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Cult Foucault

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13

CUL
ANO2 RS 9,90 www.revis

ENTREVISTAS
Júlio Medaglia
e René Girard

DOSSIE
A HERANÇA DE

Michel FOCO
O homem um dia desaparecerá como
um rosto de areia na orla do mar
a
pubhCaÇ
30 SF
REVIS
raçaSantoAgostinh -
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SãoPaulo
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3385-33R5
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Paraiso www.revistacutcoi.
(11)
CULTONLINE
Tel

sugostós;
redacao@revistaCu(ofn
EspaçoRevistaCULT
e
Matérlas Editoraa
Editora
Bregantini 1 2

cespaco aurltta@serervvisitsatcauclut.lcto.cTo,m.br ANO


Cartas ABRIL/2009
134
ANERANER
www.aner.org.br Ne
14147076
ISSN
DOSSIE MICHEL FOUCAULT

Entre o elogio e a crítica


As relações de Foucault com a psicanálise: etapas da
recepção brasileira
ERNANI CHAVES

1974
publicação do primeiro volume da na PUC do Rio de Janeiro e publicadas em

A História da sexualidade, intitulado "A nos Cadernos PUC, oportunidade de as-


teve a

vontade de saber", em 1976, provocou sistir a uma confrontação direta de Foucault com
um frisson entre os psicanalistas. Neste a psicanálise. Naquela ocasião, ao final do ciclo,
Foucault e, principalmente, o psicanalista Hélio
ivro, ao contrário dos anteriores, Foucault dirigia
à psicanálise uma severa crítica, ao inscrevë-la na Pelegrino discutiram propósito
a questão do
da
história da confissão crist e na engrenagem dos Edipo e Foucault criticava a psicanálise toman-
do partido, explicitamente, tanto dos helenistas
mecanismos do biopoder. Não que nos livros an-
franceses da escola de Jean-Pierre Vernant, quan-
teriores a psicanáliseaparecesse isenta de críticas.
Ao contrário. Entretanto, essas críticas eram sem- to de Deleuze e Guatarri, que haviam publica-
também por diversos do há pouco o Anti-Edipo. Sua perspectiva, di-
pre matizadas, nuançadas
zia Foucault, não levava em consideração nem
elogios. O ponto alto desses elogios tinha sido, a questão do "mito", muito menos a da "inter-
sem dúvida, o último capítulo de As palavrase
as coisas (1966), quando Foucault
considerava a pretação. Tratava-se, simplesmente, de analisar
psicanálise como uma contraciência que questio- um texto, o da tragédia de Sófocles, no que dizia
de um saber "cien- respeito às práticas juríidicas e sua relação com
nava, radicalmente, o projeto
tífico" sobre o homem, que havia sido paciente- a verdade. As vezes, éé indisfarçável a impaciên-
mente gestado desde o final do século 18. cia de Foucault: "Repito que não sou psicanalis-
Da polêmica a propósito da História da sexu- ta mas surpreendo-me quando ouço dizer que a
alidade, o leitor brasileiro passa a tomar conhe psicanálise é a destruição das relações de poder",
cimento com a publicação de "Sobre a História diz ele a Hélio Pelegrino. Apresentando-se como
da sexualidade", discussão de Foucault com os "historiador", Foucault afirma encarar a psica-
lacanianos da revista Ornicar?, publicada na edi- nálise como um "fenômeno cultural" de "real
ção de julho de 1977 da revista e incluída na co importância no mundo ocidental", mas de modo
letânea Microfísica do poder, publicada no Brasil algum a considera uma confrontação com as rela-
em 1979. Não se tratava, é bom que se diga, de çöes de poder (como queria Pelegrino, pensando
quaisquer "lacanianos", mas daqueles que, em certamente no contexto da ditadura brasileira),
torno de Jacques-Alain Miller, assumiamo lu- mas, ao contrario, se dirigia para os processos de
gar de defensores da "ortodoxia" lacaniana e os normalização. Há um "esforço", acrescenta um
mais dignos representantes do mestre. Entretanto, benevolente Foucault, no sentido de destruir as
o público brasileiro que compareceu ao famoso relações de poder no interior da psicanálise, mas
ciclo de conferéncias intitulado "A verdade e as IssO não seria suficiente para pensá-la como uma
formas juridicas", proferidas em maio de 1973 ciencia que questiona o poder".
48 cULr n'134 .
DOSSIE

Entre o elogio e a crtica


Por ocasio de um colóquio realizado na USP, em
abril de 1985, em
homenagem a Foucault que ha
via morrido em junho de
1984, Renato Mezan,
já um eminente psicanalista e professor universi-
tário (acabara de publicar seu volumoso
Freud,
pensador da cultura) proferiu a conferência inti
tulada "Foucault e a psicanálise". Mezan
procu-
rava mostrar em que sentido as ideias de Foucault
eram
importantes, mas, ao mesmo
temp0, apon-
tava os
equívocos de suas análises, focando agora
a História da sexualidade. No livro Foucault ea
psicamálise, analisei, em especial, duas obras de
Foucault, História da loucura e o já menciona-
do primeiro volume da História da sexualidade,
partindo do princípio de que, em ambos, apesar
da distância temporal entre eles Foucault deixava
clara sua posição em relação à psicanálise. Uma
posiçao que chamei de "ambigua", uma vez que
Oscilava entre o elogio e a crítica.
A publicação, em 2000, do livro
de Joel
Birman, Entre cuidado e saber de si: sobre
Foucault e a psicanálise, coroa, por sua vez, uma
Segunda etapa da recepção, caracterizada, desta
Teita, pela publicação dos quatro volumes dos
Dits et écrits (1994), no Brasil, Ditos e escritos E contraou a favor de Jacques Lacan
(foto) que a posição de Foucault
Forense Universitária 2002). E importante, en- em relação à psicanálise se organiza
Tretanto, afirmar que Joel Birman é, dentre Os
PSicanalistas brasileiros, aquele que mais explicitamente, um embate fundamental para a
u
sobre Foucault,
esCre compreensão da posiço de Foucault em relação
aquele que mais levou e leva
nsideração, para seus estudos no campo da à psicanálise: a hgura de Lacan. E contra ou a
canálise, opens
ensamento de Foucault. Servindo- favor de Lacan, em grande parte, que a posição
do material
publicado nos Dits et écrits, de Foucault em relaço à psicanálise organiza.
se

Eu diria mais: Lacan é nmuito mais estratégico pa


analisa um a um os livros de Foucault.
Neststee ponto sua análise não tem nenhuma no-
:
ra Foucault, do que a tradição treudo-marxista.
vidade, embora Birmanfaça tábula pu- rasa das Lacan é um adversário muito mais difícil a ser
cações que lhe batido, até porque, em varios momentos, ambos
tempo, ele nplia as cederam, mas, ao mesmo

banharam nas mesmas águas e partilharam dos


dida em que análises precedentes na me se

da discussão Oca num tema que será a tönica impasses e tensóes que
cercaram a fran
hlosofia
Merleau-Ponty, Lévi-Strauss e
0s anos cesa do pós-guerra.

os
ca subsequentes,
mplicação da psiSIcanálise qual seja,
com a biopolitica, a
a
Heidegger, por exemplo,
eram leituras exemplares

estudos de Foucault sobre o "cuidad para ambos. São muitos os elogios


de Foucault a
o caráter de contra-
oposição ao "saber de si". O livro de Lacan e, não esqueçanmos que
ma uma As palawras e as coisas
quechda
ua cone
ou qucstão que pare ciencia da psicanálise em
de Foucault
deve-se, em grande parte, aliança
mo
lusão, colocada em segundo ano.
a

itKat a entretanto, é bastante pruc COm Lacan.

psicanalise nur "entre" o saber de


u
de si,
Fora do campo histórico
Th cilagao na mantendo assim, geral,aa no
rlaao à avaliaçãona
critica de Foucault Como bem lembra Joel Birman,
a concepçao

Mas psanal.
uto
lado,
do nconsciente cono lnguagem
encontrou em

e acolhda.
ac.an toi,
Birman trazia a tor1a, Foucault reconhecnento

CUA ai4
49
DOSSIE MICHEL FOUCAULT

mecanismos do biopoder
dos
"psi" na engrenagem
Foucault inscrevia as disciplinas
Sanatorio abandonado em Denbigh (Reino Unido).

propósito do biopoder
e

aliado. Mas no Giorgio Agamben a

em diversos momentos, um
colocar na ordem do dia as
portanto,
batido: para justih- da biopolítica vão
também foio inimigo a ser
abertas por Foucault
naspáginas hnais
crítica de Foucault, em questões
basta lembrar a no panorama
car isso, entre lei de "A vontade de saber". Assim,
"A vontade de saber", às imbricações entre Foucault e a
atual, a questão das relações
e desejo expressão da concepção jurídica
como diretamente associadas,
de vista, também aqui psicanálise passam a ser
de poder. Do meu ponto à do cuidado de si e, por
livro ainda vis- por um lado, questão
Foucault se afasta do Anti-Edipo, cuidado de
à da biopolítica. Psicanálise e
ceralmente à questão do desejo; o livro
ligado
outro,
constituir
uma si, psicanálise e biopolíticapassam a se
torna-se agora
festejado alguns anos antes, no problema a ser estudado
e enfrentado. Até
sem, entretanto,
espécie de reverso da psicanálise, onde sei, em que pese o considerável
número de
ordem das coisas. Trata-
alterar radicalmente a um livro
ainda de... desejo. Na "Introdução"
artigos e de teses a respeito, há apenas
se sempre e
da publicado sobre o assunto: de Marcus Teshainer
o segundo volume
dos Prazeres",
a O uso
(2006). Entretanto, muitos psicanalistas e pes-
Foucault dirá que não
História da sexualidade,
pelo desejo, nem pelo sujeito quisadores em psicanálise tëm-se pronunciado a
se interessa nem
interesse é histórico e essas pre- respeito da questo com bastante veemëncia e,
do desejo. Seu neste diapasão, a psicanálise, em especial na sua
Ocupações, sob a égidedo desejo, estão fora do
versão lacaniana, aparece diretamente vinculada
campo histórico.
dos anos 1990, ao "cuidado de si". Lacan é invocado, muitas
A publicação a partir do final vezes e de forma paradoxal, como uma espécie
dos cursos de Foucault no Collège de France mu-

O de Foucault avant la lettre, que já criticava, ha


da radicalmente o panorama da recepção. cur-

so "Hermenêutica do Sujeito" de 1981-1982, pu- bastante tempo, a relação entre psicanálise e po-
blicado no Brasil em 2004, passa a ser lido e der. De todo modo, trata-se de um tema e de uma
comentado exaustivamente. O Foucault "filósofo questão em aberto, com muitos outros ângulos
do poder" torna-se o "ilósofo do cuidado de si. e perspectivas à espera do paciente trabalho de
Ao mesmo tempo, as análises do filósofo italia- investigação. G

50 CULT n'134
DOSSIE MICHELI0UCAUIT

Pensar a educação
depois de Foucault
a sociedade
A passagem da sociedade disciplinar para
atuais mudanças
de controle permite entender as
da instituição escolar
MARIA RITA DE AssIs CÉSAR

de
O processo de disciplinarização dos corpos
epois das análises de Michel Foucault,
a

D
encontra no centro das preoo-
Ccola nunca mais foi a mesma, A par- crianças e jovens se
de Vigiar e punir. Ela ocorreu em locais
tir da história genealógica, a educação cupações
na sua modalidade escolarizada passou arquitetonicamente preparados para aquele fim,
isto é, locais cercados, quadriculados, com uma
a ser considerada maquinaria destinada a discipli-
nar corp0s cm açáo, Em Vigiar e punir, Foucault disposição espacial estudada e um mobiliário es-
decreveu vários processos de disciplinarização pecialmente desenhado, sem falar na presença de
dos corpo5 em diferentes instituiçöes, como co- especialistas preparados para a aplicação de exer-
quartéis, cícios para a mente e para o corpo. O nascimento
légios, fábricas, oficinas, conventos e
demonstrando que a principal característica de da chamada escola disciplinar se deu em um pe-
tais instituiçoes é a disciplina corporal.
Dentre to- ríodo de intensas modificações nas estruturas de
das as instituiçóes disciplinares, a cscola possui a poder, as quais deram origem ao aparato social e
maior abrangéncia, pois é nela que os indivíduos político que Foucault denominou "sociedade dis-
passam a maior parte da sua formação,
até que ciplinar". Em uma palavra, a genealogia foucaul-
cstejam prontos para a vida adulta, Por sua vez, tiana nos ofereceu um importante modelo teórico
a diciplina no interiuor da instituição educacional
para entender o surgimento não apenas da escola
nao se restringe ao corpo, pois ali também ocor- moderna, mas também da prisão, do hospital, do
re a submissáo dos conhecimentos à disciplina hospital psiquiátrico e da fábrica, instituições por
institucional, isto é, a cscolarização dos saberes. excelência da modernidade.
Ela consistiu numa operaão histórica de orga- Em um conjunto de conferências
nização, cassificação, depuraão e censura dos
proferidas
no Rio de
Janeiro em 1973, posteriormente pu-
conhecimentos, de modo que a operaçâo mora- blicadas com o título de As verdades e as formas
linadora náo atingiu só os corpos, mas também juridicas, Foucault empreendeu uma abordagem
n práprios conhecimentos a serem ensinados. A muito particular sobre o poder, tema sobre o qual
ewola diciplinar nåo distingue entre corpo e co- vinha desenvolvendo investigações desde sua aula
nhecimento, praticando a moraliza_ão de ambos inaugural no Collèege de France, em 1970. Nestas
na medida em que seu objetivo é a produçäo do conferências, Foucault demonstrou as transfor-
sujeito sujeitado. maçöes das relações de poder que deram origem

54 4w34
DOSSIE

L tipo que se desenvolveu a partir do século nados no interior das redes de


, poder disciplinar. Para Foucault, o poder escolariz.açio ou
dela escapavam. A educação, ao se transtormar
disciplinar é truto
de
de
europeia, mais
transtormações da socieda- em uma forma de razão de
Estado, acabou por
de um precisamente, do deslocamento conhigurar o Estado como um ente educador. A
poder que estava concentrado nas mos
do Rei, para aliança entre Estado, pedagogia
um
corpo burocrático e institucional e medicina co-
disseminado ao longo locou todos aspectos da vida das crianças em
os
do tecido social.
o autor, a
partir de então, o Segundo evidencia no interior da escola e suas
minimas
poder se exerceria, manifestações foram cuidadosanmente escrutina-
preterencialmente, de maneira mais
fluida, na for- das: além das aulas, as
ma de
micropoderes ou de uma
micropolitica. O brincadeiras de pátio,a
poder disciplinar se exerce
merenda, as vacinas, os exercicios físicos,
corpos in- sobre os a hi-
dividuais por meio de giene corporal, tudo toi tomado como
exercicios especialmente campo de
desenhados para a
anmpliação de suas intervenção e produção de verdades sobre in-
despeito dos exercicios de adestramentoforças.
a
A fância, formando-se
dos
um sistema disciplinar
pos ocorrerem em cor qual os exames corporais no
espaços isolados e de maneira
centrais no processo de compuseram medidas
desordenada, gradativamente surgiu conjunto o educação escolarizada.
das No contexto
instiruições disciplinares, cuja função foi a
disciplinar, higiene
a e a saúde des-
produção de corpos úteis e dóceis.

Normal e anormal
O processo de
mecanismos de
disciplinarização corresponde aos

SOs de
normatização, isto e, aos proces-
nominação e separação entre o individuo
normal 'anormal'. Esse processo de
e o
sepa
ação é fundamental em se tratando da produ-
sao do sujeito moderno, o sujeito normalizado.
lodos os
ho
procedimentos disciplinares presentes
interior da
instituição escolar, da
40S
cadernos de classe, dos exercíciosarquitetura
fisicos a0s
ames, concorrem
Ormalizado. Para Foucault,produção
para a do sujeito
a
instiruição escolar
O1 lugar privilegiado das medidas
entares destinadas a garantir a saúde higiènicas e
fisicae
ral de jovens e crianças. Instituição
ola constituiu como local
se disciplinar,
aão exaustiva de
privilegiado da
GOes e exercícios, exames, puni
recompensas centradas no corpo intantil.
das As
leis de
obrigatoriedade escolar na Europa
ültimas décadas
19 tinham como do século 18
e
primeiras do
objetivo capturar as crianças das
cando-lColocá-las
hes em um ambiente cerrado,
exercicios disciplinares que visavaapli
des
açãous corpos e almas.
foi a A
contrapartida
diata
eapavam àquela rededehnição
como
das crianças
Mt
Eno Lompldesordem
eto con social. Assim
a
potencials
estabeleceu se
cau-

torma de c« guração escola


a
d da
qual
e
, de
primar
ma por asua vez,captura governo da intancia, e

almasanormal, na yjusta
rrepartia
mfância entre nor
na
a

das
cranças erammed1dacapturados
que em 0s Co A escola primaria torma de captura da ut.ane ia
como e como
institn ho

captur
egover- que divide a propria unfancia entre normal
e anomal
DOSSIË MICHEL FOUCAULT

jeitos no âmbito dos processos da escolarização


em crise
disciplinadora da modernidade entraram
O próprio
e deixaram de produzir tais sujeitos.
limites históricos da so-
Foucault já observara os

ciedadedisciplinar nos últimos anos da década de


1970. Os próprios conceitos de biopolitica de
de suas pes-
governamentalidade neoliberal, fruto
quisasno final da década de setenta, já apontavam

as transformações pelas quais o Estado come-


que
çava a passar em função autonomiza
da crescente

ção do mercado economico acabariam por levar à


produção de novos sujeitos.
Seguindo as pegadas de Foucault, Gilles
Deleuze compreendeu a crise da sociedade disci-
plinar como uma crise dos modos de confinamen-
to centrados na prisão, no hospital, na fábrica,
na escolae na família. Para Deleuze, se os confi-
namentos da disciplina eram moldes produtores
de subjetividades, os novos controles so uma
modulação, isto é, uma moldagem que pode ser
transformada continuamente de maneira a pro-
duzir a subjetividade flexivel como chave do con-
trole. As antigas instituições se transformaram
em empresas, modificando a gramática que havia
sido produzida pela velha sintaxe
disciplinar.
A passagem da sociedade disciplinar para a
sociedade de controle permite entender as mudan-
ças pelas quais a instituição escolar vem passando
desde a última década a fim de tornar-se a instân-
Para Foucault, o novo sujeito que substituirá o sujeito disciplinado da
cia de produção do novo sujeito moral, o sujeito
modernidade serà o produto de novas tcnicas de controle, adaptado às flexível, tolerante e supostamente autônomo, re-
crescentes demandas de flexibilidade do mercado
querido pelas novas modulações do controle que
gravitam entre o Estado e o mercado neoliberal.
tinavam-se à construção de uma população sau- Nesse processo, tornaram-se
dável; o civismo, à formação de uma população
decisivas novas tec
nologias informacionais, nutricionais, educativas
amante dos valores nacionais; ao passo em que o e fisicas, as
quais se destinam a ampliar as capaci-
letramento destinava-se å produção de uma po- dades corporais e cognitivas dos indivíduos, que
pulação de trabalhadores esclarecidos. Assim se devem setornar
empreendedores de si mesmos.
configuraram os valores absolutos de todos os Como nos mostram as análises de Nascimento
projetos nacionais de educação, Os quais toma- da biopolítica, de
1979, novo sujeito que esta
o
ram a infância como objeto de suas práticas de a
ponto de substituir o
sujeito
modernidade seráo produto dedisciplinado
conformação visando à produção de uma popu- da
novas técnicas
lação adulta viável, previamente preparada paraa de controle e
as formas de governamento centradas na gestão
governamento neoliberal. Trata-se
agora de produzir um
do trabalho, da família e da saúde. às demandas flexíveis
sujeito capaz de responder
do
orienta obsessivamente os mercado, objetivo que
Fim da disciplina na escola? res e as
investimentos familia-
intervenções governamentais do Estado
Quando hoje se acena para o fim dos sujeitos esco sobre o campo da saúde e do
lares, isto é, para o fim da infáncia e para a mor corpo das popula-
ções, todas elas visando fomentar a atitude au
te da adolescencia, o foco do argumento é que as
toempreendedora capaz de produzir "capital
o

práticas e os discursos que constituiram tais su-


humano exigido pelos tempos que correm. d

56 CULT n 3 4

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