Saúde Lgbtqia+
Saúde Lgbtqia+
Saúde Lgbtqia+
Figura 1.
SAÚDE LGBTQIA+
POR · MARIANA ARRAES PIERRE CAVALCANTE · RESIDENTE tica Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
DE MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE PELA FESF/SUS Bissexuais, Travestis e Transexuais, instituída pela
(FIOCRUZ). CRM BA: 37.080 Portaria n° 2.836 de 2011, que tem como objetivos
principais eliminar a discriminação e o preconcei-
S
egundo o Observatório de Mortes Violentas to institucional, reduzir desigualdades e contribuir
no Brasil, no ano de 2020, foram registradas para a consolidação do Sistema Único de Saúde
237 mortes motivadas pela LGBTIfobia, das (SUS) como sistema universal, integral e equitativo
quais 70% tinham como vítimas mulheres trans ou e as necessidades de saúde desta população. (1,3)
travestis, população que, no nosso país, tem uma Partindo desse contexto, este boletim propõe
expectativa de vida de 35 anos. O Brasil é conside- uma reflexão sobre os cuidados à população LGBT-
rado o país mais perigoso do mundo para pessoas QIA+ e convida os profissionais de saúde a ampliar
transexuais. seu olhar, diminuindo estigmas ainda perpetuados
Todas as formas de discriminação devem ser na nossa sociedade.
consideradas na determinação social de sofrimento
e doença. Além disso, a comunidade LGBTQIA+, de CONHECENDO OS TERMOS
forma geral, enfrenta inúmeros obstáculos que difi- SEXO BIOLÓGICO: referente ao órgão genital iden-
cultam sua procura e adesão aos serviços de saúde, tificado ao nascimento.
o que aumenta sua vulnerabilidade.
• Fêmea, macho e intersexo (antigamente conhe-
Os direitos da comunidade LGBTQIA+ ainda cido como “hermafrodita”, refere-se à pessoa que
são desconhecidas por grande parte dos profissio- nasce com características anatômicas sexuais que
nais de saúde, mesmo com a implantação da Polí- não se encaixam nas vistas tipicamente).
IDENTIDADE DE GÊNERO: identificação e pertenci- PRINCIPAIS BARREIRAS E
mento a um tipo de gênero, independente do sexo ESPECIFICIDADES
biológico, que pode se aproximar do feminino, do
masculino, de ambos ou até mesmo de nenhum. O despreparo de profissionais de saúde e o des-
conhecimento sobre as espe-
• Uma pessoa que nasce
cificidades do cuidado da po-
biologicamente como fêmea,
pulação LGBTQIA+, devido ao
pode se identificar como mu-
preconceito, à pouca atenção
lher (mulher cisgênero) ou
dada ao tema durante a forma-
como homem (homem trans-
ção ou até à falta de interesse
gênero); alguém que nasce
em capacitar-se, criam um am-
biologicamente como macho,
biente pouco convidativo, por
pode se identificar como ho-
vezes hostil, violando o direito
mem (homem cisgênero) ou
Para o Conselho
à saúde integral.
como mulher (mulher trans-
gênero); “não-binário” é um Você sabia? Federal de Medi- Entre as dificuldades encon-
cina (CFM), travesti é a mulher trans que não fez tradas nos atendimentos
termo que se refere às identi-
ou não deseja realizar cirurgia de redesignação
dades de gênero que não são dessa população em unida-
genital. Para a comunidade LGBTQIA+, porém,
estritamente masculinas ou independente de cirurgia, trata-se de uma auto-
des de saúde, estão:
femininas. definição atrelada a um posicionamento político, • O desrespeito ao nome so-
que busca ressignificar um termo durante muito cial de pessoas trans;
ORIENTAÇÃO SEXUAL: refere-
tempo marginalizado. Deve SEMPRE ser usado no
-se à atração afetiva e/ou se- feminino (“A travesti”). • A heterossexualidade pre-
xual entre os indivíduos. sumida, o que acaba gerando
• Heterossexual - pessoa manejos clínicos errôneos;
que sente atração por outras • A falta de garantias sobre a
do gênero oposto; confidencialidade;
• Homossexual - alguém • Experiências prévias de dis-
que sente atração por pessoas criminação ou medo de que
do mesmo gênero, como os elas aconteçam após revelar a
gays e as lésbicas; orientação sexual;
• Bissexuais - sentem atra- • Associação do vírus HIV à
ção por indivíduos de ambos
os gêneros;
ELA, ELE OU ELU? comunidade, aumentando o
estigma existente;
ATENTE-SE AOS PRONOMES!
• Assexuais - sentem pouca Sempre pergunte ao usuário como ele gostaria • Tratamentos inadequados
ou nenhuma atração/desejo de ser chamado! O direito ao uso do nome social e omissão de direitos;
é reconhecido no Sistema Único de Saúde (SUS)
sexual por pessoas;
e ele pode constar no Cartão Nacional de Saúde, • Constrangimento e distan-
• Pansexuais - se sentem sem ser necessárias informações referentes ao ciamento por parte do profis-
atraídos por qualquer repre- sexo biológico e o nome de registro civil. (5,6) sional. (2,7)
sentação de gênero, não se li-
mitando a masculino e feminino.
EXPRESSÃO DE GÊNERO: como o indivíduo de-
monstra seu gênero, baseado nos papeis tradicio-
nais, através de roupas, comportamentos, estética.
(4)
Atenção: De forma geral, a população LGBTQIA+ está mais
vulnerável a transtornos depressivos, ansiosos,
suicídio, transtornos alimentares, uso abusivo de substância e violência
Mulheres cis lésbicas e bissexuais são menos propensas a receberem
procedimentos preventivos para câncer de mama e colo uterino, tendem a não
receber informações sobre prevenção de Infecções Sexualmente Trans-
doméstica, resultado da discriminação, do isolamento, do preconceito interna- missíveis (IST’s), são silenciadas pela suposição de que são heterossexuais e
lizado e da heterocisnormatividade compulsória. acabam recebendo prescrições de medicações muitas vezes desnecessárias,
como anticoncepcionais. (4,8)
SE LIGA
O cuidado em saúde de pessoas LGBTQIA+ não deve ser reduzido
às IST’s! É necessário diminuir o estigma
Importante social e garantir a integralidade do cuidado, abordando sempre
90% das
Estima-se que até cerca de as mais diversas queixas de saúde.