ARQUIVO ArtigoANPUH2016
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Na luta pelos direitos humanos LGBT, uma série de documentos surgiu para
garantir a igualdade entre as pessoas. Como exemplos de instrumentos jurídicos
internacionais, podem-se citar a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) e os
Pactos Internacionais de 1966 (Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais). Neles, está
garantida a igualdade dos seres humanos, sem nenhum tipo de discriminação, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, fortuna, nascimento ou de qualquer
outra situação.
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Mestre em História das Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e
professora de Relações Internacionais na Universidade Veiga de Almeida e no Instituto Brasileiro de
Medicina e Reabilitação.
declarando – por meio do Comitê Internacional dos Direitos Civis e Políticos, vinculado
a então Comissão de Direitos Humanos – que leis que violem os direitos LGBT violam
as leis de direitos humanos.2
Apenas em junho de 2011, a ONU declarou pela primeira vez na história que os
Direitos LGBT são direitos humanos, na Resolução da CDH de número L9 3, na
Assembleia Geral. A Resolução também requereu que o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Direitos Humanos elaborasse um relatório sobre leis e práticas
discriminatórias.
2
Tal pronunciamento se deu após o caso Toonen vc Austália, que considerou as leis australianas
violadoras de direitos humanos LGBT ao criminalizarem a prática de sexo entre pessoas do mesmo sexo.
3
Disponível em http://pt.scribd.com/doc/58106434/UN-Resolution-on-Sexual-Orientation-and-Gender-
Identity, acesso em 22/09/2015.
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Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos A/HCR/19/41. Disponível em
http://www.ohchr.org/Documents/Issues/Discrimination/A.HRC.19.41_English.pdf, acesso em
24/09/2015.
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assistência de saúde), e restrições na liberdade de expressão, associação e assembleia, e
outras questões relacionadas.
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), 318 LGBT foram assassinados no Brasil
em 2015: um crime de ódio a cada 27 horas: 52% gays, 37% travestis, 16% lésbicas,
10% bissexuais. A homofobia mata inclusive pessoas não LGBT: 7% de heterossexuais
confundidos com gays e 1% de amantes de travestis. Relativamente à causa mortis,
predominam as execuções com armas brancas 37%, seguidas de armas de fogo 32%,
incluindo espancamento, pauladas, apedrejamento, envenenamento. No geral, travestis
são executadas nas vias públicas (56%), vítimas de armas de fogo, enquanto gays e
lésbicas são assassinadas dentro da residência (36%), com facas e objetos domésticos,
ou em estabelecimentos públicos (8%). Há típicos crimes de ódio, muitos com tortura
prévia, uso de múltiplos instrumentos, e excessivo número de golpes.
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a identificação dos autores. Quando há testemunhas, muitas vezes estas se recusam a
depor, devido ao preconceito anti-LGBT. Policiais manifestam sua homotransfobia
ignorando tais crimes, negando sem justificativa sua conotação homofóbica.
Os limites das ações solidárias estão cada vez mais patentes, pois não
conseguem, por si só, resolver os problemas que, em sua maioria, possuem origem
política. Dessa forma, a ação deve ter por finalidade o alcance de uma política pública.
Nesse contexto, muitas ONGs nacionais e internacionais têm desenvolvido trabalhos em
diferentes níveis, com verdadeiras estratégias de incidêcia política. Conscientização,
mobilização, conselhos de especialistas, redes e lobby são todos os elementos
necessários para fomentar uma estratégia de influência política.
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ativamente envolvidas em debates e temas da atualidade, refletindo a participação dos
cidadãos, a fim de influenciar políticas públicas.
O GBB se intitula uma entidade “guarda-chuva”, pois oferece espaço para que
outras entidades da sociedade civil que trabalham em áreas similares, especialmente as
que trabalham no combate à homofobia e prevenção do HIV e AIDS, fazendo uma
ponte entre a comunidade e a população geral.
Em termos de incidência política, desde sua fundação, o Grupo tem tido vitórias
muito significativas em prol dos direitos de cidadania dos homossexuais. Além de ter
publicado diversos artigos e livros informativos com relação à comunidade LBGT, o
GGB também já realizou centenas de conferências, debates e mesas redondas sobre a
homossexualidade e a questão da AIDS em colégios, universidades, programas de TV e
rádios em todas as regiões do Brasil.
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a maior rede LGBT da América Latina. A missão principal da Associação é promover
ações que garantam a cidadania e os direitos humanos de todos os membros da
comunidade LGBT, para que possa contribuir para uma sociedade democrática em que
nenhum ser humano seja vítima de qualquer forma de discriminação, coerção e
violência por conta de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.
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O Grupo Arco-Íris, localizado no Rio de Janeiro, foi criado no início dos anos de
1990, mais especificamente no dia 21 de maio de 1993, quando um grupo de amigos se
uniu em resposta à epidemia de AIDS e a discriminação contra lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais. A missão principal desta organização não
governamental é promover qualidade de vida, direitos humanos e cidadania ao público
LGBT.
Por duas décadas, a ONG vem executando ações e projetos na área de saúde,
educação, cultura, direitos, cidadania e controle social, e já se tornou referência em
território nacional no que diz respeito ao combate à discriminação. A ONG também
promove valores de respeito à diversidade humana e visa transformar a sociedade por
diferentes meios, como: desenvolvimento organizacional, gestão do conhecimento,
mobilização comunitária, promoção de autoestima e defesa dos direitos para o exercício
da livre expressão/orientação sexual e identidade de gênero.
Considerações finais
Para garantir maior efetividade e eficácia ao trabalho das ONGs, uma série de
desafios ainda devem ser transpostos. Em geral, eles estão ligados a cinco áreas
principais: informação e pesquisa; parcerias; freios e contrapesos do controle
democrático; mídia e escrutínio público; e foros e mecanismos nacionais e
internacionais.
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Para garantir a conquista e manutenção de parcerias sólidas e duradouras é
preciso dialogar com diferentes atores além dos movimentos de direitos humanos, como
intelectuais, acadêmicos e o setor privado.
Em uma perspectiva política interna, deve-se atentar para o caráter apartidário das
organizações de terceiro setor e o cuidado que se deve ter no diálogo com políticos dos
diferentes poderes governamentais. Deve haver parceria entre primeiro e terceiro setor
na busca por políticas públicas que favoreçam a população LGBT; no entanto, não se
pode esquecer que o caráter apartidário deve ser mantido.
Nota-se, dessa forma, que há uma série de desafios que as ONGs LGBT devem
enfrentar para garantir sua eficiência na proteção desses direitos humanos. Além de
todas as dificuldades existentes na própria sociedade, oriundos de discriminação à
população LGBT, das dificuldades de financiamento e atenção da sociedade civil e
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política de tema de alta relevância, deve-se lidar com questões específicas na busca por
um posicionamento mais eficaz.
Bibliografia
ALVES, Jose Augusto Lindgren. Relações Internacionais e Temas Sociais: a década das
conferências. Brasília: IBRI, 2001.
GGB - Grupo Gay da Bahia. Relatório 2015: assassinatos de LGBT no Brasil. Disponível
em http://pt.calameo.com/read/0046502188e8a65b8c3e2. Acesso em 17 de junho de 2016.
NADER, Lucia. “O papel das ONGs no Conselho de Direitos Humanos da ONU”. In.
Revista SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Nº7, ano 4, 2007.
Disponível em: http://www.surjournal.org/conteudos/pdf/7/nader.pdf. Acesso em 24 de
outubro de 2015.
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SDH - Secretaria de Direitos Humanos. Plano Nacional de Promoção da Cidadania e
Direitos Humanos LGBT. Brasília: Presidência da República, 2009.
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