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Fuga A? Paternidade em Luanda A Ni?vel Policial No Ano de 2021

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Eva Carina Machado Ferreira, Mestranda do Curso de Criminologia e Investigação Criminal –

Universidade Óscar Ribas, Faculdade de Direito.

FUGA À PATERNIDADE EM LUANDA ENTRE OS EFECTIVOS DA


POLÍCIA NO ANO DE 2021

INTRODUÇÃO

O abandono afetivo ou fuga à paternidade como a negligência de suportes emocionais


e afetivos necessários ao desenvolvimento infantil por parte de pais. Diante desta citação,
pode se considerar que toda irresponsabilidade, falta de cuidado, falta de filiação, falta de
assistência (material ou afetiva), todo dever não cumprido do pai para com o filho é abandono
afetivo ou uma fuga à paternidade.

Deste modo é possível dizer que a ausência do pai possa interferir directamente no
desenvolvimento do (a) filho (a). Inegavelmente, a fuga à paternidade pode gerar várias
consequências. Neste sentido, a presente pesquisa tem como foco estudar “A fuga à
Paternidade entre os efetivos da polícia”. A escolha do ano resulta do facto de ser
temporalmente actual.

Objectivo do estudo

 Geral

Conhecer o número de casos de fuga à paternidade entre os efectivos da polícia


Nacional.

Específico

 Definir fuga à paternidade;


 Identificar as questões a nível jurídico da fuga à paternidade;
 Analisar os dados da fuga à paternidade entre os efetivos da polícia nacional,
disponibilizados pelo INAC.

Relativamente a metodologia, o presente trabalho trata-se de uma pesquisa de campo, que


consiste em colher informações referentes a fuga à paternidade. A pesquisa de campo foi
antecedida por uma pesquisa bibliográfica, onde foi feito um levantamento nas fontes
teóricas. Trata-se de uma pesquisa tanto de cunho qualitativa quanto quantitativa. Para a
compreensão do comportamento humano, recomenda-se a complementaridade dos dois
métodos.

REVISÃO TEORICA

1. FUGA A PATERNIDADE

Em termos constitucionais a criança está sujeita a uma protecção especial por parte da
sociedade, do Estado, e da família. Razões que levam o legislador a criar inúmeros
mecanismos jurídicos de modos materializar esse propósito.

O fenómeno pesquisado assola o território nacional como uma doença, e dificulta a


materialização do proposito normativo. Muitos casos de fuga a paternidade são
fundamentados porque o homem em causa não está em uma posição socioeconômica para se
responsabilizar.

Costa et. al. (2013) entende que a fuga a paternidade consiste no afastamento ou
negação de assumir as suas responsabilidades paternais na prestação de alimentos em relação
aos filhos, ou ainda, como sendo a abstenção de um pai assumir a sua responsabilidade
paternal, de alimentar, vestir, educar, dar amor, e reconhecê-lo juridicamente como filho.

Na perspectiva jurídica, deve-se pontuar que o código penal angolano vigente


criminaliza a fuga à paternidade. De acordo o art. º 247.º do referido código, aquele que sem
justa causa, deixar de prover a subsistência do filho menor de 18 anos ou incapaz para o
trabalho, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento da
pensão alimentícia a que esteja judicialmente ou legalmente obrigado é punido com pena de
prisão de até 2 anos ou com uma multa de até 240 dias.

Nesse viés Costa et. al. (2023) crê que se pode depreender do exposto, que não foge à
paternidade e maternidade, apenas o pai ou mãe que abandona o seu filho na maternidade ou
num contentor de lixo. Foge de igual forma, aquele que dentro de casa, com o seu filho, dá
mais valor a outras distracções ou que mesmo presente negligencie suas responsabilidades
parentais.

A moldura penal pode sofrer um agravamento nos seus limites mínimos e máximos,
nos casos em que a pessoa com direitos alimentos for uma mulher grávida e, esta falta de

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alimentos ou assistência determinar a criação de perigo de interrupção da gravidez, cabendo
uma moldura penal de 1 a 5 anos de prisão.

E, se fruto do perigo criado, a interrupção da gravidez se consumar, então a pena será


de 2 a 8 anos de prisão. O legislador, para os factos que se enquadram na previsão do n. º 1,
caso a obrigação de prestação de alimentos ou assistência vier a ser satisfeita, atendendo as
circunstâncias concretas do caso, o Tribunal poderá dispensar o agente da pena ou mesmo
declarar extinta a pena ainda não cumprida.

Em segunda análise, a criminalização da fuga à paternidade encontra-se também


plasmada na lei 25/11 de 14 de julho como abandono familiar no art. º 3º alínea e) e também
no art. º 25º alínea b) como um crime que não se permite desistir. A fuga à paternidade, é
considerado pelo Estado Angolano como um crime de violência doméstica, isso nos termos da
lei.

1.1. PRINCIPAIS CAUSAS DA FUGA À PATERNIDADE


Existem muitos motivos que fazem este alarmante problema ocorrer e se alastrar na
nossa sociedade. Um estudo realizado na província de Luanda, no município de Viana, bairro
estalagem apontou para alguns factores que, de certo modo, têm grande impacto no
aparecimento deste fenómeno. Dentre eles foram citados a violência doméstica, divórcio
(separação dos pais), bruxaria (feitiçaria) e a colonização.

Esses mesmos factores podem ser encontrados no estudo realizado por Kinhama
(2022), na província do Cuanza Sul, mais concretamente no município de Cela. Todos os
casos registados no período de 2020 a 2022 (1ºtri), totalizaram 968 casos, com uma média de
193.3 e um valor máximo de 411, valor mínimo de 7, com um desvio padrão de 151,74.

1.2. CONSEQUÊNCIAS
As consequências da fuga à paternidade na sociedade são inúmeras assim como as
causas. Seria necessário um estudo mais exaustivo e com uma amplitude maior de modos a
que se pudesse englobar o total das consequências, sejam elas a nível social, jurídico ou
psicológicos.

Existe um leque de autores que cita as consequências mais comuns no fórum


internacional, dentre elas a delinquência ganha um destaque especial. De forma similar
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acontece no contexto nacional. A advogada Calueyo (2022) aponta na esfera social, a
prostituição, crianças sem registo e a delinquência juvenil, como consequências da fuga à
paternidade. A autora dá um grande relevo a delinquência juvenil.

1.2.1. DELINQUÊNCIA JUVENIL

Entende-se como delinquência o acto de resistir ou infringir as regras morais ou


normas convencionadas em uma sociedade. É um comportamento geralmente associado aos
jovens, porém é um engano restringir sua ocorrência a apenas esse grupo, embora a prática de
actos criminosos ou delinquentes ocorram com frequência consideravelmente maior nessa
faixa etária.

A delinquência está relacionada a diferentes comportamentos desviantes que são


geralmente relacionados à juventude. O sociólogo Giddens (2005) define desvio como uma
não conformidade com um conjunto de normas que são aceitas por um número significativo
de pessoas em uma sociedade.

No entanto, com o número de vítimas da fuga à paternidade a aumentar em um país


cuja maior parte da população é pobre, o fosso entre ricos e pobres em Angola começa a
assumir contorno preocupantes.

Nesta medida os níveis de violência aumentam drasticamente. Normalmente, os


principais tipos de crime cometidos por jovens (muitos com idade inferior aos 16 anos) são o
furto, o roubo, o tráfico e o consumo de drogas, leves e pesadas (Tavares, 2016, p.17).

A capital do país, Luanda, a par dar províncias de Cabinda, Huambo, Benguela,


Lubango e de cidades com maior densidade populacional, é o centro urbano com as mais
elevadas taxas de criminalidade juvenil (Tavares, 2016, p.18).

A questão da criminalidade surge não directamente como ausência de paternidade,


mas como a ausência de vínculo familiar em geral. Vivemos num país que convive ainda com
elevado número de crianças em total abandono e às margens da criminalidade” (TRF4, 2010,
citado por Moreira & Toneli, 2014, p. 40).

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2. ANÁLISE DOS DADOS

TABELA 1. Registo de denúncias recebidas pelo SOS - Criança


Denúncias Nº de Crianças Vítimas
Tipo de Caso Recebidas M F

Fuga à Paternidade 25 269 12 904 12 365


2.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMORÁFICA

Fonte: INAC.

Na Tabela 1 em um contexto geral pode se observar que em 2021 houve 25.269


denúncias recebidas de Fuga a Paternidade. Das províncias com maiores índices de denúncias
de violência contra a criança Luanda liderou. Pode se observar que em 2021 houve 12 904
Indivíduos
Denúncias Denunciados
por Tipo de
por Sexo
Caso
Homens Mulheres Total
Tabela 2. 25 269 0 25 269
CLASSIFICAÇÃO
POR GÉNERO DOS
INDIVIDUOS Fuga à
DENUNCIADOS Paternidade
crianças vítimas do sexo masculino e 12 365 crianças vítimas do sexo feminino vítimas da
fuga à paternidade. Os dados revelam uma predominância do género masculino como vítimas
do sexo masculino.

Fonte: INAC

A tabela 2 faz a classificação através do género dos números de indivíduos


denunciados. Esses números revelam que todos os casos de fuga à paternidade, são ou foram
perpetrados por homens. Essas denúncias revelam que nacionalmente os homens são os que
mais fogem as suas responsabilidades parentais. E o que pode estar na base são factores
como: insuficiência de meios econômicos para suprir as necessidades basilares dos filhos;
relações extraconjugais, etc.

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Tabela 1. Profissões das Pessoas Denunciadas
Tipos de Médico/ Taxista/ Jurista/ Outras
Jornalis Pedre Engenh Domés
Casos Polícia FAA Enfermeir Professor Camponês Motorist Advoga Profissões Total
ta iro eiro tica
o a do
4 929 4 413 285 197 48 1 722 1 140 54 0 1 440 65 10 320 24
613

Fuga à
Paternida
de
1.1. ANÁLISE DE DADOS

Fonte: INAC

Na tabela 1 se pode observar o registo das profissões das pessoas denunciadas em


2021. Na categoria da fuga à paternidade, dos indivíduos denunciados, 4 929 são efectivos da
Polícia Nacional; 4 413 pessoas denunciadas fazem parte das Forças Armadas Angolanas; 285
eram médicos ou enfermeiros; 197, eram professores; 48, eram jornalistas; 1722 eram
pedreiros; 1 140 eram camponeses; 51 foi o número de engenheiros denunciados; 1440 foi o
número de taxistas/motoristas denunciados; 65 eram advogados ou juristas... 10 320 é o
número de denúncias pertencentes a todas as outras profissões que não foram incluídas no
quadro.

Os dados da pesquisa revelam, claramente, que no ano de 2021 a fuga à paternidade


foi uma prática frequente entre o género masculino e principalmente entre os efetivos da
polícia nacional.

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CONCLUSÃO

Em síntese, a fuga à paternidade ainda é um mal que se vem alastrando até aos dias de
hoje. Pese embora seja um acto não só moralmente condenável, o Estado Angolano tratou de
o criminalizar.

A criminalização ao acto referido tem o propósito de frear a pratica tendo em conta os


danos à sociedade e às vítimas. Pois, a infância é a fase mais importante de uma criança e a
mesma deve ser acompanhada pelos pais.

O código penal angolano vigente criminaliza a fuga à paternidade. De acordo o art. º


247.º do referido código, aquele que sem justa causa, deixar de prover a subsistência do filho
menor de 18 anos ou incapaz para o trabalho, não lhes proporcionando os recursos necessários
ou faltando ao pagamento da pensão alimentícia a que esteja judicialmente ou legalmente
obrigado é punido com pena de prisão de até 2 anos ou com uma multa de até 240 dias.

Os números do estudo revelaram que no ano de 2021 a fuga à paternidade foi mais
perpetrada pelo género masculino. Surpreendentemente, o maior número de casos de fuga à
paternidade incidiu sobre os efetivos da polícia nacional.

Ademais, os números revelaram também que houve mais vítimas masculinas do que
femininas. Nesse sentido, é necessário ressaltar também que os dados apontam o maior índice
de casos de fuga à paternidade registados em Luanda.

Relativamente as consequências, no contexto nacional, a delinquência juvenil, teve um


grande destaque. Entende-se como delinquência o acto de resistir ou infringir as regras
morais ou normas convencionadas em uma sociedade. É um comportamento geralmente
associado aos jovens, porém é um engano restringir sua ocorrência a apenas esse grupo,
embora a prática de actos criminosos ou delinquentes ocorram com frequência
consideravelmente maior nessa faixa etária.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. Calueyo, A. (2022). A Fuga à Paternidade e à Maternidade - https://julaw.ao/a-fuga-a-


paternidade-e-a-maternidade-aracilis-calueyo/

2. Costa, M. G., Afonso, A. C. e Campos, M. A. S. (2023). A fuga a paternidade à luz do


ordenamento jurídico Angolano: Um olhar atento às causas e consequências no
munícipio do Mungo - Província do Huambo-Angola. Revista Cientifica
Multidisciplinar 4 (1), pp. 1-24;

3. Costa, M. G., Afonso, A. C. e Campos, M. A. S. (2023). A fuga a paternidade à luz do


ordenamento jurídico Angolano: Um olhar atento às causas e consequências no
munícipio do Mungo - Província do Huambo-Angola. Revista Cientifica
Multidisciplinar 4 (1), pp. 1-24;

4. Giddens, A. (2005). Sociologia. Tradução Sandra Regina Netz. 4ª ed. – Artmed.

5. Gil, R. L. (2008). Tipos de pesquisa (Trabalho de licenciatura)


https://wp.ufpel.edu.br/ecb/files/2009/09/Tipos-de-Pesquisa.pdf;;

6. Kinhama, V. C. (2022). Fuga à paternidade em angola, província do Cuanza Sul,


município da cela, (causas e consequências). Revista Ibero-americana de
humanidades, ciências e educação, 8 (9), pp. 125-136

7. Moreira, L. E. e Toneli, M. J. F. (2014). Paternidade, Família e criminalidade: Uma


arqueologia entre o direito e a psicologia. Psicologia e Sociedade, pp. 36-46

8. Tavares, W. N. S. (2016). A delinquência Juvenil em Angola: Contributos para a


caracterização do jovem delinquente Angolano e sua reabilitação através da Justiça
restaurativa (Dissertação de Mestrado, Universidade Autônoma de Lisboa, Faculdade
de Direito);

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