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Dissertação Politica SM Na Paraiba

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

PERCEPÇÕES DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA NA


PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE DE ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA PÚBLICA

KÁTIA HELENA DA SILVA SALES

JOÃO PESSOA
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

PERCEPÇÕES DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA NA


PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE DE ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA PÚBLICA

KÁTIA HELENA DA SILVA SALES

JOÃO PESSOA
2010
KÁTIA HELENA DA SILVA SALES

PERCEPÇÕES DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA NA


PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE DE ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA PÚBLICA

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Serviço Social, da
Universidade Federal da Paraíba, como
requisito para obtenção do título de
Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Patrícia Barreto


Cavalcanti

JOÃO PESSOA
2010
KÁTIA HELENA DA SILVA SALES

PERCEPÇÕES DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA NA


PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE DE ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA PÚBLICA

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Serviço Social, da
Universidade Federal da Paraíba, como
requisito para obtenção do título de
Mestre.

Aprovada em: ___/____/____

Profa. Dra. Patrícia Barreto Cavalcanti (UFPB) – Orientadora

Profa. Dra. Maria de Fátima Melo do Nascimento (UFPB) – Examinadora

Profa. Dra. Caroline de Oliveira Martins (UFPB) – Examinadora

JOÃO PESSOA
2010
RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo principal analisar historicamente o


desenvolvimento da Política de Assistência a Saúde mental no Estado da Paraíba.
Para tanto, configura uma discussão que abarca a dinâmica do processo de
construção, no que se refere ao cenário da assistência psiquiátrica em algumas
conjunturas sociais, bem como sua representação em períodos históricos diversos.
A questão principal que se coloca, é a discrepância em torno das primeiras
manifestações no cenário mundial, no que tange ao enfrentamento da “loucura”, tal
como era percebida em diferentes contextos sociais. Para vislumbrar este
questionamento, o presente estudo recorreu à análise de vários autores, que
eficazmente reconstrói o percurso desta assistência, e que fizeram uma abordagem
sobre a constituição da psiquiatria colocando em debate algumas idéias centrais
relacionadas à mesma. Como por exemplo, a idéia que considera como construção
sócio-histórica a invenção da psiquiatria e seu objeto, a doença mental, bem como
uma redução social das pessoas acometidas por transtornos mentais, tendo como
resultante a sua completa exclusão do mundo. Discute também acerca dos primeiros
movimentos que impactaram e convergiram para um conjunto de ações inovadoras
no quadro da assistência à saúde mental, de tal modo que impulsionaram uma série
de movimentos de reforma psiquiátrica na maior parte do mundo. A partir dessas
experiências, foram se formulando políticas públicas específicas, voltadas ao doente
mental, que tentaram conciliar a assistência com a inclusão social. Em conseqüência
desta nova abordagem, se constituiu um cenário com mecanismos substitutivos ao
modelo hospitalocêntrico e manicomial, e por meio do qual se começou a estruturar
uma nova percepção em torno do indivíduo com adoecimento mental. Finalmente,
este estudo considera como relevante a concretização de novas relações, entre o
doente mental e seus respectivos cuidadores, no processo da assistência
psiquiátrica.

Palavras-chave: Política de Saúde Mental. Assistência Psiquiátrica. Estado da


Paraíba.
ABSTRACT

The present master’s thesis aims to analyze historically the development of the
Mental Health Assistance Policy in the State of Paraiba (Brazil). In order to do that,
this work carries out a discussion involving the psychiatric assistance in several
social conjunctures, as well as its representation in diverse historical periods. The
main focus is the worldwide discrepancy towards the first ways of confronting
“madness”, as it was conceived in the different social contexts. In order to glimpse at
this issue, the present study analyzed several authors who not only approached the
constitution of psychiatry, but also discussed its central ideas. As an example, the
concept which considers as a social-historical construction, the invention of
psychiatry and its object, the mental disease, along with the social degradation of
mentally ill people resulting in their complete exclusion from the world. Such analysis
has effectively permitted to rebuild the path of psychiatric assistance. It is also
observed the first outstanding movements which converged to a number of
innovative actions in the context of mental health assistance, so that prompted a
series of psychiatric reform movements in most of the world. From these
experiences, there have been formulated public and specific policies, directed to the
mentally ill patient, which attempted to reconcile the assistance with social inclusion.
As a result of this new approach, is has been established a scenery with
mechanisms to substitute hospital-centered model, through which it began to be
designed a new perception about the mentally ill individual. Finally, this study
considers important to achieve a new relationship between mental patients and their
caregivers, in the psychiatric assistance process.

Key-words: Mental Health Policy. Psychiatric Assistance. State of Paraiba.


AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre comigo, iluminando e conduzindo os meus passos,


dando-me a força necessária, saúde e sabedoria para administrar as minhas tarefas,
Aos meus queridos pais pelo incentivo, cuidado e amor, demonstrados durante
toda a minha vida, e tambem, neste momento e etapa que agora se consolida,
A minha família, por todo o apoio durante esta jornada, pelo exemplo de amor,
união e disponibilidade para ajudar-me, e paciência nos momentos em que estive
ausente,
A todos os meus amigos, por contribuírem com paciência e compreensão,
As minhas colegas do Curso de Mestrado, em especial Ana Quércia, Lívia,
Isabel, Roberta e Michele pela amizade, paciência, colaboração e companheirismo
vivenciados ao longo dos anos,
A Professora Maria de Fátima Melo, pelo companheirismo e dedicação
destinados a mim, o que contribuiu em muito para a concretização deste momento,
A equipe técnica do Programa de Pós-Graduação em serviço, pelo exemplo
profissional.
A minha querida orientadora, Patrícia B. Cavalcante por sua paciência,
compreensão e excelente orientação na constituição desse trabalho, além do
exemplo de larga competência.
Aos indivíduos participantes e atores protagonistas da pesquisa, no momento
da coleta de dados,
Por fim, a todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para a
conclusão deste Mestrado em Serviço Social.
LISTA DE SIGLAS

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CAP’s Caixas de Aposentadoria e Pensão

CES/PR Conselho Estadual se Saúde do Paraná

CHLM Complexo Hospitalar Juliano Moreira

CAR Colônia Agrícola de Reabilitação

DINSAM Divisão Nacional de Saúde Mental

IAP’s Institutos de Aposentadorias Pensões

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

LBHM Liga Brasileira de Higiene Mental

MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS Núcleos de Atenção Psicossocial

PPA Plano de Pronta Ação

PVC Programa de Volta pra Casa

PAC’s Agentes Comunitários de Saúde

PSF’s Programas de Saúde da Família

SNDM Serviço Nacional de Doença Mental

SRT Serviço de Residência Terapêutica


LISTA DE FIGURAS

Figura nº. 1 - A Cura da Loucura - Extração da Pedra da Loucura (1475-1480) de


Hieronymus Bosch ............................................................................................... p. 29

Figura nº. 2 - Doente mental sendo exorcizado ................................................... p. 33

Figura nº. 3 - Phillipp Pinel ................................................................................... p. 36

Figura nº. 4 - Paciente sendo libertada das correntes por ordem do Dr. Phillip Pinel
em Salpêtriére-Paris- 1795 ................................................................................... p. 38

Figura nº. 5 - Hospício D. Pedro II, Gravura Victor Frond, 1852 .......................... p. 41

Figura nº. 6 - Colônia do Juqueri .......................................................................... p. 44

Figura nº. 7- Trabalho agrícola ............................................................................. p. 45

Figura nº. 8- Pacientes das colônias da Ilha do Governador ............................... p. 45

Figura nº. 9 - Aviários das colônias da Ilha do Governador ................................. p. 45

Figura nº. 10-Hospital Colônia – agrícola Rio Grane do Sul ................................ p. 46

Figura nº. 11- Juliano Moreira .............................................................................. p. 48

Figura nº. 12 - Usuária do Programa de Volta para Casa .................................... p. 86

Figura nº. 13 - Figura nº13- Apresentação atualizada da unidade do Complexo


Psiquiátrico Juliano Moreira no Estado da Paraíba ............................................ p. 103
LISTA DE QUADROS

Quadro nº. 01 - Primeiros hospícios públicos para alienados no Brasil ............... p. 43

Quadro nº. 02 - Explicitação da Lei 10.216/2001-Paulo Delgado ........................ p. 72

Quadro nº 03 - Implantação dos CAPS por número de habitantes ...................... p. 77

Quadro nº. 04 - Número de CAPS implantados por UF ....................................... p. 78

Quadro nº 05 - Doações encaminhados “à Santa Casa” pelo ato nº 566 de 22 de


Outubro de 1875 ................................................................................................. p. 100

Quadro nº 06 - Remuneração mensal dos funcionários do Hospital Colônia Juliano


Moreira ............................................................................................................... p. 114

Quadro nº 07 - Investimentos do Estado na implantação do Hospital Colônia Juliano


Moreira ............................................................................................................... p. 105

Quadro nº 08 - Rede atual da Política de Assistência Psiquiátrica na Paraíba


............................................................................................................................. p. 135
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico nº 01 - Evolução do número de Hospitais Psiquiátricos .......................... p. 53

Gráfico nº 02 - Redução do número de internos nos Estados ............................. p. 55

Gráfico nº 03 - Expansão anual dos CAPS (da década de 1980 A 2006) ........... p. 73

Gráfico nº 04 - Proposta da Rede de Saúde Mental segundo a Reforma Psiquiátrica


................................................................................................................................p. 75

Gráfico nº 05 - Representação da cobertura de CAPS por 100.00 habitantes .... p. 80

Gráfico nº 06 - Serviços residenciais terapêuticos em funcionamento (2002 a 2006)


............................................................................................................................... p. 83

Gráfico nº 07 - Representação da ocupação exercida pelos participantes ........ p. 118

Gráfico nº 08 - Representatividade do tempo de experiência dos profissionais . p.119

Gráfico nº09 - Representação gráfica do quadro dos elementos de avanço na


trajetória da Política de Saúde Mental na realidade do Estado ......................... p. 129

Gráfico nº 10 - Estimativa no quadro de desafios que se fizeram presentes no


desenvolvimento da assistência psiquiátrica pública na Paraíba ...................... p. 130

Gráfico nº 11 - Dados relacionados à operacionalização dos serviços nos


ambulatórios ....................................................................................................... p. 133

Gráfico nº 12 - Retrato da dinâmica nas residências terapêuticas, a partir da visão


dos entrevistados ............................................................................................... p. 134

Gráfico nº 13 - Representação gráfica do gênero dos participantes entrevistados


............................................................................................................................. p. 137

Gráfico nº 14 - Representação do grau de instrução dos atores participantes


............................................................................................................................. p. 138

Gráfico nº 15 - Representação do âmbito de intervenção profissional dos


participantes ....................................................................................................... p. 139

Gráfico nº 16 - Representação da ocupação atual dos profissionais entrevistados


............................................................................................................................. p. 139

Gráfico nº 17 - Amostra do tempo de experiência profissional dos entrevistados


............................................................................................................................. p. 140
Gráfico nº 18 - Representação do nível de contribuição da Reforma Psiquiátrica à
dinâmica do Estado ............................................................................................ p. 141

Gráfico nº 19 - Descrição gráfica do grau de resolutividade dos serviços substitutivos


na assistência psiquiátrica .................................................................................. p. 142

Gráfico nº 20 - Representação gráfica do atendimento à demanda da assistência


psiquiátrica ......................................................................................................... p. 143

Gráfico nº 21 - Representação do grau de efetivação dos CAPS ...................... p. 144

Gráfico nº 22 - Representação do quadro de Recursos Humanos para


enfrentamento da demanda de assistência psiquiátrica pública ........................ p. 145

Gráfico nº 23 - Amostragem gráfica da contribuição no que concerne a formação


acadêmica para a dinâmica das ações em torno da assistência psiquiátrica pública
............................................................................................................................. p. 145

Gráfico nº 24 - Representação da relação entre os mecanismos substitutivos da


assistência psiquiátrica pública e a comunidade beneficiada pelos mesmos
............................................................................................................................. p. 146

Gráfico nº 25 - Demonstrativo das ações de incentivo promovidas pelos CAPS em


articular-se com a comunidade .......................................................................... p. 147

Gráfico nº 26 - Representação da relação atual Gestão estadual com a Política de


Saúde mental ..................................................................................................... p. 147

Gráfico nº 27 - Representatividade da compreensão dos participantes no que diz


respeito aos recursos financeiros que são destinados à manutenção dos CAPS no
Estado ................................................................................................................ p. 148

Gráfico nº 28 - Representação do impacto das ações que são desenvolvidas pelos


CAPS .................................................................................................................. p. 149

Gráfico nº 29 - Representatividade das perspectivas dos entrevistados com relação


às ações desenvolvidas pelos CAPS ................................................................. p. 149
LISTA DE TABELAS

Tabela Nº 01 - Eixos da IV Conferência de Saúde Mental ................................. p. 95

Tabela nº 02 - Atribuições para o Relatório Anual de Gestão em atenção à Saúde


Mental ................................................................................................................. p. 113

Tabela nº 03 - Retrato dos aspectos inovadores na realidade das condições em nível


local, em consonância com os ideais do Movimento de Luta Antimanicomial
............................................................................................................................. p. 124

Tabela nº 04 - Grau de efetivação do Decreto Lei nº 3.298/99 em nível local


............................................................................................................................. p. 128

Tabela nº 05 - Dados referentes às atividades desenvolvidas pelos CAPS


............................................................................................................................. p. 131

Tabela nº 06 - Identificação da articulação entre a Gestão estadual e as ações da


Política de Saúde Mental .................................................................................... p. 134

Tabela nº 07 - Modelos de Assistência em saúde Mental .................................. p. 136


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. p. 13

2 O LUGAR DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO HISTÓRICO DA


POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL ...................................................................... p. 27

2.1 Política de Assistência a Saúde Mental no contexto internacional ................ p. 27


2.2 Análise sobre a Trajetória da Política de Saúde Mental no cenário brasileiro
............................................................................................................................... p. 39

3 A ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA PÚBLICA NO CONTEXTO ATUAL ............. p. 67

3.1 Ecos da Reforma Psiquiátrica ........................................................................ p. 67


3.2 A Política de Saúde Mental na Paraíba .......................................................... p. 97

4 PERCEPÇÕES DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO PARAIBANO


NA PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE PSIQUIÁTRICA PÚBLICA
............................................................................................................................. p. 118

4.1 Dados de identificação dos atores privilegiados .......................................... p. 118


4.1.1 Perfil dos entrevistados ......................................................................... p. 118
4.1.2 Percurso histórico da assistência psiquiátrica da Paraíba na visão dos atores
privilegiados ................................................................................................... p. 119
4.1.3 Percepção sobre a Reforma Psiquiátrica no contexto brasileiro .......... p. 122

4.2 Visão política acerca da Política de Saúde Mental na Paraíba .................... p. 125
4.2.1 Percepção dos profissionais sobre o desenvolvimento da Assistência
Psiquiátrica no estado paraibano ................................................................... p. 125
4.2.2 Visão da atual Política de Saúde Mental na Paraíba ............................ p. 128

4.3 Dados de identificação dos trabalhadores em Saúde Mental ...................... p. 137


4.3.1 Perfil dos entrevistados ......................................................................... p. 137
4.3.2 Visão política acerca das ações dentro do contexto da Política de Saúde
Mental na Paraíba .......................................................................................... p. 140

5 CONCLUSÃO .................................................................................................. p. 151

REFERÊNCIAS .................................................................................................. p. 158

ANEXO A ............................................................................................................ p. 164


ANEXO B ............................................................................................................ p. 165
ANEXO C ........................................................................................................... p. 172
ANEXO D ........................................................................................................... p. 175
13

1 INTRODUÇÃO

O fenômeno da doença mental tem acompanhado a história da humanidade


assumindo em cada época o significado que o contexto histórico, político, econômico
e sociocultural lhe atribui. A loucura atravessou séculos, configurando um desafio
aos estudiosos do assunto que buscavam suas causas, bem como determinar
métodos de cura e/ou enfrentamento da problemática. Deste modo, os que
padeciam com o transtorno mental, através dos períodos foram submetidos a
diferentes maneiras de tratamentos, sendo vistos ora como loucos, diferentes,
alienados ou estranhos que não ofereciam perigo à sociedade, ora como seres
estranhos e alheios a realidade e nocivos ao convívio social.
A discriminação acompanha a doença mental e pode afetar o indivíduo em
todas as suas vivências no âmbito familiar, profissional e social. Os portadores de
transtornos psiquiátricos podem inclusive, não trazer características físicas, mas,
incorporam as derivadas de atitudes e críticas preconceituosas que marcam
profundamente, tornando o estigma da doença mais doloroso e pesado do que a
própria.
No que se refere à conjuntura brasileira, há muito se faz presente o debate que
se assenta na discussão sobre uma reformulação na oferta dos serviços da Política
de Saúde Mental, que resulte numa vivência social de modo que os envolvidos com
a mesma possam usufruir de seus direitos enquanto cidadão. Uma aproximação
dessa almejada realidade, pode ser vista a partir da elaboração de alguns
regulamentos no campo da Política de Saúde, o que abarca a saúde mental.
Dentre estas propostas regulatórias está a Constituição Federal (CF) DE 1988,
que pode ser citada com maior destaque, através do Título VIII que trata da Ordem
Social, Capítulo II da Seguridade Social. Além das Leis Orgânicas da Saúde, nº
8.080/90 e 8.142/90. Estas sistematizam metas, que visam à transformação da
dinâmica política e social, no que concerne a assistência à saúde, contemplando
para esta transformação, entre outros aspectos, a participação efetiva da sociedade
na elaboração, execução e controle da política de saúde.
A presente Dissertação descreve e analisa exatamente o processo histórico em
que se desenvolveu a Política de Assistência a Saúde Mental, considerando alguns
aspectos em nível mundial e também nacional para sistematizar uma abordagem no
14

cenário do Estado da Paraíba, no que se refere às manifestações desta referida


política.
Dessa forma, pretendeu-se contemplar e examinar no campo da Política de
Saúde, as expressões da Proteção Social na Política de Saúde Mental frente à
demanda que lhe é posta. Essa discussão é perpassada por alguns obstáculos,
tendo em vista que pensar na questão da saúde mental é refletir no próprio homem,
sua existência e condição como ator do processo social, em que interfere e ao
mesmo tempo, recebe interferências.
O que implica considerar as diversas concepções atribuídas à loucura e a
normalidade ao longo da história humana. Também, as atribuições conferidas ao
doente mental, que na maioria das vezes corrobora com a falta de respeito e
culminam na exclusão social do mesmo. Pois na sociedade contemporânea, a
estima pelo indivíduo pauta-se pelo que ele pode contribuir para o processo de
produção e reprodução das relações, dentro do sistema capitalista, não importando
o sujeito, seus sentimentos e idéias. Dessa forma, a pessoa com adoecimento
mental, é sempre colocada à margem da sociedade.
Assim, esta realidade exigiu a sistematização de estruturas e mecanismos que
propiciassem uma nova compreensão de enfrentamento para a problemática em
questão, objetivando um processo de inserção social do indivíduo, que pode ser
entendida como,

[...] um processo de remoção de barreira, que impede a plena


integração da pessoa na sua comunidade e o pleno exercício dos
seus direitos, de sua cidadania, quer essa pessoa seja portadora ou
não de uma doença definida pela medicina [...] (SARACENO, 1996,
p. 151).

Dessa maneira, os serviços que operacionalizam as ações de saúde mental


devem ter o potencial de expandir novas descobertas referentes aos transtornos
mentais, às formas de cuidar e de inserção psicossocial, buscando alcançar uma
maior sensibilização dos atores envolvidos diretamente e da população em geral,
quanto ao seu papel em desmistificar as concepções pejorativas atribuídas ao
doente mental. Dando a conhecer que a origem dessa problemática engloba
aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros.
Assim, torna-se evidente a relevância no que concerne ao enfrentamento e até
a superação dos estigmas impostos, que requisitam a divulgação de conhecimentos
15

contextualizados que favoreçam a compreensão das representações dessa Política,


para os que dela demandarem Proteção Social.
O referido trabalho intitulado, Percepções da Políticas de Saúde Mental na
Paraíba na perspectiva dos trabalhadores da Rede de Assistência Psiquiátrica
Pública, prioriza uma melhor compreensão do processo de desenvolvimento da
assistência psiquiátrica no Brasil. Sinalizando que o quadro da assistência a saúde
pública no cenário nacional, vem sofrendo modificações, sobretudo, desde a década
de 1980, quando emerge no país o movimento sanitarista, propondo uma reforma
substancial nas formas de prestação dos serviços de saúde à população. Aponta a
Reforma Psiquiátrica como resultante dos movimentos dos trabalhadores de saúde,
que atuaram paralelo ao processo de redemocratização do país, o que originou um
novo modelo de assistência psiquiátrica que vigora até os nossos dias.
Nessa perspectiva, é perceptível que a área da assistência psiquiátrica pública
também vem sofrendo modificações particularmente após a concreta
operacionalização do Sistema único de Saúde (SUS). No âmbito da saúde mental
essas transformações foram expressas através da luta pela Reforma Psiquiátrica,
seguindo os princípios adotados pela Reforma Sanitária. O movimento da Reforma
Psiquiátrica se iniciou no cenário brasileiro na década de 1970 e se consolidou
mediante Leis e Portarias a partir da década de 1990, exigindo-se dessa forma,
maior integração das ações nos serviços da Política de Saúde, bem como novas
formas de organização, no âmbito da Saúde Mental.
É possível afirmar que a Reforma Psiquiátrica foi resultante de pesadas críticas
contra o modelo tradicional de enfrentamento da doença mental e seu paradigma
propõe que o portador de transtorno mental, seja percebido sob um novo olhar, com
mais sensibilidade, denotando maior maturidade política das entidades e
movimentos sociais envolvidos com a saúde mental, à medida que se promove a
desinstitucionalização nos campos jurídico, político e sócio econômico. Prevê
também o fechamento gradativo dos manicômios, a redução das hospitalizações,
enfocando como prioritário as práticas e serviços de base comunitária.
O objeto da atenção à saúde volta-se para a luta pela cidadania, autonomia e
integração do portador de transtorno mental na família e na sociedade. Nessa
compreensão a Reforma Psiquiátrica decorre das lutas, no plano político e
ideológico e no técnico- cultural, que transformaram a norma legal e determinaram
16

novas responsabilidades para o Estado, na proteção da saúde das pessoas vítimas


do transtorno mental, por meio do Sistema Único de Saúde - SUS.
Neste sentido, o desenho no que se refere ao modelo de atenção e assistência
psiquiátrica, que não exclua o usuário de seu convívio social, configura um
importante desafio. Este processo pode ser caracterizado por profundas mudanças
que, dentre outras ações, requer a criação de uma rede de serviços de saúde
substitutiva aos hospitais psiquiátricos que garanta o cuidado, a inclusão social e a
emancipação das pessoas portadoras do sofrimento psíquico.
Embora SE possa considerar como sinal de progresso, o fato de que nos
últimos anos ocorreu uma estruturação no que se refere à Rede de Atenção em
Saúde Mental em todo o país para fins de desospitalização, tem sido evidente
também que em alguns lugares ainda existe a tendência dos usuários à cronificação,
pois estes continuam sendo atendidos exclusivamente por serviços de saúde
mental, quando de acordo com as propostas da Reforma Psiquiátrica deveriam ser
gradativamente direcionados para os cuidados da Rede Básica. Observa-se ainda
um elevado índice de atendimento nos serviços especializados em saúde mental. O
que acaba por dificultar o fluxo de atendimento, a eficácia e a eficiência dos
serviços.
Este estudo foi motivado por profundas inquietações sobre a assistência
psiquiátrica que é destinada ao doente mental na contemporaneidade, como
também, por alguns questionamentos relacionados à concretude dos preceitos
propostos pela Reforma Psiquiátrica, com respaldo na Política de Saúde Nacional e
na CF de 1988.
Neste sentido, a primeira experiência com a política de saúde mental ocorreu
no ano de 2006, com a participação no processo de Estágio supervisionado, que é
disciplina no curso de Serviço Social, em cumprimento da Disciplina Estágio
Supervisionado I, II e III, no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) no
Bairro de Mandacaru, em João Pessoa/PB. A partir daquele período, algumas
situações tornaram-se instigantes e passaram a compor e a desenhar a atuação no
contexto daquela instituição.
Iniciar as atividades constituiu-se não apenas como um processo novo, mas,
também como um desafio. Assumir o papel como estagiária, fazia crer que seria
possível desenvolver atividades sem maiores complicações. No entanto, este anseio
logo se desvaneceu, tendo em vista que as atividades relacionadas ao Estagio, se
17

caracterizavam por antagonismos e impasses da própria dinâmica do trabalho que


era realizado.
A partir das primeiras ações, foi possível pontuar algumas observações em
torno das pessoas que ali chegavam e, sobretudo, dos indivíduos que demandavam
atenção da assistência a saúde mental. Ficou perceptív, em decorrência de alguns
acontecimentos, que a operacionalização do atendimento àquelas pessoas,
representava um desafio, não apenas para o campo de estágio da categoria do
Serviço Social, mas, também, para todo o corpo técnico da Instituição. E na
condição de estagiária da instituição, se fazia presente, muito mais perguntas do que
respostas.
Na realidade local era evidente, por exemplo, que os portadores de transtorno
mental careciam de proteção social, não apenas de forma pontual, mais em todos os
aspectos de suas vidas. Além disso, era do conhecimento de todos que estes teriam
o direito a assistência quanto às necessidades que apresentavam, dentro do sistema
público de saúde, assim como defende a Política de Saúde Nacional. No entanto,
um dos maiores desafios que se colocava para os profissionais, estava relacionado
à inserção desses indivíduos na Rede de Saúde mental. Inclusive, a falta de clareza
nas ações desta Rede em nível local era perceptível, o que contribuía para dificultar
ainda mais os devidos encaminhamentos dos doentes mentais, de modo a alcançar
um resultado eficaz.
Na busca de melhor identificar e desenvolver atividades em torno das pessoas
que padeciam com esta problemática, começou-se tambem a identificar que
determinados aspectos daquela dinâmica não estavam em consonância com a
proposta da Reforma Psiquiátrica. Tendo em vista que aquelas pessoas não
usufruíam do mínimo, no que se refere ao que estava garantido por Lei: lazer,
moradia, convívio familiar e social, assistência medicamentosa e terapêutica, etc. E
mais, era perceptível que a estrutura do enfrentamento e tratamento tradicional que
era ofertado, ainda era aceito como o mais adequado à aquelas pessoas, e que esta
era uma cultura que se fazia presente também, na dinâmica de muitos profissionais.
Dessa forma, implementar outras ações relacionadas a problemática,
ultrapassava em muito a competência técnica de uma única categoria, ou mesmo de
uma única unidade de assistência social. Além disso, ficava cada vez mais claro que
uma política local de saúde mental até então, não era prioridade na agenda de
planejamento das ações de saúde do município. Esta realidade se agravava, pela
18

inexistência de serviços extra-hospitalares locais satisfatórios e pela escassez de


profissionais qualificados em saúde mental.
As inquietações com as ações de assistência a saúde mental se colocaram de
forma especial também, pelo fato de que neste cenário se desenvolve também a
experiência pessoal, enquanto demanda da proteção psiquiátrica. Tendo em vista
que, alem de pesquisadora da temática, sou também cuidadora de um indivíduo com
transtorno mental e que, portanto, demanda proteção social desta política. Como tal,
sempre tive acesso, mesmo que de maneira incipiente a assistência psiquiátrica
para este familiar. Entretanto, esta não foi à realidade que encontrei no campo de
estágio. Na maioria das vezes, aquelas pessoas dispunham minimamente do acesso
a Rede de Saúde Mental. Faltavam-lhes até mesmo esclarecimentos no que se
refere ao leque de direitos e garantias sociais.
Foram estas vivências e contradições que fomentaram a pesquisa e o estudo
sobre a condição do doente mental. Inclusive, ontuando o nível de (re)inserção
social deste. Esta análise teve início com o Trabalho de Conclusão do Curso (TCC),
de Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB, e depois instigaram
o aprofundamento da discussão. Naquele momento, houve a oportunidade de
concretizar este anseio, com o suporte disponibilizado pelos profissionais do Setor
de Estudos e Pesquisas em Saúde e Serviço Social (SEPSASS) da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), sob a orientação da Professora Doutora Patrícia Barreto
Cavalcanti, quando se tornou possível cursar o Mestrado em Serviço Social, na área
de concentração em Política Social, com o presente trabalho de Dissertação, no
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da referida instituição.
Ao longo do Mestrado, foi sistematizada a oportunidade de amadurecer a idéia
de que é preciso redimensionar os mecanismos de cuidado em saúde mental, como
espaços legítimos de acolhimento capazes de contribuir para o processo de inversão
do modelo tradicional de assistência psiquiátrica, bem como definir de forma mais
clara em nível nacional e, sobretudo, no âmbito estadual a Rede de atenção a esta
temática.
Algumas diretrizes políticas apontam para esta possibilidade, como por
exemplo, a aprovação da Lei Paulo Delgado, 10.216/2001. Esta defende a
concretização no que se refere aos direitos civis e políticos dos doentes mentais,
como também a extinção gradual dos manicômios e a sua substituição por serviços
substitutivos, por meio dos quais se podem proporcionar uma atenção integral aos
19

mesmos. Também, defende a internação apenas em situações emergenciais em


hospitais gerais, com período mínimo de internação.
Bem pouco tem se produzido em torno das práticas psiquiátricas que são
desenvolvidas pelas instâncias envolvidas com a problemática, locais onde muitos
profissionais de saúde mental e outros atuam e acabam por se deparar com uma
infinidade de impasses. Apenas recentemente, é que alguns autores passaram a
trazer à tona essa discussão, em grande parte, influenciados pelas discrepâncias em
torno do que se propõe e do que se operacionaliza. Essa nova configuração das
ações faz emergir novos problemas e/ou dilemas que abarcam as dimensões,
teórica e metodológica, de um campo de conhecimento que está em construção.
Assim, chegou-se a um dos pontos importantes da pesquisa em curso, que
é o procedimento metodológico. Representa o momento exploratório da investigação
que assim como define alguns autores, é de suma importância para a pesquisa,
enquanto processo de construção do conhecimento que se almeja.
O conhecimento científico é um processo desencadeado
progressivamente, que emerge da coexistência ou da relação entre
teoria e prática, sendo que a prática é o fundamento da teoria. É o
aperfeiçoamento do conhecimento comum e ordinário e é obtido
através de um procedimento metódico. Além de ater-se aos fatos, é
analítico, comunicável, verificável, organizado, sistemático,
explicativo, e constrói e aplica leis (BARROS, 1994).

Este se dá em torno de procedimentos que são percebidos como a fase de


operacionalização do processo investigativo. Configura-se enquanto mecanismo de
produção do conhecimento, tornando possível a previsão, explicação e o controle de
determinado objeto de estudo. Dessa forma, compactuamos com a idéia de que a
metodologia é

[...] o caminho do pensamento e da prática na abordagem da


realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no
interior das teorias e está sempre referida a elas [...] (MINAYO, 1996,
p. 16).

Dessa forma, o processo da pesquisa se deu em dois momentos


complementares. O primeiro foi o da investigação documental, por meio da qual se
buscou a apreensão dos elementos e especificidades mais relevantes da realidade
envolta na temática. Em seguida, houve o momento da formalização das
informações adquiridas, com o uso de instrumentos previamente escolhidos e que
20

foram aplicados de forma a corroborar com a explanação acerca do problema da


pesquisa.
Esta fase da investigação é caracterizada por alguns aspectos, entre os quais é
possível destacar a identificação e delimitação do campo de investigação. Nesta
direção, essa pesquisa procurou aproximar-se ao máximo possível da realidade da
Política de Assistência à Saúde Mental no Estado da Paraíba, e especialmente, por
considerar aspectos extraídos a partir da visão dos profissionais que atuam com a
problemática.
Por isso, considerou-se como imprescindível analisar historicamente as
faces que configuraram a referida política nos níveis nacional e local, delimitando o
recorte da década de 1970 até a atualidade. Esta sistematização teve início em
Junho de 2010 e percorreu um período de 04 meses, tendo em vista, as dificuldades
encontradas para reunir as informações desejadas e necessárias ao
desenvolvimento da pesquisa nos documentos pesquisados e com os profissionais
entrevistados.
Assim, esta investigação teve como objetivo geral analisar o percurso
histórico da assistência psiquiátrica pública na Paraíba levando em consideração a
percepção dos atores sociais envolvidos com tal prestação de cuidados. Tendo em
vista que como atores, estes deliberaram muitas das modificações que hoje
perpassam a Política de Assistência a Saúde Mental, no Estado da Paraíba. Para
compor o quadro dos objetivos específicos, procurou-se contribuir para o registro
histórico das ações de saúde mental na esfera pública, bem como cartografar como
hoje vem se colocando tal assistência na visão dos profissionais da Rede.
O procedimento metodológico desta pesquisa foi de cunho quanti- qualitativo,
embora haja nesse trabalho uma tendência em priorizar o qualitativo. Neste
respeito, a analise que aqui se formata, destaca esta abordagem como
imprescindível ao sentido social da prática científica. Além disso, a pesquisa
qualitativa favorece uma relação dinâmica entre o pesquisador e o objeto
pesquisado, já que ela se baseia na existência de uma interdependência entre o
sujeito e o objeto, uma relação objetiva entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito. Conforme afirma Chizzoti, ao enfatizar a pesquisa qualitativa,

A própria atividade pesquisadora tende a se expandir como uma


forma de ensino-aprendizagem nas quais as novas gerações serão
21

formadas e, com isso a pesquisa, como uma prática social relevante


tenderá cada vez mais a trazer novas questões teórico-
metodológicas nos anos vindouros. O aumento considerável de
publicações sobre questões epistemológicas, metodológicas e
técnicas da pesquisa atesta não só o interesse crescente por uma
atividade em franco desenvolvimento, mas, também, ágama de
questões suscitadas com o incremento da pesquisa.

Na pesquisa bibliográfica intencionou-se conhecer a percepção da doença


mental em diferentes épocas, bem como a dos respectivos pensadores e estudiosos
em relação à doença e ao enfrentamento/tratamento destinado, com enfoque nos
movimentos de Reforma Psiquiátrica que surgiram no século XX. Neste sentido,
ressalta-se o modelo psiquiátrico italiano de Franco Baságlia e sua influência para a
Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Na pesquisa de campo, buscou-se a visão de profissionais que atuam direta
ou indiretamente na operacionalização da Política de Saúde mental no Estado, com
vistas a identificar as mutações vivenciadas pela referida política, principalmente a
partir do movimento de luta antimanicomial.
Foram sujeitos desta pesquisa profissionais que atuam em espaços diversos,
e que participam da oferta de serviços na área da assistência psiquiátrica pública.
Nenhum deles tem experiência menor que um ano em lidar com a assistência
psiquiátrica pública.
No sentido de contextualizar as informações que serão trabalhadas no
decorrer desta análise, faz-se necessário apresentar uma breve identificação dos
entrevistados que aceitaram responder os questionários.

• Psicóloga(A). Mestre em Serviço Social pelo Programa de Pós-


Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba.
Atua profissionalmente na sede central da Secretaria Estadual de
Saúde - SES em João Pessoa.
• Psicóloga(B). Atualmente trabalha como técnica na sede central da
SES em João Pessoa.
• Técnica do Núcleo de Saúde Mental, na sede central da SES em João
Pessoa, com Especialização em Saúde Mental.
• Psicóloga(C), com Especialização em Saúde Mental. Trabalha
atualmente como técnica na sede central da SES em João Pessoa.
22

• Assistente Social(A). Especialista em Saúde Mental e atua enquanto


técnica no Centro de Atenção Psicossocial Infantil – CAPSi e no Pronto
Atendimento do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, em João
Pessoa.
• Assistente Social(B). Professora Doutora em Serviço Social.

Com relação aos profissionais que participaram do questionário número 2,


estes podem ser caracterizados com as seguintes informações:

• Pedagogo, com Especialização em Psicopedagogia. Atualmente


trabalha como técnico numa unidade CAPS do Estado.
• Psicóloga(A), Especialista em Saúde Mental e atua como técnica em
uma unidade CAPS em nível do Estado.
• Educador Físico, com especialização em Psicopedagogia e trabalha
como técnico de um CAPS no Estado.
• Psicóloga(B). Especialista em Saúde Mental.
• Psicóloga.
• Enfermeiro, com qualificação de Pós-Graduação em Saúde Mental.
• Psicóloga(C), com especialização em Saúde Mental.
• Assistente Social, Mestrando em Serviço Social pelo Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba e
atualmente Coordenador em uma unidade CAPS do Estado.
• Psiquiatra, com Especialização em Psiquiatria.
• Psicólogo. Com Especialização em Saúde Pública e Hospitalar.

Desse modo, para a realização desta pesquisa foram utilizados alguns


instrumentos de coleta, dentre os quais a pesquisa documental, que consistiu em
consultar documentos relativos à temática, existentes tanto em arquivos públicos
quanto privados. Foram consultados dossiês, planos governamentais das décadas
de 1960; 1970; 1980, e um diagnóstico multiprofissional construído em face de uma
denúncia realizada em 1987, todos vinculados as ações de saúde mental no
contexto paraibano. Além disso, foi possível tambem analisar arquivos de jornais das
23

épocas supra mencionadas, que traziam notícias e registros articulados ao contexto


em foco.

[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa


para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente,
insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado
relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase
totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas
épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece como o
único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado
recente (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI apud CELLARD, 2009,
p.2).

Conforme sinalizado anteriormente, para a realização desta pesquisa foi


elaborado dois questionários, levando-se em conta a dificuldade na efetivação de
entrevistas, pois os profissionais não apresentavam tempo favorável à sua
realização. Assim, além da pesquisa documental, foi realizada a coleta de dados
com o suporte de seis questionários com atores privilegiados, considerando como tal
trabalhadores que possuíssem informações relevantes e que participam ou
participaram das tomadas de decisão no contexto das políticas de saúde mental.
Tais entrevistas ocorreram no período de junho a agosto do ano em curso e foram
realizadas nos locais de trabalho dos interlocutores, e foram precedidas de uma
detalhada explicação, dos elementos mais relevantes da pesquisa, como seus
objetivos. Todos estes detalhes foram explicitados mediante o Termo de
Compromisso Livre e Esclarecidos (TCLE), seguindo o roteiro conforme ANEXO A.
Vale ressaltar que nesse caso as questões abordadas e que contaram nos
Roteiros de Entrevista, versaram sobre o desenvolvimento histórico das ações no
Estado da Paraíba em torno da saúde mental; o grau de participação dos
profissionais na história da luta antimanicomial e suas respectivas opiniões acerca
dos serviços substitutivos, seguindo o roteiro conforme ANEXO B e C,
respectivamente o Roteiro de Entrevista 1 e 2. O intuito destes dois roteiros circunda
a necessidade de estabelecer dados, tanto em torno das relações que se colocaram
no cenário da Política de Assistência à Saude Mental, quanto àquelas ações que
perpassam as relações na contemporaneidade. Par tanto se contemplou a
percepção de profissionais que atuaram e de outros que ainda atuam, em torno da
referida política.
24

As entrevistas foram constituídas por várias questões abertas, porém, houve


predominância de questões fechadas, para melhor atender aos objetivos do estudo,
configurando-se assim com dados qualitativos e quantitativos. Participaram desta
análise, profissionais de três CAPS, um NASF, do Complexo Psiquiátrico Juliano
Moreira em João Pessoa, do Núcleo de Saúde Mental na Secretaria Estadual de
Saúde em João Pessoa/JP e da própria Secretaria Estadual de Saúde/JP, além de
uma participante que por longas década esteve como militante do Movimento de
Luta Antimanicomial, no Estado da Paraíba, e que atualmente esta envolvida em
atividades da Universidade Federal da Paraíba, como docente.
Cumprindo os procedimentos estabelecidos na Resolução nº 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde, que trata das diretrizes e normas que regulamentam
as pesquisas envolvendo seres humanos, o projeto desta pesquisa foi submetido ao
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, obtendo a sua
aprovação. O que pode ser evidenciado mediante o ANEXO D.

Nesse sentido é importante mencionar que foram seguidas de perto todas as


recomendações éticas explicitadas da referida Resolução, no que diz respeito à
autonomia da pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil, através da utilização
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a todos os participantes da
pesquisa, que foram orientados a assiná-lo após leitura e compreensão do mesmo.
O tratamento dos dados obtidos através da pesquisa documental e das
entrevistas com os atores privilegiados, foram alocados no sub ítem que tenta
reconstruir o desenvolvimento histórico das políticas de saúde mental na Paraíba.
Não obstante, no debate teórico realizado houve inserções de dados empíricos que
muito enriqueceram essa atividade de cartografia.
Com intuito de aprofundar as impressões da atual prestação da assistência
psiquiátrica pública no Estado, realizou-se mais uma rodada de entrevistas, desta
feita com trabalhadores de nível superior que atuam em Centros de Atenção
Psicossocial do Estado da Paraíba, notadamente de João Pessoa, Sapé e Pedras
de Fogo. A opção por estes profissionais e por estes municípios se deu por
acessibilidade e pelo fato dos mesmos atuarem a mais de um ano com o cuidado
em saúde mental.
Os questionários foram entregues nos locais de trabalho dos participantes
seguindo o roteiro constante no ANEXO C, assim como fora sinalizado
25

aneriormente. Nesse caso, as questões abordadas referiram-se ao atual quadro em


que se apresenta a Política de Saúde Mental do Estado, bem como sobre o
conhecimento dos mesmos sobre os pressupostos da Reforma Psiquiátrica em
curso no país, passando também sobre a operacionalização da proposta dos CAPS
(na dimensão de serviços substitutivos) como instrumento principal da citada
reforma.
Para a fase da análise e interpretação dos dados, foram utilizadas técnicas e
instrumentos como: a estatística descritiva via uso de tabelas e quadros para análise
dos dados quantitativos. Estes instrumentos foram enumerados de acordo com a
ordem de entrega. Os dados quantitativos foram tabulados em planilha Excel e
depois transformados em gráficos representativos. Os dados qualitativos após leitura
cuidadosa foram codificados e analisados, o que resultou numa categorização com
variáveis mais amplas, que por sua vez foram interpretadas segundo a literatura e
referencial envoltos na temática aqui proposta.
Assim, este trabalho estruturou sua análise em três capítulos, além das
considerações finais. Tendo sempre como foco, contribuir para uma melhor
compreensão do processo histórico no qual se desenvolveu as expressões de
assistência ao doente mental, em diferentes conjunturas sociais.
O título 2 discute o contexto no qual se insere a trajetória da Política de Saúde
Mental no Brasil, bem como também em outros países. Partindo do princípio de que
o provimento de cuidado ao portador de transtorno mental de baixa renda sempre foi
mediado pelas formas históricas da psiquiatria e do Estado. Além disso, destaca
como marco desse trajeto, os Movimentos de Reforma Psiquiátrica em diversos
países, inclusive no Brasil sob a influência italiana de Franco Basaglia e que teve
como resultante, entre outros efeitos o Movimento de Luta Antimanicomial, e que
ocorreu por iniciativa do movimento nacional dos trabalhadores de saúde, que
eclodiram junto ao movimento de redemocratização do país, por meio dos quais
novas concepções foram sendo atribuídas à Política de Saúde Mental e contribuíram
para o novo modelo de assistência psiquiátrica, vigente na atualidade.
Este capítulo também visiona a realidade da Política de Assistência a Saúde
Mental, em nível nacional. O traçado histórico dessa política a revela em
consonância com o cenário mundial. O que implica afirmar que as ações no contexto
brasileiro, da assistência psiquiátrica pública também se desenvolveram de forma
cruel e excludente, sobretudo quando se tratava de atender pessoas desprovidas
26

por completo, inclusive de conhecimento referente ao mínimo no que tange aos


direitos sociais.
Por sua vez, o título 3 trata do processo em que se deram as primeiras
configurações da assistência a saúde mental na Paraíba, apontando os avanços e
retrocessos que a caracterizou, como também os pontos nodais e os fatores
influentes desse processo. Analisa os parâmetros que motivaram em nível local, as
mudanças no enfrentamento da problemática, enquanto manifestação da questão
social, e que, portanto demanda atenção estatal.
Faz ainda um percurso na constituição do quadro de serviços substitutivos e
como este tem sido percebido pelos atores envolvidos. Pontua inclusive a
necessidade de superação quando se trata da cultura hospitalocêntrica excludente e
que perdurou por um longo tempo no cenário nacional, e que ainda vigora na
realidade do Estado, até mesmo entre os profissionais que lidam continuamente com
as ações da assistência psiquiátrica pública.
Por fim, no título 4 são demarcados os resultados por meio da pesquisa de
campo. Mediante a coleta de dados ver-se-á como alguns dos mecanismos da
Política de Saúde Mental no Estado da Paraíba, tem exercido impacto junto à
população atendida pela Rede de Assistência a Saúde Mental.
Portanto, analisar essa problemática torna-se não só relevante para a realidade
brasileira, mas como forma de conhecimento local das reais condições de famílias
em condição de pobreza, nas quais se incluem pessoas vitimadas pelo processo de
adoecimento mental, como também a efetivação no que tange a Política de Proteção
Social, orientadas para este segmento.
27

2 O LUGAR DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO HISTÓRICO DA


POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

Este trabalho está pautado na preocupação com o debate sobre a reformulação


na efetivação dos serviços da Política de Saúde, enquanto política pública, que
compõe a proposta da Seguridade Social no Brasil. Assim, inicia-se aqui uma
discussão que apresenta alguns elementos no desenvolvimento da referida política.
Neste sentido, este capítulo sinaliza as primeiras expressões da política saúde
mental, como um processo que se insere em diferentes cenários históricos,
considerando as influências econômicas, políticas e sociais de cada período.
Aborda dentro deste contexto alguns aspectos, como o Movimento da Reforma
Sanitária, que impactaram na dinâmica da psiquiatria pública e seus principais
desdobramentos. Especialmente, pontua suas representações e mecanismos de
ação a partir da regulamentação da saúde em 1988. Pois este ano marcou os
avanços no que se refere à referida política, com a promulgação da Constituição
Federal. Finalmente, apresenta a formulação no que se refere ao campo dessa
política de saúde em especial. Para tanto, remete ao seu desenrolar histórico
considerando a maneira em que se efetivou a intervenção social, frente ao binômio
saúde/doença mental.

2.1 Políticas de Assistência à Saúde Mental no contexto internacional

Para traçar o percurso da trajetória da Política de Saúde Mental no Brasil,


devemos nos remeter ao seu desenrolar histórico, bem como, analisar de que
maneira se dava a intervenção, frente ao binômio saúde-doença mental. Para tanto,
se faz necessário percebermos de que forma eram compreendidas as pessoas
acometidas por alguma disfunção mental, e os mecanismos de enfrentamento da
problemática, que tinham por finalidade expressar alguma forma de assistência
psiquiátrica.
A análise do registro histórico revela que as concepções e tratamentos
direcionados a doença mental, como também suas modificações, estiveram
intimamente relacionadas com os diversos padrões culturais, sociais e econômicos
estabelecidos em cada período histórico. Neste respeito, o estudo realizado por
Pereira revela que,
28

Em linhas gerais, podemos esquematizar a “gênese da loucura


segundo três grandes momentos: 1) um período de liberdade e de
verdade que inclui os últimos séculos medievais (principalmente o
século XV) e o século XVI; 2) o período da “grande internação”, que
abrange os séculos XVII e XVIII; e 3) a época contemporânea, após
a Revolução Francesa, quando cabe a psiquiatria a tarefa de lidar
com os loucos que abarrotam os asilos” (1983, p. 49).

Ainda segundo o autor acima citado, a definição e percepção da loucura em


termos de doença assim como a concebemos na contemporaneidade, é um
processo que pode ser considerado como recente no desenvolvimento da civilização
ocidental. Neste processo, devemos considerar que muitos foram os fatores que
impactaram e contribuíram para as diferentes concepções que foram atribuídas à
loucura e seu enfrentamento no que tange a assistência.
Há ainda uma reflexão, que em sua elaboração fortalece a subdivisão
estruturada por Pereira, e com a qual é possível que estabeleçamos algumas
semelhanças. É apresentada por Ramminger (apud PESSOTTI), ao descrever a
trajetória da assistência psiquiátrica, bem como a evolução histórica do conceito
loucura. De forma didática, a autora argumenta que os períodos podem ser assim
divididos,

[...] antiguidade clássica, incluindo os principais pensadores gregos;


séculos XV e XVI, compreendendo os exorcistas com sua doutrina
demonista da loucura; séculos XVII e XVIII, caracterizando o
enfoque médico da alienação mental e, finalmente, o século XIX –
século dos manicômios (2002, p. 1).

Num quadro geral, uma reflexão histórica acerca da loucura revela que a
mesma tem acompanhado o homem ao longo de toda a sua trajetória. As
sociedades chamadas primitivas referendam de forma abundante a existência de
homens loucos, ou pontuando mais detalhadamente, indivíduos que na conduta e
/ou na linguagem transpareciam notadamente uma diferenciação das normas sociais
então estabelecidas e prevalecentes.

A história registra que a doença mental era considerada possessão


do homem por espíritos maléficos, crença esta presente entre os
povos egípcios, israelitas e gregos. As crises maníacas do rei Saul,
os acessos de licantropia de Nabucodonosor, as filhas de Pretos,
com crenças delirantes de se transformarem em vaca justificavam
expressões como possuídos, energúmenos, demoníacos de um lado
29

e paralelo a isso, certos delírios eram considerados inspirações e


mensagens divinas. Na Grécia, um louco era considerado uma
pessoa com poderes divinos, desta maneira o que dizia era ouvido
como um saber importante e necessário, capaz de interferir no
destino dos homens. Hipócrates (460-377 a.C.) começa a negar a
intervenção desses demônios e dessas interpretações divinas,
buscando as causas naturais das doenças até então consideradas
mal sagrado. Descreveu a mania, a melancolia, a paranóia e a
frente, conceitos estes que posteriormente influenciaram as
classificações. Acreditava que a patologia cerebral era um
desequilíbrio nos humores básicos (sangue, bílis amarela, bílis
negra e fleuma). Platão (429-347 a.C.) considerava que os
desequilíbrios mentais eram dependentes da parte orgânica, da
parte ética e da parte divina. Galeno (130-200 a.C.) referia que as
doenças mentais poderiam ser de origem orgânica ou psíquica,
dependendo então a saúde do equilíbrio entre o racional e o
irracional (BENTO, 17, 2003).

A consolidação desta afirmativa é vista na figura a seguir. A mesma evidencia


como se davam as formas de enfrentamento da questão, bem como o forte grau de
aceitação dessas. Em outras palavras, relacionar qualquer disfunção mental e/ou
psicológica a efeitos de possessões demoníacas era o que se pode chamar de
natural (grifo da autora) nos primórdios da assistência a saúde mental.

Figura nº. 1- A Cura da Loucura - Extração da Pedra da Loucura (1475-1480) de Hieronymus Bosch
Web Gallery of Art, Fonte: <http://gallery.euroweb.hu/html/b/bosch/painting/stone.html> 1996.

No desenvolver da Antiguidade e da Idade Média, a doença mental era uma


questão determinada pelos costumes e o louco usufruía de certa medida de
30

'liberdade' (grifo da autora) uma vez que fazia parte do cenário. Assim, é possível
afirmar que até então, a concepção para doença mental era eminentemente restrita
aos aspectos exteriores da loucura, especialmente quando estes se configuravam
como obstáculos para a vida em família e em comunidade.

Ao final da Idade Média, o homem europeu estabelece relação com


alguma coisa que confusamente designa Loucura, Demência,
Desrazão. Mas essa relação é experienciada em estado livre, isto é,
a loucura, faz parte da vida cotidiana e é uma experiência possível
para cada um, antes exaltada do que dominada. Durante certo
tempo, o mundo ocidental acolheu a experiência da loucura (...)
(PEREIRA, 1983, p. 49).

Neste momento da história, a condição da loucura era celebrada e revelada de


diversas formas no que tange a expressões artísticas. Mediante artes plásticas,
pinturas ou através da filosofia e da literatura a doença mental assumia significações
diferenciadas, e muitos artistas se sobressaíram na tentativa de revelar o que não se
compreendia na condição da loucura. Em algumas partes da Europa, houve a
exposição da animalidade que era apresentada na figura do homem louco. Por isso,
o tema da loucura na arte, na literatura e na pintura passa a ser visto de forma
diferente, está em ascensão e é percebido no simbolismo gótico (MILLANI;
VALENTE, 2008, p. 4).

Além de se expressar nos ritos populares, as artes plásticas (por


exemplo: Bosh; Breughel), as obras de filosofia ou de crítica moral
(por exemplo: Brant; Erasmo) e os textos literários (por exemplo:
Shakespeare; Cervantes) encarregaram-se de testemunhar
diferentemente o prestígio dessa loucura, cujos enigmas têm sobre
o homem um poder de atração. Na França, por exemplo, loucos
célebres escrevem livros que são publicados e lidos por um público
culto como obras de loucura (PEREIRA, 1983, p. 52).

Estas atividades artísticas revelaram no cenário do século XV e século XVI,


dois elementos que interagem no processo da loucura, e que até então, não haviam
sido plenamente pontuados pelos estudiosos. Primeiro, instaura-se o que Pereira
chama de “experiência trágica”. Essa era resultante da própria condição do indivíduo
que sofria com a loucura. O segundo aspecto, diz respeito ao que o autor denomina
de ”crítica moral”, ou “consciência crítica”. A esta cabia dar à loucura um sentido e
interpretação moral (1983, p. 59).
No entanto, este cenário sofreu alterações significativas, com o fim do
campesinato como classe e com a derrocada dos ofícios artesanais. Estas
31

mudanças se deram, sobretudo, no início da Idade Média com a falência do


feudalismo e, consequentemente, com os primeiros sinais norteadores e fundantes
do sistema capitalista, enquanto modo de produção. A partir daí, a doença mental
passou a ser vista como categoria que denotava problema social. Pois o advento da
manufatura inicial, como forma rudimentar de divisão social do trabalho, trouxe uma
nova conotação para a realização do mesmo. Assim, as concepções que até então
prevaleciam tornaram-se inadequadas, especialmente com a ascensão ideológica
da burguesia, que defendia tanto a racionalidade como a cientificidade na dinâmica
social.

(...) para o pensamento moderno do século XVII, é a preguiça que


ocupa o primeiro posto na hierarquia dos vícios. (...) O trabalho é,
portanto, moralmente obrigatório. Recusa-lo é revoltar-se contra
Deus. Ora, quando se cria o Hospital Geral, o que se pretende é
suprimir a mendicância, isto é, a ociosidade, como fonte das
desordens. A prática de internamento não tem sentido médico, nem
preocupações de cura, mas, é um problema de polícia. (...) A
exclusão social dos condenados dá-se por uma medida de reclusão.
Trata-se de uma medida que tem um sentido ético pela imposição
do trabalho aos ociosos (...) (PEREIRA, 1983, p. 65).

Agora, a rotina trabalhista não mais admitia costumeira liberdade individual. Ao


contrário defendia o que segundo Resende (1987) era uma submissão a um sistema
de trabalho, extremamente vigiado e altamente racionalizado. É notório, portanto, os
primeiros impactos das transformações/mutações no mundo do trabalho sobre as
expressões de assistência à saúde mental. Pois, como conseqüência desta nova
percepção, se deu início à exclusão e discriminação social do louco, em
consonância a afirmativa de Gama,

uma grande massa de mão de obra sem trabalho, empobrecida e


sem amparo social é recolhida. As oscilações do capitalismo
marcam uma maior ou menor quantidade de pessoas internadas,
fazendo as estruturas de internação cumprirem um papel
significativo na sociedade, encarcerando os pobres, oferecendo mão
de obra barata nos tempos de pleno emprego, aprisionando
indivíduos sem trabalho quando havia escassez na oferta de
serviços, e evitando revoltas(...) Constituíam-se, os internos, de
indivíduos com problemas diversos, mas unidos pela exclusão social
e econômica. Eram desempregados, mas também eram
depositados nesses locais “vagabundos, devassos, prostitutas,
ébrios, perdulários, órfãos”, e finalmente, os loucos (...) Portanto, os
loucos passam a ser internados no século XVII, independente de
qualquer concepção de tratamento ou cura. Eles fazem parte de
uma parcela discernível da sociedade, aqueles que não trabalhavam
32

perturbavam a ordem pública. A ética do trabalho impera nessa


época, numa confluência de dever moral e obrigação econômica,
pois o trabalho geraria a riqueza para acabar com a miséria que
grassava pelo país. A preguiça era considerada o pior dos vícios,
sendo os loucos aqueles que romperam com uma certa ética ligada
ao trabalho (GAMA, 2008, p. 24-26).

Ao mesmo tempo, estes passaram a perambular pelas ruas. Vitimados pelo


preconceito e abandono, começaram a ser vistos como uma ameaça à ordem
pública, ou seja, as pessoas que não se adequavam aos novos preceitos de
trabalho, e aqui eram incluídos os loucos, passaram a ser inaceitáveis. Encaradas
como anti-sociais eram até mesmo punidas pela mendicância, vagabundagem e
ociosidade.
Esta situação configurou um grave problema de ordem político-social, pois o
mesmo indivíduo que era considerado como louco e que não se adequava ao novo
regime de vivência social, também não poderia ser judicialmente responsabilizado
por seus atos. Dessa forma, a problemática se configurava da seguinte forma: como
lidar com a situação das pessoas que a partir daquele momento eram reconhecidas
como inadequadas à sociedade e sua dinâmica, sem fazer uso de medidas imbuídas
do arbítrio, bem como do autoritarismo? É neste momento que o conceito de
administração da loucura passa a ser considerado, no sentido de buscar os
mecanismos necessários de enfrentamento à questão.
Neste contexto, se acentuou as influências da medicina mental. Assim como
afirma Jabert (apud CASTEL), esta medicina serviu como um mecanismo que
“permitiu ao Estado estabelecer uma gestão técnica dos antagonismos sociais ao
apresentar uma solução para administração da loucura ao poder público” (2005, p.
694). A solução apresentada implicava no processo de internação, ou isolamento,
para as pessoas percebidas como loucas. Este reconhecimento ganhava respaldo
mediante um parecer técnico. Assim, o poder público atribuiu um valor legal à sua
interferência na gestão da loucura.

(...) Dessa forma, teria ocorrido um incremento do poder coercitivo


do Estado permitindo-lhe melhorar o controle e a regulação dos
grupos sociais marginais. A internação passou a ser determinada
por um conhecimento técnico científico, com valor legal - mesmo
não possuindo estatuto jurídico e, portanto, sem correr o risco de o
Estado ser acusado de legislar arbitrariamente ou de ameaçar as
instituições democráticas republicanas (JABERT, 2005, p. 694).
33

Dessa maneira, o asilo passou a ser visto como peça fundamental à


administração da loucura. Ou seja, transformado em hospital psiquiátrico todas as
atenções se voltaram para o asilo como mecanismo de assistência à saúde mental.
Estas eram percebidas e definidas como o meio pelo qual se efetivaria o processo
tanto de constituição da medicina como saber hegemônico de validação das práticas
no enfrentamento da loucura, como também seria a instituição mediante a qual o
campo psiquiátrico possibilitaria à sociedade e especialmente ao Estado, resolver o
problema advindo da loucura.
O hospício passou a ser uma instituição disciplinar para a reeducação do
louco/alienado. Nesse espaço de reclusão, o médico representava a figura de
autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico. Com o passar do
tempo, a grande maioria dos indivíduos que chegavam a essas instituições nunca
mais conseguiram sair. Essa situação perdurou em todos os manicômios e hospícios
surgidos na Europa e nos países colonizados durante mais de dois séculos.
(KOERICH, 2008)
Vale ressaltar um aspecto deste momento, que foi a influência da Igreja. As
medidas adotadas, como forma de lidar com os loucos, quase sempre eram dotadas
de ações do âmbito religioso. Neste respeito, Pereira, Labate e Farias afirmam que,
Na antiguidade os primeiros médicos eram sacerdotes que tratavam
os doentes mentais por métodos mágico-religiosos. Indicavam sono,
atividades, diversão, boas ações ou meditação para as pessoas
afetadas, porém, com explicações sobrenaturais (...). Na era
Clássica, também sob a influência mágico-religiosas, começou-se a
tentar justificativas racionais e materialísticas para explicar as
doenças (...) São Tomaz de Aquino influenciou com suas idéias até
os séculos XI e XII defendendo a tese sobre a separação entre
corpo e alma. A medicina monástica foi incentivada. Neste período,
os doentes mentais eram exorcizados e até queimados em fogueiras
(1998, p. 53).

Figura nº. 2- Doente mental sendo exorcizado/Fonte: <http//:www.alzheimermed.com.br>


34

Millani e Valente, também são autoras que corroboram com este fato, quando
afirmam que,

a loucura como fenômeno é relatada, inicialmente, na Antigüidade


grega e romana, junto a outras tantas doenças classificadas como
práticas mitológicas, manifestações sobrenaturais motivadas por
deuses e demônios. Nessa época, a loucura era identificada pela
influência da ideologia religiosa e pela força dos preconceitos
sagrados. (...) Nos tempos da Inquisição, a loucura foi entendida
como manifestação do sobrenatural, demoníaco e até satânico, e
classificada como expressão de bruxaria, cujo tratamento
caracterizou-se pela perseguição aos seus portadores, tal como se
praticava com os hereges. Em virtude do forte poder da Igreja, o
movimento de caça às bruxas, liderado pela Inquisição, objetivava
manter a aceitação e a concordância da crença religiosa. (...) Dessa
forma, a loucura, nessa época, identificava-se com os perfis e com
os papéis dos feiticeiros portadores de supostas doenças mentais,
repercutida pela relação de poder da igreja e da burguesia (2008, p.
3).

Aliadas ao hospício outras medidas de repressão foram surgindo, como casas


de correção e de trabalho e os hospitais gerais. Visto que abrigavam os que eram
classificados como pobres, doentes e indigentes de toda sorte, ou seja, os
socialmente excluídos estas instituições mascaravam o tratamento desumano que a
eles era aplicado. Na verdade estas apenas complementavam as medidas
legislativas de repressão já existentes, uma vez que se destinavam a limpar a
cidade, prover trabalho e reeducar nos moldes de uma moralidade embasada
predominantemente no cunho religioso.
A título de exemplo, podem ser citadas as colônias agrícolas. Estas eram
destinadas ao acolhimento e isolamento de alienados. Surgiram na Europa na
primeira metade século XIX como um novo procedimento asilar, ou seja, nova forma
de lidar com a loucura. Representava um novo equipamento da assistência
psiquiátrica, mais que apresentava a mesma perspectiva de confinamento aos
internos.

“O confinamento de doentes como prática habitual se desenvolveu


de maneiras diferentes: na França, ele surge em meados do século
XVII, com o favorecimento do Estado e pelo absolutismo de Luís XIV;
na Grã-Bretanha, o processo se dá de maneira diferente. Neste país,
o Estado não participou desta tendência médica e, antes do século
XIX, o que se acompanhou foi o crescimento dos manicômios
particulares” (PORTER, 1991, p. 1).

É importante ressaltarmos que estes mecanismos de intervenção foram


35

primariamente destinados às pessoas que padeciam com a lepra. No entanto, após


o fim das Cruzadas, esta terrível doença acabou desaparecendo. E embora os
valores e imagens a ela atribuídas tenham permanecido outros personagens
ocuparam o espaço deixado, como, “os pobres, os vagabundos e as cabeças
alienadas” (PEREIRA, 1983, p. 50).
É dentro deste contexto, que a loucura desvanece na cena social, e assume o
papel de reclusão que a ela era atribuído. Os doentes mentais passaram a ser
enclausurados nos porões das Santas Casas e Hospitais gerais e partilham com
outros destituídos e excluídos socialmente, de toda sorte e forma de punição e
tortura.

Socialmente ignorada por quase trezentos anos, a loucura acorda,


indisfarçavelmente notória, e vem engrossar as levas de vadios e
desordeiros nas cidades, e será arrastada na rede comum da
repressão à desordem, à mendicância, à ociosidade (RESENDE,
1987, p. 35).

Às vítimas de insanidade se reservavam alguns tratamentos médicos


específicos, que embora maquiados em alguns momentos, não se desqualificavam
como tortura. Contudo, no final do século XVIII, com as idéias do iluminismo, os
princípios da Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem nos
Estados Unidos, se inaugura outro posicionamento, com relação à loucura. Tendo
em vista que estes novos preceitos, estabeleciam que todos os homens poderiam
ser igualmente tratados, pois todos deveriam usufruir dos mesmos direitos, como o
da liberdade.
Esta nova leitura da realidade favoreceu o surgimento de crescentes denúncias
contra as medidas de tratamento no que tange ao doente mental, que resultava
unicamente em sua marginalização, e também contribuiu com as transformações
que se seguiram, destinadas ao doente mental assim. Neste respeito, Resende
afirma,

O final do século XVIII(...), viu crescer o movimento de denúncias


contra as internações- leia-se “sequestrações”- arbitrárias dos
doentes mentais, seu confinamento em promiscuidade com toda
espécie de marginalizados sociais e as torturas, disfarçadas ou não
sob a forma de tratamentos médicos, de que eram vítimas (1987, p.
25).
36

A partir deste período as intervenções no campo da loucura começaram a se


efetivar com um diferencial. Eram livres da influência religiosa, e orientadas pela
razão.

No iluminismo do século XVIII a crença na razão substitui a tradição


e a fé, em todos os aspectos da sociedade. As doenças passaram a
ser diagnosticadas com mais exatidão e localizadas com precisão e,
como o conceito de locali8zação é essencial ao desenvolvimento da
historia da psiquiatria orgânica a psicologia também estava sendo
tratada com a mesma orientação. Diminui o poder de magia como
forma de explicar a doença mental (PEREIRA; LABATE; FARIAS,
1998, p. 1).

Estes acontecimentos marcaram as mudanças que eram destinadas ao louco e


constituíram a gênese do que mais tarde representaria a Política de Assistência a
Saúde Mental. Neste cenário, alguns personagens que foram de encontro ao que se
pode chamar de assistência psiquiátrica tradicional, se destacaram como
protagonistas. Como por exemplo, Philippe Pinel.

Figura nº. 3- Philipp Pinel. Fonte: <http://www.art-prints-on-demand.com>

Nasceu em 1745. Era teólogo, matemático e médico formado em Tolouse. É


apontado como precursor dos chamados Alienistas Franceses. Estes constituíram
um segmento que estruturaram e sistematizaram o novo saber e prática técnico-
cientifíca direcionados à loucura. Pinel é referenciado como um dos primeiros a
desenvolver métodos considerados como humanizados, no tratamento dos doentes
mentais. Como médico chefe do asilo Bicêtre, em Paris, foi o primeiro a questionar a
ausência de humanidade. Para ele esta forma de lidar com os internos, apenas
incrementavam o ódio e a rebelião dos mesmos. Também defendia a utilização de
drogas medicinais terapêuticas para os que sofriam de transtornos mentais.

(...) sendo utilizado, de princípio, como primeiro medicamento


conhecido, o vinho misturado a bebidas alcoólicas destiladas; a
destilada para acalmar e o vinho, para a redução dos efeitos dos
37

destilados, no organismo dos pacientes, e dessa forma, poder aos


poucos, remover as amarras dos internos (COBRA, 1997, p. 3).

É apresentado como um revolucionário, sobretudo, pelo fato de que suas idéias


eram extremamente avançadas para a sua época. Ele “considerou as doenças
mentais como resultado ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causas
hereditárias, ou ainda originadas de acidentes físicos” (COBRA, 1997, p. 7).
Desprezava a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fosse
resultado de possessão demoníaca.
Com esta interpretação da loucura, os que padeciam com transtornos mentais,
seriam a partir daquele momento passíveis a tratamento, e com a possibilidade de
serem assistidos com ações especializadas. Desde que se submetessem aos
métodos aplicados, e assim evidenciassem alguma adaptação moral (grifo da
autora). Percebemos, então o quanto é pertinente a seguinte colocação de
Ramminger apud Pessotti,

Se antes não era necessária qualquer instituição especial para


alterar o estado fisiológico do cérebro, agora o manicômio torna-se
parte essencial do tratamento, saindo da condição de asilo onde se
abriga e enclausura o louco para a de instrumento de cura. Por
entender que a causa da loucura é excesso ou desvio, um tipo de
imoralidade, a cura passa pelo tratamento moral das afecções ou
paixões morais, sendo que a instituição asilar se impõe como
ambiente ideal de reordenação ou reeducação (...) é assim que o
médico se torna ordenador não só da vida (psíquica) do paciente,
mas também o agente da ordem social, da moral dominante (2002,
p. 3).

Conforme pontua Pereira, Labate e Farias “Pinel foi um pioneiro na luta pela
libertação dos doentes mentais e um dos responsáveis pela classificação das
doenças mentais” (1998, p.2). Um dos grandes feitos de Pinel enquanto
superintendente do asilo em Bicêtre em Paris foi à decisão de libertar os doentes
psiquiátricos, e os criminosos que o asilo também abrigava, das correntes usadas
para restrição física. “Na ocasião da Revolução Francesa, o hospital de Bicetrê, em
Paris, era considerado uma verdadeira “casa de horrores” onde os internados –
loucos, em sua maioria – eram abandonados à própria sorte” (KOERICH apud
DESVIAT, 2008).
Em 1795 Pinel foi nomeado médico chefe do Hospício de Salpêtrière, um asilo
feminino onde as doentes eram tratadas do mesmo modo e sob as condições que
havia encontrado em Bicêtre. Lá ele aplicou os mesmos métodos e obteve os
38

mesmos bons resultados, como livrar as doentes das correntes que as prendiam,
muitas acorrentadas por 30 a 40 anos.

Figura nº. 4- Paciente sendo libertada das correntes por ordem do Dr. Phillip Pinel em Salpêtriére-
Paris- 1795/ Fonte: Fig. 14: Quadro de Tony Robert-Fleury, "Loucas da Salpêtrière", 1886 Fonte:
<http//:www.rio.rj.gov.br/saude/pinel/historico/corpo-his>, 2002.

Pinel aboliu tratamentos como sangria, purgações, e vesicatórios,


em favor de uma terapia que incluía contacto próximo e amigável
com o paciente, discussão de dificuldades pessoais, e um programa
de atividades dirigidas. Preocupava-se também em que o pessoal
auxiliar recebesse treinamento adequado e que a administração das
instituições fosse competente (COBRA, 1997, p. 7).

No entanto, algumas leituras divergem quanto a se às contribuições de Pinel


foram realmente positivas, no que diz respeito à assistência psiquiátrica. Mesmo
pontuando o duplo advento dos métodos caracterizados pelo humanismo e o caráter
científico utilizados por Pinel e seus contemporâneos, alguns afirmam que estes não
romperam realmente com antigas práticas de tratamento destinados aos alienados.
Antes, as estreitaram em torno dos mesmos, com uma nova roupagem. Como afirma
Araújo (2002), ao citar em sua pesquisa o trabalho desenvolvido por Wiliam Tuke,
outro Alienista Francês.
A autora aponta que o asilo reconhecido como ideal montado por Tuke, embora
fosse considerado como a reconstituição de uma quase família, onde o alienado
deveria sentir-se em casa, era na verdade um símbolo do aprisionamento
tradicional. Pois estes sofriam com um processo de controle social e moral
ininterrupto. Para se conseguir a cura e por fim o retorno ao seio da família, estes
precisavam ser submetidos a mecanismos “como ameaças, castigos, privações
alimentares, e humilhações, tudo o que irá fazer ao mesmo tempo infantilizar e
culpabilizar o louco” (ARAÚJO, 2002, p. 1). Este foi um dos fatores que contribuíram
para que a doutrina de Pinel e de seus contemporâneos fosse “gradualmente
39

obscurecida, principalmente pelo emprego inadequado do tratamento moral que


determinou inúmeros abusos de práticas repressivas nos manicômios”
(RAMMINGER, 2002, p.3).
Partindo desta concepção, os asilos se configuravam como uma espécie de
instância perpétua de julgamento, pois o louco

(...) tinha de ser vigiado nos seus gestos, rebaixado nas suas
pretensões, contradito no seu delírio, ridicularizado nos seus erros: a
sanção tinha que seguir imediatamente qualquer desvio em relação
a uma conduta normal. E isto sob a direção do médico que está
encarregado mais de um controle ético do que de uma intervenção
terapêutica. Ele é, no asilo, o agente das sínteses morais (idem).

Embora atualmente façamos uma leitura de práticas tradicionais de assistência


à saúde mental como as sangrias e purgações, enquanto reflexos de barbárie, na
época as mesmas eram muito comuns, e promovidas sobre o crivo da Igreja.
Assim, se vê o que representou os primórdios da assistência psiquiátrica e
seus princípios, constituído basicamente de um movimento de reforma que pela
primeira vez, reivindicavam que os loucos fossem separados de seus colegas de
infortúnio e recebessem cuidado psiquiátrico específico. E foram estas as mudanças
que impulsionaram novas formas de ver e o agir com relação ao doente mental no
cenário brasileiro, como veremos adiante.

2.2 Análise sobre a Trajetória da Política de Saúde Mental no cenário brasileiro

Uma análise da trajetória que inclui a história da loucura em suas várias


manifestações, bem como as diversas formas de lidar com a mesma em todo o
mundo, revela que esta problemática foi quase sempre perpassada por
acontecimentos marcantes e contraditórios.
Esta situação não foi diferente no contexto brasileiro. Por isso, dissertar acerca
da Política de Assistência Psiquiátrica no Brasil, requer uma sistematização de
alguns dos fatores que permitiram esta discussão. Assim, é imprescindível
considerarmos que o debate em torno desta política é uma possibilidade recente,
sobretudo, conquistada a partir da Reforma Psiquiátrica e das garantias
asseguradas com a Constituição Federal de 1988. Só a partir desse momento, é que
o modo no lidar com o doente mental passou de fato a ser questionado, com
40

respaldo médico-científico.
De modo geral, ao adentramos no registro histórico brasileiro identificamos que
o doente mental usufruía de relativa liberdade, sobretudo nos primeiros anos do
século XIX, já que lhes era permitido vaguear pelas cidades, aldeias e campos.
Sobreviviam da caridade pública e quando muito, se pertencessem a famílias
abastadas, eram escondidos e tratados em casa sob construções anexas. Assim, a
problemática que envolvia a doença mental foi silenciada por muito tempo.
Por conseguinte, este proceder não mantinha sob controle, o que de fato era
real: a existência de inúmeras pessoas vítimas da insanidade mental. Por isso,
embora ignorada por muitos anos, a loucura passou a ter maior visibilidade no
cotidiano das cidades e tornou ainda mais numerosa as fileiras dos marginalizados
de outra natureza, visto que na maioria das vezes os “loucos” eram tidos como
sinônimos de desordem e ociosidade, perturbação da paz social e obstáculo ao
crescimento econômico. Assim, foi apontada como solução a remoção destes
“elementos” perturbadores do convívio social. Portanto, é possível afirmar que desde
as suas primeiras expressões, a assistência psiquiátrica brasileira revelou ser
marcadamente excludente.
Na área da saúde mental, não consta do registro brasileiro, uma sistematização
de uma política específica, que lidasse com especialidade os doentes mentais.
Como conseqüência, não se dispõe de um registro com informações mais
elementares. Apesar disso, é possível perceber o quanto as medidas de assistência
psiquiátrica foram influenciadas pelos métodos franceses de Pinel e de seus
contemporâneos alienistas. E embora tenha sido feita certa adaptação à realidade
local, enquanto na Europa o lidar com a loucura estava sendo relacionado à
assistência, no Brasil por um longo período as ações adotadas se concentraram na
ampliação de manicômios, que atribuía ao interno uma condição de exclusão.
Além disso, é possível identificarmos que muitos fatores contribuíram para a
precariedade da estrutura assistencial em saúde, o que engloba a área de saúde
mental. A assistência pública aos doentes mentais deixava muito a desejar, com
exceção dos grandes centros. São Paulo é um desses exemplos, que possuía um
investimento econômico considerável. O que também resultava em grandes
investimentos em saneamento e saúde pública para assegurar o crescente fluxo de
mão-de-obra, paralelo ao controle das doenças de uma forma geral.
A narrativa histórica situa como marco institucional da assistência psiquiátrica
41

brasileira o ano de 1852, pois neste foi inaugurado pelo Imperador D. Pedro II, o
hospício que foi determinado pelo decreto imperial n° 82, e recebeu seu nome na
Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Este tinha por meta admitir a demanda de todo o
império e capacidade para receber 350 pessoas, o que aconteceu em pouco mais
de um ano, com pessoas provenientes da Santa Casa e da enfermaria provisória
que havia sido criada na Praia Vermelha.
O hospício deveria ser um instrumento de cura, sendo a sua organização
cuidadosamente planejada, assim como a localização dos pacientes no seu interior.
A partir desse momento a psiquiatria no Brasil passa a ser admitida como
especialidade médica, como já ocorria na Europa, e ganha seu local de prática
efetiva.
Como assinala Resende, ao comentar sobre este marco para a psiquiatria
brasileira,

As opiniões são unânimes em situar o marco institucional da


assistência psiquiátrica brasileira em 1852(...), foi inaugurado pelo
próprio Imperador D. Pedro II, o hospício que recebeu seu nome no
Rio de Janeiro (...) e destinava-se a receber pessoas de todo o
império (um contra-senso dadas às dimensões do território e as
dificuldades de transporte e comunicação, na época) (1987, p. 37).

Figura nº. 5 - Hospício D. Pedro II, Gravura Victor Frond, 1852. Fonte: CD-Rom Projeto Memória da
Psiquiatria, 2000

No entanto, alguns estudos apontam os aspectos que convergiram, e


conseqüentemente favoreceram a inauguração do mesmo. Assim como esclarece
Ramos e Geremias,

(...) havia motivos muito mais substanciais para a criação do


42

Hospício de Alienados do que uma simples homenagem piedosa e


desinteressada ao novo Imperador (...) Uma destas dizia respeito à
disputa de poder médico-político entre a recém criada Junta de
Higiene Pública e a poderosa Santa Casa da Misericórdia,
representada por seu Provedor José Clemente Pereira e apoiada
por importantes segmentos da Academia Imperial de Medicina
(2003, p. 8).

Esta disputa decorria do fato de que os representantes da Junta de Higiene


passaram a apontar algumas casas que se encontravam em condições de
precariedade, como focos de insalubridade. E desta forma, poderiam ser fonte de
várias doenças. O que já se configurava num problema de ordem social, devido à
impossibilidade no atendimento da demanda que se apresentava quanto à
assistência a saúde, o que incluía os alienados.
A atitude da Junta de Higiene foi especialmente estimulada pelo surgimento da
febre amarela, que se expandiu com o crescimento demasiadamente rápido e
desordenado da população do Rio de Janeiro e de seu espaço urbano, ocorridos
com a transformação da cidade em capital do reino com a vinda da Corte
Portuguesa para o Brasil. Esses aspectos acabaram repercutindo de forma
extremamente negativa para a saúde geral da população, inclusive para a saúde
mental. Isso contribuiu para o aumento do número de alienados confinados nas
prisões e fez crescer a quantidade de casos recolhidos às enfermarias da Santa
Casa da Misericórdia.
No entanto, algumas das residências que foram denunciadas pela Junta de
Higiene, eram de propriedade de benfeitores da Santa Casa. Estes, por sua vez,
começaram a propor para a cidade a necessidade de se redefinir “a questão da
eficácia do hospital e das questões de densidade de pacientas e especificidade de
doenças” (RAMOS; GEREMIAS, 2003, p. 9). A partir desta proposta algumas
patologias, seriam acompanhadas de uma forma mais específica. Assim, se deu
início a algumas mudanças. A partir de 1840, foi providenciada a remoção para
outras partes do Rio de Janeiro, de “miasmas” (o cemitério e as enfermarias de
doenças contagiosas) e de "caos" (as enfermarias de alienados). (idem). Inicia-se
também, a reconstrução do Hospital Central, o qual originou o primeiro hospício no
Brasil.
43

Quadro nº. 1-Primeiros hospícios públicos para alienados no Brasil

Ano Estabelecimento (município)


Província/Estado
Rio de Janeiro1852 Hospício de Pedro II (Rio de Janeiro)
1878 Enfermaria de Alienados anexa ao Hospital São João
1890 Batista (Niterói)
Colônias de São Bento e Conde de Mesquita (Ilha do
Governador)
São Paulo 1852 Hospício Provisório de Alienados de São Paulo (Rua
1864 São João)
1895 Hospício de Alienados de São Paulo (Chácara da
1898 Tabatingüera)
Hospício-colônia provisório de Sorocaba
Hospício-colônia de Juqueri (atual Franco da Rocha)
Pernambuco 1864 Hospício de Alienados de Recife-Olinda (da Visitação
1883 de Santa Isabel)
Hospício da Tamarineira (Recife)
Pará 1873 Hospício Provisório de Alienados (Belém, próximo ao
1892 Hospício dos Lázaros).
Hospício do Marco da Légua (Belém)
Bahia 1874 Asilo de Alienados São João de Deus (Salvador)
Rio Grande do 1884 Hospício de Alienados São Pedro (Porto Alegre)
Sul
Ceará 1886 Asilo de Alienados São Vicente de Paula (Fortaleza)
Alagoas 1891 Asilo de Santa Leopoldina (Maceió)
Paraíba 1890 Asilo de Alienados do Hospital Santa Ana (João
Pessoa)
Amazonas 1894 Hospício Eduardo Ribeiro (Manaus)
Minas Gerais 1903 Hospício de Barbacena
Paraná 1903 Hospício Nossa Senhora da Luz (Curitiba)
Maranhão 1905 Hospício de Alienados (São Luis do Maranhão)
Fonte: Conforme informações de Moreira (1905) e Medeiros (1977)

Nos anos e décadas seguintes, outras instituições foram construídas com o


intuito de abarcar a crescente demanda psiquiátrica. Na verdade, nos cem anos que
se seguiram à fundação do Hospício D. Pedro II, nota-se a proliferação de muitos
outros, predominantemente nas capitais dos Estados. Porém, a situação de
44

urgência muitas vezes, não permitia que se esperasse a construção de hospícios


apropriados, o que levava a experiência de instalações provisórias e precárias.
Apesar disso, muitas destas construções se destacaram em seu papel como
símbolo da assistência psiquiátrica.

Figura nº. 6 - Colônia do Juqueri / Fonte:<http:// www.Omelhordobairro.com.br>


Acresce a isso que, sob o argumento da necessidade de se propiciar aos
doentes, tranqüilidade e espaço, estes eram construídos em lugares cada vez mais
afastados das regiões que porventura estivessem povoadas. Esta medida, por um
lado garantia o isolamento e a proteção contra fugas, mas por outro contribuía para
a inacessibilidade, inclusive dos médicos uma vez que não se dispunham a
locomover-se até o local. Também, “dava legitimidade à exclusão de indivíduos
indesejáveis, mas que não se enquadravam no sistema penal” (KOERICH apud
AMARANTE, 2003).
Refletirmos na afirmativa de koerich (2003), nos leva a perceber como marco
inovador para assistência psiquiátrica, o questionamento relacionado ao que fazer
com os loucos. Percebem-se os primeiros reflexos da preocupação quanto a um
enfrentamento diferenciado para esta categoria. Tendo em vista que não poderiam
ser deixados a própria sorte, mais também, no que diz respeito à assistência não
deveriam ser igualados a outros segmentos da sociedade. Por isto, a ação do
Estado começa a se dar de uma forma mais específica e são tomadas providencias
no sentido de atender a demanda, como a construção de hospícios com
atendimento exclusivos a indivíduos com adoecimento mental, como fica evidente no
quadro abaixo.
A história aponta para o período posterior a Proclamação da República, os
primeiros sinais da psiquiatria científica, que se configurou como um avanço para o
trajeto da assistência psiquiátrica. Como também as medidas de laicização das
instituições asilares e a ascensão da classe médica que passou a ter
45

representatividade no controle das instituições de assistência ao doente mental.


Pois até a criação e inauguração do Hospício D. Pedro II, ainda não havia se
constituído este modelo de assistência ao doente mental. Assim, mesmo com
expansão da influência dos alienistas franceses na medicina da época, o primeiro
hospício brasileiro precedeu a existência de um grupo especializado, com
organização institucional que se auto-representasse como psiquiátrico.
Entretanto, embora as iniciativas medicamentosas estivessem livres do
elemento religioso, estas ainda serviam ao propósito da ideologia burguesa
européia. Assim, visto que a prática psiquiátrica no âmbito da assistência não existe
num vácuo social, era de se esperar que assimilasse os novos critérios de produção
econômica. Por isso absorveu a lógica de devolver à comunidade pessoas tratadas
e curadas, aptas para o trabalho. Em contraponto com este projeto, as colônias
agrícolas não representavam efetivamente uma melhoria no panorama da
assistência psiquiátrica, pois quando muito, só conseguiam devolver indivíduos
pouco capacitados, para uma sociedade que não favorecia o convívio.
No Brasil a adesão a esta política impulsionou a construção de inúmeras
colônias agrícolas. Elas foram sinalizadas como soluções globais para a
problemática da loucura na sociedade, visto que se propunha a assistir o doente em
todas as fases da evolução de sua doença, seguindo a tendência de que a natureza
por si só faria bem às pessoas internadas, além do trabalho agrícola.
A seguir, é possível visualizar a realidade que se desenvolvia através dessas
unidades de trabalho agrícolas, bem como as atividades que eram
promovidas/desenvolvidas por meio delas.

Figura nº. 7,8 e 9 - Trabalho agrícola, pacientes e aviários das colônias da Ilha do Governador. Fonte:
Mostra Virtual “Memória da Loucura”, 2000.
Entretanto, estas instituições se configuravam em nada mais do que hospícios
situados em áreas rurais, que serviam para escoar os inúmeros pacientes crônicos
excedentes dos hospícios. A título de citação, foram construídas no Rio de Janeiro
46

duas Colônias, uma para mulheres, no Engenho de Dentro e outra para homens, em
Jacarepaguá.
Há também uma instituição que pode ser citada é o Hospital colônia do Rio
Grande do Sul. Este na década de 1970 passou a comportar um Centro Agrícola de
Reabilitação - CAR. Acolhendo cerca de 180 pacientes advindos do Hospital São
Pedro, constituía uma unidade psiquiátrica e intencionava recuperação da saúde
mental dos indivíduos originários da zona rural, mediante o trabalho agrícola.
Era dotado das mesmas características dos outros hospitais que foram
construídos na época, e tinha a mesma localização geográfica. Situava-se na zona
rural e mantinha os que ali se encontravam internos, totalmente afastados do
contato com a civilização urbana, acreditando-se que a natureza iria contribuir com a
cura dos mesmos.

Figura nº. 10- Hospital Colônia – agrícola Rio Grane do Sul/ Fonte: <http://www.saude.rs.gov.br>
Outro fator que merece ser analisado neste processo é o fato de que embora
até aquele momento, a conjuntura brasileira tenha avançado em seus tratos com os
doentes mentais, boa parte das ações desenvolvidas ainda não concebiam a
discussão voltada à cidadania destes. Ao contrário, as normatizações orientavam-
se pelo código civil de 1919. Entre outros, o Artigo 5º preceituava o louco de todo
gênero, como absolutamente incapaz de exercer, ele mesmo atividades da vida civil.
Essa situação começou a sofrer mudanças, em 1923 com a criação da Liga
Brasileira de Higiene mental. Fundada no Rio de Janeiro pelo psiquiatra Gustavo
Riedel, que recebeu a incumbência de Clifford Beers ativista americano em prol da
melhoria do atendimento aos portadores de doença mental, a LBHM tinha como
primazia a melhoria na assistência aos doentes mentais, através da modernização
do atendimento psiquiátrico. Até 1923, seguiu a orientação de seu fundador, mas, a
partir de 1926, seus administradores foram influenciados pelo contexto político e
pelo contato com idéias alemãs, francesas e norte-americanas e assim, mudaram-se
os rumos de suas atividades.
47

Os diretores da Liga mudaram sua orientação, e passaram a concretizar uma


tentativa de “normalizar” a população. “Os princípios da eugenia e da higiene mental
incentivavam psiquiatras que pretendiam colaborar para a criação de uma nação
próspera, moderna e mais saudável” (SEIXAS; MOTA; ZILBREMAN, 2009, p.1). Ou
seja, baseadas na Biologia e pensamento eugenista da psiquiatria organicista
alemã, começaram a recomendar medidas de purificação da raça brasileira no
sentido de poder criar um indivíduo mentalmente sadio. Apoiada no preconceito
racial, esta forma de pensar contribuiu para que a psiquiatria se omitisse diante das
diferenças étnicas, culturais e sociais e responsabiliza-se o campo biológico pela
ecclusão dos inadaptados à produção. E a LBHM foi criada com o intuito de ser o
primeiro projeto de administração social da loucura no país (KOBAYASHI; FARIA
COSTA, 2009).

A LBHM surgiu como aliada nas aspirações do movimento sanitarista


e eugênico de melhoramento do povo brasileiro (...) Os psiquiatras
brasileiros estavam convencidos de que por meio de ações voltadas
para a defesa da saúde psíquica, contribuiriam na ampla tarefa de
regeneração social. Os temas considerados importantes nessa
empreitada eram semelhantes àqueles defendidos pelos eugenistas,
higienistas e médicos em geral: combate ao alcoolismo e aos "vícios
sociais", imigração, seleção e orientação profissional, matrimônios,
esterilização compulsória daqueles considerados degenerados,
"atenção à infância para um desenvolvimento mental sadio e
eugênico". Ou seja: visavam o "melhoramento da raça brasileira”
(KOBAYASHI; FARIA; COSTA, 2009, p. 1).

Felizmente, esta foi uma década caracterizada por outras mudanças na área
da assistência psiquiátrica. Algumas construções foram promovidas, como a colônia
de alienados de Jacarepaguá, em 29 de março de 1924. Ali foram abrigados os
indivíduos que vinham transferidos da Ilha do Governador. Recebeu o nome de
Colônia Juliano Moreira (CLM) em meados da década de 1930, mais
especificamente em 13 de Janeiro de 1937, com respaldo da Lei nº. 378. Dos anos
20 aos 80, funcionava como destino final para pacientes considerados
1
irrecuperáveis.
E não foi por acaso que esta colônia passou a ser nomeada, e reconhecida
como Juliano Moreira, pois este foi no Brasil, um dos grandes protagonistas da

1
Na década de 1960, esse hospital-colônia chegou a abrigar cerca de 5.00 pessoas. No início dos
anos 80, após longo processo de deterioração, a instituição iniciou uma transformação do seu modelo
assistencial, em consonância com a Reforma Psiquiátrica que vinha acontecendo em diversos
países. (DADTE, 2001, p.1)
48

assistência psiquiátrica, tal como a configuramos hoje. De 1903 a 1930, no Rio de


Janeiro, Juliano Moreira dirigiu o Hospício Nacional de Alienados, e mudou a história
da Saúde Mental no Brasil, pois assumiu um posicionamento que era minoritário
entre os médicos.
Aliado as correntes que representavam à modernização teórica da psiquiatria e
da prática asilar, ele entendia que as ações de assistência às degenerações
nervosas e mentais, deveriam combater o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as
condições sanitárias e educacionais adversas. Seu trabalho estava em harmonia
com a linha de desenvolvimento da medicina brasileira dos primeiros anos do século
XX. Até aquele momento, se acreditava na possibilidade de dirigir o processo de
modernização e sanitarização do país.

Assim também cria Juliano Moreira e sua atuação foi coerente com
esta visão; para ele, o principal papel da psiquiatria estava na
profilaxia, na promoção da higiene mental e da eugenia. Em que
pese o caráter francamente intervencionista deste projeto médico,
não se pode negar o brilhantismo, a coragem e a originalidade deste
fundador da psiquiatria brasileira (...) defendeu a reformulação da
assistência psiquiátrica pública, tanto no âmbito legislativo quanto
assistencial (GÉLEDÉS PORTAL).

Figura nº. 11- Juliano Moreira. Fonte:<http//www.aperjrio.org.br>


Até então, a psiquiatria brasileira se mantivera subsidiária exclusiva da escola
francesa, apenas copiando, sem considerar as diversidades culturais existentes.
Com Juliano Moreira, a Psiquiatria se ampliou, universalizando-se, e procurando
ganhar uma forma nacional. Isto é evidenciado pelo fato de que incentivou a
promulgação da primeira lei federal de assistência aos alienados de 1903.
A respeito deste Decreto, que por algum tempo orientou a assistência
psiquiátrica, Macedo (2006) afirma que representou a primeira iniciativa da
49

implantação de uma legislação referente aos doentes mentais no Brasil. O Decreto


1.132/1903 partiu do então deputado João Carlos Teixeira Brandão e foi promulgado
no governo do presidente Rodrigues Alves. Brandão era o estava responsável por
reorganizar a assistência aos alienados. Por meio deste decreto, se normatizou “a
humanização dos tratamentos, ao menos nos parâmetros do pensamento da época.
“A loucura e a doença mental, como em outras partes do mundo ocidental,
permaneceram ligadas a três dimensões: médica, jurídica e social”. A psiquiatria
possui em si estas três dimensões, sendo ao mesmo tempo médica (assistencial) e
vinculada ao controle da ordem pública.” (apud AMARANTE, 2006, p.1).
Este decreto lei, também refletia o empenho da classe médica psiquiátrica em
reservar a si mesma um espaço exclusivo de atuação. A partir desta lei, o único
lugar autorizado a receber loucos era o hospício, por reunir condições adequadas, e
toda internação estaria sujeita ao parecer do médico. Em verdade no Brasil até o
século XX não se pode falar propriamente em psiquiatras no Brasil. Pois até então,
os médicos dos asilos, os chamados alienistas, eram, em grande parte, clínicos
gerais e legistas. Assim, se fez necessário a regulamentação desta atividade, que
na época começava a ampliar seu campo de atuação na proporção em que
aumentava a quantidade de asilos pelo território brasileiro.
Ao se fazer um paralelo com as ações que são desenvolvidas atualmente, é
possível pontuarmos alguns elementos que evidenciam uma certa discrepância nas
ações. A primeira, é que a classe médica se denominava como única detentora da
verdade em torno do doente mental, e, portanto, a única com poder absoluto sobre o
mesmo. Esse posicionamento nos leva ao segundo aspecto. Propagava-se a idéia
de que o louco não possuía a capacidade de gerir seus bens e sua pessoa,
consequentemente, sua vida. Portanto, carecia da tutela de um curador. Do mesmo
modo, a este paciente não se deliberava o direito de interferir, ou mesmo conhecer o
tratamento a ele aplicado. (MACEDO, 2006).
Esta breve explanação nos faz perceber que em meio a esta classe, o médico
Juliano Moreira realmente se sobressaiu, na medida em que sugeriu que novos
formatos institucionais e de tratamento para a doença mental deveriam ser
implementados. Suas primeiras ações enquanto diretor do hospício refletiram seu
intuito de promover reformas não apenas materiais, que já seriam de suma
importância, mais sobretudo mudanças éticas e expressaram veementemente a sua
principal preocupação.
50

Retira as grades das janelas das enfermarias e abole os coletes e


camisas de força. Recupera e constrói pavilhões. Cria o Pavilhão
Seabra, um amplo prédio com equipamentos trazidos da Europa,
para fazer funcionar oficinas de ferreiro, bombeiro, mecânica
elétrica, carpintaria, marcenaria, tipografia e encadernação,
sapataria, colchoaria, vassouraria e pintura, atividades que
contribuíam para recuperação dos assistidos e alguma renda
particular. O grande salão no pavimento superior passa a ter
diariamente alguém dedilhando o piano, levando as sonatas e
sinfonias invadirem os corredores e chegarem aos ouvidos dos
pacientes. Torna o hospital um grande centro cultural reunindo
professores, cientistas e trabalhadores. Implanta oficinas artísticas
antecipando-se as terapias ocupacionais desenvolvidas depois pela
magnífica psiquiatra alagoana Nise da Silveira. À vontade e a
determinação com seu trabalho o faz mudar-se do bairro de São
Cristóvão para ir morar numa casa dentro do hospital (MACEDO,
2006, p. 1).

No entanto, as mudanças políticas que se seguiram no cenário brasileiro,


acarretaram em um novo contexto de atuação para o médico brilhante. Em
novembro de 1930, o novo presidente - Getúlio Vargas - dissolveu o Congresso
Nacional, as câmaras e as assembléias estaduais. Nomeou interventores nos
estados, manteve seus compromissos com a as oligarquias dissidentes, e em oito
de dezembro de 1930 Juliano Moreira foi destituído da direção do hospital e
aposentado.

Aquele prédio próximo à grandiosa beleza natural do Rio de Janeiro


- o Pão de Açúcar - foi durante 28 anos o palco em que o Mestre
Juliano Moreira representou o papel central da psiquiatria brasileira.
Sem ele, aquele monumento arquitetônico encerrou seu ciclo
psiquiátrico, renascendo tempos depois como um "Palácio
Universitário" impulsionado por um novo baiano - Pedro Calmon
(idem).

Ainda na década de 1930, houve a promulgação do decreto que revogou o


anterior, de 1903. Em meio às modificações impostas pelo governo provisório de
Getúlio Vargas, também a assistência e a relação entre poder público e doente
mental foram alteradas. Agora o Decreto de nº. 24.559 de 1934 passou a dispor
sobre a profilaxia mental, a assistência e a proteção à pessoa e aos bens dos
psicopatas, bem com a fiscalização dos serviços psiquiátricos. Houve também
alteração do termo alienado no ordenamento jurídico, que passou a referir-se
somente ao psicopata, considerada uma denominação mais ampla. Novamente fora
afirmada a incapacidade do doente mental, sendo facilitado o recurso à internação.
51

Esta medida era reconhecida como solução e válida por qualquer motivo que
tornasse incômoda a manutenção do psicopata em sua residência.
Com esta prerrogativa, as internações eram a regra, e qualquer possibilidade
de tratamento extra-hospitalar era exceção. Neste momento, a mera suspeita de que
o indivíduo estava acometido com a doença mental, era suficiente para que o
mesmo fosse cerceado de sua liberdade em asilos, com a subseqüente privação de
seus direitos civis, e submissão à tutela do Estado. É possível, contarmos com este
elemento enquanto um dos fatores que estimularam o alto índice de internações.

As fontes pesquisadas, se não apresentam dados precisos sobre o


funcionamento anual da CJM nos anos de 1940, nos dão um
panorama bastante expressivo de como foi se constituindo essa
instituição nesse período, tornando-se então a instituição de início
dos anos de 1950. Através da quantificação das fichas de
observações quando da entrada dos internos, observamos que foi
durante a década de 1940 que houve maior afluxo de novos doentes
para tratamento na CJM. A documentação de fichas de observações
consultadas no Núcleo de Documentação e Pesquisa do atual
Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMAS-
JM), totaliza a entrada de 122 pacientes masculinos na década de
1920 e 1.602 pacientes homens na década de 1930, enquanto que
na década de 1940 o número de novas entradas de homens chega
a 2.805, decaindo para 1.054 na década de 1950. Com relação à
população feminina, observa-se que foi no ano de 1942 que foi
criado o Núcleo Teixeira Brandão (mulheres), havendo também na
década de 1940 um maior afluxo de pacientes do sexo feminino do
que na década anterior ou posterior (VENÂNCIO; CASSÍLIA, 2007,
p. 5).

Juridicamente não havia garantias contra esta medida, embora formalmente


existisse o Conselho de Proteção aos Psicopatas. Com este conselho, criado em 3
de julho de 1934, sob o Decreto nº. 24.559/34 reafirmou-se a relação da Justiça e a
Psiquiatria com o tratamento sendo associado ao posicionamento legal. A partir daí,
o psicopata passou a ser visto segundo os enfoques, jurídico e médico, na medida
em que sua mera existência era uma questão de ordem pública, em razão do
potencial de periculosidade.

Como ficou definido por Foucault e Castel, o processo que levou à


definição de periculosidade social está no plano da ordem pública e
não está vinculada à natureza do sofrimento psíquico. Toda pessoa
internada torna-se, por definição, perigosa. A medicina mental
ratificou em sua definição de doença mental a equação doente
mental-perigo social. Sendo assim, a definição jurídica não poderia
deixar de reafirmar a sua presença (MACEDO apud AMARANTE,
2006, p.1).
52

De interesse é analisarmos de perto alguns dos artigos deste decreto, e que


reafirmam as colocações de Macedo. Neste sentido, a sistematização elaborada por
Costa pode ser de ajuda. Ele destaca os artigos 5º, 10°, 21°, 26º e 33º,
respectivamente, e a sua explanação auxilia a nossa compreensão quanto à forma
em que se percebiam e consequentemente lidavam com o doente mental neste
período.

A “doença mental” é caso de polícia e de ordem pública (...) A


Psiquiatria passa a atuar como “sociedade política” (repressiva) e
como “sociedade civil” (criadora de ideologia), legando aos
psiquiatras poderes amplos sobre o “doente mental” e mesmo o
direito de questionar uma ordem judicial (...) O louco perde a
cidadania (...) As instituições psiquiátricas privadas aumentam a sua
participação frente ao Judiciário e um número maior de loucos
oriundos de famílias abastadas passa a ser detectado (COSTA,
2001, p. 8).

Vale ressaltar ainda, que foi a partir da década de 1930 que à assistência
psiquiátrica pública se estendeu para os Estados do país com a criação de serviços
patrocinados pelo governo federal. O Serviço Nacional de Doença Mental foi um
desses serviços (SNDM), criado durante a ditadura getulista, passaria a gerenciar a
expansão da assistência psiquiátrica em todo o território nacional. 2
Adauto Botelho assumiu a direção do mesmo, que fazia parte da estrutura do
Ministério da Educação e Saúde, mediante o decreto-lei 3.171 de 24 de 4 abril de
1941. Botelho seguia as diretrizes de Juliano Moreira, e o tinha como a figura mais
proeminente da psiquiatria brasileira no primeiro quarto de século, que buscava
conferir um caráter científico à psiquiatria (Paulin; Turato, 2004, p. 1).

(...) a estrutura hospitalar privilegiada e implementada como tipo


padrão pelo SNDM foi o hospital-colônia. Dentre os 20 estados
brasileiros (incluindo-se o Distrito Federal) 14 deles são citados
como aqueles que deveriam ser contemplados com a construção ou
ampliação de hospital-colônia ou colônia. Esse modelo institucional
defendido desde os anos de 1910 por Juliano Moreira, era
reafirmado nos anos 40 e 50 do século XX como “padrão”, tanto no
sentido de parecer ser considerado o que havia de mais adequado
ao tratamento de doentes mentais, quanto no sentido do incentivo
sistemático que é dado à sua reprodução. O formato do hospital-
colônia expandia-se nos moldes de um complexo hospital que

2
O primeiro órgão responsável pela assistência psiquiátrica de âmbito nacional foi a Assistência
Médico-Legal a Alienados, criado pelo decreto n° 508 de 21/06/1890. Em sua substituição, o decreto
n° 17.805 de 23/05/1927 instituiu a Assistência a Psicopatas, que foi reformulada para Serviço
Nacional de Doenças Mentais em 1941 e, posteriormente, para Divisão Nacional de Saúde Mental,
pelo decreto n° 66.623 de 22/05/1970 (VENÂNCIO; CASSÍLIA, 2007, p. 2).
53

ocupava área física considerável e, portanto, nos casos por nós


conhecidos, afastado dos núcleos mais urbanizados dos estados,
formado por pavilhões e por outras estruturas assistenciais
(VENÂNCIO; CASSILIA, 2007, p. 3).

Os seis Estados restantes (Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba,


Bahia e Paraná) são mencionados à construção de hospitais ou de pavilhões no
interior destes (idem). A administração de Botelho no SNDM perdurou 13 anos de
1941 a 1954. Esse período foi caracterizado pela expansão da assistência
psiquiátrica, na figura dos hospitais públicos. Um dos mecanismos que certamente
facilitou esta expansão foi o decreto-lei nº. 8.550, de 3 de janeiro de 1946. Este
autorizava a realização de convênios com os governos estaduais para a construção
de hospitais psiquiátricos. Com este documento, os governos estaduais se
comprometeram a doar terrenos, arcar com as despesas de manutenção e pagar a
folha salarial. Enquanto o poder federal, assumiria o investimento em projetos,
construção, instalação e equipamentos (VENÂNCIO, CASSILIA, 2007, p. 3).

Gráfico 01-Evolução do número de Hospitais Psiquiátricos, segundo o prestador.


Brasil-1941/1996

450 430

400
361
357
350 341
313
301
300
269 269
259 256
250 Público
219 211
Privado
200
Total
150 135

100 62 81 73
72 60
39 54 54 50 45
50 23

0
1941 1961 1971 1981 1988 1991 1996 1997

Fonte
s: CIS/MS (1941 a 1988) SRH/SUS (1991 a 1997) (apud CARMO; KOGA; SOUZA, 1999).

Até 1954, Botelho conseguiu estruturar uma rede de 16.000 leitos. Foram
criados mais hospitais públicos psiquiátricos (23 hospitais), responsáveis por 80,7%
dos leitos psiquiátricos no Brasil. O restante dos leitos ficaram distribuídos entre as
39 clínicas privadas, e haviam apenas 4 ambulatórios em todo o país. “É nesse
momento que começam a ser introduzidos os primeiros tratamentos biológicos na
54

psiquiatria brasileira, os choques cardiazólicos e insulínicos, a eletroconvulsoterapia


e psicocirgia” (GAMA, 2008, p. 121).
Como era de se esperar, esse mecanismo legislativo favoreceu o crescimento
no número de construções asilares em vários Estados como Sergipe, Stª Catarina,
Espírito Santo e Alagoas, que criaram seus nosocômios com características de
hospitais-colônias. Tais iniciativas refletiam e concretizavam as diretrizes que foram
iniciadas por Juliano Moreira.
A década de 1940 também foi marcada pelo esforço da psiquiatria em se
estabelecer na condição de especialidade médica e no reconhecimento de sua
atuação no campo da psiquiatria. Em parte estas reclamações foram atendidas e
algumas medidas foram adotadas. “O próprio Código Brasileiro de Saúde, publicado
em 1945”, caracterizou de uma maneira mais esclarecida, como também passou a
condenar denominações que eram relacionadas à doença mental como hospício e
asilo. Buscavam-se novas técnicas terapêuticas que substituíssem o papel
meramente custodial predominante (Paulin; Turato apud Sampaio 2004, p. 1). Em
1954, quando Botelho deixou a administração do SNDM, o quadro na assistência
psiquiátrica apresentava uma estatística de 16 mil leitos psiquiátricos no país.
Entretanto, a criação desses novos hospitais não amenizou a situação caótica e
desconfortável para o doente mental.
Ao contrário, na década de 1950, os hospitais públicos psiquiátricos
apresentavam excesso considerável no número de internos. Só o Hospital do
Juquerí abrigava cerca de 13 mil doentes(idem). No fim da década de 50, os
Hospícios estão com lotação muito acima da sua capacidade, como por exemplo, o
Juqueri, em São Paulo, com quase 15 mil pessoas, ou o São Pedro, em Porto
Alegre, com 3.200 internos, quando as vagas eram 1.700 (RESENDE, 1987, p. 54).
Neste contexto, é imprescindível considerarmos também, o surgimento da
psicofarmacoterapia, que se deu a partir desta década. Com este advento, em todo
o mundo tornou-se viável a redução no tempo de permanência do internamento
hospitalar, bem como a diminuição da população de pacientes. Além disso, nesta
época com a utilização do mecanismo medicamentoso, pessoas com enfermidades
mentais reconhecidas como menores passaram a ser melhor assistidas.
Um exemplo disso é demonstrado no gráfico abaixo. O mesmo demonstra a
realidade dos Estados Unidos com relação à evolução de pacientes internos, e que
foram acompanhados com o auxílio dos psicofármacos. Deixa-se muito claro a
55

redução desta população enquanto residentes. Este fenômeno ocorreu também em


outros países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Gráfico 02-Redução do número de internos nos Estados Unidos

Fonte: Diretoria da Associação brasileira de Psiquiatria-2006

Esta foi uma década também marcada pela privatização na área da psiquiatria
no Brasil, situação agravada pela ditadura militar e pelo avanço das idéias liberais.

Segundo levantamento (...) o período de 1941 a 1961 caracterizou-


se pelo crescimento vegetativo tanto dos hospitais psiquiátricos
públicos quanto dos privados. Em 1941 o Brasil possuía 62 hospitais
psiquiátricos, sendo 23 públicos (37,1%) e 39 privados (62,9%).
Estes últimos, embora em maior número, representavam apenas
19,3% dos leitos psiquiátricos, enquanto que os públicos detinham
80,7%. Em 1961 o Brasil já possuía 135 hospitais psiquiátricos,
sendo 54 públicos (40%) e 81 privados (60%). Notava-se, no
entanto, um crescimento de 24,9% dos leitos psiquiátricos privados
e uma diminuição de 75,1% dos leitos públicos (PAULIN; TURATO
apud SAMPAIO, 2004, p. 5).

Com o passar dos anos casas de saúde, no que diz respeito à assistência
psiquiátrica foram surgindo, mas, no âmbito do privado. Embora se diferenciassem
pela oferta de conforto em comparação aos hospitais públicos, e apresentassem
baixo índice de mortalidade, tinham a mesma função social e perpetuavam a mesma
condição: isolava os usuários do convívio e contato com a comunidade,
resguardando-a do suposto perigo. 3

3
Se na década de 1930 chegou a haver um fugaz convênio entre o Instituto de Pensões e
Aposentadoria dos Servidores do Estado — Ipase — e a Casa de Saúde Dr. Eiras, foi na década de
1950 que se incorporou a assistência psiquiátrica, mesmo que de forma incipiente, aos institutos de
aposentadoria e pensões.
56

Neste sentido, Paulin e Turato (apud MEDEIROS) (2004), comenta:

À época, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários


— IAPC — concedeu empréstimo à Casa de Saúde Dr. Eiras, a fim
de que fosse ali construído um pavilhão para os previdenciários.
Apenas os comerciários e, mais tarde, os bancários tinham direito a
internações em sanatórios particulares no Rio de Janeiro. Este
convênio pode ser considerado o marco inicial das internações em
hospitais particulares, por meio da hospitalização de previdenciários
(2004, p. 1).

Neste contexto, é importante ressaltar o fato de que, no Brasil a psiquiatria só


se tornou efetiva como prática assistencial de massa, após 1964. No que tange a
saúde, até então uns poucos indivíduos é que eram acobertados pelas chamadas
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s), organizadas por grupos de
trabalhadores. OS demais se refugiavam com os poucos benefícios oferecidos por
instituições de caridade. 4
Na década de 1960, acontece a unificação dos Institutos de Aposentadorias
Pensões e (IAP’s). Assim, é criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
A partir deste momento, o Estado consolidou a tendência que se manifestou desde a
década anterior, a privatização na área da psiquiatria. Passou a comprar serviços
psiquiátricos do setor privado, o que conciliava pressões sociais com o interesse de
lucro por parte dos empresários.

Na década de 50 aumentam o número de clínicas particulares,


através da criação de enfermarias específicas para os institutos de
aposentadorias e pensões de certas categorias profissionais. O
abandono dos hospitais públicos é notório. Em 1960 a proporção
entre público e privado começa a se inverter, havendo nessa década
135 hospitais. Mas é notável o aumento proporcional dos leitos em
hospitais privados, até chegar em 1981 com 70.6% dos leitos
provenientes dessas clínicas. O fator de mudança central foi a
decisão dos governantes militares brasileiros em ampliar a oferta de
leitos para toda a população, se apoiando num sistema privado e
curativo, de acordo com um capitalismo dirigido e ligado
politicamente a setores empresariais. (GAMA, 2008, p. 122).

Além disso, nesta época se inicia a construção dos pilares de uma grande
mudança, que proporcionaria uma realidade totalmente diversa do que até então se

4
Na década de 1930, o Estado incorporou estas ações de assistência à saúde que passaram a ser
sistematizadas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPS). Entretanto, a atenção psiquiátrica
só foi anexada ás demais especialidades na década de 1950, e mesmo assim de forma incipiente.
Constam deste período, argumentos de favorecimento a investimentos em ações de saúde mental,
como proposta que, por excelência, visava à rentabilidade econômica.
57

conhecia no mundo da assistência. Tendo em vista que na mesma época, se


originou na cidade Italiana de Trieste, o embrião do movimento que passou a ser
denominado de Reforma Psiquiátrica.
Este atingiria vários países nas décadas seguintes. Teve como principal
combatente o psiquiatra italiano Franco Baságlia. É o médico e psiquiatra apontado
como precursor da Reforma Psiquiátrica na Itália. Após assumir a direção do
Hospital Psiquiátrico de Gorizia, iniciou um conjunto de mudanças que
revolucionaram a comunidade terapêutica da época. Entre as primeiras medidas
adotadas, estiveram às melhorias nas condições de hospedaria e no cuidado técnico
dispensados aos internos.
Um dos marcos que deve ser pontuado neste novo olhar apresentado por
Baságlia, é que ele percebeu o que realmente configurava uma experiência exitosa,
no que diz respeito ao enfrentamento da doença mental. Para ele, uma simples
humanização não seria suficiente, mas, que esta deveria ser complementar a
algumas outras transformações tanto no modelo de assistência psiquiátrica quanto
na dinâmica das relações entre a sociedade e a loucura.
Assim, propôs uma reformulação nas ações e no saber da psiquiatria. Queria
acabar com a exclusão imposta pelo hospital psiquiátrico. Para isso, ele questionou
o papel exercido pela Psiquiatria na manutenção da ordem pública, a origem social
das pessoas internadas, questionou o saber e as práticas terapêuticas da Psiquiatria
e, o papel dos funcionários do hospital como agentes do poder e do controle
institucional.
Defendia uma metodologia com mecanismos extra-hospitares para o doente
mental. Tendo como base a experiência da Comunidade Terapêutica desenvolvida
por Maxwell Jones na Escócia, introduziu uma série de transformações no Hospital
Psiquiátrico Regional de Trieste, para onde se transferiu em 1971. Acabou com as
medidas institucionais de repressão, criou condições para reuniões entre médicos e
pacientes e devolveu ao doente mental a dignidade de cidadão.
Desse modo, propôs a desinstitucionalização enquanto um trabalho de
modificação não apenas da estrutura manicomial, mas, sobretudo, de sua lógica. O
que se traduz numa transformação e desmonte da forma como as pessoas
vitimadas com o transtorno mental eram percebidas e tratadas. Este passo não se
resumiria ao direcionamento da doença sob os ditames institucionais, e sim, à
58

condução de uma ação de transformação mais ampla que abarcasse o indivíduo em


seu convívio social.
Neste processo, não desconsiderou a importância da psiquiatria. Mas, defendia
que a mesma sozinha, não daria conta do complexo que configurava a loucura. Na
verdade, Baságlia criticou a postura tradicional da cultura médica. Pois esta
transformava o indivíduo em mero objeto de intervenção clínica e contribuía apenas
para o isolamento sendo, portanto, excludente e repressora. Ele inclusive
“denunciou o que chamou de “duplo da doença mental”, ou seja, tudo o que se
sobrepunha à doença propriamente dita, como resultado do processo de
institucionalização a que eram submetidos os loucos no hospital, ou manicômio”
(AMARANTE, 1996, p. 2).
Em 1970, passou a dirigir o Hospital Provincial, em Trieste. Nesse novo posto,
iniciou um processo que resultou no fechamento daquele hospital. Promoveu a
substituição do tratamento tradicional que ali era dispensado ao doente mental, por
uma rede territorial de atendimento composta por serviços de atenção comunitários,
emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido,
centros de convivência e moradias assistidas para os internos (idem).
A experiência em Trieste tornou possível a desconstrução do manicômio como
possibilidade única de entender e enfrentar a loucura. Foram estes acontecimentos
que contribuíram para o credenciamento em 1973, efetivado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), do Serviço Psiquiátrico em Trieste como referência
mundial em saúde mental.

A partir de 1976, o hospital psiquiátrico de Trieste foi fechado


oficialmente, e a assistência em saúde mental passou a ser exercida
em sua totalidade na rede territorial montada por Baságlia (...) Como
conseqüência das ações e dos debates iniciados por Franco
Baságlia, no ano de 1978 foi aprovada na Itália a chamada “Lei
180”, ou “Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana”, também conhecida
popularmente como Lei “Baságlia” (AMARANTE, 1996, p. 2).

A Lei 180, anteriormente citada, foi também um grande avanço para a


assistência psiquiátrica, pois foi a primeira lei do mundo a decretar a abolição dos
asilos. Estabelecia mudanças no estatuto jurídico do doente mental, além de proibir
novas internações e construção de novos hospitais psiquiátricos, a lei estabelecia a
abolição do estatuto de periculosidade do doente mental. Dessa forma, se inicia os
primeiros reflexos de cidadania atribuída no lidar com o paciente que sofria com
59

transtorno mental, com possibilidade de percebê-los como cidadão de direitos. Estas


metas podem ser facilmente percebidas, na colocação de Gama, quando diz que,

[...] a lei fundamentalmente estabeleceu que: estavam proibidas


novas internações em hospitais psiquiátricos públicos, previa a
implantação de serviços de saúde mental de base comunitária,
determinava que as internações, quando necessárias, deveriam ser
realizadas em unidades psiquiátricas dentro de hospitais gerais com
menos de 15 leitos, e regulava as internações involuntárias. Em
resumo, as principais características que finem o movimento italiano
foram a erradicação dos hospitais psiquiátricos públicos e a
implantação de serviços comunitários, abertos e territorializados,
com leitos em hospitais gerais, além de um forte apoio às equipes
interdisciplinares. Esses serviços deveriam se colocar como
alternativos e substitutivos em relação aos hospitais e não
complementares a esses. Outra meta fundamental dessa
experiência era a busca pela reintegração na vida social e
econômica de todos os pacientes, inclusive os crônicos, através de
empresas sociais (2008, p. 24-26).

Assim como afirma Gondim apud Delgado (2001), o movimento da Reforma


psiquiátrica reivindicava a cidadania do louco. Mesmo consistindo de exigências
políticas, administrativas e técnicas a luta insistia, sobretudo no que concernia aos
direitos do doente mental, ou seja, por sua Cidadania.
Como pensador e crítico, Franco Baságlia influenciou os acontecimentos no
cenário brasileiro, sobretudo, após algumas visitas que fez como participante de
seminários e conferências. Seus ideais constituíram algumas das principais
influências para o Movimento pela Reforma Psiquiátrica no País.
Assim, devolveu-se ao indivíduo com transtorno mental sua identidade
enquanto cidadão, trabalhador, proprietário e tantas outras que lhes foram retiradas
com os tratamentos tradicionais. Sobretudo, as instituições asilares, quando a estes,
fora atribuído o estigma de incapaz, perigoso ou anti-social. O aspecto inovador
desta tendência era empregado com o recurso do hospital-dia, que proporcionava a
continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar, no período do
tratamento.
No Brasil, foi principalmente na década de 1970 que as funções e os serviços
ofertados pela política de saúde mental, sofreram alterações e passaram a ser mais
delimitados, e segundo Resende poderiam ser assim listadas,

[...]a) curar, b) recuperar a força de trabalho, c) abrir e criar novas


fontes de trabalho para o pessoal de saúde mental, d) auto-
reproduzir o próprio sistema de assistência e de setores da
60

economia a eles ligados: hospitais, indústrias de medicamentos,


etc., e) ideologizar as relações sociais, conferindo desta forma,
racionalidade à irracionalidade do sistema, f) dar um lugar aos
desviados, excluindo-os, g) difundir e inculcar normas de
comportamento visando homogeneizar as diferenças individuais
(1987, p. 60).

O registro histórico indica que foi a partir dessa década, que o cenário brasileiro
vivenciou o processo da Reforma Psiquiátrica, com crescentes manifestações de
vários segmentos da sociedade no sentido de reduzir a privação da liberdade
individual na forma de manicômios. Além disso, buscou-se um novo enfoque no
modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao invés de direcionar a
ação apenas ao desequilíbrio psíquico já instalado.

A década de 70 no Brasil foi o momento histórico da denúncia da


degradação a que eram submetidos os doentes mentais internados
nos hospitais psiquiátricos. Desencadeado pela contestação ao
modelo exclusivamente médico e asilar de tratamento da loucura,
que os profissionais diversos do campo da saúde mental trouxeram
para o espaço público, o movimento reformista a partir dessa época
mostrou à sociedade a precariedade das condições de assistência
em saúde mental e propôs alternativas para a substituição desse
modelo (GAMA, 2008, p. 123).

É possível afirmar que como marco crucial no processo de mudança da


assistência psiquiátrica, instrumentalizou-se a Reforma Psiquiátrica. Este foi um
movimento que se apoiou em modos de interpretação e em informações críticas que
sistematizaram o processo de transformações sociais e políticas. Essas mudanças
se materializaram através da ação dos profissionais de saúde mental, e
posteriormente dos próprios serviços de saúde mental.
Emergia desse cenário, uma cultura crítica que em seus preceitos diferia da
cultura formal hospitalocêntrica, que era reproduzida nas instituições de vários
profissionais atuantes e pouco satisfeitos com as ações de saúde mental. Como
também, era divergente em relação à postura hegemônica e predominante, mais
convencional que produzia uma competência técnica que não se comprometia com
a crítica aos manicômios, à segregação dos doentes mentais, ou ao autoritarismo no
âmbito das instituições psiquiátricas.
Além disso, houve a elaboração de leis e decretos que delimitaram e
estruturavam esta política. Por exemplo, em janeiro de 1974, o Ministério da Saúde,
por intermédio da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM), expediu a portaria
61

32 definindo esta divisão como órgão normatizador e preconizando os princípios


doutrinários da psiquiatria comunitária. Este era responsável pela reformulação das
políticas de saúde mental, e ficou conhecido por caracterizar a luta corporativa por
melhores condições de trabalho, dignidade e autonomia para os profissionais e
ampliação dos recursos humanos, entre outras. Originou os questionamentos
relacionados às condições de atendimento destinadas aos pacientes e a hegemonia
dos hospitais privados, o que ressaltava a necessidade de investimentos do setor
público.
Também a sistematização da Portaria de setembro de 1974, conhecida como
Plano de Pronta Ação (PPA). Este plano tinha como principal resolução a
desburocratização do atendimento das emergências, tanto para os segurados da
Previdência como para seus dependentes. Em números, isso representava a
cobertura de cerca de 80% da população urbana (PAULIN; TURATO, 2004 apud
LUZ).
Por volta desta época, também, se registra uma elevação considerável no
número de internações. Especialmente na rede privada, tendo em vista as
experiências das condições precárias dos hospitais públicos. É digno de nota ainda,
mencionarmos que em meio a avanços e retrocessos, as críticas e propostas
referentes à saúde mental, ainda estavam sob influencia do viés economicista,
privilegiando a função produtiva da psiquiatria.
Entretanto, a assistência ao doente mental perdeu a relativa importância
adquirida nos primeiros anos da década de 1970, o que foi evidenciado pela redução
da proporção de gastos com a saúde mental em paralelo aos dispensados à
assistência médica. Mas, não podemos desconsiderar que o movimento atual da
Reforma Psiquiátrica, teve como período germinativo a luta mais ampla pela
redemocratização do país, exatamente na segunda metade desta década
(BORGES; BAPTISTA, 2008, p. 458).
A Reforma Psiquiátrica é reconhecida como um dos mecanismos de maior
intervenção frente à assistência psiquiátrica, nos moldes tradicionais. Constituiu um
grupo de intelectuais e segmentos da sociedade civil, que articularam movimentos e
reflexões críticas a abordagem da doença mental, bem como sua relação com as
instituições, os saberes e a sociedade. Com estas inquietações surgiram no cenário
brasileiro grupos de estudo que protagonizaram a crítica ao modelo clássico da
assistência psiquiátrica e a construção do projeto de Reforma Psiquiátrica no Brasil.
62

Com relação ao papel desempenhado por este movimento de luta, O Conselho


Estadual de Saúde do Paraná (CES/PR), afirma

Intelectuais e setores da sociedade civil articularam movimentos e


reflexões de críticas à abordagem da loucura e sua relação com as
instituições, os saberes e a sociedade. Despontaram no cenário
nacional grupos de estudos que iriam protagonizar a crítica ao
modelo clássico da Psiquiatria e a construção do projeto de reforma
Psiquiátrica no Brasil (2008, p. 2).

Assim foi nos últimos anos da década de 1970, que se formou no Brasil o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). Porém foi notadamente a
partir de 1989, que os representantes deste movimento, começaram a assumir
espaços de liderança, coordenando e supervisionando os serviços em saúde mental,
inclusive em vários municípios, desencadeando novas práticas. O diferencial nesta
postura, era a busca na construção de um novo modelo assistencial, com ênfase na
oferta de serviços extra-hospitalares.
Para tanto, um novo elemento se fez presente nesta luta. O conceito de
cidadania passa a ser discutido como imprescindível na concretudo da assistência
psiquiátrica. Só assim seria possível, conceder ao doente mental a inserção no
mundo da cidadania, no espaço da cidade, no mundo dos direitos.
Duas referências anteriores mantiveram relação com o que acontecia naquele
momento. ”São elas: o modelo de comunidades terapêuticas e o movimento da
psiquiatria comunitária e preventiva, que institui as idéias de saúde mental e de
intervenção na comunidade, inclusive com intenção preventiva” (TENÓRIO, 2002,
p.28).
De certa forma, é possível pontuarmos estas referências enquanto um marco
inovador, no processo de desenvolvimento da Política de Saúde Mental no Brasil,
pois se apresentava com o objetivo de superar as estruturas tradicionais do aparato
asilar psiquiátrico. A construção de respostas à demanda se dava a partir da
psicanálise, que por sua vez buscava interpretar por meio de leituras inconscientes
não apenas os pacientes, mas também a instituição e os profissionais que lidavam
com a problemática. Neste caso,

a psicanálise comparecia, portanto, para tornar instituições e


equipes objeto de interpretação e como afirma o diretor da primeira
comunidade terapêutica do Rio de Janeiro, Dr. Oswaldo dos Santos,
para assinalar “que os limites entre saúde e enfermidade mental são
muito menos nítidos”. A conseqüência é de que o psicanalista, que
63

saberia sobre o inconsciente, “torna-se o grande modelo


identificatório para os membros da comunidade terapêutica” (apud
Tenório, 2002, p. 29).

Embora esta inovação no enfrentamento da questão relacionada ao doente


mental, deva ser apontada como elemento de progresso tendo em vista que
sinalizava uma nova concepção, na realidade não impactou de fato sobre o modelo
vigente, e foi absorvida pelas atividades que expressavam os interesses dos
manicômios privados. Esses demonstravam pouco ou nenhum interesse em
mudanças, no que diz respeito aos serviços ofertados. Quando muito, apenas
maquiavam uma realidade que se apresentava como moderna, mas, sem deixar de
ser conservadora.
Ainda assim, não se pode negar esta experiência e sua herança positiva sobre
as experiências mais recentes da Reforma Psiquiátrica brasileira. Neste sentido,
pode ser citado o fato de que as atividades a partir deste momento passaram a ser
desenvolvidas considerando mais de perto o usuário em sua realidade contextual,
ou seja, de um modelo de grupo societário.

Se a psiquiatria, assim como outras especialidades envolvidas no


tratamento do transtorno mental, assume a dimensão política de seu
saber, sua insuficiência, e também a sua incurabilidade da doença
mental, abre-se espaço para olhar o doente como um cidadão de
existência complexa, multidimensional, portador de história e
construtor de sentidos e valores. Abre-se espaço para buscar o
cuidado m ao invés da cura. Quanto ao cuidado, é pressuposto não
ser operado exclusivamente pelo psiquiatra, mas todo profissional
do campo da saúde mental, pelo meio social e pelo próprio paciente
(...) (BORGES; BAPTISTA, 2008, p. 465).

Um dos limites para estas atividades é que se usava uma linguagem


psiquiátrica apenas sobre o sintoma. Mais, independentemente destes
acontecimentos, as demandas pela intervenção estatal na questão da doença
mental e do louco, continuavam, e se configuravam basicamente em três âmbitos:
no social pela tranqüilidade que seria possível, tendo em vista que não mais se
encontrariam homens livres e desocupados em tumultos urbanos; o clínico, quando
os médicos em defesa dos princípios éticos e humanitários, passaram a denunciar
maus tratos direcionados aos doentes mentais que eram detidos sem receber
nenhum tipo de tratamento clínico, e finalmente, o âmbito clínico que visava
minimizar os sofrimentos resultantes do tratamento. Este aspecto era fortemente
defendido pela irmandade religiosa em defesa dos direitos humanitários.
64

Vale ressaltar que no processo de desenvolvimento da política de saúde mental


brasileira, o período de intervenção do Estado com maior prevalência que se pode
apontar, é o pós-golpe militar. Neste, se deu início a política do controle na
assistência psiquiátrica, com uma ampliação de serviços. Mas, paradoxalmente, uma
considerável exclusão de direitos civis e políticos. Na assistência psiquiátrica, o
Estado incrementava este duplo padrão ao destinar as pessoas desvinculadas da
previdência aos hospitais públicos, e os trabalhadores previdenciários, aos hospitais
da rede privada pela contratação de seus leitos psiquiátricos. Assim, esse período
passou a ser caracterizado pela presença marcante da indústria farmacêutica, que
alimentou uma “fábrica de loucos” (grifo da autora). Logo, os leitos privados
cresceram muito mais em proporção aos leitos públicos e o doente mental tornou-se
mercadoria e se viu transformado em fonte de renda. 5
Este foi um período marcado também, pela mercantilização das políticas
sociais como um todo. Porém, esta realidade não impediu que novos rumos fossem
concebidos à Política de Saúde Mental. Dessa forma, os movimentos sociais foram
ganhando visibilidade e surgiram novos atores na luta política. A saúde passou a se
sobressair, sobretudo com a crise financeira da Previdência Social, que forçou o
governo a pensar numa sistematização da mesma. Os movimentos dos
trabalhadores de saúde mental se fortaleceram com a visita de pensadores e críticos
da assistência ao doente mental ao Brasil.
Outras reivindicações foram ganhando forças no cenário nacional. Os
sindicatos lutam pelo reparo do desgaste físico dos trabalhadores motivados pelo
sucateamento do serviço público, tão característico na época. Havia uma grande
insatisfação por parte destes trabalhadores, que apontavam como precárias as
condições de trabalho, principalmente no Rio de Janeiro. Foi aí que aconteceram por
volta de 1981, às primeiras reivindicações pela expansão dos serviços ambulatoriais
em saúde mental. Apesar de não saberem ainda como deveria se dar esta
organização (BORGES; BAPTISTA, 2008, p. 465), estes trabalhadores procuravam

5
Ainda segundo Gondim apud Oliveira & Teixeira (2001) foi na década de 1960 que a
política manicomial sofreu grande expansão, com a contratação e financiamento pela
Previdência Social de clínicas privadas, o que para a autora se constituiu em um grave problema
no cenário brasileiro anos depois. Tendo em vista que o privatismo na atenção psiquiátrica
favoreceu o crescimento desordenado, a falta de planejamento e critério nas demandas de
internação. Este processo provocou uma cristalização do modelo manicômio-dependente e
consolidou-se como política oficial até o final da década de 1970.
65

estabelecer uma reflexão acerca de novas formas de pensar, agir, perceber e de


cuidar dos doentes mentais.
Nesta época, a indústria da loucura era muito evidente. Por isso, a partir daí,
intensificou-se os esforços no sentido de demonstrar concretamente a possibilidade
de serem substituídos os hospitais, bem como a cultura hospitalocêntrica e
excludente que vigorava tão fortemente na população brasileira. Esta substituição se
daria por uma rede de serviços comunitários, com a determinação de objetivos e
mecanismos para o desenvolvimento das atividades de natureza comunitária, que
abarcava o contexto familiar.
Começaram a surgir os primeiros mecanismos e serviços, imbuídos de
tecnologias terapêuticas pssicossociais. Estes visavam manter a pessoa portadora
de algum transtorno mental junto à comunidade em que se inseria. Ao mesmo
tempo, em que promovia um novo modelo de enfrentamento, não mais de custódia,
mas, com a participação na construção de projetos que favorecessem os espaços
de liberdade dos sujeitos dentro do âmbito da sociedade.
Estas ações inovadoras assumiram forças, especialmente em alguns Estados.
Em São Paulo e Minas Gerais, o movimento dos trabalhadores em saúde mental
avançou com a participação de algumas lideranças nas secretarias de saúde, o que
possibilitou uma intervenção crescente em hospitais psiquiátricos tanto na rede
pública, quanto na privada. Isto possibilitou uma expansão gradativa no atendimento
ambulatorial em saúde mental.
Esta década, sobretudo o ano de 1989, foi marcada por dois marcos muito
importantes para a saúde mental, e que nos ajudam a compreender o processo de
resistência à psiquiatria tradicional bem como seus reflexos. O primeiro destes foi a
intervenção pela Prefeitura de Santos na Casa de Saúde Anchieta. Este compunha
a rede privada e era referência no cuidado ao doente mental.
Outro marco desta luta foi a criação do Projeto de Lei nº. 3.657/89.
Apresentado ao Congresso Nacional pelo então Deputado Paulo Delgado6. Esta Lei
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Inspirado na Lei
Baságlia italiana, de autoria do psiquiatra Franco Baságlia, representou propostas de
mudanças para a legislação psiquiátrica brasileira. Configurou uma central nos

6
Após mais de uma década tramitando no Congresso Nacional, ela foi aprovada e sancionada pelo
Presidente em 6 de abril de 2001
66

debates em torno da questão manicomial, provocando polêmicas entre os diversos


setores e grupos sociais.
Este projeto de lei sintetizou a percepção sobre a necessidade urgente de
reformar a assistência psiquiátrica e de lutar pela garantia dos direitos de cidadania
dos doentes mentais, e assumiu o mérito de promover a discussão do tema em toda
a sociedade.
De acordo com Costa, Anjos e Zaher apud Maia e Fernandes, é possível alocar
da seguinte forma estas reivindicações:

(...) o projeto propõe: o restabelecimento dos direitos civis e políticos


dos doentes mentais; a extinção progressiva dos manicômios e sua
substituição por hospitais-dia; a internação em hospitais gerais, por
períodos mínimos; a regulamentação da internação compulsória, ou
seja, aquela que se dá sem a aprovação do paciente, e que poderá
ocorrer por, no máximo, 24 horas, com o conhecimento do juiz e de
uma junta médica; a regulamentação do uso de terapias perigosas,
como o "eletrochoque” (2007, p. 106).

Este foi um dos aspectos que impulsionou os debates em torno da assistência


psiquiátrica com a sociedade, nos anos de 1990. Os integrantes do Movimento
Nacional de Luta Antimanicomial passaram a perceber a possibilidade de
direcionarem os serviços, como também a aplicabilidade dos mesmos dentro de uma
nova ótica, que resgatava a concepção de cidadania e ampliação do poder e direitos
da pessoa com transtorno mental. Estas inclusive eram as mudanças elencadas
para a saúde em todos os seus aspectos, pela Reforma Sanitária, e não apenas à
saúde mental.
67

3 A ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA PÚBLICA NO CONTEXTO ATUAL

Assim como se deu com o desenvolvimento de outras políticas sociais no


Brasil, a de saúde mental enfrentou um processo de inúmeras mudanças,
principalmente no que diz respeito às medidas que visavam a autonomia e a
cidadania das pessoas com transtornos mentais.
É notório que nos últimos anos a gestão pública tem unido esforços no sentido
de promover e garantir resolutividade das demandas apresentadas, bem como
superar as primeiras representações sociais da loucura, que quando muito, davam
sustentabilidade à exclusão de diversas pessoas nos chamados hospícios.
Em nível nacional, quando tratamos do processo que desencadeou o contexto
atual da política de saúde mental, é possível sinalizarmos avanços principalmente, a
partir da década de 1970. Tendo em vista que este é o período no qual identificamos
a inovação no que tange ao enfrentamento dos transtornos mentais, bem como seus
desdobramentos para a realidade. Como ficará evidente na explanação a seguir, foi
a partir desta década, com o legado de ações e medidas entorno do doente mental,
que se passou a considerar a possibilidade de que essas pessoas deveriam ser
abarcadas no leque da proteção social, enquanto indivíduos que acima de tudo, são
portadores de direitos sociais.

3.1Ecos da Reforma Psiquiátrica

Como vimos analisando no capítulo anterior as políticas de saúde brasileiras


estão visceralmente atreladas às políticas de saúde mental, ou seja, os movimentos
da primeira causam determinados tipos de impacto na segunda. Assim, nos anos
2000 o modo como o SUS vem sendo gerenciado tem seus rebatimentos nos
avanços, mas, sobretudo, nos recuos que a assistência pública em saúde mental
experienciou.
Nesse contexto, um aspecto que deve ser destacado é o fato de que foi a
partir na década de 1990, que os avanços elencados na Constituição Federal de
1988, começaram a ser implantados. Com isto, a Política de Saúde passou por
algumas mudanças significativas, tendo em vista que as ações desenvolvidas
68

começaram a ser norteadas pelos princípios do SUS, como os da universalidade e o


da igualdade no acesso aos serviços.
Entretanto, discutir acerca dos elementos que tiveram relevância neste
contexto requer a compreensão de acontecimentos que antecederam a este
período. Dentre estes, é imprescindível pontuarmos a conjuntura que se fazia
presente, e que causou constrangimentos à concretização dos ideais propostos pela
Reforma Sanitária, que foram institucionalizados com a legalização do SUS, através
da Constituição de 1988.
Uma análise da realidade brasileira na época nos faz perceber que o esboço
sanitarista não compunha as prioridades do contexto nacional. Tendo em vista que
este visava o fortalecimento de posições conservadoras e estava voltado para o
interesse de mercado, o que limitava a possibilidade de ampliação dos serviços de
saúde, e também inviabilizava a concretização e garantia da universalidade.
Além disso, o processo de implementação do SUS no Brasil, é caracterizado
pelas divergências de interesse dos grupos que compunham a luta da Reforma
Sanitária. Se por um lado havia o segmento que em sua base política defendia o
fortalecimento de identidade partidária como também o corporativismo,
principalmente entre o movimento médico, por outro lado, havia o movimento
popular em saúde. Este por sua vez, apresentava em sua agenda a defesa por um
sistema de saúde realmente igualitário. Este aspecto é apropriadamente explicitado
por Pereira (apud BRAVO e MATOS), quando diz:

A discussão sobre a saúde na Assembléia Nacional Constituinte,


transformou-se em uma arena real de conflitos de interesses, na
qual, [...] dois conjuntos de forças antagônicos passaram a
confrontar-se: os grupos privados empresariais prestadores de
serviços ou ligados à indústria farmacêutica, de um lado, e os
adeptos da Reforma Sanitária, de outro lado [...] Os primeiros,
caudatários do modelo médico-assistencial privado [...], tinham e
têm no mercado o seu principal agente regulador, e na rentabilidade
econômica a sua meta prioritária. São os defensores da ingerência
mínima do Estado na economia e na sociedade e,
conseqüentemente, da mercantilização de bens públicos como a
saúde [...] Em contraposição, os adeptos da Reforma Sanitária
defendiam e defendem a instituição de uma política deliberada e
radical de descentralização, mediada pelo SUS, visando a
transferência de capacidades decisórias do governo central para os
Estados e especialmente para os Municípios. E na base dessa
política existia um propósito deliberado e contínuo de promover
mudanças que garantissem não apenas um atendimento igualitário,
mas igualdade com eqüidade nesse atendimento (2002, p. 8).
69

Como resultante desses conflitos, o movimento promovido pelos adeptos da


Reforma Sanitária não se mostrou suficientemente capaz de reunir o apoio devido e
necessário, dos usuários dos serviços de saúde. Esta situação contribuiu para uma
fragilização no que diz respeito às conquistas, e de um modo geral resultou num
sistema de caráter dúbio – com ações tanto do âmbito público como do privado.
Desse modo, as divergências sócio-políticas foram um dos aspectos que
contribuíram no que se refere à estruturação de um sistema de saúde tal como o
conhecemos na contemporaneidade, com intervenções que em muito se distancia
do Projeto da Reforma Sanitária. Tendo em vista que não incorpora no exercício de
sua prática a universalidade no acesso aos serviços, não abraça todos os cidadãos
para a assistência pública e de qualidade e principalmente, não rompeu com o
padrão de atendimento segmentado.
Assim a perspectiva que se apresenta ao SUS, é a de que suas medidas são
inteiramente voltadas para uma categoria de usuários socialmente vulneráveis e
predominantemente pobres, devido a frágil relação que usufruem com o mercado de
trabalho. Esta condição impossibilita a estes, o cuidar da saúde pela via privada,
restando unicamente o que é disponibilizado pelo SUS. Nessa direção, observa-se
que há um hiato entre as garantias constitucionais e, por conseguinte, a proposta do
SUS de universalizar o acesso aos serviços de saúde e o modelo de gestão adotado
a partir de 1990.
É justamente no que se refere ao modelo gerencial que se coloca com maior
visibilidade a influencia das concepções neoliberais que passam a impactar no
conjunto das políticas públicas brasileiras, em particular na política de saúde.
Calcada nessas concepções emerge a reforma gerencial de estado que o país
experimenta a partir da década de 1990, justamente no momento em que a
ampliação dos direitos sociais observados no contexto da Constituinte de 1988,
começou a ser incorporada pelos níveis institucionais da administração pública
nacional. Nesse contexto, portanto, observa-se uma situação paradoxal entre os
“novos direitos sociais” e o processo de ajuste estrutural provocado pela reforma
estatal.
Este paradoxo foi facilmente constatado no lócus da política de saúde, já que
nos primeiros momentos de implantação do Sistema Único de Saúde, a questão do
financiamento ainda carecia de uma definição mais clara tanto no que se refere ao
percentual destinado à saúde quanto, no que concerne as responsabilidades e
70

comprometimento das três esferas gestoras. “Com efeito, já no início dos anos 1990,
o SUS sofreu um considerável desfalque nas suas receitas ao ter grande parte delas
usada indevidamente” (PEREIRA, 2002, p.14). A autora referida autora ainda
complementa a sua idéia quando traz em sua análise, para nível de
esclarecimentos, os seguintes dados,

Para se ter uma idéia da magnitude desses cortes, basta mencionar


que, de 1987 a 1992, houve uma queda de 40% em termos reais
dos gastos federais na área; e que, de 1988 a 1993, ocorreu uma
diminuição de US$ 80 para US$ 40, no gasto federal per capita, sem
compensação pela elevação dos gastos estaduais e municipais.
Isso, como não poderia deixar de ser, atingiu a espinha dorsal do
Sistema que era o reforço federal à implementação de suas novas
funções (2002, p. 15).

Além da questão do financiamento, outro impacto sentido refere-se ao


processo de recentralização observado, já que a estratégia da descentralização
posta como mecanismo de gestão do SUS, passa a ser empregada, sob uma
perspectiva totalmente diversa da proposta original.
Neste sentido, um aspecto que promoveu a centralização das ações, e que
minimizava os pressupostos do SUS, foi a medida adotada pelo Ministério da Saúde,
no que concerne a atividades regulatórias de controle e auditoria dos recursos
destinados à área, na compra de serviços privados. Dessa medida, resultou uma
limitação no papel dos Estados e Municípios, pois estes passaram a ser tratados
enquanto meros prestadores de serviços em suas esferas de gestão. Pereira (apud
VIANNA) esclarece também a existência de um outro elemento relevante, na
questão administrativa e do financiamento destinado ao SUS, conforme evidencia a
citação abaixo,

[...] “Ainda no nível central”, ressalta Viana, “um outro bloco de


interesses, até mais poderoso do que o do Ministério da Saúde,
‘jogava’ contra a descentralização. Era o bloco da área econômica,
formado por técnicos e dirigentes do Ministério da Fazenda”, que
efetuava expressivos cortes nos recursos federais destinados à
saúde (PEREIRA, 2002, p. 15).

Como agravante, existia a situação no âmbito subnacional que configurava uma


condição de animosidade entre as esferas de governo, pois os Estados resistiam em
transferir equipamentos e recursos aos Municípios. Dessa forma, se estabeleciam
71

relações de concorrência, ao invés de complementaridade entre os dois níveis da


federação. Estes acontecimentos apontavam para uma regressão na conquista
efetiva de direitos, legalizados pela Constituição de 1988. Pois pela primeira vez se
pautou ali a possibilidade da participação conjunta dos governos nos três níveis,
entretanto, o que se estabelecia eram dificuldades no exercício da autonomia
desses entes federados. “A isso se acrescenta a defasagem e a desatualização da
máquina pública dos Estados e dos Municípios em face dos requerimentos
organizacionais e gerenciais do SUS” (PEREIRA, 2002, p. 16).
Ao se fazer um balanço dos vinte anos de existência do SUS, é possível
apontarmos ainda a baixa adesão por parte da população usuária ao seu projeto
político, o que também causou um impacto negativo na sua implementação. Esta
característica contribuiu em muito para o fortalecimento do viés centralizador das
ações em saúde, e por extensão na assistência psiquiátrica, em todos os níveis da
Federação.

A característica dual do sistema de saúde impede que o setor


público tenha na rede privada a garantia da prestação de serviços
públicos. Esse legado gera a necessidade de regulação
governamental mais forte para, de fato, publicizar a rede privada,
fazendo valer o interesse público em função do imperativo legal de
garantir o acesso universal. As limitações para uma regulação mais
efetiva têm sido muitas e incluem dificuldades operativas do sistema
público para definir sua demanda, negociar serviços, implantar e
fiscalizar contratos, o que impõe fortes custos de transação em uma
relação que ainda não tem regras muito definidas e nem
desenvolveu a capacidade reguladora entre os gestores públicos
(MENICUCCI, 2009, p. 5).

Calcadas nesses pressupostos histórico-conjunturais e considerando sua


vinculação umbilical com as políticas de saúde, as políticas de saúde mental
também sofreram nesse período um processo de desaceleração, ou seja, o modo
como o SUS foi sendo desconfigurado de sua feição original, impactou na
assistência psiquiátrica pública pela lentidão com que a rede começou a se adequar
aos princípios da Lei Paulo Delgado, bem como pelo descumprimento integral dos
princípios mais elementares do sistema quais sejam: a universalidade de acesso; a
equidade; a integralidade e a participação da sociedade civil. Essas dificuldades
ganham amplitude na área da saúde mental se considerarmos o processo lento de
ruptura com o modelo tradicional de assistência psiquiátrica.
72

Entretanto, mesmo com este cenário pouco favorável, paulatinamente foram


surgindo e sendo conquistados novos equipamentos que vislumbravam uma
intervenção diferenciada do que até o momento havia sido vivenciado. Outras
propostas foram assumindo seu lugar no desenvolvimento das atividades em torno
do doente mental.
Como citado anteriormente, os novos mecanismos de intervenção da rede de
assistência psiquiátrica no Brasil estão amparados pela Lei 10.216/2001. Esta pode
ser apontada como revolucionária enquanto legislação para o cenário da assistência
psiquiátrica brasileira, pois além de se constituir na primeira lei votada para a
assistência psiquiátrica, propunha o que até então, não era evidente à Política de
Saúde mental. Ela reclamava pelo estabelecimento dos direitos civis e políticos dos
doentes mentais, a extinção gradual dos manicômios e a sua substituição por
hospitais-dias, por meio do qual seria proporcionada uma atenção integral aos
mesmos. Também, defendia a internação apenas em situações emergenciais em
hospitais gerais, com período mínimo de internação.
Articulada principalmente pelo Deputado Paulo Delgado, e com o
embasamento dos preceitos imbuídos na Reforma Psiquiátrica, a Lei 10.216/2001
favoreceu com um respaldo jurídico e uma consistência inovadora, as ações
voltadas ao doente mental, assim como é exemplificado no quadro abaixo.

Quadro nº 02- Explicitação da Lei 10.216/2001 - Paulo Delgado

Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria 2006 <http:// www.abpbrasil.org.br >


73

Como estratégia principal do processo da Reforma Psiquiátrica, foi estabelecido


que os serviços já existentes no novo modelo assistencial deveriam ser cadastrados
como Centro de Atenção Pssicossocial (CAPS). O primeiro Centro a ser inaugurado
no Brasil foi em março de 1986, em São Paulo. Recebeu o nome de Centro de
Atenção Psicossocial Professor Luís da Rocha Cerqueira. Este protagonizou uma
série de muitos outros, em vários municípios do país, que se consolidaram enquanto
mecanismos eficazes na diminuição de internações e nas mudanças exercidas
sobre o modelo tradicional de assistência psiquiátrica.

Estes equipamentos da política de saúde mental, forma criados oficialmente a


partir da Portaria GM 224/92. Os CAPS, os Núcleos de Atenção Psicossocial
(NAPS), bem como os Centros de Referência em Saúde Mental e outros tipos de
serviços substitutivos que surgiram desde então no cenário brasileiro, estão
atualmente regulamentados pela Portaria nº. 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, e
integram a Rede do Sistema Único de SAÚDE (SUS). A partir desta Portaria esses
serviços foram ampliados, e ficou estabelecido que, especialmente os CAPS,

(...) que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas


que sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, num
74

dado território, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação


psicossocial, com o objetivo de substituir o modelo hospitalocêntrico,
evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da
inclusão social dos usuários e de suas famílias (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004, p. 11).

Estes Centros são instituições que têm por meta acolher os pacientes com
transtornos mentais. O diferencial está no fato de que almejam alcançar seus
objetivos, por estimular a integração social e familiar do usuário promovendo em
suas iniciativas a busca da autonomia por oferecer-lhes atendimento médico e
psicológico.
Os CAPS apresentam como característica principal, ações que visam integrar
estes indivíduos a um ambiente social e cultural concreto, levando em consideração
o espaço onde se desenvolve a vida cotidiana desses usuários. O que inclui
(...) seus conflitos, seus interesses, seus amigos, seus vizinhos, sua
família, suas instituições, seus cenários (igreja, cultos, escola,
trabalho, boteco etc.). É essa noção de território que busca
organizar uma rede de atenção às pessoas que sofrem com
transtornos mentais e suas famílias, amigos e interessados
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 11).

Ao analisarmos esta proposta, fica evidente que a mesma configura um


desafio, pois a operacionalização desta meta representa a constituição de uma rede
composta por diversos recursos. O que significa dizer que envolve recursos afetivos,
ou seja, as relações pessoais, familiares e de amigos, além dos serviços de saúde.
Também os recursos sociais, econômicos, culturais, religiosos e de lazer. Todos
estes setores estão convocados para potencializar as equipes de saúde no esforço
de cuidado e reabilitação psicossocial.
Toda essa dinâmica é ilustrada no gráfico abaixo, e revela o desafio que
significa a concretização desta proposta, tendo em vista que a mesma é perpassada
por um conjunto de crenças, costumes e tradições que em muito divergem dessa
proposta inovadora. O maior desafio na sistematização dessa Rede consiste na
mudança que deve ser feita, especialmente pelas pessoas envolvidas com as ações
assistenciais dentro da Política de Saúde mental.
75

Gráfico nº 04 – Proposta da Rede de Saúde Mental segundo a Reforma Psiquiátrica

Fonte: Ministério da Saúde. PRH / Coordenação Geral de Saúde Mental-2007

Para tanto, suas ações são assim formuladas:

(...) prestar atendimento em regime de atenção diária; (...) gerenciar


os projetos terapêuticos oferecendo cuidado clínico eficiente e
personalizado; (...) promover a inserção social dos usuários através
de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte,
cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento
dos problemas. Os CAPS também têm a responsabilidade de
organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território;
(...)dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede
básica, PSF (Programa de Saúde da Família), PACS (Programa de
Agentes Comunitários de Saúde); (...) regular a porta de entrada da
rede de assistência em saúde mental de sua área; (...)coordenar
junto com o gestor local as atividades de supervisão de unidades
76

hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território; (...) manter


atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam
medicamentos para a saúde mental (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2004, p. 13).

Um aspecto importante relacionado aos CAPS, é que estes podem diferir


quanto ao tamanho do equipamento, estrutura física, profissionais e diversidade nas
atividades terapêuticas que são ofertadas. Também, diferem quanto à especificidade
da demanda. O que implica dizer que os serviços são direcionados para criança e
adolescentes, usuários de álcool e drogas e para transtornos psicóticos e neuróticos
graves.
Compõe-se nas seguintes modalidades: CAPS I e CAPS II. São para
atendimento diário de adultos com transtornos mentais graves e severos. CAPS III.
Estes são para atendimento diário e noturno de adultos. Durante sete dias da
semana acolhe a população de referência com transtornos mentais severos e
persistentes. “Os CAPS I, II e III destinam-se a pacientes com transtornos mentais
severos e persistentes, nos quais o uso de álcool e outras drogas é secundário à
condição clínica de transtorno mental” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 23). Os
CAPSi. São CAPS de atendimento diário, para a infância e adolescência com
transtornos mentais. “Estão incluídos nessa categoria os portadores de autismo,
psicoses, neuroses graves e todos aqueles que, por sua condição psíquica, estão
impossibilitados de manter ou estabelecer laços sociais” (idem).
Por fim, há o CAPSad, que passou a existir a partir de 2002. Destinam-se a
usuários de álcool e drogas, para atendimento diário à população com transtornos
resultantes do uso e dependência de substâncias psicoativas, como o álcool e
outras drogas. Estes possuem leitos de repouso com a finalidade de tratamento de
desintoxicação.
Estes Centros funcionam pelo menos durante os cinco dias úteis da semana (2ª
a 6ª). Os horários de funcionamento durante os fins de semana dependem do tipo de
CAPS, como pode ser observado no quadro abaixo:
77

Quadro 03 - Implantação dos CAPS por nº. de habitantes

CAPS I – município com população entre 20.000 e 70.000 habitantes


Funciona das 8 às 18 horas
De Segunda a Sexta-Feira
CAPS II - município com população entre 70.000 e 200.000 habitantes
Funciona das 8 às 18 horas
De Segunda a Sexta-Feira
Pode ter um terceiro período, funcionando até as 21 horas
CAPS III - município com população acima de 200.000 habitantes
Funciona 24 horas, diariamente, também nos feriados e fins de semana
CAPSi - município com população acima de 200.000 habitantes
Funciona das 8 às 18 horas
De Segunda a Sexta-Feira
Pode ter um terceiro período, funcionando até as 21 horas
CAPSad - município com população acima de 100.000 habitantes
Funciona das 8 às 18 horas
De Segunda a Sexta-Feira
Pode ter um terceiro período, funcionando até as 21 horas
Fonte: Ministério da Saúde. PRH / Coordenação Geral de Saúde Mental

Para o desenvolvimento de suas ações, os CAPS devem interagir diretamente


com os Programas de Saúde da Família (PSF’s) e de Agentes Comunitários de
Saúde (PAC’s), tendo em vista que estes representam à porta de entrada no que
tange ao acesso à Política de Saúde. A Reforma Psiquiátrica defende o
deslocamento do centro do cuidado para fora do hospital, em direção à comunidade.
Visto que os CAPS se configuram enquanto dispositivos estratégicos desse
movimento de luta, e os PSF’s e PAC’s representam a Rede Básica de Saúde, o
trabalho que almeja a eficácia deve ser realizado de forma articulada, com vistas à
efetivação da assistência a saúde, especialmente no que se refere ao atendimento e
relação com os transtornos mentais.
Em termos simples, esta integração se revela nas seguintes atividades:

a) conhecer e interagir com as equipes de atenção básica de seu


território; b) estabelecer iniciativas conjuntas de levantamento de
78

dados relevantes sobre os principais problemas e necessidades de


saúde mental no território; c) realizar apoio matricial às equipes da
atenção básica, isto é, fornecer-lhes orientação e supervisão,
atenderem conjuntamente situações mais complexas, realizar visitas
domiciliares acompanhadas das equipes da atenção básica, atender
casos complexos por solicitação da atenção básica; d) realizar
atividades de educação permanente (capacitação, supervisão) sobre
saúde mental, em cooperação com as equipes da atenção básica
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 25).

A observação anterior nos revela que o desenvolvimento dessas atividades


está para além do simples encaminhamento, que envolve a referência e a contra-
referência na rede de atendimentos, porque implicam na responsabilidade
compartilhada por ambas as instituições. Nesse processo, quando se fizer
necessário, o CAPS em atuação na área de abrangência, poderá dialogar a
possibilidade de se acrescentar a seu corpo funcional uma ou mais equipe de saúde
mental, que tenham a finalidade de realizar as atividades de apoio a rede básica.
Neste sentido, “As atuais diretrizes orientam que, onde houver cobertura do
Programa de Saúde da Família, deverá haver uma equipe de apoio matricial em
saúde mental para no mínimo seis e no máximo nove equipes de PSF” (idem).
A discussão que engloba este mecanismo da política de saúde mental deve
levar em consideração que nos últimos tempos alguns gestores têm se empenhado
na ampliação da rede em seus municípios. Este é um dos fatores que certamente
vem contribuindo para o aumento no número de CAPS implantados, como se
observa no quadro abaixo.

Quadro nº 04 – Número de CAPS implantados por UF

UF POPULAÇÃO CAPS I CAPS CAPS CAPSi CAPSad TOTAL


II III
Acre 680.073 0 1 0 0 1 2
Alagoas 3.127.557 36 6 0 1 2 45
Amazonas 3.341.096 1 2 1 0 0 4
Amapá 613.164 0 0 0 1 2 3
Bahia 14.502.575 106 30 3 5 13 157
79

Ceará 8.450.527 40 27 3 6 17 93
D. Federal 2.557.158 1 2 0 1 2 6
E. Santo 3.453.648 7 8 0 1 3 19
Goiás 5.844.996 8 13 0 2 3 26
Maranhão 6.305.539 35 13 1 3 6 58
Minas Gerais 19.850.072 174 44 8 11 16 153
M. Grosso do Sul 2.336.058 7 6 1 1 3 18
M. Grosso 2.957.732 25 2 0 1 5 33
Pará 7.321.493 20 11 1 2 5 39
Paraíba 3.742.606 34 9 2 7 6 58
Pernambuco 8.734.194 16 17 1 4 10 48
Piauí 3.119.697 23 5 0 1 4 33
Paraná 10.590.169 34 26 2 7 19 88
R. de Janeiro 15.872.362 32 37 0 13 16 98
R. G. do Norte 3.106.430 10 10 0 2 5 27
Rondônia 1.493.566 10 5 0 0 1 16
Roraima 412.783 1 0 0 0 1 2
R. Grande do Sul 10.855.214 63 36 0 14 21 134
S. Catarina 6.052.587 41 13 1 6 8 69
Sergipe 1.999.374 20 3 3 1 3 30
São Paulo 41.011.635 55 74 19 27 58 233
Tocantins 1.280.509 7 2 0 0 1 10
Brasil 189.612.814 706 402 46 117 231 1502
Fonte: Ministério da Saúde. PRH / Coordenação Geral de Saúde Mental

Um traço importante que caracteriza a implantação dos CAPS em nível


nacional, é que a cobertura desse serviço não acontece de maneira igualitária, pois
abarca as especificidades regionais, além da dinâmica na administração pública de
seus respectivos Gestores.
80

Gráfico nº 05- Representação da cobertura de CAPS por 100.00 habitantes

Fonte: Ministério da Saúde, Coordenação de Saúde Mental-2006

Dessa forma, a expansão no número desses instrumentos sociais não implica


necessariamente na eficácia dos mesmos, tendo em vista que a sua dinâmica é
perpassada por alguns desafios. Os CAPS apresentam como prioridade, em
consonância com a Reforma Psiquiátrica, o favorecimento de estratégias e recursos
que proporcionem a inserção dos usuários. Mas, este processo está para além de
aproximar essas pessoas com transtornos mentais dos espaços comuns onde
vivem.
O desafio está em criar estruturas que ultrapassem a cultura tradicional e
excludente em torno dessas pessoas, cultura esta advinda não apenas da sociedade
mais, também e principalmente de seus cuidadores. Que na ausência de maiores
esclarecimentos, promoviam o distanciamento desses parentes do convívio social.
81

Esta realidade enfatiza a importância do trabalho em rede. A mesma deve


acontecer entre os agentes que vinculam as atividades desses Centros, com a rotina
diária. Ou seja, se faz necessário à estruturação de contatos com outras instâncias
como instituições, organizações e cooperativas, que imbricadas com estes objetivos
fortaleçam as possibilidades de inserção social do doente mental. Ignorar este
aspecto põe em risco toda a proposta e investimentos confiados a estes espaços,
bem como fragiliza a constituição de um modelo de atenção psiquiátrica,
descentralizado e de base comunitária, assim como é preconizado na Reforma
Psiquiátrica.
No entanto, esta não tem sido a realidade dos CAPS no cenário brasileiro.
Como se evidencia na afirmação de Correia, ao tratar da dinâmica dos CAPS na
vivencia em Santa Catarina.

[...] das 45 instituições pesquisadas, apenas 5, o que corresponde a


11%, mencionaram este objetivo, dando a entender que ele não
figura como prioritário. O Relatório de supervisão da Secretaria de
Estado da Saúde e avaliação dos CAPS em Santa Catarina, 2006,
ratifica essa idéia ao constatar a dificuldade entre os serviços para
executar atividades intersetoriais e em rede tornando-se ”necessária
uma ação conjunta coordenada pelos CAPS” (2007, p. 86).

Outra dificuldade que é percebida na operacionalização dos CAPS está


relacionada aos recursos humanos que devem compor o quadro de profissionais.
Segundo a legislação que passou a vigorar com a Portaria 336/2002, estes
mecanismos devem ser compostos por equipe multiprofissional, composta por:
médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo,
professor de educação física, entre outros. Mas, o que fica evidente em muitos
desses espaços é a defasagem em seu quadro. E esta realidade sem dúvida, resulta
numa sobrecarga de trabalho para alguns, e consequentemente compromete o
alcance da proposta estabelecida.
Acresce a isto o fato de que esses profissionais precisam desenvolver suas
funções com um número de recursos materiais e financiamentos, que nem sempre
são apontados como adequados ou mesmo, suficientes à demanda. Essa
característica reflete a realidade da política de saúde em geral, que assim como foi
pontuado anteriormente, também carece no direcionamento e gestão pertinentes
aos seus custos.
82

Como acrescentam Bezerra e Dimenstein

Os CAPS surgem como uma proposta ousada de transformação ao


tentar ganhar espaço em uma realidade antes alicerçada e restrita ao
espaço hospitalar e com o poder de resolução centralizado no
profissional médico. Uma atenção integral, como a pretendida pelo
SUS, só poderá ser alcançada através da troca de saberes e práticas
e de profundas alterações nas estruturas de poder estabelecidas,
sendo instituída uma lógica do trabalho interdisciplinar por meio de
uma rede interligada de serviços de saúde. Se, por um lado, o CAPS
ocupa um lugar de destaque na reorganização da assistência em
saúde mental, por outro, pouco se investiu para que a rede básica
acompanhasse os avanços da área de saúde mental em sua trajetória
de transformações tecnoassistenciais. Entretanto, essa dicotomia traz
desdobramentos importantes tanto para a configuração do SUS
enquanto sistema unificado e integral como para a eficácia da rede
básica e dos serviços substitutivos, dada a necessidade de
estabelecer articulações necessárias para uma atenção resolutiva em
saúde mental (2008, p. 642).

Assim, fica clara a vinculação dos problemas enfrentados pelos CAPS com a
organização mais geral do SUS, que tem nos seus níveis de complexidade inúmeras
dificuldades que envolvem desde a questão do financiamento insuficiente até a falta
de interlocução nos movimentos de referência e contra-referência em saúde.
Além dos CAPS, fazem parte do leque de avanços da atenção à saúde mental,
as Residências Terapêuticas, também chamadas de Serviços Residenciais
terapêuticos – SRTs. Sua implantação exigiu dos gestores do SUS uma constante
articulação entre a comunidade, vizinhança e outros atores sociais do território. São
casas, ou locais de moradia para pessoas com transtornos mentais que
permaneceram por um período de tempo longo em instituições psiquiátricas, e que
por isso ficam impossibilitadas de retornar às suas famílias de origem. Estas
residências foram implantadas pela Portaria/GM nº. 106 de fevereiro de 2000, e
integram a Política de Saúde mental do Ministério da Saúde.
83

Gráfico nº 06-Serviços Residenciais Terapêuticos em funcionamento (2002 a 2006

Fonte: Ministério da Saúde, Coordenação de Saúde Mental-2006

Para atender aos seus objetivos, são estrategicamente localizadas no espaço


urbano para responder às necessidades de moradia dos usuários portadores de
transtornos mentais em situação de vulnerabilidade. Em geral, essas pessoas não
usufruem de vínculos familiares. Uma especificidade nessas instituições, é que elas
se não constituem em unidades de saúde. Antes, estas residências são espaços de
habitação que devem favorecer a pessoa com sofrimento mental a inserção social.
Muitas vezes possibilitam a reconstrução dos laços sociais e afetivos para aqueles
cuja vida encontrava-se delimitada por aspectos que favoreciam a exclusão social.
Os moradores das residências são acompanhados pela rede extra hospitalar
(CAPS, ambulatórios, atenção básica, etc.) visando o respeito a cada indivíduo, bem
como ao seu nível de (re)adaptação à vida em sociedade. O número de usuário por
unidade pode variar de um indivíduo, até um pequeno grupo de oito pessoas, que
contarão sempre com a assistência de CAPS. As atividades devem buscar de modo
especial, habilitar essas pessoas para a rede de serviços, organizações e relações
sociais da comunidade. A convivência nesses espaços representa o início de um
longo processo na tentativa de inserir socialmente o morador.
Outra característica dessas residências é que elas são mantidas por recursos
financeiros que anteriormente eram destinados aos leitos psiquiátricos. Um dado
84

interessante neste sentido é que, para cada usuário de hospital psiquiátrico que é
transferido para uma residência terapêutica, um número igual de leito deve ser
desativado e descredenciado no SUS, e os recursos financeiros que o mantinha
deve ser realocado para os fundos do Estado ou do Município correspondente, com
fins de manutenção dos serviços terapêuticos.
Vale ressaltar que, assim como,se deu com os CAPS, o incentivo financeiro
para as residências, pode ter sido um dos mais importantes aspectos de estímulo,
na expansão da Rede. Como resultado desse trabalho, ocorreu um processo
gradativo de “desativação de leitos psiquiátricos” (Ministério de Saúde. Relatório de
gestão 2003-2006, p. 21).
Com relação à desativação de leitos psiquiátricos, é imprescindível situarmos
este aspecto dentro do contexto social, tendo em vista que a assistência à saúde
mental não pode ser compreendida isoladamente do sistema da política de saúde no
qual está inserida. E neste respeito, é possível afirmarmos que as mudanças
significativas ocorreram a partir da década de 1970, com o advento da privatização
acelerada desses leitos.
Esta característica implicou em mudanças, que se deram não apenas na
assistência psiquiátrica, mas, na política de saúde como um todo. Pois a partir desta
década, ampliou-se a privatização da assistência médica, através da compra de
serviços pela Previdência Social. Especialmente após a criação do Instituto Nacional
de Previdência Social - INPS, a prestação de serviços assistenciais, começou a ser
feita através de serviços contratados de terceiros.
Dessa forma, a oferta dos serviços da assistência psiquiátrica sofreu um recuo.
O que pode ser evidenciado com o cenário dos leitos psiquiátricos, que em 1941
apresentavam uma estatística de 21.079 no âmbito público, em comparação a 3.034
privados. Este quadro cresceu proporcionalmente até 1970, chegando a atingir um
marco de 47.677 para 34.433 leitos privados. No entanto, ainda nesta década
ocorreu uma inversão nesse quadro. Os leitos privados passaram a ter um
crescimento acelerado, em detrimento dos espaços na iniciativa pública.
Outro dado importante está relacionado aos resultados obtidos com a avaliação
de leitos/1.000 habitantes. Neste sentido, fica explícita a necessidade de ajuste
neste sentido, pois além das diferenças regionais, há um declínio no atendimento
satisfatório à demanda, assim como esclarece Venâncio e Cassilia
85

[... [a taxa de leitos psiquiátricos/1000 habitantes. Esta taxa caiu


59% entre 1984 e 2003. Em 1941, esta era de 0,58 atingindo o ápice
de 0,88 em 1984, sendo que atualmente temos a menor taxa já
observada nos últimos 50 anos, com o valor de 0,36. Esta
distribuição não é uniforme em todo o Brasil, havendo uma
acentuada concentração de leitos na Região Sudeste. Esta taxa
traduz um número baixo de leitos, se considerarmos que 1% da
população sofre de quadros psicóticos, sendo estimada a
necessidade de, no mínimo 50 leitos para cada 1.000 habitantes.
Além disso, a taxa de leitos privados é acentuadamente maior do
que a de leitos públicos em todas as regiões (2007, p. 12).

Além disso, é importante que se questione o papel que estes leitos


desempenham no processo de inserção social do doente mental. Ainda em 2005,
ocorreu à elaboração de um relatório que buscava analisar o processo de
desospitalização em curso. Embora a Lei 10.2167 já estivesse em seu 4º ano de
aprovação, o relatório apontava que os hospitais psiquiátricos ainda concentravam o
atendimento terapêutico e configuravam a assistência psiquiátrica a pacientes que
apresentavam transtornos mentais.
Assim, foi concluído que a redução progressiva dos leitos, bem como a
inserção social dos usuários só poderá ocorrer se acompanhado por medidas
paralelas. Como a reintegração desses indivíduos aos seus respectivos lares e a
família, a consolidação de mecanismos como Residências Terapêuticas e o
Programa de Volta para casa, além da expansão dos CAPS pela interação e
inclusão de ações de saúde mental na atenção básica e outros serviços de saúde,
além do credenciamento de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, para eventuais
situações em que a internação se faça necessária.
Com relação ao Programa de Volta pra Casa, este foi instituído no governo do
então Presidente Lula por meio da Lei 10.708 de 31 de julho de 2003. Dispõe e
regulamente o auxílio-habilitação também, para usuários que tenham permanecido
em longas internações psiquiátricas. Tem como objetivo principal, a efetivação da
inserção social destas pessoas, por incentivar a estruturação de uma rede ampla e
diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadores do convívio social
e que possam assegurar o bem-estar e estimular o exercício dos direitos civis,
políticos e de cidadania. O benefício se constitui em pagamento mensal de auxílio
pecuniário de R$ 320,00 para pacientes que se enquadrem em alguns critérios. O
auxílio tem a duração de um ano, e pode ser renovado quando necessário.
86

Dentre os critérios exigidos para a inclusão no programa estão: ser


egresso de internação psiquiátrica, de no mínimo dois anos em
instituição custeada pelo Sistema Único de Saúde; que seja
tecnicamente possível sua inclusão no programa de reintegração
social e a necessidade de ajuda financeira; seja garantida ao
beneficiado a atenção continuada em saúde mental na rede local ou
regional; além da aceitação de submissão às regras do programa pelo
próprio ou seus familiares [...] (VENÂNCIO; CASSILIA, 2007, p. 13).

Este programa harmoniza-se com os ideais da Lei 10.216, quando esta


explicita que para os usuários egressos de longo internamento ou aqueles que
caracterizam a situação de grave dependência institucional, deve se destinar uma
política específica de alta planejada e que proporcione reabilitação psicossocial
assistida.

Figura nº. 12 - Usuária do Programa de Volta para Casa. Fonte: <http://www.ccs.saude.gov.br>

Este é um dos mecanismos que pode ser apontado como eficaz dentro da
política de assistência psiquiátrica, pois favorece alguns benefícios aos usuários
egressos de instituições, como também fortalece a possibilidade do convívio na
família e na comunidade em que se insere. No entanto, a luz da situação atual
brasileira dos serviços de saúde, deve-se levar em consideração o fato de que a sua
implementação ainda não cabe dentro do contexto de alguns Estados e Municípios,
tendo em vista que depende de negociações permanentes nestas instâncias de
governo, para que todos sejam incluídos e assistidos, e também para que ocorra a
integração entre as diversas instituições.
87

Assim, juntamente com o Programa de redução de Leitos Hospitalares de longa


permanência, e os Serviços Residenciais Terapêuticos, o Programa de Volta pra
Casa, constitui um tripé importante para a efetivação do processo de
desinstitucionalização das pessoas que sofrem com transtornos mentais submetidas
à privação da liberdade, em hospitais psiquiátricos brasileiros. Este programa é
caracterizado por um auxílo-reabilitação, que é direcionado também para aqueles
que por falta de alternativas são submetidos a tratamentos que os privem de seus
direitos básicos.
Além desses, existem os Ambulatórios de Saúde Mental, os quais oferecem
assistência às pessoas com transtornos mentais menores. Estes são
imprescindíveis, especialmente nos municípios que apresenta maior demanda de
atenção aos transtornos em geral. A sua relevância é vista com a necessidade de
que os usuários sejam acompanhados continuamente, de forma a evitar a
reincidência nas internações. Nestas situações, os ambulatórios podem dar suporte
às ações de um CAPS, uma vez que dispõe atendimento aos transtornos menos
graves.
No Brasil, o registro sobre os ambulatórios são mínimos. Faltam dados sobre a
atuação e a capacidade desses equipamentos, pois nem todos estão registrados no
Sistema DATASUS, e as informações que existem não explicitam as condições reais
das ações que são desenvolvidas nesses espaços.
Fazem parte ainda do conjunto de avanços da Política de Saúde Mental, os
Centros de Convivência e Cultura, que atuam como instrumento de ação, na
inclusão social de indivíduos com transtornos mentais em tratamento. Foram criados
através da Portaria 396 de 7 de Julho de 2005. Configuram-se enquanto dispositivo
público inovador que compõem a rede de atenção substitutiva da assistência
psiquiátrica e ofertam às pessoas com transtorno mental condições de sociabilidade.
As pessoas que trabalham ali são artistas, artesão e oficineiros. Em geral, são
pessoas em condições de desenvolver alguma atividade laborativa. Estes Centros
são especialmente implementados em municípios que se mostram capazes de
efetivar uma rede assistência no acolhimento e atendimento aos transtornos mentais
severos e persistentes. São preferencialmente implantados em localidades onde a
saúde mental apresenta cobertura adequada, especialmente no que diz respeito aos
CAPS. Busca-se a operacionalização desses mecanismos em localidades com mais
de 200.000 habitantes.
88

No entanto, a política de financiamento para estes serviços, ainda está em


construção e sua efetivação se evidencia de forma incipiente, o que se evidencia
pelo fato de que “existem hoje, apenas 60 Centros de Convivência e Cultura em
funcionamento no país, em sua maioria concentrados nos municípios de Belo
Horizonte, Campinas e São Paulo” (Ministério de Saúde, 2003-2006, p. 22).
Pode ser contada também como avanço da assistência a saúde, a implantação
de Hospitais-Dia. Estes representam uma das primeiras medidas do SUS, no intuito
de garantir às pessoas com transtornos mentais, o cuidado em meio aberto.
Constituí-se num recurso intermediário entre o ambulatório e a internação plena.
Através desses, são desenvolvidas atividades terapêuticas, com o objetivo de inserir
socialmente o usuário, sem privá-lo do convívio sócio-familiar. Porém, atualmente o
hospital-dia tende a ser um serviço em processo de superação, especialmente frente
ao papel de atuação dos CAPS nos últimos anos.
De fato, devido ao investimento do Ministério da Saúde, tanto na formação e
expansão como na capacitação de suas equipes, vários hospitais-dia, mudaram
progressivamente seu cotidiano, tornando-o mais dinâmico e consequentemente
mais comprometido com a inserção social dos usuários. “Muitos hospitais-dia
transformaram-se, assim em Centros de Atenção Psicossocial, assumindo sua
função estratégica de ordenamento da Rede de Atenção em Saúde Mental em seu
território” (Ministério de Saúde, 2003-2006, p. 22).
Apesar do esforço dos órgãos governamentais persistiu, entre o trabalho dos
hospitais-dia, uma resistência bastante intensa na prestação do atendimento ao
usuário portador de transtornos psiquiátricos. È sem dúvida uma resistência
baseada no traço cultural e nos mitos que envolvem a doença mental, aliado a falta
de preparo dos profissionais de saúde em lidar com os vários diagnósticos
relacionados a este universo.
Um processo que deve ser apontado como avanço para a assistência
psiquiátrica, é a ênfase dada a esta modalidade de atendimento nas equipes da
atenção básica. Dessa forma, com o apoio de profissionais da área de saúde
mental, e embasada em normalizações gerais, as Unidades Básicas de Saúde,
passaram a desenvolver diferentes formas de assistência e atenção a grupos de
saúde mental.
89

Neste processo, é importante identificar alguns aspectos que convergem entre


a assistência psiquiátrica e a dinâmica dos PSF’s e que podem resultar num avanço
extraordinário na redução do surgimento dos transtornos mais leves.
Assim, com a consolidação do PSF enquanto estratégia de reorganização do
modelo assistencial tem se desenvolvido no âmbito da atenção primária a
concepção da prevenção e promoção em saúde mental, conforme sinaliza Scóz e
Fenili,

Dentro as possibilidades de articulação e desenvolvimento conjunto de


ações destaca-se: capacitação e supervisão para as equipes de saúde da
família (ESF) completa, desenvolvendo temáticas relacionadas aos direitos
de cidadania e direitos humanos (Estatuto da criança e do adolescente
ECA, direito dos portadores de transtornos mentais, dos idosos, das
mulheres, etc.); princípios da reforma psiquiátrica e do PSF; família, grupos
e rede social; intervenção na crise; problemas relacionados ao álcool e
outras drogas; sexualidade/DST/AIDS ; uso de psicofármacos, entre outros.
Reforça-se a idéia de que a capacitação, enquanto educação continuada se
desenvolva reciprocamente entre as equipe do PSF e do serviço;
intervenções familiares comunitárias conjuntas como um instrumento de
capacitação (utilização da escuta como instrumento terapêutico na
compreensão da dinâmica familiar e das relações sociais; olhar atento e
sensível dos pontos de vulnerabilidade de quebra dos vínculos familiares e
sociais; estreitamento dos vínculos da equipe com os familiares portadores
de transtornos psiquiátricos severos); criação de uma equipe volante de
saúde mental por parte dos serviços de saúde mental substitutivos, para o
desenvolvimento das ações junto as ESF; integrar a saúde mental nas
diversas atividades de grupos oferecidas pelo PSF (caminhadas, ginástica
terapêutica, salas de espera, oficinas); articulações com as diversas formas
de organizações populares (associações de bairro, grupos de auto-ajuda,
etc), buscando construir novos espaços de reabilitação psicossocial
(oficinas comunitárias, hortas comunitárias, cooperativas, etc); promover
ações para diminuir o comportamento violento, abuso de álcool/consumo de
drogas, isolamento social/afetivo, entre outros, através da realização de
palestras, debates, atividades artísticas e de grupos (2003, p. 74).

No entanto, o próprio PSF tem apresentado inúmeros problemas no que se


refere à cobertura, aos processos de trabalho e a estrutura de funcionamento em
muitos municípios brasileiros.
Não obstante, tais iniciativas estarem em curso é importante assinalar que os
problemas relativos à assistência psiquiátrica pública já eram pontos de discussão
desde a I Conferência de Saúde Mental ocorrida de 25 a 28 de Junho de 1987, e
que se deu enquanto uma das resultantes da 8ª Conferência de Saúde. Como
mecanismo da Política de Saúde Mental no Brasil, a I Conferência de Saúde Mental
representou um marco histórico, pois refletiu o anseio de toda a comunidade
90

envolvida com a mesma, e que percebia a necessidade de interlocução desta, com a


política nacional de desenvolvimento social do Governo Federal.
Aquele momento no Brasil, foi caracterizado pelo desenvolvimento peculiar do
sistema capitalista no Brasil, predominantemente caracterizado por ser um modelo
econômico altamente concentrador, que se acentuou no pós golpe militar de 1964, e
que delimitou para o cenário nacional uma estruturação de ordem social traduzida
por profundas desigualdades, fundamentada em uma concentração de renda e
propriedade para uma minoria.
Essa realidade acarretou em fortes mudanças para o cenário trabalhista. Pois
desestruturou enormes contingentes populacionais que se estabeleciam no campo,
e foram obrigados a assumirem e migrarem para os grandes centros urbanos em
busca de melhores condições de vida. Este processo representou um ganho para o
modelo econômico vigente, tendo em vista que gerou um volume acentuado de
pessoas na procura de emprego e desvalorizou o valor da mão-de-obra,
aumentando ainda mais o cenário de desigualdade. Agravando, assim, as condições
de subemprego, desemprego e baixa remuneração da maioria.
Dessa forma, o plano no mundo das reivindicações sociais ficou comprometido.
A oferta de serviços das Políticas Sociais não tinha a devida atenção das
autoridades governamentais, que estavam mais preocupados em atender aos
interesses do sistema de produção e todos estes aspectos incidiram diretamente
sobre a dinâmica da assistência ao doente mental, tendo em vista que suas ações
fortaleciam a classificação e exclusão dos incapacitados para a produção e,
portanto, para o convívio social em uma sociedade organizada segundo os
princípios do modo de produção capitalista. Por isso, a preocupação e as ações
relacionadas com a política de assistência psiquiátrica deveriam abarcar estes
elementos que constituíam o contexto nacional da época.
Essa percepção era mais do que pertinente, se analisamos a configuração da
época, conforme expressa no Relatório Final da I Conferência Nacional de Saúde
mental dão evento,

O setor de saúde mental espelha as contradições desta organização


social brasileira, onde o Estado capitalista procura estabelecer
políticas sociais que o legitime, embora sem responder às
necessidades sentidas na área social, o que significa que esta é
tratada como um setor de choque, de contenção de controle da
91

insatisfação popular, sem se constituir em terreno de transformação


real (1987, p.12).

Assim, a I Conferência Nacional de Saúde Mental, buscou estabelecer seus


eixos de discussão a partir da relação entre a economia, sociedade e Estado,
sobretudo, nos rebatimentos desta relação sobre a saúde/doença mental. A
discussão desenvolvida ali tentou uma aproximação com o conceito de saúde,
destacando que a reformulação do setor para se obter serviços satisfatórios, não
seria suficiente se esta não estivesse articulada a implementação de todas as
políticas sociais do Estado, assim como havia se colocado desde a discussão da 8ª
Conferência Nacional de Saúde.
Além disso, esse momento possibilitou o convívio de diversas categorias
sociais, tanto os ligados a área específica como entidades religiosas, partidos
políticos, instituições privadas, associações de usuários e outros, que juntos
buscaram a viabilização no que tange a troca de informações para a melhoria na
qualidade assistencial. Em todo este processo há um aspecto inovador que merece
destaque e que está relacionado à forma na qual se estruturaram aquelas
reivindicações. É o fato de que as conquistas para a assistência psiquiátrica pública
seriam alcançadas num processo participativo e democrático.
Essas diversas categorias sociais compuseram um quadro de 176 Delegados
eleitos nas pré-conferências estaduais e outros segmentos que representavam a luta
da assistência à saúde mental. Este foi um evento, elaborado a partir de três eixos
temáticos, assim como é esboçado pelo Relatório Final do mesmo,

I – Economia, Sociedade e Estado: impactos sobre saúde e doença


mental;
II – Reforma sanitária e reorganização da assistência à saúde
mental;
A - Princípios Gerais
B - Princípios Básicos
C – Reformulação do modelo assistencial em saúde mental e
consequentemente reorganização dos serviços
D – Política de recursos humanos
III – Cidadania e doença mental: direitos, deveres e Iegislação do
doente mental.
A – Recomendações à constituinte
B - Reformulação da legislação ordinária (I CONFERÊNCIA
NACIONAL DE SAÚDE, 1987, p. 3).
92

Aquela foi à oportunidade para se chegar a um consenso, no que diz respeito


às contradições em torno do discurso científico e o político. Esses discursos foram
apontados em sua relevância como elementos propulsores no processo de
elaboração das propostas que iriam articular as ações em torno da saúde mental na
agenda de ações de saúde em geral. Além disso, apontado o aumento significativo
a demanda da população por serviços psiquiátricos, e o papel relevante dos
trabalhadores em saúde mental em articular a operacionalização dos direitos para os
doentes mentais. Para atingir os objetivos traçados, o encontro estabeleceu alguns
parâmetros, como estratégia de ação. A conquista da universalização e equidade foi
alguns desses passos que deveria chegar à construção de uma nova ordem
constitucional, que incluísse em sua cobertura a assistência a pessoa com
transtorno mental.
As reclamações para a assistência psiquiátrica pública e de qualidade, que
ecoaram na I Conferência Nacional de Saúde Mental impulsionaram o cenário que
se seguiu dentro das ações internas da política de saúde Mental, incluindo as
conquistas que se deram na elaboração dos direitos constitucionais para o doente
mental, em 1988 com a Constituição federal. Mas, considerando a realidade
nacional que promovia cada vez mais a ascensão do sistema capitalista, essas
conquistas não foram suficientes.
Por isso, em 1992 ocorreu a II Conferência Nacional de Saúde Mental com o
tema, A Reestruturação da Atenção em Saúde Mental no Brasil: Modelo Assistencial
Direito à Cidadania. Esse momento foi produto da Conferência Regional de Caracas,
para a Reestruturação da Atenção Psiquiátrica nas Américas, que aconteceu em
1990 e da IX Conferência Nacional de Saúde em 1992. Estas Conferências
pontuaram para a urgência na revisão da legislação específica e do modelo
assistencial predominante na área de saúde mental.
A oferta dos serviços era considerada como de má qualidade, somada a
freqüentes denúncias de violação dos direitos humanos e de cidadania de pacientes
internados em estabelecimentos psiquiátricos. Predominava a lógica do modelo
assistencial centrado no leito hospitalar psiquiátrico, utilizado quase como que como
único equipamento. O que significa que a cultura da exclusão à inserção social do
doente mental ainda era prevalecente, bem como a lógica do hospitalocentrismo.
93

Além disso, as ações até aquele momento estavam assentadas numa


legislação visivelmente inoportuna, pois esta não havia acompanhado os avanços da
atenção psiquiátrica,

O decreto n 24.559 de 1934 que dispõe "Sobre a Assistência e


Proteção à Pessoa e aos Bens dos Psicopatas" é a legislação que
temos em vigor sobre o assunto. Tal decreto é anterior ao surgimento
dos psicofármacos, que determinaram uma verdadeira revolução na
Assistência ao doente mental. Nestes quase 60 anos, além dos
avanços da Psiquiatria, a organização jurídica, política e social do
Brasil modificou-se profundamente. Fica claro que necessitamos de
uma nova legislação (II CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
MENTAL, 1992, p. 3).

Outro ponto para o qual se chamou a atenção nesse momento foi à


necessidade de superação no que diz respeito ao significado da substituição
progressiva dos manicômios por outros recursos assistenciais. Esse Projeto deveria
ser analisado sob critérios científicos, respaldados no saber médico psiquiátrico já
produzido, assim como nas informações e dados da realidade, no quadro da
assistência psiquiátrica em nosso país, com suas especificidades.
Pois a simples extinção dos hospitais psiquiátricos, não implicaria numa
assistência satisfatória ao doente mental. Ao invés disso, a assistência extra-
hospitalar no Brasil necessitaria de respaldo em quantidade e qualidade dos
serviços. Para tanto, seria preciso estimular o crescimento em atendimento, tanto no
setor público como no privado, e não ignorar a natureza de determinadas doenças e
distúrbios mentais em que os pacientes necessitam de internação para receber um
tratamento.
Passados quase dez anos da II Conferência Nacional de Saúde Mental, é que
ocorreu a III. Realizou-se nos dias 11 a 15 de dezembro de 2001 e trouxe em sua
agenda reivindicatória o lema, Cuidar, sim. Excluir, não. Este tema foi discutido a
partir do eixo temático: Reorientação do modelo assistencial. Tendo como subtemas
os recursos Humanos; o Financiamento e o Controle Social; Direitos, Acessibilidade
e Cidadania.
Foi um evento marcado por intercalação de períodos de intensificação nas
discussões em torno da assistência psiquiátrica e surgimento de novos serviços e
programas. Um dos elementos que marcou e estruturou esse evento, foi à
94

aprovação no mesmo ano, da Lei 10.216, que no Brasil é reconhecida como um


divisor de águas nas ações de atenção psiquiátrica.
A III Conferência representou outro momento, enquanto mecanismo de controle
social e foro privilegiado para discutir no panorama da Proteção Social, os avanços e
recuos do processo. Em sua pauta, alguns eixos receberam destaque como,

[...] o financiamento das ações de saúde mental, a fiscalização e


supervisão do parque hospitalar psiquiátrico e demais equipamentos
assistenciais, o ritmo de implantação dos novos serviços extra-
hospitalares, a criação de novas estruturas de suporte à
desinstitucionalização de pacientes com longo tempo de internação
em hospitais psiquiátricos, a formação de recursos humanos
adequados às novas estruturas de atenção em saúde mental, entre
outras relevantes questões para a área (III CONFERÊNCIA
NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2001, p. 8).

A pretensão era de medir o êxito deste evento a partir da construção de marcos


que norteassem uma nova realidade para a saúde mental no país, que realmente
afirmassem os ideais de equidade e justiça social propostos na CF de 1988 e pela
Reforma Sanitária, e nos quais se baseavam o SUS.
Em quase 10 anos do processo de Reforma Psiquiátrica sob vigência da lei
10.216, o SUS ampliou significativamente a rede de serviços extra-hospitalares e
reduziu leitos em hospitais psiquiátricos com baixa qualidade assistencial, lugar de
constantes violações de direitos humanos.
Esse foi um dos aspectos destacados na realização da IV Conferência
Nacional de Saúde Mental. Seu tema central foi Saúde Mental: direito e
compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios e teve por objetivo
promover o debate com os diversos setores da sociedade de modo a alcançar
propostas e recomendações para o SUS e demais políticas sociais sobre o tema.
Assim como ocorrera nas anteriores, os protagonistas foram representantes dos
diversos segmentos da sociedade.
Entretanto, a IV Conferência se desenvolveu em três etapas e teve uma
peculiaridade de ser intersetorial. O tema central esteve dividido em três Eixos, e
estes por sua vez em 27 Sub-eixos:
95

Tabela Nº 01- Eixos da IV Conferência Nacional de Saúde Mental


EIXO 1 Saúde Mental e Políticas de Estado: pactuar caminhos intersetoriais
(Eixo da Política e da Pactuação)

1. Organização e consolidação da rede


2. Financiamento
3. Gestão do trabalho em Saúde Mental
4. Política de Assistência Farmacêutica
SUB-EIXOS 5. Participação social, formulação de políticas e controle social
6. Gestão da informação, avaliação, monitoramento e
planejamento em Saúde Mental
7. Políticas Sociais e Gestão intersetorial
8. Formação, Educação Permanente e Pesquisa em Saúde
Mental
9. Reforma Psiquiátrica, Reforma Sanitária e o SUS

EIXO 2 Consolidar a Rede de Atenção Psicossocial e fortalecer os movimentos sociais


(Eixo do Cuidado)

1. Cotidiano dos Serviços: trabalhadores, usuários e familiares


na produção do cuidado
2. Práticas clínicas no território
3. Centros de Atenção Psicossocial como dispositivo
estratégico da Reforma Psiquiátrica
4. Atenção às pessoas em crise na diversidade dos serviços
6. Saúde Mental, Atenção Primária e Promoção da Saúde
SUB-EIXOS 7. Álcool e outras drogas como desafio para a saúde e
políticas intersetoriais
5. Desinstitucionalização, inclusão e proteção social:
residências terapêuticas, Programa de Volta para Casa e
articulação intersetorial no território
8. Saúde mental na Infância, Adolescência e Juventude: uma
agenda prioritária para a atenção integral e intersetorialidade
9. Garantia do acesso universal em Saúde Mental:
enfrentamento da desigualdade e  niqüidades em relação à
raça/etnia, gênero, orientação sexual e identidade de gênero,
grupos geracionais, população em situação de rua, em
privação de liberdade e outras condicionantes sociais na
determinação da saúde mental.

EIXO 3 Direitos Humanos e Cidadania como desafio ético e Intersetorial


(Eixo da Intersetorialidade)

1. Direitos Humanos e Cidadania


2. Trabalho, Geração de Renda e Economia Solidária
3. Cultura/ Diversidade Cultural
4. Justiça e Sistema de Garantia de Direitos
SUB-EIXOS 5. Educação, inclusão e cidadania
6.Seguridade Social: Previdência, Assistência Social e Saúde
7. Organização e mobilização dos usuários e familiares de
Saúde Mental
8. Comunicação, informação e relação com mídia.
9. Violência e saúde mental
96

Dessa forma, as Conferências se configuraram como instrumentos


fundamentais para a construção democrática da Política de Saúde Mental, pois
produziram importantes deliberações que subsidiaram a dinâmica das ações de
assistência psiquiátrica pública. Neste cenário, com a consolidação do
redirecionamento do modelo assistencial psiquiátrico, é visível a necessidade de
ampliação da garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais e a intensa
discussão do significado da cidadania, como princípio ético das políticas voltadas
para este campo. Para tanto, é fundamental a articulação de diversas políticas
sociais.
Finalmente, é importante que se afirme a relevância no que tange a adesão dos
preceitos da Reforma Psiquiátrica. Pensar nesta proposta, não implica numa
idealização romântica na condição da loucura, e não deve impedir o reconhecimento
da tensão existente no binômio sociedade-loucura, saúde-doenca mental. Ao
contrário, se deve admitir que essas novas propostas configuram a base e um passo
importante na realização de um trabalho efetivamente eficiente, que direcione
eticamente as ações em torno da demanda. Assim fica claro que,

(...) para além de promover um aperfeiçoamento técnico e


institucional do tratamento em saúde mental, a reforma psiquiátrica
tem efeitos positivos também do ponto de vista da cidadania
brasileira. Movimentando-se no sentido contrário ao da redução das
políticas sociais do Estado, ela aponta para a construção de uma
sociedade mais inclusiva e para a recuperação do sentido público de
nossas ações. Trata-se enfim, de uma transformação generosa e
radical de algumas das mais importantes instituições sociais de
nosso tempo (TENÓRIO, 2002, p. 57).

Portanto, o estudo acerca do desenvolvimento das ações destinadas ao


portador de transtorno mental, como também a efetivação de sua cidadania pode
revelar as inúmeras transformações ocorridas, principalmente nos últimos anos. É
possível, identificar o desempenho do Ministério da Saúde, bem como alguns dos
equipamentos sociais envoltos na problemática, em estimular a inclusão de
diretrizes que priorizam a dimensão subjetiva dos usuários e uma maior resolução
quanto aos problemas de saúde mental.
97

3.2 A Política de Saúde Mental na Paraíba

Em nível nacional, quando tratamos do processo que desencadeou a Reforma


Psiquiátrica é possível sinalizarmos avanços a partir da década de 1970. Assim
como fora pontuado anteriormente, é nesta década também que o cenário da
Política de Saúde mental inicia seu processo de mutações, no que se refere aos
serviços substitutivos. Todavia, esta não é a realidade no que concerne ao
desenvolvimento da assistência psiquiátrica na Paraíba.
Refazer a trajetória da assistência aos doentes mentais na Paraíba nos
períodos colonial, do império e mesmo na república embora não seja uma tarefa
impossível, configura um processo desafiador, tendo em vista que ao remontar a
estes períodos e analisar suas representações sociais, nos deparamos com uma
história desoladora. Porque no Estado da Paraíba, assim como no resto do mundo o
cenário envolto na questão da loucura é predominantemente caracterizado por
fatores tristes, perpassado por inúmeros erros e dominado por crendices, medos e
fantasias.
Outro fator que desfavorece o estudo da assistência aos doentes mentais no
Estado paraibano refere-se à escassez de registros escritos, bem como referências
dos principais acontecimentos em torno da política de saúde mental. No entanto,
apesar desta realidade, há alguns teóricos que preservaram em suas análises a
construção dessa política. E a partir destas poucas reflexões, é possível refazermos
o trajeto da assistência psiquiátrica, tendo por alvo identificar os avanços e recuos
da mesma.
Uma sistematização que pode auxiliar neste percurso, é a que foi traçada por
Filho (1977). Para este autor, ao estudarmos a assistência aos alienados no Estado,
nos deparamos com três períodos que ele destaca como relevantes ao
desenvolvimento dessa assistência, que são classificados em: “da origem à
fundação do Hospício da Cruz do Peixe; do Hospício da Cruz do Peixe até a
instalação do Hospital Colônia “Juliano Moreira” (1890-1928) e o período que
corresponde após a fundação do Hospital Juliano Moreira “(FILHO, 1977, p. 147).
Referindo-se ao primeiro período, de imediato identificamos a dificuldade em se
relacionar os acontecimentos com as datas precisas. Por exemplo, a Santa Casa de
Misericórdia é apontada como única instituição do período colonial a dar assistência
aos indigentes, o que incluía os doentes mentais. No entanto, não é possível afirmar
98

a data em que foi criada a Irmandade da Misericórdia da Paraíba, pois assim como
enfatiza Filho (1977), o seu primeiro arquivo desapareceu por ocasião da guerra
contra os holandeses, e o segundo, foi destruído em um incêndio, no século XVIII.
Entretanto, o referido autor nos informa que,

Certo porém é que o hospital já existia na época da invasão,


sendo depois reconstruído e ampliado em 1753, na
admi9nistração do Provedor Antonio José dos Feijós, conforme
se depreende do documento que a seguir transcrevemos,
respeitando a grafia original: “Snr. Erigida a Santa Casa da
Misericórdia desta cidade da Parahyba o foi também o hospital
della que se conservou até a tomada do Olandes, tempo em
que não só foi o dito Hospital destroido mas também ficou sem
mais renda[...]” (FILHO apud PINTO, 1977, p. 148).

No entanto, embora não possamos abstrair esta realidade do registro histórico


do contexto paraibano, é importante lembrar que as atividades desenvolvidas neste
hospital representaram um avanço, tendo em vista que estruturavam os primeiros
sinais de superação do costume então vigente, que era recolher os doentes mentais
às prisões, misturando-os com ladrões, assassinos e malfeitores de toda espécie.
Quando não se chegava ao absurdo de deixá-los em casa, trancafiados e
acorrentados em algum cômodo da casa da família e apartados da sociedade, o que
só favorecia a plena exclusão dos mesmos.
Embora no século XIX, a proteção hospitalar no Estado tenha sido ampliada, e
passado a contar com os Hospitais das Neves e o de Santana, só o tradicional
Hospital da Misericórdia é que recolhia os chamados insanos. E essa proteção se
dava de forma muito incipiente, pois acolhia esta demanda em apenas dois quartos,
um para cada sexo. O que apenas contribuía para uma assistência precária e sem
condição de promover algum resultado positivo, como pode ser observado no ofício
encaminhado ao presidente da Província, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, que
esteve como Governador de 17 de Outubro de 1873 a 10 de abril de 1875, pelo
Provedor Lindolfo José Côrrea das Neves.

[...] Neste Hospital apenas existem dois quartos em condições


de segurança, para doentes desta espécie, os quais se acham
ocupados com outros, que exigem toda a segurança por seu
estado de ‘furor’ (grifo da autora). Conservam-se atualmente no
Hospital sete alienados, mais ou menos furiosos, que, além das
ruínas, que causam no edifício com excavações no chão e
99

estragos nas paredes, incomodam nas ocasiões de acesso os


outros doentes com gritos e pancadas nas portas [...] (FILHO,
1977, p. 149).

Por essa e outras razões como a questão do financiamento e manutenção


destas instituições asilares, é que vez por outra se registra a recusa de
internamentos de indigentes doentes mentais. A princípio, a solução vista foi à
transferência dessas pessoas para o Estado vizinho, Pernambuco, comportava o
Hospício da Visitação de Santa Isabel, em Olinda, e o Hospital da Tamarineira em
Recife. Dessa forma, alguns dos doentes mentais foram enviados, tanto pelas
famílias como por autoridades policiais a estas instituições. Este fato, “em nada
agradava aos homens da Misericórdia recifense, também eles com sérios problemas
no tocante à assistência aos doentes mentais” (FILHO, 1977, p. 150).
Assim as condições deste período contribuíram em muito para o agravamento
na situação das pessoas que sofriam com transtorno mental. Os administradores
das instituições psiquiátricas precisavam contar com o sempre aumento no número
de doentes mentais que ali chegavam, e instavam pela edificação de um prédio que
servisse exclusivamente a estes, proporcionando um melhor enfrentamento da
questão.
Estavam presentes também as contribuições do mundo da caridade e que já na
época era apontado como relevante pelas autoridades governamentais, como é
evidenciado na afirmativa do Barão de Maraú, em exercício de 20 de abril a 1º de
novembro de 1867, à Assembléia Legislativa em 5 de agosto de 1867.

“O que seria dos menores, dos velhos, das mulheres, dos


inválidos, dos doentes, dos loucos, dos pais de numerosas
famílias, dos ineptos... se não fossem os estabelecimentos de
caridade, que os recolhessem ao seu seio e os socorressem
nesta miséria?” [...] E acrescentava:” Animar e desenvolver a
nossa Santa Casa é um dever, que, além de político, nos é
rigorosamente imposto por aquele santo preceito da lei das leis,
o amor do próximo” (FILHO, 1977, p. 152).

Portanto, este foi um período em que a assistência psiquiátrica paraibana se


contentou com as mudanças apenas no discurso. Assim como as colocações do
Barão, falavam e pensavam a maioria dos Presidentes de Província. No entanto, na
hora de agir esqueciam-se do que haviam escrito, e reservavam as ações de saúde
mental, nada mais que migalhas. Um exemplo desta realidade é o aconteceu com
100

os utensílios de um estabelecimento destinado a doentes vitimas de beri-beri, que foi


desativado. Por isso, esses objetos foram encaminhados “à Santa Casa, pelo ato nº
566 de 22 de Outubro de 1875. Com isso melhorou muito a situação do Hospital da
Misericórdia, permitindo ao provedor alegremente anunciar aos irmãos que o
nosocômio possuía, agora, as seguintes peças de roupa:

Quadro nº 05 – Doações encaminhadas “à Santa Casa” pelo ato nº 566 de 22 de


Outubro de 1875

BOM ESTADO MAU ESTADO TOTAL


Lençóis 47 28 75
Cobertas de chita 20 37 57
Camisas de Homem 28 17 45
Toalhas 37 11 48
Vestidos 10 2 12
Toalhinhas 6 16 22
Camisolas de 4 2 6
algodãozinho usado
Camisas de Mulher 22 4 26
TOTAL 174 117 291
Fonte: FILHO, 1977, p.153

Foi desta forma, com auxílios mínimos, parcas subvenções e raros donativos,
que a proteção social destes indivíduos se desenvolveu neste primeiro período, e
representou uma pequena, mas significativa melhora, na situação dos infelizes que a
ela recorriam.
Com relação ao próximo período que, segundo Filho (1977), vai desde a
implantação do Hospício da Cruz do Peixe até a instalação do Hospital Colônia
“Juliano Moreira” (1890-1928), configurou um cenário de melhorias no cenário
paraibano, tendo em vista que novas possibilidades passaram a fazer parte das
ações que eram desenvolvidas na Santa Casa. Assim como afirma Filho,

Um antigo Provedor da Santa Casa, o historiador José Ferreira de


Novais, assim descreve os primeiros tempos da era republicana: ”O
regime republicano começou promissor para a Santa Casa, Em
101

1890, o Dr. Venâncio Neiva, primeiro governador deste Estado, no


curto espaço do seu governo, foi ao encontro das necessidades da
S. Casa, fornecendo-lhe leitos, lençóis, uma bomba para a cacimba,
os petrechos necessários à canalização dagua nas várias
dependências do hospital” (1977, p. 155).

Naquele período também ocorreram outras mudanças que favoreceram as


atividades da Santa Casa, e conseqüentemente dos que ali se encontravam como
pacientes. Alguns decretos e leis foram promulgados, com vistas à melhoria no
atendimento e assistência à saúde. Dentre estes, pode ser citada a lei nº 5, de 12
dezembro, por meio da qual, angariou-se “o domínio útil do Sítio Cruz do Peixe,
inclusive os prédios nele existentes” (idem). Este foi um ganho muito significativo
para a assistência à saúde mental, pois a partir daquele momento, a Santa Casa
passou a gerenciar o funcionamento de uma enfermaria com atendimento exclusivo
aos loucos, e o Estado destinou recursos financeiros à sua manutenção,
proporcionando maiores e mais confortáveis serviços aos enfermos da ala
psiquiátrica.
Esses acontecimentos contextualizaram a gênese do Asilo da Cruz do Peixe,
fundado em 1889 e que pode ser considerado como a primeira experiência da
Política de Assistência Psiquiátrica na Paraíba, em termos de sistematização e
reconhecimento legal do Estado, enquanto política pública. A partir dessa ação,
começou-se a perceber uma mudança na figura da assistência psiquiátrica, pois
estes usuários da política começaram a ser atendidos num prédio isolado, o que
pela primeira vez na realidade local, denotava uma atenção específica. Porém, se
por um lado pontuamos esta instituição como sinal de avanço no cenário paraibano,
por outro devemos admitir a precariedade em sua estrutura física.
Pois segundo Filho (1977), o edifício constava de um pavilhão ao lado do
Hospital Santa Isabel, com mais ou menos uns trinta metros quadrados de área
coberta e dispunha de 12 celas escuras e sem ventilação constituía um espaço
físico que não contribuía para um atendimento adequado àqueles pacientes. As
portas destas celas possuíam uma abertura retangular em forma de cruz, e alertava
para o suposto perigo do excitado. Estes se manifestavam unicamente através de
gritos desordenados que ecoavam além dos altos muros que o separava do mundo
exterior.
Além das condições físicas, em pouco tempo outros aspectos contribuíram
para a insatisfação na atenção aos doentes mentais daquela época. Novas
102

dificuldades surgiram, e a escassez de recursos da parte do Estado afetou


diretamente o repasse de verbas para a Santa Casa, de modo que a instituição
passou a restringir sensivelmente os gastos, inclusive no que se referia ao Asilo da
Cruz do Peixe. Assim, as atividades no asilo passaram a caracterizá-lo como um
depósito de humanos, onde apenas eram recolhidos alguns infelizes considerados
como desprovidos da razão. A estes não se davam nenhuma garantia no que
concerne ao direito de atendimento digno.
Portanto, neste período as condições de vida para os doentes eram
deprimentes. Completamente apartados da sociedade, a pouca comunicação com o
enfermeiro ou pessoas da família se dava unicamente através das grades. A
medicação e o suprimento das refeições também aconteciam através das celas.
Inclusive, é importante assinalar que a terapêutica medicamentosa administrada não
diferia do contexto nacional. Resumia-se a aplicação de calmantes, com objetivo de
apenas promover a exclusão do doente mental.
A presença médica, não se fazia com freqüência e não eram demoradas com
atendimentos específicos. Além disso, alguns doentes só eram vistos a uma
distância considerável. Dessa forma, a assistência psiquiátrica até 1928 constituiu
um cenário não apenas de abandono, mas, principalmente desolador e o mais
vergonhoso da história da medicina na Paraíba, o que abarca o atendimento
psiquiátrico (FILHO, 1977).
Assim nenhum progresso foi de fato anexado à realidade paraibana com a
criação do Asilo de Cruz do Peixe. Mesmo o clamor popular e o de uns poucos
médicos, não conseguiram melhorar a situação dos alienados. Os investimentos em
termos de recursos pecuniários que chegavam a Santa Casa eram direcionados na
melhoria dos hospitais para outras especialidades médicas, deixando a Cruz do
Peixe no abandono. A razão desta atitude era justificada, com a explicativa de que a
loucura não era curável e que, portanto, não merecia o sacrifício de investimentos ou
despesas da parte dos parentes ou do Estado.
Apesar desta situação, que fortalecia a exclusão social do doente mental, ter
prevalecido por um período considerável de tempo, em 1928 e no governo de Solon
de Lucena, ocorreu uma mudança que representou um passo adiante para a Política
de Assistência Psiquiátrica na Paraíba. Neste ano o governo se convenceu de que a
assistência à saúde mental não poderia continuar sob a responsabilidade da Santa
Casa de Misericórdia. De uma verba que deveria ser aplicada no combate às
103

endemias e que fora destinada pelo Presidente Epitácio Pessoa, sobrara uma
quantia e se fazia necessário a alocação da mesma.
Por isso, foi aplicado um recurso na compra de um amplo terreno existente na
Estrada dos Macacos, atualmente Avenida Pedro II, e ali se iniciou a construção dos
edifícios que em seu conjunto passaram a constituir “o Hospital Colônia “Juliano
Moreira”, sob a direção e responsabilidade da Comissão de Profilaxia Rural (Filho,
1977, p. 160). Esta unidade de atenção e assistência psiquiátrica foi inaugurada em
23 de junho de 1928, na administração de João Suassuna.

Figura nº13- Apresentação atualizada da unidade do Complexo Psiquiátrico Juliano


Moreira no Estado da Paraíba

Fonte:<http//: www. onorte.com.br> Acesso em: 15/11/2010

A construção desta instituição caracterizou o cenário das primeiras medidas


rumo às inovações da Política de Saúde Mental no Estado. Como Diretor e alienista,
forma nomeados respectivamente, os Drs. Newton Lacerda e Mário Neves Coutinho.
Pra administrador o senhor Manoel Ferreira de Melo Milanez. Essa unidade de
saúde mental teve como primeiro farmacêutico, Antônio Mota da Silveira.
Em sua rica análise e com relação a estes servidores públicos, Filho nos dá
uma idéia de sua remuneração. Era a seguinte a remuneração mensal dos
funcionários do Hospital Colônia Juliano Moreira, como é evidenciado no quadro que
segue:
104

Quadro nº 06 - Remuneração mensal dos funcionários do Hospital Colônia Juliano


Moreira

FUNÇÃO REMUNERAÇÃO (mil reis)


Diretor 800
Alienista 600
Farmacêutico 250
Microscopista 250
Escriturário-Contador 300
Datilógrafo 250
Administrador 300
Porteiro 150
Fonte: FILHO, 1977, p.160

Com este novo espaço de atendimento, os usuários no asilo da Cruz do Peixe


foram transferidos de imediato. Foram também direcionados para lá, 10 insanos que
se encontravam recolhidos na cadeia pública da capital, embora não houvesse uma
estrutura adequada, no que diz respeito ao acolhimento destes, levando-se em
conta as necessidades que existiam.
Para a construção dos edifícios que formam a Colônia Juliano Moreira,
contratou-se os serviços do engenheiro Mateus de Oliveira, pela quantia de 49
contos e 83 mil réis. Entre as suas responsabilidades, estava a edificação do muro
de proteção, o acabamento de várias dependências externas e internas,
revestimentos internos, assentamento de mosaicos dos pisos, colocação de grades
e vidraças, além da construção de 8 quartos, uma casa para usina elétrica,
instalação da água e a pintura a óleo. Anexadas a estas despesas, o Estado
efetuou os seguintes investimentos, ”sem considerar outras despesas com móveis e
utensílios” (FILHO, 1977, p. 161).
105

Quadro nº 07 – Investimentos do Estado na implantação do Hospital Colônia Juliano


Moreira

INVESTIMENTO
Gastos com diversas modificações 4 contos, 253 mil 600 réis
Repartição de obras públicas (diversos fornecimentos) 22 contos, 412 mil, 800 réis
Material de iluminação e ajardinamento 11 contos, 479 mil, 800 réis
Despesas de conservação 9 contos, 610 mil, 50 réis
Assentamento de instalações elétricas (segundo 2 contos, 641 mil, 50 réis
pavilhão)
Fonte: FILHO, 1977, p.161

A construção deste complexo psiquiátrico deu início a uma nova fase na


assistência aos doentes mentais da Paraíba. Até aquela época, este hospital
representava o modelo nas atividades voltadas aos doentes mentais. O complexo
era dividido em duas seções, masculina e feminina, cada uma delas subdividida em
três enfermarias. Havia também seis quartos para onde seriam levados os possíveis
usuários agitados e que não tivessem recebido o necessário tratamento. Estava
incluso nas instalações, também, o refeitório e duas salas de hidroterapia.
Nesta época, o cenário paraibano começa a dar os primeiros passos rumo aos
avanços da Política de Saúde Mental. Tendo em vista que com a implantação do
hospital psiquiátrico, iniciou-se a tentativa em desenvolver atividades, tendo-se como
pressuposto a visão do então Diretor, o Professor Newton Lacerda. Este defendia a
prática da higiene mental e da ocupação terapêutica, enquanto formas de eficazes
de prevenção e tratamento da doença mental. Além da distinção no atendimento
para doentes com patologia mental aguda, e outro para pacientes crônicos.
Com o passar dos anos, outros melhorias foram alcançadas para atender a
demanda da saúde mental. Novos pavilhões foram construídos e introduzidos no
Hospital Colônia. Como a inauguração em agosto de 1943, do manicômio Judiciário
que possuía dois pavimentos e o sanatório Clifford. No que se refere à
administração desta unidade de atenção psiquiátrica, Filho traça uma especificação
no quadro destes gestores, conforme citação a baixo.
106

No governo João Pessoa, foi o “Juliano Moreira” dirigido pelo dr.


Antonio D’Ávila Lins, auxiliado pelos drs. Carlos Pires Ferreira e
Manoel Florentino da Silva. Em seguida, passaram pela direção do
hospital: drs. Onildo Leal, Luciano Ribeiro de Morais(1938-1959), em
cuja administração foi inaugurado, além do Manicômio, o sanatório
Clifford , destinado aos pensionistas: Gutemberg Botelho, que tendo
assumido em 19569, após um ligeiro período de 10 de janeiro a 21
de fevereiro de 1961, reassumiu o cargo, nele permanecendo até
1964: Wilmar Barreto Diniz, Lauro Nóbrega de Queiroz e Onildo da
Silva Melo(...) Nesse período, passaram pela Colônia, além dos
acima citados, os psiquiatras Onildo Leal, Gonçalves Fernandes,
Severino Patrício, Odívio Duarte, Heronides Cêlho Filho, Thiago
Formiga, Rodrigo Ulisses, Claudete Dantas, Claudio Dantas e outros”
(1977, p. 164).

Em seus primeiros 50 anos de existência, o Juliano Moreira enfrentou períodos


de avanços e também recuos. Mas, se deve destacar a sua relevância na Política de
Saúde Mental como referência em nível local, no atendimento a indivíduos que antes
nem mesmo eram percebidos como dignos de atenção específica, de uma política
social.
É importante destacar que na parte terapêutica, a Paraíba referendou ao que
parece, a primeira experiência no Norte do Brasil, no uso da meloterapia de um
modo sistemático. Percebeu-se que o uso da música com finalidade terapêutica,
como também a terapia ocupacional aliados aos métodos biológicos de tratamento,
poderiam resultar em melhores experiências com o doente mental.
Esta forma de atenção às pessoas com transtorno mental durou dois anos, de
1954 a 1956 e demonstrou que os sons e o canto, além de quebrar a rotina dura e
melancólica dos dias no interior de um hospital, ajudariam também o doente mental
a adaptar-se a realidade, o que favoreceria o processo inserção social. Este serviço
foi inicialmente mantido pelo Serviço Nacional de Saúde Mental – SNSM (mais tarde
substituído pela DINSAN). Mas, seu caráter de atendimento ampliado, foi
descontinuado e passou a funcionar apenas numa das dependências do hospital.
Um ambulatório que atendia pequenos psicopatas não contribuintes.
Em adição às atividades desenvolvidas no Hospital Colônia Juliano Moreira, o
Hospital Newton Lacerda sustentou durante alguns anos uma enfermaria destinada
a pensionistas e não contribuintes. Também, compunha estas ações de assistência
a saúde mental, os seguintes hospitais psiquiátricos particulares: Santa Amália,
Casa de Saúde São Pedro, Clínica Dr. Coelho Filho (1967-1970) Limitada e o
Instituto de Psiquiatria da Paraíba. (FILHO, 1977)
107

Um aspecto relevante deste processo, que se deve atentar, é o fato de que


influências positivas para as ações da Política de Saúde Mental passaram a existir
na figura de alguns profissionais atuantes da área. Por exemplo, em 1983 o hospital
era gerido pelo Dr. Gustavo Oliveira. Este recebia a assessoria de uma equipe de
“jovens psiquiatras- drs. Alisson Pereira da Paz, Napoleão G. de Albuquerque, Maria
Saneide de Paiva Pinheiro, Sara Travassos, Agamenon Campos Thiago Formiga,
Eliane P. Albuquerque, Marcos Vanderley e Luciano Morais”( FILHO, 1977, p. 164).
Todos estes foram alunos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal
da Paraíba e certamente tiveram uma atuação que impulsionou e contribuiu para
futuras ações reivindicatórias dos serviços que passaram a ser ofertados pelo
Hospital.
Um exemplo dessa realidade é o registro da denúncia promovida por membros
do setor de recursos humanos do Hospital Colônia Juliano Moreira e outros, no ano
de 1987. Como equipe organizada, um grupo de funcionários composto por
representantes da Associação Paraibana de Psicólogos, Administrador de Empresas
e Hospitalar, Assistente Social, Chefe do Setor de Nutrição da Colônia Juliano
Moreira, Representantes dos Plantonistas e representantes do Setor de Psicologia
da Colônia Juliano Moreira elaboraram um documento que atestava as condições de
completo abandono da instituição naquele período, levando em consideração os
limites, a falta de estrutura, atendimento precário, e todas as circunstâncias que
inviabilizavam o alcance do propósito da assistência a saúde mental no interior da
unidade.
Através do documento, aquele grupo buscava alertar, sobretudo, as
autoridades competentes e dar suporte para as providências cabíveis, no sentido de
que o doente mental recebesse uma atenção mais humanizada e dentro dos
parâmetros estabelecidos pela Luta antimanicomial. Que tinha por objetivo fazer
com que o doente mental fosse percebido enquanto pessoa humana. A Comissão
de Diagnostico sugeria neste documento que se pusesse um fim ao estigma
discriminatório que envolvia o doente mental. Pois independentemente de sua
condição social, estava numa situação que exigia do Estado à efetivação no
atendimento gratuito, de maneira digna e humana. A caracterização da Política de
Assistência a Saúde Mental em nível do Estado, bem como as intenções
reivindicatórias desta comissão, podem ser comprovadas com a seguinte afirmativa,
108

o doente mental é visto como ser amorfo, sem vontade ou desejos,


despersonalizado dentro da sociedade e da instituição, não
recebendo da parte considerada sadia, informações básicas como
dia, hora, onde se encontra e por quê. Não há ouvido para ouví-los,
sua individualidade não é respeitada. A instituição está doente e esta
doença, misto de medo e revolta, atinge a todos (RELATÓRIO, 1987,
p. 133).

As denúncias partiram inicialmente dos médicos plantonistas que mobilizaram


o Sindicato dos Médicos da Paraíba, na pessoa do então Presidente, o Drº Renô
Macaúbas. Segundo este Relatório, após a realização de uma Assembléia, foi
firmado a existência de uma Comissão para diagnosticar a unidade Juliano Moreira
e apresentar soluções, para que se efetivassem as melhorias urgentes que as
condições do hospital exigiam. Pois a psiquiatria que ali estava sendo desenvolvida
não era democrática, terapêutica e muito menos humana (1987, p. 10).
Após investigação minuciosa, fora detectado que havia muitos entraves que
atravessavam e, conseqüentemente, dificultavam a sistematização e concretização
dos preceitos da Reforma Psiquiátrica no interior da instituição. O que significa, em
outras palavras, que a dinâmica não favorecia aos usuários que ali chegavam o
retorno no convívio social. Entre estes elementos que constituíam um cenário
desafiador, estava à burocracia nas decisões da Diretoria, a desorganização no que
referia às compras de recursos materiais, as condições de insalubridade.

Em relação aos colchões e lençóis, são ainda em número


insuficiente, dificultando a troca, principalmente, devido ao precário
serviço de lavanderia, atingindo com isto as roupas de uso pessoal
dos pacientes. Há vazamento na maioria das instalações hidráulicas.
Não é corriqueiro o uso de sabão e pasta de dentes para os internos.
Não se usa toalhas. Não há água fria e filtrada dentro do pavilhão
para beber (RELATÓRIO, 1987, p. 30).

As reivindicações pontuavam também a precariedade no quadro de


funcionários, frente à demanda. O que acarretava numa sobrecarga de trabalho, e
incorria na insatisfação dos que estavam envolvidos com a assistência ao doente
mental. Referindo-se a realidade de um compartimento interno, o documento
supracitado comenta que, “o pavilhão é assistido por apenas uma médica
psiquiátrica, solicitando esta, melhores condições para o trabalho, como, maior
número de psiquiatras” (RELATÓRIO, 1987, p. 31).
109

É digno de nota que este Relatório aponta para uma questão que se fez
presente em todo o processo de desospitalização no contexto da assistência
psiquiátrica. É o fato de que há certa dificuldade para os profissionais envolvidos
com a mesma, em identificar e caracterizar o papel que cada um representa dentro
do processo de implantação da Política de Saúde Mental, especialmente quando
esta defende a inserção social do doente mental.
Mas, de forma geral o relatório aponta a consonância de todos os envolvidos
com o trabalho da instituição, no que se refere a reivindicações que visavam à oferta
de serviços com aspectos de humanização da vida ou sobrevida de todos os que se
encontravam na estrutura hospitalar.
Com resultante desta ação, foi nomeada ainda no ano de 1987, mais
precisamente no mês de Maio, uma Comissão de Sindicância pelo senhor Secretário
de Saúde, o Drº. Gilvan Navarro com o intuito de esclarecer os desvios de vários
materiais e equipamentos, relacionados e necessários ao funcionamento do
Hospital. Como sugestão ao então Governador do Estado, Drº Tarcísio de Miranda
Burity, a equipe organizadora deste Relatório indicou a possibilidade de que se
consultasse caso necessário fosse, a Auditoria do Tribunal de Contas do Estado da
Paraíba, para que de forma imparcial, isenta de protecionismo político e de
paternalismo, chegasse a atingir o objetivo almejado.
Para além desta medida, a Comissão responsável pela elaboração desse
Relatório Diagnóstico, considerou como imprescindível que as transformações se
iniciassem no âmbito interno da instituição. Destacou que já naquele período, o dia
15 de maio fora instituído como o Dia Nacional da Infecção Hospitalar, conforme
Decreto assinado pelo Sr. Presidente da República, Drº José Sarney e o Ministro da
Saúde, Drº Roberto Santos. O objetivo seria enfatizar a importância de atos, que
embora considerado simples, seriam de suma importância para o controle de
infecções generalizadas nos espaços hospitalares. Ou seja, o simples ato de lavar
as mãos poderia ajudar na redução do quadro de infecções.
No entanto, o lavar as mãos que se fazia presente no Hospital psiquiátrico
Juliano Moreira, era o da negligência por parte das autoridades competentes diante
das necessidades internas, que se agravavam cada vez mais. E que até então,
estava mascarada pela boa aparência resultante de reformas externas, que apenas
fortalecia o cenário de desconhecimento do total abandono que predominava no
interior da unidade psiquiátrica.
110

Entretanto, no interior do contexto paraibano, é possível a identificarmos de


algumas medidas em torno da assistência psiquiátrica. Dentre as iniciativas
governamentais, esteve o Programa Integrado de Saúde Mental (PISAM). O mesmo
representou a primeira ação da gestão federal para atuar na prevenção em saúde
mental. Este programa priorizava “o treinamento de médicos generalistas que desde
então, integrariam as ações de saúde mental, no conjunto de suas ações gerais de
saúde”. Com o paradigma da descentralização, o PISAM propiciou a ampliação dos
serviços primários em saúde mental em dezoito municípios do Estado
(CAVALCANTI, 1997, p. 1).
Entretanto o PISAM tinha como critério de inclusão, a contingência da
população. Fatores mais relevantes, como a “situação dos equipamentos de saúde,
preparo profissional, quadro epidemiológico amplo”, foram desconsiderados. “Por
isso, não era possível explicitar uma transparência real, do quadro de resultados nos
serviços ofertados” (CAVALCANTI, 1997, p. 2).
Por fim, esses fatores acabaram contribuindo para o fracasso do PISAM, que
em 1987 foi substituído pelo Programa de Descentralização da Assistência
Psiquiátrica, embasado no foco da descentralização/municipalização. A partir de
então, a idéia de descentralizar as ações de saúde mental, representaria a quebra
processual com a cultura asilar, ou seja, com o modelo hospitalocêntrico.
Assim, a partir deste período a política de assistência psiquiátrica na Paraíba
começa a dar seus primeiros passos, rumo à superação da atenção tradicional que
era direcionado ao doente mental. E assim como se dava na maior parte do país
naquele momento, o processo de reforma psiquiátrica no Estado, transcendeu a
busca de soluções apenas técnicas. Para, além disso, as propostas buscavam
transformar aspectos técnicos, políticos e sociais sobre a loucura e suas instituições.
O avanço nesse sentido teve como embasamento, a desinstitucionalização da
doença e do doente mental.
Um exemplo deste processo é o que se deu em João Pessoa, especialmente
na década de 1990, em resultado do Movimento de Luta Antimanicomial. Este
movimento reclama uma reforma psiquiátrica com visibilidade das mudanças
transformadoras da assistência psiquiátrica nos seus serviços públicos. Para tanto,
se fazia necessário iniciar o processo de substituição do modelo hospitalocêntrico,
pelos mecanismos substitutivos de atenção a saúde mental.
111

Foi nesta Capital também, que se fundou o primeiro Centro de Atenção


Psicossocial – CAPS – do Estado, em 1995. Até aquele momento, o enfrentamento
da problemática contava apenas com a assistência tradicional de internamento em
clínicas conveniadas, como o Hospital Colônia Juliano Moreira e algumas outras.
Nos anos que se seguiram, a implantação desses serviços expandiu-se de forma
considerável, e várias cidades foram contempladas, principalmente nos anos de
1990.
Ainda em resposta a essa demanda, a Secretaria de Saúde do Estado
promoveu a reorganização administrativa dos serviços substitutivos e reuniu
algumas instituições psiquiátricas públicas constituindo o Complexo Psiquiátrico
Juliano Moreira – CPMJ - no espaço murado da antiga Colônia, sob uma única
direção. No mesmo espaço, fundou mais dois novos serviços: o Hospital-Dia - HD,
inaugurado, em 1998, e o Centro de Atenção Psicossocial - CAPS - Dr. Gutemberg
Botelho, inaugurado em abril de 2001.
Estes novos espaços institucionais passaram a ser defendidos por diversas
categorias profissionais que estavam engajadas no âmbito do governo nacional. O
Ministério da Saúde começou a lançar propostas de implantação desta nova Política
de Assistência a Saúde Mental, com ênfase nos serviços substitutivos do hospital
psiquiátrico tradicional. De um modo que estes equipamentos de atenção
psiquiátrica, operacionalizassem a promoção da pessoa com adoecimento mental
como também promovessem a sua inserção social. “[...] são novos instrumentos da
atual política para promover a reforma psiquiátrica, que pressupõe um novo modo de
organizar e processar o trabalho para produzir saúde mental” (SILVA; BARROS,
2005, p. 312).
Este cenário nacional incidiu diretamente no contexto do Estado, tendo em
vista que as ações desenvolvidas em nível local passaram a contar com o aparato
legal. Além da Lei nº 10.216, as ações de assistência a saúde mental começaram a
ser embasadas em Decretos e Projetos de Lei, elaborados por atores locais e que
estavam engajados direta ou indiretamente, com os ideais da luta antimanicomial.
Estes mecanismos atribuíram à realidade da assistência psiquiátrica uma
dinâmica singular, considerando que o cenário da Política de Saúde Mental passou
a ser estruturado com vistas ao melhor atendimento não só ao doente mental, mais
também aos seus cuidadores tendo por objetivo alcançar à inserção social dos
usuários.
112

O Projeto de lei nº 215/2003 é um desses mecanismos de inovação e que está


presente na história da Política de Assistência Psiquiátrica. Teve como autor o então
Deputado Estadual, Ricardo Coutinho e dispunha sobre a proposta da Reforma
Psiquiátrica no Estado. Sobre este Projeto-Lei, é possível afirmarmos que o mesmo

[...] determina a implementação de uma Rede de atenção integral no


campo da saúde mental que vise à progressiva substituição do
Modelo Hospitalocêntrico pela inserção dos enfermos na sociedade
com amplo acesso ao sistema de proteção, determina regras de
saúde aos que são acometidos de sofrimento psíquico,
especialmente quanto às internações psiquiátricas involuntárias e
compulsórias, e dá providências (PROJETO-LEI, 2003, p. 1).

Além disso, em consonância com o Plano Nacional de Saúde, preconizados


através do SUS, o Governador Cássio Cunha Lima sancionou a LEI nº 7.369 de
23/06/2004. Firmando, dessa forma, o compromisso ético-político enquanto instância
governamental de implantar de forma concreta a Reforma Psiquiátrica na Paraíba.
Esse compromisso é visto, na explicitação do Capítulo I, Artigo 6º quando trata da
atenção à saúde mental. Este determina que para que se efetive a
operacionalização da Reforma Psiquiátrica, na forma da Lei federal deve ser levado
em conta às competências de cada Estado e Município, respeitando e atendendo as
peculiaridades regionais e locais, bem como o caráter articulado e integrado do
SUS.
A Lei nº 7.369 de 23/06/2004, primou ainda pelo doente mental quando
delimitou as possibilidades de enfrentamento da problemática, sem o uso da
privação de liberdade. Visto como sujeito de direitos ficou permanentemente proibido
a utilização de celas fortes, camisas-de-força e qualquer outro tipo de procedimento
violento e desumano em qualquer estabelecimento de atenção à saúde mental. Esse
era um hábito caracterizador do sistema tradicional da política de saúde mental, e
que deveria ser superada. Pois compunha um quadro de desrespeito e
desumanidade, frente ao doente mental.
A pessoa com adoecimento mental passou a ser percebido também em seu
contexto sócio familiar, e quando este por alguma razão perdia esses laços afetivos,
reclamava-se atenção assistencial do Poder Público em providenciar a aos
subsídios ao atendimento integral de suas necessidades, visando por meio de
políticas intersetoriais, a sua integração social.
113

É a partir deste momento, que se observa no cenário paraibano, a ênfase na


promoção de Conferências estaduais, enquanto mecanismo de fortalecimento, de
análise e projeções da Política de Saúde Mental no Estado, segundo determinações
e condições estabelecidas pela pactuação dos órgãos gestores da saúde pública no
Estado e nos municípios.
No que tange a responsabilização do Estado, frente ao atendimento da
assistência à saúde mental, é válido ressaltarmos o Artigo 14, que atribui a
Secretaria de Saúde do Estado – SES, da Paraíba a ação de apresentar anualmente
ao Conselho Estadual de Saúde, um Relatório de Gestão em atenção à Saúde
Mental, contendo:

Tabela nº 02– Atribuições para o Relatório Anual de Gestão em atenção à Saúde


Mental
RELATÓRIO DE GESTÃO

I – uma análise da situação de saúde mental (diagnóstico) com os principais


indicadores de saúde e condições de vida;

II – organizações dos serviços de saúde mental no âmbito estadual;

III – quantidade de ações, atividades e procedimentos realizados em saúde


mental;

IV – recursos humanos existentes e necessários, recursos humanos


capacitados em saúde mental;

V – quantidade de recursos financeiros orçados e executados (aplicados) em


saúde mental;

VI – avaliação da Reforma Psiquiátrica em andamento no Estado da Paraíba e


propostas para superação dos entraves à sua implantação/implementação.
Fonte: Lei nº 7.369 de 23/06/2004

Estes movimentos envoltos na assistência psiquiátrica pública da Paraíba


contribuíram de tal forma, que atualmente o Estado assume um dos primeiros
lugares nas estatísticas nacionais, quanto à operacionalização dos serviços
114

substitutivos de assistência a saúde mental. Destacando-se também como o Estado


com maior cobertura de CAPS por 100.000 habitantes.
De forma geral, podemos afirmar que o Estado mantém uma Rede bem
estruturada de assistência psiquiátrica. A realidade atual está descrita no quadro
abaixo, segundo informações contidas em Relatório do próprio Núcleo de Saúde
Mental - NSM, da SES.

Quadro nº 06 – Rede atual da Política de Assistência Psiquiátrica na Paraíba

MUNICÍPIO CAPS I CAPS II CAPS III CAPS i CAPS ad SRT PVC

Araruna 01
Alagoa 01
Grande
Aroeiras 01
Alhandra 01
Bananeiras 01
Barra de 01
Santana
Belém 01
Boqueirão 01 01 03
Bayeux 01
Caaporã 01
Cabedelo 01 01
Conde 01
Coremas 01
Conceição 01
Cajazeiras 01 01 01
Campina
Grande 01 01 02 01 06 63
Esperança 01
Galante 01
Guarabira 01
115

Inga 01
Itaporanga 01
Itabaiana 01
João Pessoa 02 01 01 01 02
Juazeirinho 01 02
Lagoa Seca 01 01
Mamanguape 01
Mari 01
Monterio 01
Patos 01 01 01
Pedras de 01
Fogo
Picuí 01
Pombal 01
Pocinhos 01
Piancó 01 01 01 04
Princesa 01
Isabel
Queimadas 01
Santa Rita 01
Sapé 01
São Bento 01
Souza 01 01 01 02 05
Soledade 01
Solânea 01
Taperoá 01
Teixeira 01
TOTAL 35 09 02 07 07 16 74
Fonte: Núcleo de Saúde Mental- SES/PB, 2010

A Rede de Saúde de Assistência Psiquiátrica, conta também com um número


considerável de serviços substitutivos, que ainda estão em processo de implantação.
Há aqueles que receberam incentivos, mas, não estão funcionando, como é o caso
de Sumé, onde deverá ser existir um CAPS I, e que não está sendo
116

operacionalizado, devido há algumas pendências em Brasília. Na mesma situação,


encontra-se o CAPS I de São José do Rio do Peixe (RELATÓRIO- NSM, 2010).
Além destes, existem os que receberam incentivos e já estão em
funcionamento sem cadastramento: João Pessoa, que foi contemplado com mais um
CAPS ad, São José da Mata, com um CAPS I, Guarabira que embora enfrente
algumas pendências com a SES, terá um CAPS I e Catolé do Rocha com um CAPS
I. (idem)
Em fase de implantação, encontram-se os municípios de: Igaracy (CAPS I),
Santa Luzia (CAPS I), São José de Piranhas (CAPS I), Santa Rita (CAPS ad),
Massaranduba (CAPSI), São Sebastião de Lagoa de Roça (CAPS I), Pilar (CAPS I),
Princesa Isabel (CAPS i e CAPS ad), Cuité (CAPS I). (idem)
Assim, a Paraíba vem se colocando na vanguarda da atenção ao adoecimento
mental. Hoje, para uma população de cerca de 3.623.215 habitantes, ela
disponibiliza em sua Rede de atenção à Saúde Mental um total de 39 CAPS e 16
SRT, já implantados e credenciados pelo Ministério da Saúde. Estes serviços estão,
na medida do possível, alocados estrategicamente por todo o território.
Proporcionando, a acessibilidade e a oferta das ações, assim como assegura as
conquistas estabelecidas no SUS.
Essas realizações e conquistas no quadro da Política de Assistência
Psiquiátrica da Paraíba agrupam uma série de particularidades. Além das questões
político partidárias, que atravessaram todo o processo de constituição da Rede de
Atenção a Saúde Mental, outro aspecto que se fez presente como entrave a
operacionalização destas propostas inovadoras diz respeito à cultura
hospitalocêntrica, preconceituosa e excludente no que se refere à pessoa com
adoecimento mental.
Esta cultura predominou por longo tempo, inclusive na rotina trabalhista dos
profissionais envolvidos com a assistência ao doente mental, e por vezes dificultou o
acesso destes aos mecanismos sociais substitutivos ao modelo tradicional. E mais,
impedia o estabelecimento de parcerias com unidades que de alguma maneira
poderia fortalecer o que já havia sido conquistado.
Entretanto, esta realidade também sofreu alteração no interior do Estado, e
configura um dos avanços para assistência ao doente mental. Atualmente as ações
abarcam, além do atendimento satisfatório à demanda da pessoa com adoecimento
mental, as necessidades das famílias cuidadoras, dos profissionais e da própria
117

necessidade em articular as ações com experiências advindas de outras realidades


e que agregadas à interna, proporcionem resultados eficazes.

De acordo com a coordenadora de Saúde Mental do Estado, Maria


do Rosário Magno Cavalcanti, atualmente o Governo da Paraíba,
trabalha no sentido de ampliar os serviços existentes, implantar
novos e, fundamentalmente, promover formação profissional de
caráter permanente e continuada. Para tanto vem firmando parcerias
com as universidades, estadual e federal da Paraíba, Ministério da
Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (SECOM, 2007, p.
1).

Esta observação leva a uma reflexão quanto ao que configura na atualidade o


cenário da Política de Assistência a Saúde Mental. É perceptível que a posição
ocupada pela Paraíba hoje no contexto nacional é resultante de um esforço conjunto
de lideranças diversas, sobretudo, representantes da sociedade civil que revelaram
um compromisso forte e histórico com a assistência psiquiátrica.
O dia mundial do ano em curso foi um retrato disso. Seu tema “Saúde Mental
num mundo em mudança: O impacto da Cultura e da Diversidade” destacou a
relevância desses atores em participar na construção histórica de uma Política
Pública que atendesse aos anseios de uma categoria que esteve à margem da
sociedade, pelo simples fato de que não atende a lógica de um sistema de produção
com traços animalescos, como é o sistema capitalista.
Portanto, é possível considerarmos as mudanças na operacionalização dessa
política como avanços, em especial quando se traça o quadro de desafios que estas
superaram. Mas de forma geral, as medidas apresentadas pela reforma psiquiátrica
e com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), que em suma apregoa por
meio de seus preceitos, a acessibilidade dos serviços de assistência à saúde, a
Política de Saúde Mental na Paraíba em sua maioria, continuou à margem das
discussões políticas e tendo que enfrentar divergências de interesses dos
envolvidos, bem como os ditames da burocracia, que simboliza mais um entrave à
concretização dos direitos relacionados ao doente mental.
118

4 PERCEPÇÕES DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA NA


PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA REDE DE ASSISTÊNCIA
PSIQUIÁTRICA PÚBLICA

Neste capítulo, a análise se centra na percepção de dois grupos de


trabalhadores em saúde mental. O primeiro grupo formado por atores privilegiados,
considerados aqueles profissionais que tem um acúmulo prático relevante no campo
da assistência psiquiátrica, por ter, por conseguinte, acompanhado a história das
políticas de saúde mental na Paraíba. O segundo grupo composto por trabalhadores
dos serviços de saúde mental da rede estadual, que atuam no momento em serviços
de média e alta complexidade.

4.1 Dados de Identificação dos Atores Privilegiados

4.1.1 Perfil dos entrevistados

No que diz respeito ao gênero dos entrevistados predominou o feminino, com


100% da participação. Quanto ao grau de instrução apresentado, os participantes
revelaram estar munidos de uma boa capacitação profissional, pois 100% destes
possuem Pós-Graduação.
Dentre as variáveis captadas na coleta de dados, está a representação da
ocupação exercida atualmente pelos profissionais entrevistados, na qual 16,75%
estão enquanto Coordenador; 67% atuam como Técnico e 16,75% em outras
ocupações relacionadas à Política de Saúde Mental.

Gráfico nº 07- Representação da ocupação exercida pelos participantes

COORDENADOR -
16,75%
TÉCNICO - 67%

OUTRA - 16,75%

Fonte: Primária
119

Quanto ao tempo de experiência, apresentou-se quatro possibilidades, que


foram de 1 a 5 anos, 5 a10, 10 a 15, 15 a 20 e finalmente a partir de 20 anos. Dentre
essas, a maioria dos participantes apresentaram mais de 20 anos de experiência,
totalizando 67,0%, para 16,75% que tem experiência de 15 a 20 anos, como pode
ser observado no gráfico a seguir:

Gráfico nº 08-Representatividade do tempo de experiência dos profissionais

15-20 anos- 16,75%

A Partir de 20 anos-
83,25%

Fonte: Primária

4.1.2 Percurso histórico da assistência psiquiátrica na Paraíba na visão dos


atores privilegiados

Esse instrumento de coleta de dados priorizou um percentual de participantes


com vinte ou mais anos de experiência em lidar com a Política de Saúde Mental.
Neste momento, indagou-se dos mesmos o conhecimento relacionado às
Instituições que operacionalizavam serviços de assistência à saúde mental na
Paraíba, nos anos correspondentes. Obtivemos as seguintes respostas:

Complexo Hospitalar Juliano Moreira; Hospital Pedro I-


Campina Grande; Manicômio Judiciário; Clínica Maia; IPP –
Instituto de Psiquiatria da PB; Casa de Saúde São Pedro;
Hospital João Ribeiro - Campina Grande. (Entrevistado 1)

Residência Hospitalar-Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira;


Casa de Saúde São Pedro; Instituto de Psiquiatria da Paraíba;
Hospital João Ribeiro - Campina Grande; Residência
120

Ambulatorial: PAM – Jaguaribe e ações de internação –


PISAM. (Entrevistado 2)

‘Não tenho este tempo, e sim 18 anos. Nestes 18 anos o que


existia eram os hospitais psiquiátricos e ambulatórios. Então, a
SES implanta o CEPRED destinado a assistência a usuários de
drogas (MENINOS DE RUA) atualmente CAPS
ad’(Entrevistado 3)

Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira; Sanatório Clliford;


Hospital S. Pedro; Instituto de Psiquiatria da Paraíba; Clínica
Drº Maia; Hospital Psiquiátrico Antônio Targino. (Entrevistado
4)

Os depoimentos acima revelam como a assistência psiquiátrica no passado


era centrada no modelo hospitalocêntrico, tanto em nível nacional, como em nível
local, como bem assinala Goular (apud COSTA):

Jurandir F. Costa (1987) sintetiza bem a situação que qualificamos como


tradicional quando se referiu à estrutura assistencial psiquiátrica dos anos
oitenta como uma “rede de desumanidade, de ignomínia”, especialmente
quando se tratava da rede hospitalar privada. Segundo ele, “situação
absolutamente abastarda e sórdida é a situação do brasileiro que teve a
infelicidade de ser portador dos três ‘pês’: pobre, preto e psicótico’”
(Costa, 1987:48). A rede assistencial a qual Costa se fez referência, neste
trecho, passa a ser ofertada, no Brasil, de forma massiva, nos anos
sessenta e cresce até meados da década de oitenta, sustentada por
recursos advindos da unificação da Previdência Social (Goulart, 1992).
Esta rede assistencial operava com um modelo terapêutico precário, que
se apoiava no uso indiscriminado de psicofármacos e no isolamento dos
doentes mentais em hospitais psiquiátricos (2006, p. 19).

Com relação aos serviços que essas instituições operacionalizavam, os


participantes se expressaram da seguinte forma:

Assistência Hospítalar; Assistência Ambulatorial. (Entrevistado


1)

Internações hospitalares e atenção ambulatorial. (Entrevistado


3)

Internações Psiquiátricas; Terapêuticas medicamentosas;


Assistência psicológica insuficiente, nutrição, enfermagem e
odontológica social. (Entrevistado 5)
121

Tratava-se, portanto, de uma produção do cuidado bastante limitada calcada no


largo uso de fármacos, com pequenas variações do projeto terapêutico, que por
vezes contava com serviços de psicologia, nutrição e odontologia, como é possível
constatar mais detalhadamente nas falas que seguem:

Internação hospitalar com tratamento medicamentoso,


eletroconvulsoterapia; tratamento ambulatorial com consulta
médica, acompanhamento medicamentoso, psicológico;
acompanhamento da alta. (Entrevistado 1)

Internação com tratamento medicamentoso e


eletroconvulsoterapia – ECT; Ambulatorial – consulta médica
com acompanhamento medicamentoso, psicológico e ainda
acompanhamento de alta. (Entrevistado 2)

Medicamentos; Oficinas Terapêuticas; Atendimento


psicológico/Social. (Entrevistado 4)

Isolamento da família e da sociedade; Contenção no leito;


Medicação como forma de contenção; Altas sem
encaminhamentos; Poucas Oficinas Terapêuticas. (Entrevistado
5)

Questionados acerca do quadro de Recursos Humanos (RH), e se este era


satisfatório à demanda, 100% dos participantes afirmaram categoricamente que não
era um quadro apropriado à operacionalização das ações em torno da assistência
psiquiátrica.
Esse percentual supra mencionado revela uma situação do passado, mas que
ainda persiste, qual seja, a insuficiência de recursos humanos na produção do
cuidado em saúde mental. Esse fato se relaciona a alguns fatores específicos, quais
sejam: tabu, despreparo no nível de graduação, preconceito e o mais relevante que
foi e é justamente a falta de investimentos estatais na área.
No que se refere à formação acadêmica questionou-se dos participantes
quanto à possibilidade de que se esta era suficiente no que tange ao atendimento
satisfatório à demanda de assistência psiquiátrica. Neste caso, se colocaram da
seguinte forma:

Não. Apenas o médico psiquiatra era especialista. Os demais


profissionais aprendiam com a vivência e a prática.
(Entrevistado 1)
122

Não. Pois o que encontrávamos nas instituições em termos de


demandas profissionais, de estrutura, de condições de
trabalho, nos remetiam ao século passado. Alem disso, a
formação graduada não privilegiava o campo da saúde mental.
(Entrevistado 4)

Não. Pois a grade curricular do curso de S.S. não contemplava


temas a cerca de saúde mental. (Entrevistado 5)

Como podemos confirmar nas afirmativas anteriores, a formação acadêmica foi


um dos elementos que muito contribuiu para a perpetuação no que se refere ao
cuidado exclusivamente hospitalocêntrico e por um longo tempo fora destinado ao
doente mental. Esta deficiência na formação estava relacionada às competências
que eram demandadas para uma atuação profissional condizente com os princípios
do SUS e da Reforma Psiquiátrica, e se mostrava presente em diversos cursos que
perpassavam o trabalho em saúde mental. O que é lamentável, pois a universidade
tem grande responsabilidade em promover o debate, fortalecer a crítica e estimular a
produção de novos conhecimentos.

4.1.3 Percepção sobre a Reforma Psiquiátrica no Brasil

A questão da Reforma Psiquiátrica no Brasil tem levantado várias discussões


seja do ponto de vista de sua operacionalização, seja em seu viés político.
Questiona-se como o processo de consolidação dos pressupostos da Reforma tem
encontrado resistências após 20 anos.

Apesar de já delineada como um movimento que reivindica


mudanças na política de saúde, só em 1992 a Reforma Psiquiátrica
ganha características mais definidas no campo sócio-político. Isto se
faz evidente durante a 2ªConferência, quando há uma grande
representação dos usuários de serviços em saúde mental
questionando o saber psiquiátrico e o dispositivo tecnicista frente a
uma realidade que só eles conhecem e pedindo o fim do manicômio
através da criação de equipamentos e recursos não manicomiais,
tais como: centro de atenção diária, residências terapêuticas, e
cooperativas de trabalho na rede pública de assistência à saúde
(FERREIRA, 2001, p. 3).
123

Nesse sentido, ao tratarem da Reforma Psiquiátrica no Brasil, os participantes


emitiram a seguinte compreensão:

Como uma mudança no modelo assistencial que tem como


princípio fundamental no trato com o doente mental a luta por
um tratamento mais humanizado. (Entrevistado 1)

Prioriza o atendimento ambulatorial; humaniza o Hospital


Psiquiátrico e garante a inserção do usuário na comunidade
comparticipação efetiva da família. (Entrevistado 2)

Inovador, uma vez que vem proporcionar mudança de


paradigma da assistência psiquiátrica. De um modelo
hospitalocêntrico para uma assistência de base comunitária,
solidária, respeitando direitos humanos, oportunizando a
criação de espaços de vida. (Entrevistado 3)
Processo de reformulação do modelo de assistência
Psiquiátrica, onde há mudança de saberes e práticas. Há um
direcionamento da assistência para o território em que vive o
usuário; foca não só na assistência, mas, também na
cidadania, extinção gradativa dos hospitais
psiquiátricos..(Entrevistado 4)

Tais depoimentos apontam para um conhecimento qualificado do que consistiu


e consiste a Reforma, revelando o que a mesma propõe em essência, qual seja, a
mudança do modelo assistencial.
Nesse respeito, Alves (2006) apresenta as mudanças que a
Reforma possibilitou, considerando que a mesma se encontra em processo. Para
tanto basta observar os pressupostos do modelo adotado até os anos 1990 e as
perspectivas que se tem atualmente.
124

Tabela nº 03 – Modelos de Assistência em saúde Mental


Assistência Psiquiátrica – Modelos de Atenção

Período Pressupostos Serviço


Preventivismo Simplificado
Até os anos 70
Especialização Hospícios
Anos 70 – 80 Especialização Hospícios ou AMB
Setorização
Especializados
Racionalidade
Porta de entrada
Anos 80 – 90 Regionalização
Rede serviços regionais
Hierarquização
Referência / contra-referência
Intensidade
Território Responsáveis regionais
Anos 90 Diversificação Único / integral
Complexidade Rede social
PSF / PACS
Inversão modelo
Tendência no ano 2000 Sem serviço
Cidade saudável
Setorização

Fonte: ALVES, 2006

Quando indagados a cerca das contribuições que tal reforma deu a dinâmica
específica da Paraíba em termos do atendimento psiquiátrico, as respostas foram às
seguintes:

A implantação de novos serviços como os CAPS e a


reformulação das práticas dos Hospitais. (Entrevistado 1)

A mudança da postura técnica dos profissionais através do


conhecimento de mais experiência; Os cursos, Seminários,
Conferências de saúde mental realizado pela SES; Através do
Núcleo de Saúde Mental. A implantação de novos serviços:
CAPS e Hospital-Dia. (Entrevistado 2)

Garantia de direitos aos usuários; Flexão para parte das


equipes nos serviços; Oferta de Serviços Substitutivos à
influência Hospitalar. (Entrevistado 3)
Segundo Cavalcanti (1996) no contexto paraibano, após a formalização do
Sistema Único de Saude (SUS), o campo da saúde mental (num movimento
contraditório) passou a enfrentar outro entrave, este também de cariz político. Ao
seguir os procedimentos legais de implantação do SUS na Paraíba, os governos dos
últimos 15 anos, envolvidos na lentidão burocrática em que tal modelo foi posto,
deixaram mais uma vez à margem, a área psiquiátrica. A desresponsabilização é
notadamente uma característica percebida neste campo de serviços. A passagem
125

de responsabilidades entre as esferas de gestão da saúde mental os tem colocado


numa situação de quase inércia.

4.2 Visão política acerca da Política de Saúde Mental na Paraíba

Falar acerca da atuação profissional de diversos atores em um determinado


espaço institucional se constitui num grande desafio, tendo em vista que a dinâmica
da prática profissional abarca uma série de componentes como, a formação
acadêmica adquirida, e a própria vivência cultural de cada indivíduo.
Mas, por outro lado, se estes profissionais não estiverem comprometidos com o
cenário de transformação das políticas sociais e das práticas no campo da saúde
mental, os avanços na efetivação dos direitos até então conquistados serão
neutralizados. Este item da análise aqui presente se centra exatamente na
percepção que alguns dos atores tem no que se refere às ações da assistência
psiquiátrica atualmente.

4.2.1 Percepção dos profissionais sobre o desenvolvimento da Assistência


Psiquiátrica no estado paraibano

A entrevista trouxe à atenção dos profissionais para o período de Governo do


senhor José Maranhão, que correspondeu aos anos de 1990 a 2002. Tendo em
vista que foi nesta época que se concretizou no Estado o primeiro serviço
substitutivo, o Hospital Dia, como também o primeiro CAPS ad.
Além destes avanços, pediu-se para que identificassem a Gestão na qual
tivessem vivenciado os desafios relacionados à efetivação da assistência
psiquiátrica pública no Estado a partir da Reforma Psiquiátrica, bem como o que
consideram como pontos positivos desta(s) gestão(ões), houve os seguintes
posicionamentos:

Realização de cursos, seminários e Conferências;


Elaboração/Discussão do Plano Estadual de Saúde Mental;
Implantação de Serviços: CAPS, Hospital-Dia. (Entrevistado 2)
126

As Gestões dos últimos 12 anos, principalmente de 2002 para


cá período em que os CAPS foram regulamentados através da
Portaria 336. O que garantiu recurso federal. (Entrevistado 4)

Na Gestão do Governado José Maranhão, nos anos 90 a 2002.


Foi criado o primeiro serviço substitutivo da Paraíba, ”Hospital
Dia” e o primeiro CAPS ad. (Entrevistado 5)

Ainda neste contexto, os atores indicaram os desafios que perpassaram a


dinâmica das ações, na Política de Saúde Mental no Estado.

A mudança no modelo assistencial; Redução de leitos


psiquiátricos e investimentos nos CAPS. (Entrevistado 1)

Mudança no modelo assistencial; Humanização dos Hospitais;


Redução dos leiots psiquiátricos e implantação e
implementação dos CAPS. (Entrevistado 2)

O lugar do Hospital Psiquiátrico na Rede de Assistência; O


Hospital Geral como alternativa para a assistência de pessoas
com sofrimento psíquico e usuário de álcool e drogas.
(Entrevistado 3)

Nas Gestões anteriores, a vinda de recursos federais.


(Entrevistado 4)

A falta de conhecimento acerca da nova modalidade e a


inexistência da Rede. (Entrevistado 5)

É perceptível, portanto, que a maioria destes profissionais optou por não


identificar a Gestão em que perceberam os desafios, no tocante a operacionalização
das ações na Política de Assistência psiquiátrica no Estado. E preferiram
oportunamente traçar um quadro desses respectivos desafios.
Este fato nos remete a uma realidade que é vivenciada já por muitos anos no
contexto paraibano. Visto que este Estado teve em sua formação, os pilares do
coronelismo e do paternalismo, os profissionais do serviço público são
constantemente pressionados e levados a não reivindicar por melhores condições
de trabalho e por um espaço que favoreçam a concretização de seus ideais ético-
políticos. Este posicionamento evidencia que as ações no interior da Política de
Assistência também não foram poupadas deste elemento.
127

Para complementar o questionamento anterior, se pediu a esses profissionais


que descrevessem o que percebem e identificam como maiores entraves a política
de saúde Mental. Assim, fizeram as afirmativas:

Formação cristalizada dos Técnicos; Apoio parcial da Gestão.


(Entrevistado 2)

Os Gestores do H. G, justifica não disponibilizar espaço para


atenção a demanda e as equipes não estão preparadas...
(Entrevistado 3)

Não há em geral vontade política dos gestores municipais


(SERVIÇOS MUNICIPALlZADOS) em investir em saúde
mental. (Entrevistado 4)

A equipe pouco informada, o estigma e o preconceito por parte


de familiares profissionais e da Sociedade. (Entrevistado 5)

Não se pode negar que dentro do escopo das políticas de saúde, a área da
assistência psiquiátrica incorpora muitos desafios, independentemente do local onde
se efetiva. Como bem prescuta Goular;

Alguns desafios são ainda dignos de destaque e acusam a


necessidade de mobilização e esforços sistemáticos na construção
da política de saúde mental. O primeiro diz respeito a como afrontar
os ainda dominantes interesses do mercado da saúde mental.
Outro desafio importante é o do desenvolvimento de estratégias de
avaliação qualitativa dos novos serviços territoriais antimanicomiais.
Estes dois últimos desafios de monitoramento a acompanhamento
de alocação de recursos impõem a discussão sobre quais seriam os
mecanismos de participação dos usuários, seus familiares e a
comunidade no processo de consolidação da nova política. Outro
desafio diz respeito ainda à promoção de integração de ações com
os diversos programas públicos assistenciais e efetivo
desenvolvimento de projetos comunitários capazes de responder à
proposta de reabilitação e reintegração daqueles que se tornam
usuários dos serviços de saúde mental (2006, p. 15,16).

Quando indagados sobre se a formação acadêmica dos profissionais que


trabalharam e/ou trabalham com a questão da saúde mental, contribuía ou não, os
participantes se posicionaram por afirmar:

Sim. A mudança nas grades curriculares dos cursos de


graduação em saúde, ocorrida em 1999. (Entrevistado 1)
128

Sim. Conceitos incorporados ao atendimento em Saúde


Mental; Reforma Curricular dos cursos de graduação e prática
humanizadora. (Entrevistado 2)

Não. Melhorou um pouco, mas, as unidades formadoras ainda


estão formando profissionais não habilitados para trabalhar em
Serviços substitutivos em saúde mental. Há necessidades de
mudanças nas grades curriculares das universidades.
(Entrevistado 3)

Não. As instituições formadoras ainda não preparam RH para


saúde mental pública. E no caso da psiquiatria, também não
preparam para trabalhar com a psicose. (Entrevistado 4)

Sim. A equipe passou a atuar na horizontalidade das ações e o


poder médico de certa forma alterado. (Entrevistado 5)

4.2.2 Visão da atual Política de Saúde mental na Paraíba

Neste momento da análise se trouxe à discussão, o Movimento de Luta


Antimanicomial, enquanto marco inovador para a trajetória da Política de Saúde
Mental no cenário brasileiro, e conseqüentemente no Estado.
A partir desta premissa, a pesquisa questionou destes profissionais a sua
percepção quanto aos aspectos inovadores na realidade das condições em nível
local, em consonância com os ideais deste Movimento. Como pode ser evidenciado
no gráfico, todos os participantes se posicionaram com relação a mudanças no
cenário local da Política de Saúde mental. Destes 83,25% afirmaram que percebem
inovações na dinâmica da assistência à saúde mental e 16,75% apontaram que
outras variantes incidiram sobre a mesma, embora esta porcentagem não tenha
discriminado quais foram as variantes.

Tabela nº 04- Retrato dos aspectos inovadores na realidade das condições em nível
local, em consonância com os ideais do Movimento de Luta Antimanicomial.
Aspectos inovadores na realidade das Nº (%)
condições em nível local
SIM 83,25%
OUTRAS 16,75%
TOTAL 100%

Fonte: Primária
129

Ao pontuarem o que consideram como elementos de avanço na trajetória da


Política de Saúde Mental, na realidade do Estado estes atores privilegiados
assumiram posicionamentos diversos, diante das variantes que lhes foram
colocadas como possibilidades.
Dentre as premissas que poderiam assinalar e as respostas coletadas,
evidenciou-se que alguns optaram por mais de uma alternativa. O que implica dizer
que 67% apontam para a variante Maior atenção dos Gestores; 50% destacaram os
Investimentos no Setor de Recursos Humanos; 50% a Capacitação Profissional e
33,5% atentaram para o fato de que as ações estão atendendo de forma satisfatória
à demanda. Estas respostas são comprovadas com a exibição do gráfico a seguir:

Gráfico nº 9- Representação gráfica do quadro dos elementos de avanço na


trajetória da Política de Saúde Mental na realidade do Estado

MAIOR ATENÇÃO DOS GESTORES - 67%


INVESTIMENTOS NO SETOR DE RH - 50%
CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL - 50%
RESPOSTA SATISFATÓRIA À DEMANDA - 33,5%
OUTROS - 33,5%

Fonte: Primária

Nesta etapa da pesquisa, foi possível vislumbrarmos os elementos de avanço,


na trajetória da Política de Saúde Mental, na realidade do Estado, a partir da visão
de alguns dos participantes, conforme explicitado abaixo:

Ampliação da rede, articulação dessa rede com a rede de


saúde mais ampla, investimento na capacitação dos
trabalhadores. (Entrevistado 4)

Criação de mais serviços de atenção à saúde mental; Uma


nova consciência acerca dos transtornos mentais.
(Entrevistado 5)

Em complemento a estes posicionamentos, solicitou-se dos participantes que


apontassem os desafios que se fizeram presentes neste processo. Novamente, foi
130

percebido que os entrevistados optaram por mais de uma variável. A partir de suas
colocações, foi possível chegar aos seguintes resultados: 67% apontaram a
problemática em torno dos investimentos para as ações da assistência psiquiátrica
pública; 33,5% destacaram os ditames burocráticos e as questões político-
partidárias como entrave à operacionalização da Política de Saúde Mental e 67%
das respostas, tratou da contínua resistência a proposta da Reforma Psiquiátrica.

Gráfico nº 10- Estimativa no quadro de desafios que se fizeram presentes no


desenvolvimento da assistência psiquiátrica pública na Paraíba

INVESTIMENTOS PÚBLICOS -
67%
DITAMES BUROCRÁTICOS -
33,5%
QUESTÕES POLÍTICO-
PARTIDÁRIAS - 33,5%
RESISTÊNCIA A PROPOSTA DA
REFORMA PSIQUIÁTRICA - 67%
OUTROS - 67%

Fonte: Primaria
Dentre a variante outros, que foi apresentada na pesquisa, os participantes
apresentaram com as suas respostas, as seguintes possibilidades:

Formação acadêmica. (Entrevistado 1)

Integração dos equipamentos comunitários; Qualificação das


Equipes; Sensibilização dos Gestores. (Entrevistado 3)

Investimentos principalmente em capacitação profissional.


(Entrevistado 4)

Adesão dos Hospitais Gerais com leitos psiquiátricos.


(Entrevistado 5)

Neste momento fora pontuado como avanço para a assistência psiquiátrica o


conjunto de orientações normativas, que regulam e legitimam a efetivação dos
direitos individuais e sociais dos usuários dessa Política. Desse conjunto, pode ser
citado:
131

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (DECRETO LEI Nº. 3.298-DIÁRIO


OFICIAL DA UNIÃO, 21 DE DEZEMBRO DE 1999). O capítulo IV, Artigo 7º, trata
dos objetivos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência. Dentre os quais, garante a integração das ações dos órgãos e das
entidades públicos e privados nas áreas de saúde, educação, trabalho, transporte,
assistência social, edificação pública, previdência social, habitação, cultura, desporto
e lazer, visando à prevenção das deficiências, à eliminação de suas múltiplas
causas e à inclusão social.
A partir do conhecimento deste Estatuto, indagou-se dos entrevistados, como
eles avaliavam o grau de efetivação desse objetivo, nas ações desenvolvidas pelo
estado. Neste sentido, 66,95% percebem como bom e 33,5% que as ações envoltas
deste objetivo podem ser consideradas como regulares, assim como fica evidente na
tabela abaixo.

Tabela nº 05- Grau de efetivação do Decreto Lei Nº 3.298/99 em nível local

GRAU DE EFETIVAÇÃO DO DECRETO LEI Nº 3.298/99 EM Nº (%)


NÍVEL LOCAL
REGULAR 33,5%
BOM 66,5%
TOTAL 100%
Fonte: Primária

Neste quesito, o Entrevistado 5, fez uma observação que é digno de nota


pontuarmos:
É bom lembrar que a pessoa portadora de transtorno mental
não é considerada deficiente. (Entrevistado 5)

Esta observação é pertinente, diante do fato de que as ações da Política de


Saúde Mental, que estão disponibilizadas nos Serviços de saúde mental, nem
sempre ofertam esclarecimentos relacionados a esta questão. Essa realidade se
reflete tanto nas ações dos próprios usuários da Política, como também na prática
de alguns profissionais. Na pesquisa, isso ficou evidente quando apenas um dos
participantes atentou para a diferenciação que deve ser destinada, não apenas a
nomenclatura, mas, também nos tratos entre deficientes e doentes mentais.
132

Outro aparato normativo que impreterivelmente deve ser pontuado é a LEI Nº.
10.216/2001(Lei Paulo Delgado), que especificamente dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Artigo 3º legaliza como responsabilidade do Estado o
desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações
de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da
sociedade e da família (...).
Com relação ao contexto local, foi solicitado desses participantes que
indicassem os aspectos que reconhecem enquanto facilitadores à concretização
desta proposta. Obtiveram-se as respostas a seguir:

Política de Saúde Mental; Plano de Saúde; Envolvimento dos


Técnicos e Gestores; Garantia de acesso aos diversos níveis
de atenção com qualidade e compromisso. (Entrevistado 1)

Plano de Saúde Mental; Política Estadual; Técnicos envolvidos


com a proposta de mudanças; Supervisão e acompanhamento
aos novos serviços; garantir atendimento ambulatorial e
hospitalar. (Entrevistado 2)

O número alto de CAPS; As duas urgências em Saúde Mental


(C. Grande e J. Pessoa); As Residências Terapêuticas; as
muitas ações artísticas e protagonizadas pelos usuários.
(Entrevistado 4)

A inserção dos portadores de transtornos mentais na


sociedade; A organização dos familiares e usuários através das
Associações e Assembléias. (Entrevistado 5)

Ainda no que tange ao nível local, solicitou-se que pontuassem o que


consideram como principais entraves a efetivação da mesma. Assim se colocaram:
Pouco investimento na qualificação dos recursos humanos;
Pouco comprometimento da Gestão com o processo da Política
de Saúde Mental. (Entrevistado 1)

Não investir nos recursos humanos; Gestão não comprometida


com o processo de mudança. (Entrevistado 2)

Qualificação das Equipes; Rotatividade das Equipes


profissionais; Sensibilidade por parte de alguns Gestores;
133

Desconhecimento da Política por parte da Sociedade;


Preconceito sobre sofrimento psíquico. (Entrevistado 3)

O baixo investimento dos Gestores em qualificação das


Equipes; O estigma social; Poucos serviços Substitutivos que
funcionam 24h para atender a crise. (Entrevistado 4)

A falta de Recursos Substitutivos que atenda a demanda;


Fechamento dos Hospitais Psiquiátricos; Criação de leitos
psiquiátricos em Hospitais Gerais. (Entrevistado 5)

Quando indagados acerca dos resultados obtidos no desempenho com alguns


dos equipamentos de enfrentamento da Política de Saúde Mental, os participantes
emitiram as seguintes respostas: com relação aos serviços operacionalizados pelos
ambulatórios, 49,75% das respostas é de que estes são regulares; 16,75%
consideram como bons e 33,5% percebem que estão ótimos.

Gráfico nº 11- Dados relacionados à operacionalização dos serviços nos


ambulatórios

REGULAR -
49,75%
BOM - 16,75%

ÓTIMO - 33,5%

Fonte: Primária

Este resultado nos revela que embora o cenário local tenha sido contemplado
com a implementação de novos mecanismos da Política de Saúde Mental, a
operacionalização dos mesmos ainda deixam a desejar, tendo em vista que não tem
efetivado de forma satisfatória o programa para o qual foram programados. O que
fica explicito com o fato de que a maioria dos participantes assinalou pela opção de
134

as ações desenvolvidas com alguns dos equipamentos de enfrentamento da Política


de Saúde Mental tem sido regulares.
Quanto ao funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 33,5%
das respostas é de que estes mecanismos apresentam uma situação regular; e
66,5% acreditam estar bom.

Tabela nº 06- Dados referentes às atividades desenvolvidas pelos CAPS


Dados referentes às atividades desenvolvidas Nº (%)
pelos CAPS
REGULAR 33,5%
BOM 66,5%
TOTAL 100%
Fonte: Primária

Finalmente, as ações desenvolvidas pelas residências terapêuticas em 50%


foram percebidas pelos entrevistados como regulares; enquanto 33,5% acreditam
que estas são boas. Vale salientar que embora as residências terapêuticas
assumam um papel importante na assistência à saúde mental é necessário que se
questione seu programa de implantação, sobretudo, em nível local, tendo em vista
que estas ainda se apresentam em número que pode ser considerado como
insuficiente à demanda.

Gráfico nº 12- Retrato da dinâmica nas Residências Terapêuticas, a partir da visão


dos entrevistados

REGULAR - 50%
BOM - 33,5%

Fonte: Primária
135

Pediu-se para que identificassem na Rede de Assistência Psiquiátrica, dentre


os serviços substitutivos, o com maior índice de efetivação no que diz respeito ao
objetivo proposto, e também que justificassem sua resposta.

A atenção ambulatorial, desde atenção primária. Assim como


toda atenção em saúde deverá servir como porta de entrada
para os usuários com necessidades desta assistência em
saúde. (Entrevistado 1)
Garantir o atendimento em Rede de Atenção que contemple o
atendimento ambulatorial e hospitalar. (Entrevistado 2)
Centros de Atenção Psicossocial, por oferecer alternativa a
internação hospitalar. (Entrevistado 3)

Os CAPS. Porque procuram evitar o internamento e


reinserir/inserir o usuário na sociedade. Entretanto, os
profissionais necessitam de melhor qualificação; a maioria dos
CAPS tem limitação em atender a crise por não funcionar 24h e
ter poucos psiquiatras (NÃO TEM TODOS OS DIAS).
(Entrevistado 4)

Os Centros de Atenção Psicossocial, que de certa forma


atende os portadores de transtornos mentais, evitando o
internamento nos Hospitais Psiquiátricos e proporciona uma
nova consciência acerca da crise, mediação e participação da
família. (Entrevistado 5)

Ao tratar da articulação da atual Gestão Estadual, com as ações da Política de


Saúde Mental, em suas respostas 16,75% acreditam que esta é regular; 83,25%
pensam ser boa. O posicionamento desses profissionais nos remete a dois
elementos que merecem ser lembrados, dentro do processo da análise dos dados
coletados com as entrevistas.
O primeiro diz respeito ao fato de que estes profissionais foram entrevistados
em época eleitoreira, o que naturalmente contribui para que assumam uma posição
de favoritismo frente à atual Gestão, tendo em vista que boa parte destes atuam
enquanto prestadores de serviço. O segundo elemento refere-se à própria
constituição do Estado, que desde a sua gênese pauta-se no desfavorecimento de
qualquer posicionamento crítico, principalmente diante de questões que envolvam o
cenário da política partidária.
136

Tabela nº 07- Identificação da articulação entre a Gestão estadual e as ações da


Política de Saúde mental
Articulação entre a Gestão estadual e as ações da Nº (%)
Política de Saúde mental

REGULAR 16,75%
BOA 83,25%
TOTAL 100%
Fonte: Primária

Neste sentido, os participantes também identificaram a articulação da atual


Gestão Estadual, com as ações da Política de Saúde, e fizeram as seguintes
colocações:

É boa. Está promovendo ações que está favorecendo a prestação da


Política de Saúde Mental. (Entrevistado 3)

É boa. A Gestão estadual tem a função de fomentar a


implementação da Política de Saúde Mental e monitorar os
serviços que são todos municipalizados, com exceção dos
CAPS e um hospital. (Entrevistado 4)

É regular. Os Gestores estão mais preocupados com as obras


que venham impressionar o público com fins eleitoreiros.
(Entrevistado 5)

Finalmente, pediu-se que identificassem os avanços que consideram como


pertinentes à realidade estadual e que ainda não foram alcançados.

Há serviços implantados nos serviços de atenção ambulatorial


e hospitalar. Entretanto, ainda não atingiram plenamente os
objetivos da Política ora em vigor. Necessita de mais
investimento na humanização da atenção e na formação
profissional das aotores envolvidos (profissionais, gestão,
familiares de usuários do sistema). (Entrevistado 1)

Os serviços implantados e os Hospitais humanizados não


atingiram plenamente os objetivos da saúde mental.
(Entrevistado 2)
137

A construção da Rede de Assistência Psiquiátrica no território,


integrada a atenção básica e a intersetorialidade. (Entrevistado
3)

Assistência satisfatória fora à crise fora do hospital; Reinserção


Social do portador de transtornos mental; Integração da saúde
mental na básica; Leitos ou Hospital Geral para desintoxicação
química e urgência psiquiátrica. Ampliação e qualificação de
CAPS (álcool e outras drogas). (Entrevistado 4)

O número de serviços por território; Qualificação das equipes;


Concursos para atuar nos CAPS, P. A.; Residências
Terapêuticas, etc. (Entrevistado 5)

4.3 Dados de Identificação dos Trabalhadores em Saúde Mental

No intuito de complementar os dados anteriormente demonstrados, esta


análise buscou a percepção de alguns profissionais que lidam com a Política de
Saúde Mental em períodos mais recentes, e que acompanham diariamente e de
maneira aproximada, os avanços e entraves que se fazem presentes no contexto
interno da mesma, especialmente em nível estadual.

4.3.1 Perfil dos entrevistados

No que diz respeito aos entrevistados, como fica evidente na representação


gráfica, a participação majoritária foi do gênero feminino.

Gráfico nº 13- Representação gráfica do gênero dos participantes entrevistados

Masculino 25%
Feminino 75%

Fonte: Primária
138

Quanto ao grau de instrução, os participantes forneceram os seguintes dados:


16,6% possuem Ensino Superior; 75% cursaram Pós-Graduação e 08,3% não
definiram sua escolaridade e, portanto, preencheram a opção outro na
representação do gráfico abaixo.

Gráfico nº 14- Representação do Grau de instrução dos atores participantes

Ensino Superior 16,6%


Pós-Graduação 75,0%
Outro 08,3%

Fonte: Primária

Dessa forma, fica evidente que o corpo profissional destes mecanismos da


assistência psiquiátrica pública, tem revelado preocupação no que diz respeito à
capacitação, o que incide e favorece diretamente a oferta e prestação dos serviços
da Rede.
Neste momento, fora solicitado dos entrevistados que especificassem a sua
qualificação, e percebeu-se que a maioria tem especialização em saúde mental e o
restante se capacitou em psicopedagogia.
Dentre as variáveis percebidas na coleta de dados, está o âmbito de
intervenção no qual estes profissionais atuam. Foram fornecidas as opções do
âmbito Público, Privado e Público e Privado. A partir das informações coletadas, foi
detectado que 91,7% atuam no setor público, nenhum deles atua apenas no âmbito
privado, e 08,3% atuam tanto no setor público quanto no privado, como pode ser
observado no gráfico abaixo.
139

Gráfico nº 15- Representação do âmbito de intervenção profissional dos


participantes

Público 91,7%
Público e Privado 08,3%

Fonte: Primária

Outra informação complementar ao perfil destes participantes está relacionada


à ocupação técnica atual. Do total entrevistado 08,3% trabalha como Coordenador
da unidade de assistência, 75,0% atua enquanto técnico e 16,6% não esclareceu
sua ocupação.

Gráfico nº 16 – Representação da ocupação atual dos profissionais entrevistados

Coordenador 08,3%
Técnico 75,0%
Outro 16,6%

Fonte: Primária

Solicitou-se ainda dos entrevistados que também especificassem a função


atual que exercem na instituição. Nessa direção se observou a presença de cinco
psicólogos; hum enfermeiro; hum psiquiatra; e hum educador físico.
Quanto ao tempo de experiência, apresentaram-se cinco possibilidades, que
foram de 1 a 5, 5 a10, 10 a 15, 15 a 20 e finalmente a partir de 20 anos. Dentre
essas, 83,4% dos participantes apresentaram experiência profissional de 1 a 5 anos,
08,3% de 15 a 20, e 08,3% afirmaram ter mais de 20 anos de experiência em lidar
140

com as ações da política de saúde mental, como pode ser observado no gráfico a
seguir:

Gráfico nº 17 – Amostra do tempo de experiência profissional dos entrevistados

01-05 anos- 83,4%


15-20 anos- 08,3%
A Partir de 20 anos- 08,3%

Fonte: Primária

4.3.2 Visão política acerca das ações dentro do contexto da Política de Saúde
Mental na Paraíba

A partir deste momento, trouxe-se a atenção dos participantes, os avanços


relacionados à assistência psiquiátrica pública que ocorreram a partir da década de
1970, sobretudo, na década de 1980, sob a influência da Reforma Psiquiátrica. Com
base nesta afirmativa, estes atores assumiram seus respectivos posicionamentos,
diante das questões que passaram a ser postas para eles.
Quando indagados a avaliar o nível de contribuição que a Reforma Psiquiátrica
impulsionou à dinâmica do Estado, foram apresentadas quatro opções, ruim, regular
bom e ótimo. Dessas, 16,6% dos participantes afirmaram que o impacto foi regular,
75,0% acredita ter sido bom e 08,3% ótimo, dados estes que podem ser
comprovados no gráfico abaixo.
141

Gráfico nº 18- Representação do nível de contribuição da Reforma Psiquiátrica à


dinâmica do Estado

Regular 16,6%
Bom - 75,0%
ótimo - 08,3%

Fonte: Primária

Neste respeito, é imprescindível considerarmos a análise feita por Goulart,


quando eficientemente situa os efeitos que a Reforma Psiquiátrica exerceu sobre a
dinâmica da assistência psiquiátrica de uma forma geral. Depois de afirmar a década
de 1990 como os anos em que se iniciaram as primeiras tentativas para a
consolidação dos princípios de democratização inerentes ao projeto de mudança da
época, e também a descentralização proposta através do SUS como um estímulo ao
desenvolvimento de ações alternativas e substitutivas ao modelo asilar ou
hospitalocêntrico, ela admite que

A ação transformadora, no caso da reforma psiquiátrica vai se constituindo


a partir de um conjunto de iniciativas que emergem, a nosso ver, da
reflexividade instaurada pelo corpo técnico e gestores que participavam dos
programas assistenciais disponibilizados. Mas é importante questionar
ainda a origem da criticidade que “abalou” a cultura profissional que
orientava o campo psi (psiquiatra e psicólogos). A internacionalização dos
movimentos sociais e de protesto, a formação de redes de troca de
conhecimento e experiências parece indicar que os vetores de natureza
simbólica são fundamentais para o processo de transformação, entendendo,
inclusive que eles não estão disponíveis permanentemente e mesmo que
estejam não garantem a deflagração de processos de mudança que tenham
significado histórico. O processo de mudança, obviamente, se encarna em
atores sociais que são e representam minorias. Assim, ele percorre ou
corrompe as estruturas institucionais de um modo não necessariamente
democrático (GOULART, 2006, p. 10).

Ao descrever o grau de resolutividade dos serviços substitutivos (Residências


Terapêuticas, Centros de Convivência e Cultura, Centros de Atenção Psicossocial-
CAPS, etc.) da Política de Saúde Mental, em nível estadual, foram apresentadas as
possibilidades de esta ser ruim, regular, boa ou ótima. A partir dessas, 33,2%
afirmaram que a resolutividade desses serviços é regular, 58,3% que é boa e 08,3%
acreditam ser ótima.
142

Gráfico nº 19 – Descrição gráfica do grau de resolutividade dos serviços substitutivos


na assistência psiquiátrica

Regular - 33,2%
Boa - 58,5%
Ótima - 08,3%

Fonte: Primária

É digno de nota que estas colocações são referenciadas pela atuação


profissional desses participantes e que, portanto, devem ser considerados em sua
relevância no que tange a efetivação dos ideais da Reforma Psiquiátrica em nível
local. Sem desconsiderar que a maioria considerou que a resolutividade desses
serviços é boa, é importante que pensemos na porcentagem que acredita ser
regular, e que dessa forma demonstra a necessidade de ajuste na operacionalização
desses serviços.
Em relação ao atendimento à demanda da assistência psiquiátrica, também
foram apresentados quatro opções a estes participantes, sobre como os mesmos
percebem as contribuições da formação acadêmica para os profissionais que
atualmente estão lidando com Política de Saúde Mental. Dentre as possibilidades
de estas contribuições serem ruins, regulares, boas ou ótimas, 16,6% acreditam que
são ruins, 50,0% afirmaram que são regulares, 25,0% pensam ser boas e finalmente
08,3% que são ótimas. Estes posicionamentos podem ser comprovados na
representação abaixo:
143

Gráfico nº 20 – Representação gráfica do atendimento à demanda da assistência


psiquiátrica

Ruim - 16,6%
Regular - 50,0%
Boa - 25,0%
ótima - 08,3%

Fonte: Primária

Com o intuito de aprofundar os esclarecimentos relacionados às ações da


Política de Saúde Mental, destacou-se neste momento, a relevância do papel
desempenhado pelos CAPS no processo de desenvolvimento desta Política de
Assistência Psiquiátrica Pública no Estado.

(...) segundo os princípios do SUS, os CAPS foram planejados como


agentes de inclusão social, oportunizando ao a reabilitação psicossocial
através de diferentes estratégias, tais como o envolvimento das instituições
onde ele está inserido, com vistas à melhoria da qualidade de vida e ao
resgate da cidadania. Nesse sentido, os CAPS se propõem a oferecer um
espaço terapêutico ao usuário onde ele possa construir novos laços e
relações sociais - familiares e comunitários, através de múltiplos recursos:
atendimento clínico, psicoterapia, grupos terapêuticos, oficinas de terapia
ocupacional, atividades em artes e atividades comunitárias, entre outras
(CORREIA apud PUEL, 2007, p. 85).

Neste sentido, ao se posicionarem com relação ao grau de efetivação dos


CAPS, os entrevistados tiveram que optar. A partir das possibilidades apontadas,
08,3% apontaram como ruim. 25,0% consideraram regular, 58,4% acreditam ser
bom e 08,3% pensam ser ótimo.
144

Gráfico nº 21 - Representação do grau de efetivação dos CAPS

Ruim - 8,3%
Regular - 25%
Bom - 58,4%
Ótimo 8,3%

Fonte: Primária

No que se refere ao quadro de Recursos Humanos para enfrentamento da


problemática, os participantes emitiram as seguintes opiniões: 66,7% vêem como o
quadro como insuficiente, 33,4% acredita ser bom. Isso revela uma questão que
atravessa o panorama brasileiro e advém do desinvestimento histórico na área,
aliado as concepções preconceituosas, as quais já apontamos em itens anteriores.
Como acrescentam Luzio & Labbate;

(...) o processo de desinstitucionalização e a superação do modelo


manicomial exigem transformações da sociedade para se construir uma
história que privilegie a vida, portanto, inserindo-se no campo das lutas
sociais. Porém, é possível construir utopias no próprio cotidiano para
viabilizar a transição paradigmática exigida pelas diretrizes e propostas da
reforma psiquiátrica, que estariam centradas no investimento nos
trabalhadores da Saúde Mental, principalmente no que se refere à
formação permanente dos profissionais dos serviços e na reformulação da
formação profissional. Tais utopias deveriam também estar voltadas para
os usuários e a população, para viabilizar sua organização e sua
participação nesse processo (2009, p. 115).

As opiniões dos entrevistados podem ser mais bem compreendidas, com a


representação do gráfico abaixo. Fica evidente o anseio desses profissionais por
aprimoramentos na área de recursos humanos.
145

Gráfico nº 22 – Representação do quadro de recursos humanos para o


enfrentamento da demanda de assistência psiquiátrica pública

Insuficiente - 66,7%
Bom - 33,4%

Fonte: Primária

Quando indagados acerca da contribuição que a formação acadêmica tem


exercido na atuação e dinâmica das ações em torno da assistência psiquiátrica
pública, os atores emitiram as seguintes informações: 33,4% pensam que esta
contribuição tem ocorrido de maneira insuficiente. 66,7% percebem como regular.

Gráfico nº 23 – Amostragem gráfica da contribuição no que concerne a formação


acadêmica para a dinâmica das ações em torno da assistência psiquiátrica pública

Insuficiente - 33,4%
Regular - 66,7%

Fonte: Primária

Os entrevistados também foram incentivados a analisar uma das propostas


inovadoras da Reforma Psiquiátrica, que é a participação da sociedade na
146

construção e operacionalização das ações. O que significa perceber em nível local


como se configura a relação entre os mecanismos substitutivos da assistência
psiquiátrica pública e a comunidade beneficiada pelos mesmos.
A partir da avaliação dos participantes, foi possível alocar as seguintes
informações acerca da participação da comunidade em relação às atividades
desenvolvidas pelos CAPS: 33,4% percebem como insuficiente. A mesma
porcentagem esteve também para os que consideram como regular e boa esta
participação.

Gráfico nº 24 – Representação da relação entre os mecanismos substitutivos da


assistência psiquiátrica pública e a comunidade beneficiada pelos mesmos.

Ruim - 33,4%
Regular - 33,4%
Boa - 33,4%

Fonte: Primária

Neste respeito, é digno de nota percebemos a colocação destes profissionais


quando indagados acerca das ações de incentivo promovidas pelos CAPS para que
ocorra um trabalho com atividades articuladas com a comunidade. Neste momento,
41,7% afirmaram que estas ações revelam ser insuficientes, e 58,3% acreditam que
são boas.
147

Gráfico nº 25 – Demonstrativo das ações de incentivo promovidas pelos CAPS em


articular-se com a comunidade

Insuficiente - 41,7%
Boa - 58,3%

Fonte: Primária

Os profissionais entrevistados foram questionados acerca da relação da atual


Gestão Estadual com a Política de Saúde Mental, e embora não tenham afirmado
que esta interação se caracterize como ruim 66,7% admitem como sendo regulares,
33,4% afirmam que é boa.

Gráfico nº 26 – Representação da relação da atual Gestão Estadual com a Política


de Saúde Mental

Regular - 66,7%
Boa - 33,4%

Fonte: Primária
148

Ainda neste processo, os participantes emitiram a sua compreensão no que diz


respeito aos recursos financeiros que são destinados à manutenção dos CAPS no
Estado. Das opções postas 58,3% acreditam que estes recursos são insuficientes,
25,0% pensam que são regulares 16,7% vê como boas.

Gráfico nº 27 – Representação da compreensão dos participantes no que diz


respeito aos recursos financeiros que são destinados à manutenção dos CAPS no
Estado

Insuficiente - 58,3%
Regular - 25,0%
Boa - 16,7%

Fonte: Primária

Assim, se deve considerar que por ser uma proposta de serviço substitutivo e
um modelo assistencial, o instrumento CAPs, demanda um pesado investimento, já
que não se trata apenas da implementação de mais uma modalidade de serviço de
saúde mental, mas sim, um recurso terapêutico que visa à transformação da própria
estrutura de serviços no contexto da assistência psiquiátrica pública.
Quanto ao impacto das ações que são desenvolvidas pelos CAPS, na dinâmica
da Política de Saúde Mental, nenhum dos entrevistados acredita ser ruim, mas,
25,0% vê como regular, 58,3% percebem como boa e 16,7% afirmaram ser ótimo
este impacto.
149

Gráfico nº 28 – Representação do impacto das ações que são desenvolvidas pelos


CAPS

Regular - 25,0%
Boa - 58,3%
ótimo - 16,7%

Fonte: Primária

Finalmente, fora solicitado dos atores participantes desta pesquisa para que
revelassem suas perspectivas com relação às ações desenvolvidas pelos CAPS.
Todos eles demonstraram perspectivas positivas, tendo em vista que nenhum deles
apresentou perspectivas ruins, 08,3% afirmou que se consideram como regulares
em suas perspectivas, 50,0% tem boas perspectivas com relação ao que vêem
sendo desenvolvidos pelos CAPS e finalmente, 41,7% consideram como ótimas.

Gráfico nº 29 – Representatividade das perspectivas dos entrevistados com relação


às ações desenvolvidas pelos CAPS

Regular - 08,3%
Boa - 50,0%
ótima - 41,7%

Fonte: Primária
150

Nesta etapa da pesquisa fora solicitado dos participantes que explicitassem de


forma clara quais eram exatamente as suas perspectivas em torno das atividades
que vivenciavam no interior das unidades de assistência psiquiátrica, sobretudo, dos
CAPS. A partir das respostas, chegou-se ao seguinte resultado.

Os CAPS ver o ser humano com sua singularidade, acolhe a


família como um todo levando-os a ser respeitado.
(Entrevistado 6)

Acredito na resolutitvidade dos CAPS, mas, precisamos ter


avanços para melhorar a qualidade da assistência aos nossos
usuários. (Entrevistado 7)

Acredito que os CAPS enquanto estruturas que materializam o


Projeto de Reforma Psiquiátrica retiram o cuidado em Saúde
Mental de uma perspectiva castradora de sujeito para uma
perspectiva de cuidar, mais efetiva. Aposto no potencial dos
serviços, mas, essa é uma luta que envolve inúmeros atores.
(Entrevistado 9)

É notório, portanto, que para a efetivação das inovações em torno prática


assistencial na saúde mental, é necessário que se articulem novas posturas, e que
estas ultrapassem as fronteiras do cuidar e vislumbrem novos horizontes no fazer
técnico profissional e que reflita a superação da prática tradicional e que em nada
contribuem para a inserção social do doente mental.
151

5 CONCLUSÃO

Este estudo buscou perceber a complexidade em torno das relações que


desenharam a configuração a Política de Saúde Mental, tomando em consideração
os aspectos que perpassaram a dinâmica de desenvolvimento da mesma no cenário
para alem do Brasil, mas, sobretudo, em nível nacional. Neste sentido, a
sistematização desta analise objetivou resgatar também e com prioridade, os
elementos que exerceram forte influência nesta Política, no contexto do Estado da
Paraíba.
Para tanto, as afirmativas aqui apresentadas foram pautadas em estudos e
pesquisas que representam as análises de inúmeros autores, clássicos e
contemporâneos. Estes, mediante seus escritos, revelaram importantes
características da assistência psiquiátrica pública que por sua vez, auxiliam na
compreensão e sistematização dessa política, de tal forma que é possível apreender
a constituição das ações de assistência à saúde mental em diferentes contextos
sociais, culturais e econômicos.
Pretendeu-se revelar que de forma geral o desenvolvimento das políticas
sociais brasileiras, o que inclui as expressões da proteção social no âmbito da
Política de Saude e da Saude Mental, teve a sua trajetória marcadamente
influenciada pelas mudanças econômicas e políticas ocorridas no plano internacional
e pelos impactos resultantes e reorganizadores dessas mudanças na ordem política
de âmbito interno.
Foi exatamente por isto que, diferentemente do desenvolvimento das políticas
sociais nos países capitalistas avançados, que nasceram livres da dependência
econômica e do domínio colonialista, o sistema de Proteção Social Brasileiro sempre
refletiu as limitações decorrentes dessas características. E mesmo nos períodos em
que as políticas sociais evidenciaram certas medidas exitosas, e que expressavam
avanço no campo da proteção social, em sua maioria continuaram sendo
caracterizadas pelas amarras da conjuntura externa.
Neste sentido, é possível afirmar que esta realidade impactou fortemente sobre
a dinâmica da oferta de serviços socioassistenciais no cenário brasileiro, tendo em
vista que estes atendiam prioritariamente aos interesses do sistema de produção
capitalista, aos ideais neoliberais, especialmente a partir da década de 1990, e não a
152

crescente demanda populacional, que aclamavam por melhores condições na Rede


de Proteção Social.
Assim sendo, a Proteção Social no Brasil não se apoiou firmemente nas
pilastras do pleno emprego, dos serviços universais, nem estabeleceu uma estrutura
de proteção que impedisse a reprodução de camadas sociais majoritárias da
população que se encontra na extrema pobreza. Vale salientar que esta dinâmica
representa os movimentos, lutas e reivindicações que se manifestaram no Brasil,
principalmente no cenário que se desenrolou na década de 1970, e que passou a
ser representada com a consolidação da Constituição Federal, também denominada
de Constituição Cidadã, em 1988.
Nesta realidade, de exclusão e marginalidade social, está alguns segmentos
constituídos por indivíduos que se encontram em situação de risco e/ou
vulnerabilidade social, e por vezes alguns já em condição de violação de direitos.
Dentre estes, situa-se o segmento social que também fora contemplado por este
estudo, ou seja, pessoas em condição de pobreza e que demandam assistência no
interior da Política de Saúde Mental.
Isto implica na afirmativa de que, assim como fora sinalizado anteriormente, o
cuidado ao doente mental, sempre esteve articulado às expressões históricas da
psiquiatria tradicional, independentemente de sua configuração e modelo. Num
quadro geral, uma reflexão histórica a cerca da loucura revela que a mesma tem
acompanhado o homem ao longo de toda a sua trajetória. Mas, apesar de esta
situação ter-se feito presente ao longo da história humana, a gênese no cenário da
assistência psiquiátrica pode ser caracterizada por ações que relacionavam as
disfunções mentais e/ou psicológica a afeitos de possessões demoníacas.
Ainda neste respeito, mesmo em anos posteriores quando esta situação
começou a dar sinais de mudanças e progresso, não é possível afirmar que o
cenário posto não contemplou resultados, nem condições de vida satisfatórias para
os indivíduos que se encontravam como vítimas do adoecimento mental. Como se
observou, estas modificações se deram, sobretudo, no início da Idade Média com a
falência do feudalismo e, conseqüentemente, com os primeiros sinais norteadores e
fundantes do sistema capitalista, enquanto modo de produção.
Com esta nova realidade o doente mental passou a ser visto apenas como um
problema social, visto que não se adequavam ao novo regime de vivência
econômica. Ou seja, enquanto as relações sociais admitiram a existência de
153

pessoas que não contribuíam com relevância dentro do processo de produção, estes
indivíduos não sofreram grandes conseqüências de exclusão social. Ate aquele
momento, sofreram apenas em suas relações de afetividade foi que passaram por
situações de isolamento, ou seja, foram excluídos do convívio da família e da
comunidade.
Neste processo, embora algumas práticas da medicina tenham sido
introduzidas no enfrentamento da questão envolta no doente mental, e assumido um
papel relevante no contexto de desenvolvimento da assistência psiquiátrica pública,
ela por si só, não foi capaz de se sobrepor às práticas excludentes e desumanas
que passaram a ser direcionadas e aplicadas no enfrentamento da condição em que
se encontravam pessoas com o sofrimento psíquico.
Além disso, considerando a ordem cronológica dos fatos, é possível afirmar
também que os mecanismos inovadores que se seguiram no campo da assistência
ao doente mental, não assumiram o papel da proteção social tal como é vislumbrada
e defendida na atualidade, pois apenas abrigavam com o recurso do isolamento, os
que eram classificados como indigentes de toda sorte.
O significa dizer que os excluídos naquelas formas de assistência não
poderiam ser inseridos socialmente e aquela realidade apenas mascarava o
tratamento desumano que era utilizado. Na verdade, a sistematização daquelas
ações só conseguia complementar as medidas de repressão já existentes. Neste
sentido, a título de exemplo, estão os asilos e as práticas de cunho religioso que por
muitos anos foram associados com o lidar, no enfrentamento da doença mental.
No entanto, o desenvolvimento da Política de Saúde Mental no cenário para
alem do Brasil, revela diversos fatores que contribuíram de maneira positiva para a
Política de Saúde Mental. Neste respeito, marcam presença os Movimentos de
Reforma Psiquiátrica em diversos países. Estes movimentos reivindicavam um novo
olhar na forma de enfrentar e tratar a pessoa com adoecimento mental. De um modo
em que estas passassem a ser reconhecidas em sua existência, enquanto
indivíduos que deveriam desfrutar de segurança e proteção social, mesmo quando
apresentassem limitações em alguns aspectos da vida.
Os preceitos que foram desenvolvidos netas manifestações, que também são
reconhecidas como Movimentos da Luta Antimanicomial, com vistas a uma nova
realidade para o doente mental, atingiram seu ápice no Brasil, na década de 1970,
com os rebatimentos do Movimento da Reforma Psiquiátrica na Itália, quando o
154

medico psiquiátrica e militante Franco Basaglia assumiu esta luta, e implementou


uma campanha nacional de erradicação da cultura hospitalocêntrica, ate então
predominante.
Assim, no cenário nacional, a ênfase pelos direitos relacionados aos doentes
mentais se deu como resultante das influências de alguns personagens, dentre
estes Franco Baságlia. E atingiu seu clímax, com o Movimento de Luta
Antimanicomial. Este foi resultante da iniciativa do Movimento Nacional dos
Trabalhadores de Saúde Mental, que eclodiram junto ao movimento de
redemocratização do país, na década de 1980. Por meio deste movimento novas
concepções foram sendo atribuídas à Política de Saúde Mental e contribuíram para
o novo modelo de assistência psiquiátrica, vigente na atualidade.
Portanto, foi a partir das reivindicações destes movimentos, embasados nos
direitos constitucionais de 1988 que respaldavam as ações da própria Política de
Saude Nacional, que as práticas desenvolvidas na Política de Assistência à Saúde
Mental começaram a configurar um cenário inovador e com características efetivas
em sua operacionalização. Novos mecanismos, bem como também novos
equipamentos passaram a compor a estrutura da assistência psiquiátrica, de modo
que os usuários dos serviços não apenas eram percebidos como sujeitos alvo das
ações, mas, sobretudo, assumiram espaços deliberativos nas instâncias que se
encontravam em torno das ações dentro da Política de Saúde Mental.
Entre estes mecanismos da nova Política de Assistência Psiquiátrica, situam-se
o Programa de Volta pra casa, que oferecem suporte, inclusive financeiro com uma
ajuda de custo para o doente mental e sua família; as Residências Terapêuticas,
que auxiliam com o apoio para aqueles indivíduos que em virtude do tempo que
passaram apartados das relações familiares, comunitárias e sociais perderam seu
vínculo. Neste sentido, este mecanismo busca favorecer o restabelecimento destes
vínculos; os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que agem como
equipamentos de inserção social dos usuários que a eles tem acesso. Como
equipamentos da nova política de assistência a saúde mental, estes se organizam
mediante níveis de atenção, atendendo entre outros critérios, o contingente
populacional dos municípios nos quais se inserem.
De forma geral, a política dessas unidades defende a tese de que muitos
vitimados com adoecimento mental têm potenciais, e que precisam ser estimulados
155

a utilizá-los na vida em sociedade. E que o seu valor enquanto humanos não pode, e
não deve ser medido unicamente a partir do sistema de produção capitalista.
Em todo este processo, é consolador apontar que estas mudanças atingiram o
contexto paraibano. Mesmo que a princípio as influências tenham se dado de forma
incipiente, pois as relações estaduais por longo tempo foram sistematizadas a partir
de ações coronelistas, paternalistas e assistencialistas. Mesmo com esta
configuração, e com a presença destes e de outros entraves, as ações de
assistência psiquiátrica no Estado em tempos posteriores passaram a ultrapassar as
fronteiras das unidades e da cultura hospitalocêntrica, e superaram as atividades em
torno desta, com a implantação dos ideais da nova política, assumindo a sua postura
e equipamentos.
Dessa maneira, a política de assistência psiquiátrica no Estado começou a dar
seus primeiros passos, rumo à superação da atenção tradicional que era direcionado
ao doente mental. No entanto, assim como se deu na maior parte do país naquele
momento, o processo de reforma psiquiátrica no Estado, transcendeu a busca de
soluções apenas técnicas. Para, além disso, as propostas buscavam transformar
aspectos técnicos, políticos e sociais sobre a loucura e suas instituições. O marco
deste avanço, portanto, teve como embasamento, a desinstitucionalização da
doença e do doente mental.
Assim, os equipamentos utilizados na atenção psiquiátrica, passaram a
operacionalizar a promoção da pessoa com adoecimento mental e principalmente a
promover a sua inserção social. Estes,
[...]são novos instrumentos da atual política para promover a reforma
psiquiátrica, que pressupõe um novo modo de organizar e processar
o trabalho para produzir saúde mental (SILVA; BARROS, 2005, p.
312).

E como fora evidenciado com a coleta de dados, as mudanças estão partindo


de forma significativa dos próprios profissionais que lidam com a operacionalização
das ações na assistência psiquiátrica pública. Este é um elemento relevante na
efetivação das propostas, tendo em vista que nada seria de fato modificado, se os
atores não tivessem ultrapassado as fronteiras do tratamento tradicional e
excludente, que era dinamizado pelos manicômios, de modo a superá-lo,
implementando as características da Política de Saude Mental, com o aparato dos
novos equipamentos. E este fato pode ser registrado, no processo de
156

desenvolvimento da política, como um ponto nodal, pois enquanto os profissionais


resistiram em promover as ações nos espaços de intervenção, a lógica inovadora de
(re)inserção social dos indivíduos ficou reservada apenas ao cenario do que se
almejava.
É importante também que se registre alem do avanço relacionado ao apoio
técnico profissional, os recursos materiais que passaram a ser disponibilizados para
a implantação desta nova política. Embora ainda não seja possível indicar a situação
como ideal, não se pode negar que representam um progresso consideravel quando,
por exemplo, as unidades físicas são localizadas em meio ao seio da sociedade, e
não mais em distritos e regiões isoladas do convívio social.
Portanto, não se pode desconsiderar os avanços presentes na Política de
Assistência à Saúde Mental, inclusive aqueles que ocorreram no Estado, mesmo
que de forma incipiente. Mas de forma geral, ainda se indica que as medidas
apresentadas pela reforma psiquiátrica e com a implantação do Sistema Único de
Saúde (SUS), que defende por meio de seus preceitos a acessibilidade e com
qualidade, aos serviços de assistência à saúde, tanto em âmbito nacional como na
Paraíba, em sua maioria continuaram à margem das discussões políticas e tendo
que enfrentar divergências de interesses dos envolvidos, bem como os ditames da
burocracia, que simboliza mais um entrave à concretização dos direitos relacionados
ao doente mental.
Esta Política de Saude Mental ainda não se apresenta como primazia na
agenda nacional. Entretanto, destaca-se nesta analise as possibilidades para que
suas ações manifestem cada vez mais, dignidade e respeito para aqueles que
apresentam inúmeras disfunções mentais. E que dentro deste contexto, fomentem
as relações em que estes indivíduos não sejam desconsiderados, mas percebidos e
identificados sujeitos que também devem usufruir, na medida do possível, das
condições de acesso aos bens e serviços públicos. E que esta percepção não seja
bloqueada, por um olhar puramente mercantil, dentro da lógica da produção e
reprodução capitalista.
Finalmente, neste sentido, o que alimenta as possibilidades de uma realidade
caracterizada por constantes avanços e mudanças no campo da saúde mental, é o
registro histórico, que demonstra estas mudanças como resultantes do próprio
desenvolvimento da sociedade, marcado por uma dinâmica constituída por seres
157

sociais, que são capazes de movimentar as relações, rumo a adequação para uma
vida realmente satisfatória.
158

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164

ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título: “Análise histórica das políticas de Saúde Mental na Paraíba na perspectiva


dos trabalhadores da rede de assistência psiquiátrica pública”

Objetivo: Analisar historicamente a Política de Saúde Mental no Estado da Paraíba,


no período de 1980 a 2007, identificando os avanços e desafios imputados ao seu
desenvolvimento.

Metodologia: Serão realizadas entrevistas semi-estruturadas, as quais serão,


quando possível e pertinente à pesquisa, gravadas com seu livre consentimento.

Além de você e nós pesquisadores, ninguém terá acesso aos resultados da sua
entrevista, sem o seu consentimento. Quando o resultado da pesquisa for divulgado,
os participantes da mesma serão mantidos no anonimato. Sua participação
voluntária.

Assim se deixa claro que o participante recebeu os devidos esclarecimentos, no


que se refere aos objetivos, condições de realização, manutenção de anonimato,
bem como o direito de deixar de participar em qualquer momento da população e
procedimentos utilizados para a realização da pesquisa.

Concorda livremente em responder, emitindo sua opinião sobre os


questionamentos aqui abordados, como também que o resultado obtido seja
utilizado para o trabalho de conclusão no curso de Pós-Graduação em Serviço
Social, realizado pela Mestranda Kátia Helena da Silva Sales.

João Pessoa ____/____/________

______________________________________

Kátia Helena da Silva Sales (PPGSS-2010)

______________________________________

Para contato com o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital Universitário
Lauro Wanderley-HULW: Fone 3216-7302; E-mail: cephulw@hotmail.com.
165

ANEXO B- ROTEIRO DE ENTREVISTA 1

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE

1- Gênero

( )Masculino ( ) Feminino

2- Grau de Instrução

( ) Ensino Superior Completo


( ) Pós-Graduação
Especificar _________________________________________

3- Âmbito de Intervenção

( )Público
( )Privado
( )Público e Privado
Local de Trabalho_________________________________________

4- Ocupação atual

( )Coordenador
( )Técnico
Especificar ________________________________________

5- Tempo de experiência profissional com a Política de Saúde Mental

( )01-05 anos
( )05-10 anos
( )10-15 anos
( )15-20 anos
( )A partir de 20 anos
Especificar _________________________________________

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO INTER-RELACIONAL COM A POLÍTICA


DE SAÚDE MENTAL

PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA PSIQUIÁTRICA NA PARAÍBA

É perceptível que os avanços relacionados à assistência psiquiátrica,


ocorreram principalmente, a partir da década de 1980. Com base nesta afirmativa,
responda as seguintes questões:
166

6- Caso tenha mais de vinte anos de experiência na área, por gentileza


responda. Neste período, quais as Instituições que operacionalizavam serviços de
assistência à saúde mental na Paraíba?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

7-Por favor, descreva os serviços que essas instituições prestavam.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

8- Pode me dizer, quais eram os tipos de tratamentos utilizados?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

9- O Sr.(a) concorda que o quadro de Recursos Humanos era satisfatório, no


que diz respeito ao enfrentamento da problemática?

( )Sim ( )Não

10- Quanto à formação acadêmica, O Sr.(a) acha ser possível afirmarmos que
era suficiente no que tange ao atendimento à demanda?

( )Sim ( ) Não

Por favor, justifique a sua resposta:

___________________________________________________________

___________________________________________________________
167

___________________________________________________________

11- Como o (a) Sr.(a), compreende a Reforma Psiquiátrica no Brasil?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

12- Quais as contribuições que em sua opinião, esta Reforma impulsionou à


dinâmica do Estado?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

VISÃO POLÍTICA ACERCA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NA


PARAÍBA

13- Dentre a(s) Gestão(ões) que perpassaram a sua experiência profissional,


por gentileza, pontue a que considera ter colaborado de forma positiva com os
avanços da assistência psiquiátrica, em nível estadual.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

14- Ainda neste período, identifique a(s) Gestão(ões) na qual vivenciou o que
considera como desafios, relacionados a efetivação da assistência psiquiátrica
pública no Estado.
168

___________________________________________________________

___________________________________________________________

15- Descreva, por favor, estes desafios, bem como os principais entraves.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

16- Acredita que a formação acadêmica contribuiu e/ou alterou a dinâmica dos
profissionais que trabalharam e trabalham com a questão da saúde mental?

( ) Sim ( ) Não

O(a) Sr.(a) pode justificar a sua resposta:

___________________________________________________________

___________________________________________________________

VISÃO DA ATUAL POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NA PARAÍBA

É notório que o Movimento de Luta Antimanicomial representou um marco


inovador à trajetória da Política de Saúde Mental no cenário brasileiro, e
consequentemente no Estado. A partir dessa premissa, responda:

17- O(a) Sr.(a) percebe aspectos inovadores na realidade das condições em


nível local, em consonância com os ideais deste Movimento?

( )Sim ( )Não

18- Por favor, pontue o que considera como elementos de avanço, na trajetória
da Política de Saúde Mental, na realidade do Estado:

( ) Maior atenção dos Gestores


( ) Investimentos no Setor de Recursos Humanos
( ) Capacitação Profissional
( ) Resposta satisfatória à demanda
Outros
___________________________________________________________
169

___________________________________________________________

19- Além disso, recupere o que considera como principal(is) desafio(s):

( ) Investimentos Públicos
( ) Ditames burocráticos
( ) Questões político-partidárias
( ) Resistência a proposta da Reforma Psiquiátrica
Outros
___________________________________________________________

___________________________________________________________

Neste processo, pode-se apontar como avanço para a assistência psiquiátrica o


conjunto de orientações normativas, que regulam e legitimam a efetivação dos
direitos individuais e sociais dos usuários dessa Política. Desse conjunto, podem ser
citados:

 O Estatuto da Pessoa com Deficiência (DECRETO LEI Nº. 3.298-DIÁRIO


OFICIAL DA UNIÃO, 21 DE DEZEMBRO DE 1999). O capítulo IV, Artigo 7º, trata
dos objetivos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência. Dentre os quais, garante a integração das ações dos órgãos e das
entidades públicos e privados nas áreas de saúde, educação, trabalho, transporte,
assistência social, edificação pública, previdência social, habitação, cultura, desporto
e lazer, visando à prevenção das deficiências, à eliminação de suas múltiplas
causas e à inclusão social.

20- Como O(a) Sr.(a) avalia o grau de efetivação desse objetivo, nas ações
desenvolvidas pelo Estado?

( )Regular ( )Bom ( )Ótimo

 LEI Nº. 10.216, que especificamente dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental. Artigo 3º legaliza como responsabilidade do Estado o
desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações
de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da
sociedade e da família (...). Com relação ao contexto no Estado, descreva:

21- Por favor, indique os aspectos que reconhece enquanto facilitadores à


concretização desta proposta.
170

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

22- Agora, por gentileza, pontue os elementos que considera como principais
entraves à efetivação da mesma.

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

23- Quanto à eficiência, como o(a) Sr.(a) avalia os resultados obtidos no


desempenho com os seguintes equipamentos de enfrentamento da Política de
Saúde Mental:

Ambulatório ( )Regular ( ) Bom ( ) Ótimo


Centro de atenção Psicossocial ( )Regular ( ) Bom ( ) Ótimo
Residências Terapêuticas ( )Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

24- Dentre estes e/ou outro(s), qual(is) o(a) Sr.(a) identificaria com maior índice
de efetivação no que diz respeito ao objetivo proposto? Por quê?

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________
25- Como o(a) Sr.(a) percebe a relação da atual Gestão Estadual com a
Política de Saúde Mental.

( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima

Por quê?

___________________________________________________________

___________________________________________________________
171

___________________________________________________________

___________________________________________________________

26- Por favor, identifique os avanços que considera como pertinentes à


realidade estadual e que ainda não foram alcançados.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Kátia Helena da Silva Sales


Mestranda em Serviço Social/PPGSS-2010
172

ANEXO C- ROTEIRO DE ENTREVISTA 2

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE

1 Gênero

( )Masculino ( ) Feminino

2 Grau de Instrução

( ) Ensino Superior Completo


( ) Pós-Graduação
Especificar _____________________________________________

3 Âmbito de Intervenção

( )Público
( )Privado
( )Público e Privado

4 Ocupação atual

( )Coordenador
( )Técnico
Especificar _______________________________________________

5 Tempo de experiência profissional com a Política de Saúde Mental

( )01-05 anos
( )05-10 anos
( )10-15 anos
( )15-20 anos
( )A partir de 20 anos
Especificar _______________________________________________

VISÃO POLÍTICA ACERCA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NA


PARAÍBA

É perceptível que os avanços relacionados à assistência psiquiátrica,


ocorreram a partir de 1970, sobretudo, na década de 1980, sob a influência da
Reforma Psiquiátrica. Com base nesta afirmativa, por favor, forneça resposta às
seguintes questões:

6 Como avalia o nível de contribuição que esta Reforma impulsionou à


dinâmica do Estado:
173

( ) Ruim ( ) Regular ( )Bom ( )Ótimo

7 Como o(a) Sr(a) descreve o grau de resolutividade dos serviços


substitutivos(Residências Terapêuticas, Centros de Convivência e Cultura, Centros
de Atenção Psicossocial-CAPS, etc.), da Política de Saúde mental, em nível
estadual:

( )Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( )Ótimo

8 Em relação ao atendimento à demanda da assistência psiquiátrica, como


percebe as contribuições da formação acadêmica para os profissionais que
atuam com a Política de Saúde Mental:

( )Ruim ( )Regular ( )Bom ( ) Ótimo

No processo de desenvolvimento da Política de Saúde Mental, é


imprescindível pontuarmos a relevância dos CAPS. Neste respeito, por
favor, descreva:

9 O grau de efetivação dos CAPS, em consonância com os preceitos da


Reforma Psiquiátrica é:

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

10 No que se refere ao quadro de Recursos Humanos, para o


enfrentamento da problemática, o(a) Sr(a) considera:

( ) Ruim ( )Insuficiente ( ) Bom ( ) Ótimo

11 No que depende da formação acadêmica desses profissionais, o(a)


Sr(a) considera que a mesma contribui de que forma para uma atuação na Política
de Saúde Mental:

( ) Insuficiente ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo

12 Como avalia a participação da comunidade em relação às atividades


desenvolvidas pelo CAPS:

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótimo

13 Em sua percepção, as ações de incentivo para esta atuação


articulada com a comunidade, promovidas pelo CAPS é:

( )Ruim ( )Insuficiente ( )Boa ( )Ótimo


174

14 Como o(a) Sr(a) avalia a relação da atual Gestão Estadual com a


Política de Saúde Mental:

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima

15 No que diz respeito aos recursos financeiros destinados à


manutenção dos CAPS, o(a) Sr(a) compreende que são:

( )Insuficiente ( )Regular ( )Boa ( )Ótimo

16 Quanto ao impacto que as ações do CAPS desenvolve na dinâmica


da Política de Saúde Mental, o(a) Sr(a) considera;

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima

17 Suas perspectivas em relação ao CAPS são:

( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima

Por favor, justifique sua resposta

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João Pessoa____/____/____

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Kátia Helena da Silva Sales


175

ANEXO D- Aprovação do Comitê de Ética

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