A Data-Base No Âmbito Da Execução Penal e A Problemática Da Superveniência de Nova Condenação Com Regime Mais Rigoroso
A Data-Base No Âmbito Da Execução Penal e A Problemática Da Superveniência de Nova Condenação Com Regime Mais Rigoroso
A Data-Base No Âmbito Da Execução Penal e A Problemática Da Superveniência de Nova Condenação Com Regime Mais Rigoroso
doi.org/10.51891/rease.v9i10.11671
ABSTRACT: This article delves into the critical issue of defining the base date in
penal execution during the unification of sentences in various scenarios, aiming to
contribute to a more predictable and stable criminal justice system. The Superior
Court of Justice (STJ) in Brazil plays a pivotal role in interpreting and applying norms
related to penal execution, holding the responsibility for the definitive interpretation
of infraconstitutional legislation, including the Penal Execution Law. The Third
Section of the STJ has established the stance that the unification of sentences does
not necessitate a change in the base date for granting new executive benefits.
However, this high court has not taken into account the regime set in the subsequent
conviction. Therefore, the matter of the base date remains an open topic for
discussion. Through bibliographic and jurisprudential research, this article aims to
contribute to the debate from the perspective of the pro homine principle.
1Especialista
em Direito Processual (UESPI). Especialista em Direito de Execução Penal
(CERS/CEI). Mestrando em Direito Constitucional na Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
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INTRODUÇÃO
A execução penal no Brasil é regida por uma série de normas e princípios que
buscam garantir a ressocialização dos condenados enquanto cumprem suas penas. Um
aspecto fundamental nesse contexto é a definição da data-base para o cômputo dos
benefícios penais.
A chamada data-base corresponde ao marco a partir do qual se contabilizam os
períodos de pena cumpridos para a concessão de benefícios, como progressão de regime
e livramento condicional. Esse critério é essencial para determinar o momento em que
o condenado pode ter acesso a tais vantagens, levando em consideração sua boa
conduta e a ressocialização durante o período de encarceramento.
A unificação de penas também é um aspecto relevante no sistema de execução
penal. Quando um indivíduo é condenado por múltiplos crimes, é necessário que suas
penas sejam unificadas/somadas para fins de execução.
Com a superveniência de uma nova condenação definitiva, surge a
problemática sobre a definição da data-base para fins de cumprimento da pena
unificada. A definição da data-base para o início (e prosseguimento) do cumprimento
791
da pena total é crucial para calcular quando o condenado poderá pleitear os benefícios
previstos na legislação.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) desempenha um papel
importante na interpretação e aplicação das normas relacionadas à execução penal no
Brasil. Através de suas decisões, o STJ estabelece diretrizes que influenciam os
tribunais inferiores e contribuem para a consolidação de uma abordagem coerente e
equitativa na concessão de benefícios penais, considerando sempre o princípio da
individualização da pena.
Apesar dos avanços jurisprudenciais e das discussões acadêmicas sobre a
execução penal no Brasil, ainda persiste uma lacuna significativa no que tange à
definição precisa e segura da data-base na execução penal, especialmente em situações
de soma ou unificação de penas, o que gera insegurança jurídica e pode resultar em um
cumprimento de pena mais rigoroso e prolongado do que o devido, contrariando os
princípios de justiça e eficiência que devem nortear o sistema penal.
Assim, a definição da data-base na execução penal quando da unificação de
penas em suas diversas possibilidades é necessária para a busca por um sistema de
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justiça criminal mais eficiente, justo e voltado para a reintegração social dos
condenados.
Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada pesquisa bibliográfica, bem
como pesquisa na jurisprudência nacional.
1. DO SISTEMA PROGRESSIVO
Leciona Rodrigo Roig (2021, p. 339) que “assim como diversos outros
ordenamentos, a execução da pena em nosso país funda-se no sistema progressivo, com
a flexibilização da possibilidade de transferência entre regimes”. Nesse sentido, o art.
112 do Lei de Execução Penal disciplina que “a pena privativa de liberdade será
executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso”.
Em razão do sistema progressivo, é imprescindível conhecer de forma
transparente e objetiva o marco inicial do qual se contabilizam os períodos de pena
cumpridos para a concessão de benefícios nos diversos incidentes ocorridos durante a
execução da pena.
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2Súmula Vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros
fixados no RE 641.320/RS.
3 Cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de inexistir vaga em estabelecimento adequado
a seu regime. Violação aos princípios da individualização da pena (art. 5º, XLVI) e da legalidade (art.
5º, XXXIX). A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em
regime prisional mais gravoso. 3. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos
destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São
aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime
semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, § 1º, b e c).
No entanto, não deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com
presos do regime fechado. 4. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: (i) a saída antecipada
de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao
sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto.
Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar
ao sentenciado. [RE 641.320, rel. min. Gilmar Mendes, P, j. 11-5-2016, DJE 159 de 1º-8-2016, Tema 423.]
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III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; IV - comparecer
a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.
É pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que
"a audiência admonitória não se confunde com o efetivo início ou retomada de
cumprimento da pena e, portanto, não interrompe o prazo prescricional, sob pena de
se criar um novo marco interruptivo, o que é vedado, seja porque o rol previsto no art.
117 do CP é taxativo, seja porque inaceitável a aplicação de analogia in malam partem"4.
Quanto à (des)necessidade de expedição de mandado de prisão para a expedição
da guia de recolhimento (art. 105 da Lei de Execuções Penais e art. 674 do Código de
Processo Penal), o art. 23 da Resolução CNJ Nº 474 de 09/09/2022 estabelece que:
4Conforme consta da ementa do acordão proferido no AgRg no RHC n. 164.710/RS, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 7/6/2022, DJe de 13/6/2022: A jurisprudência
desta Corte é assente no sentido de que "A audiência admonitória não se confunde com o efetivo início
ou retomada de cumprimento da pena e, portanto, não interrompe o prazo prescricional, sob pena de se
criar um novo marco interruptivo, o que é vedado, seja porque o rol previsto no art. 117 do CP é taxativo,
seja porque inaceitável a aplicação de analogia in malam partem" (HC 590.459/SC, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 04/09/2020). Precedentes: HC
485.028/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
12/03/2019, DJe 29/03/2019; AgRg no REsp 1.709.794/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 09/11/2018)
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5 (ARE 1263758AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 16/06/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-231 DIVULG 17-09-2020 PUBLIC 18-09-2020); (RE 1265033 AgR, Relator(a):
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 15/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
134 DIVULG 28-05-2020 PUBLIC 29-05-2020); (ARE 1264795 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE
MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 11/05/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 20-05-2020 PUBLIC 21-05-2020); (ARE 1253755 AgR,
Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 27/03/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-222 DIVULG 04-09-2020 PUBLIC 08-09-
2020)
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6 Estabelecida pelos artigos 1.036 e seguintes do Código de Processo Civil (CPC), essa sistemática tem
como objetivo concretizar os princípios da celeridade na tramitação de processos, da isonomia de
tratamento às partes processuais e da segurança jurídica e são de observância obrigatória pelos juízes e
tribunais, conforme art. 927, III, do CPC.
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Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou a tese de que "a unificação de penas não
enseja a alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios".
Nas razões do acordão, apontou-se que:
Tal solução encontra guarida nos princípios da legalidade (art. 5º, II, da
Constituição da República/1988), pois, como já detalhado, o reinício da data-
base para concessão de novos benefícios não decorre da legislação específica
acerca da execução da pena, a qual não possui previsão a respeito, e, ainda,
da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da Constituição da
República/1988), uma vez que um reeducando que já experimentou situação
mais favorável não pode, em decorrência do mesmo fato, ser levado a
cenário mais prejudicial que aquele em que permaneceu em estágio anterior
do cumprimento da pena.
Quando ao princípio da legalidade, Gilmar Mendes (2023, p. 827) aponta que
“qualquer intervenção no âmbito das liberdades há de lastrear -se em uma lei.”
No âmbito da execução penal, o princípio encontra-se previsto no art. 45 da Lei
de Execuções Penais: “não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior
previsão legal ou regulamentar”.
A respeito do princípio da individualização da pena, leciona Guilherme de
Souza Nucci (2023, p. 176):
Muito embora acertada a decisão mais recente do STJ, ela não está livre de
críticas, mormente diante da necessária individualização das penas
executadas e da vedação do crédito de pena. Diante desse necessário
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Em outro aspecto, são os delitos cuja pena resulta em regime prisional mais
grave do que o executado que têm o condão de abalar a data-base anteriormente
estabelecida.
Durante o curso da execução penal é possível ocorrer a seguinte combinação de
fatores:
1) Apenado em regime aberto com nova condenação estabelecida
para o regime aberto;
2) Apenado em regime aberto com nova condenação estabelecida
para o regime semiaberto;
3) Apenado em regime aberto com nova condenação estabelecida
para o regime fechado;
4) Apenado em regime semiaberto com nova condenação
estabelecida para o regime aberto;
7 Outro exemplo é dos crimes ocorridos em Estados distintos. Dada e existência de múltiplos sistemas de
acompanhamento processual, que na maioria das vezes não se comunicam, o juízo da execução penal não toma
conhecimento dos outros delitos.
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execução. Alexandre Gonçalves Kassama (2016) aponta que “a situação material do preso
[...] não se altera com a chegada de novos títulos que o mantém no mesmo regime de
cumprimento”.
A problemática se instala quando o regime fixado na condenação superveniente
é mais rigoroso que o regime atual (hipóteses 2, 3 e 6).
Imagine-se a seguinte situação, relacionada à hipótese 2: sentenciado A que
cumpre pena de 4 (anos) em regime aberto há 3 (três) anos e 6 (seis) meses com data-
base em 01/01/2015. Sobreveio condenação em regime semiaberto a uma pena de 4
(quatro) anos. Com a soma das penas, restará ao condenado cumprir pena de 4 (quatro)
anos e 6 (seis) meses em regime semiaberto, em razão do disposto no art. 33, §2º8, b, do
8 Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
[...]
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o
princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la
em regime aberto.
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Código Penal. Se aplicada a tese fixada pelo Superior Tribunal de Justiça no tema nº
1006 sem a modificação da data-base (01/01/2015), o apenado já teria tempo suficiente
à progressão para o regime aberto em qualquer das frações prevista no art. 1129 da Lei
de Execuções Penais sem ter cumprido nenhum dia da pena em regime mais gravoso.
Para a hipótese 3, imagine-se sentenciado B que cumpre pena de 4 (anos) em
regime aberto há 3 (três) anos e 6 (seis) meses com data-base em 01/01/2015. Sobreveio
condenação em regime fechado a uma pena de 8 (oito) anos, em razão da
reincidência1011. Com a soma das penas, restará ao condenado cumprir pena de 8 (oito)
anos e 6 (seis) meses em regime fechado, em razão do disposto no art. 33, §2º, a, do
Código Penal. Se aplicada a tese fixada pelo Superior Tribunal de Justiça no tema nº
1006 sem a modificação da data-base (01/01/2015), o apenado já teria tempo suficiente
à progressão para o regime semiaberto mesmo se for reincidente em crime cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça ou que seja condenado pela prática de crime
9 Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa
ou grave ameaça;
801
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave
ameaça;
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência
à pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou
grave ameaça;
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado,
se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o
livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática
de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, vedado o livramento condicional.
10 PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. REGIME. RÉU
flagrante, de forma que o fato não repercutiu anteriormente na execução. É o que rotineiramente ocorre em delitos
em que a investigação policial se inicia por portaria da autoridade policial.
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18 de agosto de 2023.
15 AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. UNIFICAÇÃO DAS PENAS.
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Se aprovado o projeto de lei, a nova disciplina do art. 111 da LEP trará mais
segurança ao tema e saberemos que (i) deverá ser cumprido inicialmente, de forma
16O referido projeto já fora aprovado no Senado Federal, onde tramitou sob o nº PLS 513/2013.
Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115665 - acesso em 20
de agosto de 2023.
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isolada, a condenação no regime mais gravoso na forma do art. 7617 do Código Penal;
(ii) com a soma das penas, e fixado o regime prisional, considerar-se-á como marco
para o cálculo do requisito objetivo do direito à progressão a data da última prisão; (iii)
na hipótese de condenação superveniente por crime praticado anteriormente à
execução em curso, se, com a soma das penas, não houver alteração do regime, a data-
base para o cálculo do direito à progressão não será alterada.
Nesse ponto, importa definir o conceito do princípio pro homine. Flávia
Piovesan, Melina Fachin e Valerio Mazzuoli (2019, p.388) lecionam que:
O princípio internacional pro homine (ou in dubio pro libertate) garante ao ser
humano a aplicação da norma que, no caso concreto, melhor o proteja,
levando em conta a força expansiva dos direitos humanos, o respeito do
conteúdo essencial desses direitos e a ponderação de bens e valores.
De tudo que fora exposto, pode-se interpretar, com base no princípio do pro
homine, que (i) para os casos em que o regime fixado na condenação superveniente
corresponde ao regime atual ou é mais brando, não se altera a data-base, pois a situação
do preso não se modifica com a chegada de nova guia de recolhimento que o mantém
no mesmo regime prisional. A obrigação de, eventualmente, submeter o condenado a
regime prisional mais rigoroso (fechado) em razão de soma de penas inicialmente 805
estabelecimentos em regime menos rigorosos (aberto e semiaberto) não tem o condão
de alterar a data-base, por não se cogitar de insuficiência de execução18; (ii) para os
casos em que o regime fixado na condenação superveniente é mais rigoroso que o
regime atual, a única solução que concilia a tese fixada pelo Superior Tribunal de
Justiça no tema nº 1006 com o necessário resgate da pena no regime estabelecido na
condenação superveniente, é a de o apenado cumprir a condenação no regime mais
gravoso, de forma isolada, na forma do art. 76 do Código Penal, com o estabelecimento
de data-base provisória para resgate da pena no regime mais severo. Adimplido neste,
o tempo necessário para progressão ao regime anteriormente em cumprimento, a data-
17Art. 76 do Código Penal: No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave.
18É o que se pode extrair da decisão monocrática proferida no Recurso Especial nº 1822313 - RS de
relatoria do Ministro Rogerio Schietti Cruz. No caso, o apenado iniciou o cumprimento da pena em
7/4/2015, no regime semiaberto, vindo a progredir de regime para o aberto, em 7/3/2016. Foi condenado,
em outro processo, a "7 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão, em regime inicial semiaberto". O Ministro
argumentou que: “Somente por isso, ante o saldo de pena a cumprir, de 8 anos, 9 meses e 5 dias de
reclusão, verificou
que o sentenciado não podia ser transferido ao regime fechado, pois alcançou a fração necessária para a
progressão de regime (fl. 101) desde "março de 2018" (fl. 139) e, ainda, tinha conduta plenamente
satisfatória”.
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base retornaria ao status quo ante e o juízo da execução procederia conforme o item
anterior.
CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
____. Supremo Tribunal Federal. Súmula vinculante 56. A falta de estabelecimento penal
adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso,
devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
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LIMA, Renato Brasileiro. Manuel de Execução Penal. São Paulo: Editora JusPodivm,
2022.
MENDES, Gilmar Ferreira. et. al. Curso de Direito Constitucional. 18. ed. – São Paulo:
SaraivaJur, 2023. e-book.
ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução penal: teoria e prática. 2. ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2022. e-book.
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