Nutrição e Adubação 1037
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78 Introdução
Nos últimos anos, a cultura do milho no Brasil, vem passando por importantes
mudanças tecnológica, resultando em aumentos significativos da produtividade e
produção. Entre essas tecnologias destaca-se a conscientização dos produtores da
necessidade da melhoria na qualidade dos solos, visando uma produção sustentada.
Essa melhoria na qualidade dos solos está geralmente relacionada ao manejo
adequado, o qual inclui entre outras práticas, a rotação de culturas, plantio direto,
manejo da fertilidade através da calagem, gessagem e adubação equilibrada com macro
e micronutrientes, utilizando fertilizantes químicos e/ou orgânicos (estercos,
compostos, adubação verde, etc.).
Exigências Nutricionais
Com relação aos micronutrientes, as quantidades requeridas pelas plantas de milho são
muito pequenas. Para uma produtividade de 9 t de grãos/ha, são extraídos: 2.100 g de
ferro, 340 g de manganês, 400 g de zinco, 170 g de boro, 110 g de cobre e, 9 g de
molibdênio. Entretanto, a deficiência de um deles pode ter tanto efeito na
desorganização de processos metabólicos e redução na produtividade, como a
2 Nutrição e Adubação do Milho
1/
18,65 231 26 259 58 32 cereal. Assim, ao se planejar a adubação para cultura
Para converter P em P2O5; K em K2O; Ca em CaO e Mg em MgO, multiplicar por 2,29; 1,20;
1,39 e 1,66; respectivamente. Fonte: Coelho & França (1995).
do milho é importante considerar, além dos resultados
das análises de solo, a extração dos nutriente pela
Em milho, os nutrientes têm diferentes taxas de cultura, a finalidade de exploração (grãos ou forragem) e
translocação entre os tecidos (colmos, folhas e grãos). a estimativa do potencial de produtividade a ser
No que se refere à exportação dos nutrientes, o fósforo alcançado.
é quase todo translocado para os grãos (77 a 86 %),
seguindo-se o nitrogênio (70 a 77 %), o enxofre (60 %),
o magnésio (47 a 69 %), o potássio (26 a 43 %) e o
cálcio (3 a 7 %). Isso implica que a incorporação dos
restos culturais do milho devolve ao solo grande parte
dos nutrientes, principalmente potássio e cálcio,
contidos na palhada. Quando o milho é colhido para
silagem, além dos grãos, a parte vegetativa também é
removida, havendo consequentemente alta extração e
exportação de nutrientes (Tabela 1). Assim, problemas
de fertilidade do solo se manifestarão mais cedo na
produção de silagem do que na produção de grãos. Na Figura 1. Reciclagem (restituição) e
figura 1 são apresentadas a reciclagem (restituição) e exportação de nutrientes pelo milho destinado
exportação de nutrientes por milho destinado à a produção de grãos e forragem. Fonte:
produção de grãos e forragem. Coelho (2005).
retorno econômico das culturas a médio prazo (4 a 5 visando manter no solo uma relação cálcio/magnésio de
anos). Como a calagem é uma prática que envolve 3:1 a 5:1. Entretanto, para a cultura do milho,
sistemas de rotação e sucessão de culturas, na sua experimentos realizados por Coelho & Vasconcelos
recomendação, deve-se priorizar a cultura mais sensível (1996), demonstraram que esta relação pode ser mais
à acidez do solo. ampla (Ca/Mg = 12/1), sem prejuízo da produção
desde que o teor de magnésio no solo esteja acima de
Entre as espécies cultivadas, o milho é classificado 0,5 cmol /dm3 de solo. Coelho & Vasconcelos (1996),
c
como sendo de tolerância mediana as condições de não obtiveram respostas do milho e ao magnésio em
acidez e toxidez de alumínio. Solos com saturação de experimentos realizados em um Latossolo Vermelho,
alumínio da CTC efetiva (valor m) maior do que 20 %, com teor inicial de 0,5 cmol de Mg/dm3 de solo e que
c
causam limitações no rendimento do milho. Entretanto, havia recebido doses de até 6 t/ha de um calcário
deve-se acrescentar que isto é dependente da calcítico (CaO = 54% e MgO = 0,27%).
ocorrência de déficit hídrico, teores de matéria orgânica
e fósforo no solo e híbrido de milho. Acumulação de Nutrientes e Manejo da
Adubação
Redução na produtividade de híbridos de milho, variando
de 7 % a 47 %, em função do aumento da saturação de Definida a necessidade de aplicação de fertilizantes
alumínio no solo, foi verificado por Prado (2001), em para a cultura do milho, o passo seguinte, e de grande
experimento conduzido em Uberaba, MG, em um importância no manejo da adubação, visando a máxima
Latossolo Vermelho, textura muito argilosa, com 4 anos eficiência, é o conhecimento da absorção e acumulação
de plantio direto (Tabela 2). de nutrientes nas diferentes fases de desenvolvimento
da planta, identificando as épocas em que os
Tabela 2. Produtividade média de grãos de híbridos elementos são exigidos em maiores quantidades. Esta
de milho em solo com dois níveis de saturação de informação, associada ao potencial de perdas por
alumínio da CTC efetiva, na profundidade de 0 a 20 lixiviação de nutrientes nos diferentes tipos de solos,
cm. são fatores importantes a considerar na aplicação
parcelada de fertilizantes, principalmente nitrogenados e
Híbridos
-1
Produtividade de grãos (t ha ) Redução
1/ potássicos.
3+ 3+
Sat. Al = 5 % Sat. Al = 23 % (%)
P 3071 7,97 4,21 47,18
Z 8474 7,28 4,39 39,70 O milho apresenta períodos diferentes de intensa
Exceller 6,49 4,14 36,21
BR 3123 5,81 5,31 8,60 absorção, com o primeiro ocorrendo durante a fase de
C 333 5,47 5,52 0,00
AG 122 5,36 5,00 6,71 desenvolvimento vegetativo, V12 a V18 folhas, quando o
DINA 652 5,34 4,17 21,90
Média 6,25 4,67 25,28 número potencial de grãos está sendo definido; e, o
CV (%) 8,70 12,10
1/
Redução na produtividade de grãos em função do aumento na saturação de alumínio. Fonte: segundo, durante a fase reprodutiva ou formação da
modificada de Prado (2001).
Esses resultados evidenciam que embora existam espiga, quando o potencial produtivo é atingido (Figura
materiais genéticos mais tolerantes às condições de 2). Isto enfatiza que para altas produções, mínimas
acidez, a correção desta acidez é muito importante ao condições de estresses devem ocorrer durante todos os
adequado desenvolvimento do milho. Assim, altas estádios de desenvolvimento da planta.
produtividades de milho, tem sido possíveis em solos
A absorção de potássio apresenta um padrão diferente
que apresentam perfil de fertilidade no primeiros 40 cm,
em relação ao nitrogênio e ao fósforo (Figura 2), com a
sem problemas de saturação de alumínio da CTC efetiva
máxima absorção ocorrendo no período de
maior do que 20 %. Saturação de bases de 50 a 60 %.
desenvolvimento vegetativo, com elevada taxa de
No Brasil existe o conceito generalizado para o uso em acúmulo nos primeiros 30 a 40 dias de
sua maioria de calcários dolomítico e magnesiano desenvolvimento, com taxa de absorção superior ao de
4 Nutrição e Adubação do Milho
nitrogênio e fósforo, sugerindo maior necessidade de de plantio direto no Brasil e a necessidade de utilizar
potássio na fase inicial como um elemento de culturas de cobertura e rotação de culturas, visando a
“arranque’. Para o nitrogênio e o fósforo, o milho sustentabilidade desse sistema, são aspectos que
apresenta dois períodos de máxima absorção durante devem ser considerados na otimização da adubação
as fases de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo ou nitrogenada.
formação da espiga, e menores taxas de absorção no
período compreendido entre a emissão do pendão e o As recomendações atuais para a adubação nitrogenada
inicio da formação da espiga (Figura 2). em cobertura são realizadas com base em curvas de
resposta, histórico da área e produtividade esperada. A
recomendação da adubação nitrogenada em cobertura
para a cultura do milho de sequeiro, de modo geral,
varia de 60 a 100 kg de N/ha. Em agricultura irrigada,
onde prevalece o uso de alta tecnologia, para a
obtenção de elevadas produtividades esta
recomendação seria insuficiente. Nestas condições,
doses de nitrogênio variando de 120 a 160 kg/ha podem
ser necessárias para obtenção de elevadas
produtividades (Tabela 1).
Do ponto de vista econômico e ambiental a dose de N a Como critério para recomendação a serem avaliados,
aplicar é para muitos, a mais importante decisão no em condições específicas, parece-nos adequado
manejo do fertilizante. A crescente adoção do sistema considerar a técnica da estimativa das necessidades de
Nutrição e Adubação do Milho 5
nitrogênio ilustrada na Figura 3, onde temos que: Entretanto, experimentos conduzidos no Brasil,
evidenciaram que a aplicação parcelada de nitrogênio
N = (N – N )/E em duas, três ou mais vezes para a cultura do milho,
f y s f
A análise do solo se mostra útil para discriminar para produção de silagem, visto que, como mostrado na
interpretação da análise de solo e a recomendação da milho para esta finalidade, é semelhante àquela para a
Nutrição e Adubação do Milho 7
produção de grãos, onde encontra-se mais de 80 % do significativos. Aumentos de produção de 100% com
fósforo absorvido pela cultura. adição de 120 a 150 kg de K O/ha, são comuns
2
nesses solos. A interpretação da análise de solo e a
Potássio recomendação da adubação potássica, para milho grão,
com base no rendimento esperado, são apresentada
Depois do nitrogênio, o potássio é o elemento absorvido
nas Tabela 5 e 6. As quantidades de potássio
em maiores quantidades pelo milho, sendo que apenas,
recomendadas para o milho destinado a produção de
em média, 30 % são exportados nos grãos. Até pouco
forragem, em função do teor do nutriente no solo, são
tempo, as respostas ao potássio em ensaios de campo
apresentadas na Tabela 7.
com o milho, eram em geral, menos freqüentes e mais
modestas que aquelas observadas para fósforo e Tabela 7. Recomendação de adubação para milho
nitrogênio, devido principalmente aos baixos níveis de destinado a produção de forragem com base nos
produtividades obtidas. resultados das análises de solo e na produtividade
esperada.
Assim, nos últimos anos tem-se verificado reversão
Disponibilidade de P Disponibilidade de K
desse quadro devido aos seguintes aspectos: uso de Doses de
--------------------------------- ----------------------------- N
híbridos de milho de alto potencial produtivo, como a Produtividade Dose de Baixa Média Adequada Baixa Média Adequada
Cobertura
introdução de germoplasmas de clima temperado de matéria
verde
N
Plantio ------- Dose de P2O5 ------- ------- Dose de K2O1/-----
porte baixo, de ciclo precoce e maior índice de colheita,
t/ha ---------------------------------------------kg/ha----------------------------------------------
permitindo o uso de maior densidade de semeadura;
30 – 40 10 – 30 80 60 30 100 80 40 80
redução do espaçamento e aumento da população de 40 - 50 10 – 30 100 80 50 140 120 80 130
> 50 10 – 30 120 100 100 180 160 120 180
plantas por área para a maioria dos novos híbridos, com 1/
Em solos com teores de K muito baixos ou para doses de cobertura = 80 kg de K2O/ha, é
aconselhável transferir a adubação potássica de cobertura para a fase de pré - semeadura, a
maior demanda de nutrientes; sistema de produção lanço.
Fonte: Alves et al. (1999).
utilizado pelo agricultores como rotação e/ou sucessão
soja-milho, uma leguminosa altamente exigente e Na adubação potássica de manutenção para a cultura
exportadora de K; uso freqüente de formulações de do milho, em solos em que os teores de potássio
fertilizantes com baixo teores de K; conscientização “disponível”, sejam iguais ou maiores do que o limite
dos agricultores da necessidade de recuperação da superior da classe média (Tabela 5), pode-se utilizar o
fertilidade dos solos através do uso de corretivos e conceito da aplicação da dose de acordo com a
fertilizantes, principalmente N; aumento do uso do milho quantidade removida no produto colhido. Assim, para
como planta forrageira, altamente exigente e produtividades inferiores a 6,0 t de grãos/ha, tem-se
exportadora de K – estima-se que atualmente 1 milhão uma exportação média ao redor de 4 kg de K O por
2
de hectares são cultivados com milho para produção de tonelada de grãos e para produtividades acima de 8,0 t
forragem; ampliação da área irrigada com o uso de grãos/ha de 6 kg de K O por tonelada de grãos.
2
intensivo do solo e maiores potenciais de produtividade Quando o milho for destinado à produção de forragem, a
das culturas. extração média é de aproximadamente 13 kg de K O
2
por tonelada de matéria seca produzida.
A exemplo do fósforo, a análise do solo tem se
mostrado útil para discriminar respostas do milho à Parcelamento e época de aplicação
adubação potássica. Aumentos de produção em função
da aplicação de potássio tem sido observadas para Conforme discutido anteriormente no tópico referente à
solos com teores muito baixos e com doses de até 120 acumulação de nutrientes e manejo da adubação, a
kg de K O/ha. Nos solos do Brasil Central, a absorção mais intensa de potássio pelo milho ocorre
2
quantidade de potássio disponível é normalmente baixo nos estádios iniciais de crescimento (Figura 2). Quando
e a adubação com esse elemento produz resultados a planta acumula 50 % de matéria seca (60 a 70 dias),
8 Nutrição e Adubação do Milho
cerca de 90 % da sua necessidade total de potássio já portadores de enxofre. O sulfato de amônio (24 % de
foi absorvida. Assim, normalmente recomenda-se enxofre), o superfosfato simples (12 % de enxofre) e o
aplicar o fertilizante no sulco por ocasião da semeadura gesso agrícola (15 a 18 % de enxofre), são as fontes
do milho. Isso é mais importante para solos deficientes, mais comuns desse nutriente.
em que a aplicação localizada permite manter maior
concentração do nutriente próximo das raízes, Micronutrientes
favorecendo maior desenvolvimento inicial das plantas.
A necessidade de alcançar elevados patamares de
Entretanto, em anos com ocorrência de déficit hídrico produtividade tem levado a uma crescente preocupação
após a semeadura, a aplicação de dose alta de com a adubação com micronutrientes. A sensibilidade a
potássio no sulco, pode prejudicar a germinação das deficiência de micronutrientes varia conforme a espécie
sementes. Assim quando o solo for arenoso ou a de planta. O milho tem alta sensibilidade a deficiência
recomendação exceder 60 kg/ha de K O, deve-se de zinco, média a de cobre, ferro e manganês e baixa a
2
aplicar metade da dose no plantio e a outra metade de boro e molibdênio.
Tabela 8. Critérios para interpretação de análise de a aplicação na superfície do solo em sistema de plantio
solos para micronutrientes na Região dos Cerrados. direto, a situação está se invertendo e, em algumas
lavouras, sobretudo de soja, tem surgido problemas de
Micronutrientes Disponibilidade no solo deficiência de manganês. Embora considerado menos
Baixa Média Alta sensível à deficiência deste elemento do que a soja, o
3
-----------------mg/dm -----------------
1/ milho, cultivado na mesma área, no sistema de rotação
Boro < 0,5 0,6 a 1,0 > 1,0
2/ e sem o manganês nos programas de adubação,
Cobre < 0,8 0,8 a 2,4 > 2,4
2/ poderá apresentar problemas de deficiência, como
Ferro <5 5 a 12 > 12
2/ mostram os resultados apresentados na Tabela 10.
Manganês a pH 6,0 <5 5 a 15 > 15
2/
Manganês a pH 5,0 <2 2a6 >6 Neste experimento, o milho foi plantado em solo
2/
Zinco <1 1a3 >3 anteriormente cultivado com soja e que apresentou
1/ 2/
Extratores: Água quente; Mehlich-1. sintomas de deficiência de manganês.
Tabela 9. Fontes, doses e métodos de aplicação de Tabela 10. Efeito de doses e número de aplicações
zinco na cultura do milho em Latossolo Vermelho foliares de manganês em diferentes estádios de
Escuro. Planaltina - DF. desenvolvimento do milho, na produção de grãos.
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Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Antônio Álvaro Corsetti Purcino
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Editoração eletrônica: Tânia Mara Assunção Barbosa
1a edição
1a impressão (2006): 200 exemplares