspecto
da violência sexual.

O segundo momento tratará sobre a condição a mulher palestina nos


âmbitos sócio-político e religioso. Devido a grande influência da religião islâmica

3
nas decisões e comportamentos de mulheres e homens palestinos, este momento
será importante para compreender as relações de poder estabelecidas na
sociedade e cultura palestinas.

O terceiro momento servirá para analisar o estupro utilizado como arma de


guerra e suas motivações, cometidos por israelenses durante o conflito da Primeira
Intifada, bem como a reação da sociedade palestina nesses casos. Também será
discorrido sobre o posicionamento de Israel perante o Direito Internacional,
seguido das considerações finais.

2 O conflito Israel-Palestina e as estratégias de guerra

A utilização da guerra como ferramenta política pelos Estados não é um


fenômeno recente. Mesmo variando a tecnologia dos armamentos, suas
motivações políticas, econômicas, sociais e estratégicas, as grandes guerras
da história têm um fator em comum: elas trouxeram mudanças relevantes para
o mundo. Entre as mudanças observadas está a definição de permissões e
interpretações de conflitos.

Como sugere a escritora Mary Kaldor em seu livro New and Old Wars
(1998), o que entendemos por guerra, e o que líderes militares definem como
tal, é um fenômeno específico que tomou forma entre os séculos XV e XVIII na
Europa. Desde então, o ato da guerra têm passado por diversas fases, nas
quais diferem os tipos de política presente e de exército, bem como os
objetivos do conflito.

A guerra como ferramenta política pode ser descrita como uma atividade
social, pois ela envolve organização de indivíduos com o propósito de impor
violência física; implica na regulação de certos tipos de relações sociais e tem
uma lógica particular, devido às características próprias de cada tempo e cada
sociedade (KALDOR, 1998, p.15)

Meu argumento central é que durante a última década do século XX,


um novo tipo de violência organizada se desenvolveu, especialmente
na África e no Leste Europeu, que é um dos aspectos da era
globalizada atual. Eu descrevo esse tipo de violência como ‘nova
guerra’. Eu uso o termo ‘nova’ para distinguir estas de perspectivas
prevalecentes de guerra desenhadas em uma era anterior [...] Eu uso
4
o termo ‘guerra’ para enfatizar a natureza política desse novo tipo de
violência, ainda que [...] as novas guerras envolvam uma distinção
embaçada entre guerra, crime organizado e violações de direitos
humanos de alta escala (KALDOR, 1998, p.1).3

Kaldor (1998) apresenta a ideia de que, recentemente, os conflitos que


surgem entre diferentes países mostram uma realidade na qual a violência
intensa está presente, e, ainda que possam parecer gratuitas, essas violências,
que incluem assassinato de civis e crianças, mutilação e estupro de mulheres,
têm no seu plano de fundo uma estratégia dentro do conflito, como também
mostra Tatiana Moura:

A falta de sentido da violência nas novas guerras [...] não é tão


gratuita como aparenta: é estratégica. Assim, por exemplo, as
atrocidades cometidas na Serra Leoa, na Bósnia ou no Congo,
foram cuidadosamente planeadas e centralizadas, resultantes de
uma estratégia orquestrada para aterrorizar as vítimas, apoiadas e
controladas a partir do exterior (MOURA, 2004, p.4)

A guerra na República Democrática do Congo4 é um conflito


frequentemente citado nos estudos sobre guerras recentes. Isso porque há
vinte anos que a guerra ocorre no país, desde quando ruandeses começaram a
procurar refúgios do genocídio do seu país, nas florestas do país vizinho.
Desde estão, registram-se atrocidades em níveis catastróficos para os
congoleses (SCHLINWEIN; KRIPPALH, 2014)5. Os congoleses receiam,
sobretudo a milícia ruandesa hutu Forças Democráticas para a Libertação de
Ruanda (FDLR).

3
[Tradução livre] My central argument is that during the last decade of the twentieth century, a
new type of organized violence developed, especially in Africa and Eastearn Europe, which is
one aspect of the current globalized era. I describe this type of violence as ‘new war’ I use the
term ‘new’ to distinguish such wars from prevailing perceptions of war drawn from a earlier era
[...] I use the term ‘war’ to emphasize the political nature of this new type of violence, even
though [...] the new wars involve a blurring of the distinctions between war, organized crime and
large-scale violations of human rights (KALDOR, 1998, p.1).3
4
Desde o fim da Guerra Fria, a República Democrática do Congo passou por duas guerras que
já mataram 3,8 milhões de pessoas. E mesmo após a oficialização do fim da guerra no ano de
2003 o estado de violência permanece no país, tendo matado 1,6 milhão de pessoas. SILVA,
Igor Castellano. A Guerra e Construção do Estado na República Democrática do Congo.
2011.
5
Informações retiradas de artigo online das autoras. Disponível em: <http://www.dw.de/a-
guerra-sem-fim-no-leste-da-rep%C3%BAblica-democr%C3%A1tica-do-congo/a-17548768>.
Acesso em: 26 de setembro de 2014.
5
Nas tentativas constantes de atacar Ruanda a partir do Congo, esta
milícia comete atrocidades também contra a população local (SCHLINWEIN;
KRIPPALH, 2014). Entre essas atrocidades estão inclusos os casos de
violência sexual contra mulheres congolesas:

O estudo mais recente, da Associação Americana de Saúde Pública,


divulgado em 2011 registrou 400 mil estupros de mulheres, dentre
15 e 49 anos, em um ano. Isso significa que 1.095 congolesas foram
estupradas por dia - 45 por hora [...] Esses são somente os casos
que puderam ser registrados. [...] Uma delas [das congolesas], de
30 anos, tentou oferecer tudo que tinha - 1.000 francos congoleses
(US$ 1) - a rebeldes [...] quando eles a encontraram na mata, após
ela ver seu marido ser morto com um tiro em um ataque contra o
vilarejo de Kabizo, na região de Rutshuro, mas eles não queriam
seu dinheiro. As chacinas de homens e os estupros de mulheres se
tornam arma de guerra no Congo. Servem para demonstrar força e
humilhar o oponente ao dominar e massacrar populações e sua
etnia (CARRANCA, 2013)6

Caso semelhante pôde ser observado na Guerra da Bósnia7, na década


de 90, quando os muçulmanos declaram a independência da Bósnia-
Herzegovina, na região central do país, com capital em Sarajevo. Os sérvios da
Bósnia não aceitaram tal situação, e com o apoio da Sérvia, formaram milícias
e proclamam imediatamente a República Sérvia da Bósnia. A partir daí,
começa uma onda de massacre promovida pelos sérvios (FERREIRA, 1995) 8.

O estupro foi usado como parte de uma estratégia de limpeza étnica


durante o conflito:

A organização bósnio-britânica “Relembrando Srebenica” diz que o


estupro foi usado como parte de uma estratégica de limpeza étnica
durante o conflito na Bósnia na década de 1990. Estima-se que
entre 20 mil e 50 mil mulheres foram violentadas por soldados e,
tudo isso, com o intuito de engravidar as mulheres muçulmanas com

6
Informações retiradas de artigo online da autora. Disponível em: <
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,estupro-vira-arma-de-guerra-no-congo-imp-
,1090073>. Acesso em: 27 de outubro de 2014
7
Há na ex-Iugoslávia três grupos oponentes: os sérvios, católicos ortodoxos, os croatas e
eslovênos, católicos romanos, e os bósnios, muçulmanos. Cada um quer seu próprio estado
independente e étnicamente homogêneo. Para isso, tentam à força estabelecer seu território e,
na medida do possível, expulsar ou até eliminar as minorias de outras religiões (FERREIRA,
1995).
8
Informações retiradas de artigo online do autor. Disponível em:
<http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/j_whitaker/bosnia.html>. Acesso em: 22 de outubro
de 2014.
6
bebês sérvios. Até hoje, apenas sete soldados enfrentaram um
julgamento sob a acusação de estupro (SUBI SHAH, 2014)9.

A Guerra na Bósnia passa a ser importante nos estudos sobre violência


sexual utilizada como arma de guerra, pois permite uma análise da situação de
competição territorial e étnica que rivalizada bósnios e sérvios na década de 90:

Hayden (2000) desconfia do caráter planejado da violência sexual,


mas não nega seu caráter estratégico. Ao analisar a presença e a
ausência de estupro em situações de violência em massa, o autor
conclui que o estupro acompanha momentos de partilha do território
– como a Partição da Índia em 1947, descrita por Veena Das (1995),
e como a guerra na Bósnia. O estupro, segundo esse autor, ao
produzir o ódio e, acredito, também o medo, assegura a
impossibilidade de qualquer coexistência no futuro e garante a
efetividade da expulsão (PERES, 2011, p.135)

O conflito da Bósnia, especialmente, supõe grande semelhança com as


atrocidades que irão ocorrer nos conflitos da Faixa de Gaza, por se tratar de
uma guerra religiosa e de partilha de território.

2.1 O conflito Israel-Palestina desde 1948

Ao adentrar no conflito entre Israel e Palestina, é possível identificar


diversas interpretações, visto que, de acordo com os palestinos, os israelenses
começaram o conflito após tomarem parte do território árabe para si, e de
acordo com os israelenses, os palestinos iniciaram o conflito quando não
respeitaram a Declaração de Independência feita pela ONU, que garantiria seu
território (COHN-SHERBOK; EL-ALAMI, 2005, p.60-61).

Entretanto, alguns acontecimentos nos permitem fazer uma leitura das


origens dos dois principais conflitos – as duas Intifadas -, como o primeiro

9
Informações retiradas de artigo online da autora. Disponível em:
<http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/06/corajosas-e-inocentes-o-estupro-em-zonas-de-
guerra/>. Acesso em: 6 de outubro de 2014.

7
conflito árabe-israelense de 1948, quando através de uma Resolução da
Organização das Nações Unidas (ONU) cria-se a Declaração de Independência
do Estado de Israel, tendo em conta a urgência de se criar uma nação judaica,
vista a destruição dos judeus europeus pela Alemanha nazista. A Declaração
foi feita um ano depois da Partilha da Palestina pela ONU (COHN-SHERBOK;
EL-ALAMI, 2005, p.64-65).

[...] as Nações Unidas tinham reconhecido o direito do povo judeu de


estabelecer seu próprio Estado, que doravante seria conhecido
como Estado de Israel. Esse Estado judaico, concluía a Declaração,
estaria aberto para a imigração e teria por base a liberdade, a justiça
e a paz, conforme visionado pelos profetas de Israel (COHN-
SHERBOK; EL-ALAMI, 2005, p.64)

Porém, no dia seguinte à Declaração de Independência de Israel, os


países árabes se uniram para intervir na situação: Líbano, Síria, Iraque e Egito
atacaram Israel por diversos lados, com o intuito de impedir que o Estado de
Israel fosse estabelecido de tal forma, fazendo com que os judeus obtivessem
influência e espaço no Oriente Médio, região até então dominada por
árabes (COHN-SHERBOK; EL-ALAMI, 2005, p.65).

A partir daí, diversos conflitos envolveram rivalidade entre árabes e


israelenses, como a Crise do Suez, a Guerra dos Seis Dias, a Guerra de Yom
Kippur e, finalmente, as duas Intifadas10.

Durante o governo de Gamal Abdel Nasser no Egito, muitas políticas de


nacionalismo foram preenchendo a agenda do governo. Uma das ações
executadas por Nasser foi a nacionalização do Canal do Suez em julho de
1956. A medida tinha como objetivo proteger o Canal da exploração de outras
potências, garantindo sua integridade territorial e soberania nacional, fazendo
valer seus interesses políticos (NETO, 2010)

Em outubro do mesmo ano, Israel, com o apoio da França e do Reino


Unido declaram guerra ao Egito. A Crise do Suez, também conhecida como
Segundo Conflito Árabe-Israelense teve como principal objetivo desestatizar o

10
Intifada pode ser traduzida do árabe como sendo “revolta” ou “levante”.

8
Canal do Suez, pois os países contrários ao Egito o utilizavam para ter acesso
ao comércio oriental, isso não sendo mais possível, uma vez que o Canal fosse
de posse egípcia. O porto israelense de Eilat ficaria bloqueado, assim como o
acesso de Israel ao mar Vermelho, através do estreito de Tiran, no golfo de
Ákaba (NETO, 2010).

Onze anos depois, no ano de 1967, Nasser provoca uma crise com
a interdição do Canal de Ákaba aos navios israelenses, como forma de protesto
ao apoio dos EUA ao Estado de Israel. Sua ideia inicial era apenas conseguir
um acordo, mas o Ocidente não responde às suas provocações. Duas
semanas depois, ocorre a Guerra dos Seis Dias, quando Israel ataca o Egito, a
Síria e a Jordânia de surpresa. Israel domina o norte da Península do Sinai,
Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Colinas de Golã (VISENTINI, 2012).

Para os egípcios, a Guerra de 1967 constitui um duro golpe no


nasserismo, que inicia seu declínio interno e externo com a perda de
prestigio no mundo árabe. A guerra proporciona para Israel aumento
territorial [...] e barganha os territórios em troca do reconhecimento
diplomático por parte do mundo árabe (VISENTINI, 2012)

Mais tarde, em outubro de 1973 o Oriente Médio e o mundo foram


sacudidos pela Guerra do Yom Kippur e pelo primeiro choque petrolífero. O
Egito e a Síria atacaram Israel buscando recuperar os territórios perdidos em
1967, por ocasião da Guerra dos Seis Dias, e chamar a atenção do Ocidente
para a difícil situação dos países árabes. Os árabes se entusiasmaram, mas os
EUA socorreram Israel com armamentos, que logo recuperou o terreno perdido
nos primeiros dias, decretando então, um cessar-fogo (VISENTINI, 2012)

Os EUA e Israel alcançaram os seus objetivos quando em 1979 o Egito


negociou os Acordos de Camp David, recebendo o Sinai de volta em troca de
reconhecer Israel e eliminar seus armamentos ofensivos. A maior ameaça
militar aos israelenses desaparecia, o Egito abandonava o conflito e se aliava
ao Ocidente, enquanto o mundo árabe se dividia, com a expulsão do Egito da
Liga Árabe, demonstrando a fragilidade dessa união (VISENTINI, 2012).

O constante e incondicional apoio dos Estados Unidos ao


expansionismo de Israel na Palestina e em parte do mundo árabe provocou um
9
crescente sentimento antiamericano em todo Oriente Médio, com o forte
agravante do fundamentalismo islâmico. A relação mais odiosa do mundo
árabe-islâmico com os Estados Unidos porém, é mais recente, originando-se
bem menos na criação do Estado de Israel, e bem mais na Guerra dos Seis
Dias (BENNIS, 2001)11.

O povo palestino teve sua situação agravada nas décadas de 1970 e


1980, quando o expansionismo israelense apoiado pelos Estados Unidos,
estendeu-se para o Líbano, visando expulsar a Organização para a Libertação
da Palestina (OLP) do território libanês. Foi nesse quadro que se radicalizou a
luta palestina contra Israel, com o surgimento e crescimento de grupos político-
religiosos hostis ao Ocidente, destacando-se o Hezbollah12, o Hamas13, a Jihad
Islâmica14 e a Al Qaeda15 (BENNIS, 2001).

Nota-se, desta forma, que os conflitos árabe-israelenses ocorreram em


vários âmbitos e por motivações diversas, envolvendo outros povos além de
israelenses e palestinos, até chegar nos dois principais conflitos entre Palestina
e Israel, na década de 80 e 2000 - as duas Intifadas.

No dia 8 de novembro de 1987, um caminhão israelense se chocou com


uma camioneta que transportava trabalhadores palestinos, o que causou a
morte de quatro homens e o ferimento de mais dez. Os palestinos
interpretaram o acontecimento como uma resposta à morte de um judeu em
Gaza alguns dias antes e, no dia seguinte tomaram as ruas em protesto,
oficializando assim, no dia 9 de novembro de 1987, o início da Primeira Intifada
(ALTMAN, 2014).

Nove de dezembro marcou o início formal da Intifada, mas


demonstrações de pequena escala e atos de violência dirigidos
contra israelenses vinham em escalada crescente durante meses. O

11
Informações retiradas do artigo online do autor. Disponível em: <
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=359> Acesso em: 18 de novembro
de 2014.
12
Hezbollah pode ser traduzido como "Partido de Deus". É uma organização xiita libanesa
apoiada pelo governo islâmico fundamentalista do Irã.
13
Movimento de Resistência Islâmica, criado por palestinos em 1987 quando se iniciou
a Primeira Intifada.
14
Organização formada por jovens palestinos no Egito desde 1980.
15
Al Qaeda pode ser traduzida como “A Base”. É uma organização muçulmana radical com
sede principal no Afeganistão.
10
ano de 1987 marcou o 20º aniversário da conquista por Israel da
Cisjordânia e da Faixa de Gaza (ALTMAN, 2014)16.

Na sequencia, com o apoio do governo de Tel Aviv, colonos israelenses


mudaram-se para terras palestinas ocupadas por Israel. Em dezembro de
1987, 2200 colonos armados ocuparam 40% de Gaza, enquanto 650 mil
palestinos em condições de pobreza ficaram concentrados nos outros 60%,
fazendo da porção palestina uma das áreas mais densamente povoadas do
mundo (ALTMAN, 2014).

A Primeira Intifada ficou conhecida também como “Revolta das Pedras”,


devido à veiculação de imagens de crianças palestinas com pedras nas mãos,
tentando enfrentar os poderosos tanques israelenses, um dos mais fortes
exércitos do planeta (VISACRO, 2009).

A revolta foi liderada por jovens palestinos, com participação ativa de


mulheres, ambos tendo crescido sob a ocupação israelense. Durante três anos,
a cada 1 israelense morto, morriam 16 palestinos. O levante popular dos
palestinos contra os militares israelenses foi controlado pelo exército de Israel
que rechaçou os militantes com as mais diversas atrocidades
(CAMPAGNUCCI; CAMPAGNUCCI, 2011)17.

No ano de 1988, Yasser Arafat, líder dos palestinos, proclama o Estado


da Palestina, reconhecendo o direito de existência do Estado de Israel, mas
condenando o terrorismo e demandando a retirada das tropas israelenses dos
territórios palestinos. Em 1993 Israel e a OLP se reconhecem mutuamente,
causando esperança de um acordo de paz que terminasse com as chacinas
(CAMPAGNUCCI; CAMPAGNUCCI, 2011).

16
Informações retiradas de artigo online do autor. Disponível em:
<http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/max-altman-israel-nao-e-e-nao-pode-ser-o-estado-
judeu.html>. Acesso em: 28 de outubro de 2014.
17
Informações retiradas de artigo online das autoras. Disponível em:
<http://www.academia.edu/2183686/O_outro_lado_do_muro_uma_viagem_%C3%A0_Palestin
a>. Acesso em: 14 de outubro de 2014.

11
Entretanto, mesmo após o Primeiro-Ministro israelense Yitzhak Rabin
negociar a paz com Yasser Arafat, tanto israelenses quanto palestinos
continuam a realizar ofensivas uns contra os outros. Até que, em 1995, um
jovem judeu de extrema-direita que não aceitava o diálogo com os palestinos,
assassina Rabin. A partir daí, a direita ganha espaço no parlamento israelense,
o seu representante Benyamin Netanyahu vence as eleições de 1996, e
nenhum dos acordos prospera (CAMPAGNUCCI; CAMPAGNUCCI, 2011).

Em 2000, Ariel Sharon - então parlamentar do Likud (da direita


conservadora israelita) – visita Jerusalém, entrando na Esplanada das
Mesquitas. Os mais de mil palestinos que estavam presentes no momento
consideraram o ato de Sharon como uma provocação. (COHN-SHERBOK; EL-
ALAMI, 2005, p. 103).

Nos dias seguintes, ocorrem diversas manifestações violentas envolvendo


israelenses e palestinos com ataques mútuos em territórios tomados por Israel,
como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, tendo início assim, a Segunda Intifada,
que se estende até meados de 2005. Como resultado dessa insurreição, quase
cinco mil pessoas morreram, sendo que 1022 eram israelenses e todo o
restante eram palestinos. (COHN-SHERBOK; EL-ALAMI, 2005, p.103-104).

Durante os dois conflitos, Israel continua sua expansão territorial, e com


esse avanço, a população local em cada área sucessivamente conquistada
abandona suas aldeias e cidades, em pânico diante do terror que os grupos
para-militares sionistas espalhavam entre a população palestina. (COHN-
SHERBOK; EL-ALAMI, 2005, p.106).

A estratégia israelense, arrasando aldeias inteiras, queimando e


destruindo plantações e celeiros, e trucidando a população civil, provocou um
êxodo de refugiados para os países vizinhos – especialmente Líbano e
Transjordânia (GATTAZ, 2010)18.

De acordo com Gattaz (2010), o estupro também se tornou uma arma


usada para aterrorizar os civis árabes na Palestina. O estupro de mulheres

18
Informações retiradas do artigo online do autor. Disponível em:
<http://terrornapalestina.home.sapo.pt/Historia/11.htm>. Acesso em: 02 de outubro de 2014.
12
árabes seria notado em várias outras atrocidades sionistas após Deir Yassim 19
(GATTAZ, 2010).

Ainda segundo Gattaz (2010), “tendo em vista a sensibilidade árabe


sobre o estupro, não é surpreendente que muitos civis palestinos depois se
lembrassem do medo do estupro como o motivo principal para seu êxodo”
(GATTAZ, 2010).

Somado a essas questões, está o fato de que, Israel enquanto Estado


está militar e politicamente preparado para os conflitos, em contraponto à
condição de não-Estado da Palestina no momento das duas Intifadas -
condição esta presente devido ao desrespeito à sua Partilha feita pela ONU em
1947. A força militar de Israel, quarta maior potência militar do planeta, conta
ainda com a cooperação dos Estados Unidos a fazer valer seu argumento
central para legitimar ao mundo os ataques ao povo palestino: eles
representam uma ameaça ao Estado de Israel, e este fará o que for necessário
para defender seu território do perigo eminente do terrorismo do Hamas 20
(GOMES, 2014, p.103-104)21.

De fato, o Hamas, movimento que constrói uma base sólida através do


assistencialismo, na ausência de um Estado que assegure direitos sociais à
sua população, com o passar do tempo absorve uma tendência radical e passa
a ser protagonista de diversos atos de terrorismo contra Israel (COLLARES,
2012, p.107).

Naturalmente Israel tem direito de se defender contra os


bombardeios da organização radical Hamas. Até por que esses
projéteis, não direcionados e tecnologicamente primitivos, não visam
alvos militares, mas sim atingir a população israelense. Lançar

19
Há 66 anos atrás, 9 de abril de 1948, os judeus sionistas instalados na Palestina deram início
ao processo de limpeza étnica e de genocídio do povo árabe palestino, por meio do massacre
da aldeia de Deir Yassin, quando cerca de 254 pessoas (homens, mulheres e crianças) foram
assassinadas por dois grupos terroristas sionistas: Irgun (do qual faziam parte os futuros
primeiros-ministros israelenses Menachen Begin e Yitzhak Shamir) e Gang Stern, sob ordens
do Hagannah (defesa, em hebraico), a maior milícia terrorista sionista em combate. MAALOUF,
Rames Philipe Deir Yassin: 66 anos da limpeza étnica e genocídio dos palestinos e a
fundação de Israel,. 2014)
20
Hamas é a sigla em árabe para Movimento de Resistência Palestina.
21
Informações retiradas do artigo online da autora. Disponível em:
<http://cebrapaz.org.br/site/component/content/article/42-rokstories/1073-a-guerra-imperialista-
de-israel-contra-o-povo-palestino.html>. Acesso em: 28 de setembro de 2014.
13
mísseis sobre civis é sempre um crime que deve ser punido
(MUDHOON, 2014)22.

Todavia, a posição de ataque de Israel deve estar em consonância com


as regras do Direito Internacional, para que sejam legítimas. E sobre o
posicionamento de Israel, existem contrapontos:

[...] o Estado de Israel, a quarta potência militar do planeta, com


suas mais de duzentas ogivas nucleares, bombas de fragmentação,
drones, mísseis e tanques, enfim, com os mais modernos e eficazes
instrumentos de destruição e morte – contando ainda com o apoio
incondicional da maior potência bélica do planeta, os Estados
Unidos –, através de seu poder midiático e com a cumplicidade de
seus próceres, inclusive dentro do Brasil, tem o poder de se passar
por ameaçado por um povo sem armas, sem Exército, sem
recursos, vivendo em verdadeiros campos de concentração, sem
direito às mínimas condições de vida digna, vítima de uma política
genocida e que tem como única arma, além de alguns estilingues e
foguetes artesanais, sua própria existência martirizada. [Israel tenta]
impor, como condição para a Paz não o que determina a ONU, a
criação do Estado palestino na sua plenitude, mas a aberração de
um não-Estado, cercado militarmente, um protetorado israelense
manietado e impotente. (GOMES, 2014)

Como afirma Jean-Paul Chagnollaud (2010)23, nos últimos 30 anos, as


ofensivas militares israelenses têm designado seu adversário categorizando o
inimigo em dois grupos: soldados e terroristas. E no caso da Palestina, como
nenhum exército está envolvido, o adversário é sempre um terrorista. A partir
dessa premissa, nega-se ao outro o direito à resistência e à legitimidade
mínima de sua causa, pois sendo ele terrorista, as regras se modificam: para
combatê-lo, vale tudo (CHAGNOLLAUD, 2010).

O fim – a erradicação do terrorismo – justifica os meios. Em


dezembro de 2008, a uma pergunta a respeito dos objetivos da
ofensiva contra Gaza, um porta-voz do exército israelense
respondeu: “Nós vamos limpar os ninhos de terroristas”. Dias mais
tarde, questionado sobre o grande número de vítimas, ele insistiu:
“Sim... Mas, são terroristas” (CHAGNOLLAUD, 2010)

22
Informações retiradas do artigo online do autor. Disponível em:
<http://www.dw.de/opini%C3%A3o-paz-em-gaza-depende-de-solu%C3%A7%C3%A3o-
pol%C3%ADtica-sustent%C3%A1vel/a-17820284>. Acesso em: 27 de outubro de 2014.
23
Informações retiradas do artigo online do autor. Disponível em:
<http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=661>. Acesso em: 25 de setembro de 2014.
14
Segundo Altman (2014), o direito de defesa que Israel proclama como
motivação para os ataques em Gaza não se mostram suficientes para legitimar
suas ações, pois nunca existiu autodefesa que justificasse mortes de mulheres,
crianças e ataques a edifícios das Nações Unidas: "o nome do que faz o
governo de Israel é crime de guerra" (ALTMAN, 2014).

Existem normas sobre o comportamento dos militares durante


conflitos armados [...] corpo de normas conhecido como “leis de
guerra”, “leis dos conflitos armados” ou “leis humanitárias
internacionais”. Todo conflito armado envolve dois tipos de
indivíduos: combatentes e não-combatentes. O direito humanitário
internacional protege ambas as categorias. Não podem ser mirados
alvos puramente civis [...]
Os indivíduos que desrespeitam as normas podem ser processados
por crimes de guerra em cortes nacionais ou tribunais internacionais.
Em 1998, negociadores de 120 países criaram um Tribunal Penal
Internacional (TPI) em caráter permanente. O TPI tem sido objeto de
considerável polêmica, em grande parte porque os Estados Unidos
têm procurado ativamente boicotar sua atuação (BYERS, 2007).

Segundo os autores citados, as características da Primeira e Segunda


Intifada, bem como dos demais conflitos discorridos, apresentam, além da
violência intensa, a ausência de uma motivação ideológica esclarecida que não
deixe as explicações sobre as razões da guerra serem insatisfatórias, como
afirmam Kaldor (1998) e Moura (2004) em seus debates sobre novas guerras.

Entretanto, pesando o fato de que o estupro foi utilizado como arma de


guerra em outros conflitos anteriores ao século XX, por exemplo, na Segunda
Guerra Mundial e no Massacre de Nanquim em 1937 na China, quando o
abuso sexual cometido pelos japoneses foi estrondoso e com o intuito de
aterrorizar a população local, o debate sobre as novas guerras deixa a desejar
no que diz respeito a seu aspecto temporal.

Todavia, para que seja possível discorrer sobre a utilização do estupro


como instrumento de guerra, o trabalho se baseia na perspectiva de que existe
uma motivação - e não acontece por acaso - para a sua utilização nos conflitos
da Faixa de Gaza durante a Primeira Intifada. A partir daí, torna-se mais fácil a
compreensão do porque esse instrumento faz parte dos conflitos.

15
3 A mulher Palestina no contexto sócio-político e religioso

Para compreender o estupro como arma de guerra, é necessário discutir


sobre a mulher palestina: a sua condição de vida, sua posição e papel na
sociedade, leis religiosas as quais estão submetidas - visto que a Palestina é o
um território essencialmente muçulmano, onde a religião define tradições e
comportamentos -, a fim de tornar possível a compreensão dessa violação.

Como afirma Jarid Arraes (2014), lamentavelmente, em muitas culturas


o simples fato de ser mulher pode ser motivo para viver em constante medo e
risco. No caso das palestinas, a opressão é dupla: a ocupação e a
discriminação. A situação da mulher palestina, então, está diretamente atrelada
à rotina de um território sob ocupação, situação que causa grandes impactos
na sua saúde, educação e no seu trabalho (ARRAES, 2014)24.

Segundo Luciana Garcia de Oliveira (2012), quando se trata de privação


da liberdade – principalmente sexual - a mulher palestina sofre muito mais
severamente do que o homem. Isso se deve muito a algumas instituições
árabes conservadoras que afirmam que a censura serve para proteger valores
culturais (OLIVEIRA, 2012).

O estereótipo do mundo ocidental sobre as mulheres muçulmanas auxilia


a criar uma figura da mulher islâmica como ser reprimido e submisso aos
homens da família, o que de certa forma não é totalmente equivocado, devido
muito à interpretação que se faz da religião islâmica pela sociedade.
(OLIVEIRA, 2012)25.

O papel da mulher palestina na sociedade, em uma visão geral, está


intrinsicamente ligado ao casamento e aos filhos. Na cultura árabe, é a mãe

24
Informações retiradas do artigo online da autora: Disponível em: <
http://revistaforum.com.br/digital/160/ok-mulheres-palestinas-violacao-com-marca-de-genero/>.
Acesso em: 10 de novembro de 2014.
25
Informações retiradas do artigo online da autora: Disponível em: <
http://revistaforum.com.br/digital/160/ok-mulheres-palestinas-violacao-com-marca-de-genero/>.
Acesso em: 10 de novembro de 2014.

16
quem transmite a moral aos filhos, enquanto o homem é o provedor do
sustento da família (OLIVEIRA, 2012).

Porém, a ocupação israelense na Palestina faz parte da identidade das


mulheres nestes territórios. Isso porque, desde a ocupação de 1948, o papel da
mulher nesta sociedade se altera de essencialmente dona-de-casa para
também chefes-de-família (OLIVEIRA, 2012).

A realidade das mulheres palestinas que vivem em territórios ocupados


por Israel passa a ser muito mais difícil. Além da constante humilhação e medo
do inimigo, muitas mulheres perdem o marido em confrontos armados, ou
ataques a civis, o que faz com que o provedor principal – e na maioria das
vezes, único – da família já não esteja mais presente. Devido a isso, as
mulheres passam a ter de sustentar sua família com o pouco estudo e pouca
experiência no mercado de trabalho, além da já imposta pobreza que assola
grande parte da Palestina (OLIVEIRA, 2012).

Entretanto, a mulher palestina ainda é extremamente financeiramente


dependente do marido. A maior incidência de miséria está entre mulheres e
meninas, isto porque, a desigualdade de gênero que não permite iguais
oportunidades de estudo e trabalho para as mulheres, faz com que estas sejam
dependentes do casamento. Se o matrimônio acaba em divórcio – situação
fortemente socialmente condenável e rara -, ou se o marido falece, estas
mulheres ficam à mercê do Estado discriminatório, onde não há espaço para a
prosperidade de uma mulher desacompanhada (OLIVEIRA, 2012).

No que diz respeito à educação feminina, alguns avanços são notados na


Palestina. O número de mulheres alfabetizadas chega a 91%, devido ao
crescimento de meninas matriculadas em escolas. Porém, o conservadorismo
da sociedade palestina não permite que muitas mulheres sejam educadas, e
quando são, não têm grandes espaços no mercado de trabalho (GOMBATA,
2013)26. Como é o caso de Abu Zaher:

26
Informações retiradas do artigo online da autora. Disponível em: <
http://www.cartacapital.com.br/internacional/a-mulher-deve-ter-direito-a-propria-vida201d-diz-
parlamentar-palestina-6754.html>. Acesso em: 12 de novembro de 2014.

17
Uma das únicas mulheres de seu vilarejo a obter um diploma
universitário, Abu Zaher é especialista também em democracia. Além
da sua briga diária para trabalhar em um Parlamento paralisado há
seis anos devido à ruptura entre o Fatah e o Hamas, sua maior luta é
para dar maior autonomia à mulher na sociedade palestina, onde o
grande abismo entre homens e mulheres, afirma ela, não tem origem
nos mandamentos religiosos, mas sim na herança histórica e cultural.
“A religião impede que a mulher continue a estudar e tenha um grau
de educação cada vez mais elevado? Não, a religião não diz isso. É a
sociedade quem diz”, explicou Abu Zaher. “A minha ambição é mudar
a sociedade na qual vivo, o jeito como as pessoas veem a mulher.
Não deveríamos apenas ter o direito de ter filhos e criá-los, mas
também o de termos nossa própria vida.” (GOMBATA, 2013).

Abu afirma também que, na sociedade palestina e árabe no geral, o


homem está sempre no controle da situação, ocupando os cargos mais
importantes. Na sua cidade, onde vivem 6 mil pessoas, Abu foi a única a ter um
título de Ph.D. Ainda assim, quando foi estudar precisou levar consigo a sua
mãe ao Cairo, por não ser casada e não ser permitido que mulheres estejam
desacompanhadas. Quanto às mulheres que conquistam seu espaço na
sociedade como sujeito ativo na política, por exemplo, elas têm de enfrentar a
discriminação e a desigualdade de gênero muito presente na sociedade
palestina:

Na verdade, como mulher sou obrigada a enfrentar vários problemas


todos os dias, em diferentes setores da minha vida, inclusive no
Parlamento. Simplesmente porque sou mulher não sou tratada como
os homens que trabalham no Parlamento. Tenho um titulo de PhD, e
há pessoas que sequer foram para a universidade, mas têm um
salário muito maior que o meu. Estou falando, então, de um grande
abismo sobre como tratam homens e mulheres. Os cursos
geralmente são destinados aos homens, todos os homens controlam
a maioria dos cargos de administração. Não apenas no Parlamento,
mas em todos os ministérios acontece isso. A situação para uma
mulher dentro da Palestina é muito, muito difícil (GOMBATA, 2013).

No que se refere à religião, há muito tempo o Islamismo tem sido


distorcido ao redor do mundo, com diferentes interpretações sobre o seu livro
sagrado - o Alcorão. As interpretações incorretas partem de pessoas de
diversas origens religiosas, inclusive muçulmanos, fazendo com que as suas
leis se adaptem aos interesses da classe dominante. Segundo El Saadawi

18
(2002), a mulher muçulmana é quem frequentemente sofre com as leituras
errôneas do Alcorão e seus reflexos na sociedade e política.

Sherif Abdel Azeem (2010) afirma que a visão do Alcorão sobre as


mulheres não as diferencia dos homens. Ambos são criaturas de Deus, as
quais têm como objetivo na Terra cultuar e adorar o seu Senhor, fazer boas
ações e evitar o mal para que ambos sejam avaliados em conformidade com as
suas ações. De acordo com o Alcorão, o papel da mulher na Terra não se limita
ao parto; ela deve fazer tantas boas ações quanto qualquer homem. Diversas
passagens do Alcorão se remetem aos homens e mulheres como seres iguais,
com deveres da religião equivalentes e punição também equivalentes, caso
não cumpram com a sua fé. (AZEEM, 2010, p.16).

Segundo Azeem (2010), um ponto bastante mal interpretado pela cultura


ocidental é o uso do véu pelas mulheres muçulmanas como o maior símbolo de
opressão e servidão destas. Porém, o uso do véu não foi originado no
Islamismo (AZEEM, 2010, p.16).

O véu é um produto da religião judaica, e portanto sua origem é bem


anterior ao surgimento do Islamismo. Seu uso foi inspirado no Velho
Testamento, que obrigava as mulheres a cobrir suas cabeças
quando dirigissem suas preces a Jeová, enquanto os homens
poderiam mantê-las descobertas, uma vez que foram criados à
imagem de Deus. Daí derivou-se a crença de que as mulheres eram
incompletas, um corpo sem cabeça, um corpo que só poderia
completar-se pelo marido, o único que possuía cabeça (EL
SAADAWI, 2002, p 21-22).

A invenção do véu no Judaísmo tinha como intuito demonstrar modéstia,


cobrindo a beleza e acessórios das mulheres. Com o passar do tempo, o véu
passou a significar o auto respeito das mulheres e status social. Mulheres de
classes mais baixas frequentemente utilizavam o véu para dar a impressão de
que pertenciam a uma classe superior. As prostitutas não eram autorizadas a
usá-lo, pois esse significava nobreza. Entretanto, elas passaram a usá-lo para
parecer mais respeitáveis (AZEEM, 2010, p. 73-74).

Na sua essência original, o véu, tão pouco a religião islâmica, nada


teriam a ver com a opressão da mulher muçulmana. A religião se torna aos

19
poucos o alvo para justificar a discriminação do sexo feminino em países de
cultura árabe, através das interpretações equivocadas que visam alcançar os
interesses da classe dominante. Essas interpretações se refletem na sociedade
e acabam impondo uma condição inferiorizada da mulher palestina em relação
aos homens (EL SAADAWI, 2002, p.11).

Não é verdade que as mulheres dos países árabes são oprimidas


por causa do islã. Se compararmos o islã com o cristianismo,
judaísmo e o hinduísmo, descobriremos que o islã em sua origem, é
bem mais suave do que as outras grandes religiões. No Alcorão,
não há uma só palavra sugerindo que as mulheres devem ser
obrigadas a usar véu ou não devem estudar e ser profissionais. Bem
ao contrario. Os problemas aparecem por causa do sistema politico,
que interpreta o islã de acordo com seus interesses. Ou seja: as
mulheres não são oprimidas por causa dos princípios de sua
religião, mas pelos sistemas políticos ligados ao poder religioso. Há
muitas escolas de interpretação do islã e a interpretação dada pelos
homens que conduzem estas escolas é a que afeta a vida das
mulheres. Se na maioria dos países árabes as mulheres não têm
poder politico ou econômico, isto esta relacionado com as politicas
internacionais, nacionais e familiares (EL SAADAWI, 2002, p. 11)

Em alguns lugares como o Irã, a Palestina, a Jordânia e o Kuwait,


algumas militantes do movimento feminista se apoiam numa releitura do
Alcorão para defender seus direitos, denunciando a leitura patriarcal que dele
é feita e se mobilizando contra as discriminações políticas, sociais,
econômicas e jurídicas entre os sexos (LUCIA DIRENBERGER, 2011) 27.

Ainda assim, devido à relação de dominação do homem sobre a mulher,


o Alcorão passa a ser interpretado na Palestina e nos demais países
muçulmanos de forma que, ser uma mulher respeitável é essencial para
garantir o respeito de toda a sua família. Segundo El Saadawi (2002), ainda
hoje, para as sociedades árabes esse respeito está fortemente ligado à
virgindade das mulheres (EL SAADAWI, 2002, p.51).

A sociedade árabe ainda considera essa delicada membrana


[hímen], que reveste a abertura dos órgãos genitais externos, como

27
Informações retiradas do artigo online da autora. Disponível em: <
http://revistageni.org/09/os-feminismos-no-oriente-medio/>. Acesso em: 17 de outubro de 2014.

20
a parte mais importante e imprescindível do corpo da mulher, sendo
mais valiosa que os olhos, os braços e as pernas. Uma família árabe
não lamenta tanto a perda de um olho, como o faz com a perda da
virgindade. Na verdade, a morte de uma mulher é considerada
menos catastrófica que a ausência de seu hímen (EL SAADAWI,
2002, p.51)

Considerando tamanha importância que se é dada para a virgindade das


mulheres palestinas, as famílias prezam por práticas que, teoricamente,
auxiliam a garantir que a pureza feminina não será danificada, como a
circuncisão28. Segundo El Saadawi (2002), existe a crença de que ao se
remover partes do órgão genital externo do sexo feminino, diminui-se o desejo
sexual. Isso faz com que a mulher, “ao atingir a ‘idade perigosa’ da puberdade
e adolescência, proteja sua virgindade, e consequentemente sua honra, com
muito mais facilidade” (EL SAADAWI, 2002, p.59).

A virgindade e a consequente honra feminina na sociedade Palestina é


tão essencial aos olhos dos árabes, que muitas vezes, caso a menina ou
mulher perca a sua virgindade precocemente, ou ainda, tenha relações sexuais
com alguém que não o seu marido – tendo este sendo consentido ou não -, os
homens da sua própria família se encarregam de assassiná-las para que seja
possível restaurar a honra familiar (ARRAES, 2014).

Os assassinatos “por honra” costumam ser praticados pelos próprios


familiares da vítima, que é morta por ter envergonhado ou manchado
de alguma forma a honra da família. No caso das mulheres, a razão
dos assassinatos geralmente envolve a sua sexualidade, nos casos
em que sua conduta sexual seja considerada “imoral” – e é
necessário realmente pouco para que isso aconteça. Em 2013, foram
registradas 26 mortes de mulheres palestinas por motivos de honra, o
dobro dos casos registrados em 2012. Em Março de 2014, mais de
150 pessoas protestaram em Gaza exigindo que esse quadro
chegasse ao fim (ARRAES, 2014).

El Saadawi (2002) afirma que interessa manter o status como está aos
homens que se privilegiam da situação, pois deles não se é exigido, por parte

28
El Saadawi expõe que a cirurgia da circuncisão no vocabulário árabe popular é chamada de
“operação de limpeza e purificação”, por assim a grande maioria das mulheres árabes acreditar
que funcione (EL SAADAI, 2002, p.60).

21
da sociedade, um comportamento de pureza que se relaciona de alguma forma
à sua sexualidade, ao passo que será assegurado o seu casamento com uma
mulher respeitável (EL SAADAWI, 2002, p.33).

Já que são os homens que estabelecem as regras para as


mulheres, eles, como não poderia deixar de ser, permitem-se tudo o
que a elas é proibido. Tanto é assim que a castidade e a virgindade
são consideradas essenciais a mulher, enquanto a liberdade e ate
mesmo a licenciosidade são encaradas com naturalidade, quando
concernentes ao homem [...] Parece não haver duvida que a
sociedade, uma vez representada pelas classes dominantes de
caráter machista, bem cedo percebeu que o impulso sexual é muito
poderoso no sexo feminino, e que as mulheres, exceto se forem
controladas e refreadas por toda espécie de medidas, não se
sujeitarão as coações morais, sociais ou religiosas com as quais tem
sido assediadas (EL SAADAWI, 2002, p.52-69).

Para a mulher palestina, não só o sexo consentido faz com que ela
perca a sua honra. A família da mulher será desonrada em qualquer situação
na qual ela perca a sua virgindade prematuramente ou tenha relações sexuais
com alguém que não o seu marido, ainda que isto tenha acontecido em uma
situação de abuso sexual. Por esta razão, o estupro é mantido em completo
sigilo enquanto for possível (EL SAADAWI, 2002, p.41).

A partir da observação da condição da mulher palestina muçulmana


dentro da sua religião e cultura, é possível perceber a ligação entre um assunto
particular dela - a virgindade - com reflexos de cunho político, se fazendo clara
a relação entre moral social e religiosa, relações sexuais e acontecimentos
proeminentemente políticos, como a migração de grandes grupos de refugiados
palestinos, fato que facilitou a ocupação de suas terras por Israel. (EL
SAADAWI, 2002, p.17).

4 A utilização do estupro como arma de guerra na Faixa de Gaza a partir


da perspectiva feminista

De acordo com o Artigo 7 do Estatuto do Tribunal Penal Internacional,


incluem-se em “Crimes contra a Humanidade”, entre outros, “Estupro,
escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada,
22
ou qualquer outra forma de violência sexual de gravidade comparável”
(SCHABAS, 2004, p. 198).
Posteriormente, a Câmara de Julgamento do Tribunal Iugoslavo
reverteu para uma definição mais mecânica e técnica, assegurando o
estupro como sendo “a penetração sexual, por menor que seja; da
vagina ou anus da vítima pelo pênis do perpetrador ou qualquer
objeto usado pelo perpetrador; ou da boca da vítima pelo pênis do
perpetrador. Os Elementos dos Crimes inclinam-se para esta
segunda abordagem, mas com pequenas divergências: ‘O
perpetrador invadiu o corpo de uma pessoa resultando na
penetração, por menor que seja, de qualquer parte do corpo da
vítima, ou do perpetrador com um órgão sexual ou da abertura anal
ou genital da vítima com qualquer objeto ou qualquer outra parte do
corpo’ (SCHABAS, 2004, p. 48).29

De acordo com Schabas (2004), esta definição de crime contra a


humanidade não faz menção aos motivos de o perpetrador tê-lo cometido.
Segundo o autor, apesar de a razão do crime ser importante no debate, esta
não está presente, pois em uma situação na qual pode ser apresentado um
motivo para o crime, isso pode ser um indicador de que o sujeito é culpado;
porém, a ausência de um motivo pode trazer dúvidas sobre a sua culpa
(SCHABAS, 2004, p.45).

Apesar de não haver a discussão sobre as motivações dentro do


Estatuto, diversos pesquisadores da Teoria Feminista procuram identificar as
razões para o perpetrador destes crimes tê-los cometido. No caso de estupros
utilizados como armas de guerra em campos de batalha, existem algumas
teorias.

Susan Brownmiller, afirma no seu livro Against Our Will: Men, Women
and Rape (1975), que mesmo que muitos autores tenham estudado sobre

29
[Tradução livre] Subsequently, a Trial Chamber of the Yugoslav Tribunal reverted to a more
mechanical and technical definition, holding rape to be ‘the sexual penetration, however slight:
(a) of the vagina or anus of the victim by the penis of the perpetrator or any other object used by
the perpetrator; or (b) of the mouth of the victim by the penis of the perpetrator’. The Elements
of Crimes lean towards the second of these approaches, but with some slight divergences: ‘The
perpetrator invaded the body of a person by conduct resulting in penetration, however slight, of
any part of the body of the victim or of the perpetrator with a sexual organ, or of the anal or
genital opening of the victim with any object or any other part of the body.’ (SCHABAS, 2004, p.
48).29

23
sexo e estupro com o passar dos anos - como Sigmund Freud, Alfred Adler,
entre outros -, nenhum deles direcionou a sua atenção à questão do estupro
como uma relação de poder entre homens e mulheres (BROWNMILLER,
1975).

Brownmiller (1975) estuda o abuso sexual a partir de uma perspectiva


vinda da Teoria Feminista, compondo a ideia de que o homem descobriu que
a sua genitália poderia servir como uma arma, assim como um machado
serviu em tempos pré-históricos. Através de seus estudos, a autora concluiu
que estupro não é um crime relacionado a sexo ou ao desejo sexual. Estupro
se refere a uma relação de poder: trata-se de um processo consciente de
intimidação pelo qual todos os homens mantêm todas as mulheres em um
estado de medo. (BROWNMILLER, 1975).

No que se refere ao estupro na guerra, Brownmiller (1975) argumenta


que os soldados que estupram, são pessoas ordinariamente comuns na sua
vida normal e, que a vitória no conflito traz uma sensação de poder
inimagináveis no seu cotidiano regular (BROWNMILLER, 1975).

Conforme afirma o Arab Human Development Report (2009), abusos


sexuais contra mulheres em tempos de guerra ocorrem em um contexto de
ilegalidade e confrontos armados onde os papéis de gênero são polarizados.
Nestes palcos, os homens procuram descontar suas inseguranças por meio
da agressão intensa contra mulheres. Incentivados muitas vezes por seus
comandantes do exército, e em um clima de “coragem e glória”, as tropas
utilizam o estupro como arma com o intuito de subjugar e humilhar seus alvos
(ARAB HUMAN DEVELOPMENT REPORT, 2009, p.8).

Quando soldados cometem estupros durante uma guerra, isso “não


apenas humilha um indivíduo em particular”, afirma a historiadora
Birgit Beck-Happner, que é especialista na questão da violência
sexual e guerra. Este fato representa também “um recado para a
população inimiga de que a sua liderança política e o seu próprio
exército não são mais capazes de garantir a sua segurança”. É por
isso que esses estupros são frequentemente cometidos em público
(SUSANE BEYER, 2010)30.

30
Informações retiradas do artigo online da autora. Disponível em: <
http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/02/27/mulher-alema-escreve-livro-inedito-
24
Brownmiller (1975) afirma que uma regra simples na guerra é que, o
lado vitorioso é o lado que comete o estupro, e isso nada teria a ver com a
nobreza dos perdedores:

Em primeiro lugar, o exército vitorioso marcha através do território do


povo derrotado, e, portanto, é óbvio que, se houver algum estupro a
ser cometido, será cometido no corpo da mulher do inimigo derrotado.
Em segundo lugar, o estupro é um ato daquele que conquistou. Isso é
mais que truísmo. Isso ajuda a entender porque os homens
continuam estuprando na guerra. É claro que o soldado-estuprador
pode não ver o seu ato nesses termos. Na sua causa, o estupro pode
assumir proporções heroicas, justificadas por ideologias ou até
mesmo por Deus (BROWNMILLER, 1975)31.

Isto posto, o abuso sexual contra mulheres no contexto da Palestina


passa a ser discutido dentro da Teoria Feminista em uma ótica onde, apesar
da vítima ser a mulher, o alvo indireto desta violência pode vir a ser o homem
relacionado à vítima – marido, pai, filho ou irmão. Isso porque, segundo
Andréa Peres (2011), em sociedades patriarcais, a mulher é posse do
homem, e sua perda ou violação é humilhante também para ele, visto que
este não soube assegurar proteção a ela (PERES, 2011, p.138).

Em primeiro lugar, um ponto importante que o debate feminista


acerca do estupro (apesar dos embates) trata refere-se à sociedade
patriarcal, enquanto aquela que faz com que a violação de mulheres
seja uma possibilidade. Nela, os homens são simples falos, ou
detentores de poder; de um modo ou de outro, subjugam as
mulheres, e estas se submetem.
Para Brownmiller (1993), na sociedade patriarcal, a possessão da
mulher é o símbolo do sucesso masculino, e sua defesa motivo de
orgulho para o homem. O estupro na guerra, portanto, seria uma
mensagem entre os homens, em que o lado derrotado perde todas as
ilusões de poder e propriedade (PERES, 2011, p.138)

sobre-estupros-que-sofreu-na-segunda-guerra-mundial.jhtm>. Acesso em: 07 de novembro de


2014.
31
[Tradução livre] First, a victorious army marches through the defeated people’s territory, and
thus it is obvious, that if there is any rape to be done, it will be done on the bodies of the
defeated enemy’s women. Second, rape is an act of a conqueror. This is more than a truism. It
helps to explain why men continue to rape in war [...] Of course the soldier-rapist may not see
his act in this terms. In the thick of his cause, the rape for him may assume heroic proportions,
justified by ideology or even by God (BROWNMILLER, 1975) 31

25
Em seu artigo O Gênero na Guerra: refletindo sobre o conflito Israel-
Palestina a partir da perspectiva de mulheres palestinas de Brasília (2007), a
autora Sônia Cristina Hamid reporta o relato de refugiadas palestinas sobre as
motivações da sua emigração ao Brasil. Para ela, há uma associação
permanente entre território e corpo feminino em situações de guerra, pois a
conquista territorial costuma ser seguida e expressa pela violência sexual
(HAMID, 2007, p. 142).

A violação do corpo feminino funciona como “linguagem” ou um “ato


comunicativo” que informa acerca de uma dupla dominação: a
superioridade masculina sobre o corpo feminino e o domínio irrestrito
e totalitário sobre a localidade diante de seus pares, da população
local e de outros países. Afirmar-se-ia, assim, a soberania plena
quando houvesse o controle de um território e do corpo feminino
como integrante desse território. Assim sendo, o amplo significado
assumido pela violação sexual estaria na conjugação, em um único
ato, da dominação física e moral do “outro”. A demonstração de
soberania não estaria, portanto, somente no controle físico ou no
extermínio do outro, mas em sua subordinação psicológica e moral
(HAMID, 2007, p.142).

A autora relata falas das palestinas, onde fica claro o temor à violência
sexual sofrido principalmente por mulheres. A violência para o homem
palestino ocorria, obviamente, porém, a preocupação das mulheres, além da
violência física, se estendia também para a violência sexual (HAMID, 2007,
p.141).

Enquanto a lembrança em relação ao tio era a de que apanhava dos


militares, a memória em relação às mulheres, seja ao apontar o tiro
de raspão na vagina de sua vizinha, seja ao enfatizar novamente o
receio de estupro contra sua irmã por ser muito bonita, está
relacionada à sexualidade. Pode-se dizer que, se em relação aos
homens o temor é de que sofram violência física ou mesmo de que
sejam mortos, no que diz respeito às mulheres, além desses receios,
há ainda o forte risco de violação da sexualidade (HAMID, 2007,
p.141).

26
O receio das mulheres palestinas em sofrer violência sexual vão além do
medo natural referente à dor e ao trauma. Como afirma Hamid (2007), o abuso
para essas mulheres traz outra grande consequência, que é a perda da sua
honra e do restante da sua família (HAMID, 2007, p. 143).

[...] é preciso compreender que, no caso das palestinas, a grande


tensão e o pavor existente quanto à violação sexual estão
relacionados ao fato de que tal ato não atenta somente sobre os
corpos dos envolvidos, mas também sobre um valor moral
fundamental entre os árabes: a “honra familiar” (HAMID, 2007, p.142).

Segundo Hamid (2007), a polaridade dos gêneros na sociedade


palestina se afirma mais uma vez aqui, ao definir que a honra é centrada em
diferentes aspectos para a mulher e para o homem. Enquanto para a mulher, a
desonra significa o seu rompimento com os valores da virgindade e fidelidade
sagradas para o comportamento feminino, para o homem a honra depende do
seu desempenho como chefe de família, provedor e detentor das decisões da
casa (HAMID, 2007, p.143).

Os estudos de Jean Peristiany (1974) referentes à honra explicam que


esta não se restringe à dimensão familiar; o conceito sempre acompanhado do
seu polo oposto – a “vergonha” – é, antes de um sentimento pessoal, uma
avaliação social que funciona como um reflexo do pensamento coletivo de
aceitação do indivíduo dentro um grupo social (PERISTIANY, 1974).

Por esta razão, a mulher palestina, ao ser sexualmente violentada não


só recebe resposta da família, mas do grupo social em que vive. A sua desonra
então, significa a desonra da sua família perante a sociedade como um todo
(HAMID, 2002, p.143).

Visto a vasta degradação e humilhação irreversíveis que os estupros –


ou a sua ameaça – trouxeram às palestinas na sociedade e nas suas famílias
durante os conflitos árabe-israelenses, é possível afirmar que o esforço para
assegurar a honra das mulheres foi uma grande motivação para o seu êxodo
da Palestina (EL SAADAWI, 2002, p.17)

Durante os últimos anos, uma série de trabalhos importantes têm


sido publicados [...] que mostra[m] como Israel tirou vantagem da

27
‘sensibilidade sexual’ dos palestinos tradicionalistas, para incitar as
ondas de emigração. Além dos bombardeios aéreos, um dos fatores
que forçou os árabes a deixar a margem leste do Jordão foi o desejo
de proteger a “honra” de suas mulheres. Torna-se portanto, fácil de
compreender por que alguns dos militantes árabes insistem em
trocar no dicionário árabe a palavra A’ard (honra) pela palavra Ard
(terra). (EL SAADAWI, 2002, p.17).

Hamid (2010) não tem como intuito reduzir as razões do êxodo palestino
às ameaças ou à violência sexual propriamente dita. Inclui entre as fortes
motivações de fuga dos palestinos os bombardeios, tiroteios, agressão física,
precariedade da cidade e a discrepância de poder entre judeus e árabes, mas
dá ênfase à honra como fator decisivo no deslocamento dos palestinos
(HAMID, 2010, p.144).

Em resposta às acusações de estupro de mulheres palestinas por


israelenses, o pesquisador Mordechai Kedar, do Centro de Estudos
Estratégicos Begin-Sadat e especialista em Oriente Médio, da Universidade
Bar-Ilan, em Israel, afirmou:

Não estou falando sobre o que deve ou não deve ser feito. Eu estou
falando sobre os fatos. A única coisa que impede um homem-bomba
do Hamas é saber que se ele puxa o gatilho ou se explode, sua irmã
será estuprada. É isso. Essa é a única coisa que vai trazê-lo de volta
para casa, a fim de preservar a honra de sua irmã. Você tem que
entender a realidade da cultura em que vivemos. (O ACTIVISTA,
2014)32.

Por fim, é possível afirmar que, apesar de o estupro compreender um


crime de guerra (BYERS, 2007) e um crime contra a humanidade (SCHABAS,
2004), este é deliberadamente cometido por israelenses, pois é de
conhecimento de Israel que a questão da virgindade das mulheres palestinas é
extremamente frágil perante a sociedade. Outra razão parece ser, segundo o
Human’s Rights Watch, a má documentação crônica dos estupros em campos

32
Informações retiradas de reportagem do site O Activista. Disponível em: <
http://www.oactivista.com/2014/07/estupros-nova-arma-do-genocidio-em-gaza.html> Acesso
em: 07 de novembro de 2014.

28
de batalha, o que dificulta a proteção de mulheres vítimas deste crime e a
punição dos criminosos.

Neste cenário, além do grande poderio que possui, Israel aparece como
Estado intocável perante o Direito Internacional e o Tribunal Penal
Internacional, condição que torna pouco provável a punição para tais crimes.
Esta condição é assegurada por Israel devido a sua aliança com os Estados
Unidos, país que parece proteger os israelenses, e consequentemente, os
crimes que eles cometem.

5 Considerações Finais

As guerras têm se modificado com o passar dos anos; suas estratégias


e motivações tomam forma de acordo com o contexto em que acontecem. Há
algum tempo, era possível - de acordo com o debate sobre as novas guerras -
identificar nos conflitos as suas motivações para ocorrer, bem como estes
surgiam devido a um descontentamento popular que clamava por ações
relacionadas a ideologias.

O debate sobre novas guerras promove a ideia de que, recentemente,


os conflitos não mais apresentam motivações claras, como descontentamento
popular e ideologias. Também coloca em pauta que neste momento, começam
a se destacar tipos de violência intensa, como mutilações, assassinato de
crianças e estupro de mulheres.

Esse tipo de violência passa a ser pensado a partir da ideia de que este
não ocorre por acaso – não é gratuito -, aparecendo como estratégia para
aterrorizar a população inimiga, bem como causar êxodos através do medo, em
conflitos como a Guerra do Congo, a Guerra da Bósnia e as guerras árabe-
israelenses.

Na Primeira e Segunda Intifada, além de bombardeios a civis palestinos,


o estupro como arma de guerra passa a ser instrumento importante para o
empoderamento de Israel, o que auxilia fortemente a fragilizar os palestinos.

29
Isto porque, a Palestina é um Estado no qual a questão de gênero é
muito delicada. A interpretação da religião pelos detentores de poder e grupos
dominantes, coloca a mulher em um estado de extrema vulnerabilidade, onde
para assegurar a honra e o respeito seu e do restante da sua família, ela
precisa garantir a sua virgindade até o casamento, e a sua exclusividade
sexual depois do casamento. Todo comportamento considerado adequado
para uma mulher palestina se conecta a sua sexualidade.

A virgindade é elemento tão importante dentro da interpretação palestina


da religião islâmica, que as famílias de tudo o fazem para garanti-la para suas
filhas. O caminho para essa garantia muitas vezes é feito através de
circuncisões, onde o clitóris da menina é cortado, porque segundo a crença,
assim ela não terá desejos sexuais, e manter-se virgem será uma tarefa mais
fácil.

Por essa razão, a virgindade sendo tomada de meninas e mulheres


palestinas, ou o sexo com um homem que não o seu marido, tem um efeito
estrondoso nas suas vidas, nas de suas famílias e no grupo social em que
vivem – mesmo que esta tenha sido tirada através de um estupro.

Ainda que o abuso seja cometido, redundantemente, contra a vontade


das mulheres palestinas que nada poder fazer para evitá-lo, a sua família será
desonrada perante a sociedade, caso o estupro torne-se de conhecimento
público.

Para impedir o estupro e, consequentemente, assegurar a honra das


mulheres, palestinos refugiam-se em diversos países do mundo. Essa fuga não
precisa necessariamente da consumação do estupro. De tão aterrorizante que
este questão é para os palestinos, por vezes, somente a ameaça já os fará
migrar. Essa questão, portanto, impacta nos fluxos migratórios do país,
atingindo um dos objetivos de Israel: a expulsão dos palestinos da Faixa de
Gaza.

Obviamente, não foi só o abuso sexual de mulheres palestinas que


causou fluxos migratórios. A destruição em massa das cidades palestinas, a
morte de civis e crianças, miséria e constante sensação de derrota também

30
teve importante papel para que os palestinos decidissem pela migração.
Entretanto, dá-se ênfase ao estupro e à sua ameaça, pois este foi o principal
motivo do êxodo de muitos palestinos durante a Primeira Intifada.

O estupro de mulheres palestinas também auxilia em causar terror nos


civis, fragilizá-los, deixando-os com uma sensação de perda da batalha e de
poder. Consequentemente, estes ficam sujeitos à violência dos israelenses,
que a partir destes instrumentos, conseguem aumentar seu poderio e território.

Uma razão pela qual, apesar destes atos cometidos por oficiais
israelenses compreenderem crimes de guerra e crimes contra a humanidade,
Israel continuar os cometendo, é que, o apoio por parte dos Estados Unidos
permite uma imunidade de Israel perante o Direito Internacional e o Tribunal
Penal Internacional.

Assim, os israelenses, enquanto não forem punidos, têm garantido um


instrumento poderoso contra os palestinos. Eles continuarão a utilizar o estupro
como arma estratégica de guerra, pois este já se mostrou efetivo para a
expulsão e aterrorização do inimigo árabe, sem grandes consequências legais
para os criminosos.

Posto isso, é possível afirmar que, enquanto a situação da mulher


palestina for de opressão e submissão por parte dos homens – palestinos e
não-palestinos -, a questão particular da sua virgindade e sexualidade
continuará sendo importante dentro do âmbito público da política da Palestina.

A emancipação e libertação da mulher palestina não serão alcançadas,


a não ser que se erradiquem as causas e condições que levam à sua opressão
e exploração. Apenas a desocupação do território e a consequente libertação
do povo palestino trarão a estas mulheres condições necessárias para a
construção de sua autonomia.

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