Fogaceiras Ana Godinho EBB3
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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 3
Conclusão ....................................................................................................................... 10
Introdução
Sabendo que a etnografia estuda, trata e representa o mais fielmente possível as
diversas manifestações culturais de uma localidade ou país, esta divulga e propaga as
mesmas. A meu ver é tarefa de um educador aceder a esse estudo e divulgar nas camadas
mais jovens o amor e a tradição de alguns costumes que são a expressão da sua identidade.
Assim sendo, parece natural que em terras de Santa Maria as escolas e entidades
ligadas à educação se empenhem na organização e na realização daquela que é a expoente
máxima da identidade santamariana – a festa em honra de São Sebastião, mais conhecida
como a Festa das Fogaceiras.
Embora não exista documentação que assinale uma data precisa para o início da
festa em honra de São Sebastião, existe a aceitação geral de que esta remonta à Idade
Média. Conforme Resenha Histórica de Concelho da Feira de 1985, esta terá surgido
“[n]o tempo de qualquer dessas pestes da Idade Média, tristemente celebres, e â
semelhança do que tinha acontecido em Cápua, Roma e Milão o povo das terras de Santa
Maria e os condes da Feira, dolorosamente castigados, recorrem ferverosamente a São
Sebastião.” (Carvalho, 1985, pag.5). Para além disso, sabe-se que, pela mesma altura,
também Lisboa recorre ao mesmo Mártir, tido como protetor contra a peste.
Com uma existência de 517 anos, a festa em honra do mártir traz milhares de
pessoas, à cidade de Santa Maria da Feira, para assistirem à procissão. Basta saber-se que
em 2005, aquando do 500º aniversário houve 620 meninas fogaceiras na procissão. É
preparada pelas entidades governativas do concelho, mas também pelos populares que
pretendem cumprir o voto feito ao Santo. As exposições, os concursos e outras atividades
circundantes à data fazem desta festividade o
ponto alto do Concelho. No dia, todas as
freguesias estão representadas com elementos
dos vários grupos religiosos, sociais que
embelezam a procissão com estandartes e muita
cor.
cinco irmãs que anseiam repetir o voto ou ter idade para o cumprir.
Para além disso, socorri-me dos meios digitais, a Internet e as redes sociais que
me ajudaram a recordar as diversas lendas, histórias e momentos caricatos da festividade.
Segundo Monteiro, há dúvidas quanto à data efetiva do voto de celebrar uma festa
em honra de São Sebastião para lhe pedir ajuda. Porém, Arlindo de Sousa, no seu livro
O Concelho da Feira, sugere que o Padre Pinho Nunes terá apontado o início do voto, ou
seja, da Festa, para meados do século XVI. Vaz Ferreira menciona que não há registo
efetivo, apesar do cronista dos frades Lóios mencionar com frequência o convento da
Feira. No entanto, ele também considera que há uma maior probabilidade de a peste de
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1569, que foi devastadora em território nacional, ter sido responsável pelo o voto coletivo.
Regista-se, em 1569, o milagre que D. Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga,
viu. O milagre deu-se enquanto este celebrava missa na Capela de São Roque, em Lisboa,
com a imagem de São Sebastião cobrindo-se com uma espécie de suor que curou várias
pessoas. Este milagre veio reforçar a ideia de que terá sido por esta altura que o povo de
Santa Maria da Feira jurou lealdade ao Santo Mártir.
São Sebastião
São Sebastião terá nascido entre os séculos III e IV, embora não exista registo
concreto em relação ao seu nascimento e morte. É mencionado pela primeira vez no
Depositio martyrum onde se refere que terá sido enterrado na Via Ápia, Roma. Julga-se
que foi um oficial da guarda pretoriana de Diocleciano e, depois de Maximiniano. No
entanto, apoiava e protegia os cristãos necessitados enquanto difundia a fé cristã que tinha
abraçado. Quando foi descoberto que era cristão, foi entregue a arqueiros que o alvejaram
sem misericórdia. Reza a lenda que sobreviveu e foi curado por Santa Irene. Depois,
apresentou-se diante do imperador, proclamando a sua fé. Este, insatisfeito, exigiu que
fosse açoitado até à morte. O seu corpo foi atirado para uma vala em Roma, mas foi
recolhido por um cristão a quem São Sebastião apareceu em sonhos a pedir uma sepultura
mais digna nas catacumbas. Foi, em 367, construída uma das sete principais igrejas de
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A proclamação da República
acrescentou-lhe um novo ritual, um cortejo
cívico, que sai dos Paços do Concelho rumo
à Igreja Matriz, antes da missa solene.
Neste cortejo, para além das fogaceiras,
juntam-se as autoridades políticas, Figura 4 - Igreja Matriz de Santa Maria da Feira
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Nesta mistura entre o civil e o religioso está a essência da festa das Fogaceiras,
que se realiza ainda hoje, com uma enorme afluência de pessoas vindas não só do
Concelho, mas de todo o país.
Apesar disso, a beleza e riqueza das festividades foi decaindo e em 1939, numa
reunião a 15 de julho, a Câmara assume, mais uma vez, o seu papel de anfitriã.
Evidentemente, esse papel é em estreita colaboração com entidades locais e populares.
Este ano, em concreto no dia 23 de novembro, dezenas de voluntárias do projeto Ponto
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Todos os anos, há concursos para certificar as fogaças das diferentes casas e/ou
padarias que primam pelo
fabrico tradicional. O
primor, a qualidade e a
fidelidade do cliente leva
a que em algumas
padarias as encomendas
tenham que ser feitas com
semanas de antecedência Figura 7- Aspetos essenciais da fogaça do Concelho da Feira
dia, as fogaças são distribuídas às autoridades religiosas, políticas e militares que têm
jurisdição municipal.
Inaugurada uma época alta das Festas em honra de São Sebastião, Portugal e,
naturalmente Santa Maria da Feira, enfrentou uma pandemia que impediu a realização
plena das festividades durante dois anos, 2021 e 2022. O vírus COVID-19 levou a uma
limitação do número de pessoas no evento, como aliás em todas as funções do país.
Porém, como a festa que foi erigida para pedir a proteção ao santo contra as pestes, faria
todo o sentido em realizar-se e a tradição foi cumprida com restrições. Nos dias 20 de
janeiro de 2021 e 2022 a tradição manteve o tradicional Cortejo Cívico, mas apenas 31
meninas fogaceiras, uma por cada freguesia do concelho, integraram a mesma. Houve
missa solene, no entanto, lotação dentro da Igreja Matriz estava limitada. À semelhança
de várias iniciativas pelo nosso país fora, também a Câmara Municipal filmou em direto
para a sua página do Facebook as festividades para a alegria de muitos que não puderam
estar presentes.
Conclusão
É através da etnografia que podemos tornar a História mais concreta, isto é, torná-
la algo passível de ser demonstrar e vivido. Ao ativar a memória coletiva e ao representar
aspetos culturais de outros tempos, conseguimos vivenciar aquilo que poderia ter ficado
apenas no papel ou na memória de alguém mais velho.
No caso concreto das terras de Santa Maria e da festa das Fogaceiras, esse aspeto
está bem patente em todo o concelho e na memória coletiva de um povo. O trabalho feito
pela Câmara Municipal em prole da cultura santamariana ajuda em muito o trabalho do
educador, uma vez que dá enfâse ao orgulho feirense e, leva a efeito vários eventos para
preparar condignamente a tão esperada Festa da Cidade.
Em suma, se ao fim de 500 anos, a Festa em honra do Mártir ainda não foi
esquecida, não será abandonada tão cedo, em especial, porque se fomenta o orgulho em
participar e em acompanhar a procissão desde a terna idade quer como menina fogaceira
quer como acólito, escuteiro, músico da banda, porta-estandarte ou, simplesmente, como
espectador de tão nobre Festa.
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Referências bibliográficas
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Silva, F. R. (1985). O Foral da Feira e Terra de Santa Maria
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