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E-ISSN: 1677-9509
textos@pucrs.br
Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul
Brasil
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professora Associada IV na Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba – PB/Brasil. CV: http://lattes.cnpq.br/7055585758385719.
E-mail: patriciabcaval@gmail.com.
Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa, Paraíba – PB/Brasil.
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E mbora desde 1948 o conceito de saúde tenha sido ampliado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) em detrimento de sua concepção como mera ausência de doença, passando, portanto, a ser
concebida como o bem-estar completo, físico, mental e social (WHO, 1948), observa-se que no
decorrer das décadas avanços podem ser visualizados. Entretanto, sobrepõe-se a isso inúmeras
dificuldades no que se refere ao desenvolvimento de iniciativas que contemplem suas prerrogativas.
Como contraponto, observa-se que, apesar de o modelo biomédico receber duras críticas ao longo
dos anos, ele segue hegemônico. Marcadamente reducionista e biologicista, centrado na doença e
orientado para a cura, tal modelo implica na desconsideração das múltiplas necessidades sociais que
envolvem a perspectiva da saúde enquanto conceito ampliado.
Gomes (2009) considera que a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) pode ser um
importante mecanismo capaz de trazer avanços que possam contrapesar as ações meramente curativas e
individuais por intermédio de ações de promoção de saúde. O autor ainda indica que tais ações se
expressam não apenas no que concerne ao entendimento do que seja a saúde, mas também na forma de
organização dos serviços. Entretanto, há de se considerar que nem sempre o que é proposto é seguido ou
alcançado. No caso da Promoção da Saúde, observa-se que o próprio entendimento quanto à sua
conceituação reflete em alguns empecilhos. Ressalta-se que ao longo dos anos seu conceito tem sofrido
alterações, acompanhadas da conjuntura social, política e econômica de cada período.
Na análise das cartas das conferências internacionais de promoção da saúde (Ottawa, 1986;
Adelaide, 1988; Sindsvall; 1991; Santafé, 1992; Jacarta, 1997; México, 2000; Bangkok, 2005; Nairobi, 2009;
Helsinque, 2013), é possível identificar que em alguns momentos foram adotadas posturas de
responsabilização aos indivíduos quanto às problemáticas de saúde, o que caracterizou a corrente
Moderna de Promoção à Saúde. Como contraponto a isso, a corrente da Nova Promoção da Saúde, cujos
primórdios estão atrelados à Conferência de Alma-Ata, sucedeu no ano de 1981 a corrente Moderna
trazendo a reflexão de que o contexto social deveria ser considerado, pois este se tratava de um poderoso
determinante da saúde. E desse modo, os fatores gerais (desemprego, habitação, condições de trabalho,
pobreza, e etc.) passaram a ser considerados. A Carta de Ottawa é considerada como o documento
referência dessa corrente.
Sícoli e Nascimento (2003) afirmam que a partir de então a promoção da saúde, inspirada por essas
novas perspectivas, ampliou seu marco referencial e passou a compreender a saúde enquanto produção
social. Assim, os determinantes socioeconômicos passaram a ser mais valorizados, o que apontou para a
necessidade do compromisso político e fomentar as transformações sociais.
Pereira et al. (2000), ao refletirem sobre tais acontecimentos afirmam que:
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dos achados da pesquisa tendo em vista os objetivos estabelecidos. Para alcançarmos a síntese
integradora, procedemos ao uso da técnica de leitura proposta pelas autoras supra mencionadas,
organizada de acordo com as seguintes etapas: leitura de reconhecimento do material bibliográfico; leitura
exploratória; leitura seletiva; leitura reflexiva ou crítica.
Desenvolvimento
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higiene escolar) ganharam notoriedade. Essas ações apresentavam traços sanitaristas e campanhistas e
eram condizentes com o contexto histórico da época, que foi marcado por forte crise e, além disso, contou
com a presença de epidemias, dadas as precárias condições de vida da sociedade, associadas à ausência
de um sistema de saúde pública. Dessa forma, conforme atenta Santos (2005), foram desenvolvidas ações
que denunciavam não a preocupação com a saúde em si, mas a preocupação com a diminuição da
incidência de enfermidades, que também refletia a preocupação em garantir o progresso das transações
comerciais.
Foi só a partir dos anos de 1950 que os programas direcionados à saúde na escola se apoiaram na
biologização das problemáticas relacionadas à educação e as ações eram direcionadas às questões
biológicas. Houve nesse período expressa preocupação com a desnutrição, que era relacionada como
principal causa do fracasso escolar. Nos anos de 1960, os aspectos neurológicos, psiquiátricos e
psicológicos e de saúde mental ganharam ênfase. Nessa perspectiva, para justificar o baixo rendimento
escolar era comum o uso de termos: distúrbio de aprendizagem, disfunção cerebral, déficit neurológico e
distúrbios de comportamento. Houve também nesse período a extinção do Departamento de Saúde
Escolar em Divisão de Saúde e alguns órgãos responsáveis pela saúde do aluno foram “devolvidos” ao setor
saúde e outros à Secretaria de Serviços Sociais. Todavia, os profissionais de saúde continuaram com suas
atividades nas escolas (NETTO,1979, apud SILVA, 2010).
Na década de 1970 foram criadas Comissões Mistas de Saúde e Educação, que eram coordenadas
pelo setor saúde. Nessas comissões prevalecia uma estrutura hierárquica com definição de funções
bastante específicas e normativas. Apesar da proposta, não foi possível garantir, de fato, a ação
compartilhada entre os dois setores. A criação dessas comissões desencadeou na década de 1980 a
tendência de afastar a assistência à saúde do âmbito da educação e restringi-la nos serviços de saúde.
Outra característica desse período foi a ênfase na atenção primária à saúde e a prioridade para a criança
de zero a seis anos e para a mulher, as quais foram influenciadas pela Conferência de Alma-Ata (SILVA,
2010).
O Movimento Preventista teve suas bases ancoradas no modelo flexneriano e, como o próprio
nome denuncia, tinha por objetivo a prevenção de doenças, seus ideais concentravam-se na velha saúde
pública. Nessa perspectiva havia a concepção de que os hábitos de vida adotados pelos indivíduos eram os
responsáveis pelos problemas que comprometiam a saúde. Desse modo, eram desenvolvidas atividades
que pudessem trabalhar a conscientização da população para a adoção de comportamentos que
refletissem hábitos saudáveis, responsabilizando o indivíduo. Esse movimento também ficou conhecido
como educação em saúde tradicional e foi responsável por dar origem ao movimento de Promoção da
saúde em seu momento conservador, ou seja, aquele baseado na mudança comportamental e de estilo de
vida, o qual foi representado pelo relatório Lalonde.
Paim e Almeida (1998) destacam, dentre as diversas práticas de educação e saúde adotadas nesse
período, a saúde comunitária, apontada como um movimento que visava implantar nos centros
comunitários de saúde a prestação de cuidados básicos de saúde, tendo como prioridade as ações
preventivas. Apesar de apresentarem a proposta de articular práticas de educação e saúde de caráter
preventivista, as ações desenvolvidas não favoreciam a participação dos usuários nesse processo. Oliveira
(2005) ressalta que as críticas proferidas a esse modelo relacionam-se ao seu caráter preponderantemente
individualista e normativo, que desconsidera a percepção holística presente na nova saúde pública e, além
disso, não aprecia as práticas sociais e de promoção da saúde.
A inclusão formal do tema promoção da saúde pela educação no Brasil adveio com a aprovação da
nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, no ano de 1996. Além de definirem o norte para
o planejamento e disposição da grade curricular, ou seja, as disciplinas a serem trabalhadas, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) também balizam temas considerados de relevância para a sociedade
brasileira, como questões referentes à ética, ao meio ambiente, à orientação sexual, à pluralidade cultural,
à saúde, ao trabalho e consumo, e a outros temas que se configurem como importantes. É importante
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ressaltar que, apesar de o documento não fazer menção de forma clara ao tema saúde na escola, toma a
promoção da saúde como referência para trabalhar os temas referentes (BRASIL, 1997).
Silva e Pantoja (2009) afirmam que no Brasil a Política Nacional de Promoção da Saúde, a Política
Nacional de Atenção Básica (PNAB) e o PSE, instituído por decreto presidencial no ano de 2007,
contribuíram para a criação de um cenário favorável ao debate acerca de uma política nacional de saúde
na escola. Além da Conferência de Ottawa e da VIII Conferência, os autores consideram que a implantação
da Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) se configura como outro importante
marco pela luta de mudança do modelo biomédico para o da promoção da saúde. Considera-se que foi
com a inserção do conceito de Escola Promotora de Saúde (EPS), a partir do projeto Promoção da Saúde
do Ministério da Saúde, que as práticas pedagógicas passaram, portanto, a incorporar o tema de educação
em saúde, assim como os Ministérios da Saúde e da Educação passaram a desenvolver vínculos de
cooperação, que podem ter contribuído com a criação da estratégia Educação Popular em Saúde no ano
de 2003 (BRASIL, 2006 apud TUSSET 2012).
A Escola Promotora de Saúde (EPS) foi desenvolvida ao longo da década de 1990 como um dos
desdobramentos do movimento da promoção da saúde. Sua formulação está direcionada para o
desenvolvimento de práticas integradoras de saúde na escola. Desde então passou a ser divulgada com o
apoio de organismos internacionais, como é o caso da Organização Pan-Americana da Saúde. É importante
notar que foi no ano de 1995 que a OPAS lançou a proposta das EPS na América, almejando a mudança do
paradigma tradicional da saúde escolar para uma educação voltada para a saúde integral (OPS/OMS, 1998
apud IPPOLITO-SHEPHERD, 2003).
Seu conceito baseia-se na Carta de Ottawa e pressupõe que cabe à EPS o estímulo a estilos de vida
saudáveis em toda a comunidade escolar, como também o desenvolvimento de um ambiente saudável
condizente com a proposta de promoção da saúde. Desse modo, o organismo considera que se configura
como promotora de saúde a escola que desenvolve uma atuação que contemple as seguintes áreas:
ambiente saudável, oferta de serviços de saúde e educação em saúde (OPAS, 1995 apud SILVEIRA; PEREIRA,
2007).
Como afirmam Pelicioni e Torres (1999), o termo Escola Promotora de Saúde expressa o
entendimento de que a Educação em Saúde não se faz apenas por intermédio do currículo explícito, mas
pelo conhecimento da Educação em Saúde, expandido pelo apoio recíproco entre a Escola, as famílias e a
comunidade. A essa relação os autores denominam de “currículo oculto”. Os autores ainda consideram
que para se levar a sério o conceito de EPS, deve-se prestar atenção ao modo como se instrui e se participa
da vida da escola para que a comunicação possa ser amparada e revigorada. De acordo com a OPAS (1998),
a EPS é aquela escola que conta com um espaço físico seguro e confortável, com água potável, instalações
sanitárias adequadas e um ambiente psicológico apropriado para a aprendizagem. A Organização afirma
que a proposta das EPS é conceber futuras gerações com conhecimentos, habilidades e destrezas
imprescindíveis para promover e cuidar de sua saúde, de sua família e comunidade, bem como produzir e
cultivar espaços de estudo e convivência saudáveis. É importante notar que no ano de 1995 a OMS reuniu-
se a um Comitê de Especialistas na Educação em Saúde e Prevenção na Escola para rever a situação da
saúde escolar e foi estabelecida a meta de aumentar o número de escolas Promotoras de Saúde.
Rocha et al. (2002, p. 61) acreditam que os Parâmetros Curriculares relacionam-se com a ideologia
da EPS, destarte, os autores afirmam que essa relação representa um espaço adequado para que a escola
torne-se “[...] um polo difusor de valores e de ações que possibilitem aos indivíduos e às coletividades
construírem com maior segurança seus entornos e assumirem o controle de suas próprias vidas”. Com
todos esses desdobramentos, nota-se uma concepção diferenciada. Há a preocupação com a participação
ativa da população e com a construção de ambientes que sejam capazes de incidir positivamente na
qualidade de vida, ainda que se considerem as dificuldades para o alcance de tais propostas.
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No intuito de atender aos pressupostos da Política de Promoção da Saúde, diversos programas têm
sido criados, dentre os quais destaca-se o Programa Mais Saúde: Direito de Todos. Lançado pelo Ministério
da Saúde no ano de 2008, esse programa procurou aprofundar os objetivos propostos com a criação do
SUS, no período de 2008-2011. Para tanto, suas diretrizes estratégicas foram organizadas em um conjunto
de ações que abrangeram 73 medidas e 165 metas, as quais visavam o alcance de um sistema de saúde
universal, equânime e integral, materializando ações de promoção da saúde e de intersetorialidade
(BRASIL, 2012). Outras iniciativas também podem ser citadas, como é o caso do Programa Salto para o
Futuro, criado no ano de 1991, que consiste na transmissão, por intermédio da internet, material impresso
e pela TV Escola, de temas relativos à prática pedagógica (BRASIL, 2012). O Programa Mais Educação, criado
no ano de 2007, cujo objetivo é a oferta educativa no contra turno para as escolas que apresentam um
baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, também se constitui como exemplo disso (BRASIL,
2007).
Para a operacionalização das propostas contidas nos projetos desenvolvidos, pressupõe-se a
necessidade do desenvolvimento de programas voltados para a capacitação de recursos humanos, haja
vista se tratarem de programas que apresentam a necessidade de uma pedagogia diferenciada e que
contam com a necessidade de ações intersetoriais, que por sua vez apontam para a necessidade de um
trabalho interdisciplinar, de maneira a agregar elementos do cotidiano na prática educativa e apresentar
uma leitura crítica da realidade, a fim de que as ações empreendidas nesse processo possam ser
desvencilhadas de práticas conservadoras e retrógradas.
Sabe-se que os espaços acadêmicos não caminham na mesma celeridade das transformações que
incidem na sociedade, antes, observa-se o predomínio da pedagogia tradicional nesses ambientes, daí
reafirma-se a importância da formação continuada. Nessa perspectiva, visualizam-se algumas iniciativas,
como é o caso do curso de especialização em Formação em Educação e Saúde pela Universidade Aberta do
Brasil e o Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas, além de cursos de
capacitação acerca dos temas priorizados pelo PSE (BRASIL, 2011). Ademais, a própria escola como
contexto de construção de relações sociais complexas tem se mostrado engessada, tanto os modelos de
gestão do processo ensino-aprendizagem, quanto a implementação de projetos e programas inovadores.
Referente ao que foi exposto pode se afirmar que, com o passar de anos, as tendências do campo
da saúde influenciaram o campo da educação. Todavia, o que também é possível perceber é que as
iniciativas adotadas e os programas desenvolvidos estiveram concatenados à lógica do modelo biomédico,
pois se centravam em meios de superação das doenças, sem que fossem consideradas as múltiplas
necessidades que envolvem a saúde em seu conceito ampliado, as quais perpassam o cotidiano dos
indivíduos.
Inicialmente as ações apresentavam forte traço repressor, expresso por intermédio da presença da
polícia para inspecionar se o comportamento adotado nas escolas, seja pelos alunos ou pelo corpo técnico,
refletiam padrões saudáveis. Além disso, conforme havia a mudança no quadro das problemáticas sociais,
também ocorria paralela a isso a reformulação das ações responsáveis por enfrentá-las. Como exemplos,
podem ser citados os programas de merenda escolar e os voltados para o aumento do rendimento escolar
e diagnóstico de problemas auditivos e visuais. Esses programas denunciavam que a iniciativa de aproximar
a saúde e a educação era fundamentada pela busca de identificar e lidar com os fatores que poderiam
comprometer o rendimento escolar do aluno e, cabe notar, os fatores meramente biológicos.
Considera-se que os programas elaborados na perspectiva da “nova” promoção apresentam um
viés diferenciado dos que foram desenvolvidos baseados em outras correntes. Todavia, é necessário
atentar para a importância da realização do monitoramento e avaliação de tais programas para se averiguar
se as ações desenvolvidas também representam inovação, ou se sobrepõe a isso uma mescla de modelos
e ações consideradas anacrônicas. Nesse sentido, abordaremos, por conseguinte, algumas das dificuldades
que permeiam a intersetorialidade entre a saúde e a educação.
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rede de compromisso social, no intuito de favorecer a mobilização dos atores sociais ligados ao aparato
governamental e à sociedade, para que juntos possam trabalhar as problemáticas da sociedade.
Silva e Rodrigues (2010) chamam a atenção para a importância da construção de espaços que
favoreçam a comunicação e que possibilitem a acepção de conceitos e objetivos comuns, tornando viável
o planejamento participativo das ações que requerem contribuições de outros setores. Em contraposição
a esse trabalho articulado/partilhado, o que se observa é que há o predomínio do setor saúde em relação
à educação no desenvolvimento dessas ações. Silva (2010) pondera que a análise das questões referentes
aos programas de saúde na escola precisa compreender os indicadores da educação como um desafio à
promoção da saúde, haja vista a educação ser considerada como um dos fatores determinantes das
condições de saúde, bem como a educação precisa entender os indicadores de saúde que comprometem
a qualidade de vida e a qualidade da aprendizagem. Desse modo, o autor considera que a interlocução
entre esses setores não deverá se restringir aos conhecimentos específicos de cada um deles, todavia
deverá levar em consideração os indicadores e as questões estratégicas de ambos.
Apesar dos avanços que constam nos registros referentes ao desenvolvimento dos programas
voltados para a saúde escolar, nota-se que estes ainda contam com falhas e deficiências e muitas vezes
não se adequam às prioridades e oportunidades concretas de cada escola. Nesse sentido, é imprescindível
que as escolas elaborem planos de estudo que sejam convergentes com as necessidades que apresentam
(PELICIONI; TORRES, 1999). Nesse contexto, observa-se a predileção pela reprodução de arquétipos já
estabelecidos, e o desenvolvimento de propostas adequadas à realidade local acaba sendo comprometido
pelas dificuldades pontuadas por Silva e Caballero (2010) em manter-se atento à possibilidade de invenção
e de resistir à atração que o instituído oferece à reprodução, à repetição de modelos já consolidados.
Além do mais, isso requer mudança. Viana (apud PAPOULA, 2006) nota que os municípios
brasileiros têm contado com a implementação de políticas sociais com propostas inovadoras e com
programas de desenho intersetorial. Todavia, inúmeras barreiras burocráticas e coorporativas contribuem
para o insucesso dessas experiências, dentre as quais a resistência a mudanças quanto aos modelos de
serviço.
Ademais, Silva e Rodrigues (2010) versam que a intersetorialidade ainda se constitui como um
objetivo a ser alcançado. As autoras reconhecem que em um território há várias possibilidades de
articulação em rede, contudo, para que o serviço de saúde local possa de fato estabelecer parcerias
intersetoriais é imprescindível ir além da negociação de tarefas e da transferência de responsabilidades
Conforme afirma Silva (2010, p. 197), para o desenvolvimento de ações intersetoriais “[...] é fundamental
que todos os setores e atores envolvidos estejam, de fato, compartilhando desde seus objetivos e metas,
as atividades, os processos, as questões, as dúvidas, os resultados, os erros e os acertos”. Para tornar essas
propostas em práticas contundentes é necessário entender que “[...] forjar um Estado que opere na lógica
da ação pública intersetorial supõe implementar uma nova institucionalidade social” (CEPAL 1998, p.175).
É diante desse cenário de impasses que o Programa Saúde na Escola se propõe a desenvolver ações
de saúde escolar, para o que conta com a parceria da Estratégia Saúde da Família. O PSE foi instituído por
intermédio do Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007. Fruto de um trabalho integrado
entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, o programa tem por finalidade a ampliação das
ações específicas de saúde aos alunos da rede pública de ensino: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Rede
Federal de Educação Profissional e Tecnológica, Educação de Jovens e Adultos. Para tanto, visa o
desenvolvimento de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde. Sua regulamentação se deu através
das Portarias: GM/MS 1861/2008; 2931/2008; 3146/2009; 1537/2010 e 3693/2010 (BRASIL, 2008).
De acordo com o artigo 2º do Decreto Presidencial nº 6.286, são objetivos do PSE:
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As atividades a serem planejadas e desenvolvidas pelo PSE em parceria com a ESF são organizadas
em cinco componentes:
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hábitos alimentares e de higiene. Outro fato desafiador é que alguns desses estudos também expressam
uma compreensão equivocada acerca da promoção da saúde por parte dos autores, o que reforça que, de
fato, o entendimento referente ao conceito de promoção da saúde é um grave problema que compromete
seu alcance.
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Considerações finais
Ao analisarmos a política de saúde desde sua gênese aos dias atuais, considera-se que o maior
desafio que se sobrepõe aos ideários do SUS ainda consiste na superação do modelo biomédico, que exerce
influências desde a formação dos profissionais, ao modo como os serviços de saúde são dispostos à
sociedade. Assim como já foi exposto, inúmeras estratégias são elaboradas no intuito de garantir essa
superação, entretanto, essas estratégias não atingem os pilares que sustentam esse modelo.
Entende-se que a Promoção da Saúde representa um importante mecanismo de enfrentamento,
pois propõe ações que envolvem os aspectos da prevenção, promoção e atenção. Entretanto, apesar de
possuir um caráter que vai de encontro ao reducionismo característico do modelo biomédico, ela conta
com inúmeros empecilhos, a começar pelas dificuldades de empreender uma prática diferenciada dentro
de um sistema que não favorece nada que não corrobore com sua sustentação. Sua esfera conceitual figura
como outro importante empecilho. Nas últimas décadas a percepção dos países sobre a Promoção da
Saúde sofreu algumas mudanças, seja referente à conceituação, seja referente à prática. Houve o
entendimento de que a mera realização de ações que tinham o foco no controle e na prevenção de doenças
e que eram baseadas no modelo tradicional era insuficiente. Desse modo, atentou-se para a importância
de levar em consideração os determinantes da saúde, de traçar estratégias que pudessem incidir sobre a
situação de desigualdade social, de se investir na participação do indivíduo e buscar contribuir com seu
empoderamento.
E dessa forma foram sendo elaboradas críticas ao modo como era realizada a culpabilização do
indivíduo frente a problemáticas que exigiam uma análise aprofundada, e obviamente estratégias de
enfrentamento que contassem com o envolvimento de diversas instâncias, setores e até a participação
social, só que dessa vez, uma participação ativa, crítica.
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Nessa perspectiva foram sendo arquitetados programas de saúde escolar a partir das novas
compreensões sobre a temática. Porém, ocorre que por mais que o conceito de saúde tenha sido ampliado
desde os anos de 1948, as ações desenvolvidas não conseguiram se desvencilhar das influências do antigo
conceito. Mesmo possuindo um caráter abrangente, a Promoção da Saúde acaba contraditoriamente
sofrendo as influências do modelo que tenta combater, sendo, dessa forma, possível constatar que as
ações que têm se destacado são as ações curativas, assistenciais e por outro lado, as ações de promoção
têm sido confundidas com as de prevenção.
Levando em consideração as prerrogativas da Promoção da Saúde, o PSE foi proposto no intuito
de oferecer uma assistência integral aos alunos, e também alcançar os seus familiares. Todavia, suas
propostas são lançadas diante de um cenário que não favorece sua adequada implementação. A partir da
análise de seus documentos, o que se percebe é que por mais que seja afirmada a Promoção da Saúde
como princípio norteador para a condução de suas propostas, não é possível identificar concretamente
que seja adotada como centro nuclear do Programa. Além disso, nota-se que há uma mistura de
concepções acerca da Promoção da Saúde que, conforme afirmado tem uma ampla produção teórica
acerca de sua conceituação. Nota-se que em alguns momentos da redação dos documentos utiliza-se da
corrente da nova promoção, entretanto quando se refere às ações nota-se a predominância do conceito
conservador, que foca na mudança comportamental sem levar em consideração os determinantes sociais.
Além disso, observa-se que o PSE, em seu discurso de empreender uma nova forma de pensar a
saúde escolar, acaba por reproduzir uma prática comum no Estado liberal, a de responsabilização dos
indivíduos. É notório o predomínio da tendência em culpabilizar os profissionais pelo insucesso ou sucesso
dos programas desenvolvidos. Em contraponto a isso não se observa o desenvolvimento de medidas que
possam recair sobre as condições por intermédio das quais esses trabalhadores desempenham suas
funções.
Desse modo, questiona-se: o que se esperar do desenvolvimento de algo que já foi proposto
anteriormente, sem que houvesse logrado o êxito esperado devido às condições estruturais que apresenta,
e que posteriormente é reafirmado como se houvesse sido incorporada uma nova “roupagem” sem que
houvesse uma alteração nas dificuldades estruturais apresentadas? Além do mais, a preponderância que é
dada ao setor saúde reflete uma compreensão que difere do conceito ampliado de saúde e aponta para
uma concepção limitada acerca da intersetorialidade. Entretanto, cabe ressaltar que a iniciativa, ainda que
limitada de articular a saúde e a educação já pode ser considerada como um avanço, pois o que se constata
é que há expressiva dificuldade de romper com a compreensão da intersetorialidade como sendo um
instrumento ligado apenas à saúde.
Diante das dificuldades apontadas, nota-se que o modo como o PSE tem funcionado tem
corroborado com o modelo privatista. Claro que não podemos ignorar o fato de que a literatura aponte o
alcance de êxito em algumas ações pontuais elaboradas para atender aos objetivos da promoção,
entretanto essas ações têm sido relacionadas como iniciativas pessoais de profissionais. É perceptível na
literatura utilizada para a realização dessa pesquisa que o PSE tem contribuído para a melhoria do aspecto
assistencial dos estudantes, porém, a participação social, o empoderamento, a utilização de ações multi-
estratégicas seguem como um importante desafio a ser enfrentado pelo Programa.
Referências
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