Dissertação Politica SM Na Paraiba
Dissertação Politica SM Na Paraiba
Dissertação Politica SM Na Paraiba
JOÃO PESSOA
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
JOÃO PESSOA
2010
KÁTIA HELENA DA SILVA SALES
JOÃO PESSOA
2010
KÁTIA HELENA DA SILVA SALES
JOÃO PESSOA
2010
RESUMO
The present master’s thesis aims to analyze historically the development of the
Mental Health Assistance Policy in the State of Paraiba (Brazil). In order to do that,
this work carries out a discussion involving the psychiatric assistance in several
social conjunctures, as well as its representation in diverse historical periods. The
main focus is the worldwide discrepancy towards the first ways of confronting
“madness”, as it was conceived in the different social contexts. In order to glimpse at
this issue, the present study analyzed several authors who not only approached the
constitution of psychiatry, but also discussed its central ideas. As an example, the
concept which considers as a social-historical construction, the invention of
psychiatry and its object, the mental disease, along with the social degradation of
mentally ill people resulting in their complete exclusion from the world. Such analysis
has effectively permitted to rebuild the path of psychiatric assistance. It is also
observed the first outstanding movements which converged to a number of
innovative actions in the context of mental health assistance, so that prompted a
series of psychiatric reform movements in most of the world. From these
experiences, there have been formulated public and specific policies, directed to the
mentally ill patient, which attempted to reconcile the assistance with social inclusion.
As a result of this new approach, is has been established a scenery with
mechanisms to substitute hospital-centered model, through which it began to be
designed a new perception about the mentally ill individual. Finally, this study
considers important to achieve a new relationship between mental patients and their
caregivers, in the psychiatric assistance process.
Figura nº. 4 - Paciente sendo libertada das correntes por ordem do Dr. Phillip Pinel
em Salpêtriére-Paris- 1795 ................................................................................... p. 38
Figura nº. 5 - Hospício D. Pedro II, Gravura Victor Frond, 1852 .......................... p. 41
Gráfico nº 03 - Expansão anual dos CAPS (da década de 1980 A 2006) ........... p. 73
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. p. 13
4.2 Visão política acerca da Política de Saúde Mental na Paraíba .................... p. 125
4.2.1 Percepção dos profissionais sobre o desenvolvimento da Assistência
Psiquiátrica no estado paraibano ................................................................... p. 125
4.2.2 Visão da atual Política de Saúde Mental na Paraíba ............................ p. 128
1 INTRODUÇÃO
Num quadro geral, uma reflexão histórica acerca da loucura revela que a
mesma tem acompanhado o homem ao longo de toda a sua trajetória. As
sociedades chamadas primitivas referendam de forma abundante a existência de
homens loucos, ou pontuando mais detalhadamente, indivíduos que na conduta e
/ou na linguagem transpareciam notadamente uma diferenciação das normas sociais
então estabelecidas e prevalecentes.
Figura nº. 1- A Cura da Loucura - Extração da Pedra da Loucura (1475-1480) de Hieronymus Bosch
Web Gallery of Art, Fonte: <http://gallery.euroweb.hu/html/b/bosch/painting/stone.html> 1996.
'liberdade' (grifo da autora) uma vez que fazia parte do cenário. Assim, é possível
afirmar que até então, a concepção para doença mental era eminentemente restrita
aos aspectos exteriores da loucura, especialmente quando estes se configuravam
como obstáculos para a vida em família e em comunidade.
Millani e Valente, também são autoras que corroboram com este fato, quando
afirmam que,
Conforme pontua Pereira, Labate e Farias “Pinel foi um pioneiro na luta pela
libertação dos doentes mentais e um dos responsáveis pela classificação das
doenças mentais” (1998, p.2). Um dos grandes feitos de Pinel enquanto
superintendente do asilo em Bicêtre em Paris foi à decisão de libertar os doentes
psiquiátricos, e os criminosos que o asilo também abrigava, das correntes usadas
para restrição física. “Na ocasião da Revolução Francesa, o hospital de Bicetrê, em
Paris, era considerado uma verdadeira “casa de horrores” onde os internados –
loucos, em sua maioria – eram abandonados à própria sorte” (KOERICH apud
DESVIAT, 2008).
Em 1795 Pinel foi nomeado médico chefe do Hospício de Salpêtrière, um asilo
feminino onde as doentes eram tratadas do mesmo modo e sob as condições que
havia encontrado em Bicêtre. Lá ele aplicou os mesmos métodos e obteve os
38
mesmos bons resultados, como livrar as doentes das correntes que as prendiam,
muitas acorrentadas por 30 a 40 anos.
Figura nº. 4- Paciente sendo libertada das correntes por ordem do Dr. Phillip Pinel em Salpêtriére-
Paris- 1795/ Fonte: Fig. 14: Quadro de Tony Robert-Fleury, "Loucas da Salpêtrière", 1886 Fonte:
<http//:www.rio.rj.gov.br/saude/pinel/historico/corpo-his>, 2002.
(...) tinha de ser vigiado nos seus gestos, rebaixado nas suas
pretensões, contradito no seu delírio, ridicularizado nos seus erros: a
sanção tinha que seguir imediatamente qualquer desvio em relação
a uma conduta normal. E isto sob a direção do médico que está
encarregado mais de um controle ético do que de uma intervenção
terapêutica. Ele é, no asilo, o agente das sínteses morais (idem).
respaldo médico-científico.
De modo geral, ao adentramos no registro histórico brasileiro identificamos que
o doente mental usufruía de relativa liberdade, sobretudo nos primeiros anos do
século XIX, já que lhes era permitido vaguear pelas cidades, aldeias e campos.
Sobreviviam da caridade pública e quando muito, se pertencessem a famílias
abastadas, eram escondidos e tratados em casa sob construções anexas. Assim, a
problemática que envolvia a doença mental foi silenciada por muito tempo.
Por conseguinte, este proceder não mantinha sob controle, o que de fato era
real: a existência de inúmeras pessoas vítimas da insanidade mental. Por isso,
embora ignorada por muitos anos, a loucura passou a ter maior visibilidade no
cotidiano das cidades e tornou ainda mais numerosa as fileiras dos marginalizados
de outra natureza, visto que na maioria das vezes os “loucos” eram tidos como
sinônimos de desordem e ociosidade, perturbação da paz social e obstáculo ao
crescimento econômico. Assim, foi apontada como solução a remoção destes
“elementos” perturbadores do convívio social. Portanto, é possível afirmar que desde
as suas primeiras expressões, a assistência psiquiátrica brasileira revelou ser
marcadamente excludente.
Na área da saúde mental, não consta do registro brasileiro, uma sistematização
de uma política específica, que lidasse com especialidade os doentes mentais.
Como conseqüência, não se dispõe de um registro com informações mais
elementares. Apesar disso, é possível perceber o quanto as medidas de assistência
psiquiátrica foram influenciadas pelos métodos franceses de Pinel e de seus
contemporâneos alienistas. E embora tenha sido feita certa adaptação à realidade
local, enquanto na Europa o lidar com a loucura estava sendo relacionado à
assistência, no Brasil por um longo período as ações adotadas se concentraram na
ampliação de manicômios, que atribuía ao interno uma condição de exclusão.
Além disso, é possível identificarmos que muitos fatores contribuíram para a
precariedade da estrutura assistencial em saúde, o que engloba a área de saúde
mental. A assistência pública aos doentes mentais deixava muito a desejar, com
exceção dos grandes centros. São Paulo é um desses exemplos, que possuía um
investimento econômico considerável. O que também resultava em grandes
investimentos em saneamento e saúde pública para assegurar o crescente fluxo de
mão-de-obra, paralelo ao controle das doenças de uma forma geral.
A narrativa histórica situa como marco institucional da assistência psiquiátrica
41
brasileira o ano de 1852, pois neste foi inaugurado pelo Imperador D. Pedro II, o
hospício que foi determinado pelo decreto imperial n° 82, e recebeu seu nome na
Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Este tinha por meta admitir a demanda de todo o
império e capacidade para receber 350 pessoas, o que aconteceu em pouco mais
de um ano, com pessoas provenientes da Santa Casa e da enfermaria provisória
que havia sido criada na Praia Vermelha.
O hospício deveria ser um instrumento de cura, sendo a sua organização
cuidadosamente planejada, assim como a localização dos pacientes no seu interior.
A partir desse momento a psiquiatria no Brasil passa a ser admitida como
especialidade médica, como já ocorria na Europa, e ganha seu local de prática
efetiva.
Como assinala Resende, ao comentar sobre este marco para a psiquiatria
brasileira,
Figura nº. 5 - Hospício D. Pedro II, Gravura Victor Frond, 1852. Fonte: CD-Rom Projeto Memória da
Psiquiatria, 2000
Figura nº. 7,8 e 9 - Trabalho agrícola, pacientes e aviários das colônias da Ilha do Governador. Fonte:
Mostra Virtual “Memória da Loucura”, 2000.
Entretanto, estas instituições se configuravam em nada mais do que hospícios
situados em áreas rurais, que serviam para escoar os inúmeros pacientes crônicos
excedentes dos hospícios. A título de citação, foram construídas no Rio de Janeiro
46
duas Colônias, uma para mulheres, no Engenho de Dentro e outra para homens, em
Jacarepaguá.
Há também uma instituição que pode ser citada é o Hospital colônia do Rio
Grande do Sul. Este na década de 1970 passou a comportar um Centro Agrícola de
Reabilitação - CAR. Acolhendo cerca de 180 pacientes advindos do Hospital São
Pedro, constituía uma unidade psiquiátrica e intencionava recuperação da saúde
mental dos indivíduos originários da zona rural, mediante o trabalho agrícola.
Era dotado das mesmas características dos outros hospitais que foram
construídos na época, e tinha a mesma localização geográfica. Situava-se na zona
rural e mantinha os que ali se encontravam internos, totalmente afastados do
contato com a civilização urbana, acreditando-se que a natureza iria contribuir com a
cura dos mesmos.
Figura nº. 10- Hospital Colônia – agrícola Rio Grane do Sul/ Fonte: <http://www.saude.rs.gov.br>
Outro fator que merece ser analisado neste processo é o fato de que embora
até aquele momento, a conjuntura brasileira tenha avançado em seus tratos com os
doentes mentais, boa parte das ações desenvolvidas ainda não concebiam a
discussão voltada à cidadania destes. Ao contrário, as normatizações orientavam-
se pelo código civil de 1919. Entre outros, o Artigo 5º preceituava o louco de todo
gênero, como absolutamente incapaz de exercer, ele mesmo atividades da vida civil.
Essa situação começou a sofrer mudanças, em 1923 com a criação da Liga
Brasileira de Higiene mental. Fundada no Rio de Janeiro pelo psiquiatra Gustavo
Riedel, que recebeu a incumbência de Clifford Beers ativista americano em prol da
melhoria do atendimento aos portadores de doença mental, a LBHM tinha como
primazia a melhoria na assistência aos doentes mentais, através da modernização
do atendimento psiquiátrico. Até 1923, seguiu a orientação de seu fundador, mas, a
partir de 1926, seus administradores foram influenciados pelo contexto político e
pelo contato com idéias alemãs, francesas e norte-americanas e assim, mudaram-se
os rumos de suas atividades.
47
Felizmente, esta foi uma década caracterizada por outras mudanças na área
da assistência psiquiátrica. Algumas construções foram promovidas, como a colônia
de alienados de Jacarepaguá, em 29 de março de 1924. Ali foram abrigados os
indivíduos que vinham transferidos da Ilha do Governador. Recebeu o nome de
Colônia Juliano Moreira (CLM) em meados da década de 1930, mais
especificamente em 13 de Janeiro de 1937, com respaldo da Lei nº. 378. Dos anos
20 aos 80, funcionava como destino final para pacientes considerados
1
irrecuperáveis.
E não foi por acaso que esta colônia passou a ser nomeada, e reconhecida
como Juliano Moreira, pois este foi no Brasil, um dos grandes protagonistas da
1
Na década de 1960, esse hospital-colônia chegou a abrigar cerca de 5.00 pessoas. No início dos
anos 80, após longo processo de deterioração, a instituição iniciou uma transformação do seu modelo
assistencial, em consonância com a Reforma Psiquiátrica que vinha acontecendo em diversos
países. (DADTE, 2001, p.1)
48
Assim também cria Juliano Moreira e sua atuação foi coerente com
esta visão; para ele, o principal papel da psiquiatria estava na
profilaxia, na promoção da higiene mental e da eugenia. Em que
pese o caráter francamente intervencionista deste projeto médico,
não se pode negar o brilhantismo, a coragem e a originalidade deste
fundador da psiquiatria brasileira (...) defendeu a reformulação da
assistência psiquiátrica pública, tanto no âmbito legislativo quanto
assistencial (GÉLEDÉS PORTAL).
Esta medida era reconhecida como solução e válida por qualquer motivo que
tornasse incômoda a manutenção do psicopata em sua residência.
Com esta prerrogativa, as internações eram a regra, e qualquer possibilidade
de tratamento extra-hospitalar era exceção. Neste momento, a mera suspeita de que
o indivíduo estava acometido com a doença mental, era suficiente para que o
mesmo fosse cerceado de sua liberdade em asilos, com a subseqüente privação de
seus direitos civis, e submissão à tutela do Estado. É possível, contarmos com este
elemento enquanto um dos fatores que estimularam o alto índice de internações.
Vale ressaltar ainda, que foi a partir da década de 1930 que à assistência
psiquiátrica pública se estendeu para os Estados do país com a criação de serviços
patrocinados pelo governo federal. O Serviço Nacional de Doença Mental foi um
desses serviços (SNDM), criado durante a ditadura getulista, passaria a gerenciar a
expansão da assistência psiquiátrica em todo o território nacional. 2
Adauto Botelho assumiu a direção do mesmo, que fazia parte da estrutura do
Ministério da Educação e Saúde, mediante o decreto-lei 3.171 de 24 de 4 abril de
1941. Botelho seguia as diretrizes de Juliano Moreira, e o tinha como a figura mais
proeminente da psiquiatria brasileira no primeiro quarto de século, que buscava
conferir um caráter científico à psiquiatria (Paulin; Turato, 2004, p. 1).
2
O primeiro órgão responsável pela assistência psiquiátrica de âmbito nacional foi a Assistência
Médico-Legal a Alienados, criado pelo decreto n° 508 de 21/06/1890. Em sua substituição, o decreto
n° 17.805 de 23/05/1927 instituiu a Assistência a Psicopatas, que foi reformulada para Serviço
Nacional de Doenças Mentais em 1941 e, posteriormente, para Divisão Nacional de Saúde Mental,
pelo decreto n° 66.623 de 22/05/1970 (VENÂNCIO; CASSÍLIA, 2007, p. 2).
53
450 430
400
361
357
350 341
313
301
300
269 269
259 256
250 Público
219 211
Privado
200
Total
150 135
100 62 81 73
72 60
39 54 54 50 45
50 23
0
1941 1961 1971 1981 1988 1991 1996 1997
Fonte
s: CIS/MS (1941 a 1988) SRH/SUS (1991 a 1997) (apud CARMO; KOGA; SOUZA, 1999).
Até 1954, Botelho conseguiu estruturar uma rede de 16.000 leitos. Foram
criados mais hospitais públicos psiquiátricos (23 hospitais), responsáveis por 80,7%
dos leitos psiquiátricos no Brasil. O restante dos leitos ficaram distribuídos entre as
39 clínicas privadas, e haviam apenas 4 ambulatórios em todo o país. “É nesse
momento que começam a ser introduzidos os primeiros tratamentos biológicos na
54
Esta foi uma década também marcada pela privatização na área da psiquiatria
no Brasil, situação agravada pela ditadura militar e pelo avanço das idéias liberais.
Com o passar dos anos casas de saúde, no que diz respeito à assistência
psiquiátrica foram surgindo, mas, no âmbito do privado. Embora se diferenciassem
pela oferta de conforto em comparação aos hospitais públicos, e apresentassem
baixo índice de mortalidade, tinham a mesma função social e perpetuavam a mesma
condição: isolava os usuários do convívio e contato com a comunidade,
resguardando-a do suposto perigo. 3
3
Se na década de 1930 chegou a haver um fugaz convênio entre o Instituto de Pensões e
Aposentadoria dos Servidores do Estado — Ipase — e a Casa de Saúde Dr. Eiras, foi na década de
1950 que se incorporou a assistência psiquiátrica, mesmo que de forma incipiente, aos institutos de
aposentadoria e pensões.
56
Além disso, nesta época se inicia a construção dos pilares de uma grande
mudança, que proporcionaria uma realidade totalmente diversa do que até então se
4
Na década de 1930, o Estado incorporou estas ações de assistência à saúde que passaram a ser
sistematizadas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPS). Entretanto, a atenção psiquiátrica
só foi anexada ás demais especialidades na década de 1950, e mesmo assim de forma incipiente.
Constam deste período, argumentos de favorecimento a investimentos em ações de saúde mental,
como proposta que, por excelência, visava à rentabilidade econômica.
57
O registro histórico indica que foi a partir dessa década, que o cenário brasileiro
vivenciou o processo da Reforma Psiquiátrica, com crescentes manifestações de
vários segmentos da sociedade no sentido de reduzir a privação da liberdade
individual na forma de manicômios. Além disso, buscou-se um novo enfoque no
modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao invés de direcionar a
ação apenas ao desequilíbrio psíquico já instalado.
Assim foi nos últimos anos da década de 1970, que se formou no Brasil o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). Porém foi notadamente a
partir de 1989, que os representantes deste movimento, começaram a assumir
espaços de liderança, coordenando e supervisionando os serviços em saúde mental,
inclusive em vários municípios, desencadeando novas práticas. O diferencial nesta
postura, era a busca na construção de um novo modelo assistencial, com ênfase na
oferta de serviços extra-hospitalares.
Para tanto, um novo elemento se fez presente nesta luta. O conceito de
cidadania passa a ser discutido como imprescindível na concretudo da assistência
psiquiátrica. Só assim seria possível, conceder ao doente mental a inserção no
mundo da cidadania, no espaço da cidade, no mundo dos direitos.
Duas referências anteriores mantiveram relação com o que acontecia naquele
momento. ”São elas: o modelo de comunidades terapêuticas e o movimento da
psiquiatria comunitária e preventiva, que institui as idéias de saúde mental e de
intervenção na comunidade, inclusive com intenção preventiva” (TENÓRIO, 2002,
p.28).
De certa forma, é possível pontuarmos estas referências enquanto um marco
inovador, no processo de desenvolvimento da Política de Saúde Mental no Brasil,
pois se apresentava com o objetivo de superar as estruturas tradicionais do aparato
asilar psiquiátrico. A construção de respostas à demanda se dava a partir da
psicanálise, que por sua vez buscava interpretar por meio de leituras inconscientes
não apenas os pacientes, mas também a instituição e os profissionais que lidavam
com a problemática. Neste caso,
5
Ainda segundo Gondim apud Oliveira & Teixeira (2001) foi na década de 1960 que a
política manicomial sofreu grande expansão, com a contratação e financiamento pela
Previdência Social de clínicas privadas, o que para a autora se constituiu em um grave problema
no cenário brasileiro anos depois. Tendo em vista que o privatismo na atenção psiquiátrica
favoreceu o crescimento desordenado, a falta de planejamento e critério nas demandas de
internação. Este processo provocou uma cristalização do modelo manicômio-dependente e
consolidou-se como política oficial até o final da década de 1970.
65
6
Após mais de uma década tramitando no Congresso Nacional, ela foi aprovada e sancionada pelo
Presidente em 6 de abril de 2001
66
comprometimento das três esferas gestoras. “Com efeito, já no início dos anos 1990,
o SUS sofreu um considerável desfalque nas suas receitas ao ter grande parte delas
usada indevidamente” (PEREIRA, 2002, p.14). A autora referida autora ainda
complementa a sua idéia quando traz em sua análise, para nível de
esclarecimentos, os seguintes dados,
Estes Centros são instituições que têm por meta acolher os pacientes com
transtornos mentais. O diferencial está no fato de que almejam alcançar seus
objetivos, por estimular a integração social e familiar do usuário promovendo em
suas iniciativas a busca da autonomia por oferecer-lhes atendimento médico e
psicológico.
Os CAPS apresentam como característica principal, ações que visam integrar
estes indivíduos a um ambiente social e cultural concreto, levando em consideração
o espaço onde se desenvolve a vida cotidiana desses usuários. O que inclui
(...) seus conflitos, seus interesses, seus amigos, seus vizinhos, sua
família, suas instituições, seus cenários (igreja, cultos, escola,
trabalho, boteco etc.). É essa noção de território que busca
organizar uma rede de atenção às pessoas que sofrem com
transtornos mentais e suas famílias, amigos e interessados
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 11).
Ceará 8.450.527 40 27 3 6 17 93
D. Federal 2.557.158 1 2 0 1 2 6
E. Santo 3.453.648 7 8 0 1 3 19
Goiás 5.844.996 8 13 0 2 3 26
Maranhão 6.305.539 35 13 1 3 6 58
Minas Gerais 19.850.072 174 44 8 11 16 153
M. Grosso do Sul 2.336.058 7 6 1 1 3 18
M. Grosso 2.957.732 25 2 0 1 5 33
Pará 7.321.493 20 11 1 2 5 39
Paraíba 3.742.606 34 9 2 7 6 58
Pernambuco 8.734.194 16 17 1 4 10 48
Piauí 3.119.697 23 5 0 1 4 33
Paraná 10.590.169 34 26 2 7 19 88
R. de Janeiro 15.872.362 32 37 0 13 16 98
R. G. do Norte 3.106.430 10 10 0 2 5 27
Rondônia 1.493.566 10 5 0 0 1 16
Roraima 412.783 1 0 0 0 1 2
R. Grande do Sul 10.855.214 63 36 0 14 21 134
S. Catarina 6.052.587 41 13 1 6 8 69
Sergipe 1.999.374 20 3 3 1 3 30
São Paulo 41.011.635 55 74 19 27 58 233
Tocantins 1.280.509 7 2 0 0 1 10
Brasil 189.612.814 706 402 46 117 231 1502
Fonte: Ministério da Saúde. PRH / Coordenação Geral de Saúde Mental
Assim, fica clara a vinculação dos problemas enfrentados pelos CAPS com a
organização mais geral do SUS, que tem nos seus níveis de complexidade inúmeras
dificuldades que envolvem desde a questão do financiamento insuficiente até a falta
de interlocução nos movimentos de referência e contra-referência em saúde.
Além dos CAPS, fazem parte do leque de avanços da atenção à saúde mental,
as Residências Terapêuticas, também chamadas de Serviços Residenciais
terapêuticos – SRTs. Sua implantação exigiu dos gestores do SUS uma constante
articulação entre a comunidade, vizinhança e outros atores sociais do território. São
casas, ou locais de moradia para pessoas com transtornos mentais que
permaneceram por um período de tempo longo em instituições psiquiátricas, e que
por isso ficam impossibilitadas de retornar às suas famílias de origem. Estas
residências foram implantadas pela Portaria/GM nº. 106 de fevereiro de 2000, e
integram a Política de Saúde mental do Ministério da Saúde.
83
interessante neste sentido é que, para cada usuário de hospital psiquiátrico que é
transferido para uma residência terapêutica, um número igual de leito deve ser
desativado e descredenciado no SUS, e os recursos financeiros que o mantinha
deve ser realocado para os fundos do Estado ou do Município correspondente, com
fins de manutenção dos serviços terapêuticos.
Vale ressaltar que, assim como,se deu com os CAPS, o incentivo financeiro
para as residências, pode ter sido um dos mais importantes aspectos de estímulo,
na expansão da Rede. Como resultado desse trabalho, ocorreu um processo
gradativo de “desativação de leitos psiquiátricos” (Ministério de Saúde. Relatório de
gestão 2003-2006, p. 21).
Com relação à desativação de leitos psiquiátricos, é imprescindível situarmos
este aspecto dentro do contexto social, tendo em vista que a assistência à saúde
mental não pode ser compreendida isoladamente do sistema da política de saúde no
qual está inserida. E neste respeito, é possível afirmarmos que as mudanças
significativas ocorreram a partir da década de 1970, com o advento da privatização
acelerada desses leitos.
Esta característica implicou em mudanças, que se deram não apenas na
assistência psiquiátrica, mas, na política de saúde como um todo. Pois a partir desta
década, ampliou-se a privatização da assistência médica, através da compra de
serviços pela Previdência Social. Especialmente após a criação do Instituto Nacional
de Previdência Social - INPS, a prestação de serviços assistenciais, começou a ser
feita através de serviços contratados de terceiros.
Dessa forma, a oferta dos serviços da assistência psiquiátrica sofreu um recuo.
O que pode ser evidenciado com o cenário dos leitos psiquiátricos, que em 1941
apresentavam uma estatística de 21.079 no âmbito público, em comparação a 3.034
privados. Este quadro cresceu proporcionalmente até 1970, chegando a atingir um
marco de 47.677 para 34.433 leitos privados. No entanto, ainda nesta década
ocorreu uma inversão nesse quadro. Os leitos privados passaram a ter um
crescimento acelerado, em detrimento dos espaços na iniciativa pública.
Outro dado importante está relacionado aos resultados obtidos com a avaliação
de leitos/1.000 habitantes. Neste sentido, fica explícita a necessidade de ajuste
neste sentido, pois além das diferenças regionais, há um declínio no atendimento
satisfatório à demanda, assim como esclarece Venâncio e Cassilia
85
Este é um dos mecanismos que pode ser apontado como eficaz dentro da
política de assistência psiquiátrica, pois favorece alguns benefícios aos usuários
egressos de instituições, como também fortalece a possibilidade do convívio na
família e na comunidade em que se insere. No entanto, a luz da situação atual
brasileira dos serviços de saúde, deve-se levar em consideração o fato de que a sua
implementação ainda não cabe dentro do contexto de alguns Estados e Municípios,
tendo em vista que depende de negociações permanentes nestas instâncias de
governo, para que todos sejam incluídos e assistidos, e também para que ocorra a
integração entre as diversas instituições.
87
a data em que foi criada a Irmandade da Misericórdia da Paraíba, pois assim como
enfatiza Filho (1977), o seu primeiro arquivo desapareceu por ocasião da guerra
contra os holandeses, e o segundo, foi destruído em um incêndio, no século XVIII.
Entretanto, o referido autor nos informa que,
Foi desta forma, com auxílios mínimos, parcas subvenções e raros donativos,
que a proteção social destes indivíduos se desenvolveu neste primeiro período, e
representou uma pequena, mas significativa melhora, na situação dos infelizes que a
ela recorriam.
Com relação ao próximo período que, segundo Filho (1977), vai desde a
implantação do Hospício da Cruz do Peixe até a instalação do Hospital Colônia
“Juliano Moreira” (1890-1928), configurou um cenário de melhorias no cenário
paraibano, tendo em vista que novas possibilidades passaram a fazer parte das
ações que eram desenvolvidas na Santa Casa. Assim como afirma Filho,
endemias e que fora destinada pelo Presidente Epitácio Pessoa, sobrara uma
quantia e se fazia necessário a alocação da mesma.
Por isso, foi aplicado um recurso na compra de um amplo terreno existente na
Estrada dos Macacos, atualmente Avenida Pedro II, e ali se iniciou a construção dos
edifícios que em seu conjunto passaram a constituir “o Hospital Colônia “Juliano
Moreira”, sob a direção e responsabilidade da Comissão de Profilaxia Rural (Filho,
1977, p. 160). Esta unidade de atenção e assistência psiquiátrica foi inaugurada em
23 de junho de 1928, na administração de João Suassuna.
INVESTIMENTO
Gastos com diversas modificações 4 contos, 253 mil 600 réis
Repartição de obras públicas (diversos fornecimentos) 22 contos, 412 mil, 800 réis
Material de iluminação e ajardinamento 11 contos, 479 mil, 800 réis
Despesas de conservação 9 contos, 610 mil, 50 réis
Assentamento de instalações elétricas (segundo 2 contos, 641 mil, 50 réis
pavilhão)
Fonte: FILHO, 1977, p.161
É digno de nota que este Relatório aponta para uma questão que se fez
presente em todo o processo de desospitalização no contexto da assistência
psiquiátrica. É o fato de que há certa dificuldade para os profissionais envolvidos
com a mesma, em identificar e caracterizar o papel que cada um representa dentro
do processo de implantação da Política de Saúde Mental, especialmente quando
esta defende a inserção social do doente mental.
Mas, de forma geral o relatório aponta a consonância de todos os envolvidos
com o trabalho da instituição, no que se refere a reivindicações que visavam à oferta
de serviços com aspectos de humanização da vida ou sobrevida de todos os que se
encontravam na estrutura hospitalar.
Com resultante desta ação, foi nomeada ainda no ano de 1987, mais
precisamente no mês de Maio, uma Comissão de Sindicância pelo senhor Secretário
de Saúde, o Drº. Gilvan Navarro com o intuito de esclarecer os desvios de vários
materiais e equipamentos, relacionados e necessários ao funcionamento do
Hospital. Como sugestão ao então Governador do Estado, Drº Tarcísio de Miranda
Burity, a equipe organizadora deste Relatório indicou a possibilidade de que se
consultasse caso necessário fosse, a Auditoria do Tribunal de Contas do Estado da
Paraíba, para que de forma imparcial, isenta de protecionismo político e de
paternalismo, chegasse a atingir o objetivo almejado.
Para além desta medida, a Comissão responsável pela elaboração desse
Relatório Diagnóstico, considerou como imprescindível que as transformações se
iniciassem no âmbito interno da instituição. Destacou que já naquele período, o dia
15 de maio fora instituído como o Dia Nacional da Infecção Hospitalar, conforme
Decreto assinado pelo Sr. Presidente da República, Drº José Sarney e o Ministro da
Saúde, Drº Roberto Santos. O objetivo seria enfatizar a importância de atos, que
embora considerado simples, seriam de suma importância para o controle de
infecções generalizadas nos espaços hospitalares. Ou seja, o simples ato de lavar
as mãos poderia ajudar na redução do quadro de infecções.
No entanto, o lavar as mãos que se fazia presente no Hospital psiquiátrico
Juliano Moreira, era o da negligência por parte das autoridades competentes diante
das necessidades internas, que se agravavam cada vez mais. E que até então,
estava mascarada pela boa aparência resultante de reformas externas, que apenas
fortalecia o cenário de desconhecimento do total abandono que predominava no
interior da unidade psiquiátrica.
110
Araruna 01
Alagoa 01
Grande
Aroeiras 01
Alhandra 01
Bananeiras 01
Barra de 01
Santana
Belém 01
Boqueirão 01 01 03
Bayeux 01
Caaporã 01
Cabedelo 01 01
Conde 01
Coremas 01
Conceição 01
Cajazeiras 01 01 01
Campina
Grande 01 01 02 01 06 63
Esperança 01
Galante 01
Guarabira 01
115
Inga 01
Itaporanga 01
Itabaiana 01
João Pessoa 02 01 01 01 02
Juazeirinho 01 02
Lagoa Seca 01 01
Mamanguape 01
Mari 01
Monterio 01
Patos 01 01 01
Pedras de 01
Fogo
Picuí 01
Pombal 01
Pocinhos 01
Piancó 01 01 01 04
Princesa 01
Isabel
Queimadas 01
Santa Rita 01
Sapé 01
São Bento 01
Souza 01 01 01 02 05
Soledade 01
Solânea 01
Taperoá 01
Teixeira 01
TOTAL 35 09 02 07 07 16 74
Fonte: Núcleo de Saúde Mental- SES/PB, 2010
COORDENADOR -
16,75%
TÉCNICO - 67%
OUTRA - 16,75%
Fonte: Primária
119
A Partir de 20 anos-
83,25%
Fonte: Primária
Quando indagados a cerca das contribuições que tal reforma deu a dinâmica
específica da Paraíba em termos do atendimento psiquiátrico, as respostas foram às
seguintes:
Não se pode negar que dentro do escopo das políticas de saúde, a área da
assistência psiquiátrica incorpora muitos desafios, independentemente do local onde
se efetiva. Como bem prescuta Goular;
Tabela nº 04- Retrato dos aspectos inovadores na realidade das condições em nível
local, em consonância com os ideais do Movimento de Luta Antimanicomial.
Aspectos inovadores na realidade das Nº (%)
condições em nível local
SIM 83,25%
OUTRAS 16,75%
TOTAL 100%
Fonte: Primária
129
Fonte: Primária
percebido que os entrevistados optaram por mais de uma variável. A partir de suas
colocações, foi possível chegar aos seguintes resultados: 67% apontaram a
problemática em torno dos investimentos para as ações da assistência psiquiátrica
pública; 33,5% destacaram os ditames burocráticos e as questões político-
partidárias como entrave à operacionalização da Política de Saúde Mental e 67%
das respostas, tratou da contínua resistência a proposta da Reforma Psiquiátrica.
INVESTIMENTOS PÚBLICOS -
67%
DITAMES BUROCRÁTICOS -
33,5%
QUESTÕES POLÍTICO-
PARTIDÁRIAS - 33,5%
RESISTÊNCIA A PROPOSTA DA
REFORMA PSIQUIÁTRICA - 67%
OUTROS - 67%
Fonte: Primaria
Dentre a variante outros, que foi apresentada na pesquisa, os participantes
apresentaram com as suas respostas, as seguintes possibilidades:
Outro aparato normativo que impreterivelmente deve ser pontuado é a LEI Nº.
10.216/2001(Lei Paulo Delgado), que especificamente dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Artigo 3º legaliza como responsabilidade do Estado o
desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações
de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da
sociedade e da família (...).
Com relação ao contexto local, foi solicitado desses participantes que
indicassem os aspectos que reconhecem enquanto facilitadores à concretização
desta proposta. Obtiveram-se as respostas a seguir:
REGULAR -
49,75%
BOM - 16,75%
ÓTIMO - 33,5%
Fonte: Primária
Este resultado nos revela que embora o cenário local tenha sido contemplado
com a implementação de novos mecanismos da Política de Saúde Mental, a
operacionalização dos mesmos ainda deixam a desejar, tendo em vista que não tem
efetivado de forma satisfatória o programa para o qual foram programados. O que
fica explicito com o fato de que a maioria dos participantes assinalou pela opção de
134
REGULAR - 50%
BOM - 33,5%
Fonte: Primária
135
REGULAR 16,75%
BOA 83,25%
TOTAL 100%
Fonte: Primária
Masculino 25%
Feminino 75%
Fonte: Primária
138
Fonte: Primária
Público 91,7%
Público e Privado 08,3%
Fonte: Primária
Coordenador 08,3%
Técnico 75,0%
Outro 16,6%
Fonte: Primária
com as ações da política de saúde mental, como pode ser observado no gráfico a
seguir:
Fonte: Primária
4.3.2 Visão política acerca das ações dentro do contexto da Política de Saúde
Mental na Paraíba
Regular 16,6%
Bom - 75,0%
ótimo - 08,3%
Fonte: Primária
Regular - 33,2%
Boa - 58,5%
Ótima - 08,3%
Fonte: Primária
Ruim - 16,6%
Regular - 50,0%
Boa - 25,0%
ótima - 08,3%
Fonte: Primária
Ruim - 8,3%
Regular - 25%
Bom - 58,4%
Ótimo 8,3%
Fonte: Primária
Insuficiente - 66,7%
Bom - 33,4%
Fonte: Primária
Insuficiente - 33,4%
Regular - 66,7%
Fonte: Primária
Ruim - 33,4%
Regular - 33,4%
Boa - 33,4%
Fonte: Primária
Insuficiente - 41,7%
Boa - 58,3%
Fonte: Primária
Regular - 66,7%
Boa - 33,4%
Fonte: Primária
148
Insuficiente - 58,3%
Regular - 25,0%
Boa - 16,7%
Fonte: Primária
Assim, se deve considerar que por ser uma proposta de serviço substitutivo e
um modelo assistencial, o instrumento CAPs, demanda um pesado investimento, já
que não se trata apenas da implementação de mais uma modalidade de serviço de
saúde mental, mas sim, um recurso terapêutico que visa à transformação da própria
estrutura de serviços no contexto da assistência psiquiátrica pública.
Quanto ao impacto das ações que são desenvolvidas pelos CAPS, na dinâmica
da Política de Saúde Mental, nenhum dos entrevistados acredita ser ruim, mas,
25,0% vê como regular, 58,3% percebem como boa e 16,7% afirmaram ser ótimo
este impacto.
149
Regular - 25,0%
Boa - 58,3%
ótimo - 16,7%
Fonte: Primária
Finalmente, fora solicitado dos atores participantes desta pesquisa para que
revelassem suas perspectivas com relação às ações desenvolvidas pelos CAPS.
Todos eles demonstraram perspectivas positivas, tendo em vista que nenhum deles
apresentou perspectivas ruins, 08,3% afirmou que se consideram como regulares
em suas perspectivas, 50,0% tem boas perspectivas com relação ao que vêem
sendo desenvolvidos pelos CAPS e finalmente, 41,7% consideram como ótimas.
Regular - 08,3%
Boa - 50,0%
ótima - 41,7%
Fonte: Primária
150
5 CONCLUSÃO
pessoas que não contribuíam com relevância dentro do processo de produção, estes
indivíduos não sofreram grandes conseqüências de exclusão social. Ate aquele
momento, sofreram apenas em suas relações de afetividade foi que passaram por
situações de isolamento, ou seja, foram excluídos do convívio da família e da
comunidade.
Neste processo, embora algumas práticas da medicina tenham sido
introduzidas no enfrentamento da questão envolta no doente mental, e assumido um
papel relevante no contexto de desenvolvimento da assistência psiquiátrica pública,
ela por si só, não foi capaz de se sobrepor às práticas excludentes e desumanas
que passaram a ser direcionadas e aplicadas no enfrentamento da condição em que
se encontravam pessoas com o sofrimento psíquico.
Além disso, considerando a ordem cronológica dos fatos, é possível afirmar
também que os mecanismos inovadores que se seguiram no campo da assistência
ao doente mental, não assumiram o papel da proteção social tal como é vislumbrada
e defendida na atualidade, pois apenas abrigavam com o recurso do isolamento, os
que eram classificados como indigentes de toda sorte.
O significa dizer que os excluídos naquelas formas de assistência não
poderiam ser inseridos socialmente e aquela realidade apenas mascarava o
tratamento desumano que era utilizado. Na verdade, a sistematização daquelas
ações só conseguia complementar as medidas de repressão já existentes. Neste
sentido, a título de exemplo, estão os asilos e as práticas de cunho religioso que por
muitos anos foram associados com o lidar, no enfrentamento da doença mental.
No entanto, o desenvolvimento da Política de Saúde Mental no cenário para
alem do Brasil, revela diversos fatores que contribuíram de maneira positiva para a
Política de Saúde Mental. Neste respeito, marcam presença os Movimentos de
Reforma Psiquiátrica em diversos países. Estes movimentos reivindicavam um novo
olhar na forma de enfrentar e tratar a pessoa com adoecimento mental. De um modo
em que estas passassem a ser reconhecidas em sua existência, enquanto
indivíduos que deveriam desfrutar de segurança e proteção social, mesmo quando
apresentassem limitações em alguns aspectos da vida.
Os preceitos que foram desenvolvidos netas manifestações, que também são
reconhecidas como Movimentos da Luta Antimanicomial, com vistas a uma nova
realidade para o doente mental, atingiram seu ápice no Brasil, na década de 1970,
com os rebatimentos do Movimento da Reforma Psiquiátrica na Itália, quando o
154
a utilizá-los na vida em sociedade. E que o seu valor enquanto humanos não pode, e
não deve ser medido unicamente a partir do sistema de produção capitalista.
Em todo este processo, é consolador apontar que estas mudanças atingiram o
contexto paraibano. Mesmo que a princípio as influências tenham se dado de forma
incipiente, pois as relações estaduais por longo tempo foram sistematizadas a partir
de ações coronelistas, paternalistas e assistencialistas. Mesmo com esta
configuração, e com a presença destes e de outros entraves, as ações de
assistência psiquiátrica no Estado em tempos posteriores passaram a ultrapassar as
fronteiras das unidades e da cultura hospitalocêntrica, e superaram as atividades em
torno desta, com a implantação dos ideais da nova política, assumindo a sua postura
e equipamentos.
Dessa maneira, a política de assistência psiquiátrica no Estado começou a dar
seus primeiros passos, rumo à superação da atenção tradicional que era direcionado
ao doente mental. No entanto, assim como se deu na maior parte do país naquele
momento, o processo de reforma psiquiátrica no Estado, transcendeu a busca de
soluções apenas técnicas. Para, além disso, as propostas buscavam transformar
aspectos técnicos, políticos e sociais sobre a loucura e suas instituições. O marco
deste avanço, portanto, teve como embasamento, a desinstitucionalização da
doença e do doente mental.
Assim, os equipamentos utilizados na atenção psiquiátrica, passaram a
operacionalizar a promoção da pessoa com adoecimento mental e principalmente a
promover a sua inserção social. Estes,
[...]são novos instrumentos da atual política para promover a reforma
psiquiátrica, que pressupõe um novo modo de organizar e processar
o trabalho para produzir saúde mental (SILVA; BARROS, 2005, p.
312).
sociais, que são capazes de movimentar as relações, rumo a adequação para uma
vida realmente satisfatória.
158
REFERÊNCIAS
COSTA, José R. E; ANJOS, Márcio F.; ZAHER, Vera Lúcia. Para compreender a
doença mental numa perspectiva de bioética. Artigo de Revisão-Centro
Universitário São Camilo - 2007; 1(2): 103-110.
DEMO, Pedro. Saber pensar. Guia da escolha cidadã. IN: Instituto Paulo Freire. 4.
ed. São Paulo: Cortez, 2005.
Lei nº 7.369 de 23/07/2004. Lei nº 7.369. Dispõe sobre a saúde mental no Estado
da Paraíba. Palácio do Governador, 2010.
PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. 2 .ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1991. p. 213-239. Universidade Federal de Santa Catarina/ Laboratório de
História, Saúde e Sociedade. Disponível em: http://ww.cfh.ufsc.br. Acesso em: 02
mar. 2010.
Além de você e nós pesquisadores, ninguém terá acesso aos resultados da sua
entrevista, sem o seu consentimento. Quando o resultado da pesquisa for divulgado,
os participantes da mesma serão mantidos no anonimato. Sua participação
voluntária.
______________________________________
______________________________________
Para contato com o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital Universitário
Lauro Wanderley-HULW: Fone 3216-7302; E-mail: cephulw@hotmail.com.
165
1- Gênero
( )Masculino ( ) Feminino
2- Grau de Instrução
3- Âmbito de Intervenção
( )Público
( )Privado
( )Público e Privado
Local de Trabalho_________________________________________
4- Ocupação atual
( )Coordenador
( )Técnico
Especificar ________________________________________
( )01-05 anos
( )05-10 anos
( )10-15 anos
( )15-20 anos
( )A partir de 20 anos
Especificar _________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
( )Sim ( )Não
10- Quanto à formação acadêmica, O Sr.(a) acha ser possível afirmarmos que
era suficiente no que tange ao atendimento à demanda?
( )Sim ( ) Não
___________________________________________________________
___________________________________________________________
167
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
14- Ainda neste período, identifique a(s) Gestão(ões) na qual vivenciou o que
considera como desafios, relacionados a efetivação da assistência psiquiátrica
pública no Estado.
168
___________________________________________________________
___________________________________________________________
15- Descreva, por favor, estes desafios, bem como os principais entraves.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
16- Acredita que a formação acadêmica contribuiu e/ou alterou a dinâmica dos
profissionais que trabalharam e trabalham com a questão da saúde mental?
( ) Sim ( ) Não
___________________________________________________________
___________________________________________________________
( )Sim ( )Não
18- Por favor, pontue o que considera como elementos de avanço, na trajetória
da Política de Saúde Mental, na realidade do Estado:
___________________________________________________________
( ) Investimentos Públicos
( ) Ditames burocráticos
( ) Questões político-partidárias
( ) Resistência a proposta da Reforma Psiquiátrica
Outros
___________________________________________________________
___________________________________________________________
20- Como O(a) Sr.(a) avalia o grau de efetivação desse objetivo, nas ações
desenvolvidas pelo Estado?
LEI Nº. 10.216, que especificamente dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental. Artigo 3º legaliza como responsabilidade do Estado o
desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações
de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da
sociedade e da família (...). Com relação ao contexto no Estado, descreva:
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
22- Agora, por gentileza, pontue os elementos que considera como principais
entraves à efetivação da mesma.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
24- Dentre estes e/ou outro(s), qual(is) o(a) Sr.(a) identificaria com maior índice
de efetivação no que diz respeito ao objetivo proposto? Por quê?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
25- Como o(a) Sr.(a) percebe a relação da atual Gestão Estadual com a
Política de Saúde Mental.
Por quê?
___________________________________________________________
___________________________________________________________
171
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
1 Gênero
( )Masculino ( ) Feminino
2 Grau de Instrução
3 Âmbito de Intervenção
( )Público
( )Privado
( )Público e Privado
4 Ocupação atual
( )Coordenador
( )Técnico
Especificar _______________________________________________
( )01-05 anos
( )05-10 anos
( )10-15 anos
( )15-20 anos
( )A partir de 20 anos
Especificar _______________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
João Pessoa____/____/____
_________________________