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Educação em Saúde: O Papel Do Enfermeiro Como Educador em Saúde No Cenário de Ietc

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REVISTA DA JOPIC | VOL.

02 | Nº 04 | 2019

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: O PAPEL DO ENFERMEIRO COMO


EDUCADOR EM SAÚDE NO CENÁRIO DE IETC
Health education: the nurse's role as a health educator in IETC scenario
Joelma de Rezende Fernandes1, Viviane da Costa Freitas Silva2, Weslley dos Passos Verissimo3, Nicoly
Texeira Vianna3, Mariana Leônidas Carneiro3

1Docente dos Cursos de Graduação em Enfermagem e Medicina do Unifeso – Teresópolis – RJ – BR, 2Docente do Curso
de Graduação em Enfermagem do Unifeso – Teresópolis – RJ – BR, 3Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
do Unifeso – Teresópolis – RJ – BR

Resumo

O estudo objetivou mostrar a importância do Enfermeiro no Programa Saúde na Escola e identificar a percep-
ção do discente do Curso de Enfermagem do Unifeso sobre as práticas educativas do Enfermeiro na Escola.
Utilizou a abordagem qualitativa, com a técnica de grupo focal para coleta de dados. Os resultados basearam-
se na análise de conteúdo.

Palavras-chave: Ensino/aprendizagem; Enfermagem; Educação em Saúde.

Abstract

The study aimed to show the importance of the nurse in the Health in School Program and to identify the
perception of the student of the Nursing Course of Unifeso on the educational practices of the School Nurse.
He used the qualitative approach, with the focal group technique for data collection. The results were based on
contente analysis.

Keywords: Teaching/learning; Nursing; Health education.

INTRODUÇÃO

A formação do Enfermeiro, nos últimos No início das atividades de Integração


anos, vem sendo orientada para atender a uma Ensino-Trabalho-Cidadania (IETC), os estu-
realidade e demanda constatada a partir das dantes são orientados e acompanhados por do-
necessidades de saúde da população. Vários fa- centes a desenvolverem as competências rela-
tores interferem e influenciam a direção dos cionadas à promoção da saúde e prevenção de
currículos, dentre eles: as políticas públicas de doenças, atuando em atividades práticas nas
saúde e educação, a organização dos serviços de escolas municipal e estadual junto às turmas
saúde e os indicadores epidemiológicos. que cursam o ensino fundamental e médio.
Nesse contexto, a formação deve estar Observa-se que o cenário das escolas
direcionada para a aproximação da realidade, que oferecem o ensino fundamental e médio é
com vistas a desenvolver, nos profissionais, de grande relevância para a discussão de assun-
uma prática que interfira e possa modificar po- tos relacionados à área da saúde e qualidade de
sitivamente o cenário de abrangência da sua vida. É um ambiente que impulsiona a desper-
atuação. tar a formação do senso crítico, moral, adotar
Ao ingressar na graduação em Enferma- hábitos básicos de vida saudáveis a partir da
gem, o estudante ainda não tem a amplitude da prática da Educação em Saúde.
atuação dos enfermeiros e vê como principais A prática das atividades de Educação em
campos de trabalho os hospitais e as unidades Saúde, no cenário da escola, possibilita a inte-
de atenção básica. gração saúde e educação nas suas concepções

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mais amplas, estabelecidas como políticas pú- das atividades práticas de IETC, que ocorrem
blicas no Brasil. em parceria com algumas escolas que ofertam
Na vida dos indivíduos, ela pode desper- o ensino fundamental e médio no município de
tar o senso de responsabilidade, reconhecendo- Teresópolis-RJ.
se o principal sujeito pelos cuidados da sua sa- Os estudantes são incentivados à produ-
úde, estendendo ao da comunidade, numa ção de cuidados individuais aos adolescen-
perspectiva de exercício efetivo na mudança tes/jovens e suas famílias e, também, à cons-
das condições de vida e saúde da coletividade. trução de projetos de intervenção, visando a de-
O conceito de Educação em Saúde vai mandas coletivas das comunidades em que es-
além da transmissão de conhecimentos. Trata- tão inseridos.
se de uma estratégia de ensino-aprendizagem A escola tem como missão primordial
utilizada como ferramenta para desenvolver as desenvolver processos de ensino-aprendiza-
atividades no cenário das escolas ou de grupos, gem, desempenhando o papel fundamental
que busca combinar a troca de experiências e para a formação e atuação das pessoas em to-
vivências entre os pares, configurando a refle- das as áreas da vida social.
xão, autoanálise, responsabilidade social/am- A articulação com outros setores da so-
biental, formação de conceitos, autonomia para ciedade permite à escola cumprir o seu papel
as práticas de saúde e de vida tanto a nível in- decisivo e responsável na formação dos estu-
dividual, como coletivo. dantes, na percepção e construção da cidada-
As estratégias de ensino-aprendizagem nia, bem como ao acesso às políticas públicas.
adotadas nas práticas das atividades de Educa- O Programa Saúde na Escola (PSE), ins-
ção em Saúde tendem a ser desenvolvidas de tituído pelo Decreto Presidencial nº
maneira lúdica, mediada por um profissional 6.286/2007, é uma política intersetorial da Sa-
da área afim, como uma forma de interação e úde e da Educação e é voltado às crianças, ado-
participação ativa entre os envolvidos. É um lescentes, jovens e adultos da educação pública
momento de encontro e produção de aprendi- brasileira que se unem para promover saúde e
zagem para todos os participantes, pois desen- educação integral.
volve as atitudes e competências básicas para Trata-se de uma política de governo que
uma aprendizagem efetiva, possibilitando uma se atenta aos princípios da intersetorialidade e
dinâmica de (des)construção e reconstrução de atende aos princípios e diretrizes do Sistema
conhecimentos e modos de andar a vida, par- Único de Saúde (SUS): a integralidade, a equi-
tindo e valorizando o conhecimento popular dade, a universalidade, a descentralização das
acerca de determinada situação. ações e a participação social.
Na aprendizagem mediada, todos parti- O PSE traz uma nova proposta política
cipam. A condução da atividade por meio de para a Educação em Saúde, quando almeja uma
roda, apresentação expositiva, dinâmica, pro- prática formadora ampliada aos preceitos da
blematização de algum fato relevante que seja cidadania e promove a articulação de saberes,
de interesse e objetivo do grupo é facilitada por integrando toda a comunidade escolar, alunos,
um mediador que se interpõe entre o aprendiz pais e sociedade em geral ao tratar a saúde e
e o mundo do conhecimento, das experiências educação de forma integral.
vividas, dos estímulos, e dos novos conheci- A atuação do enfermeiro pode ser reali-
mentos produzidos, facilitando a interpretação zada através do PSE, que surgiu com a finali-
e a (re)significação destes por meio da partici- dade de prestar atenção integral à saúde de to-
pação, do envolvimento e da motivação dos su- dos aqueles inseridos na rede básica de ensino.
jeitos. A educação em saúde na escola é o pro-
No primeiro ano do Curso de Graduação cesso pelo qual se pretende colaborar na forma-
em Enfermagem do Centro Universitário Serra ção de uma consciência crítica no escolar, que
dos Órgãos - Unifeso, o estudante tem, como resulte na aquisição de práticas que visem à
objetivos de aprendizagem, desenvolver uma promoção, manutenção e recuperação da pró-
das competências do currículo, que é o cuidado pria saúde e da comunidade em que está inse-
e a atenção à saúde do adolescente no cenário rido (FOCESI, 1992).

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De acordo com o Código de Ética dos e a atuação do profissional de saúde como pro-
Profissionais de Enfermagem, Art. 70, espera- motor da saúde em cenários adversos daqueles
se que o enfermeiro atue como “educador” para em que se pensa serem os únicos possíveis à re-
os outros membros da equipe de enfermagem, alização, neste caso a escola. A unidade escolar
assim como para os seus clientes. como instituição indispensável para educação
Ao considerar essa atribuição do Código dos indivíduos contribui para a formação de ci-
de Ética ao profissional Enfermeiro, o PSE, es- dadãos ativos e críticos, além de promover uma
tabelecido como uma política que integra as melhor qualidade de vida da sociedade.
ações do setor saúde e educação, direciona a es- No desenvolvimento escolar de uma
tabelecer, no currículo do graduando, a forma- pessoa, é importante a participação dos pais,
ção de competência para essa prática na vida educadores e profissionais de saúde para a for-
profissional, reconduzindo o local de atuação, mação de hábitos saudáveis e para a construção
rompendo muros para cuidar da saúde e desfo- de uma atitude consciente em relação à quali-
cando, principalmente, o ambiente hospitalar dade de vida.
como o único local que se produz saúde. Reconhecer que a prática educativa é um
Essa condição de intervenção nos cuida- caminho para possibilitar aos indivíduos (su-
dos à saúde no ambiente escolar possibilita a jeitos sociais, históricos e culturais) o (re)co-
intervir diretamente nos antecedentes que são nhecimento para a conquista de habilidades
propulsores dos agravos e problemas de saúde para a tomada de decisões quando se busca
e, principalmente, suas complicações mais gra- meios para melhorar a qualidade de vida, o En-
ves. Permite aos indivíduos, famílias e comuni- fermeiro desconecta-se do papel de transmis-
dades reconhecerem seus deveres e sua impor- sor e detentor do conhecimento para ser o faci-
tância na mudança da dinâmica dos processos litador que medeia a interação e propicia o em-
de adoecimento, a partir da adoção de hábitos poderamento nas necessidades de mudanças
saudáveis. sociais percebidas por aquele determinado
Cabe destacar que esse movimento, de grupo, despertando o resgate da cidadania.
maneira efetiva, permite ecoar um comporta- Lima (2005) resgata, historicamente, o
mento e percepção mais crítica e altruísta na papel do enfermeiro como educador em saúde,
defesa dos direitos à saúde. Nesse contexto, o que se encontra dentre os profissionais que de-
Enfermeiro irá atuar com a mesma responsabi- sempenha um importante e necessário papel
lidade e exigência do exercício profissional, po- nas relações entre seres humanos, sociedade,
rém, em local, público e realidade diferentes do pesquisa, saúde e educação.
que se concebe em relação à atuação profissio- Uma de suas funções se dá por promover
nal. a formação do conhecimento em saúde indivi-
O interesse pelo tema “Educação e Sa- dual e coletiva, de acordo com a realidade de
úde” surgiu, a partir de experiências como do- cada pessoa e grupo social, oportunizando, as-
cente no cenário de IETC do primeiro ano do sim, a promoção da saúde sob o foco de atitudes
Curso de Graduação em Enfermagem do Cen- saudáveis no modo de se viver.
tro Universitário Serra dos Órgãos, onde é de- Ao se considerar que o Enfermeiro é um
senvolvida a atividade de educação em saúde dos pilares para a implementação das políticas
na escola e percebe-se a baixa adesão dos estu- públicas de saúde, a aproximação da formação
dantes da graduação nas atividades e pouca universitária e a real atuação profissional é algo
motivação pela área. a ser estimulado nos currículos para estreitar,
Com o objetivo de atender as competên- de maneira efetiva, a articulação entre ensino e
cias do curso e promover uma formação com- prática. A mudança da formação é possível
prometida com as questões de saúde da popu- quando se transforma as práticas de saúde.
lação, seja onde for o cenário, entende-se que o Desse modo, entendendo ser de grande
cenário da escola é um local de produção de relevância o estudo a partir de uma estratégia
cuidados. de ensino-aprendizagem na formação do pro-
Justificou-se esse estudo pela relevância fissional da área da saúde de forma inovadora,
do tema na atualidade sobre a saúde na escola que seja capaz de promover saúde e prevenir

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doenças em ambientes diferentes daqueles uso de gravador durante as entrevistas e/ou en-
considerados instituições de saúde, representa- contros que só ocorreram quando permitido
tivas da realidade da prática profissional, dis- pelos participantes.
cutidas no âmbito da academia, levando para a Com a finalidade de garantir o anoni-
saúde escolar. mato dos estudantes/participantes deste es-
Assim o objetivo desse foi analisar a in- tudo, cada um foi identificado no trabalho com
serção dos estudantes do primeiro ano do a letra E (Estudante) maiúscula e com um nú-
Curso de Graduação em Enfermagem em rela- mero de acorda com a sequência das falas (E1,
ção ao processo de formação do enfermeiro no E2 e etc.).
ambiente escolar, orientado pelo Programa Sa- Para a coleta dos dados, utilizamos a téc-
úde na Escola. nica de grupo focal. Foi realizado o encontro
com entrevista gravada com grupo de 10 parti-
METODOLOGIA cipantes. O encontro ocorreu em uma sala sele-
cionada do Unifeso, sendo pré-requisitos ser
Esta pesquisa desenvolveu-se a partir do em local agradável e confortável e que propor-
tipo de estudo de caráter exploratório e descri- cionasse privacidade aos participantes. Houve
tivo, com abordagem qualitativa. O grupo par- agendamento prévio e de acordo com a dispo-
ticipante foi composto de 10 estudantes do nibilidade dos estudantes, não interferindo nas
Curso de Graduação em Enfermagem do Uni- atividades acadêmicas dos mesmos.
feso, que desenvolvem a IETC nas escolas do O campo da pesquisa qualitativa se
município de Teresópolis. constitui de diversas possibilidades metodoló-
O estudo está vinculado à linha de pes- gicas, as quais permitem um processo dinâmico
quisa Estratégias de Ensino-Aprendizagem na de aderência a novas formas de coleta e de aná-
formação do profissional da área da saúde, que lise de dados. Dentre essas possibilidades, o
visa a estudar os impactos, fragilidades e po- grupo focal representa uma técnica de coleta de
tencialidades de diferentes estratégias de en- dados que, a partir da interação grupal, pro-
sino aprendizagem aplicadas aos cursos de for- move uma ampla problematização sobre um
mação de profissionais da área de saúde. tema ou foco específico.
Os sujeitos da pesquisa foram os estu- A técnica de coleta de dados através dos
dantes do primeiro ano do Curso de Graduação grupos focais foi desenvolvida durante a Se-
em Enfermagem inseridos no cenário da IETC, gunda Guerra Mundial, mas apenas nos últi-
nas escolas do município de Teresópolis. mos 40 anos tem sido usada com mais frequên-
A coleta de dados foi realizada de agosto cia, principalmente nas pesquisas sociais em
a setembro de 2016. A pesquisa foi submetida que se pretende atingir um número maior de
ao Comitê de Ética em Pesquisa do Unifeso, pessoas ao mesmo tempo (WESTPHAL, 1996).
através da Plataforma Brasil e cumpriu com to- A análise dos dados ocorreu de acordo
dos os princípios éticos que nortearam a pes- com a proposta da análise de conteúdo de Lau-
quisa envolvendo seres humanos que se encon- rence Bardin (1977). Baseia-se em um conjunto
tram apoiados nos requisitos de autonomia, de técnicas de análise das comunicações, vi-
não maleficência, justiça e equidade, dentre as sando por procedimentos sistemáticos e objeti-
outras exigências explícitas na Resolução vos de descrição do conteúdo das mensagens,
466/12 (BRASIL, 2012). obter indicadores qualitativos, que permitam a
Após aprovação e liberação do projeto, inferência de conhecimentos relativos às condi-
foi realizada a coleta dos dados, sendo apresen- ções de produção/recepção das mensagens.
tado aos estudantes de enfermagem do pri-
meiro ano noturno, o objetivo e a metodologia RESULTADOS E DISCUSSÃO
da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), distribuído com uma via Os dados referentes à caracterização dos
para ciência e aceite de cada um, assim como o estudantes com relação ao gênero revelam que
a maioria dos estudantes/participantes era do
sexo feminino (60%). Com relação à idade dos

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estudantes, variou entre 18 e 32 anos com pre- a partir de reflexões sobre determinada situa-
dominância de estudantes com idade entre 18 a ção real e a que se almeja para o futuro.
20 anos.
As respostas foram analisadas e emergi- “[...] acho muito importante essa integração no colégio,
ram em quatro categorias que foram discutidas porque a gente aborda vários temas importantes para
toda sociedade como DST, dengue, doenças [...] explica
sistematicamente e fundamentadas a partir do como ocorre, a gente fala de prevenção, de tratamento,
referencial teórico. prescreve para eles cuidados e orientações [...] É uma
forma de orientar e prevenir qualquer tipo de doença.
CATEGORIA 1: Ambiente Escolar: a interface Prevenção e promoção de saúde” (E 4).
da Educação em Saúde para a formação do En-
“Orientação, promoção de saúde, conscientização” (E
fermeiro. 7).

Os estudantes do Curso de Graduação “É levar um pouco do conhecimento para dentro das es-
em Enfermagem do Unifeso, desde o primeiro colas, fazer um plano de saúde básico com elas” (E16).
ano da sua formação, percebem, por meio da
participação ativa e construção do conheci- O desenvolvimento de práticas pedagó-
mento partindo de uma realidade, a prática do gicas perpassa a adequação do planejamento
Enfermeiro fundamentada em ações educati- das atividades em que os estudantes desenvol-
vas, de acolhimento e aconselhamento. vem competências a partir de um diagnóstico
Neste contexto, eles (re)significam a re- da realidade e adequa sua interação com o pú-
levância das atividades voltadas para as neces- blico. Essa estratégia de ensino-aprendizagem
sidades de cuidados pertinentes à complexi- possibilita desenvolver conhecimentos para a
dade da atenção primária e problemas de saúde prática profissional que norteiam os princípios
que persistem na sociedade e na vida das pes- do gerenciamento em Enfermagem e estraté-
soas, advindos de possíveis falta de conheci- gias de intervenção a partir de situação consta-
mentos básicos e adoção de comportamentos tada.
seguros e saudáveis, principalmente no que se Valorizar o território em que os sujeitos
refere à saúde dos adolescentes. vivem, sua história, cultura e economia devem
As atividades desenvolvidas pelos estu- ser levados em conta para compreender a dinâ-
dantes permitem a ampliação da percepção do mica da vida daqueles que circulam e vivem,
processo saúde-doença no que se refere aos pois esses aspectos interferem muito nos acha-
seus fatores determinantes e condicionantes, dos dos fatores que potencializam e dos que fra-
impulsionando a articulação entre a Instituição gilizam a condição de vida e saúde de uma co-
de Ensino Superior, a comunidade e o fortale- letividade, podendo produzir saúde e/ou doen-
cimento de se implementar políticas públicas ças.
que atendam às necessidades reais da socie-
dade. “[...] na nossa escola nós fizemos além de palestras, uma
feira onde explicamos sobre as DST, os riscos que elas
A oportunidade de estreitar vínculos en- podem causar, distribuímos camisinhas e foi um ambi-
tre a produção do conhecimento e estimular a ente tão legal que a gente conseguiu criar o que nós re-
reflexão para uma escolha de vida mais saudá- almente conseguimos ver que eles estavam saindo dife-
vel, considerando o conceito ampliado de sa- rente, não estavam saindo como entraram para conver-
úde, na integralidade e na produção de cidada- sar com a gente, estavam saindo realmente com aquele
conhecimento tipo, eu vou me cuidar eu estou correndo
nia e autonomia, faz com que os graduandos e perigo [...]” (E 6).
os estudantes das escolas de nível fundamental
e médio se horizontalizem na construção de “[...] essa feira que ajudou eles prestarem mais atenção
conceitos e concepções mais próximos da reali- e se cuidarem” (E 2).
dade e mais possíveis de serem aplicados no co-
tidiano. O estudante de graduação em enferma-
A construção de valores, crenças e ma- gem, neste cenário de ensino-aprendizagem,
neiras de se relacionar com o mundo tem na es- pode se deparar com questões oportunas e re-
cola um espaço privilegiado para essa formação

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ais de estudo a partir de situações de risco e vul- Em relação aos Conteúdos Curriculares,
nerabilidade social, à saúde e ao ambiente, po- apresentados pelas DCN do Curso de Gradua-
dendo agir diretamente sobre eles próprios, ção em Enfermagem (LEOPARDI, 2001), é
mas também em suas famílias, comunidade e clara a indicação de “conteúdos pertinentes à
território. capacitação pedagógica do enfermeiro, inde-
Tais circunstâncias direcionam as práti- pendente da Licenciatura em Enfermagem.
cas dialógicas e interativas a partir de um pro- Para o desenvolvimento desse aspecto
blema de saúde que possam evitar ou estabele- relacionado à capacitação pedagógica, o apren-
cer controle sobre dado problema de saúde a dizado da postura de educador diz respeito à
nível individual e coletivo. A Lei Orgânica da organização do curso, com relação à sua estru-
Saúde (Lei 8.080/90), dentre outros aspectos, turação, convergentes à valorização das dimen-
percebe a educação como fator influente ao es- sões éticas e humanísticas, desenvolvendo, no
tado de saúde do indivíduo. graduando, atitudes e valores orientados para a
cidadania e para a solidariedade, a partir de
“[...] apresentamos palestras sobre dengue, chikun- uma análise crítica e reflexiva de seu papel
gunya e zika, explicando a importância do cuidado, a como educador.
prevenção para evitar proliferação do mosquito e a im-
portância de buscar atendimento de serviço de saúde Segundo Pereira (2003), a educação e a
em suspeita das doenças” (E 1). saúde são espaços de produção e aplicação de
saberes destinados ao desenvolvimento hu-
“Falamos sobre tabagismo na escola. Falamos do crack, mano, onde se pode notar interseção e modo de
sobre a maconha, sobre as bebidas, os vícios em apare- operá-las que muitas vezes é feito inconscien-
lhos celulares e os prejuízos à saúde, porque muita gente
acha que não causa, mas causa” (E 3).
temente.

Observa-se que a abordagem das neces- CATEGORIA 2: Produção de competências


sidades de atenção à saúde, no ambiente esco- no ambiente escolar: percepção dos estudantes
lar, ainda se perfaz em uma abordagem de ca- de Enfermagem do Unifeso.
ráter biomédico, mantendo um distanciamento
de práticas emancipatórias correlatas à promo- Segundo Lima (2005), competência é a
ção da saúde. Há que se refletir no processo de capacidade de utilizar diferentes recursos para
formação do Enfermeiro para a atuação em solucionar, com pertinência e eficácia, uma sé-
práticas pedagógicas que remetam ao desem- rie de situações, mobilizando recursos cogniti-
penho do papel de educador comprometido vos, afetivos e psicomotores.
com o desenvolvimento e responsabilidade so- Aprender é um ato de conhecimento da
cial nos cuidados. realidade concreta, isto é, da situação real vi-
A abrangência da prática da edu- vida pelo estudante, que se dá através de uma
cação em saúde transcende a dimensão bioló- aproximação crítica dessa realidade. A aproxi-
gica, reverberando significativamente na mobi- mação da prática profissional proporciona, ao
lização e articulação com as dimensões ambi- estudante, aprendizagem significativa, cons-
entais, políticas, culturais, espirituais, dentre trução de conhecimentos, habilidades e atitu-
outras, destacando-se a complexa importância des, com autonomia e responsabilidade.
do papel do enfermeiro comprometido social-
“[...] é algo muito importante porque você vê presente,
mente e sensível aos problemas de saúde. mesmo estando em um ano precoce, o primeiro ano do
A proposição das Diretrizes Curriculares curso, você já vê implantado a saúde, promovendo a sa-
Nacionais (DCN), aponta como estratégia de úde” (E10).
responder aos fenômenos do processo saúde-
doença, a articulação com outras profissões e Os cenários eleitos devem possibilitar ao
áreas, bem como com diversos setores da soci- estudante utilizar estratégias de imersão na re-
edade, a fim de assegurar o princípio da inte- alidade, para vivenciar e refletir sobre as situa-
gralidade da atenção à saúde. ções a serem registradas como conhecimentos
adquiridos.

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“[...] importância que a gente passa nas orientações, “A gente vê que estamos inseridos não só dentro da es-
nas práticas educativas e também é uma forma de in- cola, mas dentro da família, dentro da comunidade, vai
tervenção que a gente faz em educação e saúde. Isso é muito mais além [...] a gente realmente está presente”
muito importante porque não só fortalece o nosso co- (E 8).
nhecimento, mas também nós temos a oportunidade de
transmitir para eles” (E 8). “Até mesmo porque os jovens de hoje são o futuro, a sa-
úde dos jovens garante um futuro saudável para o
“[...] eu acho que é enriquecedor para os estudantes e nosso país para nossa comunidade de forma geral”
para os alunos da escola, porque eu não me imaginava (E1).
falando em público, eu nunca gostei disso [...] foi fan-
tástico [...] conseguimos sim alcançar nossos objetivos e Quando tratamos de educação e saúde,
eu me descobri assim, nossa me senti muito bem mesmo
em fazer parte daquele grupo, em poder participar e segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais,
contribuir” (E 4). percebemos que eles orientam quanto à preo-
cupação que devemos ter em procurar assegu-
“[...] quando a gente vai com base naquilo que a gente rar aos educandos uma aprendizagem que mo-
está querendo transmitir para alguém você se sente difique as atitudes e os hábitos de vida e que
confiante e transmite essa confiança para eles. Acho que
isso que faz fortalecer ainda mais nosso aprendizado” envolvam o ser humano, a saúde e o meio am-
(E 3). biente. Entende-se educação para a saúde
como fator de promoção e proteção à saúde e
Os estudantes, desde o ingresso no estratégia para conquista dos direitos da cida-
Curso de Graduação em Enfermagem, são colo- dania (BRASIL, 2015).
cados em contato com a prática profissional e a O mundo do trabalho requer um Enfer-
realidade cotidiana da atenção à saúde, ampli- meiro que desenvolva suas atividades de edu-
ando os cenários de atuação, propiciando visão cação em saúde, visando à melhoria da saúde
concreta do sistema de saúde e de sua comple- do indivíduo, da família e da população em ge-
xidade. ral. Sendo ele um educador, é necessário orien-
Todos os estudantes que participaram tar a população para que esta tome atitudes e
da pesquisa afirmaram ser de grande impor- faça escolhas saudáveis para suas vidas.
tância o desenvolvimento de ações de educação
em saúde em âmbito escolar e justificaram CATEGORIA 3: Facetas da saúde-doença na
como ferramenta para desenvolvimento de há- escola: o encontro com os problemas de saúde
bitos saudáveis, consciência sobre a saúde e para o estudante do Curso de Enfermagem do
meio para se garantir a prevenção de doenças e Unifeso.
a qualidade de vida.
Após leitura das respostas, os problemas
“[...] é gratificante para o estudante de enfermagem que de saúde mais citados foram: falta de preven-
você realmente pode mudar um pouco a vida de uma ção para DST, falta de sexo seguro, álcool e dro-
pessoa que poderia contrair alguma doença e agora vai gas, má alimentação, gravidez na adolescência.
se prevenir para não acontecer” (E 6).

“[...] Acho que o principal trabalho que a gente incre- “[...] o problema de saúde principal é a falta de preven-
mentou nas escolas foi a RD (Redução de Danos) onde ção, é falta de entendimento de quão é importante o uso
a gente instrui, passa para que os danos sejam pelo me- da camisinha, do quão é importante prevenir, no caso
nos reduzidos [...] é a Política de redução de danos” (E evitar o tabagismo, o álcool, praticar exercícios físicos,
10). acho que foi essa questão [...] não em si a doença, mas
sim os riscos a vulnerabilidade que eles apresentam” (E
“Eu acho que o objetivo é exatamente promover, promo- 8).
ver no sentindo de fazer com que eles se conscientizem,
se alerte no sentindo de que não só ficar na escola, mas “Acho que o problema maior na escola é o uso de álcool
eles transportarem isso para a comunidade, dentro da e droga né, que na juventude é muito comum e a gente
família, porque aí você tem aquela troca de volta. Por- orienta mais em relação a isso [...]” (E 11).
que a gente quando vai na escola acho que a gente não
só dá palestra, mas a gente aprende também e tem “Na nossa escola muitas pessoas estavam fumando no
aquela troca realmente deles, a gente quer a resposta pátio, na hora do recreio [...]” (E 7).
[...]” (E 3).

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“Encontramos muito jovens hipertensos que nem ima- oferecer caminhos que possibilitem transfor-
ginavam ser, ou nem passaram pela cabeça né de poder mações nas pessoas, famílias e comunidades.
existir essa doença entre os jovens [...] (E 1).
CONCLUSÃO
A educação em saúde na escola é o pro-
cesso pelo qual se pretende colaborar na forma-
A escola sendo o principal ambiente
ção de uma consciência crítica no escolar, que
para o desenvolvimento de relações, do senso
resulte na aquisição de práticas que visem à
crítico e político para a construção de valores
promoção, manutenção e recuperação da pró-
pessoais e maneiras de conhecer e viver em so-
pria saúde e da comunidade em que está inse-
ciedade, é o que faz por merecer uma atenção
rido (SOUZA, 2007).
maior quanto à educação em saúde.
As intervenções lúdicas na prática da
CATEGORIA 4: Programa Saúde na Escola:
Educação em Saúde são eficazes para a
abordagem no currículo do Curso de Enferma-
(trans)formação e aprimoramento das relações
gem do Unifeso.
e objetivos estabelecidos, diante dos cuidados
em saúde. Para termos a educação em saúde
Todos os estudantes que participaram
como ferramenta eficiente na intervenção do
da coleta de dados responderam conhecer o
processo saúde-doença, de maneira compro-
Programa Saúde na Escola (PSE) e identifica
metida com a formação de cidadãos autôno-
como ferramenta para realizar atividades de
mos, críticos, conscientes e corresponsáveis
prevenção, promoção, atenção e educação em
para a melhoria das condições de vida, faz-se
saúde, tornando, assim, mais eficaz a assistên-
necessário investir esforços para implementar,
cia em saúde à comunidade escolar.
de maneira sistemática, essa prática no ambi-
“É uma política de 2008 [...] (E 8). ente escolar.
Repensar os currículos dos Cursos de
“[...] onde se oportuniza o compartilhamento de saberes Graduação em Enfermagem para viabilizar o
dos mais variados possíveis na busca de soluções das processo de formação a partir da construção e
mais diversas problemáticas [...]” (E3). formação de profissionais que estejam afeitos a
“[...] é uma troca [...]” (E 3). essa concepção (trans)formadora das práticas
de intervenção na sociedade e legitimar a pre-
Sendo assim, a enfermagem, inserindo- sença do profissional Enfermeiro na escola, é
se no ambiente escolar, pode conhecer a reali- um caminho promissor para melhoria das con-
dade vivida por esta população, promover dições de saúde relacionadas a fatores determi-
ações junto a mesma de acordo com suas reais nantes e causais modificáveis no cotidiano da
necessidades e discutir assuntos que muitas ve- vida.
zes são omitidos pelos mesmos. A missão da educação se resguarda não
Sendo assim, pode criar estratégias que na transmissão dos valores e concepções do
propiciem a conscientização dos estudantes, profissional, mas sim no desafio de criar possi-
tanto do nível fundamental quanto do nível mé- bilidades para novos conhecimentos construí-
dio, promovendo desenvolvimento e constru- dos coletivamente e viáveis de serem aplicados
ção de conhecimentos de maneira saudável, para a transformação de uma realidade com
com qualidade e fortalecendo a formação de riscos de agravos e comprometimento dos pa-
novos profissionais. O processo de ensino- drões de qualidade de vida da sociedade.
aprendizagem, por meio da integração do Pro- Essa oportunidade de vivência do estu-
grama Saúde na Escola no currículo do Curso dante de graduação no cenário escolar oportu-
de Enfermagem do Unifeso, visa a uma forma- niza um aprendizado significativo através da
ção fundamentada no modelo da promoção da troca de experiências entre os envolvidos.
saúde. O enfermeiro é o principal mediador A formação do Enfermeiro substanciada
para que isso ocorra, por ser um educador pre- na inserção em atividade prática, o mais preco-
parado para propor estratégias, ser transfor- cemente possível, faz com que se desenvolva
mador das suas próprias práticas, no intuito de uma corresponsabilidade significativa na sua

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REVISTA DA JOPIC | VOL. 02 | Nº 04 | 2019

vida acadêmica, desenvolvendo a prática da es- Saúde Escolar, 1992; 2: 19-21 Panam, v. 120, n.
cuta, do diálogo, estimulando a criatividade e 6, p. 472-481. 1992
tornando os sujeitos do ambiente escolar mais
questionadores e ativos nos processos de mu- LEOPARDI, M. T. Metodologia da pesquisa na
danças das necessidades de saúde. saúde. Santa Maria: Pallotti, 2001
Observou-se que a prática da educação
em saúde deve permanecer no currículo do LIMA, V.V. Competência: distintas abordagens
Curso de Graduação em Enfermagem, desde o e implicações na formação de profissionais de
primeiro período, fortalecendo a formação ba- saúde. Interface Comun Saúde Educ. 2005
seada nos princípios da integração entre a teo-
ria e a prática, para que o acadêmico possa ir PEREIRA, A.L.F. As tendências pedagógicas e
construindo seu conhecimento articulado nas a prática educativa nas Ciências da Saúde. Cad.
experiências que for vivenciando, correlacio- Saúde Pública, v.19, n.5, p.1527-1534. Rio de
nando-o à teoria. Janeiro, 2003

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BARDIN, L. Análise de conteúdo. Trad. Luís dado ao cuidador leigo. Rev. Latino-am Enfer-
Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edi- magem, Ribeirão Preto, v.15, n.2, p. 191 -197
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www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em: 07 nov.
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Comis- 2017
são Nacional de Ética em Pesquisa – CONESP.
Normas para pesquisas envolvendo seres hu- WESTPHAL, M. F.; BÓGUS, C. M.; FARIA, M.
manos. Resolução CNS 466/12. Serie Cadernos Grupos focais: experiências precursoras em
Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2012 programas educativos em saúde no Brasil. Bol.
Oficina Sanit. 1996
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretária de Vi- ____________________________________
gilância em Saúde. Secretária de Atenção à Sa- Contato:
úde. Política Nacional de Promoção da Saúde: Nome: Joelma Rezende Fernandes
PNSPS: revisão de Portaria MS/GM n° 687, de e-mail: enf.adv.joelma@gmail.com
30 de março de 2006. Brasília, 2015
Apoio financeiro: PICPq - Programa de Iniciação
FOCESI, E. Uma visão de Saúde escolar e edu- Científica e Pesquisa do Unifeso
cação em saúde na escola. Revista Brasileira

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