Santos, 2020
Santos, 2020
Santos, 2020
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES
FORTALEZA
2020
ANTHONY BELO VASCONCELOS SANTOS
Orientador:
Jorge Barbosa Soares, Ph.D
Coorientador:
Lucas Feitosa de Albuquerque Lima
Babadopulos, Ph.D
FORTALEZA
2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Jorge Barbosa Soares
Universidade Federal do Ceará (UFC)
______________________________________________
Prof. Dr. Lucas Feitosa de Albuquerque Lima Babadopulos
Universidade Federal do Ceará (UFC)
______________________________________________
Prof. Dr. Francisco Heber Lacerda de Oliveira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_______________________________________________
Dr. Luis Alberto Herrmann do Nascimento
Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES/Petrobrás)
_______________________________________________
Prof. Dr. Márcio Muniz de Farias
Universidade de Brasília (UnB)
AGRADECIMENTOS
Ao meus pais, que foram exemplos de luta com dedicação e perseverança, por terem
tido tanto trabalho nesse grande projeto da vida, que é criar um filho com tanto capricho e amor.
Ao Professor Jorge Soares, que além de orientador na elaboração desse estudo, com
muita paciência, sabedoria e incentivo, foi um tutor quanto a vida. Muito obrigado por tantos
ensinamentos e pela confiança dada desde o primeiro momento.
Aos Professores Heber Oliveira, Márcio Muniz e ao Dr. Luis Alberto Nascimento,
por terem se dedicado no exame deste trabalho e contribuído no seu aperfeiçoamento.
The recent proposed asphalt pavement design method brings significant improvement to
Brazilian roadway infrastructure. Pavement layers structural analysis and monitoring of test
sections, in terms of cracked area, allow the use of Transfer Functions (TF) to predict cracking
evolution under a mechanistic-empirical method. The Resilient Modulus (RM) for stiffness and
Diametral Indirect Tensile (DT) test for fatigue characterization are intended to be used for
structural analysis inputs and fatigue simulation, respectively, on the method currently
considered. Although the tests are state of practice in many laboratories, they do not incorporate
viscoelastic parameters neither in stiffness nor in fatigue simulation. In addition, criticisms are
found in the literature, particularly to the DT test, and they provide a greater understanding for
more appropriate characterization of Hot Mix Asphalt (HMA) in Brazil. This research carries
out analysis of predicted cracked area (%CA) using a viscoelastic test system characterization,
such as Dynamic Modulus (|E*|) for stiffness and Uniaxial Direct Tension-compression (DTC)
test for fatigue. For fatigue modeling, the S-VECD (Simplified Viscoelastic Continuum
Damage) approach is used, which is yet largely disseminated in Brazil. In order to broaden the
understanding of appropriate viscoelastic characterization for pavement design, sensitivity
analysis are performed upon %CA with respect to the following variables: (i) traffic, with
respect to intensity and speed; (ii) climate, with respect to air temperature; (iii) S-VECD
modeling parameters for damage. To achieve such desired analysis, a new TF is calibrated for
23 monitored sections under Petrobras’s Asphalt Technology Network, in CAP3D-D software,
developed at Federal University of Ceará (UFC). The results indicate particular relevance of air
temperature in predicted %CA, as well as significant relevance of traffic intensity. The
sensitivity tests of S-VECD parameters allowed a deeper understanding of the DTC modeling
under continuum damage theories, identifying the most sensible parameters, as Δ in GR(Nf),
besides major discussions regarding the ß parameter. This parameter, specifically, originated
relevant propositions for future researches regarding simulations and structural analysis.
1 INTRODUÇÃO
1.2 Contextualização
defeitos funcionais e estruturais nos pavimentos, e por ser de relativamente fácil apreciação em
campo (presença de trincas e panelas).
2 Questões de Pesquisa
a) De que modo a variação de temperatura em território nacional pode impactar na
previsão de área trincada de pavimentos asfálticos?
b) De que modo variações no tráfego, em termos de velocidade e níveis de intensidade,
podem influenciar nos resultados de previsão de área trincada de pavimentos asfálticos?
c) De que modo a aplicação de ensaios de vida de fadiga que consideram propriedades
viscoelásticas em materiais asfálticos à luz do dano contínuo contribui para a
confiabilidade do dimensionamento de pavimentos asfálticos?
d) Quais possíveis contribuições para um método de dimensionamento de pavimentos
asfálticos rodoviário podem ser desenvolvidas a partir de análises de sensibilidade?
23
2.1 Objetivos
No Capítulo 5, por fim, são feitas conclusões da pesquisa deste trabalho, além de
se propor a realização de estudos futuros sugeridos a partir das conclusões e observações de
lacunas a serem preenchidas.
25
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Figura 2 – Relação entre tensão e deformação para: (a) sólidos elásticos; (b) líquidos
newtonianos; (c) materiais viscoelásticos com diferentes históricos de carregamento.
As propriedades de fluência (ou creep) e relaxação podem ser obtidas por meio da
aplicação de tensão constante e observação do aumento da deformação, ou pela aplicação de
uma deformação constante e decréscimo da tensão aplicada. Essas observações podem ser
realizadas por meio, por exemplo, de ensaios de fluência (creep estático, demonstrado na Figura
3) e de relaxação, respectivamente (Bernucci et al., 2010).
Para que o material seja considerado viscoelástico linear, alguns princípios devem
ser observados (Boltzmann, 1878). De maneira geral, admite-se que o material viscoelástico
pode ter comportamento muito próximo do regime linear quando submetido a pequenos níveis
de deformação (em torno de valores menores que 90 micro-strains (µm/m), no caso de misturas
asfálticas). Outra característica importante de materiais viscoelásticos é a dependência do
histórico de carregamento (deformações ou tensões). O material tem “memória” aos
carregamentos previamente aplicados, e as respostas futuras dependem dos carregamentos
passados. Admitindo-se um regime linear de comportamento para o material viscoelástico, sua
tensão, em 1D, pode ser calculada em função do histórico de deformação através da integral na
Equação 1, tendo como resposta a tensão. A memória do carregamento também é levada em
consideração pela equação.
(1)
Europa e nos Estados Unidos (SETRA/LCPC, 1994; AASHTO, 2004) e tem sua obtenção
possibilitada por meio de ensaios de carregamento senoidal, como o ensaio de compressão axial
(DNIT 419/2019-ME e AASHTO T 362/2011).
Figura 4 – Tensões e deformações senoidais com ângulo de fase: (a) material elástico;
(b) material viscoso à direita.
O Módulo Dinâmico é o valor absoluto do módulo complexo (E*). Este tem parcela
elástica (E’) e viscosa (E”), ao passo que a parcela elástica representa a parte real do módulo
complexo e a parcela viscosa a parte imaginária, também conhecidos como módulos de
armazenamento e de perda, respectivamente. A Equação 4 apresenta esses parâmetros em
notação de Euler.
29
𝜎∗ 𝜎
∗
𝐸 = ∗= 𝑒 = 𝐸 + 𝑖𝐸" (4)
𝜀 𝜀
𝑙𝑜𝑔(𝑎 ) = 𝑎 𝑥 + 𝑎 𝑥 + 𝑎 (5)
𝑓 = 𝑓 ∙ 𝑎 (6)
O Brasil, por suas dimensões continentais, apresenta uma vasta variedade de climas,
o que proporciona uma grande biodiversidade e presença de diferentes relevos. A temperatura
pode ser descrita pelos seus valores mínimos, máximos ou pela média considerando os dados
observados. Em uma estação meteorológica, não são coletadas informações durante a
madrugada, devido ao horário de descanso do observador ou da equipe de observação. Para
compensar a ausência do dado coletado durante esse tempo, a média é realizada levando em
consideração, além das observações pontuais feitas ao longo do dia, a mínima e a máxima
observadas. Assim, se três pontos são observados ao longo do dia, a média compensada
envolverá cinco dados: os três pontos observados mais dois dados de temperaturas máximas e
mínimas. As temperaturas médias compensadas anuais das regiões do Brasil, segundo as
normais climatológicas do INMET obtidas entre os anos de 1981 e 2010, variam entre 14ºC na
região da Serra Gaúcha a 28ºC em regiões do Nordeste Setentrional (mais ao Norte) e da Região
Norte do país. A Figura 7 ilustra a variação da temperatura média compensada anual no Brasil.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (1997), Art. 61, parágrafo primeiro, inciso
I, a velocidade máxima permitida em rodovias e vias arteriais urbanas depende da categoria do
veículo, sendo:
33
“§ 1º. Onde não existir sinalização regulamentadora, a velocidade máxima será de:
I - nas vias urbanas:
a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rápido:
b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais;
c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras;
d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais;
II - nas vias rurais:
a) nas rodovias:
1) cento e dez quilômetros por hora para automóveis e camionetas;
2) noventa quilômetros por hora, para ônibus e micro-ônibus;
3) oitenta quilômetros por hora, para os demais veículos;
b) nas estradas, sessenta quilômetros por hora.”
Figura 9 – Distribuição transversal das passagens das rodas nas rodovias para um eixo
simples.
𝑁 = 𝑉 ∙ 𝐹𝑉 ∙ 𝐹𝑅 (7)
𝑖
1 + 100 −1
𝑉 = 365 ∙ 𝑉𝑚𝑑 ∙ (9)
𝑖
100
35
Figura 10 – Ensaios de fadiga para misturas asfálticas. (I) Ensaio de Compressão Diametral;
(II) Ensaio de Trapézio; (III) Ensaio de viga; (IV) Ensaio de Tração-Compressão Uniaxial
Direta.
A definição de dano pode variar de acordo com a literatura (Shah et al., 1995;
Lemaitre, 1996; Kim, 2009). O conceito também diverge de acordo com a referência associada
à sua utilização. Por exemplo, à luz do dano contínuo mais clássico (Lemaitre, 1996), a
definição de dano é a de perda de seção resistente, que pode normalmente ser estimada baseado
na perda de rigidez do material testado. Enquanto isso, em simulação, a quantificação do dano
costuma se dar pelo consumo relativo de vida de fadiga, de acordo com as definições de Miner
(1945), que são apresentadas adiante. De acordo com Kim (2009), a amplitude de deformação
está associada diretamente à vida de fadiga. Assim, para um dado material, maiores amplitudes
38
de deformação implicam menores vidas de fadiga (Lemaitre, 1996), assim como identificado
em curvas de Wöhler (cf. Figura 11).
influenciado por estudos do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos da América
(United State Corps of Engineers, USACE), passou por adaptações pelo engenheiro Murillo
Lopes de Souza no fim da década de 50, sendo oficializado pelo DNER poucos anos depois.
Com o passar do tempo e a influência do aumento da capacidade de carga de eixos rodoviários,
algumas adaptações foram realizadas ao método para que eixos em tandem triplo fossem
incorporados nas análises, até que chegasse em sua fase final, em 1981 (DNIT, 2006). Os
principais parâmetros utilizados para a determinação das espessuras das camadas do pavimento
eram o nível de tráfego e um parâmetro do material conhecido como Índice de Suporte
Califórnia (ISC) ou California Bearing Ratio (CBR). O tráfego era convertido através de fatores
de equivalência de carga em número de eixos simples de rodas duplas, considerado eixo padrão
rodoviário (ESAL), com 8,2tf de carregamento e 5,6kgf/cm² de pressão de inflação dos pneus.
A conversão era possível entre eixos simples e tandens duplos ou triplos. O ISC foi criado por
O. J. Porter em 1929 para avaliar a capacidade de suporte relativa das camadas granulares
comparada à de uma brita de referência (Turnbull et al., 1962). Através do tráfego e do ISC é
possível obter a espessura total do pavimento necessária a partir da resistência do subleito
(Figura 13), com base em experiências catalogadas. Por meio de uma metodologia puramente
empírica foi possível o dimensionamento e a aprovação de um método ainda hoje muito
arraigado na cultura nacional na área da pavimentação.
A partir da década de 90, com os trabalhos desenvolvidos por Motta (1991), Ceratti
(1991) e Franco (2000), começou a ser apresentado a um grupo mais amplo da indústria e da
academia as capacidades de um sistema de dimensionamento baseado em teorias mecanicistas
que permitissem a obtenção da deformabilidade elástica em pavimentos asfálticos (Medina e
Motta, 2015).
, ,
1 1
𝑁 = 1,904 ∙ 10 ∙ ; 𝑅 = 0,805 (10)
𝜀 𝑀𝑅
Na prática, o sistema atual tem uma FT que recebe os dados mecanicistas de dano
explicado em mais detalhe na Seção 3.9 deste capítulo, advindos do módulo de análise AEMC,
no revestimento asfáltico, e converte esse resultado em %AT na superfície do pavimento por
meio de equações empíricas resultantes do monitoramento de trechos em campo. A FT
implementada no MeDiNa, em sua versão de 2018, foi calibrada pelos trabalhos de Fritzen
(2016) e, mais recentemente, em atualizações do sistema (Fritzen et al., 2019). Um pouco mais
sobre algumas premissas do programa é discutido mais adiante, ainda nesta seção.
Dentro da lógica atual proposta no MeDiNa, parâmetros de vida de fadiga (Nf) são
incorporados a partir de ensaios de CD, parâmetros de rigidez por meio do MR e parâmetros de
carga e crescimento do tráfego por meio de número de eixos padrões (N). A escolha do ensaio
de CD e MR sinaliza um sistema de ensaios de caracterização com parâmetros de relativa fácil
obtenção (Fritzen, 2016). Parâmetros viscoelásticos, que possibilitam conhecer a dependência
da frequência de carregamento e temperatura, não foram considerados na primeira proposta. A
simplificação tem sido justificada por aspectos práticos, a despeito da interferência da
temperatura e frequência de carregamento ter significativo impacto nas propriedades dos
materiais asfálticos, como rigidez e vida de fadiga, conforme reconhecido há bastante tempo na
literatura (Yoder e Witczak, 1975; Huang, 2003).
elásticos pela redução de inclinação da curva tensão-deformação, ao passo que para materiais
viscoelásticos esta observação não é tão simples. Torna-se necessário a transformação de
variáveis de problemas viscoelásticos em variáveis correspondentes elásticas para simplificação
do problema. Através do uso de pseudo-variáveis, as relações constitutivas de materiais
viscoelásticos podem ser consideravelmente simplificadas. Assim, o comportamento da perda
de rigidez (danificação) de material viscoelástico pode ser observado pela redução da inclinação
da curva tensão vs. pseudo-deformação, analogamente ao material elástico.
1 𝜕𝜎
𝜀 = 𝐷(𝑡 − 𝜏) 𝜕𝜏 (11)
𝐸 𝜕𝜏
47
𝜎
𝜀 = = 𝜎 (12)
𝐸
𝑑𝑊 𝑑𝑊
− = (13)
𝑑𝑆 𝑑𝑆
do dano em materiais viscoelásticos, 𝑆̇ , a ser representada pela Equação 14 (Park et al., 1996),
onde α é um valor constante, por simplicidade.
𝜕𝑊
𝑆̇ = − (14)
𝜕𝑆
2,5
0,4 0,45 0,5
m 0,55 0,6
Fonte: (a) INCT (2020); (b) Elaborado pelo autor.
50
1
𝑊 = 𝐶(𝑆)(𝜀 ) (15)
2
𝐶(𝑆) = 1 − 𝐶 𝑆 (16)
1𝑑𝐶 (17)
𝑆= (𝜀 ) 𝑑𝑡
2𝑑𝑡
1
𝑆(𝑡) = (𝜀 ) (𝐶 𝐶) (𝑡 − 𝑡 ) (18)
2
1
𝑆(𝑡) = 𝑆 + 𝐶 𝐶 𝑆
( )
(𝜀 ) 𝛥𝑡 (19)
2
1 𝛽+1 ∗
(𝜀 ) = |𝐸 |(𝜀 ) (20)
𝐸 2
𝜎 +𝜎
𝛽= (21)
𝜎 + |𝜎 |
1
(𝑊 ) = (1 − 𝐶 ∗ ) ∙ 𝜀 ,
(22)
2
56
Zhang et al. (2013) avaliaram que a relação entre a variável 𝑊 e o número de ciclos
em ensaio de fadiga pode ser divido em três estágios, como demonstrado na Figura 25. Segundo
o autor, é observado que durante o estágio II, a taxa de liberação de pseudo-energia de
deformação é constante por ciclo. Este estado constante na taxa, chamado de 𝐺 , apresentou
uma boa relação com o número de ciclos até a falha para várias misturas testadas em diferentes
temperaturas.
𝑊 ∫ 𝑊
𝐺 = = (23)
𝑁 𝑁
Figura 26 – (a) GR vs. Nf em escala log-log para diferentes modos de carga. (b) obtenção da
falha em simulação a partir de uma curva GR(Nf) definida em ensaio.
𝐺 = 𝛾𝑁 (24)
A utilização dos parâmetros que advêm das análises dos resultados de ensaio de TD
à luz do S-VECD, aliados ao critério de falha GR vs. Nf, permitem, portanto, a obtenção da vida
de fadiga do material para qualquer amplitude de deformações. Assim, em simulações para
variados carregamentos e situações, é possível a obtenção do dano, traduzido em consumo dessa
vida de fadiga estipulada para esse material. Com a obtenção do Dano Médio na seção do
pavimento analisada e o procedimento de mais alguns passos mostrados adiante, considera-se
possível a obtenção da %AT do pavimento previsto em campo para qualquer período de análise.
𝐸 =𝐸 (1 − 𝐷) (25)
Segundo a Lei de Miner (1945), para evolução do dano acumulado por fadiga em
materiais metálicos utilizados em aviões, a ruptura por fadiga ocorre quando o valor da Equação
26 é igual a 1.
𝑁 (26)
𝐷( ) = 𝑁 =1
59
1 1
𝑁 = 𝐶′𝑘 (27)
𝜀 𝐸
Onde N é o número de eixos padrões até a falha por fadiga, C’ é fator de correção,
k1, k2 e k3 coeficientes de ajuste, E é o módulo de rigidez da mistura asfáltica em temperatura
intermediária e εt a deformação de tração no fundo do revestimento asfáltico.
Os parâmetros de ajuste podem ser obtidos a partir de uma vasta gama de métodos
de ensaio, mas os mais comuns no meio prático são os indicados na literatura pela Shell Oil e o
Asphalt Institute, conforme apresentado na Tabela 1. A rigor, esses parâmetros deveriam ser
obtidos através de ensaios laboratoriais, como qualquer outra propriedade dos materiais.
𝛿 (28)
𝑁 =
𝐶
𝛾 𝑝 +1
Onde:
1 𝑝(𝐶 𝐶 ) (𝜀 ) 𝑘
𝛿= (𝜀 ) 𝐶
2 𝑓2
𝑝 = 𝛼 − 𝛼𝐶 +1
fR = frequência reduzida;
61
ß = parcela do ciclo em que ocorre tensão de tração (valor usual adotado de -0,08);
3.10 CAP3D-D
Figura 28 – Malha para obtenção da média de dano nos pontos analisados no programa
CAP3D-D.
𝑇(𝑥) = 𝑇 + (𝑇 − 𝑇 )(1 − 𝑒 ( , , )
) (30)
A velocidade de tráfego, por sua vez, interfere em análises por meio da aplicação
da Equação 31, que converte a velocidade em tempo de carregamento (Brown, 1973). A
frequência é considerada o inverso do tempo obtido.
ao fato de o parâmetro ser acrescido do seu valor anterior durante o histórico de solicitações.
Assim, mesmo que cada passagem apresente um valor específico de dano, como em uma
fotografia tirada em um instante da análise, ou mesmo o valor para um mês inteiro da análise,
o seu acúmulo ao longo do tempo é o que efetivamente será associado à ocorrência de defeitos
em campo. A Tabela 2 apresenta a comparação entre resultados hipotéticos de Dano Médio e
Dacm para uma passagem de tráfego N, em termos de eixo padrão, em 6 meses de análise.
ter como inputs resultados de laboratório e ter como um output parâmetros de campo em termos
de %AT.
Segundo Nascimento (2015), o Dano Médio plotado versus a área trincada (%AT)
apresenta grande dispersão, dada a variabilidade das características dos materiais e estruturas
monitoradas no âmbito do Projeto Fundão. A relação é apresentada na Figura 32.
Figura 32 – Relação entre o Dano Médio e a Área Trincada para as misturas do Projeto
Fundão.
Figura 33 – Relação entre T0,35 e AT@10% para os estudos iniciais do Projeto Fundão.
Figura 34 – Relação entre o Dano Médio e a %AT obtida por Fritzen (2016).
Função S (Dano Reduzido em função de S), Fritzen (2016) optou-se pela equação do primeiro
grau com coeficientes descritos na Equação 34.
O processo descrito por Nascimento (2015) e adaptado por Fritzen (2016) para os
demais trechos compreendidos na RTA da Petrobras foi também adotado por Santiago (2017).
Esta autora utilizou mais análises para contemplar a proposição de outros meses como dano
inicial, como T0,25 e T0,45, além do próprio T0,35 sugerido por Nascimento (2015). O estudo
concluiu que o mês do dano de 0,35 como correspondente ao dano a %AT = 10% foi o que
apresentou a melhor aderência entre as funções calibradas para o shift fator. A Figura 35
apresenta a relação com o índice de correlação, R².
71
Apesar de ser uma equação do segundo grau, observa-se que a pequena taxa de
variação (primeira derivada) em relação ao valor de T0,35 remete a um comportamento
praticamente linear, como nas equações obtidas por Nascimento (2015) e Fritzen (2016).
%𝐴𝑇 = 𝐶 𝑁 (37)
𝑁 𝑟𝑒𝑑
A elaboração de uma função que relacione dados de laboratório com o campo foi
possível no Brasil graças à RTA capitaneada pela Petrobras, que conglomerou diversos centros
de pesquisa nacionais e trechos monitorados, abastecendo uma base de dados responsável por
calibrar e validar as funções testadas para o MeDiNa e também para outros sistemas de
dimensionamento como o CAP3D-D.
Universitária (UFRJ) de vias restauradas entre 2006 e 2009. O acompanhamento deu-se até o
ano de 2015. O controle continha contagem de tráfego, ensaios em usinas e em campo,
sondagens, acompanhamento da evolução de defeitos e diversas técnicas construtivas de
restauração, além de 6 tipos de misturas diferentes, ou seja, um ambiente de controle com
contornos bem definidos.
Na atualização da FT proposta por Fritzen et al. (2019), foi definido que a evolução
da área trincada seria representada por uma curva sigmoidal (N x AT), no lugar de uma função
potencial (Dano Médio Acumulado x AT) como era na proposta anterior. Trata-se, portanto, de
um ajuste do método anterior com vistas a uma melhor predição. A Figura 40 apresenta
resultados de três trechos do Projeto Fundão (Nascimento, 2015; Fritzen, 2016) com dados de
área trincada com relação ao N ajustado. O parâmetro de N ajustado é obtido por método
semelhante ao utilizado na calibração da FT por Fritzen (2016). Os dados desses trechos
também foram utilizados em estudos por Santiago (2017).
Além disso, para haver uma correlação dos resultados de campo com parâmetros
estruturais, os autores sugerem a utilização de uma malha de pontos reduzida, contemplando
apenas 20 pontos, 10 na fibra inferior e 10 na fibra superior do revestimento sem o dano limitado
ao valor de 1,0, como demonstrado na Figura 41. Este método é baseado na premissa de que
apenas os pontos inferiores e superiores da camada do revestimento asfáltico contribuem
77
Figura 41 – Esquema com a localização dos pontos na versão anterior proposta por Fritzen
(2016), à esquerda, e na proposta do estudo apresentado por Fritzen et al. (2019).
𝑓𝑠 = 𝐶 (𝐷 é ) (38)
𝑁 = 𝑁 ∙ 𝑓𝑠 ∙ 10 (39)
Figura 42 – Comparação da Área Trincada observada com a Área Trincada estimada nos
segmentos utilizados na calibração e nos segmentos utilizados na validação.
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Para melhor ilustrar a observação em questão, foi elaborada a Figura 43. Nela é
possível ver a variação dos valores de Dacm, Dano Médio Reduzido Acumulado (Dreds), %AT
e de S em função do tráfego inicial (Ni). Os três valores de Ni apresentados variam entre 1E+06,
5E+06 e 1E+07. Como pode ser observado, o valor do Dacm aumenta com o incremento do
tráfego, o que é de se esperar dado o maior número de repetições no pavimento ao fim das
análises, proporcionando maior danificação no material testado. Os valores de %AT, entretanto,
não acompanharam esta tendência, diminuindo seus valores entre o incremento de tráfego: Ni
= 1E+06 a 5E+06. Para melhor entender o porquê deste acontecimento, também foi plotado o
valor de S, variando entre 1,15 e 0,75, responsável por transformar o Dacm em Dreds, como
explicado em detalhe na Seção 3.11 do Capítulo 2 (Dreds = Dacm ∙ S). Como pode se perceber,
a queda no valor de S é demasiadamente acentuada quando comparado ao incremento de Dacm
com aumento do tráfego.
80
Figura 43 – Variação do Dano Médio Acumulado, Dano Reduzido Acumulado, %AT e valor
de S em função do aumento do tráfego inicial, utilizando-se a versão anterior do CAP3D-D.
60 1,5
50 %AT
1,2
40
0,9 S
%AT
30
0,6
20 Dano Médio
0,3 Acumulado
10
Dano Médio Reduzido
0 0 Acumulado
1,00E+06 6,00E+06 1,10E+07
Tráfego Inicial (Ni) - ESAL
Fonte: Elaborado pelo Autor.
O leitor é referido a Equação 34, que demonstra como é obtido o valor de S. Nesta,
a variável T0,35, que é o mês da simulação em que o Dacm atinge o valor de 0,35, é responsável
por modificar o valor de S inversamente proporcional. Assim, misturas ou cenários que têm
crescimento do dano rápido, ou seja, menor T0,35, como Ni de 5E+06 em comparação a 1E+06,
apresentam valores de S significativamente menores. Menores valores de S levam a menores
valores de Dredac, portanto.
Quando a queda dos valores de S não é tão acentuada, como no cenário da passagem
do tráfego de 5E+06 a 1E+07, o aumento do Dacm entre esses cenários é suficiente para
proporcionar um aumento de %AT. A queda menos acentuada é proporcionada por uma menor
variação de T0,35 entre cenários, como demonstrado na Tabela 3. Os demais efeitos são também
numericamente demonstrados nesta tabela, onde as setas verdes (para cima) representam
crescimentos em relação ao tráfego imediatamente menor e as setas vermelhas (para baixo)
representam decaimentos. Os tamanhos das setas indicam a magnitude da variação.
Tabela 3 – Variação dos valores de Dano com o parâmetro T0,35 e S para versão anterior do
CAP3D-D.
Tráfego Inicial (ESAL) Dacm T0,35 (meses) S = f(T0,35) Dreds
Utilizou-se apenas um ponto [%AT prevista; %AT observada em campo] por trecho
para o processo de calibração. Foi escolhido este método pelo fato de os trechos apresentarem
uma grande variedade de números de observações, alguns com 8 observações no tempo,
enquanto outros com apenas 1. Assim, trechos com maiores números de observações poderiam
estar tendo peso maior na soma dos erros obtidos entre a diferença de %AT calculada e de
campo do que trechos com menor quantidade de observações. A escolha de um ponto, apenas,
se deve ao fato de o trecho com menor número de observações ter apenas uma observação, o
que desequilibrava a calibração das etapas empíricas do sistema de dimensionamento,
favorecendo o ajuste para trechos com mais pontos medidos ao longo do tempo. A situação
ideal seria ter a maior quantidade de pontos possíveis e iguais entre os trechos, o que já é algo
a se considerar em acompanhamentos de trechos no futuro.
dos TEs. Entretanto, 10 TEs tinham disponíveis até o presente momento apenas uma observação
no tempo. Portanto, considerar mais de um ponto por TE não estava nas opções avaliadas no
método deste estudo.
Para a Função S, optou-se por testar ajustes lineares. Apesar de Santiago (2017) ter
obtido um ajuste para uma equação do segundo grau, o baixíssimo valor da primeira derivada
da função obtida [dS/dT0,35 = 4E-05(T0,35) + 8,72E-03], aliada a um pequeno intervalo da
variação de T0,35 [1;67], e ao fato de que Nascimento (2015) e Fritzen (2016) também terem
utilizado funções lineares, corroboraram com a crença de que o parâmetro S ajusta-se
adequadamente a uma função de T0,35 linearmente.
Seis misturas foram selecionadas para as análises, tendo sido ensaiadas pelo Cenpes
da Petrobras, fazendo parte do banco de dados da RTA. As misturas foram denominadas para
este trabalho M1 a M7, e foram escolhidas de maneira a manterem certas semelhanças – mesma
origem dos agregados e teores de ligante e de vazios próximos – e alguma diferença marcante,
como o Tamanho Máximo Nominal dos agregados graúdos (DNER-ME 083/98) e a penetração
no ligante, em décimos de mm (DNIT 155/2010-ME). Os principais resultados referentes à
caracterização dos agregados e ligantes estão dispostos na Tabela 6.
88
Tabela 8 – Temperaturas médias por turno por mês utilizadas nas análises no CAP3D-D.
Turno Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Nordeste 0h - 08h 21,2 21,5 21,1 21,3 20,5 19,4 18,8 18,9 19,7 20,9 21,1 21,5
(média de 08h - 16h 31,4 31,0 30,3 30,2 29,8 29,2 29,2 30,3 31,4 32,1 32,1 31,8
25,4ºC) 16h - 0h 25,7 25,5 25,3 25,0 24,3 23,5 23,1 23,7 24,8 25,7 25,6 25,9
Sudeste 0h - 08h 19,2 19,2 19,0 17,0 14,7 13 12,4 13,5 15,4 17,1 17,9 18,5
(média de 08h - 16h 29,7 30,2 29,8 28,1 26,4 25,5 25,2 26,8 27,2 27,9 28,1 28,5
21,8ºC) 16h - 0h 23,6 23,8 23,2 21,7 19,5 18,2 17,8 19,3 20,5 21,7 22,4 22,9
Sul 0h - 08h 18,1 18,3 17,0 13,9 11,2 9,3 9,3 10,0 11,7 13,4 14,9 16,6
(média de 08h - 16h 29,0 28,8 27,5 24,7 22,0 19,7 19,9 20,9 22,3 24,3 25,9 27,5
18,8ºC) 16h - 0h 22,8 22,7 21,4 18,4 15,8 13,7 13,8 14,7 16,3 18,2 20,2 21,9
Fonte: INMET (2018).
Ressalta-se que o CAP3D-D tem em seu banco de dados médias históricas para as
regiões do Brasil nos turnos utilizados pelo programa. Todavia, as informações podem
perfeitamente ser atualizadas ou discretizadas ainda mais, caso disponíveis e caso este nível de
detalhe interesse ao usuário.
como material do revestimento. Esta mistura foi escolhida por apresentar vida de fadiga
intermediária, ou seja, nem máxima nem mínima, entre as demais misturas testadas, como
demonstrado nas curvas de Wöhler, na Figura 49.
Os gráficos representantes das curvas C(S) elaboradas a partir dos dados listados na
Tabela 9 estão dispostos na Figura 47.
M7
0,6
M6
0,5
M5
0,4 M4
0,3 M3
0,2 M2
0,1 M1
0,0
0 20000 40000 60000 80000
Variável de Estado Interno (S)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Os gráficos representantes das curvas GR(Nf) elaboradas a partir dos dados listados
na Tabela 9 estão dispostos na Figura 48.
93
2,5
2,0 M1
M2
M3
GR
1,5
M4
1,0 M5
M6
M7
0,5
0,0
0 500000 Nf 1000000 1500000
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 49 – Curvas de Wöhler (vida de fadiga) das misturas utilizadas em análises em uma
temperatura de 20°C.
500
Micro-Strain [με]
50
1,0E+01 1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04 1,0E+05 1,0E+06 1,0E+07
𝑁𝑓
M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7
As análises são realizadas para cada mistura fixando seus parâmetros originais,
como rigidez, e variando apenas a variável S-VECD desejada. A estrutura usada é a apresentada
na Tabela 5. A temperatura é fixada em 25°C para todos os turnos e meses do ano, e a velocidade
fixada em 60km/h. Assim, garante-se que a única variável entre as seguintes 11 análises foi o
parâmetro S-VECD escolhido. Os resultados apresentados, em termos de Dano Médio para os
parâmetros de C(S), GR(Nf) e α, ao fim dos 120 meses de análise por meio do programa CAP3D-
D, além dos resultados de Nf para variações do parâmetro ß, serão apresentados no Capítulo 4.
A Tabela 10 apresenta os valores dos parâmetros utilizados na análise de sensibilidade.
É importante perceber que o valor de ß fixo em -0,08 para obtenção dos valores de
fadiga por meio da Equação 21 pode ser passível de críticas, uma vez é assumido que todos os
pontos da malha apresentarão parcelas de histórico de carregamento em compressão ou tração
iguais. Esse fenômeno não ocorre na prática. Entretanto, conforme já mencionado, o gasto
computacional para se calcular e armazenar, em tempo real de simulação, todos os picos de
tração e compressão para gerar valores de ß dinâmicos seria demasiado. Portanto, neste
momento é razoável assumir-se um valor fixo para ß. A discussão aqui trazida está relacionada
96
a suposta importância desse parâmetro para a vida de fadiga, e se seriam necessários estudos
mais aprofundados acerca do impacto de sua variação nos resultados, e ainda sobre qual o valor
de ß que aproximaria mais as simulações da realidade de campo em todo o território nacional.
Perceba-se que a presente pesquisa traz uma luz a um parâmetro que até pouco tempo não era
propriamente percebido no sistema em questão no nível de detalhe devido, até porque este
sistema novo possui um grande número de variáveis não usuais, mesmo para os pesquisadores
e certamente para os profissionais da área que não adentarão no nível de detalhe aqui exposto.
Todavia, é importante para a comunidade de pesquisa e também para os definidores do método
de dimensionamento final a ser seguido que estes diversos aspectos estejam bastante claros; um
caminho natural para isso é justamente por meio das análises de sensibilidade aqui realizadas e
até então não encontradas na literatura.
Ressalta-se, por fim, que a apresentação dos resultados em termos de Dacm e vida de
fadiga eliminam parcelas de empirismo advindas da lógica atual da FT, trazendo resultados
mecanicistas e enriquecendo as comparações e análises. Para melhor explicar esta percepção,
ressalta-se a necessidade do cálculo do Dreds no sistema de dimensionamento atual, como
explicado em detalhe na Seção 3.11 do Capítulo 2 de Revisão Bibliográfica.
97
5 RESULTADOS E ANÁLISES
5.2 Resultados
“x” de 67. Mantendo a mesma variação no eixo “y”, porém para uma variação de 180 no eixo
“x”, reduz-se a taxa dS/dT0,35. Isso contribui para a diminuição de possíveis anomalias, como a
demonstrada pela Figura 33 (para informações mais detalhadas, o leitor é direcionado à Seção
4.2).
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,0 50,0 100,0 150,0 200,0
T0,35
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Quanto à calibração das funções S, tomou-se o cuidado para que os valores obtidos
como resultados das calibrações referentes aos Shift Factors não ficassem muito sensíveis em
relação às suas variáveis (T0,35 ou Nini), como mencionado no parágrafo anterior, que tornaria a
função novamente passível de alterar significativamente os resultados de Dacm (conforme
discutido em mais detalhe na Seção 4.2). Caso não realizado este controle, seria acrescentado
mais teor de empirismo ao método. Além disso, essa abordagem possibilitou que a observação
de redução de resultados de %AT no estudo de sensibilidade, mostrado mais adiante, no item
5.2.4 desta seção, não resultasse nas anomalias que haviam sido observadas inicialmente nos
100
testes preliminares. Estes testes demonstraram situações em que a %AT diminui para
comparação entre cenários onde o Dacm aumenta significativamente, como ilustrado na Figura
43.
A 8,26E-08 C1 356,1
Nini
B 0,452 C2 1,8
A 0 C1 1,058E+12
Dano Direto
B 1 C2 26,2
0,8 0,9
0,8
0,6
0,7
0,4 0,6
0,00E+00 5,00E+06 1,00E+07 0 100 200
Nini (Eixos Padrões) T(0,35)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Figura 53 apresentam essa relação para as funções calibradas com o Nini e T0,35,
respectivamente. A Figura 54 apresenta os resultados de %AT observada em campo em relação
direta aos valores de Dacm.
Observada
30
%AT Calculada
20
10
0
0,000 0,001 0,100
Dano Reduzido Acumulado (Nini)
Observada
30
%AT Calculada
20
10
0
0,000 0,001 0,010 0,100 1,000
Dano Reduzido Acumulado (T0,35)
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Figura 54 – Relação entre o Dacm e a %AT para calibração direta entre dano médio e %AT
(sem redução do dano médio).
70
60
50
40
%AT
%AT Observada
30
%AT Calculada
20
10
0
0,000 0,001 0,010 0,100 1,000
Dano Médio Acumulado
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Uma segunda observação é que se percebe uma maior aproximação entre os valores
de %AT previstos e observados quando utilizados S(T0,35) ou S(Nini). Na Figura 54 é possível
observar que a nuvem de pontos de %ATobservada vs. Dacm está visualmente à esquerda dos
resultados calculados de %AT. O observado pode acontecer pelo fato de as nuvens de pontos
na Figura em questão representarem todos os pontos de observação por trecho, enquanto a FT
103
é calibrada apenas para a observação final de cada trecho. Além disso, a menor correlação entre
os dados de Dacm e %AT previstas entre as três calibrações, como demonstrado mais adiante,
contribui para uma dispersão mais acentuada em %AT(Dacm).
Figura 55 – (a) calibração da função Nini; (b) calibração em função do T0,35; e (c) calibração
para Dacm diretamente.
%ATprevista (em torno de 1,3 vez maior), ao passo que alguns valores mais baixos de %ATobservada
estão abaixo de %ATprevista (entre 5 a 7 vezes menores). Isso implica que, de maneira geral, para
maiores valores de trincamento em campo o modelo tenderá a prever valores inferiores,
subestimando o trincamento, ao passo que em poucos níveis de trincamento, estará
superestimando. O fato não é desejável, mas foi o melhor resultado obtido entre o equilíbrio de
superestimações e subestimações que a modelagem está suscetível. Na Figura 55 (b) é possível
observar que a modelagem em função de T0,35 apresentou níveis de subestimações e
superestimações diferentes. Em outras palavras, não houve tendência evidente em relação a um
patamar de nível de trincamento que implicasse em aumento ou diminuição dos valores de
%ATprevista. Além disso, em termos absolutos, esta modelagem apresentou menor erro entre
valores de %ATobservado e %ATprevistos, errando, no máximo, em 4 vezes nos piores casos,
comparados a 7 vezes na calibração de S(Nini). A Figura 55 (c) apresenta a calibração de
%AT(Dacm). Percebe-se a baixa correlação desses parâmetros. Portanto, descartou-se a
possibilidade de uso dessa FT neste estudo.
80 1,2
S(T0,35)
60 0,9
%AT
40 0,6
Dano Médio
20 0,3 Acumulado
a) LVECD
Figura 57 – (a) resultados de Dacm do LVECD e CAP3D-D; (b) resultados de %AT em função
de S(T0,35); (c) resultados de %AT em função de S(Nini).
Como pode ser observado, para a comparação com os valores de Dacm, os programas
mostram-se consistentes quanto ao agrupamento dos resultados, mas divergiram em termos de
resultados absolutos. Os resultados obtidos de Dacm no programa CAP3D-D foram, de maneira
geral, menores em relação aos obtidos no LVECD. Vários fatores podem explicar o observado.
Como mencionado anteriormente, os programas divergem em algumas premissas, como a
quantidade de pontos na análise estrutural, transformação da temperatura do ar em temperatura
no interior do revestimento e transformação da velocidade de tráfego em frequência de
carregamento, além da maneira como a evolução do dano é calculada em cada ponto no
revestimento. As diferenças nas premissas de análise justificam o desagrupamento de alguns
resultados, ou seja, as dispersões. Entretanto, não justificam a tendência notória de que os
valores de Dacm fossem por unanimidade maiores no LVECD.
107
b) MeDiNa
80%
60%
%AT
Ni = 1,0E+06
40% Ni = 1,5E+06
Ni = 2,0E+06
20%
0%
0 20 40 60 80 100 120
Meses
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Percebeu-se valores elevados de %AT para o tráfego inicial inserido, mesmo com
a mistura classe 4, mais resistente à fadiga. Além disso, constatou-se crescimento acentuado
dos resultados de %AT entre pequenas variações de Ni, quando comparados aos resultados de
%AT previstos no CAP3D-D (resultados demonstrados a partir do item 5.2.3). As comparações
entre os programas, todavia, não podem ser realizadas sem algumas ressalvas. Ambos os
programas utilizam sistemas de caracterização quanto à rigidez e fadiga diferenciados: o
MeDiNa utiliza o sistema MR e CD, enquanto o CAP3D-D utiliza o sistema |E*| e TD. Além
disso, deve-se deixar claro que os dados da mistura classe 4 não foram testadas no CAP3D-D.
Também se fez testes com a confiabilidade das análises, que consiste na aplicação
de uma função erro, em função da confiança, após a determinação da %AT – maiores confianças
implicam em maiores áreas trincadas. Para avaliar a suspeita, algumas análises foram feitas
alterando esse parâmetro. Na versão do MeDiNa utilizada nas análises, o usuário pode alterar
os valores de confiabilidade das análises pela mudança do nível de projeto em “tipo de via”. Os
tipos de vias são seis: (i) Sistema Arterial Principal (confiança 95%); (ii) Sistema Arterial
Primário (confiança 85%); (iii) Sistema Arterial Secundário (confiança 75%); (iv) Sistema
Coletor Primário (confiança 85%); (v) Sistema Coletor Secundário (confiança 75%); e (vi)
Sistema Local (confiança 65%).
40%
30% 65%
%AT
75%
20%
85%
10% 95%
0%
0 20 40 60 80 100 120
Meses
Fonte: Elaborado pelo Autor.
0,5 M2
60
0,4 M3
40 0,3 M4
0,2
20 M5
0,1
M6
0 0
0 20 40
60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120 M7
Meses Meses
Fonte: Elaborado pelo autor.
80 0,6 M1
0,5 M2
%AT(T0,35)
60
0,4 M3
40 0,3 M4
M5
0,2
20 M6
0,1
M7
0 0
0 20 40
60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
Meses Meses
Fonte: elaborado pelo autor.
100
0,7
0,5
60 M3
0,4
40 0,3 M4
0,2 M5
20
0,1 M6
0 0 M7
0 20 40
60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
Meses Meses
Fonte: Elaborado pelo autor.
A mistura M6, por outro lado, apresentou elevada resistência ao dano, não
apresentando trincamento nem danificações relevantes mesmo em cenários mais extremos
(elevados níveis de tráfego, baixas temperaturas e altas velocidades). É referenciada a Figura
26, na qual é apresentada a curva GR(Nf) das misturas investigadas. A mistura M6 apresenta
elevado parâmetro Δ em comparação às demais, o que implica, como visto mais adiante, no
item 5.2.6., em maiores valores de vida de fadiga, e, portanto, menores valores de Dacm.
Visualmente, na Figura 26, o maior valor de Δ é perceptível pelo “afastamento” da curva do
critério de falha em comparação as demais. Além disso, o baixo valor de C12 (menor dentre as
misturas utilizadas nas análises) também contribui para o resultado.
parâmetros, como pode ser observado, são, para um mesmo material, de mudanças na rigidez
da ordem de 400 MPa à 23.500MPa, em cenários comuns para as rodovias brasileiras.
Nesta seção, optou-se por demonstrar apenas o resultado de uma mistura (M3) para
a análise de sensibilidade à temperatura e tráfego. Os resultados para as demais misturas são
apresentados no Apêndice C. Estão dispostos em quatro grupos de dados por mistura, cada
grupo composto de dois a três gráficos.
O primeiro trio de gráficos (Figura 65) traz os resultados de Dacm e %AT, ora
calibrado por T0,35 ora por Nini, para uma variação de velocidade em diferentes níveis de tráfego
e climas. O trio seguinte de gráficos (Figura 66) traz os resultados de Dacm e %AT para uma
variação de tráfego em diferentes climas. Nestes resultados, a linha contínua entre os climas é
113
referente à transição entre as temperaturas mais quentes (da região Nordeste, com temperatura
média anual de 25,5°C) e mais frias (da região Sul, com temperatura média anual de 18,8°C).
Em seguida, é apresentado o trio de gráficos final (Figura 67), com resultados de Dacm e %AT
para variação do clima em diferentes níveis de tráfego. Por fim, são apresentados os valores de
T0,35, ou seja, o mês na análise em que o Dacm alcançou o valor de 0,35, além do valor de S(T0,35)
correspondente. Este resultado é apresentado por nível de tráfego e tem o intuito de enriquecer
as análises com avaliações de sua influência no comportamento da FT atualmente calibrada no
CAP3D-D.
Figura 66 – Resultados de Dacm e %AT finais para velocidade de 60km/h e variação de tráfego
em diferentes climas – M3.
Figura 67 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis de
tráfego – M3.
Como pode ser percebido na Figura 68, não houve variação nos valores de T0,35 e,
consequentemente, de S, para as variações de tráfego na M3. O resultado é observado devido
ao fato dessa mistura apresentar pouca danificação de maneira geral, não atingido o valor de
0,35 após 120 meses nem nos casos mais extremos. Como pode ser visto no Apêndice C, nem
sempre as misturas apresentam esse tipo de resultado. As Figuras 65, 66 e 67 também
demonstram que, de maneira geral, climas mais frios proporcionaram maiores trincamentos,
com variações na ordem de 1,38 vez em termos de Dacm e 3,8 vezes em termos de %AT. A
Figura 65 indica que a variação de velocidade impactou menos significativamente que as
variações de clima e de níveis de tráfego.
inicial ainda mais pesado, de 1E+07. Cores são adicionadas aos resultados de %AT para que
seja acrescido um critério de sensibilidade ao leitor. Quanto mais azul, menores os valores
previstos, ao passo que quanto mais vermelhos, maiores os resultados.
Tabela 14 – Resultados de %AT final para os climas e velocidades variadas de acordo com o
tráfego inicial de 5E+06.
Tráfego Ni = 5E+06
Misturas
Tabela 15 – Resultados de %AT final para os climas e velocidades variadas de acordo com o
tráfego inicial de 1E+07.
Tráfego Ni = 1E+07
Misturas
Foi observado que a variação da estrutura, mais evidente na Figura 69 (b), foi mais
impactante nas repostas de parâmetros de Dacm e %AT em revestimentos mais delgados (5cm).
Isso pode ser explicado pelo fato de revestimentos mais espessos amortecerem mais as
solicitações, o que implica em menos transmissão de esforços às camadas granulares e,
consequentemente, menos dependência destas para a ocorrência da fadiga.
118
a) Variações de α
Figura 70 – Resultados de Dano Médio Acumulado ao fim de 120 meses para as variações de
α nas 7 misturas avaliadas.
1,E+13
M1
1,E+11
M2
1,E+09 M3
Nf
M4
1,E+07 M5
M6
1,E+05 M7
1,E+03
2,60 2,85 3,10 3,35
α
Para variação do parâmetro C11 da curva C(S), observa-se, na Figura 72, que, de
maneira geral, maiores valores deste parâmetro implicam em maiores valores de Dacm. Ainda,
para valores menores que 0,0003 de C11, qualquer variação possui grande impacto no resultado
de Dacm. Isto tende a estabilizar com menores taxas de variação para valores maiores que 0,0003.
Observa-se, novamente, que M6 continuou sem apresentar danificação (Dacm = 0), dada a sua
elevada vida de fadiga (como demonstrado nas curvas de Wöhler, na Figura 49). A Figura 73
indica os resultados dessa variação em termos de Nf. É possível observar que há uma variação
de até 1E+06 vezes em Nf para o espectro de variação escolhido em C11. Entretanto, a variação
mais evidente (de até 1000 vezes) está nas variações de 0,0001 a 0,0003 de C11.
120
Figura 72 – Resultados de Dacm ao fim de 120 meses para as variações de C11 nas 7 misturas
avaliadas.
1,E+14
1,E+12
1,E+10 M1
1,E+08 M2
Nf
M3
1,E+06
M4
1,E+04 M5
M6
1,E+02
M7
1,E+00
0,0000
0,0002
0,0004
0,0006
0,0008
0,0010
0,0012
0,0014
0,0016
C11
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Para variações do parâmetro C12, de maneira geral, quanto maior o valor deste
parâmetro, maior o resultado de Dacm. É possível identificar que a curva tende a ter maior taxa
de variação a partir de valores entre 0,620 e 0,760 de C12. A mistura M6 apresenta danificação
no cenário de incremento desse parâmetro. Isso comprova que o baixo valor de C12 (M6
apresenta o menor valor dentre as misturas) tem grande influência nos valores de Nf e,
consequentemente, de Dacm. A Figura 75 apresenta os resultados de Nf para o espectro de de
variações de C12 escolhido. Observa-se uma variação de até 1.000 vezes em Nf, em M7.
121
Figura 74 – Resultados de Dacm ao fim de 120 meses para as variações de C12 nas 7 misturas
avaliadas.
1,E+08
1,E+06 M1
M2
Nf
1,E+04 M3
M4
M5
1,E+02
M6
M7
1,E+00
0,500
0,520
0,540
0,560
0,580
0,600
0,620
0,640
0,660
0,680
0,700
0,720
0,740
0,760
0,780
0,800
0,820
0,840
C12
Fonte: Elaborado pelo Autor.
d) Variações de γ da GR(Nf)
Figura 76 – Resultados de Dacm ao fim de 120 meses para as variações de γ nas 7 misturas
avaliadas.
1,E+09
M1
1,E+07 M2
M3
Nf
M4
1,E+05
M5
M6
1,E+03
M7
1,E+01
0 10000000 20000000
γ
Fonte: Elaborado pelo Autor.
e) Variações de Δ da GR(Nf)
Figura 78 – Resultados de Dacm ao fim de 120 meses para as variações de Δ nas 7 misturas
avaliadas.
M1
1,E+07
M2
M3
Nf
M4
1,E+05 M5
M6
M7
1,E+03
-1,45
-1,40
-1,35
-1,30
-1,25
-1,20
-1,15
Δ
Fonte: Elaborado pelo Autor.
positivos maiores de ß implicam em menores vidas de fadiga. Isto é de se esperar, visto que
valores de positivos de ß implicam em maiores parcelas de tração que, em última instância, é
responsável por danificar efetivamente o material, segundo o modelo S-VECD.
Algumas análises mais aprofundadas podem ser realizadas a partir dos resultados
apresentados. A Equação 21 demonstra o cálculo do parâmetro ß, ao passo que a Figura 21
demonstra os picos de carregamento. Por essas referências, é possível identificar que o valor
usualmente encontrado em ensaios para este parâmetro, sugerido por Nascimento (2015), de
-0,08, implica um pico de compressão 17% maior em comparação ao pico de tração. Para
duplicar o valor de ß matematicamente, ou seja, para -0,16, o pico de compressão precisa ser
38% maior em relação ao pico de tração, 21% maior que o pico para ß de -0,08.
1,E+13
1,E+11 M1
M2
1,E+09
M3
Nf
1,E+07 M4
M5
1,E+05
M6
1,E+03 M7
1,E+01
-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1
ß
Fonte: Elaborado pelo autor.
125
Acredita-se ser possível que alguma situação intermediária possa ser encontrada,
em que este parâmetro seja usado nas simulações como as aqui apresentadas de modo mais
consistente com as tensões que de fato são observadas no revestimento em cada situação
particular. Já se dispõe das ferramentas e do conhecimento para este tipo de exploração e os
resultados apresentados nesta pesquisa da UFC deixam claro que não se pode simplesmente
ignorar a relevância da variação deste parâmetro. O maior impedimento para uma exploração
mais aprofundada neste momento é o desconhecimento mais preciso das cargas mecânicas do
tráfego nos pavimentos nacionais, algo que o país precisa se organizar para obter, pelo menos
de forma amostral.
trabalho necessário à obtenção de uma nova FT levou a estudos mais detalhados quanto aos
fatores para calibração da Função S, responsável por transformar o Dacm em Dreds, sendo este
último parâmetro utilizado efetivamente como entrada na FT. Ou seja, há dois passos empíricos
no sistema de dimensionamento atual: (i) redução do dano (Dacm) transformando-o em dano
reduzido (Dreds); e (ii) associação do dano reduzido (Dreds) à área trincada (%AT) observada
em campo.
Apesar de maior correlação obtida em (ii), foi observado que a FT deste caso tendeu
a apresentar resultados subestimados em situações de trincamento superior a 40%, ao passo que
apresentou resultados superestimados em situações de trincamento inferiores a 40%. Ainda,
observou-se, neste caso, uma tendência de erros absolutos grandes (superior a cinco vezes) em
níveis baixos de trincamento. Assim, suspeita-se que o indicador de correlação, R², esteja
“mascarado” pelo fato de grandes erros em valores baixos de %AT não interferirem tanto no
valor deste indicador. Como a nível de projeto a precisão para valores de %AT por volta de 20
ou 30% é mais importante (critério utilizado para o dimensionamento), optou-se pela FT obtida
em (i), usando T0,35 (mês, em simulação, em que o Dacm atinge o valor de 0,35.
problemas estruturais de execução, interfiram com maior peso na calibração. Como 10 TEs
apresentavam apenas 1 ponto de observação de %AT em campo, o número de 1 ponto por
trecho foi escolhido. Levantou-se o questionamento que este método, por limitações dos dados
disponíveis, ignora o histórico de evolução de %AT por trecho, utilizando apenas o último mês
de coleta para calibração da FT. Entretanto, por existirem trechos com distintos meses de
observação final, como mês 12, 32, 58, 64 e 108, e variações de 0,00 a 84,33% de AT, os dados
continham significativa heterogeneidade.
Decidiu-se por não se proceder a uma análise de validação das FTs calibradas,
devido à pequena quantidade de dados de trechos escolhidos (23 trechos) e pontos em cada
trecho (resultantes da utilização de apenas 1 ponto por TE no processo de calibração). Apesar
de ainda não apresentar validação (algo que requer maior quantidade de dados, reforçando a
necessidade de acompanhamento de mais trechos no país), sublinha-se o alto coeficiente de
determinação (R²) dos valores previstos com os dados observados disponíveis. Isso deu
confiança às previsões, principalmente para maiores valores de %AT. O leitor é referido ao
item 5.2.1 quanto a discussões particulares em relação a possíveis altas correlações com erros
grandes em valores baixos de previsão de %AT.
Além das limitações do número de pontos de %AT por TE, a restrição dos valores
dos coeficientes da Função S e o uso de também deu origem a importantes conclusões. Foi
observado que a Função S até então implementada no CAP3D-D alterava significativamente os
valores de Dacm. A limitação dos coeficientes tende a minimizar a interferência empírica nos
resultados mecanicistas. Apesar de proporcionar maiores valores de correlação R² com o uso
de coeficientes não limitados, ressalta-se que a não adoção dessa estratégia pode proporcionar
algumas anomalias nas análises de %AT finais, conforme demonstrado em detalhe na Seção
4.2, observado na versão anterior do CAP3D-D, algo que deve ser evitado nos softwares de
dimensionamento. Vale relembrar que as anomalias se referem a diminuições de %AT previstas
para situações de aumento do Dacm entre cenários, como, por exemplo, com aumento do tráfego
inicial, o que se confirmou ser fruto da transformação de Dacm em Dreds, sem a adequada
limitação de valores dos coeficientes dessa transformação.
Sudeste e Sul), há alterações nas %AT finais da ordem de 5 vezes em comparações com climas
quentes e frios compatíveis com regiões brasileiras. Mesmo descartando o teor de empirismo
das análises e olhando apenas para o parâmetro de Dacm, as diferenças obtidas para variações de
clima são significantes, em até 43%. Fica claro que, num país como o Brasil, a não inclusão de
efeitos de clima compromete a qualidade do dimensionamento. Isso é confirmado pelos dados
apresentados nesta pesquisa, mas é um resultado já consagrado na literatura internacional há
décadas e deve ser considerado no dimensionamento adotado no nosso país.
valores de Dacm linearmente, em reduções de até 0,58 vez deste parâmetro, apresentando a
menor interferência nos valores de Dacm dentro da análise de sensibilidade realizada.
Este aumento da base de dados nacional, com TEs adicionais, contendo informações bem
completas dos materiais, da estrutura e da evolução dos defeitos, é algo que o Brasil precisa
planejar de forma coordenada entre Governo, Academia e Indústria. Afinal, sem uma base de
dados robusta e crescente, não há como dispor de métodos mecanístico-empíricos como os
reportados na presente dissertação, pelo menos de forma confiável. Sublinha-se ainda a
importância de que esse planejamento do levantamento de dados leve em consideração modelos
mais modernos que os adotados no estado da prática, senão será impossível no futuro o
aperfeiçoamento contínuo do método de dimensionamento nacional.
O programa CAP3D-D, em sua versão v2.1, de maio de 2020, não é capaz de obter
o Dacm na camada asfáltica subjacente à camada de rolamento, caso haja. Esta limitação
implicou na impossibilidade de utilização de mais trechos no processo de obtenção de novas
funções, pois não se sabe o quanto (e se) o valor de dano nas camadas inferiores pode impactar
no surgimento de trincas na superfície. Entretanto, durante o estudo da calibração foi possível
observar, em estruturas que apresentavam duas camadas asfálticas, uma distorção entre
resultados de Dacm e %AT, como a obtenção de Dacm menores que 0,05 e áreas trincadas
observadas maiores que 40%. Assim, aumentaram-se as suspeitas de que a utilização deste
parâmetro na camada inferior de asfalto é de fundamental importância. Portanto, é recomendado
que seja avaliado em estudos futuros a possibilidade de obtenção do Dacm na camada asfáltica
inferior em caso de estruturas com mais de uma camada asfáltica. Também foi observado
semelhante ocorrido quando utilizado um TE com base em material fresado, o que é de certa
forma esperado, dado que também é um material betuminoso que deve compartilhar fenômenos
de degradação similares aos de misturas asfálticas. Entretanto, pela ausência de maior números
de TEs com esse tipo de material na base, não foi possível tirar conclusões sobre a importância
dessas características na obtenção do Dacm. Portanto, também é recomendado que seja avaliada
a possibilidade de se realizar estudos mais profundos acerca desse tipo de material na camada
de base e seus reais impactos na obtenção de Dacm em simulação e na ocorrência de trincas na
superfície do pavimento.
que poderia ser estudada seria a consideração da perda de rigidez em cada ponto no cálculo do
próximo passo de danificação da camada de revestimento. Em outras palavras, poderia ser
levada em conta a distribuição heterogênea de rigidez no revestimento, o que perturbaria as
tensões e deformações calculadas e consequentemente o próximo passo de danificação.
Atualmente isso não é feito no CAP3D-D, de maneira a manter o problema analisado com a
linearidade necessária para a aplicação da regra de Miner na acumulação do dano, o que precisa
ser reavaliado.
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1
1E-07 1E-04 1E-01 1E+02 1E+05 1E+08
Frequência Reduzida [Hz]
Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Frequência Reduzida [Hz]
Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Frequência Reduzida [Hz]
Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Frequência Reduzida [Hz]
Fonte: Elaborado pelo Autor.
148
Figura C.1 – Resultados de Dacm e %AT para variação da velocidade de tráfego em diferentes
climas e níveis de tráfego – M1.
Figura C. 2 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M1.
Figura C. 3 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M1.
b) M2
Figura C.5 – Resultados de Dacm e %AT para variação da velocidade de tráfego em diferentes
climas e níveis de tráfego – M2.
Figura C. 6 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M2.
Figura C. 7 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M2.
c) M3
Figura C.9 – Resultados de Dacm e %AT para variação da velocidade de tráfego em diferentes
climas e níveis de tráfego – M3.
Figura C.10 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M3.
Figura C.11 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M3.
Figura C.12 – Resultados de T0,35 e de S(T0,35) para variações de níveis de tráfego a 60km/h
em diferentes climas – M3.
d) M4
Figura C.14 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M4.
Figura C.15 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M4.
Figura C.16 – Resultados de T0,35 e de S(T0,35) para variações de níveis de tráfego a 60km/h
em diferentes climas – M4.
e) M5
Figura C.18 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M5.
Figura C.19 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M5.
Figura C.20 – Resultados de T0,35 e de S(T0,35) para variações de níveis de tráfego a 60km/h
em diferentes climas – M5.
f) M6
Figura C.22 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M6.
Figura C.23 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M6.
Figura C.24 – Resultados de T0,35 e de S(T0,35) para variações de níveis de tráfego a 60km/h
em diferentes climas – M6.
g) M7
Figura C.26 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M7.
Figura C.27 – Resultados de Dacm e %AT finais para variação de clima para diferentes níveis
de tráfego – M7.
Figura C.28 – Resultados de T0,35 e de S(T0,35) para variações de níveis de tráfego a 60km/h
em diferentes climas – M7.
100
10
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1,0E+02
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Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Fonte: Elaborado pelo Autor.
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Fonte: Elaborado pelo Autor.
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