Domine Meu Coracao - Ane Pimentel
Domine Meu Coracao - Ane Pimentel
Domine Meu Coracao - Ane Pimentel
SINOPSE
PLAYLIST
DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTLO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSTE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
REDES SOCIAIS
DEMAIS OBRAS
Liz é uma jovem de 21 anos que não tem muita sorte com suas
experiências sexuais.
A maioria dos caras com quem se envolve não é capaz de dar-lhe orgasmos,
por isso ela os apelida de “coelhos”. Até que, durante uma festa de
universitários, ela invade a parte privada de uma mansão e é surpreendida por
um homem mais velho que a reprime.
Ele é um jogador.
Ela, a desafiante.
Existem regras no jogo de César.
Cresci com vários primos então sim, sabia a diferença entre time e
seleção. Perdi minha virgindade aos 16 então sim, sabia chupar. Isso
significava que eu podia ter qualquer homem, certo? Certíssimo e já tive
tantos que estava cansada desse joguinho chato.
Quantos anos eu tenho? Tenho 21. Sou estudante de jornalismo e
estou presente em todas as calouradas, festas e baladas que o meu corpo
possa suportar. Se eu bebo? Muito. Se eu fumo? Gosto de cigarros, sim. Ah, e
já experimentei maconha, me julguem!
Não sei há quantas horas estou ali, mas já bebi e dancei bastante. As
meninas estão escolhendo os caras com que vão para algum canto e eu estou
desviando dos que querem fazer o mesmo comigo porque sei que vou acabar
irritada depois que eles gozarem. Por esse motivo, e também por estar
levemente tonta com a mistura de bebidas que fiz hoje, me afastei do pessoal
e estou adentrando a sala escura da mansão, a luminosidade presente vem da
festa e perpassa as paredes de vidro que compõem o ambiente. Minha
intenção é achar um banheiro. Fazer xixi, lavar o rosto e dar um tempo, talvez
uns 10 minutos, chamar um táxi e ir embora.
Sinto calor, apesar de ser noite. A ideia de me jogar na piscina parece
tentadora... Olho ao redor e não vejo nada que possa ser a porta de um
banheiro, então o meu olhar recai na imensa e elegante escada. Subo os
degraus. No segundo piso, encontro uma sala ampla e um corredor com
diversas portas. É até ele que vou sinto como se estivesse naqueles programas
antigos de TV, em que você escolhe a porta e se depara com uma surpresa,
escondida atrás dela.
Havia portas com monstros, se bem me lembro.
— A suíte deste quarto é privada, você deve ser uma das crianças que
estão na festinha.
— Criança? — ri alto — e o senhor deve ser algum vovozinho
estressado por não conseguir ter uma ereção sem medicação — cuspi e passei
por ele para sair do quarto.
Homens.
Movi meus quadris de forma a esfregar minha bunda nele, por causa
dos saltos, estava exatamente da altura do seu pau.
Vamos ver se isso aqui funciona, tio.
— Você não vai ser preso, tio. Cala boca e vem logo — disse
impaciente.
Ele sorriu, ou pareceu sorrir, já que um dos lados do seu lábio se
ergueu. Se aproximou, com passos firmes e decididos, e levou a mão até o
zíper atrás do cropped. Em segundos, a peça estava aos meus pés. Ao
contrário do que eu desejava, ele não tocou meus seios, colocou a mão no
botão do meu short, abriu e o tirou junto com a minha calcinha.
Rápido demais.
Já vi que vai ser mais uma das vezes em que o cara gozará rápido.
Pode usar o remédio, tio.
Ele puxou o edredom, descartando de lado. E me empurrou na cama,
fazendo com que eu me deitasse. Não tive tempo para pensar, assim que
minhas costas tocaram na cama, ele levantou minhas mãos e antes que eu
pudesse reagir, meus braços estavam imóveis, amarrados na cabeceira. Ergui
o olhar para notar que era a gravata dele que me mantinha cativa.
— Você acha que eu devo descer para procurar meu remédio agora?
— sua voz, combinada aos movimentos dos dedos, me fizeram estremecer.
Não respondi e ele pareceu satisfeito com o efeito que causou, abaixou e
lambeu devagar meu clitóris pulsante, arqueei o quadril — Calma...
E quando suas palavras se foram, sua mão desceu firme contra minha
boceta.
Abri os olhos para observar que ele ainda usava sua calça, mas graças
a Deus estava usando camisinha. Ele me preencheu com facilidade e eu me vi
levantando os quadris para que ele pudesse ir mais fundo.
— Mas...
— Você me provocou, eu reagi. Fim.
Sim, qualquer um pode dizer que essa frase é clichê, mas quando se
fode com diversos babacas é mais normal do que se pensa que o sexo seja
meia boca. Já imaginou que se fode tanto e com tantas pessoas em busca de
alguém que, finalmente, preencha esse clichê de “melhor sexo da vida”? Pois
é, ao que parece esse posto acabava de ser ocupado na minha curta existência.
E para me provar que tinha sido real, ao me enxugar, depois de fazer xixi,
senti minha boceta bem sensível.
Quem bate na boceta de alguém na hora H?
Ele. Quem é ele é que eu não sei. Talvez seja isso que tenha deixado a
coisa ainda mais excitante: sexo pelo sexo. Sem nomes e... Sem beijo.
Enquanto lavo as mãos e olho no espelho grande, posicionado sobre a pia de
mármore escuro, lembro que nós não nos beijamos. E, cá entre nós, nem foi
necessário. O meu corpo reagiu de maneira descomunal diante de todos os
toques do tiozinho e só de lembrar, eu ficava quente novamente.
— Mas já? Você ainda está conseguindo andar em linha reta — ela
gargalhou e eu acompanhei. Realmente, a gente costuma dar “Perda total”
nas festinhas.
— É que a minha cota de loucuras já está saturada e eu quero manter
o que me resta de sobriedade para poder lembrar dos detalhes.
— Olha Alexia ali, avisa que estou indo de táxi e que estou sóbria,
não precisa se preocupar com a possibilidade de o motorista se aproveitar de
mim.
— Certo, mesmo assim avise quando chegar em casa.
Ledo engano. O que eu achei que seria uma britadeira, vibrando firme
para me acordar, pareceu um zumbido leve de liquidificador de tão exausta
que eu estava. Resultado? Perdi as duas primeiras aulas.
Xinguei “deus e o mundo”, mais precisamente as três safadas que
dividiam o apartamento comigo, por não terem me acordado. O que custava
me derrubar da cama? Mesmo que eu parecesse um misto de urso raivoso
com TPM e o espírito de O Exorcista quando acordava, era falta de
camaradagem feminina, poxa!
— Desembucha, Liz.
— Se não for assim, não tem graça... — Alexia concluiu, sem sequer
ter começado a comer. — Você conhece ou não a tal garota?
— Sei quem é, fui apresentado para ela ontem. Mas o que você quer,
finalmente? — Tedy me encara, mordendo seu pastel.
Ele estava sentado no fundo, com fones nos ouvidos, por isso eu
invadi o espaço que ainda estava bem vazio e me joguei na cadeira que estava
em sua frente. Tedy levantou o olhar e também suas sobrancelhas bem-feitas:
— Parece que alguém acordou com saudades minhas... — insinua.
— Você tem que me mostrar quem é ela — disse, mas ele não me
ouviu, por isso puxei seus fones — anda logo, vamos procurá-la!
— A trepada deve ter sido boa mesmo para você está nesse desespero,
hein bebê? — os olhos dele brilharam de interesse.
— Considerando meu histórico de cenoura, sim, foi muito boa e eu
preciso repetir! Agora levanta essa bunda purpurinada daí e vamos logo antes
que a aula comece.
Tedy riu e, sem ter muita escolha, se levantou da cadeira. Usava uma
calça jeans justa de lavagem escura e camiseta preta, também justa. Nos pés,
seu all star preto se mantinha com o solado incrivelmente branco...
— Você usa pasta de dente nesse tênis? Esse branco não é normal —
expus meu pensamento, enquanto andamos em direção ao bloco onde fica o
departamento de direito.
— Tenho certa mania de organização, não posso ver nada sujo ou fora
do lugar — deu de ombros.
— Se quiser ir nos visitar, fique à vontade — joguei, ele riu — só
quero ajudar você a se livrar dessa mania, vai que cola!
— Não é de todo uma mentira, mas o fato de a sua casa ter piscina
ajudou na escolha — ajustei a história — procuro amizade sincera com
pessoas que tenham piscina em Aracaju. Qual é? Pode me culpar, temos um
sol para cada um aqui!
— Só pode ser louca... — ela falou baixinho, mas eu ouvi — então
Liz, como sabe que eu tenho uma piscina?
— Ah, Liz, pelo menos você foi sincera! E quem pode ser mau o
suficiente para negar um banho de piscina a alguém que precisa, né?
— É como negar água! Não se pode negar água, todo mundo sabe —
juntei minha risada a dela logo depois.
— Certo, certo... Amanhã, está bom? Creio que você não veio com
look piscina, digo, entrevistadora de jornal.
— Ah, não seja por isso... Eu posso nadar pelada! — ela me olhou e
sorriu.
— Já vi que o calor está grande... Pode ser hoje então, depois do
almoço?
— Perfeito, Celine.
— Não me lembro de ter dito meu nome...
Saí do banheiro quando ouvi tudo mais quieto e fui até o “mini
shopping”, que nada mais é do que o lugar com várias lanchonetes e
restaurantes dentro da universidade, nunca entendi o motivo de chamarem
assim. Como a Celine tinha dito para eu ir depois do almoço, decidi comer
enquanto dava um tempo para o Uber baixar os valores. Eles subiam,
segundo a minha lógica, quando as aulas acabavam e muitos alunos
solicitavam de uma vez.
Optei por pedir estrogonofe de frango. O arroz branco e a batata palha
foram os complementos que, junto ao copo de suco de laranja, me ajudaram a
ficar distraída sem contar as voltas do ponteiro do relógio.
Passei por ela e dei alguns passos para dentro, olhando ao redor. Sem
todas aquelas pessoas dançando, o lugar parecia ainda maior. Há algumas
cadeiras de sol, deitadas confortavelmente no espaço amplo. No dia da festa
elas não estavam ali, provavelmente foram tiradas para dar mais espaço para
as pessoas dançarem. A piscina, quadrada, de água limpa e convidativa,
ficava à direita.
— Vamos para a varanda? — Celine disse, parando ao meu lado, com
um sorrisinho de quem me flagrou morrendo de calor.
— Minha mãe não está mais entre nós e o meu pai me apoia em tudo.
Eu precisava ganhar mais tempo, não havia conseguido nada com essa
entrevista.
— Vamos de cerveja, então — ela falou, indo até o outro lado, onde
deve ficar a cozinha.
Eu me mantive parada, aguardando até que ela voltasse de lá. Pelo
tom recriminador com que me abordou e por estar no andar de cima, o cara
mora aqui. Ok, eu estava no andar de cima e não morava, mas nem todo
mundo invade propriedades alheias. Meu palpite era que ele morava ali e pelo
terno, pode ser que seja o dono da casa.
Será que...
Puta que pariu e se o cara for marido da Celine? E eu, além de transar
com ele, inventei uma bela mentira para saber mais e, quem sabe até me
encontrar com ele hoje. Na casa dela.
Quem nunca?
Era mais ou menos isso que eu estava fazendo agora. Só que bem para
menos, não é? Considerando que o boy não tem o meu número, não sabe o
meu nome e pode nem lembrar que me fodeu. Mas eu era uma pessoa legal e
tinha conseguido facilitar as coisas caso ele lembrasse, quisesse e só não
pudesse, por qualquer motivo que seja, entrar em contato comigo.
E como eu queria.
A minha vontade era dizer, de maneira não tão paciente, assim que ele
atendesse a ligação: por que demorou tanto, está achando que eu tenho todo
tempo do mundo para falar com você?
Mas assim que houve retorno do outro lado, senti meu coração se
apertar, como em um susto repentino. Semelhante a um objeto que cai, sem
você esperar, e o barulho dele ao tocar o chão quase te faz gritar.
— Não, mas...
— Você não me conhece. Não deveria ter meu número e aquela noite
foi um erro. E se eu for casado?
— Você não é — falei rápido demais.
Não ia mesmo.
Subi os quatro lances de escada furiosa, pisando firme em cada um
dos degraus até chegar ao meu andar. Nem todo esse exercício acelerado fez
a minha irritação diminuir um pouquinho sequer. Quem ele pensava que era?
Agora era questão de honra estarmos cara a cara novamente e quando ele
estivesse excitado, o que com certeza eu farei acontecer, será a minha vez de
dizer: não tenho mais interesse, entendeu?
Celine: Você é maluca mesmo. Mas não sei porque, gosto de você.
— Achei que tinha desistido — ela disse assim que o portão branco
foi aberto.
— Tive que vir de ônibus, convenhamos que aqui não é o lugar mais
perto do mundo... — respondi sorrindo.
— Você falou tanto dessa piscina que acabei caindo nela quando
achei que você não vinha mais...
— Eu nunca deixaria de vir — confessei — posso deixar minhas
coisas aqui mesmo?
— Que porra você está fazendo aqui? — a ferocidade com que ele fez
esse questionamento me fez dar um passo para trás, quase me recostando à
porta.
Anda, Liz...
— Calada!
Com a mão livre, ele afastou o tecido do seio dolorido e lambeu ali,
aliviando o formigamento. Foram poucos segundos de alívio, os dentes dele
prenderam meu mamilo, dessa vez sem o tecido, fazendo com que eu reagisse
dando um passo para trás. Sua língua, mais uma vez, acariciou o local e o
misto de sensações geraram uma descarga de prazer intensa diretamente entre
as minhas pernas.
— Eu vou tirar a mão da sua boca e você vai ficar quieta, entendeu?
— assenti.
Quase não acreditei quando ele levou o tecido até o meu rosto,
imaginei que fosse passar no meu nariz para que eu inalasse o cheiro, mas ele
passou o tecido pelos meus lábios, puxando e apertando, dando um nó atrás
da minha cabeça.
— Se eu tivesse tempo deixaria você dolorida para que toda vez que
tentasse sentar, lembrasse de nunca mais aparecer aqui — as palavras dele me
distraíram, mas não aliviaram o tapa que levei.
Caralho!
Mas isso não aconteceu e eu pude contar cinco tapas em cada lado da
minha bunda. Ardendo, queimando e formigando... Mas senti também o
quanto minha boceta estava excitada, mais molhada do que quando estava na
piscina.
Meus braços estavam desconfortáveis, minha bunda ardia, mas eu
esfregava os seios contra edredom, buscando ainda mais sensações. Meu
rosto estava de lado, pressionado contra a cama, mas não pude ver quando ele
se afastou. Só senti falta dos dedos dentro de mim.
Por pouco tempo, quando o pau dele preencheu aquele espaço, quase
não me lembrei meu nome, quiçá que dedos estiveram ali.
Ele socou uma, duas, três vezes. Saindo e indo fundo, punindo e
tentando fazer doer. Sua mão recomeçou a surra, dessa vez, concentrando as
palmadas do lado direito. Ele me fodeu e me bateu. E eu quis mais.
Quando ele se afastou, quase chorei de necessidade. Já tinha acabado?
Os tapas poderiam cessar, mas ele tinha que me comer mais, eu ainda não
tinha gozado. Fui puxada e virada, ficando de barriga para cima. O peso do
meu corpo sobre os braços amarrados agora era o que mais incomodava.
Assim que ele terminou de dar a ordem eu o olhei, notando que ele
continuava completamente vestido. A única coisa que denotava que tinha
acabo de foder era a calça ainda aberta.
— Levante e se vista, já dei o que você veio procurar. Não volte mais.
— Onde você pensa que vai? — A voz dele ressoa como um trovão,
me deixando em alerta novamente.
— Não vai não, eu prometi que te daria uma carona e eu vou cumprir.
— Está dizendo que vai me desobedecer? — ele pergunta, encarando
a filha com um olhar que, se fosse o meu pai, me faria correr para dentro de
casa.
— Sua filha sabe que estou com você — respondi, tentando não
parecer assustada.
— Bom lembrete. Mas ela é minha filha, eu poderia suborná-la. Acha
que ela escolheria incriminar o pai?
— Ligue o carro e me leve para casa. Você não vai fazer nada e não
vai me assustar.
— Eu já te assustei, Liz. O que eu não sei é o motivo pelo qual você
não saiu correndo ainda... — disse em tom baixo.
Ele não esperava pela minha resposta e optou por não continuar a
conversa que iniciou. Ligou o carro e acelerou. Deixando que a velocidade
complementasse o medo que ele tentava me causar.
Ele ainda não sabia, mas tudo isso só serviu para me deixar ainda
mais interessada.
— Criança...
— Odeio quando você me chama de criança — informei, apertando
seu pênis mesmo com o aperto firme me segurando.
— Mas é o que você é, uma criança que acha que pode brincar com
tudo, inclusive comigo — ele retirou a minha mão, sem se mostrar abalado
pelo meu toque.
Quando digo isso, ele ri. É a primeira vez que eu o vejo sorrir, não é
uma gargalhada nem nada do tipo, mas seus dentes estão amostra, seus lábios
curvados e um pouco de ar saiu deles.
— Não tem uma só célula sua que seja naturalmente submissa.
— O que você tem a perder? Já percebi que adora foder com mais
intensidade. Eu gostei.
— Mas...
Meu primeiro erro foi olhar para o seu corpo. Não tinha sido
proposital e foi tão rápido que eu achei que ela não tivesse notado. Mas ela
notou e quando eu a imprensei contra a parede achando que ela fosse recuar,
ela se esfregou contra mim e tudo foi por água abaixo.
Concentre-se, César.
Olhei para a sala ao meu redor, encarando as paredes cinzas. Antônio
Viana, meu pai, fundou a Safety empresa que trabalha com serviço de
vigilância e transporte de valores há mais de trinta anos, no Rio Grande do
Sul.
— Achei que nunca fosse ligar — foram as palavras que ela disse.
— Aprecio que tenha não tenha ligado — respondi simplesmente, era
realmente algo a se elogiar considerando o histórico dela.
— Você tem certeza disso, Liz? — dou uma nova chance para ela
recuar.
— Estarei esperando.
— Dê prioridade para as roupas que facilitem o meu acesso ao seu
corpo, até mais tarde, Liz — encerrei a ligação.
— Você sabe que está exagerando, não sabe? — não respondi — três
carros, pai.
— Mande os dados de todos para o Eduardo providenciar as
passagens — ela suspirou — aposto que eles vão ficar mais felizes em poder
beber e se divertir sem se preocupar com a direção.
— Mila, faz uma lista com nome e CPF de todo mundo que meu pai
vai bancar o voo... — palmas e gritos de “valeu tio” ecoaram pela ligação —
é, parece que você tinha razão.
— Sempre tenho.
— Obrigada, pai.
Bem, eu não era inocente ao ponto de não saber nada sobre BDSM. A
sigla é um acrónimo para a expressão "Bondage, Disciplina, Dominação,
Submissão, Sadismo e Masoquismo". Quem nunca assistiu 50 tons de cinza?
Eu já, várias vezes e ao ver o Grey usando apenas aquela calça jeans baixa...
Nossa, dava calor só de lembrar. Achei a senhorita Anastasia Steele uma
tonta? Nos livros sim, aquela deusa interior dela me dava nos nervos, mas
convenhamos que eu deixaria o Christian me amarrar.
Assim que ele encerrou a ligação, pela manhã, voltei para assistir as
aulas. Juro por todos os santos que eu tentei prestar atenção, mas na minha
mente uma sucessão de questionamentos foram se acumulando.
E para onde iríamos? Para a casa dele? Não, duvido que ele quisesse
que a filha soubesse que ia me foder. Um hotel? Ou talvez um motel.
Um final de semana inteiro em um motel, nada mal para quem só
encontrava coelhos, hein Liz!
Lavar meu cabelo era uma tarefa que exigia dedicação, sempre
envolvia uma hidratação a mais e coisas do tipo, mas hoje não daria para
fazer tudo isso. Apesar de pender mais para o liso, não conseguia colocá-lo
em uma categoria e sempre dava uma alisada com alguns produtos
específicos para diminuir o volume.
Os meus fios são grossos, o que deixa o cabelo mais pesado e cheio,
mas dessa vez preferi dedicar mais tempo a minha depilação a ele. Pelo que
me lembrava uma das exigências do Grey era que a Ana estivesse totalmente
depilada, bem, isso não era um problema para mim.
— Olha ela, tava batendo gilette no azulejo? Hoje tem! Espero que o
boy valha a pena! — perturbou.
— Obrigada, gata!
— Não vai comer? Fiz macarrão com salsicha e sobrou um pouco, se
quiser — ela ofereceu e eu olhei direto para o relógio de parede: 12h42min.
— Não estou com fome! — respondi correndo para o quarto que dividia com
ela.
Não era uma mentira completa, minha mente estava a mil e a vontade
de comer não estava tão presente. Eu tinha outras prioridades, como achar o
vestido envelope listrado para usar agora e arrumar meus itens pessoais para
levar.
Fazia uma hora que eu estava sentada naquele banco, na área de
convivência do prédio. Minha mala rosa, daquelas de viagem que podemos
levar conosco no avião, estava servindo de apoio para os meus pés
estendidos.
O rosto dele não poderia ser definido como quadrado, o queixo era
um charme à parte e o alongava um pouco mais, eu o definiria como
retangular. Másculo e simétrico. A barba por fazer despontava em pequenos
fios que disputavam para ver quem prevalecia: os grisalhos ou os negros. Os
fios brancos levavam certa vantagem no rosto, no cabelo os negros ainda
predominavam. Mas confesso que o conjunto dava um charme a mais aquele
homem.
— Eu fiz uma pergunta, Liz, prefiro que me responda quando eu as
fizer — a voz dele invadiu a minha zona de inspeção e me trouxe de volta ao
questionamento.
Eu esperava que fosse aquele tipo de barulho que parece alto, mas na
verdade só você está ouvindo, afinal vem de dentro. Mas a pergunta que ele
me fez indicava que ele tinha ouvido:
— Sim, senhor.
— Ótimo. Você é livre para ir quando quiser, mas se ficar será testada
como pediu e eu não vou poupar você, está de acordo?
— Sim, senhor.
— Enquanto estivermos aqui você é livre para falar, mas lembre que o
que disser pode ter consequências — alertou — depois que combinarmos
alguns detalhes só vai falar e fazer o que eu te der permissão, entendeu?
Então era assim que as coisas iam ser? Ele me mandaria calar a boca
ou o que?
— Liz?
— Sim, eu entendi.
— Hum, sim, mas ainda assim prefiro sexo com camisinha... Sabe
como é, não é só gravidez.
— É bom ouvir isso, mas talvez precise que faça alguns exames para
me provar que está tudo bem com sua saúde. Os meus estão atualizados, aí
atrás. Pegue e confira — informou e eu fiquei na dúvida se aquilo era uma
frase retórica ou uma ordem para ser atendida.
Por precaução, estiquei-me um pouco até alcançar a pasta preta que
estava no banco de trás. Abri a pasta e meus olhos recaíram na parte superior
da primeira página. Além do nome da clínica onde foram realizados, o
convênio, o nome do médico requisitante e a data (pouco mais de um mês)
fixei nas seguintes informações:
Idade: 51 anos.
Primeiro, fiquei feliz em saber o nome completo dele, uma vez que
usei de intromissões para ter informações ao seu respeito. No segundo
momento, meu cérebro calculou que a nossa diferença de idade, no momento,
era de trinta anos. Ele era da idade da minha mãe!
Arquivei a notícia para processar depois e me concentrei em analisar
os resultados dos diversos exames. Negativo para HIV, Hepatites, Sífilis e
várias outras doenças sexualmente transmissíveis.
Cozinhar era algo que eu gostava de fazer, mas que não fazia com
frequência. O trabalho ocupava boa parte das minhas horas e, nas livres, eu
passava algum tempo com a Celine. Ela não gostava de cozinhar e não tinha
muita paciência para ficar comigo na cozinha, por isso almoçávamos fora
com frequência.
— Hum...
— Não vou palestrar sobre o tema, pelo menos não agora, o que você
precisa fazer nesse momento é escolher sua palavra de segurança. É a palavra
que irá usar quando achar que está no seu limite, por isso não pode ser nada
muito complicado e também não pode ser “não”. Assim que você disser a
palavra de segurança eu paro qualquer coisa que estivermos fazendo.
— Fique aqui — soltei sua mão e andei até o lado oposto, sentando no
sofá. — Dance para mim, Liz.
— Não tem música... — ela começou a argumentar. Eu fiquei em
silêncio. — Sim, senhor — ela respondeu depois de alguns segundos cruciais.
Só então ela abriu os olhos. E era fogo que eu via neles. Liz me
encarou de maneira petulante, como se quisesse me dizer que aquilo não era
nada e que ela tiraria de letra. A audácia daquele olhar enviou um aviso de
alerta para o meu autocontrole.
Suas mãos voltaram a passear pelo corpo, dessa vez chegando até a
barra folgada do vestido de listras, fazendo com que subisse um pouco,
mostrando mais das coxas esguias. Ela se virou de costas e continuou
movimentando a cintura, como o pêndulo de um antigo relógio de parede.
Suas pernas se afastaram um pouco e ela abaixou o tronco para desatar as
tiras da sua sandália, mas ela não flexionou as pernas o que resultou em sua
bunda para o alto.
— Das vezes anteriores foi muito fácil para você criança, agora terá
que fazer por merecer — esclareci, ela me encarou — venha até aqui como
uma boa cadela faz quando seu dono chama.
Ela veio, mas não com passos de cadela apressada e faminta. Veio
com a graciosidade de uma gata, lenta em seu próprio tempo, transformando
a sua tortura na minha. Deixando claro que sua obediência é puramente
egoísta e, no fim de tudo, é por sua satisfação e não para me agradar que ela
estava de quatro.
Quando ela chegou próximo aos meus pés, toquei em seu rosto. Seu
olhar encontrou o meu.
Movi os quadris metendo cada vez mais rápido, sentindo meu pau
entrar cada vez um pouco mais fundo que a anterior. Os olhos dela não se
desgrudaram dos meus e eu enxerguei o momento exato em que eles se
encheram de lágrimas.
— Ótimo, Liz — toquei em seu rosto — você foi muito bem. Sua
próxima tarefa é lavar a louça e arrumar a cozinha — informei, fechando o
zíper da calça e o botão.
Qual é César, você não achou que ela desistiria assim tão fácil,
achou?
Não, não achei.
Já havia ouvido tantas vezes que a impressão que tive, naquela hora,
era que a música realmente estava tocando nos meus fones de ouvidos
imaginários.
So it's gonna be forever
Or it's gonna go down in flames
You can tell me when it's over
If the high was worth the pain
Got a long list of ex-lovers
They'll tell you I'm insane
'Cause you know I love the players
And you love the game
O que me deixou irritada foi ele não ter me tocado. Eu esperava que
depois daquele boquete que quase perfurou minha garganta ele fosse me
deitar no sofá, retribuir e me foder. E o que ele faz? Age como um coelho
filho da puta depois que está satisfeito e me manda lavar pratos! Quase
xinguei. Quase mandei a mãe dele ir lavar a louça, mas então eu percebi que
era isso que ele queria.
Quem o visse agora não diria que há pouco tempo estava gozando na
minha boca. César era um homem polido, daqueles que exalavam respeito
apenas através da postura.
— Está entediada?
— Um pouco — fui sincera, mas sutil. Se eu dissesse tudo que estava
em minha mente ele não ia gostar nem um pouquinho.
A cama foi afastada para o canto, fazendo com que o espaço central
ficasse maior. Nele, há um caixote de madeira grande. Desses comuns, que
algumas pessoas podem reutilizar como baús ou até mesmo como mesa
pequena. No canto, próximo ao caixote, há uma mala grande e preta, que está
fechada.
— Deite no caixote, Liz, com a barriga para baixo — César ordena
calmamente.
Tudo bem. Não é nada demais, é tipo sexo na mesa da cozinha, não
é?
Senti o toque leve dos seus dedos sobre as minhas costas, em uma
carícia tão leve que era como se alguém estivesse apenas soprando uma
lufada de ar. O toque se estendeu e seguiu até a base da minha coluna. A
partir dali ele se materializou em toque real, quando, com a palma, acariciou
um dos lados da minha bunda.
O contato da pele dele contra a minha era excitante e continuou até
passar por minha perna e se afastar antes de chegar ao meu pé. Foi então que
senti o primeiro tapa. Quente. Na junção entre a minha coxa e o início da
minha nádega.
— Ai!
— Não — gritei.
— Quanto, Liz?
— DOIS! — gritei irritada.
Ele desceu a mão contra mim mais uma vez, com mais intensidade,
como se quisesse me obrigar a cair fora.
— Ahhhhhhhhhhhh — gritei antes de contar: — cinco.
Logo, sua boca estava ali, beijando minha boceta. Seus dedos me
abriram para que a língua mergulhasse. Eu tentei me mexer, mas era bem
difícil, ainda assim consegui me empurrar um pouco mais na cara dele.
O choque veio quando ele encostou algo que vibrava em meu clitóris.
O estímulo repentino me fez gritar:
— Caceteeeeee!
Não consegui olhar, fechei os olhos e me concentrei na loucura que
aquele aparelho desgraçado estava me causando. A vibração era intensa,
constante e ininterrupta. E fazia meu corpo vibrar no mesmo ritmo, através do
contato entre as pernas.
Eu não peguei leve. Para quem não tem a menor experiência, como
ela, estar naquele caixote sem movimentos poderia ser assustador. As
palmadas não foram leves e, quando eu notei que ela estava resistindo,
aumentei a intensidade, mas a garota não cedeu. E contou cada um dos tapas
como a porra de uma submissa faria.
Não podia ser injusto, ela merecia ser recompensada e quando lambi
aquela pele deliciosamente avermelhada, Liz se excitou. Sua boceta estava
encharcada quando eu a invadi. O vibrador de clitóris foi excepcional e a
maneira como gozou me deixou muito satisfeito. O corpo dela era moldável e
necessitava daquele tipo de toque. Essa conclusão me deixou surpreso.
Meu pau estava duro feito uma barra de ferro depois de tudo, mas a
garota estava exausta. Por isso, quando vi seu corpo relaxado sobre a caixa de
madeira, abri cada uma das algemas que a prendiam, mas ela continuou na
mesma posição. Virei seu corpo e a peguei no colo, passando meus braços
por baixo de suas pernas e costas. Ela não ofereceu resistência e se deixou ser
levada até a cama.
— Você é sádico?
— A consciência?
— Acho que não. Digamos que a pessoa que está amarrada gosta de
apanhar, de sofrer humilhações verbais e físicas, gosta quando a pele se abre
depois das chicotadas... Quem está segurando o chicote também gosta, mas
está dando aquilo que o submisso deseja. Nesse caso, se é o que a pessoa
quer, apanhar até não aguentar mais, a consciência de quem bate estaria
tranquila, não?
— Credo!
— Pois é, Liz, não sei como você não pensou nisso tudo antes de
invadir minha casa duas vezes e aceitar vir para uma casa sem nem me
conhecer. Acho que você é masoquista.
— Masoquista?
— Dar uma utilidade para essa sua boca — segurei-a pela trança até
que a cabeça estivesse pendendo para fora da cama.
Abri o botão da calça e o zíper, baixando-a junto com a cueca até que
ambas parassem ao redor dos meus tornozelos. Meu pau estava semiereto
depois de toda a conversa. Aproximei-me até que ele estivesse na altura dos
lábios dela.
— Vamos lá, criança, chupe direitinho que eu te coloco em uma
posição mais agradável — ela levou as mãos para me tocar, mas eu as segurei
— só a boca.
Ela sugou a ponta com força, para me punir por segurar sua mão, mas
logo tratou de colocar a língua para fora e passar na região. Liz me
abocanhou como uma esfomeada, levando o mais fundo que pode e eu resolvi
me mexer, pois aquela posição não era confortável e logo ela estaria tonta.
Milagrosamente, ela não disse nada. Talvez aquela fosse uma boa
maneira de fazê-la ficar quieta.
Liz era um desafio, alguém que me impelia a fazer coisas que eu não
faria em circunstâncias normais. E como todo desafio, eu sairia vencedor e
ela voltaria para casa.
Não sei que horas acabei dormindo, tudo tinha sido tão intenso desde
que cheguei nessa casa, no início da tarde. De longe, essa era a sexta-feira
mais animada de todas pelas quais já passei ao longo da vida.
— Tudo bem, amor, mas não fique tanto tempo sem me dar notícias...
— ficou em silêncio e depois sorriu — você sabe que eu vou cobrar, não é?
— mais sorrisos — eu deveria ter te dado mais palmadas!
— Não, senhor.
— Hum, nem tanto. Você não precisa usar isso aqui — ele leva a
outra mão para auxiliar na tarefa e tira a peça — enquanto estiver aqui, não
use calcinhas, entendeu?
— Sete e meia — ele diz sem olhar o celular — hora de fazer o jantar.
E como fui responsável pelo almoço é a sua vez. A geladeira e a dispensa
estão abastecidas, fique à vontade — ele disse e se foi levando minha
calcinha.
Puta que pariu, Liz. Você esqueceu de calcular o que viria de lá como
vingança.
Ele se levantou, de repente, fazendo com que sua cadeira caísse
abruptamente. Meu coração deu um salto e passou a bater mais rápido. Minha
risada cessou e meus olhos se arregalaram diante do homem que agora estava
de pé e me olhava com fúria.
Quase.
Porque ele não fez nada disso. César me deu as costas e se retirou dali
sem sequer me dirigir uma palavra.
Fiquei sozinha entre os pratos e talheres, encarando a comida ruim
que estava no meu prato. Era como se aquele maldito macarrão sorrisse,
zombando da minha cara de pateta, assim como eu tinha feito com ele.
Mas eu não o encontrei na sala e quando fui para a área externa, notei
que o carro não estava mais lá. Ele tinha saído e me deixado ali sozinha.
Bem, talvez ele tivesse ido jantar. Considerando o cardápio que eu havia
oferecido era mais do que justo.
Fui para a cozinha e me livrei da gororoba, me sentindo culpada pelo
desperdício da comida. Lavei os pratos e panelas bem devagar, tentando me
manter ocupada. Sequei e guardei a louça, varri a cozinha, guardei os itens
postos na mesa de jantar e notei que apenas meia hora havia se passado.
Não sabia o que fazer e lembrei que não havia dado sinal de vida para
as pessoas. Por isso, subi as escadas correndo e fui para o meu quarto,
procurando meu celular. Com o aparelho em mãos, me joguei na cama e
enviei mensagem para o grupo das meninas que moravam comigo.
Grupo HOME:
Eu: Oi, meninas! Está tudo bem, ok? Meu fim de semana promete ser bem
animado. Estou em uma casa de praia no Mosqueiro.
Eu: Chora que passa, bebê kkkkkkkk brincadeira, as coisas vão melhorar pra
você também. Beijos
— Eu vou amarrar e amordaçar você, Liz. Você não vai poder falar
sua palavra de segurança — fiquei em pânico e abri a boca, prestes a falar —
mas eu vou colocar um objeto em sua mão, ele será o substituto da safeword
e se você o soltar, cessará tudo, entendeu?
— Sim, mas...
— Não, senhor — disse, por fim, ciente de não recuaria antes de saber
o que ele faria.
— Então abra a boca — eu obedeci e senti uma bola macia, do
tamanho de um limão médio, ser colocada entre os meus dentes.
César segurou meu pulso direito e passou o que julgo ser uma corda
por ele, se demorando bastante em voltas e amarrações. Em seguida, ele foi
suspenso, ficando preso lá no alto. O mesmo aconteceu com o pulso seguinte
e quando ele terminou, eu fiquei com os braços para cima, como se estivesse
em pé no ônibus cheio, tendo que ficar na ponta dos pés para alcançar aquela
maldita barra de ferro. Que, obviamente, não foi feita pensando em pessoas
baixinhas.
O que quer que amarasse meus braços era áspero e estava apertado,
não dando chance para eu me soltar.
Por alguns segundos nada aconteceu. E eu me perguntei se meu
castigo seria ficar sozinha, com braços suspensos, vendada e amordaçada por
algumas horas.
Já nas costas, fui atingida com um pouco mais de força. Eu gritei, mas
o som que saiu parecia o de um cachorro engasgado. Novamente, minhas
costas arderam com o golpe. O pior era estar vendada, não dava para prever
em que lugar o golpe viria e isso acabava adicionando o susto ao contexto.
A dor não era insuportável. César não dava tempo para que eu me
concentrasse nela, pois uma nova região era atingida em seguida e isso fazia
o meu sangue esquentar e se espalhar por todos os lugares.
E depois minha boceta foi invadida pelos dedos, dessa vez estava
muito mais molhada. Não dava para pensar, apenas sentir. Os meus braços
estavam doloridos, as pontas dos meus seios sendo pressionadas e todo o meu
corpo pegando fogo.
Os dedos ainda se moviam para dentro e para fora de mim quando
meus seios foram libertados. Não sabia como, mas era como se doessem mais
agora sem o aperto. A língua quente tratou de lamber um dos bicos doloridos
e a sensibilidade enviou uma descarga direta para o meio das minhas pernas.
Mordi a bola de borracha e fiz o maior barulho que pude, revezando entre
“huns” e “anhs” sem a menor necessidade de estarem audíveis.
Soube que tinha alguma coisa errada quando minhas mãos foram
soltas. Primeiro uma, depois outra, fazendo meus braços caírem moles de
cansaço e dormência.
Meu corpo estava por um fio, meus olhos quase se fechando e tudo
em mim era uma confusão de sensações e exaustão.
Achei que seria colocada no chão, mas senti meu corpo ser submerso
em água morna. Abri os olhos para enxergar uma banheira de hidromassagem
redonda, notei que era branca e estava quase cheia. Mas foi apenas isso.
Quando os jatos começaram seu trabalho relaxante eu devo ter cochilado,
pois não lembro de nada mais.
Acasos não existem. Tudo tem um propósito, por mais que não
consigamos enxergar, há alguém, em algum lugar, orquestrando cada um dos
nossos passos. E eu quase podia brindar o fato de tê-lo encontrado.
Não sabia se ela gostava de café, então não o fiz, mas fervi água e
coloquei o pó solúvel na mesa para que o fizesse, se fosse necessário. Suco
de laranja, torradas, ovos fritos, pão e algumas frutas compunham a mesa da
cozinha quando terminei de arrumá-la.
Olhei para o meu relógio de pulso e notei que já passava das
8h30min. Liz já tinha dormido o suficiente para se recuperar da noite
anterior, precisávamos conversar sobre o fatídico jantar e sobre a experiência
com o Silvio, por isso fui até o seu quarto.
Sim, era, mas não dessa maneira. Não com uma sucessão de
interrogações pairando ao redor do uso dessa palavra. Que horas ela saiu? E
se tiver sido de madrugada, será que aconteceu alguma coisa? Por que ela não
consegue se comportar como uma adulta?
Porque, como você bem diz, ela é uma criança seu idiota.
Mas que opção eu tinha? Estava confusa e com muita raiva. O César
tinha me usado, me entregando na mão de outra pessoa sem a menor
consideração! Uma parte do meu cérebro me traiu e me levou de volta a
escuridão dos olhos vendados na noite anterior. Essa mesma parte estava
tentando me lembrar que eu gostei das sensações, do toque e do beijo do
estranho.
O beijo. Estou tentando não focar nisso, mas esse é o maior problema.
César nunca me beijou e eu não sei bem o motivo, então naquele momento
imaginei que as coisas estivessem evoluindo entre nós, ou sei lá, que ele se
importasse e me achasse merecedora da porcaria do seu beijo.
Na balança, o que mais me incomodou foi saber que ele não me
beijou, que nada era diferente ou especial e que sou tão descartável que ele
me serviu de bandeja para qualquer um.
Mas era tarde. Assim que olhei para o teto foi como se ele
transformasse em uma imensa tela de cinema, me mostrando todas as vezes
em que estive com ele. Desde a primeira vez tinha sido intenso, por isso eu
quis mais. E eu tive. Nossa, doses extrafortes de intensidade.
Se antes o sexo já não era essa coca-cola toda, como será depois de
aumentar o meu parâmetro de comparação? Se antes já não me contentava
com uma pessoa que gozava e me deixava pensando “ué, mas já acabou?”
como seria agora depois de César me mostrar um pouquinho de como seu
mundo funciona?
— Ah, você quer falar sobre atitudes adultas? Não acha que seria
mais correto da sua parte me que avisar deixaria outra pessoa me foder sem o
meu consentimento?
— Trabalho da faculdade?
— Sim, sim — menti — mas acabou.
— Vai vir pra casa quando? Estou pensando em ir aí com seu pai!
— Vou para Festa do Caminhoneiro, estou com saudades de casa —
fui sincera.
Seria bom ir para casa. Mas enquanto esse dia não chegava era melhor
procurar ocupar a minha mente (e as minhas mãos). Não demorou muito para
que eu tivesse com que ocupar os dois, a solução veio em forma de
notificação de Whatsapp no grupo EM PAUTA. Nome bem jornalístico, não
é? Era o grupo em que estava com a Alexia e a Érica.
Érica: Gente, o trabalho da Vidal é para segunda, estão lembradas?
Eu: Como assim é para segunda? Não anotei nada!
Alexia: Deve ser porque sua cabeça estava mais focada em pau do que em
aula kkkkkk
Érica: Kkkkkkkkkkkkkkk não posso discordar dela, amiga.
Eu: Vocês não sabem nem a metade dessa missa...
Érica: Então conta, oras.
Eu: Conto, se alguém fizer o meu trabalho! Rs
Érica: Vai tomar banho, Liz.
Alexia: Que santinha, tem que mandar tomar no cu mesmo! Hahaha
Eu: Morram curiosas, então.
Alexia: Caralho, Liz, a gente te ajudou a descobrir sobre quem deu a festa,
que injustiça nos deixar no escuro depois.
Eu: Uma dica para quem me ajudar no trabalho: quarto vermelho da dor.
Érica: OIIIII???
Alexia: MENTIRA PORRA!
Eu: Pura verdade.
Alexia: Venha aqui para casa que eu ajudo você!
Érica: Também vou, super ajudo!
Eu: Bando de safadas... Mas estou mesmo precisando conversar. Tô indo!
Na casa da Alexia, tive que me esforçar e driblar todas as perguntas
antes de fazer o meu trabalho que estava atrasado. Sozinha, eu não
conseguiria me concentrar. Com elas, apesar de todos os questionamentos, o
foco foi direcionado para a atividade quando eu dei um basta. Assim que
acabamos com a tarefa, tive que contar tudo o que aconteceu, desde a festa
que eu não tinha detalhado para elas.
— Trinta anos mais velho, Liz? Meu Deus, eu não teria coragem! —
Érica disse, de olhos arregalados e boca aberta.
— Miga, na boa, depois que ele me encostou na parede no andar de
cima eu nem lembrei meu nome — confessei e ela riu alto.
— Então, o tal César é pai da garota que deu a festa... E ele não tem
esposa — Alexia concluiu suas considerações.
— Isso, é viúvo.
— Viúvo e dominador, diga-se de passagem. Cara, que história,
parece que estou vendo uma série da Netflix — Érica riu.
— E o que houve para você está aqui e não na casa de praia com o
vovô pegador? — Alexia questionou.
— Não foi com ele que eu fiz sexo — disse de uma vez.
— Como assim?
— Então...
— Então? Se você não está puta, quer dizer que não se incomodou?
— Alexia foi direto ao ponto — Gostou de ter dado para outro cara sem
saber?
— Você fez o que achava que era melhor, não precisa se culpar —
Alexia se deita ao meu lado — veja só, se antes os caras eram babacas, você
achou dois que te dão prazer isso é lucro, não é?
— Mesmo que não saiba nada sobre um deles e que saiba muito
pouco sobre o outro — Érica se jogou do outro lado e fez essa frase parecer
uma bela piada.
Mas se desde o começo eu corri atrás do que quis e o que eu quis foi
ele, qual o problema de ligar agora e matar essa vontade absurda? Era muito
coerente esse raciocínio, tanto que eu peguei o meu celular para fazer como a
música e ligar com a saudade mais amarga que eu já senti.
— Eu juro que não vou, estou sóbria o suficiente para xingar e não me
arrepender...
Dessa vez, quando ouvi o som da chamada não senti nenhuma tensão.
Estava leve e, devo confessar, mal ouvia os ruídos por causa do som do DJ.
— Liz? — Não me pergunte como eu entendi que foi o meu nome
que ele disse.
— Escute aqui, já estou cansada de você, entendeu? Só porque é um
coroa gostoso que sabe uns truquezinhos para animar meu corpo acha que
pode fazer o que quiser, não pode, otário — gritei.
— Liz...
— Já chega, tenho uma festa para aproveitar. Até nunca mais, César
— mais uma vez, encerrei a ligação sem que ele pudesse dar a última palavra.
Sentindo-me mais poderosa do que nunca, guardei o celular na bolsa e
voltei para o balcão para comprar mais um copo de catuaba. Era a última hora
da bebida dobrada, por isso virei o primeiro copo de uma só vez e fui com o
segundo para a pista.
Érica e Alexia estavam acompanhadas dançando, por isso eu e meu
copo dançamos juntos por algumas músicas. Até que fomos interrompidos
por um moreno de um metro e oitenta de altura.
Dois passos para lá, dois passos para cá. Uma rodadinha, mãos
acariciando minha cintura. A temperatura estava se elevando ali, posso culpar
a bebida?
Aí sou obrigado
A pegar a primeira boca que quer molhar meus lábios
Aí sou obrigado
A tirar a roupa do primeiro corpo que entra no meu quarto
— Agora!
Senti suas mãos tocando minhas coxas levemente, enquanto seu rosto
se enfiava no vão do meu pescoço. Levei minhas mãos para o seu peito,
deixando que elas percorressem todo aquele cumprimento. Senti a firmeza de
músculos definidos e desejei aquele corpo sobre o meu, me fazendo gemer e
esquecer meu nome.
O banheiro daquele bar era composto por três mictórios e apenas uma
cabine. E foi para ela que o moreno me levou, fechando a porta e me
recostando nela. Ele levantou minha saia, eu abri o botão da sua calça. Minha
calcinha foi afastada, sua cueca, invadida. Estava tudo indo bem, meu corpo
estava quente e desejoso, o pau dele estava duro entre os meus dedos.
Até que ele retirou os dedos que me tocavam para baixar a calça. E,
logo depois, colocar a camisinha. No automático, rápido e sem me tocar. Eu o
assisti se aproximar e puxar minha perna para cima, enfiar o rosto no meu
pescoço e o pau na minha entrada. Fechei os olhos e deixei que isso não
afetasse, foquei no meio das minhas pernas, preenchido de maneira gostosa.
Puxei o cabelo do homem e inclinei meu quadril mais para frente para
que ele fosse mais fundo. As estocadas começaram, lentas e curtas.
— Mais forte! — pedi e ele tentou — mais rápido!
Uma. Duas. Três. Sete. Sete metidas depois, eu senti o corpo dele
relaxar. Ele parou completamente por alguns segundos e, logo depois, saiu de
dentro de mim para retirar o preservativo.
Eu: Você estava bem ansiosa para falar comigo ontem. Aconteceu alguma
coisa?
Celine: Sim. Preciso conversar com você. Por favor, vamos até a minha
casa. Eu não insistiria se tivesse outra opção.
Eu: Você está me deixando tensa... Vai estar sozinha?
Ele foi o fio condutor que nos aproximou, mas não era por causa dele
que eu mantinha contato com a Celine. Havíamos nos tornado amigas, ela me
colocou no posto de confidente e, ainda que eu não tivesse a experiência para
ajudá-la de forma efetiva, estava sempre à postos para ouvir, assistir séries e
comer brigadeiro de panela entre um desabafo e outro. Afinal, é para isso que
as amigas servem, né?
A cada vez que eu entrava na sua casa sentia cada parte do meu corpo
se acender como as luzes do pisca-pisca de Natal. A presença de César era
sentida assim que os portões se abriam. Ainda que eu soubesse que ele não
estaria em casa, todo o meu corpo ficava em alerta aguardando a sua
presença. Era como se, em qualquer momento, ele fosse aparecer e me
castigar por continuar frequentando a sua casa.
Nos meus devaneios mais loucos ele apareceria com toda a sua
gostosura para se deliciar num banho de piscina ao meu lado.
Aproveitaríamos a ida de Celine ao bar para pegar mais bebidas e, naquele
momento, ele avançaria sobre mim. Suas mãos habilidosas se livrariam, em
poucos segundos, do meu biquíni cortininha e, antes que eu pudesse reagir,
estaria contra borda da piscina sendo invadida por seu pau. Toda a tensão de
sermos pegos em flagrante tornaria tudo ainda mais gostoso, minhas pernas
rondariam a sua cintura e eu gemeria baixinho enquanto ele estocava fundo
dentro de mim. Quando eu tivesse completamente dominada pelo prazer, seus
lábios tocariam os meus abafando os meus gemidos, fazendo todo o meu
mundo explodir feito fogos de artifício.
— Terra chamando, Liz! — Celine balançou o guardanapo de tecido
na minha frente. Em algum momento, entre a paella à marinheira e polvo à
espanhola, minha mente divagou para o tiozão gostoso.
— Não — neguei sorrindo — não tem crush nessa festa. É uma festa
tradicional da minha cidade. Ela é conhecida como a capital brasileira dos
caminhoneiros e todo mês de Junho comemoramos. Além dos eventos
tradicionais, como a missa da benção dos carros e o desfile de caminhões, a
noite a praça da cidade torna-se um imenso palco com apresentação de
grandes artistas nacionais. Esse último é o motivo da minha paixão pela festa
— sorri.
A festa foi realizada pela primeira vez em 1966 e desde então atrai
turistas que vão a cidade conferir uma vasta programação festiva, que
enfatiza a cultura do município. Acontece dentro do trezenário de Santo
Antônio, padroeiro da cidade e "heróis da estrada" são homenageados com
grandes shows, desfiles, brincadeiras e sorteios de prêmios. Para nós, jovens
festeiros, nosso foco se concentrava nos shows que trazem grandes nomes de
sucesso do âmbito sertanejo, forró entre outros gêneros que nós amamos.
— Está terminando de tomar banho, a Rose vai abrir a loja, mas ele
quer ir cedo porque acha que o movimento vai triplicar por causa da festa.
Meus pais possuem uma loja de joias e semijoias. Algumas pessoas
conheciam Itabaiana também como “cidade do ouro”, mas não existe ouro
aqui. Não havia matéria prima nem extração. Mas a fama veio porque os
comerciantes começaram a vender com um lucro bem menor, ou seja, bem
mais barato e isso foi evoluindo e cada vez mais atraindo.
Tentei não cair nas provocações, todavia fui evasivo na resposta sem
confirmar se pretendia ir ou não. Ele não ficou feliz com a minha resposta,
mas não insistiu. O que não impediu que ele me passasse um longo sermão
sobre a minha ausência nas festas familiares. Era como se minha mãe tivesse
passado o bastão para ele depois de se cansar de cobrar todos os filhos.
Havia muito tempo que aquilo ali era suficiente para me manter bem.
Não precisava de uma relação (nem baunilha, nem específica de BDSM)
porque as cenas eram suficientes. O sexo era bom, mas não era algo que me
motivava a querer mais. Era conveniente para mim e para as pessoas que
estavam ali comigo que fosse assim. As sessões aleatórias sempre atenderam
as minhas necessidades básicas.
Liz: Tipo, AGORA? Não vai dar, estou estudando. Amanhã tenho prova no
primeiro horário. Semana que vem seria perfeito ;)
Foi a resposta que me enviou quando eu a convidei para me encontrar
no Bacanal. Apesar da minha mensagem parecer um convite, era uma ordem.
Afinal, ela queria entender o meu mundo e no meu mundo quem ditava as
ordens era eu. Além do mais, ela gostou do clube e pareceu muito satisfeita
quando esteve ali. O agravante era ela se achar no direito de sugerir uma nova
data. Liz realmente não entendia como a coisa deveria funcionar.
Precisava de uma bebida para relaxar, por isso acenei para o garçom.
Faço sinal para que Silvio se aproxime. Ele sorriu e logo abocanhou o
seio direito, deixando que sua mão dê atenção ao seio ao lado. Vivian gemeu
escandalosamente com o toque. Na posição de voyeur, assisti os dois se
entrelaçarem, as mãos dele afastaram a calcinha fio dental, penetrando-a com
dois dedos. Vivian dançou na mão do Silvio e, por isso, ele enfiou mais dois,
fodendo sua boceta com quatro dedos que entravam e saiam rapidamente.
Silvio se afastou, um tempo depois, para abrir a calça apenas o suficiente para
liberar o seu membro ereto e vestir a camisinha. Ele ordenou que ela tocasse
o chão, se empinando inteira e a penetrou por trás em estocadas ritmadas. A
cena se prolongou por mais um tempo até que os dois ficaram satisfeitos.
— Itabaiana.
A ideia de Celine dirigindo durante a noite não me agradava, ainda
mais quando o destino era uma festa. Sempre instruí minha filha a não
combinar bebida e direção, os índices estatísticos estão para quem quiser ver,
mas os jovens, em especial, tendem a ignorar os conselhos dos pais. E, por
mais que Celine não seja imprudente, não era o suficiente para estar a salvo, a
direção não dependia só dela. Por isso, assumi a postura de pai chato e
superprotetor.
— Vou avisar a Liz que vou atrasar um pouco mais, então — ela sai
do quarto enquanto envia uma mensagem para a amiga.
— Tem certeza que não quer ficar? — Celine perguntou, assim que
parei o carro próximo a uma das entradas do local. No trajeto até Itabaiana,
ela não parou de falar animada sobre a festa. Estava acompanhando em
tempo real pelo stories da Liz e, a julgar pela fala desconexa e as risadas
altas, estava bêbada e aquilo me incomodava mais do que eu gostaria.
— Você está bem? — Joguei uma nota de cem reais sobre a mesa e
saí em disparada em direção ao carro.
— Eu... A Liz... — a garota parecia incapaz de produzir uma frase,
fazendo com que eu soubesse que algo grave havia acontecido.
O medo que eu sentia foi substituído por uma fúria crescente. Que
tipo de homem fazia aquele tipo de merda? Não quero nem imaginar como
Liz estaria se Celine não tivesse chegado a tempo.
O trajeto que Liz havia informado era curto, mas parecia longo, pois
foi preenchido por seus soluços. Assim que parei o carro em frente ao
endereço informado, senti o peso do mundo sobre minhas costas. As duas
mulheres no banco de trás do carro estavam assustadas e a sensação de
impotência me atingiu em cheio. Não havia nada que eu pudesse dizer para
confortá-las. Não existiam expressões ou frases feitas que se aplicassem a
situação.
Liz foi vítima de tentativa de estupro!
Senão fosse a Celine, ela faria parte da estatística de mulheres que são
violentadas a cada minuto no Brasil. A não concretização do delito não
tornava as coisas mais fáceis. A vontade de Liz havia sido ignorada por um
maldito homem que usou da sua força física para tentar alcançar seu objetivo.
Ela não deveria passar por isso. Nenhuma mulher deveria passar por
isso. Poderia ter sido a minha filha, a sua sobrinha, a filha do nosso melhor
amigo. Talvez nenhuma delas tivesse alguém por perto para impedir que o
crime acontecesse e tudo isso aumentava ainda mais a minha angústia.
O ar pareceu sumir dos meus pulmões e respirei fundo para
normalizar a respiração. Olhei pelo retrovisor e senti meu coração se apertar
com a Liz desamparada no banco de trás e a minha filha tentando consolá-la.
— O meu pai tem razão, você não deve se sentir culpada. Os culpados
são esses machos escrotos que acham que podem fazer o que quiser.
Senti meus olhos arderem e o princípio de emoção buscando a sua
liberação. Não teria problemas em demonstrar as minhas emoções, mas
aquele não era o momento ideal. Alguém precisava manter o controle.
— A gente veio dar uma carona a Liz — minha filha completou antes
que eu revelasse o real motivo da visita inesperada — sou a Celine e esse é o
meu pai, César.
— Ouvimos falar muito bem de você, Celine — a mulher sorri — eu
sou Elizabete, mas todo mundo me chama de Bete e esse é o meu esposo
Jorge.
— Sou eu, o David! — Ele sorriu abertamente. Ele não tem mais
espinhas, constatei. Assim como não era mais o garoto magricelo, sua camisa
justa revelava músculos evidentes.
— Oi — Sorrio de volta. Meu braço foi solto imediatamente após
receber a minha atenção.
— Por que deixar para depois quando estamos aqui? Vamos nos
divertir como nos velhos tempos — a frase foi recheada de segundas
intenções, os olhos dele me encaravam como se eu fosse uma presa e uma
sensação ruim se apoderou do meu corpo.
— David, para! — Empurrei seu pesado corpo, mas ele não moveu
um único músculo, continuou pressionando o seu corpo contra o meu. —
Não! — Disse o mais forte que consegui, mas estava sendo tomada pelo
pânico.
— Eu sei que você gosta disso... Eu lembro... — a mão dele adentrou
o meu vestido e subiu pela minha coxa, se aproximando da calcinha.
— Para de fazer cu doce, Liz! Você acha que não chegou até o meu
ouvido que deu para a metade da cidade depois que a gente terminou? É a
minha vez de usufruir do seu corpo.
Paralisei diante da frase e, por causa disso, as minhas reações foram
lentas. Movi a cabeça para fugir do seu beijo, mas ele segurou meu queixo
com força, os dedos cravados na minha pele até que seus lábios tocaram os
meus, que mantive firmemente comprimidos. O meu corpo estava trêmulo de
pânico e as lágrimas começaram a escapar sem que eu tivesse controle.
David desistiu da minha boca e seguiu com a sua até o meu colo.
— Não! — Implorei entre lágrimas — por favor...
Tentei impedir que ele me tocasse, mas o esforço foi inútil. David
fechou sua boca sobre o seio esquerdo e o toque faz o meu estômago se
revirar. Eu me debati e o empurrei, sem sucesso.
— Larga ela! — Ouvi uma voz feminina que fez com que David se
assustasse. Senti seu pau se afastar sem me invadir e me afastei do seu toque
ríspido.
— Liz, você está bem? — Minha salvadora era a Celine, mas não
conseguia formular uma simples frase em resposta.
— Trouxe uma amiguinha para se juntar a nós, Liz? — David
indagou após fitar Celine longamente.
Não sei como consegui dar o primeiro passo, mas com o auxílio de
Celine fui guiada para longe do banheiro, meu corpo ainda estava trêmulo e
tudo que eu conseguia fazer era chorar descontroladamente.
Quando retornei para o meu quarto naquela noite nada fazia sentindo.
O ambiente acolhedor não foi o suficiente para me acalmar. Era como se eu
tivesse saído do meu corpo e vagasse por aí sem direção, deixando uma
carcaça perplexa no lugar. Celine permaneceu ao meu lado e me ajudou a
livrar dos sapatos. Ela me explicou que a minha mensagem chegou minutos
depois e que enquanto tentava me responder, saiu a minha procura, foi
quando deparou com a situação. Se ela não tivesse ido ao meu encontro eu
não consigo nem verbalizar o que teria acontecido sem que um soluço
escapasse da minha garganta.
Paralisei com a cena que vi: César sentado à mesa de jantar da casa
dos meus pais. Jamais passou pela minha cabeça que isso um dia pudesse
acontecer, meus pais, César e eu na mesma sentença. Era estranho. Mas tudo
estava estranho naquelas últimas horas.
— Liz, é verdade o que aconteceu? — Meu pai perguntou assim que
notou minha presença. Demorei alguns segundos até processar sua pergunta,
mas assim que os olhos do César encontraram os meus, soube muito bem do
que se tratava.
— Meu pai não contou nada, Liz — Celine afirmou — chegou até o
ouvido dos seus pais que o seu ex-namorado havia tentado agarrar você na
festa, após você negar uma dança.
O filho da puta não tentou roubar só um beijo, ele ia me estuprar!
— Mas ensinaria uma lição a ele! — O tom do César foi frio e tive
medo do que vi nos seus olhos. Ele devia me odiar por envolver a filha nessa
situação.
— Mainha tem razão, eu estou bem! — disse com uma falsa calma. O
olhar de César recaiu sobre mim e fitei o chão para prosseguir: — Pai,
promete que o senhor não vai procurá-lo.
— A gente não pode deixar que ele saia impune, filha. A gente pode
pagar o melhor advogado.
— Pai, apenas prometa — supliquei — não é o senhor que vive
repetindo sobre a justiça divina? Deixe que ela se encarregue disso.
— Fica para a próxima — a frase era apenas uma resposta gentil, era
óbvio que ele não pretendia retornar.
— Achei que você iria apenas amanhã, filha — Minha mãe disse em
tom choroso.
— A justiça divina não falha! — Meu pai vibrou e olhei para Celine
sem entender.
Era a quinta vez que César me ligava naquela manhã. Não atendi
nenhuma das chamadas e ignorei as mensagens curtas que pediam para
retornar as suas ligações. Eu não sabia o que ele queria comigo, mas
imaginava que fosse me passar uma lição de moral sobre os perigos da rua e
me advertir sobre como a minha amizade colocou a sua filha em risco. Eu
mesma já estava me culpabilizando e não precisa de mais ninguém para
cumprir essa tarefa.
Cerca de meia hora depois o interfone tocou. Eu ainda estava deitada
sobre as roupas e decidi ignorá-lo, uma vez que não estava esperando visitas.
Seja lá quem fosse, insistiu alguns segundos depois de silenciado. Andei até a
cozinha para conferi quem era, talvez as meninas estivessem esperando
alguma encomenda.
Era como se César acarinhasse a minha alma. Ele não impôs o ritmo,
apenas deixou que nossas bocas se conhecessem lentamente. Quando sua
língua tocou a minha, senti um aperto no peito, como se aquele fosse o
primeiro beijo que eu dava na vida.
— Para que? O que você vai fazer? Vai na casa dele, arrastá-lo até a
delegacia ou o agredirá como o meu pai sugeriu?
— Por quê? Sou só uma criança mimada que faz o que quer.
— Às vezes, são as crianças mimadas que mais precisam de atenção.
— Eu não...
— Eu sei, eu sei... Sinto muito por ter dado a entender que tinha. Só
não quero que fique tão vulnerável.
— Eu não estava tão bêbada, só que ele era mais forte do que eu,
entende? Não sei como a Celine conseguiu... — disse antes que as lágrimas
irrompessem trazendo todos os momentos terríveis de volta.
— César... Só me abrace.
Ele me colocou em seu colo e eu me aconcheguei contra o seu corpo.
Suas mãos acariciaram meus braços e costas, fazendo com que eu fechasse os
olhos e relaxasse. Inacreditavelmente, adormeci ali por algum tempo.
O que me faz acordar é a voz da Malu, alta e alegre, como se quisesse
anunciar para o mundo todas as boas-novas possíveis.
Há pessoas que acham que é uma linha tênue, mas nós sabemos que
não. Não dava para comparar as vezes em que amarrei e bati na Liz com o
que aconteceu no sábado a noite. E a prova disso era que em nenhuma das
vezes em que esteve comigo, ela saiu despedaçada como no encontro com o
filho da puta que queria matar.
Eu quis abraçá-la, dar-lhe um banho quente e colocá-la para dormir
no calor dos meus braços. Quis apertá-la contra mim para garantir que estava
segura. Quis sussurrar que tudo ficaria bem enquanto ouvia sua respiração se
acalmar. Mas não pude. Tive que me contentar em estar na mesma casa e
saber que alguém de confiança, minha filha, estava fazendo tudo isso por
mim.
Se eu achava que a noite em que ela me ligou bêbada tinha sido ruim,
não sabia de nada. Esta tinha sido quarenta vezes pior. Sequer fechei os olhos
na minha casa, mesmo sabendo que ela estava segura em um apartamento
rodeada de amigas.
Foi a minha vez de saltar sem pensar para chegar o mais rápido
possível, não senti se meus músculos corresponderam ou não ao meu esforço
exacerbado, o mais importante era que eu havia conseguido me aproximar.
— Merda! — Xingou tocando no tornozelo.
— Filha, eu...
— Pai, eu não quero ouvir. Não quero saber como essa coisa
começou. Você tem noção do quanto isso é bizarro?
Silenciei e a carreguei no colo até a portaria do prédio. O porteiro nos
permitiu passar e eu dei mais alguns passos até o estacionamento externo,
onde meu carro estava.
— Não, não é — gritou — meu pai nunca estaria transando com uma
amiga minha!
— Celine...
— Ela tem idade para ser minha irmã — grita novamente, me
encarando com lágrimas nos olhos.
— Eu sei.
— Eu...
Não dava para fazer nada agora, por isso respirei fundo e dirigi para
casa.
Minha filha não dormiu em casa. Nem me avisou onde estaria, o que
me irritou profundamente, além de me deixar preocupado na mesma medida.
Não conseguia mensurar como Celine estava se sentindo, mas a dor e a
revolta em sua voz eram visíveis e eu me sentia péssimo por isso.
— Alô?
— Oi, César, você não me ligou e eu não consegui falar com a Celine.
Tá tudo bem?
— Não está. Ela não reagiu bem ontem e sumiu, não tenho nenhuma
notícia dela até então...
— Sei...
— Olha Liz, preciso desligar.
— Você vai passar aqui hoje?
— Não.
— Eu nunca levei a sério porque era assim que as coisas eram. Nós
transávamos e seguíamos as nossas vidas.
— Eu sei que você está me odiando, mas vamos sair desse carro e
conversar. Quando estiver mais calma você dirige.
— Está preocupada comigo? — assenti — pena que não teve esse tipo
de cuidado antes de trepar com meu pai!
— Eu não sabia que ele era seu pai quando nos envolvemos... —
Confessei.
— Mas me conta, ele estava bancando você? Quanto? Mil, dois mil,
três? Ou o suficiente para você trocar de bolsa? — Apontou para a bolsa no
meu colo.
— Você está me ofendendo.
— Estou?
— Você está começando a perder a razão... Não vou ficar aqui sendo
insultada por você — abri a porta do carro.
— Finalmente!
— Sim, nós sabíamos que você estava louca para adiantar o presente e
pensando em um agrado depois do susto daquele dia, decidimos que não
tinha motivos para adiar — meu pai justificou.
Eu me joguei nos braços dele e minha mãe nos envolveu no seu
próprio abraço.
— Agora você vai poder ir mais vezes nos visitar — dona Elizabete
fez questão de enfatizar.
— Vou ganhar bolsa gasolina? — perturbei.
— Claro que sim, até que possa se manter estaremos te dando todo
apoio — ela respondeu.
— Mas não gaste um tanque por dia, não há pai que consiga sustentar
uma filha que corre na fórmula 1.
— Vou pegar leve, pai! Agora vamos subir que vou preparar um
maravilhoso café da manhã para vocês dois.
— Quer dizer que tem biscoito cream cracker e café? — meu pai
perguntou desconfiado.
— Exatamente!
Aquele foi um dia refrescante que indicava que nada que era ruim
durava para sempre.
Ninguém poderia me acusar de ser atrasada hoje. Havia marcado de
encontrar Jaci para a sessão das 14h e cheguei ao shopping antes das doze,
uma vez que o professor não havia dado a última aula. Preferi ir mais cedo
para não perder a coragem ao chegar em casa, aproveitei para almoçar uma
refeição decente. Por decente leia-se um Mc Lanche Feliz, mas tudo que não
seja preparado por mim pode ser considerado decente.
Com o lanche em mãos procurei uma mesa que ficasse a vista da Jaci
para que ela me achasse com facilidade caso meu celular descarregasse, já
que eu havia esquecido o carregador em casa. Já havia abocanhado o pequeno
sanduíche e comido toda a batata frita quando eu senti alguém se aproximar
da mesa. Levantei o olhar imaginando que fosse dar de cara com minha
amiga, mas me deparei com um intenso par de olhos azuis.
Encarei a mão que ele me estendeu antes de observar seu blazer azul
marinho sobre a camisa branca de botões.
— Bem, com certeza não sou dona de um hotel chique — ele ri alto
— sou uma simples estudante universitária, senhor.
Depois desses dias afastada do César achei que tivesse que me render
apenas ao prazer que eu mesma pudesse me dar, para não me decepcionar e
me frustrar com os coelhos da vida.
Mas parecia que o destino tinha outros planos para mim. Um plano de
olhos azuis e cabelos escuros.
— Não acredito!
— Mas ainda falta meia hora para nos encontrarmos, não saia de
casa...
— Acho que a minha sorte está dando sinais — ele disse, levantando
uma sobrancelha.
Estava tão distraída no clima do flerte que não notei quando ele se
aproximou.
— Silvio? — a voz grave me fez olhar para o lado — estive no hotel a
sua procura e me informaram que havia saído.
Parecia que eu era invisível, uma vez que nenhum dos dois me dirigia
a palavra ou sequer o olhar, se encarando e conversando como se estivessem
a sós.
— Boa tarde para você também, doutor César — disse fuzilando o
homem de terno preto.
Engoli em seco.
— Pode ficar aqui o tempo que precisar — ele disse dando um beijo
no meu pescoço — descanse, tome um banho... Se quiser jantar é só me
avisar. Vou precisar resolver umas coisas, se eu pudesse ficaria com você até
amanhecer — mordeu no mesmo lugar. — Me passe seu número, Liz —
pediu e eu ditei os números enquanto ele discava. Meu celular chamou
quando ele deu um toque — pronto, fique à vontade, gostosa!
Eu o ouvi dizer aquilo tudo, mas estava quase pegando no sono. Faria
o que ele disse: descansar, banho, jantar.
Era um bom plano.
Aracaju era uma cidade quente. Seu céu, geralmente azul e quase sem
nuvens, sustentava um belo sol com frequência. Mas não era assim que
estava o clima dos últimos dias. Já havia chovido, nos últimos quatro dias, o
dobro do que se esperava para todo o mês de julho. Por isso, a cidade estava
um caos com ruas alagadas, prédios interditados, moradores tendo que deixar
suas casas entre outros transtornos que eram noticiados nos telejornais
ultimamente.
Mas não havia como lutar contra a força da natureza, assim como não
era possível resolver o problema do teto em tempo hábil, por isso o mais
lógico era buscar as soluções, uma vez que a formatura da turma de vigilantes
aconteceria em algumas horas.
— Já iniciou a busca por um novo lugar? — Perguntei o óbvio.
Respirei fundo e segui para solucionar pelo menos uma das partes do
meu problema.
— Do seu auditório.
— Mas isso você poderia ter visto com o gerente...
— Disponha.
A postura de Liz não estava tensa, assim que ela entrou no espaço se
recostou na parede espelhada do fundo. Silvio, entrou em seguida, sorrindo
antes de se aproximar dela. Ele cochichou algo em seu ouvido e levou sua
mão direita para a cintura dela. Fixei meu olhar na tela querendo estourar o
aparelho com meu olhar. O elevador parou e os dois saíram bem próximos.
— Me mostre a câmera desse corredor — apontei para a tela — a
partir desse horário — ditei o horário que a tela mostrava.
Levantei o olhar para encará-la. Liz estava ao meu lado com aquele ar
petulante de quem sabia exatamente o efeito que causava no mundo e pouco
se importava com as consequências dele.
— Boa noite, César — ela colocou uma nota sobre o balcão, ao lado
do copo intocado e se afastou.
Juro que toda vez que entro no meu carro tenho vontade de beijar o
volante de felicidade. Só por poder acordar um pouquinho mais tarde já que
descontava o tempo da condução, eu me sentia outra pessoa. Além disso, nos
dias em que o céu em Aracaju desabou eu ficaria ferrada e molhada se tivesse
de ônibus. Mas é melhor esquecer essa chuva, ou lembrarei do meu desespero
quando achei que meu geminha não fosse sobreviver aos alagamentos e fosse
parar no meio da Avenida que mais parecia um rio.
— Liz.
Uma só palavra. Meu nome. Tão simples e que ouço todo o tempo.
Na boca dele parecia um palavrão, como aqueles que a gente podia gemer no
ouvido de alguém.
— César — tentei imitar, mas duvido que tenha ficado tão bom.
— Talvez tenha sido algum dos anões que enviou por engano... — ele
riu.
— Você disse que faria as aulas, eu deixei claro que isso me deixaria
mais tranquilo. Então, é pelo bem da minha tranquilidade.
— Liz...
Descobri que o Krav Maga não era considerado uma arte marcial,
muito menos um esporte, já que não possui quaisquer regras. Todos os golpes
são treinados com o objetivo de ultrapassar todo e qualquer tipo de situação
de violência, do modo mais rápido e eficaz, sendo por vezes necessários
golpes letais. E o melhor de tudo: um bom professor de Krav Maga pode
ensinar tudo que sabe a qualquer um, independente da forma física, em um
período curto, de 3 a 6 meses.
Foi assim que optei por ele e depois da primeira aula soube que tinha
acertado em cheio na escolha.
— Nossa Liz, seu ânimo é contagiante! — Érica perturbou e jogou
água para cima atingindo o meu rosto.
— Claro, até porque o Uber até aqui seria o preço de uma coxinha na
faculdade, né?
— Eita! — Respondi.
— Minha vida é eita atrás de eita! Então terei que sobreviver à base
de fotossíntese, a água e a luz solar serão os meus únicos alimentos.
— O lado bom de ser uma plantinha é que você poderá ser regada por
um regador de bico avantajado e robusto — insinuei sorrindo e discretamente
apontei para o lado. — Não olhem agora suas vacas!
Mas era inevitável. Quando alguém dizia “não olhe agora” parecia
que uma força sobrenatural girava a sua cabeça sem que você tivesse
controle. Elas viraram imediatamente em busca do alvo e encontraram o
dono do regador: uma figura alta e musculosa com um grande volume no
meio das suas pernas.
Apesar de não saber o seu nome, o reconheci da faculdade, cursava
Medicina. Entretanto, ele jamais chamou a minha atenção, pois sempre estava
de jaleco e cara de nerd, mas agora com sunga branca... Meu amor, é
impossível não pensar no seu regador em ação.
— Vai logo vadia, antes que outra decida roubar o seu regador.
Sorri de volta, feliz por ter alguém para conversar. Assim que a
Alexia foi testar o regador, a Érica havia engatado em uma conversa com um
boy gatinho e eu torcia para que ela se deixasse levar pelo menos dessa vez.
Então, fiquei na piscina até que Celine e o seu grupo chegou e fez questão de
monopolizar a área brincando de vôlei aquático. Assim, eu me sentei em uma
cadeira de sol.
— Feliz aniversário, amor! — Abracei meu amigo com força — você
está mais disputado que o glitter na final de RuPaul's Drag Race — fiz
menção ao concurso de Drag Queen superstar.
— Espero que tenha destilado aí dentro ou eu vou ligar pro SAMU vir
te buscar e internar você, bicha! — Não contive a gargalhada. — O que
aconteceu entre vocês? — Ele indicou a Celine com a cabeça.
— Ela soube sobre o pai dela e eu... Deixa para lá. Não vale a pena
estragar o clima com essa história. Mas me conte as novidades. Diga que
contratou um gogo boy para sair do bolo na hora dos parabéns!
— Não fui tão longe assim — sorriu — mas tenho amigos gatos
dispostos a fazer um strip-tease.
— Gosto disso!
— E eu não sei, vadia! — Ele me puxou pela mão e segui seus passos
para ser apresentada aos amigos gostosões.
Os caras eram realmente gatos, seguindo o combo: sarado, gostoso,
barbado. Mas eram todos gays. Divertidíssimos, me fizeram rir por horas,
além de dançarem como ninguém.
Foi então que eu vi o Natan sair da casa e vir para a praia e tentei me
lembrar se Celine e a irmã dele já haviam voltado... Mas ainda estavam lá.
Sem pensar, levantei rapidamente e abordei o homem que passava em minha
frente indo em direção onde as duas que poderiam estar se matando ou se
amando, eu preferia não arriscar o flagrante.
— Oi! — dei uma corridinha até o homem que estava usando sunga
preta, ele parou.
— Ah, oi. Você é a Liz, certo?
— Não precisa bancar a boa amiga, não pedi para fazer nada por mim
— acusou.
— Aposto que você desejava que alguém fizesse o mesmo por você,
não é? Sei lá, que a Malu aquele dia evitasse que eu flagrasse você e o meu
pai, assim os dois ainda estariam me fazendo de trouxa.
— E eu sinto muito por não ter te contado, mas não posso mudar isso.
Agora eu tenho que ir, se cuida — me afastei deixando-a no escuro da noite.
Estava me sentindo quase como uma freira esses últimos dias. Além
de salvar a pele de uma pessoa que queria que eu me fodesse (no sentido ruim
da palavra), deixar um belo regador para a flor da minha amiga (segundo ela,
ficou bem molhada) não estava perseguindo nenhum dominador, nem sendo
atacada em festas, tampouco transando com donos de hotéis.
— Achei que fosse gostar do meu atual GPS já que ele me trouxe até
aqui...
— Eu disse que senti a sua falta, Liz — César tentou ser didático.
— Me diga que você quer esse beijo tanto quanto eu — pedi com
suavidade — me diga que está sendo verdadeiro, César.
— Tanto lugar para você ir, tinha que ser logo aqui? Tanta mulher no
mundo, tinha que ser ela?
— Vamos saciá-la.
— Eu mesma.
— Enviamos por e-mail tudo que você precisa. Até mais, Liz.
Puta que pariu! Quase tirei a roupa ali mesmo para que ele me
batesse. Mas não o fiz, depois do beijo de parabéns nos despedimos e eu
segui para providenciar tudo para a vaga de estágio.
Ah, Liz, as coisas estão começando a melhorar, hein?
Ser racional não significa não sentir. Por vezes, o ser racional era
visto como aquele que colocava o cérebro acima do coração em todos os
aspectos da vida. No trabalho era fundamental que fosse assim,
principalmente quando se trabalha formando pessoas que necessitam do
pensamento lógico para defender patrimônios e outras pessoas. Uma decisão
racional era aquela que, além de fundamentada, era a ideal para alcançar um
objetivo ou resolver um problema.
Nenhuma das mulheres com quem joguei, ao longo dos anos, fez com
que eu me sentisse propenso a mudar as regras. Acontece que Liz nunca
jogou conforme as normas. Ela entrou na minha vida feito um assalto a
banco: de uma vez só, usando munição pesada e estourando as portas de
vidro que serviam de segurança. Isso era o suficiente para que qualquer
gerente reforçasse a segurança, acontece que não adiantava fechar a porta
depois que o ladrão já estava dentro.
Liz havia se instaurado em mim sem que eu percebesse e enquanto eu
achava que tinha o controle da situação, estava apenas reagindo aos
comandos que ela enviava. Perceber isso não foi divertido, mas não havia o
que fazer a não ser lidar com isso. Desde a confusão com a Celine havíamos
nos afastado, mas isso não serviu para erradicá-la.
Passei a manhã na empresa, mas pouco antes das doze decidi que iria
almoçar em casa. Não tinha cozinhado desde o estrogonofe que havia feito
para Liz, talvez ir para o fogão clareasse os passos que eu deveria dar dali em
diante, assim entrei no carro com esse pensamento.
— Alô.
— Hum, não sei bem como funciona, não chegamos nessa parte no
meu curso BDSM...
— Comece respondendo a minha pergunta.
— Você acha que o meu dono ia gostar de saber que você está
interessado nessa resposta? — ela desafivelou o seu cinto.
Eu a segui.
— Realmente acho que uma coleira vai cair muito bem em você... —
insinuei quando entramos na casa.
— Ah, César. Você sabe que eu quero. Não há nada que me deixe
mais louca do que os seus joguinhos.
Ela obedeceu de imediato, meu pau respondeu tão rápido quanto ela
se prostrou ajoelhada.
Nós tínhamos conversado bem pouco durante o almoço. Estávamos
na casa de praia para a qual ele havia me levado naquele fim de semana.
Ainda não sabia o que tinha no envelope, mas pela reação dele à proposta do
Silvio duvido que seja um contrato. César era um homem intenso, mas eu
sabia bem pouco sobre ele. Não conhecia os seus gostos, por isso decidi
puxar conversa.
— Uma cor?
— Manga.
— Você não viveu nada, Liz. Sua vida está apenas começando.
— Você fala como se fosse um velho caquético com seis meses de
vida — rebati.
— Deve ser por isso que não conseguiu se livrar de mim ainda. Gosta
de ser irritado...
— Já acabou seu jogo? — dei de ombros — então vamos começar o
meu.
A fruta foi colocada sobre o meu umbigo e, por estar gelada, enviou
uma mensagem direta para a minha boceta. Eu a contraí.
— Pratos não se movem, Liz — lembrou — cumpra a sua função ou
será penalizada. Lembre-se: sem falar, sem se mover.
Mantive-me firme até que toda a casca estava sobre mim. Ainda
enquanto ele descascava, alguns pingos caíram sobre a minha pele. O cheiro
de manga era delicioso e eu quase gostaria de ser César e não o prato, para
chupar aquela gostosura. Eu me referia a manga, eu acho.
Quando ele levou a fruta, com as duas mãos, até a boca eu não desejei
mais ser o César, mas a própria manga suculenta. Eu queria que a boca dele
estivesse sobre mim, me abrindo, sugando e lambendo tal qual ele estava
fazendo agora com aquela porcaria amarela.
— Hum, está bem doce... Mas acho que pode ficar melhor — com
esse anúncio, ele se moveu até eu não poder vê-lo completamente, mas estava
perto dos meus pés.
Ele virou meu corpo, fazendo com que minha barriga ficasse no chão.
Ouvi o farfalhar das suas roupas sendo tiradas e por fim, minhas pernas
foram afastadas.
— Você não está tão molhada quanto gostaria — ele atesta, passando
os dedos pela minha boceta — mas é bom que doa um pouco, que seja bruto,
quem sabe assim você aprende a obedecer a porra da ordem de não se mexer?
— Isso, grita mais — ele puxou meu cabelo, fazendo com que eu
levantasse um pouco a cabeça — e não esqueça que aqui eu mando e você
obedece.
Até parece que é assim tão simples, ele ordena e meu corpo obedece.
Não é, querido, continue me fodendo assim e já era...
— Vire!
Obedeci, colocando as costas no chão e deixando a minha barriga,
marcada pelas cascas da manga que estavam embaixo de mim, para cima.
— Levante os quadris — firmei os pés no chão e ergui os quadris,
meus braços ajudando bem pouco a me manter estável naquela posição.
Eu tinha ouvido bem? Ele tinha dito que me amava? A gente não
tinha dito isso ainda. Tá, talvez eu tenha dito que o amava, após ele me levar
até um orgasmo arrebatador, mas nem um “eu também” foi dito por ele, em
resposta.
— É tipo quando você tem a sua suíte invadida por uma novinha e seu
primeiro pensamento é expulsá-la, mas logo imagina qual seria o gosto que
ela tem?
— Seu tio acabou de ligar informando que chegou, vamos — ele disse
encarando a filha.
Celine pegou as duas malas menores e se afastou. César aproveitou o
momento para me dizer que seu irmão mais velho, João Antônio, insistiu em
pegá-lo no aeroporto mesmo sob seus protestos de que não precisava.
— A gente nunca sabe o que vai precisar, então melhor jogar tudo na
mala, certo? — Ela sorriu para a tia.
— Vamos ter que dar duas viagens para levar toda a bagagem para
dentro — João disse irritado.
— Não tem como não gostar de você, Liz — disse com naturalidade.
— Não foi o que me disse depois do nosso primeiro encontro... —
lembrei.
— Era uma estranha invadindo meu quarto — justificou.
— Não importa o que aconteça, Liz, você já faz parte de mim e nada é
capaz de mudar isso. Eu tentei.
— Vamos ver o que acontece se, por acaso, eu acabar colocando fogo
nessa casa linda.
— Não mate ninguém que eu compro uma casa nova — ele rebateu
sorrindo e eu gargalhei.
— Claro que ela não sabe — a nora de Tereza, que não decorei o
nome, falou sorrindo — esse não é o assunto preferido dos homens e duvido
que César tenha compartilhado com ela essa informação.
— Mas e aí como vocês se conheceram? — Clara insistiu.
— Não é nada estranho. Acredito que o amor não tem credo, idade ou
cor.
— Obrigada.
— Sabia que deveria ter colocado uma coleira nesse pescoço com o
meu nome — perturbou — mas uma placa informando que você é minha vai
ter que servir.
— Está com ciúmes de um adolescente? — Arquei a sobrancelha —
Você esqueceu que eu prefiro a ala da terceira idade?
Ela riu.
— O que posso fazer para ajudar você a relaxar? — passei a mão por
sua cintura.
— Não, Liz. Quando eu disse que você estava no controle era verdade
— fiz com que ela me encarasse — você manda, eu obedeço.
— Você precisa saber que vou obedecer às suas ordens, mas que
quando eu retomar o controle posso castigá-la.
— Hei, isso é chantagem! E vai acabar influenciando no meu controle
— reclamou antes de se sentar na cama.
— Tem que aprender a lidar com as variáveis, criança — instiguei
para irritá-la.
Era óbvio que eu não tinha o mesmo corpo jovem, sarado e super
definido, tal qual os caras com que Liz se já deve ter se envolvido. A
aparência de um homem passa por modificações com o tempo e, mesmo que
os julgamentos não sejam tão severos quanto era com as mulheres, todos
observavam quando seu cabelo passava a ficar grisalho, as marcas de
expressão se acentuavam e a pele perdia um pouco da sua elasticidade.
— Eu quis dizer exatamente o que disse — ela se aproximou e passou
a mão pelo meu peito — você fica uma delícia de cueca — a frase foi
encerrada quando ela alcançou meu pau — eu adoraria te mostrar o quanto
adoro quando você fica sem ela agora mesmo, me ajoelhando aqui, mas não
vou deixar passar a oportunidade que me deu. Trouxe gravatas?
— Deite-se na cama.
Liz deu uma voltinha para que eu visse que o fio se enfiava em sua
bunda desavergonhadamente, da mesma maneira que eu gostaria de fazer.
— Se?
— Quando — ela riu e desceu correndo da cama em busca do celular.
Não conhecia a música que começou a soar quando ela repousou o
aparelho bem próximo a cama.
Já é meia-noite
O lado esquerdo da minha cama só remete a nós dois
Hábitat natural da perdição
Daquele lado não cabia restrição, baby, ei
Eu fiquei na vontade, vem e fica até mais tarde
Eu 'to cheia de maldade agora, ahn, ahn, ahn
Vem chegando por cima, corpo a corpo,
Adrenalina, ahn, ahn, vai até de manhã
Ela andou sobre a cama até chegar à altura do meu peitoral, colocando
uma perna em cada lado do meu corpo. Ainda se movimentando, Liz foi se
abaixando lentamente, até quase se sentar sobre mim.
— Quero que me sirva com a boca — o tom que usou foi um misto de
ordem e sussurro. Não passou despercebido que ela escolheu uma das frases
que usei para ordená-la.
— Liz...
— Hum? Não está gostoso assim?
Ela se esfregou desde a base até a ponta. Eu podia sentir sua pele
quente e escorregadia molhando o tecido e isso me deixava com mais
vontade ainda de rasgar aquela porcaria.
— Garanto que é muito mais gostoso com ele dentro de você — gemi
— anda, Liz.
— Dá para sentir como estou quente? Caralho, César estou
pingando...
— Grrrrr.
— Porra, Liz!
— Diz...
— Safada!
— Ahhh — gritei.
Ela rebolou, de costas para mim, jogando os cabelos para trás. Puxei
os braços para sentir os meus pulsos serem apertados pela gravata e me
distrair da sensação que já se acumulava nas minhas bolas. Porra, ela estava
deliciosa rebolando no meu pau, mas ainda não estava na hora de gozar.
Fomos acomodados na suíte e quando saí dela, segui pelo corredor até
a escada que continha os degraus em granito e corrimão em aço inox. A cada
passo que eu dava o burburinho de conversas aumentava.
— Posso imaginar...
— Você tem filhos? — Ela acariciou a barriga avantajada.
— Não.
— Então você não sabe de nada! — ela sorriu alto — você não sabe
quanto carregar um bebê dentro de você é exaustivo, tá vendo essa minha
respiração ofegante? — assenti — é ocasionada porque andei da garagem até
a sala. Eu costumava praticar tênis... — a mulher falava rápido e o sotaque
gaúcho tornava o monólogo difícil de acompanhar. — Tchê, desculpa a
minha falta de noção. Eu sou a Tici, esposa do Cláudio — se apresentou e
tentei organizar rapidamente a árvore genealógica do César, mas demorei
para estabelecer as ligações. — Você é nova na família, né? — Ela sorriu e
sorri de volta — Cláudio é filho da Clara e do Cleomar.
— Claro, conheci eles ontem, junto com o Mário. Eu sou Liz.
— Bom dia!
— Amor, eu duvido tu adivinhar quem é essa guria? — Ela indagou
animada para o marido. Ele me estudou por alguns segundos.
— Ela tem idade para ser filha dele! — A frase vinda do quarto no
qual as mulheres estavam soou alta pelo corredor.
Segui sem rumo, rua após rua, pelo condomínio. Em algum momento
cheguei ao playground, que por sorte estava vazio. Abri a pequena porta de
madeira e adentrei no ambiente, passando pelos escorregadores, balanços,
gira-gira e gangorra. Avistei uma casa na árvore ao fundo e caminhei
lentamente até ela, quando me dei conta, estava subindo os degraus de
madeira que davam acesso ao lugar. Tal qual uma criança que vê nesses
ambientes um abrigo, achei um esconderijo dos adultos.
— Tem alguém aí? — Perguntei, mas não tive resposta a não ser um
choro baixinho.
O lugar não era dos menores, por isso fiquei de pé, dava para umas
quatro crianças brincarem de correr ali dentro. As janelas estavam fechadas,
por isso a luminosidade era baixa. Usei a lanterna do meu celular para
verificar os cantos, quando criança eu temia a escuridão e nada mudou pelo
visto. A luz forte iluminou o ambiente e, para a minha surpresa, não foi um
filhote encolhido que meus olhos avistaram, mas a Celine abraçada ao
próprio corpo. Ela parecia tão triste quanto um cachorro de rua abandonado
na chuva, todo o seu corpo tremia enquanto chorava.
— Desculpa aí, não sabia que você estava aqui — desviei a lanterna
da sua direção e me preparei para fazer o caminho de volta, mas a voz dela
me parou.
Repeti essa frase algumas vezes em minha mente como se ela fosse
mudar a história.
— Se a mamãe estivesse aqui talvez tudo fosse mais fácil. Ela sentaria
comigo e escutaria todos os meus medos e desejos sem julgamento, estou tão
confusa e metendo os pés pelas mãos...
— O seu pai te ama, Celine e tenho certeza que ele não julgará suas
escolhas.
— Duvido muito que isso aconteça, ele é louco por você. Te ama
mais do que tudo. Basta ver a forma que os olhos dele brilham quando fala de
você.
— Os olhos dele brilham ainda mais quando você está por perto e isso
só aumenta quando ele fala de você para os amigos e parentes, notei desde
que chegamos. A forma como ele tem se comportado transmite uma
felicidade genuína. O meu pai é um homem de poucas palavras, mas as suas
ações revelam muito e ter você aqui, no seio familiar, é muito importante
para ele.
— É o meu pai, ele deve estar preocupado porque não retornei as suas
mensagens — informou antes de atender — Oi, pai... A Liz?
Ela olhou para mim e a culpa me atingiu em cheio. Eu havia
desaparecido sem avisá-lo. Celine escutou atentamente o que o pai falou e
deixou escapar um palavrão ao final.
Uma parte minha ficou feliz em saber que ele se importava comigo ao
ponto de me defender, a outra preferia que ele não se indispusesse com a
família.
— Agora, me diz logo onde vocês estão, antes que eu faça um buraco
na sala de tanto andar de um lado para o outro — ordenou com aquele tom
bravo que me fazia tremer e esquentar ao mesmo tempo.
— Onde estamos é segredo — sorri para Celine — nos aguarde na
entrada, já estamos voltando. Beijo — encerrei a ligação antes que ele
pudesse se despedir.
— Onde você vai? — Liz indagou quando pousei a taca vazia com
força na mesa.
— Você vai descobrir — segui em direção ao centro onde meu irmão
estava e comecei a bater palmas fortes, ele me olhou sem entender nada,
afinal o discurso não tinha chegado ao fim.
— Estava falando com a sua mãe que já sabemos quem vai celebrar
a cerimônia no próximo ano — meu pai sorriu e me deu dois tapinhas nas
costas. Era a sua demonstração de afeto.
Meu pai fitou longamente a Liz que sorria enquanto conversava com a
Ticiane e eu esperei pela desaprovação quando abriu a boca, mas me
surpreendi com a sua pergunta:
Ele voltou a olhar para Liz que, naquele momento nos fitava. Meu pai
ergueu o copo de Whisky que trazia em mãos em um brinde, ela ergueu a
taça de espumante e sorriu abertamente.
Era a primeira vez eu dirigia pela BR e tanto César quanto meu pai
encheram os meus ouvidos sobre ir de ônibus, me dar carona e, por fim,
recomendações de como seguir. Senti um pequeno desespero apenas quando
um caminhão enorme me ultrapassou, fora isso, a viagem tinha sido
tranquila. Estacionei, viva e sem matar ninguém, em frente a casa dos meus
pais.
— Está quase fechando a loja para vir, quer comer alguma coisa?
— Agora não, vou esperar o jantar. Vou subir para deixar as coisas...
Precisa de mim?
— Agora não... Subo já para a gente conversar — assenti e segui
escada acima, sacando o celular para avisar ao meu namorado que havia
chegado.
Eu: Não derrubei nenhuma mureta, ok?
Já estou em casa.
— Sim e não matei ninguém. Acredita que minha mãe rezou o terço?
— bufei.
— Ainda na Safety.
— Esse meu namorado trabalha demais... — ele riu.
— Você nunca notou que seu contato no meu celular está salvo como
“leão”?
— Não mexo no seu celular. Por que leão?
— Enfim, não foi uma fantasia de leoa, mas vou anotar essa sugestão
para uma das nossas sessões e vou fazer questão de ser o leão no cio que fode
sem parar — determinou.
Quando viajei com César havia dito isso para ela e, desde então, não
tinha sentado para falar sobre o assunto. Até o momento. Ele e Celine viriam
para o almoço do dia seguinte, mas eu precisava conversar com ela antes.
— Vem sim e estou contando com a senhora para isso. Mãe, em uma
relação, o que é mais importante para a senhora?
— O amor. Quando é um namoro novo não dá para dizer que ama
assim, né? Mas os sentimentos, se aquilo que você sente é bom e o que a
outra pessoa sente te faz bem... — assenti sorrindo.
— Não estão pensando em se casar já, estão? Com tanto amor assim...
Cuidado, filha, você precisa se formar e...
— Não vamos nos casar agora, relaxe! Mas ele tem uma filha...
— O que mais você quer que eu diga? Fiquei surpresa, claro, mas
você me disse que o ama...
— Agora vou ter que contar para o seu pai e eu não sei bem se vai ser
sobre a beleza do seu namorado que ele vai querer falar comigo — ela riu
alto — falo com ele assim que chegar e no jantar nós três podemos conversar.
— Está perfeito!
O dia começou bem movimentado, com o entra e sai de minha mãe e
de algumas tias que a ajudariam a preparar a refeição. As horas passaram
voando e, quando dei por mim, minhas amigas da faculdade estavam
chegando junto com o Tedy. Logo depois, as lindas que moravam comigo
também chegaram, assim como algumas amigas da época da escola.
— Obrigada, você também está uma gata — disse ao notar seu short
preto de cintura alta que fazia conjunto com um uma tomara que caia curta da
mesma cor.
— Espero que goste — ela me entregou uma caixa de presente
colorida.
— Sei que vou amar — ela se afastou, fazendo menção de falar com
as meninas.
— Com você gritando tão alto? Além disso sua bunda estava quase
cantando também. Me diz: quem manda nessa raba?
— É maravilhosa!
— Sim.
— Nós nos conhecemos bem jovens, ela era daqui de Sergipe, mas os
pais foram morar lá no Rio Grande do Sul quando o pai dela foi transferido a
trabalho. Nós namoramos, nos separamos e depois de um tempo, mais
maduros, retomamos o namoro. Eu conheci o BDSM quando estava no
mestrado. Fui convidado para uma festa diferente e quando me vi no meio de
tudo aquilo fiquei louco para saber mais. Nós já tínhamos voltado a namorar,
estávamos caminhando para um noivado e então eu comentei com ela sobre a
festa. Inicialmente Luciana ficou surpresa por eu ter ido a um lugar tão
profano, mas a curiosidade falou mais alto e ela me pediu para procurar saber
quando haveria uma outra festa porque gostaria de ver com os próprios olhos.
— Continue...
— Minha namorada fez uma pesquisa profunda sobre o assunto e
quando fomos a festa, não ficou chocada. Ela se mostrou interessada em
muitos dos fetiches que estavam sendo expostos ali e eu também. Com o
tempo, nós iniciamos na prática e fomos testando tudo que dava vontade.
Conhecemos as liturgias, os rituais e fomos nos tornando íntimos do
universo.
— Nunca vou ser o que você precisa, César — lamentou com a voz
embargada — ela era a sua submissa perfeita.
— Eu não estava procurando por ninguém para substituí-la, Liz.
Luciana foi minha esposa, minha escrava e a mãe da minha filha. Mas o ciclo
dela na terra se encerrou, assim como na minha vida. Nunca vou esquecer o
que vivi com ela porque faz parte do que sou, mas não fico preso a isso.
— Como você acha que eu me sinto? Sou trinta anos mais velho...
Você tem uma vida inteira pela frente, tem o mundo para desbravar, descobrir
e aproveitar. Acha que me sinto suficientemente bom para fazer com que
perca tudo isso e opte por mim?
— Mas eu escolho você e quero continuar te escolhendo dia após dia.
— Quero ser uma aluna malcomportada que faz tudo que o professor
mandar para conseguir nota.
— Sou um professor bem exigente — avisei.
— Vá trocar de roupa. Gosto das minhas alunas com saias bem curtas,
vou preparar a sala de aula.
Ela saiu rebolando e eu a encarei até que sumisse da minha vista.
David, Silvio, César e tantos outros não eram nada iguais. Não tinha
como enquadrá-los naquele meu antigo parâmetro. Eu achava que beijando
uma mulher descobriria se o problema estava neles, como se fosse algo de
gênero. Convenhamos que era um pensamento infantil: caráter, atitude e se
colocar no lugar do outro não tem a ver com gênero.
Dirigi para casa agradecendo pelo trânsito está fluindo enquanto ouvia
a música que saía pelo autofalante do rádio. Assim que estacionei, subi os dez
andares recostada no elevador enquanto respondia as mensagens de
Whatsapp. Entrei em casa e larguei minha bolsa, bem como minha agenda,
celular e tudo mais que segurava no sofá, já começando a bagunçar minha
imaculada sala de estar.
Segui direto para o meu quarto, imaginando o que pediria para jantar.
Assim que entrei no espaço, quase gritei ao notar que havia alguém ali.
— Acho que isso não é uma boa ideia, criança... — sua voz era um
urro no meu ouvido. Sorri.
— Criança? Acho que o senhor está com problemas de vista, deve ser
a idade, estou longe de me parecer com uma... — rebati, incomodada com a
palavra.
— Nossa, será que isso que estou sentindo é uma ereção? Juro que
nem percebi quando você tomou o remedinho... — provoquei.
— Já lhe disseram que você fala demais? — acusou — mas eu vou
fazer você calar essa boquinha nervosa.
Ele não respondeu. Levantou minha saia social até a cintura e levou
os dedos até a minha calcinha, que foi retirada rapidamente. Ele abriu minhas
pernas e, sem nenhum pudor, me lambeu ali no meio. Estava praticamente
vestida, amarrada e sendo chupada pelo invasor.
Gemi alto quando os dedos dele se enterraram em mim, ajudando sua
língua e lábios a me enlouquecer.
Meu coração passou a bater mais rápido, mas não ousei abrir a boca
para chamá-lo. A tensão e a falta de previsibilidade me deixavam alerta e
ansiosa.
Mais uma vez ele se afastou. Mais uma vez senti falta do seu toque. A
música soava alto e deixava aquilo tudo ainda mais intenso.
Yes or yes?
Do you want it in?
You wanna be stressed, I'd rather have sex
You and I and my dirty mind
We can stay high or no?
Yes or yes?
Do you want it in?
You wanna be stressed, I'd rather have sex
You and I could die a thousand times
We can stay high or no?
(Sim ou sim?
Você quer ele dentro?
Você quer ficar estressada, eu prefiro transar
Você e eu e minha mente suja
Podemos ficar excitados ou não?
Sim ou sim?
Você quer ele dentro?
Você quer fica estressada, eu prefiro transar
Você e eu poderíamos morrer mil vezes
Podemos ficar excitados ou não?)
Foi o maldito chicote de equitação que ele usou. Soube assim que ele
estalou contra minha bunda, fazendo arder. Aquela ponta de couro sempre me
fazia querer tomar o chicote da mão do César para devolver o golpe. Mas eu
estava imobilizada agora, então só me restava recebê-lo e absorver a dor.
— Desse jeito vou precisar deixar sua bunda em carne viva, Liz —
avisou — mulher não deve falar palavrão — provocou.
— Vai se foder! — rebati, por instinto, e mais um golpe me foi dado
— caralho!
Ele riu e então eu esperei por mais uma chicotada na bunda ardida,
mas ela não veio.
Let me change your mind
Give you new fame
Make you feel shy
Keep it fifty all night
Let go
Or no
We can let it ride
Play a new game
Heavy overtime
We can do it for life
Go pro
Or no
César acariciou minha bunda ardida, passando a mão por toda ela,
antes de se direcionar ao meu ânus. Eu o senti passar o lubrificante ali, com o
dedo, que aproveitou para se enfiar e me abrir um pouco. A sensação era boa,
César manipulava meu corpo com maestria todas as vezes em que o tocava e,
quando se tratava de sexo anal não era diferente. Ele era capaz de me fazer
gozar enterrado ali.
Senti quando ele empurrou o plug anal e gemi quando percebi que era
o que vibrava. Assim que ele o ligou, comecei a receber estímulos no ânus,
fazendo com que meu corpo ficasse imediatamente alerta.
— Fico louco quando te vejo assim, tão entregue — confessou
levantando meu rosto pelo queixo para me dar um beijo na boca — gostosa!
— De verdade, Liz.
Senti o meu apoio ser retirado quando a caixa foi afastada. Isso fez
com que meus braços se esticassem ainda mais, doendo muito.
— Ahhhhh!
A vibração na minha bunda continuava e, junto a isso, o pau dele
começou a me foder. César entrava e saía rapidamente, buscando ir fundo e
rápido. Gemi, gritei e explodi pela terceira vez quando ele acertou aquele
pontinho especial dentro de mim.
César me fodeu por mais alguns minutos antes de gozar. Uma de suas
mãos soltou a corda do ganho e os meus braços caíram automaticamente. Ele
andou comigo em seus braços e me colocou na cama.
— Você não jantou, tem certeza que quer descansar mais ao invés de
devorar tudo isso aqui?
Abri apenas um olho para ver do que se tratava e o vi, lindo usando
apenas roupão preto, ao lado de uma enorme bandeja de café da manhã. Abri
o outro olho quando meu estômago roncou alto. César riu e apontou para a
comida.
— Coma, vou te fazer uma massagem relaxante e te dá um banho
depois. Além disso, preciso passar uma pomada cicatrizadora na sua bunda.
— Vamos sim, ele me ligou para falar sobre isso — César concordou.
Eu amava as cerimônias e rituais significativos do BDSM.
— Achei! Vamos ver Instinto — anunciei, depois de zapear as
opções, ao ler a sinopse da série.
— Você quem manda — ele riu e beijou minha cabeça quando me
acomodei depois de dar o play.
César havia dominado meu corpo com maestria, mas dia após dia
reconquistava e mantinha meu coração refém do seu amor. Ele me acusava de
dominar seu coração e eu me sentia muito feliz em ser sua domme nesse
sentido.
Nós provávamos, a cada hora, que não existiam regras para o amor.
Não havia necessidade de se prender a fórmulas. Não havia idade, sexo ou
cor que determinasse o que era certo ou errado. Baunilha ou BDSM, desde
que os envolvidos fossem sinceros e consentissem ninguém tinha nada a ver
com o que faziam.
FIM
Toda vez que colocamos um ponto final em um livro sentimos um
misto de alívio e gratidão. Alívio porque conseguimos concluir mais um
sonho, dando existência a novos seres que farão parte da vida de quem os ler.
Além disso, concluir significa voltar a respirar em paz até que uma nova
loucura comece.
Escrever esse livro não foi fácil. Liz e César foram personagens
intensos que, por vezes, nos conduziram para onde quiseram pouco se
importando com o que acharíamos do caminho. Mas no fim, sobrevivemos,
não é? Talvez com umas dores musculares, muita insônia e uma pitada de dor
de cabeça. Nada que um Dorflex não resolva!
Obrigada a você que chegou até aqui e que se deixou dominar por
essa história. Não deixe de nos contar se gostou ou não, sua opinião é muito
importante para nós.
Obrigada a Júlia Rol que, mais uma vez e mesmo sem ser sua
temática favorita, nos emprestou seu tempo e os seus olhos. Você é linda!
Assim como a Karen Dorothy que nos atendeu e nos socorreu em tempo
recorde. Karen, você é um poço sem fim de amor. Obrigada!
Leitores, nós amamos vocês.
Ane Pimentel.
Estamos sempre com ideias novas e adoramos dividir com vocês. Nos
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