Grupos Sociais
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GUANICUNS: Rev. Faculdade de Educao e Cincias Humanas de Anicuns FECHA/FEA - Gois, 02, 155-170, 2005.
Resumo
Neste artigo, apresento a densidade da populao portuguesa no medievo, a partir doa arrolamentos dos besteiros, apresento ainda como se encontrava divida a sociedade e as suas subdivises, ou, melhor os seus subgrupos. Destaco tambm as vrias atividades comerciais que existiram durante o reinado de D. Dinis (1279-1325) bem como as medidas tomadas por este monarca para impulsionar estas atividades, tanto internas quanto externas. Cito, por exemplo, a concesso de Cartas Forais para a constituio de feira em determinados Concelhos.
Abstract
In this article, I introduce the density of the Portuguese population in medieval era, starting from the enrollment dos bestirs; still present how the society was divided and its subdivisions, or, better, its subgroups. I also approach the several commercial activities that existed during the reign of D. Dinis(12791325) as well as the measures taken by this monarch to impulse these activities, as internal as external. I quote, for example, the Forais letters concession for the fair constitution in certain Councilors.
Palavras-chave
Idade Mdia; Portuguesa; D. Dinis; Populao; Ordens; Diviso Social; Comrcio.
Key -words
Average age; Portuguese; D. Dinis; Population; Social Division; Orders; Commerce.
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sculo XV. Ele utilizou tambm o princpio de clculo, a partir do nmero de besteiros existentes no reinado de D. Afonso III, clculo feito entre 1260-1279. Esse trabalho recebeu vrias crticas de Gama Barros, de A. Herculano e Costa Lobo, todavia, esses ltimos, avaliaram a possibilidade de se utilizar esse procedimento para se ter uma idia aproximada da populao da poca, reconhecendo a importncia daquela fonte, manuseada por Soares de Barros. Esse tema no tem sido a preocupao de muitos historiadores, todavia a tese de doutoramento de Avelino de Jesus da Costa (Costa, Coimbra, 1959) trata deste assunto e apresenta vrios dados que permitem avaliar aproximadamente a populao que existia nos territrios ao norte do Douro poca em tela, isto , o final do sculo XIII e princpio do XIV. O documento de que ele se serviu contempla o nmero de besteiros de algumas localidades, poca de D. Dinis. Alm deste, h ainda, alguns outros documentos do perodo de 128790, os quais tratam do nmero de tabelies que havia em cada terra. Considerando, outrossim, que D. Dinis havia estabelecido um imposto geral sobre os tabelies de todo o pas, todos esses dados nos do uma boa idia de como estava distribuda a populao portuguesa desse perodo. Mas o que importa reter so as concluses importantes a que chegou, mais tarde, Antnio Henrique de Oliveira Marques, ilustre investigador e professor da Universidade Nova de Lisboa:
A regio mais habitada do reino era a do Entre Douro e Minho, com 1 lb de imposto de cada 2,2 km2 e 1 tabelio por cada 104 km2. Seguiase-lhe a Estremadura, que pagava 1 lb. por cada 2,9 km2, com 1 tabelio por 171 km2. A Beira e Trs- os-Montes vinham depois, a primeira com 1 tabelio por cada 385 km2 e 1 lb. por cada 7, a segunda com 1 por 520 km2 e 1 lb. por 6 km2. Por ltimo, tnhamos o Alentejo, cujo nmero exacto de tabelies desconhecemos, mas que no devia ser superior a 25. Sendo assim, a densidade seria de 1 tabelio por cada 1200 km2, a mais baixa do Pas, com o pagamento de 1 lb. por 21 km2, o que prova a rarefao demogrfica e o consequente diminuto volume de transaces e de outros actos que requeriam tabelio. (Marques, 1980: 51-92).
Assim, a regio densamente povoada era o norte Atlntico, entre o Douro e o Minho, local em que se arrecadava mais imposto e tinha um nmero maior de tabelies. Em segundo lugar, vinha a Estremadura, seguida pela Beira e Trs-os-Montes. A regio menos povoada era o Alentejo, pois no se sabe o nmero exato, ou porque no foi registrado no predito documento ou porque no foi possvel calcul-lo.
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Feitas essas consideraes iniciais, recordemos tambm que a sociedade portuguesa de ento estava organizada em trs Ordens: clero, nobreza e povo. Essas Ordens, dependendo dos interesses em disputa, aliavam-se algumas vezes contra o monarca ou, ao lado deste, contra alguma outra Ordem. Cada Ordem tinha o seu lugar e a sua funo social. Assim, no topo da hierarquia social estavam os religiosos (oradores), isto , aqueles homens que eram os intermedirios entre o Cu e a Terra, os que faziam chegar s oraes do povo de Cristo a Deus e os nicos que podiam interpretar a palavra de Deus iluminando o mundo dos crentes; abaixo do clero estava nobreza (bellatores), esta recebeu de Deus a funo, a misso de manuteno da ordem; e ocupando a posio mais humilde na hierarquia social estavam os trabalhadores (laboratores), destinados a trabalharem para o bem comum. Na verdade, consoante essa viso tripartida e funcional da sociedade, Deus pode ser considerado como o maior responsvel pela desigualdade social que existia, pois fora Ele quem havia determinado a ordem existente na natureza, o lugar e a funo que cabia a cada pessoa no mbito da sociedade, embora, como sabemos, os idelogos dessa concepo jamais ousaram chegar a essa concluso. O clero, por sua vez, subdividia-se em secular, o qual compreendia os bispos, e dignitrios subalternos, os procos e os integrantes das colegiadas (Coelho & Homem, 1996) o clero regular era composto por clrigos que geralmente viviam regidos por uma Regra e faziam parte duma ordem religiosa, por exemplo: os beneditinos, os cistercienses, os franciscanos. Ainda havia as ordens militares - Ordem dos Hospitalrios, Ordem Militar da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo (criada no lugar da Ordem do Templo ou dos Templrios pelo Rei D. Dinis), ou simplesmente Ordem de Cristo e a Ordem de So Tiago. (Coimbra, 1963: 21-33) A sua homogeneidade e coeso revelavam-se muito mais do ponto de vista religioso e intelectual do que social ou econmico. Para essa coeso, contriburam, indubitavelmente, o Direito Cannico, a rgida hierarquia eclesistica e a prpria concepo que se tinha acerca do poder espiritual, cuja raiz era diferente da do poder civil. (Saraiva, 1979: 57). A nobreza, por sua vez, estava subdividida em alta nobreza - composta pelos ricos - homens que representavam apenas 10% do total. Todavia, controlavam os principais cargos administrativos do reino, junto com alguns homens do clero, e possuam as melhores terras e vrios outros rendimentos. A mdia nobreza era composta pelos infanes1 que eram nobres no investidos com os poderes civil ou militar. (Barros, 1945: 359). Podemos ainda dividir a Nobreza em dois grandes grupos, Nobreza de Corte e Nobreza Regional. O primeiro grupo englobava vrias famlias que mantinham
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ligaes com os meios cortesos e que possuam um grande patrimnio. O segundo grupo era mais restrito poltica e economicamente. Encontramos como membros da Nobreza de Corte famlias que nos sculos XII e XIII ocuparam os principais cargos na administrao do reino, essas famlias compunham tambm a alta Nobreza. A Nobreza Regional pode-se percebla atravs do seu patrimnio e das suas alianas matrimonias. Podendo ser dividida ainda em uma Nobreza mdia regional e uma Nobreza Inferior. Faziam parte da Nobreza de Corte, a famlia real, a famlia Souza, a famlia Chacim que mantinham ligaes com as famlias Bai, Barbosa, Riba de Vizela, Briteiros, Azevedo Velho, Barreto, Ribeiro Cunha, Correia, A Nobreza Regional era composta pela famlia Resende, Cerveira, Paiva, Taveira, Fonseca, Al Coforado e mantinham relaes com a famlia Barroso, Teixeira, Penela, Moela, Canelas, Bravo, Bastos, Vides, Pios, Alvelo, Carvalhois, Sande, Bezerra, (Pizarro, 1998: 1139 1167). Havia, ainda, os cavaleiros, que formavam a baixa ou pequena nobreza. O cavaleiro podia ser vassalo de um rico-homem, mas devia possuir algum patrimnio (terra, gado, bens mveis, etc.). Durante o sculo XIII e primeira metade do seguinte, o cavaleiro e o infano no poderiam se opor um ao outro, pois havia os infanes pobres, que eram tambm cavaleiros, mas, um cavaleiro jamais poderia vir a ser um infano, quer dizer, nobre de nascimento. (Mattoso, 1988: 136). Existiu, tambm, a figura do escudeiro, ou portador do escudo, o qual pertencia baixa nobreza. O que determinou o seu surto foi a proletarizao ou o empobrecimento de parte da nobreza. A terceira Ordem era composta pelo povo e, logicamente, no era homognea, pois dela faziam parte, em primeiro lugar, os camponeses, que eram a maioria, bem como os burgueses, os letrados, os tabelies, os advogados, os boticrios, os mesteirais, pequenos comerciantes, os assoldadados, os cavaleiros-vilos, os pees etc. Devemos ressaltar o papel e a relevncia social de alguns destes subgrupos. Iniciemos pelos cavaleiros-vilos, que foram de grande importncia no processo de reconquista, nos sculos XII e XIII, e em momentos de crise poltica entre o rei, o clero e a nobreza. O carter militar desse subgrupo o fez distinto dos demais visto haver se tornado uma verdadeira aristocracia municipal, graas sua funo guerreira. Tinham varias responsabilidades, mormente tarefas militares. Ademais, eles obtiveram dos monarcas, iseno de pagamento de julgada, e no estavam obrigados a dar pousada e estavam isentos de pagarem impostos. (Mattoso, 1988: 351) Isso lhes conferiu um lugar de destaque na sociedade portuguesa da poca. Inicialmente imitaram o comportamento social dos infanes e exigiram possuir os mesmos privilgios destes.
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Com o tempo perceberam que a sua superioridade advinha do fato de serem proprietrios de terras, e possurem trens de lavoura, gado e bens mveis. Esse acmulo econmico lhes possibilitava possuir um cavalo e sustent-lo. (Coelho & Homem, 1996: 254) Em razo disso, viam-se e, de fato, estavam prximos da mdia nobreza. No interior, e a lembremo-nos o norte interior, os cavaleiros vilos perdiam sua individualidade enquanto subgrupo em favor da comunidade. O que importava era a comunidade local e no, necessariamente, determinado subgrupo. Os pees, subgrupo social que, praticamente, foi o sustentculo da aristocracia vil, pois eram eles que trabalhavam e que pagavam impostos, acompanhavam os cavaleiros em combate, indo a p, pois no tinham condies econmicas de comprar um cavalo. Competia, ainda, a esse subgrupo social o trabalho braal nas obras de muralhas e fortificaes de caladas, pontes e fortes [que] era por eles assegurado, bem como os demais servios de transportar e guardar os presos ou escoltar os dinheiros. (Coelho & Homem, 1996: 261) O subgrupo dos besteiros, cujos integrantes dominavam a tcnica do uso da besta, arma de guerra, compunha tambm a terceira Ordem. Os Concelhos eram responsveis em fornecer ao exrcito real esses homens especializados na arte da guerra. Recrutados entre os pees, possuam um estatuto especial; nunca chegaram a integrar o subgrupo dos cavaleiros-vilos. Entretanto, com o crescimento de sua importncia, chegaram a substituir os cavaleiros que serviam a determinados alcaides. Com o reaparecimento da moeda, eles foram pagos em dinheiro, e pode-se consider-los como soldados, com um mnimo de profissionalizao. O subgrupo dos herdadores, consoante o Prof. Jos Mattoso, eram os homens que no so de algum, que no dependem de nenhum senhor, so do Rei, tm de lhe obedecer. A professora Maria Helena da Cruz Coelho os identifica com os forarii , ou seja, com aqueles indivduos a quem os monarcas concederam terras para o povoamento, defesa e cultivo, com todos os direitos que nelas tinham (propriedade e usufruto), mediante o foro de cavalaria, julgada e de montaria, ou a satisfao Coroa de outros encargos de natureza pblica e senhorial. Quanto aos numerosos integrantes dos mesteirais podemos considerlos como homens que possuam um determinado conhecimento tcnico, uma profisso. Esse conhecimento era usado para atender s necessidades dos moradores dos campos, vilas e cidades. Na produo do vesturio destacavam-se os teceles, tintureiros e alfaiates:
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Assim, existiam: na indstria de confeces, alfaiates em geral, alfaiates de pano de cor, alfaiates de pano de linho, alfaiates de pano de burel, botoadores, calceteiros ( fabricantes de calas), gibeteiros ou jubeteiros ( fabricantes de gibes), ataqueiros (fabricantes de atacas) safoeiros, sombreireiros, etc.; na sapataria, sapateiros em geral. sapateiros da correia, sapateiros da linha, sapateiros da polaina, chapineiros, borzeguieiros, soqueiros e outros; na tecelagem , teceles em geral, teceles do linho, teceles da seda, tecedeiras, penteadores de l, tasquinhadeiras, sirgueiros fabricantes de seda, cardadores, tosadores, feltreiros, etc. (Marques & Serro, 1987: 121).
Devemos mencionar tambm os ferreiros, os barbeiros, os cesteiros, os cutileiros, os sapateiros. No setor da construo urbana destacavam-se os pedreiros, os carpinteiros, e serradores; na produo de calados e curtumes encontrvamos os sapateiros , os peliteiros. Os mesteirais mantinham relaes sociais com todas as outras Ordens e com os integrantes daquela a que pertenciam, ou seja, viviam numa teia de relaes muito variada.Os mdios e pequenos comerciantes, outro subgrupo da terceira Ordem, estabeleceram um contato maior com os mesteirais, pois eram eles que compravam uma grande parte da produo desses profissionais. Esses homens e mulheres2 podiam vender seus produtos em lugares fixos ou caminhando pelos lugarejos e cidades. Apesar de atenderem aos habitantes do campo e das vilas, foi nos centros urbanos que atuaram mais intensamente, em locais prprios ou alugados:
Eram alguns destes homens, no geral, proprietrios das oficinas - tendas em que trabalhavam ainda que tambm pudessem arrendar casas para a desempenharem a sua profisso. Tinham, alm disso, de possuir os instrumentos para o desempenho do seu labor, desde os de maior vulto, como forjas, fornos ou teares, at aos mais ligeiros, como martelos, serras, cinzis, etc. Acresce ainda que deviam fruir de capital para adquirir a matria-prima para o seu labor - ferro, madeira, peles, pano, etc. - e o imprescindvel combustvel (lenhas) para activar muitos deles , alm de disponibilidade para recrutar mo - de - obra, fosse a mais barata de mouros e moarabes, ou de alguns outros assalariados. (Coelho & Homem, 1996: 278).
Havia ainda o grande mercador, o burgus rico - um escasso nmero de homens das nossas mais importantes cidades e portos litorneos, [. . .]. Mormente os do Porto, Coimbra, Lisboa, Santarm e de algumas cidades algarvias. (Coelho & Homem, 1996: 288).
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Ocupando quase a ltima posio no interior desta Ordem, encontravam-se os assoldadados (assalariados), homens livres que vendiam sua fora de trabalho para sobreviverem. Eles no tinham trabalho fixo ou certo, e nem um senhor, trabalhavam, geralmente, em terras senhoriais ou vils e/ou onde houvesse ocupao:
Viveram estes homens nas dependncias dos seus patres, quando estavam nas suas terras por tempo mais prolongado. Habitavam outros em morada prpria, sempre de inferior qualidade, pois se um campons tinha uma casa, este possua s uma cabana e da a sua designao de Cabaneiro. Como o seu instrumento de trabalho era, por excelncia, a enxada com que cavava, tambm dela podia colher nome, o de cavo (Mattoso, 1988: 259-260.)
margem dessa organizao scio-religiosa, ainda havia os judeus que viviam das atividades que desempenhavam, eles habitavam nas judiarias, que estavam agregadas a ncleos urbanos Havia distines internas entre eles , baseadas na riqueza e na linhagem. Ocupavam o primeiro lugar, os ricos mercadores e os arrendatrios de rendas pblicas, os fsicos, cirurgies e astrlogos mais conceituados e outros que serviam a famlia real (Rabinos) , e os grandes senhores..(Marques, 1987: 277.) Abaixo, vinham os pequenos e mdios mercadores, os mesteirais e ainda pequenos e mdios proprietrios de terras. Durante a Idade Mdia Tardia, os judeus desempenharam as mais importantes atividades econmicas nas vilas e cidades.
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preferindo a segurana do conhecido, do j sabido, no obstante, houvesse uma integrao maior entre o homem e a natureza. Eles tambm estabeleciam relaes coletivas mais consistentes, procurando sempre resolver os problemas que eram geralmente comuns entre eles, sobretudo aqueles relacionados ao trabalho, provocados pelas mudanas climticas sazonais. Se hoje, com todas as tcnicas existentes, o homem ainda enfrenta srios problemas com a natureza, como enchentes, geadas, secas etc., imaginemos, ento, como no deveria ser os problemas enfrentados plos homens dos sculo XIII e XIV, e pensemos nas solues que souberam encontrar para dominar a natureza. Se assim no tivesse sido, ou teriam desaparecido, ou determinados espaos inspitos teriam sido completamente despovoados. Em Portugal, aconteceu mesma coisa. A sociedade rural estava organizada para atender s necessidades de um grupo social que a dominava, os senhores guerreiros. Por outro lado, a cidade distinguia-se do campo pela sua populao, pelos seus costumes, pelo seu ritmo, pelas relaes estabelecidas entre os homens.
Assim bom acentuar que certos fenmenos, como as ordens mendicantes, as confrarias, as catedrais, [... ], as escolas, o mercado permanente, as judiarias e mourarias, os banhos pblicos, a prostituio, as ruas de mercadores, a diviso do trabalho artesanal, os cambistas, os almocreves e regates, as forjas e fornos de telha ou cermica s existem em povoados com um certo grau de vida urbana. (Mattoso, 1993: 210).
evidente, portanto, que havia uma relao bastante forte entre o campo e a cidade, em particular, porque estabeleceram relaes de mtua dependncia. Graas a essa relao, o homem da cidade foi obrigado a facilitar o contato com o homem do campo, para que pudesse chegar aos rinces e adquirir o que desejasse. Assim, os habitantes da cidade preocupavam-se em estabelecer vias de comunicao, velando os moradores [os das cidades] pela edificao de boas pontes, pela criao de albergarias ao longo desses caminhos que facilitassem as jornadas a almocreves e viajantes, fazendo o escoamento de produtos ou permitindo o abastecimento dos mercados citadinos. (Gomes, 1988: 387.) As atividades comerciais desenvolvidas plos mesteirais nos centros urbanos eram sustentadas pelas matrias-primas que o campo fornecia: as madeiras, fontes de energia encontradas nas terras dos concelhos e dos senhorios; as peles de animais; os couros, etc.
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Por todo o pas, e com maior desenvolvimento e especializao nas principais cidades, extraam-se, curtiam-se, tingiam-se e confeccionavamse couros de animais corpulentos e peles de bichos pequenos, com as mais diversas utilizaes: vesturio, alfaias, mobilirio, equipamento, armamento, etc. (Marques & Serro,1987: 121).
Era ainda nos principais centros urbanos que encontrvamos vrios mesteirais ligados a diversas atividades, e tinham um peso scio-profissional, sobretudo na produo artesanal, bastante destacado. A economia portuguesa desse perodo girou, basicamente, em torno da agricultura, mas havia em determinadas reas, em particular onde o terreno no era propcio a essa atividade, a prtica da pecuria. No norte interior, por exemplo, a principal atividade desenvolvida era a criao de gado mido, o ovino, o suno e o caprino, como j dissemos. Criava-se ainda o gado bovino nos vales do Minho e da Beira setentrional. O cavalo, necessrio tanto na guerra quanto como meio de transporte, apesar das dificuldades, era criado por todo o pas. Ainda como derivados da atividade de criao de gado e do pastoreio, havia a produo de l e de couro os quais eram vendidos para os artesos especializados. Convm ressaltar que todas as atividades que eram desenvolvidas no reinado de D. Dinis tinham o seu imposto regulamentado. Como, v.g. citamos a Carta de Aforamento de Alter do Cho em que o Monarca estabeleceu o foro que os moradores deviam pagar do pescado, da barca do pescado, dos couros dos cervos e das peles dos coelhos,(...) dem de foro da vaca. J. dinheiro e do zeuro hu dinheiro e do erruo hu dinheiro e de besta de pescado hu dinheiro e de barca de pescado, J. dinheiro (...). (...) da carrega do azeyte ou dos coyros dos boys ou dos zeuros ou dos ceruos dem meo morabitino. (...) o coelheyro que for a soieura e ala ficar de hu fole de coelho e que ficar ala per oyto dias ou mays de hu coelho com sa pele e os coelheyro de fora de de dizima quantas vezes veer.2 Os camponeses eram obrigados a pagarem por tudo que conseguiam para sobreviver, mormente porque essas atividades eram desenvolvidas nas propriedades reguengas, ou seja, da Coroa. Quando as terras no pertenciam ao Monarca, eram da Nobreza ou do Clero, e a tambm os moradores eram obrigados a paragem os foros a essas Ordens. Dessa forma esses trabalhadores tinham uma vida muito difcil, pois no podiam acumular nada, eram totalmente expropriados da sua produo. Havia ainda outras atividades, que com toda a certeza possua o seu foro tambm, era a criao de galinceos e a caa, complemento natural da alimentao do homem medieval portugus:
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Galinhas, patos, gansos esto freqentemente citados na documentao. Os ovos constituam complemento habitual na prestao de foros e censos. O coelho, de capoeira ou bravo, fornecia, alm de carnes, as peles, muito apreciadas ento. A atividade venatria no pode ser minimizada, atenta a maior generalizao da caa e o seu papel econmico de relevo. Animais de corpulncia, como o urso e o javali, animais pequenos, como a lebre ou o coelho, aves de todas as famlias surgem com profuso nos documentos medievais, aproveitados na carne e na pele. (Marques, 1980: 29).
No tocante especificamente produo agrcola em geral, esta no era muito variada, predominavam nas terras de semeadura, os vinhais e os linhares (linho ou sobreiro), bem como o cultivo do trigo, do milho mido, do paino, da cevada e do centeio. Esses dois ltimos predominavam nas regies do interior (mais a nordeste). Todavia, a cevada, como era usada para forragem do gado, existia praticamente em todo o pas. Havia outros produtos. o caso dos legumes, em especial das favas, substituto freqente do po. Das culturas arborcolas, destacava-se a figueira e o castanheiro. O vinho era visto como complemento alimentar, sua produo, graas a esse fato, era abundante e havia uma proliferao de adegas por toda parte, tanto na cidade quanto no campo. Os fabricantes de vinho eram chamados de anoeiros, por causa, talvez, dos vinhos serem guardados em tonis, barris e outros vasilhames. Somava-se, tambm, ao vinho, outro produto lquido, que se armazenava em adegas, o azeite, o qual era utilizado no s na alimentao, mas tambm na iluminao, na medicina, na perfumaria e na religio. A terra para produo agrcola do norte interior, lugar onde predominavam as montanhas e havia poucos homens para o trabalho, era de pouca fertilidade e necessitava de longo repouso entre uma semeadura e outra, e geralmente, a faina agrcola era compartilhada por todos os vizinhos. Para alm das atividades agro-pastoris, outra atividade desenvolvida pelos portugueses, nessa poca, foi pesca martima, praticada em mar alto, porque a costa martima portuguesa nunca foi agraciada com grande quantidade de peixes. Isso ocorria por causa dos ventos tempestuosos e devido estreiteza da mesma. Assim, os pescadores conseguiam os peixes grandes, o atum , o espadarte, o congro, a pescada ( ento chamada peixota ), a raia , a corvina, o anequim e o pargo, alm de cetceos baleia, golfinho (tambm chamado baleia) e toninha e, certamente, muitas mais espcies que a documentao no registrou. (Marques & Serro, 1987: 110). A par da atividade pesqueira, fazia-se tambm a extrao do sal, produto muito importante, pois aps conseguirem uma quantidade grande de pesca-
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dos, exigia-se a conservao dos mesmos, e o procedimento usado era a salga do peixe. Assim ele chegaria mesa dos cristos, que moravam distantes da costa martima. Salgavam-se os peixes, tambm, para que se pudesse guardlos e consumi-los em dias santos. Conseguia-se a produo do sal atravs do processo de evaporao da gua do mar. Havia (e ainda h), no interior da terra, jazidas de sal gema. Graas abundante produo do sal, procedia-se salga de diversos produtos que se consumiam no perodo, a carne de caa do urso, do javali, da lebre e do coelho, o queijo, a manteiga, a azeitona, etc. Alm da pesca martima e da extrao do sal, ocorria, em Portugal, a pesca fluvial, geralmente realizada nos senhorios, pertencentes nobreza ou ao clero. Em 1296 ocorreu um desentendimento entre os Clrigos do Mosteiro de Cete e o Monarca sobre quem podia pescar na varga de Po Perdido, os frades reivindicavam o direito sobre a rea. D. Dinis, para resolver a questo, editou uma Carta em que, (...), mandey saber e enquerer a verdade ao meu almoxarife do Porto e ao joiz e aos meus tabelies de Feare (sic). E mha corte uista a enquisiom e publicada porque mha corte nom achaua claramente que o dicto abade e o conuento eram erees en os herdamentos da ha parte e da outra desse logar e ouueram a possyson alga assy como deziam algas testemonhas de ouuida e ha de vista de meu prazimentoe do seu tal aueena ueemos que o dicto abade e o conuento e os seus successores pescasen e mandasen pescar sa pescaria que chamam d uarga de Pam Perdudo e de todo aquele pescado que o dicto abade e o conuento e os seus successores ouuerem pera sy ou deuerem uer de dereyto desse logar que den ende a mjm e a todos meus successores ou ao meu almoxarife e ao meu scriuam do Porto pera mjm e n meu nome ou dos meus successores o quarto en paz em saluo pera todo sempre (...).3 Notemos que D. Dinis se preocupou em regulamentar todas as atividades desenvolvidas no seu reinado para que pudesse receber os foros devidos Coroa. Da a sua preocupao em resolver essa questo com este Mosteiro. Por isso deixou claro a quem realmente pertencia a varga de Po Perdido, sendo o problema decido pela Corte do Monarca que, permitiu que os clrigos continuassem a pescar no local. Entretanto, deviam dar o quarto Coroa. Por existirem propriedades iguais a esta, ou seja, locais onde se pudesse pescar e que pertenciam ao Monarca, aos Clrigos ou a Nobreza, todo pescador era obrigado a pagar um imposto pela pesca ao seu proprietrio. Os pescadores fluviais pescavam com mo ou usando redes e armadilhas. Entre os peixes que se costumava pescar nos rios, estavam a lampreia, o svel, a truta, que eram sobretudo pescados nos rios do Norte, a enguia, o
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barbo, o mugem e a boga. Os peixes geralmente eram comercializados nos mercados e nas feiras sazonais. Vendia-se mais facilmente o peixe fresco, pois era mais barato, entretanto, considerava-se o peixe salgado ou defumado melhor para o consumo. Outra atividade desenvolvida em Portugal no perodo em apreo era a explorao mineral. O reino no era rico em recursos minerais, entretanto explorou-os diversificadamente. A extrao do ouro foi provavelmente uma iniciativa tomada pela Coroa. Segundo consta, inicialmente essa explorao era abundante, mas com o tempo foi escasseando Exploraram-se , tambm, o cobre, o chumbo, o ferro. Das pedreiras extraam-se o calcrio, o granito, o basalto e o barro. A explorao do ferro era monoplio rgio, menos nas propriedades (coutos) do clero. O ferro foi explorado em Trs-os-Montes (Moncorvo e Bragana) e na Beira Baixa (Caria). O ferro era um dos minrios mais importantes, pois com ele fabricavam-se quase todos os instrumentos necessrios para a agricultura, tais como, o ferro dos arados, relhas, enxadas, ps, foices, foices segadeiras, alferces, martelos, serras, machados e outros mais, bem como as armas para a guerra. Como a explorao do ferro em terras reguengas5 era monoplio rgio, D. Dinis, em 1282, concedeu a Sancho Peres autorizao para a explorao do ferro por todo o reino. Sancho pagaria como imposto a quinta parte do que extrasse. D. Dinis reservou para a Coroa o acesso explorao do ouro, prata ou cobre. Outra produo artesanal importante para a sociedade era a dos materiais necessrios s construes das casas, das fortes, das muralhas e de outros edifcios, a saber, os tijolos e os ladrilhos. As olarias distribuam-se por todo o pas, pois as terras argilosas existiam em toda parte.
O surto de construo civil, religiosa e militar no Portugal de Duzentos levava proliferao por todo o espao rural de inmeros telheiros e fornos de telha. (. . .). A produo da telha era altamente rentvel, o que se prova pelo cuidado que as instituies religiosas colocavam na definio do dzimo dos telheiros e das olarias sediadas sob a sua jurisdio. (Coelho & Homem, 1986: 480).
As olarias possuam um quadro de auxiliares, aprendizes de ofcios, que eram, na sua maioria, parentes do oleiro. Dentre os mecanismos usados pelos monarcas para promover uma proximidade entre esses homens destacaram-se as feiras sazonais em diversas
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localidades portuguesas. O estabelecimento das mesmas possibilitou a dinamizao da circulao da produo interna, chegando, inclusive, a atrair compradores estrangeiros, em especial os castelhanos. Os monarcas D. Afonso III e D. Dinis, usaram desse mecanismo para promover povoamento e aumentar o comrcio. Assim, a regio transmontana recebeu autorizao para organizar 17 feiras. O Concelho de Moncorvo, localizado no Norte Interior, solicitou a D. Dinis que autorizasse a realizao da feira mensal em outros meses, j que a feira s podia acontecer uma vez ao ms e dessa forma os moradores no conseguiam vender toda produo. No podiam tambm vender em outra feira prxima, pois j tinham a sua feira para venderem. O Monarca,
(...) querendo fazer graa e mercee ao dito Concelho. Tenho por bem e mando que eles aiam feira em cada huum ano e comecesse a fazer quinze dias ante Pascoa e dure ata quinze dias de pes Pascoa. E que todos aqueles que veerem a essa feira por vender ou per comprar seiam seguros de hyde e de vynda que non seiam penhorados em meos regnos por nenhuma devida em em aqueles oyto dias que veerem a essa feyra e em aquele mes que essa feyra durar e em aqueles oito dias que primeyro veerem de pois que sayr a dita feyra senom por devida que for feitaem essa feyra. (...). E todos aqueles que veerem a essa feyra com sas merchandias paguem a mjm a mha portagem e todolos meos dereitos que fevem pagar dessa feira. Em testemoyo desto dej ao dito Concelho esta carta.(Carqueja, 1955: 09- 10)
O Monarca alm de ter concedido a autorizao se preocupou em criar condies que favorecessem o desenvolvimento da feira. Deu garantias de ida e volta a todos que fossem comprar ou vender mercadorias na feira. Isentou de penhora aqueles que tivessem dvidas no Concelho. Entretanto no esqueceu de lembrar que todos que fossem vender deviam pagar a portagem devida Coroa. Dessa forma, cremos que, o Concelho pde vender a sua produo tranqilamente e o Rei teve a promessa de pagamento do seu foro. Nas relaes comerciais internas, alm das trocas nas feiras, as vendas das mercadorias ocorriam nas tendas, nas adegas, nas prprias oficinas dos artesos, em quintais de algumas casas, nos mosteiros e tambm atravs dos ambulantes, que percorriam os vrios espaos urbanos e rurais, levando as suas mercadorias. Os ambulantes eram geralmente multados, pois no respeitavam as leis dos mercados. Contribuam para dinmica da circulao da mercadoria dentro do reino, os almocreves. Estes que eram especializados no
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transporte de mercadorias podiam ser tambm um mercador, todavia especializava-se, com o passar do tempo, em transportar as mercadorias do mercador fixo que possua uma tenda. O mercado congregava vrias tendas com designaes especficas. O aougue era um mercado dirio. Esse tipo de mercado instalava-se em vrias tendas fixas. O responsvel por ele era o almotac, que era, geralmente, eleito pela prpria comunidade. A fanga era uma derivao do aougue, vendia geralmente cereais, farinha, frutas. (Marques, 1996: 506-511). Com esses espaos para comercializar os produtos destinados ao consumo interno, a populao conseguia adquirir os bens de que necessitava. Portugal estabeleceu o comrcio externo, de alm-mar, com vrios pases. Os comerciantes portugueses estabeleceram relaes com vrias praas, economicamente importantes naquela poca. Era costumeira a presena de mercadores estrangeiros nos portos portugueses, mormente Lisboa e Porto. De Castela, importavam-se artigos txteis, cereais, couros e metais. Da Itlia, vinham tecidos de seda, armaduras e demais materiais blicos. O comrcio portugus com a regio de Flandres visava a compra de tecidos, armas, munies e outros produtos D. Dinis autorizou que um grupo de mercadores portugueses criasse uma bolsa de comrcio em Flandres, demonstrando como era importante e, de certa forma, intensa a relao econmica entre o reino e aquele condado. Da Inglaterra importavam-se ls, cereais, peixe e outras mercadorias. Com a Frana, estabeleceram-se trocas de gneros alimentcios (trigo e legumes), produtos txteis, tecidos, peas de vesturios, toalhas. A Alemanha fornecia aos portugueses, madeira, ferro, cobre, alguns produtos florestais, trigo e centeio. Do mundo islmico importavam-se peas de vesturio, alfaias domsticas e cereais tambm. O comrcio com o mundo islmico foi uma decorrncia da ocupao moura na Pennsula Ibrica. Todavia, a exportao lusitana para toda a Europa resumia-se em alguns produtos: couro, peles, mel, cera, azeite, gorduras, frutas secas, vinho, etc Acredito que com este pequeno extrato consegui-se caracterizar vrios aspectos da sociedade portuguesa no medievo, mormente durante o reinado de D. Dinis (1279-1325). Evidentemente que tais aspectos baseados, alguns a partir da produo historiogrfica em Portugal e outros a partir de documentos transcritos e publicados em Dissertaes de Graduao de Histria da Universidade de Coimbra, podem nos mostrar apenas um pequeno extrato da sociedade de ento, no obstante, que temos para caracterizar e entender a sociedade do perodo.
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NOTAS
1 Infano - Diminutivo de infante, vindo depois de rico-homem e antes de cavaleiro, como grau segundo da nobreza, no recebendo do rei diretamente algum benefcio. Os infanes constituram durante muito tempo o chamado grosso da nobreza, at que a partir do sculo XLV, se foi submergindo na classe de cavaleiros. Residiam, sobretudo, no campo e at nas cidades, e representavam uma aristocracia poderosa, chegando a desempenhar cargos influentes. Ver: SERRO, Joel. Pequeno Dicionrio de Histria de Portugal. Porto: Figueirinhas, 1993, p.353. A mulher, ao lado do homem, monta, colhe, cuida dos animais, mas no lavra. Ao lado do homem, no quadro urbano, aprende e desempenha diversos mesteres, detm a maior parte do comrcio a retalho de produtos alimentares, mas no , por via de regra, membro de pleno direito nas corporaes, no se lana no grande comrcio, no desempenha profisses letradas, no freqenta as universidades. Ver: COELHO, Maria Helena da C. Homens, Espaos e Poderes. Sculos XI-XVI. Notas do viver social. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp.37-59. Histria Florestal, Agrcola e Cinegtica. Coletnea de Documentos Existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelarias Reais. Lisboa, 1980, p.41. Histria Florestal, Agrcola e Cinegtica. Coletnea de Documentos Existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelarias Reais. Lisboa, 1980, p.41. Essa palavra reguengo, que inicialmente teria sido usada para designar os bens do rei, parece-nos neste perodo igualmente aplicada ao patrimnio da coroa. Ver: MARREIROS, Maria Rosa. A propriedade fundiria e rendas da coroa no reinado de D. Dinis Guimares. Tese de Doutorado apresentada junto Faculdade de Letras de Coimbra. Volume I, 1990, p.242.
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