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Percepção de Profissionais Da Saúde e Da Educação Sobre o Programa Saúde Na Escola

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ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE 103

Percepção de profissionais da saúde e da


educação sobre o Programa Saúde na Escola
Perception of health and education professionals on the School Health
Program

Juliane Gonçallo Baroni1, Carla Cilene Baptista da Silva2

DOI: 10.1590/0103-11042022E307

RESUMO Este artigo consiste em um estudo de caso que buscou conhecer as percepções de profissionais
da saúde e da educação sobre as ações do Programa Saúde na Escola (PSE) de um território periférico da
Baixada Santista-SP. Foram entrevistadas três orientadoras educacionais de duas escolas, uma articuladora
do PSE, uma acompanhante terapêutica, uma psicóloga, duas enfermeiras e uma agente comunitária de
saúde. Após as transcrições das entrevistas, os textos foram submetidos à análise lexográfica e à classi-
ficação hierárquica descendente no software IRaMuTeQ-R, e, posteriormente, analisados com base nos
referenciais teóricos sobre o PSE, a saúde escolar e a intersetorialidade. Os resultados demonstraram que
as ações do PSE se concentram na reunião de matriciamento, nos encaminhamentos, verificação vacinal,
saúde bucal e saúde ocular. Há escassez de formação contínua, desconhecimento sobre política do PSE e
excesso de trabalho. Tais fatores parecem comprometer a contemplação dos objetivos do programa pro-
postos na política, que, atravessado pela pandemia, intensificou os desafios enfrentados. Há um potencial
a ser explorado pelo encontro saúde e educação, mas desafios envolvendo os setores, a lógica tradicional
de gerenciamento, a abordagem biológica e a participação social precisam ser superados para avançar
rumo às propostas intersetoriais de Promoção da Saúde e bem-estar.

PALAVRAS-CHAVE Política de saúde. Serviços de saúde escolar. Atenção à saúde. Proteção social em
saúde. Colaboração intersetorial.

ABSTRACT This article consists of a case study that aimed to identify health and education professionals’
perceptions of the School Health Program (PSE) actions in a suburban territory of Baixada Santista, São Paulo.
Three educational counselors from two schools, a PSE articulator, a therapeutic companion, a psychologist,
two nurses, and a community health worker were interviewed. The transcribed interviews were submitted
to lexographic analysis and descending hierarchical classification in the software IRaMuTeQ-R. They were
later analyzed based on the theoretical references on the PSE, school health, and intersectoriality. The results
showed that the PSE actions focus on the matrix support meeting, referrals, vaccination verification, oral
health, and eye health. The inadequate continuing training, poor knowledge of the PSE policy, and overwork
compromise the full consideration of the program’s objectives, which, traversed by the pandemic, escalated
the challenges faced by professionals. There is potential to be explored by the meeting of health and education.
However, challenges involving these sectors, the traditional management rationale, the biological approach,
and social participation should be overcome to advance towards intersectoral proposals to promote health
1 PrefeituraMunicipal and well-being.
de Santos – Santos (SP),
Brasil.
juligoncallo@hotmail.com
KEYWORDS Health policy. School health services. Delivery of health care. Social protection in health.
Intersectoral collaboration.
2 Universidade Federal de

São Paulo (Unifesp) – São


Paulo (SP), Brasil.

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 46, N. Especial 3, P. 103-115, Nov 2022
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Introdução de responsabilidades entre os setores, que,


acostumados com o isolamento, podem assim
Com a intenção de promover, prevenir e ter a chance de fortalecer o vínculo entre saúde
atentar às questões da saúde dos estudantes e educação. O programa é considerado de suma
da rede pública, o Programa Saúde na Escola importância pelos profissionais da saúde e da
(PSE) foi instituído pelo Decreto nº 6.286, educação, que reconhecem os benefícios para
de 5 de dezembro de 2007, no âmbito dos a qualidade de vida oriundos da inclusão da
Ministérios da Saúde e da Educação. Os ob- saúde na escola, interferindo positivamente na
jetivos do PSE visam promover a saúde e a educação, melhorando o acesso da população
cultura de paz com o fortalecimento das áreas aos serviços de saúde3.
da saúde e da educação pública, o vínculo das Nessa perspectiva, o PSE propõe o estrei-
ações do Sistema Único de Saúde (SUS) com tamento de vínculo entre escolas e Unidades
as da educação básica pública de forma ampla Básicas de Saúde (UBS), com o planejamento
(comunidade, equipamentos e recursos da lo- e a execução de ações conjuntas, em que a
calidade); auxiliar na formação integral dos es- escola se estabelece como cenário potente
tudantes; fundar um recurso de atenção social para o trabalho intersetorial e construção de
que promova a cidadania e o exercício dos aprendizagens que norteiem decisões e ati-
direitos humanos, apoiar nos enfrentamentos tudes para maior qualidade de vida4. Sendo
dos agravos da saúde que podem comprometer assim, o PSE se apresenta como chance de res-
o desempenho escolar; conceber uma linha significar a escola e mudar os determinantes
de comunicação entre as unidades de saúde sociais, favorecendo a produção da cidadania
e as escolas; consolidar a participação da co- e o empoderamento mediante apresentação,
munidade nas políticas de educação e saúde1. conhecimento, discussão e implantação dos
As aprendizagens de educação em saúde têm ideais de PS, superando a teoria e vivenciando,
sido cada vez mais utilizadas como estratégia de fato, a proposta da política em saúde5.
para promover a melhora da qualidade de vida Diante dessa proposição de conjunção entre
da população na atualidade, aparecendo como saúde e educação na promoção de ações que
prioridade nas novas políticas e programas de contemplem a integralidade dos educandos
Estado voltados para o público em vulnera- oferecendo subsídios para seu pleno desenvol-
bilidade social, facilitando o acesso universal vimento, é de suma importância refletir sobre
a educação e saúde por meio de uma rede de as percepções dos profissionais envolvidos
atendimento gratuita. Nesse formato, a política nessa dinâmica, a fim de compreendê-la e ve-
nacional de educação e saúde, por meio do PSE, rificar a efetividade das ações proposta pelo
apoia o desenvolvimento de ações de educação, programa e aquelas realizadas. A importância
prevenção de risco e Promoção da Saúde (PS) da presente pesquisa está no ato de desvelar
nas demandas oriundas do mapeamento do as percepções dos trabalhadores da saúde e
território, em que o Estado, por intermédio do da educação sobre o PSE, conhecendo assim
conhecimento das condições de vida da popu- o processo de trabalho intersetorial através
lação, sob um aspecto vigilante, pode melhor da lente dos protagonistas responsáveis pela
gerir e fazer prevenção dos riscos à saúde co- sua execução em um território periférico de
letiva. Nesse sentido, a escola, como partícipe uma cidade do litoral paulista.
do programa, aparece cada vez mais implicada
com os problemas sociais, convocada a atuar
para o bem-estar da população2. Material e métodos
Desse modo, o PSE propõe estratégias para
abordar os problemas da localidade, por meio Trata-se de um estudo de caso6, de aborda-
da intersetorialidade e do compartilhamento gem qualitativa7, que envolveu a participação

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de profissionais da saúde e da educação que é gratuito e funciona ancorado ao software es-


participaram das reuniões de matriciamento tatístico R. Essa ferramenta de processamento
na Unidade de Saúde da Família (USF) do de dados realiza análises estatísticas textuais.
território desde o ano de 2019 e que atuavam A presente pesquisa utilizou os resultados
no contexto do PSE em um território perifé- apresentados pelo IRaMuTeQ da Classificação
rico da Baixada Santista, localizado em um Hierárquica Descendente (CHD) ou método
município com Índice de Desenvolvimento de Reinert, que classifica os seguimentos de
Humano (IDH) de 0,8408. texto conforme seus vocabulários, repartin-
O município utiliza como principal estra- do o conjunto deles baseada na frequência
tégia do PSE a reunião de matriciamento, que das formas reduzidas (palavras lematizadas)
é uma produção de saúde, para a socialização para auferir classes de Unidades de Contexto
e encaminhamentos de casos acolhidos nas Elementares (UCE) que compreendem os vo-
unidades de saúde com a saúde mental, em cábulos agrupados pelo software por seme-
um novo rearranjo incluindo a educação, por lhança e diferença10.
meio da participação das escolas. A análise lexical do software apresentou
O instrumento utilizado para coleta de cinco classes, que foram analisadas e nomeadas
dados foi a entrevista, com o interesse de le- com base nos referenciais teóricos sobre o PSE,
vantar informações autênticas, discorrendo e a saúde escolar e a intersetorialidade: Classe
interagindo sobre o tema por intermédio de 1 – Encaminhamentos; Classe 2 – Relação
um percurso mais livre, seguindo um roteiro Intersetorial Saúde e Educação; Classe 3 –
semiestruturado de questões, que permite Panorama do PSE; Classe 4 – O Acesso à Saúde;
adaptações ao entrevistador partindo de um Classe 5 – Reflexos do PSE na Comunidade.
esquema básico, porém flexível9. A fim de preservar o anonimato, utilizaram-
Participaram nove mulheres com idade -se, ao longo do texto, siglas para identifica-
entre 34 e 54 anos, sendo três profissionais ção das participantes. A coleta de dados teve
da educação, Orientadoras Educacionais (OE), início após aprovação pelo Comitê de Ética em
e seis profissionais da saúde, sendo uma ar- Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de
ticuladora do PSE, uma acompanhante tera- São Paulo, com parecer sob o número 4.601.455
pêutica do Centro de Atenção Psicossocial CAEE 38641120.7.0000.5505.
Infantil (Capsi), duas enfermeiras da USF,
uma psicóloga do Núcleo de Atenção à Saúde
da Família (Nasf ) e uma Agente Comunitária Resultados e discussão
de Saúde (ACS) da USF.
Foi realizada entrevista semiestruturada O processamento dos dados pelo software
individual, por meio de videoconferência. O IRaMuTeQ-R, na opção de análise de estatísti-
conteúdo foi gravado para posterior transcri- cas textuais, apresentou a ocorrência de 30.240
ção. Cada entrevista durou, em média, qua- palavras no corpus textual, em uma frequência
renta minutos, e o tempo total de coleta foi média do aparecimento de 3.360 por texto, com
de cinco horas e meia. 3.317 número de formas e 816 palavras distintas
A abordagem às profissionais foi reali- (hápax). Na análise de especificidade, as variá-
zada após comunicação com as chefias, por veis escolhidas, consideraram as formas ativas
contato de mensagem de celular entre os e complementares, selecionadas pela variável
meses de março e abril de 2021, pela própria *p (pessoa), com a frequência mínima de dez.
pesquisadora. O IRaMuTeQ gerou relatório classificando 864
Após coleta de dados, foi realizada a trans- UCE, considerando relevante 78,24% do mate-
crição das entrevistas. Para tratamento dos rial; a classificação de segurança segue o padrão
dados, foi utilizado o software IRaMuTeQ, que de pelo menos 70% do material. Nos resultados,

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no título de cada uma das classes, está o número compreender as mensagens que se ocultam
de UCE. A organização gerada pelo programa por trás da frequência da aparição das pala-
agrupou os vocábulos em cinco classes ligadas vras11. Essas categorias foram nomeadas pela
por eixos representada no dendrograma. Com pesquisadora de acordo com a interpretação
os resultados oriundos da CHD, foi possível das palavras agrupadas nas classes e das UCE
verificar as frequências mais importantes e, apresentadas pelo software. O IRaMuTeQ rea-
ao realizar a interpretação do corpus, definir lizou a análise textual, e seus resultados foram
as categorias temáticas que emergiram dessa analisados com base nos referenciais teóricos
combinação. Com isso, potencializando a in- dos estudos atuais sobre a saúde escolar e a
vestigação por meio das inferências, buscando intersetorialidade.

Figura 1. Dendrograma da Classificação Hierárquica Descendente

Classe 2 (19,53%) Classe 5 (17,6%)


Classe 3 (20,71%) Classe 1 (19,53%) Classe 4 (20,86%)
Relação Intersetorial Saúde e Reflexo do PSE na
Panorama do PSE Encaminhamentos Acesso à Saúde
Educação Comunidade
Palavra % x2 Palavra % x2 Palavra % x2 Palavra % x2 Palavra % x2
recurso 100.00 46.77 educação 72.46 119.98 mãe 80.70 170.87 encaminhamento 63.41 53.50 acs 72.73 56.54
santo 87.50 44.52 saúde 46.26 69.79 filho 90.48 79.35 encaminhar 84.21 52.05 mês 86.67 40.25
expectativa 86.67 40.64 intersetorial 100.00 68.32 olhar 60.00 38.90 criança 40.00 42.93 acontecer 64.52 37.51
sentido 65.38 32.86 experiência 100.00 60.54 ligar 68.75 29.56 pse 34.81 36.73 vir 62.07 31.17
abrangente 100.00 31.00 trabalhar 60.38 52.38 aparecer 71.43 28.55 ano 61.29 36.06 marcar 100.00 30.72
político 100.00 27.08 efetivo 93.33 47.48 depressão 100.00 28.34 cer 100.00 33.36 pedir 83.33 28.89
planejamento 73.33 25.87 setor 78.26 46.08 observar 87.50 27.27 tentar 54.84 25.78 enfermeiro 61.54 27.11
gostar 88.89 25.82 profissional 52.11 44.92 aluno 40.98 25.27 avaliação 71.43 24.51 ubs 41.30 26.97
vista 76.92 25.51 executar 92.86 43.66 enxergar 85.71 22.62 atendimento 53.12 24.13 acesso 80.00 21.51
jeito 81.82 25.43 trabalho 65.71 43.43 diferenciado 85.71 22.62 endereço 87.50 23.80 adolescente 80.00 21.51

Fonte: dados da pesquisa.

Santos, expectativa, sentido, abrangente, polí-


A figura 1, dendrograma, ilustra as classes/ tico e planejamento’. Elas remetem a como os
categorias oriundas das segmentações do con- sujeitos da pesquisa reconhecem o programa
teúdo das entrevistas realizado pelo software e entendem o seu funcionamento.
IRaMuTeQ. As classes apresentam trechos O PSE foi o dispositivo que sistematizou o
dos depoimentos dos participantes da pes- encontro saúde e educação no território por
quisa, que são identificados com a letra P e meio da participação da educação nas reuni-
um número de um a nove e, ainda, pela sua ões de matriciamento em saúde mental, que
área de trabalho, saúde ou educação; e serão aconteciam na USF, na qual eram discutidos
apresentadas abaixo conforme a sequência que os casos geralmente trazidos pelas escolas,
aparecem na figura 1 (dendrograma): desdobrando-se em encaminhamentos acor-
dados pelos profissionais, reconhecida como
Panorama do PSE dispositivo de atuação do PSE e instrumento
de aproximação dos setores saúde e educação,
A classe Panorama do PSE, com 20,71% dos facilitadora da entrada dos alunos na saúde.
seguimentos aproveitados, apresenta as se- Esse encontro saúde e educação foi en-
guintes palavras mais representativas: ‘recurso, carado como importante vantagem, porém

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com certo receio; os profissionais não tinham prioridades foram feitas mais em nível central,
clareza dos seus papéis na atuação com o não sei se tivesse sido dada autonomia para os
programa, relacionavam o funcionamento às territórios, por exemplo. (P6 saúde).
demandas pontuais ligadas à vacinação e aos
encaminhamentos para a pediatria e/ou outras Coordenado em conjunto pelas Secretarias
especialidades, marcadas historicamente por de Saúde e Educação, o PSE apresenta, na
uma estrutura setorial e fragmentada nas pro- figura da articuladora da saúde, a mediação
postas das políticas de saúde e educação3. da relação intersetorial. Elas são reconhecidas
pelos profissionais como responsáveis pelo
O grande marco para mim foi desmistificar, pri- anúncio da programação das reuniões de ma-
meiro juntar as secretarias educação e saúde no triciamento, propagadoras das grandes ações
espaço, escutando algumas fragilidades que acon- propostas e elemento de auxílio na condução
tecem nos dois setores e o que juntos podemos do programa, fazendo a mediação necessária
fazer para agregar. (P5 Saúde). desse encontro da saúde com a educação, que
nem sempre é pacífico.
No início eu pensei como vai ser isso, a experiên-
cia de trabalhar com profissionais de outro setor, [...] nós da educação tentávamos fazer um trabalho
porque você fica pensando, saúde e educação, conjunto sempre que fosse necessário com a saúde,
como você vai ser recebido, como a saúde vai nos mas na maioria das vezes precisamos dessa ajuda
receber. (P8 Educação). do PSE. (P8 educação).

As principais ações do programa partem de A falta de estrutura para a efetivação


uma proposta em nível central, e não do território, da política interministerial é vista como
o Grupo de Trabalho Intersetorial municipal ameaça latente, que compromete a efetiva-
(GTI-municipal) se reúne e traça algumas estra- ção das propostas. Os recursos humanos e
tégias de ações, e o articulador propaga a saúde os materiais são elencados como escassos,
e a educação, porém, essas podem e deveriam a figura da articuladora é a mais lembrada;
partir das demandas do território. no município, existem 86 escolas, 32 UBS
A territorialidade é um dos princípios e somente 3 articuladoras para coordenar
que fundamentam o PSE, que se traduz o PSE, todas do setor da saúde.
na efetivação da construção de espaços de A ausência de planejamento também é
convivência social oriundos dessa parceria observada como entrave para a execução do
Estratégia Saúde da Família (ESF) e escolas. programa12. As dificuldades no desenvolvi-
O envolvimento dos atores locais nas ações mento de ações intersetoriais consideram,
de saúde, mediante suas interpretações e entre outros, a redução do conceito de saúde,
ressignificações, altera potencialmente a a formação profissional focada na lógica
capacidade de transformação da realidade5. da especialidade que limita a atuação dos
profissionais à sua área, além da sobrecarga
O PSE tem algumas ações e em Santos tem uma de trabalho dentro dos seus setores difi-
centralização e, algumas coordenações. Na Alemoa cultando a superação do conservadorismo
é basicamente a reunião de matriciamento em presente nas práticas cotidianas13.
saúde mental, isso quer dizer que é uma reunião que
temos a participação de representantes das escolas Temos políticas, projetos e ideias muito interessan-
do território, da UBS, representantes também do tes, mas não temos pessoas para lidar com tudo
CAPS adulto e infantil. (P2 saúde). isso, recursos, evidentemente recursos materiais
mesmo, de como que poderíamos ter recursos
Na realidade as definições das ações do PSE e das direcionados para isso. Não temos. (P2 saúde).

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[...] não temos gente suficiente para trabalhar. contradições no funcionamento do programa
Para organizar tudo isso precisa de pessoas, tudo que são protagonizados pelo setor saúde, nas
isso só se faz com pessoas, não temos pessoas o questões que envolvem desde a adesão dos
suficiente para dar conta de tudo isso. (P2 saúde). municípios até a divisão de poder, financia-
mento e responsabilidades das ações15. A maior
repercussão das ações de PS nas escolas deve
Relação Intersetorial Saúde e estar alicerçada na colaboração conjunta da
Educação saúde e da educação, e não na transferência da
parte de execução de tarefas entre os setores16.
A classe Relação Intersetorial Saúde e Do mesmo modo, parece que o descrédito da
Educação representa 19,53% do corpus, e capacidade de intervenção da educação aumenta
suas palavras mais significativas são: edu- a expectativa de uma resolução de problemas dos
cação, saúde, intersetorial, experiência, educandos pelo atendimento na saúde, bem como
trabalhar, efetivo, setor, profissional e exe- a frustração de quando os casos não são acolhi-
cutar. Essa categoria evidencia os fatores dos e encaminhados. É comum a expectativa de
considerados nessa dinâmica de trabalho resoluções milagrosas por parte da saúde, como
intersetorial do programa. se a atuação desses profissionais fosse capaz de
A interação entre UBS/USF e escolas sus- resolver todos os problemas17.
tenta uma nova perspectiva da saúde escolar,
compartilhando atribuições e responsabilida- A experiência de trabalhar com profissionais
des em uma intervenção consonante e firmada de outro setor, nós contamos um pouquinho da
de acordo com as demandas de saúde reais do nossa história de saúde para educação e o ouvimos
escolar. Essa relação e a potência das contri- também a dificuldade que a educação encontra,
buições da educação para a saúde se afirmam porque é muito fácil apontar o que a educação
como novas possibilidades, tais como as abor- deveria fazer. (P5 saúde).
dadas nas propostas de PS, que superam a
visão biológica, ampliando para um panorama Experiência de trabalhar com profissionais de outro
integral e social dos sujeitos14. setor não é fácil não, a saúde nem sempre dá o
A experiência de trabalhar com profis- retorno que a educação espera, que precisamos.
sionais de outro setor é vista como positiva; Ainda não estão caminhando juntos, a saúde e
vantagens como conhecer a realidade do outro a educação ainda não caminham junto, é bem
serviço, estabelecer uma rede de apoio para distante. (P7 educação).
pensar nos casos, compartilhar saberes e res-
ponsabilidades são potencias dessa articulação. Apesar da manutenção do diálogo nos
Porém, são percebidos disparidades e incô- encontros mensais, saúde e educação ainda
modos, verticalização e relações de poder, nas sentem falta de tempo para interagir e con-
expectativas da educação em relação à saúde, templar todas as vertentes que um trabalho
tomadas de decisão e encaminhamentos. intersetorial exige.
A composição do PSE no território é pre- As formações que diminuíram com o passar
dominantemente do setor da saúde; a edu- do tempo tratavam principalmente sobre apli-
cação, representada somente pelas OE, foi cação de ações de saúde ao público escolar
inserida no espaço do matriciamento que é e do fluxo de encaminhamentos do PSE. Ao
uma produção da saúde; os encontros são na mesmo tempo que há uma crítica sobre o
USF, equipamento da saúde, conferindo assim desconhecimento do programa, os próprios
maior importância para o setor. Isso ratifica o profissionais não se reconhecem como parte
resquício da parceria dos Ministérios da Saúde integrante, desfavorecendo a autoria de ações
e Educação que apresenta desequilíbrios e partindo da realidade do território.

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Os processos de formação inicial e con- informações importantes pela proximida-


tinuada são imprescindíveis para a im- de das pessoas da comunidade. A educação
plementação das ações previstas e estão também aparece como grande colaboradora na
prenunciados nas políticas de saúde e edu- antecipação de problemas e no desvelamento
cação, sendo a formulação das propostas de casos que não são aparentes em consultas
responsabilidade dos ministérios1. e atendimentos na saúde.

A escola e nós da saúde, nunca nos sentamos para [...] durante a reunião de matriciamento, a escola
conversar sobre o que pode ser feito e articular trouxe a questão das faltas e das feridas e, a saúde
ações do PSE. Isso não é feito, não tem essa con- como já acompanhava a família também trouxe
versa entre saúde e educação. (P1 saúde). a questão da depressão, que a mãe estava numa
gestação e tinha tido uma depressão pós-parto
[...] as sugestões para um trabalho intersetorial efetivo e agora possivelmente teria novamente e, teve
entre saúde e educação, é a maior conscientização dos mesmo [...]. (P1 saúde).
profissionais quanto ao PSE. (P9 educação).
O território é percebido pelos profissio-
A intersetorialidade não pode ser encarada nais como lugar de extrema vulnerabilidade,
como responsabilidade isolada de um setor com a presença de fatores como violência,
ou profissional, são necessários a formação tráfico de drogas e poluição, o que afeta di-
de uma rede de apoio e o exercício da escuta retamente a saúde das pessoas. Casos com-
dos profissionais e setores, para que o trabalho plexos constituídos e acometidos por fatores
desenvolvido supere o modelo assistencial e sociais manifestam-se em problemas de saúde
auxilie na resolução dos problemas vividos e comportamentos revelados principalmente
pela população. É notado que as parcerias in- no ambiente escolar. Apesar da constatação
tersetoriais com esse objetivo são pontuais, desses fatores de risco, não foi relatada a ocor-
ocasionais e não apresentam um planejamento rência de nenhuma ação direcionada além dos
sistematizado16. encaminhamentos individuais acordados nas
reuniões de matriciamento.
Reflexos do PSE na Comunidade É comum a dificuldade para desenvolver
ações correspondentes com o amplo concei-
A classe Reflexos do PSE na Comunidade traz to de saúde, pois os problemas tendem a ser
consigo os desdobramentos dos casos mais individualizados e descolados dos fatores que
marcantes que foram discutidos nas reuniões agregam para sua (re)produção, podendo se
de matriciamento. Representado por 17,6% desdobrar no reforço da medicalização dos pro-
dos seguimentos classificados, formou-se blemas de aprendizagem e comportamento13.
principalmente em torno das palavras ‘mãe, O programa é reconhecido como um faci-
filho, olhar, ligar, aparecer, depressão, observar litador para o atendimento na saúde, com o
e outras’. Essas fornecem indícios sobre os acesso possibilitado por meio dos encaminha-
principais atores público-alvo do programa, as mentos oriundos da escola. A USF e as escolas
ações que precedem a imersão e a incidência são os únicos equipamentos no território, a
de casos de saúde mental. partir daí, os encaminhamentos são para outras
É interessante como o mesmo caso foi re- localidades, até mesmo o Capsi fica a quase 3
latado por diversos profissionais, percebido km de distância; e apesar desse complicador, a
de forma semelhante e exemplificado como falta de comprometimento dos pais é apontada
resultado exitoso do trabalho intersetorial. como dificultadora do processo de adesão ao
Dentro desse contexto, a figura do ACS aparece atendimento, acompanhamento e tratamento
em evidência na incumbência de fornecer dos alunos encaminhados.

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O PSE convoca os indivíduos a assumi- Foram os protocolos de Covid, que a escola já


rem o protagonismo e a responsabilidade conhece e esse ponto da relação aos grupos para
pela própria saúde, formando sujeitos com o ensino híbrido que é bem importante. Foi bem
habilidades voltadas para proteção da saúde importante para escola não cometer erros de estar
e atuantes nas resoluções de problemas da misturando os alunos. (P7 educação).
comunidade, não colocando outros fatores em
evidência quando não há a adesão ao encami-
nhamento/tratamento proposto, sobressaindo Encaminhamentos
a culpabilização da família2.
Esta classe aborda os aspectos que envolvem os
A partir do encaminhamento que é dado para cada encaminhamentos que partem das reuniões de
situação é que começa a complicar um pouquinho, matriciamento. Compreende 19,53% dos segui-
primeiro pela questão que a família precisa se en- mentos classificados principalmente ao redor
volver, a família precisa ter o compromisso e a res- das palavras ‘encaminhamento, encaminhar,
ponsabilidade de levar a criança. (P8 educação). criança, PSE, ano, Centro Especializado de
Reabilitação (CER), tentar, avaliação, atendi-
Apesar do esvaziamento sentido pelos mento e outras’. Abordam as principais deman-
profissionais da saúde e da educação com das do programa, o processo de apresentação
a suspensão das reuniões de matriciamen- e discussão dos casos, os profissionais e os
to durante a pandemia, o PSE continuou serviços envolvidos, o retorno, as ações, os
atuando, auxiliando as escolas na busca ativa, êxitos e as dificuldades.
nos encaminhamentos para especialidades, Inicialmente, o PSE foi entendido como um
no acompanhamento e monitoramento dos conjunto de protocolos de encaminhamen-
casos de Covid-19 e nos protocolos de retorno tos das crianças pela escola para a UBS/USF
às atividades presenciais. e a definição de algumas ações. O primeiro
A pandemia afetou profundamente a co- entendimento é que essa integração saúde
munidade e a rotina dos serviços; a escola e educação seria para resolução de queixas
passou a desenvolver atividades remotas e pontuais, mas, ao longo do processo, com a
esteve à frente da distribuição de cestas básicas participação de todos os profissionais, foi con-
às famílias dos alunos, e a USF, a atender a siderado como perspectiva de uma abordagem
uma demanda muito maior devido aos casos mais integral dos casos.
de Covid-19. Com o PSE, no início do ano, era elaborado
As questões de saúde mental foram as um calendário com as datas das reuniões de
principais demandas observadas durante este matriciamento mensais e compartilhado com
período. Além disso, os encontros entre os as escolas. Estas levavam cerca de seis casos
profissionais ocorreram em algumas reuniões de alunos que apresentavam alguma necessi-
de rede, em formato remoto, e a comunicação dade, geralmente dificuldade de aprendiza-
continuou no período de isolamento social. gem e suspeita de transtornos ou deficiência.
Ademais, parcerias para o atendimento de A partir disso, nas reuniões, os casos eram
casos pontuais foram firmadas. apresentados, discutidos, e cada profissio-
nal podia acrescentar informações daquela
Infelizmente também aumentou o índice de ansie- criança, suas percepções; e eram retirados os
dade, depressão e automutilação de jovens, então encaminhamentos que poderiam ser desde
foram essas demandas que me fizeram também para uma atividade esportiva, uma consulta
articular as ações do PSE remotamente, envolvendo com o pediatra, um encaminhamento para o
o Capsi, envolvendo a saúde mental. (P5 saúde). Capsi ou CER.

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Percepção de profissionais da saúde e da educação sobre o Programa Saúde na Escola 111

A escola trazia as dificuldades, os problemas ou O evento medicalização no cenário da


alguma percepção de que aquela criança estives- escola concebe encaminhamentos sem ne-
se com algum problema grave e trazia isso para cessidade para a saúde, desdobrando-se em
reunião de matriciamento. (P3 saúde). um aumento de diagnósticos de transtornos
de ordem mental e comportamental, revelando
Para os profissionais, a reunião é um uma escola que busca a normalização e que
momento de grande importância, que define os não tolera as diferenças4.
rumos para cada situação; no entanto, é aparen- Para a equilibrada condução do PSE e a cons-
te uma expectativa da educação de que os casos trução conjunta do trabalho, seria necessária
sejam acolhidos e encaminhados para o atendi- uma nova estrutura para trabalhar com a políti-
mento de especialidades médicas ou terapias, ca do programa, para transpor ações de controle
ampliando a rede de apoio daquela criança para e monitoramento, realinhando as expectativas
outras que não seja só a escola. Também ocorre possíveis de resolução de problemas por meio
a percepção de falta de aceitação de alguns da atuação dos profissionais e da comunidade,
casos por parte da saúde, gerando demora no cabendo ao Estado a resolução daquilo que
encaminhamento daquela criança. Por outro extrapola a capacidade da equipe18.
lado, os profissionais da saúde reclamam da As dificuldades para implementação do
alta demanda partindo da escola e nem sempre PSE são afetadas pela política das instituições,
conseguem prestar o atendimento imediato dos focadas em ações prescritivas e desarticuladas,
alunos que chegam à USF por meio de encami- utilizando técnicas e métodos tradicionais,
nhamento. Isso ocorre geralmente em casos de apresentando dificuldade de articulação in-
febre, problemas de pele, diarreia, suspeitas de tersetorial e falta de participação social19.
doenças contagiosas. Os profissionais da saúde,
por sua vez, preocupam-se com a questão da [...] essa reunião de matriciamento fica muito
expectativa de medicalização, laudos ou enca- distante porque nós da educação levamos os pro-
minhamentos desnecessários que criem rótulos blemas, mas a saúde acha que é sempre cedo para
ou sejam oriundos da intenção de controlar estar diagnosticando algo, eles muitas vezes não
comportamentos. No entanto, existem questões dão o retorno que nós esperamos. (P7 educação).
burocráticas que exigem o laudo para a escola,
por exemplo, para que o aluno tenha direito a Nem tudo vai se resolver com a ação do psicólogo, o
um mediador de inclusão e seja assistido por psicólogo colabora com a execução do PSE levando
um profissional que acompanhe e atenda às uma discussão firme a respeito do risco da super
necessidades especiais na rotina do processo medicalização das crianças, do risco de a gente
de ensino e aprendizagem. controlar excessivamente as crianças. (P6 saúde).
Com viés de controle, o programa projeta
a capacidade da condução dos profissionais Como um dos desdobramentos das reuni-
para prevenir e solucionar problemas oriundos ões de matriciamento, surgem os encaminha-
das mais diversas ordens sociais; e o poder mentos para o Capsi, CER e especialidades
médico se constitui, muitas vezes, por meio médicas. A principal objeção é a respeito da
da medicalização. A aposta na melhoria da demora para o atendimento das crianças por
produtividade por meio de políticas que arti- esses serviços, por causa da falta de profissio-
culam setores e que têm impacto direto na vida nais e de poucos equipamentos que colaboram
da população se estabelece mais na ideologia para a morosidade. Sendo assim, a resolução
do que na prática, pois utiliza-se das mesmas dessas questões escapa das mãos dos profis-
práticas conservadoras tentando suprir ne- sionais, dando a impressão de frustração e de
cessidades geradas por esse mesmo sistema falta de continuidade do trabalho iniciado. O
que centraliza as ações de saúde no Estado18. Capsi, apesar da grande demanda e defasagem

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112 Baroni JG, Silva CCB

de recursos humanos, como participa desse seu trabalho no território em que reside,
diálogo na reunião de matriciamento, já realiza fazendo visitas domiciliares às famílias, le-
uma triagem e garante a acolhida para os en- vantando informações sobre suas condições
caminhamentos, assim como uma devolutiva de vida e saúde, orientando e apoiando nas
mais pontual, tendo pelos profissionais o re- questões de saúde com relação ao grupo de
conhecimento de efetividade e importância. trabalho20.

[...] demanda tem, criança com dificuldade tem A reunião de matriciamento acontece uma vez
muita e às vezes ela vai para uma lista de espera por mês, geralmente a escola nos envia um e-mail
para uma avaliação no CER, geralmente é para dizendo quais são as crianças que necessitam ser
onde é encaminhado e fica às vezes o ano inteiro discutidas na reunião de matriciamento e fazemos
aguardando para passar com o especialista [...]. o levantamento para ver se são crianças que são
(P1 saúde). acompanhadas pelos ACS. (P1 saúde).

Às vezes tem a questão da carteirinha de vacinação O ACS é reconhecido como o elemento que
que a escola faz um levantamento da quantidade traz uma visão mais humanizada da família
de crianças que são vacinadas e que não são. Já com acesso a um relato mais franco, por causa
existe também uma planilha elaborada pelo PSE da proximidade e da familiaridade. Esses pro-
que a escola dá a devolutiva. (P8 educação). fissionais trazem em seus discursos pedidos
de ajuda das pessoas; e apesar de valorizados
Entre as outras ações previstas no PSE, a pelo grupo, carregam em sua fala a frustração
vacinação é uma das que firma a parceria da de casos não resolvidos e a impressão de que
escola com a USF, requisito obrigatório no ato algumas vezes o seu relato não é convicto o
da matrícula das escolas do município, sendo bastante para mobilizar ações mais efetivas
que esses dados são compartilhados com a para o atendimento da comunidade.
articulação do PSE. A coordenação do PSE Esse profissional vivencia o paradoxo de
propõe algumas ações ao longo do ano, mas dá uma dupla atuação, pois reside e trabalha
autonomia para que se desenvolvam outras a com a população do mesmo território. Suas
partir do território, porém isso não parece tão ações podem gerar expectativas que interfe-
claro ou possível para os profissionais. No final rem diretamente nas relações estabelecidas
de cada ano, o PSE envia uma planilha para o com a comunidade e equipe de trabalho – ao
levantamento de quais ações foram realizadas. mesmo tempo e de maneira bastante peculiar
que possibilita a construção de vínculos que
O Acesso à Saúde precisam ser gerenciados na dimensão das
práticas de cuidado21.
A classe O Acesso à Saúde, formada principal-
mente ao redor das palavras ‘ACS, mês, acon- Se a criança tem algum problema, nós orientadoras
tecer, vir, marcar, pedir, enfermeiro e UBS’, encaminhamos e tem a ACS, que também faz uma
aparece com a representação de 20,86% do parceria legal com a escola. Assim temos acesso,
corpus classificado e descreve as principais o ACS acaba trazendo a realidade da criança na
formas como as famílias acessam ou são aces- comunidade. (P7 educação).
sadas pela saúde, ressaltando a importância
atribuída pelo grupo à figura do ACS nessa É porque está acontecendo alguma coisa. Então
relação com a comunidade. tem casos, o ACS fala, o ACS vê e parece como se
O ACS facilita a entrada nos serviços de ficasse desacreditado, acham que não é bem tudo
saúde, pois intermedia a aproximação da co- isso, que não é esse o entendimento. (P4 saúde).
munidade com as equipes da ESF, realizando

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Percepção de profissionais da saúde e da educação sobre o Programa Saúde na Escola 113

Para além das ações do ACS, ao empreender A pandemia comprometeu o andamento


a intersetorialidade como forma de atuação que do programa, setorizou ainda mais as ações,
rompe resistências, agrega alianças e envolve afastando os profissionais e delegando tarefas
com prioridade as pessoas do território para ao PSE de contrapartida, seja de informações
tratar seus problemas de maneira integrada, sobre os alunos, seja de responsabilidade sobre
elege-se capacidade tanto aos profissionais os protocolos de saúde, bem como de moni-
como à população na busca de soluções que toramento dos casos de Covid-19 nas escolas.
estejam de acordo com sua realidade. Nesse O PSE é percebido pelos profissionais tal
contexto, a comunidade passa a ser sujeito, e como a superficialidade do conhecimento que
não objeto das ações, participando ativamente, esses apresentam sobre essa política pública
colaborando com as organizações públicas, e suas diretrizes. A organização no território
tomando as rédeas da proteção de sua saúde ainda se configura em práticas tradicionais
e garantindo a participação social22. da saúde escolar com campanhas e monito-
ramento da saúde aplicados aos estudantes.
Não houve menção sobre a consideração do
Considerações finais Projeto Político-Pedagógico das escolas no
reconhecimento do território ou como base
As percepções dos profissionais demonstra- para planejamento das ações.
ram que o programa instituiu a aproximação O PSE agrega potencial possibilidade de PS
dos setores saúde e educação configurando a que pode transcender o panorama biológico
principal ação com as reuniões de matricia- e ultrapassar ações sanitárias. Para tanto, é
mento em saúde mental com a participação das preciso vencer a lógica tradicional de geren-
escolas. As outras ações realizadas no território ciamento, oferecendo formação para ampliar
partem da GTI-municipal e são executadas os conceitos necessários que se traduzam em
pelos profissionais em práticas pontuais que práticas que oportunizem relações democráti-
envolvem vacinação, ações de saúde ocular cas entre os setores e favoreçam a participação
e bucal, avaliação antropométrica e outras. da comunidade, com ações que emerjam da
Ao mesmo tempo que é encarada como po- análise do contexto local, estejam inseridas nos
tência, essa dinâmica também é vista como um projetos pedagógicos das escolas e viabilizem,
entrave, conferindo uma ambiguidade na sua de fato, atenção, prevenção e PS.
percepção. O compartilhamento das responsa-
bilidades realizado na apresentação dos casos,
a troca de informações, e a possibilidade de Colaboradoras
encontrar apoio são apontados como principal
vantagem em trabalhar com o PSE. Baroni JG (0000-0001-7006-0349)* contri-
A intersetorialidade é percebida como im- buiu para elaboração, concepção, desenho do
portante metodologia fortalecedora da relação estudo, análise e interpretação dos dados, ela-
entre os setores, porém, seu conceito aparece boração do texto e revisão crítica do conteúdo.
reduzido às vantagens de trabalhar junto, tal Silva CCB (0000-0001-9250-6065)* contribuiu
como a discreta noção do conceito de saúde, para elaboração, concepção, planejamento e
sem considerar o contexto local para a proposi- análise do manuscrito; e para a elaboração e
tura de ações e a participação da comunidade. revisão da versão crítica do conteúdo. s

*Orcid (Open Researcher


and Contributor ID).

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114 Baroni JG, Silva CCB

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artigos/violencia-e-vulnerabilidade-no-territorio-
-do-agente-comunitario-de-saude-implicacoes-no-
Recebido em 10/05/2022
-enfrentamento-da-covid19/17810?id=17810&id=178 Aprovado em 09/09/2022
Conflitos de interesses: inexistente
10&id=17810.
Suporte financeiro: não houve

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TzW9KQb7qS/?lang=pt.

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